Identidade Cultural e Artesanato

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS ESCOLA DE DESIGN CURSO DE DESIGN GRÁFICO

IDENTIDADE CULTURAL E ARTESANATO A INSERÇÃO DO DESIGN SOCIAL EM NOVA LIMA

Daniela Menezes Martins

Belo Horizonte | MG Dezembro de 2009


Daniela Menezes Martins

IDENTIDADE CULTURAL E ARTESANATO A INSERÇÃO DO DESIGN SOCIAL EM NOVA LIMA

Trabalho apresentado à disciplina Prática Projetual VI, do 8º período, do curso de Design Gráfico da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais – ED/UEMG como requisito para obtenção do título de Bacharel em Design Gráfico. Orientador: Profº. Breno Pessoa dos Santos, M.Sc.

Belo Horizonte | MG Dezembro de 2009


DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe que me incentivo e me ajudou a retomar meus estudos e a meu filho Lucca pela paciência durante a realização deste trabalho.


AGRADECIMENTOS

A todos os artesãos que participaram do Projeto Minas Raízes, porque sem a participação deles não seria possível realizar este trabalho.

A toda equipe, colegas e apoiadores, e em especial a Babi, Claudio, Juninho e Paty que participaram como voluntários, por terem acreditado no Projeto Minas Raízes.

A todos os alunos e funcionários do Centro de Extensão, em especial ao Cadu, pela paciência e apoio nos momentos difíceis.

À minhas amigas Carol, Fran e Sabrina por serem colegas fiéis e solidárias ao longo destes cinco anos de curso, sempre apoiando e incentivando.

Aos professores Giselle Safar, Jacqueline Motta, Nadja Mourão, Rose Portugal, Samuel Eller e Vânia Myrrha, que sempre me apoiaram e me encorajaram.

À professora Lia Krucken, a quem admiro muito, por incentivar e avaliar meu trabalho de conclusão de curso.

A meu orientador, professor Breno Pessoa, pela paciência e atenção, e por nunca ter desistido de mim.


“O equilíbrio de uma sociedade está em sua capacidade

de

compatibilizar

tradição

com

modernidade, passado com futuro”. Peter Drucker


RESUMO

Este trabalho se propôs a analisar a inserção do design através da identidade cultural como estratégia de valorização do artesanato utilizando como estudo de caso o projeto de extensão 1 Minas Raízes – Artesanato, Cultura e Design, desenvolvido por uma equipe multidisciplinar de alunos e professores da Escola de Design – ED/UEMG. O projeto foi desenvolvido com um grupo de artesãos do município de Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte/MG, com apoio da Prefeitura Municipal e da Associação dos Artesãos Artes da Terra, e capacitou os participantes na aplicação de uma metodologia de design específica utilizada na geração de

produtos que inovam por valorizar a identidade cultural local. Os

resultados alcançados pelo projeto demonstraram que a inserção realizada na comunidade se mostrou válida por resgatar a identidade, os costumes e as tradições da comunidade, valorizando seu território e a matéria-prima local. E ainda confirmam a relevância do design social, tanto para o artesanato e seus atores como para os designers, pois possibilita a troca de saberem populares e acadêmicos, contribuindo na formação de cidadãos comprometidos com a ética e a responsabilidade social.

Palavras-Chave:

Identidade

Cultural,

Artesanato,

Design

Social,

Extensão

Universitária.

1

Projeto de extensão é o processo educ ativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e sociedade. (Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras, 1988).


SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................11 1.1 PROBLEMA..........................................................................................................13 1.2 OBJETIVOS.........................................................................................................14 1.3 JUSTIFICATIVA...................................................................................................15 1.4 METODOLOGIA...................................................................................................15 1.4.1 Cronograma.....................................................................................................17

2 CONTEXTUALIZAÇÃO..........................................................................................18 2.1 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA.............................................................................18 2.2 DESIGN SOCIAL..................................................................................................19 2.3 IDENTIDADE CULTURAL....................................................................................21 2.4 ARTESANATO.....................................................................................................22 2.4.1 Classificação do Artesanato por Uso e Função...........................................24 2.4.2 Classificação do Artesanato por Origem......................................................24 2.4.3 Classificação do Artesanato por Organização.............................................26 2.5 INOVAÇÃO EM ARTESANATO...........................................................................27 2.6 VALOR SIMBÓLICO NO ARTESANATO.............................................................29 2.7 INSERÇÃO DO DESIGN NO A RTESANATO......................................................30

3 ESTUDO DE CASO................................................................................................31 3.1 PROJETO MINAS RAÍZES – ARTESANATO, CULTURA E DESIGN.................31 3.1.1 Histórico do Projeto........................................................................................32 3.1.2 Metodologia do Projeto...................................................................................33 3.1.3 Sistema de Avaliação do Projeto...................................................................37 3.2 ASPECTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS DE NOVA LIMA...............................38


3.3 ICONOGRAFIA DE NOVA LIMA ..........................................................................41 3.3.1 Arquitetura e Patrimônio Histórico................................................................42 3.3.2 Fauna e Flora...................................................................................................43 3.3.3 Recursos Naturais..........................................................................................43 3.3.4 Manifestações Culturais Populares...............................................................44 3.4 CLASSIFICAÇÃO DO ARTESANATO DE NOVA LIMA......................................44 3.5 RESULTADOS DO PROJETO.............................................................................46 4 CONCLUSÃO........................................................................................................50

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................52 5.1 BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................53

6 ANEXOS................................................................................................................56


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - cronograma de trabalho.............................................................................17 Figura 2 - fonte de referência e inspiração dos produtos artesanais de Nova Lima..33 Figura 3 - alunas realizando pesquisa na feira de artesanato em Nova Lima...........34 Figura 4 - grupo de artesãos selecionados para o curso de capacitação..................34 Figura 5 - artesãos assistindo palestra sobre Design e Artesanato ...........................35 Figura 6 - visita a oficina de artesã.............................................................................36 Figura 7 - visita ao Museu de Artes e Ofícios............................................................36 Figura 8 - professor orientando os artesãos em sala de aula....................................36 Figura 9 - exposição de lançamento dos novos produtos na Casa Aristides.............37 Figura 10 - artesã apresentando novos produtos para banca de avaliação..............38 Figura 11 - minerador as margens do Ribeirão dos Cristais......................................39 Figura 12 - vista geral da mina do Morro Velho .........................................................39 Figura 13 - Bicame - aqueduto construído pelos ingleses.........................................40 Figura 14 - Vila Nova Atlético Clube - time de futebol criado pelos ingleses.............40 Figura 15 - cédulas da eleição dos temas.................................................................42 Figura 16 - painel iconográfico da arquitetura e patrimônio histórico........................42 Figura 17 - painel iconográfico da fauna e flora.........................................................43 Figura 18 - painel iconográfico dos recursos naturais...............................................43 Figura 19 - painel iconográfico das manifestações culturais populares....................44 Figura 20 - opção do artesão pela atividade artesanal..............................................45 Figura 21 - renda do artesão proveniente do artesanato...........................................45 Figura 22 - produtos apresentados no processo seletivo sem identidade cultural....46 Figura 23 - produto anterior a capacitação sem identidade cultural..........................47 Figura 24 - produto posterior a capacitação utilizando como tema Fauna e Flora....47


Figura 25 - aqueduto Bicame - referência iconográfica da Arquitetura e Patrimônio Histórico.................................................................................................................... ..47 Figura 26 - porta-talher Bicame - produto desenvolvido na capacitação com o tema Arquitetura e Patrimônio Histórico..............................................................................47 Figura 27 - produto anterior a capacitação sem identidade cultural..........................48 Figura 28 - produto posterior a capacitação utilizando fibras da região como tema Recursos Naturais......................................................................................................48 Figura 29 - estandarte Santo Antônio - referência iconográfica das Manifestações Culturais Populares....................................................................................................48 Figura 30 - estandarte em madeira reciclada - produto desenvolvido na capacitação com tema Manifestações Culturais Populares ...........................................................48


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1 INTRODUÇÃO

O artesanato está ligado à história do homem e a sua necessidade de produzir utensílios e adornos de uso cotidiano. Entendido por uns como expressão artística e por outros como atividade produtiva, o certo é que as manifestações artesanais traduzem a cultura e a capacidade criativa de uma comunidade.

A cultura é, portanto matéria-prima para o artesanato, e se traduz na sua identidade gerando uma relação de estima entre o homem e o objeto artesanal. Segundo o designer Eduardo Barroso “do ponto de vista antropológico a identidade cultural de um grupo social é constituída pelo seu espaço territorial e por objetos, adornos, vestimentas, culinária, música, costumes, folclore, mitos, ritos, religião, moral, ética capazes de distinguir um determinado grupo dos demais” (BARROSO, 1999, p.4).

