N.º 04
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O jornal Porto. é um trabalho do Gabinete de Comunicação e Promoção da Câmara Municipal do Porto, distribuído gratuitamente em todos os endereços residenciais e comerciais da cidade. Além da atualidade e de artigos de fundo sobre temas de interesse para os cidadãos, é um veículo de liberdade de expressão, de todo o espectro social, cultural e político do Município. • Direção Rui Moreira • Coordenação Editorial Nuno Nogueira Santos • Edição de Fotografia Miguel Nogueira • Redação Dulce Abrantes, Jorge Rodrigues, Pedro Matos Trigo e Virgínia Capoto • Direção de Arte Eduardo Aires • Paginação Oscar Maia • Impressão Público • Tiragem 180.000 exemplares • issn 2183-6418 Colaboraram nesta edição Sofia Maia, Gustavo Pimenta, Luís Artur Pereira, Honório Novo e Amarante Abramovici – opinião • Elisabete Felismino – entrevista a Padre Américo Aguiar • Sara Riobom – A Vida de Christian
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O Porto deu um salto em matéria de atração de investimento e criação de emprego nos últimos três anos. Só no primeiro trimestre de 2017, grandes referências no mundo da inovação, como a Euronext, a Critical Software ou o banco francês Natixis instalaram na cidade importantes centros tecnológicos. ∫≤
Há hoje mais projetos de reabilitação em curso do que há ruas no Porto. O fenómeno está longe de se relacionar apenas com o turismo e está presente em todas as freguesias da cidade. O Centro Histórico, descrito em 2013 pelo jn como sendo um cenário de degradação urbanística está a renascer, aceleradamente. ∫≤
O turismo trouxe reabilitação urbana, emprego, valor à economia e visibilidade para a cidade. Mas também trouxe novos meios de transporte à Baixa. A Câmara do Porto criou, por isso, um regulamento para os disciplinar. É a primeira cidade do país a fazê-lo e o modelo já é olhado por outros municípios, que pensam aplicá-lo. ∫≤
A MINHA ESCOLHA
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sta edição do jornal Porto. dedica espaço ao que se está a passar na cidade em matéria de economia, um dos eixos da governação neste mandato. Não me cabe sublinhar os méritos do meu executivo na dinâmica que o Porto atravessa. Uma dinâmica que teve a sua origem no turismo, que cresceu com as indústrias criativas, que a aposta na cultura fomentou, mas que agora tem, sobretudo, expressão nas indústrias da inovação. O sucesso da cidade é o de todos. Mérito de cada um dos agentes, privados ou públicos, que contribuem para o desenvolvimento do Porto. Querer para mim tais méritos seria um exercício de desfaçatez, que não assumo. Nem o presidente da Câmara faz milagres, nem a economia obedece às suas ordens. Mas, se isso é verdade, e nenhum político deve aprisionar no seu discurso os méritos colectivos, é bom que não percamos a memória sobre o que era a cidade há bem poucos anos. E essa é mesmo a questão: sabermos o que queremos. Se queremos um Porto que faz jus à sua tradição autêntica de cidade portuária e cosmopolita, que sabe acolher e empreender; ou se queremos um Porto rezingão, velho e cinzento, a ameaçar ruína, sem ambição e sem futuro. Não tenho dúvidas sobre qual a cidade que sempre quis e pela qual me bati, muito antes de para isso estar mandatado por esse Porto que o meu Pai me ensinou a descobrir. É por esse Porto, e em seu nome, que continuarei a pensar, a falar e a agir. E a lutar, também, sempre que isso for preciso. Rui Moreira
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adre Américo Aguiar. 43 anos de idade. Presidente da Renascença e da Irmandade dos Clérigos e sobretudo um apaixonado pelo Porto. Uma cidade cosmopolita e que não deixa “que brinquem com ela”, diz. Mas sobretudo uma” cidade de pedra com gente de carácter”. O Padre Américo, um conversador nato, benfiquista e sócio do f.c.p. e que agora vive em Lisboa de segunda a sexta diz ainda que o Porto é uma cidade onde impera a inovação. Elogia o papel da Academia na relação com o mundo empresarial e reconhece que, a exemplo
da relação que todos temos com Deus, há “piquinhos” em que se nota que todos os agentes da cidade trabalham em rede e as coisas acontecem. Trata Rui Moreira, o presidente da Câmara, por “Burgomestre” e reconhece que ele é uma “voz visível, audível e respeitada” na luta contra o centralismo. Diz que o Espirito Santo ainda não lhe deu a solução para conjugar a movida noturna da baixa com a necessidade de descanso dos habitantes daquela zona, mas adianta: “a movida é um sintoma da vida da cidade e nós não podemos perder isso”. Tem um palco privilegiado sobre o Porto. Como é que olha hoje para a cidade? Com muito orgulho. Costumo dizer que quando subimos aos Clérigos olhamos
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sempre para o burgo, para o Paço, para a Sé para o bairro da Sé e penso com muito orgulho que “tudo começou aqui”, mesmo com as cicatrizes da história. E quando hoje fazemos essa visita ficamos muito orgulhosos porque o burgo acabou por dar à luz uma cidade de pedra, com gente de carácter que faz a diferença e que ao longo da história fez sempre a diferença. Qualquer portuense ou qualquer pessoa de bom senso que nos visite e leia a nossa história vê que para além daqui ter nascido o nome Portugal, daqui nasce também muito daquilo que faz a diferença em momentos críticos da história. E quando ouço dizer que as mudanças revolucionárias têm sempre o “ninho” no Porto fico todo orgulhoso. ∫≤
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NOTÍCIAS DO PORTO
Universidade entre as melhores do Mundo Com o melhor desempenho de sempre no “qs World University Rankings by Subject”, a Universidade do Porto surge entre as 300 melhores do mundo em 24 das áreas de ensino no mais completo e reputado ranking internacional de ensino superior. As classificações elaboradas pela empresa multinacional Quacquarelli Symonds e disponíveis para consulta, colocam a Universidade do Porto entre as melhores do mundo em várias áreas de ensino. O grande destaque vai para a inclusão da Universidade no 48.º lugar na área do Desporto, em estreia no ranking. Nota de relevo, também, para a presença no “top 100” das melhores universidades do Mundo
Câmara do Porto quase sem dívida
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relatório de prestação de contas de 2016, em apreciação pelo Executivo e pela Assembleia Municipal, espelha um ano histórico de redução de endividamento bancário e o maior saldo de gerência de sempre da autarquia. São estas contas que permitirão à Câmara do Porto concluir projetos iniciados no presente mandato, como o restauro do Mercado do Bolhão ou a reabilitação do Matadouro Municipal. Só o Mercado do Bolhão, cujo processo de reabilitação já se iniciou, custa 25 milhões de euros. Quando Rui Moreira tomou posse, em 2013, o ano fechou com um endividamento bancário superior a 90 milhões de euros (90.260.446,78 euros), situando-se em dezembro de 2016 em valores abaixo dos 30 milhões (28.251.354,00 euros). Esta redução, superior a 62 milhões de euros, apenas parcialmente reflete uma transferência de cerca de 28 milhões de euros, efetuada em finais de 2016 pelo Estado, referente a parte do Acordo do Porto. Mesmo que esta transferência não tivesse sido realizada e a Câmara não tivesse amortizado essa parte da dívida bancária que encontrou em 2013, a redução da dívida bancária efetuada
75 anos de Coliseu com Casa da Música As comemorações do 75º aniversário do Coliseu Porto prosseguem, a 6 de maio, com um grande concerto de música clássica pela Orquestra Sinfónica do Porto
no mandato de Rui Moreira teria sido superior à conseguida no conjunto dos três mandatos anteriores, ou seja, entre 2001 e 2013. No final de 2001 a dívida bancária da autarquia era de 104 milhões de euros, tendo crescido até 2004, ano em que atingiu os 156 milhões de euros e descido, desde então, até aos 90 milhões de euros, em 2013. Ou seja, a variação desde o início do Século, até ao início do presente mandato autárquico não foi além de 14 milhões de euros. Em três anos, o atual executivo amortizou 62 milhões. Em matéria de redução da dívida total, que inclui dívidas a fornecedores e leasing, a variação nos anteriores mandatos foi maior, atingindo os 50 milhões de euros. Mas também aí, o executivo de Rui Moreira conseguiu reduzir mais a dívida em três anos do que nos 12 anteriores, já que as contas de 2016 mostram uma redução superior a 54 milhões. Igualmente relevante é o abrandamento da alienação de património. Entre 2001 e 2013 a Câmara do Porto vendeu ou permutou mais de 84 milhões de euros em imóveis ou terrenos, valor que reduz para 14 milhões no atual mandato.
nas áreas de Arquitetura e Engenharia Civil e de Estruturas. O ranking destaca também o desempenho da Universidade do Porto em vários domínios das Artes e Humanidades. À semelhança de edições anteriores, a Universidade volta a impor-se no domínio das Engenharias e Tecnologia, surgindo na elite mundial nos campos da Engenharia Química (151-200), Engenharia Mecânica (151-200), Ciência de Computadores e Sistemas de Informação (201-250), Engenharia Eletrotécnica (201-250). Para além das “repetentes” Arquitetura e Línguas Modernas (201-250), a Universidade do Porto surge pela primeira vez, e logo em posições de relevo, nos rankings ligados à Arqueologia (151-200), Arte e Design (151-200) e Linguística (251-300). Alargando a análise às restantes grandes áreas de ensino, situa-se no “top 200” do mundo em mais quatro domínios: Agricultura e Silvicultura, Farmácia e Farmacologia, Ciências Ambientais e Educação.
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Há um novo estádio na cidade
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Parque Desportivo de Ramalde (antigo inatel) renasceu com a primavera deste ano, pelas mãos da Câmara do Porto. O “Campo de Ramalde”, como lhe chamavam, estava em muito mau estado e foi reabilitado pela autarquia, depois de ter protocolado com o inatel a sua passagem para a gestão municipal por 20 anos. Clubes como o Boavista ou o Ramaldense podem agora desenvolver formação em modalidades como o rugby, futebol e atletismo. Concluídas que estão as obras de requalificação da infraestrutura, o Parque Desportivo de Ramalde abre assim, novamente, as suas portas aos clubes
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Casa da Música. Com direção musical do maestro Martin André, o repertório inclui peças de Rossini, Beethoven e Chostakovitch. O concerto integra a Trifonia Clássica, um ciclo de três concertos clássicos em associação artística com a Orquestra Metropolitana de Lisboa e a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, que iniciou em outubro e culmina com este concerto de aniversário.
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da cidade, depois de um investimento de mais de 700 mil euros executado pela Porto Lazer. A reabilitação permitiu dotar o complexo desportivo de uma nova pista de atletismo em tartan, com seis corredores e medidas oficiais, de acordo com as normas da iaaf, assim como de um campo de relva sintética de última geração, homologado para a prática de várias modalidades. Situado na Rua do Dr. Aarão Lacerda, o Parque Desportivo de Ramalde ocupa uma área total de 55.100m2, de acordo com um projeto datado dos finais dos anos 60 e da autoria do Arquiteto Alexandre Sousa.
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NOTÍCIAS DO PORTO
Prémio Paulo Cunha e Silva com finalistas
Câmara resolve Aleixo e ainda ganha dinheiro
Já são conhecidos os nomes dos 48 artistas internacionais finalistas do Prémio Paulo Cunha e Silva, escolhidos por um comité de seleção que inclui alguns dos curadores mais relevantes a nível internacional. A lista completa dos artistas nomeados para este importante prémio de artes visuais criado pela Câmara do Porto, foi divulgada com a disponibilização do website do concurso. Este homenageia o vereador da Cultura que exerceu funções de setembro de 2013 até ao seu falecimento, a 11 de novembro de 2015. Apoiado pela Fundação Millenium bcp, o prémio, destinado a artistas internacionais com menos de 40 anos, tem um valor monetário de 25.000 euros e o seu vencedor apresentará uma exposição individual em 2018, na Galeria Municipal do Porto. Para júri da primeira edição do Prémio, o Pelouro da Cultura convidou João Laia, Julião Sarmento, Meg Stuart e Vicente Todolí. Estes quatro elementos indicaram posteriormente um conjunto de 16 curadores de relevo internacional - como Hans Ulrich Obrist (Serpentine Galleries, Reino Unido), Elena Filipovic (Kunsthalle Basel, Suíça), Nancy Spector (Guggenheim Museum, eua), Catherine Wood (Tate Modern, Reino Unido), Benjamin Weil (Centro Botín, Espanha) ou Venus Lau (ocat Shenzen, China). Mais informações podem ser consultadas em www.pcsartprize.com.
Um terreno adquirido pela Câmara do Porto ao Fundo do Aleixo por 2,168 milhões de euros, foi vendido este mês por 2,485 milhões, produzindo um lucro à autarquia superior a 300 mil euros. A aquisição e venda do terreno foi decidida por Rui Moreira, na sequência da fórmula encontrada pelo atual executivo para resolver o problema encontrado, em 2013. Com esta aquisição e com a entrada, simultânea, de um novo investidor privado – a Mota Engil – a Câmara do Porto resolve, assim, um dos mais complicados problemas encontrados pelo presidente da Câmara quando tomou posse. Em causa está a demolição das torres do Aleixo e o realojamento dos seus moradores, inquilinos municipais, decidido pelo anterior executivo. O processo, que chegou a deitar duas torres abaixo, mas o fundo, constituído por promotores imobiliários e pela própria Câmara, nunca entregou a habitação social a que se tinha comprometido com o município e encontrava-se sem liquidez para cumprir as suas obrigações. As soluções encontradas por Rui Moreira passaram pela diminuição da volumetria final do empreendimento a construir e pela recapitalização do fundo, através da entrada de um novo investidor, mas também através da aquisição de um terreno pelo seu valor histórico. A solução, que tinha sido criticada pela oposição, por alegadamente prejudicar a autarquia, revelou-se agora num ganho de gestão de mais de 300 mil euros a favor desta. Mas, além de arrecadar a verba, que agora poderá ser aplicada em projetos de habitação social na cidade, a Câmara do Porto viu resolvido o problema do Aleixo. O próximo passo é a entrega das novas habitações sociais, construídas especialmente para o efeito pelo fundo. Só depois de realojados os moradores, o restante projeto avançará.
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Praça de Liége já respira O Jardim da Praça da Liége, na Foz do Douro, acaba de reabrir ao público após obras de requalificação. O projeto de intervenção abrangeu a recuperação dos pavimentos em saibro e das duas pérgolas, bem como a renovação de todo o mobiliário existente. Foi ainda colocada a funcionar a taça com repuxo, um elemento central do jardim. As obras, realizadas em menos de dois meses, representaram um investimento da autarquia próximo dos 53 mil euros. Reconhecida pela sua tranquilidade, a Praça do Liége chamou-se, até 1914, Largo do Monte da Luz. A mudança de nome surgiu como homenagem aos habitantes da cidade belga de Liége que se bateram heroicamente contra a invasão dos alemães durante a Primeira Guerra Mundial. A Câmara do Porto tem vindo a reabilitar os seus jardins.
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Fazer o melhor bairro social de Portugal não custa nada
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ai nascer o melhor bairro de habitação municipal de Portugal. Chama-se Rainha Dona Leonor e o processo de contratação terminou, depois da autarquia ter ganho os vários processos judiciais que foram levantados por concorrentes. Em causa está a construção do primeiro bairro de classe energética A+ em Portugal. O empreendimento realojará todas as 52 famílias presentes no atual e muito degradado bairro e ainda sobrarão mais 20 casas para novos inquilinos municipais. O modelo implementado pelo executivo de Rui Moreira permitirá fazer a obra, sem qualquer custo para o município, como explicou o vereador da habitação Manuel Pizarro. O projeto foi apresentado aos moradores, depois do Tribunal de Contas ter aprovado o contrato. Aproveitando o terreno onde estava implantado o bairro Rainha Dona Leonor, em cinco blocos muito degradados e cheios de placas de amianto, a Câmara do Porto lançou um concurso público, obrigando
O Porto na CNN com Bourdain Episódio sobre a cultura gastronómica da cidade é emitido no dia 25 de junho. Programa faz parte da nona temporada da série da cnn “Anthony Bourdain Parts Unknown”, que se estreia no final deste mês. O reconhecido chef e apresentador, que nos seus formatos televisivos adota uma
o vencedor a construir primeiro a habitação social de alta qualidade e, no final, ao lado, um bloco de habitação para venda. O modelo adoptado neste bairro permitirá construir habitação social de elevada qualidade, manter todos os inquilinos no local, a alojar novos inquilinos municipais a custo zero, já que serão os privados a fazer todas as obras. O risco para a autarquia é, por outro lado, nulo, já que os privados apenas poderão avançar com o seu empreendimento, após entregar a habitação social. As “casas” de habitação social dividem-se nas várias tipologias, de T1 a T4, havendo até apartamentos duplex. Além das casas, que terão todas entradas próprias e individuais, o empreendimento terá espaços comuns e sociais, de lavandaria, sala de estudo e de moradores. As casas terão vista para o rio e para a Foz e o espaço público será totalmente requalificado pelo promotor privado.
