INFORMAÇÃO · PARTICIPAÇÃO · CIDADANIA _ n.º 1 _ ABRIL 2022 TRIMESTRAL _ Edição Câmara Municipal de Sesimbra
EDIFÍCIO DA RUA DR. ANÍBAL ESMERIZ
AQUI MORA A HISTÓRIA
Lagoa Pequena
Numa década, o Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena tornou-se num dos principais locais de observação de aves do país.
Alterações Climáticas
Estão à nossa volta e são cada vez mais evidentes. Mitigar os seus efeitos está também nas nossas mãos e passa por gestos muito simples.
Um Passeio a Pé
Desde 2018, foram construídos perto de 15 quilómetros de passeios, que incentivam à mobilidade suave e ajudam a preservar o ambiente.
FICHATÉCNICA EDIÇÃO E PROPRIEDADE Câmara Municipal de Sesimbra DIRETOR Francisco Jesus (Presidente da Câmara Municipal de Sesimbra) COORDENAÇÃO, REDAÇÃO, PAGINAÇÃO, FOTOGRAFIA, REVISÃO, SECRETARIADO E DESIGN GRÁFICO Divisão de Informação e Relações Públicas (DIRP) MORADA Avenida da Liberdade, n.º 7 2970-635 Sesimbra TELEFONE 21 151 72 67 E-MAIL informacao@cm-sesimbra.pt CAPA Bruno Campos PRÉ-IMPRESSÃO E IMPRESSÃO Grafisol, L.da PERIODICIDADE Trimestral TIRAGEM 7500 exemplares DEPÓSITO LEGAL 134399/99 ISSN 1646-6632 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
ÍNDICE
04 06 08 EDITORIAL
OBJETIVA
O Bloco da Mata
10 16 AMBIENTE
Adaptação às Alterações Climáticas
AMBIENTE
10 Anos Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena
CURTAS
32 MOBILIDADE
Percursos Pedestres
36 46 50 PATRIMÓNIO
Aqui Mora a História
Edifício da Rua Dr. Aníbal Esmeriz
ENTREVISTA
Filomena Gomes
ATÉ À PRÓXIMA
A Atleta de Ferro
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INFORMAÇÕES 3
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ABRIL 2022 SESIMBRA n.º 1
EDITOR
IAL Francisco Jesus
Presidente da Câmara Municipal de Sesimbra
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REFORÇAR A COMUNICAÇÃO COM OS CIDADÃOS Lançamos este trimestre o primeiro número da revista Sesimbra. É uma publicação que pretende aprofundar, de forma apelativa e ao mesmo tempo rigorosa, alguns dos grandes temas do município, que têm ou terão grande impacto na valorização do território e na qualidade de vida dos munícipes. Neste primeiro número, damos a conhecer o ambicioso projeto de requalificação e respetiva programação de um dos mais belos edifícios da vila de Sesimbra, assinalamos uma década de funcionamento do Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena, exemplo de conservação da natureza, caminhamos pelos muitos quilómetros de percursos pedonais recentemente concluídos, e que são um grande incentivo à mobilidade suave e entramos naquele que já é um dos mais relevantes desígnios das autarquias locais: a redução do impacto das alterações climáticas – com apresentação do que está a ser feito pela autarquia neste campo, em parceria com outras entidades locais e regionais. Conhecemos também uma praticante de triatlo e ciclismo que escolheu a Quinta do Conde para viver há mais de 20 anos, pela paixão que sempre teve por esta terra. Hoje, é campeã do mundo de triatlo cross e campeã nacional de triatlo. Para além do imenso palmarés, é alguém que se desloca diariamente para o trabalho, em Lisboa, de bicicleta e transporte público, dando-nos um grande exemplo de consciência cívica e ambiental. Num momento da nossa história em que vivemos rodeados de informação, é fundamental continuar a manter canais de comunicação com os munícipes, contribuindo dessa forma para uma opinião pública exigente, esclarecida e interventiva, para que se envolva e participe cada vez mais na vida do seu concelho
A revista Sesimbra pretende aprofundar, de forma apelativa e ao mesmo tempo rigorosa, alguns dos grandes projetos em curso no município, e que têm ou terão grande impacto na valorização do território e da qualidade de vida dos munícipes. Ao mesmo tempo, quer contribuir para uma opinião pública exigente, esclarecida e interventiva, que se envolva e participe cada vez mais na vida do seu concelho.
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objet i va
O Bloco da Mata Há cerca de 40 anos, o topo da Rua 2 de Abril fervilhava de vida. O “Largo” era espaço de recreio para muitas crianças, e de convívio para os moradores da “herdade”, designação popular do prédio de habitação social construído no local para albergar famílias socialmente desfavorecidas. Depois de um acidente durante a construção de um edifício adjacente, o prédio, de quatro andares, deixou de ter condições de segurança numa das alas e entrou num lento processo de degradação. O projeto desenvolvido pela Câmara para o local, e que está em curso, prevê a construção de um novo bloco, a reabilitação do Largo e a sua ligação ao Parque Urbano que está a nascer na Mata da Vila Amália. É, sem dúvida, um grande exemplo de requalificação urbana, que renovará, por completo, o coração da vila de Sesimbra. 7
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NATUREZA
Grande Rota da Arrábida Imagine um grande percurso pedestre, devidamente assinalado e tratado, que lhe permita deslocar-se desde os areais da Fonte da Telha, no limite norte do concelho de Sesimbra, até ao Parque de Albarquel, em Setúbal, atravessando toda a Serra da Arrábida, num traçado que o leve a alguns dos locais mais emblemáticos desta paisagem única, como o Cabo Espichel, a Serra do Risco, o Vale de Picheleiros, já em Setúbal, ou a Serra do Louro, em Palmela. Pelo caminho, incentiva-se o contacto com o património e as tradições, que fazem este território tão único, com a biodiversidade, e, claro, com os seus famosos sabores, de onde se destacam queijos da Azoia, a farinha torrada, fogaças ou tortas e queijo de Azeitão. A marcação deste grande percurso já está no terreno, e ficará disponível, na totalidade, ainda este ano. A criação da Grande Rota é um projeto que junta o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, que está a proceder à sinalização, com base numa candidatura a fundos comunitários, e os três municípios do Território Arrábida – Palmela, Sesimbra e Setúbal. Esteja atento e prepare-se para “fazer-se ao caminho”.
ESPAÇOS VERDES
Parque Augusto Pólvora Inaugurado em julho de 2017, o Parque Augusto Pólvora tornou-se rapidamente num dos espaços de lazer mais procurados do concelho e da região. Entre os utentes encontra-se gente de todas as idades, desde os seniores que fazem os seus passeios e atividades quase diárias, aos alunos do pré-escolar, que são visitantes frequentes, passando por desportistas que escolhem este espaço para fazer os seus treinos diários ou pais que levam os filhos ao parque infantil. Para facilitar o acesso ao Parque, está em curso a segunda fase da construção do estacionamento, que passará a ter capacidade total de 170 lugares, paragem para autocarros de visitas ou excursões e estacionamento para pessoas com mobilidade reduzida. A entrada principal será também relocalizada na zona do Skate Parque, mais central, mantendo-se o atual portão como entrada de serviço.
curtas
CULTURA
PATRIMÓNIO
Capela de São Sebastião Quem passa pela Capela de São Sebastião, consegue aperceber-se dos avanços das obras de reabilitação daquele que é o templo mais antigo da vila de Sesimbra, datado do século XV. Iniciada em 2021, a intervenção já permitiu colocar na sua posição original o arco em cantaria cujas várias partes foram encontradas no local. Foram também iniciadas as obras de instalação das infraestruturas, trabalhos na cobertura e consolidação dos muros. Atualmente já se consegue perceber como seria este edifício no século XVIII. A reabilitação da Capela tem um investimento de 850 mil euros, dos quais 225 mil euros são comparticipados ao abrigo de uma candidatura apresentada pela Câmara Municipal ao Portugal 2020.
Auditório da Quinta do Conde A freguesia da Quinta do Conde vai ter uma sala de espetáculos com 190 lugares para receber eventos culturais, construída de raiz no terreno onde habitualmente se realiza a Feira Festa. O novo Auditório Municipal da Quinta do Conde tem uma área de 800 metros quadrados e o investimento, totalmente municipal, ronda os 2 milhões e 200 mil euros. A abertura do concurso público para a obra foi aprovado na reunião de Câmara de 23 de fevereiro de 2022 e o prazo de construção previsto é de 720 dias. A construção deste equipamento cultural é uma aposta da Câmara Municipal para colmatar a inexistência de um espaço desta natureza na freguesia, o que constitui um importante contributo para o aumento e diversificação da oferta cultural do concelho.
TRANSPORTES PÚBLICOS
Passe na Hora Num minuto apenas pode ter o seu cartão Navegante e viajar nos transportes públicos da Área Metropolitana de Lisboa. Pode também carregar o seu Navegante de uso ocasional ou o VIVA Viagem. O equipamento que o permite, o Ponto Navegante, está instalado nos Paços do Concelho, em Sesimbra, junto ao Balcão Único de Serviços. O processo para obter o passe na hora é fácil. O Ponto Navegante foi criado para tornar o acesso à mobilidade mais simples para todos os que pretendem utilizar o transporte público e adotar um estilo de vida sustentável. Este projeto é desenvolvido pela Transportes Metropolitanos de Lisboa e pelos 18 municípios da Área Metropolitana de Lisboa, entre os quais, Sesimbra.
