Comunicare Centro

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opinião

A agitação da vida moderna exige atenção do homem aos sons, imagens, gostos, cheiros, texturas. Mas toda essa sobrecarga sensitível fez com que acontecesse o inverso. O homem não percebe mais o ambiente. Faz todo dia o mesmo caminho, mas não se dá conta das cores, dos cheiros, dos sons, dos gostos. Isso porque só usa seus sentidos superficialmente. Interagir com a cidade é um ato de cidadania. A sociedade não é a simples soma dos indivíduos, mas todos ligados pela interação. Perceber o espaço urbano com todos os sentidos permite estabelecer uma relação de proximidade. Nesta edição o Comunicare o convida a se relacionar com o Centro. Reparar nos detalhes, estar disposto a conhecer. Pertencer à cidade pressupõe integração, que começa a partir do olhar. Partida: Museu Oscar Niemeyer. Onde o som dos carros é abafado

NOSSA CAPA O infográfico demonstra os principais pontos que caracterizam o Centro. Arte: Ana Carolina Baú

FALA PROFESSOR

Parabéns ao Comunicare pela bela edição sobre Circo. Foi um prazer perceber a criatividade nas matérias! Laercio Ruffa – Diretor Artístico do Grupo de Teatro Tanahora/ PUCPR

pelos pássaros e o verde quebra a monotonia do cinza das construções. À paisagem estática se misturam os latidos e a correria dos cachorros. Na continuação o ronco dos motores acaba com o silêncio e o cheiro da poluição se torna presente. Nas proximidades da Catedral o sino soa e convida os fiéis para a celebração, enquanto as filas nos pontos mostram que o primeiro turno de trabalho acabou. O Centro revela a agitação rotineira de transeuntes anônimos que passam e somente passam. Pessoas, barulho de salto, murmúrios. Pombos. Motor, cheiro de combustível, buzina. Comida, cheiro da pipoca, do feijão, da carne e da gordura e a voz do anunciante: “três tipos de carne, caseira da melhor qualidade”. Mas ninguém degusta. Adiante os gritos são outros: “quatro pilhas, um real”, “dinheiro fácil é aqui”. Mas ninguém escuta. No frio da gélida cidade que oculta o sol por entre os prédios, escon-

dem se em becos diversas figuras. As ruas escuras, os grafites demarcando os territórios, os prédios que outrora foram destaque agora penam no esquecimento e na podridão. O lixo acumulado se mistura com o forte odor da urina. Mas ninguém sente. No trajeto pelas ruas do Centro a arquitetura vai do passado ao presente e revive memórias. Casarões antigos contam a história do que Curitiba foi, e os novos prédios trazem expectativas do que a cidade será. Mas ninguém vê. Ao longo dos anos a rua, o café, as lojas e os ônibus se tornaram locais para se passar a vista, mais do que cenários para conversações. Ainda sim, o Centro possui muitas atrações , cabe a você a forma de interagir. Você pode vê-lo ou apenas deixá-lo passar diante de seus olhos e sentidos. Mas “se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”

CARTA A matéria “Temática circense é o atrativo do Jokers Pub Café”, com redação impecável, tem alguns erros na história da família Queirolo, que continua trabalhando normalmente com espetáculos circenses até hoje e não como a matéria relata até a década de 70. Quanto ao que o proprietário comenta sobre a doação das roupas que estão expostas no Jokers, elas são locadas pela viúva de Chic-chic, o que foi relatado não procede. No mesmo jornal existe uma pequena nota sobre Marilene Queirolo na matéria “Contato com outras artes moderniza espetáculos” que descreveu o que realmente aconteceu. Angela Belmontel

Milena Vicintin

OMBUSDMAN: “PUXÕES DE ORELHA SÃO NORMAIS”

Personagens interessantes, temática inusitada com abordagens cotidianas A edição 165 do Comunicare começou fazendo aquilo que faz melhor: aprofundando temas inusitados com uma pegada cotidiana. Ótima idéia o tema circo, porque abrange diversas editorias e rende personagens incríveis! Ponto para a matéria da pág. 3, que trouxe a Camila Comin como personagem. No entanto, considerando a projeção do Cirque du Soleil, houve uma falha na hora da discussão e escolha de pautas, porque nada foi dito a respeito da contratação de Deborah Colker, importante coreógrafa brasileira, que foi a primeira mulher chamada para dirigir um espetáculo da companhia. Outro ponto forte quanto aos personagens da edição foi Marcio Ballas, palhaço que transformou a arte circense em cura através do riso. Lamento apenas a matéria ter sido tão curta, ainda mais quando

a terceira matéria apresentada pela equipe guarda pouca relação com os outros textos e com o próprio enfoque da editoria. Uma forma de corrigir esse problema seria fazer uma editoria de Saúde ao invés de Comportamento, até porque já existe outra com esse mesmo nome no jornal! Quanto à diagramação, tudo seguro e sem grandes erros. Exceto pelo posicionamento das fotos nas editorias Última Hora e Comportamento que estavam nos cantos externos do jornal, contra a melhor exegese quando se fala de diagramação. A correção do erro é simples e trata apenas de uma questão de atenção, especialmente na matéria “Temática circense é o atrativo do Jokers Pub Café”, onde o problema poderia ser corrigido trocando as fotos de lugar com o box. Falando em fotos: mais cuidado no enquadramento, quali-

dade e pertinência das imagens – foto não é para ocupar espaço, é fonte de informação e pode captar os olhares de leitores que normalmente não parariam para ler aquele conteúdo. Dito isso, gostei das fotos apresentadas nas editorias de Esporte e Sociedade! Ótima também a capa e o infográfico apresentado na pág. 16. A capa, principalmente, pois trouxe um ar retrô interessantíssimo com a imagem do palhaço e utilizou as cores fortes, características do circo, sem ficar exagerado. Puxões de orelha são normais, e é justamente por causa deles que somos hoje produto mais premiado da PUCPR! É muito legal saber que já fiz parte disso tudo. Parabéns a todos! Mayra M. B. Martins, jornalista e acadêmica do curso de Direito, Comunicare 2005.

EXPEDIENTE Jornal Laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Edição 171-Ano 14-manhã “A” outubro/2009 PUCPR Rua Imaculada Conceição 1.155, Prado Velho, Curitiba/PR Reitor Clemente Ivo Juliato Decano do CCJS Roberto Linhares da Costa Decano-Adjunto do CCJS Marilena Winters Diretora do Curso de Jornalismo Mônica Fort COMUNICARE Jornalista Responsável Prof Zanei Barcellos DRT-118/07/93 Coord. de Projeto Gráfico Prof Queila Souza Matitz EDITORES Primeira página Ana Carolina Baú,Opinião Milena Vicintin, Cidade Bruna Gomes, Transporte/ Saúde Durval Ramos, Polícia/ Comportamento Bábylla Miras, Política/Esportes Viviane Prestes, Ambiente/ Lazer Rafael Peroni, Economia Letícia Paris, Gastronomia Thyago da Silva, Religião Daniel Neves, Cultura Jonathan Seronato

Espaço urbano é tranformado pela criatividade de pessoas que precisam ganhar a vida e viram referência na região central No Centro de Curitiba existem os mais diversos personagens. O Comunicare foi às ruas para mostrar alguns dos mais conhecidos, que já viraram ícones da região Central. Há 40 anos no Centro, Tereza Santos, 59 anos, escolheu a Rua XV de Novembro por necessidade e é uma das mais populares “figuras” de Curitiba, a “Mulher da Cobra” ou “Borboleta 13”. Atualmente a cidade está sem a Mulher da Cobra na ativa. Existe outra pessoa em seu lugar. “Terezinha” há 3 anos trabalha para uma loja no centro, onde usa sua voz para fazer propaganda. “De vez em quando eu vou lá (Rua XV) dar uns gritinhos para matar a saudade. Os clientes às vezes me procuram aqui e perguntam cadê as cobras, as borboletas?” A Mulher da Cobra contou sua visão do bairro, os aspectos que ela viu mudar durante esses anos todos. Em sua opinião faltam banheiros públicos. Já o calçamento e o jeito das pessoas foi o que mais mudou. Ademir Antunes, o Plá é músico e possui 36 CDs gravados e sete livros. Acredita que a mentalidade do povo evoluiu

por outros motivos. O músico é deficiente visual e afirma que o povo curitibano é muito compreensivo. Além disso, afirma que a segurança é boa e que “a Prefeitura fez um trabalho bom, que é a sinalização para os deficientes visuais na rua”, o que faz com que ele ande pelo Centro sem dificuldades. Já o estátua-viva Rocco Barbiratto, de 34 anos contesta a segurança, dizendo que já foi coagido por policiais. O artista que é espírita e panteísta (acredita que os Deuses são elementos), lê cartas com vestimentas pretas, ao contrário da maioria das estátuas-vivas, que se vestem de branco ou prata. Segundo ele, o preto foi escolhido para chamar atenção, mas isso causa diversos transtornos. Nascido no Rio de Janeiro, o artista tem um sotaque particular, pois já rodou o mundo. “Atende” o mais variado público: de mendigos a advogados, e a única exigência de Rocco é acreditar no que ele fala. Para ele a vida de estátua não é nada fácil. Ele afirma que já bateram, assediaram e até cuspiram nele. Rocco falou da desvalorização de seu trabalho: “con-

“Terezinha”, a Mulher da Cobra

Plá, se apresentando na Rua XV

Filipi Galliani, caça-talentos

muito, “que o curitibano era bem mais fechado antes”. Formado em Música pela FAP (Faculdade de Artes do Paraná) em 1982, Plá iniciou sua carreira nas ruas do Centro em 1984. O músico sempre está pelo bairro e aos domingos se apresenta no Largo da Ordem. Can-

Prefeito foi evasivo No dia 29 de setembro, o prefeito Beto Richa abriu o 17º Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito, na Universidade Positivo. Questionado pelo Comunicare sobre os principais problemas do Centro apontados pela população curitibana, como falta de estacionamento e banheiros públicos, o prefeito Prefeito Beto Richa Beto Richa foi evasivo: “A prefeitura tem procurado tomar as medidas necessárias para atender aos anseios da população. E tudo isso está sendo estudado pelos órgãos competentes”. O Centro de Curitiba tem população residente de 33 mil habitantes, segundo o Censo de 2000, além de ser o maior bairro comercial da cidade e o mais movimentado em diversos aspectos. (FL)

Odival tocando no Centrro

tando suas músicas, deixa pedaços de panos para turistas, fãs e curiosos assinarem. Plá usava papéis antes e chegou a montar livros com eles, com os panos ele cria roupas. Uma de suas músicas mais conhecidas é a intitulada “Bicicletas”, que virou uma espécie de hino para os participantes da “bicicletada”. Através de sua música, Plá expõe suas ideias e ideais. Com um jeito muito tranquilo acredita que Curitiba ainda é uma cidade segura, que “o crescimento do centro, da cidade, é natural, mas o importante é não se deixar levar pelo caos”. O caos a que Plá se refere é um atrativo para Filipi Galliani, de 26 anos. Ele é um “CaçaTalentos” e há sete anos está pelo Centro. Com seu jeito peculiar, Filipi observa o movimento do Centro em busca de modelos fotográficos, para passarela, propaganda, agências. Odival Neves é mais um dos artistas do Centro. Com 72 anos, trabalha há 12 anos tocando sanfona e já possui 4 CDS gravados. Odival escolheu a região pelo grande movimento, mas também

O que você mudaria no Centro?