O artesanato tradicional é produzido à mão com ferramentas e equipamentos rudimentares utilizando técnicas transmitidas através de gerações, e matériasprimas abundantes na região. Ele estabelece uma ligação com uma comunidade e seu lugar de origem, e assim passa a contar uma história. Segundo o Termo de Referência Sebrae para o Artesanato (2004), o objeto artesanal se apropria de elementos que constituem a cultura material e imaterial se valendo de cores e formas das paisagens locais, da fauna e flora, do patrimônio histórico, da arquitetura típica, das lendas e festas populares, dos tipos humanos.

Ao perceber necessidades e potencialidades no artesanato de uma determinada comunidade, cabe ao designer identificar e valorizar o artesanato através do resgate da cultura material e iconográfica da região onde a ação será realizada. Segundo Barroso (1999) saber olhar ao redor e entender o cotidiano de determinada comunidade é o primeiro passo para a compreensão da cultura e identidade daquele lugar e assim poder estabelecer uma relação de respeito e ética com os artesãos e o artesanato daquela comunidade.


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Reconhecer a identidade está em identificar e utilizar a força expressiva de muitos elementos de uso cotidiano, mas que de tão vistos ninguém mais os enxerga e de tão tocados ninguém mais os sente. São produtos e imagens banais que fazem parte indissociável de uma memória coletiva, que devem ser resgatados e incorporados ao ac ervo de s ímbolos que permita entender ou qualificar o conceito de pertinência cultural (BARROS O, 1999, p.5).

A proposta do projeto Minas Raízes – Artesanato, Cultura e Design para a capacitação dos artesãos do município de Nova Lima, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte/MG, teve início com o levantamento de dados através de questionário desenvolvido pela equipe de trabalho (ANEXO A). O diagnóstico formulado para o artesanato da região constatou que 30% dos artesãos utilizavam a fauna e flora em geral como referência, 27% utilizavam elementos do cotidiano, 17% pesquisas em revistas e livros, 9% pesquisas na internet, 6% a arquitetura local, 6% a religiosidade e 5% a intuição.

Ficou evidente a necessidade de se propor o desenvolvimento de uma ação sistêmica para resgatar o artesanato local e sua identidade, visto que o mesmo se encontrava

desvalorizado

por

fatores

sócio-econômicos

influenciados

pela

globalização, desconectado da realidade da comunidade local tão rica em expressões e elementos culturais regionais. Assim sendo, a estratégia adotada consistiu em propor o desenvolvimento de novos produtos artesanais tendo como referência o Artesanato de Referência Cultural 2.

Barroso afirma que para desenvolver “uma nova linha de produtos de maior valor simbólico e orientados ao mercado, é necessário resgatar, nas origens e raízes culturais, os elementos que possam assumir a condição de novos arquétipos orientadores de uma estética própria” (BARROSO, 1999, p.2).

Ao realizar a análise crítica e descritiva da inserção do design na produção artesanal de comunidades inseridas em regiões metropolitanas, tendo como objeto de estudo o projeto de extensão Minas Raízes, pode-se perceber que as reflexões sobre a 2

Artesanato de Referência Cult ural é um produto cuja característica é a incorporaç ão de elementos culturais tradicionais da região onde são produzidos (Termo de Referência do Programa SEBRAE de Artesanat o, 2004).


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potencialidade do uso das referências culturais materiais e imateriais da região como forma de diferenciação e aumento da competitividade de produtos e o uso sustentável de matéria-prima local, proporcionaram o desenvolvimento de novas linhas de produtos orientados ao mercado consumidor, além da valorização do artesanato local.

1.1 PROBLEMA

Ao investigar a produção artesanal da região de Nova Lima em levantamento realizado através de questionário (ANEXO A) e registro fotográfico verificou-se que o artesanato produzido por comunidades inseridas em regiões metropolitanas encontra-se desconectado do mercado que tende a valorizar produtos únicos com forte referência cultural e comprometidos com a ética e a responsabilidade social. A falta de valores tradicionais e identidade própria podem influenciar negativamente o desenvolvimento social, cultural, econômico e ambiental destas comunidades e se apresentam como oportunidade para a utilização do design no artesanato através da transferência de conhecimentos que podem agregar valores simbólicos levando a um aumento de valor de mercado de seus produtos.

O design deve ser entendido c omo uma forma holística de solução de problemas tendo como objetivo principal de sua intervençã o compatibilizar os interesses e necessidades daqueles que produzem com aqueles que consomem (BA RROSO, 1999, p.6).

A falta de conhecimentos teóricos em metodologias de processos criativos, concepção, processos produtivos e gestão de mercado foram identifi cados por Barroso (1999) como um dos principais problemas para a produção artesanal. Esta falta de conhecimento teórico se reflete na produção artesanal e pode ser percebida na perda da identidade cultural, na falta de adequação ao mercado consumidor, nas embalagens precárias ou a falta destas, na ausência de meios de divulgação dos produtos, na estagnação das vendas por falta de originalidade entre outras.


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Ainda segundo Barroso (1999) os artesãos, muitas vezes começam a trabalhar na atividade artesanal por falta de outra qualificação profissional ou por se tratar de uma tradição familiar. Outras vezes, estas pessoas buscam no artesanato uma complementação ocasional de renda familiar ou ainda uma opção de ocupação de tempo ocioso.

O conhecimento prático é transmitido de maneira informal pelos mestres artesãos para aprendizes nas suas oficinas ou por técnicos artesãos em oficinas-escolas configurando assim a atividade artesanal como área de conhecimento excluída dos meios acadêmicos. Os principais fatores que desestimulam os artesãos a procurarem obter o conhecimento teórico do segmento produtivo ao qual pertencem são a falta de tempo e de recursos financeiros e a baixa auto-estima, já que se julgam personagens excluídos do acesso ao conhecimento acadêmico se ja pela idade, seja pela baixa escolaridade.

O artesanato desenvolvido nas regiões metropolitanas é, portanto um segmento produtivo em que “o designer deve atuar como facilitador do conhecimento, contribuindo tanto para o aprimoramento e a inovação de produtos como para a sustentabilidade e a qualidade de vida de uma comunidade” (BARAÚNA, 2006, p.1).

1.2 OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho é fazer uma análise descritiva e crítica da inserção de metodologias e processos de design na produção artesanal através do estudo de caso do projeto Minas Raízes – Artesanato, Cultura e Design.

Ao apresentar um trabalho com resultados mensuráveis objetiva-se também contribuir para que outros projetos que apresentem o mesmo perfil do objeto de estudo aqui proposto possam ser implantados e executados por programas de extensão universitária, já que a cultura extensionista estimula a intercessão da


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academia com a sociedade, “seja com grupos que possam ter interesse comercial, seja com grupos carentes dos serviços de uma atividade capaz de ajudar, mesmo em condições adversas ou de baixo orçamento” (SANTOS, 2006, p.67).

1.3 JUSTIFICATIVA

O sociólogo italiano Domenico de Masi (apud ALVES e FERRAZ, 2005) em palestra proferida em Florianópolis, destacou uma tendência mundial de inovação no artesanato com o investimento em design. Para ele, a união do design com o artesanato gera grandes possibilidades mercadológicas, uma vez que o design dispõe de metodologias e ferramentas que aperfeiçoam a produção artesanal com diferencial competitivo, a qual agrega traços da diversificada identidade cultural brasileira. No entanto, o designer deve se conscientizar da importância desta contribuição para a sociedade.

O design pode, e deve transcender sua dependência exclusiva do sistema produtivo, transformando-s e em agent e de mudança, contribuindo para a viabilizaç ão de uma agenda de desenvolvimento comprometida com o resgate da dívida social (BA RROSO, 2001).

Ao realizar este trabalho, espera -se dar maior visibilidade ao design social e ao artesanato para que ampliem a sua participação na economia nacional e quiçá internacional, articulando parcerias com instituições governamentais e do terceiro setor; e empresas comprometidas com a valorização da cultura local e a responsabilidade social, visto que estes são mercados que tem apresentado enorme potencial de crescimento.

1.4 METODOLOGIA

A metodologia científica empregada neste trabalho consistiu em estabelecer um referencial teórico sobre Design e Artesanato, Artesanato, Cultura e Identidade


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Cultural, Processos Criativos, Metodologia de Design, Inovação em Design, Gestão em Design, Comunicação e Marketing, dentre outras. A pesquisa bibliográfica para embasamento do trabalho se apoiou principalmente nos autores: Eduardo Barroso, Octavio Paz, Adélia Borges e SEBRAE. Também foi necessária para embasamento teórico, a participação em diversos seminários temáticos: Seminário Internacional de Comércio Justo (2008), Seminário Nacional de Cultura e Extensão Universitária (2009), Seminário da Diversidade Cultural: Entendendo a Convenção (2009), 2º Conferência da Região Metropolitana de Belo Horizonte (2009), Seminário Nacional de Economia da Cultura e Extensão Universitária (2009), Design e Identidade (2009), além do workshop O Deslugar do Design (2009), onde foi possível refletir e vivenciar atividades relacionadas ao design em processos de produções artesanais, e oficina Processos Criativos e Diversidade Cultural (2009), que envolveu experiências estéticas no cotidiano em diálogo com a questão da di versidade cultural.

