Revista Sesimbra nº 2

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Igualdade

Teremos todas e todos as mesmas oportunidades? Ser mulher ou ser homem ainda influencia salários, tempo dedicado a tarefas domésticas e escolhas profissionais?

REGRESSO ÀS AULAS

Rede viária

Com mais de 500 quilómetros de estradas e 1600 ruas, a rede viária do concelho é uma das maiores e mais importantes infraestruturas do município.

Arte e tradição

Ah, Oh, Arreia-me da Mão, Andas à Zinga, Atão Soce! são expressões sesimbrenses que o artista João Cruz recuperou e espalhou pelo espaço público da vila de Sesimbra.

INFORMAÇÃO PARTICIPAÇÃO CIDADANIA n.º 2 OUTUBRO 2022 TRIMESTRAL _ Edição Câmara Municipal de Sesimbra
EDIÇÃO E PROPRIEDADE Câmara Municipal de Sesimbra DIRETOR Francisco Jesus (Presidente da Câmara Municipal de Sesimbra) COORDENAÇÃO, REDAÇÃO, PAGINAÇÃO, FOTOGRAFIA, REVISÃO, SECRETARIADO, DISTRIBUIÇÃO E DESIGN GRÁFICO Divisão de Informação e Relações Públicas (DIRP) MORADA Avenida da Liberdade, n.º 7 - 2970-635 Sesimbra TELEFONE 21 151 72 67 E-MAIL informacao@cm-sesimbra.pt CAPA Bruno Campos PRÉ-IMPRESSÃO E IMPRESSÃO Jorge Fernandes, L.da PERIODICIDADE Trimestral TIRAGEM 7500 exemplares DEPÓSITO LEGAL 134399/99 ISSN 1646-6632 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
3 ÍNDICE 18 TRANSPORTES A Bordo da Nova Urbana da Quinta do Conde 24 HISTÓRIA Cabos Submarinos em Sesimbra 30 EDUCAÇÃO Entrevista com Felícia Costa 52 SABORES Tamarina é Doce Tradicional 40 IGUALDADE Sesimbra Um Concelho + Igual 46 TRADIÇÕES Atão Soce! 63 INFORMAÇÕES 56 ENTREVISTA Violeta Lapa Sonhar o Mar 62 ATÉ À PRÓXIMA 04 EDITORIAL 06 OBJETIVA Smile assina mural em Sesimbra 08 CURTAS 10 MOBILIDADE Uma Rede em Constante Transformação

EDITOR

IAL
Francisco Jesus Presidente da Câmara Municipal de Sesimbra

O VERDADEIRO “INÍCIO DO ANO”

Depois de um verão em cheio, com retoma acentuada do turismo, arrancou mais um ciclo letivo que, para a maioria das famílias, foi o verdadeiro “início do ano”. A azáfama do regresso à escola e às atividades complementares, os novos horários e rotinas tornam os meses de setembro e outubro muito intensos, tanto para crianças e jovens como para os pais, professores, auxiliares e todos os trabalhadores que compõem a comunidade educativa do concelho.

Para a Câmara Municipal, este foi o primeiro início de ano letivo depois de uma transferência de competências para os municípios que ocorreu em abril, ainda com as aulas a decorrer. Apesar de não concordarmos com o modelo de descentralização implementado, e de termos tornado pública a nossa opinião, encarámos esta circunstância com toda a responsabilidade e conseguimos que a transição fosse pacífica. Em pouco tempo, integrámos três centenas de novos trabalhadores não docentes nos quadros da autarquia, provenientes do Ministério da Educação, abrimos concursos para suprimir faltas por baixas prolongadas e implementámos uma nova plataforma digital. Às 16 escolas do primeiro ciclo e jardins de infância que até agora estavam sob gestão municipal, juntaram-se mais seis escolas do 2.º e 3.º Ciclo e ensino secundário. São mais seis equipamentos que, em muitos casos, como se sabe, precisam ser requalificados. Em entrevista, a vereadora do Pelouro da Educação, Felícia Costa, explica como decorreu este processo e de que forma vai ser necessário responder a este enorme desafio, tanto em termos financeiros como operacionais,

para que os nossos jovens tenham a escola pública que merecem. Muitos ainda se lembram da vila de Sesimbra com apenas um acesso, a subida para Santana, da Quinta do Conde totalmente em terra batida, ou da antiga estrada da Apostiça até ao Marco do Grilo, que ainda hoje é visível, embora encerrada e em domínio privado. Neste segundo número da revista Sesimbra, fizemos uma viagem por alguns dos momentos mais importantes da história da construção da maior infraestrutura do município, que todos usamos diariamente e que nos permite deslocar comodamente de um ponto para outro. Hoje, a nossa rede viária tem uma extensão de mais de 500 quilómetros, cerca de 1600 ruas e milhares de sinais que organizam o trânsito. Mostramos o trabalho constante para que estas vias, sujeitas a uma pressão diária, se mantenham em boas condições de circulação.

O projeto Arte na Rua nasceu há oito anos e, desde então, tem-nos surpreendido com trabalhos fantásticos espalhados por toda a vila de Sesimbra. Fomos conhecer este projeto, com um dos artistas que lhe tem dado forma. João Cruz sesimbrense, recriou, em caixas de eletricidade, algumas das figuras mais emblemáticas da sua terra, associando-as a expressões emblemáticas e conhecidas de todos. Estas peças inspiraram depois uma coleção de objetos com a marca Yes Sesimbra, que, de uma forma original, promove Sesimbra e as suas tradições. Estes são alguns dos temas desta edição.

Por último, desejo a toda a comunidade educativa os maiores êxitos neste novo ano letivo que acabou de se iniciar.

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Smile a SS ina mural em Se S imbra

No mural com mais de 20 metros de altura, localizado no terminal rodoviário de Sesimbra, destacam-se um grande autocarro amarelo e os nomes de bairros e pontos de interesse bem conhecidos da vila piscatória. Trata-se da pintura assinada por Smile (Ivo Santos), reconhecido artista de arte urbana, realizada no âmbito da entrada em funcionamento da Carris Metropolitana no concelho. «Nunca tinha pintado em Sesimbra e senti a responsabilidade de vir em grande», explica Ivo Santos, que aceitou ter como “tela” a parede de um prédio de oito andares, «o maior edifício que pintei atá agora». Com recurso a uma plataforma suspensa, Smile traçou a sua primeira obra de arte, a sua primeira intervenção no concelho de Sesimbra.

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PATRIMÓNIO No trilho dos dinossauros

O município de Sesimbra é reconhecido pelo seu valioso património paleontológico, devido às jazidas de pegadas de dinossauros existentes na Pedreira do Avelino, no Zambujal, e nos Lagosteiros e na Pedra da Mua, no Cabo Espichel, classificadas como monumentos naturais há 25 anos. Foi precisamente esta a temática escolhida para uma das principais iniciativas organizadas no âmbito das Jornadas Europeias do Património, o Encontro Internacional de Paleontologia, que se realizou no Auditório Conde de Ferreira, nos dias 23 e 24 de setembro, e juntou representantes de várias universidades portuguesas e investigadores internacionais.

Um património para conhecer e preservar.

PRODUTOS LOCAIS Fruta da Época: a Maçã Camoesa

Com o outono chegam as primeiras maçãs camoesas. Fruta da época colhida nos pomares do concelho pelos produtores locais, em particular na zona do Cabo Espichel. Trata-se de uma variedade típica da Azoia, que se carateriza pela mancha vermelha na zona da casca onde incide o sol, pela sua polpa branca, de sabor ácido e consistência firme.

É também conhecida como «maçã de inverno», devido à tradição de ser colocada em cima dos armários para perfumar as casas, a amadurecer até ao Natal.

A Maçã Camoesa é uma das marcas registadas pela autarquia com o objetivo de promover a sua produção e salvaguardar as nossas tradições e saber fazer. Neste outono aproveite para provar os sabores cá da terra, seja a maçã camoesa, os doces ou o estaladiço pão cozido num forno a lenha do concelho.

CULTURA Nova temporada no Cineteatro

A nova temporada do Cineteatro Municipal João Mota teve início no dia 30 de setembro com um concerto intimista de Rui Veloso, que se apresentou num formato único, com trio de guitarras, para interpretar alguns dos seus maiores sucessos. O espetáculo faz parte do conjunto variado de propostas que compõe a programação da maior sala de espetáculos do concelho. Até maio de 2023 nomes bem conhecidos do público como António Calvário, Luisa Sobral ou José Cid, assim como a nossa «Gente de Cá», de que faz parte Diogo Sargedas, Joana Carmo ou Mariana Guimarães.

A oferta para o público infantil continua, com a qualidade e regularidade a que as famílias já se habituaram e mantêmse as propostas feitas pelos Olharápios, os espetadores ativos do Cineteatro.

A programação está disponível na revista da temporada, em papel e formato digital.

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Casa do Infantado, na Lagoa de Albufeira, passa para o município

«Ao romper do dia chegávamos à lagoa que estava coberta com um lençol de nevoeiro e que a gente vê de repente achando-se junto dela ao desembocar de uma clareira. Não imaginas o efeito deste grande lago no meio da charneca em q. se não avista uma só casa em toda a extensão do horizonte, além do pequeno prédio abarracado q. o rei D. Pedro V mandou fazer para ir lá caçar à beira da lagoa! A barca da lagoa com o guarda esperava-nos para nos levar para o prediozinho de D. Pedro V para onde nós íamos». É assim que o escritor Ramalho Ortigão descreve, em Cartas a Emília, a Lagoa de Albufeira e a Casa do Infantado, mandada construir por D. Pedro como retiro de caça, e cuja ruína vai passar para posse do município, permitindo concretizar o programa de valorização deste edifício, que prevê a instalação de um centro de interpretação da Área Protegida Local da Lagoa de Albufeira, e um posto de informação turística

DESPORTO Corrida de São Silvestre

Até meados da década de 70 do século XX, a noite de 31 de dezembro, ou noite de São Silvestre, como também se designava, costumava ser animada com a tradicional Corrida de São Silvestre na vila de Sesimbra. Embora não se realizasse todos os anos, a iniciativa suscitava sempre muito interesse junto da população, que na noite de passagem de ano enchia as ruas para assistir a uma prova muito competitiva, que juntava habitualmente, um grande número de atletas. Passados mais de 40 anos, a Corrida de São Silvestre regressa às ruas da vila, desta feita, na noite de 8 de dezembro, feriado, com um percurso que vai percorrer as ruas da “Piscosa”. Tal como antes, a prova deverá juntar centenas de atletas e constituirá mais um grande momento desportivo e de convívio, à semelhança da Travessia da Baía, em natação, que se tornou numa das melhores provas de natação de mar, do país.

As inscrições estão abertas até 1 de dezembro. A Corrida de São Silvestre é organizada pela associação Limited Edition, com apoio da Câmara Municipal de Sesimbra e diversas entidades.

JUVENTUDE Quinta do Conde recebeu Fórum Local

O Anfiteatro da Boa Água, na Quinta do Conde, recebeu nos dias 17 e 18 de setembro o festival Zbigens. Desporto, música, teatro, exposições, massagens, tatuagens, graffiti, pinturas faciais, performances, workshops, petiscos e muita arte tornaram estes dois dias especiais.Foi ao som da vuvuzela que arrancou um dos principais momentos do evento, o Zbigens - Fórum Local de Juventude, onde muitos participantes partilharam as suas preocupações, projetos, anseios e ideias para o concelho, em particular para a freguesia anfitriã desta edição: a Quinta do Conde. A escutar atentamente as várias propostas esteve o presidente da Câmara Municipal, Francisco Jesus, que destacou a importância deste tipo de iniciativas. «É muito importante colocar os jovens a falar uns com os outros, em rede, com a participação da Câmara como facilitadora». As propostas apresentadas foram várias, desde a necessidade de haver mais espaços para criação artística, novos equipamentos culturais locais para networking e coworking, passando pela ideia da promoção de um grande evento de skate ou a urgência da construção de uma nova escola secundária na Quinta do Conde. Maria Seixas Correia, locutora da Mega Hits e apresentadora do programa Curto Circuito, foi a moderadora do Fórum Local de Juventude.