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Plano de Adaptação às Alterações Climáticas
Agir local
As alterações climáticas estão aí e afetam o nosso dia-a-dia de forma cada vez mais visível e preponderante. A frequência com que ocorrem desastres naturais como tufões, cheias, grandes incêndios, fenómenos de seca extrema ou redução da precipitação, que este ano afetou de forma extrema Portugal, são alguns dos exemplos que nos demonstram que não há tempo a perder.
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á todos ouvimos falar em alterações climáti cas e sabemos que é um tema que nos afeta enquanto comunidade. Apesar disso, ainda as encaramos de formas distintas. Há quem, mais sensível e informado, se preocupe e já esteja a agir, alterando pequenos hábitos e rotinas; há quem, embora informado, considere que ain da não é hora de lhes dar atenção; há ainda quem, por desinteresse ou convicção, não se preocupe com o assunto ou negue mesmo a sua existência. O facto é que as alterações climáticas já estão aí, e afetam o nosso dia-a-dia de for ma cada vez mais visível e preponderante. A frequência com que ocorrem desastres na turais como tufões, cheias, fenómenos de
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seca, grandes incêndios, erosões na costa ou redução da precipitação, que este ano afetou de forma grave Portugal, são alguns dos exem plos que nos demonstram que não há tempo a perder. É um trabalho imenso que também se faz a nível local, por decisores, entidades e organi zações, de quem se esperam medidas estrutu rais claras e eficazes, baseadas na ciência e no conhecimento, acompanhadas por campanhas de esclarecimento que contribuam para envol ver a população. Cada cidadão, individualmen te, tem também responsabilidade com a ado ção de pequenos gestos quotidianos. Os municípios, com uma gestão muito próxi ma das comunidades, têm, neste contexto, um papel determinante, tanto para a criação de planos locais como para o envolvimento e participação, fator fundamental para reforçar a capacidade de adaptação e resiliência.
O Plano Local de Adaptação às Alterações Climáticas Sesimbra participou ativamente no Plano Me tropolitano de Adaptação às Alterações Climá ticas da Área Metropolitana de Lisboa, docu mento alargado, que fez um levantamento dos principais riscos desta região e apresentou pro postas para os reduzir. Em 2021, iniciou-se a ela boração do Plano Local de Adaptação às Altera ções Climáticas da Arrábida (PLAAC Arrábida), desenvolvido em parceria com os municípios da Arrábida – Palmela e Setúbal, por intermédio da Agência de Energia da Arrábida, em colabora ção com várias entidades académicas. Este do cumento pretende criar estratégias locais em cada um dos municípios que permitam a adap tação a uma nova realidade, contribuindo para reduzir o risco climático, diminuir eventuais im pactos e promover a resiliência e capacidade de adaptação.
É um trabalho imenso que também tem de ser feito ao nível local, por decisores, entidades e organizações, de quem se esperam medidas estruturais claras e eficazes, baseadas na ciência e no conhecimento, acompanhadas por campanhas de esclarecimento que contribuam para envolver a população.
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Como encaramos as Alterações Climáticas
Informado Já ouviu falar do tema
Especialista Conhece bem o tema Preocupa-se Já está a agir, com pequenos gestos Como pode colaborar:
Mantendo e intensificando os hábitos que já adotou e tentar passar a mensagem a outras pessoas, tanto individualmente como em grupos informais ou associações. Deve manter-se ativo e participativo na construção dos planos locais.
Sabe que é importante
Desinteressado
Disponível para saber mais e para agir
Não conhece, nunca ouviu falar ou não acredita
Como pode colaborar:
Está na hora de começar a participar. Começando por pequenos gestos diários que, parecendo insignificantes, podem fazer a diferença. Reciclagem, reutilização, compostagem caso tenha jardim ou horta, utilizar menos o automóvel e, em alternativa andar a pé ou de bicicleta em percursos curtos ou adequados são os passos para ajudar a salvar o planeta.
Não está preocupado Não pretende mudar de hábitos Como pode colaborar:
Deve olhar à sua volta e tentar identificar fenómenos que eram raros e começam a ser mais frequentes, como grandes incêndios ou cheias. Procurar informação fidedigna sobre o tema. Substituir uma visão individual pela coletiva. Olhar para o futuro próximo e pensar que poderão não ser como imagina.
ambiente
Como chegámos até aqui No último milénio, as alterações climáticas resultam, essencialmente, da atividade humana
Aumento da população
Exploração intensiva de recursos
Consumo massificado
Ocupação incorreta dos solos
Queima de combustíveis fósseis para produção de energia
Aumento de emissões atmosféricas de gases com efeito de estufa (GEE)
O efeito de estufa permite a vida na terra, mantendo a sua temperatura equilibrada. O dióxido de carbono (CO2) é o principal gás com efeito de estufa, ao qual se juntam o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O) e o ozono (O³). A presença destes gases na atmosfera resulta de emissões naturais e provocadas pelo Homem. Ao aumentar a concertação atmosférica de gases com efeito de estufa, devido à ação humana, estamos a aumentar a sua intensidade e a provocar alterações climáticas que se caraterizam pelo aumento da temperatura média global à superfície da Terra e por fenómeno, meteorológicos e climáticos extremos de maior intensidade e frequência.
Que riscos corremos? As alterações climáticas não conhecem fronteiras, pelo que os seus efeitos são e serão notórios a nível global. No entanto, conhecer quais os riscos que estão mais perto de nós, e que podem afetar-nos diretamente, é uma forma de alertar os cidadãos para a urgência de agir. Incêndios rurais e florestais, instabilidade de vertentes, inundações e galgamentos costeiros, erosão e recuo das Arribas, calor excessivo ou seca meteorológica são alguns do exemplos a que muitos já assistimos. Verificam-se em pequena escala e poderão intensificar-se.
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O que posso fazer para red os impactos das alteraçõ Opte por placas elétricas ou caldeiras em vez de fogões a gás ou esquentadores
Utilize painéis fotovoltaícos
Utilize energia eólica
MOBILIDADE • Opte pelos transportes públicos; • Utilize bicicleta; • Vá a pé em percursos curtos; • Opte por veículos amigos do ambiente; • Partilhe automóvel; • Evite condução agressiva ou excesso de velocidade.
Substitua lâmpadas convencionais de casa por LED Acenda as luzes apenas quando necessário
ambiente
duzir
ões climáticas?
SUSTENTABILIDADE Procure alimentos produzidos na sua região, de preferência da época
Faça compostagem
Escolha eletrodomésticos classe A
Recicle Reutilize Reduza
Não desperdice
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ES PA Ç O INTER P RETATI VO
10 anos LAGOA PEQUENA A Estância de Férias para Aves
Foto: Mário Gomes
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Alguma vez viu uma garça-vermelha no seu habitat? Sabe quem é o camão? Já escutou o canto do rouxinol? Acha que o goraz é um peixe? Estas são algumas das aves que “vivem” bem perto de nós, na Lagoa Pequena, um local muito sensível do ponto de vista ambiental, escolhido por muitas espécies para habitar ou “passar férias”, onde há 10 anos abriu portas o Espaço Interpretativo.
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Lagoa Pequena, zona bastante sensível do ponto de vista ecológico, é casa permanente do pato-real, do camão, do galeirão, do chapim-real ou do guarda-rios, mas também uma “estância de férias” de luxo para aves que fogem do frio do norte da Europa no inverno e voam em direção a sul, em busca de um clima mais ameno. Aqui fazem também “escala” espécies migratórias que se deslocam entre o continente africano e europeu no verão, como a ameaçada garça-vermelha. É por isso um dos pontos de referência em Portugal para observação de aves e para os amantes do turismo de natureza. Há quem tenha mesmo a sorte de avistar lontras, raposas ou ginetas neste local protegido por caniçais, salgueirais e pinhais, classificado como zona húmida de importância internacional. A Lagoa Pequena, na verdade, é uma parte da Lagoa de Albufeira, composta pela lagoa grande e pela pequena, ligadas por um estreito canal. A riqueza dos seus ecossistemas resulta deste equilíbrio entre a água salgada que vem do oceano e a água doce transportada pelas ribeiras da Ferraria e da Apostiça. São estas condições que lhe dão uma beleza natural há muito apreciada, até mesmo pela realeza, que tinha por hábito vir até estas paragens caçar e pescar, como se conta sobre o rei D. Carlos I, no século XIX.
