N.º 75 Distribuição Gratuita 3.º trimestre de 2019
notícias
Especial Migrações
WALL Derrubar Muros. Construir Futuros. Entrevista
MBYE EBRIMA O GRITO DA VIDA História da família Tchoncko
AGORA TAMBÉM EM
FORMATO DIGITAL
N.º 75 Distribuição Gratuita 3.º trimestre de 2019
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Especial Migrações
WALL Derrubar Muros. Construir Futuros. Entrevista
MBYE EBRIMA O GRITO DA VIDA História da família Tchoncko
AGORA TAMBÉM EM
FORMATO DIGITAL
04 | WALL Derrubar Muros Construir Futuros 07 | O acolhimento de migrantes em Portugal
08 | O grito da vida 10 | Entrevista – Mbye Ebrima
12 | “D” de Coragem 14 | Os muros que todos os dias
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derrubamos
16 | Recomeçar é possível 17 | Crónica “AMI convida”:
+ TEXTOS
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Francisca G. Henriques
Impresso em papel 100% reciclado
18 | Breves Internacional, Nacional Quadro de Honra, Mecenato
22 | Agenda + Loja AMI 23 | Informações 02 |
SUMÁRIO + EDITORIAL
IMIGRAÇÃO:
UM INCOMENSURÁVEL DESAFIO PARA AS PRÓXIMAS DÉCADAS!
Se até agora o movimento migratório tinha essencialmente como grandes causas o subdesenvolvimento, a pobreza, os conflitos, a desgovernação, a insegurança alimentar (fome) e as crises político-religiosas, doravante, e de forma extremamente acelerada, as migrações terão nas alterações climáticas, na robotização e no crescimento demográfico exponencial, os seus impulsionadores determinantes! Perante tanto sofrimento, que já observo há tanto tempo e perspetivo como apocalíptico e quiçá irreversível para as próximas décadas, o meu ser espiritual, humanista e emocional abre completamente os braços, com amor e compaixão, para acolher todos os meus irmãos e todas as minhas irmãs, todos os meus filhos e todos os meus desesperados semelhantes… já o meu ser racional e conhecedor do Mundo diz-me: Atenção! Alerta! Que entrem todos os que vierem por bem com conta, peso e medida e prontos a integrar-se mas que se impeça de entrar todos os elementos treinados para destabilizar a nossa cultura e democracia! Tenho amigos íntimos de todos os quadrantes geográficos, políticos e religiosos, todos eles já foram recebidos como irmãos em minha casa e com eles sempre partilhei a minha mesa com sincero afeto e total tolerância e fraternidade. Sim, sempre com um diálogo empático repleto de respeito mútuo e de reciprocidade de tratamento, frontalidade e lealdade.
Fernando de La Vieter Nobre Presidente e Fundador da AMI
Acredito assim, e convictamente, que o inevitável movimento de centenas de milhões de pessoas do sul para o norte, e do leste para o oeste na Eurásia, implica e implicará cada vez mais pensar seriamente em soluções concretas para acolher e integrar sem colocar em causa as democracias e a “civilização” ocidental ainda vivas, transformando-as em Democracia e Civilização Globais a custo aceitável. Há por isso que preparar desde já a chegada de movimentos humanos imparáveis, e nunca antes vistos, com políticas claras e eficazes. E, torno a insistir, para haver Tolerância e Diálogo construtivo tem de haver obrigatoriamente, Respeito Mútuo e Reciprocidade de tratamento! Sem Respeito Mútuo e Reciprocidade de tratamento humano entre povos, culturas e religiões, será impossível derrubarmos os muros dos preconceitos e dos ódios e substitui-los por pontes de fraternidade e de salutar espiritualidade. Só com toda a frontalidade, e sem tibieza mascarada de humanidade e solidariedade humanas, será possível o acolhimento e integração pacífica e progressiva de centenas de milhões de migrantes, fenómeno até hoje nunca vivenciado na Humanidade, a fim de todos construirmos enfim uma Civilização única, fraterna e empática.
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WALL DERRUBAR MUROS. CONSTRUIR FUTUROS
Impresso em papel 100% reciclado
No dia 3 de outubro de 2019, o Largo de S. Domingos, em Lisboa, foi palco de espetáculos de dança, de exposições de fotografia, de tertúlias, de mobilização da sociedade civil, de muros transformados em pontes. Um movimento registado por todos os que passaram pelo local, fosse através do telemóvel, da máquina fotográfica, da partilha nas redes sociais, da cedência de uma assinatura ou do download de uma app. O relógio da Igreja de S. Domingos assinalava 9h45 quando um grupo de 20 bailarinos da Companhia de dança “Art of Dance by Colin”, irromperam pelo Largo, protagonizando uma coreografia inspirada nos desafios que enfrentam os migrantes, assinada por Cifrão e Colin. Estava dado o mote para assinalar o “Dia Europeu da Memória e do Acolhimento” em Lisboa. Aos primeiros passos de dança, o silêncio instalou-se no Largo de S. Domingos, pese embora os telemóveis que pairavam no ar a eternizar o momento e a multidão que cercava o espetáculo, mas os aplausos não se fizeram esperar e o público não moderou o entusiasmo quando a 04 |
música terminou, os bailarinos deram as mãos e um muro deu lugar a uma ponte. “WALL: Derrubar Muros. Construir Futuros”, foi a proposta apresentada pela AMI para assumir a representação da campanha “No More Bricks in the Wall” em Portugal, procurando contribuir para o desenvolvimento de políticas migratórias positivas de acolhimento e integração através de uma maior sensibilização dos cidadãos em Portugal para o fenómeno das migrações globais, as suas causas e consequências nos países de origem e impactos e desafios nos países de acolhimento, concorrendo assim para o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 10 – Reduzir as Desigualdades. O dia 3 de outubro de 2019 ficou marcado em toda a União Europeia como o “Dia Europeu da Memória e do Acolhimento”, uma data simbólica que recorda um dos acontecimentos mais trágicos no Mediterrâneo, que, em 2013, vitimou 368 migrantes (entre crianças, mulheres e homens) ao largo da costa de Lampedusa.
AMI
“
O objetivo de recolher 10 mil assinaturas foi alcançado à data de edição desta revista. No entanto,a petição continua a decorrer em https://you.wemove.eu/campaigns/ facamos-do-dia-3-de-outubro-o-diaeuropeu-da-memoria-e-do-acolhimento para todos os que queiram associar-se a esta causa e honrar esta data.
