N.º 76 Distribuição Gratuita 1.º trimestre de 2020
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CENÁRIOS E IMPACTOS das Alterações Climáticas Seminário
NO PLANET B Entrevista
AMAZÓNIA, UMA FLORESTA INQUIETANTE Frederico Brandão AGORA TAMBÉM EM
FORMATO DIGITAL
N.º 76 Distribuição Gratuita 1.º trimestre de 2020
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CENÁRIO E IMPACTOS
Foto © Greenpeace Espanha
das Alterações Climáticas Seminário
NO PLANET B Entrevista
AMAZÓNIA, UMA FLORESTA INQUIETANTE Frederico Brandão AGORA TAMBÉM EM
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ACEDA À VERSÃO DIGITAL DA AMI NOTÍCIAS
04 | Cenários e Impactos das Alterações Climáticas 06 | Seminário NO PLANET B! 09 | Opinião Filipe Duarte Santos
10 | Entrevista – Amazónia, Uma Floresta Inquietante
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13 | Crónica “AMI convida” Elizabeth Wathuti
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14 | Entrevista – Clima e Direitos Humanos
18 | Breves Impresso em papel 100% reciclado
Internacional, Nacional Mecenato, Quadro de Honra
22 | Agenda + Loja AMI 23 | Informações
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SUMÁRIO + EDITORIAL
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: DESAFIOS E/OU OPORTUNIDADE?
Alguns se perguntarão da razão de, mais uma vez ao longo de quase duas décadas, eu abordar a temática das Alterações Climáticas numa altura em que esse tema é capa dos media e de conferências quase todos os dias, e ainda bem. Abordo essa tragédia (já que de uma tragédia se trata), porque: - É mais que tempo de expurgar todas as tentativas de manipulações políticas desviantes, sejam elas de que tendência forem, e de nos cingirmos aos factos científicos por mim acompanhados de perto e pela minha observação direta nas sete partidas do mundo, dos impactos das alterações climáticas na agricultura do mundo rural, com os seus efeitos imediatos: fome e movimentos populacionais que se estão a agravar rapidamente. - Com outros três fenómenos em curso desigual, a corrida armamentista, as migrações populacionais em massa (em virtude das guerras, dos conflitos religiosos, da fome…) e a robotização /inteligência artificial com capacidades cognitivas, de autoaprendizagem e autonomização energética, as alterações climáticas completam uma panorâmica apocalíptica mas não impossível de controlar. É preciso conhecimento, iniciativas inovadoras, determinação política e vontade inquestionável de uma Cidadania exigente, informada, inconformada e participativa! - Os sinais precursores da situação provocada pelas alterações climáticas já são mais que evidentes e nada têm a ver com os ciclos climáticos de há milhões ou centenas de milhares de anos e das suas causas! O debate acabou. Eis chegado o tempo da ação mesmo se tardia! Muito poderia ter sido feito há pelo menos três décadas (Cimeira do Rio em 1992, Rio+20 em 2012, Cimeiras de Bali, Haia, Paris…) e muito pouco, e manifestamente insuficiente, foi feito para a sustentabilidade do nosso pla-
Fernando de La Vieter Nobre Presidente e Fundador da AMI
neta e das gerações vindouras. Na falta de uma ação determinada e conjugada de todos, (nomeadamente das grandes potências EUA, China, Rússia e outros grandes países, Brasil, Índia,…), já é sabido que a temperatura global média do nosso planeta irá subir mais 3ºC com picos de 6º a 7ºC em certas regiões como o Ártico! Uma catástrofe global possivelmente sem retorno. - No continente Antártico surgiram já, há meia dúzia de anos, uns 60.000 lagos e, nos Himalaias, de 1990 a 2010, formaram-se mais 900 novos lagos alimentados pelo degelo dos glaciares. Este último dado e a tendência acelerada observada no crescimento deste fenómeno põe em risco hídrico cerca de 1.900 milhões de habitantes do sul da Ásia. - Vale a pena relembrar que só o degelo na Gronelândia provocará um aumento de três metros do nível dos mares e que o degelo da Antártida, maior reserva de água do mundo com a sua cobertura de 300 metros de gelo, poderá provocar uma subida de 100 a 200 metros do nível dos mares… Se acrescentarmos o degelo dos Himalaias, Alasca, Sibéria, Andes, Alpes… é melhor nem fazer contas! Um novo dilúvio é inevitável com a extinção de inúmeras espécies animais e vegetais… Sem mais acrescentar, torna-se evidente que as consequências diretas das Alterações Climáticas, já em curso e em fase de nítida aceleração, são um enorme e doloroso desafio global mas também podem ser uma oportunidade, talvez a derradeira, para o género humano tomar consciência da sua fragilidade e possível efémera passagem pelo Planeta Azul, e decida desde já atuar com sensibilidade, responsabilidade, humanismo e determinação no sentido de salvar o seu débil mas magnífico e único habitat: o nosso condomínio Terra!
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Cenário de devastação na cidade da Beira, em sequência da passagem do Ciclone Idai em Moçambique (2019).
CENÁRIOS E IMPACTOS DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS:
REFLETIR SOBRE O PASSADO PARA MUDAR O FUTURO
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De acordo com o último relatório* de avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas encarregado de avaliar todas as questões científicas relacionadas com as alterações climáticas, “a influência humana no sistema climático é clara e as recentes emissões antropogénicas de gases com efeito de estufa são as mais altas na história. As mudanças climáticas recentes estão a ter impactos generalizados nos sistemas humanos e naturais.” A existência de alterações climáticas é inequívoca e os dados científicos observados ao longo de décadas e reportados pelo IPCC comprovam-no. A temperatura média global combinada da superfície terrestre e oceânica aumentou 0,85 °C durante o período compreendido entre 1880 e 2012, e 90% da energia acumulada entre 1971 e 2010 deveu-se ao aquecimento do oceano, o que reflete a sua importância para todo o sistema climático. Também o ciclo global da água tem sofrido alterações. O aumento 04 |
da precipitação sobre as áreas terrestres de latitude média no Hemisfério Norte durante o séc. XX e as mudanças na salinidade da superfície oceânica são exemplificativas dessas alterações no ciclo da água. Desde o início da era industrial, a absorção oceânica de CO2 resultou na acidificação do oceano. Por todo o planeta, os glaciares têm diminuído de tamanho e, no hemisfério norte, a cobertura de neve existente na primavera continua a regredir. A extensão média anual do gelo marinho do Ártico diminuiu durante o período de 1979 a 2012, a uma taxa de 3,5 a 4,1% por década. No período de 1901 a 2010, o nível médio global do mar aumentou 0,19 m. A taxa de aumento do nível do mar que se tem verificado desde meados do séc. XIX é superior à taxa média dos dois milénios anteriores. Eventos climáticos extremos como ondas de calor, secas, cheias, ciclones e fogos florestais podem trazer consequências devastadoras para a população humana. Apesar de o termo “refugiado climático” não existir no direito internacional,
AMI
Os impactos das alterações climáticas nos sistemas naturais e humanos são muitos e variados e estendem-se por todos os continentes e oceanos. Estes impactos incluem, entre outros, a afetação dos recursos de água em temos da sua quantidade e qualidade, a alteração de padrões de migração, abrangência geográfica e abundância de espécies terrestres e aquáticas e ainda impactos na população humana, nomeadamente na sua saúde e qualidade de vida.
no sentido em que, segundo a Convenção de 1951, um “refugiado” é definido como uma pessoa que atravessou uma fronteira internacional “devido ao medo bem fundamentado de ser perseguido por razões de raça, religião, nacionalidade, pertença a um grupo social ou político específico”, em certas regiões do planeta, famílias e comunidades já começaram a sentir as consequências das alterações climáticas, que as forçaram a deixar as suas casas em busca de um novo começo. É uma nova realidade que traz grandes preocupações, quer se queira chamar “refugiados climáticos” ou “pessoas deslocadas no contexto de desastres e alterações climáticas” a estas populações,. nomeadamente para Organizações como a AMI que atuam também em Ação Humanitária. Perspetivando o futuro, o IPCC elaborou no seu quinto relatório (2014) uma série de cenários relativos às emissões de gases com efeito de estufa, concentração de poluentes atmosféricos e uso da terra para o séc. XXI. Neste estudo, ficou
© Alfredo Cunha
O Bangladesh é um dos países do mundo mais vulneráveis às alterações climáticas.