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abordagem de proximidade às tradições e realidades locais, “passeia” neste episódio pela “cidade do Norte de Portugal” com a comida a ocupar “o lugar de destaque” – lê-se na sinopse de apresentação. Na companhia de anfitriões locais, como o chef José Meirelles (para quem trabalhou no restaurante nova-iorquino Les Halles), Bourdain experimentou, n’A Cozinha do Martinho, “um sumptuoso jantar” com tripa enfarinhada, saboreou lampreia numa “refeição caseira” e visitou o café O Afonso para provar, obviamente, a francesinha.
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ANJE elogia O presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários destacou, na abertura da we’biz talk, a “especial sensibilidade” de Rui Moreira e da sua equipa executiva “para o desenvolvimento do empreendedorismo, inovação e tecnologia, que claramente é hoje sentido na atual atmosfera dinâmica de negócios da cidade”. Adelino Costa foi o anfitrião do debate que juntou investidores, mentores e fundadores de startups na sede da anje.
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O burgo e o Burgomestre O Padre Américo Aguiar é uma das pedras que compõem um dos ícones da cidade. Numa longa entrevista à jornalista Elisabete Felismino, do jornal online eco, explica que “o Porto não deixa que brinquem com ele” e fala do atual momento económico da cidade.
∫≤ Se calhar é por isso que se diz que os portuenses são resilientes às crises… Sim, e mesmo nestas últimas crises económicas e financeiras a gente vê… e quando dizemos Porto podemos dizer Porto de uma maneira alargada. Eu nasci em Leça do Balio, Matosinhos, mas quando alguém nos pergunta, fora da cidade, de onde somos dizemos todos que somos do Porto e isso não acontece em todas as geografias do país. Noutras geografias do país não há esta facilidade de alargar a identidade de um povo. O Porto, as suas gentes têm sido e nesta última crise económica… um dos segredos do Porto e do Norte é esta rede, uma malha muito fininha de coresponsabilidade, de partilha mútua. Vamos aqui pelas nossas freguesias, pelas nossas paróquias e vemos que facilmente a vizinhança e a proximidade faz com que haja uma espécie de rede que é tecida por todos. E é também aí que nasce o espirito de empreendedor dos portuenses? Os portugueses costumam desenrascar-se ao último minuto, mas no Porto é mais
do que desenrascanço… é inovação. E nós vemos isso quando olhamos para a nossa Academia. Eu gosto sempre dos Reitores da Universidade do Porto, cada um no seu estilo, mas uma vez, numa sessão qualquer, o Sr. Professor Marques dos Santos diz-me assim, o senhor sabe que aquela garrafa de gás levezinha foi criada pela nossa Universidade. E isso é um orgulho tão grande e é pena que o cidadão comum, porventura, não tenha noção disso. Esta Academia foi capaz de descobrir uma relação, que devia ser obvia desde sempre, mas que às vezes não é, que é uma Academia de braço dado com o setor empresarial. Mas considera que os agentes da cidade, a autarquia, a academia e os agentes económicos, têm esse braço dado? Eu acho que tudo isso é sempre como um electrocardiograma, é um pouco como a nossa relação com Deus, tem ‘piquinhos’, e às vezes há momentos da cidade em que se nota que todos os agentes da cidade estão em rede, todos a puxar para o mesmo lado e quando se faz isso as coisas acontecem, seja em setores específicos da vida de cidade, seja em constrangimentos, em catástrofes,
quando a cidade é capaz, quer na Igreja, quer nos órgãos autárquicos, na Academia, nas empresas somos capazes de fazer o melhor. E temos reparado que nos últimos tempos, com a distância que nos permite ver um bocadinho melhor, a Universidade tem sido exemplar no que diz respeito, a usufruir e alavancar e tem sido sensível a esse trabalho conjugado e cruzado com as várias realidades, nomeadamente com as empresas e não é à toa que a própria cidade cria um ninho de startups e que é referência. Quando vejo jovens das mais diversas áreas a serem capazes de investigarem e a serem capazes de melhorar e de alterar o nosso dia a dia, acho que isso é brilhante. E a nossa academia tem sido muito notabilizada nessa categoria. Mas quando lhe perguntava sobre a cidade, estava a pensar na mudança que existe na cidade, por exemplo, na última década. Sim, hoje o Porto é uma cidade diferente. É diferente porque é muito mais cosmopolita. Fui capelão da Misericórdia do Porto nos últimos dez anos e a minha vivência da rua das Flores não tem nada a ver. Em 2005 tínhamos uma rua mais
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ou menos degradada, com uns estabelecimentos de uns senhores simpáticos, sem ninguém a passar lá, um comércio decadente, a certa altura há o projeto da rua passar a pedonal e as obras… o que gerou muita discussão, como é costume, e a certa altura uma torre de babel deitada, agora percorremos a rua das Flores e ouvimos todas as línguas, e com dificuldade português, o que é divertidíssimo. O que me está a falar é sobretudo turístico, acha que a grande diferença da cidade é sobretudo ao nível turístico? Aquilo que mais se nota no dia a dia de quem percorre a cidade é a presença turística mas depois não podemos colocar de lado aquilo que dantes não era vísivil e que agora é: a reabilitação urbana. As Cardosas foram a grande intervenção no coração da cidade, depois o Corpo da Guarda, Mouzinho da Silveira, diversos projetos da Porto Vivo, eram assim uns “pioneses”. Mas agora não, agora todos estamos convencidos. Do cimo dos Clérigos a cidade está como que semeada de gruas… o Professor Vieira de Carvalho dizia que uma cidade sem gruas é uma cidade morta…
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Ainda sobre o turismo. É benéfico para a cidade? O turismo é benéfico e não deve haver esse papão, o homem do saco não faz sentido nenhum. Aliás também ouço essa conversa em Lisboa. Primeiro as cidades não são de dimensão comparável. O meu Porto é pequenino, é um miminho, é querido; Lisboa é uma coisa assim grande, é diferente, mas tenho ouvido essa conversa. Durante muito tempo andamos a discutir que era importante a aposta no turismo e os eleitos fizeram o que puderam, a Associação Comercial do Porto, a Câmara, os privados, cada um fez o que pôde, depois a certa altura há o pormenor que faz a diferença, as ‘low cost’. Começam a vir os turistas e começamos a ver os vários agentes: os cafés, os restaurantes, os hotéis, os Clérigos, todos a terem a prova que as coisas estavam a correr bem. E a seguir, como sempre acontece nestas coisas, surgem os Velhos do Restelo. Que isto é perigosíssimo e vamos morrer todos, vamos ficar todos diluídos, descaracterizados. E eu acho que isso é um disparate. Alías, quando há dias ouvi dizer que se liga o turismo com a questão da desertificação do centro histórico…
Que já estava desertificado… Exatamente. Quando alguém afirma isso… eu fui seminarista no coração da Sé e sei o que aquilo já era. E quando ouvia o nosso Reitor Dr. António Taipa, agora nosso Bispo Auxiliar, a falar do que era do bairro da Sé e o centro histórico todos dizem que houve uma grande quebra quando se tiraram as pessoas de lá para os bairros sociais que entretanto foram criados... com promessas de regresso. E foi isso que fez a grande retirada de população. Associar o turismo à morte do centro histórico acho que não é sério. Aliás eu pergunto o que é que nós fizemos, ou não fizemos, para recuperar o centro histórico do Porto. Eu lembro-me de ouvir falar de vários projetos, instituições da igreja, fundações do Estado, projetos de luta contra a fome, contra a pobreza e há 40 anos que se ouve isso. Das duas uma, ou os projetos não têm tido sucesso ou alguma coisa está mal. Como é que olha para a reabilitação urbana, acha que está a ser bem feita? A Misericórdia recentemente avançou com um projeto no âmbito do programa reabilitar para arrendar, o que é de
saudar. É de saudar que a misericórdia tenha criado condições para olhar para o seu património e ser capaz, neste centro histórico, de criar condições para reabilitar edificado que estava abandonado, em ruínas, e colocá-lo ao serviço da cidade seja para alojamento, seja para turismo, seja para serviços. No início havia um choque entre aquilo que eram os interesses dos proprietários e aquilo que era a vontade da Câmara e aquilo que pudesse ser o interesse do mercado. Este cruzamento não corria lá muito bem, certamente que todos queriam o melhor, mas se calhar não era o melhor do bem comum, mas era o melhor para cada um dos agentes. Mas eu penso que isso se desbloqueou. Agora o que também se nota é que nós, por exemplo, aqui há uns tempos quisemos comprar um edifício aqui perto e os preços estão proibitivos. E esse preços proibitivos nota-se depois no comprar e arrendar casa. Exatamente. Depois é uma bola de neve e isso sim afasta os cidadãos. Lá está, é quando o interesse de cada uma das partes não é o bem comum. Aliás, a Porto Vivo
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abriu um leilão para venda de edifícios e referia que na última tinha tido 1400 e tal propostas, o que significa que há procura por preços menos especulativos. E lembro-me que na rua das Flores havia ali uma papelaria que fechou. A câmara fez uns apartamentos e fez um leilão e teve grande adesão de casais novos. Como é que olha para o fenómeno da movida noturna da cidade? A movida é divertida. Se olhar para 1995, não se passava nada, aliás é engraçado ver como na nossa cidade, a movida se tem movido. Lembro-me de ser nuns armazéns na zona industrial, depois Ribeira, e agora está aqui na baixa. É outra vez uma faca de dois gumes porque nós queremos que a cidade tenha vida, mas depois a cidade tem vida e queremos dormir. Nós queremos turismo, mas depois temos turismo e ‘ai Jesus” o turismo. Mas eu compreendo perfeitamente aqueles poucos habitantes nesta zona que querem dormir e isso não é compatível com a movida noturna. Não sei como é que se concilia uma alegre, saudável e simpática convivência
6 noturna com alguns excessos com aquilo que é o descanso merecido de pessoas aqui até já com alguma idade. Confesso que não sei qual é a solução, sei que é um problema, sei que a autarquia tem tido várias plataformas de diálogo e discussão para descobrir a pólvora mas ainda não ouvi o estouro da pólvora descoberta. Todos nós queremos a cidade com vida, agora confesso que o Espirito Santo também ainda não me soprou. Outra coisa é aquilo que me preocupa e que tem a ver com a educação dos jovens para com o álcool. Nunca defendi que se deve proibir o que quer que seja porque é um verdadeiro disparate. Às vezes o que me preocupa é que quando vou a casas de famílias fazer visitas vejo os jovens a beberem água e sumos e depois cruzo-me com eles e estão com garrafas de litros de não sei o quê ou com “shots”, com teor de álcool ‘upa upa’. Preocupa-me quando uma sociedade sabe desse problema mas não o resolve e cria um hospital de campanha em que os meninos chegam, embebedam-se, atingem o coma alcoólico são tratados e vão para casa semanalmente, ora isto não é salto civilizacional, isto é um disparate. O divino Espírito Santo soprou-lhe para reabilitar os Clérigos. Sim, definitivamente. Às vezes quando penso nisso até me emociono um pouco porque tudo aconteceu no tempo certo. Como é que surge a presidente da Irmandade dos Clérigos? Estávamos em fevereiro de 2011. A Irmandade estava já há algum tempo em coma, parada, tínhamos aqui um sacerdote, o padre Valdemar, que foi o reitor da Igreja dos Clérigos durante décadas e que fez um trabalho magnifico. Os Clérigos eram muito concorridos no que dizia respeito às celebrações, o padre Valdemar era professor do Colégio Alemão e havia muita convivência. Foram tempos muito bonitos no que diz respeito à marca dos Clérigos como local de culto. A certa altura o edifício começa a entrar em ruína, todos os espaços estavam em ruínas: a zona hospitalar, os serviços administrativos e a zona residencial. Em fevereiro de 2011 vim a uma assembleia geral da Irmandade e o Sr. Dom Manuel Clemente tinha recomendado que os padres fossem capazes de reabilitar a Irmandade. É uma Irmande de Padres, todos os sócios são padres e portanto que era uma pena que a Irmandade estivesse morta, em coma. Nessa assembleia geral, um colega com mais idade faz uma lista de última hora. E ganhamos, era uma lista única, encabeçada por mim. Eu tinha vindo cá quando andava na escola primária e tinha ficado chocado porque de facto o ex-libris da cidade e uma obra de referência estava num estado miserável.
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E foi aí que resolveu recuperar o ex-libris da cidade. Nesses dias começou o workaholic a trabalhar, das primeiras coisas que fiz foi ir falar com a diretora regional da cultura, da altura, a arquiteta Paula Silva. Tive o aval dela que, contudo, me disse que dinheiro não havia. Ainda assim, disponibilizou-se a ajudar oferecendo o projecto a realizar pelo arquiteto João Carlos, que já tinha trabalhado em Tibães. Fui então falar com o Dr. Artur Santos Silva, presidente do bpi. Ele veio visitar os Clérigos e ficou muito impressionado e disse-me: “avance, se houver problemas, estou cá para ajudar, até fazemos uma vaquinha com empresários”. Senti-me respaldado, o que estava em cima da mesa era fazermos à nossa custa com um empréstimo bancário. Depois fui falar com o Mário Ferreira, o nosso Midas. Fui almoçar com o Mário Ferreira e tenho pena de não ter guardado a toalha de papel porque pude constatar como é que o Midas… Porque é que lhe chama Midas? Porque os projetos onde ele põe a mão têm retorno. Durante o almoço fez-me várias perguntas, e reparei como é que é “este animal económico” porque ele rapidamente dizia se fizer isto assim e assim isto rapidamente duplica, triplica… e até hoje nada do que ele disse não foi aplicado e não teve razão. Tinha o apoio da cidade… Comecei a ficar convencido de que isto ia avançar, depois houve uma visita em que me cruzei com o Dr. Rui Moreira, na altura presidente da Associação Comercial do Porto que também disse “Padre Américo o que precisar”. Aliás, temos um livro que editamos na altura com o apoio da acp. O Dr. Rui Moreia alertou-me ainda para o facto das obras do Palácio da Bolsa terem sido feitas com a ajuda do Jessica. Devo até contar uma história caricata. Eu não conhecia o programa Jessica e fiquei convencido que era o nome de uma senhora, a dada altura o presidente da Câmara apresenta-me a Maria do Carmo, responsável pelo programa e eu ainda hoje lhe chamo Jessica. (risos) Com estas conversas fui ganhando coragem. Eu sou muito institucional e acho que a nossa cidade o que tem são as figuras da cidade, aliás quando a rainha D. Leonor manda a carta para a cidade para criar a misericórdia destina a carta aos homens bons da cidade. Eu como sou muito institucional comecei a ver que o bispo ok, o Dr. Artur Santos Silva, o nosso senador, ok, o Midas ok, o presidente do senado (acp) ok, o provedor da Misericórdia ok, comecei a sentir-me confortável… Faltava a Comissão de Coordenação da Região Norte. E finalmente vou à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte,
“E a seguir, surgem os Velhos do Restelo. Que isto é perigosíssimo e vamos morrer todos, vamos ficar diluídos, descaracterizados. E eu acho que isso é um disparate.”