Concomitantemente

foi

necessário

realizar

uma

análise

documental

para

compreensão dos processos de implantação da ação extensionista Minas Raízes – Artesanato, Cultura e Design, análise dos dados levantados no questionário (ANEXO A) e diagnóstico. A seguir foi feita uma pesquisa histórica e iconográfica sobre a região onde ocorreu a inserção do design.

Ainda foi preciso realizar uma pesquisa de campo a partir da observação direta e registro fotográfico compreendendo visitas a feiras, lojas e exposições levantaram dados para dimensionar a situação que se encontrava o artesanato da região. Também foi preciso formar um grupo focal com a equipe de trabalho do projeto para compreender os critérios adotados na elaboração da metodologia de design utilizada no projeto e no sistema de avaliação dos resultados.

Tendo percorrido todas as etapas do trabalho proposto foi possível obter os dados necessários para realizar a análise descritiva e crítica, a verificação dos resultados, e assim chegar à conclusão final. A última etapa ainda compreendeu a preparação do conteúdo para a apresentação multimídia deste trabalho para a banca avaliadora.


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1.4.1 Cronograma

Atividade

Agosto

Setembro

Outubro

Novembro

Dezembro

1 2 3 4 5 6 7

Figura 1 - cronograma de trabalho

Atividade 1: Pesquisa bibliográfica.

Atividade 2: Pesquisa de campo com registro fotográfico

Atividade 3: Análise documental.

Atividade 4: Pesquisa histórica e iconográfica.

Atividade 5: Grupo focal com equipe de trabalho do projeto.

Atividade 6: Análise dos dados, verificação dos resultados e conclusão.

Atividade 7: Preparação e apresentação para a banca avaliadora.


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2 CONTEXTUALIZAÇÃO

A contextualização se faz necessária para um melhor entendimento sobre os principais temas e conceitos abordados neste trabalho.

2.1 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Um conceito de extensão universitária foi definido durante o Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras/FORPROEX, q uando foi elaboração o Plano Nacional de Extensão, e publicado em novembro de 1988.

A extensão universitária é o processo educativo, cult ural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e sociedade. A extensão é uma via de mão-dupla, [...]. Esse fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados, acadêmico e popular, terá como conseqüências a produção do conheciment o resultante do confront o com a realidade brasileira e regional, a democratização do conheciment o ac adêmic o e a participação efetiva da comunidade na atuaç ão da universidade (FORPROE X, 2007, p.12).

A definição do conceito de extensão foi básica para o desenvolvimento conceitual das diretrizes para a extensão universitária que sustenta sua práxis em quatro princípios básicos (FORPROEX, 2007): 

Indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão: reafirmando a extensão como processo acadêmico em que toda ação de extensão deverá estar vinculada ao processo de formação de pessoas e de geração de conhecimento, tendo o aluno como protagonista de sua formação técnica para obtenção de competências necessárias à atuação profissional, e de sua formação cidadã.

Interdisciplinaridade: caracterizada pela interação de modelos e conceitos complementares, de material analítico e de metodologias, buscando consistência teórica e operacional que estruture o trabalho dos atores do


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processo social e que conduza à interinstitucionalidade, construída na interação e inter-relação de organi zações, profissionais e pessoas. 

Impacto e transformação: estabelecimento de uma relação entre a Universidade e outros setores da Sociedade, com vistas a uma atuação transformadora, voltada para os interesses e necessidades da maioria da população e implementadora de desenvolvimento regional e de políticas públicas.

Interação dialógica: desenvolvimento de relações entre universidade e setores sociais marcadas pelo diálogo, pela ação de mão-dupla, de troca de saberes, de superação do discurso da hegemonia acadêmica para uma aliança com movimentos sociais de superação de desigualdades e de exclusão.

2.2 DESIGN SOCIAL

O design é muitas vezes percebido como atividade que contempla, com seus esforços, apenas o desenho industrial, a comunicação, a publicidade e o marketing, no contexto de um ambiente puramente comercial que visa estritamente a geração de lucros. Porém, de forma contrária, esta profissão está fortemente relacionada ao desenvolvimento da inovação e da comunicação. Ela é capaz de transformar necessidades e desejos humanos em produtos e sistemas criativos e eficazes, adequados não somente do ponto de vista econômico, mas também, social, cultural e ambiental.

O manifesto coletivo First Things First 2000, texto originalmente lançado em 1964, pelo designer inglês Ken Garland, demonstra claramente como alguns designers se sentem incomodados com o modo como o design tem sido aplicado ao longo dos tempos.


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Muitos de nós estamos cada vez mais desconfortáveis com essa visão de design. Designers que devotam seus esforços primordialmente na propaganda, no marketing e no desenvolvimento de marcas [...]. Nós propomos uma mudança de mentalidade que se afaste do marketing do produto e busque a ex ploração e a produção de um novo tipo de significado (POYNOR, 1999).

Porém esta mentalidade está começando a mudar. “Hoje no mercado de trabalho, é dado um valor especial àqueles profissionais capazes de reservar um tempo para projetos sociais” (SANTOS, 2006, p.67). A atuação do designer no segmento social começa então a ser respeitada e valorizada pela sociedade e passa a ter uma maior visibilidade no mercado.

O design social refere-se à prática do design voltada, principalmente, para a responsabilidade frente aos imperativos sociais, nos quais se apóia a idéia da construção e desenvolvimento da sociedade. Nele, não há o interesse em aguçar o consumo livre e inconseqüente de produtos, idéias e serviços.

Direcionar o foco da prática do design no resgate e na valorização da cultura brasileira, através do artesanato, é uma das possíveis maneiras de aplicação dos princípios do design social. A produção artesanal é uma das áreas em que a metodologia de design pode ser aplicada ao se identificar uma comunidade em que se percebe algum potencial de mão de obra e de matéria prima para produção de artesanato.

Estratégias de fomento ao artesanato brasileiro, por meio da participação do designer como tradutor e mediador entre o consumidor e o artesão, viabilizam uma melhor inserção dos produtos artesanais em mercado altamente competi tivo. Assim é possível gerar a auto-suficiência das atividades artesanais do país, além de propiciar melhoria da qualidade de vida do artesão através do incentivo de sua prosperidade sócio-econômica.


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Para Barroso (1999), o designer deve realizar pesquisas sócio-culturais e iconográficas e assim identificar os valores regionais para então capacitar esta comunidade na criação de produtos com identidade própria e padrões de qualidade mais elevados para serem vendidos em novos mercados sem, no entanto, interferir nos aspectos tradicionais do processo artesanal

Tendo em vista a importância e o impacto que o trabalho do designer tem na transformação de paradigmas, este profissional deve atuar com maior frequência, como agente colaborador na criação de pontes facilitadoras da relação entre o indivíduo e o mundo que o cerca, tendo o cuidado de não priorizar nem um nem outro.

2.3 IDENTIDADE CULTURAL

O sentido de identidade cultural está relacionado ao sentimento de pertencimento a um grupo social, lugar ou território. Barroso (1999) afirma que do ponto de vista antropológico, a identidade cultural de um grupo social é constituída pelo seu espaço territorial e por objetos, adornos, vestimentas, culinária, música, costumes, folclore, mitos, ritos, religião, moral, ética capazes de distinguir um determinado grupo dos demais.

O sentimento de pertinência que cada ser humano experimenta não está, ligado apenas as suas origens e heranças, mas também as suas sucessivas e deliberadas escolhas e aquisições. A partir de suas opções individuais podemos então falar de identificação cultural que com o t empo pode vir a configurar uma identidade própria (BARROSO, 1999, p.5).

Assim sendo, ela representa as relações entre indivíduos e grupos, e que envolve o compartilhamento de patrimônios comuns como a língua, a religião, as artes, o trabalho, os esportes, as festas, entre outros.


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Como o processo de globalização do mundo atual, a identidade cultural de um grupo se tornou um processo vivo e dinâmico, de construção continuada. Barroso afirma que “quanto maior esta dinâmica, maior será a capacidade de sobrevivência e de renovação de uma nação” (BARROSO, 1999, p.2). A partir deste ponto de vista a identidade de um indivíduo não estaria ligada apenas a um território e sim a um período de sua história.

Adélia Borges (2003), jornalista especializada em artesanato, acredita que existe uma busca dos consumidores por objetos que possuam identidade, diferenciação e referência cultural de seus produtores. Para ela o artesanato é a representação da identidade de uma comunidade, impregnado de valor cultural.