“Lugares cobertos para o pessoal da boca se encontrar.” Eneas Galvão, 88 anos, aposentado

“Mais banheiros públicos e acabaria com as pombas.” Débora Zenin, 32 anos, florista.

“Diminuiria as caixas de som porque irritam a gente.”

Fernando Levinski

Cores, sons, gostos, texturas, cheiros, imagens. Convite ao espetáculo urbano

Personagens típicos da XV avaliam Centro Bruna Oliveira

Flávia Leal, estudante de Jornalismo da Cásper Líbero e de História da USP

Bruna Oliveira

Interagir: ato de cidadão

A edição Circo é um exemplo do porque o Comunicare é tão prestigiado com o prêmio Sangue Novo. Parabéns!

ARTISTAS E OUTROS PROFISSIONAIS RELATAM O TRABALHO NO BAIRRO MAIS MOVIMENTADO DA CIDADE

Bruna Oliveira

FALA LEITOR

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Curitiba, outubro de 2009

Bruna Oliveira

EDITORIAL: CENTRO, UM LOCAL DE PASSAGEM

cidade

Fernando Levinski

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Curitiba, outubro de 2009

Danter Ruy, 31 anos, vendedor ambulante.

Rocco Barbiratto, estátua-viva

fundem a caixa de contribuição com caixa de esmola”. E ainda complementou que no Centro há uma espécie de comércio do “lugar” para o artista se apresentar. “Cobram por você estar ali, outros vendem o espaço”, comenta Rocco, se referindo à outros artistas que fazem a cobrança. Bruna Oliveira

“Modernizar o visual que é meio deprimente.” Liliane Matos, 45 anos, do lar.


transporte

FALTA DE APOIO DEVIDO AO FORMATO INCOMUM DE ASSENTOS

PEDINTES IGNORAM PROIBIÇÃO

Bancos da linha Circular Centro podem derrubar idoso e deficiente físico “Esses ônibus são muito ruins. Em alguns lugares ainda há um espaço para se apoiar com o pé, mas nos outros tem de ficar se equilibrando”, conta o senhor. Terezinha Cavalcanti, que o utiliza todos os dias para voltar do trabalho, concorda com Yschisaki em relação aos bancos do veículo. Ela ressalta que a linha é útil e percorre o Centro rapidamente a uma tarifa baixa (a passagem do Circular é de R$ 1,20), porém considera os “rolinhos” inseguros por não proporcionarem firmeza aos passageiros. “Fico preocupada quando vejo pessoas com crianças de colo ou carregando malas porque é muito complicado apoiarse. É comum ver essas pessoas tendo problemas para se manter no lugar”, relata. Além dos passageiros, os motoristas também reclamam, afinal, têm de tomar cuidado redobrado para não causar acidentes. Moacir de Melo César, motorista da linha há nove anos, conta que

Apesar do aviso, atividade ainda é comum nos ônibus de Curitiba

Vendedores ambulantes são problema em ônibus

além de prestar atenção no trânsito, tem de estar atento ao que acontece dentro do ônibus. Além disso, ele conta que é pouco comum que deficientes físicos utilizem o transporte. “Quando alguém com alguma dificuldade de locomoção quer embarcar, a gente tem de descer e ajudá-los a subir”. Segundo a Urbs (Urbanização de Curitiba), na época em que a linha foi criada, os microônibus com esse tipo de assento eram a melhor opção por permitir o transporte do maior número de passageiros pelo menor custo. Entretanto, para entrar de acordo com as novas regulamentações de segurança das montadoras, veículos desse tipo pararam de ser fabricados, sendo que os últimos adquiridos já possuem bancos no formato tradicional. De acordo com o órgão, a renovação total da frota deve demorar até o final de 2010.

Embora seja proibido, não é difícil encontrar vendedores e pedintes nos ônibus de Curitiba. Eles aproveitam a possibilidade de pegar mais de um ônibus com apenas uma passagem para transitar entre diversos veículos e, desta forma, abordar um número maior de pessoas. Os motoristas e cobradores reclamam que recebem ordens para mandá-los embora dos veículos e estações, porém é muito difícil para eles controlar a situação. “É muito raro perceber que eles estão no ônibus. Eles entram nos horários de pico e como o ônibus está cheio não dá para perceber o que ocorre na parte de trás”, diz Ubirajara Cunha da Silva, motorista da linha Pinheirinho/ Carlos Gomes. Outro motorista, que prefere não ser identificado, reclama que apesar de ser muito complicado retirar ambulantes e pedintes, tem medo de ser multado caso algum fiscal da Urbs (Urbanização de Curitiba) veja alguém realizando essas atividades no ônibus que dirige. “Além de eles agirem rapidamente, muitos deles são agressivos. Já aconteceu de eu pedir para um homem sair e ele me ameaçar. E não posso

esperar para chamar a guarda municipal. Como vou retirá-los então?”, questiona. O cobrador da estação-tubo Eufrásio Correa, Almir José de Lima, faz uma reclamação similar. “Há alguns dias fui multado em 68 reais, dinheiro que é descontado do meu salário. Tudo por causa de um vendedor de cocada que fica no tubo. Só que eu não tenho como abandonar meu posto para tirá-lo de lá”, relata. O vendedor M. J. afirma conhecer a lei, mas ainda assim continua a vender cocadas na estação, das 17h à meia-noite, horário de maior movimento, durante a semana. Conta também que não sobrevive disso, mas que vende seus produtos ali para ganhar uma renda extra. Segundo a Urbs, o problema é difícil de ser controlado pelas mesmas razões apontadas pelos motoristas e cobradores. Porém, o órgão diz que caso percebam conivência com os vendedores, os fiscais não multam os trabalhadores do sistema de transporte, apenas notificam as empresas que os contratam para que estas tomem as medidas necessárias.

“Não posso abandonar meu posto para retirá-los do tubo”

Cássio Barbosa

Fotos: Cássio Barbosa

Além de desconfortáveis, assentos não fornecem segurança para quem depende do Circular Centro

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MESMO COM TODAS AS MEDIDAS ADOTADAS USUÁRIOS AINDA FREQUENTAM A REGIÃO

São Francisco ainda sofre com o tráfico Rondas policiais e monitoramento de câmeras não inibem o consumo e tráfico de drogas em plena luz do dia no centro de Curitiba

Motoristas tomam cuidado ao realizar curvas para não derrubar passageiros

Os ônibus da linha Circular Centro são famosos por causa de seus assentos fora do convencional: uma barra de ferro envolvida por almofadas. Entretanto, estes bancos não agradam aos usuários por causa do seu desconforto e falta de segurança. Como não há apoio para as costas, os passageiros precisam arranjar algum lugar para se segurar e não cair durante as curvas mais bruscas. Por conta disso, quem tem de pegar o ônibus ou espera os dois únicos veículos com bancos tradicionais de toda a frota, ou dá um jeito de se apoiar. Para grande parte dos usuários, em especial os idosos e deficientes, tal esforço revela-se bastante incômodo. O aposentado Takuo Yschisaki, 69 anos, diz que sempre que possível espera pelo ônibus com assentos comuns. Porém, como este passa pelos pontos a cada 35 minutos, sem contar eventuais atrasos, Takuo é obrigado a entrar nos veículos mais antigos.

segurança

Curitiba, outubro de 2009

Há mais de 10 anos a rua São Francisco é ponto de consumo e tráfico de drogas e prostituição. Comerciantes afirmam que desde o ano passado o consumo e movimentação dos entorpecentes diminuíram. Porém a rua é dividida em duas. Um trecho tem câmeras de segurança e consequentemente menos usuários, o outro não tem câmeras de monitoramento, tem pouco policiamento, facilitando assim o tráfico e consumo de drogas, principalmente o crack. A polícia aparece, age algumas vezes com violência, como presenciou o Comunicare, e, assim que vai embora, o consumo continua. Dona de uma loja de pesca há cinco anos, a comerciante Aurora Leal, tem o seu estabelecimento na parte monitorada da São Francisco, e afirma que antigamente era bem mais difícil e pesado o clima na região, pois havia muita prostituição e tráfico de drogas. “Depois da instalação das câmeras diminuiu bastante a violência e o consumo de drogas, mas a câmera pega apenas em uma parte da rua, então nessa parte que pega é bem mais dificil encontrar os usuários”, diz Au-

Trecho da rua sem câmeras

Fotos de Bábylla Miras

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Curitiba, outubro de 2009

Muitos são menores de idade

rora. A comerciante conta que os usuários não costumam mexer com os moradores e comerciantes da região, só incomodam quem passa pela rua, mas isso prejudica o comércio. “Mesmo com toda essa melhora vai levar muito mais tempo para a São Francisco perder essa imagem de rua perigosa, ela ainda possui má fama e isso acaba afastando os clientes”, afirma Aurora.

Flagrante: usuários se drogam em plena luz do dia

Há 35 anos na São Francisco, o joalheiro Dirceu de Santa, diz que a rua realmente melhorou, porém não está mais tão segura como no começo do ano. “A polícia parou de fazer tantas rondas, parece que as câmeras não estão mais dando resultados, os viciados acabam voltando, está começando a ficar ruim de novo”, diz Dirceu. Comerciante da parte da rua

sem monitoramento, Eduardo*, afirma que nos sábados, domingos, e em dias de semana pela parte da manhã, o número de usuários é mais intensificado. “Antes tinha dias que eu não conseguia abrir a minha loja, pois tinha gente demais dormindo na frente. Perdi e perco muitos clientes”, diz Eduardo. “Nem sei porque tem tantos policiais, não fazem nada. Ligar

pra polícia e não ligar é a mesma coisa, eles quase nunca vem e quando aparecem é muito tempo depois”, diz o comerciante. O trecho da rua sem câmeras, e que é mais frequentado pelos usuários também abriga o Instituto Educação Contemporânea à Distância (Iecad). “Eu nunca vi tantos viciados, é 24 horas por dia, a polícia passa e cinco minutos eles já estão de volta se drogando”, diz o orientador Paulo César da Silva. “Só tem placa de que tem câmera, porque não tem. Não é monitorado aqui, só a parte de cima é como se existisse duas São Francisco diferentes”, comenta o orientador. Durante a reportagem a equipe do Comunicare fotografou o livre consumo de drogas tanto de dia como à noite. No 23 de setembro a reportagem presenciou também uma revista da Polícia Militar em um dos usuários da região. Com direito a alguns socos a revista foi curta e chamou a atenção de quem passavam pela região. A cena ocorreu na parte não monitorada da rua. * Os nomes foram modificados. Bábylla Miras

O NÃO COMPROMETIMENTO DOS ESTABELECIMENTOS GERA DESCONFIANÇA

Clientes reclamam da falta de segurança dos estacionamentos

Deixar o carro em estacionamentos privados é uma das maneiras de querer se proteger de assaltos, mas várias pessoas são lesadas dentro dos estabelecimentos e acabam notando algumas diferenças nos veículos na hora ou somente depois de sair do local. Alguns estacionamentos dão o direito do cliente reclamar e exigir reparo se forem roubados ou se danificarem seu carro, porém isso deve ser feito de imediato no local, antes do cliente retirar o automóvel. É certo que várias pessoas vão até o centro de carro, entretanto o maior dificuldade está na hora de estacionar o veCássio Barbosa ículo em algum lugar confiável.

