N.º 02
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O jornal Porto. é um trabalho do Gabinete de Comunicação e Promoção da Câmara Municipal do Porto, distribuído gratuitamente em todos os endereços residenciais e comerciais da cidade. Além da atualidade e de artigos de fundo sobre temas de interesse para os cidadãos, é um veículo de liberdade de expressão, de todo o espectro social, cultural e político do Município. • Direção Rui Moreira • Coordenação Editorial Nuno Nogueira Santos • Edição de Fotografia Miguel Nogueira • Redação Jorge Rodrigues e Milene Câmara • Direção de Arte Eduardo Aires • Paginação Oscar Maia • Impressão Dica / Naveprinter • Tiragem 180.000 exemplares • issn 2183-6418 Colaboraram nesta edição António Gouveia, Gustavo Pimenta, António Carrapatoso, Honório Novo e José Castro – opinião • Pedro Olavo Simões – entrevista a Rosário Gambôa
O nosso futuro
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Porto está a virar-se para Campanhã. Não apenas por ser justo que o faça em nome do equilíbrio social da cidade, muito voltada para o seu litoral e para o centro histórico património mundial, mas porque acreditamos que Campanhã é uma grande oportunidade para o Porto. Acreditamos que, como outrora, é da zona mais oriental da cidade que podem surgir focos de emprego, inovação e desenvolvimento económico e social que beneficiarão todos. Nesta edição do jornal Porto. mostramos-lhe alguns dos projectos em andamento para Campanhã. Na verdade, não são já “meros” projectos, uma vez que o estado em que se encontram processos como os da transformação do antigo Matadouro Industrial do Porto ou o da construção do terminal rodoviário de Campanhã, já é de não retorno. Fruto de uma política orçamental responsável, o Município do Porto tem hoje capacidade financeira para garantir que estes dois processos avançarão, para que fiquem concluídos durante o próximo mandato. Mas equilibrar a cidade não passa apenas por fazê-lo geograficamente. E em matéria de equilíbrio, a educação desempenha um papel fulcral. Por isso, também nesta edição, lhe damos a conhecer o trabalho que educadores, auxiliares, pais e alunos vão fazendo nos quatro cantos do Porto, preparando um futuro que gosto de ver com esperança e optimismo e que floresce no rosto de cada um dos nossos estudantes. Rui Moreira
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Milão foi o palco da apresentação do projeto para o antigo Matadouro Industrial do Porto. O processo de regeneração do espaço está lançado e será concretizado na primeira metade do próximo mandato autárquico. Economia, Coesão Social e Cultura vão cruzar-se nos 29 mil metros quadrados do espaço situado em Campanhã. ∫≤
O Porto tem menos população do que a vizinha Vila Nova de Gaia. Mas no seu território estudam muito mais alunos do que do outro lado do rio. O trabalho, muitas vezes invisível, da Câmara do Porto nos vários níveis de ensino é passado à lupa nesta edição, com especial enfoque no básico, onde tem especiais responsabilidades. ∫≤
Não é apenas uma entrevista à presidente do ipp. Rosário Gambôa estende nesta edição do jornal Porto. ideias claras quanto ao futuro da educação e até do país, exprime sentimentos e defende que o caminho aberto por Rui Moreira na luta contra o centralismo não se pode perder. O jornalista Pedro Olavo Simões assina a entrevista. ∫≤
Xutos no São João A noite de São João vai contar com o som dos Xutos & Pontapés na Avenida dos Aliados na longa madrugada de 24 de junho. O concerto é parte de uma vasta programação que a Câmara do Porto preparou para este ano e de que fazem parte mais de 300 eventos a partir de 20 de maio e até 26 de junho.
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Obras do Bolhão avançam este verão As obras de restauro e modernização do Mercado do Bolhão vão começar nos próximos meses, embora não impliquem, de imediato, a deslocação dos comerciantes para o mercado temporário. A Câmara decidiu iniciar os trabalhos subterrâneos numa empreitada prévia à do restauro do edifício, adiantando, assim, o calendário. Em causa está a necessidade de desviar, na rua Sá da Bandeira, a linha de água que atravessa o mercado no subsolo, concurso público já lançado no final de fevereiro pela Águas do Porto.
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Solução para o Aleixo resolve problemas nas Eirinhas
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resolução do impasse que há três anos se vivia no processo de demolição do Bairro do Aleixo vai ajudar a resolver, não apenas os problemas dos moradores que ainda residem nas torres, mas também um grave problema urbanístico na freguesia de Campanhã, junto à Avenida Fernão Magalhães. Trata-se da zona das Eirinhas, que é vista como uma verdadeira ferida urbanística e social da cidade e que agora vai conhecer um plano de urbanização. É nas Eirinhas que a Invesurb , também conhecida como “Fundo do Aleixo”, construirá parte da habitação social de qualidade que entregará aos moradores ainda residentes nas torres a demolir. O fundo, que estava sem liquidez quando o atual executivo tomou posse em outubro de 2013, foi recapitalizado através de uma solução gizada pela autarquia e pelos acionistas privados do fundo, aos quais se juntou a empresa portuense Mota Engil. A solução, anunciada por Rui Moreira em 2015, abriu portas à recapitalização
do fundo e ao avanço de processo de construção de nova habitação social e ao realojamento dos cerca de 100 moradores das torres. Pelo novo contrato assinado com os acionistas, o fundo terá que entregar aos moradores habitação social de qualidade, antes de poder prosseguir com as demolições das restantes torres. Só depois poderá executar o projeto de reabilitação urbanística da zona do Aleixo, mas desta vez com uma volumetria mais limitada e adequada ao cumprimento do Plano Diretor Municipal (pdm). Paralelamente, a Câmara do Porto chegou também a acordo com a edp quanto a um processo relacionado com terrenos contíguos aos do Bairro do Aleixo. Os tribunais tinham condenado a Autarquia ao pagamento de uma indemnização superior a oito milhões de euros àquela empresa, mas Rui Moreira conseguiu chegar a acordo com os promotores a devolução de capacidade construtiva e o não pagamento de qualquer valor à edp.
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Carta do Leitor O jornal Porto. inaugura uma nova secção destinada a artigos enviados pelos leitores. Para propor o seu texto (não mais de 1500 caracteres), envie um email para imprensa@cm-porto.pt, contendo o nome completo, morada e um contacto válido. Os textos poderão sofrer edição.
Há coisas que só acontecem no Porto.
Vinha eu, a subir os Aliados, pela madrugada de 1 de janeiro, quando saíram, não sei de onde, as equipas da limpeza urbana. Naquilo que as equipas de limpeza urbana têm de bailado, com colete luminoso carregam às costas umas máquinas de soprar ar potentíssimas, levando à frente, em vórtice, garrafas, copos, folhas secas, confettis e objetos curiosos, empurrando esta obra de arte contemporânea voadora em direção às vias de trânsito, que aliviadas temporariamente de carros, se divertem com os veículos varredores, percorrendo as espirais imaginárias enquanto recolhem o brilho da festa urbana. Àquela hora, a ciática dava sinais de não querer ceder. Era a hora de medir os quilómetros a pé que me separavam da cama, e de pensar que a festa tinha acabado, porque o Abrunhosa se tinha retirado, cansado de cantar três horas. Mas a festa e a alegria, no Porto, não se devem a concertos ou desconcertos, devem-se ao Povo e às sardinhas. O Povo do Porto costuma referir-se aos ajuntamentos que provoca voluntariamente, com grande prazer, como “ir para a sardinha”. Pensava eu, que o “ir para a sardinha” tinha a ver com o São João por ser a sardinha nos ajuntamentos de São João, coisa obrigatória. Coisa obrigatória, à moda do Porto, quer dizer que quem quer faz, quem não lhe apetece, faz diferente. É um conceito de obrigatório, inscrito no brasão desta cidade Invicta, que por isso nunca se deixou vencer. Mas de facto, o que o Povo de Porto quer dizer com “ir para a sardinha” é outra coisa, é cair no prazer de se movimentar em cardume, onde cada sardinha consegue deslocar-se com centenas de milhares de outras sardinhas, em direções contraditórias e espaços
apertados, sem uma só chocar com outra. Foi o que percebi naquela noite. A movimentação habilidosa das sardinhas em cardume transforma-as num corpo só, escorregadio e flexível, e permite-lhes sobreviver ao ataque dos tubarões e até muitas vezes dos arrastões. Por isso, podemos sair tranquilamente para as ruas no Porto, seja qual for a hora do dia ou da noite ou ordem de grandeza do cardume. E por isso, cada vez mais peixes de outras paragens apanham aviões para virem experimentar essa sensação de estar “em sardinha” connosco. Regressando aos Aliados e à minha vontade de regresso a casa, subia eu a avenida, quando aconteceu um caso que só podia acontecer no Porto. Um adulto jovem, avaliado pelo sotaque como oriundo de Campanhã, dirige-se a um senhor da equipa da limpeza urbana e diz-lhe: “ó senhor, eu não arranjei namorada hoje, assopre-me lá com a sua máquina, que eu estou a precisar”. O homem, solidário, levanta prontamente o tubo e assopra o rapazinho de alto a baixo. A roupa colada ao corpo, o cabelo pelo ar, os braços levantados em êxtase e um “obrigado, foi muito bom, havemos de nos encontrar mais vezes”. As gargalhadas saíram-me por todo o lado, detendo involuntariamente a minha marcha. E o rapaz de Campanhã, que eu nunca tinha visto, carente certamente do carinho de uma mãe, para completar a sua perfeita noite, veio dar-me um abraço apertado de “Bom ano, senhora, muito bom ano para si”. E foi aí que percebi que há coisas que só acontecem no Porto, e que a festa no Porto só acaba quando o Porto quer. Isabel Granhão Paranhos
Bairro Rainha Dona Leonor com futuro
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ão avançar as obras no Bairro Rainha Dona Leonor, localizado na freguesia de Lordelo do Ouro. A Câmara do Porto aprovou a adjudicação do concurso para a regeneração do Bairro, num projeto a custo zero para a Autarquia e que permitirá o realojamento de todos os moradores no mesmo local, em condições modelares de habitação social. As obras estão orçadas em 3,5 milhões de euros, mas os custos ficam a cargo do parceiro privado Aythya – Investimentos Imobiliários, encontrado no concurso público, e que, em troca, recebe capacidade construtiva para habitação privada junto ao bairro. Em causa está a demolição das torres existentes e a construção de novos blocos de habitação social que alojarão os atuais 131 moradores do bairro, em condições modelares de habitação social. Este concurso, que Câmara do Porto já tinha lançado uma vez sem sucesso, uma vez que o júri acabou por excluir todas as propostas, teve, desta vez, três concorrentes classificados.
Cultura em expansão Música, cinema, teatro e dança são as áreas da terceira edição do programa “Cultura em Expansão” que este ano chegará a mais zonas da cidade, terá mais iniciativas e começou com um concerto de Gisela João
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Refira-se que o modelo encontrado pelo Município não implica qualquer investimento da Autarquia, já que o concorrente vencedor se comprometeu a demolir as atuais habitações, alojando provisoriamente os seus moradores, e a realojá-los, no mesmo local, em habitações novas. Só após concluído este processo, a Aythya poderá construir, no espaço sobrante, habitação para venda, de forma a rentabilizar o investimento. Com esta solução, será possível realojar no mesmo local todos os moradores e garantir a construção de habitação social de excelente qualidade sem fazer qualquer investimento. Serão, assim, eliminados os blocos construídos há décadas para alojar moradores provisoriamente, que apresentam um elevado grau de degradação e têm presente uma grande quantidade de amianto. Recorde-se que o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, acompanhado pelo vereador da Habitação e Ação Social, Manuel Pizarro, estive no bairro a explicar aos moradores os trâmites deste processo.
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no Bairro da Bouça, no dia 25 de abril, com a colaboração dos moradores. O projeto “Cultura em Expansão” atua nas zonas mais fragilizadas da cidade, chegando este ano a Ramalde, Campanhã, Pasteleira, Bouça, Campinas, Aldoar e Cantareira, em dezenas de sessões que decorrerão até dezembro. Novidades serão os projetos de realização cinematográfica com a população local e um ciclo de cine-concertos, musicados ao vivo por estudantes.
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Seis semanas de festa
São João na Casa da Música
Do concerto dos Xutos ao dos gnr, passando pelo nos Primavera Sound e Caixa Ribeira, de 21 de maio a 26 de junho, o Porto vai celebrar a sua “festa maior”. Serão seis semanas de muita animação, com iniciativas que se espalharão um pouco por toda a cidade e que prometem ir ao encontro de todas as gerações de portuenses, mas também de todos os que visitam a cidade por esta altura do ano. Apesar de os festejos de São João terem o seu auge na noite de 23 para 24 de junho, há muito que esta festa deixou de ser de uma só noite para se prolongar por seis semanas de muitas outras festas, entre bailes e rusgas, corridas e regatas, concertos e festivais de música e circo, teatro, divertimentos e animação de rua, mas também artes performativas, concursos, desfiles, lançamentos de balões e muitas atividades para crianças. Se há um ano a grande novidade foi o regresso do São João às Fontainhas, o destaque vai este ano para a estreia da Estação de Recolha dos stcp de S. Roque, da Lameira, em Campanhã, como palco das festividades na zona oriental da cidade. Juntando mais de 300 eventos, o programa oficial das festas de São do Porto 2016 incluirá, entre outras novidades, a classificativa espetáculo do Rally de Portugal (20 de maio), a primeira edição do Trengo – Festival de Circo (21 de maio a 19 de junho, nos Jardins do Palácio de Cristal), o regresso dos Estádios do Euro (Praça D. João I e Edifício Transparente), assim como uma surpreendente peça artística, inspirada nas populares cascatas de São João, que ficará colocada sob o espelho de água da placa superior dos Aliados, entre 4 e 26 de junho. De regresso estarão também os Concertos na Avenida, para que todos possam celebrar o São João ao som de grandes bandas. Os Xutos & Pontapés marcarão o ritmo da noite mais longa e festiva do ano, logo após o final do tradicional espetáculo de fogo de artifício. No feriado de 24 de junho, atuará a Banda Sinfónica Portuguesa, seguindo-se, na noite de 25 de junho, um singular concerto que juntará no mesmo palco os gnr e a Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana. Da programação do São João do Porto fazem ainda parte os festivais de fado Caixa Ribeira (3 e 4 de junho), nos Primavera Sound (9 a 11 de junho) e a prova de motociclismo Porto Extreme xl (17 de junho). Pode consultar o programa completo das Festas de São João do Porto 2016 no portal de notícias do Porto em www.porto.pt.
A Casa da Música vai brindar a cidade com um concerto de São João de entrada livre, marcado para 23 de junho, às 22 horas, na Sala Suggia. O espetáculo estará a cargo da Banda Sinfónica Portuguesa, num programa festivo que passa pelos ritmos de dança de todo o mundo. Do compositor e arranjador brasileiro Hudson Nogueira, Carnaval de Rua transporta-nos por momentos até ao Brasil naquela que é a sua época mais festiva do ano. Tribal elements, do espanhol José Miguel Jordán, vencedor de vários prémios de composição, é uma homenagem aos ritos ancestrais das tribos milenares de todo o mundo.
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Vai nascer um museu debaixo da Mouzinho da Silveira
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ai nascer um museu na galeria subterrânea do Rio de Vila, que corre entre a Estação de São Bento e a Praça da Ribeira. O concurso público para a elaboração do projeto já está aberto. O percurso de 350 metros inclui as ruas de Mouzinho da Silveira e de S. João. O troço que a Águas do Porto pretende devolver aos olhos dos visitantes foi encanado por decisão municipal de 1872. A Câmara pretende tornar acessíveis os vestígios “desde a época Romana até à atualidade” que se podem encontrar ao longo deste museu subterrâneo que
O mar do Porto em Serralves Wolfgang Tillmans, vencedor do Prémio Turner, apresentou no Museu de Serralves a sua primeira exposição em Portugal, intitulada “No Limiar da Visibilidade”. O fotógrafo foi um dos participantes da segunda edição do Festival do Pensamento Fórum do Futuro, iniciativa organizada pela Câmara do Porto, realizada em novembro de 2015. Entre as obras expostas, contava-se a fotografia “O mar do Porto”, que então fotografou.
