Redes sociais

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CARACTERÍSTICAS E RESULTADOS DE REDES SOCIAIS DE INCUBADORAS DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA DO ESTADO DE SÃO PAULO Nomes das instituições: SEBRAE-SP/UFSCar Linha de pesquisa: Habitats de inovação sustentáveis/parques científicos, tecnológicos e de desenvolvimento regional

Resumo Investir no desenvolvimento de empresas inovadoras tem sido uma estratégia contemporânea adotada por países em busca de aumento de competitividade. Uma das estratégias utilizadas por países para o estímulo da inovação é a implementação de projetos de incubadoras de empresas de base tecnológica (IEBTs). Este trabalho foi realizado com o propósito de identificar e caracterizar as redes formadas pelas instituições com as quais as incubadoras se relacionam, buscando a compreensão dos resultados produzidos por estas redes. Foram identificados noventa atores institucionais em cento e doze egoconexões, o que permitiu concluir que as redes constituídas em torno das IEBTs têm características predominantemente endógenas e particularizadas, constituindo-se redes “semi-fechadas”, com pouca conexão entre si, o que torna lenta sua evolução como grande rede. Para promover a aceleração do crescimento é necessária a aproximação entre os níveis local, estadual, federal e internacional do sistema de inovação. PALAVRAS-CHAVE: incubadora de empresas, empreendedorismo, redes sociais, tecnologia, sistema de inovação.

Abstract To invest in the development of innovative companies has been a strategy contemporary adopted for countries in search of competitiveness increase. One of the strategies used for countries for the stimulation of the innovation is the implementation of technology business incubators (TBIs). This work was carried to identify and to characterize the nets formed for the institutions which the incubators have relations, searching the understanding of the results produced for these nets. Ninety institucional actors in one hundred twelve ego-connections had been identified, what he allowed to conclude that the nets consisting around the TBIs have predominantly endogenous and distinguished characteristics, consisting “half-closed” nets, with little connection between itself, what he becomes slow its evolution as great net. To promote the acceleration of the growth the approach between the levels local, state, federal and international of the innovation system is necessary. KEYWORDS: business incubator, entrepreneurship, social networks, technology, innovation system

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Introdução A importância das pequenas empresas para o desenvolvimento sócio-econômico tem sido cada vez mais reconhecida mundialmente. No Brasil, nação de grandes dimensões continentais e populacionais, podese considerar que as pequenas empresas funcionam como átomos integradores do tecido econômico, promovendo a circulação do capital, a geração de renda e de postos de trabalho, além de significarem possibilidade de melhoria da qualidade de vida de grande parte da população. Por outro lado, constata-se também uma taxa de mortalidade empresarial elevada que reflete a grande volatilidade dos pequenos empreendimentos. Este movimento econômico, criado pelo nascimento e desaparecimento de empresas, produz perdas enormes para o país, tanto de caráter social como financeiro. Surge então um grande desafio para o Brasil: desenvolver maneiras de aumentar a sobrevivência empresarial e, mais além, de potencializar a competitividade das empresas para que possam crescer e prosperar num mundo globalizado. E neste início do século XXI a principal palavra associada à competitividade é inovação. Investir no desenvolvimento de empresas inovadoras tem sido uma estratégia contemporânea adotada por países em busca de aumento de competitividade. Estimular a inovação significa tornar o ambiente de negócios propício ao florescimento da criatividade, da pesquisa aplicada e da transferência de tecnologia. Por outro lado, é a busca da supremacia através do conhecimento, do poder do intelecto e da influência na criação do futuro (ANDRADE, 2009). Portanto, idéias, conhecimento e inovação são palavras de ordem no contexto econômico global, sendo importante a compreensão de que são resultados de processos de aprendizado, interações diversas e experiências acumuladas, influenciados pelos contextos social, político e institucional existentes (LASTRES, CASSIOLATO, 2000, HARGADON, SUTTON, 2000). Empresas inovadoras têm uma relação estreita com tecnologia, especialmente quando o objetivo é ultrapassar a vanguarda em termos de desenvolvimento de novos produtos. Assim, para desenvolver a capacidade de inovação, uma nação deve constituir um arcabouço institucional favorável no sentido de proporcionar condições para a expansão do conhecimento e dos negócios tecnológicos. Esta é uma condição fundamental sem a qual iniciativas públicas ou privadas isoladas tornam-se frágeis. Uma das estratégias utilizadas por países para o estímulo da inovação é a implementação de projetos de Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica (IEBTs), cuja essência é o fortalecimento e viabilização de propostas de negócios inovadores, desde sua concepção e estruturação, até sua integração plena com o mercado. A implementação de uma Incubadora de Empresas de Base Tecnológica geralmente engloba vários atores pertencentes ao sistema de inovação e é uma iniciativa que pode ser originada de diversas maneiras, como por exemplo, através de universidades; instituições governamentais, como prefeituras, secretarias de Estado ou agências de fomento ao desenvolvimento.