O empresário Lucas Araújo, 47 anos, deixou seu carro em um estacionamento do centro, acreditando ter mais segurança e que correria menos risco do que se deixasse na rua, e quando voltou para pegar o veículo descobriu que haviam roubado toda a sua coletânea de CDs. “Reclamei junto ao responsável pelo estacionamento, mas ouvi apenas um sinto muito, e nunca mais consegui recuperar os meus CDs”, diz Lucas. A farmacêutica Amanda Cavalheiros, 42 anos, era mensalista de um estacionamento do centro, mas após um dia de trabalho encontrou o seu carro em um estado bem diferente de como ela

tinha deixado, estava com as janelas abertas, bancos sujos, cheiro de cigarro e uma faca. “Fui me informar sobre o que havia acontecido com o meu carro e descobri que a pessoa que estava de vigia no dia, foi quem entrou no carro, usou e sujou as minhas coisas. Como o dono do estabelecimento não tomou atitude alguma sobre o acontecido, mudei de estacionamento”, conta Amanda. A advogada Bruna Cristina, 41 anos, conta que também teve seu carro violado, “um dia deixei meu carro estacionado e intacto, mas quando voltei notei uma batida grande no pára-choque”. A advogada falou com o dono do estacionamento e ficou combi-

nado que ele mandaria o carro para arrumar e pintar o que estava danificado, mas não foi o que aconteceu. “Ele mesmo tentou arrumar e falou que levou o carro numa empresa especializada”. O resultado não ficou bom e a cliente ligou reclamando na empresa (martelinho de ouro). “Eles perguntaram o número da placa do meu carro, quando foram conferir não constava no cadastro, o meu carro não tinha passado por lá. Voltei no estabelecimento, briguei com o dono e troquei de estacionamento em que eu deixava meu carro estacionado”. Os estacionamentos cobram uma taxa pelas horas que o carro vai permanecer no local, mas a

maioria não apresenta nenhum tipo de contrato, ou alguma forma de garantia. Porém, os estabelecimentos são obrigados por lei a se responsabilizar por qualquer dano, perda ou furto que possam acontecer com o veículo. Segundo a assessora Fernanda Anciutti, até o final do mês de setembro o Procon atendeu cerca de 161 pessoas com dúvidas e queixas em relação a estacionamentos. Inicialmente a entidade tenta fazer um acordo entre o cliente e o estabelecimento, não sendo possível o caso é levado à audiência e a empresa pode ser multada. Vanessa Otoviz


06

política

Curitiba, outubro de 2009

CINEMAS FECHADOS E CAFÉS POUCO MOVIMENTADOS MUDAM A IMAGEM DA AVENIDA LUIZ XAVIER

07

Curitiba, outubro de 2009

meio ambiente

FURTO DE SACOS PLÁSTICOS TAMBÉM ATRAPALHA A COLETA

Espaços públicos perdem essência política População não percebe lixeiras da Rua XV

Hoje, os debates são mais informais na Boca Maldita

encontros. Eventos importantes aconteciam naquela que é a menor avenida do mundo, a Luiz Xavier. Como afirma o jornalista Luiz Geraldo Mazza, “a Boca Maldita recebia desfiles militares e escolares, comícios e grandes discursos como o de Getúlio Vargas”. Pela sua importância política a Boca virou instituição ganhou até presidentes. O atual, Ygor Siqueira afirma esse valor. “Aqui era o único local que

Mesmo sem a política, Boca do Brilho ainda tem movimento

as pessoas podiam se manifestar no período da ditadura. Hoje nós não temos mais essa rejeição. Aqui é um espaço democrático onde você não precisa tirar dinheiro do bolso para falar o que você pensa”, conta Siqueira. A Boca do Brilho também perdeu sua essência. Segundo o engraxate Aparecido Rodrigues da Silva, que trabalha no local há oito anos, o movimento não diminuiu, inclusive é um

ambiente familiar, onde todos se conhecem e conversam . Porém a política já não está mais tão presente nos diálogos. “O que mais as pessoas comentam hoje, aqui, é sobre futebol”, e ainda acrescenta que somente na época de eleições as pessoas falam mais sobre política. A organização das Bocas continua a mesma. Os pontos de encontro e o espaço para livre expressão continuam os mesmos. Mas a rotina mudou, devido a trans-

formações na cidade e na sociedade. Mazza ainda comenta que hoje na Boca do Brilho e principalmente na Boca Maldita as conversas sobre política são apenas informais. “Curitiba antiga está ali. É um pontodeencontroentrepovoe autoridades. Mas como a cidade se expandiu, a Boca perdeu a tradição”, diz o jornalista. Adriana Maestrelli Viviane Prestes

Curitiba é conhecida por possuir um eficiente sistema de coleta de lixos, porém, na Rua XV de Novembro, no Centro da cidade, boa parte da população não percebe a presença de lixeiras, pois estas se “perdem” em meio aos canteiros de flores. A semelhança com estes canteiros, a localização inadequada e o roubo de sacos plásticos pelos catadores de latinhas, estão entre os principais problemas notados pela população que circula diariamente pela rua mais movimentada da região. Em praticamente toda Curitiba, as lixeiras são latões cinzas e estão localizadas no meio das ruas para que assim fiquem visíveis a população. Já na Rua XV de Novembro, as lixeiras são de madeiras, causando confusão em quem não conhece o local ou está com pressa. “A maioria está

As “bitucas”

SEM ATRATIVOS, UMA DAS VIAS PÚBLICAS MAIS ANTIGAS DA CIDADE ESTÁ COM O MOVIMENTO REDUZIDO

Melhorias continuam sendo exigidas na Rua Saldanha Marinho

Com a saída do comércio tradicional, a extinção de bares e restaurantes famosos e a desvalorização da estrutura urbana, moradores e comerciantes da Saldanha Marinho veem o movimento de pessoas diminuir no calçadão e pedem mais investimentos na rua. Mesmo com o que já foi feito pela prefeitura, o que falta no local são melhorias que atraiam novamente o público e valorizem uma das vias públicas mais antigas da cidade. Na parte exclusiva para pedestres, o calçadão, os trabalhadores reclamam que as lojas tradicionais sumiram e deram espaço a pequenos comércios. Isso fez com que o movimento diminuísse e a rua ficasse desvalorizada. O cabeleireiro Vicente José Ferreira, trabalha há 30 anos na Saldanha Marinho e afirma que: “Em 1977 essa rua era mais movimentada que a Rua XV. Antes dava gosto

vir aqui, porque havia lojas como a Disapel, a Casa Áurea, a Casa dos Tecidos e loja da Prosdócimo”. Assim como o alfaiate Orestes José Rech, que mantém a sua alfaiataria há 47 anos no mesmo endereço. “O comércio piorou, principalmente para mim. As lojas de confecção levaram o pouco que restava da minha clientela e os bares e restaurantes que eram bons acabaram saindo daqui”, conta ele. Quem mora em frente ao calçadão da Saldanha Marinho conta que a rua já teve épocas melhores. O barbeiro Olisses Gomes vive há 20 anos na rua e diz que os moradores já tiveram que tomar providências para tirar os canteiros de flores que estavam atrapalhando os pedestres. “Nós tivemos que fazer abaixo assinado e sugerimos a instalação de câmeras de segurança”, afir-

Frequentadores querem mais investimentos e valorização do local

Estômago O filme de 2007, dirigido por Marcos Jorge, teve algumas cenas rodadas em Curitiba. Nele, o cozinheiro Raimundo Nonato inicia sua trajetória trabalhando em uma lanchonete localizada na Saldanha Marinho. O Bar Palácio também serviu de cenário para as filmagens.

ma Gomes. Apesar dos investimentos feitos pela prefeitura, as pessoas ainda reclamam do calçamento da rua e das fachadas, dos prédios, não restauradas. Segundo o adminstrador da Regional Matriz, Omar Akel, há algumas dificuldades em restaurar a rua. Ainda, afirma que uma série de ações estão sendo feitas para tentar revitalizar o local. Hoje, os moradores também sentem falta de bares e restaurantes que ficavam abertos até anoitecer. Olisses Gomes afirma que, principalmente aos sábados, o comércio fecha às 14h. “Antes era maravilhoso, os bares e restaurantes colocavam as mesas na calçada e as pessoas vinham de outros lugares para se encontrar aqui”, complementa. Adriana Maestrelli Ruann Jovinski Viviane Prestes

As “bitucas” de cigarro são as inimigas número um dos garis responsáveis por limpar o Centro de Curitiba. Alguns jogam as “bitucas” no chão e outros jogam elas acessas no lixo, prejudicando o trabalho do gari. Com a aprovação da lei anti-fumo a tendência é que mais pessoas fumem em locais abertos. Deste modo, cabe a cada cidadão apagar seu cigarro e jogar no lixo, para que assim todos contribuam para a manutenção da cidade limpa.

acostumada, mas quem é de fora e está apressado, não observa as lixeiras no lado da rua e acabam, jogando os restos no chão”, afirmou Valéria Cavalcanti, 24, atendente de telemarketing. Outro problema verificado por quem passa pela XV de Novembro é a localização destas lixeiras, que ficam afastadas e próximas aos bancos em que algumas pessoas normalmente estão sentadas e conversando. “Se o sujeito está correndo ele não observa, sem contar que sempre tem pessoas conversando perto o que atrapalha”, ponderou Gerson Silveira de Meira, 35, vigilante, que aproveitou para elogiar os garis e sistema de coleta de lixos. “A coleta de lixo em Curitiba é excelente, os problemas são mínimos”. Estas lixeiras abertas acabam causando também outros

transtornos, como observa a diarista Silmara de Paula, de 40 anos. “Os mendigos pegam os plásticos da lixeira para catar latinha, atrapalhando o funcionamento da coleta”. Os garis confirmam a reclamação, “Os mendigos além de roubar os sacos, jogam os lixos no chão”, afirmou Ivanildo Souza que trabalha como gari há 5 anos. Embora boa parte da população tenha queixas com relação a este tipo de lixeira, alguns gostam delas pela beleza que estas proporcionam. “Acho que poderia continuar assim, é mais bonito, talvez sem tanta eficiencia, mas fica bonito”, observa Salete de Fátima Vidal, 48, auxiliar de enfermagem. Apesar deste problema, uma opinião é unanimidade entre os entrevistados pelo Comunicare, a Rua XV é limpa e mesmo