na altura presidida pelo Eng. Duarte Vieira, e que foi um pessoa fundamental em todo este processo. O Eng. Duarte Vieira estava numa situação de doença grave e a certa altura diz-me “Padre Américo já não há qren mas vamos ter que fazer aqui um reajuste de coisas, estamos a chegar ao fim formal do qren, há muitas instituições que tiveram candidaturas aprovadas mas que não utilizaram dinheiro, no entanto isto cruza-se com autárquicas e portanto muitas autarquias vão deixar até ao fim que é para não assumirem o ônus de não ter usado pelo que eventualmente vai chegar a uma altura em que haverá aqui uma verba. É a única possibilidade”. E ficou à espera? Não, voltei a reunir com a arquiteta Paula Silva e decidimos avançar. O arquiteto faz o projeto, a Irmandade encomenda as especialidades. Estávamos nisto quando a certa altura liga-me o Eng. Duarte Vieira a dizer que havia a possibilidade de se concretizar, mas tinha que estar tudo pronto e isso podia ser um problema. Ao que respondi: “Está tudo pronto”. Lá está o sopro do Espírito Santo… Exatamente… correu tudo bem. Entretanto as coisas precipitam-se todas, e temos que agradecer porque a santa burocracia se fosse aplicável estávamos tramados, mas na altura era preciso a conjugação de várias entidades, o Jéssica estava resolvido, os secretários de estado Castro Almeida e Barreto Xavier foram magníficos. Era preciso que a Câmara anuísse, o Dr. Rui Rio fez também as diligências necessárias e, no final do processo, surpreendeu-me muito simpaticamente com um apoio de €150.000. E quanto tempo demorou? No dia 23 de dezembro de 2013 estávamos na igreja dos Clérigos a assinar o financiamento para a recuperação dos
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Clérigos, o empréstimo do Jéssica, o contrato com o empreiteiro, o contrato com a fiscalização e a arrancar umas tábuas simbólicas já com o Dr. Emídio Gomes na presidência ccdr porque o Eng. Duarte Vieira entretanto faleceu. Todos os intermediários da ccdrn foram e são espectaculares. As obras começaram nos Reis de 2014 e lembro-me que a 23 de dezembro com todos os senadores da cidade presentes, durante a assinatura dos protocolos, ter dito que no dia 12 de dezembro de 2014 às 12 horas estaríamos a fazer inauguração. Ficou tudo a pensar que eu era doido. 12 de dezembro é a data que se comemora a inauguração do edifício. Foi por causa da data de 12 de dezembro de 1779. Dia da bênção e dedicação da igreja. Eu também faço anos nesse dia, aliás também o senhor Prof Marcelo Rebelo de Sousa. O que é certo é que graças a Deus tudo correu muito bem. Já recuperou o investimento? A inauguração aconteceu mesmo a 12 de dezembro de 2014, vamos fazer três anos e o que dizemos é que o retorno foi muitissimo rápido. A cidade do Porto já não é moda, a cidade ficou moda. Aliás, este último prémio de melhor destino turístico é uma maravilha. Estão a faturar um milhão de euros? O ano passado faturamos à volta de um milhão de euros, o que esmaga qualquer das previsões e isto significou mais ou menos 50% de partilha e optamos por um filão que eu acho que é o mais transversal da sociedade, decidimos apoiar os voluntariados hospitalares. E ainda todas aquelas entidades que são de comum aceitação como Fundo de Socorro dos Bombeiros de Portugal, o ipo, a Liga Portuguesa Contra o Cancro e uma instituição nova, a Kastelo, pela qual temos muito carinho, que é uma casa de cuidados continuados
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paliativos pediátricos a quem entregamos o prémio que recebemos da Gulbenkian no valor de 50 mil euros. A Kastelo é uma das instituições que umbilicalmente queremos apoiar e depois temos apoiado pontualmente tudo o que seja mais transversal possível. Há muitas instituições que precisam, não tenho dúvidas disso, mas nós demos preferência a um filão. E há aqui uma coisa importante nunca demos a quem nos pediu. O retorno que temos tido nas instituições é muito interessante. Devo confessar que tinha algum receio da reação da sociedade, tinha receio que olhassem para a Irmandade dos Clérigos com algum ar menos positivo. Desde a primeira hora que decidimos que se corresse bem tinha que ser partilhado com a cidade. E vamos ouvindo muito que os Clérigos são o monumento referência da cidade, mas também são o monumento da partilha, da solidariedade, daquilo que é o coração do Porto, “das tripas coração”. E isso alegra-me muito e é muito mais do que cumprir a responsabilidade civil, é uma obrigação que o Papa Francisco e o nosso Bispo e que a Igreja desde sempre tem provocado a que assim aconteça. Qual é o maior problema que o Porto tem pela frente? Há uma coisa que aconteceu também nesta década e que mudou muito a vivência da cidade e que foi o Metro. Porque quando nos lembramos da cidade antes do Metro e do centro da cidade depois do Metro, não é comparável. Há uma mudança total de qualidade de vida e que foi possível graças a homens muito especiais, autarcas muito especiais como o saudoso Professor Vieira de Carvalho, Fernando Gomes e o Major Valentim Loureiro que é um homem que tem o coração na boca. Eu trabalhei na Câmara da Maia e fui autarca em Matosinhos e lembro-me perfeitamente do trabalho, do namoro e do trabalho de bastidores para que os autarcas conseguissem dizer de
maneira unificada “nós queremos assim”, porque quando cada um puxa para o seu lado e agora estou a ver isso novamente nos transportes com a volta dos stcp. Porque não faz sentido nenhum. Eu chamo ao nosso presidente de Câmara, o Burgomestre. O Porto não é uma cidade como as outras, até na sua história é especial. O facto de ter sido uma cidade episcopal até 1406 mostra que nós somos o Burgo e o nosso presidente de Câmara é o Burgomestre. Não é um presidente de Câmara como outro qualquer. Digo isto carinhosamente, mas o Porto é uma cidade especial. Isso é sua fé a falar… E acho que todos nós temos o direito e eles o dever de criar sempre condições para que o bem comum aconteça. Porque nós vimos o que aconteceu no Porto. Eu acho que a cidade é um ‘case study’ no que diz respeito a eleições autárquicas. Primeiro o que aconteceu com o Fernando Gomes, depois as eleições do Dr. Rui Rio, naquele perfil exigente e austero e acho que os portuenses são um excelente caso de estudo para as estatísticas, para as sondagens e para a segmentação do cidadão. É uma cidade que não deixa que brinquem com ela e eu acho que esses acontecimentos são uma prova disso. No caso das últimas eleições, as do Dr. Rui Moreira, é o adn do Porto que se disponibiliza para o “front office”. É o adn que faz parte da nossa identidade e já não é a revolução de espada e de pistola mas é aquilo que eu digo, o Porto não deixa que brinquem com ele. E nos momentos chave para o rumo da sua história e para decisões importantes a cidade mobiliza-se. Acho que isso é único. Qual é que é o maior desafio da cidade? Atendendo aquilo que era uma cicatriz complicada que tinha a ver com a reabilitação urbana, acho que esse está em velocidade cruzeiro, vejo é a capacidade
“Do cimo da Torre dos Clérigos a cidade está como que semeada de gruas… O Professor Vieira de Carvalho dizia que uma cidade sem gruas é uma cidade morta…”
de conjugarmos os interesses dos vários parceiros: os proprietários, os promotores imobiliários de maneira a criarmos as melhores condições possíveis para que os casais novos possam viver no centro da cidade porque se nota que há um gosto, um desejo, uma predisposição para isso. Tirando a questão do repovoamento da cidade, nós temos agora aquilo que podia ser uma certa fatia da sociedade portuense, a vida cultural, há um novo paradigma, não é melhor nem pior, é diferente, e aqui temos que invocar o ‘louco’ Paulo Cunha e Silva, divertidíssimo, com saudade certamente. Há pouco vi um vídeo da cidade para promover a residência de artistas e de fato é um Porto moderníssimo, até fico de boca aberta, babado de orgulho com aquilo que ouvimos essas pessoas dizerem do Porto. Portanto para si o maior problema da cidade é o repovoamento da baixa? O Espírito Santo não me soprou a tal solução, mas a desertificação da baixa começa com o grande movimento de esvaziar os centros das cidades para os bairros sociais, e para as periferias, a partir daí começaram os problemas que se cruzam com outros: condições socio-económicas, das pessoas, das famílias, da marginalidade. No fundo são problemas de pessoas e por isso é que gosto de ver o Burgomestre com este cuidado de olhar sempre para os problemas na ótica das pessoas, porque às vezes há a tentação de tratarmos os assuntos por classificações institucionais, por nomenclaturas, esquecendo que estamos sempre a falar de pessoas. O que vemos é que quando atacamos os problemas, enfarinhando-nos neles, as coisas fazem-se. Porque às vezes o que pode acontecer é que as decisões centrais não encaixam na realidade. É como a história da escola Alexandre Herculano, na Av. 5 de outubro em Lisboa, onde fica o ministério da Educação, se calhar nem sabem onde é a escola, nunca cá estiveram, nem o que ela representa e quem diz nessa área de governo diz em muitas outras. Há problemas da cidade que não são diretamente responsabilidade da autarquia nem do Burgomestre. É saudável para todos os intervenientes da vida nacional que haja uma “regionalização” o que não quer dizer propriamente “órgãos regionais”. O Burgomestre como lhe chama é bandeira contra o centralismo. Revê-se nessas criticas contra o centralismo? Sim, absolutamente. Estou em Lisboa há dois anos, vou à segunda, regresso à sexta, tenho feito um esforço de permanentemente marcar presença no Porto, o que é saudável, para o oxigénio e para a cidadania e por todas as razões e mais alguma. Mas tenho sempre medo de como encaixam em Lisboa as reivindicações de cá, porque há sempre o facilitismo de
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7 encaixar isso em provincianismo paroquial, e isso é negativo. Agora não é culpa de quem faz as exigências, é culpa eventualmente da Corte. Não sou historiador, mas eventualmente a Corte sempre fez isso. Agora o que é necessário é avançar sempre com fatos e isso o Dr. Rui Moreira faz muito bem, já o fazia quando presidia à Associação Comercial do Porto (acp) e vimos isso na questão da louca construção do aeroporto da ota, quando a acp ofereceu ao Estado um estudo a defender a Portela mais um. Acho sempre muito importante que sejamos capazes de avançar com aquilo que são os factos. Nunca tive da parte de um concidadão lisboeta qualquer sentimento de superioridade em relação ao Porto, ou de desrespeito, pelo contrário. Mas é fundamental termos um presidente de Câmara deste tamanho, vísivel, audível e respeitado. Usa a ponte aérea? Eu sou um pecador perante o Burgomestre porque uso a ponte aérea. A ponte aérea é uma coisa magnifica mas concordo 200% com o Burgomestre quando diz que a ponte aérea não devia ser moeda de troca com os voos diretos que tínhamos para alguns destinos estratégicos. Agora que a ponte aérea é magnifica é, quando as coisas correm bem saio da Renascença e estou no aeroporto Sá Carneiro, em 60 minutos. Tenho reparado que muitas das pessoas que encontrava no Alfa estão agora no avião. A ponte aerea é um serviço magnifico que a tap nos presta, mas não havia necessidade que a ponte aérea fosse uma moeda de troca nas ligações diretas com cidades que são importantes para tudo o que é vida económica e empresarial da cidade. Isso é um disparate. É pena que o Burgomestre não tivesse sido acompanhado pelas outras entidades da região, às vezes isso acontece, as pessoas andam distraídas, dantes havia o sino e as pessoas ocorriam de imediato. É fundamental que não deixemos de ter ‘sangue na guelra’ para não nos deixarmos comer. Como é que aparece a presidente do grupo Renascença? Não era a minha praia. Estava muito sossegadinho na minha vida como sempre acontece, com muitas ocupações aqui na cidade: vigário geral da diocese, capelão da Misericórdia do Porto, presidente da Irmandade dos Clérigos e Vice-Reitor do Santuário de Santa Rita de Ermesinde onde celebrava sempre com muito carinho aos domingos ao fim da tarde, quando fui chamado a ir para a Renascença. Ao Cónego João Aguiar, presidente da Renascença, foi-lhe diagnosticado um problema de saúde, um problema oncológico e a situação estava a evoluir com algum sofrimento da parte dele. No verão de 2015, fui convocado para esta situação.
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funcionários. E isto tem um valor único. Aquilo que significa a quota de mercado nós temos quatro rádios (Renascença, Mega Hits, a rfm, e Radio Sim). A rfm está novamente líder da rádio em Portugal, está sempre ombro a ombro com a concorrente, depois nas rádios generalistas somos os primeiros. O mercado é pequenino e no digital há dois papões que comem 70% das receitas, que são o Google e Facebook. E aqui há uma grande falta de músculo da União Europeia em não disciplinar aquilo que é o exercício da atividade, porque estas duas empresas são carrapatos, vivem à custa dos conteúdos que os outros fazem. E não pagam um cêntimo. Nós estamos a avaliar e a estudar aquilo que possam ser os desafios do digital para o mundo da rádio porque nós não podemos ser apanhados de surpresa nas mudanças tecnológicas que aí vêm. Quando ouço os partidos nórdicos a dizer que vão desligar o fm e quando oiço as empresas de automóveis a dizer que no meu carro não vai haver um transistor, mas vai ter um terminal de dados temos que correr da pata.
