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Mathias Bistriche M de Oliveira O Filho Perdido
minhas lágrimas. Acordei com alguém abrindo a porta. Era minha tia. Ela me observou por alguns segundos. Respirou fundo e me pediu que a ajudasse com o jantar.
Estava frio. A criança estava pronta para nascer. Eu havia me preparado para o dia em que veria meu filho pela primeira vez, sabendo que seria uma das últimas. Ele nasceu três semanas após o início do inverno. Era muito menor do que imaginei. Chorei ao pensar que teria que deixar aquele pequeno ser na Roda dos enjeitados, esperando que alguém pudesse criá-lo. Alguns dias depois, Mônica havia decidido que estava na hora de Cândido levá-lo. Não consegui dizer ou fazer nada enquanto meu filho bebia meu leite pela última vez. Apenas observei e pensei no quanto eu queria que ele soubesse o amor que eu tinha por ele. Será que ele receberia carinho? Será que sobreviveria? Senti um caroço na minha garganta e, antes que essa dor pudesse se transformar em qualquer lágrima, Cândido estendeu seus braços para mim, para buscar seu filho e levá-lo embora. Embrulhei-o em um cobertor que tia Mônica havia costurado e o beijei na cabeça da forma mais delicada e verdadeira que consegui. Cândido saiu. Eu não soube o que fazer por algum tempo. Olhei em volta e nada me alegrava. Pela janela consegui acompanhar o meu filho, embrulhado em um cobertor nos braços de seu pai, do lado de fora. Aquilo me fez sorrir. Depois de um dia não muito bom, eu consegui sentir uma esperança.
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Cândido estava demorando muito para voltar e eu e tia Mônica ficamos preocupadas. Depois de mais alguns minutos, ele entrou em casa, sorrindo. A criança ainda estava com ele. Como? Cândido jogou notas altas de dinheiro em cima da mesa. Meu filho chorava. Eu o peguei no colo e fiz com que dormisse. Abracei Cândido, sem perguntar como havia conseguido o dinheiro. Sentamos na mesa e jantamos felizes. Mathias Bistriche Martins de Oliveira
O Filho Perdido
A vida de uma escrava não é nada fácil, é uma vida totalmente precária e às vezes sem menor sentido que nem dá nem vontade de viver. Sempre sendo obrigada a fazer tarefas à base de pancadas, chicoteadas ou abusos, sem receber nenhuma recompensa em troca. São sempre trabalhos pesados e que às vezes não tinha forças para fazer, porque estava grávida, provavelmente por um dos abusos do meu dono, se não de algum de seus trabalhadores. Com certeza, esse foi o pior período da minha vida.
Já não aguentava mais, todos os dias sendo tratada como um animal, sem nenhuma maneira de lazer, e sem liberdade. Então, decidi dar um fim a isso e viver livremente com meu filho em minhas mãos e longe da escravidão. Nem conseguia imaginar uma vida livre sem precisar servir a ninguém. Então planejei fugir pelos fundos enquanto ninguém via para poder correr para um beco que tinha lá perto e, quando estivesse seguro, ir para a casa de uma antiga amiga, que eu lembrava muito bem de sua casa e onde ficava. Ela me ajudaria a me recuperar com meu filho, e recomeçar a minha vida. Faria a minha fuga durante a noite e fugiria perto do pôr do sol antes de as pessoas acordarem.
Fui para a porta dos fundos quando não havia