O artesanato exprime um valioso pat rimônio cultural acumulado por uma comunidade ao lidar, através de técnicas transmitidas de pai para filho, com materiais abundantes na região e dentro de valores que lhe são caros. Por tudo isso, ele ac aba se tornando um dos meios mais importantes de representação da identidade de um povo (BORGES, 2003, p.63).

Portanto, podemos entender que a identidade cultural é está intimamente ligada ao artesanato. Um produto artesanal de qualidade deve ter uma clara identificação com sua origem, impressa nas cores, nas texturas, nas marcas deixadas pelas mãos dos artesãos em cada peça, e com isso passa a representar a identidade cultural de uma comunidade.

Os artesãos não têm pátria: suas verdadeiras raízes estão nas suas vilas nativas – ou mesmo em um único quarteirão, ou em suas famílias. Os artesãos nos defendem da uniformidade artificial da tecnologia e da improdutividade da geometria: ao preservar as diferenças , eles preservam a fertilidade da história (PA Z, 2006, p.89).

2.4 ARTESANATO

Durante o Seminário Internacional Design sem Fronteiras realizado no ano de 1996, em Bogotá na Colômbia, o designer Eduardo Barroso (2001) propôs a seguinte definição para o artesanato:


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Podemos compreender como artesanato toda atividade produtiva de objetos e artefatos realizados manualmente, ou com a utilização de meios tradicionais ou rudimentares, com habilidade, destreza, apuro técnico, engenho e arte (BARROS O, 2001, p.3).

O artesanato está ligado à história do homem e a sua necessidade de produzir utensílios e adornos de uso cotidiano. Entendido por uns como expressão artística e por outros como atividade produtiva, o certo é que as manifestações artesanais traduzem a cultura e a capacidade criativa de uma comunidade.

O objeto artesanal é produzido à mão com ferramentas e equipamentos rudimentares utilizando técnicas transmitidas através de gerações, e matériasprimas abundantes na região. Ele estabelece uma ligação com uma comunidade e seu lugar de origem, e assim passa a contar uma história. Segundo o Termo de Referência SEBRAE para o Artesanato (2004), o objeto artesanal se apropria de elementos que constituem a cultura material e imaterial se valendo de cores e formas das paisagens locais, da fauna e flora, do patrimônio histórico, da arquitetura típica, das lendas e festas populares, dos tipos humanos.

No entendimento do escritor mexicano Octávio Paz (2006) , o artesanato está no centro de uma balança que pesa a beleza e a utilidade, a arte e a tecnologia, “o artesanato pertence a um mundo anterior à distinção entre o útil e o belo” (PAZ, 2006 p.82). Assim podemos entender que o artesanato além de ser uma atividade produtiva, é também um meio de expressão cultural do homem comum.

Para compreender a forma como o artesanato pode ser classificado, foram elaboradas pelo SEBRAE (2004) algumas categorias de classificação que estão relacionadas ao uso, origem, organização e tipologia. Com relação à tipologia, por ter pouca relevância para o caso estudado, não será exposto aqui.


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2.4.1 Classificação do Artesanato por Uso e Função

O artesanato pode ser caracterizado de acordo com seu uso e função. As categorias definidas pelo Termo de Referência do Programa SEBRAE de Artesanato são (2004):

Adornos e Acessórios: quando as peças são para uso pessoal tais como bijuterias, bolsas, cintos, etc.

Conceitual: quando o objeto expressa alguma idéia ou conceito de quem o produziu.

Decorativo: quando o artefato é produzido com o intuito de embelezar algum espaço ou ambiente.

Educativo: quando o objeto é destinado a práticas pedagógicas.

Litúrgico: quando o produto é destinado a alguma atividade ritualística ou para demonstração de crenças e da fé.

Lúdico: quando a função principal do objeto é entreter crianças e adultos ou para representação do imaginário popular.

Utilitário: quando o utensílio é desenvolvido para servir a alguma necessidade domésticas.

2.4.2 Classificação do Artesanato por Origem

O artesanato também pode ser categorizado de acordo com sua origem. Estas categorias, segundo o Termo de Referência do Programa SEBRAE de Artesanato (2004), seriam:


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Arte Popular: a arte popular é a matriz cultural onde se forja o artesanato tradicional. É fonte de inspiração e de referência para o artesanato contemporâneo e para o design. Por esta razão deve ser preservada e promovida de modo diferenciada.

Artesanato Indígena: conjunto de objetos produzidos em uma comunidade indígena por seus próprios membros. São, em sua maioria, resultantes de uma produção coletiva, incorporada ao cotidiano da vida tribal, que prescinde da figura do artista ou do autor.

Artesanato Tradicional: conjunto de artefatos mais expressivos da cultura de um determinado grupo social, representativo de suas tradições, incorporados à sua vida cotidiana. Sua produção em geral é de origem familiar ou realizada em pequenas oficinas. Sua importância e seu valor cultural decorrem do fato de ser transmitida de geração em geração preservando técnicas, tradições, usos e costumes.

Artesanato Conceitual: objetos produzidos por pessoas com alguma formação artística, de nível educacional e cultural mais elevado, geralmente de origem urbana, resultante de um projeto deliberado ou de afirmação de um estilo de vida. A inovação é o elemento principal de diferenciação das demais categorias de artesanato.

Artesanato de Referência Cultural: são produtos cuja característica é a incorporação de elementos culturais tradicionais da região onde são produzidos. São, em geral, resultantes de uma intervenção planejada de designers, em parceria com os artesãos, com o objetivo de diversificar a oferta artesanal, porém sem a perda de suas características essenciais.

Produtos Semi-Industriais: são produtos produzidos em série, porém utilizando mão-de-obra artesanal, notadamente nas fases de acabamento, permitindo assim que cada produto tenha suas características próprias diferenciadas.

Trabalhos Manuais: são produtos que exigem destreza, habilidade e paciência de quem os produz. Utilizam moldes e padrões pré-definidos, resultando em produtos de estética pouco elaborada. Em geral não possuem vínculo com a cultura local e não constituem a atividade


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principal daqueles que o realizam, sendo, em geral, uma ocupação para a complementação da renda familiar o u mesmo um passatempo.

2.4.3 Classificação do Artesanato por Organização

Ainda segundo o Termo de Referência do Programa SEBRAE do Artesanato (2004), os artesãos ou grupos de artesãos recebem uma classificação de acordo com a forma de organização do trabalho que executam:

Mestre Artesão: indivíduo que se desta em seu ofício, conquistando admiração e respeito não somente de seus aprendizes e auxiliares artesãos, como também dos clientes e consumidores. Sua maior contribuição é repassar, para as novas gerações, técnicas artesanais e experiências fundamentais de sua atividade.

Artesão: é o indivíduo que detém conhecimentos técnicos sobre os materiais, ferramentas e processos de sua especialidade, dominando todo o processo produtivo.

Aprendiz: é o auxiliar das oficinas de produção artesanal, encarregado de elaborar partes do trabalho e que se encontra em processo de capacitação.

Artista:

desenvolve

em

seu

trabalho

uma

coerência

temática

demonstradas em seu compromisso de criar sempre coisas novas e ir além do já conhecido. 

Núcleo de Produção Familiar: a força de trabalho é constituída por membros de uma mesma família, alguns com dedicação integral e outros com dedicação parcial ou temporária. A direção dos trabalhos é exercida pelo chefe de família, que organizam os trabalhos de filhos, sobrinhos e outros parentes. Em geral não existe um sistema de pagamentos préfixados, sendo

as

pessoas

remuneradas

de

necessidades e disponibilidade de um caixa único.

acordo

com

suas


27

Grupos de Produção Artesanal: agrupamentos de artesãos que atuam no mesmo segmento artesanal ou em segmentos diversos e que se valem de acordos

informais, como

aquisição

de

matéria-prima, estratégias

promocionais conjuntas e produção coletiva. 

Empresa Artesanal: são núcleos de produção que evoluíram para a forma de micro ou pequenas empresas, com personalidade jurídica, regida por um contrato social. Como quaisquer empresas privadas buscam vantagens comerciais para continuar a existir. Empregam artesãos e aprendizes encarregados da produção e remunerados, em geral, com um salário fixo ou uma pequena comissão sobre as vendas.

Associação: é uma instituição de direito privado sem fins lucrativos, constituída com o objetivo de defender e zelar pelos interesses de seus associados. É regida também por estatutos sociais, com uma diretoria eleita em assembléia para períodos regulares.

Cooperativa: são associações de pessoas,

nunca inferior a

20

participantes, que se unem para alcançar benefícios comuns, em geral, para organizar e normalizar atividades de interesse comum. O objetivo essencial de uma cooperativa na área do artesanato é a busca de maior eficiência na produção com ganho de qualidade e de competitividade em virtude da

redução de custos na aquisição de matéria-prima, no

beneficiamento, no transporte, na distribuição e venda dos produtos.