Fotos: Rafael Peroni

Cinemas extintos, poucos cafés, público cada vez menor, mas sempre uma graxa no sapato, futebol na conversa e um bom jornal. Embora muita coisa tenha mudado na região, pelo menos os aposentados continuam se encontrando todas as tardes nas Bocas Maldita e do Brilho. No entanto, já não é como antes. Com o tempo esses espaços perderam suas essências políticas e culturais. A manifestação da opinião no espaço público é uma das características que formaram a imagem da Boca Maldita e do Brilho. A diversidade de classes que se misturam nelas também fez com que a opinião do curitibano se formasse no centro da cidade. O aposentado Milton Santos frequenta a Avenida da Boca Maldita há 50 anos e afirma que “às vezes um pessoal vem, instala sua caixa de som e faz a sua política contra ou a favor. Não existe mais conversa sobre política, como antigamente”. A Boca Maldita era ponto referência de Curitiba e palco de muitos

Fotos: Adriana Maestrelli

Apesar das mudanças culturais, locais de livre expressão e pontos de encontro continuam recebendo aposentados todas as tardes Apesar do problema encontrado na rua mais movimentada do Centro, cidadãos consideram a coleta eficiente e a região limpa

Lixeiras da Rua XV se “perdem” entre os canteiros de flores

com uma lixeira não tão eficiente, segue sendo um exemplo para o restante do país. “Curitiba é um exemplo como cidade com relação a limpeza. Das ca-pitais que passei, com certeza é a mais limpa”, ponderou

Ma-riana Godói, 34, residente no Piauí que veio para Curitiba a trabalho e ficou surpresa com a limpeza no Centro da cidade. Luiz Henrique de Oliveira Rafael Peroni

MESMO COM LIXEIRAS PRÓXIMAS, LIXO É JOGADO NO CHÃO

Garis criticam falta de conscientização por parte da população curitibana que frequenta região central Trabalhando quase 8 horas por dia nas ruas do Centro de Curitiba, os garis, em sua maioria chegam a mesma conclusão: falta conscientização pública para parte da população da capital. Lixo jogado ao lado de lixeiras e depredação destas estão entre os maiores danos percebidos por estes profissionais. O gari Lourival Gualberto de Abreu, 50, trabalha na limpeza das ruas do Centro há 14 anos. Orgulhoso de sua profissão, ele reconhece a importância de seu trabalho no dia-a-dia, porém, critica o curitibano pela falta de consciência, uma vez que este joga lixo em locais inadequados. “O curitibano não é muito consciente, ele quase sempre joga fora das lixeiras, joga no chão, mesmo quando tem uma lixeira do lado”, afirma.

Garis retiram lixo do chão nas proximidades de lixeiras

Grande parte dos frequentadores da Rua XV concordam com a opinião de Lourival. “Falta consciência nas pessoas, sempre observo senhores que fumam com um lixo ao lado e mesmo com garis varrendo perto acabam jogando a bituca no chão”, observa Marizange-

la Pinheiro, 25, vendedora. Ela também aproveita para valorizar o trabalho destes profissionais “Em nenhum lugar você vê tão bons garis como aqui”. Nos locais em que trabalham eles percebem e confirmam as palavras de Marizangela, afirmando que os curitibanos re-

conhecem e dão o devido valor a sua profissão. “As pessoas nos cumprimentam e a maioria nos respeita”, afirma Lourival. Seu colega Edilson Queirós, 32, mantém a mesma opinião. “Nos respeitam bastante, quem não nos respeita são aqueles que jogam o lixo no chão”. Com o convívio diário os profissionais de limpeza formam uma verdadeira família. “Almoçamos juntos, saímos juntos, somos uma família”, afirma Edilson. Opinião semelhante a de seu colega Lourival um dos mais antigos garis de Curitiba, “Realizamos confraternizações, mantemos contato diário, a união prevalece aqui, sou um dos mais antigos no grupo e gosto daqui”. Luiz Henrique de Oliveira Tarek Omar


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economia

Curitiba, outubro de 2009

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Curitiba, outubro de 2009

DIFERENCIADAS E ABRANGENTES, AS LOJAS DO CENTRO OFERECEM PRODUTOS QUE, MUITAS VEZES, NÃO SÃO ENCONTRADOS NOS OUTROS BAIRROS DA CIDADE

Diversidade no comércio central atrai consumidores dos outros bairros curitibanos Com lojas de sapatos, roupas, artigos de 1,99 e outras variedades, o principal bairro curitibano recebe um grande número de pessoas todos os dias. Muitos clientes aproveitam a hora de almoço para fazer compras e observar as vitrines e promoções disponíveis

Um sonho de negócios Mari Hassad é árabe e conheceu o Brasil em sua viagem de lua de mel, gostou tanto que resolveu ficar por aqui. Ao ver no território brasileiro a oportunidade de estabelecer suas metas e construir um futuro empreendedor, decidiu deixar seu País e toda a sua família para buscar a realização de seu sonho: montar uma loja. Casada, trouxe o marido e, há 38 anos, se estabeleceu no comércio curitibano. Trabalhando com o esposo e procurando sempre a expansão de seus negócios, atualmente Mari ainda trabalha em seu estabelecimento, a loja Casa Luxo, mas já conta com funcionários que, com o crescimento dos negócios, se tornaram necessários. A lojista sempre volta para sua terra de origem, porém, apenas para rever seus familiares, pois afirma que alcançou os objetivos profissionais que possuía e sente-se feliz com os resultados que obteve aqui no Brasil. Para ela, o comércio curitibano tem se expandido com o tempo, e a concorrência apenas favoreceu sua carreira. Mari se orgulha de seu espírito empreendedor e conclui que, se voltasse há anos atrás e tivesse que esco-lher um futuro profissional, novamente escolheria ser comerciante.

Mesmo sem a intenção de comprar, muitos visitam o comércio central para conferir as promoções

que estou no auge, levando em conta tudo que já passei. Hoje sou uma pessoa feliz, mas quero melhorar mais ainda, tenho o sonho de montar uma loja”. Quanto a clientela, a empreendedora diz que o público é muito amplo e o movimento de clientes é compensador.

Os clientes são tratados de forma simpática e receptiva na maioria das lojas, afinal, segundo os próprios lojistas, é com o humor do comerciante que o comprador se sente atraído a consumir ou permanecer na loja. Miguel Gonçalves, de 65 anos, trabalha com o filho na Rua da

Cidadania, e garante que atende seus clientes com brincadeiras saudáveis e bom humor, o que tem gerado resultados positivos em suas vendas. Para aumentar as vendas, muitos lojistas investem em propaganda, na voz dos anunciadores localizados em frente as

LOJAS DE USADOS POSSUEM PREÇO COMO DIFERENCIAL PARA ATRAIR CLIENTES

relacionar com os mais diversos tipos de pessoas, presenciar a correria e o movimento característico do bairro e acompanhar situações inusitadas que acontecem diariamente. A comerciante Diair Servo de Lima garante que já testemunhou muitas confusões com seu trabalho: “A gente acompanha muitos ‘barracos’ mas sempre procuro não me envolver. Fiz muitas amizades trabalhando com vendas e prefiro não arriscá-las por causa de fofocas”. Outro destaque do varejo da cidade são as lojas de 1,99. Espalhadas por todas as regiões, elas já fazem parte do cenário de alguns pontos da cidade, como no movimentado comércio ao lado da praça Rui Barbosa, onde pode-se encontrar uma infinidade delas. Segundo grande parte dos curitibanos, os pontos de comércio são ótimos locais para passear com a família, conferir as novidades e passar o tempo.

PESQUISA DA PECHINCHA Diversidade entre os preços do modelo mais caro de cada produto em variados estabelecimentos. Letícia Paris

lojas, chamando a atenção das pessoas que passam pela rua. A disputa por clientes acontece de forma mais notável nas galerias e shoppings direto da fábrica, onde as lojas ficam mais próximas e os clientes podem visitar vários estabelecimentos de forma rápida, fator visto como favorável, segundo alguns comerciantes. “Quando a concorrência é maior, a qualidade do serviço aumenta” – diz Eduardo Nunes Tavares, empresário e vendedor. Segundo ele, há uma divisão de segmento e produtos nas pequenas galerias: “Cada um trabalha com um tipo de produto. Não posso vender a mesma mercadoria do box ao lado para que seja organizado e justo para todos”. Tavares ainda afirma que o clima curitibano favorece a existência de galerias, afinal, o ambiente fechado é confortável para as compras em dias de frio ou chuva. É também no ambiente comercial que nascem muitas amizades e histórias curiosas. O trabalho dos vendedores lhes oferece a oportunidade de se

Liquidações atraem os clientes em meio as inúmeras lojas

A sorte como mercadoria Enquanto as lotéricas tem se transformado em locais para pagamentos de contas, agências bancárias e prestação de outros serviços variados, a venda de bilhetes e apostas alcançou um considerável aumento nos últimos anos. Este tipo de comércio, que antes se baseava principalmente no jogo do bicho, hoje conta com o anúncio de raspadinhas e grandes jogos nacionais, que atrai a atenção até de quem não costuma apostar.

Letícia Paris

FACILIDADES E PREÇOS ACESSÍVEIS AGRADAM OS CLIENTES

Grande procura por produtos de segunda mão leva Mercadoramas do centro trazem mais a expansão dos sebos, brechós e móveis usados praticidade e agilidade nas compras Os produtos de segunda mão tem atraído cada vez mais consumidores. Antigamente a região central concentrava um maior número de brechós, o que tem mudado de forma considerável. Com o passar do tempo, os estabelecimentos migraram para outros bairros da cidade. Segundo Almir Pereira, há quinze anos no ramo, o grande diferencial deste tipo de mercado é o preço acessível e a moda retrô, que ainda garante estilo e originalidade ao vestir. Os sebos e as lojas de móveis usados também oferecem diversas opções de compra aos que procuram valores atrativos e

Cliente procura raridades em meio aos balcões do sebo

produtos de qualidade. Eliotério Burrego, trabalha há muitos anos com livrarias e afirma que os sebos cresceram bastante. Alguns sebos possuem como

diferencial, a venda de livros raros que são restaurados antes de chegarem as prateleiras. Segundo os vendedores, o sistema funciona como uma reciclagem,

onde o que era tido como “lixo cultural” torna-se produto de comercialização e é valorizado como relíquia. André Luis Melança, proprietário de uma loja de móveis usados, garante que os estabelecimentos localizados na região central possuem uma imensa vantagem sobre os outros, que se encontram em bairros menores. Isso ocorre devido ao fácil acesso que as ruas, onde estão localizadas a maioria das lojas, oferecem aos clientes, como no caso das ruas Riachuelo, Mateus Leme e João Negrão.