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uma rede em conStante renovação

O concelho de Sesimbra tem perto de 500 quilómetros de estradas e uma rede viária municipal constituída por mais de 1600 ruas. Mantê-las em boas condições é um desafio permanente para a autarquia, que nos últimos anos investiu milhões de euros na melhoria desta infraestrutura. Este investimento permitiu “encurtar” distâncias e melhorar a qualidade de vida das populações. Embora seja uma tarefa que nunca se pode dar por concluída, a realidade é, hoje, bem diferente daquela que existia há alguns anos.

até à segunda metade do século XX, a ligação viária em alcatrão entre a vila de Sesimbra e a zona rural do município resumia-se à “estra da de Santana”. Grande parte das mercadorias que abasteciam a vila chegavam por esta via. O mesmo acontecia com os produtos da “piscosa”, sobretudo o peixe, que se destinava às aldeias vizinhas do “campo” e a localidades mais distan tes, como Azeitão, Setúbal ou mesmo Lisboa.

«Ainda me lembro dos almocreves virem de carroça até ao largo onde mais tarde foi cons truído o quartel dos Bombeiros Voluntários de Sesimbra», recorda Aníbal Pinto, sesimbrense que se prepara para assinalar 91 anos, e que é dono de uma memória prodigiosa como, aliás, atestam alguns dos seus conterrâneos com quem partilha diariamente as vivências da comunidade junto à Sociedade Musical Se simbrense. «Ali ficavam à espera dos carros de bois que subiam a Rua Cândido dos Reis carre gados de caixas de madeira cheias de pescado leiloado na lota da praia, ou no Largo da Mari nha, quando não era possível fazê-lo no areal». Nessa altura eram necessárias algumas ho ras para o pescado percorrer distâncias que a melhoria da rede viária e o automóvel ajuda ram a encurtar com o passar dos anos.

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Aníbal Pinto recorda que vinham carroças de Azeitão puxadas por burros, por vezes, apinhadas com cinco e seis compradores de peixe de Sesimbra, conhecido pela sua qualidade. «Para o manter fresco, e como não tínhamos gelo, colocá vamos areia molhada por cima. Era um truque que fazia todo o sentido porque as estradas não eram como hoje as conhecemos, e o transporte demorava por vezes várias horas a chegar aos mercados».

Nem mesmo a EN378 apresenta va o traçado atual. No vale da Apos tiça, os veículos vindos de Sesimbra tinham de voltar à esquerda para a estrada “velha”, que passava junto à central elevatória, e desembocava alguns metros antes da rotunda do Marco do Grilo. Tratava-se de um caminho sinuoso que só deixou de ser utilizado no início da década de 70, após a construção da “subida da Apostiça”, como passou a ser desig nada a ligação entre o vale da Apos tiça e a referida rotunda. A velha es trada, estreita e sinuosa ainda existe, junto à Estação de Abastecimen to, embora já não seja transitável.

Por essa altura, a rede viária da vila de Sesimbra já estava pratica mente consolidada, e a maioria das ruas pavimentadas. Parte delas ti nham, como ainda têm, o piso em pedrado, especialmente as do Nú cleo Urbano Antigo. Algumas foram entretanto requalificadas na última década, no âmbito de uma vasta operação alargada à marginal e a es paços emblemáticos, como os largos da Marinha e de Bombaldes. A re qualificação da Avenida dos Comba tentes e das ruas General Humberto Delgado, Heliodoro Salgado, Afonso Henriques e D. Sancho I, realizadas posteriormente, foram outras inter venções que contribuíram para a melhoria da rede viária na vila.

Castelo: Mais de 300 quilómetros de estrada

Ao final da tarde, Odete Moleta aproveita a pausa para comer um punhado de figos-moscatel de uma figueira que plantou há apenas qua tro anos, a alguns metros da sua ha

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Rua Forno da Cal de Santana

bitação, na Assenta, onde nasceu e vive há mais de 70 anos.

A tranquilidade é somente in terrompida pelo som de carros que sobem e descem a estrada que viu nascer há quase 50 anos, e pela qual batalhou incansavelmente. «Fui muitas vezes à Câmara recla mar a construção desta estrada, porque para irmos à vila tinha de ser a pé ou de burro por trilhos pelo meio dos terrenos», lembra. Chegou a percorrer o caminho romano, ou as “cataratas”, como é vulgarmente conhecido, que começava no sopé da encosta do Castelo, próximo do moinho, e desemboca no Alto de São João. «No inverno, que antes era bem mais frio e chuvoso do que atualmente, as idas e voltas eram penosas. Ficávamos completamente molhados, os sapatos enterravam-se nas poças de água e na lama, e de morávamos imenso tempo a chegar à vila e a casa», recorda Odete Mo leta, determinada e bem-disposta. Cansada de caminhar por entre bu racos, pó e lama, viu a estrada pela qual tanto lutou acabar por se con cretizar após o 25 de Abril de 1974.

A obra foi realizada pelos milita res e a via, conhecida como a “Es trada da Assenta”, passou a ligar a Corredoura à zona poente da vila. Porém, seria preciso esperar mais alguns anos para ser alcatroada. A vila, que parecia muito longe, pas sava a ficar a escassos minutos de dis tância. Por essa altura viria também a ser aberta aquela que seria batizada como Estrada de Argéis, que ligou a zona nascente da vila ao Facho de Santana, na freguesia do Castelo. Até então, este traçado nem sequer exis tia. Tal como acontecia na Assenta, os “pexitos” e “camponeses” desloca vam-se pelos trilhos que rasgavam a serra, e que serviam igualmente para o transporte de mercadorias em bur ros. Tal como na Assenta, o alcatrão só chegou mais tarde, mas a abertura deste novo acesso foi uma grande vi tória para as populações.

As ligações viárias entre a vila e o “campo” passavam de uma para três e eram agora melhores.

A realidade não era muito dife rente noutros locais da freguesia do Castelo, onde as vias asfaltadas eram raras.

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Santana - Centro

A estrada entre Santana e o Cabo Espichel era, a par das nacionais 378, 379 e, posteriormente, a 377, das poucas exceções. Regra geral, o piso das ruas era em terra batida, com os incómodos daí inerentes.

Só mais tarde, nas décadas de 80 e 90 do século XX, muitas rece beram piso betuminoso. Entre elas estava a Estrada do Movimento das Forças Armadas, alternativa entre o Facho da Azoia e a Aldeia do Meco, construída pelos militares, no final da década de 70.

O investimento na requalificação foi reforçado nos anos mais recen tes e, hoje, grande parte das ruas e estradas já têm asfalto novo ou re novado, muitas delas após as obras de instalação de saneamento básico, que em muitos casos envolveu tam bém a reabilitação da rede de abas tecimento de água.

Mas o trabalho de manter em boas condições uma rede viária tão

extensa na maior freguesia do con celho é permanente. Com uma área de, aproximadamente, 179 quilóme tros quadrados, a freguesia do Cas telo representa mais de 91 por cento da área total do município. É tam bém aquela com a maior extensão da rede viária municipal, com cerca de 350 quilómetros de vias, mais do dobro do que a Quinta do Conde, que tem 125, e dezasseis vezes maior que a freguesia de Santiago, a mais pequena em termos territoriais, com 22 quilómetros.

Excluindo as estradas nacionais 377, 378 e 379, da responsabilidade da empresa pública Infraestrutu ras de Portugal, a pavimentação e manutenção da restante rede viária que serve as populações desta fre guesia com agregados populacionais dispersos, está dependente do orça mento municipal. O desafio é enor me, mas o investimento tem sido uma prioridade da autarquia.

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Avenida da Liberdade (junto ao campo de futebol do G.D. Sesimbra)

Quinta do Conde: Começar praticamente do zero

Quando, em 9 de maio de 1985, a Assembleia da República, aprovou o projeto de Lei n.º 151/III, que criou a freguesia da Quinta do Conde, esta apresentava carências aos mais di versos níveis. A falta de equipamen tos públicos, água, saneamento e rede viária eram notórios, apesar de então já existirem construções espa lhadas por vários pontos, algumas delas nascidas nos primeiros anos da década de 70.

Embora beneficiasse de uma loca lização privilegiada junto à Estrada Nacional 10, no plano interno, a rede viária era constituída praticamente na totalidade por caminhos em terra batida, delimitados à medida que se iam construindo habitações.

«Nos primeiros anos da década de 80, a única via com pavimento em alcatrão era a Avenida Principal, que ligava a Estrada Nacional 10 à Avenida da Liberdade. Contudo, não tinha passeios e lancis», afirma Vítor Antunes, um dos primeiros morado

res da Quinta do Conde e presidente da Junta de Freguesia durante três mandatos, que acompanhou bem de perto o desenvolvimento e os acon tecimentos mais marcantes da fre guesia a que presidiu entre 2009 e 2021. No final da década de 80, a Câmara Municipal decidiu repavi mentar esta avenida. Pouco depois avançou a da Avenida da Liberdade, outro dos principais acessos da vila, estatuto que a Assembleia da Repú blica aprovou por unanimidade no dia 21 de junho de 1995.

A circulação tornou-se mais segu ra mas, mais importante, melhorou a qualidade de vida dos moradores e abriu caminho para outras obras se melhantes. A década de 90 marcaria decisivamente a melhoria da rede viária na freguesia, com a pavimen tação de dezenas de vias. Este inves timento continuou no início do novo milénio, para o que contribuiu o es tudo de ordenamento e estaciona mento da iniciativa do então verea dor do pelouro do trânsito, Augusto Pólvora. A vila, que há menos de 20 anos tinha a maioria das artérias em terra batida, ficou com a maior parte delas com o piso em alcatrão.

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Rua do Funchal (Quinta do Conde)

Subsistia, no entanto, outro pro blema: as ligações à EN10 que, além de provocarem constrangimentos de trânsito, chegaram a causar aciden tes, alguns dos quais com gravidade.

Apesar dos semáforos colocados em 1995 no cruzamento da Avenida Principal com a EN10, só em 2006, com a construção do Nó Desnivelado, a situação melhorou na principal por ta de entrada e saída da vila. O mesmo aconteceu no acesso à Cova dos Vi dros, devido à cedência, por parte da autarquia, do terreno que permitiu a construção de uma rotunda.

Solucionado o problema, a Câmara Municipal passou a priorizar a requa

lificação da rede viária de várias zonas da vila, sobretudo de ruas com o pavi mento mais antigo e desgastado.

Mais recentemente, a pavimen tação de vias estruturantes no Ca sal do Sapo constituiu mais um pas so na requalificação da Quinta do Conde, freguesia que oferece, hoje, uma qualidade de vida que ainda há pouco mais de 30 anos parecia uma miragem.

Muito mais do que apenas alcatrão

Quando se prepara a requalifica ção de uma via, o trabalho vai muito para além da colocação ou renova ção do pavimento. A obra pode en globar reabilitação de condutas de água e coletores de esgotos domés ticos, alguns com dezenas de anos, que apresentam maior probabilida de de roturas, bem como construção de passeios e instalação de sinaliza ção viária, infraestruturas elétricas e de telecomunicações. Não é apenas uma obra de pavimentação, mas são operações mais complexas e abran gentes que obedecem a um planea

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Rua da Bela Vista (Pinhal do General) Avenida da Liberdade (Quinta do Conde)

mento rigoroso que envolve vários serviços da autarquia e, geralmente, outras entidades. Naturalmente que este procedimento torna alguns pro cessos mais morosos, mas é necessá rio para diminuir imprevisibilidades. Ou seja, só depois da conclusão das infraestruturas subterrâneas é que avançam as pavimentações. Aten dendo a que a rede viária do concelho é composta por mais de 1600 estradas, ruas, largos e pracetas, é mais fácil perceber o grau de exigên cia desta tarefa permanente. O in vestimento da autarquia na melhoria da rede viária tem sido constante.

Responsabilidade da Administração Central

São necessárias infraestruturas viárias, há muito identificadas, para o desenvolvimento do concelho que são responsabilidade da Administra ção Central. O relatório final do Pla no de Acessibilidades do Concelho de Sesimbra, datado de 2013, aponta várias prioridades. Uma delas é a variante Carrasqueira Porto de Abrigo, essencial para as atividades centra­

das na área da economia do mar, encimadas pela pesca e comércio de pescado, bem como turismo náutico. A variante também permitiria retirar trânsito, especialmente de veículos pesados, da Cotovia, Santana ou da própria vila de Sesimbra, o que bene ficiaria a circulação e melhor distri buiria o desgaste do pavimento des tas estradas. A duplicação da EN378, a beneficiação da EN377 e o reforço das ligações à A2 são outras interven ções elencadas no documento, e que são há muito reivindicadas pelos ór gãos autárquicos locais.