O senhor Dom Armindo Lopes Coelho, saudoso bispo do Porto, dizia muitas vezes que a única coisa que pediu à Igreja foi para ser ordenado padre e depois nunca pediu mais nada. Eu gostava também de chegar a ancião e poder dizer a mesma coisa. A área da comunicação é a minha área, gosto, mas a área da gestão e da administração de um grupo de comunicação social nacional não tinha passado pela minha cabeça. Como é que está a correr? Fiz um estágio durante um ano, fiquei como vice-presidente, o Cónego João Aguiar fez a amabilidade de prolongar um ano mais a presidência onde aprendi o nome das coisas, entretanto senti necessidade de fazer um curso de gestão e administração para executivos na católica para pelo menos pegar nos papéis direitos e para saber o nome das coisas. Tinha um professor que me dizia “Padre Américo não se preocupe, o senhor, em todas essas reuniões em que se sente fora do jogo, o que tem é que fazer a pergunta certa, a partir daí está dominada a plateia”. Fui fazer esse curso de executivos e gostei muito porque muitas vezes o que nós (eu, a Igreja, instituições) fazemos é falhamos por não salvaguardamos o profissionalismo das coisas. Às vezes julgamos que sabemos de tudo, de arquitetura, de engenharia, de gestão, de jornalismo e é um disparate. Temos que ter sempre a sensibilidade de nos rodearmos daqueles que são especialistas nas diversas áreas. E
a César o que é de César. Tive necessidade de fazer isso, e confesso que agora me sinto mais confortável. Aliás, na Irmandade dos Clérigos, aquilo que desde a primeira hora decidi é que mesmo os colaboradores são esmagadoramente da escola de hotelaria e turismo. Quem vem para aqui tem que ter formação específica para isto, se não matamos os projetos. Como é que olha para o mundo dos media? O mundo dos media está muito conturbado, a Renascença faz parte da plataforma dos media privados e temos uma reunião mensal, na primeira reunião confesso que me senti… tinha o Dr. Francisco Pinto Balsemão (depois é que veio o filho, que é meu colega caloiro), o Dr. Proença de Carvalho, depois a Rosa Cullell, Paes do Amaral depois o grupo Cofina, e depois eu um jovem da Invicta. Confesso que o que me salvou foi a simpatia dos anciãos e de todos a ajudarem-me a entender que era um igual entre iguais. Olho para o mundo dos media com muita preocupação, os números de venda de papel de jornal são terríveis, são sempre de descida. Acha que vai acabar o papel? Eu acho que nunca acaba. Fiz uma tese de mestrado em ciências da comunicação e uma das coisas que descobri é que normalmente os novos media não matam os media clássicos. Mata quando os anteriores não se adaptam e aqui o segredo é sempre a capacidade de adaptação e nós vemos
mesmo títulos internacionais de jornais que se estão a adaptar na plataforma digital, agora o mundo dos media está muito sensível porque volume de publicidade caiu abruptamente. E isso não é um problema para a própria democracia. Acho que sim, a questão económica cruzada com as redes sociais e a sensação que se pode dispensar os jornalistas isto é fogo na palha. Depois vemos títulos que dão prejuízo a serem comprados por preços exorbitantes, ou alguns títulos que ganham força em períodos eleitorais. Acho que é fundamental que o Estado garanta, mas não sei como se faz, tudo isto é muito sensível, vimos agora o que aconteceu na eleição americana. A tudo isto somar a concorrência desleal dos gigantes Facebook e Google…. E a Renascença como está? A Renascença está muito bem, tem a particularidade de ter um dono com rosto (os nossos acionistas são o Patriacado de Lisboa com 60% e a Conferencia Episcopal com 40%). O grupo tomou decisões, dolorosas, vendeu a sede do Chiado, fez uma restruturação anteriormente, agora temos 250 funcionários e digo-lhes sempre que as minhas decisões têm 250 preocupações, as suas famílias e os seus compromissos e a Renascença que vai fazer brevemente 80 anos nunca deixou de pagar no dia certo os seus compromissos com os seus
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Acha que o Porto perdeu influência a nível nacional? Confesso que tenho saudades daquela conversa dos vice-reis, mas também era um tempo de reinados. Lembro-me do Eurico de Melo, o Vieira de Carvalho, que são culpados de muita coisa muito boa e de coisas menos boas. Hoje em dia noto alguma… mas acho que é o problema da democracia direta. A transformação do digital elevou a uma democracia direta mas também acontece muito naquilo que é até a realidade da igreja. Entre cada um de nós e o topo eliminaram-se os corpos intermédios. As dioceses, as vigararias, as paróquias, as estruturas, agora o Papa é o Papa do Mundo, é o pároco global e agora também acontece isso nos vários níveis de administração. No passado recente os autarcas eram figuras com mais influência, com mais jurisdição no território, e via-se nos media, havia uma dúzia de autarcas que estavam nos media, agora não. Há falta de líderes. E isso é negativo. Há falta de ligações fortes e de respeito. Também não sei se no mundo autárquico foi devidamente preparada a sucessão dos dinossauros. E em muitos sítios a sucessão foi atabalhoada e estou curioso para ver se algum deles vai ter a tentação de voltar. Mas penso que numa sociedade como a nossa é muito importante a existência de corpos intermédios, com influência, com peso. Como olha para o país político? Somos de uma geração que estava habituada ao arco da governação e fomos assaltados por uma coisa divertidíssima chamada ‘gerigonça’. Eu como Padre até
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ao último segundo acredito que todas as pessoas no exercício da função fazem o melhor que podem para o bem comum. Tenho apanhado algumas desilusões, mas acho que temos que acreditar nas pessoas porque se partimos de pé atrás sempre não é saudável. E parto do princípio que as pessoas são sérias e têm um objetivo, pode não ser aquele que defendo, mas a democracia não vale… mas é certo que no nosso país havia esse acordo tácito, essa tradição. Tivemos uma situação diferenciada que toda a gente lhe dava uma esperança de vida muito reduzida mas o que é certo é que o nascituro tem feito pela vida e tem se desenrascado. Eu não sou da área da economia mas há quem diga que os números são bons, outros dizem que são bons mas não são estruturais. E depois ainda há o fmi e o bce... eu penso que há um problema maior e que se chama Casa Comum Europeia. Mas quando olho para o Parlamento, com aquele grau de crispação, eu não sei se o cidadão acha piada. Os ‘fait divers’ reduzem o parlamento… Balanço? Faço um balanço positivo, atendendo às expectativas reduzidas em relação à circunstâncias. Mas é engraçado ver o jogo de cintura que o Bloco de Esquerda e que o pcp têm que fazer. Quando iniciei funções na Renascença fui cumprimentar todos os órgãos de soberania e todos os líderes partidários e das forças armadas e gostei muito de falar com eles e mais reforcei em mim que apesar de poderem pensar diferente daquilo que eu penso e que defendo, acreditam naquilo que defendem e isso acho que é fundamental. Não concordo com algumas coisas que esses protagonistas dizem e defendem, mas acredito que querem fazer o melhor que sabem e em que acreditam. E o balanço de Marcelo? Não sei se é tempo disso. Eu acho que tenho uma costela monárquica, não sei porquê, sou povo mais povo do povo e portanto a única aspiração que eu podia ter era ser capelão da Corte, mas gosto muito quando o Chefe de Estado começa a significar a representação pura e dura do Estado da Nação. E acho que é isso que ele tem conseguido, é nós olharmos para o Prof. Marcelo como alguma coisa que é nossa que nos identifica e que nos representa. E isso não se explica. Ele tem uma agenda louca e não sabemos de toda. No passado recente havia a preocupação da preparação, vinha a visita aos locais agora tudo isso se atropela, agora o resultado é mil ao cubo positivo naquilo que foi recuperar uma relação de confiança e de afetividade da população com o seu chefe de Estado. Não digo que é melhor… é diferente. Arrisca-se a ter de deixar o coração no Porto tal a relação de afeto
que está a estabelecer, como ele disse, com os “Invictus”… O Papa Francisco também fez essa aproximação… Os italianos falam do ‘fare’ Papa, e que é cada um depois vai descobrir como é que vai ser Papa, porque não há uma cartilha ou um regulamento. Quando o que se faz é verdadeiramente o que se é, a população nota. Não é para criar uma imagem. O balanço é esmagadoramente positivo, a minha dúvida que tenho é até onde é que vai esta ‘gravita’ naquilo que significa ter ou não ter persuasão sobre os agentes.
Este homem nasceu, viveu e foi adulto, foi padre, foi Bispo, foi Arcebispo e foi Cardeal na Argentina e por isso toda a sua experiencia de vida e de relação com as coisas e com os acontecimentos é da América Latina e que não tem nada a ver com aquilo cinzento e delimitado que são os nossos sentimentos e as nossas instituições e portanto acho que isso deve ter sido particularmente divertido na Santa Sé, nos primeiros meses. Desde as coisas simples do dia a dia, que começou logo com a eleição de ir pagar a conta de onde esteve alojado e de vez em quando vai comprar uns óculos, uns sapatos, coisa
“O Porto não é uma cidade como as outras, até na sua história é especial. O facto de ter sido uma cidade episcopal até 1406 mostra que nós somos o Burgo e o nosso presidente de Câmara é o Burgomestre. Não é um presidente de Câmara como outro qualquer. Digo isto carinhosamente, mas o Porto é uma cidade especial.” E na Igreja nota-se o efeito do Papa Francisco exatamente nisto que estava a falar de maior proximidade com a população? Nunca nada será como dantes. Daqui a uns tempos virá outro Papa, quando acontecerem, ou de morte ou de resignação, mas nunca mais nada será como dantes, como sempre acontece com todos. Quem olha para a história dos Papas vê que cada um traz novidades, umas boas outras más, mas normalmente nunca há a tradição… o Dom Manuel Clemente quando foi da eleição disse uma coisa que achei engraçada e que é que nunca podemos esquecer que este Cardeal Bergoglio é um coração, é uma vida da América latina. A relação dele com as pessoas e com as coisas não tem nada a ver com a vivencia desta velha Europa e por isso é que às vezes algumas coisas nos poderiam parecer um bocado exageradas, sem equilíbrio.
que nunca na vida aconteceu, mas são coisas simples que o cidadão comum valoriza e diz “este é um dos nossos”. Isto não quer dizer que o Papa Bento xvi, ou o João Paulo ii não tenham sido um dos nossos. Agora o estilo do Papa Francisco é qualquer coisa que nos desarma. Mas aproxima o cidadão da Igreja? Sim aproxima porque chama-nos a atenção para uma coisa que não devia ser novidade. Que a Igreja nunca tenha a tentação em nenhuma circunstância de excluir ninguém. Ser uma Igreja aberta, uma Igreja de acolhimento, uma Igreja inserida e isto tem feito na Igreja, tem provocado um movimento muito interessante daquilo que era uma franja muito significativa de pessoas crentes e não crentes, mais crentes ou menos crentes que se sentiam menos acolhidas ou mesmo não acolhidas.
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9 Como é que percebeu que queira ser padre? Tenho 43 anos, sou da colheita de 1973, sou o mais novo de seis irmãos. Não é uma família muito católica e é até pouco praticante. Quis ir para a catequese e fui e não quis ir para a catequese e não fui. A certa altura em 1987, anunciam que vai ser aberto um agrupamento de escuteiros e até hoje sou um fã louco do tio patinhas, do pato Donald e dos sobrinhos, sou um escuteiro mirin teórico, quando vi o anúncio fui logo lá, tinha 14 anos… A dada altura perguntam-me se andava na catequese, ao que respondi que não. Se não anda na catequese não pode porque este agrupamento é do escutismo católico português e por isso é obrigatório andar na catequese. Fui para casa e tive que tomar uma decisão na minha vida: fui para a catequese e também fiz a primeira comunhão. E foi aí que percebeu a sua vocação? Não, longe disso. Tínhamos um colega, o Augusto, que andava no seminário e fizemos-lhe a vida negra. Chamava-lo de padreco. Fizemos tudo o que tínhamos que fazer para ele desistir e ele desistiu. A certa altura o chefe de agrupamento da minha terra, José Teixeira, disse-me que a Diocese do Porto tinha uma coisa chamada pré-seminário, era uma coisa uma vez por mês, e que eu devia lá ir. Levei aquilo a mal… “está a chamar-me padre?”. Ele lá me explicou que não era ofensivo e que eu tinha jeito, aquilo mexeu comigo, até porque Leça do Balio, é a terra de Dom Manuel Martins, Bispo emérito de Setúbal e sempre tive por ele grande admiração. E havia ainda o Padre Pedro, o meu pároco. E lá disse à minha mãe que queria… O seu pai não apoiava? Disse à minha mãe que escondeu do meu pai. O meu pai queria que eu tivesse uma profissão, aliás ele nem queria que eu fosse para os escuteiros. É nessa altura que cria a Associação para despoluir o Rio Leça? Exato. Juntamente com uns colegas fundamos a amileça, uma associação de defesa do ambiente, os amigos do Rio Leça. O objetivo era despoluir o rio, fizemo-lo com Vieira de Carvalho, Narciso Miranda e com o Joaquim Couto de Santo Tirso. Paralelamente o Vieira de Carvalho convida-me para trabalhar na Câmara da Maia. Tinha 19 anos, era o primeiro ecoconselheiro do país. Entretanto encaixam umas autárquicas e o Narciso Miranda convida-me para integrar a lista. Fico muito aflito, digo ao Vieira de Carvalho e ele responde: “tu não te preocupes que eu falo com o Zé, tu não levas nada daqui para Matosinhos, não trazes nada de lá para cá e ficas nos dois sítios”. E assim foi. Aquilo durou uns meses.
10 Como é que volta para o seminário? Estava eu na Câmara, como deputado de Matosinhos e conselheiro na Câmara da Maia, e quando tudo parecia conjugar-se, comecei a não me sentir realizado e a certa altura vou ao pré-seminário. Fui lá ter uma conversa e até parecia que estavam à minha espera. Estávamos em 1995, fui lá dizer que não me sentia bem, não me sentia realizado e que devia ter ficado “infetado” (risos). Tinha aquela certeza de que todos os outros fazem o melhor para o bem comum e tinha a certeza que aquele também era o meu papel… Sabe na escola primária eu queria ser palhaço, acho que bate certo… aquela ânsia de querer fazer os outros felizes e contentes. O Dr. Sousa Marques, do seminário Bom Pastor, em Ermesinde, disse-me que iam pensar, ele e o Padre Jorge Madureira, responsável do Pré-seminário, mas que havia uma condição: “tens que deixar tudo”. Pela experiência que tinham concluíam que a minha saída anteriormente tinha a ver com as várias frentes em que estava envolvido e portanto não me permitia ter o foco.
PA D R E A M É R I C O AG U I A R • E N T R E V I STA
Lá foi de novo pensar na vida… Lá fui de novo para casa para tomar uma decisão e deixei tudo e entrei no seminário em 1995. Os primeiros meses foram complicados, principalmente no que diz respeito às perdas das diversas autonomias: deixar de ter ordenado, deixar de ser dono do meu nariz. Mesmo fisicamente foi traumatizante, eu chegava a tomar 14 cafés por dia, e chego ao seminário e não havia 14 cafés para tomar. Estávamos em setembro e até o bar estava fechado, foi um “desmame” complicado. E depois aquele habituar… eu tinha 22 anos, os meus colegas da Câmara ligavam e convidavam-me para ir jantar. Eu dizia que sim e depois ia falar com o padre e ele dizia “não podes”… Mas não posso por quê? E chegar ao fim do mês e não ter autonomia… mas depois aprendes… uma vez fui ter com o Reitor, o Dom António Taipa, agora bispo auxiliar, e ele respondeu-me “podes fazer tudo o que quiseres, mas nem tudo te convém, agora decide”. Decidi que não ia e percebi que o convívio com os meus colegas iria ser negativo, não por eles, mas por eu não me posicionar.
de estar em Azevedo, foi divertidissimo, é um Porto rural, um Porto romântico. Lembro-me das primeiras vezes que chegava à residência, que fica mesmo na entrada do bairro, de ter tido algum receio. Tudo mitos. Um dia cheguei à noite e tinha uns miúdos sentado no muro, pensei, é desta que vou ter problemas, abro a porta para sair do carro para ir abrir o portão e um deles salta do muro e diz : “Senhor Prior, boa noite, não se incomode que eu abro-lhe o portão, e a partir de agora, não se preocupe que nós abrimos-lhe sempre o portão, seja para sair ou para entrar”. E naquele quase um ano que lá estive foram sempre eles que me abriram o portão. E em todas as visitas que fiz ao bairro encontro pessoas, encontro histórias, vidas desgraçadas e um ciclo vicioso difícil de ultrapassar. Homens, alguns universitários que quando se candidatavam a um emprego tinham dificuldade de colocar a morada porque quando diziam onde moravam as coisas tornavam-se mais difíceis. Aquelas pessoas não eram nem melhores nem piores, são todas feitas do mesmo barro, mas as oportunidades são diferentes. Depois o Dom Armindo pediu-me que fosse para o Paço Episcopal e fui vigário geral da diocese, e entretanto o Dom Armindo completa 75 anos de idade e tem um problema grave de saúde, ficou provisoriamente o senhor Dom João Miranda a governar a diocese, e vem o Dom Manuel Clemente entre 2007 e 2013 trabalhamos muito em conjunto, foi diferente, lembro-me da admiração das pessoas por ele andar na rua, de ir à Fnac, de ir ao barbeiro, lembro-me das pessoas me dizerem “vi o sr. Bispo na rua”, “vi-o no metro” mas fizemos um trabalho simpático, foi um trabalho diferente na relação com a Academia, na relação com o território, e depois chegamos em 2013 e fomos “assaltados” pela circunstancia do Dom Manuel Clemente ser nomeado Cardeal Patriarca de Lisboa e vem o Dom António Francisco, felizmente reinante… no interregno o Dom Pio foi Administrador Apostólico. Fui também Pároco da Sé entre 2014/2015 com os desafios inerentes como a intervenção na Igreja de Santa Clara, o novo centro de Saúde. E no entretanto fui para Lisboa mas sobrou este cordão umbilical.
E quando é ordenado? Sou ordenado a 8 de julho de 2001. Tinha feito o meu estágio de Diácono na Paróquia de Paranhos com o Padre Magalhães… muitas saudades e de um modo especial da “Julinha” a senhora que nos tratava com todo o carinho… Tive pároco em S. Pedro de Azevedo entre 2001/2002, em pleno bairro do Lagarteiro, em Campanhã. De resto, é com muito agrado que vejo e aplaudo os investimentos da Câmara do Porto nessa zona oriental da cidade, o famoso Vale de Campanhã. Gostei muito
Vai a Fátima em maio aquando da visita do Papa Francisco? Não gosto muito de estar em Fátima com multidões, gosto mais da Fátima na versão soft. Fui em 2000 durante a visita do Papa João Paulo ii, eu era seminarista e trabalhei na casa do Papa. Fomos destacados para trabalhar na casa do Papa mas quem trabalhasse lá não podia andar fora e dentro e portanto a vivência foi estar dentro da casa, mas tivemos a oportunidade do “back office” que foi divertidíssimo, com aquela entourage. Quando o Papa Bento xvi veio
ao Porto não morri de aflição por pouco, aliás devemos fazer um louvor à capacidade do Norte, tudo o que foi feito foi ‘pro bono’, os móveis de Paços de Ferreira e Paredes, as floristas, a tapeçaria, as autoridades, a certa altura chorávamos do stress. Confesso que quando o Papa chegou aos Aliados, deu-me um ataque de choro. Não sabíamos qual ia ser a envolvência e chegou a colocarse a hipótese de reservar espaços e quando nos começamos a perceber da multidão que Deus providenciou, foi um momento único e é daí que me vem a minha convivência com todos os agentes da cidade. A Câmara, a presidência, a vereação, todos os serviços
e departamentos foram excepcionais. Os Clérigos foi outra experiência de como eu vi que as entidades públicas não são más por serem públicas, nós quando nos juntamos para fazer o que quer que seja somos magníficos e o Porto, seja na história, seja na inovação, seja na cultura, é verdade que quando nos juntamos as forças ultrapassamo-nos a nós próprios. A visita do Papa em 2010, os Clérigos e aquele vídeo da Câmara mostram que é um Porto moderno, é um Porto jovem, é um Porto cosmopolita e tudo isto somado é que fez com que ganhássemos àquelas cidades europeias.