”
Em 29 capitais europeias, no âmbito da campanha “No More Bricks in the Wall”, financiada pela União Europeia e promovida pelo projeto Snapshots from the Borders, decorreram iniciativas em simultâneo com o objetivo de assinalar a data, recolher as 10.000 assinaturas necessárias para fazer chegar às instituições europeias a petição para tornar o dia 3 de outubro, o “Dia Europeu da Memória e do Acolhimento”, e promover o conhecimento informado dos cidadãos europeus sobre a migração global e o seu impacto. Na capital portuguesa, o evento foi liderado pela AMI, tendo contado com a presença de diversos atores da sociedade civil, bem como dirigentes das diversas dimensões políticas, culturais e religiosas no país, nomeadamente, os vereadores dos pelouros da Educação e Direitos Sociais, Habitação e Desporto da Câmara Municipal de Lisboa, o Alto-Comissário para as Migrações, a Chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal, o Presidente da Comunidade
Islâmica de Lisboa e o Presidente da Comunidade Hindu de Lisboa, bem como representantes diplomáticos de várias embaixadas, jornalistas e outras personalidades. Roberta Rugheti, coordenadora de projetos na AMREF Health Itália, a ONG que liderou a campanha europeia “No More Bricks in the Wall”, deslocou-se também a Lisboa para participar nas atividades programadas pela AMI para assinalar o “Dia Europeu da Memória e do Acolhimento”. O Presidente da AMI, Fernando Nobre, assinalou a abertura do evento manifestando a importância de definir políticas claras de acolhimento e integração baseadas no respeito mútuo e na reciprocidade, para fazer face aos crescentes e inevitáveis movimentos migratórios. O Largo de S. Domingos, simbolicamente escolhido para este encontro, pela sua multiculturalidade e pela história inerente ao lugar foi palco de diversas atividades, que não deixaram ninguém indiferente. | 05
Para além do flashmob protagonizado pelos bailarinos da escola Art of Dance by Colin, que ocorreu em três momentos distintos ao longo do dia, esteve também patente a exposição de fotografia “De onde vem?” de Alfredo Cunha, assente nos rostos de pessoas de várias nacionalidades, sendo o desafio tentar adivinhar a origem de cada uma das pessoas retratadas, verificando-se que não é assim tão evidente, porque “quem vê caras, não vê corações” nem nacionalidades. A exposição decorreu de 26 de setembro a 6 de outubro e contou com a visita de mais de 3.000 pessoas. No sentido de promover o conhecimento sobre a temática das migrações, foi, ainda, disponibilizada uma aplicação para telemóvel e tablet (Android ou IOS), através da qual é possível responder a um quiz sobre a temática. A App WALL permite ainda descobrir as respostas à exposição de Alfredo Cunha e assinar a petição. Disponível em português, inglês e francês, pode ser descarregada em https://ami.org.pt/wall. A exibição do documentário “Città Giardino”, um filme escrito e realizado por Marco Piccareda e Gaia Formenti em 2015, que aborda a questão dos menores refugiados que chegam à Europa não acompanhados e o seu dia-a-dia num centro de detenção no sul de Itália, completou o programa de atividades. Francesco Vacchiano, investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, comentou o filme em dois momentos do dia, esclarecendo o público de que o mesmo “retrata o dia-a-dia do acolhimento na sua pior forma, a vida nua destes jovens. Este documentário demonstra o quão importante uma coisa tão simples como o conforto nos faz sentir em casa… acolher é um processo complexo e sensível “. Serviu-se ainda da expressão árabe “alhaya karāma” - vida digna - para ilustrar o que todos aqueles que migram voluntária ou involun-
tariamente dos seus países de origem procuram. “A questão do futuro é importantíssima, quem emigra ou foge do seu país de origem procura pelo futuro, por uma vida como a nossa, melhor do que aquela que teriam no seu país”. Ao longo de todo o dia, voluntários da AMI abordaram os que passavam pelo local, convidando-os a assinar a petição para fazer do dia 3 de outubro, o “Dia Europeu da Memória e do Acolhimento”. O objetivo de recolher 10 mil assinaturas foi alcançado à data de edição desta revista. No entanto, a petição continua a decorrer em https://you. wemove.eu/campaigns/facamos-do-dia-3-de-outubro-o-dia-europeu-da-memoria-e-do-acolhimento para todos os que queiram associar-se a esta causa e honrar esta data. Ciente de que a ação não terminou no dia 3 de outubro, a AMI continuará a apelar à adoção de políticas migratórias positivas de acolhimento e integração e a desenvolver projetos de cooperação para o desenvolvimento e Ações Humanitárias em vários países do mundo para que todos possam viver com dignidade e respeito pelos Direitos Humanos e para que deixar o país de origem seja uma escolha e não uma necessidade.
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A AMI agradece a todos os que contribuíram para assinalar o “Dia Europeu da Memória e do Acolhimento” em Portugal, designadamente: União Europeia, Projeto “Snapshots from the Borders”, Câmara Municipal de Lisboa (parceiro institucional), TSF (media partner do evento), Alfredo Cunha, Alliance Française, Art of Dance by Colin, Ás de Cópias, Café Lírio, Centro Comercial da Mouraria, Cifrão, Colorama, Fundação Inatel, Infraestruturas de Portugal, Make it Special, Media Mania, Mop, Observador, Patriarcado de Lisboa, Prior Vítor Gonçalves (Igreja de S. Domingos), Público, Rádio Miúdos, RTP, Semente, Visão, assim como a todos os que assinaram a petição, divulgaram a iniciativa e deram a cara pela campanha, nomeadamente, a cantora Selma Uamusse, o jornalista Luís Pedro Nunes e o Alto-Comissário para as Migrações, Pedro Calado, bem como Sonia Malik, Amit Kumar, Dimitri Ledovsky, Aisha Shonekan, Abul Kalam, Joana Delgado, Sangita Pariyar, Jorge Romero, Raquel Froes, Augusto Dias, Mbye Ebrima, Sharmin Mow.
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AMI
O ACOLHIMENTO DE MIGRANTES EM PORTUGAL Longe vai o tempo em que Portugal era um país só de emigrantes. A emigração continua, e nos últimos anos tem tido novamente tendência a aumentar. No entanto, o saldo entre os que imigram e os que emigram, em alguns anos, é positivo, como em 2017, em que houve uma diferença de +4.886 pessoas (ou seja, mais pessoas imigraram do que emigraram). Se os fatores que levam alguém a deixar o seu país são cada vez mais e mais variados, os próprios fluxos migratórios deixaram de ser maioritariamente sul-norte e as razões ou as circunstâncias que definem a “personalidade” de um país relativamente às migrações são, também elas, cada vez mais complexas e merecedoras de atenção por parte de académicos, governos e instituições supranacionais. Portugal reúne várias características que fazem de si um país relativamente acolhedor. Para além do natural espírito anfitrião do povo português, que de uma maneira geral cumpre a sua tradição humanista, há uma série de circunstâncias que despoletam uma certa sensibilidade política para a questão das migrações, para que se criem mecanismos legais e infraestruturas concretas para acolher os imigrantes e minimizar o impacto da migração, tentando proporcionar uma integração mais completa. Contribuem bastante para a definição da postura acolhedora do nosso país, quando comparado com outros países, alguns fatores, dos quais se destacam: • O défice demográfico • A vontade política de captar imigrantes qualificados para aumentar a competitividade da economia • A necessidade de obter mais contribuintes O Plano Estratégico para as Migrações 2015-2020 representa um avanço consolidado nas políticas de acolhimento em Portugal, dados os atuais desafios. O documento assenta em 5 eixos políticos prioritários que promovem políticas de integração dos imigrantes, promoção e inclusão dos novos portugueses, coordenação dos fluxos migratórios, reforços da legalidade migratória e dos serviços migratórios e incentivo, acompanhamento e apoio ao regresso dos cidadãos nacionais emigrantes. . Para além disto, Portugal assinou, em dezembro de 2018, o Pacto Global para as Migrações Seguras, Ordenadas e Regulares, no âmbito das Nações Unidas. Este é um acordo não vinculativo e foi assinado por 164 países. Portugal, não só assinou o Pacto como já aprovou (no passado mês de
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agosto) um Plano Nacional de Implementação do mesmo, com 97 medidas concretas que envolvem todos os ministérios. No entanto, como todos sabemos, leis, planos estratégicos, pactos globais, planos de implementação e outros documentos existentes (como o também recém aprovado IV Plano de Ação para a Prevenção e o Combate ao Tráfico de Seres Humanos 2018-2021) são mecanismos que, apesar de extremamente bem-vindos e imprescindíveis, têm uma aplicação e uma absorção lenta, por parte dos serviços. Os Indicadores de Integração dos Imigrantes, publicados anualmente pelo Observatório das Migrações, revelam, ainda, um longo caminho a percorrer. Quem está no terreno – as centenas de organizações da economia social que trabalham com os imigrantes – depara-se no dia a dia com obstáculos, dificuldades e burocracias, por vezes quase kafkianas, que se traduzem em momentos muito difíceis na vida de quem está, apenas, à procura de uma oportunidade para recomeçar. A AMI acredita que um trabalho sério e em colaboração entre entidades oficiais, instituições sociais e imigrantes poderá contribuir não só para a criação de medidas mais eficientes mas também para a aplicação mais célere das já criadas, na realidade das vidas dos migrantes. Há aqui que louvar particularmente o trabalho, por vezes inglório, de todos aqueles - sejam juristas, médicos, assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, empresários e tantos outros – que colaboram diariamente com os técnicos da AMI, com o objetivo de reconstruir a vida de Pessoas que, em situação frágil, precisam de uma rede de apoio.