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Delimitar para proteger No entanto, a Lagoa Pequena nem sempre foi este espaço visitável e seguro que atualmente conhecemos, tendo mesmo corrido o risco de perder a sua diversidade ambiental. Até meados da década de 80 a pres são humana foi grande. João Carlos Farinha, biólogo e técnico do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), recorda o estado em que encontrou este sítio na altura, quando um financiamento comunitário permitiu começar as intervenções que tinham como prioridade a proteção da fauna e da flora. Uma das primeiras ações consistiu em ve dar uma área de 66 hectares. «Foi o que salvou a Lagoa Pequena», lembra. «Na altura foi uma medida bastante revolucionária, pois impedia o acesso e criava uma zona tampão». Só desta forma foi possível impedir o atravessamento dos habitats por jipes e mo tas, que ameaçavam destruir o património natural existente. Jo ão Carlos Farinha ainda se recorda dos dias em que encontravam veí-
culos enterrados nas zonas alagadas. O passo seguinte foi o envolvimento da comunidade científica com o estudo e monitorização dos ecossistemas. Entretanto, avançou-se com um Plano de Ges tão que, em 2004, envolveu várias entidades como a Câmara Mu nicipal, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), a Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais e a Associação de Produtores Florestais, a que se juntaram os vizinhos das herdades da Ferraria e da Apostiça. Até à criação do Plano de Gestão, em 2004, a intervenção apenas tinha um único objetivo: a conservação da natureza. «Começámos a reabilitar este es paço em 2004. Encontrámos tudo cheio de silvas, o canal não existia, mas havia uma comporta (já enterrada) que evi denciava a ligação entre a Lagoa Pequena e a zona alagada da Estacada, que recuperámos», explica. No projeto inicial, na década de 80, não havia nada de observatórios ou passadiços», lembra. Avisitação não fazia parte dos planos. Entretanto, a importância do local era reforçada com o acumular de classificações: em 1996 é incluída na Lista de Zonas Húmidas de Importância Internacional – Sítio Ramsar, em 1997 é inserida na Rede Natura 2000 e, a partir
João Carlos Farinha, Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF)
«Começámos a reabilitar este espaço em 2004. Encontrámos tudo cheio de silvas, o canal não existia, mas havia uma comporta que evidenciava a ligação entre a Lagoa Pequena e a zona alagada da Estacada, que recuperámos», explica. João Carlos Farinha
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Domingos Leitão, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves
«A curiosidade funciona extraordinariamente com a população escolar. Os miúdos vivem vidas enfiados em caixinhas, computadores, smartphones, internet, mas um dia aqui na Lagoa desperta a curiosidade e os sentidos», destaca. Domingos Leitão
de 1999, é designada Zona de Proteção Especial ao abrigo da diretiva das aves. A transformação da Lagoa Pequena num futuro equipamento de interpretação e educação ambiental começa a ganhar forma em 2004, com o Plano de Gestão. São então construídas ilhas flutuantes para as aves, controla-se o salgueiral e o caniçal, recuperam-se as ribeiras, abrem-se clarei ras, avança-se com o desassoreamento da Lagoa da Estacada e, entretanto, é desativada a ETAR da Carrasqueira. Constro em-se percursos e instalam-se quatro observatórios e uma receção. A Lagoa Pequena fica pronta pa ra abrir os portões e receber visitas. A 2 de fevereiro de 2012, Dia Mundial das Zonas Húmidas, é inaugurado o Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena (EILP).
Uma visita que desperta sentidos O interesse pelo espaço e pelos seus habitantes foi crescendo e, em apenas 10 anos, a Lagoa Pequena en-
trou no roteiro dos observadores de aves. Uns vêm para observar, outros para fotografar ou desenhar e muitas famílias para passear. Nos primeiros tempos as visitas não ultrapassavam a média anual das 2 mil. Em 2020, mesmo três meses encerrado devido à pandemia, o EILP recebeu mais de 5 mil visitantes. O desconfinamento correspondeu ao aumento da procura, com uma visível valorização de atividades ao ar livre. O sucesso destes 10 anos prende-se com a beleza natural, mas também com a dinamização feita pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, baseada num protocolo firmado com a autarquia desde 2016. «Temos um leque de atividades que não se esgota na observação e monitorização da fauna e da flora», explica Domingos Leitão, dire tor executivo da SPEA. A educação ambiental é uma das áreas de excelência.«A curiosidade funciona ex traordinariamente com a população escolar. Os miúdos vivem vidas enfiados em caixinhas, computadores, smartphones, Internet, mas um dia aqui na Lagoa desperta a curiosidade e os sentidos», destaca. «É muito importante o trabalho que fazemos
ambien te aqui com as escolas, porque lança a semente para que no futuro, como adultos, se preocupem com a natureza, com a proteção das espécies e dos ecossistemas. Se não tivermos noção de que vivemos inseridos num meio que tem que funcionar, com funções que dependem das várias espécies, vamos ser adultos incompletos», conclui. No EILP os alunos testemunham ao vivo como funcionam os ecossistemas, recolhem insetos e observam aves, aprendem o que é a anilhagem, cons troem ninhos e comedouros. «Uma coisa é aprender no manual, outra completamente diferente é ver in situ. Não há manual escolar ou vídeo que consiga ultrapassar o efeito que isto tem nas crianças», reforça Domingos Leitão. O responsável da SPEA, que é tam bém um experiente ornitólogo e promotor de turismo de natureza, garante que uma manhã na Lagoa Pequena permite ver aves que não encontramos noutros locais, porque «as zonas húmidas são raras». Se lembrarmos
que em Portugal apenas existem 31 zonas húmidas de importância internacional percebemos melhor o valor da Lagoa Pequena.Com a vantagem de haver sempre novidades ao longo do ano, pois os protagonistas vão-se renovando de acordo com o calendário de migrações. «Se viermos na primave ra temos aqui a garça-vermelha, o gar çote, os rouxinóis-dos-caniços, espécies migradoras que só cá estão na primavera e verão e nidificam nas zonas com caniço. É um atrativo especial. No inverno temos um leque diferente. As espécies estivais já migraram para África, mas recebemos os que chegam do norte da Europa em dezembro e janeiro quando o frio, a neve e gelo as empurram para sul e temos aqui mais patos, como o colhereiro, a marrequinha ou o zarro», detalha, em modo de convite para uma visita. «É também um dos sítios onde se observam aves de rapina, difíceis de ver noutros locais, como o açor, o gavião, o ógea (espécie de falcão que cria nos ninhos das gralhas e vem
Passadiços que encaminham os visitantes até aos observatórios
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ambiente
aqui caçar passarinhos ou libélulas) a águia-sapeira ou águia-pesqueira», acrescenta. A Lagoa Pequena é um sítio especial. Não só por estar assim classificada por várias entidades, mas porque aqui se podem conhecer mais de cem espécies de aves, algumas raras, para além da restante fauna e flora, num ambiente onde a intervenção humana é mínima e onde o respeito pela natureza é a prioridade, neste que é o verdadeiro lar de muitas aves que aqui descansam, se alimentam e fazem o seu ninho.
A voluntária pela natureza Quem visita a Lagoa Pequena nu ma sexta-feira à tarde vai cruzar-se com Regina Urban, uma simpática pro fessora reformada que veio da Alemanha para Portugal há cerca de 40 anos e, nos últimos cinco, tem de dicado umas horas por semana ao voluntariado. Docente de alemão no Goethe-Institut, decidiu investir parte do seu tempo numa área diferente da sua ativi-
dade profissional e escolheu a Lagoa Pequena pela «beleza do espaço». Envergando o seu colete com o mote Cidadania pela Natureza, Regina assegura várias tarefas desde, recolher o lixo a receber as pessoas, acompanhar as escolas ou até «pintar alguma da sinalética», elenca com orgulho. Diz ter aprendido muito com esta experiência, principalmente sobre as aves que gosta de observar, mas também de escutar, com os conhecimentos que adquiriu no workshop «À Descoberta do Fantástico Mundo do Canto das Aves» promovido pela SPEA. Munida do seu guia, escrito em alemão, já consegue identificar algumas espécies que sobrevoam e habitam a Lagoa Pequena, como as aves de rapina, as suas preferidas, ou o camão, «que já tive a sorte de observar, e é um espetáculo, com as suas cores vibrantes e a sua forma diferente de andar». Regina Urban faz parte da Bolsa Local de Voluntariado. Mas não é a única a participar ativamente na manutenção e preservação da Lagoa Pequena. Ao longo de uma década têm sido centenas as pessoas que participam em ações de voluntariado. Contribuem para a manutenção do
Regina Urban, voluntária
Ao longo de uma década têm sido centenas as pessoas que participam em ações de voluntariado. Contribuem para a manutenção do espaço, contagem de aves, remoção de flora infestante, participam no Dia do Biscateiro, integram ações de team building para empresas ou para famílias.
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Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena - Receção
espaço, contagem de aves, remoção de flora infestante, participam no Dia do Biscateiro (que como o nome indica, permite assegurar pequenas reparações), integram ações de team building para empresas ou vêm em família construir caixas ninho que são colocadas nas árvores no local. Ao fim de um dia de voluntariado na Lagoa Pequena todos partilham um sentimento: terem contribuído para a conservação da natureza e para cuidar deste espaço, tornando o EILP um pouco seu.
