Jornal SER ABRIGO- Março 2020

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SERABRIGO Orgão Informativo da Comunidade Vida e Paz

Edição Trimestral Março 2020 Diretora Renata Alves Ano XXII, n.º96 Reg.º ERC n.º 119 741 Dep. Legal n.º 239 890/06 Preço de assinatura: Gratuito

Não fique indiferente, Dê a mão a quem mais precisa! (pág. 7)

Espaço Aberto ao Diálogo

Centro de Fátima

Centro da Quinta do Espírito Santo

• Recordando com carinho Tarsília Barreto • “Sê hoje melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje” (pág. 3)

• Espírito Nazareno no Carnaval de Fátima • “Mudar” (Poema) (pág. 4)

• Cozinhar novas oportunidades • QES de Lés-a-Lés (pág. 6)


2 Editorial

SER ABRIGO

Um Novo Desafio Renata Alves Diretora-Geral da Comunidade Vida e Paz

um enorme reconhecimento, gratidão e interiorizei este novo desafio como uma grande mudança e um novo papel na família, definitivamente muito responsabilizador e, por conseguinte, algo inquietante.

Aceitei o desafio, partindo da convicção de que o realizaria para e com as pessoas, assumindo como principal objetivo considerar cada uma como única, respeitando a sua história de vida, indo ao encontro das suas expetativas, considerando as suas potencialidades e permitindo a melhoria da sua vida, acompanhando as transformações da sociedade e as suas respetivas implicações.

Conheci a Comunidade Vida e Paz no ano 2000. O interesse e vontade em ajudar as pessoas mais vulneráveis e excluídas tinha marcado a minha vida académica até então. Estabeleci contacto com o Centro de Fátima e disponibilizei-me para colaborar no âmbito das minhas habilitações académicas, enquanto psicóloga clínica recém-formada. Apreendi a missão da instituição e fui criando ligações com todas as pessoas que ajudei direta e indiretamente no exercício das funções que fui desempenhando ao longo dos anos. Pautei pela moderação e pela ética as minhas decisões, desenhei estratégias e desenvolvi ações com a convicção de que enquanto pessoa, profissional e “Comunidade”, me competia acrescentar e proporcionar projetos que dignificam e orientam a reconstrução de sentidos de vida. Os nossos valores fundacionais e as vivências diárias, riquíssimas e por vezes dolorosas, contribuíram para o meu crescimento e desenvolvimento. Ao longo dos anos, fui contatando e, simultaneamente, sendo permeável ao imenso potencial de todas as pessoas com quem interagi, dos que servem, aos beneficiários da intervenção, e a gratidão que sinto é imensurável. Fui reforçando em mim o desejo de acrescentar e fazer a diferença todos os dias na vida das pessoas que apoiamos. A Comunidade Vida e Paz é uma família e passou a ser a minha família. Nos últimos tempos, grandes foram os desafios que ultrapassei e quando fui convidada para Diretora-Geral, senti

Ao nível técnico, a realidade obriga-nos diariamente a re-pensar e re-definir a nossa intervenção integrada, desejavelmente emancipatória e inclusiva, assente na multi, inter e transdisciplinaridade e, no plano da gestão, encontrar formas inovadoras e sustentáveis na decisão, enfatizando a qualidade dos serviços prestados e estabelecendo um posicionamento alinhado com os eixos estratégicos da Instituição, revestidos pela dimensão dos valores da Doutrina Social da Igreja, dos quais emanam a nossa Missão e Visão. Trata-se de uma tarefa complexa e assumo, desde já, que o desafio só será superado e consolidado em “Comunidade”, com todos os quantos abraçam a nossa causa, voluntários, profissionais, benfeitores, amigos e parceiros. A bem da Comunidade Vida e Paz, a bem das Pessoas em situação de sem abrigo!