Emanuelle Garollo

A rede de supermercados Mercadorama, localizada em Curitiba conta com quatro lojas somente na região central. A localização da bandeira Mercadorama foi determinada pelos antigos proprietários da rede e mantida pelo Walmart. Mesmo com um excesso de unidades da rede na região, os clientes não reclamam e dizem gostar da praticidade e rapidez das lojas. Nestas unidades existem peculiaridades, como nos caixas, onde somente um deles possui esteira para compras maiores, o restante é de caixas rápidos, pois a maioria dos clientes mora nas redondezas. Este é o caso de I-

Majore Ribeiro

pouco e a concorrência é considerada como parceira nas vendas. Segundo Silma Rodrigues dos Santos, que trabalha há oito anos em um dos muitos boxes do estabelecimento, a parceria entre os lojistas é fundamental. “Quando não possuo o produto solicitado pelo cliente, indico algum colega que tenha. Tudo para não deixar o comprador na mão” - argumenta. Maria Helena Arruda, vendedora de bolsas, já trabalhou em muitas atividades diferentes e veio para Curitiba há muitos anos com sua família. Decidiu trabalhar por aqui e afirma que atualmente se sente mais feliz com sua vida profissional. Maria argumenta que tem planos para seu futuro comercial: “Já vivi muitas dificuldades e acredito

Letícia Paris

As lojas de todos os tipos e o mercado variado fazem da região central uma alternativa atraente aos olhos e aos bolsos dos consumidores que, a cada ano que passa, tem se mostrado mais exigentes, procurando sempre melhores condições de pagamento e produtos de qualidade. Entre os comerciantes, as opiniões se dividem entre as facilidades do bairro mais freqüentado de Curitiba e a dispersão dos consumidores, que estão trocando a aglomeração de lojas do Centro pelo comércio regional dos bairros da capital, cada vez mais completos. Na Rua da Cidadania Matriz, localizada na Praça Rui Barbosa, as opções de compra são variadas e completas. No local, encontra-se de tudo um

Letícia Paris

O Centro de Curitiba possui uma economia muito diversificada e reúne diversos tipos de estabelecimentos, abrangendo todos os segmentos. Nele, os moradores de todas as partes da cidade buscam encontrar os mais variados produtos e serviços, o que incentiva os comerciantes a se estabelecerem no bairro devido a sua grande movimentação. Para os clientes, a diversidade de lojas e a facilidade na busca por promoções, características do comércio central, poupam o tempo de quem deseja encontrar o que procura com opções para comparar os preços e a qualidade das inúmeras ofertas disponíveis.

Movimento reflete em vendas

vete Manso, moradora do bairro Água Verde. Frequentemente, ela passa pelo mercado e prefere os preços que a loja oferece. “O quilo da laranja que aqui está por

R$ 5,00, na loja perto da minha casa está por R$ 7,00” - afirma. A localização favorece os clientes que vem de outros bairros. E, segundo funcionários a maioria das pessoas não leva mais do que duas sacolas. Segundo o Walmart, responsável pelo Mercadorama, a abertura de novas lojas requer a análise de diferentes fatores durante a escolha da localidade. Não está descartado o investimento da rede em outras bandeiras na região mas, no momento, não há unidades confirmadas para esta área. Majore Ribeiro

Óculos Ótica Visomax: R$ 700

Camelô: R$ 10

Relógio Relojoaria Aristides: R$ 2.500 R&S Bijoux: R$ 50

Boné Skype: R$ 129 Camelô: R$ 10

Brinco Prata Fina: R$ 215 Lojas de bijouterias: R$ 20


gastronomia comportamento SABORES PARA TODOS OS GOSTOS

TEMPOS DE GLÓRIA JÁ PASSARAM

Restaurante a R$ 1 piora, segundo frequentadores O Restaurante Popular de Curitiba, localizado na Praça Rui Barbosa, tem apresentado queda na qualidade do serviço desde a data de sua inauguração, em agosto de 2007. Para os clientes, não apenas o tempero da comida, mas também a quantidade servida no prato está pior do que na época do início das atividades. A maior parte das reclamações vem da qualidade do que é servido. Para a funcionária pública Cláudia*, que frequenta diariamente o restaurante, quando inaugurado era cheio de engravatados almoçando lá. Ela diz ainda que “a comida é de péssima qualidade e sem gosto algum”. Lembra que, ao ser inaugurado, “as eleições estavam se aproximando e o município só investiu no restaurante para poder fazer campanha política, já que depois da votação, o serviço piorou demais”. Além do que, “as mesas sujas e o mau trato dos funcionários ajudam a piorar a qualidade do ambiente”. A mesma opinião tem o estudante Rafael Schultz, que define o almoço no Restaurante Popu-

lar de Curitiba como “suficiente para R$ 1”. A aposentada Florinda Rocha tem como reclamação a quantidade servida. “Eu trago sempre uma banana de casa para ajudar no almoço, porque não é colocado muito”, declara a senhora. O mesmo descontentamento tem o desempregado Ronaldo Silva, que acha injusto poder se servir novamente apenas de arroz e feijão. “Não é por ser R$ 1 que precisa ser ruim”, desabafa. Outro defeito apresentado pelo local foi no cardápio, que não corresponde à refeição apresentada no dia certo. A nutricionista da prefeitura, Mônica Taques, desconhece qualquer tipo de reclamação sobre o restaurante. De acordo com ela, o próprio município faz pesquisas para avaliar a opinião dos frequentadores. Ela se orgulha de ter alcançado nessas pesquisas

“O restaurante antigamente era cheio de engravatados”

Thyago da Silva

Almoço popular: já serviu refeições melhores

90% de satisfação dos frequentadores. Mônica ainda ressalta: “Temos o serviço de telefone para queixas, o 156. Sempre que nos ligam é para questões pontuais, como quando algum funcionário derruba arroz ou algum prato está com sal em exagero. Sempre que nos ligam, nós retornamos para a casa da pessoa para verificar se o nosso erro havia sido corrigido”. A nutricionista é ainda categórica ao dizer que o restaurante popular não perdeu qualidade. Mesmo em gestões anteriores, o nível se manteve o mesmo, garante. Dia a dia O Restaurante Popular de Curitiba faz parte de um programa implantado pela prefeitura. A Ação Social do Paraná é responsável pela manutenção do estabelecimento, que serve diariamente 2 mil refeições. Cada cliente tem o gasto para o governo da cidade de R$ 3,06. A prefeitura repassa R$ 2,06 e o outro R$ 1 são os clientes que pagam. A maioria dos frequentadores, mais de 50%, é de mulheres idosas. O restante é dividido entre trabalhadores informais e formais, estudantes e moradores de rua. As refeições são porcionadas, com exceção do arroz e do feijão. As atividades começam às 7h e se encerram às 16h. A prefeitura estuda abrir nos próximos anos, pelo menos, mais cinco restaurantes a R$ 1 na cidade. * Os nomes foram modificados. William Saab

FACILIDADE E PODER TER OPÇÕES SÃO ALGUNS DOS MOTIVOS DA ESCOLHA PELA REGIÃO

Praticidade atrai moradores para o Centro

Estudantes são os principais interessados por moradias na região central de Curitiba devido à comodidade de ter tudo por perto

William Saab

Inaugurado em agosto de 2007, Restaurante Popular não agrada mais como no início. Qualidade e quantidade são as principais reclamações

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Seu Dino serve testículo de touro há mais de trinta anos

Cardápio diferente atrai clientes há meio século Restaurantes, bares e pratos pouco conhecidos estão ainda sendo descobertos por quem passa no centro de Curitiba. Uma das principais especiarias da região é o testículo de touro do Bar do Stuart, na Praça Osório, que é servido cozido ou à milanesa, sempre acompanhado do tradicional pão francês. “Em 1975, fazendeiros trouxeram de Paranavaí esse prato exótico e hoje é a especialidade da casa”, afirmou Dino Chiumento, sócio do bar. Para os apreciadores de frutos do mar, a pedida mais famosa da região é a Sopa do Ligeirinho à moda Leão Veloso. O prato, do Bar Ligeirinho, na Carlos

Stuart O bar sempre foi ponto de encontro entre políticos, advogados, jornalistas e intelectuais, por isso é carregado de histórias. Uma delas diz respeito a duas lideranças políticas do Paraná. Quando Roberto Requião e Jaime Lerner candidataram-se a governador em 1998, os dois não frequentavam o mesmo espaço, e sendo clientes do bar do Stuart, eles mandavam pessoas verificar quem estava no local, para que não houvesse encontro entre eles.

de Carvalho, serve uma combinação de polvo, lula, ostra, mexilhões, siri, filé de garoupa, lagosta e mariscos. Outro prato da casa é a isca de avestruz, que segundo clientes, é mais saborosa do que a carne bovina. Já no francês Il de France, na Praça 19 de Dezembro, e no italiano Casa das Massas, na Lamenha Lins, as sugestões são ainda mais alternativas. No primeiro é servido um prato chamado Escargots dz Consommé, que é uma porção de caracóis servidos com caldo de carne. No segundo, a especialidade, só feita por encomenda, é a salada Waldorf, composta de abacaxis, maçãs, uvas passas, nozes, salsão e creme de leite. “A Waldorf é uma ótima fonte de fibras, sais minerais e vitamina C, essenciais para o metabolismo”, afirmou a nutricionista da PUCPR, Cilene da Silva Gomes Ribeiro. E como sobremesa, diversos doces e salgadinhos quase desconhecidos. Entre os lugares que são mais visitados estão a Confeitaria das Famílias, na Rua XV de Novembro, onde as principais ofertas são rosquinhas espanholas, que custam R$ 40 o quilo, e o petit four, que são bolachas recheadas com chocolate e geleias. Os salgadinhos são encontrados no armazém Furuta, na André de Barros. Lá o cliente pode escolher entre batatas e bananas fritas ou salgadinho de milho verde frito.

