Manifesto/01_Violence Issue

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Não olhe. Lave o sangue de sua fronte. Limpe sua arma. Esconda sua bolsa. Descanse em paz. A violência é quase inerente ao ser humano. Em contra partida, a empatia também. De que matéria é feita a energia que alimenta a nossa violência? Que força é gerada pela nossa violência? Bombas de efeito moral. Mas primeiro vem o estômago, depois a moral. Qual violência você praticou hoje? Que violência praticaram contra você hoje? Tic-tac. Bem vindos a segunda edição da Manifesto/01, o primeiro capítulo de um manifesto eterno.

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Não consigo esquecer o jovem casal que Ron Mueck expôs no MAM esse ano e o quanto aquilo me sensibilizou: ele a segura pelo braço; ele a obriga olhá -lo; ele se impõe. Dias depois assisti um filme do Coutinho, “Um Dia na Vida” que é feito a partir de imagens tiradas da televisão, e tem uma cena exibida em jornal sensacionalista com todos os estágios da violência: primeiro o homem tenta trazer a mulher para si, depois ele a puxa enfaticamente, até que ele a joga no chão e a chuta. Tanto esse filme do Coutinho, quanto aquela exposição do MAM estão longe de serem meus prediletos, mas essas cenas – sendo didáticas ou não – me chocaram. Vira e mexe, martelam na minha cabeça. Me vejo rodeada por homens humanos demasiado humanos que apesar dos apesares são maravilhosos: um pai que preza pela minha independência – que inclusive sempre me levou pra ver os jogos do Botafogo, pescar e nunca me excluiu das coisas pertencentes ao seu mundo, até torceu por muito tempo para que eu aprendesse a mesma profissão que ele – e um irmão que compartilha comigo um gosto por quadrinhos que se manteve mesmo com a obrigação de trabalhar para pagá-los. Homens que me apoiam em todas as escolhas que faço, que me protegem e que realmente torcem pela a minha liberdade: que me seguram pela mão por carinho e não por acharem que preciso ser guiada. Diante disso, posso afirmar que enquanto mulher, me ofende e muito, um cara que bate na esposa levando

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sei lá e tantos de milhões de votos. O patriarcalismo a favor da “família brasileira” mostrando que o órgão excretor reproduz sim. Me violenta e me amedronta ver aborto sendo tratado como assunto secundário e marcha das vadias colocada para um escanteio fadado ao underground, à ideia de mulheres “moderninhas”. Hoje em dia me perguntam se eu não tenho medo de viver com as pernas de fora, e isso sempre me faz lembrar que demorei até metade do ensino médio pra começar a usar shorts e só lá pros 18 fui deixar de ser boba e usar biquini, chegando até ser ridículo pensar nas minhas frustradas tentativas de esconder o meu corpo: sou mulher, o que eu poderia fazer? Sozinha e de saia, espero o meu ônibus, saio por aí bêbada, e estranhamente posso afirmar com toda certeza o despropósito da coisa, porque até hoje não sei o que quero com isso além de um sorriso e um papo com meus amigos.

Agora, me vejo cada vez mais afastada de muitas pessoas que na adolescência eu nunca consegui entender, e sei que a luta é diária ao mesmo tempo que não dá pra ser cúmplice ou esconder as pernas a vida inteira. Repito: sou mulher, o que eu poderia fazer?

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American Girl in Italy, por Ruth Orkin @ 1951

Nunca tive forças para discutir – no fundo não quero gritar, chamar a polícia, bater boca, lei Maria da Penha, me explicar, etc –, mas uso vestido que fica transparente ao sol, rebolo porque não sei andar de outro jeito, gosto do que estudo e sei que jamais vou depreciar o que escolhi e sou orgulhosa quando decido. Faço porque faço: não sou uma donzela, não preciso de companhia pra nada e posso abrir meus potes de palmito utilizando uma faca pra tirar o ar deles, a tampa fica frouxa e sai facilmente – ainda estou trabalhando esse negócio de abrir latas de alumínio, mas um dia chego lá.