Estrada dos Murtinhais (Alfarim-Lagoa de Albufeira)

Estrada do Cabo Espichel (Azoia)

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bordo da nova

da Quinta do conde

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«urbana»
A bordo da 3222, a nova, e primeira, carreira urbana da Quinta do Conde, fazemos a viagem no primeiro autocarro a ligar os principais pontos da freguesia, num percurso que parte do mercado municipal, passa por escolas, farmácias e zonas comerciais.

ma senhora com o carrinho das compras pela mão espreita pela porta da carreira 3222. «Te nho uma dúvida, esta carreira passa pelos Mistérios do Pão? Venho ao mercado e quan do estou muito carregada dá-me jeito».

A curiosidade ainda é grande em relação à primeira carreira urbana a servir o interior da freguesia, que começou a circular no dia 1 de julho. Desde as 7.30 horas que o pequeno au tocarro amarelo com o número 3222 inicia o percurso circular pela vila da Quinta do Con de, com partida na paragem mesmo em fren te ao Mercado Municipal, onde a esta hora já se sente o burburinho do movimento dos comerciantes a chegar com os produtos para compor as bancas e dos utentes que chegam para consultas no Centro de Saúde.

É daqui, a meio da rua Manuel de Arriaga, que parte e vai apanhando pela vila as pessoas que embarcam apressadas a caminho do tra balho. Muitas saem mais à frente para entrar nas carreiras que seguem para a estação de comboio, em Coina.

Este autocarro é uma das novidades da en trada em funcionamento da Carris Metropo litana no concelho de Sesimbra, investimento essencial para a melhoria da qualidade de vida da população, que há muito aguardava por mais e melhores autocarros para as suas des locações no interior da freguesia.

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Trocar o carro pelo autocarro

«Ao longo do dia há muitas pes soas a entrar e sair da nova urbana, para ir ao mercado, ao centro de saúde, à farmácia, ao parque da vila, ou mesmo para dar só uma volta e sair de casa para beber um café», conta Hélder Matos, 34 anos, moto rista que fez as primeiras viagens da 3222. De sorriso fácil e bom ouvinte, vai cumprimentando e conversando com as pessoas que vão chegando. Muitas andam na carreira várias ve zes por dia, como acontece com Gri naldina Maria, que embarca na pa ragem da Avenida Principal por volta das 10 horas com um alegre «bom dia, novamente». Ainda é cedo, mas já vai na segunda volta, «fui ao mer cado, comprei peixe, que vim a casa deixar no frigorífico, agora apanhei outra vez, porque tenho de ir ali ao Leão de Ouro».

Com 79 anos, tem carta de con dução e conduz, mas o preço da ga solina, em comparação com o preço

do passe Navegante 65+ (20 euros por mês) levou-a «a encostar o car ro», explica.

Deixar o automóvel na garagem é também a opção de Graciete Silva, de 77 anos, que vive há 49 na Quin ta do Conde. «Devo ser a terceira ou quarta moradora da freguesia», diz, enquanto recorda o tempo em que não havia alcatrão nas ruas e muito menos transportes públicos a circular dentro da vila, ainda na década de 70. «Agora estou servida e bem servida, tenho passe, vou à praça, ao centro de saúde, foi uma grande melhoria, dei descanso ao carro» conta.

Levar as pessoas a trocar o trans porte individual pelo autocarro é um dos principais objetivos do aumen to da oferta de transporte público na Área Metropolitana de Lisboa (AML), medida que contribui tam bém para o combate às alterações climáticas. De acordo com a Asso ciação Zero, 26 por cento das emis sões de gases com efeito de estufa em Portugal provêm do sector dos transportes, em particular do trans porte rodoviário individual.

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Um passe para a mudança

Liliana Fortes, de 39 anos, é uti lizadora frequente dos transportes públicos. A bordo da urbana conta que antes nem conseguia ir de au tocarro de casa, junto à Escola Bá sica n.º 3 da Quinta do Conde, até ao mercado ou à zona do Parque da Vila para visitar a mãe. Chegou a ter de recorrer à plataforma Uber para fazer este percurso, por não haver oferta de carreiras.

Agora pega no filho Frederico, de 3 anos, e lá vai às compras na outra ponta da freguesia, com paragem no Parque da Vila para umas brinca deiras. Nesta família a carreira tem grande adesão, com várias viagens por dia. «A minha filha também tem Navegante e já pode ir buscar o ir mão à escola, ir ter com os amigos ao parque e visitar a avó», explica, com a vantagem adicional de usu fruir da tarifa Social+, que permite um desconto de 50 por cento no va lor do passe.

Acesso para todos

Uma das razões pela qual muitas pessoas preferem o transporte in dividual ao transporte público tem a ver com o conforto, ou falta dele em autocarros com muitos anos de vida. A renovação da frota foi uma das exigências da Transporte Metro politanos de Lisboa quando lançou o concurso público internacional para aquisição de transporte rodoviário.

É o que acontece com o autocarro que assegura a circulação no interior da Quinta do Conde, que já tem USB, rede WI-FI, ar condicionado, painel informativo digital com aviso de pró xima paragem e melhores condições de acessibilidade.

Para os motoristas, as condições também melhoraram, com bancos

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ergonómicos, ar condicionado no habitáculo do condutor, sistema de alerta em relação a avarias e neces sidades de manutenção preventiva que permitem diminuir o número de idas à oficina. Os novos veículos têm piso rebaixado para acesso de pas sageiros com mobilidade reduzida ou carrinhos de bebés e uma parte da frota tem capacidade para trans porte de bicicletas.

De todas estas melhorias, para João Fernandes, de 67 anos, é a rampa que faz a diferença nas suas viagens. Antigo motorista de táxi em Lisboa, perdeu a mobilidade de vido a um problema de saúde. Am parado pela sua muleta, apanha a urbana para sair na ligação que o levará à estação de Coina e depois de comboio até Lisboa. A nova car reira trouxe-lhe alguma qualidade de vida, porque passa agora muito mais perto de sua casa. Reconhece que as mudanças são algumas e que as pessoas ainda estão a habituar -se aos novos percursos e horário, mas deixa o seu exemplo:«para descobrir o trajeto tive de me meter na carreira, agora vou à farmácia, às compras e ao barbeiro».

Motoristas de carreira

Hélder Matos foi condutor de ambulâncias do INEM e está na Carris Metropolitana apenas há dez meses, mas a segurança e à vonta de com que transporta passageiros dão a sensação de ter sido sempre esta a sua profissão. Foi bombeiro a tempo inteiro e auxiliar de ação mé dica num hospital em Lisboa, mas à mudança de casa para Sesimbra seguiu-se a decisão de trabalhar na Carris Metropolitana. «Está a ser uma boa experiência, faço todas as carreiras de Sesimbra e está a correr bem, porque gosto de falar com as pessoas. Acabamos por criar laços de amizade com quem viaja connos co». Das dezenas de passageiros que transporta todos os dias, tem espe cial carinho pelos mais idosos, onde inclui Graciete Silva, que não sai na paragem sem elogiar a simpatia do motorista.

A bordo seguem também duas motoristas em formação. Mafalda Gonçalves, 41 anos, que conhece as

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ruas de cor, do tempo em que foi carteira nos CTT. «Foi o gosto pela condução e a possibilidade de fazer formação como motorista de passa geiros que me levaram a agarrar esta oportunidade». refere. O mes mo aconteceu com Ana Rita Primo, quintacondense "de gema". Com 25 anos e formação profissional em ho telaria, passou pela restauração, mas é na Carris Metropolitana que es pera encontrar uma carreira para a vida. «Moro na Quinta do Conde há 20 anos e sei bem a dificuldade em atravessar a vila», adianta. «Os ido sos andavam a pé para ir às compras ou ao centro de saúde», testemunha. Brevemente vamos vê-la ao volante da 3222. Por agora segue atenta às di

cas de Helder. A carreira 3222 segue viagem circular pela Quinta do Con de, num percurso que, em apenas 30 minutos, liga os principais pontos da vila e para muitos idosos já se tornou passeio. «Há um senhor que todos os dias se desloca de autocarro para ir beber o café ao mercado. Antes pou co saia de casa», remata Hélder Ma tos. A nova Urbana já faz parte das rotinas de quem vai para o trabalho, de muitos idosos e, com o início das aulas, de muitos estudantes que, de mochila às costas chegam agora mais depressa à escola enquanto aprovei tam para consultar a Internet, ligados ao WI-FI do autocarro, ou para carre gar os telemóveis nas entradas USB das novas viaturas.

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mobilidade

Uma história com

anos

caboS SubmarinoS em SeSimbra

O mediatismo que rodeou a chegada de um cabo da Google a Sesimbra, proveniente da África do Sul, surpreendeu muita gente. No entanto, Sesimbra desempenha um papel central na complexa rede de comunicações mundiais desde 11 de agosto 1969, altura em que foi instalada na periferia da vila uma central de cabos submarinos, que ainda existe e que muitos conhecemos como “Marconi”, numa alusão à companhia de telecomunicações que operou em Portugal desde 1925 e que foi responsável pela sua construção.

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mais de 50

uando nos ligamos à Internet através do te lemóvel ou do computador não fazemos ideia do que está por trás desse gesto tão simples. Só estamos todos conectados à rede global, porque existem centenas de sistemas de ca bos submarinos a cruzar os oceanos. Muitos passam por Sesimbra.

A recente chegada de um cabo submarino da Google à vila, que contou com algumas das mais altas figuras do Estado, despertou-nos para a importância destas imensas infraestru turas e para a o papel vital da vila de Sesimbra na complexa rede mundial de comunicações, há mais de meio século. Tudo começou com a instalação da Estação de Cabos Submarinos de Sesimbra, em 1969, pela Companhia Portugue sa Rádio Marconi. Segundo a Fundação Portu guesa das Comunicações, é esta Estação que liga Portugal ao mundo da Internet.

Pedro Santareno, engenheiro, 80 anos, tra balhou na estação de 1968 a 2009, após ter tirado um curso de cabos submarinos em In glaterra. Lembra que a vila foi escolhida por causa das águas calmas da baía, e que inicial mente a ideia era que a infraestrutura funcio nasse num outro edifício da Rua Amélia Frade. «Como estávamos em guerra, queriam que a estação fosse debaixo do morro e subterrâ nea». Acabou, no entanto, por ser feita mais acima, na zona de Argéis. «É praticamente um bunker», garante.

O edifício por dentro

Quem chega a Sesimbra pela estrada de Ar géis já deve ter reparado num edifício isolado e meio escondido, que encontra à sua direita.

O maior cabo do mundo O maior cabo submarino de fibra ótica do mundo está amarrado em Sesimbra. É o WDM - Wavelength Division Multiplexing e tem amarrações em 44 países, desde a Austrália passando pelo Japão, Médio Oriente, países do Mediterrâneo e Alemanha.Atualmente estão ao serviço em Sesimbra dois cabos domésticos que ligam a vila a Carcavelos, no concelho de Cascais, e ao Burgau, no município de Vila do Bispo, no Algarve, e quatro cabos submarinos internacionais: o SeaMeWe-3, o SAT3, o EIG e o Equiano, da Google. A amarração em Sesimbra deste cabo, que liga África à Europa, ocorreu em maio de 2022 para garantir o acesso mais rápido de empresas europeias aos mercados americano e africano, numa extensão de 15 mil quilómetros. Totalmente insonoros, os cabos submarinos são comunicações assentes no fundo do mar, podendo ser instalados até 9 mil metros de profundidade.

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hi S tória
q

Como viaja a fibra ótica?

Os cabos de fibra ótica apareceram na década de 1990.

O sinal de luz sai a uma determinada potência e, por cada quilómetro que percorre na fibra, a luz vai ficando mais fraca. São precisos por sido vários repetidores, engenhos submersos que aumentam a potência da luz emitida.

Há sensivelmente um repetidor por cada 80 quilómetros de cabo. Existem também os equipamentos BU –Branch Unit que fazem a divisão de um cabo para seguir para dois destinos diferentes. No cabo que vai para a África do Sul, por exemplo, há um equipamento BU junto à Nigéria, seguindo uma das pontas para a Nigéria e a outra continua até à África do Sul.

É precisamente aí que funciona a Estação de Cabos Submarinos de Sesimbra. Os mais antigos ainda se lembram do campo de futebol que existia naquele lugar e que depois de desativado serviu para tingir e esten der redes de pesca.

O edifício da Marconi, como ain da é conhecido por ter sido construí do pela Companhia Portuguesa de Rádio Marconi (constituída em 1925), é agora gerido pela Altice. Uma visita ao interior permite perce ber a importância desta estrutura só pela forma como todo o sistema está protegido. Quando chegamos ao núcleo central da Estação, estamos completamente fechados.

Na zona das infraestruturas de suporte, que permitem que os ca bos funcionem, fica situada a sala do arquivo, a sala das baterias, a sala dos retificadores e a sala dos grupos de emergência. Todos os equipamentos estão em duplicado para que não haja quebras de tráfe go devido a falhas.