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O GRITO DA VIDA
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Esta é uma história difícil de contar, até que pensemos no quão doloroso terá sido vivê-la e a coragem que implicou passar por ela. A travessia de uma vida que ficou para trás rumo a um futuro desconhecido e incerto na neblina e tumulto do mar alto. Um mar de 2,5 milhões de quilómetros quadrados de extensão. Não obstante, a incerteza de voltar a pisar terra firme não os fez ficar. Escolheram a vida em detrimento da sobrevivência. Esta é a história da família Tchoncko. Uma família camaronesa que chegou à cidade de Braga há cerca de um mês, resgatada no mar Mediterrâneo pela embarcação Sea Watch 3, em junho deste ano. Uma decisão que levou à detenção da capitã 08 |
alemã Carola Racketa, ao ordenar o salvamento de 53 imigrantes encontrados à deriva em alto mar. Nadege e Franck nasceram nos Camarões na década de 90, no seio de famílias tradicionais onde o casamento prematuro e a falta de oportunidades de trabalho são problemáticas intrínsecas das sociedades em que nasceram e cresceram. Porém, os seus caminhos só se viriam a encontrar cerca de vinte anos mais tarde. As histórias de Nadege e Franck cruzaram-se para lá de fronteiras nacionais. Para lá da realidade do seu país. Nadege, uma jovem mulher de 23 anos, de corpo robusto e olhar longínquo, divide-se entre reviver o passado imediato e entreter o seu bebé de sete meses, Franck, que mordisca a ponta do sapato, alheio à cruel realidade da sua ainda curta história. Revive os seus 12 anos de idade, quando foi obrigada ao primeiro casamento com um familiar. Os seus dois primeiros maridos faleceram. Foi a caminho do seu terceiro casamento forçado que resolveu dizer “não mais”. Correu pelos campos. Só se recorda de correr. E só parou para aceitar ajuda. Uma mulher que lhe garantiu uma rota segura até à região do Magrebe, na contrapartida de que trabalhasse para ela à chegada. Nadege estava longe de imaginar os contornos da rede de tráfico humano na qual acabara de ser apanhada. Na cidade de Argel, a realidade de Nadege detonou. Nesta altura já Franck vivia na Argélia desde maio de 2016. Estava irregular no país e procurava a sua chance, o autossustento. Foi numa carrinha que atravessou o deserto do Sahara, deserto esse que lhe ficou com a memória do país que
AMI
Foi em dezembro de 2017 que “Nadege e Franck se viram pela
primeira vez, precisamente na loja onde Nadege fora forçada a trabalhar, na cidade de Argel.
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deixou para trás e acima de tudo, com a sua identidade. Franck vivia a situação de tantos milhares de homens oriundos da África subsariana que procuram oportunidades de trabalho no Magrebe, ainda que ilegalmente, na esperança de encontrar uma forma de subsistir e resistir. Na travessia, passou por países como a Nigéria e o Níger. Não encontrou uma única oportunidade. Seguiu rumo a norte. De mão dada ao bebé, como que protegendo-o de um perigo que já passou, conta-nos que o que o motivou a abandonar os Camarões foi a situação de conflito entre grupos separatistas que atentam à segurança da população e promovem, para não dizer obrigam, cada vez mais o envolvimento dos jovens nos confrontos. Não queria compactuar com isso. Queria paz. Foi em dezembro de 2017 que Nadege e Franck se viram pela primeira vez, precisamente na loja onde Nadege fora forçada a trabalhar na cidade de Argel e onde operava uma rede de tráfico e exploração de seres humanos. Franck prometeu ajudar aquela que viria a ser a mãe do seu filho. Fugiram para Leste, Líbia, o país vizinho. Talvez aí pudessem começar de novo, talvez aí encontrassem o que ambos procuravam, viver em pleno: sem medo, sem opressão, em segurança. Na cidade de Trípoli, houve amigos de Franck que o ajudaram. Fixaram-se em Zwarah, onde Franck começou a trabalhar para uma família árabe no ramo da construção. Por esta altura, o casal esperava o seu primeiro filho, tiraram partido do breve momento de estabilidade que encontraram, sem saber que seria uma paz efémera, uma alegria arrebatada. Em novembro de 2018, Nadege é detida e encarcerada numa prisão líbia. Fora denunciada pela vizinhança por ser negra e “ilegal”. Nos seis meses que se sucederam o seu filho nasceu, teve como primeira casa a prisão. Deu-lhe o nome do pai, Franck Emereke Tchoncko. As forças policiais líbias aprovaram a libertação de Nadege mediante o pagamento do equivalente a 1.200 euros, que o seu companheiro conseguiu com a ajuda do patrão. Não havia mais esperança. A Europa era a última hipótese de futuro para a família Tchoncko, agora que havia um terceiro elemento, um menino forte cheio de vontade de viver. O patrão de Franck tratou de tudo, deu-lhe dinheiro e arranjou forma de fazer a família embarcar num bote. Em junho de 2019, na costa da Líbia, fazia uma noite de céu limpo. À meia-noite embarcaram 53 imigrantes num barco insuflável, com capacidade para 20 pessoas, em direção a Lampedusa. Ensurdecedor o silêncio do mar e
do medo! Os homens instruíam para que todos se mantivessem sentados, as mulheres aquietavam-se em orações. Nadege observava a costa a esvair-se do seu campo de visão, concentrava-se no pequeno Franck. “Como é que fui capaz de pôr a vida do meu bebé em risco? O que será de nós…” pensava. Passaram pouco mais de 12 horas entre o desespero, a fome e a ira de sobreviver. O sol já raiava quando um colossal vulto se aproximou da embarcação. A poucos dias do fim do solstício, a embarcação do Sea Watch 3, sob o mandato da capitã Carola Rackete, resgatou 53 imigrantes do mar Mediterrâneo, 13 dos quais autorizados a desembarcar de imediato em território italiano por questões de saúde. Os membros da família Tchoncko foram 3 deles. Ao abrigo da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), a família Tchoncko foi acolhida em Portugal em setembro deste ano pelo Colégio Luso-Internacional de Braga (CLIB), uma escola e organização que se dedica ao acolhimento de famílias em situação de asilo. Helena Pina Vaz, diretora do CLIB e quem firmou o protocolo de cooperação com a PAR, conta que a família Tchoncko “é a nona família que acolhemos. Neste momento, seis das famílias estão ainda connosco. (…). ”Helena Pina Vaz esclarece que o trabalho do CLIB passa por acompanhar todo o processo de integração das famílias até que se encontrem estabilizadas no país de acolhimento: desde a procura de casa, à inscrição nos serviços públicos de saúde, segurança social, centro de emprego e aulas de língua portuguesa. “Tentamos "ensinar" a viver em Portugal, uma vez que é uma cultura muito diferente e uma rotina familiar muito diferente daquela a que todas estas famílias que já recebemos estão habituadas”. Explica ainda que os processos de integração são complexos e exigem muita dedicação, muito amor. Dos grandes desafios que tem encontrado nestes acompanhamentos é “a demora das autorizações de residência e outra documentação, pois os serviços do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras não conseguem dar resposta atempada.” A família Tchoncko encontra-se em segurança e saudável. A adaptação será difícil, mas a felicidade há-de vir, quando a dor apaziguar. Mas o desespero, esse, acabou. O silêncio também. Agora, o grito da vida. MB
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Entrevista
MBYE EBRIMA
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Nasceu em Jarra Soma, Gâmbia, em 1988, no seio de uma família Djéli(1). Orgulhoso da sua identidade Mandinga, Mbye Ebrima é um jovem músico e compositor que procura continuar com a tradição familiar. Carrega no seu instrumento o peso da história e da herança cultural do seu país. É através da Kora, uma harpa alaúde de 21 cordas (amplamente tocada pelos povos de África Ocidental), que procura contar o passado e enaltecer a esperança de um futuro. Fez de Portugal a sua casa. Há quatro anos que procura regularizar-se em Portugal.