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Ele matou pelo menos cinco pessoas, sendo que uma delas, ele matou duas ou três vezes. Caravaggio nasceu na Itália em 1571, no Ducado de Milão. Seu nascimento se deu sete anos após a morte de outro artista do qual ele recebeu o mesmo nome: Michelangelo. Nos diversos registros existentes é possível encontrar essa faceta assassina de Caravaggio. Talvez vocês só encontrem um único assassinato cometido por ele, mas eu gostaria de falar dos outros que não aparecem, e provar que esse artista genial se deliciava com decapitações. Michelangelo Merisi da Caravaggio, além de matar Ranuccio Tomassoni, decapitou pelo menos duas vezes o gigante Golias, uma vez Holofernes, uma vez a famosa Medusa e também São João Batista. É interessante olharmos para essa série de decapitações em especial, para tentar entender essa relação de agonia e prazer entre Caravaggio e a morte. Uma relação que ao mesmo tempo em que visava purgar os pecados do artista, que era usada para assumir seus crimes; também foi a relação que afirmou um espírito assassino e a predileção do mesmo pelo horror. Talvez Caravaggio estivesse usando essa sua atração pela morte e pela violência, como um meio de evidenciar essa mesma atração no coração de todo ser humano. Quando olhamos Judite e Holofernes, de 1599, é importante fazer uma pergunta: O que me incomoda mais: o fato de um homem ter a cabeça cortada na minha frente, ou o sangue dele acabar espirrando em mim acidentalmente? Eu não consigo responder essa pergunta, mas tenho certeza de que Judite está cortando a cabeça de Holofernes com todo o cuidado possível para que não caia sangue algum em sua pele. A bela Judite tem nojo e prazer ao cortar a cabeça do condenado. Percebe-se essa mistura de sentimentos quando paramos de observar sua expressão de nojo, para olhar logo abaixo, seus mamilos enrijecidos, mar-

cando eroticamente sua blusa. A velha assistente de Judite pode estar um pouco nervosa, mas a jovem moça está bem tranquila realizando seu desejo. Quando eu digo que Caravaggio matou todas essas personagens que estão representadas em seus quadros, eu quero tentar desmistificar essa ideia de que Caravaggio pintava incrivelmente bem, fazendo com que a luz e a sombra criassem um cenário teatral. É óbvio que ele pintava muito bem, mas acho que ele não se preocupava com a teatralização da imagem, mas com a tentativa de torna-la tão real ao ponto dele sentir que era ele o carrasco. Quando o estudioso Simon Schama nos apresenta um artista que mata a Morte, como no quadro Cabeça de Medusa de 1598, podemos adentrar um pouco mais esse raciocínio circular presente na mente de Caravaggio. Porque por mais confuso que pareça, o pensar desse artista é bem estruturado e até mesmo irônico. Pois quem, se não ele, para matar aquela que a todos matava? Antes que o chamem de arrogante por decidir o fim da própria Morte, Caravaggio nos mostrou a eternidade da mesma, evidenciando uma característica imutável: mesmo morta, a Medusa, com seu olhar, continuará matando. Talvez seja através dessa compreensão do ofício da Morte que ele, no ano seguinte, pinta Judite e Holofernes. Em 1605/6 ele pinta Davi com a Cabeça de Golias, um quadro misterioso onde ele mesmo se decapita. Caravaggio é a cabeça do gigante cruel nesse quadro. Anos após se declarar assassino pelos braços de Judite. Será que ele aceita as acusações? Aquelas acusações de que ele é realmente um homicida cruel e louco... Não é a toa que esse quadro é pintado na mesma época em que ele mata Ranuccio em uma das suas “diversões” com sua turma. Simon Schama vê essa decapitação de Golias como o maior pedido de desculpas feito por Caravaggio. Isso porque o quadro chega às mãos de Scipione Borghese após a morte do artista. Essa obra deveria ter chegado antes da morte de Caravaggio, já que fazia parte de um acordo entre ele e o Cardeal Scipione Borghese que tinha como ob-

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Giuditta e Oloferne, por Caravaggio @ 1599

jetivo livrar o artista das acusações de ter matado Ranuccio. A cabeça de Caravaggio estava posta a prêmio. É por uma brincadeira do destino que a cabeça dele, chega às mãos do cardeal depois de sua morte. Ele não só pede perdão, como se entrega, mostra-se frágil e destruído na imagem de Golias. Eu penso um pouco diferente quanto essa necessidade de pedir perdão de Caravaggio. Não creio que alguém como ele tenha se preocupado tanto com essas desculpas. Acho que ele procurava o próprio perdão, algo que viesse de dentro do Deus dele. Não é a toa que durante sua curta passagem pela ordem de São João, ele pinta A Decapitação de São João Batista. Um quadro grandioso e diferente de todas as outras decapitações feitas por ele. A maior cena de suspense da história. João Batista está deitado morto no chão, sua cabeça ainda junta ao corpo, esguicha sangue enquanto espera o carrasco retira-la para por na bandeja de prata de Salomé. Dessa vez, ninguém parece nervoso, impassível ou em êxtase. As pessoas estão tristes, confusas e tentam cumprir as ordens à risca para não ter que pensar muito. Acho que Caravaggio também ficou confuso, talvez ele tenha se sentido pela primeira vez, desconfortável com a morte; menos íntimo dela. Com dúvida e culpa, ele assina seu nome no sangue do santo, pede o perdão do Batista, de Deus, dele mesmo. Tenta se limpar com o mesmo sangue que ele tanto usou. Qual espírito se não o da própria arte para alimentar nossos desejos mais tenebrosos sem que nos culpemos? A necessidade animal de viver a morte, a vingança, o ódio e outros sentimentos obscuros, faz parte da alma de grande parte dos artistas. Como Patricia Higsmith dizendo que a única coisa que a salvou da cadeira elétrica era o ato de escrever, Caravaggio também usou a arte como saco de pancadas, Judas, para se livrar do sangue nos olhos. Não que isso tudo tenha sido um processo terapêutico para proteger o mundo de suas mãos, mas para que ele não terminasse o dia engolido pela própria morte. Evidenciar o horror nas obras de Caravaggio é uma tarefa simples que qualquer um faz ao olhar para seus quadros que tratam desse assunto. Difícil é entender onde começou, e se um dia terminou essa estreita relação que ele tinha com a Morte e seus comparsas.