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Elisabete Felismino, curiosa por natureza não resiste a uma notícia e a uma boa conversa/ pergunta. Da faculdade de Economia (do Porto), onde fundou um jornal, para o mundo dos jornais- económicos - foi um passo. Contar histórias, de empresas e de empresários está-lhe no sangue. Semanário Económico, Fortunas & Negócios, Diário Económico e agora eco são alguns dos sítios em que trabalhou.
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Regresso a casa
Depois de 15 anos sem estrear no Porto, a Companhia Nacional de Bailado regressou nos últimos três anos ao aconchego onde nasceu, em 1977. Os bastidores do Rivoli voltaram a escutar a respiração de uma companhia que se sente em casa, mesmo antes de entrar em palco.
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No radar do investimento estrangeiro Desde a criação da Invest Porto, gabinete de atração de investimento criado por Rui Moreira, em 2015, que a cidade entrou definitivamente no radar das empresas tecnológicas internacionais. O secretário de estado da indústria diz que “em Londres só perguntam pelo Porto”.
A
dinâmica económica da cidade disparou nos últimos três anos. Esta realidade, que os portuenses sentem na rua e nas suas vidas, está longe de se alicerçar apenas no turismo. Este setor de atividade representa hoje para o país onze mil milhões de euros de investimento, o que tem ajudado a impulsionar o fenómeno da reabilitação urbana das cidades, mas também a dinamizar outros sectores de economia. Em 2015, Rui Moreira criou um gabinete de atração de investimento, o Invest Porto, depois de chamar a si o pelouro da economia. Em causa estava aproveitar a visibi-
lidade que a cidade do Porto hoje possui, quer através do turismo quer através de outras componentes da marca Porto, que também desenvolveu. Tirando partido da extraordinária qualidade da Universidade do Porto, do Politécnico e da restante Academia da cidade, a autarquia pôde assim começar a mostrar aos investidores o caminho para apostarem numa cidade segura, confortável, cosmopolita e com mão-de-obra disponível. E servir como facilitadora do investimento. Surgiram então investimentos de diversos setores, nacionais e internacionais. Na inauguração das instalações da Critical Software, um dos gigantes mundiais nesta área, o secretário de estado da indústria, ex-presidente da Startup Lisboa, deixou claro que a cidade do Porto é hoje a mais
referenciada no estrangeiro. “Acabei de vir de Londres, onde estive com centenas de investidores na área da inovação. Só se fala do Porto e começa a ser rotineiro vir aqui inaugurar projetos na área da inovação”, afirmou João Vasconcelos. Para Ricardo Valente, um professor universitário e vereador do psd, que entretanto se juntou à equipa de Rui Moreira e ficou com a pasta da economia, “a nossa capacidade de inovar dentro daquilo que sabemos fazer bem é a nossa capacidade de vencer. Temos qualidade intrínseca. A formação dos nossos recursos humanos começa a ter o reconhecimento internacional que merece”. Para o economista, “no Porto existe o maior ecossistema de startups a nível nacional”. O agora vereador explica ainda
PRIMAVERA 2017 • PORTO
que “o Pelouro de Desenvolvimento Económico e a InvestPorto, têm dado apoio à localização empresarial através da Porto Business Location Platform, que permitiu a apresentação de 342 propostas de localização a potenciais investidores, muitas do setor das tecnologias de informação e share services centres, empresas exportadoras e com forte presença internacional”. Ricardo Valente revela que “desde 2015 foram apoiados 106 projetos de investimento na cidade, 57 dos quais internacionais”. Estes projetos têm criado centenas de postos de trabalho qualificado, sobretudo junto da comunidade de engenheiros e especialistas oriundos da Universidade do Porto, enquanto o turismo tem sido de primordial importância para criar emprego indiferenciado e pouco especializado.
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NO RADAR DO INVESTIMENTO • ECONOMIA
Dez exemplos de empresas que não deixam o Porto parado
empresas, muitas delas dos sectores tecnológicos e da comunicação. Um verdadeiro ecossistema empresarial, que emprega mais de 300 pessoas na Baixa da cidade. O empreendedor tinha adquirido o edifício para construir um hotel, mas acabou a fazer um centro empresarial, num processo que agradeceu à Câmara do Porto o empenho colocado no projecto.
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600 POSTOS DE TRABALHO NO BONFIM
Mas, talvez, o mais importante investimento anunciado no primeiro trimestre do ano tenha sido feito pelo banco francês Natixis. O antigo centro comercial Central Shopping vai voltar a ser ocupado, graças a este enorme investimento em tecnologias de informação que cria 600 novos postos de trabalho. O banco desloca de Paris para o Porto o seu centro tecnológico e reabilita um prédio há muito abandonado.
O primeiro trimestre de 2017 mostrou uma dinâmica de investimento crescente no Porto. As empresas tecnológicas e inovadoras parecem ter descoberto uma cidade confortável e interessante onde se sentem em casa e onde encontram a mão-de-obra de que precisam.
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O
primeiro trimestre de 2017 bateu todos os recordes de investimento tecnológico e industrial na cidade do Porto. Os indicadores preliminares mostram que o crescimento exponencial da instalação de empresas na cidade nos últimos três anos, disparou em 2017, registando-se, nos últimos dois meses, a abertura de importantes centros tecnológicos e ninhos de empresas. O jornal Porto. dá-lhe dez exemplos desses importantes investimentos realizados em 2017 e que representam, no seu conjunto, 1700 postos de trabalho qualificado, criado no Porto, além de muitos milhões de euros em reabilitação urbana, em vários pontos da cidade. O papel da Invest Porto, gabinete de atração de investimento criado por Rui Moreira, mas também da Universidade do Porto, foi fundamental para fixar estas dez empresas, onde encontramos emigrantes regressados, empresas estrangeiras de referência, gigantes do software internacional e ninhos de empresas que reabilitam edifícios. Pela dimensão e importância global, merece destaque a instalação no Porto da Euronext e da Critical Software, que no seu conjunto representam quase 300 postos de trabalho recrutados no Porto, do banco francês Natixis e do District, que aloja mais de 50 empresas no antigo edifício do Governo Civil, na Batalha. Tudo, em 2017. G E STÃO B O L S I STA DA E U R O PA N A B OAV I STA
A Euronext saiu da Irlanda para se instalar no Porto, onde dispõe desde Março, na Avenida da Boavista, do seu centro tecnológico, a partir do qual comanda alguns dos mais importantes mercados bolsistas da Europa.
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incansável da Câmara do Porto” na captação deste importante investimento.
SOFTWARE DA NASA NA RUA DO BONJARDIM
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A Critical Software está na baixa do Porto desde Fevereiro, onde desenvolve sistemas tecnológicos destinados a clientes como a nasa ou a Airbus, competindo no mercado global como uma das mais competitivas do planeta.
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C R I AT I V I DA D E D O PORTO NOS ALIADOS
O REGRESSO DAS INDÚSTRIAS À CIDADE
Mas também na área industrial o Porto despertou de décadas de desinvestimento. Em plena Baixa da cidade foi criada a Fábrica de Cerveja Portuense, criando directamente 50 postos de trabalho e uma nova marca cervejeira da cidade.
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Os primeiros dias do ano foram também de casa nova para a Pixelmatters, uma startup portuense que se mudou para a Baixa, onde cresceu para mais de 20 colaboradores. Trabalhar com vista para os Aliados parece ser uma boa fonte de inspiração para a empresa do jovem engenheiro de 26 anos. André Oliveira, que diz que a sua startup é a mais “fixe” da cidade.
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EMIGRANTES DE REGRESSO
A Talkdesk, empresa criada por dois empreendedores portugueses nos Estados Unidos da América, está também no Porto desde março. Resulta do regresso de emigrantes, qualificados, que beneficiaram do trabalho articulado entre a autarquia e a Universidade do Porto.
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CONDOMÍNIO NO MARQUÊS STA R T U P S C O M A U . P O R TO
Em Abril foi também inaugurado o Founders Founders, um importante e inovador ninho de empresas perto da Praça do Marquês, onde já moram 13 empresas tecnológicas, constituídas por jovens empreendedores que, para o efeito, reabilitaram um edifício e ali se instalaram.
A alemã Bottlebooks é outra startup internacional que resulta do trabalho de captação de investimento internacional concertado entre a Universidade do Porto em parceria com a Câmara do Porto, através da Invest Porto.
GIGANTE MUNDIAL NO PORTO
V I DA R E G R E S S A À B ATA L H A
Também no primeiro trimestre do ano foi decidida a instalação no Porto da Hostelworld, um dos maiores operadores de marcações online do planeta, criando 50 postos de trabalho. A empresa refere “o trabalho
O District Offices and Lifestyle foi igualmente inaugurado no primeiro trimestre do ano. Neste caso, a empresa privada que adquiriu o antigo e abandonado edifício do Governo Civil, junto à Batalha, alberga 55
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PRIMAVERA 2017 • PORTO
Derrama duplicou desde 2012 A criação de valor na área empresarial e, em concreto, no sector tecnológico no Porto tem também uma dimensão fiscal. O imposto que se relaciona com a actividade empresarial nas cidades, a derrama, registou uma receita superior a 20 milhões de euros no Porto em 2016, mais do dobro da registada em 2012, ano em que atingiu o pior resultado do século. A receita é a maior dos últimos dez anos, apesar de Rui Moreira ter baixado a taxa para empresas com facturação inferior a 150 mil euros anuais. O Município do Porto recebeu no último ano uma receita de 20.860.133,32 euros, a maior da década. Em 2006, o mesmo imposto, que se relaciona com os proveitos obtidos pelas empresas sediadas no Porto, era de menos de 14 milhões (13.930.350,35 euros), tendo crescido até 2009, ano em que atingiu os 18 milhões, caindo, depois, sucessivamente, até aos 10.346.661,84 euros, em 2012. Quanto aos números do Instituto Nacional de Estatística (ine), não espelham, ainda, esta última vaga de investimento. Ainda assim, as estatísticas oficiais até 2015 mostravam já uma evolução notável. Em 2015 foram constituídas no Porto 1.722 empresas, 139 das quais são industriais e 1.585 de serviços. Estes números constam de um estudo da Pordata, base de dados da Fundação António Manuel dos Santos, que se baseia no ine e ainda não agregam os números referentes a 2016, mostrando um crescimento de 30% relativamente a 2012. Outro estudo demonstra que o Porto já é líder nacional na criação de Startups.
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NO RADAR DO INVESTIMENTO • ECONOMIA
A Vida de Christian Christian Haas é um dos melhores designers a nível mundial. Trocou Munique por Paris e a cidade luz pelo Porto, onde vive desde 2014.
A
lemão de origem, tirou o bacharelato em Design Industrial em Munique, cidade onde abriu o seu primeiro estúdio, em 2000. Passados sete anos mudou-se para Paris, na constante procura interna de novos desafios. Mas foi no Porto, já em 2014, que encontrou um pouso mais definitivo. O primeiro contacto com a cidade Invicta foi em 2012, no âmbito de um convite da Vista Alegre, que desafiou Christian a conhecer as suas instalações produtivas em Ílhavo. Segundo Christian, “o que senti pelo Porto foi amor à primeira vista. Mas não foi isso que me fez mudar para cá; honestamente, são várias as cidades pelas quais nos apaixonamos, mas pouquíssimas as que nos fazem ponderar viver nelas”. Efetivamente, a decisão de se mudar para o Porto com o companheiro Marcus Zietz foi sendo tomada em fins de semana de visita à cidade, que se estenderam a semanas, e depois a um período de trabalho de alguns meses. “No final desse período, apercebemo-nos que era exequível mudarmo-nos de uma vez por todas para o Porto, e assim fizemos, logo que pudemos”.
Christian e Marcus adquiriram um prédio na Rua do Almada, 501. Depois de devidamente restaurado, este local viu nascer um conceito inovador: no piso térreo encontrase o restaurante Mondo Deli; no primeiro piso, Christian tem o estúdio onde trabalha com os seus colaboradores portugueses; e, por último, os dois pisos superiores são para a sua habitação. A transição para o Porto, garante, foi feita tranquilamente: “na verdade, já tínhamos muitos amigos portugueses na cidade; creio que de outra forma não nos teríamos mudado. Para além disso, os portugueses são, de uma forma geral, um povo muito hospitaleiro e educado; creio que muitas vezes não têm a noção disso”. Não foi apenas a vivência recreativa no Porto que cativou Christian, mas também a profissional. Na verdade, o designer alemão encontraria no Porto uma inesperada abertura para a inovação em artesãos dos mais diversos ofícios – carpintaria, cerâmica, metalurgia, etc. “Sinto que aqui as pessoas estão dispostas a inovar, e nunca tive dificuldade em encontrar artesãos ou mesmo pequenas empresas dispostas a investir na criação de protótipos.
Por exemplo, todo o design de interiores que fiz para a loja da Friendly Hunting Cashmere foi executado aqui. Isto é algo novo para mim – em Paris nunca o conseguiria fazer. Nesse aspecto, o Porto é como Milão – basta ir um bocadinho para Norte e para dentro que se encontra tudo (risos)”. Foi também no distrito do Porto, mais concretamente em Valongo, que Christian viria a encontrar uma empresa de mármores que o inspirou a trabalhar pela primeira vez com este material nobre. “Precisávamos de renovar a fachada do nosso edifício na Rua do Almada, e a nossa arquiteta falou-nos desta empresa de mármores em Valongo, que poderíamos visitar. Quando lá fomos, o dono mostrou-se muito disponível para testar alguma ideia que eu tivesse para um objeto em mármore”. Assim nasceu a linha de trava livros vague, disponível para venda na loja online do website de Christian Haas, estando também presente no restaurante Mondo Deli. “Eu pretendia criar algo aleatório em mármore, que é, na maior parte dos casos, usado de uma forma muito heróica e monumental. Assim, acabei por replicar umas formas em madeira que encontrei numa feira em segunda mão em Paris”. A experimentação com novos materiais e áreas de design de interiores tornou-se um dos objetivos de Christian Haas nos últimos anos. Apesar de ser um especialista na área da cerâmica e vidro, tendo desenhado várias coleções para marcas mundialmente conhecidas como Theresienthal, Tafelstern e Villeroy & Boch, Christian aventura-se agora no design de mobiliário e de sistemas de iluminação. É interessante perceber como o trabalho de Christian oscila entre a funcionalidade objetiva dos objetos e a sua estética, por vezes não de beleza óbvia. Como se cada peça pedisse para ser apreciada através da convivência diária, que não se coaduna com paixões passageiras, mas com um amor racional que cresce e solidifica a cada utilização. “Na verdade, quando equipamos uma casa, precisamos de diversos tipos de objetos. Alguns, como as cadeiras, devem cumprir uma função óbvia, porque ninguém quer pensar na forma de utilização de um objeto que usa quotidianamente. No entanto há outros objetos, como por exemplo uma mesa de apoio, que não tem de ser tão funcional; podem mesmo ter um certo grau de impraticabilidade”. Voltamos ao Porto, cidade que agora acolhe esta fase efervescente da carreira e da vida de Christian Haas.