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Coliseu Porto acerta o passo Os números do Coliseu relativos às contas de 2015 mostram uma evolução positiva, já que o resultado líquido significa uma redução do prejuízo na ordem dos 60%. Em 2015 o Coliseu Porto realizou 128 espetáculos, mais 24 do que em 2014. A receita com espetáculos de acolhimento (71) cresceu 64%, valor que contribuiu para a diminuição dos resultados negativos e a que se juntaram outros ganhos de eficiência de gestão. No total, mais de 223 mil pessoas assistiram em 2015 a espetáculos no Coliseu Porto, mais 35 mil do que em 2014. Os números foram revelados na última assembleia geral onde o presidente da instituição, Eduardo Paz Barroso, revelou que “o Coliseu Porto teve que se modernizar nos métodos de negócio e trabalho, fazer roturas e, não menos importante, incrementar a qualidade da programação”.
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a cidade do Porto irá ganhar. O plano prevê que a entrada tenha lugar através da estação de Metro de S. Bento, para uma sala onde ficará instalado o serviço de bilheteira, local para exposições e apresentações e posterior porta de acesso ao percurso visitável. O programa de musealização está orçado em cerca de de 800 mil euros, 120 mil dos quais destinados à elaboração do projeto, e calcula-se que deverá estar concluído no início de 2018. O Município pretende obter cofinanciamento comunitário no âmbito do programa Portugal 2020.
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Se o país é um corpo o que está a drenar é sangue Educar é mais do que ensinar e uma entrevista pode ser mais do que responder a perguntas. Nesta edição pedimos ao jornalista Pedro Olavo Simões, diretor da revista Jornal de Notícias História, para entrevistar Rosário Gambôa. A conversa foi além das muito mais do que quatro paredes do Instituto Politécnico do Porto e mergulhou na realidade de um país que não se pode esquecer do seu sangue que drena na emigração e de uma cidade que não se esquece do seu carácter.
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e descascássemos a cebola, ao jeito de Günter Grass, a primeira camada seria a da mulher de exuberância natural mas também austera, a longa e ondulada cabeleira ruiva, o olhar límpido. Também a voz, enganosamente frágil, dificultaria o retrato de Rosário Gambôa, que lidera desde 2010 uma das grandes instituições académicas da cidade, o Instituto Politécnico do Porto. A funcionária da Presidência que nos traz cafés e a trata por “menina”, enternecendo-a, também manteria à superfície a nossa leitura. Ou não. Tudo o que esta mulher faz, da cordialidade com que interage com toda a gente com quem se cruza, dos docentes aos estudantes, à profundidade do pensamento, é um traço da personalidade cativante que se mostra nesta entrevista: a forma como encara a vida, a intransigente firmeza com que lidera uma instituição cada vez mais forte, a visão vanguardista da educação, o sentido humanista, a necessidade de intervir publicamente ou a forma como traz na pele esta cidade onde se fixou e fez sua. Não chegámos ao mais íntimo âmago da cebola, nem quereríamos, mas a riqueza das camadas que se foram revelando chega e sobra. Um dia contou-me que, no 25 de Abril de 1974, estava empoleirada numa árvore do Largo do Carmo, em Lisboa. O país que imaginou, lá do alto, era este onde hoje vivemos? Seguramente que não. Eu tinha 17 anos, e as minhas perspetivas do que podia ser o mundo eram naïfs e pouco sólidas. O mundo foi evoluindo muito, e eu também, mas o 25 de Abril e todos os acontecimentos políticos que se sucederam foram momentos muito fortes de aprendizagem, em termos de questões que nos chegavam, como interrogações, e nos obrigavam a debater. Na altura, discutíamos e debatíamos mais do que o que líamos. Havia muito pouca fundamentação teórica sobre as coisas. Mas o que eu queria perceber é se sentia, naquele momento, “o dia inicial inteiro e limpo” de Sophia... Estava na expectativa de algo... Onde ficou essa expectativa? Ficou sempre dentro de mim e das pessoas, não só das que viveram aquela época e aquele sonho, mas de toda a gente que tem como formação e vocação o impulso de querer fazer alguma coisa para mudar o mundo. E esse mudar o mundo tem sempre um horizonte, que pode ser utópico, de igualdade. Claro que a minha noção de igualdade foi evoluindo, mas continuo a bater-me por ideais de igualdade. Hoje, falamos “todos diferentes, todos iguais”, o que eu acho um slogan maravilhoso, mas, na
altura, a minha noção era muito ingénua. Eu ouvia falar da sociedade sem classes e achava que era perfeitamente possível. Hoje, sabemos que as coisas não são assim. Revela-se uma impossibilidade? Eu sempre tive o meu lugar de felicidade na realização com outros. Não tenho uma noção muito individual de mim, nem da forma como exerço os cargos por onde tenho passado. As pessoas como eu têm sempre um horizonte utópico de chamamento, na base de uma evolução que permita uma maior felicidade, e esta passa, necessariamente, por condições de igualdade. Não é igualdade tábua rasa, mas é a possibilidade de todos, independentemente das suas opções pessoais, do seu lugar de nascença, da sua religião, poderem ter as mesmas condições de desenvolvimento, e que a própria estrutura social favoreça e promova essa visão igualitária, o que não acontece.
um apelo emocional. Não basta os ideais serem discutidos pela razão: têm de estar no coração dos homens (foi Adela Cortina quem disse isso). Essa força motriz da emoção, do impulso agregador e do impulso igualitário devia ser necessária a todos.
Então, a utopia é uma força motriz necessária, mesmo que saibamos não ser um objetivo alcançável? Sim... Há um filósofo de que gosto muito, John Dewey, que diz: “Nós guiamo-nos pelas estrelas, caminhamos segundo elas, mas não para elas”. Ou seja, a utopia é um horizonte de referência.
Consegue encontrar esse ideal, ou essa força motriz, nas atuais classes dirigentes? Não sei bem se está presente nas classes dirigentes. Há um vazio desses ideais, que é visível, não digo que em todas as manifestações da nossa sociedade, mas em algumas. E a principal causa disso é a educação. Não falo aqui apenas do sistema de educação formal. Educação é o ambiente onde somos formados e criados, e o nosso ambiente é demasiado pragmático, não o pragmático eficaz ou construtivo, mas o pragmático utilitário e individualista. Esses impulsos de natureza ética, de empatia, como agora está a acontecer nesta campanha — “E se fosse eu?” —, têm de estar presentes na formação das pessoas. A educação moral também se ensina. Não se ensina só a pensar, mas a interagir com os outros. Essa falta de atenção ao desenvolvimento moral pode ferir, profundamente, a estrutura das sociedades, e necessariamente estará presente nas pessoas e, como tal, nos políticos.
Sem esse horizonte não há rumo? É um ideal, mas tem de estar dentro de nós. Não basta às ideias políticas terem um fundamento conceptual: têm de ter
Ou seja, sintomas de uma sociedade tecnocrática... É uma sociedade tecnocrática e um bocadinho niilista em termos de valores.
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Nós passámos várias modas. A dos valores absolutos, e falo aqui das perspetivas excessivamente relativistas, em que quase que os valores se podem equiparar uns aos outros, numa escala em que deixa de haver valores mais e menos elevados... isso tudo é um caminho para um certo niilismo. Depois, aquela perspetiva competitiva, que se acentuou muito — a competição é algo extraordinariamente valioso, mas quando a competição se faz no aperfeiçoamento de cada um consigo próprio, competitivo, e no aperfeiçoamento de si dentro da sua comunidade, tornando a sua comunidade cada vez melhor. O mesmo filósofo que referi há bocado (isto está a ficar muito filosófico...) fala em “togetherness”: todos em conjunto. Essa noção perde-se quando eu tenho alguém a quem digo “tu tens de te safar, tens de competir, tens de ser tu o brilhante”, e não se percebe que não basta ser um indivíduo brilhante: é a minha escola, a minha turma ou o meu grupo que tem de ser brilhante. O brilhante sozinho é muito pouco, muito triste, muito vazio, muito pobre, muito soturno... e não é feliz. Na juventude, como tantos outros da sua geração, estava ligada à extrema-esquerda e era vendedora do “Luta Popular”. Como se reposicionou? Eu nunca fui militante nem inscrita no mrpp. A minha passagem por lá foi romântica e muito leve, dentro daqueles ideais da revolução. Entregavam-me os jornais para eu vender, e eu, de facto, era ardina, à porta
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da estação do Rossio. Mas dificilmente eu seria enquadrável ali. Uma das coisas que sempre caracterizaram o meu percurso foi uma certa rebeldia, não no sentido revolucionário, mas no sentido em que nunca me dei bem com nenhum fundamentalismo nem com nenhuma prisão de ideias. O coletivismo castrador... O coletivismo que impede a liberdade e a circulação de pensamento, em termos individuais e coletivos. Tenho muita dificuldade em lidar com questões fechadas. Tenho muita dificuldade em que me digam como é que devo pensar. E tenho muito apreço pelo pensamento disruptivo, pela imaginação, pelo debate público. Por isso, dificilmente eu seria militante de extrema-esquerda. Aliás, é muito significativo que eu nunca tenha sido militante de nenhum partido político. Manuel António Pina falava muito numa questão que se coloca às pessoas, em determinado momento da vida: perceber o que pensaria de nós a pessoa que éramos quando tínhamos 20 anos. O que pensaria de si a jovem Rosário Gambôa? Julgo que a Rosário mais jovem ia ficar muito surpreendida com a vastidão do meu caminho... Eu não sou religiosa. Tenho algum impulso religioso, mas no sentido de uma religião universal, abstrata, conceptual. É mais uma ética universal do que uma religião. Mas costumo dizer que, de facto, tenho de agradecer imenso à vida e a Deus, a Deus nesse sentido, porque me permitiu viver muitas vidas dentro da vida. Já fiz muitas coisas, e isso é o melhor que alguém como eu leva, porque se eu desejei para mim a interação com os outros, eu tenho-a tido muito. Em termos de valores, que julgo que é o que pergunta... Também... e, já agora, se, além de surpreendida, essa jovem se sentiria orgulhosa. Sem querer parecer imodesta, acho que a Rosário jovem se sentiria orgulhosa da mulher que hoje sou. É um bocadinho aborrecido, mas eu julgo que sim. A massificação do ensino era um dos desafios mais cruciais do Portugal democrático. A batalha está ganha? Está e não está. Está ganha, no sentido de ter havido uma grande expansão do ensino básico, do secundário. No que diz respeito ao pré-escolar, ainda estamos um pouco atrasados, e essa é uma dimensão que tem de ser contemplada. O que se entende por educação básica vai mudando conforme a evolução das sociedades, e as expectativas sociais são cada vez maiores, o que é bom. Uma das coisas mais extraordinárias que aconteceram no país foi um conjunto imenso de gente poder entrar na escola, o que significou uma elevação muito grande do nível médio da população, em
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todos os sentidos. Não falo só nas competências para o mercado de trabalho, mas na própria noção de cidadania e de pessoa, no sentido mais completo do termo. Agora, a batalha está ganha? Não. Mesmo ao nível do ensino superior, continuamos a ter números baixos, relativamente à Europa. Também ao nível do secundário temos taxas de abandono e de insucesso que ainda são representativas, temos uma população adulta que não tem a qualificação necessária (o programa “Novas Oportunidades”, se tinha problemas, devia ter sido reformulado e não interrompido), ainda temos população analfabeta... Houve um enorme progresso, mas há muita coisa por fazer. Perfilha a ideia de que temos a geração mais qualificada de sempre? Se sim, por que não temos o país mais desenvolvido de sempre? Comparativamente a décadas passadas, temos, sem dúvida, a geração mais qualificada de sempre. Não temos é a capacidade de essa geração ser absorvida pelo nosso mercado e pela nossa estrutura social. Isso porque o nosso modelo de desenvolvimento social e económico não acompanhou a saída desses profissionais. E há também, muitas vezes, alguma falta de articulação entre as necessidades do país e o perfil dos jovens que saem. O que é central em nós é uma imensa falta de planeamento estratégico, de uma visão coerente que estabilize nas políticas públicas, que se possa desenvolver em continuidade para o país e que permita que estes hiatos todos, que são muitos, possam ser resolvidos. Temos, de facto, uma geração extraordinária, e é muito triste que ela não se possa fixar cá. Se o país é um corpo vivo, o que está a drenar para o exterior é sangue. É a saída de jovens que podem ser necessários ao desenvolvimento, os jovens que vão ser as gerações de amanhã, que vão ter filhos, que vão transformar o país, que vão criar e que, devido ao esforço e às crenças das gerações anteriores, têm hoje muito melhor preparação para fazerem o país melhor. Esse êxodo é frustrante para si, enquanto responsável por uma instituição de ensino superior? Sim, mas é também frustrante nos meus papéis todos: como portuguesa, cidadã, mãe... O que a mim cabe, no meu trabalho, é fazer com que existam condições para que eles fiquem, e não apenas por ficar: que fiquem realizados e a produzir qualquer coisa para bem do futuro e para bem de nós todos. O modelo do Politécnico é especialmente adequado a esse esforço? O modelo do Politécnico já não é o modelo do Politécnico. Quando se fala nesse modelo, pretende-se dizer que as
“Comparativamente a décadas passadas, temos, sem dúvida, a geração mais qualificada de sempre. Não temos é a capacidade de essa geração ser absorvida pelo nosso mercado e pela nossa estrutura social. Isso porque o nosso modelo de desenvolvimento social e económico não acompanhou a saída desses profissionais.” formações são profissionalizantes, mais práticas, voltadas para o mercado de trabalho, mais operatórias. A maior parte das instituições de ensino superior, em particular naquilo que se chama abertura à sociedade, a terceira missão das instituições, todas elas fazem isso. Um médico não é profissionalizante? Um engenheiro? Um arquiteto? Mesmo as universidades mais clássicas, em Portugal (no estrangeiro, isso começou há muito tempo), fizeram essa deriva “politécnica”, entre aspas porque as universidades não copiaram nenhum modelo politécnico, mas seguiram o seu caminho natural. Hoje, o que compete a uma instituição de ensino superior é, de diversas formas, fazer com que esta articulação exista, e não só no final do curso. Quando se diz que há uma falha entre a formação e o mundo do trabalho, essa falha não se resolve acrescentando qualquer coisa no fim do curso — está na moda falar-se de empreendedorismo —, uma cadeira qualquer em que as criaturas vão aprender a ser empreendedoras. Essa falha só se resolve se toda a estrutura formativa tiver uma comunicação maior com a sociedade civil ou o meio empresarial. O que é fundamental é que cada instituição seja capaz de descobrir este caminho de moto-próprio. Sou absolutamente a favor de que as instituições de ensino superior sejam diferentes e diversas. O país é demasiado pequeno para tanta coisa igual. Agora, a diferenciação deve ser encontrada dentro da personalidade e do modo de estar da instituição. Não é a diferenciação absurda,
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dizendo que o politécnico é mais prático, e por ser mais prático eu vou proibir a Faculdade de Engenharia, aqui ao lado, que tem cursos parecidos ou iguais aos do Instituto Superior de Engenharia, de fazer um conjunto de coisas porque são politécnicas, por se relacionarem com as empresas ou com o tecido regional. Mas a perceção dessa diferença persiste... Essa diferença é artificial e tem uma razão histórica. Quando o ensino superior técnico foi criado, na altura da reforma de Veiga Simão, dirigia-se à formação de um conjunto de profissionais que não existiam dentro das universidades. Falo de jornalistas, de enfermeiros, de um conjunto de técnicos. Por isso, foi criado o ensino politécnico. Só que as universidades, hoje, e bem, também fazem essas formações. Mesmo ao nível do que era o portefólio formativo politécnico e o portefólio formativo universitário, a mistura está completa. O que há diferente é porque há instituições diferentes umas das outras. E essa diferenciação, quanto a mim, até devia ser maior, não por um bloqueio administrativo e burocrático imposto, mas pelo próprio percurso e posicionamento das instituições. E a tutela devia incentivar a diversidade e não a réplica. Uma diversidade respeitando a vocação e a capacidade das instituições. No Politécnico do Porto, não só nos orgulhamos dessa matriz pragmática como a aprofundamos e trabalhamos, porque cremos que é uma das bases fundamentais da nossa identidade.