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O seu não, de longe, é o mais cruel Pede, em súplica, que eu permaneça aqui Mas eu nunca vi você chorar pela sua cidade natal Por um acaso lembra-se de nossa casa cor pastel? Construída por mãos de titãs, em terras que não se tem chão, Apenas corpos remanescentes de guerras passadas, Que renascem como flor em ligações da química da vida No entanto, a lógica ainda é desconhecida Desde criança, eu lhe pergunto, qual é o seu nome? Está escrita em pergaminhos presos às muralhas antiquadas A carta relatando a nossa mais-do-que-perfeita jornada Em busca de seu tão prezado nome Eu me pergunto: quantas vezes as cicatrizes irão arder? Quantas gerações ainda teremos de perder Até obtermos seu privilegiado nome? As feições, os laços, os ossos... E mais uma lista interminável de objeções sem cativação A sua voz ressoa nos mais admiráveis espaços extraterrestres intergalácticos Anunciando que as crianças farão suas malas e partirão ao entardecer Escute isso, meu caro amigo, soam os sinos da morte, não soam? Partirão elas solitárias sentindo o aroma do destino condutor? O sentimento de vingança enraizado nelas é um forte inabalável? Longe delas, eu lhe peço, não me deixe estar Enquanto chamo o seu nome A minha sabedoria não é maior do que a de ninguém E, ainda assim, prefiro perolizar a moral de minha própria fábula Não se esqueça de que os anos só podem ser contados Partindo de um nada e o nada é numericamente zero.


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Aviso: O texto abaixo trata de assuntos como depressão e auto mutilação. Caso sejam temas sensíveis, não é recomendado a leitura do mesmo.

Me lembro que quando li a mensagem do nosso caro Poderoso Chefão (um beijo, querido!) sobre qual seria o tema desta edição da Manifesto, quis bater nele. ‘Qual o problema dessa gente?’, pensei, ‘De primeira me vem com uma cacetada como nascimento e agora me vem com violência, deve estar de brincadeira!’. Mas não era brincadeira e eu fiquei várias semanas ruminando sobre o que eu deveria falar. Claro que nada me vinha à mente, então resolvi fazer o que faço de melhor: procrastinar! Depois de alguns dias, entre abas do tumblr e de inúmeras fanfics que acompanho, eu resolvi pesquisar um pouquinho sobre o que é violência. Claro, eu, como mulher, nessa amada sociedade patriarcal, sei muito bem o que é violência, não sei? Não. Eu conheço de perto a violência de gênero; a violência misógina e a violência gordofóbica (apesar de algumas pessoas, talvez, considerarem isso apropriação). Mas o assunto não se limita a isso. Na verdade, descobri que ninguém, até hoje, conseguiu definir exatamente o que seria esse conceito tão terrível. Entrei em desespero na hora, porque se antes eu não tinha assunto, agora então... Aí aconteceu. Pouco a pouco, devagarinho como é típico dela, eu fui sendo tomada novamente por uma pequena monstrinha que, ouso dizer, nunca me