2.5 INOVAÇÃO EM ARTESANATO

A inovação em artesanato está relacionada com tecnologia, design e infra-estrutura. Segundo o Termo de Referência do Programa SEBRAE para o Artesanato, a inovação da produção artesanal pode ocorrer (SEBRAE, 2004, p.35):

Na criação de um produto ou de uma coleção.

Na substituição de uma matéria-prima que está ficando escassa por outra mais abundante na região.


28

Pela troca por instrumentos de trabalho mais eficazes.

Pela utilização de novas ferramentas que facilitem o trabalho, porém sem esquecer que em algumas técnicas só podem ser executadas à mão.

Pela mudança de técnicas ou de processos mais produtivos.

Pela alteração da forma, da aparência e da função.

No modo de apresentar comercialmente os produtos.

Na agregação de valores através da cultural material e imaterial.

Os processos de criação de um novo produto ou de inovação de um já existente constituem-se em uma atividade complexa que requer a colaboração de designers totalmente comprometidos com a ética e a responsabilidade social. O designer alemão Alexander Neumeister (apud BARROSO, 1999) sustenta que:

Sob este enfoque plural o proc esso criativo deve vir ac ompanhado de um sentimento profundo de responsabilidade, [...]. Torna-se necessária a formulaç ão de uma nova proposta de ética profissional para os designers embasada na conscientização do equilíbrio precário de nosso planet a, das relações existentes entre os homens e seu meio, entre presente e passado, entre tradição e inovação entre identidade cultural e perspectiva global (NE UMEIS TE R apud BARROS O, 1999, p.20).

Ao participar do desenvolvimento de um produto junto aos artesãos, os designers, envolvidos em capacitações, devem demonstram sensibilidade e se “abster de expressar seu gosto pessoal ou suas preferências estéticas. Do mesmo modo, um designer envolvido com a concepção de produtos artesanais não deve projetar para o artesão” (SEBRAE, 2004, p.52). O ideal é que estes atuem em parceria com os artesãos, respeitando sua imaginação, sua cultura, seu local e a origem de seus conhecimentos.


29

2.6 VALOR SIMBÓLICO NO ARTESANATO

Na sociedade contemporânea, o artesanato adquire novas funções além das tradicionais, advinda da valorização dos consumidores por produtos portadores de referências regionais, nacionais e étnicas. Octavio Paz afirma:

O objeto feito à mão é um signo que ex pressa a sociedade humana de uma forma própria: não como ferramenta (tec nologia), não c omo s ímbolo (arte, religião), mas como uma forma de vida física e simbiótica (PA Z, 2006).

Nesse contexto, cresce a valorização do artesanato como portador de novos significados. O aspecto funcional do produto artesanal deixa de ser relevante à medida que cresce seu valor no mercado.

Um produto artesanal carrega em si uma série de significados atribuídos por seus consumidores. Estes significados surgem, quase sempre, pela associação do artesanato a valores culturais. Barroso afirma que “um produto artesanal, por melhor que seja, deve vir acompanhado de algo que o contextualize, que o localize no tempo e no espaço” (BARROSO, 1999, p.21).

No momento da compra de um produto artesanal o consumidor é levado pela emoção, pelo desejo, pelo impulso. As informações sobre a história do lugar, do contexto da produção, da pessoa que fez aquele produto, podem ter um valor para quem a adquire, o que gera um valor simbólico de estima muito grande com aquele objeto. A escolha por determinado objeto se dá em meio a uma mistura de valores que permeia as decisões do consumidor cotidianamente. Para Barroso “o conteúdo simbólico do artesanato está intrinsecamente ligado ao seu valor de uso, devendo, pois ser entendido, respeitado e valorizado” (BARROSO, 1999, p.21).


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A partir disso, podemos pensar que existe não uma, mas várias lógicas que orientam o consumo de artesanato e que elas estão associadas aos mais diversos valores, tais como a tradição, a arte, o indivíduo, o regionalismo, o nacionalismo, etc.

2.7 INSERÇÃO DO DESIGN NO ARTESANATO

A inserção de metodologias de design no segmento artesanal nem sempre é vista com bons olhos. O designer deve fazer um trabalho de reconhecimento na comunidade, entender suas tradições e seus costumes, do contrário esta aproximação não será assimilada por parte dos artesãos.

Para Adélia Borges, a interferência do designer no artesanato quando bem planejada, resulta em uma parceria muito produtiva. Com respeito e diálogo, o designer consegue se aproximar sem interferir de maneira negativa.

Os designers ao chegarem a uma comunidade, começam por um t rabalho de reconhecimento dos signos de identidade cultural local. Convidam os artesãos a olharem seu redor e para sua história, e tirarem daí seus motes, seus nortes (BORGES, 2003, p. 66).

O argumento em defesa da não inserção do design nestes processos de criação e de produção artesanal tem origem no temor da possibilidade de descaracterização dos produtos originais, podendo provocar o desaparecimento de certas tipologias, padrões e outros elementos de reconhecimento e identificação cultural de uma determinada região ou grupo social (SEBRAE, 2004, p. 19).

O designer não deve se questionar se deve ou não interferir no artesanato, mas sim se preocupar em como intervir sem descaracterizar, valorizando e reforçando as tradições regionais, a habilidade dos artesãos e as relações existentes nos grupos de artesãos.


31

3 ESTUDO DE CASO

O objeto de estudo compreende a análise descritiva e crítica de todas as etapas do desenvolvimento do projeto Minas Raízes – Artesanato, Cultura e Design tais como: histórico do projeto, aspectos históricos e culturais de Nova Lima, classificação do artesanato local, metodologia do projeto, sistema de avaliação da capacitação e resultados obtidos pelos artesãos ao final do curso de capacitação, para então verificar a validade da inserção da metodologia do design na produção artesanal local.

3.1 PROJETO MINAS RAÍZES – ARTESANATO, CULTURA E DESIGN

O projeto Minas Raízes – Artesanato, Cultura e Design, é uma ação extensionista, desenvolvida desde 2008 por uma equipe composta por um professor orientador, cinco alunos bolsistas de graduação dos cursos de Design Gráfico e Design de Produto, e dois alunos voluntários que juntos atuam no Núcleo de Design e Responsabilidade Social do Centro de Extensão da Escola de Design/UEMG. O projeto foi viabilizado pelo apoio financeiro do Programa de Extensão Universitária do Ministério da Educação e Ministério da Cultura – PROEXT/MEC/MINC e do Programa Institucional de Apoio a Extensão da Universidade do Estado de Minas Gerais – PAEX/UEMG, e pela parceria com a Prefeitura Municipal de Nova Lima – Secretaria de Cultura e a Associação dos Artesãos de Nova Lima – Artes da Terra.

O objetivo do projeto é capacitar a produção artesanal de comunidades inseridas na Região Metropolitana de Belo Horizonte/MG, promovendo um desenvolvimento econômico sustentável através do resgate da cultura local como ferramenta para agregar valor ao produto artesanal. Além de restituir a auto-estima da população envolvida, o projeto visa consolidar a autonomia no planejamento e desenvolvimento de novos produtos, favorecendo o resgate do valor cultural, a diferenciação e a competitividade do artesanato local, e conseqüentemente a melhoria da qualidade de vida da comunidade.


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O projeto visa também à articulação de parcerias buscando a ampliação da participação do artesanato local, promovendo o fortalecimento do setor no mercado nacional, além de promover o estudo de tecnologias sociais, visando o aumento e a melhoria da capacidade produtiva artesanal, otimizando custos do produto e da produção.

3.1.1 Histórico do Projeto

A escolha de Nova Lima se deu no final de 2007, a partir da percepção de características peculiares de sua formação histórica, rica em expressões e elementos culturais regionais, mas que ao longo dos anos vêem sendo relegados pelas pressões do dia-a-dia, características das grandes cidades.

Neste contexto, o artesanato da região de Nova Lima, assim como grande parte da produção artesanal de comunidades inseridas em grandes centros urbanos, encontra-se desconectada dos valores culturais regionais, descaracterizada em função das pressões de mercado e da homogeneização dos produtos. A produção artesanal do município, salvo raras exceções, carece de uma identidade própria, que valorize os produtos a partir do difere ncial cultural.

Em janeiro de 2008, após verificar o interesse da Prefeitura Municipal de Nova Lima, através da Secretária de Cultura, em estabelecer uma parceria com o objetivo de viabilizar o lanche fornecido aos artesãos e o transporte dos artesãos para o curso de capacitação e para as visitas técnicas - requisito este indispensável para o desenvolvimento do curso, foram iniciados o mapeamentos das feiras de artesanato, grupos, cooperativas e associações de artesãos, para então realizar um amplo levantamento de dados através de questionário (ANEXO A) e registros fotográficos.