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O IPP fez 30 anos e acabou de reestruturar a oferta formativa. Isso cria grandes expectativas? A reforma foi programada há anos, de acordo com orientações que saíram do nosso plano estratégico. Apercebemo-nos de como a instituição pode posicionar-se de uma forma mais competitiva, no bom sentido, competindo consigo própria e valorizando-se cada vez mais no seio do que é o sistema de ensino superior, português e internacional. Uma das coisas que decidimos foi reforçar o nosso modelo de ensino pragmático. Depois, também, reforçar a qualidade do ensino e da investigação. Como? Pela concentração de massa crítica. Nós tínhamos um conjunto de formações dispersas. Tínhamos sete escolas, ou faculdades, havia oferta formativa replicada, disfuncional, e entendemos que seria muito mais proveitoso,
a partir da definição de um conjunto de clusters identificadores de cada escola (das engenharias, da saúde, da educação, das ciências empresariais...), reposicionar a oferta formativa. Por isso, tudo o que é ciências empresariais regressou a uma escola, tudo o que era engenharia regressou a essa escola. Simultaneamente, tínhamos duas linhas de desenvolvimento dentro do Politécnico, mas que entendemos que devíamos reforçar, que era a formação superior em turismo e hotelaria, e transformámos a escola da eseig nessa escola , e criámos uma outra escola, essa sim nova, de raiz, que está nas mesmas instalações (por isso o nosso campus de Vila do Conde e Póvoa de Varzim fica muito reforçado), que foi uma escola de media arts e design, com competências que já tínhamos e outras que saíam das orientações do plano estratégico. Assim, o Politécnico do
Porto tem a sua casa arrumada, tem oito escolas, cada uma representa um cluster de referência, onde a massa crítica, em vez de estar dispersa, está concentrada, e é muito mais fácil qualificar os cursos e a investigação afeta aos cursos, quando, em vez de termos três ou quatro docentes, temos um corpo significativo dentro da mesma área de conhecimento. E a implementação? A seguir à reforma, tivemos de operacionalizar. Já pusemos cá fora um conjunto de despachos em que se diz como é que as transições vão acontecer. Algumas transições são muito violentas, porque há cursos que mudam completamente de escola e, com eles, mudam os docentes. Houve alguma contestação por parte de alunos. A situação está pacificada? Houve, mas esta reforma foi muito complexa e muito bem feita. Desde o primeiro momento, além de pormos todas as escolas a posicionar-se, toda a gente tinha acesso à maior parte dos documentos estratégicos e à produção de documentos. E foi uma reforma informada, com documentos europeus, com a especialização inteligente, com todas as tendências importantes, com os fluxos dos alunos... tivemos tudo isso em conta. Houve alguma contestação legítima, que foi rapidamente sanada. Havia alunos de um curso ou outro da esmae, que mudavam para Vila do Conde, o que levantou algumas resistências, nós percebemos essas resistências e, com eles, em conjunto, criámos comissões para cada curso, paritárias, de alunos e docentes, e todas as situações foram analisadas, definindo-se qual era o timing em que iam mudar. Há alunos que acabam aqui o curso, outros que fazem aqui mais um ano, outros que vão logo para Vila do Conde, outros que vêm logo para o Porto. Não há nenhum modelo igual. Foi tudo definido em função dos alunos. E mesmo aos alunos que têm de se deslocar nós vamos assegurar transporte, correspondente ao tempo de encerramento do seu ciclo de estudos. Houve outra pequena contestação, residual, que nunca foi sanada. Estavam 43 alunos à porta do Rivoli, alguns nem sequer eram do ipp, mas tudo bem. Aí, houve, de facto, algum mal-estar que acabou por deixar de ter eco, mas que era impossível resolver, porque eram, fundamentalmente, alunos que eram mesmo visceralmente contra o processo. É evidente que num processo destes, com 18 mil alunos, com a Direção da fap a apoiar a reforma, com as associações de estudantes, tirando uma, que se absteve, a votarem que sim, e, depois, com os grupos todos de estudantes a trabalharem em cada curso... melhor era impossível. Conseguimos fazer uma grande reforma, que, de certeza absoluta, posicionará o ipp de uma forma muito mais competitiva no futuro.
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Que falta fazer para que os politécnicos percam o estigma de irmão menor do ensino superior? Poderem conferir o grau de doutor? Conferir o grau de doutor, para mim, é uma coisa crucial, que deve ser atribuída às instituições que demonstrem capacidade para o efeito, chamem-se elas o que se chamarem. E a capacidade para o efeito tem de ser definida pela agência de avaliação. Quanto a mim, os critérios até podem ser mais exigentes, isto é, dentro daquela área do conhecimento em que a instituição se candidata a dar o grau de doutor, tem de demonstrar, de forma inequívoca, que há uma produção de conhecimento significativa associada a essa área. É o primeiro critério fundamental: que tenha um corpo docente qualificado e próprio, dentro daquela área do conhecimento, aliás, o corpo docente que também produz esse mesmo conhecimento. Quando esses quesitos estão garantidos, a instituição tem de ter o direito a conferir o grau, chame-se ela o que se chamar. O que nós temos visto em Portugal, em particular nos últimos anos, é alguma promiscuidade. Há instituições que eram politécnicas, em particular privadas, que de repente passam a instituições universitárias por decreto e, depois, passam a poder conferir o grau de doutor. O que eu entendo é que o grau de doutor é muito importante e não deve estar sujeito a uma mudança de designação feita por decreto e, se calhar, nem sempre de uma forma muito pública. Deve estar associado à capacidade da instituição. Os politécnicos podem ou não conferir o grau de doutor. As universidades podem ou não conferir o grau de doutor, sejam públicas ou privadas. Eu admito que uma instituição possa conferir esse grau numa área em que é muito sólida e não possa noutras áreas. É isso que deve acontecer. Sou contra o sistema binário, porque acho que é uma divisão que não existe, mas julgo que esta questão do grau de doutor, em particular no Politécnico do Porto, é uma coisa que nos tolhe, e muito. Temos um conjunto vastíssimo de centros de investigação, onde há doutorandos a trabalhar com os nossos doutores, a pesquisar naqueles centros de investigação, e quando chegam ao fim... … vão a Espanha... Não, eu refiro já o porquê de Espanha. Eles vão tirar o título à Universidade. O que significa que o título é da Universidade, não é do Politécnico, o património da investigação é da Universidade, não é do Politécnico, e a maior parte das vezes, ou quase 99% das vezes, os nossos investigadores nem sequer podem ser reconhecidos como orientadores. Nem sequer o seu trabalho, a sua propriedade intelectual lhes é reconhecida. O Politécnico do Porto tem feito vários doutoramentos em parceria
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com Espanha, onde a situação tem sido muito diferente. Estamos a trabalhar com algumas das universidades mais antigas da Península, Santiago de Compostela, Salamanca, com Vigo, que é uma jovem universidade, e Oviedo e Corunha, todas por uma questão de proximidade e de qualidade. Se pudéssemos conferir o grau, este seria conjunto. Não podemos, porque a nossa lei impede-nos. Mas os nossos investigadores são reconhecidos como orientadores, e o trabalho é todo feito em parceria. E há muitos cursos de doutoramento que são feitos aqui, no Politécnico do Porto, e são os nossos parceiros que se deslocam e dão cá as aulas, o que tem um significado simbólico e um significado real, no que diz respeito ao currículo dos docentes, muito diferente. Mas é uma situação injusta, absolutamente absurda, e no caso das artes mais absurda é ainda. Há muito que a maior parte das instituições no ensino artístico, onde se fazem doutoramentos, fazem doutoramentos performativos. É o caso de Inglaterra, da Irlanda... Os doutoramentos performativos têm a ver com o trabalho do próprio artista. O que acontece aqui é que, por exemplo, um músico vai ter de fazer um doutoramento em musicologia e não em harpa ou em trompa. E nós temos capacidade completa de dar esse doutoramento. A pessoa que faz o doutoramento tem de fazer esse esforço de ir fazê-lo noutra área, que não é do interesse nem enriquece a sua prática, nem enriquece o seu trabalho no contexto do ipp. E depois todos aqueles prejuízos que já disse. Noutro dia, o ministro Manuel Heitor veio cá, e eu fiz questão de lhe mostrar um conjunto vasto de centros de investigação, onde em todos eles estavam doutorandos, um número muito significativo, dez, 15, 20 doutorandos, a fazer doutoramento com os nossos docentes, que não vai acontecer, em termos de realidade e de património. O fim do sistema binário, que preconiza, poderá decorrer da fusão do Politécnico com a Universidade? Acho que não estão criadas condições para isso... Mas poderiam vir a estar? Poderiam, se houvesse uma visão que permitisse a construção de um caminho faseado nesse sentido. O sistema binário fundamenta-se num conjunto de distinções artificiais. Aquela de que falámos antes, que é um momento formativo mais prático, esta de que falámos, que é o grau de doutor (a única que existe, na realidade, mas por questões administrativas e não reais), e uma outra, ainda mais ridícula, que diz que os politécnicos fazem investigação aplicada orientada, e as universidades fazem investigação aplicada. Nunca eu conheci o que é que significa a designação orientada aplicada... As grandes distinções que
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estão na lei não existem. Caíram há muito. Insisto numa coisa muito importante: há distinções entre as instituições. E o país tem de perceber que elas existem. E se estas instituições, mesmo as mais frágeis, são importantes, então tem de se encontrar um caminho de sustentação. O resto é um absurdo. No caso do Politécnico do Porto, somos a quinta maior instituição de toda a rede de ensino superior, mas, como eu gosto de dizer, não somos só maiores: nós somos bons. Somos a quinta instituição na atração de estudantes, estamos no top 10, em Portugal, das instituições de ensino superior com investigação.
pura e simplesmente, porque na estrutura existente, enquanto politécnico, eu estou limitada para fazer um conjunto de coisas que sabemos fazer e que já fazemos. Não pode dar os passos que as pernas lhe permitem... Claro. Eu, os docentes, os nossos estudantes... Há trabalho que fazemos que não é reconhecido. O meu amigo Salustiano, que é o reitor da Universidade de Vigo, uma vez, aqui, na abertura dos primeiros protocolos de doutoramento, dizia, alto e bom som, aquilo que eu acho: há uma anomalia administrativa na nossa lei, e
“Há uma anomalia na nossa lei, e essa anomalia tem de ser removida. Eu queria muito que o Politécnico do Porto passasse a uma instituição universitária, ou instituto universitário, a mim tanto me faz, o que eu quero é que me permitam ultrapassar as teias administrativas que estão a travar o nosso desenvolvimento.” Se pudéssemos dar doutoramento, disparávamos completamente. E se pudéssemos dar doutoramento, iríamos dá-lo naquelas áreas em que temos competências, não era em todas, como é óbvio. Mas é muito difícil, para o Politécnico do Porto, muito mais do que para qualquer instituição, atingir o patamar que atinge, porque o nosso esforço tem de ser muito maior, porque as nossas condições não são as mesmas. O próprio modelo de financiamento, nas áreas de formação, quando é politécnico é de uma maneira, quando é universitário é de outra... Então, poderia haver uma transição do Politécnico do Porto para uma realidade universitária, uma espécie de universidade nova, digamos assim? Eu desejo que isso aconteça. Não porque tenha alguma fobia aos politécnicos, mas,
essa anomalia tem de ser removida. Eu queria muito que o Politécnico do Porto passasse a uma instituição universitária, ou instituto universitário, a mim tanto me faz, o que eu quero é que me permitam ultrapassar as teias administrativas que me estão a travar o desenvolvimento. De que modo é que o IPP é, hoje, um agente que ajuda a construir a cidade? Nós somos, de facto, uma instituição que ajuda a construir a cidade, e a cidade tem-nos ajudado a construirmo-nos a nós. Eu tenho uma conceção de ensino superior muito pouco firmada nos muros das instituições. Aliás, julgo que isto que hoje é o ensino superior, provavelmente, deixará de existir muito rapidamente dentro de uns anos, porque vivemos numa sociedade de conhecimento e, também, uma sociedade global. Hoje produz-se conhecimento não
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só na universidade. O lugar da universidade, como fonte produtora de conhecimento, deve ser entendido como espaço privilegiado entre outros focos. E o conhecimento só consegue florescer em duas coisas: primeiro, na articulação desses polos, em rede, desde o primeiro momento; depois, no transitar, pois o conhecimento é tanto mais inovador quanto consegue fazer misturas, articular linguagens, articular métodos, e é isto que a nossa realidade contemporânea nos mostra. A necessidade de termos um conhecimento que não é tão disciplinar, que não é tão académico, que é construído com o mundo. A cidade do Porto tem dado passos muito significativos. Primeiro, porque o Município assumiu uma posição soberana, não no sentido de poder, mas no de coordenação dos diferentes players da cidade. Agregadora. Sim, tem-na assumido num conjunto de projetos, de acordo com o programa desta vereação, num conjunto de eixos estruturantes. Tornar o Porto uma cidade onde se vive bem. E o viver bem são as cidades inteligentes, são cidades de cultura, que tratam o envelhecimento ativo, que criam oportunidades aos jovens, que procuram que o conhecimento produzido fique residente. E isto tem sido uma constante desta Câmara, o que nos agrada muito. Quando eu digo que somos um player da cidade e que a cidade nos reconhece, o que faz de nós player da cidade é um movimento interativo. Não só de nós com a Câmara, mas, através da Câmara, porque ela tem essa capacidade, com os outros players todos. Como é que isso se manifesta? O Politécnico do Porto é parceiro do Município nas smart cities, nas smart grids, nas questões energéticas, nas questões ambientais, na cultura, através não só da esmae, onde temos, sem pretensão nenhuma, a melhor escola de música do país... Temos uma excelente escola de teatro, estamos agora a começar a completar uma vertente da nossa formação que não tínhamos, que é a dança, numa parceria com o Rivoli e de uma maneira muito interessante, que eu julgo que pode ser um sinal do futuro do que é a construção do ensino superior: vamos fazer uma pós-graduação de dança dentro do Rivoli, com gente que trabalha no Rivoli, com muitos dos coreógrafos e muitos dos artistas que vêm ao Rivoli, através de master classes, potenciando a cidade e os equipamentos da cidade como um palco de formação e injetando, também, as componentes científicas que são necessárias e residentes no Politécnico. Julgo que este exercício deve e pode ser feito com outras estruturas. Não há curso nenhum, no ipp, que não tenha um estágio prático, desde sempre. Nós estamos a tornar mais efetivos esses
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estágios e a disseminá-los ao longo de todo o currículo, e, por exemplo, a fazer coisas maravilhosas, como no caso da Porto Design Factory, onde temos parcerias com as próprias empresas, que nos colocam ideias inovadoras, e que os nossos alunos desenvolvem e testam, e realizam produtos em acompanhamento com as empresas. E crescem numa estrutura que não é disciplinar, mas multidisciplinar. Um dos cursos que temos na Factory é em parceria com Stanford, e em Stanford já se fala de antidisciplinaridade, no sentido de construirmos o conhecimento em função do que é necessário para um produto inovador. Isto tem a ver com as metodologias que se centram mais no projeto e na conceção interdisciplinar do saber do que num percurso formativo de uma disciplina sobre outra disciplina sobre outra disciplina. Quando se trabalha em projeto, é possível continuar a dar os conhecimentos todos. Eles aparecem é com uma relevância social e com um sentido muito mais correto. As instituições de Ensino Superior, particularmente o Instituto Politécnico do Porto e a Universidade do Porto, são determinantes para a afirmação de uma cidade moderna e cosmopolita? Sim. O Porto foi e é, na sua alma, uma cidade de mercadores, de burgueses, que sempre tiveram uma atitude contestatária, até em relação ao centralismo da capital. Isto não é mero bairrismo, nós não nos queixamos por lamúria, mas contra algum centralismo que não pensa o país em função das necessidades do território, pois pensa-o em função de Lisboa. E que tem sido um mal crónico ao longo de dezenas de anos, para não falar em centenas... Podemos recuar a D. Manuel I e está lá tudo... Sim, é a incapacidade de pensar o território como um todo, avaliando os contextos reais e não decidindo num gabinete o que são os contextos. A cidade do Porto sempre teve consciência disto e sempre teve vozes que se levantaram. Mas também houve momentos em que a cidade esmoreceu e ficou tão cinzenta e triste como as suas pedras. Neste momento, há um vigor novo. Julgo que os portuenses recuperaram o orgulho em ser do Porto e atestam esse orgulho, por exemplo, com vários sinais, e a forma mais interessante, para mim, é o modo como as pessoas acorrem ao Porto e ocupam o espaço público e fazem do espaço público seu. Assumem o Porto. Assumem essa reivindicação de uma cidade que sabe o que é e o que quer e que sempre foi, e agora arranja uma nova forma de o afirmar, uma cidade de trabalho e inovadora. E o Porto é uma cidade cosmopolita, porque uma cidade de comerciantes é cosmopolita, aberta ao outro em transação comercial. E esta transação
que existe dentro do Porto é um alimento fundamental. Por exemplo, o crime em relação ao aeroporto foi isso, o impedir-nos de termos aqui esta centralidade e o cortar de asas a um território — não é só a cidade — que se estava a afirmar. É regionalista, encarando a reforma administrativa como meio de restabelecer equilíbrios nacionalmente? Sou. Independentemente de haver um plano estratégico comum, a nível nacional, é preciso pensar a sua concretização em função dos contextos, que não são iguais em todo o lado. E quem os conhece é quem
Recentemente, tomou posição sobre a polémica em torno da TAP, colocando-se ao lado do presidente da Câmara do Porto, contra um centralismo despido de sentido estratégico nacional. Acredita que esta luta será consequente? Eu acredito que vale a pena lutar e denunciar as situações, porque mesmo que não se ganhe uma batalha, deixa-se ficar um rastilho e um caminho. Se esta luta for perdida, é muito mau para o Porto. Este Porto é a grande região. Como intérprete de outros intérpretes, o Dr. Rui Moreira foi capaz de assumir esta voz, e foi fundamental que ele a assumisse. Como
“Eu acredito que vale a pena lutar e denunciar as situações, porque mesmo que não se ganhe uma batalha, deixa-se ficar um rastilho e um caminho. Se esta luta for perdida, é muito mau para o Porto. Como intérprete de outros intérpretes, o Dr. Rui Moreira foi capaz de assumir esta voz, e foi fundamental que ele a assumisse.” está neles, e é preciso articular a voz dos contextos com a direção do desígnio nacional e com o desígnio europeu, ou o desígnio mundial. Esta articulação só pode ser feita se houver uma boa base de regionalização, que permita a construção e o desenvolvimento de políticas locais. Quem gere de proximidade gere melhor e de uma maneira mais eficaz. O que é muito necessário, também, é haver um sistema mais transparente, mais auditado, mais justo e mais coeso nas políticas regionais, de forma a que contemplem a diversidade dos atores e contemplem as necessidades reais do território. E com prestação de contas, tal como a transparência, a apresentação e a discussão de resultados, antes de novos quadros serem lançados e reprogramados... Mas sou a favor da regionalização, independentemente da discussão do modelo em que ela deve ser implementada.