abandonou de verdade. Ela começou quando esse semestre da faculdade foi se mostrando o pior da história dos semestres de faculdades. Então eu comecei a me entupir de doces. De uma forma completamente anormal, incluindo-se as crises de glicose que eu tenho durante minhas TPMs. Comecei a parar de me interessar verdadeiramente pelas coisas. Meu trabalho era um verdadeiro inferno na Terra e eu simplesmente perdera toda a vontade de sair da cama pela manhã. As pessoas na faculdade me irritavam. Meu namorado me irritava. Minha família, então... E comecei a sentir aquela pequena coceirinha atrás do cérebro, que passava de vez em quando para o meu pulso. Então me fiz entender e aí veio a preocupação. Minha depressão começou a se desenvolver quando eu tinha algo por volta dos quatorze anos. Foi a época mais escura da minha vida e eu não gosto de falar sobre ela, mas hoje me parece necessário. Com quatorze anos eu senti na pele o peso do machismo – o internalizado e o que vinha de fora –, através do meu primeiro namorado. Não vou entrar em detalhes, mas a coisa foi feia. O bastante para eu desenvolver a previamente citada doença, o cutting e, basicamente, o ódio próprio. Eu me sentia sempre sozinha, sem amigos, sem ninguém, completamente ignorada. A mim, me parecia que ninguém se importaria comigo e que não faria diferença minha presença na vida de ninguém – muito pelo contrário; na minha cabeça, todos estariam muito melhor se eu não existisse. Foi mais ou menos aí que o cutting começou. Não durou muito, porque apesar da minha vontade de morrer, eu nunca tive coragem de realmente tirar minha própria vida. Então eu passei a descontar esses sentimentos na comida e engordei muito, o que só contribuiu com o meu ódio por mim mesma. Minha memória dessa época é bem embaçada, mas todas essas coisas duraram, no máximo, um ano. Aí eu entrei no tumblr e fui apresentada a conceitos como o feminismo e isso me salvou. A partir daquele momento, eu decidira, faria de tudo para melhorar. Passei a estudar um pouco mais sobre o poder que eu tenho dentro de mim e isso foi cimentando cada vez mais todas aquelas coisas ruins que eu sentira por tanto tempo.

Voltei a comer direito, a escola era novamente aquela coisa chata, mas com algumas pessoas bacanas e minhas tardes passavam num borrão imerso em filmes da Sessão da Tarde. Nessa época, eu também voltei a ler e fui apresentada ao mundo das fanfictions e passei a escrever as minhas próprias – o que se provou o melhor remédio para mim, mas isso é outra história. E eu achei que tinha me curado. Só depois de quase seis anos que eu fui entender: depressão não é uma doença comum (sim, é uma doença). Ela não simplesmente vai embora e te deixa em paz. Ela está dentro da sua cabeça, no seu cérebro e esse é o pior lugar do seu corpo para ficar doente. Não é à toa que existem cientistas hoje que se dedicam a estudar e entender apenas este pequeno órgão nosso – porque nosso cérebro é algo inimaginável, capaz de fazer coisas maravilhosas e terríveis ao mesmo tempo. Mas estou me distraindo. Como eu disse, a depressão não é uma doença comum. Existem vários tipos diferentes e cada um é ruim do seu próprio modo. Comigo, ela se apresenta na forma de crises que vem e vão de forma abrupta, sem avisos. Eu nunca imaginei que fosse deprimida. Foi preciso [finalmente] uma consulta com uma psicóloga para entender que eu estava (estou) doente. Porque, pra mim, depressivos eram aquele tipo de gente que se vestia só de preto, não dava um sorriso por nada no mundo e reclamava quando a mãe comprava Toddy ao invés de Nescau. É, eu tinha uma visão bastante estereotipada desse assunto – que eu nem tratava como doença, inclusive. Foi o tumblr que me ajudou a desconstruir essa imagem, mas jamais a identificar em mim os sinais tão claros de que eu sofria disso também. Eu não me via deprimida, porque mesmo nos meus piores dias, eu ainda encontrava em algumas coisas um motivo para sorrir. Fosse brincar com minha (hoje falecida) cachorra, fosse a cor do céu durante o crepúsculo ou qualquer coisa assim. Hoje eu vejo que ter depressão não significa estar miserável o tempo todo. Eu posso muito bem ficar feliz quando meu namorado vem me visitar, quan-

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Depression, por Sylvie Reuter 12, @ 2013