O designer alemão afirma que não há nenhuma outra cidade europeia onde quisesse viver neste momento. Christian sente que, de alguma forma, é como se estivesse de volta à Alemanha da sua infância: “lembro-me de ter uns 12 anos e fazer compras em pequenas lojas de comércio tradicional, como as que existem no Porto. Agora é praticamente impossível encontrar isto na Alemanha”. Christian chega mesmo a comparar a fase que o Porto vive atualmente com a década de 90 em Berlim, depois da queda do muro: “são fases com algumas similaridades no sentido em que se vive um sentimento de grande vontade de criar coisas novas. Ainda existem muitos edifícios desocupados no centro da cidade, as rendas são relativamente baratas, por isso tenho a clara sensação de que há espaço para testar novos negócios, para criar coisas diferentes... pode-se abrir um bar underground durante quatro semanas, por exemplo”. Por outro lado, Christian vê de forma muito positiva que o Porto apenas esteja a “despertar” agora: “imagine-se que a cidade tinha sido renovada nos anos 80. Provavelmente, grande parte do património arquitetónico e cultural do Porto tinha-se perdido”. Assim, para o designer, a sonolência da cidade nas últimas décadas do século xx protegeu-a de potenciais desvarios da modernidade. “Agora é um excelente momento para se estar no Porto. Este sentimento de haver espaço e disponibilidade para fazer parte de algo verdadeiramente único já desapareceu da maior parte das cidades europeias”. A dimensão espaço é, de resto, uma componente fundamental na vida de Christian. Tendo vivido num apartamento de dimensão média em Munique, e tendo tido o seu estúdio dentro da sua própria casa em Paris, o artista alemão vive e trabalha com grande satisfação na Rua do Almada. No seu prédio, para além das valências acima mencionadas, encontra-se também um belo pátio interior com um pequeno jardim, um luxo escondido de muitos prédios na baixa do Porto. Por isso, não existem planos para sair do Porto. Bem pelo contrário. Christian aproveita os fins de semana para passear no Gerês ou na praia da Apulía, na casa de amigos. “Esta proximidade ao oceano é fantástica”. Mais um mimo que atrai pessoas como Christian Haas para o Porto, transformando a cidade, a cada momento, numa malha orgânica de múltiplas vivências e olhares.
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Sara Riobom foi a autora do trabalho desta página. É blogger profissional no www.portoalities.com, um blog no formato Pergunta & Resposta sobre o Porto. Engenheira Industrial de formação, rapidamente abandonou as fórmulas matemáticas para se dedicar à paixão pela escrita. Atualmente, divide o seu tempo entre escrever no Portoalities e noutras publicações e fazer visitas personalizadas no Porto. Podem contatá-la através do email sara@portoalities.com
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VARSÓVIA • O PORTO E O MUNDO
AEROPORTO DO PORTO TERÁ MAIS CAPACIDADE
Às voltas com Chopin em Varsóvia A capital polaca está ligada ao Porto através de uma low cost. O jornal Porto. visitou esta cidade do centro europeu, onde encontrou história e até sinais de portugalidade.
N
um primeiro olhar, diríamos que Varsóvia sempre foi assim: convidativa e efervescente. No entanto, é uma cidade sofrida, passou por incontáveis disputas territoriais, presenciou os horrores da perseguição aos judeus, ficou reduzida a escombros e aguentou estoicamente a presença dos soviéticos. Hoje, a capital da Polónia, banhada pelo rio Vístula, recebeu-nos renascida, depois de um curto voo direto desde o Porto. A Cidade Velha ou Stare Miasto foi reconstruída pedra por pedra e exibe, com esplendor, o casario colorido, as igrejas recuperadas, as ruas absolutamente limpas e um movimento amável de gentes, locais e turistas, num burburinho educado, só calado com a música que se ouve a cada recanto.
É um pequeno tesouro declarado Património Mundial da Humanidade pela Unesco, em 1980, com o seu Castelo, hoje transformado em museu, e a Praça do Mercado, com a icónica sereia, um dos símbolos da cidade. Atravessando os muros de defesa, encontramos a Nowe Miasto ou Cidade Nova, onde a vida cultural é intensa, no passado, paredes meias com o Gueto dos Judeus. Fica a sugestão de percorrer a chamada Rota Real, que liga o Castelo Real — cuja praça apresenta a Coluna do Rei Segismundo iii —, o Parque Real Lazienki e o Palácio Wilanów. Circular em Varsóvia é tarefa fácil, bastando escolher entre usar o Metro, as bicicletas ou mesmo os autocarros. A cidade está dotada de rede de wifi e oferece uma
aplicação muito intuitiva, indispensável na organização da nossa estadia. Os jardins cuidados e floridos convidam a uma caminhada a pé, na qual se é surpreendido com o render da guarda no Túmulo do Soldado Desconhecido, pela música de Chopin que brota de um banco público ou pelas homenagens a Nicolau Copérnico e a Marie Curie, dois ilustres polacos. O Palácio da Cultura e da Ciência, um prédio gigantesco que domina a cidade, impede que se esqueçam os tempos da ocupação soviética, valendo a pena subir ao andar superior para ter uma visão geral sobre a cidade. Nos descansos, há que provar os pierogis e as zapiekank e atentar na cadência da língua que, apesar de indecifrável, nos remete para a riqueza da História deste povo.
PRIMAVERA 2017 • PORTO
A ana – Aeroportos de Portugal anunciou em março fortes investimentos no Aeroporto do Porto que, numa primeira fase, ultrapassam os 55 milhões de euros. Mas, no médio prazo, o operador privado pretende investir cerca de 200 milhões, para alargar a capacidade do Francisco Sá Carneiro. A gare vai ter, ainda este ano, uma nova área de controlo de segurança; a pista prepara-se para aumentar o número de movimentos graças a uma saída de aeronaves; haverá mais pontos de check-in e também a área de carga se prepara para expandir e acompanhar a retoma económica. O aeroporto deverá este ano crescer mais 20% e a ana garantiu ter na calha o conjunto de obras necessárias para que o aeroporto possa responder às necessidades da região. O anúncio decorreu, em março, durante uma cerimónia de comemoração do prémio de Melhor Aeroporto da Europa na classe de 5 a 15 milhões de passageiros, recebido este ano pelo Aeroporto Francisco Sá Carneiro, com a presença do Ministro do Planeamento, Pedro Marques e do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira. O autarca distinguiu Fernando Vieira, diretor do aeroporto, com a Medalha da cidade, pela forma como tem contribuído para o desenvolvimento do Porto e da região Norte. DE SÁ CARNEIRO A CHOPIN COM A WIZZ AIR
A capital polaca não é a única cidade ligada ao Porto através da Wizz Air. A companhia húngara, que começou a voar entre o Porto e Varsóvia em maio do ano passado, voa também de Budapeste para a Invicta, desde setembro. A Wizz Air apresenta-se como a maior companhia low cost da Europa Central e do Leste e as cores dos seus aviões não passam despercebidas no Aeroporto Sá Carneiro, de onde voa a partir de 44,99 euros, para ambos os destinos. Embora seja considerada uma companhia low cost, apresenta um serviço um pouco acima dos standards para este tipo de transporte. No Aeroporto Frédéric Chopin, em Varsóvia, existe uma das bases da Wizz Air, o que justifica que tenha sido esse o primeiro destino que passou a operar a partir do Porto.
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A cidade que se regenera Em 2013, o jn publicou um estudo que espelhava uma cidade em pré-ruína, com 70% dos edifícios do Centro Histórico a necessitar de obras. Em 2017, o Porto acelera para o futuro e não há rua que não se regenere. 60% das obras licenciadas pela Porto Vivo destinam-se a prédios de habitação.
A
reabilitação urbana no Porto disparou nos últimos três anos. A cidade está autenticamente em reconstrução, depois de ter chegado, no início da década, a uma situação de quase ruína do seu Centro Histórico. No último ano, a Porto Vivo recebeu mais de 1.300 requerimentos e foram contabilizados 308 novos processos de reabilitação urbana, mais 153 do que no ano anterior. Estes números mostram uma cidade em reabilitação, que se espelha nas ruas e que se destina 60% à habitação e 23% a comércio, segundo os alvarás emitidos desde 2008. O turismo significa também uma fatia importante, ainda assim minoritária, acreditando-se que não fosse o turismo e o trabalho impulsionador da Porto Vivo, e tudo o resto não existiria. Relativamente ao estado de conservação dos edifícios do Centro Histórico Patrimó-
nio Mundial da Humanidade, um relatório da Sociedade de Reabilitação Urbana, mostra que o número de parcelas em bom estado de conservação tem vindo a aumentar e, em 2016, 74% das parcelas existentes já se encontravam em Bom ou Médio estado de conservação. A percentagem de prédios em mau ou péssimo estado de conservação tem diminuído e verificam-se mais obras em curso em muitos deles. CENTRO HISTÓRICO PERDEU 6 0 % D A P O P U L A Ç Ã O AT É 2 0 1 1
Desde 2013, o número de prédios em mau estado caiu para 13%, em 2016, mas este número deverá cair ainda mais abruptamente nos próximos dois anos, face à reabilitação em curso ou a ser preparada. Quanto à habitação, direta ou de forma induzida, foram criadas quase 500 frações no Centro Histórico, que representam mais de mil potenciais moradores, e mais de 130 lojas. Estes números, agora divulgados pela Porto Vivo, contrastam com os apresentados
em 2013 pelo Jornal de Notícias que, então, citando também um relatório da mesma entidade, definia em manchete que “1/3 do coração do Porto está em ruínas”. AT É 2 0 1 3 O C E N T R O D O P O R T O PERDEU COMÉRCIO DE RUA
O mesmo jornal, datado de 1 de junho de 2013, divulgava ainda que o Centro Histórico tinha menos 214 lojas e que 70% dos prédios existentes estariam em mau estado e a precisar de obras. O jn citou ainda, no mesmo artigo, estatísticas sobre a perda de população, afirmando que o Centro Histórico do Porto tinha perdido, até 2011 (ano de Census), 60% da sua população. Estes números, citados então pelo jn, demonstram que a perda de habitantes da Baixa do Porto nada tem a ver com o “boom” turístico que entretanto se deu na cidade e que, muitas vezes, é apontado como causa para o afastamento de moradores. O artigo que em 2013 o jn publicou era,
PRIMAVERA 2017 • PORTO
então, preocupante, uma vez que, segundo o seu texto, os pedidos de licenciamento de obras e de loteamento estavam então a descer: “A Câmara e a Porto Vivo receberam 95 solicitações em 2010. No ano seguinte, entraram 54 nos serviços municipais, o que corresponde a menos 41 projetos de reabilitação”, lê-se no artigo. O cenário traçado pelo jornal era ainda negativo no que dizia respeito ao comércio e à habitação. Além da diminuição do número de lojas então relatado, o jn mostrava ainda que o preço médio de arrendamentos de casa tinha baixado de 15 para 13 euros por metro quadrado. Segundo o jornal, a Câmara do Porto renunciava então sistematicamente ao direito de preferência de aquisição de prédios no Centro Histórico, política hoje invertida, uma vez que a autarquia tem vindo a executar o seu direito de preferência sobre transações naquela zona, por forma a criar habitação para colocar ao serviço do arrendamento social e fazer regressar famílias ao Centro Histórico.
A CIDADE QUE SE REGENERA • URBANISMO
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R E A B I L I TA Ç Ã O N Ã O É A P E N A S NO CENTRO HISTÓRICO
Um relatório elaborado na Câmara do Porto, em 2016, analisou a dinâmica urbanística da cidade, entre os anos 2012 e 2016. O documento avaliou dados provenientes da Direcção Municipal de Urbanismo, do Departamento Municipal de Fiscalização, da Sociedade de Reabilitação Urbana, e do Registo Nacional de Alojamento Local. As operações relacionadas com a expansão urbana – construção nova e loteamentos – representaram menos de 10% dos títulos emitidos no período de referência. Ou seja, a esmagadora maioria dos processos é de regeneração urbana. No período em causa, foram registados 2.299 processos de reabilitação. A distribuição geográfica da actividade mostra que as freguesias que mais se têm regenerado se encontram na zona central da cidade e na frente atlântica do Município. Com uma actividade urbanística intermédia, encontra-se um conjunto de freguesias que constitui uma coroa envolvente das áreas mais dinâmicas, a ocidente e ao longo da margem ribeirinha entre a Ribeira e a Foz. A maior parte do investimento na actividade urbanística tem sido responsabilidade privada. Esse investimento tem vindo a crescer, seja em termos absolutos, seja em valor médio estimado para cada operação urbanística. A habitação é o uso pretendido em mais de metade dos casos, seguindo-se o comércio e os serviços. A freguesia de Paranhos concentrou o maior número de licenciamentos, sendo em três dos últimos quatro anos a primeira das freguesias em número absoluto de títulos emitidos. Apesar disso, assistiu-se a um aumento significativo da dinâmica urbanística na freguesia de Cedofeita e, principalmente, em Santo Ildefonso, que tem consistentemente vindo a subir no ranking das freguesias com mais obras. Em sentido inverso verifica-se que a freguesia da Foz do Douro tem vindo a conhecer menor atividade. Ao nível do investimento realizado em reabilitação urbana por privados, as freguesias de Paranhos, Vitória e Nevogilde registam os maiores valores. No entanto, verifica-se que é na Sé que os projetos correspondem individualmente a um maior investimento, seguindo-se Nevogilde e Vitória, o que se compreende, já que sendo a zona Histórica classificada e os edifícios mais antigos, o valor da reabilitação é também maior. Na área de atuação da Porto Vivo, ou seja, no Centro Histórico, a maioria das operações de reabilitação destina-se a habitação; a hotelaria corresponde a apenas 3 % dos títulos emitidos. Entre 2012 e 2015 a sru emitiu 268 títulos, a que corresponderam 112.528 m2 de área bruta de construção.
FA M Í L I AS E M P U R R A DAS PARA A PERIFERIA REGRESSAM AO CENTRO HISTÓRICO
Mas não é apenas o investimento privado que está a impulsionar a reabilitação. A Câmara do Porto está, desde 2016, a exercer o direito de preferência sobre edifícios no centro histórico, a reabilitá-los e a entregá-los a famílias que, há anos, foram realojadas na periferia em habitação social. As rendas praticadas são sociais, tratando-se de um programa que pela primeira vez acontece no Porto. Para o presidente da Câmara, “devemos usar uma parte significativa dos nossos recursos para promover a habitação social no centro da cidade”, admitindo que “uma futura taxa turística possa servir para aumentar as aquisições municipais”. No verão passado a Câmara do Porto tinha já anunciado estar a aplicar, pela primeira vez, o exercício do direito de preferência, aquando de uma visita a vários prédios em reabilitação. Atualmente, a autarquia tem 17 prédios em reabilitação, estando criada uma lista de famílias que já moraram no Centro Histórico e que estão atualmente a residir em bairros sociais da periferia que são convidadas a regressar. O Porto perdeu, entre 1981 e 2011 mais de 100 mil habitantes. O processo de reabilitação em curso, que atingiu níveis recordes nos últimos três anos, tem melhorado os níveis de procura de casa na Baixa.
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Não há lugares proscritos ou a nova vida do Bairro São João de Deus Na freguesia de Campanhã, onde outrora o Bairro de São João de Deus era considerado um lugar “proscrito”, a Câmara do Porto está a construir habitação social de qualidade. Rui Moreira foi ao local, numa altura em que a primeira fase está quase concluída e, brevemente, se iniciará a segunda. A construção das primeiras 13 habitações do novo Bairro São João de Deus, agora quase concluída, insere-se num programa de investimento de 26 milhões de euros na requalificação e construção de habitação social na freguesia de Campanhã. As obras iniciaram-se em abril e deixam agora perceber opções arquitetónicas e urbanísticas de ponta. Neste bairro, a maioria dos blocos de habitação social foi demolida pelo anterior executivo camarário. Mas o plano de Rui Moreira e do seu vereador da habitação e ação social, Manuel Pizarro, está a fazer com que aquela zona, considerada “proscrita”, salte para a liderança da qualidade de vida em bairros de habitação socal no país. Além de Rui Moreira e Manuel Pizarro, também esteve presente Filipe Araújo, o
PRIMAVERA 2017 • PORTO
vereador da Inovação e Ambiente, bem como Ernesto Santos, presidente da Junta, nascido precisamente no Bairro São João de Deus, que não evitou lembrar: “esta zona, abandonada durante décadas, vê finalmente alguém olhar para ela e cumprir o que prometeu”. À construção das 13 habitações, agora em fase de acabamentos, segue-se uma segunda etapa, que consiste na transformação dos atuais 144 fogos em 84 novas habitações. No final, o Bairro de São João de Deus será constituído por 97 casas e estará totalmente requalificado. Por opção, os moradores do bairro manter-se-ão a viver no local, em contentores já instalados, enquanto a requalificação durar, embora lhes tenha sido dada a escolha de serem mudados provisória ou definitivamente para outros bairros. A reabilitação do bairro São João de Deus não se esgota na construção e reabilitação de habitações. Também o espaço público está a ser intervencionado, redefinindo-se o seu desenho urbano e paisagismo. O projeto prevê a abertura de uma nova artéria, garantindo a ligação entre a Rua 2 e a Rua 5, com a Rua 1. Esta ligação permitirá um novo acesso às habitações construídas e a abertura do bairro à cidade e a sua socialização. Estão ainda a ser executadas redes de infraestruturas de abastecimento de água, de drenagem de águas residuais domésticas e pluviais, de gás natural, de telecomunicações e de iluminação pública.