ele sempre disse, havia outras vozes por trás dele, até de autarcas do Centro e de autarcas da Galiza, que não Vigo. Mesmo que esta batalha seja perdida, o que é pena, o Porto saberá encontrar outros caminhos e, acima de tudo, foi capaz de se unir e de demonstrar, nessa união, a razão das suas razões. Isto é um caminho que se faz caminhando, e o poder central terá de ficar necessariamente mais sensível a outro modo de construir as políticas localmente. Ter razão chega para combater o centralismo ou é preciso algo mais? Infelizmente, sabemos que na maior parte das vezes, na vida, não basta ter razão. Se estivéssemos numa democracia dialógica, em que o que ganha é o melhor argumento, isso era possível, porque nós debatíamos, mostrávamos razões e argumentos, e o melhor argumento devia ganhar.
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Mas não é assim. O que acontece é que, pela falta de transparência, entra-se num jogo de diálogo que está viciado. Há um conjunto de interesses e situações ocultos, e quando nos chamam para o tabuleiro do jogo, chamam-nos com cartas viciadas, ou que nós não conhecemos, ou então para uma mise-en-scène, que é uma representação formal de um ato democrático, quando o caminho já foi traçado de outra forma. Não devia ser assim, em nenhum sentido. Faz parte de nós, como pessoas, não desistirmos e exigirmos que o argumento racional, fundamentado, tenha voz e consequência na construção política. Disse-me, noutra ocasião, ter desenvolvido um sentido de cidadania vivencial e emocional, que classifica assim: “É um nervo que, quando estimulado, salta em mim facilmente”. É esse nervo que detetamos, por exemplo, nas crónicas que escreve para o “Jornal de Notícias”? Julgo que sim. Há um nervo que salta quando a razão prática e os melhores argumentos não são ouvidos, quando a demagogia se impõe e trabalha sobre a ignorância, ocultando-a... Nas crónicas do jn, faço um exercício pessoal, mas como presidente do Politécnico do Porto, e nessa qualidade tenho de escrever de acordo com o respeito e a dignidade do cargo. São textos em que julgo que se sente a autenticidade de uma voz independente, que é a minha, e de uma instituição que é a minha, mas uma voz que gosta de se levantar, mesmo quando as causas são impossíveis. Julgo que exerço aí o tal nervo emocional que todos temos. Eu assumo-me como uma pessoa emotiva. A emoção dá algum vigor e algum tempero à razão. É péssimo existir emoção sem razão, mas também é má uma razão fria, isto é, sem estar mergulhada em raízes morais, ou éticas. As decisões políticas, de planeamento e da cidade não podem ser somente racionais, mas têm de estar também mergulhadas em preocupações morais e éticas. E o governo de uma casa, de uma instituição, de uma cidade ou de um país deve ter isso em conta. Nós somos escolhidos para cuidar de alguma coisa, e esta palavra, cuidar, tem muito significado: o tomar conta sem diminuir a autonomia do outro. Ainda que com milhões de falhas, o que procuro fazer, numa reflexão contínua sobre mim própria, é exatamente isso. Já escreveu, por exemplo, sobre a crise dos refugiados. Teme que esteja a nascer uma sociedade asfixiada pelo medo? Temo. O medo inibe-nos de comunicar com o outro, de nos abrirmos. E tem consequências pragmáticas terríveis. Outro dia, li depoimentos de um conjunto de empresários, a nível europeu, que diziam que o fechamento das fronteiras podia ter consequências absolutamente desastrosas em termos económicos, mais devastadoras
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do que aquilo que se investe a apoiar os refugiados. Depois, o medo tem consequências políticas muito fortes. Já não falo só da ética, falo de situações de violência que nós podemos estar a estimular. Quando as pessoas são retidas, há mais de dois milhões de refugiados retidos na Turquia, e outros que, agora, vão começar a entrar... quando não há uma resposta razoável para as pessoas, é natural que elas se revoltem. Nós vimos, há anos, revoltas em Paris e noutras cidades. Essas revoltas podem, sim, significar um medo sério. E depois, o que aqui está em causa é uma imensa falta de coordenação das políticas europeias, uma fragmentação enorme do que era a construção europeia... Vamos por aí: a integração assenta numa base de tolerância e abertura, mas esse medo gera intolerância e fechamento. Estaremos a assistir ao fim da construção europeia? Espero que não e julgo que ainda não. Assistimos, sim, ao fim de uma certa ideia de Europa. O que domina a Europa, além da incapacidade de resposta às questões políticas e uma falta de coesão, é não haver a possibilidade de uma solução conjunta.
Diz-se que se vão distribuir os refugiados, depois já não se vão distribuir, depois uns fecham aqui, outros fecham acolá, admitem-se situações de exceção a torto e a direito... Não há uma política sólida concertada entre todos. Esta Europa não foi capaz, por exemplo, de fazer face à crise económica, de colmatar a ausência de crescimento. É uma Europa que não soube fazer face à falta de coesão interna, mesmo a nível de coesão social. O desnível e o crescimento de populações no desemprego, que vivem abaixo do limiar da pobreza, não foi resolvido durante estes anos todos. É uma Europa que não resolve o problema político, não resolve o problema económico, não resolve o problema financeiro terrível. E há um diretório central que se impõe de uma maneira às vezes demasiado abusiva em relação à autonomia das partes. Temos uma Europa desagregada, que esqueceu a sua dimensão política, mas que também não resolve as outras dimensões, e temos uma Europa que deixou de integrar e de ouvir os diversos membros, que decide centralmente. Depois há sempre aquela sensação terrível, que eu tenho, que é aquilo que eu não sei. Aquilo que nós não sabemos da forma como a política
do nosso país e dos outros países está a ser construída. Qual a margem da nossa decisão e qual o sentido da decisão deles. A Europa de Jacques Delors, de Robert Schuman e de outros, com certeza, não era exatamente esta Europa. Nasceu em Penafiel, estudou em Lisboa e no Porto, fixou-se no Porto, Qual é o território que lhe corre nas veias? Eu considero-me, hoje, uma portuense. O território é o território da infância, do fundo do meu quintal. É a paisagem. Nós vinculamo-nos, inicialmente, às coisas que foram nossas, em particular se a experiência foi feliz. Mas a vinculação inicial é fundamental para a estabilidade de um indivíduo, e quando ela não é feliz é trágica. Esta vinculação inicial passa pelos cheiros, pelos ambientes, e a minha vinculação inicial é ao território onde eu nasci. Mais do que dizer que é Penafiel, é a ribeira do Cavalum, era a quinta, era o meu quintal, eram as sebes, às vezes, até, um monte de silvas... E regressa ainda a esse território, emocionalmente ou de facto? Regresso permanentemente. De uma forma que é difícil de explicar e que, posto
numa entrevista, pode até parecer desbocado, esse território mais íntimo é a minha força interior, é a minha religião. Se eu lhe pedir um lugar do Porto que seja O LUGAR, assim em maiúsculas, é capaz de o apontar? Sou: o Largo de S. João da Foz. Porquê? Porque o largo da igreja de S. João da Foz é um espaço de uma cidade que tem algo ainda de rural, um espaço onde o sagrado e a cidade convivem de uma forma muito feliz, rodeado por colunas de um templo, que são plátanos. O que é que torna único viver nesta cidade? A gente do Porto. Eu gosto da gente do Porto. Isso existe? Existe. Não há um pensamento que identifique, assim, o portuense, mas há uma alma portuense, que se sente nos autocarros, no espaço público, na fala das pessoas, e não é o sotaque: eu acho que os portuenses são gente franca, às vezes rude, de cara lavada e que fala olhos nos olhos. E de que doenças enferma a cidade? Há ainda algumas ilhas de exclusão. É evidente que uma cidade tem muitas potencialidades e tem, ainda, muitos defeitos. E terá sempre, porque a construção faz-se elevando a fasquia e, como tal, reconhecendo-se outros problemas. Ainda há muitas ilhas de exclusão, há situações sociais, e bairros, e partes da cidade que ainda estão degradadas, onde a integração ainda não foi possível, onde este lavar de rosto que está a acontecer em muitos lados ainda não chegou. Eu tenho fé em que vai chegar. A minha maior fé resulta de as novas gerações terem sido sempre melhores e terem um nível de exigência e de aspiração muito maior que as que tinham os seus pais. É esse nível de qualidade, de conhecimento e de aspirações e exigências que podem fazer a cidade melhor, porque eles vão exigir isso.
Pedro Olavo Simões nasceu há 49 anos no Porto, onde reside. Fez-se jornalista em 1990, no “Jornal de Notícias”, e aí se mantém, tendo trabalhado praticamente em todas as áreas editoriais. Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, ajudou a desenvolver a “Jornal de Notícias História”, revista de que é coordenador editorial. Esta nova publicação, que ostenta orgulhosamente uma das marcas mais reconhecidas da cidade invicta, veio ocupar um lugar que estava vazio no panorama português: o de uma revista periódica multitemática, dedicada a temas históricos e patrimoniais, que combina a erudição com a clareza que a torna apetecível a todos os públicos.
E que rumos preconizaria para a cidade, se estivesse sentada na cadeira do presidente da Câmara? É difícil encontrar um rumo. Eu gostava de dizer outra coisa, mais pela positiva. Gostava que o Dr. Rui Moreira continuasse a ser uma voz aglutinadora dos players da cidade. Que continuasse a convocar a cidade e o Norte para o desígnio comum, planeado, em que cada parceiro da rede fosse uma mais-valia para a rede e um foco da rede autónomo, no sentido de termos um Norte, um Grande Porto mais vivo, mais coordenado, mais colaborativo, mais interativo, mais eficaz. Esse caminho está aí, e pedia-lhe para ele nunca se calar.
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Há vida nova no Matadouro O antigo Matadouro Industrial, situado em Campanhã, bem ao lado da Via de Cintura Interna, ocupa uma preciosa área de 29 mil metros quadrados. Não fossem o betão da vci e o desnível que o afunda e o Estádio do Dragão estaria em linha de vista. A Câmara do Porto está a dar-lhe vida.
O
estádio, o seu parque de estacionamento; a estação de Metro, o seu parque de estacionamento; um shopping e o seu parque de estacionamento. E todos os acessos e todas as facilidades. Desaproveitado há décadas, o conjunto de espaços que constituem o Matadouro, como é conhecido, chegou a ser posto à venda pelo Município. Contudo, no atual mandato, a Câmara do Porto resolveu resgatar a sua alma e traçar para lá um projeto que toca os pilares da governação de Rui Moreira: a economia, a coesão social e a cultura. Em abril deste ano, a Câmara do Porto levou o projeto, que irá concretizar nos próximos dois anos, à Trienal de Design e Arquitetura de Milão, onde o apresentou internacionalmente. Deu-o também a conhecer aos portuenses, no próprio espaço do Matadouro e, agora, é hora de pôr mãos à obra. O projeto de arquitetura é assinado por Jorge Garcia Pereira, um jovem
arquiteto de Campanhã a quem coube pensar a adequação do Matadouro à nova vida que o vai projetar. Nesta operação, Rui Moreira juntou vários pelouros e valências municipais, como a economia, a inovação, o urbanismo, a coesão social e a cultura. Até 2018, o Matadouro trará vida à cidade e será um dos polos dinamizadores de uma zona da cidade que, nas últimas décadas, foi perdendo importância no contexto da cidade, mas onde existem todos os ingredientes do carácter do Porto e onde foram deixadas as sementes de uma terra fértil e onde floresceu, outrora, a indústria transformadora do Porto. Porquê Campanhã
O Vale de Campanhã está situado na zona mais oriental do Porto, ocupando uma área de 8,3 dos 42 km2 da cidade. Tem 32 mil habitantes. A freguesia é limitada pelo rio Douro e pelo concelho de Gondomar. A norte e a ocidente os seus limites acompanham em grande parte as linhas de caminho-de-ferro do Minho e do Douro.
O Vale possui ainda a maior mancha verde contínua da cidade, com algumas áreas florestadas e dois rios, o Tinto e o Torto, que desaguam no Douro, e é atravessado por algumas das vias rodoviárias mais importantes da Região. Possui uma grande estação férrea, aonde chegam e de onde saem mercadorias e passageiros para a principal linha nacional, entre Lisboa e Porto e é servida pelo sistema de metropolitano da cidade. Brevemente, receberá também um importante investimento num terminal rodoviário, que completará o círculo da intermodalidade. Aparentemente, a freguesia de Campanhã, como a descrevemos, poderia ser o melhor dos lugares para se viver e trabalhar. Contudo, é ali que estão alguns dos problemas sociais mais enraizados da cidade, onde há maiores níveis de desemprego e onde o investimento público mais sentido faz, num Porto onde o desígnio da coesão social ainda não se cumpriu. Num Porto que continua desequilibrado. Reverter o desequilíbrio social e urbanístico não pode ser feito, contudo, apenas
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com investimento público. Nem só com investimento privado. Nem tampouco podemos esperar que surja no horizonte um mecenas que opere, num gesto, a transformação. Na verdade, a degradação das condições de atratividade da freguesia e a consequente degeneração do Vale de Campanhã, têm muitas décadas e dificilmente poderão ser revertidas com soluções saídas de cartolas mágicas. Nem se pode esperar que a inversão do caminho possa surgir espontaneamente e resolver-se na vida útil de um ou dois ciclos políticos. A tarefa da regeneração do Vale de Campanhã é, pois, possível, mas ocupará, se coerentemente concertada e continuada, gerações. A Câmara do Porto tem, face a este desafio, em curso diversos projetos nesta zona da cidade. Consciente de que não fechará o círculo sem a ajuda e continuidade de vários e sucessivos executivos e, também, com a ajuda do Estado e o olhar da iniciativa privada. A regeneração urbana, nomeadamente, a requalificação dos bairros camarários é, de todos, o projeto que tem consumido mais recursos públicos. Já no presente mandato, foram lançadas obras no valor de 26 milhões de euros na recuperação de habitações sociais, grande parte já executadas. O ambiente tem também em curso uma enorme operação de regeneração de Campanhã, graças ao projeto de recuperação da massa de água do Rio Tinto e sua consequente despoluição. Este rio, parcialmente emparedado e enterrado nos concelhos que atravessa, corre sobretudo a céu aberto no Porto, cruzando um espaço verde cujo desenvolvimento foi travado pelas más condições do curso de água.
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O P R O J E TO • H Á V I D A NO V A NO M A T A D OU R O
O Projeto
junto ao grande público e proporcionar, simultaneamente, um espaço de investigação e inovação para novos chefes.
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Estúdios Media e Audiovisual
Em traços gerais, a restruturação do espaço irá permitir alocar 10 valências-chave, que assentam nos três eixos da governação da cidade e criar novas ligações entre a zona da Corujeira e a envolvente ao Estádio do Dragão, promovendo a mobilidade.
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Estúdios de produção e gravação para as áreas do cinema, música, televisão e rádio. Um projeto que cruza espaços disponíveis para arrendamento comercial e espaços vocacionados para projetos pedagógicos e emergentes.