do vejo um filme do qual gosto muito ou encontro um livro muito bom. Essas coisas, essas pequenas alegrias, não vão anular o fato de que eu estou doente e preciso de ajuda para não enlouquecer. As pessoas ao meu redor não entendem muito bem isso. Levou bastante tempo até meu namorado acreditar que eu estava doente, justamente por causa desses lapsos de felicidade que eu tinha – não vou nem mencionar meus pais, eles não sabem de nada. E é muito difícil lidar com isso, porque é algo muito incompreendido pela nossa sociedade. As pessoas acham que depressão é vitimismo, que é exagero ou falta de vontade. Por isso, muitas vezes, ninguém vai procurar ajuda e chegam a passar uma vida inteira doentes – ou não, às vezes não aguentam e acabam cometendo suicídio. É uma luta realmente difícil a que nós precisamos travar com nós mesmos e só quem sofre disso sabe. É violento. O ato de levantar da cama é uma batalha sangrenta que deixa muitos mortos e feridos. Cada pequena situação pode desencadear uma torrencial de auto depreciação e, geralmente, ódio à sociabilidade. Nos meus piores dias, eu não consigo aguentar o simples fato de ter que me vestir para ir trabalhar, quiçá ter alguém sentado ao meu lado no ônibus. Controlar a vontade de me jogar na frente de um ônibus – ou melhor, de jogar alguém na frente de um ônibus é um ato realmente heroico. Por isso eu decidi ir à uma psicóloga. Não queria voltar a ser tão ruim comigo, tão violenta, então entendi que precisava de ajuda. Da primeira vez eu fiz um bom trabalho me transformando em um prédio, com sua fundação toda cimentada sem que ninguém (nem mesmo eu) soubesse o que estava lá embaixo. Isso não é bom. Por pior que possa parecer, fugir do que você sente é sempre a pior alternativa, porque assim você não melhora. Sabe, depressão não é algo bacana. Há algumas partes da internet (sim, tumblr, eu estou olhando para você) que vão te dizer que é lindo viver assim, que é uma tristeza bela e que não há problema algum nisso. De fato, não tem problema algum você ter depressão, não é algo que você possa controlar nem algo que é sua culpa. Mas viver com isso não é saudável. Talvez depressão não tenha cura, eu não sei nunca fui pesquisar, mas tem

tratamento. Tudo de ruim que você possa estar sentindo por causa disso tem uma solução! Portanto, para finalizar esse texto enorme, eu gostaria que ficasse bem claro: se você se identificou com o que eu disse aqui, se você acredita que possa estar com depressão, você deve pedir ajuda! Ninguém tem nada a ver com isso e existe gente capaz de te auxiliar a sair dessa e se sentir melhor! Se quiser, entre em contato com o nosso Coletivo que eu passo meu e-mail e a gente pode conversar! Você não está sozinhx, ok?


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Não nego que sou menos santo que os outros. Fiz o que fiz. E estou aqui esperando me dizerem que já posso sair. Um intervalo de tempo entre duas vidas distintas que deveria ser incontável. Foi o que ela me disse. No julgamento, enquanto os guardas me guiavam depois da sentença: “Apodrece atrás das grades! Eu quero que você perca a conta do tempo que perdeu na clausura porque eu perderei o meu contando o quanto você me roubou!”. Fria. Paulatina. Palavras roucas saindo, uma a uma, da boca de quem chorou por dias. Eu não sabia que alguém podia sentir tanto ódio. Eu nunca senti. Nem contra eles. Estava em um transe de adrenalina que distorceu minha própria justiça. Às vezes é assim, a vida coloca sangue em nossas mãos para lhe ajeitarmos as linhas. Entre meu objetivo e eu estava um obstáculo. Nada mais simples. Fiz o que fiz. Eu não me arrependo de ter ajudado as coisas a serem como são. O estranho é imaginar que me deram o mesmo isolamento que dão aos monges pacifistas do Tibete. Quando não há nenhuma distração, você se encontra consigo mesmo. Acho que é por isso que ela quis que eu me perdesse no tempo aqui dentro: para que a névoa que encobre a realidade, a nuvem baixa que envolve a Mata Atlântica no topo do morro, a neblina

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Daniel Farò @ 2013

densa que entra pela janela aberta no inverno e esconde a mobília... para que tudo isso se dissipe e eu possa ver quem, afinal, há por trás. Ela quer que eu me veja por trás do que aconteceu e que me encare, sem opções para onde desviar o olhar. Então, se eu não posso mais devolver o que lhe tomei, é com o mesmo senso de equidade particular que uma vez os fantasmas da minha mente distorceram, que persigo diuturnamente o destino que ela me designou. Não me interessa falar com ninguém. Não me interessa comprar cigarros. Não me interessa receber os que ficaram lá fora. Não me interessa quanto tempo falta. É tudo distração. É tudo névoa e me causa náusea. Quero “perder a conta”. Mas, bem agora, na cela cinza que divido com Davidson, meus olhos se distraem. E veem, mais uma vez, ele fazer outro risco na parede de lá. É o fim de um dia qualquer. No início, ignorei o ritual. Depois, pedi que parasse. “Não vejo a hora de sair daqui”, ele respondeu. Nem eu, mas esta insistência metódica das marcas diárias está me fazendo ver o horizonte se aproximar. Os assimetricamente desenhados grupos simétricos de quatro traçados verticais e um diagonal começam a formar um calendário na minha cabeça. Não tenho nada contra o Davidson. Eu só quero cumprir minha pena. Não a que o juiz escreveu. A que ela me sussurrou. Quero cumprir minha pena e encontrar minha paz. Mas, entre meu objetivo e eu, arranhando a parede e me causando gasturas, está um obstáculo recurvado.