Há duas entradas da rede elétri ca, dois grupos de emergência e dois depósitos de combustível, que dão para alimentar a Estação durante

algumas horas, mesmo que não haja eletricidade. Há um equipamento re tificador e duas baterias que permi tem que a estação funcione por mais seis dias.

O coração da estação encontra-se no piso superior. É aí que se localiza o sistema que fornece corrente con tínua aos repetidores. Há equipa mentos de supervisão, uma bancada de trabalho e um espaço delimitado por grades para a Google, que é pro prietária do último cabo amarrado em Sesimbra. Cada fibra é um circui to e está identificada com o nome do cabo e da ligação que é feita. A maio ria do tráfego que passa na estação de cabos de Sesimbra, que tem uma capacidade superior à que necessita, é de trânsito.

Há cabos e fios por todo o lado, ordenados de forma rigorosa, fazen do caminhos perfeitos. É através de uma câmara específica que os cabos, compostos por polietileno, alumínio e uma armadura de aço, chegam ao piso superior, onde é feita a separa ção do cobre e das fibras. Cada fibra é composta por vários sinais de luz.

Na sala de controlo é possível monitorizar a climatização do Data

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Center. Há ar condicionado em todo o lado para assegurar a refrigeração da infraestrutura e sensores para verificar a temperatura dos apare lhos e dos bastidores de distribui ção da fibra.

O percurso dos cabos

Os cabos submarinos entram em Sesimbra pela praia da Califór nia e seguem depois por terra até à estação, através de um sistema de condutas. «São uma infraestrutura vital para o funcionamento da in ternet e para a economia mundial», realça a Altice.

A sabedoria e a experiência da empresa e da equipa de Sesimbra são reconhecidas internacionalmen te. A Estação de Cabos Submarinos funciona todos os dias do ano, 24

horas por dia, graças ao trabalho de diversos engenheiros e técnicos es pecializados, que têm «elevado co nhecimento neste setor das teleco municações».

E se há uma avaria?

Os serviços têm de funcionar com redundância e por isso estão previstas alternativas para que não haja interrupções. Apesar de assentes no fundo do oceano, os cabos submarinos amarrados em Sesimbra registam em média cer ca de seis avarias por ano, o que obriga a um processo de reparação complexo.

«Quando acontece algum aciden te, temos de fazer primeiro o enca minhamento do tráfego afetado. Depois temos de detetar o local da

NÚMEROS

150 terabytes por segundo é a capacidade total dos cabos submarinos amarrados em Sesimbra, um valor 10 mil vezes superior à largura de banda existente na casa dos portugueses.

Um milhão de quilómetros é a extensão aproximada de cabos submarinos que cruzam atualmente os cinco oceanos, o equivalente a dar 25 voltas ao planeta Terra.

401 terabytes por segundo é a capacidade de transmissão média de um sistema submarino ótico com repetidores, o que permite estabelecer 10 mil milhões de conversas telefónicas por segundo.

99% do tráfego de comunicações mundiais viaja a uma média de 4000 metros de profundidade, seja em formato vídeo, internet ou chamadas telefónicas.

450 cabos submarinos estão atualmente a funcionar em todo o mundo e desses 11 estão amarrados em Portugal.

27 hi S tória

1851 – Lançado o primeiro cabo telegráfico submarinos no canal da Mancha.

1969 – Inauguração da Estação de Cabos Submarinos de Sesimbra, com a amarração dos dois primeiros sistemas de cabos: SAT-1 e POR-UK.

1992 – Amarração em Sesimbra do primeiro cabo submarino em fibra ótica, o EuroAfrica.

1999 – Sesimbra liga-se ao maior sistema de cabo ótico submarino do mundo, o SeaMeWe3.

2011 – Entrada em funcionamento do sistema de cabos submarinos EIG.

2022 – Amarração em Sesimbra do cabo Equiano, da multinacional Google.

avaria e há um barco que vai fazer a reparação», explica o engenheiro Pedro Santareno.

O processo de localização da ava ria é realizado com recurso a equi pamentos especializados. É possível identificar avarias a vários milhares de quilómetros da costa. Na pos se das coordenadas geográficas da avaria, um navio desloca-se ao local, recupera o cabo do fundo do mar e efetua a reparação com a introdução de cabo novo e a realização de duas juntas. Este processo demora, em média, cinco a seis dias.

Atentado Luar

O feixe hertziano que liga Sesim bra a Conil, em Espanha, foi alvo de um atentado no início da década de 70 pela LUAR - Liga de Unidade e Ação Revolucionária, um movimento político revolucionário, que resultou na explosão do moinho do Facho de Santana e de um moinho de Pal

mela, por onde passavam os cabos. Este atentado «deu cabo das comu nicações, mas nós conseguimos fa zer uma ligação através da estação da Eurovisão de Monsanto até ao Facho», lembra o engenheiro Pedro Santareno, que teve de passar a pri meira noite no local para proteger o equipamento e fazer constantes ajustes. «Foi tudo feito em cima do joelho. Os americanos ficaram bo quiabertos por termos conseguido restabelecer as ligações, claro que com menor qualidade, mas de forma rápida», recorda o engenheiro, que esteve na Estação de Sesimbra des de o primeiro momento.

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PRINCIPAIS DATAS CABOS SUBMARINOS
29 hi S tória

maiS eScolaS, maiS trabalhadoreS, maiS encargoS, o meSmo orçamento do miniStério

A gestão de todas as escolas públicas do concelho de Sesimbra cabe, desde abril, à Câmara Municipal, que até então tinha como responsabilidade o pré-escolar e o primeiro ciclo. A vereadora do Pelouro da Educação, Felícia Costa, explica em entrevista o que implicou todo este processo e mostra-se tranquila em relação a este ano letivo, o primeiro depois da transferência de competências.

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a câmara municipal de SeSimbra recebeu a geStão de todaS aS eScolaS da rede pública do concelho e de todoS oS níveiS de enSino. o arranQue do ano letivo foi feito pela primeira vez Sob geStão municipal. como foi preparado?

Sabíamos que a transferência de competências ia avançar, inevitavel mente, no dia 1 de abril. Por isso, apesar de todas as dúvidas e reser vas que fomos manifestando, prepa rámo-nos com alguma antecedência. Na parte operacional tentámos que as escolas continuassem a funcionar dentro da normalidade. Entre proto colos de descentralização para os agrupamentos e acordos com as as sociações de pais para se assumirem como coordenadoras das Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) e da escola a tempo inteiro, que in clui o tempo não letivo do jardim -de-infância e os Centros de Apoio aos Tempos Livres (CATL), antigos ATL, que também passaram a ser responsabilidade da autarquia, diria que iniciámos o ano letivo com algu ma tranquilidade. Sei que poderão surgir problemas que não tínhamos no passado, porque o barco é mui to maior, mas acredito que todas as medidas que ao longo destes meses fomos criando e implementando, em colaboração com os agrupamentos, nos vão permitir dar a resposta ne cessária e de qualidade que as esco las precisam e os alunos merecem.

Já. Neste momento, os 305 traba lhadores não docentes das escolas, que até abril eram geridas pelo Mi nistério, fazem parte dos quadros da Câmara Municipal. A nossa princi

31 educação
oS trabalhadoreS não docenteS daS eScolaS paSSaram para a câmara municipal. já eStão devidamente enQuadradoS?

pal preocupação foi fazer a migração dessas pessoas sem qualquer pre juízo para as mesmas, e que o mês de abril fosse pacifico e ninguém fi casse sem receber vencimento. Isso correu muito bem, sobretudo devido a um grande investimento em novas plataformas digitais. Há, no entanto, aspetos que ainda é preciso limar. A Câmara Municipal tem um con trato coletivo de trabalho que o Mi nistério da Educação não tinha. Os funcionários municipais têm uma série de benefícios assegurados que estes novos trabalhadores não têm e queremos que passem a ter, sobre tudo no que diz respeito a ações de formação ou higiene e segurança no trabalho.Estamos a trabalhar para que isso aconteça.

há funcionárioS em falta ou foram contratadoS a tempo do início do ano letivo?

Um dos problemas que verificá mos e temos tentado resolver e que também tem sido colocado em sede

de Comissão de Acompanhamento, é o número de pessoas que estão nas escolas com baixas prolongadas e que é necessário substituir.

Quando recebemos o rácio das pessoas que pertencem aos quadros de cada agrupamento, algumas delas não estavam lá por baixas prolonga das há seis meses ou um ano, e as escolas precisam dessas pessoas para o normal funcionamento. Isso acarretou alguma pressão para a autarquia, porque foi preciso desen volver procedimentos concursais rá pidos, que a Câmara não fazia. Não fazemos contratações a tempo cer to, mas sim a tempo indeterminado, para entrar no quadro. Neste caso concreto, não podemos fazer con tratações para entrar no quadro, porque essas vagas estão ocupadas. Portanto, temos de contratar pes soas a tempo certo para fazer as substituições que vão surgindo. O que fizemos para acautelar estes ca sos enquanto decorrem os concur sos foi canalizar funcionários que já eram da autarquia e que estavam no jardim-de-infância na parte não leti

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va, que agora é assegurada por uma entidade externa à escola, contrata da pela associação de pais, validada pelo agrupamento, para colmatar fa lhas.

Qual o maior deSafio de gerir todaS aS eScolaS da rede pública do concelho?

Toda a parte administrativa e fi nanceira para nós foi muito desa fiante, e continua a ser desafiante, tanto mais que havia alguns proce dimentos, nomeadamente contratos, que os agrupamentos tinham esta belecido no início do ano e que se mantinham até junho, mas que com o início do ano letivo passaram para a Câmara. Em termos pedagógicos, acho que não houve mudanças sig nificativas, porque sempre tivemos uma relação muito boa com os agru pamentos. Aliás, a Câmara assumiu, desde há muito, com 2.º e 3.º Ciclo e secundário competências que não eram suas. Havia este grande desafio efetivamente que era poder trans portar todas estas pessoas para os quadros da Câmara – e é um aumen

to muito grande. A questão ficou resolvida e não me parece que haja grandes motivos para sobressalto.

a parte financeira é, então, a maiS preocupante?

O nosso grande sobressalto é efe tivamente financeiro. Em primeiro lu gar sabíamos que o pacote que estava publicado era altamente insuficiente e que iria haver um défice daquilo que seriam as responsabilidades que iriamos assumir e as despesas ine rentes às mesmas. Cerca de um mi lhão de euros teria de ser suportado pelo orçamento municipal. Apesar do novo acordo da Associação Nacio nal de Municípios com o Ministério da Educação, as verbas que foram de alguma forma melhoradas estão muito aquém daquilo que são as ne cessidades reais das escolas. O gran de desafio é conseguir fazer a gestão de tudo isto, sem onerar o orçamento municipal, porque onerando o orça mento, para compensar este déficit, alguma coisa vai ter de ser retirada aos recursos necessários para outras competências municipais.

33 educação
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Aquilo que é sempre dito pelo Governo é que os municípios traba lham muito melhor do que a Admi nistração Central pela proximidade, e que as coisas se fazem melhor e até com menos despesas e com menos dinheiro se forem feitas com proxi midade. Eu concordo com o princí pio. A proximidade ajuda sempre a desenvolver um trabalho melhor.

O problema é que só a proximi dade não chega. Podemos até gerir melhor, mas temos de ter meios. O que neste momento se verifica é uma descentralização de competên cias sem estar acompanhada com os meios adequados para a concretizar. Se o Ministério diz que a proximida de ajuda a fazer um trabalho melhor, o facto é que só se pode fazer me lhor se tivermos recursos. Para mim, o argumento também, mas isto é a minha opinião, é a desresponsabili zação e o desinvestimento.

e a neutralidade financeira?