Fale-nos da sua infância na Gâmbia e de como é que a Kora surgiu na sua vida? Na minha juventude vivia com a minha mãe, os meus pais divorciaram-se quando eu era pequeno. Passava muito tempo a jogar futebol, diziam que eu era muito bom. Ia sempre jogar em torneio de futebol noutras vilas, na região de Brikama. Para o meu pai eu tinha de me concentrar no futuro e tornar-me num homem responsável, para poder um dia trazer rendimento para a nossa família. É a velha questão cultural própria de África. Nas sociedades africanas os pais não acreditam que os seus filhos se podem dedicar a um desporto e ajudar a família, têm de ter uma profissão formal para garantir o sustento da família. Venho de uma família de Mandingas (das maiores etnias em África), em que a arte de tocar Kora vem de gerações e gerações de homens na nossa família, como o meu pai, o meu avô, o meu bisavô. Tocar Kora estava-me no sangue. Comecei a tocar já tarde, tinha 16 anos.
O meu pai, Alaji Mbye, viajava pelo mundo a tocar Kora, tinha muitos amigos na Europa e passava muito tempo na Escandinávia. O que é que o levou a sair da Gâmbia? Que idade tinha? Tinha 24 anos. Nesse momento da minha vida, a pressão familiar era muito grande e eu decidi que queria partir. Nessa altura já tinha a minha própria banda, tocava também com as bandas do meu pai, dava concertos no meu país e estava a evoluir na minha arte. Ainda assim, sentia que tinha de partir. Queria criar os meus próprios alicerces, a minha herança e não continuar apoiado na herança musical do meu pai. Comecei a juntar dinheiro e a procurar escolas de música em África, encontrei uma escola na Tanzânia que estava disposta a receber-me num intercâmbio. O meu pai não sabia de nada, nesta fase havia muito silêncio entre nós.
(1) Djéli (sendo também possível definir como Griot ou Jali) é aquele que na África Ocidental transmite histórias, tradições, canções e mitos da sua comunidade. Os Djélis são em muitos casos músicos e ensinam arte, são intelectuais que se dedicam ao estudo do Alcorão por influência islâmica. Os Djélis são originários de países como a Guiné-Bissau, Gâmbia, Mali e Senegal.
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AMI
Qual foi o seu percurso até chegar a Portugal? Quando cheguei à Tanzânia comecei uma banda com o meu nome, Mbye Ebrima, e logo comecei a viajar pelo país e a dar aulas de kora. Passaram-se quase 6 meses e nesta altura estava convencido que ia voltar para a Gâmbia. Entretanto conheci um baixista europeu, o Yanick, era alemão e vivia em Lisboa. Começámos a tocar juntos em Zanzibar e outras regiões. Em 2015 surgiu a oportunidade de integrar um circo africano na Alemanha, o circo Mama Africa. Cheguei à Alemanha em 2015, estive com esse circo durante uns meses, viajei pela Áustria e pela Suíça a tocar. Depois dessa experiência, pensei que era altura de visitar o meu amigo Yanick, em Lisboa. Estava com vontade de voltar a tocar com ele. Quando chegou a Portugal, o que é que encontrou em termos de oportunidades? Cheguei a este país e senti de imediato a atmosfera deste lugar. Não pensei que oportunidades poderia encontrar, pensei sim, que este seria um lugar para estar. Senti que de algum modo, este país me iria trazer saúde e prosperidade. Fale-nos dos seus projetos a solo e em grupo… O meu primeiro projeto em Portugal chamava-se Samsu Band (em memória do meu pai e de uma das suas bandas na Gâmbia). Os primeiros concertos que demos foram um sucesso. Eramos uma banda composta por músicos de Portugal, Gâmbia, Itália e Alemanha. Em simultâneo, comecei a tocar a solo e a receber muitos convites para tocar em Portugal e no estrangeiro, na Alemanha, Israel, Austrália e Estados Unidos. Todas as oportunidades de tocar fora tive de recusar… deparei-me com o facto de ser considerado “ilegal”, privado da minha liberdade por não ter um título de residência em Portugal. Não podia viajar para outros países, trabalhar, ir à Gâmbia ver a minha família e voltar para Portugal. Quais são os grandes desafios/dificuldades que tem enfrentado em termos de integração em Portugal? Em qualquer parte do mundo onde te queiras fixar vais com certeza encontrar dificuldades, seja no aspeto cultural, económico, social, mental. A adaptação a um novo país não é fácil e nem toda a gente se consegue adaptar. Dependendo da tua origem, culturalmente e mentalmente há grandes diferenças entre a cultura ocidental e outras. Há grandes muros entre as culturas e são estes muros que trouxeram o racismo para o mundo. Também é fundamental percebermos que se queremos prosperar em qualquer sociedade, temos de ser livres. Há quanto tempo não vê a sua família e de quem é que sente mais falta? Há seis anos. Sem dúvida, da minha mãe.
Qual é o seu olhar sobre a imigração? Como é ser imigrante em Portugal? Ser imigrante em Portugal significa sobrevivência. A luta pela sobrevivência está a influenciar a vida de muitos imigrantes em Portugal, as pessoas estão a sofrer. Mudaram o seu ciclo de vida em busca de uma vida melhor, começando do zero, e para alguns, não há trabalho nem dignidade. Para além do mais, não gosto do conceito de “imigrante”, ficamos resignados à condição de ser imigrantes, de sermos os “outros”. Se as ONG que efetivamente apoiam estas pessoas não fizessem o trabalho que fazem, as pessoas estariam perdidas, não saberiam onde ir ou o que fazer para se integrarem. Vais para França, em Paris, e há milhares de imigrantes ilegais a dormir debaixo da ponte, e eles vieram em busca de uma vida melhor, e ali estão, esquecidos. Assim que conseguir o seu título de residência, o que é que vem a seguir? Acredito que não pertenço a um só país, acredito que pertenço ao mundo e que tenho de fazer o que Deus reservou para mim. Sinto que a música que tenho para dar às pessoas é sempre bem recebida. As pessoas sentem o que eu faço e apreciam o facto de o partilhar com elas. Se conseguir o meu título de residência em Portugal, vou continuar a minha missão, viajar pelo mundo e partilhar os meus saberes, a minha cultura, a minha música e aprender com os demais. Serei livre. Depois, viajarei para a Gâmbia para construir uma escola de música em memória do meu pai, para todos os africanos que acreditem que podem fazer da sua música a sua vida. O meu pai foi dos melhores músicos que o nosso país já conheceu. Se houve alguém que celebrou a música, a cultura e a história da Gâmbia foi ele. Ele contou a nossa história, a história de África através da kora e não quero que essas histórias deixem de ser contadas, pois elas são os arquivos de África. MB
No decorrer da edição desta entrevista e após quatro anos no país, Mbye Ebrima conseguiu o agendamento no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) para que em 2020 possa concluir o seu processo de regularização em Portugal.