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No dia 9 de novembro de 2014 comemorou-se 25 anos da queda do muro de Berlim, os noticiários ao redor do mundo foram tomados pela demanda de tal marco histórico. Curiosamente estive em Berlin em Agosto, extasiada pela beleza da cidade mal poderia descrever o quão fui surpreendida pelo seu charme e cultura intensa. As ruas são tomadas pelas artes urbanas, que refletem em diferentes dimensões o grito estancado pela historicidade do lugar. Vale salientar a riqueza deste marco, com a derrota da Alemanha, seu território foi dividido, após o fim da Segunda Guerra Mundial, no ano de 1945. Cada país vencedor “legou” um setor da cidade de Berlim, e desse modo foram criados um setor americano, um inglês, um francês e outro soviético. A unificação dos três primeiros formou a área da cidade que seguiria o sistema capitalista, a Berlim Ocidental, que seria anexada a Alemanha Ocidental, por si só o lado soviético daria origem a Berlim Oriental, tornando-se a capital da Alemanha Oriental. Um enclave capitalista dentro do país


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socialista gerou conflitos, de tal forma que se deu a construção do muro de Berlim estava inteiramente no lado de influência soviética, a parte ocidental ficava ilhada, sem conexão territorial com o lado ocidental da Alemanha. A historicidade se estendeu e deu-se a outros parâmetros, a queda do Muro de Berlim no ano de 1989, foi o primeiro marco transgressor na cidade, dele outros desdobraram-se, as ruas foram tomando de suas “cicatrizes” políticas, culturais, sociais. Em circunstância do artigo proposto vale ressaltar as vertentes encontradas ao usar a temática violência e esta, está disposta em subgêneros classificatórios o que nos dá uma visão mais ampla do quão extenso se dá essa problemática. Berlim sem dúvida se encaixa em muitas dessas vertentes e nos tomaria outras vertentes do projeto propos-

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to se levantássemos cada uma delas. Neste iremos salientar o que é classificado como “violência patrimonial”, ou depredação do espaço urbano. Ressalvando, a violência é o conceito do fenômeno social de comportamento deliberadamente transgressor exercido por indivíduos ou agrupamentos nos aborde do espaço urbano, sendo ela determinada por valores sociais, culturais, econômicos, políticos e morais de uma sociedade, podendo variar entre si. O descontentamento dos berlinenses com o muro ficou patente quando, espontaneamente, quilômetros de concreto se transformaram em painel de grafites e pichações no lado ocidental – no oriental, a dura repressão manteve o paredão imaculado. A liberdade de expressão, assim, se contrapôs anos de suspensão do direito de ir e vir dos alemães em seu próprio país. De tal modo o debate sobre “o imperialismo cultural” veio no momento exato para lembrar que numa área todo mundo não fala a mesma língua. No âmago da noção sobre “identidade cultural”, isto é, no âmago deste lugar de onde são proferidas diversas vertentes culturais expondo em suas singularidades sendo críticas, protesto e poesia. Estas violências patrimoniais presente na histórica, próspera e culta Berlim, são o marco das cicatrizes históricas por ali deixadas, enfatizando a cada metro de cinza suas cores moldadas pelos seus gritos que foram calados pelo regime de opressão nos anos passados. Por trás dessa magia historiográfica, ocupa-se uma rebelião miraculosa que a opressão deixou vaga durante seus decênios, movimentos centralizados culturais fundiram-se a chamada democracia como sistema de produção e consumo industrial essa análise é a articulação desses terrenos do simbólico (a arte de rua/transgressora que impõem em seus parâmetros suas ideologias) e da cristalizam dos desafios democráticos, das mudanças da sociedade em curso. A redefinição da democracia e suas aspirações a liberdade, concedida a cada um de produzir os códigos que determinam os valores, os regimes e as hierarquias sociais e culturais, tudo aquilo que permite o indivíduo criar um singular que atinge o universal.


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O ventilador de teto tiquetaqueia na sala de cor salmão. Entre nós, um silêncio. O silêncio encontra-se às vias de ser quebrado. Um papel em branco, sobre a mesa, tenta esvoaçar. Sobre ele é posto um livro qualquer, bem velho, um livro qualquer bem velho do Lovecraft. As mãos enrugadas agora seguram uma caneta. Os olhos pequenos e envoltos por rugas fitam-me. “Digo que em meu punho há três pontos. Digo que eu não posso mover a minha mão direita. Meus olhos estavam cheios de lágrimas quando eles me remendaram feito um boneco de pano, àquela noite, sob aquele céu estrelado. Eles vaiam.” Endireito-me na poltrona escura. Minhas meias soquete aparecem. Estão sujismundas, tento ajustar a calça para que ele não repare a imundice. “Digo que sou a inércia e a onda mais revolta nas noites em que a lua está em sã plenitude. Eles vaiam. Os ‘buhs’ esparram-se nas paredes do meu cérebro. “ O céu encontra-se carregado. Nuvens metálicas, espessas. As nuvens dispersam. Os transeuntes caminham sobre a avenida. O sol incide, a bolha cintilante. “A canção está alta, não aqui, nem ali. Acolá, onde ela deveria estar branda feito a brisa. O botão do rádio, quebrado. Não quero desligar o