patente que o risco de mudanças irreversíveis e catastróficas associadas ao clima será muito maior se o aquecimento global médio da superfície terrestre exceder os 2 °C acima dos níveis pré-industriais. Avaliando então os vários cenários, mesmo aquele que implica mais medidas de mitigação e que tem como objetivo manter o aquecimento global médio inferior a 2 °C, relativamente à temperatura da era pré-industrial, o futuro avizinha-se difícil. Porém, o combate às alterações climáticas e a luta pela preservação do ambiente não se faz só ao nível das políticas governamentais. O planeta “pertence” a todos e por isso cada cidadão deve fazer a sua parte. Pequenos gestos como reciclar, economizar o consumo de água, preferir o uso de transportes públicos, evitar o uso de plásticos descartáveis e reduzir o consumo fazem a diferença na preservação dos recursos naturais do planeta e na diminuição da pegada de carbono de cada cidadão.
*IPCC, 2018: Summary for Policymakers. In: Global Warming of 1.5°C. An IPCC Special Report on the impacts of global warming of 1.5°C above pre-industrial levels and related global greenhouse gas emission pathways, in the context of strengthening the global response to the threat of climate change, sustainable development, and efforts to eradicate poverty [Masson-Delmotte, V., P. Zhai, H.-O. Pörtner, D. Roberts, J. Skea, P.R. Shukla, A. Pirani, W. Moufouma-Okia, C. Péan, R. Pidcock, S. Connors, J.B.R. Matthews, Y. Chen, X. Zhou, M.I. Gomis, E. Lonnoy, T. Maycock, M. Tignor, and T. Waterfield (eds.)]. World Meteorological Organization, Geneva, Switzerland, 32 pp.
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SEMINÁRIO
NO PLANET B! Decorreu no passado dia 29 de janeiro, na Fundação Calouste Gulbenkian, o seminário “No Planet B: Um Único Planeta para Todos”, com o objetivo de incentivar o debate entre diversos atores e intervenientes chave na área do Ambiente e do combate às alterações climáticas.
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O seminário ocorreu no âmbito do projeto“There isn´t a PLANet B! Win-win strategies and small actions for big impacts on climate change” ou “No Planet B” na designação abreviada, um projeto desenvolvido pela AMI em Portugal e financiado pela União Europeia e pelo Camões I.P, para a promoção do desenvolvimento da sociedade civil na sensibilização para as áreas de desenvolvimento sustentável e preservação do meio ambiente. No âmbito das atividades deste projeto, a iniciativa contemplou painéis dedicados aos três ODS para os quais contribui o projeto “No Planet B”, e incluiu uma exposição sobre os 22 projetos financiados em Portugal, localizados entre Esposende e Faro, incluindo duas ações nos Açores. Perante uma plateia de mais de 200 participantes, o evento arrancou logo pela manhã, com 06 |
Fernando Nobre, Presidente da AMI, a alertar para a importância de agir de imediato sobre as causas das alterações climáticas, de forma a mitigar os seus efeitos e preservar o Planeta para as gerações futuras, e Odete Serra, Diretora de Serviços de Cooperação Bilateral do Camões I.P. a felicitar a AMI pela implementação do projeto “No Planet B”, destacando o facto de reforçar o debate sobre a temática da sustentabilidade e de enfatizar a importância do tema, considerando o nome do projeto uma escolha verdadeiramente feliz. O primeiro painel do dia contou com a participação de Filipe Duarte Santos, Presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável em Portugal, e de Elizabeth Wanjiru Wathuti, ativista climática e fundadora da Green Generation Initiative, uma organização comunitária criada no Quénia em 2016, para a sensibilização junto das populações mais jovens e de instituições de ensino sobre temas como a reflorestação, educação ambiental e escolas ecológicas. A conversa sob o mote “Os Efeitos das Alterações Climáticas” foi conduzida pelo Presidente da AMI. Filipe Duarte Santos considerou ainda ser possível evitar as alterações climáticas mais gravosas, sendo imperativo que haja mobilização social, bem como mais solidariedade e justiça entre gerações. Afirmou que a solução passa por uma transição energética, que é necessária e possível, mas para a qual é urgente um investimento inicial
AMI
O que é o No Planet B?
considerável, que nem todos os países estão dispostos a fazer, adiantando que a União Europeia é a única região do mundo com um plano adequado nesta matéria. Elizabeth Wathuti alertou que África já está a sentir os efeitos das alterações climáticas, dando como exemplo o seu país, o Quénia, que, nesta altura deveria estar a enfrentar a época mais seca do ano, mas que está sob fortes chuvas, o que causa grandes prejuízos aos agricultores, que perdem o seu meio de subsistência. Lamentou não ver a implementação de medidas para evitar ou mitigar os efeitos das alterações climáticas e considerou injusto que a parte do Planeta que menos provocou estes problemas, tenha que encontrar as soluções para os mesmos. O primeiro painel encerrou com um momento surpresa organizado pela Sapana, uma das organizações apoiadas pelo No Planet B, e pelo Teatro Umano, e protagonizado pelos alunos do Agrupamento de Escolas de Sampaio, em Sesimbra. De lábios cerrados com fita-cola e empunhando cartazes com mensagens de “call to action”, os jovens atores procuraram sensibilizar a audiência para a urgência de agir pela preservação do Planeta, e guiaram os participantes do evento para a sala onde estavam expostos e representados os 22 projetos financiados pelo No Planet B em Portugal. Os trabalhos retomaram no período da tarde, com o segundo painel, “Cidades Inteligentes e Sustentáveis I Seremos suficientemente inteligentes para criar cidades sustentáveis?”, que decorreu numa dinâmica de pergunta ao especialista, dinamizada por uma plateia extremamente participativa.
O No Planet B procura envolver pequenas e médias Organizações da Sociedade Civil (OSC) ativas nas áreas da sensibilização e defesa do ambiente, atribuindo apoio financeiro para a implementação de intervenções efetivas em benefício dos cidadãos europeus sobre alterações climáticas e consumo sustentável. Este projeto é desenvolvido em consórcio, liderado pela Fondazione punto.sud e envolvendo os parceiros de Portugal (AMI – Fundação de Assistência Médica Internacional), Hungria (Hungarian Bast Aid), Roménia (Asociatia Servicul Apel), Espanha (Fondo Andaluz de Municipios para la Solidaridad Internacional) e Alemanha (Finep Akademie e.V.). Está patente desde novembro de 2017, tendo um período de 3 anos de execução, com término em outubro de 2020. As áreas prioritárias desta iniciativa estão enquadradas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 11, 12 e 13: Cidades e Comunidades Sustentáveis; Produção e Consumo Sustentável e Ação Climática, respetivamente. A formação das organizações apoiadas na gestão das suas iniciativas e promoção de troca de experiências e informações entre as mesmas pretende ser um dos resultados desta iniciativa, como garantia da sustentabilidade dos projetos em Portugal e nos restantes países que compõem o consórcio. No primeiro ano do projeto, foram abertos e adjudicados dois concursos de apresentação de propostas denominados NO PLANET B | GRANDES AÇÕES (Big Grants) e NO PLANET B | PEQUENAS AÇÕES (Small Grants) em Portugal, com uma subvenção total de €526.252 e 104.295,09€, respetivamente. No total, são 22 as organizações financiadas, distribuídas por vários pontos do país. Estas Organizações da Sociedade Civil dedicam-se fundamentalmente às questões de conservação do meio ambiente, em diversas áreas de atuação.
© Alfredo Cunha
Elizabeth Wathuti, Fernando Nobre e Filipe Duarte Santos abriram o seminário abordando os temas das alterações climáticas, educação ambiental, reflorestação e transição energética.