Espaço Aberto ao Diálogo 3

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Espaço Aberto ao Diálogo Lúcia Jaulino

Recordando com carinho Tarsília Barreto Quatro anos se passaram desde o falecimento da nossa colega e amiga Tarsília Barreto. O Espaço Aberto ao Dialogo celebrou uma eucaristia em sua homenagem no passado dia 3 de março. Apesar da Tarsília continuar a ser relembrada em vários momentos do nosso dia-a-dia, tanto ao nível da nossa intervenção como da história do EAD nos seus mais de 20 anos de entrega profissional, nesta eucaristia foi recordada com ainda mais carinho. A Comunidade Vida e Paz era a sua família, muitos utentes que recorrem novamente ao EAD falam da importância que a Tarsília teve nos seus processos e de como era uma referência para todos. Muito obrigado Tarsília!

A intervenção em dois espaços distintos O ano de 2019 foi marcado por um aumento significativo ao nível dos acompanhamentos e intervenção de rua nos concelhos de Loures e Amadora. Nesta época do ano, aquando da realização dos relatórios de atividades, pudemos efetivamente perceber o quão importante foi a nossa intervenção nestas duas áreas geográficas.

Em Loures, mensalmente foram acompanhados uma média de 73 utentes. Importa destacar que a Comunidade Vida e Paz é a única instituição a intervir como equipa de Rua no território. Quando falamos de acompanhamento, falamos de um acompanhamento presencial a todo o tipo de consultas, atendimentos, exames, entre outros, sempre questões ou passos importantes no processo de mudança de cada pessoa. Para além deste acompanhamento prestado, o técnico responsável percorre e monitoriza semanalmente todos os pontos onde sabe que existem pessoas em situação de grave vulnerabilidade. Na Amadora mensalmente foram acompanhados uma média de 127 utentes. Estes acompanhamentos são prestados tanto no nosso espaço Físico (Espaço Aberto ao Diálogo na Amadora), como diretamente na rua ou na Unidade Móvel. No ano de 2018, a relação entre utentes e Comunidade Vida e Paz ainda estava em construção e os frutos foram, sem dúvida, recolhidos no ano de 2019. É prestado também, tal como em Loures, um acompanhamento a vários níveis, sempre no sentido de apoiar cada indivíduo no seu processo de mudança. Nestes dois territórios de intervenção pudemos ainda verificar que a população apoiada tem problemáticas muito distintas. Na Amadora encontrámos uma população mais ligada a problemas de toxicodependência e em Loures mais relacionada com outras carências, maioritariamente carências económicas.

“Sê hoje melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje” O meu nome é Marta e tenho 21 anos. Desde janeiro deste ano que, posso afirmar com grande alegria, sou licenciada em Serviço Social. No âmbito da Licenciatura realizei o meu estágio curricular (fevereiro de 2018 a outubro de

2019) na Comunidade Vida e Paz, mais concretamente, no Espaço Aberto ao Diálogo. No início, confrontei-me com uma realidade que até então me era desconhecida. Uma realidade complexa e que exigia um grande suporte emocional. Com o tempo, percebi que muitas vezes o mais importante é tentarmos compreender a história de vida da pessoa, compreender em que sistemas se encontra inserido e de que forma é que estes têm influência sobre si e no seu quotidiano. Para além de me ter dado as bases para a construção da minha identidade profissional, o estágio possibilitou-me um crescimento interior, um amadurecimento das ideias e da forma como eu própria passei a “olhar” a realidade. Sem dúvida que foi uma experiência muito marcante e que me fez crescer e ter a certeza absoluta de que o Serviço Social é a minha causa. Concluindo, gostaria de partilhar algo convosco, algo muito importante, “Afinal de contas, quem somos nós para dizer basta a alguém que apenas precisa de uma oportunidade?” Esta foi sem sombra de dúvida uma aprendizagem bastante importante, o saber respeitar o tempo da pessoa e perceber que nem todos somos iguais e que muitas vezes precisamos de inúmeras oportunidades para que, verdadeiramente, a nossa vida ganhe um outro sentido. Quantos sentidos terá a nossa vida? Respeito e Tolerância, palavras-chave que nos ensinam a ser pessoas mais compreensivas. Terminando, deixo uma frase que, por sinal, levo sempre comigo, lembrando-me sempre que a vida é uma constante aprendizagem e que devemos estar abertos à mudança e não ter medo de errar, errar faz parte da vida e até dos erros é possível retirar algo de bom, como afirmou Robert Baden-Powell, “Sê hoje melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje”. Marta Laranjo, ex-estagiária e atual voluntária do Espaço Aberto ao Diálogo