O sempre vigilante Quem tem na memória os princi pais momentos da história deste local, e de todos os passos para a sua trans formação, é José Conceição. A sua vida confunde-se com a história da Lagoa Pequena, mesmo muito antes da criação do Espaço Interpretativo, há 10 anos. Com 26 anos entrou no Instituto da Conservação da Natureza, como guarda
de natureza. Começou a trabalhar na Lagoa Pequena e nunca mais de cá saiu. «Aqui na Lagoa de Albufeira casei, aqui vivi durante anos, ali ao fundo junto àqueles salgueirais e na Lagoa Pequena passo sempre os meus aniversários, 4 de maio, dia de Sesimbra», diz com um sorriso proporcionado pelas boas recordações destes últimos 30 anos. Ainda é do tempo do último pescador que cá vivia, no sítio onde atualmente está o observatório do Galei rão, «ali junto àquele carvalho», indica. O passadiço que vai até ao ob ser vatório corresponde ao percurso que o pescador “Faneca” fazia para montar as narsas para pescar na Lagoa Pequena, antes desta atividade estar interdita. Houve tempos em que o caminho que se faz entre a Lagoa Pequena e a Lagoa da Estacada estava completamente alagado e em que parte da Estacada, onde atualmente nidificam muitas espécies protegidas, era zona de pastagem para gado. «Isto estava tudo cheio de água, da lagoa grande até à Ribeira da Apostiça. Já nessa altura havia aqui muitos galeirões».
ambien te O espaço foi, entretanto, ve dado, «colocámos aqui a rede» e, durante alguns anos, apenas aqui vinham investigadores para estudar ou para anilhar as aves. «Até que, em 2010 ou 2011, tivemos a ideia de abrir o espaço ao público, com o Dr. João Carlos Farinha». Já havia observatórios improvisados para vigilância e monitorização da fauna, mas o primeiro observatório para “visitas” foi o da torre, na margem norte da Lagoa Pequena, que não era mais do que o aproveitamento de um farol de madeira com cerca de seis metros construído para o stand do Instituto da Conservação da Natureza na Expo 98. «Tudo o que aqui está fui praticamente eu que fiz», recorda com o orgulho de quem encontrou um sítio cheio de caniços e silvados que o cobriam por completo e que foi abrindo até se tornarem nos percursos que hoje encaminham os visitantes tranquilamente até aos observatórios de madeira. É o caso do passadiço que dá acesso ao Observatório do Camão, em frente à Lagoa da Estacada. Ia andando, guiado pelo vale, sem pla-
no desenhado, mas com meta definida. «Ia avançando, e quando olhava para trás não via nada», recorda. O resultado é o passadiço serpente ante que permite apreciar o percurso e escutar as aves até chegar ao destino, com a calma que o local inspira. Melhorou as condições para os visitantes, mas principalmente para os seus habitantes, com manutenção permanente. Um trabalho feito com todo o empenho de quem tem genuína paixão pela natureza. Quando lhe perguntam do que mais gosta na Lagoa Pequena só tem uma resposta: «Tudo! Tenho casa, mas é só para dormir, porque é na Lagoa Pequena que me sinto bem, mesmo em dias de folga venho para cá». Aprecia o silêncio e a paz trans mitida pela companhia dos “residen tes”, com particular predileção pelas aves de maior porte. «Corvos-marinhos, camões, aves de rapina ou garças», começa por elen car. «Na verdade, gosto de todas as aves, de grande porte ou pas seriformes, e também dos mamíferos», conclui. De binóculos em punho, vigia a
«Tudo o que aqui está fui praticamente eu que fiz», recorda com o orgulho de quem encontrou um sítio cheio de caniços e silvados que o cobriam por completo e que foi abrindo até se tornarem nos percursos que hoje encaminham os visitantes tranquilamente até aos observatórios de madeira. É o caso do passadiço que dá acesso ao Observatório do Camão, frente à Lagoa da Estacada.
José Conceição, vigilante de natureza do ICNF
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Vasco Fonseca, Um dos mais jovens e assíduos visitantes
Lagoa Pequena todas as semanas. Também faz vigilância na Serra da Arrábida e na Fonte da Telha, mas é na Lagoa Pequena que se sente em casa. Uma casa que abriu as portas para visitas precisamente no seu dia, 2 de fevereiro, Dia Nacional do Vigilante de Natureza.
O naturalista Mais novo, mas nem por isso menos apaixonado por este local, Vasco Fonseca é um verdadeiro naturalista em crescimento, uma espécie de pequeno David Attenborough. De máquina fotográfica ao pescoço, com uma lente que serve também de binóculo para ver as aves que sobrevoam a Lagoa Pequena, tem a visão e a audição bem treinadas para detetar aves, pequenos insetos ou até cogumelos que encontra num caminho que já percorreu inúmeras vezes. Tem apenas mais um ano do que o Espaço Interpretativo da Lagoa Pe-
quena. Juntamente com a sua família, pais e o irmão de 5 anos, é carinhosamente tratado como «espécie endémica» da Lagoa. Foi aqui que festejou os 11 anos, com mais duas dezenas de amigos e amigas a quem tenta passar esta paixão pela natureza. Uma festa de anos onde a observação de aves foi a “brincadeira” favorita. O desafio foi identi ficar espécies e rapidamente Vasco teve que passar ao nível de dificuldade seguinte. As aves são uma grande paixão, juntamente com a restante fauna e flora da Lagoa Pequena, «e também os fungui ou as pedras», acrescenta. Voltando às aves, gosta do pato-colheireiro, da garça-branca-pequena e da garça-branca-grande «por ser mais rara», ou do chapim-carvoeiro. No dia em que visitámos o Espaço Interpretativo confessou que gos tava muito de ver pela primeira um guarda-rios, que apesar de ser uma espécie residente é tão pequeno e rápido nos seus voos rasantes que
ambiente lhe tem escapado. Já no verão o desejo é mesmo ver o quase exótico abelharuco. A família é presença assídua nas ati vidades organizadas na Lagoa Pe quena, seja para sessões sobre libélulas, workshops do canto das aves, de borboletas ou observações noturnas. «Venho sempre uns minutos antes das atividades começarem, dou uma corrida até ao Observatório do Galeirão, que fica mais perto da receção, e ainda consigo ver algumas aves». Já avistou bandos de estorninhos, patos-colheireiros, camões, marrequinhas, galinhas-de-água, patos-reais, garças-vermelhas «quase em extinção» alerta, enquanto vai elencando espécies, entre nomes científicos que vai traduzindo para nomes comuns.
O seu sonho é vir a ser biólogo, e já é sócio da SPEA. No último Natal pediu aos pais um guia de anfíbios, que apenas existia na versão inglesa, o que para o interessado Vasco não constituiu qualquer problema. Muitas vezes prepara apresentações com as suas fotos e pesquisas para levar para a sala de aula, para os seus colegas do 6.º ano. No futuro gostava muito de ir à Nova Guiné, a maior ilha tropical do mundo, para ver ao vivo no seu habitat a ave do paraíso. Por cá, quando estava a chegar ao fim desta visita guiada que nos fez à Lagoa Pequena teve uma das suas grandes alegrias. Foi presenteado com o voo rasante do guarda-rios, no canal que liga a Lagoa Pequena à Lagoa da Estacada. Mais um moGuarda-Rios Foto: Mário Gomes
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28 ABRIL 2022 SESIMBRA n.º 1
José Manuel Rodrigues, observador de aves
«Para a maioria das pessoas, grande parte das aves são cinzentas, porque à distância ninguém as consegue distinguir», explica este engenheiro silvicultor, que observa aves há mais de 30 anos. José Manuel Rodrigues
mento de grande felicidade para es te amante da natureza, que reagiu como qualquer criança da sua idade, aos pulos e com um sorriso de orelha a orelha, a festejar abraçado à mãe e ao irmão Diogo.
O guardião de aves O telescópio que José Rodrigues instalou no Observatório da Lontra permite-nos observar ao pormenor as penas e a coloração verde e vermelha da cabeça de uma pequena ave que, ao longe, parecia apenas um vulto cinzento ou acastanhado. Trata-se da «marrequinha macho», es clarece, o mais pequeno pato da Europa, que se confunde com o caniçal da Lagoa da Estacada. Desviamos a lente um pouco para o lado e focamos um pato-real a brincar dentro de água e bem perto duas elegantes garças-brancas-pequenas, imaculadas entre a vegetação. José Rodrigues vai chamando a atenção para detalhes que ajudam
a perceber o fascínio que leva cerca de cem milhões de pessoas por todo o mundo a passar horas a observar aves, os birdwatchers. É um hobby movido pela curiosidade e gosto pela natureza. «Para a maioria das pessoas, grande parte das aves são cinzentas, por que à distância ninguém as consegue distinguir», avisa este engenheiro silvicultor, que observa aves há mais de 30 anos. «Para começar é preciso ter alguém que promova este gosto, que explique porque tem este tipo de penas, onde vive, porque só aparecem no verão ou no inverno em determinados locais, ou seja, que não são tudo “pássaros”». E foi o que aconteceu consigo quando na universidade, aos 22 anos, viu uma apresentação sobre aves de rapina. Foi «amor à primeira vista», uma paixão que dura até hoje. Observar não é sinónimo de olhar. Significa também «ver com os ouvidos». Começa-se com a visão, mas rapidamente se passa para o nível seguinte: identificar aves pelo canto, ou pelas vocalizações como dizem os entendidos.