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O Teatro Umano contribuiu para o seminário através de uma atuação “flashmob” com música de Fernando Costa, Rita Wengorovius e dramaturgia de Helena Tapadinhas, alertando para a importância de proteger o nosso planeta.
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Conduzido pelo jornalista Luís Pedro Nunes, o painel contou com as intervenções de Ana Fragata, Diretora Executiva do Fórum das Cidades Inteligentes e Sustentáveis, e Luís Capão, Presidente do Conselho de Administração da Cascais Ambiente. Ana Fragata alertou que não existem “smart cities” sem “smart citizens”, sendo, por isso, fundamental apostar na formação dos cidadãos, pois são eles que permitirão a transformação das cidades e as tornarão mais sustentáveis. Destacou também a importância de agir localmente e criar condições para fixar pessoas, sobretudo nos territórios de baixa densidade. Luís Capão apontou que a qualidade de vida deve ser o enfoque da política pública de qualquer cidade, destacando a capacidade de coordenação como essencial para a construção de políticas públicas eficientes. Apresentou o exemplo de algumas medidas da Cascais Ambiente para reduzir o consumo de água no município, nomeadamente, a lavagem das ruas com água 100% tratada da ETAR e a produção da matriz da água de Cascais, que permita compreender de que forma a água é consumida no município e apresentar estratégias para a redução da pegada hídrica. O terceiro e último momento deste seminário ocorreu sob a forma de mesa redonda, reunindo Ângela Morgado, diretora executiva da ANP/WWF Portugal, Miguel Ribeirinho, responsável de Sustentabilidade da Delta e ainda o jornalista Luís Ribeiro, cabendo a moderação à jornalista Anabela Campos. Ângela Morgado reiterou que a alteração dos padrões de consumo, seja na moda, nas viagens ou na alimentação, é imperativa e que este 08 |
O segundo painel foi marcado pela questão da formação da sociedade civil para a transformação positiva das cidades e a relevância de políticas públicas no fomento da qualidade de vida dos cidadãos e preservação do ambiente.
No terceiro painel do seminário, debateu-se a importância de alterar os padrões de consumo de forma a garantir a sustentabilidade da Terra.
século terá que ficar marcado por uma transformação significativa, de forma a que os padrões de consumo possam tornar-se mais sustentáveis. Por sua vez, Luís Ribeiro apontou o facto de, neste momento, conseguirmos produzir mais lixo do que riqueza e enfatizou que a taxa de carbono seria a forma mais eficaz de reduzir as emissões. Miguel Ribeirinho considerou que há um longo caminho a percorrer, mas que o sector empresarial já demonstra uma preocupação clara e genuína de contribuir para as várias vertentes da sustentabilidade. Já no final do dia e depois de um debate intenso e participativo por parte do público, quer no local, quer nas redes sociais, uma vez que todos os que estavam a assistir de forma remota ao evento puderam colocar as suas questões através do Twitter, o Ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, encerrou o evento. A AMI agradece a todos os que contribuíram para o sucesso da iniciativa, nomeadamente, oradores, moderadores, participantes, organizações apoiadas pelo No Planet B, União Europeia, Instituto Camões, Fundação Calouste Gulbenkian, Casinhas de Portugal, EPAL, Pousadas da Juventude, o saxofonista André Marques e a TSF, como media partner do evento.
OPINIÃO
UM ÚNICO PLANETA PARA TODOS? De facto, o planeta Terra tem características únicas no sistema solar que lhe permitiram ser a casa onde surgiu a vida, primeiro sob a forma de organismos unicelulares que evoluíram para multicelulares, acabando por dar origem à vida inteligente, em particular ao Homo Sapiens. Têm sido feitos muitos esforços para detetar formas de vida nos outros planetas do sistema solar, especialmente em Marte, mas por enquanto sem sucesso. Será que há vida inteligente fora do sistema solar na nossa galáxia da Via Láctea ou em outras galáxias? É uma pergunta perene sobre a qual não temos ainda uma resposta, apesar dos muitos esforços de comunicação com possíveis extraterrestres, enviando para o espaço exterior sinais rádio, e da tentativa de deteção de respostas a esses sinais. Por enquanto o silêncio é total, ninguém responde. Haverá outros sistemas planetários semelhantes ao sistema solar com planetas a gravitarem em redor de uma estrela? A resposta é afirmativa, o primeiro deles foi descoberto por Michel Mayor e Didier Queloz, em 1995, e desde então já foram descobertos 4160 exoplanetas, ou seja, planetas em órbita em sistemas planetários extrassolares. Os cientistas procuram empenhadamente descobrir planetas que sejam semelhantes à Terra, em órbita à volta de uma estrela semelhante ao Sol. Já se encontraram alguns e agora o principal objetivo é saber se têm uma atmosfera com oxigénio e ozono. Há razões para considerar que as formas de vida mais prováveis são baseadas na química do carbono, ou seja, um tipo de vida semelhante à que conhecemos na Terra. Note-se que todos estes exoplanetas estão muito longe do sistema solar. O mais próximo orbita a estrela Proxima Centauri que se encontra a uma distância de 4,25 anos-luz. Isto significa que se pudéssemos viajar à velocidade da luz, o que é completamente impossível, levaríamos 4,25 anos a lá chegar. Poderá ser que o planeta B esteja no sistema solar, isto é, que algum dos planetas do sistema solar tenha características físicas acolhedoras para os humanos e sirva de alternativa à Terra quando esta já estiver “usada”, tal como um objeto que se utilizou muito e ficou velho e irrecuperável. Há 2 planetas mais parecidos com a Terra que são Vénus e Marte, mas as suas atmosferas são muito diferentes da atmosfera da Terra. Comparemos então as concentrações de oxigénio (O2) e dióxido de carbono (CO2) nos 3 planetas. O O2 é essencial
Filipe Duarte Santos, Presidente do Conselho Nacional de Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável.