A pesquisa de dados para o artesanato da região constatou que 30% dos artesãos utilizavam a natureza como referência, 27% utilizavam elementos do cotidiano, 17%


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pesquisas em revistas e livros, 9% pesquisas na internet e na história, 6% elementos da religião, 6% elementos de Nova Lima e 5% a intuição.

Figura 2 - fonte de referência e inspiração dos produtos artesanais de Nova Lima

A partir destes dados ficou evidente a necessidade de se propor o desenvolvimento de uma ação sistêmica para resgatar o artesanato local e sua identidade própria, visto que o mesmo se encontrava desvalorizado em função de diversos fatores tais como: inconstância na qualidade dos produtos, falta de acabamento e embalagem, matéria-prima inadequada; ausência de critérios na elaboração de custos, além de falta de informações sobre as demandas do mercado. Assim sendo, a estratégia adotada consistiu em propor o desenvolvimento de novos produtos artesanais tendo como referência o Artesanato de Referência Cultural.

3.1.2 Metodologia do Projeto

A metodologia utilizada pelo projeto foi a da pesquisa-ação (THIOLLENT, 2003) que parte de análises sobre o contexto da realidade das comunidades envolvidas, consideradas ricas em expressões culturais, porém com perdas importantes ao longo do tempo por múltiplos fatores sócio-econômicos que impedem a revalidação dos elementos culturais regionais e que favorecem os fatores universais ou globalizantes, a saber: novas necessidades de consumo e produção. Através da pesquisa-ação foi possível à equipe de trabalho desempenhar um papel ativo na própria realidade dos fatos observados.


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Inicialmente foi feito um levantamento das características dos produtos criados pelos artesãos da região de Nova Lima, através de questionário (ANEXO A) com uma amostragem de 44 artesãos, contendo informações sobre tipologia, função, material utilizado, fornecedores, equipamentos e ferramentas utilizadas, tempo gasto na produção, embalagem, posicionamento de mercado, média de vendas e preços, incluindo levantamento fotográfico. A partir da análise deste levantamento foi possível realizar a seleção dos artesãos participantes do processo de capacitação e identificar as necessidades mais latentes do grupo, além de identificar participantes com potencial multiplicador.

Figura 3 - alunas realizando pesquisa na feira de artesanato em Nova Lima

Figura 4 - grupo de artesãos selecionados para o curso de capacitação


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Num segundo momento foi elaborado o curso de capacitação com carga horária de 70 horas/aula. O processo de capacitação contemplou Oficina de Conceituação e Produção de Texto, além de palestras temáticas sobre: Metodologia do Design; Design e Artesanato; Processos Criativos; História da Arte Moderna e História da Arte Contemporânea; e Fauna e Flora.

Figura 5 - artesãos assistindo palestra sobre Design e Artesanato

Paralelamente às palestras teóricas e oficinas práticas realizadas nas dependências da Escola de Design da UEMG, foram realizadas visitas aos ateliês, oficinas e locais de trabalho dos artesãos para conhecer os métodos de produção e processos criativos; além de visitas técnicas ao Centro de Artesanato Mineiro; Museu de Artes e Ofícios; Roteiro Turístico Histórico e Cultural de Nova Lima; Centro de Educação Ambiental AngloGold; Centro de Arte Contemporânea Inhotim; Centro das Tradições do Rosário e Unilar para ampliação de repertório e referências.

Simultaneamente, a equipe de trabalho realizou orientações projetuais em grupo e individuais com os artesãos, aplicando metodologias tradicionalmente utilizadas no ensino de design. Os artesãos desenvolveram novos produtos, e os apresentaram para uma banca avaliadora constituída por professores e profissionai s convidados, que puderam conhecer a produção anterior e avaliar individualmente a evolução dos artesãos.


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Figura 6 - visita a oficina de artesã

Figura 7 - visita ao Museu de Artes e Ofícios

Figura 8 - professor orientando os artesãos em sala de aula


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Ao término do processo de capacitação a equipe de trabalho desenvolveu um livro e um documentário em DVD contendo todas as etapas do desenvolvimento do projeto, além do registro fotográfico dos novos produtos, com lançamento durante a inauguração da exposição dos novos produtos na Escola Casa Aristides Atelier de Artes e Ofícios em Nova Lima.

Figura 9 - exposição de lançamento dos novos produt os na Casa Aristides

A metodologia utilizada em muito se assemelha a proposta por Barroso (1999), onde ele sugere que o designer deve começar identificando o problema de uma comunidade, buscando em seguida identificar as demandas e ofertas, passando pela busca de alternativas de solução que considere todas as necessidades e potencialidades e consiga chegar a propostas concretas e factíveis, compreendendo treinamento de multiplicadores, cursos de capacitação para artesãos, visitas técnicas a eventos e centros de excelência, intercâmbio técnico e cooperação com profissionais de diversas áreas de conhecimento.

3.1.3 Sistema de Avaliação do Projeto

O progresso econômico da comunidade envolvida na ação extensionista pode ser verificado através da análise da evolução do preço médio dos produtos, volume de vendas, margem de lucro média e quantidade de canais de distribuição dos produtos artesanais, realizada por meio de questionários aplicados no início e no final da ação.


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Ao iniciar um programa de promoção do artesanato em uma det erminada região, a primeira providencia dos organismos responsáveis deveria ser traçar um perfil sócio-econômico da população visada, levantado a renda familiar de cada artesão, perfil de escolaridade, acesso a bens e serviços e as condições de t rabalho e moradia. Somente de posse destas informações será possível avaliar, no fut uro, qual foi o impacto e resultado destas ações sobre aquele grupo de indivíduos (BARROSO, 1999, p.11).

Além disso, foi feita a análise da evolução da qualidade técnica e estética dos produtos e os aspectos culturais inerentes a eles, realizada em uma ficha de avaliação por uma banca composta por professores e profissionais convidados. Estes convidados, com experiência acadêmica, prática projetual e conhecimento de mercado, consumo e tendências, avaliaram os produtos desenvolvidos durante a capacitação.

Figura 10 - artesã apresentando novos produtos para banca de avaliação

3.2 ASPECTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS DE NOVA LIMA

Nova Lima está localizado em uma região montanhosa, pertencente ao Quadrilátero Ferrífero, inserido na Região Metropolitana de Belo Horizonte, porém preserva modos, hábitos e costumes das pequenas cidades do interior mineiro.


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O município tem uma história marcada pela mineração e por abrigar diversas famílias estrangeiras. O povoado surgiu por volta do ano de 1700, com um grupo de bandeirantes à procura de metais preciosos. Os escravos vieram logo a seguir para trabalhar nas minas e trouxeram consigo sua rica cultura africana. Eles conseguiram manter viva uma parte da cultura que trouxeram da África, porém a vida rotineira foi pouco documentada. O congado, presente até hoje em Nova Lima, significou a preservação de uma memória coletiva africana.

Figura 11 - minerador as margens do Ribeirão dos Cristais

A população de Nova Lima sofreu sensível influência das migrações externas e internas. Entre as primeiras, a influência européia foi a mais forte. As influências portuguesa, espanhola, italiana e árabe foram as mais marcantes e estão presentes até hoje nos hábitos e costumes, na alimentação, no lazer, na educação e na artquitetura.

Figura 12 - vista geral da mina do Morro Velho


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A influência

inglesa, ainda que pequena, deixou diversas marcas na história da

cidade. O históriador Ciro Flávio Bandeira de Melo (2008), afirma que a influência, com a chegada da companhia inglesa Saint Jonh del’ Rey Mining Company para explorar a minha de Morro Velho em Nova Lima, pode ser vista “não apenas na arquitetura e infra-estruturas urbanas, mas também nos hábitos alimentáres como no tradicional chá com leite e a queca, corruptela do inglês cake, que quer dizer bolo”. A companhia também estimulou o desenvolvimento do time de futebol da cidade, o Vila Nova Atlético Clube doando o terreno para a construção do estádio.

Figura 13 - Bicame aqueduto construído pelos ingleses

Figura 14 - Vila Nova Atlético Clube time de futebol criado pelos ingleses

O município de Nova Lima também se destaca pela maior área verde em metros quadrados por habitantes da região metropolitana, compondo belas paisagens com suas matas, rios e cachoeiras, além de uma fauna e flora rica e variada.

Outro aspecto marcante da cultura nova-limense é a religiosidade. O município possui inúmeras igrejas de várias crenças e estilos, entre elas a matriz de Nossa Senhora do Pilar das Congonhas, com altar esculpido por Aleijadinho, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a Igreja Nosso Senhor do Bonfim, o Santuário Bom Jesus de Matozinhos, a Capela São Sebastião e a Igreja Anglicana, construída e freqüentada pelos ingleses.