ambiente «Temos a ideia de que no birdwatching temos sempre que ver a ave, e não é assim.» Há aves que «observamos» sem que se deixem ver. «Um rouxinol tem um canto maravilhoso, mas raramente se avista», exemplifica. Uma pessoa experiente identifica o repicado do rouxinol. «Fica no ouvido». Da próxima vez identifica o canto e, com sorte, consegue dar por ele no meio das ramagens. A beleza de uma ave está também no seu canto, até porque «as mais vistosas não cantam tão bem» e as que dão verdadeiros concertos são, por norma, «mais pardas». O birdwatching é, pelas suas caraterísticas, um verdadeiro ginásio da concentração e da memória. «É preciso decorar nomes das espécies, colorações, comportamentos, em que altura do ano passam por cá: se são residentes, estivais ou invernantes. Se hoje avistássemos uma garça na Lagoa Pequena sabíamos que não se ria uma garça-vermelha porque essa só cá está no verão», explica. E acrescenta «é também um momento de meditação, pois estamos profundamente concentrados». Nas faixas etárias mais avançadas, confere também um importante sen-
timento de «utilidade», em termos de conservação ambiental porque, como reforça, «os birdwatchers são muito críticos em relação ao mau uso da natureza e uns acérrimos defensores dos ecossistemas». E deixa um conselho essencial: «é preciso estar preparado para não ver nada». Começa-se por um guia de aves dos mais baratos e, até mais importante do que os binóculos, a companhia de alguém com experiência, que seja os nossos olhos para ver o que, à partida, é indetetável. «Das primeiras vezes que se sai identificam-se uma ou duas espécies, depois veem-se 20, a seguir 50 e por aí em diante, até chegar ao ponto em que se deixa de observar aves apenas quando se procura, torna-se um hábito sempre que se anda na rua». O desafio e a curiosidade por estes seres tão especiais vai aumentando, assim como as técnicas de identificação. Quase como um jogo. Observar aves é uma superação constante, porque há sempre novidades para descobrir nas saídas de campo. José Rodrigues recorda bem a sua passagem pelas várias fases de observador. «Desde as listas das aves que avistei, às que identifiquei,
Pato-Real Foto: José Flor
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Camão Foto: Mário Gomes
até à motivação de ver todas as que vivem em Portugal…», por aí adiante. Um percurso feito de grandes momentos, como a alegria que sentiu ao observar no Douro, ao fim de uma semana de espera, o ameaçado chasco-preto. «é muito raro…e já não devo voltar a vê-lo novamente». Na memória guarda também o dia em que observou, em Espanha, uma imponente cegonha-preta, de dorso e asas reluzentes, como se as cores estivessem «do avesso» em relação àquelas que costumamos ver por cá. «Tenho aves que me ocupam a cabeça, como a águia-imperial, que ando há anos a tentar ver». Quando viu pela primeira vez o camão recorda que as mãos tremiam tanto de emoção que algumas das fotos ficaram desfocadas. Não era para menos, foi de propósito ao Algar ve, levantou-se vários dias antes do sol nascer para ver ao vivo esta espécie de plumagem azul, que na altura era rara em Portugal. Atualmente bastava-lhe vir uma manhã cedo à Lagoa Pequena e observá-lo ali, pertinho, a andar de-
sajeitadamente em busca de alimento. Hoje já não precisa de viajar de propósito para ver aves. De olhos e ou vi dos bem treinados, a observação é constante, a pé ou de carro, há sempre uma ave pousada num poste, num telhado ou à beira da es trada que desperta a atenção. O seu desejo é que se transmita este co nhecimento e gosto para que, como é tradição nos países do norte da Eu ropa, a curiosidade pelas aves deS perte cedo. «As crianças do nosso con celho têm o pri vilégio de viver junto ao estuário do Tejo, uma zona fabulosa em termos de birdwatching na Europa», com a Lagoa Pequena e a sua variedade de habitats à porta de casa, ou mesmo o porto de Sesimbra onde é possível aprender muito com o comportamento das gaivotas. José Rodrigues vai continuar «a praticar exercício físico, fazer turismo de na tureza, socializar com outros observadores e contribuir para a con ser va ção da fauna e da flora», ou seja, vai continuar a ser um ativo birdwatcher.
ambiente
Afinal, o que é o birdwatching? O birdwatching, ou observação de aves no estado selvagem, é uma atividade amadora que contribui de forma muito significativa para a investigação científica e conservação da natureza. Estima-se que existam cerca de cem milhões de observadores de aves a nível mundial, em especial nos países do norte da Europa e nos Estados Unidos da América. Mas, para ser observador é preciso ter algum conhecimento científico? Não. É apenas necessária curiosidade, disponibilidade para treinar os olhos e os ouvidos, um guia de aves e, se possível a companhia de alguém que possa dar umas primeiras dicas e traga uns binóculos. Domingos Leitão, biólogo e diretor executivo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), explica que a magia do birdwatching
«é ser sempre possível observar algo que nunca se viu. Eu observo aves em Portugal há mais de 30 anos, mas fico sempre fascinado». Isto porque em todo o mundo existem mais de 11 mil espécies de aves diferentes e «no nosso país ocorrem regulamente mais de 300 e temos uma lista de cerca de 500 de todas as espécies observadas», acrescenta. Portugal é considerado um dos melhores destinos da Europa para birdwatching de aves, pela diversidade de habitats e por estar na rota migratória de muitas espéci es. Existem pessoas que viajam de propósito para observar uma espécie que não existe na sua área de residência. E a Lagoa Pequena é um desses spots onde se pode começar por marcar uma sessão de Observa ção de Aves e descobrir o fascínio por esta atividade.
Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena quartas, sextas, sábados e domingos, das 9 às 13 e das 14 às 17h quintas - escolas www.birdwatching.sesimbra.pt 93 998 22 92
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Vamos dar um passeio a pé
Os benefícios de andar a pé são bem conhecidos, tanto para a saúde, como para o ambiente e até para a “carteira”. Com vantagens tão claras, porque se perdeu, então, este hábito? Comodismo e falta de tempo são explicações frequentes. Mas serão suficientes?
d
urante décadas, fruto do desenvolvimento económico, social e tecnológico, do crescimento da rede viária e de uma progressiva dispersão de habitação, comércio e serviços, acompanhada por uma rede de transporte coletivo insuficiente, a mobilidade assentou, preferencialmente, no automóvel, que ganhou preponderância nas deslocações e domínio sobre o espaço público. E se os benefícios parecem ser evidentes – rapidez, conforto, autonomia - , as desvantagens também o são. Todos já experimentámos filas de trânsito lentas e intermináveis ou procurar um lugar de estacionamento que teima em aparecer. Ruído, qualidade do ar e degradação do espaço público juntam-se à lista de inconvenientes.
mobilida de
Alterar rotinas pelo ambiente Hoje, as preocupações com o ambiente fazem parte da consciência coletiva e há uma predisposição para alterar rotinas que se foram instalando em função de opções sustentáveis. As alternativas ao automóvel, sejam elas o transporte público, bicicleta ou andar a pé generalizam-se e entram, a pouco e pouco, no quotidiano de muitas pessoas. Para acompanhar esta tendência, o espaço público começou a moldar-se para se tornar mais cómodo, seguro e atrativo, passando a ser um incentivo, e não um obstáculo à designada mobilidade suave.
O PAMUS As recentes obras que decorreram em vários pontos do concelho, integradas no Plano de Ação para a Mobilidade Urbana Sustentável, no âmbito da candidatura ao Portugal 2020, foram um passo muito importante neste sentido. Pelos motivos que já foram descritos - dispersão de zonas habitacionais periféricas, comércio e serviços, os percursos pedonais perderam uma lógica de rede que liga pontos de interesse e de utilidade para se tornarem “ilhas”. Muitas vezes conseguimos sair de casa e caminhar a pé pelo nosso bairro, mas não conseguimos fazer, em segurança ou com conforto, um percurso durante um ou dois quilómetros para irmos às compras ou a um serviço, o que nos leva a recorrer ao automóvel. O projeto, que se iniciou em 2018, e está praticamente concluído, desenvolveu-se exa tamente numa lógica de rede pedonal.Para isso foram aproveitados e requalificados troços já existentes e ligados entre si, tendo em conta equipamentos, comércio, serviços, habitação e rede de transporte público. Antes de se iniciar este conjunto de obras não era possível uma deslocação segura entre o Zambujal e o Parque Augusto Pólvora. Hoje, uma família do Zambu-
O espaço público começa, a pouco e pouco, a moldar-se a esta tendência para se tornar mais cómodo, seguro e atrativo, passando a ser um incentivo, e não um obstáculo à mobilidade suave.
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Igreja da Corredoura
CAIES Junta Freguesia
Posto Correios
Espaço Zambujal
Zambujal – Santana
Santana – Cotovia
Não existia ligação pedonal, o que obrigava quem quisesse deslocar-se do Zambujal à zona central de Santana ou ao Parque da Corredoura, por exemplo, tivesse que caminhar à beira da estrada ou, em alternativa, utilizar o automóvel. O mesmo acontecia se uma criança ou jovem da Corredoura, Santana ou mesmo da Cotovia pretendesse deslocar-se ao Espaço Zambujal, por exemplo. Neste momento esta ligação é possível ao longo de um passeio que tem continuidade até à Maçã.