à respiração dos organismos aeróbicos, em particular dos humanos. A concentração de oxigénio é de 0.0001%, 21% e 0,25% em Vénus, Terra e Marte, respetivamente. Teremos de usar máscaras de oxigénio tanto em Vénus como em Marte. O CO2 regula o chamado efeito de estufa na atmosfera. Se a atmosfera tiver uma concentração elevada de CO2 a sua temperatura média será elevada, mas se tiver uma concentração baixa a temperatura será baixa. Na atmosfera da Terra a concentração de CO2 é atualmente de 0,04% e o efeito de estufa eleva a temperatura média de -18 ºC para 15 ºC. Em Vénus a concentração é de 98% e o efeito de estufa eleva a temperatura média de -39 ºC para 427 ºC! Em Marte a concentração de CO2 é superior a 96% mas o efeito de estufa eleva a temperatura apenas de -56 ºC para -53 ºC porque quase não existe atmosfera! Estar na atmosfera de Marte é como estar no vácuo. Apesar de tudo, Marte é uma proposta melhor para emigrar do que Vénus. Efetivamente ouve-se falar em fundar colónias em Marte, mas não em Vénus. O bilionário americano Elon Musk, através do projeto SpaceX, planeia construir um povoamento em Marte com um milhão de pessoas em 2060. Musk afirma que “não se trata de nos mudarmos todos para Marte mas de ficarmos multiplanetários”. Segundo ele, trata-se de “minimizar o risco existencial e ter uma enorme sensação de aventura”. Risco existencial? Qual risco? Presume-se que seja o risco de “usar” a Terra, a nossa “Casa Comum”, como se fosse um objeto descartável, sobreexplorando os recursos naturais, poluindo, degradando e destruindo o ambiente e permitindo o avanço de uma mudança climática progressivamente gravosa e irreversível. | 09
AMAZÓNIA, UMA FLORESTA INQUIETANTE
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Frederico Brandão, PhD, investigador do ICRAF/CIFOR e especialista em florestas, clima e cadeias de valor tem dedicado o seu trabalho ao estudo da maior floresta tropical do planeta, a Amazónia. Conhece de perto o seu ecossistema e a forma como operam as indústrias que ameaçam a sua prosperidade. Em consequência dos incêndios que aproximaram a desflorestação da Amazónia do seu “tipping point”, a AMI procurou conhecer de forma mais aprofundada, a maior fonte de biodiversidade do planeta. A Amazónia é a maior floresta do nosso planeta, mas a intensiva exploração pela mão do homem tem limitado a sua capacidade de autorregeneração. Que formas de exploração estão a contribuir significativamente para a desflorestação da Amazónia? Em termos gerais, cerca de um quinto da cobertura florestal da Amazónia foi destruída. Esta área desmatada foi principalmente convertida em pastos ou plantações. Após algum tempo, estas áreas podem regenerar e tornar-se florestas secundárias. Cerca de três quartos desse quinto que foi desmatado é hoje pasto. As razões são várias, complexas e vão mudando ao longo do tempo, mas no geral elas estão relacionadas com o processo de ocupação da Amazónia a partir dos anos 60. Nessa altura, o regime militar Brasileiro (1964-1985) lançou uma série de políticas como abertura de estradas, incentivos fiscais e programas de colonização que abriram a fronteira do desmatamento. O mais conhecido ciclo económico é o da borracha no final do séc. XIX e primeira metade do séc. XX que foi responsável pela chamada Belle Époque, uma época muito marcada, ainda hoje, na arquitetura das cidades de Belém e Manaus. 10 |
O enorme tamanho da Amazónia, a ausência de estado e a má gestão por parte de sucessivos governos a partir desses anos 60 dificultaram a tarefa e as coisas fugiram do controlo. Desde essa altura, a região tornou-se palco de violência, ocupação desordenada, destruição ambiental e luta pela sobrevivência. Neste contexto específico, a pecuária proliferou. Não foi por acaso, nem tem necessariamente a ver com o consumo de carne, que a pecuária dominou boa parte desse quinto do território que foi desmatado. A pecuária é uma atividade que pode ser realizada de forma bem rudimentar, com pouca tecnologia, pouca mão de obra e pouco conhecimento. Para além disso, o gado era capaz de andar a pé e com isso evitar os enormes custos de transporte que qualquer tipo de produção agrícola implicaria. A pecuária tornou-se por estas razões a atividade mais lógica (do ponto de vista económico) para aquele contexto. Para além da pecuária, obviamente que a extração de madeira, a produção de outras "commodities" agrícolas como a soja e a palma, a mineração e as hidroelétricas foram, e algumas ainda são, vetores significativos de desmatamento. Importa dizer, para finalizar, que hoje em dia a principal questão em cima da mesa é a especulação fundiária. Boa parte do desmatamento atualmente está relacionado com a ocupação ilegal de terras públicas com a expectativa de obter lucros com a sua venda a curto-médio prazo.
ENTREVISTA
A Amazónia é uma floresta com 5 500 000 km2 de extensão, contida na sua maior fração em território brasileiro, mas também abrange Peru, Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Suriname, Guiana e Guiana Francesa.
De acordo com o Global Forest Atlas, desde 1970 cerca de 700 mil km2 da Floresta Amazónica foram dizimadas em consequência da desflorestação, cerca de 2% do total da área da Amazónia brasileira.
O mundo está bastante preocupado com a Amazónia, mas o governo brasileiro alega que os países ricos se desenvolveram à custa de destruírem as suas florestas e que hoje querem apenas controlar os vastos recursos da região. Há algum fundamento para esta alegação? Os números de desmatamento na Amazónia têm sido de facto vistos como um copo meio cheio ou meio vazio. Nos últimos 5000 anos, cerca de metade das florestas foi destruída e convertida noutra coisa. Isto inclui por exemplo as cidades onde moramos e as áreas agrícolas que produzem a comida que comemos. Por uma série de razões, as florestas tropicais foram as áreas mais difíceis e menos apetecíveis de converter e é por essa razão que chegamos ao século XX com a maior parte delas, incluindo a Amazónia, de pé ou mesmo quase intocadas. Ou seja, grande parte da Amazónia está de pé, não porque a sociedade ou os governos brasileiros tenham feito algo particularmente relevante, mas porque simplesmente ela foi deixada para o fim. Como expliquei anteriormente, é apenas com a entrada dos militares nos anos 60 que a Amazónia começa a ser desmatada em larga escala. Isto dura até hoje, embora o contexto tenha mudado. A partir dos anos 90, a mentalidade começou a mudar e o Brasil começou a assumir algum protagonismo na cena ambiental. É no Brasil que a primeira grande cimeira ambiental tem lugar (Eco-92). Desde esse momento, a sociedade Brasileira foi ganhando cada vez mais consciência da importância da Amazónia, criaram-se instituições, formaram-se quadros técnicos, organizações sociais fortaleceram-se, ONG, Universidades ganharam espaço, etc. O desmatamento teve uma queda enorme entre 2004 e 2012. Desde 2012, vem numa trajetória de crescimento, menor nos primeiros anos e maior nestes últimos. Os dados de 2019 são já bastante preocupantes. O maior risco neste momento é o que se chama o “tipping point”, que é basicamente um ponto sem retorno. Antes estimava-se que ele pudesse ocorrer quando a área desmatada chegasse perto de 40% da cobertura original.
Mais recentemente, cientistas como Carlos Nobre e outros afirmaram que o ponto de não retorno pode ocorrer próximo dos 25%. Esse “tipping point” pode levar a uma emissão massiva de carbono para a atmosfera e desequilibrar todo o planeta de um dia para o outro. Falta de chuva leva ao colapso da agricultura, fome e guerra. Inundações que destroem cidades que não estão preparadas para isso, etc. Tudo isto sem tempo de transição. Vivemos recentemente uma enorme crise ambiental na Amazónia com consequências geopolíticas, com o aumento do número de focos de incêndios. Como avalia a situação? O fogo, ao contrário de outros biomas, não faz parte do ciclo de regeneração de florestas húmidas como a Amazónia. Em pequena escala o fogo não causa problemas porque se mantém o potencial de regeneração da floresta. Historicamente, o fogo em pequena escala tem sido a forma de adubar o solo que é no geral bem pobre na Amazónia. Isso é o que se chama o modelo “slash-and-burn”. Os índios já o faziam ancestralmente na região. Basicamente consiste em abrir uma área com fogo para plantar alguma coisa, normalmente mandioca. Como não há tecnologia e o solo não é muito fértil, ao fim de poucos anos a terra degrada-se e a produtividade agrícola baixa. A mesma coisa se aplica nos casos mais recentes de expansão agrícola como tem sido o caso da pecuária. Sendo mais barato abrir novas áreas do que restaurar a fertilidade das áreas já usadas, grandes e pequenos proprietários de terra usaram este modelo nos últimos 60 anos na Amazónia. Em pequena escala não constitui um problema. A capacidade de regeneração é superior à capacidade de destruição, e por isso, o ecossistema equilibra. Contudo, em larga escala, o fogo torna-se um problema e é isso que temos visto. Convém referir que o fogo está relacionado com o desmatamento, mas não é necessariamente a mesma coisa. | 11