4 Centros

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Centro de Fátima Jully Pereira

Espírito Nazareno no Carnaval de Fátima A folia do Carnaval voltou uma vez mais a Fátima e contou com a tradicional participação do Centro de Fátima, da Comunidade Vida e Paz, para animar as ruas da cidade e tornar este evento ainda mais mágico. Este ano, fomos presenteados com o tema do Desporto e, com base na extraordinária criatividade da Formadora do Artesanato Susana Santiago, decidimos fazer-nos representar – técnicos e utentes - com o tema “Nazaré” (surfistas, marinheiros, peixeiras, pescadores, elementos do mar, entre outros). Fruto do esforço e dedicação da formadora e utentes da oficina de artesanato, causámos sensações vibrantes a quem nos via desfiliar, envolvendo os espetadores no espírito Nazareno. Foram momentos de muita diversão, onde a convivência, a celebração e o relacionamento foram os ingredientes principais, e onde a palavra de ordem foi (con)viver.

como muitas vezes modificados, estamos a potenciar um futuro mais seguro aos nossos utentes.

Guida Guerra, nova Diretora do Centro de Fátima Em virtude da saída da Dra. Renata Alves para funções de Diretora-Geral da Comunidade Vida e Paz, a Direção, assente na análise da experiência e qualidades profissionais e pessoais, convidou a Dra. Guida Guerra, Coordenadora Terapêutica, a assumir a função da Direção do Centro de Fátima, tendo sido por ela aceite este cargo de extrema responsabilidade e exigência. Guida Guerra iniciou funções de Diretora de Centro de Fátima no passado mês de fevereiro. Segundo as suas palavras refere que “foi com alguma inquietude por um lado e satisfação por outro que aceitei o que considero ser um grande desafio e responsabilidade. E tem sido, até mais do que aquilo que conseguia imaginar. Estou de corpo e alma neste cargo, dedicada à missão, aos valores da comunidade, procurando sempre dar o melhor em prol dos utentes e equipa, tendo sempre presente a convicção de que “Somos Comunidade”, e grata pelos desafios constantes!”. Desejamos que este novo desafio seja aproveitado de forma criativa e se transforme em novas oportunidades, potenciando crescimento e motivação em prol do valores e missão da Comunidade.

Mudar

Investir no conhecimento - Programa QUALIFICA Aprender é algo fundamental na vida das pessoas, é um processo contínuo que comporta diversos benefícios quer pessoais quer profissionais. Foi a pensar nestes benefícios que o Centro de Fátima se associou ao Programa Qualifica, como forma de empoderar os utentes que aceitaram fazer parte deste desafio. Consideramos que este projeto terá, a médio-longo prazo, um papel central na inclusão social dos nossos utentes pois o ser humano precisa não só de saber ser, saber estar e saber fazer mas, principalmente, saber fazer-se oportunidade num mercado cada vez mais competitivo e estimulante. Este é um programa vocacionado para a qualificação de adultos que tem por objetivo melhorar os níveis de educação e formação. Acreditamos que, sendo a aprendizagem um processo de desenvolvimento pessoal onde competências, habilidades e valores são não só conquistados

Depressão, obsessão, excessos, Álcool, droga, dinheiro. Vida doentia! Mente obsessiva, perdida, destruída. Agora vem a sobriedade, Dolorosa sobriedade! Culpa, vergonha, tristeza, Solidão, magoa, dor, medo. Meu Deus tanto medo. Vem mudança Aceitação Renascimento Reconstrução. Mudarei? Sim Mundo mudarei! Pobre mente amaldiçoada, Que de pobre espírito E sem controlo, Chegará ao seu rumo. Amo-te Mundo. Poema de Hugo Conceição, atual utente do Centro.