Apesar de estarem praticamente juntas, não existia um passeio que ligasse estas duas localidades. Hoje, pode circular-se em segurança entre Santana e a Cotovia, e entre Cotovia e a zona da Moagem de Sampaio. Quem mora na Cotovia, ou em Santana, e queira deslocar-se à feira Sabores da Nossa Terra aos fins de semana, agora pode fazê-lo a pé. Espaço
EB2 Quinta do Conde
EN10 Azeitão Transportes públicos
O projeto, que se iniciou em 2018, e está praticamente concluído, desenvolveu-se exatamente numa lógica de rede. Para isso foram aproveitados e requalificados troços já existentes e ligados entre si, tendo em conta equipamentos, comércio, serviços, habitação e rede de transporte público.
Skate Parque
jal que queira ir ao Parque, pode fazê-lo a pé, com paragem no Parque da Corredoura, por exemplo. Zona O mesmo acontece para os alunos. Sem estas licomercial gações, o percurso entre as zonas residenciais de Santana, Corredoura e Cotovia, não mantinha uma continuidade e era acidentado e comportava riscos, sobretudo na zona da Moagem de Sampaio. Agora estas ligações podem ser feitas em segurança e numa lógica de rede. Este trabalho está a ser desenvolvido também na Quinta do Conde, com a criação de um corredor ao longo da Estrada Nacional 10, principal eixo viário da freguesia, na Azoia, entre Santana e a Aiana e nalgumas zonas da vila de Sesimbra. No total, foram construídos cerca de 12 quilómetros de passeios nas freguesias de Santiago e do Castelo e três quilómetros na Quinta do Conde, obra que ainda está em curso. No Castelo e Santiago, o investimento foi superior a 2 milhões de euros, enquanto na Quinta do Conde, é de meio milhão de euros. Para além das obras integradas nestas candidaturas, a autarquia está a avançar com a construção de passeios noutras zonas, de que são exemplo o troço que liga o Parque de Merendas João David e o Castelo de Sesimbra, ou a zona circundante ao Parque dos Sobreiros, na Quintinha. A criação destes corredores pedonais é um incentivo à alteração dos hábitos de mobilidade e à redução do uso do automóvel, com consequências positivas para o ambiente.
Zambujal
Acesso Parque da Várzea
Parque Ecológico da Várzea
Transpo público
EB2 Quinta do Conde EN10 Azeitão Transportes públicos
mobilida de
Escola Sampaio Zona comercial
Moagem de Sampaio
Acessos escolas
Santana – Sampaio
Parque Augusto Pólvora, Maçã
Sampaio – Maçã
A ligação entre Santana e Sampaio era uma das mais
Igrejaproblemáticas deste conjunto, devido à existência de muros da Corredoura muito próximos da faixa de rodagem. Resolvido o acesso
CAIES
em rampa no terreno da Moagem, e recuados vários muros, Posto foi possível construir um passeio que permite deslocações Junta seguras até à zona das escolas com ligação ao transporte Correios público. O percursoFreguesia tem continuidade até ao Parque Augusto Pólvora e Maçã.
A Maçã era outra das zonas que, apesar de estar muito próxima de Sampaio, não tinha ligação pedonal. Atualmente, para além do passeio existem resguardos que aumentam a segurança dos moradores. Zona
comercial
d
EN10 Coina
ortes os
Skate Parque
Acesso Parque da Várzea
Zona comercial
EN10 Coina
Quinta do Conde
Parque Ecológico da Várzea
Transportes públicos
Na Quinta do Conde, e no âmbito de uma outra candidatura (HUB10), foi desenvolvido um corredor ao longo de toda a Estrada Nacional 10, principal eixo viário da região. O desenho do percurso teve em conta a interligação com os transportes públicos, equipamentos e serviços.
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edifício da rua Dr. aníbal esmeriz
Aqui mora a história! Recebeu a primeira sessão pública de cinema em Sesimbra, foi edifício de habitação, sede de movimento associativo e repartição de finanças. Albergou a tradicional Mercearia Ideal e a cervejaria com o mesmo nome. Esteve para ser sede do Museu Municipal, mas acabou por transformar-se em galeria de arte temporária, enquanto assistia à elaboração de um projeto para Unidade de Saúde que acabou por não avançar. Em 2020, voltou à alçada do Museu, desta vez como Centro de Conhecimento e Cultura Marítima, que recriará a mítica Mercearia Ideal. É um final feliz para um dos mais belos edifícios da vila e um novo capítulo para este imóvel, que continuará a preservar a memória coletiva da comunidade sesimbrense.
patrimóni o
e
«
m criança, eu e o meu irmão Luís jogávamos no corredor de casa com uma bola de trapos feita pela minha mãe. O jogo parava quando ouvíamos o funcionário das finanças, que ficava no andar de baixo, bater insistentemente com um cabo de vassoura no teto». Esta é uma das memórias que João Vasco, ator, fundador e atual diretor do Teatro Experimental de Cascais, guarda do emblemático edifício da Rua Dr. Aníbal Esmeriz, imóvel com mais de um século de história e que está, intimamente, associado à sua infância. «Nasci e vivi neste edifício nos primeiros 8 anos da minha vida, com os meus pais e mais sete irmãos. Os primeiros dois nasceram noutra casa na vila, e os restantes seis num dos quartos desta habitação», conta. A casa ocupa va todo o piso superior, tinha vários quartos ao longo de um corredor e duas grandes salas. Uma delas tinha janelas para o Largo 5 de Outubro, e outra para o Largo José António Pereira. «Este corredor era tão grande que de noite tornava-se assustador. De tal forma que, para nos deslocarmos de um lado ao outro da casa, levávamos candeeiros porque não havia luz elétrica. Com a mudança da família para Cascais, a antiga casa passou a ser residência de férias, durante vários anos.
O edifício, construído em finais do século XIX, destaca-se pela sua imponência e beleza. Guarda também muitas histórias que se cruzam com a memória coletiva da vila de Sesimbra.
O Animatógrafo Mas o edifício, construído em finais do sécu lo XIX na Rua Dr. Aníbal Esmeriz, propriedade do município desde 1999, que se destaca pela sua imponência e beleza na malha urbana sesimbrense, guarda muitas outras histórias. Algumas cruzam-se com a própria memória
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Fotografia do edifício Anos 60
Foto: D.R.
coletiva da vila piscatória, como é o caso da primeira projeção pública de cinema. O animatógrafo, como era designado, situava-se no rés-do-chão e tinha entrada pelo Largo 5 de Outubro. «Tratava-se de instalações precárias, de um espaço exíguo, desconfortável, com cadeiras amovíveis e iluminado por candeeiros “Petromax” que tinham de apagar-se para o início do espetáculo e voltar a acender-se para que se fizesse a saída ordenada dos espectadores», descreve António Reis Marques, um dos maiores conhecedores da história de Sesimbra, num artigo publicado na agenda Sesimbr´Acontece, de abril de 2007. O “cinema” saiu pouco tempo depois para o Salão de Recreio Popular, mesmo em frente, e a sala do antigo animatógrafo passaria a servir de armazém de apetrechos de um armador de pesca à baleia. Depois disso foi alugado, também com funções de armazém.
A Mercearia e Cervejaria Ideal Enquanto isto se passava no lado do jardim, no ponto oposto, no Largo José António Pereira, que o edifício partilhava com outro imóvel emblemático, o Clube Sesimbrense, ou Grémio, abria portas a Mercearia Ideal. João Vasco guarda boas memórias da pequena loja: «Tinha um balcão e móveis lindíssimos. Apesar da pequena dimensão, tinha um pouco de tudo. Era lá que os meus pais compravam muitos produtos para abastecer a casa», complementa. A mercearia, pertencia a Arménio Monteiro Coelho, empresário que explorava também o Café Central, situado no mesmo largo. Com a sua morte, em 1969, ficou entregue a António Abreu, antigo funcionário da loja. Mais tarde, este funcionário carismático estabeleceu sociedade com António Matias, com quem
patrimóni o prosseguiu com o negócio até ao encerramento do mesmo. «Café, chocolate, feijão e pimenta vendidos em avulso, tachos e panelas, bacalhau demolhado, detergentes e até farinhas e rações para animais eram alguns dos muitos artigos que ali se podiam encontrar», recorda Paula Caretas, que trabalhou na mercearia desde o início dos anos 90 até ao seu encerramento, ao lado do sr. António, que foi o “rosto” da Ideal durante várias décadas. Dos cerca de oito anos de “casa” lembra-se que os preços eram «muito em conta» e que, aos fins de semana, recebia sempre muitas pessoas do “campo” para levarem as farinhas e as rações para os animais. A Mercearia, encerrada mais recentemente, está ainda bem presente na memória da maioria dos sesimbrenses e de todos os que visitavam a vila. Muitos desconhecem, contudo, que num pequeno espaço ao lado da mesma funcionou, até à década de 50, a Cervejaria Ideal, pon-
to de encontro da comunidade piscatória. Parte da “essência” destes estabelecimentos ficou perpetuada no antigo mobiliário que foi removido numa operação morosa e delicada feita pela Câmara Municipal, na perspetiva de o preservar e voltar a utilizar, num projeto que está atualmente em curso.
A Repartição de Finanças A mercearia continuaria a funcionar até final do século XX, mas o mesmo não aconteceu com a Reparti ção de Finanças e a Tesouraria que terão ocupado uma parte do primeiro andar na década de 40, e no final da década de 60 foram transferidas para as atuais instalações, na Avenida Liberdade. Quem testemunhou este acontecimento na primeira pessoa foi João Feiticeiro, que tem atualmente 86 anos. «Vim para a repartição de Se-
Mercearia Ideal Anos 40/50
Foto: D.R.