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Ele pode ser a última fase do desmatamento. A floresta passa por vários estágios de degradação que inclui a exploração de madeira com valor. Em todo o caso, não há muitas dúvidas de que a crise a que assistimos em meados de 2019 esteve relacionada com o aumento do desmatamento. Estudos que têm saído nos últimos tempos indicam uma forte correlação do desmatamento com o número de incêndios. É também praticamente impossível não associar esta crise à postura do governo federal que, desde a eleição, sempre mostrou desprezo pela questão ambiental e ao longo dos primeiros meses de mandato teve uma série de ações sem pés nem cabeça. Em janeiro tomou posse um ministro que aplica de forma sistemática uma agenda contrária à lógica de preservação da floresta. Em primeiro lugar, uma das três principais alas do governo, a chamada ala ideológica, acredita que as alterações climáticas são um embuste. As ONG são parte importante dessa estratégia e por isso precisam também de ser anuladas. Em segundo lugar, uma importante parte da força eleitoral de Bolsonaro vem do que os brasileiros chamam de base “ruralista” que, basicamente são os grandes proprietários rurais, tradicionalmente conservadores e pouco simpáticos com o meio ambiente. Esta base ruralista também é chamada de agronegócio quando o foco é comercial. Este nome existe em oposição a uma suposta polarização com a agricultura de pequena escala, chamada de agricultura familiar. Defende que países com recursos naturais insuficientes, mas com poderio económico, asseguram cada vez mais o acesso a estes recursos para além-fronteiras. Observa também que os padrões de consumo são cada vez mais distintos de país para país, o que leva o setor privado a posicionar-se de modo a capitalizar as oportunidades de negócio. Em consequência, nos anos mais recentes tem havido uma grande procura de vastas áreas de exploração agrícola e de biocombustíveis em países tropicais em desenvolvimento… Como é que funcionam estas dinâmicas de empresas privadas adquirirem terras em países terceiros? E que efeitos é que isto traz para os pequenos e médios agricultores? Essa dinâmica de aquisição de terra não é nova. Aliás, como já referi acima, a história da humanidade desde o Neolítico é a história da expansão territorial como forma de assegurar terra, principalmente para o uso agrícola. Por volta de 2008 houve uma crise no sector agrícola que resultou num aumento dos preços. Isto, obviamente, abriu o olho aos investidores e preocupou países com pouco acesso a área agrícola. Nessa altura (e até hoje) a questão dos biocombustíveis ganhou muita relevância e gerou um enorme debate. Mais tarde, acabou por se perceber que houve um certo exagero no jornalismo e na academia sobre este tema. Houve de facto um aumento na corrida pela terra, mas em muitos casos essa corrida pela terra foi feita de forma legal e por cidadãos nacionais. No Brasil, 12 |
A bacia hidrográfica do rio Amazonas estende-se por centenas de afluentes como o Huallaga, Ucayali, Pastaza, Napo (Peru); Javari, Juruá, Purus, Madeira, Tapajós, Xingu, Içá, Japurá, Negro, Trombetas, Paru e Jari (Brasil)
por exemplo, uma reinterpretação da lei em 2010 proibiu a venda de propriedades acima de 5000 hectares a estrangeiros, o que eventualmente ajudou a frear os ímpetos dos investidores. Em todo o caso, a questão da estrangeirização da terra não é muito relevante na Amazónia. A maioria das grandes corporações não opera através de produção própria, mas da compra a produtores brasileiros. No caso da soja, o sector é essencialmente dominado por médios e grandes fazendeiros, na maioria dos casos migrantes do sul do Brasil que se mudam para a Amazónia em busca do sonho de ter uma vida melhor. Como é que a nível mundial, se poderá conseguir ou assegurar a exploração sustentável e consequente proteção da Amazónia, enquanto património da humanidade, garantindo que este não será mais sobreexplorado, mas sim preservado? Eu tendo a ver o mundo de forma otimista. O facto de se ter preservado cerca de quatro quintos da Amazónia até hoje deixa-me confiante que haja solução para este território a médio prazo. Para isso, é importante que uma série de coisas aconteçam: (1) que se atinja o desmatamento zero a curto-prazo, (2) que se regenere uma parte das áreas anteriormente desmatadas de acordo com a legislação brasileira em vigor,. o que permite inclusivamente o uso comercial das reservas privadas por exemplo com sistemas agro-florestais, (3) que se intensifique a produção nas áreas com maior aptidão agrícola, (4) que se resolva a questão fundiária garantindo e reconhecendo os direitos territoriais a todos, incluindo índios, quilombolas*, assentados de reforma agrária, ribeirinhos e proprietários privados pequenos, médios e grandes, obviamente dentro de um processo justo e transparente. MB *Quilombolas são os habitantes das comunidades rurais, descendentes de africanos escravizados que vivem fundamentalmente da cultura de subsistência.
CRÓNICA
AMI convida...
É PRECISO AGIR
E NÃO HÁ TEMPO SUFICIENTE! Todos nós tivemos os nossos momentos de infância. Fossem eles bons ou maus, há coisas que amamos e mantemos com muito carinho nos nossos corações. Talvez algumas dessas coisas nos tenham tornado naquilo que somos hoje… O meu nome é Elizabeth Wathuti, sou ativista ambiental e climática do Quénia e tenho 24 anos. Cresci em Nyeri, uma região conhecida pelas suas belas florestas, numa vila onde plantar árvores e beber de riachos limpos era habitual. O meu primeiro ato como ativista climática foi plantar uma árvore aos 7 anos de idade, inspirada pela Professora Wangari Maathai, a primeira mulher africana a receber o Prémio Nobel da Paz, que na época era membro do Parlamento na minha região. Acredito que a interação da humanidade com a natureza está relacionada com a forma como nos conectamos ou desconectamos do ambiente natural. Quando era adolescente, ficava de coração partido quando via ou lia sobre a destruição das florestas, o lixo nos rios, a extinção dos animais, as crianças a lutar para respirar em algumas partes do mundo devido ao ar extremamente poluído. Estava tudo a acontecer tão rápido e eu fiquei muito perturbada e preocupada com o futuro do nosso planeta. Por essa razão, decidi tornar-me ativista ambiental. Tudo o que desejo, e pelo que continuarei a lutar, é que todos tenham um mundo habitável e um futuro seguro, incluindo as próximas gerações. Em 2016, fundei a Green Generation Initiative (GGI), com o objetivo de consciencializar os jovens sobre a importância de amar e respeitar a natureza e o ambiente. Apesar de serem mais vulneráveis às alterações climáticas, acredito que as crianças e os jovens em geral têm um grande papel a desempenhar na condução de ações globais para enfrentar esta crise. Quando criei a GGI, comecei com pequenos passos. A minha paixão era a minha força motriz e não tinha quaisquer fundos. O meu primeiro evento foi numa escola primária, onde usei o meu
próprio dinheiro para comprar árvores jovens para plantar e dar formação na área da educação ambiental. Foi um grande sucesso e, mais tarde, recebi o prémio da bolsa Wangari Maathai do The Greenbelt Movement, da Kenya Community Development Foundation e da Rockefeller Foundation, que me permitiu concluir o curso dos meus sonhos na universidade: estudos ambientais e desenvolvimento comunitário. Também me permitiu criar o meu próprio viveiro de árvores em casa, para que fosse mais fácil obter árvores jovens para plantar a custo reduzido ou sem custos. A GGI dedica-se a apoiar jovens entusiastas pelo ambiente, promovendo a cultura da natureza como uma prioridade, o amor pela natureza e a consciência ambiental. Os nossos programas incluem educação ambiental, escolas ecológicas, a promoção de uma cultura de cultivo de árvores de forma a aumentar a mancha florestal, através de uma campanha de adoção de árvores, e criação de jardins florestais, que incluem árvores de fruto para melhorar a segurança alimentar. Até ao momento, demos formação ambiental a mais de 20.000 crianças em várias escolas do Quénia, e facilitámos a plantação de mais de 30.000 árvores jovens nas escolas, onde promovemos também uma campanha de adoção de árvores, cuja taxa de sobrevivência é de 99%. O meu conselho para todos os ativistas climáticos é que não deixem de lutar. Isto é sobre o nosso futuro, mas é preciso agir agora e não há tempo suficiente. Temos que permanecer juntos e apoiar-nos mutuamente em todos os cantos do mundo. Precisamos de mais ativistas climáticos, pois quanto mais alto as vozes ecoarem, maior será o impacto. Elizabeth Wathuti Fundadora do Green Generation Initiative
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CLIMA E DIREITOS HUMANOS
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Cecilia Carballo, diretora de Programas da Greenpeace em Madrid e membro do Conselho da Comissão Espanhola de Ajuda ao Refugiado (CEAR) é especialista na área de políticas públicas e sustentabilidade. Desafiámo-la a falar dos grandes desafios que 2020 trará no combate às alterações climáticas e do papel das grandes potências mundiais na mudança de paradigmas de consumo e exploração intensiva do planeta Terra. As alterações climáticas são um problema dos nossos tempos. A intensificação na utilização de combustíveis fosseis e o aumento da emissão de gases de efeito estufa têm contribuído para alterar o clima, tendo consequências devastadoras para o meio ambiente e para o nosso planeta; isto como consequência do crescimento exponencial das economias mundiais. Do ponto de vista da Greenpeace, o que é que as alterações climáticas representam para a sociedade contemporânea? A maior preocupação para a Greenpeace é a sobrevivência do planeta Terra como o conhecemos. Os dilemas que podemos vir a enfrentar, em consequência do desastre ecológico, como a precariedade das economias e a crise dos nossos sistemas políticos e familiares, prendem-se com a nossa essência e existência.