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NOTÍCIAS DO PORTO
Porto substitui sistema de semáforos de 93 O Porto vai ter um sistema de controlo de tráfego de última geração, capaz de comandar semáforos de forma ativa e inteligente e monitorizar a cidade, implementando remotamente alterações nos semáforos. Até agora, o executivo de Rui Moreira não podia mudar o sistema que herdou em 2013 e que se encontrava debaixo de contrato público. Agora, vai mudar e o Porto vai entrar no Século xxi da gestão de veículos e peões na via pública. A proposta de abertura do concurso público foi aprovada recentemente e a instalação e manutenção do novo sistema, que ficará suportado no novo e moderno Centro de Gestão Integrada do Município, custará cerca de 10 milhões de euros e usará a rede de fibra óptica da Porto Digital. Além de um sistema moderno de Gestão de Tráfego (semáforos), o concurso inclui ainda câmaras de videovigilância de tráfego e o controlo de Acessos e sinalização Dinâmica, nas ruas pedonais do Porto. Durante a reunião, Manuel Paulo Teixeira, um dos técnicos responsáveis pela implementação dos novos sistemas na via pública, explicou que a Câmara conseguirá com este concurso substituir os actuais sistemas obsoletos na gestão do tráfego, geridos por software de 1993.
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Nova frota poupa 2,4 milhões em combustível Apesar do aumento substancial do número de veículos para a polícia municipal, a Câmara do Porto vai poupar quase 2,4 milhões de euros em combustível, em quatro anos, graças à substituição da sua frota automóvel diesel por carros elétricos. A proposta, levada a reunião de executivo, enfatiza também uma redução estimada de emissões de dióxido de carbono na ordem das 2,3 mil toneladas, no prazo de vigência do contrato. Em causa está a aquisição de 390 veículos, 241 dos quais destinados ao município e os restantes às empresas municipais de águas, de habitação, gestão de obras públicas, ambiente e lazer. Os veículos substituirão os atuais, em fim de contrato de locação, em áreas como limpeza urbana, obras municipais, policiamento, transporte de funcionários, entre outros.
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A primeira cidade portuguesa a regulamentar transporte turístico
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regulamento do transporte turístico no Porto, que limita a atuação dos operadores e regulamenta a sua operação, foi publicado recentemente em Diário da República, estando agora a ser implementado pela Câmara do Porto, que é a primeira cidade do país a avançar para regras disciplinadoras deste tipo de transporte. O regulamento foi aprovado pelo Executivo municipal a 31 de janeiro e implementa um conjunto de regras específicas para os operadores de transporte regular e ocasional, destinado a turistas, no centro da cidade, definindo, por exemplo, os locais onde podem circular (fora das faixas de bus e de artérias residenciais) e estacionar. O regulamento prevê ainda um conjunto de incentivos para boas práticas ambientais. As novas alterações vão agora ser expressas no Código Regulamentar do Município do Porto. O desenvolvimento do regulamento decorreu em aberto diálogo com os diversos operadores turísticos da cidade, “resultando de uma cuidada ponderação entre custos e benefícios introduzidos”, refere o documento que foi hoje apresentado aos vereadores e onde constam já as alterações que resultaram do período de consulta pública a que esteve sujeito. Em linha com a nova política ambiental do executivo, o regulamento estipula um modelo de incentivo aos operadores que cumpram determinados requisitos, nomeadamente, ao nível das emissões poluentes e uso e disponibilização de sinal de gps, para que possam ser controlados a partir do Centro de Gestão Integrada da Câmara do Porto. Caso aceitem disponibilizar o sinal, os operadores poderão ter benefícios, identificados no regulamento, como descontos nas licenças.
Parques para moradores e comerciantes Os preços das avenças em parques municipais para moradores e comerciantes, foram reduzidos. Os motociclos vão deixar de pagar e os carros elétricos terão descontos. No Silo Auto a redução da avença
As licenças de exploração de circuitos turísticos serão atribuídas mediante concurso, embora os atuais operadores possam pedir a renovação das atuais licenças em condições específicas. O prazo das licenças é de sete ou cinco anos, consoante o tipo de transporte. O regulamento define igualmente o horário para a realização de circuitos turísticos, entre as 9 e as 20 horas, assim como o limite de matrículas autorizada para cada operador, até 12, no caso de veículos com lotação superior a nove lugares, até oito matrículas, no caso de veículos, triciclos ou quadriciclos com lotação igual ou inferior a 9 lugares, ou até duas matrículas, no caso de comboios turísticos. Fica proibida a exploração de circuitos turísticos através de veículos de tração animal. Outra novidade é a limitação das ruas e zonas onde os operadores turísticos podem circular com os seus veículos, que ficam impedidos de usar os corredores bus, destinados unicamente ao transporte público coletivo e, no Porto, aos motociclos. Os transportes turísticos terão paragens próprias (terminais) — uma delas já em funcionamento, na antiga Estação de Recolha de São Roque, em Campanhã — e ficam impedidos de estacionar nas paragens usadas pelo transporte público da cidade ou fora dos locais próprios. Nas paragens de maior dimensão (terminais) não podem permanecer mais de 30 minutos, se tiverem mais do que nove lugares. Haverá, ainda, um outro tipo de paragens onde os tempos de permanência não podem exceder os três ou os seis minutos. Também as taxas pagas pelos operadores serão alteradas, passando a ter um valor significativo, dependendo o tipo de veículo. Os descontos podem ser de 40%, caso o veículo respeite normas ambientais mais rigorosas.
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de morador baixa de 75 para 30 euros. Estas e outras medidas relacionadas com os parques de estacionamento municipais no Porto foram sujeitas a votação, recentemente, em reunião pública de executivo e visam fomentar a utilização dos parques por moradores e comerciantes, deixando a via pública para a rotação e estacionamento ocasional. No conjunto de medidas inclui-se o ajuste dos preços praticados no universo dos parques municipais, de acordo com a sua localização e características.
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Palácio, Miragaia, Virtudes e Madeira com ligações mecanizadas Está a decorrer, até 26 de maio, o concurso para a concepção de ligações mecanizadas entre cota alta e baixa em três pontos da cidade. Estes novos meios de locomoção juntam-se ao Funicular dos Guindais e aos elevadores da Ponte da Arrábida, que poderão ser reativados. O programa do concurso de concepção para o projeto de percursos pedonais e ligações mecanizadas em Miragaia, Palácio de Cristal e Virtudes, junta-se um outro projeto para a Rua da Madeira, já em elaboração pela Câmara do Porto e que avançará de forma independente. Com o concurso, a Câmara do Porto quer encontrar soluções para resolver os problemas de diferença de cota entre as zonas ribeirinhas e os jardins do Palácio de Cristal e de outras zonas altas da cidade. Numa altura em que está já adjudicada a reabilitação do Pavilhão Rosa Mota, que será, também, um centro de congressos, o executivo quer promover as ligações ao edifício da Alfândega, mas também melhorar a mobilidade de residentes e turistas de uma forma suave e sustentável. O concurso parte de um estudo realizado em 2015 que identificou três pontos possíveis de ligação de cotas: Miragaia, Palácio de Cristal e Virtudes, que assim se juntarão ao funicular já existente, junto à Ponte Luís I e aos elevadores da Arrábida. Sobre estes últimos equipamentos, desactivados há décadas, a Câmara do Porto quer reavivá-los.
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Novo parque na Foz O Largo do Capitão Pinheiro Torres de Meireles, mais conhecido como largo de Cadouços, na zona da Foz, vai sofrer uma importante intervenção de requalificação urbana, orçada em 3 milhões de euros e que inclui um parque de estacionamento público subterrâneo. Trata-se de um espaço emblemático, numa zona vital da Foz, com enorme potencial urbanístico e ambiental. Ao longo dos anos, tem sido sacrificado pela pressão da procura do estacionamento de carácter residencial, de serviço ao comércio local (principalmente da Rua Senhora da Luz) e durante a época balnear.
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Sangue Novo A derme dilui-se na epiderme
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atuar é definitivo. É gravar fundo o desenho que se quer sentir para sempre. Mesmo que a medicina consiga diluir na derme a tinta profunda e raspar-lhe o rasto, fica a alma das formas de tinta e o lugar onde estremeceu a agulha.
Como se curtisse o azul Como se bebesse do ponto Como se fosse o ponto Quem aceita a marca da marca? Quem dá o corpo ao manifesto? Quem deixa entrar o azul? E quem lhe estremece a pele? E lhe distribui o traço no corpo? Quem marca o ponto? Quantas marcas penetram assim no sangue? PRIMAVERA 2017 • PORTO
Iñaki desce todos os dias as escadas da cave da Barbearia Porto, nos Aliados, onde desenha na pele as histórias que lhe pedem. Sejam amores, desgostos ou fantasias. É a pele do Porto que embebe o tinto e se dá à marca. Ponto.
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Opinião O Porto. é um jornal plural e aberto à opinião de todas as sensibilidades da cidade, pelo que se pediu a todas as forças políticas com assento na Assembleia Municipal do Porto que nomeassem um cronista por edição. Este espaço é, pois, da inteira responsabilidade de quem assina cada uma das colunas, estando identificadas as forças políticas que representam.
UM PORTO COM FUTURO!
Todas as mudanças são um desafio. O Porto assiste a uma nova etapa da sua longa vida, como urbe catalisadora de ideias, revoluções, de partidas e de destino. Nos tempos em que vivemos, o Porto assumiu-se claramente como uma cidadedestino, uma cidade-desejo, com o turismo a florescer. A cidade, assiste, por isso, a tempos de mudança. São mudanças na paisagem construída da cidade (que se renova sem perder o seu charme milenar), tal como nas pessoas que ela atrai, que a tornaram muito mais cosmopolita. Mas como se referiu, todas as mudanças são um desafio. E o desafio reside precisamente em saber como aproveitar este potencial de sedução turística, sem alienar os pilares que permitiram que ele acontecesse. Falo, obviamente, da sua identidade, que nasceu e se consolidou ao longo de tantos séculos. Esta identidade que se consubstancia na paisagem urbana, no património material e imaterial, nos gestos e sorrisos das suas gentes, nas festas típicas, na gastronomia, no vinho, no Douro, no mar, no comércio tradicional, na forma como se vive o desporto, no linguajar, na voz forte que o Porto sempre teve para se fazer ouvir. E, é claro, da parte mais importante: os portuenses, sobretudo os mais típicos e vulneráveis. E, com certeza, que o Porto está a saber vencer esse desafio. A novidade trouxe a oportunidade. Hoje, ser do Porto, é ter outra autoestima. É pertencer a uma cidade com a alma rejuvenescida e pronta para encarar uma nova fase da sua vida, onde todos têm lugar. Hoje, escolhe-se mais o Porto para viver e para visitar. O Porto para dele falar. Porque a cidade borbulha, está efervescente. Mas todos sabemos que há outro Porto, onde os turistas ainda não vão, mas que merece outros olhares. Os olhares do Porto solidário, do porto com afeto e sensibilidade para apoiar e cuidar os que precisam.
Sabemos que não há mundos perfeitos, mas é preciso estar sempre à procura dos seus caminhos. E, também neste aspeto, eles trilham-se com coragem e responsabilidade. Nestes tempos de incerteza, em que ordem mundial nos questiona todos os dias com mutações do status quo a que estávamos habituados, com medos e notícias inquietantes, é bom saber que, afinal, temos um Porto seguro. Um lugar onde se pode viver com liberdade, respeito e tranquilidade. Cabe, por isso, a todos nós, os portuenses, independentes dos nossos credos, gostos pessoais, opções políticas ou futebolísticas, da nossa maior ou menor capacidade de intervenção, saber interpretar este momento único e extraordinário, aproveitar os ventos favoráveis que sopram nas velas desta bela cidade, mas, acima de tudo, sabermos proteger, sempre, sempre, a razão de tudo: as suas gentes, a sua identidade. Esta é, certamente, a melhor homenagem que podemos fazer a quem, todos os dias, labuta por ter uma cidade melhor (responsáveis políticos, cidadãos, comerciantes, artistas, no fundo, portuenses), mas é, sobretudo a melhor herança que podemos deixar para as próximas gerações: um porto com futuro! Sofia Maia Rui Moreira: Porto, O Nosso Partido
O PORTO NÃO DESCANSA
Nem sequer três anos se passaram e como o Porto., sendo sempre o mesmo, é todavia outro! Servido por uma liderança municipal – em que o ps participa de forma leal, firme e crítica – cosmopolita, culta e de forte convicção, capaz de escutar e perceber o pulsar da cidade através da manifestação dos seus cidadãos coletivamente organizados ou individualmente proativos e de incorporar diferentes – mesmo adversas – opiniões dos seus parceiros e adversários, o Porto. não descansa: porfia e avança.
O teatro municipal, especialmente nos seus polos do Rivoli e do Campo Alegre, devolveu aos portuenses e aos visitantes a fruição da cultura em palco nas suas diversas manifestações, a que a reativação do Cinema Batalha acrescentará no futuro o prazer do cinema e atividades assessórias em contexto ideal. A recuperação do Pavilhão Rosa Mota e do Mercado do Bolhão devolverão à cidade espaços emblemáticos que a incúria e inércia mantinham em estado deplorável. Os projetos para o antigo matadouro municipal e para o terminal intermodal de Campanhã, com todos os impactos que lhe estarão associados, para além das funcionalidades que em si mesmos irão garantir, revitalizarão zonas da cidade menos cuidadas, mais esquecidas, introduzirão novas dinâmicas locais e contribuirão poderosamente para cerzir todo o território. A recuperação da capacidade de intervir na gestão e influenciar a decisão na stcp e na Metro permitirão assegurar mais e melhor serviço às populações e atuar criteriosamente sobre os problemas de mobilidade urbana. O trabalho já desenvolvido para transformar a Circunvalação numa via (inter) municipal e compatível com o desenho da cidade será um poderoso contributo para a proteção ambiental e a qualidade de vida dos cidadãos. A recuperação do edificado tradicional, com destaque para o projeto de requalificação/revitalização das ilhas, renova a urbe, cura-lhe as mazelas que o tempo induz e será um forte elemento para lhe restaurar um nível de população adequado. A atenção aos fluxos turísticos – promovendo-os, acarinhando-os e compatibilizando-os com bem-estar dos residentes – incentiva a atividade económica, alimenta o emprego, gera sinergias. A atenção permanente ao problema da coesão social, recuperando e refazendo bairros, reabilitando prédios, exercendo o direito de preferência na alienação de casas na zona histórica, gerindo com rigor e sensibilidade as habitações municipais
PRIMAVERA 2017 • PORTO
disponíveis, honra a tradição humanista da gente que somos neste incomparável sítio que tanto amamos. No ps, que sente que as suas ideias e propostas para a cidade estão bem representadas na ação municipal, sabemos que nem tudo correu ao ritmo, nos termos e com o sentido que era — que é — a nossa ambição de futuro. Outros sabem que quando nos empenhamos em servir os portuenses não somos gente de ficar e meio do caminho. Daqui a quatro anos, quem vier dar testemunho do Porto. que então seremos, certamente atestará que, nunca deixando de ser o mesmo, está mais consolidado e mais apetrechado para ser cada vez melhor. E digam lá que a lucidez e a sabedoria nas opções de compromisso político não valem a pena! Gustavo Pimenta Partido Socialista
FORTE DINÂMICA ECONÓMICA NO PORTO
“A Pessoa é a medida e o fim de toda a atividade humana. E a política tem de estar ao serviço da sua inteira realização” — Francisco Sá Carneiro Terminei o último artigo no Porto. em que abordei o orçamento para 2017 da cmp dizendo que neste tempo resultou um Porto adiado, mas que considerava positivo que finalmente se começasse a investir no que é estruturante para o Porto. No Porto, sente-se hoje, uma cidade com uma forte dinâmica económica, cultural e social. O turismo, é claro tem sido um mote importante para o crescimento económico da cidade e da região, e os recentes prémios internacionais, para a cidade enquanto melhor destino turístico e para o aeroporto fsc, são sinais evidentes desta dinâmica e da sua excelência. O conhecimento da cidade, que o turismo proporciona, é a melhor forma de atração
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OPINIÃO
de investimento externo no futuro. O Porto tem todas as condições de competitividade para fixar investimento tecnológico, de inovação, e de alto valor acrescentado. E o certo é que já o está a fazer. A reabilitação urbana, que diga-se em abono da verdade tem vindo a aumentar significativamente nos últimos anos, é também um fator decisivo do ponto de vista do crescimento económico do Porto. Mesmo que fosse virada exclusivamente para o turismo, o que também não é o caso, mesmo assim seria sempre preferível uma cidade reabilitada e com vida do que a “cair” aos bocados. A atividade turística tem sido extremamente positiva para o Porto cidade e para o Porto região. A grande e “velha” questão que se vai colocar ao Porto é se ao crescimento corresponde desenvolvimento? Direi que no caso do Porto é crucial toda esta dinâmica de crescimento, porque sem ele não há desenvolvimento seja económico ou social. Mas é necessário mais no futuro para que a cidade aliada ao dinamismo económico atinja também o nível máximo de desenvolvimento, que se consubstancia no nível de vida dos seus cidadãos, ou seja a cidade das Pessoas e de Todos. O Porto tem vindo a perder população desde a década de 80, mais de 93.000 habitantes desde 1980. Existe uma dinâmica negativa, caracterizada por um declínio demográfico e com tendência recessiva, de diminuição da população e das famílias, embora no que respeita às famílias com uma ligeira recuperação em 2014. Mas se o problema no passado resultou essencialmente de um saldo migratório desfavorável hoje resulta muito de um problema de Natalidade, que não é exclusivo do Porto. O Porto tem uma população envelhecida, com forte incidência no Centro Histórico, no Bonfim. Campanhã, e até Paranhos. O Índice sintético de fecundidade (nº médio de filhos por mulher em idade fértil 15-49 anos), no Porto (dados de 2015) é de 1.7, abaixo dos 2.1 filhos por mulher que asseguram a substituição das gerações. Este é o grande problema que se põe ao desenvolvimento. A cidade das Pessoas exige políticas sociais para uma população envelhecida, e exige politicas de atração de jovens residentes e de incentivo à Natalidade. Todos queremos um Porto a crescer económica, cultural e socialmente, e sem qualquer demagogia, o rejuvenescimento da cidade deve-nos por a todos de acordo, porque além do mais será um esforço de políticas públicas para lá de uma geração e sem o qual não haverá verdadeiro desenvolvimento. Luis Artur Ribeiro Pereira Porto Forte – ppd/psd, ppm, mpt
A F I N A L , Q U E M É Q U E E STÁ CONTRA A CIDADE?