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DE CORAGEM
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Tem 27 anos e nasceu na Costa do Marfim. “Não cresci na minha família, cresci sempre na família dos outros”. Perdeu a mãe cedo e o pai mandou-o para a cidade, para ser criado por um amigo da família e poder estudar. A guerra civil no seu país eclodiu quando tinha 9 anos. E durou quase 10. A situação em Abidjan nunca melhorou, em termos de segurança. Diz ter visto muita coisa e muita gente a morrer e ter chegado a um ponto em que “não aguentou mais” e em que deixou de acreditar numa mudança. Tinha saúde, força, coragem (a palavra que mais repetiu durante a nossa conversa) e, principalmente, a vida toda pela frente. Decidiu sair do país. Queria estudar numa Universidade e sabia que ali, mesmo que o fizesse, não teria futuro. 12 |
Combinou com um amigo e foram de autocarro para o Gana. Dali, apanharam um avião para o Congo. Do Congo, o amigo queria seguir para Angola. Apanharam um barco que demorou 3 dias a chegar a Luanda e por ali ficaram. Arranjaram um emprego, juntos. Passaram alguns meses, em que não foi feliz e não encontrou aquilo que procurava. Pelo contrário: por ser estrangeiro, não saber falar a língua e ter um emprego, foi assaltado e espancado mais do que uma vez, tendo ainda hoje uma cicatriz na cabeça, de um desses episódios. Pensou que, para viver assim, teria sido melhor ter ficado no seu país. Sentiu que em África nunca conseguiria encontrar a paz que procurava e começou a sonhar com a Europa. De Luanda foi para a Nigéria, depois Níger – Agadez, onde ficou o tempo necessário para conseguir arranjar uma viagem para a Líbia, em janeiro de 2016. De Agadez para a Líbia, a viagem foi um pesadelo. Para passar a fronteira, dividiram o grupo e “num carro bem pequeno” puseram 27 pessoas. O trajeto é muito longo e chegar ao destino é “uma questão de sorte”. O carro anda de noite e depressa e leva todo o tipo de pessoas, desde crianças a pessoas mais velhas. E os passageiros são avisados que, se alguém cair, o carro não pára nem volta atrás “porque isto é uma coisa de tráfico”. No ponto de chegada seguinte, teve de pagar mais, a muita gente diferente (alguns polícias incluídos). E diz, "qualquer pessoa tem uma arma. E ali, se alguém com uma arma apanha um africano que não saiba falar árabe, fica dono dele. Tira tudo o que essa pessoa tem, inclusivamente os sapatos. E a qualquer momento o vende a outro homem". Foi o que lhe aconteceu. A si e aos outros que com ele faziam a viagem. Foram os 27 para uma casa “com uma porta” onde só tinha direito a uma refeição por dia (pão e água), até pagar para ser libertado. Conseguiu pedir ajuda a um conhecido, que “pagou o que faltava” e foi, pelas mãos de outro homem, para outra casa, onde já não estava preso, mas de onde tinha receio de sair, por não falar árabe. As viagens eram sempre feitas de noite. Chegou à costa mediterrânica após dois meses e sem confiar em mais ninguém, contando só consigo e com a sua coragem. Foi apresentado ao “rapaz que anda a
AMI
Um bom homem, “ para conseguir qualquer coisa, tem de ter coragem! ” recolher gente para fazer a marcação”, ou seja, a pessoa que tratava de arranjar a passagem para a Europa, por barco. Fez o pagamento que lhe foi solicitado e ficou, já sob as indicações desse homem, com um grupo de 420 pessoas, numa “sala grande”, durante duas semanas. Sem tomar banho. Com uma refeição por dia. E, outra vez, sem dinheiro nenhum. Como nos disse “é sempre uma questão de sorte… se tens sorte entras; se não tens sorte, vão-te repatriar”… E D., o jovem com coragem, não fazia mais nada desde que saíra da Costa do Marfim, senão tentar a sua sorte. Por isso aguentou… Do lado de fora da sala ouvia, constantemente tiros. A meio da estadia, chegou a notícia de que “a marcação” estava feita. Três barcos. Três grupos. D. estava incluído no primeiro. Havia que esperar pela noite certa. E essa noite chegou uma semana depois. Um barco com 120 pessoas, o único dos três que conseguiu “entrar na Europa”. Tiveram sorte. Saíram num domingo às 23h, com a roupa que tinham no corpo. E ao fim de 11h ou 12h no mar, o barco parou. D. não sabe se foi uma avaria ou falta de gasolina. O “capitão” não falava com ninguém. Chegou a ligar para alguém, mas não obteve ajuda. E ficaram à deriva. Viram barcos grandes a passar e lembra-se que o capitão do barco despiu a camisa que tinha e que era vermelha, para sinalizar e chamar a atenção. Mas os barcos continuaram. Recorda-se que havia um bebé muito pequenino que esteve sempre a chorar. Ao fim de 18h, e após outro telefonema que não sabe para quem foi, apareceu um barco “bem grande”, de trás, com as luzes apontadas ao seu. Havia outros barcos à deriva. O barco grande pediu-lhes calma, através de um megafone e atirou, em primeiro lugar, coletes salva-vidas para todos. Era um barco da Cruz Vermelha. Mulheres com crianças primeiro e homens depois, todos passaram para o barco que os levou para a Sardenha. Estava na Europa. Recorda que, muitas vezes, o pai lhe dizia, quando o mandou para a cidade: “Um bom homem, para conseguir qualquer coisa, tem de ter coragem!”. Nunca se esqueceu disso. Decidiu que não ia ficar a depender de ninguém, enquanto esperava que a sua situação legal fosse discutida. Em primeiro lugar, quis aprender italiano. E com a ajuda de uma instituição conseguiu ser aceite numa escola, sem documentos. Queria saber falar italiano e “aprender as regras”. Todos os dias ia à escola e estudava. E quando teve a audiência com as autoridades para tratar do estatuto com que podia ficar (se fosse autorizado a ficar), já sabia
falar um pouco. E impressionou os agentes que o entrevistaram, com a sua postura. Fez a entrevista toda em italiano. Mas o estatuto de refugiado foi-lhe negado. Não desistiu, recorreu e à segunda conseguiu. Estava na Europa e estava legal, com estatuto de refugiado por 2 anos. Mas a situação social em Itália pode não ser pacífica para imigrantes e começou a sentir um ambiente hostil e alguns episódios de racismo nos autocarros e na rua. Ao fim de um ano e meio, pegou na sua coragem e foi para França. E de França veio para Portugal, de avião, país de que tinha ouvido falar em Angola. Aterrou sem conhecer ninguém. Dormiu no Aeroporto na primeira noite e de manhã apanhou um autocarro para “o centro da cidade”. Chegado não se lembra aonde, pediu ajuda a um senhor da Guiné Bissau, que o acompanhou a um serviço da Câmara. Dormiu na rua nessa noite, depois num abrigo da Câmara e, depois, foi encaminhado para a AMI e ficou no Abrigo Noturno. Desde então, apoiado pelos técnicos da AMI, já encontrou um emprego com contrato. Já conseguiu alugar um quarto, que paga mensalmente. Está a tratar dos seus documentos, “com paciência”, porque está à espera de um papel que tem de vir da Costa do Marfim. Diz que, aqui, sente a paz que há muito não sentia. Que as pessoas o tratam bem, mesmo na rua, quando precisa de alguma informação. Quer estudar mais. Quer trabalhar, tirar a carta de condução e daqui a 5 ou 6 anos ter um negócio seu. Diz que o segredo para ser respeitado é mostrar respeito. E diz que o único conselho que tem para alguém que esteja agora a chegar é “Primeiro: coragem, muita coragem!; Segundo: não seguir conselhos de amigos no banditismo. Ser sério.” D. acabou a entrevista como começou: sem grandes sorrisos, mas com toda a disponibilidade para partilhar a sua história. E reforçando que, qualquer boa pessoa, em qualquer situação, tem de ter coragem. Como o pai lhe ensinou. E toda a conversa foi tida em português. Porque D. também já fala português. MCR
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OS MUROS QUE TODOS OS DIAS DERRUBAMOS Manuela fez a sua formação na Rússia, tendo tido oportunidade de contactar, em meio universitário, com pessoas provenientes de vários e diversos contextos culturais. Começou a trabalhar na AMI no início da década de 2000, precisamente por falar russo e ter consigo uma sólida bagagem cultural e académica que lhe permitia compreender os imigrantes de leste (mas não só!), numa língua que lhes era confortável, abolindo assim o primeiro muro que separa qualquer migrante da comunidade de destino. Manuela é uma das muitas técnicas e técnicos que, na AMI, trabalham diariamente, Agindo, para Mudar e Integrar pessoas na comunidade que as rodeia. E essa comunidade somos nós. Desde a abertura do primeiro Centro Porta Amiga, em 1994, que os imigrantes constituem uma parte (ainda que não maioritária) da população atendida. Já lá vão muitos anos, muitas histórias, muitas aprendizagens, mas há 14 |