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Considerando o contexto apresentado, este artigo apresenta aspectos de estudo de maior amplitude realizado em 2009 com o propósito de caracterizar as redes existentes entre IEBTs e o sistema de inovação, bem como o conjunto de resultados decorrentes proporcionados para as IEBTs e para as empresas de base tecnológica (EBTs) incubadas. A abordagem das redes institucionais é baseada na teoria neo-institucionalista que, ao contrário da teoria clássica, considera a influência de aspectos sociais na economia, configurando-se como uma construção social que aborda a geração de instituições como resultante da interação social entre atores que se confrontam em campos, jogos ou arenas (FLIGSTEIN, 2001). Nessa vertente, a dinâmica econômica não é considerada decorrente somente da oferta e da demanda de mercado, mas de interações sociais e institucionais que estabelecem o comportamento dos mercados. A pesquisa foi desenvolvida através de quatro estudos de casos de incubadoras localizadas em regiões de alta densidade tecnológica e pertencentes à rede de Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica apoiada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo – SEBRAE-SP, entidade que fomenta a inovação e o fortalecimento tecnológico de empreendimentos de pequeno porte no Estado de São Paulo. Para a obtenção dos dados foram realizadas entrevistas com os diretores e gestores das IEBTs, no sentido de identificar as relações institucionais existentes, suas características e resultados gerados. O tratamento dos dados obtidos foi feito a partir de métodos de análise de redes sociais egocêntricas, com vistas à construção de “fotografias” das redes para cada incubadora. Esta pesquisa deverá ser útil para embasar estudos sobre políticas públicas e outras iniciativas voltadas ao desenvolvimento da inovação através de IEBTs. O tema surgiu a partir da constatação da relevância dos investimentos feitos em incubadoras de empresas no Estado de São Paulo e da inexistência de trabalhos similares.

Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica As Empresas de Base Tecnológica, definidas por FERRO e TORKOMIAN (1988, p.44), como sendo aquelas que “dispõem de competência rara ou exclusiva em termos de produtos ou processos, viáveis comercialmente, que incorporam grau elevado de conhecimento científico”, representam um importante segmento para o desenvolvimento da inovação e o investimento em equipamentos e processos de fomento e apoio é fundamental para o estabelecimento de uma dinâmica empresarial diferenciada e competitiva. Mesmo com um ambiente desfavorável, as EBTs brasileiras têm um importante papel no sentido do aproveitamento de oportunidades, geração de inovações e, principalmente, por demonstrarem resultados e, desta forma, serem indutoras de melhorias institucionais, abrindo caminho para que outras empresas surjam em um ambiente propício, característico das economias desenvolvidas. Uma das formas utilizadas para fomentar e apoiar EBTs são as incubadoras de empresas, concebidas para abrigar e desenvolver iniciativas empreendedoras voltadas à tecnologia e inovação.