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projeto para o antigo Matadouro Industrial do Porto foi apresentado à comunidade internacional a 14 de abril na xxi Trienal de Artes, Design e Arquitetura, em Milão, Itália, fruto de uma parceria com a esad – Escola Superior de Artes e Design. A 20 de abril, decorreu no próprio edifício, em Campanhã, uma apresentação pública do projeto.
Reservas de Arte Co n t e m po r â n e a
Artes e Ofícios Tradicionais
Reserva dinâmica de coleções privadas de arte contemporânea, permitindo a sua fruição pública através de uma área expositiva. Com este projeto pretende-se dar resposta a necessidades de espaço de reserva por parte de colecionadores e artistas sediados no Porto.
Projeto de preservação e estudo de saberes oficinais tradicionais que propõe um cruzamento entre uma dimensão laboratorial e uma dimensão pública de apresentação e divulgação ao público. Aqui se incluem os ofícios dos encadernadores, estofadores, carpinteiros e outros artesãos.
Área de Empresas C r i at i va s e Tecnológicas
Nave m u lt i u s o s
P ó l o d e D e s po r t o
Áreas destinadas à localização de empresas em diferentes áreas criativas e tecnológicas, tanto na “nova indústria” como nos serviços. A componente empresarial do projeto do Matadouro destina-se a grupos económicos e a médias empresas, nacionais e internacionais, bem como a promotores de novas ideias de negócio com elevado potencial de escalabilidade.
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Museu da Indústria
Projeto museológico – com um pólo central e outro disseminado por vários espaços — cuja missão assenta no estudo, conservação e revitalização da memória industrial do Porto. Inclui uma coleção permanente composta por centenas de peças, máquinas e documentos provenientes dos setores mais representativos do desenvolvimento industrial da cidade e da região, destacando-se o têxtil, os fósforos, a moagem, a fundição, a metalomecânica e a eletricidade.
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Espaço preparado para acolher diversos tipos de apresentações, estando equipado com uma plateia retrátil e tecnologia de projeção. O programa poderá variar entre conferências, cinema/vídeo, performances, exposições e eventos sociais.
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Área de prática desportiva coberta, composta por um campo multiusos e instalações de apoio, que visa dar resposta a necessidades dos colaboradores de projetos instalados no Matadouro e, estando aberto ao público, também contribuir para a sua inscrição nas dinâmicas sociais de Campanhã.
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L a b o r ató r i o de Gastronomia
Residências Artísticas
Projeto que combina uma dimensão exploratória da nossa gastronomia com práticas de lazer e consumo, partindo de experiências oficinais para um acesso público. Visa projetar a gastronomia tradicional atlântica
Área com estúdios que incluem residências e zonas de apresentação pública de trabalho, destinados a visitantes e participantes dos projetos sediados no Matadouro e também a artistas nacionais e internacionais.
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Arte e Co m u n i d a d e
Espaço dedicado a projetos, coordenados por agentes com experiência multidisciplinar, que visam o desenvolvimento de práticas em áreas sociais e artísticas em articulação com o tecido social da freguesia de Campanhã.
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Fazer cidade O ambiente, o urbanismo e a infraestruturação são cruciais, mas não bastam para criar condições de instalação de empresas, criar emprego e ligar as áreas mais interiores do Porto ao litoral, visto como mais rico e alheado de parte da sua cidade. A cultura, com os seus equipamentos, mas sobretudo com conteúdos e envolvência social, desempenha aqui o papel agregador e determinante. É o “cimento”, como gosta de afirmar Rui Moreira. Pode dizer-se que as sementes já estão lançadas, sobretudo através do programa Cultura em Expansão, promovido pela Câmara do Porto, que mais não faz do que envolver artistas, locais ou não, com os habitantes das zonas menos favorecidas e flageladas pelo desemprego. O edifício do Matadouro Industrial foi, aliás, palco para algumas dessas ações, que envolveram artistas profissionais e acidentais de uma forma particularmente interessante. A cultura tem, de facto, essa capacidade de promover rapidamente a coesão que, com métodos mais formais, custa muito mais a fazer. É promotora do empreendedorismo. Por isso, o projeto do Matadouro, em Campanhã, está no sítio certo, prometendo não apenas agregar os três pilares de um programa de governação, mas concertá-los entre si para que possa haver um caminho de sustentabilidade real do equipamento. É, por tudo isso, fazer cidade.
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NOTÍC I A S D O P O R TO
São João de Deus renasce
A
s obras no bairro São João de Deus já iniciadas, fazem parte do Programa Integrado de Reabilitação de Bairros Sociais do Porto e encontram-se divididas em duas fases. A primeira fase prevê a construção de 13 habitações, seguindo-se uma segunda etapa, que consiste na transformação dos atuais 144 fogos em 84 novas habitações. No final, o Bairro de São João de Deus será constituído por 97 casas e estará totalmente requalificado. Por opção, os moradores do bairro manter-se-ão a viver no local, em contentores, enquanto a requalificação durar, embora lhes tenha sido dada a escolha de serem mudados provisória ou definitivamente para outros bairros. A reabilitação do bairro não se esgota na construção e reabilitação de habitações.
PDM em discussão Adoção de animais
Também o espaço público será intervencionado, redefinindo-se o seu desenho urbano e paisagístico. O projeto prevê a abertura de uma nova artéria, garantindo a ligação entre a Rua 2 e a Rua 5, com a Rua 1. Esta ligação permitirá também um novo acesso às habitações construídas. No bairro serão ainda executadas redes de infraestruturas de abastecimento de água, de drenagem de águas residuais domésticas e pluviais, de gás natural, de telecomunicações e de iluminação pública. Em maio comemoram-se 75 anos da data de lançamento de primeira pedra da construção do Bairro de São João de Deus, originalmente designado por Bairro de Rebordões e cuja maioria dos blocos foi demolida pelo anterior executivo camarário.
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O Plano Diretor Municipal (pdm) do Porto encontra-se em período de revisão. A Câmara do Porto criou um sítio na internet dedicado exclusivamente ao projeto — acessível em www.cm-porto.pt/pdm — onde o público poderá acompanhar o processo, e onde, ao longo do desenvolvimento do novo Plano, serão disponibilizados os principais documentos de referência. O pdm é considerado o instrumento fundamental na gestão do território municipal e na definição estratégica da cidade de desenvolvimento e de modelo territorial, pelo que a participação dos cidadãos é fundamental para o Município. Foram já realizadas sessões públicas de lançamento do processo nas diversas freguesias da cidade, estando previstos outros fóruns de discussão ao longo deste ano. Paralelamente, no sítio de internet dedicado, na área “como participar”, será possível responder a um conjunto de inquéritos temáticos que, de forma sucessiva, irão auscultar a população sobre os principais desafios e problemas urbanos que se colocam hoje à cidade do Porto. Para além destes instrumentos de inquirição, é também disponibilizado o endereço eletrónico pdm@cm-porto.pt que poderá ser utilizado para o envio de sugestões.
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Um pastor alemão cruzado, fêmea, com quatro anos foi o primeiro animal a ser adotado no âmbito da campanha de promoção da adoção responsável lançada pela Câmara do Porto. A Autarquia oferece a esterilização aos animais adotados em 2016 no Canil Municipal, numa perspetiva de promoção da adoção responsável, sendo esta uma das medidas previstas no Plano Municipal de Controlo da População Animal de Cães e Gatos, plano já discutido com os principais atores nestas matérias, como as associações zoófilas, a Ordem dos Médicos Veterinários e a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária. No momento de concretizar o processo de adoção é emitido um cheque-esterilização com a identificação do animal adotado. Posteriormente, o novo dono do animal deverá contatar a Clínica Veterinária da Universidade do Porto (icbas-up) — com quem o Município contratou a prestação de serviço especializado — e agendar uma consulta pré-cirúrgica. O Canil Municipal, que até 2017 será substituído por um novo edifício, encontra-se aberto de segunda a sábado, na Rua de S. Dinis, nº 249. O sítio da Câmara do Porto possui uma área dedicada à adoção.
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Terrenos junto à Estação de Campanhã já são da Autarquia
26 milhões para habitação
Novo atendimento da Águas do Porto
Até ao final de 2017, a Câmara do Porto prevê investir cerca de 26 milhões de euros na requalificação e construção de habitação social em Campanhã. Já concluídas, estão as obras do bairros de São Vicente de Paulo, Lagarteiro e Contumil, que custaram, neste mandato, 3,2 milhões de euros. Em curso, estão as empreitadas de São Roque da Lameira e Machado Vaz, bem como as que foram iniciadas em São João de Deus, num investimento total de oito milhões. As próximas intervenções, a realizar ainda em 2016 e no próximo ano, totalizarão mais 15,4 milhões, nos bairros de Monte da Bela, Falcão e Cerco do Porto.
Os clientes da Águas do Porto têm agora melhores condições de atendimento na zona oriental da cidade, onde a empresa dispõe de um novo edifício comercial. Acessível a partir da Rua do Barão de Nova Sintra, o espaço passou a dispor de um parque de estacionamento, área de receção e atendimento e possui nove pontos de atendimento, três vocacionados para assuntos correntes de resolução rápida, e outros seis para tratamento de assuntos mais morosos, com conforto e privacidade assegurados. A intervenção representou um investimento da empresa na ordem dos 500 mil euros.
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A
Câmara do Porto e o Governo já chegaram a acordo para que a Autarquia possa avançar com o concurso público que permitirá a construção do Terminal Rodoviário em Campanhã. Prometido desde 2003, o equipamento nunca foi construído, deixando assim incompleta a intermodalidade do interface, onde já opera cp e Metro do Porto. Fechado no verão de 2015 pelo Governo e Câmara, o Acordo do Porto abriu a porta a uma solução, prevendo-se que a Infraestruturas de Portugal passe para a Autarquia os terrenos contíguos à Estação de Campanhã, comprometendo-se a Câmara com a sua execução. Contudo, a solução política a que se tinha chegado com o anterior Governo necessitava ainda de concretização administrativa, a qual foi agora conseguida, estando, assim, cumprido o último passo que permite o lançamento do concurso público para a conceção do terminal rodoviário e a que se seguirá a empreitada de construção.
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O Acordo do Porto permitiu ainda o encerramento de vários processos em que Autarquia e Estado reivindicavam, mutuamente, indemnizações referentes a obras e instalações da stcp, Metro do Porto e Aeroporto Francisco Sá Carneiro, assim como, Sociedade de Reabilitação Urbana. O saldo é favorável à Câmara em cerca de 40 milhões de euros, o que abre disponibilidade financeira para a construção do Terminal, considerado fulcral para o desenvolvimento económico da zona oriental do Porto. Mas o terminal cumprirá também outra função, uma vez que será usado como uma ferramenta importante da política de mobilidade de toda a cidade. Ele aliviará de pesados de passageiros, as zonas da malha urbana que já não comportam este tipo de pressão. A construção do equipamento abrirá também a possibilidade de criação de novos acessos à zona da Estação de Campanhã, São Roque da Lameira e envolvente.
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Há mundo nas escolas do Porto Há no Porto mais de 75 mil alunos no ensino público. O número desdobra-se nos vários ciclos do ensino, do Básico ao Universitário. O valor é superior ao de municípios onde a população ultrapassa a da Invicta. É como se o Porto fosse um íman que atrai a si conhecimento e desejo de conhecimento. A Universidade do Porto é uma das principais responsáveis por esta atração. No primeiro trimestre do ano recebeu quase 1.200 estrangeiros, através de programas internacionais como o Erasmus+ ou o Ciência Sem Fronteiras. Os novos estudantes vieram de 71 nacionalidades, de países tão longínquos como o Azerbaijão, a Coreia do Sul ou o Japão. O Município investe muito em todos os ciclos do ensino, com especial destaque para o ensino básico, onde tem especiais responsabilidades. Conheça-os em pormenor, bem como, a alguns dos seus frutos.
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H Á M UN D O N A S E SCO L A S D O P O R TO • ed u c a ç ã o
G
uilhermina Rego nasceu no Porto. Estudou no Porto. Além de vice-presidente da Câmara, é responsável pelo Pelouro da Educação, Organização e Planeamento e professora universitária. O seu percurso académico foi feito entre escolas públicas e privadas, dois sistemas válidos e com cartas dadas no Porto. “Tive a felicidade e a experiência de frequentar um ensino de qualidade. Reconheço qualidades quer no sistema público quer no sistema privado e essa experiência foi determinante para a minha escolha profissional e aposta na academia e num percurso académico”, referiu ao jornal Porto. A opção pela profissão de professora sensibilizou-a para uma visão abrangente daquilo que é a escola e a educação no Porto nos diferentes níveis de ensino, desde o pré-escolar ao ensino superior, bem como, para a sua evolução e que considera positiva nas últimas décadas. “Ao longo do tempo
assistimos a um percurso positivo no domínio da educação, em particular no acesso à escola e a um ensino de qualidade”. A vereadora diz que o ensino está hoje generalizado e é cada vez mais universal, sendo essa “a primeira grande evolução do sistema escolar português”. No caso do Porto, Guilhermina Rego classifica o ensino como sendo “de excelência”, dando como exemplo os vários centros de investigação existentes na cidade, assim como a Universidade do Porto. “Há um reconhecimento do mérito, destas instituições, quer a nível nacional quer internacional, o que significa que estamos a evoluir num percurso escolar cada vez mais positivo e de qualidade”, completa. “Há uns anos, a escola era particularmente percecionada como o local de aprendizagem do plano curricular. Hoje, além desta aprendizagem, a escola é também um local de vivências e desenvolvimento de outras competências e valor”, diz Guilhermina Rego. “Temos, por exemplo, um projeto municipal como é o caso do ‘Porto de Futuro’ que
para além de pretender uma aproximação da sociedade civil à escola, potencia a convivência, desde muito cedo, das crianças e dos jovens com a realidade do mundo empresarial. Ganham uma melhor perceção do mundo real, bem como maior sentido de responsabilidade. Este projeto é particularmente importante no combate ao desemprego jovem, pois, desde muito cedo ajuda os nossos estudantes a conhecer os desafios mais determinantes. Ou seja o que é que efetivamente a sociedade ‘precisa’, dando-lhes linhas de orientação e as ferramentas necessárias para responder às necessidades reais”, explica. No que respeita às escolas do ensino público, para além das instalações, onde nos últimos anos existiram francas melhorias, também as ofertas de valências educativas complementares têm aumentado e diversificado significativamente: “O ensino público oferece cada vez mais um leque diversificado e plural de atividades extracurriculares”. O conceito de escola a tempo inteiro, ultimamente em discussão, é matéria traba-
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lhada a nível municipal. Contudo, a posição da vereadora revela a necessidade de se refletir esta dinâmica atendendo à faixa etária e à envolvente familiar e social das crianças: “Concordo com escola a tempo inteiro, no sentido de ajudar as famílias, que hoje têm uma vida particularmente exigente do ponto de vista laboral. No entanto, importa perceber de que forma pode e deve ser preenchido, integralmente, o dia dos alunos, tendo atenção as suas idades e o seu contexto familiar”. “Tem que ser dada às crianças a oportunidade de brincar. Numa escola a tempo inteiro é preciso também “oferecer” momentos de brincadeira”, explica. Outrora estudante no Porto, hoje responsável política e professora, recusa avaliações injustas deste ou daquele estabelecimento de ensino: “Não seria correto estar a destacar uma ou outra escola, porque, por vezes, não depende única e exclusivamente daquilo que são os seus diretores e/ou professores, mas de todo o meio envolvente que pode condicionar aquilo que é a escola e o desempenho da mesma”.