algo que fica bem claro acerca do trabalho da AMI: lidamos com pessoas. Nunca é mais um. É sempre Outro. Com um passado diferente (que muitas vezes nem é escrutinado, por não ser, naquele momento, o foco da intervenção). Quando um imigrante se senta pela primeira vez num gabinete de um Centro Porta Amiga, está, para a AMI, no ponto zero. E a única coisa a fazer é ouvir, pensar saídas em conjunto, encaminhar e acompanhar. Constrói-se, então, um caminho de procura de soluções. Sempre contando com uma atitude positiva e de envolvimento da pessoa a apoiar. Porque “tem de haver uma responsabilidade mútua, senão não podemos ajudar: não há ajuda que resulte se o outro não se mexe”, como diz Manuela. O percurso a trilhar poderá ser o da saúde, o da habitação, o da alimentação, o da educação dos filhos, o da justiça, o do emprego… Há vários, quase sempre interli-
AMI
gados e sempre, mas sempre, com muros para ir derrubando. Tratando-se de direitos fundamentais, garantidos em leis, declarações universais, planos estratégicos e outros documentos, na prática, nada disto é fácil nem garantido. Principalmente, para alguém que acabou de chegar. As principais mais-valias dos técnicos da AMI são um enorme conhecimento do sistema e dos recursos à disposição e o trabalho em equipa, dentro da AMI e com outras instituições: “trabalhamos em equipa aqui dentro, porque contamos com os serviços e voluntários todos que temos; e trabalhamos em parceria com todas as instituições e organismos que nós entendemos que possam dar resposta” afirma a técnica. E com base nessas duas premissas, é possível agir no concreto, mudar a situação e ter um impacto muito positivo para integrar pessoas que estão numa situação frágil. O trabalho envolve sempre (para além de, muitas vezes, apoio concreto em alimentação, vestuário, medicamentos, material escolar, etc.) muitas horas de atendimento que representam momentos de conversa sincera em que se discutem alternativas, próximos passos e compromissos mútuos. Envolve muitas diligências, emails, papéis, documentos, mas muitas vezes as situações são de tal maneira urgentes que é preciso fazer um telefonema para a pessoa certa ou, tantas e tantas vezes, os técnicos deslocarem-se pessoalmente a serviços para desbloquear situações. E resulta. Daí que, no entender de Manuela Patronilo, apesar do povo português ser acolhedor, disponível para integrar e ajudar (há sempre a vizinha que fica uma hora com os filhos ou a que ajuda a encontrar o autocarro certo), infelizmente, muitos serviços não são. E quando um imigrante esbarra numa dificuldade burocrática, muitas vezes acha que não há saída. Mas há. E é também para isso que a AMI tem Centros Porta Amiga. O caminho vai-se trilhando, com avanços e recuos, revezes e conquistas, mas o que é certo é que, para muitos, a AMI passa a representar a família em Portugal. Família no bom sentido: aquela que está sempre ali, com a porta entreaberta, para fazer só a perguntinha sobre “isto que apareceu agora” (uma ação de despejo, um problema de saúde…) ou até, imagine-se, para ligar quando, num emprego acabadinho de conseguir como empregada doméstica, a senhora (imigrante) não sabia como cozinhar o peixe destinado ao jantar e ligou à técnica da AMI, a pedir ajuda. E o peixe fez-se! A AMI passa a ser a âncora. Há casos em que o apoio se presta durante um determinado tempo e depois não se tem mais notícias das pessoas. “É sinal que estão organizados!”, diz Manuela. Mas há outros em que o apoio passa a ser uma relação de anos (com problemas diferentes ao longo do tempo). E a dúvida coloca-se: será que alguma vez os imigrantes estão perfei-
tamente integrados? É que “pessoas que não estão informadas e que estão débeis na sua situação ficam bloqueadas. Porque, de repente, tudo muda. E até há soluções, mas não sabem onde elas estão”. O futuro não é desanimador: as organizações da sociedade civil estão hoje muito mais organizadas no trabalho em rede e nas respostas que dão. A tendência é atualizar os serviços, modernizar. O SEF tem sofrido reestruturações que, no entender dos técnicos, são positivas. E, seguramente, daqui a 15 anos, tudo estará ainda mais capaz de garantir direitos básicos a qualquer pessoa que cá chegue. Mas o trabalho continua a ser muito intenso, por enquanto. Os imigrantes estão sempre mais expostos a dificuldades, mais vulneráveis. Principalmente se estão ilegais. E o papel da AMI, neste caso, passa por, em primeiro lugar, fazer entender a necessidade e as vantagens da legalização. “A AMI tem um leque de boas pessoas. E há muitas pessoas na sociedade muito disponíveis para ajudar. Há pessoas que podem ajudar e têm gosto em ajudar e querem ajudar. Há pessoas disponíveis.” O segredo é “olhar os outros com os olhos com que queremos que olhem para nós”. Parece tão fácil, posto nestas palavras. Mas será?
Em 2018, “ 14% das pessoas
apoiadas pela AMI, foram imigrantes.
”
“Se temos um caso, temos uma responsabilidade. A partir do momento em que sabemos de determinada situação, temos de fazer alguma coisa” e é por isso que, quando perguntámos a Manuela o que faria, se tivesse uma varinha mágica, a técnica responde: “Dava visão a quem está a olhar e não vê! Porque o pior cego é aquele que não quer ver…todos aqueles que lidam com o outro e que acabam por ter uma certa arrogância na sua atuação. Quem olha, com olhos de ver, não fica indiferente”. E a AMI não fica, certamente. E todos os dias derruba alguns muros, para que o caminho se possa continuar a fazer. Construindo, sempre, futuros. MCR
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De Damasco para Lisboa
RECOMEÇAR É POSSÍVEL
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Reem deixou a Síria há 6 anos. Pelo caminho ficaram o Líbano e o Egito, onde viveu entre 2013 e 2015. Não fala inglês, apenas árabe e um pouco de português, mas aceitou falar connosco. Reem conta, abertamente, a sua história, com as limitações que uma língua estrangeira impõe, mas preferiu que não fotografássemos o seu rosto. A timidez do sorriso e dos gestos escondem a determinação e a coragem de quem deixou para trás um clima de guerra, de destruição e de medo. Após a morte do pai, temeu pela vida dos dois filhos e do marido e deixou Damasco juntamente com a mãe e os irmãos. Foram a primeira família refugiada síria a ser acolhida em Portugal. Vieram ao abrigo de um programa de reinstalação do ACNUR (Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) com outras 45 pessoas, e contaram com o apoio do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) durante 10 meses, e da Segurança Social. Quando chegou a Portugal, Reem receou não se conseguir integrar, face à dificuldade em aprender a língua, por não conhecer muitos muçulmanos e por ter sentido na pele o preconceito: chegou a ser abordada no autocarro por uma senhora que não gostava que ela usasse o hijab. Porém, 4 anos depois, sente-se integrada na capital portuguesa. Considera que Lisboa e Damasco partilham algumas semelhanças, como o clima. Sente-se, agora, bem recebida. Gosta de passear em Belém, no Rossio, em Sintra e frequenta a Mesquita Central e a Mesquita de Odivelas. 16 |
O marido arranjou emprego assim que chegaram, mas Reem só começou a trabalhar dois anos depois de aterrar em Portugal, através de uma professora de português, que lhe apresentou a Associação Pão a Pão. A partir daí, o caminho até ao Mezze, um restaurante de comida síria onde também trabalham a sua mãe, irmã, irmão e 2 amigas, foi relativamente célere. Cozinha sobretudo sobremesas, como baklava, balouza e halawt el-jibn, o que lhe permite “viajar” até à Síria, onde pensa voltar apenas para visitar alguns familiares e dar tréguas à saudade. A filha está a estudar e já fala muito bem português, e o seu terceiro filho já nasceu cá, por isso, quando lhe perguntamos onde se imagina daqui a 5 anos, não hesita em responder que será em Portugal. Aos milhões de pessoas que partilharam ou partilham a sua necessidade de sair do país onde nasceram, deixa a mensagem de que é preciso ter determinação para sair e vontade para começar uma nova vida, porque esse recomeço é possível. AF
AMI
Crónica: AMI convida...