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3.3 ICONOGRAFIA DE NOVA LIMA

Erwin Panofsky (1991) em seu ensaio Estudos em Iconologia definiu iconografia como o estudo do tema ou assunto. Um estudo iconográfico pretende fazer uma identificação dos motivos, imagens e histórias portadoras de um significado. Todo o conhecimento necessário para a realização desta investigação provém de fontes bibliográficas e da familiarização com conceitos e temas específicos.

A Iconografia é, portanto, a descrição e classificação das imagens através do estudo abrangente do contexto cultural e histórico do objeto de estudo.

Através da freqüência observada no uso de certos padrões cromáticos, imagens, símbolos, formas, famílias tipográficas, materiais e acabamentos resultant es dos modos distintos de produção, é possível construir um repertório, cujo resultado é um mosaico iconográfico que conforma part e da identidade visual de uma nação. (BARROSO, 1999, p.5).

A pesquisa iconográfica de Nova Lima se deu segundo alguns critérios definidos por Barroso (1999) que divide a cultura material em quatro níveis assim:

Arte e Arquitetura: sacra, popular/vernacular, histórica e contemporânea.

Artefatos: religiosos, utilitários, decorativos, lúdicos.

Folclore: música, danças, mitos, lendas, vestuário, culinária.

Fauna e flora: representativa de animais, pássaros, flores e paisagens .

Porém foi levado em consideração o levantamento iconográfico de base empírica feita pelos próprios artesãos, onde foram eleitos os elementos mais representativos da região, ficaram estabelecidos como fundamentos para o estudo da iconografia de Nova Lima, quatro grandes temas: Fauna e Flora (animais, flores, planta), Arquitetura e Patrimônio Histórico (igrejas, edificações históricas, casarios), Recursos Naturais (paisagens, rios, cachoeiras, matas) e Manifestações Culturais Populares (festas, mitos, lendas, culinária).


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Figura 15 - cédulas da eleição dos temas

Os painéis iconográficos serviram como fonte de referência para o desenvolvimento dos novos produtos, auxiliando tanto os artesãos quanto os designers nas orientações.

3.3.1 Arquitetura e Patrimônio Histórico

Figura 16 - painel iconográfico da arquitet ura e patrimônio histórico


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3.3.2 Fauna e Flora

Figura 17 - painel iconogrรกfico da fauna e flora

3.3.3 Recursos Naturais

Figura 18 - painel iconogrรกfico dos recursos naturais


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3.3.4 Manifestações Culturais Populares

Figura 19 - painel iconográfico das manifestações culturais populares

3.4 CLASSIFICAÇÃO DO ARTESANATO DE NOVA LIMA

Barroso afirma que ao se iniciar um trabalho sobre artesanato em uma comunidade, o pesquisador “deve identificar e separar aqueles que têm o artesanato como atividade principal e fundamental a sua sobrevivência daqueles que tem no artesanato uma opção de renda complementar ou como terapia ocupacional” (BARROSO, 1999, p.12).

Posto isto, os resultados da pesquisa realizada no início do projeto indicam que o artesanato de Nova Lima está inserido na categoria de Trabalhos Manuais, segundo a classificação do Termo de Referência do Programa SEBRAE do Artesanato (2004).


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Figura 20 - opção do artesão pela atividade artesanal

Figura 21 - renda do art esão proveniente do artesanato

Para se chegar à categoria estabelecida, foram levadas em consideração as respostas das perguntas sobre opção pela atividade artesanal e renda proveniente do artesanato. No primeiro gráfico (figura 20) 45% dos artesãos optaram pela atividade artesanal com ocupação para o tempo ocioso ou distração, 24% para complementar a renda, 9% por tradição familiar, 8% por estarem desemprega dos e 14% por outras razões. Quanto aos dados relativo à renda que provém do artesanato (figura 21), 71% dos artesãos têm no artesanato menos da metade de sua renda, 23% nada, 2% metade, 2% mais da metade e 2% nada. A partir destes dados conclui-se que o artesanato de Nova Lima, em sua grande maioria, se classifica na categoria de Trabalhos Manuais, visto que pela classificação do Termo de Referência do SEBRAE para o Artesanato (2004), nesta categoria os artesãos


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não tem no artesanato sua principal fonte de renda e optam por esta prática mais como uma forma de complementar a renda familiar ou mesmo como passatempo.

Figura 22 - produtos apresentados no processo seletivo sem identidade cultural

O desafio para essa categoria é promovê-la à condição de Artesanato de Referência Cultural (SEBRAE, 2004), agregando valor cultural aos produtos e direcionando sua produção às demandas de mercado.

Este é um dos segmentos mais promissores para o incremento competitivo do artesanato brasileiro, pois trata -se de produtos conc ebidos dentro de uma lógica de mercado, orientados para a demanda, ac ompanhados por designers, tendo como referência os elementos mais expressivos e significativos da cultura regional (SEB RAE, 2004, p.59).

3.5 RESULTADOS DO PROJETO

A capacitação dos artesãos da região de Nova Lima se deu de forma integrada e sustentável. A partir da percepção das características dos modos tradicionais de produção artesanal, costumes e hábitos de consumo locais, desenvolveu-se uma metodologia de trabalho específica e sistêmica, procurando suprir as carências e explorar as potencialidades, sem descaracterizar o artesanato da região. As reflexões sobre a cultura regional e o uso sustentável de matéria-prima local


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propostas pelo curso de capacitação proporcionaram o desenvolvimento de novas linhas de produtos orientados ao mercado e a diferenciação do artesanato local.

Os novos produtos desenvolvidos pelos artesãos durante o curso de capacitação e apresentados para a banca avaliadora utilizaram como referência a cultura material e imaterial da região de Nova Lima. A proposta de temas dos produtos ficou distribuída assim: 29% fauna e flora local, 24% religiosidade da comunidade, 27% arquitetura e patrimônio histórico de Nova Lima, 14% recursos naturais da região, 4% manifestações culturais populares e 2% resgate de técnicas e tradições artesanais.

Figura 23 - produto anterior a capacitação sem identidade cultural

Figura 24 - produto posterior a capacitação utilizando como tema a Fauna e Flora

Figura 25 - aqueduto Bicame referência iconográfica da Arquitetura e Pat rimônio Históric o

Figura 26 - porta-talher em bambu Bicame produto desenvolvido na capacitação com o tema Arquitetura e Patrimônio Histórico


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Figura 27 - produto anterior a capacitação sem identidade cultural

Figura 28 - produto posterior a capacitação utilizando fibras da região como tema Recursos Nat urais

C Figura 29 - estandarte Santo Antônio referência iconográfica das Manifestações Cult urais Populares

Figura 30 - estandarte em m adeira reciclada produto desenvolvido na capacitação com tema Manifestações Culturais Populares


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Octavio Paz (1991) afirma que falar de artesanato é falar mais de pessoas do que de objetos, pois o produto resultante do trabalho artesanal é um produto com alma, onde estão presentes o saber, a arte, a criatividade e a habilidade de pessoas.

O Projeto Minas Raízes promoveu a inserção de processos e metodologias de design de forma integrada e sistêmica, identificando e orientando o desenvolvimento de novos produtos de acordo com as especificidades da comunidade, valorizando a cultura material e imaterial do território. Esta valorização se deu através do uso de símbolos que remeteram às origens de seus produtores e sua cultura, (SEBRAE, 2004) utilizando como referências imagens e cores de suas paisagens, fauna e flora, história, arquitetura, tipos humanos e costumes; além da utilização de matériasprimas disponíveis na região e técnicas regionais tradicionais.


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4 CONCLUSÃO

Ao término deste trabalho, foi possível identificar e classificar o artesanato da região de Nova Lima através da análise das características apresentadas pelos gráficos das figuras 20 e 21, que confirmam que o artesanato local encontra-se, em sua grande maioria, na categoria de Trabalhos Manuais.

Conclui-se que a inserção do design social através da utilização da identidade cultural no artesanato pode ser legitimada como foi demonstrado pelas figuras 23 e 24; 25 e 26; 27 e 28; 29 e 30 resultantes dos dados coletados na pesquisa no início e no final do processo de capacitação. Assim sendo, ficou evidente que é possível elevar o artesanato de Nova Lima a categoria de Artesanato de Referência Cultural.

Ainda que os artesãos vivam na região metropolitana, e com isso sofram as influências características dos grandes centros urbanos, foi possível ainda assim, perceber o resgate das tradições culturais, como observado na aplicação da iconografia da região aplicada nos novos produtos apresentadas ao final do curso. Antes do processo de capacitação, os artesãos entrevistado não tinham uma identidade cultural definida em sua produção artesanal como demonstrado no gráfico da figura 2.

Tendo em vista os resultados alcançados pelo Projeto Minas Raízes, podemos acreditar que a aproximação entre design, artesanato e cultura, se configura uma experiência capaz de tornar um produto competitivo não apenas pelos seus atributos estéticos e funcionais, mas também pelos seus aspectos sociais e culturais.