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Também há Quénia numa sala de aulas do Porto
O
ambiente na sala de aulas da turma de 22 alunos do oitavo ano da aula de inglês da professora Ana Penha na Escola Eugénio de Andrade era de particular animação naquele dia. Afinal, a lição daquela tarde seria dada por Jane Wambura, uma estudante universitária natural do Quénia que escolheu o Porto para fazer o doutoramento em Nutrição. Começa a aula, depois de alguns pedidos de silêncio. Jane tem como base um PowerPoint com informação relevante sobre o seu país de origem, usos e costumes, assim como a relação do mesmo com Portugal. Pelo meio, perguntas, sempre em inglês. “Quanto tempo demora de avião de Portugal ao Quénia?” — perguntou um dos alunos. “Cerca de 15 horas, com ligação ao Dubai.”— respondeu Jane. Fala-se da gastronomia, do vestuário e das imensas diferenças culturais entre ambas as nacionalidades. Atentos, uns mais outros menos, o tempo vai passando, com intervenções pontuais da professora Ana Margarida a restabelecer a ordem e a ajudar no inglês, quando falta algum vocabulário. O projeto “Aulas sem Fronteiras” consta do portfólio do programa educativo municipal “Porto de Futuro” desde o ano letivo 2010/2011. Resumidamente, consiste na participação de estudantes estrangeiros integrados em programas de intercâmbio e que se encontrem a frequentar o ensino superior na cidade, nomeadamente, na Universidade do Porto, em encontros com os alunos das escolas públicas do terceiro ciclo e secundário. Quando foi iniciado, ou seja, no ano letivo de 2010/11, participaram
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Educação para o Risco
30 estudantes estrangeiros de países tão variados como a Costa Rica, a Argentina, as Honduras, o Paraguai ou o Zimbabwe. No ano letivo passado (2014/15), esse número subiu para 94 estudantes que deram 68 aulas e incluiu a participação de mais de 1500 alunos da cidade. Normalmente, as aulas são dadas em inglês, dada a diversidade de origens. No entanto, também existem em francês, espanhol ou português, no caso dos estudantes oriundos do Brasil. Jane considera o projeto “muito interessante” e aderiu ao mesmo quando lhe foi proposto pela universidade. “Julgo que é muito importante dar a conhecer às crianças do Porto (cidade que escolhi para estudar) outras culturas, culturas diferentes, que as ajudem a abrir a mente ao mundo, dando outras perspetivas e horizontes”, referiu. Também a professora Ana Penha só encontra benefícios na iniciativa e espera que continue. “Os alunos gostaram imenso e os objetivos dos programas de línguas são atingidos assim. Além da fluência na oralidade, outro dos objetivos consiste no conhecimento do outro, o próximo e o longínquo, sendo que as Aulas sem Fonteiras atingem completamente esse objetivo”, explicou. Quanto a Jane, a “professora” vinda do Quénia, chegou em setembro de 2015 ao Porto e ficará na cidade, se tudo correr como o previsto, até 2017. É a sua primeira vez na Europa e o Porto surgiu como uma das opções para fazer o programa Erasmus. “O Porto é uma cidade pequena, mas contagiosamente entusiasmante, com uma vasta cultura e gastronomia. Aqui sinto-me bem”.
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Visa a promoção de uma cultura e educação para o risco dirigido a crianças em idade do pré-escolar e 1º ciclo. Contempla três eixos de intervenção, abrangendo áreas como a segurança, saúde e educação parental. Integra projetos e iniciativas como: o projeto Prevenir para Proteger e a iniciativa Dia da Internet Mais Segura, no âmbito da educação dos riscos naturais e tecnológicos; o projeto Atitudes e Sinais para Aprender a Viver e a iniciativa Semana Europeia da Mobilidade, no âmbito da Educação Rodoviária; e o projeto Bullying, no domínio da educação para a saúde.
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Educação para o Pat r i m ó n i o
Integra ações junto do público escolar, promove a reflexão e a valorização do património cultural em todas as suas dimensões, enquanto bem essencial à memória coletiva, contribuindo para a formação pessoal e académica dos alunos participantes, nomeadamente, pela organização e acompanhamento de percursos temáticos educativos na cidade.
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SIMC i d a d e
Cria, implementa e coordena projetos transversais a todo o universo municipal. Tem por objetivos dar a conhecer o património, equipamentos e serviços municipais; aumentar nos colaboradores do município o sentido de pertença e a motivação para o trabalho articulado e colaborativo; aumentar nos munícipes, de diversos níveis etários, o gosto por conhecer a cidade, o respeito pelas profissões e serviços que fazem a cidade funcionar e o sentido de pertença a um lugar e a uma cultura, potenciando uma cidadania ativa e participativa no Porto.
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Porto de Crianças
Município do Porto desenvolve programas em todos os níveis de ensino, complementando a oferta curricular e atuando na área social.
da leitura e do prazer de ler. O contributo do Porto a Ler é reconhecido pela Comissão para o Plano Nacional de Leitura e tem sido fonte de inspiração para algumas das iniciativas definidas a nível nacional.
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O Porto a Ler
O ciil – Centro de Investigação e Intervenção na Leitura é a mais recente aposta de O Porto a Ler, através do qual se pretende estabelecer uma sólida base de investigação e de intervenção assente em instrumentos inovadores, orientados para as crianças com dificuldades na aprendizagem da leitura. O programa foi instituído em 2006, e está comprometido com o aumento dos níveis de literacia, a promoção e incentivo
Educação para os Valores e Co n h e c i m e n t o
Destinado a jovens do 9º ano de escolaridade de todas as escolas públicas da cidade, incluindo um grupo de alunos com necessidades educativas especiais. É implementado em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, desde o ano letivo 2009/2010.
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Programa de coadjuvação curricular que tem vindo a consolidar-se enquanto estratégia de enriquecimento de saberes e competências em áreas não presentes ou com pouca expressão nos planos curriculares escolares. Consegue interligar, no tempo letivo, a educação formal e não formal, aproximar as escolas dos equipamentos culturais da cidade, as crianças e os seus educadores de artistas plásticos, atores e encenadores, músicos, dançarinos, profissionais ligados ao cinema e investigadores, proporcionando a vivência de experiências que estimulam o seu potencial intrínseco. Ao longo de duas décadas, o Porto de Crianças inspirou
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a imaginação e a criatividade de quase 100 mil crianças dos jardins de infância e das escolas do 1º ciclo do ensino básico da cidade.
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P o r t o d e Apo i o à F a m í l i a
A educação pré-escolar é a primeira etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida, sendo complementar da ação educativa da família. O Porto de Apoio à Família iniciou no ano letivo 2012/2013 e é um programa concebido para dinamização das Atividades de Animação e de Apoio à Família (aaaf), elevando a qualidade de educação pré-escolar, em parceria com a Escola Superior de Educação Paula Frassinetti.
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Judo Transforma
O Judo Transforma área inovadora no âmbito do Porto de Apoio à Família para os jardins de infância, iniciou-se em outubro 2015 e assenta na obediência aos princípios do judo como desporto de carácter formativo, num equilíbrio entre o exercício da mente e do corpo. Desenvolve, na criança, uma noção de respeito por si própria e pelos outros. Serão abrangidos 24 grupos num total de 450 crianças.
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Escola das 8 às 8
Programa que potencia, pelo envolvimento de parcerias e cedência de espaços, as condições para que o prolongamento do horário escolar no 1º ciclo seja uma resposta social de apoio às famílias. Ele reforça neste ciclo, a generalização do conceito de Escola a Tempo Inteiro, satisfazendo as necessidades dos pais e encarregados de educação, tendo em conta os seus condicionalismos socioprofissionais. A taxa de cobertura é de 46%, tendo como promotores juntas de freguesia e associações de pais.
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Porto Cidade de Ciência
Programa que visa sensibilizar e cativar a sociedade para a importância decisiva da Ciência, através da divulgação e promoção da cultura científica e tecnológica e, com ela, contribuir para a afirmação do Porto como uma Cidade de Ciência. Destacando o enorme potencial que a cidade do Porto tem em matéria de produção científica e tecnológica, o Porto, Cidade de Ciência pretende funcionar como agente catalisador de sinergias da academia, das instituições públicas e privadas ligadas à atividade científica, de investigação, cultural e empresarial.
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Beatriz e os glóbulos brancos dos peixes
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xtrair glóbulos brancos de peixes para pesquisar questões ligadas à imunidade, dito de forma genérica, constituiu uma investigação levada a cabo por uma equipa do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (ciimar) da Universidade do Porto em 2014, que contou com um elemento especial. Beatriz Nogueira, à data aluna do 12º ano da Escola Secundária Filipa de Vilhena realizou um estágio em ciências do mar no ciimar, no âmbito do projeto municipal sei, uma experiência que considerou decisiva para a sua vida futura e a escolha do curso universitário. “Foi uma experiência muito interessante. Eu combinava com a equipa de investigadores quais os dias em que podia participar, sendo que, no início, ficava só a ver como é que tudo funcionava, mas depois comecei a fazer pequenas coisas e a ajudar na própria investigação”, recorda. Integrado num programa educativo da Câmara do Porto designado por “Porto de Conhecimento”, o sei – Sociedade, Escola e Investigação assenta numa estratégia de parcerias, envolvendo diferentes centros de investigação, de entidades e instituições de ensino superior da cidade e os estabelecimentos de ensino do Porto. O objetivo é contribuir para o enriquecimento da literacia científica com iniciativas e eventos de promoção e divulgação da ciência e do conhecimento junto dos alunos. Beatriz Nogueira foi um dos cerca de 23.500 alunos que experimentaram ciência com o “Porto de Conhecimento”
desde 2013. Optou por seguir Medicina e entrou no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Balazar (icbas), onde frequenta o primeiro ano daquele curso com média de 18,57 valores. “A participação no projeto de investigação coincidiu com o terceiro período e a última semana com a abertura das candidaturas à universidade, aquela experiência ajudou-me muito a decidir. Gostava da investigação, não tinha dúvidas, mas queria algo que me permitisse um contacto mais ativo com as pessoas e então optei por medicina, pois no final posso também fazer investigação”, explicou a estudante. A fórmula de sucesso encontrada para levar a ciência aos alunos do ensino básico e secundário da cidade assenta, sobretudo, nas parcerias estabelecidas com faculdades, institutos e centros de investigação das instituições de ensino superior da cidade, nomeadamente, Universidade do Porto, Instituto Politécnico do Porto, Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica, ciimar, ipatimup, ibmc/ineb, caup e Escola Superior de Enfermagem do Porto. “Acho que toda a gente que participou gostou da experiência de ver fazer e poder experimentar coisas que gostaria de fazer no futuro. Esta prática é melhor que os testes de orientação psicológica que se fazem com os psicólogos, pois podemos explorar uma área que achamos que gostamos, o que ajuda a decidir o futuro que queremos”, explicou Beatriz. Por tudo isto, ela é um exemplo do que é capaz a escola do Porto.
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P o r t o d e Co n h e c i m e n t o
Bebe Água do Porto
Programa de promoção de competências e de capacitação da comunidade educativa, assente numa estratégia de parcerias envolvendo e fomentando a implicação e participação de diferentes centros de investigação, de entidades e instituições de ensino superior da cidade e os estabelecimentos de ensino do Porto. Visa a capacitação e o aumento da literacia científica, o enriquecimento da cultura científica da população, contribuindo assim para o sucesso escolar, para a educação ao longo da vida, para o desenvolvimento sustentado e para a construção da cidadania plena. Integram o Porto de Conhecimento os projetos ComCiência, sei – Sociedade, Escola e Investigação, Laboratório Aberto, Aprender a Programar, Cadeias Tróficas Marinhas, debates na escola sobre Ciência e Religião, a atribuição de Bolsas de Estudo para a frequência do ensino superior (Universidade Lusófona, Universidade Lusíada, Universidade Portucalense Infante D. Henrique, Escola Superior de Educação Paula Frassinetti, Escola Superior de Enfermagem de Santa Maria) e iniciativas e eventos de promoção e divulgação da ciência e do conhecimento tais como o AquaPorto, exposições de fotografia e concursos escolares.
O projeto bap – Bebe Água do Porto teve o seu início no ano letivo 2012/2013 tendo como principais objetivos incentivar nas escolas a utilização de água da rede pública para beber diariamente e, através das crianças, promover a ingestão deste nutrimento essencial junto da própria família e comunidade.
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C r e s c e r I n t e r at i vo
Este programa continua a dar resposta aos desafios lançados pela sociedade do conhecimento, com vista a proporcionar aos docentes as competências necessárias para que utilizem o potencial das tecnologias de informação e comunicação, em prol da sua atividade letiva, bem como dotar as escolas dos recursos necessários para que as capacidades adquiridas sejam exploradas e facilitem o acesso ao saber.
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Almoço Escolar e S e g u r a n ça A l i m e n ta r
A preocupação com ações de segurança alimentar, controlo da qualidade e fornecimento de refeições nutricionalmente equilibradas é primordial no serviço que o município presta diariamente, nos 50 espaços de refeição das escolas básicas de 1º ceb e jardins de infância da rede pública do Porto a 6.500 crianças. Entre setembro de 2013 e junho de 2015, foram fornecidos 2.145.515 almoços por entidade externa, cabendo à Faculdade de Ciências de Nutrição e Alimentação da up a monitorização do serviço prestado. Foram efetuadas 322 ações de acompanhamento in loco com carácter de auditoria à higiene e segurança alimentar. Num investimento aproximado de 2,5 milhões/ano.
PRIMAVERA 2016 • Porto
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H e r ó i s da F r u ta
A Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil — apcoi — organização não-governamental, sem fins lucrativos, promove desde 2013, o projeto Heróis da Fruta, sendo o Município parceiro de implementação no Porto. Este projeto inclui um conjunto de atividades que faz parte de um programa motivacional cujo objetivo é incentivar as crianças a adquirir hábitos alimentares saudáveis.
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A ç ã o So c i a l E s c o l a r
As medidas de ação social escolar são múltiplas e revestem-se de uma orientação que vai muito além do provimento de verbas previstas no quadro legal atual. Para além do pagamento do subsídio de ação social no valor de 163.980,70 euros para o presente ano letivo 2015/2016 abrangendo 3.191 alunos do escalão A e 961 alunos do escalão B, em tudo semelhante aos últimos 6 anos, são asseguradas múltiplas medidas, algumas das quais com investimento a 100% da Autarquia.
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Kit Escolar
O Município oferece um Kit Escolar a todos os que iniciam a sua vida escolar, contribuindo assim para aliviar o fortíssimo investimento que os agregados familiares são obrigados a fazer no início de cada ano letivo. O kit é composto por um conjunto de material, que inclui, nomeadamente, uma mochila, canetas, lápis (cores), estojo, régua, borrachas, aguça, capa de arquivo e cadernos. Foram disponibilizados 19.268 kits.
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E s c o l a So l i d á r i a
Iniciativa social que tem como principal objetivo assegurar que todas as crianças 1º ciclo do Ensino Básico tenham acesso à refeição de almoço, nutricionalmente equilibrada, nas pausas letivas do Natal e Páscoa, numa efetiva resposta às famílias e abrindo os refeitórios aos alunos que frequentam as escolas básicas da rede pública do Porto. A medida continua alargada aos irmãos dos alunos, com idades
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H Á M UN D O N A S E SCO L A S D O P O R TO • ed u c a ç ã o
compreendidas entre três e 10 anos, podendo eles também usufruir deste serviço mesmo que não frequentem um estabelecimento de ensino da rede pública do Porto. Nestes seis últimos anos, foram fornecidas 8.178 refeições.
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Lanche Escolar
Desde 2010/2011 foi promovida a medida de lanche escolar diário a todos os alunos de 1º ciclo como garante que, na pausa da tarde, as crianças têm um reforço alimentar de qualidade com salvaguarda dos cuidados de higiene alimentar básicos à sua preparação. Foram fornecidos, desde o arranque desta medida, mais de cinco milhões de lanches. Dada a forte adesão, no presente ano letivo, a medida foi alargada às crianças que frequentam as atividades de animação e apoio à família dos jardins de infância, num total de 1600 crianças beneficiárias.
Ouvir... com estilo
T
odos os dias acorda cedo. Não vive assim tão longe da escola, mas é longe o suficiente para ter que apanhar a carrinha escolar que faz uma ronda grande e demora a percorrer os quilómetros que separam Valongo do Porto. Marisa tem nove anos e é aluna da Escola Básica Augusto Lessa, no Porto. Frequenta o que se chama a intervenção precoce, ainda antes dos três anos. A avó é a principal responsável pelo seu percurso escolar. Marisa é surda desde a nascença, mas é também uma das melhores alunas da turma. Não ouve, mas ouve… com estilo. A eb Augusto Lessa é designada pelo Ministério da Educação como uma erebas, Escola de Referência para a Educação Bilingue de Alunos Surdos e recebe crianças de todo o distrito do Porto e Norte. Há alunos que vêm de Paços de Ferreira, Vila do Conde, Penafiel, alunos que acordam às seis da manhã para começar as aulas às nove. Algumas das crianças chegam com meses de vida, referenciadas por médicos, centros de saúde e hospitais como possuindo determinado grau de surdez. Integram a equipa da Intervenção Precoce, que desde os primeiros meses e até aos três anos oferece sessões semanais com um terapeuta da fala e um formador de língua gestual portuguesa, sessões que são acompanhadas pelos pais ou familiares. Ângela Santos, coordenadora da eb Augusto Lessa, traçou o bilhete de identidade do estabelecimento de ensino para este ano letivo: cinco crianças em intervenção precoce, 55 alunos do Pré-escolar, 180 alunos no 1º Ciclo e cerca
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de 60 adultos a trabalhar no local, entre professores, terapeutas da fala, formadores e assistentes operacionais. “É fundamental conseguirmos apanhar as crianças muito cedo, pois têm uma maior probabilidade de desenvolver a língua gestual de uma forma mais natural e mais eficaz”, explicou o professor Carlos Afonso que é o coordenador do Departamento de Educação Especial do Agrupamento de Escolas Eugénio de Andrade. Sameiro Pereira é professora do 1º Ciclo há 12 anos e tem tido alunos surdos integrados na sala de aula. “Temos que ter muito cuidado na forma de dar as aulas: falar de frente para os alunos conseguirem ver os lábios e gestos, ter cuidado com a posição em que eles estão virados para o quadro, a questão do vocabulário tem que ser muito trabalhada”, explicou. As vantagens são múltiplas para ambos os lados: surdos e ouvintes. “As nossas crianças ouvintes também aprendem língua gestual, pois é uma forma de poderem comunicar umas com as outras”, refere Ângela Santos. A professora Sameiro Pereira corrobora. “As crianças ouvintes reagem normalmente, com naturalidade, e gostam de aprender a língua gestual para comunicarem entre eles. Às vezes até a usam para copiar”, disse. A colocação em turmas bilingue ou do ensino regular depende de diversos fatores, entre uma avaliação da escola e decisão dos pais, bem como da criança. A decisão é sempre individual e ponderada caso a caso.