Centros 5

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Centro da Quinta da Tomada Filomena Gomes

Uma viagem pelo corpo e a mente No dia 17 de fevereiro realizou-se mais uma sessão de meditação com os utentes no Centro da Tomada, com a colaboração valiosa de Giovana Cunha, voluntária da Comunidade e profissional de técnicas de ioga, meditação e mindfulness. Estas sessões de meditação permitiram aos utentes aprender a controlar a sua respiração e energia, sem se mexerem. Estas estratégias são agora ainda mais valiosas, no contexto de isolamento e confinamento em que nos encontramos nestes dias, permitindo gerir melhor o stress e as restrições ao nível da mobilidade. Sentados numa cadeira, os utentes fizeram também um exercício de relaxamento guiado que consiste em levar a pessoa a ter um maior autoconhecimento e consciência do seu corpo. Começando por fechar os olhos e focar os sentidos nos pés, depois nos músculos, nos ossos, e assim progressivamente até passar por todo o corpo, de forma a relaxar conscientemente cada parte do corpo ao comando da Giovana. Este processo permite um estado alerta para estar presente na sua vida, em vez de ter a mente focada no passado ou no futuro. Foi um momento vivido e usufruído por cada um dos utentes, com benefícios para o seu bem-estar e paz de espírito.

Durante este processo, os utentes foram também levados numa “viagem espiritual”, onde cada pessoa pensou numa praia ou outro lugar que considere bonito e agradável, e nesse lugar, os utentes visualizaram o objetivo que querem atingir na vida. Ao visualizar esse objetivo, imaginam e agradecem, como se já o tivesse alcançado (mesmo antes de o receber), promovendo assim o poder da gratidão e da atração. Houve espaço também para uma meditação com mantra, que pode ser um som para o qual as atenções se viram. O objetivo é parar ou diminuir as ondas mentais e conseguir ter mais alegria, paz e saúde na vivência do dia a dia. O resultado final foi de grande satisfação e bem-estar por parte dos utentes.


6 A Comunidade

SER ABRIGO

Centro da Quinta do Espírito Santo Bianca Emiliano

Cozinhar novas oportunidades No passado dia 4 de janeiro deu-se início a um workshop de culinária, no Apartamento de Torres Vedras. A ideia partiu de um Benfeitor do Centro da Quinta do Espírito Santo, Douglas, cuja sua formação é na área da cozinha, sendo que é ele que está a ministrar estes workshops. O objetivo é dotar os residentes para a elaboração de pratos simples para o seu dia-a-dia, desenvolvendo competências para que possam ser aplicadas futuramente. Os residentes têm aprendido noções básicas de preparação e manuseamento de alimentos, bem como confeção dos diversos tipos de ingredientes. “Estamos a aprender a fazer comida étnica, bolos, saladas, sopas... É importante porque futuramente quando formos para as nossas casas estamos aptos para cozinhar, ou para abrir um mini-negócio, quem sabe?” A ideia foi muito bem acolhida pelo grupo que demonstrou empenho e interesse, sendo que contam já com 6 sessões das 10 previstas. O nosso bem-haja ao Douglas por nos trazer atividades tão enriquecedoras.

3 anos a acolher utentes no Apartamento de Torres Vedras No dia 11 de Fevereiro celebrou-se o 3.º aniversário Aniversário do Apartamento de Torres Vedras. Neste momento, o Apartamento apoia 7 residentes todos eles integrados em formação profissional. A celebração contou com a presença do Presidente da Comunidade Vida e Paz, Horácio Félix, o Diretor do Centro da Quinta do Espírito Santo, José Alfredo Martins, a responsável pela unidade, Carla Garra, e ainda os restantes colaboradores da QES. Foi uma tarde de alegria ao celebrar o terceiro ano de acolhimento de utentes, neste apartamento. Os utentes residentes tiveram a oportunidade de pôr em prática os conhecimentos adquiridos com os workshops de culinária, tendo preparado um delicioso lanche para todos os presentes..

QES de Lés-a-Lés A QES iniciou o ano com uma nova dinâmica sociocultural, “QES de lés-a-lés” que visa promover e celebrar a cultura através da partilha das vivências dos nossos utentes e colaboradores, privilegiando as suas origens. Os principais promotores da dinâmica são os utentes através da comissão de utentes, e será celebrada uma região diferente todos os meses. Ações como estas fomentam a aquisição de conhecimento e geram envolvimento dos utentes com a comunidade e os costumes locais. O objetivo é celebrarmos as nossas origens e raízes, partilhando e alimentando a cultura tanto dos colaboradores como dos utentes. Estão previstas partilhas de grupo, com a confeção de refeições típicas da região do mês. O ponto de partida como não podia deixar de ser, será a Sapataria.