dida pela nossa incapacidade de garantir ao ser humano o seu desenvolvimento e dignidade. O ano de 2019 acabou com o número mais alto da história de pessoas refugiadas e deslocadas à força (segundo o ACNUR), com 68,5 milhões de pessoas deslocadas em 2018. Sem contar com as pessoas que migram por insegurança, por desigualdades económicas e pelos efeitos das alterações climáticas. A relação direta entre a segurança humana e as migrações por motivos climáticos já existe. Durante as próximas décadas, o foco de atenção dos Estados deve fixar-se nestas questões.
A Greenpeace tem uma posição muito particular de associar as alterações climáticas à questão da segurança da população mundial, Como é que encaram esta relação e os seus efeitos? A globalização não foi capaz de implementar a liberdade de movimento entre territórios. Longe disso, a arquitetura de fronteiras do século XXI são muros, uma paisagem fronteiriça que recorda as cidades medievais. Hoje em dia estamos igualmente distantes, ou mais até, de converter as fronteiras em espaços de encontro e conhecimento do outro. As fronteiras estão a converter-se em delimitações territoriais altamente fortificadas, que não deixam passar nem ver a realidade que nos rodeia, isolando-nos da mesma. Acontece o oposto com a natureza, onde existem corredores biológicos e se partilham diferenças, os ecossistemas são inevitavelmente enriquecidos. Na natureza, não se desenham fronteiras. A atual situação de insegurança global tem que que ser enten-
De acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas), a extensão das alterações climáticas terá efeitos diferentes em diversas regiões do mundo, que irão variar com o tempo, o que levará as sociedades a terem de se adaptar de modos diferentes. O que é que isto poderá implicar para a construção de uma política ambiental global e comum? Sem dúvida, abordar as questões relativas aos mecanismos de governança global ambiental, deve ser uma prioridade das agendas governativas. O mundo mudou, muito e rapidamente. Hoje há menos pobreza absoluta, mas as desigualdades ganham grande importância no seio de uma crise grave de legitimidade dos estados nação e de muitas entidades supranacionalistas. No princípio da década, parecia inquestionável que o mundo avançaria numa direção de multipolaridade, com uma governança global mais democrática, em que a voz dos países periféricos ressoasse com mais força. Esperava-se que esta
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ENTREVISTA
tendência fosse protagonizada pelos BRICS*, um grupo de países emergentes, cujo crescimento económico os levaria a assumir um papel de primeira linha. É verdade que continuam a ser considerados países relevantes do ponto de vista económico e energético, mas o seu discurso perdeu influência e inclusivamente, parece ter-se tornado obsoleto. O trabalho da Greenpeace concentra-se em diversas áreas, no que toca ao combate às alterações climáticas. Procura proteger as florestas, defender os oceanos, promover a agricultura sustentável, conter o desperdício de substâncias químicas tóxicas e pôr fim à era nuclear. São grandes desafios que não têm nem uma resolução simples, nem um fim à vista… Como é que estes desafios se traduzem no quotidiano das vossas práticas? Nos próximos quatro anos, a Greenpeace irá trabalhar em dois sectores fundamentais. A luta contra a emergência climática e a crise de biodiversidade que assola o planeta. Em relação a ambas as prioridades, queremos que estas sejam garantidas como direitos fundamentais, para que a humanidade tenha um progresso digno e equitativo. Em muitos países, assistimos agora a uma vasta ação e ao crescimento de diversos movimentos intergeracionais sobre o clima e de combate às alterações climáticas; os impactos da crise civilizacional em que vivemos atualmente atentam contra os direitos humanos. Por este motivo, é muito importante que estas ações aconteçam, porque o que é ambiental é social e económico. A primeira investigação sobre a responsabilidade relativamente às alterações climáticas e aos direitos humanos no mundo, foi ganha em dezembro passado, quando a
Comissão de Direitos Humanos declarou que as grandes empresas de combustíveis fósseis podem vir a ser responsabilizadas pelos danos relacionados com o clima. 2019 definiu uma mensagem para o nosso trabalho em 2020. Deve ser audaz e diferente, se queremos melhores resultados. A Cop25 esteve reunida em Madrid, com representantes governamentais de 200 países, para definir uma estratégia para que a temperatura global não ultrapasse 1,5ºC até ao final do século. Neste encontro, os países mais vulneráveis às alterações climáticas, tiveram um papel fundamental de pressionar os estados mais industrializados a assumirem a responsabilidade de colaborar para a transição energética, para um modelo renovável. Considera que foram alcançados resultados concretos? Creio que os resultados foram insuficientes e dececionantes. No decorrer da COP25 celebrada em Madrid, comprovou-se que a agenda dos lobbies e corporações de combustíveis fósseis não passa pela conservação do nosso planeta. De novo, o medo de que os seus lucrativos negócios sejam afetados fez com que representantes corporativos e políticos tenham exercido toda a sua influência para evitar acordos multilaterais que abordem de forma decidida a emergência climática. Durante a COP25, fechou-se por completo a porta à ciência e às exigências da sociedade civil que pediram por soluções urgentes. No decorrer das negociações, os partidos políticos enviados pelos países mostraram pouca ou nenhuma intenção de alcançar compromissos para reduzir as emissões, a velocidade e a intensidade que, segundo a informação científica, é necessária para delimitar o aqueci| 15
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mento global até 1,5 ºC. A Greenpeace considera que para além da Cimeira COP são necessários outros âmbitos de debate e decisão política, que não estejam contaminados por influência de grupos de “pressão fóssil”. A COP deixou demasiado trabalho pendente, que não pode esperar um ano para culminar**. Um dos objetivos ambiciosos que queremos que se reflita em ambas as medidas, é a redução das emissões de gases tóxicos, a nível nacional, para menos de 55% em 2030, face a 1990. 2020 será um ano chave. Enquanto Diretora de Programas da Greenpeace, qual é a sua maior preocupação, especialmente naquilo que deve ser prioritário resolver e sensibilizar para o combate às alterações climáticas? O ano 2019 demonstrou-nos que a disrupção climática já está connosco. Incêndios florestais nos Estados Unidos, Brasil, Rússia, Indonésia, Austrália: a lista continua. Ondas de calor na Europa e na Ásia. Inundações, secas, tufões, ciclones. Literalmente, um desastre climático todas as semanas. Os interesses das indústrias de combustíveis fósseis continuam a deteriorar o progresso e transição para um mundo livre de emissões. A agricultura industrial e as grandes corporações pesqueiras continuarão a sua expansão à custa da saúde dos nossos ecossistemas. Para além de tudo isto, o mundo vive tempos obscuros. Lamentavelmente, assistimos à limitação dos nossos direitos e liberdades em prol de uma mal concebida segurança das nossas vidas. Estamos em estado de emergência, por isso, devemos continuar a desafiar-nos a nós mesmos e procurar novas iniciativas e possíveis soluções que respondam aos problemas que ainda não conseguimos resolver.