V i s i ta s d e i n t e r e s s e l ú d i c op e d a g ó g i c o
O Município disponibiliza, desde 2003, dois autocarros aos jardins de infância e escolas básicas de 1º ciclo para apoio à execução dos planos de atividades de cada estabelecimento de ensino.
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Porto de Futuro
Programa pioneiro e ainda único no País. Nasceu em 2007 com o propósito de promover a transferência de boas práticas e conhecimento do mundo empresarial para as escolas da cidade. O Porto de
Futuro é paradigmático da valia da participação da sociedade civil na vida das escolas. Este programa educativo assenta no estabelecimento de parcerias entre cada um dos agrupamentos de escolas da cidade do Porto e empresas da região Norte: Águas do Norte, ba Vidro, bial, Cerealis, cin, Corticeira Amorim, Efacec, Ibersol, Mota Engil, Nors, Porto Editora, rar, Salvador Caetano, Sogrape, Sonae, Graham’s, Unicer, kpmg.
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Porto d e At i v i da d e s
O Porto de Atividades permite a oferta universal e gratuita de atividades de enriquecimento curricular e é direcionado aos alunos do 1º ciclo do ensino básico da rede pública. Desde o ano letivo 2005/2006 integra as 46 escolas de 1º ciclo da rede pública e o Conservatório de Música do Porto, promove a atividade de música, inglês, robótica, matemática, expressão dramática e plástica, atividade física e desportiva, tendo, ao momento, abrangido 52.679 alunos desde 2005.
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Escola Viva
Trata-se do programa de requalificação de estabelecimentos de ensino público do 1º ciclo do ensino básico e educação pré-escolar, cujo principal objetivo consiste na melhoria das condições físicas dos espaços letivos. O Município investiu, na última década, 32 milhões de euros na requalificação e manutenção do seu parque escolar (21 e 11 milhões, respetivamente). Em 2015, o investimento municipal foi na ordem dos 2,5 milhões de euros.
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Número de Alunos no Ensino Público do Porto
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Leia a reportagem completa em www.porto.pt
PRIMAVERA 2016 • Porto
2.002 no pré-escolar 6.968 no 1º Ciclo 4.181 no 2º Ciclo 6.776 no 3º Ciclo 14.315 no Secundário 41.163 no Ensino Superior
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Sangue Novo J
á apurada para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Filipa Martins é do Porto, onde se fez atleta num dos clubes mais ecléticos da cidade: o Sport Club do Porto. Encontrámo-la numa manhã soalheira na Faculdade de Desporto da up, antes de mais um treino, sempre acompanhada pela sua treinadora. Cristina Gomes é como uma mãe dedicada, atenta, presente. A conversa com Filipa revelou dois traços de personalidade: carácter e humildade. A atleta sabe o que faz, o que vale e o que quer, com uma quase ingénua certeza, mas é humilde e destemida, como uma menina que não tem bem noção da sua própria dimensão. Não se apoquenta nem com a dor que exibe nas mãos gastas, cortadas, nem com a má sorte de uma possível lesão que a afaste do sonho olímpico. Por falar nisso, o que espera Filipa encontrar no Rio? A resposta é fácil, como se fosse tão fácil ser uma das melhores do mundo: a meta é chegar à “final all around”. E entramos no maldito clichê e sai a pergunta que não queríamos fazer.
O que é a coragem? É não ter medo ou saber superá-lo? A Filipa não é inconsciente. Não é uma menina sem medo que se lança no ar sem asas. E não é suave a aterragem. É violenta cada viagem entre duas paralelas ou entre o solo e o céu, que é o limite. O sucesso dói a cada salto. O sucesso dá trabalho e cansa, sem a deixar cansada do sucesso. Como se o mimo da mãe a guiasse na barra e a mão do pai a sustentasse num mortal. Tão mortal como a fama, como o desejo de uma final ou o sonho de uma medalha. Cinco horas e meia de treinos por dia, 363 dias por ano. Há 17 dos seus 20 anos que é assim. Desde os sete que o voo elástico se consome no sonho dourado de uma final. Um sonho onde voa alto e, suavemente, esporadicamente, toca o solo. Sem se notar.
Por ser injusta e cruel… Então e uma medalha? Filipa não tem medo nem da questão nem da resposta, que não sai estranha nem lhe faz tremer a voz. Claro que é muito difícil subir a um pódio, mas a ginástica artística é um desporto. E no desporto o que vale é o sonho. Filipa não esconde nem se comove com ele. Apenas o persegue. Não lhe imaginamos lágrimas se não vencer. E sai-nos mais um maldito clichê: então e não tem pena ou a tentação de ser “como as outras” e não ter de carregar o fardo das regras, da ditadura dos treinos, da juventude perdida? A Filipa respondeu que não. Claro. E antes que o entrevistador caia na tentação de mais perguntas de algibeira, para as quais nem o próprio tem paciência, o melhor mesmo é terminar e confiar. Afinal, Filipa Martins é a melhor ginasta portuguesa de sempre. Ela é uma das estrelas do momento. Quem sabe, mesmo, a melhor das atletas que o Porto tem. A que toca mais perto o céu. A que sonha mais alto. Sem nunca se deixar cair.
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Opinião
C O M VISÃ O
O Porto. é um jornal plural e aberto à opinião de todas as sensibilidades da cidade, pelo que se pediu a todas as forças políticas com assento na Assembleia Municipal do Porto que nomeassem um cronista por edição. Este espaço é, pois, da inteira responsabilidade de quem assina cada uma das colunas, estando identificadas as forças políticas que representam.
Educação, uma outra visão
Falar de educação neste tempo que foge, é assunto de iluminados, basta assistir a um seminário de professores, licenciados, mestres e doutores disto e daquilo, a ciência da educação dá pano para mangas. O que é excelente, diga-se, mas onde ninguém se entende, tanto o tecido, sacodem-se políticas da educação a cada ministro que passa. Casado com uma professora, a minha visão dos problemas da educação distorceu-se desde que, convidado pelo Dr. Rui Moreira, decidi dar um pouco de mim à sociedade onde vivo para não envelhecer no sofá, como me disse minha mulher, entusiasmando-me a aceitar o honroso convite. Saí presidente da junta, arrastado pelo nome Rui Moreira, cargo nunca inimaginado ou sequer ambicionado. Não é fácil, mas sinto-me feliz, temos homem para a cidade, tento ajudar, foi o que prometi. A educação é um combate diário e extenuante a que estão sujeitos os nossos filhos (netas, no meu caso) e professores que, todos os anos, não sabem como vai ser ou para onde irão. Quem entra como eu numa eb1 ou escola secundária facilmente percebe tratar-se de um trabalho ingrato, difícil e esgotante. A gritaria dos intervalos apavora velhos como eu, os meninos carregam mochilas enormes, a Madalena, minha neta, bonita e de olhos azuis, mas muito franzina, desaparece sob tanto peso e volume, tantos os cadernos e livros de muitas matérias e disciplinas, competência académica em barda. Mas, competência comportamental, a mim me parece motor fora de borda, avariado e a não puxar, estes meninos nem têm tempo para perceber como é que isto funciona, a razão da organização da sociedade onde vivem, porquê exigir-se um mínimo de disciplina, enfim, perceber que a preparação do seu futuro neste tempo de competitividade feroz não passa só pela matemática, português e estudo do meio ou matérias quejandas embrulhadas em tpc. Os professores carregam também uma mochila bem pesada, além da
precariedade da profissão (tudo é agora precário, rápido, fugidio e urgente), têm de aturar, um outro fardo e em muitos casos, filhos de ninguém onde autoridade não vem no dicionário. Talvez por esta razão de aprendizagem e experiência feitos num tempo em que o respeitinho era muito bonito e muito me ajudou a ser homem, nós em Ramalde — somos a única das sete freguesias do concelho do Porto a fazê-lo diretamente – implementámos um programa para poder estar todos os dias nas eb1 e levar a cabo, diretamente, Atividades de Enriquecimento Curricular. As aec, assim em sigla, para quem não sabe, são atividades diversificadas que se destinam a preencher horários extracurriculares dos alunos, de manhã e de tarde. Tentamos (e conseguimos) que os alunos adquiram também outro tipo de conhecimentos além das disciplinas habituais e, ao mesmo tempo, possam distender do esforço curricular intenso do dia a dia: aulas de música, educação física, taekwondo, expressão plástica e lúdica, hóquei em campo (ou de sala), modalidade onde Ramalde foi rainha, andava eu na escola primária e o Ramaldense, campeão quase sempre. Mas não só, temos um projeto para alunos do 4.º ano, “Educar para a Cidadania”. Política, Cidadania (também Civismo, por tabela) e Democracia são três temas para os períodos escolares, palavras que eu próprio procuro desconstruir em diálogo tu cá tu lá com os alunos — são os “meus” netos, faço-o com gosto — fazer-lhes perceber o que é a sociedade e como funciona, seja ela a família, a escola, a freguesia, o município, a aldeia, vila ou cidade, Portugal, a Europa, o Mundo, quem é e o que fazem Marcelo, Ferro, Costa e Rui Moreira. Aposto que, daqui a uns anos, todos estes jovens irão votar e ajudar a reconstruir este país, para eles política não será coisa maçadora, sabem do que se trata, o bem-estar de todos os cidadãos. António Gouveia Rui Moreira: Porto, O Nosso Partido
O Porto. sobressaltou-se quando, sem notificação ou prévio aviso, Paulo Cunha e Silva decidiu deixar de lhe pincelar o rosto austero e nobre com a patine que o seu insaciável talento espalhava por aí. Sem deixar de lamentar o seu retiro para o misterioso sítio de onde, sem tença nem avença, continua a inspirá-la, a cidade foi-se recompondo mantendo e acarinhando a matriz que ele lhe legou e de que se orgulha. Para tanto, cumprindo os seus desígnios e os propósitos anunciados por aqueles a quem os portuenses conferiram o mandato de ir sempre mais além, o Porto. busca o equilíbrio de todo o território revitalizando-se a oriente. A celebração do contrato de subconcessão das parcelas de terreno necessárias à consumação do terminal rodoviário integrado no Terminal Intermodal de Campanhã marca o início da requalificação de uma zona essencial ao desenvolvimento da atividade económica, enquanto a definição do projeto a desenvolver no que foi o matadouro industrial demonstra a ambição de prosseguir o caminho que associa ao cosmopolitismo da cidade condições para a inovação do seu tecido económico e geração de emprego qualificado e estável. O lançamento da primeira pedra do que vai ser a recuperação do Bairro de S. João de Deus evidencia, também ele, importância primordial que o ps sempre atribuiu à promoção da qualidade de vida do povo tripeiro que nos orgulhamos de ser e a atenção especial que merece a eliminação das feridas latentes de que, aqui e ali, a cidade ainda padece. Preocupação que se alarga ao todo que é a cidade e sobressai na requalificação do Bairro Rainha D. Leonor, finalmente liberta de entraves pouco curiais e agora pronta para se desenvolver rapidamente. Definido que está o projeto final, a recuperação do Mercado do Bolhão será, nos termos em que foi assumida, também ela e muito especialmente, marca distintiva de como o atual poder municipal promove o progresso sem descurar a preservação do caráter distintivo e único da urbe, fator de atração que traz até nós cada vez mais gente e das mais variadas origens. Urbe que enfrenta com ousadia o seu futuro desencadeando a revisão do pdm — Plano Diretor Municipal, conferindo-lhe uma perspetiva que não se confina ao espaço restrito do concelho, que atende à realidade envolvente e considera a interação com os territórios circunvizinhos objetivando acomodar todos os impactos que daí podem resultar. Nem tudo, claro, se desenrola ao ritmo que se gostaria de ver acontecer, há muitas vicissitudes que tolhem o passo às melhorias que a vetustez do burgo permanentemente reclama e os anseios de aumento da quali-
PRIMAVERA 2016 • Porto
dade de vida dos nele habitam, trabalham ou o visitam justifica. A mobilidade urbana e a facilitação dos movimentos pendulares com os concelhos vizinhos, a requalificação do edificado degradado ou em ruínas, a promoção de emprego que atenue a debilidade económica de parte da população, são áreas onde não se poderá deixar de continuar a trabalhar arduamente. Mas o Porto. prossegue, sem tergiversar, o seu caminho, reinventando-se todos os dias, enfrentando as dificuldades dos tempos singulares que são os nossos, com a confiança de quem se orgulha do que é e tem uma visão clara daquilo que quer ser. Gustavo Pimenta Partido Socialista
AINDA A TA P
A defesa do Aeroporto Francisco Sá Carneiro (afsc) é um imperativo político de todos os eleitos do Norte de Portugal. Face à juventude da sua população e à sua estrutura económica industrial — essencialmente caracterizada por pme’s com vocação exportadora —, bem como ao desenvolvimento turístico o afsc é estrategicamente decisivo para toda a Região, potenciando uma área de influência alargada, desde Santiago de Compostela a Bragança, de Guarda/Viseu a Coimbra/Figueira da Foz, com mais de 6 milhões de habitantes. A interdependência do Aeroporto com o incremento do valor acrescentado bruto regional será tanto mais positiva quanto maior for o seu crescimento futuro, quer com base na consolidação e melhoria das rotas existentes, através do aumento das frequências de voos e optimização dos respectivos horários de conexão, quer fundamentalmente por via da fixação de novas ligações, com destaque nomeadamente para o Norte e Centro industrial da Europa. A este propósito bastará dizer, de acordo, aliás, com estudos de previsão da especialidade (vide, v.g., as projecções da naer de 2012), que se estima a criação de 1500 postos de trabalho (directo e indirecto) por cada acréscimo de 1 milhão de passageiros ao movimento do afsc. Em face do exposto, a decisão da tap, divulgada em 16 de janeiro p.p., de cortar voos directos do Porto (de e para Barcelona, Roma, Milão e Bruxelas), de reduzir frequências de rotas consolidadas e, como o fez com a anunciada nova ligação Lisboa – Vigo, de angariar potenciais clientes do afsc, desviando-os para outros aeroportos, não pode deixar de significar para o Porto, para a sua área metropolitana e para todo o Norte, aquilo que realmente é, um acto hostil contra a Região porque inibidor da sua competitividade, mormente para os sectores da indústria, do comércio e do turismo. A posição do psd na Assembleia Municipal
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O P I N I ÃO
do Porto é, por isso, e quanto a isto, muito clara: cumprindo o mandato político dos nossos eleitores, no âmbito do qual cabe, por ser do seu indiscutível interesse, a defesa do afsc, discordamos frontalmente de mais este desinvestimento da tap, inserido, de resto, numa tendência padronizada de abandono do aeroporto por parte da companhia desde, pelo menos, os últimos 10 anos e associamo-nos, por isso, na sua contestação às manifestações públicas (e publicadas) havidas a tal respeito pelo Presidente da Câmara Municipal do Porto, por muitos outros autarcas e municípios do Norte, do Centro e até da Ilha da Madeira, pelo Conselho Metropolitano do Porto, pelas Universidades da região e por diversas associações (além do mais, aep e aiminho). Importa todavia sublinhar que esta nossa reprovação não se pode ficar pela tap e pela sua Administração. Uma nota simples mas decisiva determina que assim seja: é que desde, pelo menos, 5 de fevereiro último que o Governo anunciou ter acordado com a administração privada da tap a reversão parcial do seu capital passando a dispor de 50% desse mesmo capital. Na verdade, sob o pretexto de haver necessidade de salvaguardar a qualidade de companhia de bandeira e o seu “controlo estratégico” — na sequência do prometido ao pc e ao be — o Estado mediante o pagamento de 32 milhões de euros e a assunção da garantia da sua divida colossal recuperou a tap para a esfera pública, reservando para si, inclusive, representação e voto de qualidade no respectivo Conselho de Administração. A decisão da tap que antes era insindicável (politicamente) porque tomada sob uma lógica de gestão puramente privada mas, nessa medida e em contrapartida, sujeita a ser posta em causa pelo jugo da concorrência paritária do mercado, está agora, de novo, quanto mais não seja pela força dos nossos impostos, obrigatoriamente subordinada à sua apreciação à luz das obrigações duma gestão orientada para a satisfação de interesses e serviços públicos. Ora, decorridos que estão mais de 3 meses sobre este ataque da tap ao afsc, sem que o Governo do ps (apoiado pelo pc e be) tivesse feito uso dos seus poderes políticos — de forma compatível com a posição económica e accionista de que é (novamente) detentor na empresa — para descaracterizar tal nefasta decisão do âmbito da gestão meramente executiva e enquadrá-la no superior controlo estratégico que para o próprio Primeiro Ministro foi causa da retoma (“a bem ou a mal”) do capital, só podemos concluir estarmos para o Governo perante um caso definitivamente decidido. Por outras palavras, e para memória futura, regista-se que para a tap mas também para o Governo o corte de rotas no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, a redução de
frequências há muito consolidadas noutras rotas ou ainda o desvio dos seus clientes de e para outros aeroportos, envolvendo mais de 200 mil passageiros (não menos de 12% da sua quota de mercado actual no afsc), não colide com o controlo estratégico da tap nem põe portanto em causa o interesse público da salvaguarda da competitividade da Região Norte. Francisco Carrapatoso Coligação Porto Forte
QUE BIC H O M O RDEU EM RUI M O REIRA ?