SER ABRIGO

A Comunidade 7

CA(u)SA de Vida e Paz Tânia Antunes

“Não fique indiferente, Dê a mão a quem mais precisa.”

Estratégia Nacional para a Pessoa em situação de sem-abrigo e da CML, desenvolvem atividades neste domínio.

A Campanha de Consignação de IRS deste ano, “Não fique indiferente, dê a mão a quem mais precisa”, desenvolvida pela Comunidade Vida e Paz em colaboração com dois benfeitores, apela ao apoio de todos para a reconstrução de sentidos de vida. Numa altura em que enfrentamos circunstâncias atípicas e particularmente difíceis, resultado da pandemia Covid-19, é agora, mais do que nunca, necessário chamar à atenção para a importância do ato de cuidar dos outros e manter o espírito de solidariedade vivo para garantir que quem mais precisa não é esquecido e continua a ter apoio nas suas necessidades. A Campanha de Consignação de IRS procura, assim, sensibilizar a população para a importância do apoio às pessoas que se encontram em situação de sem-abrigo, pedindo a todos os portugueses que deem a mão a quem se encontra nesta condição, contribuindo para a reconstrução dos seus sentidos de vida. Graças à consignação do IRS referente ao ano de 2018, a Comunidade Vida e Paz beneficiou este ano de 50.570,35€, valor que será agora aplicado no reforço das condições de atuação dos voluntários e da intervenção imediata, através das Equipas de Rua e primeiro atendimento. A Rua não é um beco sem saída e para que possamos continuar a mudar vidas, a sua ajuda é fundamental! Ao preencher o seu IRS lembre-se da Comunidade. Assinale com um X no campo 1101 e escreva o NIPC 502 310 421 no quadro 11 do modelo 3. Dessa forma, 0,5% do seu IRS será entregue à Comunidade Vida e Paz, sem qualquer custo para si e estará a dar a mão a quem mais precisa.

O princípio orientador da ação a desenvolver – definido nas orientações internas já adotadas – é tudo fazer para manter os cuidados e apoios que se encontram em funcionamento para garantir o apoio às pessoas em situação de sem-abrigo. Tal não impede que tenham de ser adotadas medidas que diminuem a capacidade de intervenção dos serviços. Tal é o caso dos Centros de Tratamento e Reabilitação de Fátima, Tomada e Sapataria onde as novas admissões estão sujeitas ao critério da prudência e da segurança dos utentes e dos colaboradores. O mesmo tipo de limitações, poderão vir a ser adotadas noutros serviços, mas com a preocupação de manter o seu funcionamento ou oferecer alternativa dentro das contingências de um País em estado de alerta. “Reconstruindo Sentidos de Vida”

Juntos vamos vencer o Covid-19 As consequências que a difusão do vírus causador da COVID-19 pode causar na população que recorre aos serviços e apoios dispensados pela Comunidade afigura-se, particularmente, grave em virtude das condições sociais e de saúde desta população. Por outro lado, as limitações impostas, na sequência das determinações do Governo da República, aos colaboradores e voluntários da instituição, com vista à contenção da difusão do vírus, vem limitar a capacidade de resposta da Comunidade – quer relativamente aos atuais beneficiários dos serviços (residenciais ou ambulatórios) quer dos que, a partir de agora venham a solicitar apoio. A Direção da Comunidade Vida e Paz mantém-se atenta, em permanência, ao evoluir da situação, tentando encontrar solução, tão rápida quanto possível, para as dificuldades que se vêm colocando ao funcionamento dos serviços, emanando orientações internas que complementem as orientações da DGS e articulando-se com as demais instituições que, no âmbito da