Era muito falado na altura que isto implicava uma neutralidade fi nanceira. Ou seja, o Ministério com esta transferência não ia gastar nem mais nem menos. Era neutro o or çamento. Isso desde logo mereceu contestação, porque se estamos a falar de uma despesa para 2019 e que é transferida em 2022, a neu tralidade não pode existir. Já não é o mesmo orçamento, já teria de ser muito maior. No caso de Sesimbra, aquilo que constatámos é que nem sequer era neutralidade, porque havia inclusive falhas nas transfe rências que foram identificadas. Pe dimos aos agrupamentos para nos indicarem quais os orçamentos que tinham todos os anos para gerir e ía mos receber menos dinheiro do que o que o Ministério gastava com os agrupamentos quando eram da sua

responsabilidade. Alguns desses er ros ficaram corrigidos nas reuniões que temos tido com o Ministério. No início, por exemplo, para a escola a tempo inteiro o Ministério tinha gasto, em 2019, 270 mil euros e pro punha transferir em 2022 para a Câ mara Municipal cerca de 70 mil. Foi corrigido, mas continuamos a falar de valores de 2019. A neutralidade significava que o dinheiro que era transferido era igual à verba que o Ministério gastava, mas o Governo esqueceu-se que durante anos não houve investimento na escola pú blica, designadamente ao nível de edifícios. As autarquias não podem continuar a assobiar para o lado quando estão confrontadas com edi fícios sem condições e que agora são da sua competência.

algumaS daS eScolaS do concelho apreSentam váriaS carênciaS em termoS eStruturaiS. Serão alvo de obraS?

Todas as escolas que herdámos têm 30 e 40 anos e nunca tiveram uma intervenção. São escolas que estão muito degradadas. Os edifí cios continuam a ser, por enquanto, da responsabilidade do Ministério, mas teremos de avaliar quando a portaria for publicada e passarem efetivamente para propriedade do município. Entretanto, estamos a pressionar o Ministério para que se jam feitas intervenções pelo menos nas escolas prioritárias. Temos no concelho de Sesimbra uma escola prioritária - a Michel Giacometti -, identificada pelo Ministério com critérios que desconhecemos, com prio ridade muito urgente, o que significa que é uma das primeiras escolas a ser intervencionada pelo Ministério ou pela Câmara, caso venha a ser ce lebrado um contrato programa com o Governo com as verbas necessárias. Isto é o que, em teoria, se perspeti va. Aquilo que também nos foi dito é que ao nível do país há mais de 30 escolas muito urgentes para serem

35 educação
o Que levou o miniStério a fazer eSta deScentralizaçãode competênciaS? Qual, a Seu ver, o objetivo de todo eSte proceSSo?

intervencionadas e aparentemente vão ser intervencionadas só com o orçamento do Estado. Estamos a fa lar de vários milhões de euros para cada escola. No caso da Michel Gia cometti, seguramente serão entre 4 a 5 milhões para qualificação e amplia ção. Muito provavelmente nos pró ximos anos não vai haver dinheiro para cobrir todas estas necessidades que estão apresentadas pelos muni cípios em termos nacionais, o que nos deixa também muito intranqui los. Não é só uma questão de assu mir competências, é uma questão de assumir competências, fazer obras

em escolas que nunca tiveram obras. Isto deixa-nos apreensivos, uma vez que se não houver da parte do Mi nistério a assunção desta responsa bilidade em termos financeiros, os orçamentos municipais e o de Sesim bra não vão conseguir responder.

e é a câmara Que vai aSSumir todoS eSSeS encargoS?

Supostamente não. É necessário criar contratos programa em cada caso, mas não sabemos ainda quan do é que vão ser assinados, e com que verbas. O único exemplo que te

Apoios essenciais às famílias

Transporte, refeições e ocupação dos tempos livres são os três apoios mais importantes que a Câmara Municipal presta às famílias, aos quais se juntam, este ano, com a descentralização, as Atividades de Enriquecimento Curricular e a gestão dos Centros de Atividades de Tempos Livres, em parceria com as associações de pais, que continuam a ser as entidades promotoras. Mas os apoios não ficam por aqui. «Há um conjunto de outros apoios, nomeadamente ao nível da ação social escolar, como subsídio às famílias para requisição de equipamento pedagógico no início do ano, de acordo com o escalão», refere a responsável pela educação. «Há depois apoios que são dados diretamente às escolas para a dinamização de projetos educativos», acrescenta. «É o caso da Orquestra Geração da Boa Água ou do projeto Ubuntu, para capacitação de professores e famílias, que está a ser desenvolvido pela Escola Navegador Rodrigues Soromenho e vai-se estender também à Básica Integrada da Quinta do Conde. É totalmente financiado pela autarquia». Há ainda uma série de outros projetos, na área do apoio de psicológo, como o EPIS (Associação de Empresários para a Inclusão Social), dirigido às famílias de alunos com problemas de aproveitamento escolar ou em risco de abandono.

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Aposta na alimentação saudável

«Consideramos que as nossas crianças e jovens devem ter uma alimentação saudável, pelo menos na escola, e que a escola pode e deve ser também um local onde se ganham hábitos saudáveis e corretos a este nível», adianta a vereadora do Pelouro da Educação. «Sabemos que há muitos casos em que a principal refeição é feita na escola, e fora do contexto escolar, as refeições, ou não existem, ou são desequilibradas em termos nutricionais», lamenta. «Temos uma nutricionista que controla as refeições das nossas escolas e, para além disso, optámos pela distribuição de fruta da época, sempre que possível da região, como a Maçã Camoesa, por exemplo. Recentemente fomos mais longe e começámos a distribuir frutos secos. A distribuição do leite escolar é também garantida pela autarquia, embora seja uma atribuição do Ministério». Fora do período letivo, as crianças de agregados mais carenciados continuam a ter apoio ao nível das refeições, porque para muitas delas esta é a única refeição que fazem.

educação

mos de um contrato programa é o da Escola Navegador Rodrigues Soro menho. A obra é de 6 milhões de eu ros e, segundo o contrato programa, vamos receber 3 milhões. Existe aqui um enorme diferencial que tem de ser reduzido e vamos ver como é que são os outros contratos programa. Agora, sabemos que a pressão sobre a autarquia vai ser muito maior do que sobre o Ministério, porque a au tarquia está aqui à mão.

a experiência adQuirida no enSino pré-eScolar e no 1.º ciclo foi fundamental para aSSumir eStaS novaS competênciaS?

Sim. Os grandes desafios e as grandes preocupações eram a par te mais operacional desta transfe rência, e a componente financeira, porque no fundo toda a relação que tínhamos com os agrupamentos per mitiu-nos fazer esta migração de competências de uma forma tranqui la. Apesar de, até 1 de abril, termos sido responsáveis pelo jardim-de -infância e pelo 1.º Ciclo, no que diz respeito a equipamentos, a Câmara desde sempre tem assumido com os agrupamentos ao nível dos outros níveis de ensino, nomeadamente o secundário, um conjunto de apoios que não são da nossa competência. Portanto, não é matéria desconheci

da e ajudou obviamente muito esta transferência.

em 2021 foi inaugurado um novo polo da eScola báSica n.º 2 da Quinta do conde. é um eQuipamento de referência. a geStão doS eQuipamentoS do 1.º ciclo vai Servir de modelo para a geStão doS eQuipamentoS de 2.º e 3.º cicloS e Secundário?

Sim. Uma das nossas principais preocupações não é tanto a gestão da competência, é, sim, o financiamento para essa execução. Isto vai ser exi gente para o nosso orçamento. A in tenção é que não existam escolas de primeira e de segunda. A Câmara Mu nicipal de Sesimbra tem feito um es forço muito grande nos últimos anos para requalificar todo o parque esco lar. Recordo que em 1999 as escolas do 1.º Ciclo vieram para a posse dos municípios num processo de transfe rência de competências muito seme lhante ao atual, sem transferência de pessoal mas com transferência de edi fícios degradados para os municípios. O facto é que ao longo dos anos todo o parque do 1.º Ciclo e pré-escolar

NOVAS COMPETÊNCIAS

Escola a tempo inteiro

As Atividades de Enriquecimento Curricular são uma das competências que a Câmara Municipal de Sesimbra assumiu, bem como a gestão dos Centros de Atividades de Tempos Livres. Para dinamizar a escola a tempo inteiro, a autarquia assinou protocolos com as associações de pais para que continuem a ser as entidades promotoras. A candidatura passa a ser feita para a autarquia, que depois transfere a verba necessária para estas associações.

Refeitórios escolares

Os refeitórios escolares também passaram para a autarquia, que até abril era responsável pelo fornecimento de refeições no 1.º ciclo e pré-escolar. Ao caderno de encargos do concurso anual foi acrescentado o fornecimento de refeições para o 2.º e 3.º ciclos e secundário dos agrupamentos escolares.

Gestão dos agrupamentos

Os agrupamentos escolares vão continuar a fazer a gestão do seu orçamento, através da assinatura de protocolos de delegação de competências. A Câmara Municipal transfere as verbas necessárias para os agrupamentos fazerem essa gestão.

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foi requalificado. Temos escolas mais antigas, sobretudo as da freguesia do Castelo, em aldeias mais disper sas e que deliberadamente a Câmara nunca quis desativar. Seria fácil fa zer uma escola maior e encerrar as pequenas da Aiana, Meco, Zambujal e Azoia. São estabelecimentos que para nós fazem sentido e porque as comunidades gostam de ter ali a es cola. Se o filho pode ir para perto de casa preferem que vá e que não tenha de apanhar um autocarro e demore 30 a 40 minutos a chegar à escola. Também sabemos que estes equipa mentos de alguma forma contribuem para o enriquecimento da própria comunidade. Um dos problemas do interior foi fecharem tudo, escolas, tribunais, centros de saúde, finanças. Se bem que esta realidade não é igual aqui, porque fazemos parte da Área Metropolitana de Lisboa, não somos um município do interior. Hoje temos todas essas escolas pequeninas, as escolas dos centenários, ampliadas.

A oferta educativa não é igual ao que era há 40/30 anos. Hoje há pro

jetos que vão às escolas, há psicólo gos, nutricionistas, animação físico motora, e as escolas têm de ter mais do que salas de aula para oferecer, para poder dinamizar todas estas inciativas e atividades. Os edifíos ti veram de ser requalificados e amplia dos para dar resposta positiva a essas necessidades, e a Câmara foi fazendo isso. O investimento que o município fez ao longo dos anos na educação e na requalificação do parque escolar da sua responsabilidade é notável. Ampliámos salas de jardim-de-infân cia, fizemos intervenções nas escolas. Hoje, estas escolas têm toda a quali dade para os alunos poderem ter au las. O mesmo não se pode dizer das escolas do Ministério.

o Que vai acontecer àS eScolaS Que paSSaram agora para geStão municipal?

Gradualmente as autarquias vão ter de ir fazendo essas interven ções. A preocupação é que o dinhei ro dos seus orçamentos é preciso

Beijinho e Siga! é para replicar

Nos acessos ao novo Polo da Escola Básica da Quinta do Conde foi criada uma zona para facilitar a entrada e saída de alunos, designada de "Beijinho e Siga". A experiência «é para replicar», afirma Felícia Costa. «Temos sempre o problema dos acessos às escolas nos períodos críticos da manhã e do fim da tarde. Os pais vão levar os filhos às escolas e tentam estacionar perto do portão, o que normalmente gera congestionamentos de trânsito», descreve. «O que quisemos fazer na Quinta do Conde foi disciplinar a largada de passageiros com uma zona própria para o efeito, e sensibilizar os pais». Ali é fácil, porque só há um sentido, que é circular. À volta de outras escolas é mais complicado», assume. «A ideia é que os carros não parem e as crianças não saiam do carro mesmo junto ao portão. Queremos replicar isso por todas as escolas e sobretudo fazer um reordenamento».

OUTUBRO 2022 SESIMBRA n.º 238

para outras áreas: para a rede viá ria, para assegurar um bom servi ço de recolha de lixo, por exemplo. Este vai ser um dos grandes desa fios. Dar resposta a isto tudo sem pôr em causa nada do que é essen cial às populações. É dar resposta a uma obra que é necessário fazer numa escola do 2.º e do 3.º ciclo, sem descurar tudo o resto. a obra da eScola navegador rodrigueS Soromenho continua parada. Quando Será retomada?

Continua parada. Tivemos de re solver o contrato com o primeiro empreiteiro por incumprimento da quilo que era estipulado no caderno de encargos. O contrato foi resolvi do, tivemos de abrir um novo con curso público, que tem prazos legais que até são pesados e demorados. O concurso foi ganho pela mesma empresa que está a fazer o Centro de Saúde em Sesimbra, e que nos tem dado garantias de que é uma empre sa que trabalha com qualidade. Es peramos que a forma como têm de corridos as obras do centro de saúde venha a ser igual para a da escola. O que é facto é que o empreiteiro pe diu uma revisão de preços, devido a uma escalada de custos que está a haver na construção. A falta de mão de obra, comum a uma série de obras

e de empresas de construção é outro dos problemas com que se depara. Devido a estes constrangimentos, pediu para iniciar a obra até final do ano e foi deliberado pela câmara mu nicipal a prorrogação do prazo legal para as obras se iniciarem.

a obra eStá dividida em duaS faSeS

Sim, o que está previsto são dois concursos, duas obras. Neste mo mento estamos a falar da conclusão da obra de ampliação, que tem um prazo de 18 meses e implica a cons trução de um novo edifício em ter reno contíguo à escola, cedido pelo município. A intenção da Câmara Municipal é daqui a oito a nove me ses lançar um novo concurso para requalificação do edifício antigo. Quando o edifício novo estiver con cluído, as aulas são passadas para esse edifício, para podermos iniciar a requalificação do antigo sem preju dicar as aulas. São estas duas fases que estão estimadas, se não houver alteração significativa de preços, em cerca de 6 milhões de euros. A este encargo acresce o valor da cedência do terreno, os custos do desenvolvi mento de projetos de arquitetura e especialidades e do acompanhamen to e fiscalização da obra, integral mente suportados pela Câmara Mu nicipal nesta escola num montante de mais de dois milhões de euros.