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Fachada do edifício (pormenor)
Foto: D.R.
Interior da repartição de finanças Foto cedida por José Dias
No mesmo espaço onde mais de duas décadas funcionou a repartição de finanças, viria a instalar-se, mais tarde, a ANUFISE, associação dedicada ao colecionismo e numismática.
simbra em 1963, e trabalhei naquele prédio até passarmos para a avenida. Foi uma grande mudança porque o local onde trabalhávamos tornou-se pequeno. Na altura não existiam computadores, apenas máquinas de es crever. Tudo era mais moroso e muitas vezes tínhamos de ficar até depois do horário normal para organizarmos as pilhas de documentos que se acumulavam em cima das secretárias. Era muito cansativo, mas gostava do que fazia», lembra. José Dias, 75 anos, que também era funcionário das finanças, acompanhou igualmente esta mudança, e aponta outras razões. «Além de exí guas, as instalações já não ofereci am segurança», garante. Na altura, o trabalho das finanças era diferente do de hoje, recorda: «para além dos impostos que conhecemos, naquele tempo, os fumadores que pretendiam utilizar isqueiro tinham de se dirigir às finanças para obter a respetiva licença, tal como os proprietários de carros de bois e de carro-
ças, para poderem circular com os mesmos na via pública». O arquivo, instalado em duas pequenas salas do mesmo piso, estava repleto de processos.
A ANUFISE Quando mudou de instalações, José Dias estava longe de imaginar que, volvidos alguns anos, voltaria a retomar a ligação ao edifício da Rua Dr. Aníbal Esmeriz, mas na qualidade de sócio da Associação de Numismá tica e Filatélica de Sesimbra (ANUFISE), fundada em 20 de novembro de 1978, que viria a estabelecer-se exatamente no espaço ante riormente ocupado pelas antigas instalações das Finanças. «Chegámos a fazer naquele espaço várias exposições de selos, postais ou moedas que atraiam muitos interessados», recorda. A ANUFISE manteve-se em parte do primeiro piso durante, aproxima-
patrimón i o Mercearia Ideal (pormenor) Foto: D.R.
Edifício (pormenor)
Foto: D.R.
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Um edifício cheio de história
patrimóni o
Recebeu a primeira sessão pública de cinema em Sesimbra, foi armazém de pesca à baleia, prédio de habitação, albergou a repartição de finanças local e, mais recentemente, escolas de samba e a associação de colecionismo e numismática. No rés-do-chão, virada para o Largo José António Pereira, funcionou durante muitos anos a Mercearia Ideal, que em tempos foi também cervejaria. Esteve previsto para
sede do museu e Centro de Saúde, mas acabou por transformar-se temporariamente em galeria de arte. Em breve vai ser o Centro Cultural Costeiro, ligado ao Museu Marítimo. Eis o percurso de um edifício emblemático que vai continuar ligado à história da vila, da pesca e do mar de Sesimbra.
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Mala com rolos de música
damente, duas décadas, até à transferência para a Avenida dos Náufragos, na primeira década do milénio, onde ainda permanece. Paredes meias com a associação de colecionismo conviveram, entre 1982 e 1987, o Museu de Arqueologia, transferido do Castelo de Sesimbra, e algumas escolas de samba, que ali tiveram as suas sedes até, sensivelmente, 2008.
A misteriosa mala com rolos de música Em 2007, a Câmara Municipal de Sesimbra apresentou um conjunto de candidaturas para recuperação da Frente Marítima e do património edificado da vila de Sesimbra, nas quais se incluíam o restauro e reabilitação de três edifícios: Fortaleza de Santiago, Casa do Bispo e o edifício da Rua Dr. Aníbal Esmeriz, que teria funções ligadas ao Museu de Sesimbra. Na sequência desta intenção de reabilitar o imóvel, e devido ao avanço rápido dos sinais de degradação, a autarquia levou a cabo uma ampla ação de limpeza do interior, durante a qual foram descobertos documentos e objetos, bem como uma curiosa mala com vários rolos de pianola de
peças musicais. Os técnicos do Arquivo Municipal recolheram, analisaram e conservaram de imediato o achado. Depois de constatarem que se tratava de rolos para instrumentos de música mecânica, contactaram um especialista nesta matéria, Luís Cangueiro, o maior colecionador deste tipo de instrumentos em Portugal, e um verdadeiro apaixonado pela temática, tanto que atualmente é proprietário do Museu de Música Mecânica de Palmela. Deste contacto surgiu uma palestra sobre o tema e uma parceria que resultou numa exposição, que teve lugar na Capela do Espírito Santo dos Mareantes e contou com algumas das mais belas e raras peças propriedade deste colecionador e divulgador.
De centro de saúde a galeria de arte Quando se esperava pela aprovação da candidatura para recuperação do edifício, chegou então uma má notícia. O edifício da Rua Dr. Aníbal Es meriz estava fora do financiamento. Visto que já tinham sido feitas intervenções de limpeza e desmantelamento no interior, a Câmara Municipal teve que proceder a obras de consolidação estrutural, realizadas em 2013, com recurso a estruturas de ferro e betão armado no interior, mantendo-se a fachada. Uma vez que estavam garantidas as condições de segurança, surgiu então a ideia de criar, temporariamente, a Galeria em Projeto, mantendo o imóvel na esfera da promoção cultural. Nesta nova função, o es paço acolheu diversas exposições e atividades dinamizadas por artistas e associações locais, com destaque para o primeiro Zbigens – Fórum Local da Juventude, que contou com uma enorme participação e com o
patrimóni o
apresentador e animador de rádio Fernando Alvim, como dinamizador. No entanto, a urgência de um novo Centro de Saúde na vila fez com que a Câmara Municipal apresentasse um projeto que incluía uma solução com dois polos, um no edifício da Rua Dr. Aníbal Esmeriz, que seria cedido pela autarquia, e outro no antigo dispensário, na Rua Amélia Frade, propriedade do Ministério da Saúde. A elaboração do projeto avançou, mas a dificuldade em adaptar um prédio centenário às novas e exigentes funções, acabaram por não se concretizar, e o futuro do edifício ficou mais uma vez em suspenso.
De volta à proposta inicial A possibilidade de afetar o edificado ao Museu Marítimo voltou então a ganhar consistência com a apresentação de uma nova candidatura, desta feita, aos EEAGrants, mecanismo financeiro plurianual financiado pela Islândia, Liechtenstein e Norue-
ga, aprovada em 2021. O investimento é de 1,3 milhões de euros e o apoio de 750 mil. Objetivo: instalar no edifício o Centro de Conhecimento e Cultura Marítima – Centro Cultural Costeiro. O projeto prevê a criação de áreas reservadas às atividades do museu, que incluem espaços para acolher as coleções de arqueologia e etnografia, laboratório de investigação e restauro, zonas de usufruto público, tais como reserva visitável, e salas multiusos para exposições, eventos e atividades educativas. Irá também acolher ações de valorização do património cultural costeiro. No piso térreo, a antiga Mercearia Ideal será recuperada com o mobiliário original e no mesmo espaço passará a funcionar uma loja para venda de produtos locais. É, sem dúvida, o final feliz para um lugar com uma história incrível, que assistiu e participou em mais de um século da história de Sesimbra. Para confirmar e fortalecer esta relevância, no final de 2021 chegou a mais que merecida classificação como Monumento de Interesse Municipal.
Primeiro Zbigens – Fórum Local da Juventude
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F i lo m en a Go mes
A TRIATLETA DE FERRO Quando fez 40 anos, Filomena Gomes decidiu assinalar a data de forma inesquecível: preparar-se para a sua primeira prova IronMan. Cumpriu o desafio e, aos 52 anos, já completou dez provas com 3,8 quilómetros a nadar, 180 km a pedalar e 42 quilómetros a correr. Tem muitos quilómetros pedalados nas condições mais adversas, mas só com a pandemia olhou para a bicicleta como meio de transporte para a mobilidade de todos os dias, entre casa, na Quinta do Conde, e o trabalho, em Lisboa.
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percurso desta triatleta é tudo menos previsível. Na infância e juventude não praticava desporto e uma das primeiras ligações com a Federação Portuguesa de Triatlo foi para fazer traduções. Aos 40 anos decidiu marcar o aniversário com um plano de vida diferente: a preparação para o seu primeiro IronMan, um dos triatlos mais duros, onde teve que nadar 3,8 quilómetros, pedalar 180 quilómetros e correr 42,2 quilómetros o equivalente à maratona. Aos 52 anos é a única mulher portuguesa a ter a ambicionada camisola preta numa das provas com as distâncias IronMan mais duras do mundo, na Noruega. Curiosamente, «em toda a minha infância não houve nada que me puxasse para o desporto e na minha família muito menos, são todos sedentários», conta a sorrir. A sua paixão passava pela área das «humanísticas» e foi por aqui que começou. «Licenci ei-me em Línguas e Literatura», explica. Deu aulas um ano e percebeu que não era esse o seu futuro. Seguiu a carreira militar, ingressou no Exército, onde foi uma das primeiras mulheres, e este foi o momento de viragem. «Já gostava de nadar, mas foi nesta fase da vida que reforçei o gosto pelo desporto». Começou a correr, já nadava e só depois chega a paixão pelas bicicletas. «As mulheres não andavam muito de bicicleta na altura», estamos a falar de final da década de 90. Começou pela orientação em BTT até chegar «às corridas de aventura, que já reuniam várias modalidades como trail, BTT, canoagem, rappel, slide». Aqui começou todo um percurso de foco e superação até ser a triatleta que é hoje, com treinos diários que começam muito cedo, às vezes às 6 da manhã, com natação, treino de ginásio ou corrida à hora de almoço e bicicleta ao fim do dia. Pelo meio tem o seu trabalho na Polícia Judiciária. Uma disciplina rigorosa que lhe permitiu sagrar-se Campeã Mundial de Triatlo Cross em outubro de 2021.