Os quase quatro anos que Rui Moreira leva à frente dos destinos da cidade coincidiram com outros tantos de paralisia do Metro do Porto, projeto que, todos sabemos, foi invariavelmente adiado pelos governos do“antigo” bloco central. Claro que a paralisia desta obra não foi da responsabilidade de Rui Moreira apesar da sua falta de empenho para “puxar a carruagem” do metro do Porto. Ao longo destes quatro anos, ouviu-se Rui Moreira falar sobre quase tudo, sobre o que interessava e o que pouco importava, sobre coisas relevantes e sobre factos construídos só para preencher a agenda mediática. No entanto, quase nunca se ouviu Moreira falar sobre a necessidade de alargar a rede do metro, que é (só...) elemento central para garantir a mobilidade das populações. Sobre isto, o silêncio de Rui Moreira foi quase ensurdecedor, apenas interrompido para “marcar o ponto” e repetir de forma enfastiada que “o Porto exige a linha do Campo Alegre até Matosinhos”, ou para tentar apoucar os que continuavam a defender o alargamento do metro, no Porto e noutros locais onde ele está prometido desde a década de noventa (quando dava os primeiros passos no papel e Rui Moreira ainda só pensava na Associalção Comercial do Porto e nos debates futebolísticos da rtp...). Este silêncio quase sepulcral mostra bem quanto Rui Moreira considerava o alargamento do metro como uma... não prioridade, embora soubesse bem que o empenho do presidente da segunda cidade do País poderia ter desbloqueado uma obra que Passos Coelho e Paulo Portas gostariam de enterrar definitivamente. Este silêncio não foi, (nem pode ter sido) alheio à natureza dos apoios partidários que (apesar da sua “querida independência”) sustentam(ram) a sua candidatura autárquica. É que, importa recordar, boa parte da bancada municipal que apoia(ou) Rui Moreira nestes quase quatro anos são responsáveis e dirigentes do cds e do psd, incluindo membros do Governo psd/cds (!!!....). Há um mês, o atual Governo veio dizer que o metro vai finalmente avançar ... embora pouco. Até 2021 ficará pronta a extensão sempre prevista em Gaia e uma nova linha no Porto (a rosa), com duas estações intermédias. Qualquer semelhança entre esta linha e a que em 2010 a empresa do Metro dizia ir ser a linha do Campo Alegre, de S. Bento a Matosinhos Sul (com onze estações intermédias) é ... mera coincidência! Espantosa a reação de Rui Moreira, o que só confirma a sua resignação face a uma questão fulcral para o Porto e a Área Metropolitana. Mostrou “satisfação pelo
desfecho” e a “esperança de que a nova linha possa ser o futuro embrião da ligação Ocidental até Matosinhos Sul”. Pelo meio foram bem audíveis as declarações do Ministro que disse haver três linhas para priorizar no futuro, sendo que nenhuma delas... é a do Campo Alegre!... Depois desta reação envergonhada, incapaz de reafirmar com clareza a importância da linha ocidental, parece mesmo que, mais tarde, Rui Moreira chegou até a reconhecer que nunca acreditara ser possível alargar a rede do metro, mesmo nos níveis mínimos agora anunciados. Depois disto tudo, quero agora ver com que cara é que Rui Moreira vai encarar a população das Condominhas, dos Bairros da Pasteleira ou do Lordelo, de Pinheiro Torres ou da Mouteira, da zona do Fluvial ou da Foz Velha, como vai explicar a estes portuenses e aos estudantes das Faculdades da zona do Campo Alegre que a linha do Campo Alegre afinal ... foi abandonada e é uma miragem nos próximos quinze anos. Bem gostaria de ser mosca para ver se Rui Moreira vai dizer a estas populações que errou, que não acreditou, que se resignou e que se limitou a criticar aqueles que, como os eleitos da cdu nunca se “ficaram”. E já agora: afinal quem é que esteve contra a cidade? Foi a cdu, como várias vezes o tem insinuado, ou, será que quem esteve contra os interesses do Porto e da sua população foi afinal Rui Moreira que nem sequer acreditava ser possível avançar com a rede do metro? Honório Novo cdu – pcp, pev
A O U T R A M E TA D E DA CIDADE…
A cidade tem mudado. À vista desarmada. Uns dirão para melhor, outros, para pior, certo é que mudou e muda. Será mesmo? Ele há coisas que demoram e custam muito a mudar. Não se resolvem com tinta ou alcatrão, nem mesmo com calçada portuguesa e arte pública. O Porto é uma cidade de frente e traseiras, com montra e porta dos fundos. E o que não muda é a desigualdade. Social, económica, cultural, geográfica. Nas suas diversas formas, a desigualdade não pode deixar de ser assunto na discussão da cidade, como certamente será o caso nos próximos meses com a proximidade de eleições locais… Mas ele há coisas que ainda demoram mais e custam mesmo muito a mudar. A desigualdade entre mulheres e homens – pudicamente dita “de género” –, marca a cidade onde cresci e onde vivo. Dirão que é assim na cidade ao lado, ou mais a sul. Pode ser que sim, mas é nesta que posso e quero mexer com quem mais quiser mudar.
PRIMAVERA 2017 • PORTO
Há coisa de ano e tal, telefona-me uma amiga. É uma daquelas chamadas que calham mal, numa altura em que não se tem tempo, é o trabalho, os miúdos, as arrumações… “O meu namorado bateume.” O tempo pára. O que fazer? A quem ligar? “Onde estás? Não fiques sozinha.” “Eu vou contigo à esquadra.” “Eu já tentei ir lá…” Esperou. E apareceu um agente. Homem. “Olhou para as minhas mamas. Não consegui ficar ali e falar com ele.” Passado um bocado e uns telefonemas, lá temos a morada da esquadra “que está preparada para isso”, na Arca d’Água. E uma consulta como uma conselheira, para daí a três dias… Esta não é uma história que acaba em tragédia, nem vai para os jornais. Podia pôr-me aqui a enunciar tudo o que não corre bem. Tudo o que falta fazer. E resultava tudo num futuro Plano para a Igualdade de Género […] Antes lanço o repto de pegarmos no que está bem. No que existe, mesmo que seja pouco. Mas que se dê a conhecer. A primeira desigualdade é no acesso à informação. Existem associações de promoção da igualdade; centros de atendimento; há um albergue que acolhe mulheres sem-abrigo (só um); a tal esquadra, ou outra informação mais actualizada…; o novo centro materno-infantil, onde também se pode ter uma consulta de ivg. E existem também possíveis passagens da cidade escondida para a cidade aberta. Uma livraria de mulheres, e livrarias igualitárias, encontros, debates, um festival feminista que marcou o mês de Março, diversos coletivos – em Janeiro foram as mulheres as primeiras a manifestar nas ruas o repúdio a Donald Trump, pelo mundo fora e também no Porto. Uma cidade onde as mulheres têm voz e não uma Ladies’ night com direito a espumante. Em vez de um Plano de uma cidade que não passa do papel, um mapa, um guia da cidade que as mulheres têm conquistado a pouco e pouco. Para ajudar as que que são vítimas neste mundo e dar a conhecer as que constroem um mundo novo. A outra metade da cidade. Fruto de encontros e muito perguntar, esse guia verá o dia em breve, para as mulheres, e para todos os que querem mudar com elas. Encontramo-nos por aí. Amarante Abramovici Bloco de Esquerda
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NOTÍCIAS DO PORTO
Fundo de Emergência ajuda mil famílias No Porto, 1.051 famílias já foram auxiliadas através do Fundo de Emergência Social, instrumento criado em 2014 pelo executivo de Rui Moreira, cumprindo, dessa forma, uma das medidas do seu programa, em 2013. Só em 2016, a Câmara apoiou 593 famílias, suportando boa parte da renda da casa dos candidatos cujos rendimentos e situação social encaixavam nos critérios definidos pela autarquia. A maioria dos apoiados paga renda a um senhorio e apenas uma minoria possui casa própria. Quase metade das famílias apoiadas candidatou-se a casas de habitação social. Em 2016, a Freguesia do Bonfim foi a que mais pedidos favoráveis recebeu, com 117 famílias apoiadas, seguida do Centro Histórico, com 102 e de Campanhã, com 93. Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde foi a União de Freguesias com menos pedidos atribuídos (apenas 19, em 2016). O Fundo de Emergência Social é constituído atualmente por dois milhões de euros, sendo totalmente suportado pelo município. Em 2016 o valor revelou-se suficiente para as candidaturas apresentadas, uma vez que nenhuma deixou de ser apoiada por falta de verba.
Anda comigo ver os aviões
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moke on! O Red Bull Air Race está este ano de volta aos céus do Porto e Gaia e o maior evento desportivo do ano em Portugal. Perdido pela cidade em 2010, regressa graças à união entre as duas cidades e as entidades de Turismo, o que o torna sustentável. Trata-se de um evento importante para a imagem do Porto. O anúncio foi já oficializado, em março, pela organização, pelos presidentes das Câmaras do Porto e de Vila Nova de Gaia e pelo presidente da Entidade de Turismo Porto e Norte. Turismo de Portugal e Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte foram elogiadas pelo papel que desempenharam na viabilização da prova, que custará cerca de três milhões de euros. A Porto e Gaia caberá o pagamento de apenas 225 mil euros, cada.
Quando dança um português dançam logo dois ou três
Para Rui Moreira, “a diversificação de públicos que tem sido conseguida, tocando várias modalidades desportivas, tem sido importante para criar visibilidade em vários pontos do mundo e em diversos nichos”, referindo-se à realização do Mundial de Fórmula 1 em Motonáutica e de uma Street Stage do Rally de Portugal, nos dois últimos anos, mas acrescenta: “A Red Bull Air Race é, contudo, a que mais público concentra, a que garante, com os apoios conseguidos, os melhores níveis de sustentabilidade económica e, simultaneamente, cria menos constrangimentos à cidade”. A etapa portuguesa terá lugar no primeiro fim de semana de setembro. Tal como nas anteriores três visitas ao Porto, o circuito será desenhado entre a Ponte da Arrábida e a Ponte Luiz I.
O Festival ddd – Dias da Dança regressa ao Porto, Matosinhos e Gaia a partir de 27 de abril. O que é já o maior evento de dança contemporânea do país cresce este ano, contando com 285 artistas nacionais e estrangeiros nos vários palcos municipais. É, segundo Rui Moreira, “uma montra muito interessante para os criadores”. O festival decorre em 17 dias, até 13 de maio, incluindo 57 récitas e 35 espetáculos, dos quais nove serão estreias absolutas e oito irão constituir estreias nacionais. Ancorado no Dia Mundial da Dança, o ddd propõe, assim, um intenso circuito de programação que é assegurado pelas coproduções com o Teatro Municipal do Porto, Teatro Nacional São João, Teatro Municipal de Matosinhos, Coliseu do Porto, Fundação de Serralves, Balleteatro, Armazém 22 e Mala Voadora, e pelas parcerias com o Teatro do Bolhão, Convento Corpus Christi e Casa do Design Matosinhos.
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Feira do Livro do Porto vai a Madrid
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“Casa reparada” também nas ilhas de Campanhã O modelo lançado em 2014 pela Junta de Freguesia do Bonfim, que ajuda na reabilitação de pequenas casas nas Ilhas, está agora a ser aplicado em Campanhã, também com o apoio da Câmara do Porto. “Casa Reparada, Vida Melhorada” já ajudou muitos dos moradores da freguesia do Bonfim a melhorar a sua qualidade vida. O executivo municipal aprovou já o protocolo que estende a Campanhã o programa, podendo ler-se na proposta que “o acesso à habitação digna é um elemento fundamental para a coesão social das cidades, até porque a casa corresponde a uma necessidade essencial do indivíduo e das famílias tendo em vista a sua vida quotidiana e a realização das suas aspirações”. Este programa junta-se a outros apoios dados pela Câmara do Porto no âmbito da habitação, nomeadamente, às rendas de habitação social e aos beneficiários do Fundo de Emergência Social.
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A Feira do Livro do Porto dá este ano, pela primeira vez, um importante passo para se internacionalizar, depois de ter sido convidada a estar presente na congénere de Madrid, uma das maiores feiras do livro da Europa. O certame espanhol decorre a partir de 26 de maio.
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Em maio há Extreme XL na Ribeira Pelo quarto ano consecutivo, a etapa portuguesa pontuável para o Campeonato do Mundo de Hard Enduro vai disputar o seu Prólogo na Ribeira do Porto, desta vez a 27 de maio. Depois da estreia em 2014, a cidade do Porto passou a ser um ponto de passagem obrigatório no itinerário de uma das mais espetaculares e difíceis provas do calendário internacional de motociclismo: o Porto Extreme xl Lagares. O ano de 2017 não será exceção e o Prólogo que
marcará o arranque competitivo desta que será a 13.ª edição da prova voltará a ter a Ribeira do Porto como cenário principal, a 27 de maio. Incluído no programa oficial das Festas de São João, o Porto Extreme xl Lagares manterá a fórmula de sucesso dos últimos anos, com um percurso de 1.800 metros, repleto de obstáculos naturais e artificiais, desenhado em pleno Centro Histórico. Para além do Cais da Ribeira, o percurso citadino, que é já uma marca indissociável do evento, incluirá as habituais passagens pelas escadarias do Barredo, Codeçal e Guindais, sem esquecer a sempre temível passagem pelo obstáculo colocado em pleno rio Douro. Marcado para o dia 27 de maio, o Prólogo será este ano realizado apenas em período diurno, entre as 10 e as 17 horas de sábado.
PRIMAVERA 2017 • PORTO
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Qualidade de vida a subir O Porto subiu à segunda posição das cidades portuguesas com melhor qualidade de vida, segundo o Portugal City Brand Ranking, da Bloom Consulting, ultrapassando Cascais e Braga, na categoria “Viver”. O estudo, que avalia a performance dos 308 municípios portugueses, é liderado por Lisboa nas três categorias em análise. Mas o Porto, que já era segundo nas categorias “Negócios” e “Visitar”, não apenas mantém essas posições como sobe dois lugares na categoria relacionada com a qualidade de vida. No Top10 das cidades portuguesas, apenas estão incluídas duas da região Norte, o Porto e Braga.
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