Nos últimos anos, um dos principais pontos positivos que atraem pessoas de diversos perfis para viver no centro da cidade são as inúmeras opções de estabelecimentos comerciais como farmácias, mercados, shoppings, além dos pontos de ônibus e bancos, oferecendo assim facilidade e comodidade. Maria Hilda Rodrigues Severo, 76 anos, é proprietária de um pensionato na Rua Senador Alencar Guimarães, que fica localizado entre as Praças Rui Barbosa e Osório, um dos pontos mais procurados por estudantes para morar. Dona Hilda, como é conhecida pelas moradoras, mora há 36 anos no centro de Curitiba e possui o pensionato há 34 anos. A aposentada conta que durante todos esses anos sempre recebeu inúmeros estudantes dos mais diferentes lugares do Brasil e que eles sempre tem como primeira opção o centro da cidade. “Já aluguei quartos para meninas de todos os estados”, fala Dona Hilda. Um exemplo disso é a estudante Luciana Aline Pereira, 17

Fotos de Vanessa Otovicz

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O pensionato da Dona Hilda é um dos mais procurados do Centro

Mesmo com o barulho, Wagner prefere morar no Centro

anos, que veio de Belo Horizonte, Minas Gerais, e está morando na capital paranaense desde o

começo do ano para cursar Engenharia Ambiental na Universidade Positivo (UP). Luciana diz ter

optado por morar no centro devido à grande praticidade e opções que ele oferece e que acabam ajudando também na adaptação a uma cidade desconhecida. “Como tudo aqui é muito perto, acabo tendo mais facilidade de conhecer a cidade melhor o que facilitou minha adaptação em Curitiba”, diz Luciana. A estudante também afirma que se sente extremamente segura na região em que vive, “não tenho medo de andar pelo centro, pois nunca fui assaltada. E na rua do pensionato sempre tem policiamento, as rondas são bem frequentes”. Wagner Mauricio de Souza Pereira, 20 anos, estudante de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná(PUCPR), residia com a família no bairro Campo Comprido até 2001, quando trocou o lugar em que morava por um dos pontos mais movimentados do centro da cidade, a Rua Marechal Floriano Peixoto, em frente à Praça Carlos Gomes. O estudante conta que no início sua adaptação no centro levou algum tempo, devido ao barulho dos ônibus da

Linha Verde e de bares e festas, aonde frequentemente costumam acontecer brigas e tumultos durante a madrugada. “O barulho era o que sempre me incomodava, mas agora já acostumei e nem me importo mais”, fala Wagner. Ele conta ainda que não sente necessidade de sair do centro, pois a facilidade de ter tudo por perto acabada trazendo certa comodidade à família. “Saímos do centro só para visitar alguém em algum bairro, ou ir a parques e shoppings distantes”, diz o estudante de Direito. Felipe Frank, 20 anos, está cursando Direito na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o estudante morava em Contenda com a família, e vinha todo dia de ônibus para Curitiba estudar e depois de dois anos decidiu morar na capital. “Escolhi o centro e gosto de morar aqui, pois facilita muito a minha vida, tem tudo perto, shoppings, mercados e inclusive a universidade que estudo”, diz Felipe. Giovana Luersen Chaves Vanessa Otovicz

CRESCE O NÚMERO DE TRABALHOS VOLUNTÁRIOS NA CAPITAL PARANAENSE

Moradores de rua são beneficiados por ações de voluntariado

As praças, terminais e marquises, lugares em que a maioria dos moradores de rua se reúnem, são os principais pontos de atividade de trabalho voluntário em Curitiba. O grande número de moradores de rua espalhados pelo centro atrai e faz crescer a quantidade de grupos que se reúnem voluntariamente com a única intenção de ajudar estas pessoas de alguma forma. São eles grupos de “sopão” ou lanches organizados principalmente pela Pastoral, da igreja católica e também por diversas igrejas evangélicas. Um exemplo é o grupo “Semeadores da Paz” que atua liderado pelo pastor Valdecir de Eriksson Denk Paula, e que começou o trabalho Thyago da Silva de distribuição com 70 lanches e

O lanche por vezes é a única refeição dos moradores de rua

café. O projeto evoluiu tanto que hoje 50 voluntários fazem e distribuem 200 lanches e 25 litros de café com leite toda sexta-feira, na Praça Tiradentes. “No centro da cidade é o local onde se concentra um número maior de moradores de rua”, diz o pastor.

Pedro Barbosa, 45 anos e morador de rua há dez anos, conta que trabalhos voluntários como esse são os que ajudam a população de rua. “Muitas vezes a comida que esse pessoal distribui é o que salva à noite”, afirma Pedro. Porém, o trabalho voluntá-

Cerca de cem pessoas recebem os lanches todas as sextas-feiras

rio não é somente a assistência aos moradores de rua. Existe em Curitiba, o Centro de Ação Voluntária (CAV), que por meio de palestras e orientações ajudam as pessoas interessadas em exercer a função de voluntário, em hospitais, escolas, ONGs e asi-

los. No site da instituição www. acaovoluntaria.org.br é possível fazer um autoencaminhamento, onde o interessado tem a opção de escolher em que área gostaria de atuar. Giovana Luersen Chaves


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esportes

Curitiba, outubro de 2009

lazer

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Curitiba, outubro de 2009

PISTA DE CORRIDA E EQUIPAMENTOS PARA EXERCÍCIOS SÃO ATRATIVOS NOS CENTROS DE ESPORTE E LAZER BARES E BOATES SÃO ALGUMAS DAS OPÇÕES DA VIDA NOTURNA NO CENTRO

Praças oferecem atividades físicas gratuitas Segunda também é dia de balada

Frequentadores saem do trabalho para praticar exercícios físicos

O administrador de rede Valdir do Amaral Sades aproveita a acessibilidade da Oswaldo Cruz para correr. “Venho aqui de segunda à sexta, porque é perto do serviço. É uma vantagem, é acessível e a manutenção é boa”, conta o administrador. Outras praças ainda oferecem aparelhos de alongamento, pistas e canchas abertas. Na Praça Osório o movimento de atletas

é pequeno devido a sua estrutura. Como afirma o gerente do Centro de Referência de Atividade Física da Secretaria Municipal do Esporte e Lazer de Curitiba, Dalton Grande. “Na Praça Osório havia um centro esportivo, mas foi desativado. Ainda tem equipamentos para a população que procura. A praça é muito pequena e não tem como oferecer uma condição de atendimento ao público”, diz

o gerente. Dalton complementa que é mais fácil deixar que a população utilize esses espaços de forma mais livre do que manter atividades fechadas. “Basta ter uma pista de caminhada e equipamentos para que as pessoas possam começar um programa de atividade física”, ressalta. O lutador de muay thai Flávio Furtado vai à Praça Osório fazer exercícios há pelo menos 10 anos. “Os aparelhos são bons e ajudam bastante”, diz Furtado. O número de equipamentos e praças que oferecem atividades físicas no centro é suficiente para o acesso da população, segundo o professor de Educação Física da PUCPR, Ciro Romelio Rodriguez, “algumas praças oferecem atividades e outras não têm estrutura para isso”. Ainda, complementa que para a pessoa se sentir atraída tem de haver estrutura boa e acesso a esses locais.

Onde Na Praça Oswaldo Cruz está o Centro de Esporte e Lazer Dirceu Graeser, que oferece várias atividades gratuitas por meio de uma inscrição feita na secretaria da praça. O telefone é (41) 3321-2708. As atividades do Centro incluem: natação, ginástica localizada, ginástica artística e rítmica, boxe, musculação, iniciação esportiva para crianças e adolescentes, aulas de alongamento e caminhadas orientadas. O horário de funcionamento é de segunda a sexta das 8 às 12h e das 14h às 18h. A praça ainda conta com uma pista de corrida, equipamentos para alongamento e uma quadra aberta. A Praça Osório funciona das 6h às 22h, todos os dias.O telefone é (41) 3350-9182.

Viviane Prestes

Mesmo com o surgimento de diversas boates, shopping centers e outras possibilidades de atividade na vida noturna, o Centro de Curitiba segue sendo uma das únicas opções diárias de lazer, de segunda à segunda. Com boa localização e facilidade de locomoção, as baladas centrais não fecham e têm movimento durante todos os dias da semana. Clubes dançantes, videokês, bares, seja numa segunda-feira ou em um sábado, existirão locais abertos para ser uma alternativa de lazer a quem mora ou visita Curitiba, “Trabalho até as 6 horas da manhã, o Centro não para, seja na segunda ou na sexta o movimento é grande”, ponderou Ivanildo Abelardo Ferreira, 27, dono de uma barraquinha de cachorro quente localizada próxima a Rua XV de Novembro. “Final de semana

sempre lota, mas, mesmo na segunda consigo vender lanches”. Para o frequentador Luciano Rodrigues, 34, a região é o melhor lugar para se reunir com os amigos, pois tudo está aberto diariamente. “Todos os dias estamos aqui (em um bar na rua XV de Novembro), nos encontramos há cinco anos para bater papo. Quase sempre tem bastante gente aqui”, conta ele. Embora seja notável para boa parte da população que a vida noturna na região não é mais agitada como era antigamente, quem vem de fora aponta que ainda assim o bairro possui, uma vida noturna bastante agitada. “Ver um Centro movimentado como aqui é algo totalmente novo, no Piauí deu 6 horas o centro para. É outra realidade se comparado a minha cidade natal”, ponderou Rogério Souza,

Independente do dia, casas noturnas sempre estão funcionando

36, natural de Terezina no Piauí. Em contrapartida os donos de bares notam sim uma queda no movimento. “Temos uma clientela fixa, acima de 30 anos, apesar da fidelidade, notamos que o público tem se afastado um pou-

co do Centro durante as noites”, afirma Dionísio Beckhauser, 59, sócio do bar Ao Distinto Cavalheiro. Luiz Henrique de Oliveira Tarek Omar

FAMÍLIAS, ADULTOS E JOVENS ENCONTRAM-SE INVOLUNTARIAMENTE

Devido a boa localização e diversidade de opções, Clubes possibilitam a prática de exercícios em lugares fechados a noite na região central tem público fiel e variado

Estacionamento amplo e piscina são alguns dos benefícios do Circulo Militar

tacionamento, o que favorece muito. As opções de atividades são muito variadas e boas”, afirma o aposentado Lima Trigo. Além disso, a instituição ainda oferece apoio e suporte a atletas e a pessoas com necessidades. Cláudio Teixeira, auxiliar administrativo do departamento de esportes conta que a instituição propor-

ciona vários benefícios à população. “O clube faz um trabalho. Oferece bolsas para pessoas carentes para a prática de esportes, damos vale transportes, alimentação e bolsas escolares”, ressalta. Já as academias Action Place e Energia, próximas a Praça Tiradentes, são exemplos de estabelecimentos de pequeno porte,

mas que prosperam devido aos serviços que fornecem e a facilidade de acesso. “A Action Place é ótima pela facilidade de acesso, por ser central, ter uma boa estrutura, bom atendimento” diz o estudante de 22 anos, Douglas Potha. Estrategicamente estabelecidos, esses locais são frequentados, em sua maioria, por pessoas que trabalham ou estudam no centro. “A vantagem de a academia ser nessa região é por que é o lugar onde quase todo mundo trabalha e é prático. Pegamos essa ‘população flutuante’ do centro. Um atrativo também é que temos armários para locação, chuveiros e lanchonetes”. Conta o educador físico da academia Energia, Marco Antônio do Nascimento. O que conta mesmo na hora de escolher onde praticar atividade física é a localização e os serviços oferecidos ou benefícios, sejam eles