Sente-se que Rui Moreira não é Rui Rio. Durante os consulados de maioria absoluta de Rio, quase tudo o que mexia no Porto e não obedecia aos seus critérios míopes, foi proscrito. Foi o tempo da intimidação sobre quem se lhe opunha ou ousava ter opiniões diversas, foi o tempo da asfixia das artes e da criatividade da cidade. Foi também o tempo em que um outro Rui, o Moreira, líder da Associação Comercial, era o homem de confiança de Rio na Sociedade de Reabilitação Urbana. Tempo em que Moreira vivia afastado das polémicas públicas contra o imobilismo de Rui Rio e a degradação da imagem da cidade. Tempo em que Moreira vivia discreto a oportunidade de substituir o então presidente, ideia acarinhada… precisamente por Rui Rio. Rio conduziu a cidade a tal indigência política e inteletual que fazer e parecer melhor foi bem fácil para Moreira, pleno de charme e elegância. E tanto mais fácil foi quanto houve um Paulo — infelizmente pouco tempo — que se encarregou de conceber e ajudar a produzir a transformação. Só que a mudança de cores na cidade é muito, mas não é tudo. Longe disso. Sobretudo para os que gostam da sua cidade, gostam que se fale bem dela, mas não têm casa decente para viver, não têm pão suficiente para comer ou não têm trabalho para melhorar a sua vida e a da sua cidade. É que a imagem da cidade é importante mas não é tudo. E é cada vez menos à medida que o tempo passa e o impacto inicial se dilui com o desfiar do tempo. E quando se caminha para o último ano do mandato de Moreira e se espreme a obra feita, verifica-se afinal que sai a imagem da cidade e... mais nada! Então e o Mercado do Bolhão, a sangria da população, o Pavilhão Rosa Mota, a requalificação à medida de resmas de hotéis e rendas de luxo, o Bairro do Aleixo, a revitalização da zona Oriental? O resto não anda nem desanda... O subconsciente de Moreira terá a noção deste marasmo e do falhanço que isso representa. Por isso começa a mudar de postura. Da troca frontal mas leal e adulta de argumentos naturalmente diversos, passou para uma quase obsessão do unanimismo;
parece apostado no consenso absoluto e na aplicação da regra de má memória de que “quem não é por mim, é contra mim”… Quando após um debate sobre a tap se diz no sítio da Câmara que a “cdu volta a estar contra a cidade”, cai-se no ridículo e transforma-se o que deve ser uma informação numa peça de manipulação. Ninguém acredita que a cdu tenha estado, esteja ou venha a estar contra a cidade. São décadas que o desmentem. A cdu está contra as decisões da tap mas não esconde que quem as permitiu foi quem privatizou a companhia ou quem recuperou 50% do seu capital mas não impõe regras de gestão pública. Afinal, a cdu defende a cidade… e o País. Quando num outro debate se usam argumentos ofensivos para a dignidade do Eng. Rui Sá — de quem a cidade conhece de sobra a seriedade —, perde-se de vez a razão e cai-se no populismo mais primário. Podem ter sido palavras irrefletidas mas são totalmente injustificáveis. Que impunham um pedido imediato de desculpas e não deviam ter sido publicitadas, como de novo foram, no sítio do Município. Que se passa com Rui Moreira? Andará já tão preocupado com a reeleição para querer marcar distâncias e desejar um clima artificial de crispação que faça esquecer a obra por fazer? Honório Novo Coligação Democrática Unitária
Pela protecção do Centro Histórico
Foi há quase 20 anos, em 5 de Dezembro de 1996, que a unesco declarou o Centro Histórico do Porto como Património Mundial da Humanidade. Entre outras razões, porque “...oferece, pelo tecido urbano e pelos numerosos edifícios históricos, um testemunho notável do desenvolvimento duma cidade europeia”. Nestes vinte anos muito aconteceu. Durante os doze anos da Câmara dirigida pelo psd e cds/pp foi extinto o cruarb (Comissariado para a Renovação Urbana da Área de Ribeira-Barredo). Em 2004 foi constituída a sru Porto Vivo em cujo capital social foram incorporados 9 prédios municipais. Em 2006 acabou o Departamento Municipal de Reabilitação e Conservação do Centro Histórico. Em 2007 foi encerrada a fdzhp (Fundação para o Desenvolvimento da Zona Histórica do Porto) que tinha recuperado 58 edifícios. Em 2008, a sru passou a ser a entidade gestora do Centro Histórico, apesar dessa função nem constar nos seus estatutos. Durante uma década, em vez de serem reabilitados, foram alienados dezenas de prédios que pertenciam à cidade. Em apenas cinco anos, entre 2005 e 2010, foram postos à venda 79 prédios… Agora, o Centro Histórico do Porto está
PRIMAVERA 2016 • Porto
confrontado com novos desafios e ameaças. O património cultural e histórico, o sol ou a gastronomia têm trazido um número crescente de nacionais e estrangeiros. Para além da dinamização de actividades económicas como a restauração ou a hotelaria, este aumento de visitantes trouxe outras consequências: degradou-se a paisagem urbana, a qualidade do ar, o preço da habitação, as infraestruturas urbanísticas, a limpeza das ruas ou o património arquitectónico. As condições de vida dos residentes no Centro Histórico são postas em causa. Queremos que mais visitantes conheçam e admirem o coração da cidade. Mas não aceitamos que o Centro Histórico do Porto continue abandonado por quem tem obrigação de o proteger e valorizar. Não podemos ficar indiferentes à expulsão dos moradores que nele vivem (gentrificação), à descaracterização cultural e arquitectónica, à especulação imobiliária. As novas rendas no Centro Histórico já passam os 8 euros por metro quadrado, um preço proibitivo. Se não há intervenção reguladora do Município, até a classificação de Património da Humanidade ficará ameaçada. É preciso adoptar medidas de protecção e valorização do Património Mundial da Humanidade, nomeadamente: 1. não vender mais prédios municipais no Centro Histórico, antes proceder à sua reabilitação; 2. criar um programa específico para garantir habitação a jovens casais no Centro Histórico; 3. voltar a pôr em funcionamento o Departamento Municipal do Centro Histórico (eliminado em 2006) para fazer a gestão integrada do território classificado como Património Mundial da Humanidade; 4. garantir que nas operações de reabilitação urbana seja preservado o “espírito do lugar”, valorizando a diversidade da cidade; 5. alterar a lei das rendas para impedir o abuso dos senhorios e a expulsão dos inquilinos; 6. fazer cumprir as recomendações da unesco relativas à salvaguarda dos conjuntos históricos, as orientações internacionais sobre a conservação de cidades históricas (Carta de Washington de 1987) e os princípios para a salvaguarda e gestão de cidades e conjuntos urbanos históricos aprovados na 17ª ag em 2011 do icomos – Comité Internacional sobre Cidades Históricas; 7. criar um Observatório que avalie os impactos na habitação, na propriedade, no património cultural e na qualidade de vida dos moradores do Centro Histórico, decorrentes do afluxo turístico. Os poderes públicos não podem deixar de responder ao desassossego, à aflição de tanta gente que quer viver no Centro Histórico e se sente empurrada pela “mão invisível do mercado”. Todas e todos temos que intervir. É hora da mobilização pelo coração da cidade do Porto. José Castro Bloco de Esquerda
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NOTÍC I A S D O P O R TO
“PIGS” no Porto
A voz do operário Tino
Em 2016, a Galeria Municipal do Porto alberga cinco grandes exposições, duas delas já inauguradas, num ano em que a Galeria também passou a ter uma identidade gráfica própria. “Habitar Portugal 12-14” foi a primeira mostra a marcar o arranque da temporada cultural deste ano, em fevereiro. A 12 de março foi apresentado um dos projetos considerados fulcrais para a Autarquia: “P. - homenagem a Paulo Cunha e Silva, por extenso”, organizado pela Câmara do Porto, com curadoria de Miguel von Hafe Pérez. A exposição foi mostrada em primeira mão ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na sua primeira visita oficial à cidade do Porto. Segue-se, a 3 de junho, “pigs”, resultado de uma co-produção entre o Artium (Centro-Museo Vasco de Arte Contemporáneo) e a Câmara do Porto. O acrónimo inventado pelo “Financial Times” referencia os países da Zona Euro cujas economias em declínio, na ressaca do imparável crescimento das dívidas, fizeram manchetes desde 2008. A exposição tem curadoria de Blanca de la Torre.
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calceteiro mais famoso do país não tem dúvidas: “Sou calceteiro por amor e tenho a sorte de ter uma profissão por amor, além de que, enquanto trabalho com o corpo, liberto a cabeça”. “Tenho pena daquelas pessoas que, das 8,30 às 5 horas da tarde, trabalham com a cabeça e chegam ao fim do dia completamente desgastadas e cansadas”. Vitorino Francisco da Rocha e Silva, 45 anos, nascido na freguesia de Rans, em Penafiel. Casado e com uma filha, o seu “semáforo”, Tino de Rans é o sexto de uma família com oito irmãos.
e eu só tive 150 mil votos”, refere. “Senti que ficaram orgulhosas”. Momento mais marcante? Dois: Bruxelas, onde o Tino candidato esteve com os emigrantes e o debate “todos contra todos” na rtp1. Sobre o debate, que pode ser visto como uma partida de futebol, em que duas ligas, a primeira, sonante, forte, que usa e abusa da palavra, e a segunda, tímida, a querer trepar ‘por aí fora’ e com dificuldade em ter posse de bola. “Não me passavam a bola, só faziam perguntas a alguns candidatos e, quando me deram a bola, eu pude marcar golos.
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Lançado prémio Paulo Cunha e Silva Paulo Cunha e Silva, o vereador da cultura que o Porto perdeu inesperadamente em novembro de 2015, vai dar nome a um prémio internacional de artes visuais, de que a Fundação Millennium será mecenas. Destinada a jovens artistas portugueses e estrangeiros até aos 35 anos, a distinção foi anunciada por Rui Moreira, durante a homenagem que a Câmara do Porto fez ao ex-vereador através da exposição “P. – Uma Homenagem a Paulo Cunha e Silva, por extenso”. Rui Moreira, presidente da Câmara e responsável pelo pelouro da cultura da Autarquia, acompanhado por vários vereadores do seu executivo e pelo presidente da Fundação Millennium, lembrou que foram muitas as propostas para que, rapidamente, a Câmara homenageasse Paulo Cunha e Silva. No entanto, resolveu esperar: “Sentimos que uma homenagem ao Paulo teria de constituir um gesto de grande coerência, porque era um ato de uma enorme responsabilidade”, disse, acrescentando: “Entendi que a homenagem que lhe prestaríamos teria que ser um projeto artístico, que acrescentasse, e teria de ser desenvolvido no tempo, no espaço e através do formato certos”.
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Candidatura à cerimónia dos ED Awards Depois de ter sido vencedora com duplo ouro atribuído à marca “Porto.” nos European Design Awards, em 2015, o Porto é agora candidato a anfitrião destes prémios, em 2017. A cidade apresenta-se ao lado de Milão e Antenas, sendo a vencedora revelada na cerimónia deste ano a 21 de maio, em Viena, na Áustria. A marca “Porto.”, lançada pela Câmara do Porto em setembro de 2014 e resultado de um projeto encomendado ao designer Eduardo Aires, do atelier White Studio, venceu o prémio principal (Best of Show) dos European Design Awards 2015 (ED-Awards), iniciativa que premeia anualmente os melhores trabalhos de design de comunicação e branding desenvolvidos no ano anterior. Os European Design Awards 2015 foram entregues a 23 de maio, em Istambul. Para além do prémio especial “Best of Show”, o White Studio recebeu ainda a distinção máxima (ouro) na categoria “Best Brand implementation”. O júri dos European Design Awards é composto por um painel de jornalistas e críticos da área do design. O evento realiza-se desde 2007 e já decorreu em Atenas, Estocolmo, Zurique, Roterdão, Vilnius, Helsínquia, Belgrado, Colónia e Istambul. Além da cerimónia da entrega de prémios, a organização garante a realização de uma grande conferência internacional de design, designada ED Festival.
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Apesar de ser um homem de muitos ofícios, é enquanto calceteiro que se define, profissão que exerce na Câmara do Porto. “O Porto é o meu chão, trato-o por tu”, disse ao Porto., enquanto calcetava uma das ruas da zona da Boavista em mais um dia de trabalho. “Conheço as ruas e muitas das pedras do Porto e posso dizer que nunca vi duas pedras iguais”, refere, sem nunca parar o trabalho e com a boa disposição que lhe é caraterística. Ainda nas últimas eleições presidenciais foi candidato, ao lado de nomes como Marcelo Rebelo de Sousa, atual Presidente da República, Sampaio da Nóvoa, Maria de Belém e outros da malha política nacional, tendo conseguido 152 mil votos, 3,28% do universo de votantes. A conversa, obrigatoriamente, tinha que passar por aqui. “Eu fiquei contente, ao ver as pessoas felizes. Quando passam por mim, abraçam-me e dizem-me ‘Tino, tu ganhaste
Ninguém consegue levantar um estádio se não tiver a bola no pé e eu, com a bola no pé, marquei golo”, numa análise do jogador Vitorino Silva. As incursões políticas não são novidade na vida de Tino. Em 1993, foi eleito nas listas do ps para presidente da Junta de Freguesia de Rans (município de Penafiel), sua terra natal. Nas eleições autárquicas de 1997 foi reeleito para o cargo. Contudo, a fama nacional surgiu aquando o xi Congresso do Partido Socialista, em 1999, quando colocou militantes e dirigentes a sorrir e a bater palmas de pé. “Gostei do percurso, gostei de percorrer o país, gostei da forma como as pessoas me trataram. Éramos poucos, mas uma grande equipa”, diz, referindo-se às presidenciais. “Fiquei com muitos contatos, com o contato do Marcelo e até já o convidei para, um dia, lhe fazer uma visita guiada a Rans”, revelou.
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PRIMAVERA 2016 • Porto
Porto virtual O Porto realizou os primeiros testes com as novas ferramentas de realidade virtual, durante a qsp Summit, permitindo aos mil participantes da conferência, que tem lugar no início de março, na Exponor, ver a cidade sem saírem do local. A décima edição de uma das mais importantes conferências internacionais na área da gestão e marketing foi subordinada à temática “A nova era global” e pretendeu refletir sobre os desafios da globalização, contando com a participação de oradores como o “Sr. Estratégia”, Kenichi Ohmae, e vários ceo’s e diretores de marketing e comunicação de empresas nacionais e importantes multinacionais. A aplicação apresentada, estará futuramente disponível nos sistemas iOS e Android e poderá ser usada em qualquer parte do mundo.
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