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Como diria Angela Davis: “Deves atuar como se fosse possível transformar radicalmente o mundo. E há-que fazê-lo o tempo todo… (…) o otimismo é um ato político”. Pensa que deveria ser tomado um conjunto de medidas fundamentais a nível mundial no que se refere à limitação da produção e exploração como solução eficaz para o planeta em áreas como a agropecuária, indústria, energia, etc? Quais poderiam ser estas medidas? E como é que vê o mundo em 50 anos, se estas medidas não forem implementadas? Em 2050, a terra terá alcançado 9.800 milhões de habitantes. Graças aos avanços tecnológicos, a maioria das doenças que nos preocupam em 2019 terão sido erradicadas ou serão doenças crónicas. As maiores preocupações prender-se-ão, nessa altura, com as infeções imunes aos antibióticos e às alterações climáticas. As temperaturas terão aumentado entre 3 e 4 graus, o nível do mar terá subido 25 centímetros e algumas das espécies que povoavam o nosso planeta há trinta anos terão desaparecido. Assim, vejo um mundo muito complexo na sua governação e totalmente diferente, em que as fronteiras como as conhecemos serão distintas, em que alguns Estados terão desaparecido e os eixos de poder ter-se-ão transformado radicalmente. MB
*BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. **A Cop26 irá decorrer em Glasgow, no Reino Unido, em novembro de 2020. É a 26ª conferência das Nações Unidas acerca das Alterações Climáticas.
A AVENTURA SOLIDÁRIA É UM PROJETO DA FUNDAÇÃO AMI CUJO LEMA É “VIAJAR CONTRA A INDIFERENÇA, MOSTRANDO O MUNDO COMO ELE É”. Nesta viagem não há agências de turismo. Não há pacotes promocionais. Não há praias paradisíacas, nem hotéis de luxo. Há genuinidade, espírito humanitário, trabalho de equipa, boa disposição e, sobretudo, um resultado final que fará toda a diferença na localidade visitada. Porque cada missão tem um objetivo concreto e uma tarefa definida a cumprir. É uma jornada surpreendente ao âmago das missões apoiadas pela AMI no Senegal, Guiné-Bissau e Brasil. A maioria dos participantes inscreve-se pelo desejo sincero de querer ajudar os outros, de ver no terreno a ação da AMI e também de verificar, in loco , onde é aplicado o seu donativo.
DATAS DAS AVENTURAS SOLIDÁRIAS 2020: SENEGAL:
06 a 14 de março
GUINÉ-BISSAU:
02 a 12 de abril e 26 de novembro a 06 de dezembro
BRASIL: 19 a 28 de junho
Internacional_ Camarões_
Meninas não são noivas
O projeto “Empowerment of 50 child brides with income generation” iniciado em julho de 2019, e que está a ser implementado pela SUSTAIN Cameroon, conta já com algumas atividades realizadas. Até ao final de novembro de 2019, foram apoiadas 18 raparigas em risco de casamentos precoces com sessões educativas e treino vocacional, 5 raparigas no desenvolvimento de atividades geradoras de rendimento e foi ainda fornecido apoio escolar completo a 3 raparigas que se inscreveram na escola. No que diz respeito à consciencialização da população das comunidades sobre o casamento forçado e a violência de género, foram realizadas duas sessões de sensibilização e consciencialização sobre saúde sexual e reprodutiva em Bamendankwe e Mbengwi, foram ainda distribuídos pela comunidade 100 posters sobre a legislação relacionada com os casamentos precoces e forçados, violência de género, direitos das mulheres e direitos humanos. Encontra-se já em fase de produção o documentário sobre os abusos sofridos pelas crianças em casamentos precoces e prevê-se a realização de sessões semanais focadas no sucesso das mulheres, e nas raparigas jovens em risco de casamento infantil e forçado nas comunidades.
Formação de Voluntários
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Irá decorrer nos dias 9 e 10 de março de 2020, uma formação dirigida a voluntários internacionais com o objetivo de introduzir conceitos relativos à intervenção das ONG, associações e outras organizações em terrenos que necessitam de apoio humanitário ao nível da saúde, alimentação, higiene e educação.. O programa envolve ainda a abordagem de matérias relacionadas com Assimetrias Mundiais, Introdução à Gestão de Projetos e Desenvolvimento Sustentável.
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Mais uma aventura! A Aventura Solidária oferece a quem gosta de viajar a oportunidade de financiar um projeto comunitário e contribuir para a sua implementação em conjunto com organizações locais de um determinado país. Estes projetos procuram melhorar as condições de vida de comunidades em áreas mais isoladas das grandes cidades, promovendo a fixação das populações, melhorando o acesso à saúde e educação, e contribuindo para o empreendedorismo regional. A última Aventura Solidária no Senegal, em novembro de 2019, permitiu apoiar o projeto da Luta Contra a Insegurança Alimentar.
Índia_
Mitigar o risco de inundações na Índia A AMI está a apoiar um projeto na área da mitigação de risco de desastres na Índia, implementado pela organização KBMBS (Kalikata Bidhan Manab Bikash Samity). A ação, intitulada “SAMPURNA - Disaster Preparedness & Management”, iniciou em janeiro de 2018 e terá uma duração de 3 anos. Este projeto pretende capacitar a população de 30 aldeias das comunidades de Amta I, Amta II e Udaynarayapur, localizadas no distrito de Howrah, zona caracterizada pela sua vulnerabilidade e propensão a inundações, em gestão de riscos e mitigação de desastres, através da formação de agentes comunitários, da criação de “Campos de sensibilização” e da realização de campanhas de reciclagem. Para atuar junto destas populações, cerca de 75 agentes comunitários já foram capacitados.
BREVES Nacional_
Monchique
Peditório O 33º Peditório da AMI decorreu entre os dias 24 e 27 de outubro de 2019, com o objetivo de financiar projetos de luta contra a pobreza em Portugal e nos diversos países do mundo onde a AMI intervém, tendo sido angariados 22.071,64 euros. O valor médio anual angariado de cerca de 106 mil euros, permite suportar o custo de, aproximadamente, 4 meses de funcionamento de um Centro Porta Amiga.
Em sequência dos devastadores incêndios de 2018 na região de Monchique, milhares de hectares de floresta foram consumidos pelas chamas. A requalificação da área ardida é uma componente essencial do ciclo de recuperação dos ecossistemas florestais. Foi neste âmbito que a AMI interveio em novembro de 2019, através do projeto Ecoética, requalificando 2 hectares de área ardida, com a ajuda de perto de 100 voluntários. Foram angariados cerca de 4400 euros. A iniciativa contou com o apoio da Câmara Municipal de Monchique, da Água Monchique, das Associações locais “A Nossa Terra e “Artesãos de Monchique”, do Grace (Giro 2.1), dos MEOS e do Vale do Lobo Algarve.
Sem abrigo A AMI participou no dia 5 de dezembro, numa reunião de trabalho com o Presidente da República, a Ministra do Emprego e Solidariedade Social e elementos de várias entidades e instituições cuja intervenção se centra nas pessoas em situação de sem-abrigo na cidade do Porto. O objetivo do encontro, que se realizou na Casa Allen no Porto, foi de efetuar um ponto de situação com entidades e instituições do Porto sobre a implementação local da Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA). A AMI esteve representada pelo Abrigo Noturno do Porto e pelo Centro Porta Amiga do Porto na reunião e teve a oportunidade de entregar ao Presidente da República um documento sobre a intervenção da instituição junto da população em situação de sem-abrigo em Portugal.
Vacinas para todos Foram vacinadas no Centro Porta Amiga das Olaias (CPA) 40 pessoas entre os dias 2 e 6 de dezembro de 2019. Esta iniciativa foi direcionada a pessoas em situação de sem-abrigo e levada a cabo pela Equipa de Rua e pelo CPA das Olaias. A campanha de vacinação contou com a colaboração de enfermeiras voluntárias.
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Mecenato_
Missão Natal No âmbito da 9ª edição da Missão Natal, a Fundação AMI contou com o apoio de muitas empresas que deram o seu contributo através da doação de bens para o cabaz de Natal ou para os miminhos e prendas para idosos e crianças acompanhadas pelos nossos serviços, e/ou ações de voluntariado nos vários Equipamentos Sociais. Em 2019 a Missão Natal beneficiou cerca de 2000 agregados familiares e mais de 5200 pessoas. Agradecemos a todos os parceiros, colaboradores e voluntários que participaram nesta iniciativa.