Ao valorizar o artesão, seu território e sua cultura, o design social pode contribuir de forma significativa para a transformação pessoal e profissional dos artesãos que vivem nas regiões metropolitanas das grandes cidades.


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O design neste sentido colabora com o desenvolvimento sustentável do artesanato à medida que se torna mais social e busca soluções para melhorar a qualidade de vida das comunidades atendidas. A realidade destas comunidades pode ser transformada por projetos desenvolvidos por equipes interdisciplinares de forma sistêmica.

No entanto, é importante ressaltar que ainda falta preparação adequada aos designers para este tipo de envolvimento social, pois é imprescindível estarem consciente de quais devem ser seus limites e responsabilidades de atuação no segmento artesanal. Neste sentido, a extensão universitária quando bem conduzida é capaz de selecionar, capacitar e apoiar futuros designer para atuarem em diversos programas de artesanato de instituições governamentais, acadêmicas, do terceiro setor e de empresas públicas e privadas comprometidas com a valorização da cultura local e a responsabilidade social.


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BARROSO, Eduardo. Artesanato e Mercado. Curso de Artesanato, Módulo II. São Paulo: 2001. Disponível em: http://www.eduardobarroso.com.br/design_artesanato.htm

BAXTER, Mike. Projeto de Produto: Guia Prático para o Desenvolvimento de Novos Produtos. São Paulo: Edgard Blucher, 2001.

CANCLINI, Hector. Culturas Híbridas. São Paulo: Edusp, 1998.

CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: Ciência para uma Vida Sustentável. São Paulo: Cultrix, 2005.


54

CARDOSO, Rafael. Uma Introdução à História do Design. São Paulo: Edgard Blucher, 2004. COELHO, Luis Antônio L. (Org.). Design Método. Rio de Janeiro: PUC - Rio, 2006. DE MASI, Domenico. A Sociedade Pós-Industrial. São Paulo: SENAC, 1999.

DE MASI, Domenico. O Ócio Criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. FLUSSER, Vilém. O Mundo Codificado: Por uma Filosofia do Design e da Comunicação. São Paulo: Cosac Naify, 2007. FORTY, Adrian. Objetos de Desejo. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

FREITAS, Ana Luiza. Design e Artesanato: Uma Experiência de Inserção da Metodologia de Projeto de Produto. Belo Horizonte: 2006. Dissertação de Mestrado da Escola de Engenharia da UFMG. FUENTES, Rodolfo. A Prática do Design Gráfico: uma Metodologia Criativa. São Paulo: Rosari, 2006. KAZAZIAN, Thierry. Haverá a Idade das Coisas Leves. São Paulo: SENAC, 2005.

KELLEY, Tom. A Arte da Inovação. São Paulo: Futura, 2002.

KRUCKEN, Lia. Design e Território: Valorização de Identidades e Produtos Locais. Belo Horizonte: Studio Nobel, 2009.

LOBACH, Bernd. Design Industrial. São Paulo: Edgard Blucher, 2001.

MORAES, Dijon. Cadernos de Estudos Avançados em Design: Multiculturalismo. Belo Horizonte: Santa Clara, 2008.

MORAES, Dijon. KRUCKEN, Lia (Org.). Cadernos de Estudos Avançados em Design: Sustentabilidade I. Barbacena: EDUEMG, 2009.

MORAES, Dijon. KRUCKEN, Lia (Org.). Cadernos de Estudos Avançados em Design: Sustentabilidade II. Barbacena: EUUEMG, 2009.


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MORAES, Dijon. KRUCKEN, Lia (Org.). Cadernos de Estudos Avançados em Design: Transversalidade. Belo Horizonte: Santa Clara, 2008.

MORAES, Dijon. Limites do Design. São Paulo: Studio Nobel, 1997. MUNARI, Bruno. Design e Comunicação Visual. São Paulo: Martins Fontes, 1979.

MUNARI, Bruno. Das Coisas Nascem as Coisas. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

MURTA, Roberto. Jambreiro: Fauna e Flora. Belo Horizonte: R. Murta, 2006.

NORMAN, Donald. O Design do Dia-a-dia. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.

RENA, Natacha (Org.). Coleção 9 +1. Belo Horizonte: FUMEC/FEA, 2008.

SEBRAE. Design: Análise das Estratégias de Inserção em Alagoas. Alagoas: JB, 2004. TRIGUEIRO, André. Mundo Sustentável: Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em Transformação. São Paulo: Globo, 2005.


56

ANEXO A

QUESTIONÁRIO DO PROCESSO S ELETIVO

DADOS P ESSOAIS Nome Completo: Endereço: Bairro:

Cidade:

CEP:

Telefone residencial:

Celular:

Identidade

CPF:

Email: Data de Nascimento: Sexo: (

)Feminino

Idade atual: (

)Masculino

Estado Civil: (

)Solteiro (

)Casado (

Escolaridade: (

) Analfabeto (

)Separado (

)1ºgrau (

)2ºgrau (

Você acha que é importante voltar a estudar? ( Se sim, o que o impede de retornar? Se não, por qual motivo? Tem filhos? (

)Sim (

)Não

Residência: (

)Própria (

)Cedida (

)3ºgrau (

)Sim (

Quantos menores?

)Aluguel (

)Viúvo (

) Outro, qual? )Pós-graduação

)Não

Quantos maiores? )Outro, qual?

Quantas pe ssoas moram em sua ca sa? formais? Quantos informais?

Quantos trabalham?

Renda familiar: (

)Entre 4 e 7 (

)Até 01 salário (

)Entre 1 e 4 (

Você é o principal responsá vel pelo sustento da sua família? ( Quanto da sua renda familiar provem do artesanato? ( ( )Metade ( )Mais da metade ( )Tudo

)Nada (

Quantos

)Acima de 7 salários )Sim (

)Não

)Menos da metade


57

DADOS PROFISSIONAIS Tempo de atuação na atividade artesanal: Tempo dedicado por dia ao artesanato: Possui outra atividade remunerada? ( Se sim, qual atividade?

) Sim ( )Não

O que o levou a atividade artesanal? ( )Desemprego ( ( )Tradição familiar ( )Ter uma ocupação ou distração (

)Complementaç ão de renda )Outra, qual?

O artesanato produzido faz parte de alguma tradição de família? ( Se sim, qual tradição?

)Sim (

)Não

Quais a s técnica s artesanais que domina? Possui ajudante ou parceiro de trabalho? ( ) Sim ( Se sim, quantos? Se não, qual o motivo? Faz parte de algum grupo? ( )Sim ( Se sim, qual(ais) o(s) grupo(s)?

)Não

)Não Há quanto tempo?

O que o levou a participar deste grupo? Tipo de grupo: (

)Familiar (

Caráter do grupo: (

)Comunitário (

)Produção (

) Outro, qual?

)Comercialização (

) Outro, qual?

DADOS DA PRODUÇÃO Local de produção: (

)Casa

(

)Oficina ou ateliê

(

)Cooperativa

(

)Associação

Quais são os produtos que você desenvolve? Os produtos de senvolvidos são: ( )Utilitários ( ( )Religiosos ( )Lúdicos ( )Conceituais

(

)Decorativos ( )Outro, qual?

)Educacionais

Quais são sua s fonte s de referência e inspiração? Quais a s ferramentas, máquinas ou equipamentos utilizados na produção? Quais são os principai s materiais utilizados nos produtos? Como são adquiridas as matérias-prima? ( ( )Catação ( )Doação ( )Outro, qual? Se preocupa em reaproveitar materiais? (

)Compra no varejo (

)Sim (

)Não

Se preocupa em trabalhar sem agredir o meio ambiente ? ( Se não, porque? O produto possui embalagem? ( Se não, qual o motivo?

)Sim (

)Não

)Compra no atacado

)Sim (

)Não


58

Onde comercializa os produtos? ( ( )Bazares ( )Eventos sazonais

)Feiras fixas ( )Indicação boca a boc a ( )Lojas ( )Sob encomenda ( )Outro, qual?

Tem dificuldade quanto à comercialização dos produtos? ( Se sim, qual a dificuldade?

)Sim

(

)Não

Existem expectativas quanto ao melhoramento do produto? ( )Sim Se sim, quais as expectativas? ( )Acabamento ( )Embalagem ( ( )Adequação ao merc ado ( )Outro, qual?

( )Não )Novos materiais

Existe receio quanto à mudança ou forma de produção? ( Se sim, quais?

)Não

)Sim

Quantidade de peças produzidas em média por mês: Tempo médio de produção por peça: Gasto médio com matéria-prima por peça: Margem de lucro médio por peça:

DADOS DA CAP ACITAÇÃO Possui interesse em participar da capacitação? ( Possui di sponibilidade de tempo para participar? ( Se for necessário, pode pagar pelo transporte? (

Pesqui sador: Local e data:

)Sim ( )Sim ( )Sim (

)Não )Não )Não

(


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