Gestão dos edifícios Enquanto os edifícios não passarem para a alçada da Câmara Municipal de Sesimbra, porque ainda faltam ser publicadas as respetivas portarias, a autarquia está a fazer a transferência de verbas para a manutenção e para pequenas intervenções.

Mais assimetrias O acesso universal à educação só pode ser garantido pelo Orçamento de Estado e por isso a vereadora da Educação da Câmara Municipal de Sesimbra teme que este processo crie ainda mais assimetrias entre municípios. Tudo porque cabe a cada município desviar ou não verbas do orçamento municipal para as áreas da educação agora assumidas. «Isto não vai ser igual de município para município com certeza. Os entendimentos são diferentes e os meios são diferentes», alerta Felícia Costa.

39 educação

SeSimbra um concelho + igual p

Sabia que no concelho de Sesimbra 60 por cento das pessoas inscritas no centro de emprego são mulheres? E que as trabalhadoras recebem, em média, menos 21 por cento de salário do que os homens? E que só temos um professor no 1.º Ciclo do Ensino Básico e nenhum educador de infância? De acordo com o Global Gender Report de 2022, faltam 132 anos até que a igualdade de género seja atingida. O Plano Municipal para a Igualdade pretende encurtar este caminho.

ouco depois das 21 horas de uma quarta-feira, Isabel Pereira recebe-nos na pequena sala de reuniões do Associação Cultural e Desportiva da Cotovia (ACDC). A hora marcada não é por acaso, está encaixada no tempo que dedica à coletividade, quando em casa «já está tudo tra tado». De sorriso aberto, deixa transparecer a genica de quem gosta de pôr tudo a mexer. A presidente da ACDC é uma das poucas mulhe res a assegurar a direção de uma coletividade no concelho de Sesimbra. «Não tenho grande dificuldade em conciliar, porque já tenho os fi lhos criados, o marido não se importa e vivo na rua aqui ao lado», explica. Uma responsabili dade que assumiu aos 58 anos. «Há uns anos se calhar não tinha aceite, com os filhos pe quenos para cuidar e horários para cumprir». Concorda que é preciso contrariar a tendência das mulheres ficarem apenas pelo apoio ad ministrativo nas associações, mas reconhece que pode ser difícil encontrar a disponibilida de. «Ainda ontem começámos uma reunião às 21 horas, que terminou à meia-noite. Às vezes não é fácil, mas é muito gratificante trabalhar mos para o bem de muita gente, para o futu

ro dos nossos 400 atletas», diz com orgulho.

O papel atribuído às mulheres, enquanto principais responsáveis pelas tarefas domésti cas e cuidadoras de descendentes e ascenden tes, resulta nesta dificuldade de conciliação entre a vida profissional e a familiar, uma das razões para que haja menor representativida de do sexo feminino em alguns setores, como acontece na direção das associações. No caso do concelho de Sesimbra, existem 85 presi dentes de direção de organizações do terceiro setor. Destes, 25 são do sexo feminino, segun do dados recolhidos no âmbito do Plano Mu nicipal para a Igualdade de Sesimbra (PMIS).

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Mulheres: ganham menos e cuidam mais

A igualdade é lem brada em mensa gens partilhadas em datas como o Dia Inter nacional da Mulher ou o Dia da Igualdade Salarial, mas desvalorizada ou esquecida no quotidiano, como espelham vá rios indicadores estatísticos. Por isso, quer a nível interna cional, quer nacio nal e local o combate à desi gualdade é uma prio ridade. «Uma leitura desatenta das estatís ticas atuais relativas à situação das mulheres e dos homens ocidentais faz crer que a igualdade entre homens e mulheres está praticamente conse guida», alerta a introdução do Guião de Educação Gé nero e Cidadania 2.º Ciclo, editado pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG).

A perceção deste su posto «equilíbrio» é mui tas vezes distorcida pelas conquistas alcançadas.

Mas os dados de monstram, de forma

igualdade
u
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h f s s a o r w h f s s a o r w h f s s a o r w

para a Cidadania

Género

inequívoca, que ainda há muito a fazer, contrariando ideias preconce bidas.

O Plano Municipal para a Igualdade

«(…) Ser mulher ainda significa não ter as mesmas oportunidades que ser homem, devido à influên cia de uma constelação de variáveis (escolaridade, papel desempenhado no agregado familiar, idade, nível de rendimento, condição perante o tra balho», lê-se no diagnóstico feito no âmbito do PMIS.

Os recentes boletins estatísticos da CIG não deixam margem para dú vidas: as mulheres despendem maior número de horas semanais com tare fas domésticas e a cuidar da família (ver caixa), um desequilíbrio na dis tribuição de tarefas domésticas que condiciona o tempo disponível para outras atividades.

É preciso conhecer a realidade a nível local, para intervir, promover a

igualdade de oportunidades e criar condições para aumentar a repre sentatividade feminina em alguns setores da sociedade. Em Sesimbra, o primeiro passo para a concretiza ção do Plano Municipal para a Igual dade está dado, com a realização de um diagnóstico em 2021. O trabalho abordou a igualdade em áreas como a Educação e Juventude, Ação So cial, Saúde, Desporto, Cultura e La zer, Trabalho, Emprego, Gestão de Pessoas e Formação, Espaço Público, Segurança, Transporte e Habitação, assim como a Dimensão Interna da Autarquia.

Os dados recolhidos confirmam muitos dos estereótipos sobre o pa pel da mulher e do homem na socie dade. Conceções de género que co meçam a formar-se muito cedo, na infância, e que perduram ao longo da vida.

«São diversos os fatores que po dem, de forma intencional ou não, influenciar essa mesma construção: brinquedos e brincadeiras; expres sões e mitos populares; crenças e

OUTUBRO 2022 SESIMBRA n.º 242
Distribuição de tarefas domésticas e de cuidado Mulheres asseguram: 65% das refeições diárias 77,8% lavagem e cuidado da roupa 64,7% vestir os filhos pequenos 63,7% ficar em casa quando os filhos pequenos estão doentes Fonte: Igualdade de Género em Portugal Indicadores-Chave 2021, Comissão
e a Igualdade de
(CIG)
Isabel Pereira, presidente da ACDC

estereótipos enraizados; expecta tivas familiares e sociais, etc. Estas influências advêm da prática e nor malidade, até há bem pouco tempo, de situações em que ao homem cabia o “sustento” da família e à mulher o seu cuidado: esta realidade ainda muito próxima na nossa sociedade, levou a que desigualdades educati vas, financeiras e laborais existissem e permaneçam, sendo as mulheres as mais prejudicadas nesta equação.

O desempenho de tarefas domés ticas e de cuidado está, ainda hoje, associado às raparigas, nas quais re cai essa expectativa e sobrecarga de tarefas, sendo frequentemente obri gadas a encontrar o equilíbrio entre estas e o seu percurso escolar, que pode ser penalizado ao nível do ren dimento ou mesmo da sua perma nência no sistema de ensino». Uma síntese que explica bem o ponto em que ainda estamos.

Os dados locais confirmam, por exemplo, o desequilíbrio em termos salariais e de empregabilidade. Mais escolaridade não significa, no entan to, mais emprego ou melhor remune ração. Este são alguns dos parado xos quando se fala de igualdade de oportunidades.

No concelho de Sesimbra, quem tem maior escolaridade são as mu lheres, mas é também entre elas que há maior taxa de desemprego (re presentam 60 por cento do total de pessoas inscritas em 2021 no IEFP). Quanto à diferença salarial, os ho mens do concelho ganham, em mé dia, mais 21 por cento, apesar de te rem menores níveis de ensino.

A presidente:

fazer a diferença para ser igual

A evolução da igualdade no des porto também continua a ser «lenta e fragmentada», lê-se no diagnósti co, que cita o projeto ALL IN, promo vido pelo Conselho da Europa e pela União Europeia.

As mulheres estão pouco repre

sentadas nos órgãos de poder e to mada de decisão das instituições desportivas a nível mundial, euro peu, nacional e local.

O diagnóstico PMIS lembra que na «análise realizada em 28 confe derações continentais de desportos olímpicos na Europa, apenas uma mulher ocupava o cargo de presi dente e oito o de vice-presidente».

Isabel Pereira, presidente da ACDC, contraria esta tendência, mas consegue compreender o porquê destes números: é preciso disponibi lidade para estar num cargo de lide rança de uma associação. Não é por acaso que só agora se meteu nesta aventura. Em 2021 foi convidada para a direção, mas não estava nos seus planos ser presidente. «Estava muito longe de estar aqui, não am bicionava. Gostava de vir ajudar». Sempre esteve ligada à ACDC, desde a sua fundação. Nas aulas de ginás tica, ainda nas antigas instalações, no "clube" de crochet que criou, nas atividades em que os filhos estavam inscritos. Mas assumir a direção, só agora é possível. Vem à sede da ACDC várias vezes por dia, só guar da o domingo para a família.

«Este é um trabalho não remune rado, é preciso ter tempo, não é uma pessoa jovem com filhos pequenos que vem para um cargo destes, mas todos temos o mesmo tempo, temos de saber gerir para conseguirmos fazer o que gostamos», reconhece. O problema é precisamente a desi gualdade no uso do tempo. Apesar de conhecer a dificuldade em ter disponibilidade para o associativis mo, surpreende-se que, ainda hoje, as mulheres despendam diariamente mais uma hora e meia por dia em tra balho não remunerado do que os ho mens. «Pensava que nos dias de hoje já não era assim, mas a mulher tem sempre mais coisas a fazer em casa», constata, quando confrontada com estes dados. A surpresa de Isabel é partilhada pela maioria das pessoas que responderam ao inquérito feito no âmbito do PMIS. A perceção é a de que todos e todas temos uma

Representação

do Ensino Básico

concelho

Sesimbra

Percentagem de homens e mulheres

concelho

Representação de mulheres no total de presidentes de direção

organizações

sediadas

concelho

Treinadores nas associações desportivas

concelho

Inscrições de leitores

Biblioteca

Diferença de remuneração

mulheres

homens

concelho Mulheres

média,

Representação de mulheres

concelho

Fonte: Diagnóstico - Plano Municipal para a Igualdade e Não Discriminação, Câmara Municipal de Sesimbra

Logframe

43
igualdade
de mulheres no universo de docentes do 1.º Ciclo
no
de
94,6%
residentes no
que completaram ensino superior 12,4% homens 18,3% mulheres
de
do 3.º setor
no
85 presidentes de direção 25 mulheres
do
Total 79 2 mulheres
na
Municipal 60.5% mulheres 39,5 homens
média de
face aos
no
recebem, em
menos 21%
empregadoras no
31,9% mulheres
e

maior igualdade de oportunidades do que aquela que de facto existe.

A sua experiência na ACDC prova que não há nenhuma razão para que não existam mais mulheres a pre sidir a associações e coletividades. «Ser mulher não faz qualquer dife rença, a vida não é uma competição, ninguém é melhor que ninguém, te mos de andar lado a lado», insiste. E ao seu lado nesta responsabilida de têm estado o marido e os filhos, que a acompanham orgulhosos nas várias iniciativas que organiza.

Isabel diz que a associação lhe tem dado, neste último ano como presidente, muito mais do que lhe exige.

O «professor primário»: um homem

entre mulheres

Outras das áreas fundamentais para promoção da igualdade, bem como para a prevenção e combate à discriminação, é a educação. De acor do com o PMIS, em Sesimbra os indi cadores são positivos «registando-se uma diminuição da taxa de analfabe tismo e um equilíbrio na taxa de alu nos de ambos os sexos ao nível dos diferentes ciclos de ensino».