Campanha Saco Solidário
Agir sem Desperdício O projeto “Agir sem Desperdício Alimentar” é um projeto desenvolvido pela AMI em parceria com a Fundação AGEAS, que visa a formação dos beneficiários dos Centros Porta Amiga (CPA) da AMI para uma alimentação saudável e uma melhor gestão do orçamento familiar, através do aproveitamento de bens alimentares. O encerramento de mais um workshop no CPA das Olaias reuniu diversas gerações de beneficiários que assistiram à sessão desenvolvida pelas nutricionistas da Vitamimos, parceiro de implementação do projeto. Esta iniciativa irá decorrer até abril de 2020 nos CPA da AMI de Olaias, Chelas, Almada e Cascais.
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Call to Action
Na 8ª Edição da Campanha “Saco Solidário - Sacos que enchem Corações”, uma iniciativa em parceria com a Kelly Services, foram angariados 8.444 bens alimentares e de higiene, que foram distribuídos a mais de 5.000 beneficiários dos Centros Porta Amiga da AMI. Esta iniciativa é organizada pela Kelly Services e consiste em entregar sacos solidários à sua rede de parceiros, clientes e colaboradores, que aí colocam os seus donativos. Na ação de 2019 participaram 160 entidades.
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Tem ideias para a implementação de um projeto de responsabilidade social, campanha solidária ou voluntariado corporativo na sua empresa? Envie a sua proposta para marketing@ami.org.pt e faça parte desta missão!
Quadro de Honra_
Serafim Jorge (1931/2019) Serafim Jorge foi uma pessoa singular, única. Nasceu em Angola, na cidade do Lubango, em 1931 onde cresceu e viveu a sua juventude. Foi por lá que concluiu os seus estudos na área da saúde, para exercer a profissão de enfermeiro. Em 74, ano em que chegou a Portugal, estava longe de sonhar que se viria a tornar um dos grandes pilares da AMI, já que por esta data a organização nem sequer existia. Foi em 1985 que se juntou a esta instituição, correndo atrás da sua paixão pela proteção do ser humano e pela garantia dos seus direitos fundamentais. Onde quer que se fale do Senhor Serafim, ele é não só relembrado, mas narrado. O Senhor Serafim foi um inigualável contador de histórias e homem de ação. Passou por muitas dezenas de países, em missão com a AMI, foi administrador da instituição entre 1985 e 2014, cooperou em diversos projetos da organização com uma premissa: melhorar o mundo. Deliciou quem quer que cruzasse o seu caminho com relatos das suas aventuras, peripécias e experiências por este globo fora, que foi com certeza melhor pela sua presença e determinação. Memorizava os seus poemas de eleição e recitava-os em jeito de lição, para quem quisesse escutar e absorver. Foi daquelas pessoas que Pessoa descreveria como aquele que “conhece o vento e o sol, E anda pela mão das Estações, a seguir e a olhar”.
Instantâneos O Senhor Padre “Quando desembarquei em Angola, em 2002, além da minha bagagem pessoal, levava caixas com medicamentos. Assim, na Alfândega, fui para o guichet destinado a pessoas com bens a declarar. O funcionário da alfândega perguntou-me agressivamente: “Oiça, o que é que o senhor leva aí? Respondi-lhe: “São medicamentos para os nossos missionários” (Na AMI chamamos missionários a todos aqueles que estão em missão). Prontamente, o funcionário da alfândega mudou a expressão facial e muito simpático disse: “Desculpe Senhor Padre! Pode seguir.”” Serafim Jorge, Enfermeiro Administrador da AMI – Angola
in “Histórias para não Adormecer,” Vol. II – AMI
O Senhor Serafim Jorge deixou-nos no passado dia 1 de dezembro, passando um enorme legado de generosidade, humanidade e sentido de justiça para a sua família, amigos e para a AMI. Deixou também grande sabedoria e definitivamente muita saudade. Foram 35 anos da sua vida que dedicou a esta fundação e a esta missão, sem que nunca deixasse esmorecer o seu espírito aventureiro e cuidador. A sua vida e memória permanecerão eternamente na história da AMI, como um dos seus grandes alicerces e referências. Partilhamos o seu humor particular, recordando-o com amor e celebrando a sua tão valiosa existência.
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AGENDA AMI 6 A 14 MARÇO
7 A 10 MAIO
• Aventura Solidária – Senegal
• 34º Peditório Nacional AMI
9 E 10 MARÇO
19 A 28 JUNHO
• Formação de Voluntários Internacionais
• Aventura Solidária - Brasil
2 A 12 ABRIL
26 NOV. A 6 DEZ.
• Aventura Solidária – Guiné-Bissau
• Aventura Solidária - Guiné-Bissau
LOJA AMI
PORTES DE ENVIO
A Loja AMI dispõe de vários artigos que podem ser adquiridos no site ami.org.pt/loja Ao comprar qualquer um dos artigos da loja AMI estará a contribuir para a realização dos nossos projetos e missões. Pode também fazer a sua escolha, preencher e enviar-nos o cupão abaixo, junto com o cheque no valor total dos artigos acrescido das despesas de envio indicadas.
"Histórias para não Adormecer 2"
"Toda a esperança do mundo"
Livro 20€
Livro 39.90€
Encomenda
90€
Portugal Continental
5€
Grátis
Portugal Ilhas
25€
20€
Europa
30€
15€
Resto Mundo
35€
17,50€
"Guiné tem magia"
Livro 10€
90€
"Humanidade"
"Cartas da Tia que vive na selva”
Livro 20€
Livro 13€
[MAIS ARTIGOS EM WWW.AMI.ORG.PT]
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VOLUNTARIADO Quando a AMI nasceu, em 1984, o sonho era grande e as dificuldades imensas, mas a AMI cresceu e os anos passaram a uma velocidade inacreditável… E nada disto seria possível sem a coragem e o altruísmo de todos os voluntários que nos acompanham. Em missões internacionais, os voluntários podem assumir funções de coordenação de projeto, chefia de missão ou de especialista em áreas técnicas relevantes, integrando projetos de curta ou longa duração, em função do seu perfil e das necessidades existentes no terreno. Em Portugal, a AMI conta com voluntários das áreas da saúde, educação, ciências sociais, jurídicas e indiferenciados que ajudam a prestar serviços aos beneficiários dos equipamentos sociais, aos quais, de outra forma, não teriam acesso.
NECESSIDADES ATUAIS DE VOLUNTARIADO Pediatra
MISSÃO DA AMI EM MADAGÁSCAR
Enfermeiro/a Médico/a
CPA GAIA
CPA OLAIAS
Nutricionista Psiquiatras Cabeleireiro
CPA PORTO CPA CASCAIS
CPA PORTO
CPA ALMADA CPA ALMADA CPA GAIA
ABRIGO DO PORTO CPA PORTO CPA OLAIAS
Triagem de alimentos e distribuição de cabazes
voluntariado@ami.org.pt
CPA CHELAS
[FICHA DE CANDIDATURA ONLINE]
Este número da AMI Notícias foi editado com o especial apoio da revista VISÃO (Distribuição), COMPANHIA DAS CORES (Design), LIDERGRAF (Impressão e Acabamento) e CTT – Correios de Portugal Autorizada a reprodução dos textos desde que citada a fonte. AMI Fundação de Assistência Médica Internacional R. José do Patrocínio, 49 – Marvila, 1959-003 Lisboa ami.org.pt | fundacao.ami@ami.org.pt Ficha Técnica Publicação Trimestral Diretor Fernando Nobre Diretora Editorial Luísa Nemésio Edição Ana Ferreira Redação Marina Bertolami Fotografias AMI, Alfredo Cunha, CIFOR, Greenpeace Espanha Colaboram neste número: Ana Barros e Pedro Silva Paginação Companhia das Cores - Ana Gil Tiragem 56.000 exemplares Depósito Legal DL378104/14
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