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fio da tomada, pois não quero que a canção, tão doce feito as balinhas de caramelo que acabam de cair no chão, finde e dê espaço ao silêncio. Eles vaiam. Silêncio.” “Quem o vaia?” As nuvens metálicas voltam a se anexarem. Abruptamente, as primeiras gotas de chuva começam a capotar. Os transeuntes dispersam-se. Ele toma notas. “Não sou um ator. Não possuo roteiros. Em minha vida não há cortinas, doutor. Estou nu e todos conseguem vislumbrar a minha dor, cheiram a minha pele. É enxofre. Digo que a felicidade não pode ser derradeira. Digo que ainda não cresci, mas meu rosto, céus, veja o meu rosto! Está velho, doutor. Eles vaiam, eles gargalham. Cobrem-me de ovos. Sujo, sujo, eles dizem.” A secretária negra entra, matraqueando qualquer coisa sobre Martha Brum. Ou ela cometeu suicídio, ou ela tentou o suicídio. Martha Brum tocou-me os ombros com suas pequeninas mãos que cheiram – ou cheiravam - a talco de bebê. Martha Brum. Aquela que há anos tenta – ou tentou curar-se de alguma coisa que transcende sua compreensão. Sua loucura, pequeno anel enferrujado. Eu a vi algumas vezes, Martha Brum. Seus cabelos eram curtos, amarelados, seus seios, avantajados; em seus olhos, a melancolia invernal. Eu sempre soube que logo ela tentaria morrer, bem cedo, Martha Brum; ela tinha – ou têm - um gingado como de quem possui – possuía - a vida em mãos, seus risinhos sapateavam com a morte. A secretária negra põe as papeladas sobre a mesa. Do lado de fora consigo ouvir a TV, está em seu volume máximo. Poderiam anunciar o que houve com ela, Martha Brum. O doutor nada diz sobre a mulher com as mãos que cheiram a talco de bebê. A secretária sai. Não ouço mais a Tv. Nunca saberei o que houve com ela. Anoto em meu cérebro que necessito escrever sobre ela, Martha Brum. O doutor fita-me, olhar cético.

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“Digo que quero escrever. Amar é escrever. Viver é escrever...” “E o que o impede de escrever? “Mas eles me vaiam.” “Quem?” “O que você vai me prescrever?” “Quem te vaia?” “O que?” “Sobre o que você está falando?” “Sim.” “Creio que...” “Digo que Mussolini era um fraco, uma vergonha para os italianos; uma vergonha para o partido fascista. Lá os solos não são muito férteis, também. Os esporos se vão com o vento. Eles tocam o chão. Vou-me feito um esporo. Ontem o noticiário falou sobre a enchente em Veneza. Não tenho mais o que dizer. Eles vaiam, murmuram uns aos outros.” “Hã?” “Eles jogam bolinhas de papel.” “Oras...” “As luzes do castiçal se apagam. A sala está lúgubre agora. A única luz que incide sobre nós é a de um azul invernal, um azul gélido, um azul atlântico. Nós estamos nus. Ele me abraça forte. Ele me acalenta sob o hálito gélido que paira, que nos entrelaça. Seus olhos se fecham. Estou em um processo de corrosão. Ele nada vê, dorme. Mas eles me vaiam. Jogam amendoins em mim. Eles viram as costas. Estão repletos de vergonha.” “Quem?” “Os meus eus, doutor.”


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Lenço étnico, Queenzel Store.


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Turbante, Queenzel Store.


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Aproximadamente um mês atrás eu estava em terras mexicanas, e pude conhecer um pouco mais dos dramas e das historias vividas por aquele povo, que assim como o brasileiro, enfrenta muitas batalhas em seu cotidiano. Mas o que me chamou mais atenção foi essa frase que decidi colocar como título do meu texto – cujo tema é violência – em alguns lugares na capital. Imediatamente eu quis entender o porquê dela e o que estava realmente acontecendo por ali. Antes de viajar para lá, aqui no Brasil, eu tinha visto no noticiário durante alguns dias uma matéria sem muita explicação, que dizia que um grupo de 43 jovens tinha desaparecido em uma cidade no estado de Guerrero, porém sem muitos esclarecimentos. Mal sabia eu que isso era uma realidade para os mexicanos: o desaparecimento forçado, a violência como solução. Estando lá pude conhecer um pouco mais da realidade deles, pude conhecer pessoas engajadas e preocupadas com as injustiças e que lutam pelos direitos humanos. Até me indicaram um livro que devorei e me deixou apavorada, “Ni vivos, ni muertos”, de Federico Mastrogiovanni, que mostra que ser pobre e lutar por seus direitos no México podem ser erros gravíssimos. Aliás, não só os mexicanos, imigrantes da Guatemala, Honduras e El Salvador também são alvos fáceis dessas injustiças. Basta pertencer alguma minoria.