O diagnóstico salienta, no entan to, que a educação continua bastante «associada a uma tarefa maternal e feminina, fator que se reflete no nú mero superior de mulheres em todos os níveis de ensino. Esta tendência é ainda mais expressiva, no concelho de Sesimbra, ao nível da Educação Pré-escolar, onde não existe nenhum educador de infância».

No 1.º Ciclo, a situação não é muito diferente. Temos um «profes sor primário», Nuno Bolinhas Lopes, com muitos anos de experiência e boas memórias partilhadas com vá rias gerações de alunos e alunas da Escola Básica da Aiana de Cima.

Sentado numa mesa da bibliote ca escolar desenhada à medida para pequenos leitores, o professor Nuno conta que ser docente do Ensino Bá

sico foi um acaso, que se veio a tor nar numa paixão já com 16 anos.

«Para mim, ser professor no 1.º Ciclo significa conseguir fazer a di ferença, porque temos os meninos cinco horas por dia e podemos ter a sorte de acompanhar a turma do 1.º ao 4.º ano, enquanto nos outros níveis de ensino a relação não é tão próxima como a nossa», diz com en tusiamo, ao mesmo tempo que sa lienta não ter sido esta a sua primei ra opção, como não é para a maior parte dos seus colegas do sexo mas culino que seguiram a via ensino.

Vai recordando como foi o seu percurso de docente, enquanto ao fundo se ouve a voz de uma profes sora a dar aulas a uma das turmas do 1.º Ciclo, como acontece na grande maioria das escolas do Ensino Bási co. A representação de mulheres no universo de docentes do 1.º Ciclo no concelho de Sesimbra era, em 2020, de 94,6 por cento.

Nuno Bolinhas Lopes é a exceção. Adianta que escolheu esta profissão por vocação. Sabia que gostava de ensinar, que queria seguir o exem plo de alguns professores que foram marcantes no seu crescimento. A sur presa foi gostar tanto de ensinar alu nos e alunas do 1.º Ciclo, até porque não foi por aqui que começou, bem pelo contrário, as suas primeiras tur mas foram do 5.º ao 12.º ano, como professor de Educação Física.

«Nos primeiros anos de docência andei pelo Alentejo, Algarve, Açores, andava um pouco farto de andar a saltar, casei, precisava de assentar». Foi esta necessidade de estabilidade que o empurrou para um caminho onde existem principalmente pro fessoras.

«Posso dizer que foi assustador, para mim que era um homem de Educação Física, habituado a lidar com os miúdos noutro contexto».

Não sabe se é esta exigência que leva docentes do sexo masculino a não seguir carreira no 1.º Ciclo. «Adoro o que faço, mas é muito can sativo, estar com crianças entre os 6 e os 10 anos, cinco horas por dia,

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ser professor é uma tarefa que pode ser terrível e ao mesmo tempo muito gratificante, porque 1.º Ciclo é mui to esgotante». E aqui a igualdade é inquestionável, tanto faz ser homem como ser mulher.

Nunca sentiu discriminação ne gativa por parte das colegas ou dos pais e mães dos seus alunos e alu nas. Pelo contrário, por vezes até sente uma confiança acrescida por parte de encarregados de educação, reconhecimento que considera nada a ter a ver com o género, mas sim com a experiência e dedicação ex trema com que acompanha as suas turmas desde o primeiro ao último dia de aulas, nestes 25 anos.

Na escola da Aiana, só teve cole gas do sexo masculino nas Ativida des de Enriquecimento Curricular, não consegue explicar o porquê. «Se calhar acham que no 1.º Ciclo as crianças são mais pequenas e agarradas às mães, não sei», hesita

na busca de uma justificação que, di z-lhe a experiência, não faz sentido. Passou por muitas escolas, «algumas mais problemáticas», já teve muitas responsabilidades nas instituições por onde passou, foi coordenador de escola, tem mestrado em Adminis tração Escolar, tem muitos alunos e alunas que ainda hoje o reconhecem com carinho, e partilha de uma cer teza: o facto de ser homem em nada condicionou a sua vida de «profes sor primário».

É bem possível que, para além de ter ensinado a ler, escrever ou fazer contas, tenha contribuído para que os seus alunos e alunas sejam pes soas que combatam preconceitos de género, como o facto da tarefa de ensinar crianças no pré-escolar ou no primeiro ciclo ser uma tarefa «re servada» a mulheres.

Isabel e Nuno são dois exemplos de como fazer diferente para ser mais igual.

Nuno Bolinhas Lopes, professor do 1.º Ciclo

45
igualdade

atão Soce!

São expressões ligadas à pesca e ao mar que fazem parte da história e da memória da comunidade sesimbrense. O artista João Cruz recuperou-as, associou-lhes figuras carismáticas de Sesimbra e registou-as em caixas de luz, no espaço público. O resultado foi um roteiro que liga a arte de rua à história riquíssima desta terra de pescadores, e dá continuidade a um projeto que nasceu em 2014.

tradições

"Ah, Oh, Arreia-me da Mão”, “Andas à Zinga” ou o popular “Atão Soce!” foram algumas das expressões sesimbrenses recuperadas pelo ar tista João Cruz, que as associou a figuras da vila que habitualmente as utilizavam. Depois, com todo o seu talento gravou-as em caixas de luz por toda a vila, num autêntico roteiro que conjuga a arte de rua com a preservação da história e tradições locais, fortemente ligadas à pesca e ao mar. Na sequência deste trabalho, a Câmara Municipal, em colaboração com o ar tista, adaptou algumas das expressões a uma coleção de vestuário que está à venda na loja Yes Sesimbra, na Fortaleza de Santiago. A in tenção é que quem nos visita possa levar uma lembrança desta terra.

A iniciativa de João Cruz faz parte do con curso Sesimbra é Arte na Rua, que se iniciou em 2014 por iniciativa da autarquia. Desde então tem contribuído para a valorização do espaço público da vila com autênticas obras de arte pintadas ao vivo e assinadas por grandes artistas.

Esta não é a primeira vez que existe uma coleção de materiais de promoção do municí pio inspirada na arte de rua. Em 2018, quando a Câmara Municipal lançou a marca e a loja Yes Sesimbra, muitas das peças apresentadas basearam-se em pinturas feitas em portas e paredes da vila piscatória. Ao adquirir uma destas peças o turista ou visitante recebia tam bém informação sobre a obra que lhe serviu de base, com indicação do local onde poderia ob servar o trabalho original. Criou-se assim uma dinâmica em torno deste projeto.

Atrações turísticas

Com forte presença nas redes sociais, al guns destes trabalhos tornaram-se verdadei ras atrações turísticas. A obra We Love Fish, de Salomé Ferreira Afonso, numa porta da Rua Jorge Nunes, chegou mesmo a ser considera

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tradiçõe S

Neste caso, a Câmara Municipal pro duziu também um conjunto de mate riais de promoção turística inspira dos nos tons rosa, amarelos e azuis dos seus murais. Pitanga colaborou ainda com a autarquia na decoração do Posto de Turismo do Meco, na Praia do Moinho de Baixo, e na en volvente ao novo polo da Escola Bási ca n.º 2 da Quinta do Conde.

Tão bela quanto efémera

Hoje é comum criar obras de arte de rua específicas para decoração de fachadas de edifícios, equipamentos e espaços públicos. Exemplo disso é a pintura que assinala o início da Car ris Metopolitana, na empena de um prédio de nove andares junto ao ter minal rodoviário, da autoria de Smi le, nome artístico de Ivo Santos, cuja entrevista publicamos nesta edição da revista. No entanto, a Arte de Rua é efémera por definição, o que lhe acrescenta mais encanto. Uma ruína, um prédio antigo, uma velha porta são bases perfeitas, no entanto, o au tor tem a consciência de que será um registo temporário. Por este motivo, muitas das obras emblemáticas da Arte de Rua em Sesimbra foram desaparecendo. A pintura do conjunto musical Os Galés, nu ma carroça, pintados por João Cruz junto à Praia do Ouro de sapareceu quando o muro foi

OUTUBRO50

demolido, o famoso polvo dentro de uma garrafa, de Gemeniano Cruz, no Largo José António Batista ou a im ponente baleia pintada pelo mesmo autor na Rua D. Afonso Henriques, em frente ao hotel Sana foram tam bém sofrendo erosão e acabaram por ser substituídos. O registo fotográfi co recorda a sua passagem por este imenso roteiro das artes.

Nova edição já mexe

A sexta edição do concurso Se simbra é Arte na Rua está a decor rer. Desta vez participam 10 artistas,

com 12 trabalhos, que vão agora co nhecer os locais disponíveis para de pois nos surpreenderem com as suas propostas.

Pode surgir em qualquer lado. Numa caixa de eletricidade, numa ruína, num velho muro ou numa porta. Qualquer que seja o enquadramento, tornam se de ime diato num elemento central que dá vida ao espaço público. Tão belas quanto efémeras, as obras de arte que povoam cada recanto da vila de Sesimbra são, hoje, imagens de marca e, muitas delas, autênticos atrativos turísticos.

51 tradições

Tamarina é doce tradicional de SeSimbra

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53 S abore S A Tamarina é oficialmente um doce tradicional de Sesimbra e vai agora ser promovida com uma imagem própria, que pretende valorizar este bolo criado no século passado por uma doceira de Sesimbra. A Tamarina de Sesimbra ganhou o estatuto de Especialidade Tradicional Local.

aA marca registada pela Câmara Municipal de Sesimbra foi lançada a 17 de maio, Dia Mundial da Pastela ria. A ideia é divulgar este produto local, num processo de promoção e valorização semelhante ao da Fari nha Torrada de Sesimbra.

O bolo em formato de triângulo foi criado no final da década de 30, do século XX por Angeolila Zegre, na pastelaria ‘Tá Mar", da qual era pro prietária e que funcionava na Rua Cândido dos Reis, em Sesimbra.

É precisamente do nome da pas telaria que deriva o nome Tamarina.

A base do bolo é um pão de ló fofo, re cheado e barrado com um creme enri quecido com gemas e coberto de coco.

Recordando o cheiro que sentia quando via a avó Angeolila a cortar e

a rechear as Tamarinas, Maria Dulce Bronze considera muito importante todo o processo de preservação da receita original. «Tinha pena de haver muita gente a fazer um bolo com o mesmo nome, sem ser a receita origi nal», indica a neta da doceira, que es pera que assim a base seja mantida.

O vereador José Polido acredita que a Tamarina de Sesimbra «será um su cesso no futuro» e salienta que é «gra tificante voltar às origens» e ter «este doce maravilhoso disponível para que as crianças o possam degustar».

O registo deste doce pertencia a Carolina Roque, que na Almoinha fa zia e vendia as Tamarinas. Quando decidiu deixar de as fazer, a paste leira falou com a presidente da Junta de Freguesia do Castelo para ceder

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o registo, para que a receita não se perdesse. «Falei com a Câmara para saber se queria avançar com o regis to, caso contrário avançaria a Junta», conta Maria Manuel Gomes, presi dente da Junta de Freguesia do Cas telo. «Fizemos agora a passagem do titular para a Câmara», adianta, refe rindo que após o registo da Farinha Torrada de Sesimbra foi efetuado um levantamento de todos os doces tra dicionais, que agora devem receber o mesmo tratamento e ser registados.

A Câmara Municipal de Sesimbra criou um logotipo e uma imagem para a marca Tamarina de Sesimbra, com o intuito de começar a promover e a divulgar este doce em feiras e outros eventos gastronómicos. «Este registo de marca dá alguma força para fazer

mos todo um trabalho de marketing e de promoção a nível nacional e tam bém fora de portas», salienta Maria Manuel Gomes, presidente da Junta de Freguesia do Castelo.

As pastelarias que decidam ven der este produto terão à porta o dístico da Tamarina de Sesimbra. Os profissionais de pastelaria e res tauração do concelho foram convi dados a aprender a receita original num workshop que decorreu na Es cola Profissional Agostinho Roseta.

O processo de promoção e valori zação da Tamarina de Sesimbra – Es pecialidade Tradicional Local incluiu ainda o levantamento dos produto res e vendedores, bem como a cria ção e distribuição de um folheto, com um resumo da receita original.

Ingredientes

para o Pão de Ló: 300 gramas de açúcar 200 gramas de farinha de trigo

1 colher de chá de fermento em pó 8 ovos

1 raspa de limão

Preparação:

Batem-se as gemas com o açúcar até ficar cremoso, acrescenta-se a raspa do limão com a farinha e o fermento. Para mexer melhor a massa e esta ficar mais cremosa pode-se juntar um pouco de água morna, umas 6 colheres de sopa. Bater muito bem até a massa fazer bolha. Batem-se as claras em castelo e envolvem-se na massa, mas sem bater demasiado. Unta-se o tabuleiro, o mais quadrado possível, com manteiga e leva-se ao forno pré aquecido a 180 graus, por mais ou menos 40 minutos. Deixar arrefecer um pouco de modo a facilitar o corte dos triângulos.