Adriana Maestrelli

Adriana Maestrelli

ACADEMIAS E SOCIEDADES RECREATIVAS OFERECEM AMBIENTES ADEQUADOS PARA CUIDAR DA SAÚDE

A população curitibana conta com o Circulo Militar e diversas academias para cuidar da saúde na região central. Esses espaços oferecem ambientes adequados para a prática de exercícios físicos que são oferecidos aos associados. Os espaços possuem boa estrutura, equipamentos novos ou bem conservados, atividades culturais e recreativas a poucos minutos de casa e, como no caso da maioria, do trabalho. Totalizando 75 anos de existência, o Círculo Militar é o maior centro esportivo privado da região. Oferece desde natação, judô e esgrima até aulas de violão, danças de salão e do ventre, entre outros. O clube encontra na localização e no estacionamento seus atrativos principais. “Se ganha muito tempo para chegar até aqui, por causa da localização. Eles têm um horário bem amplo e flexível e um es-

Academias: armários para locação

um estacionamento ou armários para locação. A população frequenta mais esses lugares pela acessibilidade. Por isso a estratégia das pequenas academias e do Círculo Militar é o lugar onde estão instalados. Adriana Maestrelli Ruann Jovinski

Com opções variadas de lazer e boa localização o Centro de Curitiba proporciona uma grande diversidade de público. Pessoas de diferentes classes, idades e grupos específicos, encontram na região central opções de lazer que venham a suprir as suas expectativas, causando um encontro involuntário de di-ferentes tipos de grupos e tribos. Aproveitando de sua localização na região central o videokê Dannys busca trabalhar sua programação de acordo com as classes econômicas que estão presentes no centro. “Na segunda feira nosso público alvo são as classes C e D, mas nas quintas temos sertanejo aqui, a entrada é mais cara e o público já é outro, a facilidade de estarmos na região central, proporciona a nós esse diferente tipo de agendamento”,

Bares tradicionais da Rua XV são opções para todas as idades

afirmou Darcy, co-responsável pelo local. Ele também lembra que essa diversidade faz com que os problemas sejam diferentes de acordo com o dia. “Na segunda é mais barra pesada, sempre dá confusão, já na quinta vem uma galera mais tranquila”. Para os frequentadores, a variedade de opções e localização é o que gera essa diversidade

A rua mais movimentada de Curitiba oferece diversas opções no-turnas para os mais variados públicos. Os bares e lanchonetes normalmente atendem até as 23 horas, re-cebendo desde famílias até jovens. As baladas atendem até as 6 horas recebendo seu maior público a partir das 22 horas.

Cruz Machado Fotos: Rafael Peroni

As praças centrais da cidade oferecem várias atividades para a população. Desde esportes gratuitos a pistas de caminhada e equipamentos para alongamento ao ar livre. Além dos aparelhos estarem acessíveis e em número adequado, moradores e trabalhadores da região estão satisfeitos com a boa estrutura e com a oferta das atividades nos locais públicos. Na Praça Oswaldo Cruz, os frequentadores podem se inscrever e utilizar a piscina, a cancha esportiva, o ginásio de esportes, as aulas de ginástica e boxe. Ainda, o local oferece atividades livres como as pistas de corrida e os aparelhos de alongamento. O treinador de atletismo Armando Romero faz o preparo físico de seus atletas nas pistas da praça há 15 anos. “Aqui tem única pista numerada do centro da cidade”, afirma Romero. Muitas pessoas que trabalham próximas ao centro de Curitiba utilizam parte do horário de almoço para praticar exercícios físicos nas praças.

Viviane Prestes

Com boas condições de uso, os locais públicos são usados para caminhadas e prática de esportes por moradores e trabalhadores Concorrendo com outros locais região central tem o diferencial de permanecer aberta todos os dias

Rua XV

de públicos no Centro. Perto do videokê localizada na Rua XV, existem vários bares em que os clientes são diversos. “Escolhemos nos encontrar no Centro, devido a boa localização, aqui é o local onde todos passam e por isso, marcamos sempre nossos bate papos aqui na XV”, afirmou João Pedroso, 46. Ele finaliza mostrando que passar as noites

no Centro já é uma tradição. “Nos encontramos na XV há cinco anos, qualquer dia da semana que você passar aqui de noite, irá nos encontrar. Eu sou o mais velho de nosso grupo de três pessoas, e noto que no Centro existe tudo que é tipo de gente”. O encontro entre jovens, idosos e diferentes classes acontece normalmente na Rua XV de Novembro, local onde é mais notável a diversidade de públicos. “Aqui no bairro tem de tudo, o que você quiser fazer na noite, você encontra aqui e no fim, você nota essa diversidade ao caminhar pela Rua XV de noite”, pondera Mariluz Barreto, 28, estudante e apaixonada pela vida noturna na região central. Rafael Peroni Tarek Omar

Boates de stripers. Estas são as opções para a vida noturna na Rua Cruz Machado. Os frequentdores do local são em sua maioria homens buscando por diversão em uma região bastante conhecida na cidade. Uma próxima das outras, as boates competem entre si para manter um bom público em seus shows.

Bares Para os boêmios, o Centro oferece vários bares tradicionais com comodidade para uma roda de conversa. Os mais conhecidos são, Stuart, e Autêntico Bar. Estes locais oferecem um ambiente mais leve, ideal para quem busca uma balada mais calma. O público que frequenta os bares é normalmente de uma faixa etária alta.

Baladas Já para os baladeiros de plantão na região central é notado uma ampla variedade de casas de shows dos mais variados estilos musicais. Desde o rock in roll até o samba. A maioria das classes sociais são atendidas já que as casas possuem preços variados.


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religião

Curitiba, outubro de 2009

cultura

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Curitiba, outubro de 2009

COMERCIANTES EXIGEM E PREFEITURA ATENDE E REFORMA UMA DAS RUAS MAIS ANTIGAS DE CURITIBA

ENQUANTO O CENTRO ESVAZIA, OS TEMPLOS PERMANECEM CHEIOS

Religiões se misturam no mesmo espaço Vida nova para os casarões da Riachuelo

Região central é comparada a mini Jerusalém, pois em pequeno espaço podem ser encontrados templos e fiéis de diversas religiões A rua que tem anos de má fama poderá ter um futuro melhor. A reforma será a palavra chave da série de mudanças que sofrerá

Bruna Covacci

Religiosidade

Fiéis fazem preces em frente a imagem de Nossa Senhora Da Luz

porte para o centro. Ela diz: “É mais fácil pegar um ônibus em frente a minha casa e descer na Praça Tiradentes para ir à Cate-

dral, do que andar várias quadras para chegar a minha paróquia”. A comunidade muçulmana possui apenas uma sede, o local

Segundo o censo demográfico do IBGE do ano de 2000, dos 1.587.315 habitantes em Curitiba, 1.121.260 são católicos, outros 300.024 são evangélicos, 42.590 não tem religião e 65.982 são de religiões não citadas acima. Dentre estas se encontram doutrinas bem diversificadas como União do Vegetal, espíritas, umbandistas, budistas, islãmicos e hinduístas. No centro da cidade, a maioria também é católica. De 132.623 habitantes, 23.456 são desta religião. Contando depois 3.501 evangélicos, 3.044 de religiões diversas e 2.478 não tem religião específica.

escolhido é o centro para facilitar os fiéis. O católico Abdias de Souza é flanelinha em frente à mesquita e comenta que “Em dias

ESPAÇO PARA MANIFESTAÇÕES DE TODAS AS CRENÇAS

para não passar na frente da loja”. Embora ocorram casos de manifestações contrárias a algumas religiões, muitas pessoas não se importam em frequentar locais que vendam produtos além da religião que praticam: “Eu venho às quartas-feiras na novena do Perpétuo Socorro, e sempre passo aqui pra comprar velas, os meninos já me conhecem”, conta Zeni Mendes, cliente há dez anos da loja Casa dos Orixás de artigos para prática do candomblé. A loja que também disponibiliza produtos católicos recebe clientes de várias religiões. Gabriele Lemes

Bruna Covacci

rência de potencial construtivo”, diz o coordenador de urbanização do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), Mauro Magno. A prefeitura diminui impostos para possibilitar o uso do capital do proprietário para a preservação da propriedade tombada. Marlei Salete Martins reclama da má fama da rua em que trabalha vendendo móveis usados há 9 anos. Para ela é importante a prefeitura fazer essas reformas, pois atrairá clientes e contribuirá para acabar com a má impressão que se tem da Riachuelo. E diz, juntamente com outros vendedores, estar disposta a fazer sua parte para a revitalização e preservação da região. O único casarão de propiedade da prefeitura na rua é o antigo quartel, esquina da Riachuelo com a rua Carlos Cavalcanti. Antiga sede da Impressora Para-

naense, fundada pelo Barão do Serro Azul, em 1888, adquirida pelo Exército em 1912, o antigo quartel tem duas possibilidade em seu futuro: saúde ou cultura. A utilização do espaço para uma grande unidade de saúde 24 horas para a região central ou a criação de uma escola de cinema, transformando a região numa “linha cultural” juntamente com a Cinemateca e Novelas Curitibanas. Além de aulas e estúdios, o local também abrigaria o Cine Luz e o Cine Ritz que passam por problemas de estrutura e autorização por parte dos bombeiros. A revitalização faz parte do projeto Novo Centro, continuação do programa Marco Zero da prefeitura. Há previsão de custo do projeto final da rua é 3,4 milhões. Gustavo Prestini Maria Clara Oliveira

Furtos de bustos e placas obrigam o uso de materiais diferentes

Praça Osório Daniel Neves

Existem ainda casos de rejeição a determinado comércio por parte de algumas pessoas, que chegam à situação de ofender os proprietários. “Já foi pior, mas até hoje algumas pessoas param na frente da loja e nos xingam dos nomes mais absurdos”, conta Ademar Greca, proprietário da loja Ogum Iara. Ele também comenta que teve problemas para conseguir um local para abrir este tipo de loja. Em algumas situações as pessoas se recusam a passar perto das lojas, como afirma Lucia Trevisan uma funcionária da loja Missão Nossa, de artigos católicos: “Tem pessoas que atravessam a rua

Uma rua que há anos ostenta casarões em ruínas da época colonial de Curitiba desperta novamente para a beleza, que para a maioria dos curitibanos nunca chegou a existir. Quem passa todos os dias na Rua Riachuelo vê uma longa rua, cheia de fios, lixo, casarões abandonados, mal cuidados e muitas lojas de móveis usados. E é exatamente essa visão que os comerciantes da Rua Riachuelo, juntamente com a prefeitura, querem tirar da cabeça das pessoas que por ali passam. Revitalizar. Essa é a palavra que traduz uma sucessão de melhorias e reformas que a Riachuelo vai sofrer. A rua possui vários casarões, mas só um é de domínio publico. “Os outros casarões da rua Riachuelo são particulares. Os proprietários são obrigados a revitalizar. Para isso a prefeitura tem um incentivo para transfe-

FIBRAS DE VIDRO E PLACAS DE AZULEJO SÃO OS NOVOS MATERIAIS USADOS NOS MONUMENTOS

Igreja da Ordem é a mais antiga

Comércio religioso é bastante eclético porém continua sofrendo preconceito O comércio de artigos religiosos no centro de Curitiba possui espaço para a manifestação de todo tipo de crença. Mas mesmo com essa diversidade, as religiões enfrentam muitos preconceitos. Silvana Dias Fagundes gerente de uma loja de roupas voltada para o público evangélico, comenta que quem é de outra religião acha que não pode comprar no estabelecimento. Com relação aos seus clientes, Silvana afirma que eles também têm grande influência na organização do local: “Quando nós colocamos uma calça na vitrine os clientes já entram na loja para reclamar”, conclui.

de oração, vem pessoas de todos os locais da cidade, e até de fora”. Através da participação de grupos religiosos as pessoas dão sentido a suas vidas, encontram respostas e tentam solucionar problemas. Por conta disso a espírita Zecioni Tavares afirma ser necessária a diversidade de religiões. Buscando sentido a vida, as pessoas não medem esforços. José Maria de Paula mora em Campo Largo e trabalha na Catedral. O funcionário vê isso com satisfação, e afirma que “Mesmo em dias de folga, venho até aqui para rezar”. Os templos do Centro costumam ter horários diferentes. A Igreja Assembléia de Deus, por exemplo, conta com o almoço com Deus. Neste momento o fiel aproveita o seu horário de almoço para estar em contato com a fé e a comunidade. Comprovando a força da religiosi- Uma das fachadas que serão preservadas na rua Riachuelo dade, o ônibus expresso que passa pela Igreja Universal da Sete de Setembro anuncia, “próxima parada, Catedral da Fé”.