Reconhecimento e agradecimento aos Benfeitores da Comunidade Vida e Paz A campanha lançada neste mês de março nas redes sociais e o apelo dirigido ao Sr. Cardeal Patriarca, a um número restrito de entidades e a cerca de um milhar de benfeitores habituais da Comunidade (particulares e empresas), desencadearam um movimento de solidariedade que em muito superou as expetativas da Direção da Comunidade Vida e Paz. As largas centenas de ofertas recebidas pelas diversas vias — em artigos de proteção individual e limpeza, em géneros alimentares e em donativos monetários — contribuíram decisivamente para atingir o objetivo definido pela Direção da CVP para responder à situação criada pela pandemia da COVID 19: manter em funcionamento todos os serviços e apoios dispensados pela Comunidade às pessoas em situação de sem abrigo ou de exclusão social. As “Voltas da Noite” não só foram mantidas, como aumentaram o número de refeições para responder ao crescimento do número de pessoas que recorrem às equipas de voluntários que diariamente asseguram a sua distribuição. Nas Comunidades Terapêuticas e de Reinserção continua o processo de reabilitação de aproximadamente 200 utentes e graças a ajuda de todos foi possível continuarmos a cumprir o nosso trabalho de forma segura. A Direção da CVP manifesta o seu profundo reconhecimento a todos os benfeitores da Comunidade, pela Confiança que nela continuam a depositar, e agradece a enorme generosidade dos contributos com que cada um entendeu responder ao apelo que, na actual crise, se permitiu dirigir-lhes. A solidariedade que a vossa resposta traduz constitui um estímulo adicional para reforçar o empenho que esta Direção, e todos os colaboradores e voluntários, vêm colocando na resposta ao desafio que a pandemia constitui. A todos o nosso bem hajam por nos ajudarem a Reconstruir Sentidos de Vida.


SER ABRIGO

Voluntariado Nuno Fraga

“Faço voltas da Comunidade Vida e Paz há mais duma dúzia de anos. Já tive voltas muito “duras” com situações complicadas mas, mesmo nessas voltas havia a seguir momentos que nos davam ânimo. Já me deparei com chegar a um local e estar a chegar o INEM e dizerem a pessoa faleceu. Aquela pessoa, aquele AMIGO com quem 15 dias antes tínhamos estado a falar do Sporting, do Benfica, do Porto ou de outro clube qualquer, ou de qualquer outro tema. É muito duro a morte duma pessoa/ dum amigo mas, a seguir temos de nos recompor pois no ponto a seguir da volta temos uma pessoa a quem temos de dar ânimo para o seu processo de mudança de vida. Ontem, paragem após paragem, os momentos eram sempre complicados. Até há uma semana havia várias instituições na rua apoiando as Pessoas em Situação de Sem Abrigo. Neste momento apenas ficou a Comunidade Vida e Paz. Simultaneamente, a generosidade dos restaurantes e cafés ou, das próprias pessoas que acabavam por dar algo às Pessoas (importante reforçar que são Pessoas como todos nós) levava a que as pessoas acabavam por ir tendo, ao longo do dia, algo para comer. Simultaneamente, com os carros que iam arrumando recebiam algum dinheiro que permitia comprarem alguma comida (por favor peço que não generalizem que andam a arrumar carros e vão gastar em vinho ou droga. Claro que há pessoas que o fazem mas, uma elevada percentagem vai arrumar carros para depois poderem ter aquilo que todos nós damos como adquirido: ir comprar um pão e algo para colocar no mesmo). Posso dizer-Vos que na zona do Oriente onde teríamos cerca de 20 pessoas, ontem tínhamos 60 pessoas. Em Santa Apolónia onde antes teríamos 15 a 20 pessoas ontem foram seguramente mais de 40 pessoas. A volta que vai ao Saldanha onde geralmente tem 30 pessoas, ontem tinha 90 pessoas. Uma outra volta teve de deixar vários pontos por fazer pois não tinha mais refeições. A nossa volta acabou no Rossio (ponto que não é da nossa volta, mas que fomos pois a volta que iria já não conseguiu ir por falta de refeições). - nota: todas as voltas levaram muito mais refeições/ceias do que normalmente levamos e não chegaram para todos....