O DIREITO À "INGRATIDÃO" Não haverá um código não verbalizado sobre as condições do acolhimento? Escrevo no dia em que o Mezze faz dois anos. A ideia de fazer um restaurante de cozinha do Médio Oriente surgiu porque andávamos particularmente ocupados com uma questão: como devolver um pouco de “casa” a alguém que teve de fugir do seu país e que deixou toda uma vida para trás? Acreditámos que a comida cumpre uma parte importante nesse processo, porque é uma das coisas que muito rapidamente nos liga ao sítio de onde viemos. E também acreditámos que com este projecto, que dá formação e trabalho a mulheres que nunca tinham tido um emprego, íamos introduzir alguma justiça num caminho tão tortuoso. Se temos as ferramentas, temos também a responsabilidade de fazer acontecer. Ao longo deste tempo, muita gente tem comentado sobre a equipa do Mezze: “Eles devem estar muito agradecidos”. Percebe-se o raciocínio. Uma família foge da guerra, faz uma travessia onde arrisca a vida, sobrevive em campos de refugiados sobrelotados, instala-se em Lisboa e alguém lhe estende a mão – e esse gesto de “generosidade” deve ser notado. Certo? Errado. Tão errado como termos que agradecer ao carro que pára no sinal vermelho para deixar passar os peões. A Convenção das Nações Unidas relativa ao estatuto dos refugiados, de 1951, foi delineada para responder ao enorme fluxo de pessoas que tiveram de fugir da II Guerra Mundial. O artigo 33 determina a obrigação – obrigação – de não expulsar um refugiado para as “fronteiras dos territórios onde a sua vida ou liberdade estão ameaçadas...” Ou seja, acolher não é um gesto de boa vontade, é um dever. Mas não haverá de facto um código não verbalizado sobre as condições do acolhimento? Não estamos à espera que as pessoas refugiadas fiquem para sempre agradecidas a quem lhes abriu a porta? Não contamos que adoptem os costumes portugueses, para provar o quanto foram bem tratadas e que este é de facto o seu país? A prova de que a resposta muitas vezes é “sim” está na quantidade de comentários indignados às notícias que davam conta 17 |
de que, entre Dezembro de 2015 e Outubro de 2017, das 1511 pessoas acolhidas através do programa de recolocação da União Europeia, 728 tinham deixado Portugal. Pouco importa que tenham saído para se juntarem a familiares, amigos ou simplesmente procurarem melhores oportunidades noutros países da Europa. Muitos portugueses sentiram-se quase atraiçoados. É como se estivesse implícito que ao encontrar portas abertas e protecção, as pessoas com o estatuto de refugiado perdessem em parte o direito à sua liberdade (e escrevo isto sabendo que estes programas prevêem que permaneçam no país de acolhimento). A escritora de origem iraniana Dina Nayeri foi para os Estados Unidos em criança como refugiada. Escreveu o livro “The Ungrateful Refugee: What Imigrants Never Tell You” e também um artigo no Guardian intitulado: “Não temos dívidas a pagar”. Conta que a sua mãe, cristã, era convidada muitas vezes para ir à igreja narrar a história da sua fuga. “Eles queriam a história do nosso salvamento como um talismã, nada mais. Nunca ninguém me perguntou como era a minha casa no Irão, que frutos cresciam no quintal, que livros líamos, de que música gostávamos, e qual era a sensação de não perceber nenhuma das músicas que passavam na rádio. Ninguém nos perguntou se tínhamos saudades dos nossos primos, ou avós ou amigos. Ninguém nos perguntou o que fazíamos no Verão ou se tínhamos fotografias do Mar Cáspio...”, escreve Dina Nayeri. “Havia condições não verbalizadas para que nos aceitassem, e esse era o segredo que deveríamos guardar: tínhamos que ser gratos”. Só estaremos a desempenhar bem o nosso papel quando a senhora Nadia, que não quer trabalhar fora de casa, que não quer tirar o lenço, que não quer estar agradecida, que não quer frequentar o Chiado, for olhada sem desconfiança, sem ressentimento, sem cobrança e sem quaisquer expectativas de que nos diga: “Obrigada”. Francisca Gorjão Henriques Presidente da Associação Pão a Pão | 17
Internacional_
Medicina Humanitária
AMI em Madagáscar Uma equipa da AMI deslocou-se a Madagáscar para preparar com o seu parceiro Change Onlus, a chegada do médico pediatra, voluntário da AMI, que irá dar formação ao pessoal do Centro de Saúde St. Paul d’Ampefy-Andasibe. Para além desta preparação, a AMI foi avaliar as ações já terminadas como a instalação da rampa de gases para o bloco operatório, e o apetrechamento da sala de radiologia. Foi ainda possível conhecer novas iniciativas de combate à desnutrição infantil, através da plantação e processamento da folha da moringa, cuja farinha fornece micronutrientes essenciais ao desenvolvimento das crianças. A viagem foi feita de piroga, o único meio de acesso ao campo de cultivo e transformação desta planta.
Realizou-se, entre 16 e 20 de setembro, mais uma edição da disciplina de “Medicina Humanitária” na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, da qual o Presidente da AMI, Professor Doutor Fernando Nobre, é o regente. A disciplina é optativa para os alunos de medicina dos 3º, 4º e 5º anos e pretende sensibilizar estes estudantes para as problemáticas e desafios da prática da medicina no contexto dos países em desenvolvimento e em ação humanitária. Desde 2009, já frequentaram esta disciplina mais de 500 estudantes.
Inscrições abertas para 2020!
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As datas das novas edições da Aventura Solidária em 2020 já estão definidas. Não perca esta oportunidade de fazer uma escolha diferente, consciente e solidária. Do Brasil à Guiné-Bissau, passando pelo Senegal, escolha um destino e embarque connosco numa missão. As áreas dos projetos desenvolvidos contribuem para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
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Senegal 06 a 14 de março de 2020 Guiné-Bissau 02 a 12 de abril de 2020 25 de novembro a 06 de dezembro de 2020 Brasil 19 a 28 de junho de 2020
BREVES Nacional_
Visita ao Badoca Safari Park No passado dia 21 de agosto, o Centro Porta Amiga de Chelas teve a oportunidade de levar cerca de 25 beneficiários/as a visitar o Badoca Safari Park, acompanhados por vários colaboradores da AMI. Os momentos de convívio, de partilha e entre ajuda foram ao mesmo tempo ocasião de aprendizagem para todos. Um bem-haja a quem possibilitou esta visita: o Badoca Safari Park, a Junta de Freguesia de Marvila, a Fábrica de Braço de Prata e a Sociedade Musical 3 de agosto de 1885. E a quem participou no Arrail MarvilAMI na Fábrica de Braço de Prata.
Venha reflorestar Monchique!