Fotos por Gustavo Prestini

Hare Krishnas, espíritas e cristãos. O centro de Curitiba reúne diversos dogmas religiosos. O espaço é considerado de passagem, onde os fiéis não necessariamente são fixos, mas aproveitam a localidade central e de fácil acesso para passar em templos religiosos e fazer suas preces. A diversidade é tão grande, que o coordenador da mesquita islâmica, Jamal Oumairi, compara o centro com uma mini Jerusalém, onde tem acesso fácil às grandes doutrinas. Enquanto o centro esvazia, os templos continuam cheios. O teólogo e professor de doutrina religiosa Leonam Braga explica o fenômeno como identificação, ou senso de pertença. As pessoas criam grupos de afeto, onde têm uma identidade comum. Mesmo que estes templos também sejam encontrados nos bairros, a maior concentração de membros está no centro. Esse é o caso do católico Joel Barbosa que utiliza o terminal do Guadalupe, e enquanto espera o ônibus passa na igreja. Já a aposentada Rosa Pereira aproveita a facilidade do trans-

O interior da igreja da ordem continua bem conservado

Ao lado de bares e sebos, a igreja mais antiga de Curitiba não tem uma fachada tão elegante, mas ainda tem uma grande beleza. Fundada em 1737, foi tombada em 1965 e continua sendo um grande ponto de fé na cidade. Em 1981 passou a abrigar o museu da Arte Sacra de Curitiba. Com um ambiente climatizado e com controle de luz, o local reúne um acervo religioso de grande importância na história da cidade. Tem exposto objetos históricos das principais pontos católicos da capital, como a Catedral, Igreja do Rosário e a própria Igreja da Ordem.

Paço da Liberdade

Roubo de monumentos e placas de bronze para venda no mercado negro obrigam a Prefeitura a buscar materiais alternativos para reposição. Fibra de vidro e placas de azulejo têm sido a saída encontrada pelo município, pois são baratos e sem valor comercial. Não haverá troca dos monumentos históricos, e sim a reposição dos que forem roubados e a utilização do materias diferentes em novas obras. “Não tiramos os monumentos, só os que já foram roubados porque a troca de todos eles sairam a um custo muito alto. O bronze, agora, só é utilizado em casos muito especiais”, diz Eliane Sima, chefe do serviço de documentação e acervo do Departamento de Parques e Praças. Localizado na praça Osório, o busto do Marechal Osório foi inaugurado em novembro do ano passado, sendo o mais recente

monumento instalado pela prefeitura de Curitiba e já foi depredado. Os únicos espaços que não sofrem mais furtos e pichações são os com maior segurança. Simas comenta que o número de depredações já foi maior e que caiu graças às câmeras de vigilância instaladas próximas aos monumentos históricos. “A praça Tiradentes vivia sendo depredada, mas com a instalação das câmeras, não há furtos”. A substitutição acontece quando há um requerimento de reposição pela Secretaria do Meio Ambiente para o Departamento de Praças e Parques, que por sua vez faz o pedido da peça em questão para o escultor Elvo Damo. Segundo o artista uma estátua de bronze chega a custar 5 vezes mais do que uma de fibra. Gustavo Prestini Jonathan Seronato Maria Clara Oliveira

Por terem valor comercial, placas de bronze são furtadas

Praça Gibran Kalil Gibran

Praça Tiradentes


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saúde

Curitiba, outubro de 2009

EM DETERMINADAS ÁREAS, NEM AS TENTATIVAS DE LAVAGEM DOS LOCAIS AMENIZAM O ODOR

Ruas se transformam em banheiros e incomodam quem transita pela região Alguns pontos do Centro de Curitiba se transformaram em banheiros a céu aberto. Ruas estreitas, cantos de prédios e locais escuros são os pontos mais utilizados por quem urina na rua. A prática se tornou tão comum que nem mesmo o movimento de pedestres em plena luz do dia intimida os “apertados”. As regiões mais críticas são aquelas em que há grande movimento de pessoas ou onde há maior degradação, coabitando com o tráfico de drogas, prostituição, sujeira. Helena Gonçalves, dona de uma banca de revistas no Terminal Guadalupe, diz que todos os dias há urina e fezes nas laterais do estabelecimento. “São mendigos que fazem isso. A gente chama a polícia, mas eles sempre voltam”, conta. A urina pode corroer o metal e as estruturas dos prédios, trazendo prejuízos para os proprietários. Mas mesmo quando o problema não chega a tanto, o cheiro e a sujeira já são suficientes para tornar o trânsito nessas ruas insuportável. Atrás do prédio histórico da Universidade Federal do Paraná, na Praça Santos Andrade, foi colocado um aviso pedindo para que nãose urine no local. O prefeito da cidade universitária, Ernesto Sperandio, disse que o problema só seria resolvido com vigilância constante. “Já houve um movimento para colocar um banheiro público dentro da universidade, mas isso dificultaria muito o controle da segurança”, explica. A campeã do xixi, entretanto, é a Rua Padre Julio de Campos, entre a Catedral e um prédio

Durval Ramos

Em alguns pontos, cheiro forte de urina atrapalha atividade de comerciantes

Nem a passagem de pedestres impede que pessoas urinem na rua

histórico desocupado. Todos os dias, a Prefeitura realiza ali uma limpeza com sabão e jatos de água, mas mesmo assim o cheiro permanece intenso na região. “Parece que ‘curte’ a madeira e o cheiro vem mais forte”, conta Márcia Silva, dona de uma lanchonete em uma academia de ginástica na mesma rua. “Até cocô eles fazem, e quando a água da limpeza escorre traz toda essa sujeira para cá”. Para ela, o mau cheiro acaba atrapalhando no movimento da lanchonete. “O cheiro acaba fazendo com que a pessoa não queira vir comer aqui” explica. Além disso, Márcia conta que os estabelecimentos da região passaram a sofrem com a proliferação de moscas, que vieram atraídas pelo odor de urina. Márcia já encabeçou um abaixo-assinado que teve o apoio de 530 pessoas e foi entregue à Prefeitura em abril deste ano. Ela conta que já foram feitos outros protestos antes deste, todos sem

resultado. “Alguns comerciantes aqui estão tão sem esperança de resolver este problema que nem assinaram”. Porém, o problema não é causado pela falta de banheiros públicos, já que próximo à Rua Padre Julio de Campos existe um localizado nas arcadas do Pelourinho. A Urbanização de Curitiba (Urbs) administra quatro banheiros públicos no Centro, e cobra R$ 0,50 pela utilização. Os usuários se mostram satisfeitos com a limpeza dos sanitários, embora haja alguns problemas (ver box ao lado). Curiosamente, não é difícil ver pontos de urina nas proximidades destes banheiros. Há ainda os banheiros públicos gratuitos, como no Passeio Público, onde, embora exista certo cuidado com a limpeza, faltam assentos nos vasos sanitários e portas nas cabines. Medidas O secretário de Urbanismo de Curitiba, Luis Fernando Jamur afirmou em entrevista que a

Sanitários apresentam problemas

A Urbanização de Curitiba (Urbs) administra quatro banheiros públicos no Centro da cidade: nas praças Osório, Rui Barbosa (na Rua da Cidadania), nas Arcadas do Pelourinho (entre as praças Tiradentes e Generoso Marques) e no Terminal Guadalupe. Nesses pontos é cobrado o valor de R$ 0,50 pela utilização. Os usuários entrevistados se mostraram satisfeitos quanto a higiene, mas se queixaram de outros problemas. Na Praça Osório, segundo os usuários, homossexuais utilizam o banheiro masculino para fazer sexo. Os funcionários são instruídos a chamar a Guarda Municipal quando perceberem este tipo de movimentação, mas alguns deles, que não quiseram se identificar, declararam que nem sempre o fazem, por medo de represálias ou de serem acusados de homofobia. “Esse é o motel mais barato da cidade“, afirmam. O cobrador de ônibus Anderlei Rocha trabalha perto do banheiro da Praça Osório, mas prefere usar o

Rua Padre Julio de Campos será fechada com grades e sofrerá um reparo paisagístico, com a colocação de flores e canteiros. Ele comentou que aquele é o ponto mais crítico de toda a cidade. “Ela é muito problemática por ser estreita e estar entre dois cal-

das lanchonetes das redondezas. “Limpo é, o problema é o que se vê lá dentro”, explica. O pipoqueiro José Silvério também diz evitar este banheiro, preferindo usar o de mercados. “É desagradável usar o banheiro enquanto acontece este tipo de coisa lá dentro”, conta. Silvério acredita ainda que deveriam haver mais pontos espalhados pela cidade. “Passa muita gente aqui na praça. Um banheiro só é pouco”. Já na Praça Rui Barbosa, o dinheiro arrecadado com as entradas é guardado em copos descartáveis e garrafas vazias. A mesa que deveria existir para guardar as moedas é improvisada numa cadeira de plástico. Uma funcionária da Urbs, que preferiu não se identificar, disse que nunca trouxe resultado comunicar a situação a seus superiores. A instalação carece de azulejos nas paredes. Nenhum dos banheiros possui fraldário ou toalete familiar, onde os pais possam levar filhos sem constrangimento.

çadões”, explica. A expectativa é que a Prefeitura realize as obras, que incluem uma nova iluminação na região, até o final de dezembro, quando o movimento no comércio se intensifica. Guilherme Gaspar


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