Vai Acontecer

17 de abril Aniversário do Apartamento da Parede 12 de maio Aniversário do Centro Moimento de Fátima 15 de junho Aniversário do Apartamento Partilhado da Damaia

Eram dezenas de pessoas. A emoção do momento e o que vivemos não me permite dizer ao certo quantas pessoas seriam. Mas seguramente mais de 40 pessoas. Vimos pessoas a correrem em desespero na direcção da carrinha. Tivemos de pegar naquilo que seria o “kit” para uma pessoa e dividir em 3 para tentar chegar a todos. Pelo menos tentar que todos levassem algo. Orgulhamonos de termos feito esta divisão? Claro que não, pois o que queríamos era poder dar um kit integral a todas as pessoas. Mas, naquele momento a ideia foi conseguir dar algo a cada pessoa. O que vimos ontem em Lisboa foi FOME. E esta situação ainda só começou há meia dúzia de dias. Vi também outras quatro coisas: CIVISMO: no geral um grande civismo das pessoas pois, mesmo nos pontos de maior aglomeração, as coisas decorreram com serenidade e sempre procurando respeitar as distâncias que todos os dias ouvimos; SOLIDARIEDADE - entre as pessoas uma grande solidariedade e partilha; GRATIDÃO - as pessoas que são geralmente gratas ontem ainda mais gratas estavam; DESESPERO - várias vezes ouvimos por favor não nos abandonem. Continuem a vir. Só já estão vocês a vir ter connosco. Esta frase, não nos abandonem, não me sai da cabeça Não nos esqueçamos que as PESSOAS em situação de Sem Abrigo não podem ficar recolhidas em casa, não podem encher a despensa de tudo (incluindo o famoso papel higiénico), não possuem facilidade de acesso ao álcool gel, máscaras, luvas e afins. Peço que nesta fase em que todos estamos focados em minimizar o impacto que este COVID-19 venha a ter, não nos esquecemos também daquelas Pessoas em Situação de Sem Abrigo. Para não serem apenas mensagens negativas, deixo uma mensagem positiva: os portugueses estão a ser muito respeitadores das regras implementadas. Ontem, entre as 20h30 e a 01h, enquanto fizemos volta, no máximo cruzámo-nos com 20 carros. Vamos juntos vencer o COVID-19 e peço-Vos para não se esquecerem das PESSOAS em situação de Sem Abrigo.” Nuno Fraga, voluntário da Comunidade Vida e Paz.

Necessidades Bens alimentares: - Leite, Fiambre, Queijo, Chouriço, Compotas, Enlatados Produtos de higiene pessoal: -Pasta de dentes, Champô, Gel de banho Outros: - Roupa interior masculina, Lixívia, Máscaras de proteção (ou acrílicos) Gel desinfetante, Álcool etílico.

Ficha Técnica Diretora: Renata Alves Coordenação: Tânia Antunes Equipa redatorial: Tânia Antunes, André Santos, Celestino Cunha, Lúcia Jaulino, Jully Pereira, Bianca Emiliano e Filomena Gomes. Estatuto editorial: O Jornal SER ABRIGO é uma publicação periódica de informação especializada sobre o trabalho da IPSS Comunidade Vida e Paz. O SER ABRIGO rege-se pelos princípios deontológicos dos jornalistas, a ética profissional e é responsável apenas perante os leitores, numa relação rigorosa e transparente. Publicação trimestral: registada no ERC com o n.º 119 741; DL 239890/06 Sede da redação/edição: Rua Domingos Bomtempo, nº 7 1700-142 Lisboa Tiragem: 2.000 exemplares

Propriedade: Comunidade Vida e Paz – NIPC: 502 310 421 Rua Domingos Bomtempo, n.º 7, 1700-142 Lisboa Tel. 218460165 Fax. 218495310 Email: geral@alvalade.cvidaepaz.pt www.cvidaepaz.pt | facebook.com/Comunidade.Vida.e.Paz NIB – Montepio Geral: 0036 0000 9910 5505051 96 Produção gráfica: Formandos de Artes Gráficas Oficinas do Centro da Quinta da Tomada, Lapa - Venda do Pinheiro Papel: oferecido pela Inapa Portugal Design e paginação: Magnésio Design Studio www.magnesio.pt


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