A AMI, através do seu projeto Ecoética, irá proceder à limpeza e plantação em área de floresta ardida, na Serra de Monchique. A iniciativa terá lugar nos dias 22 e 23 de novembro e o objetivo é a plantação de mais de 2.000 árvores. Estão abertas as inscrições a voluntários que se queiram juntar! A participação implica um cofinanciamento da ação de 15€ por pessoa. Inscreva-se em: https://ami.org.pt/como-ajudar/voluntariado
EPES: Época Balnear A época balnear do Centro Porta Amiga de Gaia decorreu de 1 a 12 de julho. Este período balnear é uma atividade muito aguardada pelas crianças que frequentam o Espaço Criança. As técnicas Susana Pereira e Tânia Pereira coordenaram a atividade de forma a promover momentos de convívio e lazer entre as crianças. Houve espaço para jogos, banhos no mar, brincadeiras na areia e no último dia decorreu um piquenique, momento de encerramento da quinzena balnear. Esta atividade foi apoiada pelos Cremes Solares Nívea.
Campanha Solidária AMI/Auchan A AMI recebeu perto de €150.000 em material escolar através da Campanha Solidária AMI/Auchan – Vales Escolares! Obrigado à Auchan que duplicou os 75.000 somados em caixa, aos seus clientes e a todos os voluntários que participaram na ação de triagem e preparação dos kits escolares e ao Exército Português que cedeu o espaço para a ação de voluntariado e apoiou no transporte do material escolar. Graças à generosidade e solidariedade de todos, foi possível apoiar o regresso às aulas de 3. 749 crianças e jovens, entre os 3 e os 18 anos, dos centros Porta Amiga da AMI em todo o país. O transporte do material para a Madeira foi assegurado pelo Grupo Sousa, um parceiro habitual da AMI na área da Logística.
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Mecenato_
Educação Alimentar e Nutricional O “Linka-te aos Outros” lançou a sua 10ª edição. Até 06 de janeiro de 2020 poderão ser enviados para a Fundação AMI os formulários de candidatura, preenchidos e com os devidos anexos, para apreciação do Júri. Com o intuito de alterar realidades sociais e, simultaneamente, formar os jovens, no sentido de os alertar para a possibilidade que cada um tem de melhorar a comunidade que os rodeia, este prémio tem como grupo-alvo todos os jovens a frequentar a escola entre o 7º e o 12º ano e consiste na apresentação de propostas para resolução, através de atividades de voluntariado, de problemas locais que os próprios detetem. A AMI selecionará os projetos mais consistentes (no máximo 5) e financiará 90% dos mesmos, até um total de €2000. Os resultados desta nova edição serão divulgados a 10 de fevereiro de 2020. Para esclarecimento de dúvidas: linkateaosoutros@ami.org.pt
Quadro de Honra_
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25 anos de Ação Social em Portugal No dia 21 de setembro, decorreu o almoço comemorativo dos 25 anos de Ação Social em Portugal da Fundação AMI. Dez anos depois da sua fundação, a ação da AMI passou a englobar a luta contra a pobreza em Portugal. Assim, em 1994, foi criado o Departamento de Ação Social com o objetivo geral de promover e facilitar a inclusão social de grupos com dificuldades de inserção, geradora de fenómenos de pobreza persistente. Este almoço decorreu no Centro Social Paroquial de S. Francisco de Paula, em Lisboa, que gentilmente cedeu as suas instalações no edifício do Palácio das Necessidades, e contou com a presença de membros da Administração e colaboradores da AMI, voluntários e beneficiários.
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A AMI lançou um novo projeto, financiado pela Fundação AGEAS Agir com o Coração, #Agirsemdesperdícioal imentar, um PROGRAMA DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL, que tem como propósito a promoção de uma alimentação saudável junto da população adulta e sénior dos Centros Porta Amiga da AMI, no distrito de Lisboa. Focada em conhecimentos básicos sobre nutrição, bons hábitos alimentares, alimentação saudável, desperdício alimentar e orçamento familiar, serão realizados workshops, dinamizados pela Vitamimos, com uma componente teórica e prática, que pretendem avaliar conhecimentos, verificar hábitos, estimular o consumo de alimentos saudáveis, promover a importância da variedade na alimentação e combater o desperdício alimentar. O projeto foi lançado no dia 16 de outubro - Dia Mundial da Alimentação - e decorrerá até abril de 2020.
VIIIª Campanha Saco Solidário
Entre 16 de outubro e 14 de novembro decorrerá a VIIIa edição da Campanha Saco Solidário - “Sacos que enchem corações” em parceria com a Kelly Services. Ao longo das 7 edições anteriores foram angariadas mais de 47 toneladas de bens alimentares e de higiene.
AGENDA AMI
22 E 23 NOVEMBRO • Projeto Ecoética - Ação de Reflorestação - Monchique
24 A 27 OUTUBRO • 33º Peditório Nacional AMI
26 NOVEMBRO A 10 DEZEMBRO • 24ª Campanha Reciclagem de Radiografias
16 NOVEMBRO • Recolha de Bens Alimentares - Lisboa, Porto, Gaia, Açores e Madeira
3 DEZEMBRO • Giving Tuesday Portugal
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PORTES DE ENVIO
A Loja AMI dispõe de vários artigos que podem ser adquiridos no site ami.org.pt/loja Ao comprar qualquer um dos artigos da loja AMI estará a contribuir para a realização dos nossos projetos e missões. Pode também fazer a sua escolha, preencher e enviar-nos o cupão abaixo, junto com o cheque no valor total dos artigos acrescido das despesas de envio indicadas.
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SUGESTÕES DE NATAL
"Um conto de Natal"
"Toda a esperança do mundo"
NOVIDADE "Guiné tem magia"
Coração Filigrana em Prata Dourada
Taleigo AMIgo
Livro 12€
livro 39.90€
livro 10€
Pendente 120€
5€
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VOLUNTARIADO Quando a AMI nasceu, em 1984, o sonho era grande e as dificuldades imensas, mas a AMI cresceu e os anos passaram a uma velocidade inacreditável… E nada disto seria possível sem a coragem e o altruísmo de todos os voluntários que nos acompanham. Em missões internacionais, os voluntários podem assumir funções de coordenação de projeto, chefia de missão ou de especialista em áreas técnicas relevantes, integrando projetos de curta ou longa duração, em função do seu perfil e das necessidades existentes no terreno. Em Portugal, a AMI conta com voluntários das áreas da saúde, educação, ciências sociais, jurídica e indiferenciados que ajudam a prestar serviços aos beneficiários dos equipamentos sociais, aos quais, de outra forma, não teriam acesso.
NECESSIDADES ATUAIS DE VOLUNTARIADO Animadores para pessoas idosas Cabeleireiro Enfermeiro/a
CPA GAIA
CPA OLAIAS
CPA PORTO
CPA COIMBRA
CPA GAIA
Formadores nas áreas da informática Médico/a
CPA COIMBRA
Nutricionista Psiquiatras Advogado/a
CPA PORTO
CPA PORTO
CPA FUNCHAL
CPA ALMADA
CPA OLAIAS
CPA ANGRA
CPA CASCAIS
CPA ALMADA CPA ALMADA
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CPA DO PORTO
CPA OLAIAS
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Este número da AMI Notícias foi editado com o especial apoio da revista VISÃO (Distribuição), COMPANHIA DAS CORES (Design), LIDERGRAF (Impressão e Acabamento) e CTT – Correios de Portugal Autorizada a reprodução dos textos desde que citada a fonte. AMI Fundação de Assistência Médica Internacional R. José do Patrocínio, 49 – Marvila, 1959-003 Lisboa ami.org.pt | fundacao.ami@ami.org.pt Ficha Técnica Publicação Trimestral Diretor Fernando Nobre Diretora-Adjunta Leonor Nobre Redação Ana Ferreira, Margarida Cortes Rosa e Marina Bertolami Edição Luísa Nemésio Fotografias AMI Paginação Ana Gil e Sofia Dias Tiragem 56.000 exemplares Depósito Legal DL378104/14
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