Começou a correr, já nadava e só depois chega a paixão pelas bicicletas. «As mulheres não andavam muito de bicicleta na altura», estamos a falar de final da década de 90. Começa pela orientação em BTT até chegar «às corridas de aventura, que já reuniam várias modalidades como trail, BTT, canoagem, rappel, slide».
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48 ABRIL 2022 SESIMBRA n.º 1
A rotina de treinos passa pela sua piscina «privativa», como batizou a Lagoa de Albufeira. Uma das suas conquistas mais marcantes foi a participação no Norseman Xtreme Triathlon, em 2019, na Noruega, naquela que é considerada uma das provas de distância IronMan mais exigentes. O início indicia a dificuldade que os atletas têm que enfrentar. «Há duas coisas que ninguém po de dissociar do Norseman, quando a prova começa, às 4.45 ho ras da madrugada, é noite cerrada e saltamos de um ferry no meio do escuro para dentro de água sem ver nada, nos fior des. E na bicicleta e mara to na en frentamos um desnível acu mulado de 5 mil metros. A partir dos 36 quilómetros é trail puro e duro, que acaba no topo da montanha com muito frio». A maior vitória é mesmo terminar. Mas Filomena Gomes consegue mais, torna-se a primeira mulher portuguesa a ganhar a t-shirt pre ta desta prova, o que significa que estava entre os 160 partici pantes que chegaram primeiro aos 32.5 quilómetros «Esta era para mim a meta real». Nunca uma subida de montanha, com um piso feito de calhaus, apesar de penosa, lhe soube tão bem. O sentimento «é brutal», resu me, lembrando a equipa de apoio com as duas pessoas que, na etapa final, tornaram possível es ta superação. Apesar destas conquistas feitas de mérito, entrega e muito trabalho, Filomena Gomes transmite a serenidade e humildade de quem, pela sua paixão, consegue fazer tudo parecer mais fácil. Os bons re sultados alcançados pemitiram o seu apuramento para o Cam
peonato Mundial Ironman de 2022, o sonho de todos os tria tletas «Este ano vou viver para a prova do Hawai, em outubro de 2022», que é a prova rainha do IronMan, onde a competição começou em 1978, e onde todos os melhores atletas do mundo querem estar. Filomena é uma das qualificadas. Um feito, principalmente quando falamos de uma atleta feminina. Até lá vai continuar com a sua rotina de treinos na sua piscina «privativa», como batizou a Lagoa de Albufeira, a correr e a pedalar, sempre com partida da Quinta do Conde.
Pedalar a caminho do trabalho Já nadou, pedalou e correu milhares de quilómetros, mas foram os tempos pandémicos que a levaram a olhar para as bicicletas que tem em casa com outros olhos. Passaram a tomar o lugar do carro nas pequenas deslocações, alterando por completo a forma como se desloca no seu dia-a-dia. «Vivo há 18 anos na Quinta do Conde, os meus pais tinham aqui casa, vinha cá passar o fim-de-semana e sempre gostei muito. Assim que pude vim morar para a margem sul, ou seja, para a Quinta do Conde. Para além disso, Sesimbra sempre foi a minha praia, assim como a Figueirinha ou Galapos», conta. Há um fator decisivo para viver na Quinta do Conde. «Sempre trabalhei em Lisboa, e do
ponto de vista da mobilidade, devido à proximidade da estação, este era o local mais lógico, aqui tenho tudo, não nos falta nada. Nunca me arrependi, noutro local precisava do carro para tudo». Adepta dos transportes públicos, foi durante a pandemia que mudou uma das suas principais rotinas. «Comecei a usar a bicicleta para ir para o trabalho. Passou a ser a opção mais viável, pois não me misturava com tanta gente e comecei a perceber que ganhava muito tempo, no trajeto que faço até à estação», garante. «Ao fim do dia às vezes para fazer menos de um quilómetro demorava, de carro, mais de 20 minutos». Esta é uma alteração sem retorno. «Já não me vejo a andar de carro nestes percursos. Não tenho gastos com portagem, combustível e não contribuo para a poluição. E acrescenta «vou na minha calma, o mais devagar que posso, sou ultrapassada por trotinetas, bicicletas alugadas, senhoras de bicicleta com cestinho». Só gostava que os automobilistas respeitassem mais os ciclistas. Quem passa por Filomena na estrada, a pedalar na sua roupa do trabalho, de mochila às costas e capacete, nem imagina que está a circular ao lado da triatleta que faz algumas das mais duras provas desportivas que existem. Já fez travessias na Patagónia, Islândia, Jordânia ou África do Sul, porque até mesmo as férias são sempre a pedalar, para esta verdadeira iron woman.
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Grande Rota da Arrábida O concelho de Sesimbra vai ser atravessado pela Grande Rota da Arrábida, projeto de turismo de natureza desenvolvido em estreita colaboração com os municípios de Palmela e Setúbal e Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. É uma rota com cerca de 80 quilómetros, devidamente assinalados e com painéis interpretativos que ajudam a compreender a fauna, flora, história e tradições desta vasta região. No caso de Sesimbra, esta rota vai depois ligar à Grande Rota Atlântica, até ao concelho de Almada, mais propriamente, a Trafaria. É um projeto que permite preservar o valioso património natural da região e, ao mesmo tempo, potenciar um tipo de turismo sustentável. Na próxima edição da revista Sesimbra serão desvendados alguns dos mais belos recantos deste percurso.
Estação Náutica O mar é o principal recurso económico do país e, naturalmente, do concelho de Sesimbra que, para além dos excelentes resultados que apresenta anualmente no setor das pescas, começa também a afirmar-se como um polo de excelência de atividades marítimo-turísticas. Para potenciar estas atividades, com um peso cada vez maior na economia local, a Câmara Municipal e um conjunto de parceiros públicos e privados associaram-se à rede de estações náuticas de Portugal, um projeto de promoção da economia do mar que vamos conhecer.
Rede Viária
Igualdade
O concelho de Sesimbra tem cerca de 500 quilómetros de rede viária dividida por 1500 ruas. 146 na freguesia de Santiago, 1028 no Castelo e 363 na Quinta do Conde. É uma infraestrutura de grandes dimensões essencial para pequenas deslocações diárias, mas também para o funcionamento da economia local. Se excluirmos as estradas nacionais 377, entre Marco do Grilo e Zambujal, 378, entre o Fogueteiro e a vila de Sesimbra, e 379, entre Alto das Vinhas e Palmela, toda a restante rede é responsabilidade do município. Como é mantida e melhorada esta imensa rede, que nos permite deslocar por todo o concelho, é um dos temas do próximo número.
Sabia que no nosso concelho, 60 por cento das pessoas inscritas no centro de emprego são mulheres? E que dos 79 treinadores existentes nas associações desportivas, apenas duas ou três são mulheres. Que a diferença de remuneração média das mulheres face aos homens, em Sesimbra é de 21 por cento? Na próxima edição vamos fazer um retrato da igualdade, tendo como ponto de partida o Plano Municipal para a Igualdade que está a ser desenvolvido no concelho, e que nos vai ajudar a perceber o porquê destas diferenças e quais as boas práticas para conseguir a igualdade de oportunidades.
Mais e melhor transporte público Carregadores USB, rede WI-FI, ar condicionado, painel informativo digital com aviso de próxima paragem e condições melhoradas para passageiros com mobilidade reduzida são algumas das caraterísticas que se destacam nos autocarros da Carris Metropolitana, o novo operador de transportes da Área Metropolitana de Lisboa, que começarão a circular no concelho de Sesimbra no dia 1 de julho. A partir desta data os autocarros brancos da TST que conhecemos sairão de circulação para dar lugar aos veículos de tom amarelo forte, com logótipo da Carris Metropolitana.
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Participação e Cidadania
IDENTIFICAR COMUNICAR
ACOMPANHAR RESOLVER
RÁPIDO
SIMPLES
A qualquer hora Em qualquer local
FÁCIL
A partir do telemóvel ou computador
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SESIMBRA Paços do Concelho, Rua da República, n.º 3 Horário: segunda a sexta, das 8 às 18.30h sábado, das 8.30 às 13h
Q U I N TA D O C O N D E Edifício do Mercado Municipal, Av. Manuel de Arriaga Horário: segunda a sexta, das 8 às 18.30h sábado, das 8.30 às 13h
MÓVEL Consulte os horários em www.sesimbra.pt
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