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Porém, por falta de bagagem cultural minha ou mesmo por falta de espaço, não vou escrever sobre esses países, e nem me aprofundar neles, eu não seria justa, apenas comecei a minha reflexão na tentativa de abordar um assunto tão complicado como a violência. Essa viagem me fez pensar nas semelhanças que temos com todos os países “pobres”, assim como os diferentes tipos de violência que existem pelo mundo. Ser minoria não é fácil para ninguém, e em muitos casos, as pessoas pagam com suas próprias vidas e nem sabem o motivo. Mulheres e gays, por exemplo, são sempre vítimas de ataques gratuitos, simplesmente por estarem andando sozinhos em uma rua deserta tarde da noite ou por estarem com uma roupa provocativa ou por estar dando muita “bandeira”. A culpa quase sempre é da vitima, que claro, poderia ter evitado o acontecido, segundo os repressores. Marido que bate na esposa, mãe que espanca o filho, policial que abusa do poder, essas e outras são tentativas de colocar ordem em alguma coisa que há muito tempo já se perdeu. Em meio a tantas atrocidades eu fico pensando se alguém ensinou alguém a odiar? Será que nascemos odiando ou simplesmente é um aprendizado diário? E caso seja, porque não inverter o sentimento e ensinar a amar? Ensinar a respeitar? Se não gosta de uma coisa, não coma, não use, não compre. Por que bater ou quebrar? Não tem sentido. Bom, em alguns momentos o mundo em que vivemos tem de tudo, menos sentido, não é mesmo? Mas o que quero dizer, é que as leis têm que se fazer valer, sim. Homofobia tem que ser crime, assim como a Lei Maria da Penha protege as mulheres, assim como os idosos tem uma lei para eles, os crimes tem que ser punidos, mas de maneira

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justa e não gerando mais violência gratuita como a “Justiça com as próprias mãos”. Isso seria responder na mesma moeda, o que não resolveria nada. O que podemos pensar para evitar que tais coisas aconteçam? Ou como mudar esse quadro? Eu acredito que pela educação, ou melhor, acredito numa reeducação. Aprender a amar e a respeitar... mas ai esse seria outro debate para outro texto.


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Vivemos em um império, o império do medo. Um, o crime mata dois, três, o preconceito mata quatro, cinco, a polícia mata seis. CUIDADO! Cachorro bravo. Blinde seu carro, erga seus muros! Segurança 24h, câmeras de vigilância. Mantenha seus pertences a vista e bem perto de você. Seguro de celular, do carro, da bolsa, do cartão, da moto... Você se sente seguro? Já foi dito que “a violência do mundo se combate com as armas do bem apontadas em nossa própria direção”, ainda assim bilhões são investidos em um combate infinito a violência urbana e vivemos a procura de um inimigo que vive fora, nunca em nós.

O mestre Buda clamou que “jamais, em todo o mundo, o ódio acabou com o ódio, o que acaba com o ódio é o amor.” Temos a formúla, mas o homem insiste. A violência está enraizada através de guerras registradas na história, no passado havia guerra por poder e divergências ideológicas/ políticas, no presente há gerra por poder ainda e recursos naturais. E o futuro? Se permitimos, a violência estará registrada nele também. É tempo de mudança! E por isso mesmo assusta ver a forma retrógrada como algumas pessoas lidam com os problemas advindos da violência. Redução da maioridade penal, instituição da pena de morte e linchamento em praça pública são alguns dos discursos defendidos. Envolto nestas “soluções” está o simplismo e a arrogância em desconsiderar um passado inteiro de “olho por olho, dente por dente”. Devemos nos questionar, “how many deaths will it take till he knows that too many people have died?” Bob Dylan, baby. O que fica é essa sensação de instabilidade, como se o próximo passo fosse a instalação de uma grande Guerra Fria, mas eu me recuso a acreditar no pior, a dar credibilidade para o pessimismo. A violência está em todos nós e já é hora de pararmos de alimentar monstros para enfim, lutarmos contra eles.

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Gostariamos de agradecer a Professora Maria José Rosolino, e a Universidade Anhembi Morumbi, por nos ceder o espaço e atenção. Agradecer a Talita Queenzel, da Queenzel Store, a todos os modelos envolvidos na produção dessa edição, a todos os nossos colaboradores e a vocês, nossos leitores.

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