Ingredientes para o creme: 6 gemas

1 litro de leite Uma noz de manteiga Casca de 1 limão Coco ralado q.b.

3 colheres de sopa bem cheias de maizena

6 colheres de sopa de açúcar Preparação: Num tacho leva-se ao lume o leite com a manteiga, a casca do limão e uma pitada de sal, e deixa-se ferver. Numa tigela à parte mistura-se a maizena com o açúcar e envolve-se bem. A seguir juntam-se as gemas e batem-se bem até formar uma “gemada”. Quando o leite ferver deita-se a “gemada” em fio e bate-se continuamente até engrossar no ponto pretendido (o ideal é nem muito líquida nem muito espessa). O recheio deve ser colocado no pão de ló já partido em triângulos, no interior e nas laterais e por cima polvilha-se com o côco ralado. Receita para 18 triângulos.

55 S abore S
OUTUBRO 2022 SESIMBRA n.º 256 Durante duas décadas, Violeta Lapa teve medo da água. Entrar no mar era impensável e nadar não passava de um sonho por realizar. Hoje é educadora e terapeuta subaquática, pratica mergulho livre e lidera projetos inspiradores para cuidar dos oceanos a partir de Sesimbra, como o Programa Atlantis. Fez do Cabo Espichel casa e mergulhou, literalmente, numa nova vida onde a conexão com a água e a defesa dos oceanos são a sua prioridade. No mar encontra a paz, a tranquilidade e a ligação com a natureza.

afobia da água, a incapacidade de dar um simples mergulho, o medo de entrar no mar acompa nharam Violeta Lapa até aos 25 anos. Os seus receios foram, du rante muito tempo, maiores do que o fascínio que sentia pela água. «Quando era criança tive duas situações em que quase me afoguei e fiquei 25 anos fora de água», recorda a terapeuta aquática.

Os seus sonhos passavam pelo mar, mas a realidade dos seus dias era vivida em ter ra firme, a realizar os desejos dos outros. Com formação em Educação Especial e Artetera pia, Violeta dedicou-se, durante três anos, de alma e coração a concretizar muitos pedidos que chegavam à Terra dos Sonhos. Como coordenadora nacional desta associação, que promo ve experiências que impulsio nam o bem-estar a crianças e adultos em situações de grande sofrimento, ajudou a concretizar 365 sonhos num ano e meio.

«Assisti a muita magia a acontecer, vidas a mudar, com crianças a melhorarem com a realização do seu sonho». Uma experiência que diz muito sobre esta educadora aquática, de 41 anos, natural de Leça da Palmei ra, que na Terra dos Sonhos per cebeu que não havia impossíveis.

Foi o que sentiu quando se guiu o caminho mais improvável para uma pessoa que temia a vastidão do oceano.

Um dia chegou-lhe às mãos um flyer sobre um encontro de dança aquática. Naturalmen te curiosa e sempre de mente aberta para aprender mais, en

57 entrevi S ta

cheu-se de coragem e pôs-se a caminho da Tailândia para o en contro. E foi lá que, em apenas 20 minutos, aprendeu a nadar. «Uma experiência transforma dora que mudou o rumo da mi nha vida», recorda.

Foi neste momento de supe ração que teve início a sua inten sa ligação ao mundo aquático. Procurou saber cada vez mais, começou a seguir o trabalho de terapeutas aquáticos, artistas aquáticos, cientistas, atletas, em resumo, de pessoas com várias profissões que em comum tives sem ligação com a água. Na sua pesquisa fez mais de 30 viagens, sempre entre ilhas, pela Tailân dia, Açores, Grécia, Brasil, Indo nésia ou Malta.

«Nunca mais parei. Tenho vindo a desafiar-me, a ir mais fundo no mergulho em apneia, dar sessões de terapias aquáti cas, ajudar pessoas que tam bém têm medo da água, fazer body surf (pratica havaiana em que surfam só com o corpo)», resume.

Viagens por um mundo melhor

Podia ficar por aqui, mas de cidiu ir mais longe e incentivar outras pessoas a vivenciar expe riências transformadoras de co nexão com a natureza através de práticas aquáticas, tendo sem pre presente que a preservação dos oceanos depende do seu co nhecimento mais profundo.

Poucas semanas depois de regressar da Tailândia, juntou a sua paixão por realizar so nhos, pelo meio aquático e pe las pessoas para dar início à Oceans and Flow, uma agên cia de viagens muito especial, onde se acredita «que o poder da Natureza e a presença em lugares inspiradores podem mu dar vidas», pro porcionado ex -

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59 entrevi S ta
Foto: Maíra Kellermann

periências aquá ticas «com um impacto positivo no mundo».

Como explica de forma apai xonada, trata-se de «uma agên cia que promove um turismo regenerativo, em que se mostra um lugar e se cria uma relação com a comunidade, não é só passar pelos destinos, é cuidar, dar de volta e fazer parte desse ciclo de regeneração do mar e da natureza, através de ativida des de educação ecológica, eco -ações de limpeza, de reflexão sobre o nosso modo de consu mo».

Ir à escola em fato de mergulho

O sonho tornou-se ainda maior quando chegou aos mais novos, através da escola, na primeira edição do Programa Atlantis, que decorreu em Se simbra. O projeto transformou o mar numa imensa sala de aula onde, através da combinação do mergulho livre com educação ecológica, pretendeu «desper tar e enraizar a responsabilida de ambiental e descobrir novas competências pessoais».

«O sucesso foi tal que tive mos professores a pedirem-nos o alargamento do programa a outras escolas, e alunos de outras turmas a chegarem às nossas sessões vestidos com de fato de mergulho, prontos para nos acompanharem nos trilhos aquáticos».

Quando há adolescentes a trazer amigos de 13 e 14 anos para a «sala de aula», é porque algo de muito fascinante está a acontecer.

É no seu papel de educa dora subaquática que Violeta recorda como decorreram os quatro meses de sessões, em plena pandemia, em 2021, com uma turma de 22 alunos do 8.º ano da Escola Secundária Na

vegador Rodrigues Soromenho.

«Educadores, professores e alunos receberam inspiração e ferramentas que passaram a partilhar no seu dia-a-dia. Mer gulharam, realizaram ações de limpeza de praia, assistiram à primeira edição das Ocean Talks e convidaram a comunidade lo cal a dizer quais os sonhos liga dos ao mar que tinham para Se simbra, através do jogo Oásis».

O que mais surpreendeu a equipa responsável pelo progra ma Atlantis foi a sensibilidade destes alunos na forma como observavam a vida marinha e a rápida aprendizagem sobre a importância de, juntos, cui darem da natureza como uma «casa comum».

«A cada sessão sentia-se o en tusiasmo a crescer e este tornou -se o momento mais esperado

OUTUBRO 2022 SESIMBRA n.º 260

durante a semana. Vários alunos com medo, com os seus mistérios por ser uma atividade nova, mas a evoluírem muito rapidamente no mergulho, ou não fossem eles “pexitos”. No último dia foi um prazer enorme vê-los a cinco ou seis metros de profundidade jun tos a desfrutar do mar, pareciam uns peixinhos», sorri, enquanto recorda os melhores momentos.

Uma fluidez e uma leveza que

Violeta Lapa tão bem conhece, a «sensação de voar» proporcionada pela dança aquática. «Com a iniciação ao mergulho livre é possível ir mais fundo e brincar com a gravidade, gradualmente explorar esse voo, que é uma das sensações quando dança mos debaixo de água, depois há a interação com os seres mari nhos, comunicar com eles atra vés do movimento».

Como resume «é um apren der ou relembrar, enquanto es pécie, a nossa sabedoria aquá tica. Por isso é tão comum as pessoas sentirem-se em casa quando vão para o mar».

Agir local, pensar global

Violeta Lapa pretende conti nuar em Sesimbra, «um dos sí tios mais bonitos para viver» e prosseguir a sua missão de agir local, para pensar global.

«É o meu lugar para ficar para sempre, apresentar traba lho e contribuir para a comuni dade, entrar na vida da vila, co nhecer pessoas, apoiar, ajudar Sesimbra a ser ainda mais uma inspiração e um ponto de encon tro para literacia oceânica».

Um trabalho que já come çou, com a digressão de apre sentação do documentário so bre o Programa Atlantis. Ao lon go de duas semanas uma equipa de 17 pessoas navegou pela costa portuguesa na Mis são Atlantis, a bordo de três ve leiros, com paragem em cin co estações náuticas, de Mato sinhos a Lagos.

A missão terminou em Se simbra, com as palestras Ocean Talks, no Dia Mundial da Loca lização, 21 de junho, numa tar de dedicada a conversas ins piradoras sobre o poder e a importância de agirmos, consu mirmos, aprendermos e criar mos localmente.

Viver em Sesimbra, primei ro no Cabo Espichel e agora em Caixas, foi mais um sonho con cretizado pela jovem da cidade que, quando veio do Norte para estudar na Faculdade de Motri cidade Humana, se apaixonou pela Serra da Arrábida, ainda muito longe de saber os trilhos aquáticos que o futuro lhe re servava.

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Foto: Janna Nadjejda Guichet

Espólios do Arquivo Municipal

O Arquivo Municipal de Sesimbra faz há muitos anos um importante, e pouco conhecido, trabalho de recolha de fundos documentais essenciais para a preservação da história local. Documentos que são tratados e classificados para ficarem disponíveis à comunidade, meio científico e académico. À sua guarda tem documentos em papel, fotografia, filme, microfilme e até pergaminho. É ao Arquivo que muitas entidades e famílias confiam os seus espólios, para que sejam cuidados e contribuam, assim, para a preservação da memória local. Um trabalho para conhecer na próxima edição da revista Sesimbra.

Centro de Recolha Oficial de Animais de Companhia

Como funciona o Centro de Recolha Oficial de Animais de Companhia de Sesimbra, que serviços disponibiliza, como é feita a adoção? Vamos fazer uma visita guiada por este novo equipamento, construído de raiz pela Câmara Municipal no Pinhal do Cabedal, com excelentes condições para acolher cães e gatos errantes, abandonados ou vítimas de maus-tratos.

Olharápios do Cineteatro

Em Sesimbra há um grupo de espectadores que tem um papel ativo nas escolhas do que se vê e ouve no Cineteatro Municipal João Mota. São os Olharápios, pessoas com idades e preferências culturais muito variadas que dedicam um pouco do seu tempo livre para se encontrarem, partilharem ideias e fazerem sugestões para a programação da temporada do Cineteatro. Na próxima edição vamos saber quem são, os seus gostos e propostas artísticas para mais um ciclo de música, teatro dança e espetáculos infantis.

Apoios ao movimento associativo

A Câmara Municipal reserva uma parte do seu orçamento anual para apoiar o movimento associativo concelhio, que tem um papel fundamental no apoio social, na promoção do desporto e cultura e, até, na segurança de pessoas e bens, de que são exemplo, os bombeiros. Os apoios assumem a forma de contratos-programa, protocolos e subsídios para comparticipar melhoramentos nas instalações, aquisição de equipamentos, contratação de técnicos e dinamização de atividades.

Projetos que marcam 2023

A abertura da nova Unidade de Saúde de Sesimbra, o retomar das obras da Escola Navegador Rodrigues Soromenho, a abertura do Parque da Vila Amália ou o início das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril são alguns dos temas que nos vão acompanhar em 2023. No próximo ano queremos também retomar em pleno o Carnaval e dar continuidade a várias candidaturas aprovadas em curso, que vão melhorar a qualidade de vida dos munícipes em vários domínios. Parque Ecológico da Várzea, na Quinta do Conde, Lagoa de Albufeira ou núcleo urbano antigo da Vila de Sesimbra são algumas das zonas abrangidas. Há ainda ideias para a juventude e para a cultura que queremos implementar. O terceiro número da revista Sesimbra dará, pois, a conhecer os projetos que vão marcar o próximo ano.

OUTUBRO 2022 SESIMBRA n.º 262 até à próxima

SESIMBRA

Paços do Concelho, Rua da República, n.º 3 Horário: segunda a sexta, das 8 às 18.30h sábado, das 8.30 às 13h

QUINTA DO CONDE Edifício do Mercado Municipal, Av. Manuel de Arriaga Horário: segunda a sexta, das 8 às 18.30h sábado, das 8.30 às 13h

MÓVEL

horários em www.sesimbra.pt

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