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Precursores do assunto no Brasil, MEDEIROS, ATAS (1996, p.11), conceituam a incubadora como um “pequeno shopping center empresarial. Projetos que, ao invés de lojas, abrigam micro e pequenas empresas industriais, de serviços ou agrícolas (...) que têm como finalidade básica criar ambientes propícios ao surgimento de novas empresas ou à modernização das já existentes”. Uma incubadora de empresas oferece espaço físico compartilhado, serviços especializados, infra-estrutura e recursos humanos para empreendedores que tenham a intenção de iniciar um novo negócio, o que permite “acelerar o processo de desenvolvimento empresarial, assegurando uma taxa de sucesso nos negócios bem acima das taxas comuns de insucessos” (BERMÚDEZ, 2000, p. 31). Existem diversos tipos de incubadoras de empresas o que permite a seguinte classificação (MEDEIROS, ATAS, 1996): - Incubadora de empresas de base tecnológica ou de primeira geração: abriga empreendimentos resultantes de pesquisa científica, baseados no conhecimento e que aplicam tecnologias específicas. Normalmente são instaladas próximas às universidades, institutos de pesquisa ou escolas técnicas. - Incubadora de empresas de setores tradicionais ou de segunda geração: abriga empreendimentos relacionados aos setores considerados tradicionais da economia e que buscam agregação de valor aos seus produtos ou processos através do incremento em seu nível tecnológico. Apesar de contar com o apoio de instituições de ensino e pesquisa, não é exigência que estejam próximas às entidades científicas. São apoiadas pelo poder público, associações comerciais, industriais e agrícolas. - Incubadora de empresas mista: abriga ao mesmo tempo empreendimentos de base tecnológica e de setores tradicionais. - Incubadora de empresas temática: abriga empreendimentos pertencentes a uma mesma cadeia produtiva. Por exemplo: incubadora cultural ou incubadora de agronegócios. Da mesma forma, com relação às empresas que participam das incubadoras, existe também uma tipologia que permite a seguinte estratificação (ANPROTEC, SEBRAE, 2002): - empresa residente ou incubada: organização que está abrigada em uma incubadora de empresas e recebe apoios técnico, gerencial e financeiro de rede de instituições constituída especialmente para criar e acelerar o desenvolvimento de pequenos negócios. - empresa associada: utiliza a infra-estrutura e os serviços oferecidos pela incubadora, sem ocupar espaço físico, mantendo vínculo formal. Podem ser empresas recém-criadas ou já existentes no mercado. - empresa graduada: organização que passou pelo processo de incubação e alcançou desenvolvimento suficiente para sair da incubadora. As empresas graduadas podem manter vínculo com a incubadora na condição de associada. O investimento em incubadoras no Brasil vem registrando aumentos consideráveis, traduzido na quantidade de projetos em operação. A pesquisa Panorama Nacional ANPROTEC (2006) demonstra essa evolução: de 02 incubadoras existentes em 1988 para as 377 na atualidade. As regiões com o maior número de projetos instalados são Sudeste e Sul, com 127 incubadoras cada uma, seguidas pelo

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Nordeste, com 63, Centro Oeste com 28 e região Norte com 14 incubadoras. Deste universo, 25,6% estão em cidades com mais de um milhão de habitantes e 32,18% em cidades com menos de 100 mil habitantes (ANPROTEC, 2006).

Redes Sociais A área das Ciências Sociais foi uma das que ofereceu grande contribuição para a construção da base conceitual neo-institucionalista. Especificamente a chamada Nova Sociologia Econômica – NSE, busca a integração das teorias econômicas e sociológicas, produzindo veementes críticas à teoria neoclássica. O princípio da NSE é de que economia e sociedade são mutuamente associadas, ou enraizadas. Desta maneira, baseadas no princípio de enraizamento, ou cristalização, as redes de organizações funcionam com uma lógica de intercambio diferente da lógica de mercados - atomizada e racional, e proporcionam uma estrutura que exerce influência sobre o desempenho econômico. Torna-se notório então que a presença de reciprocidade e de confiança mútua entre os atores é fundamental em uma rede. Segundo SMOLKA (2006, p.17), “quando se analisam as organizações como redes sociais, deve-se concentrar esforços para entender como ocorrem as trocas de informações, o porquê dos agentes estarem ligados uns com os outros, como ocorrem os benefícios para cada agente, a disseminação de informações pela rede formada e qual a força das ligações. Deve-se estar atento para a reciprocidade entre os agentes, a confiança mútua estabelecida e o tempo que a ligação existe”. Uma rede é composta por uma gama de relações entre atores – organizações ou indivíduos, que podem ser de diversos tipos ou intensidades (POWELL, SMITH-DOERR, 1994). Redes existem quando indivíduos estão comprometidos, de maneira formal ou informal, em relações recíprocas, mutuamente apoiadas, num ambiente de confiança e com propósitos compartilhados, não envolvendo posturas comumente praticadas no mercado, paternalismo familiar ou hierarquias. A atuação em redes proporciona trocas de conhecimento e condições para rápido atendimento a demandas diversas (POWELL, 1990). Por sua vez, POWELL, SMITH-DOERR (1994) apresentam uma tipologia classificando as redes como de acesso e oportunidade, de poder e influência e também de produção. As redes de poder e influência partem da premissa da existência de uma estrutura de relacionamentos construída a partir de posições de poder. Nas redes de acesso e oportunidades a estrutura das relações sociais modela o fluxo de informações e permite a identificação e o aproveitamento de oportunidades. Em outras palavras, esse tipo de rede faz com que ofertas encontrem demandas, e vice-versa. Ilustrações desse conceito dizem respeito à obtenção de um emprego no mercado de trabalho ou à propagação de inovações e pressupõem a existência da difusão das informações através de laços informais entre indivíduos. GRANOVETTER (1973) demonstra o funcionamento desse tipo de rede, na qual a informação trafega por conexões entre indivíduos que interagem eventualmente (os chamados laços fracos), conseguindo assim superar as fronteiras dos relacionamentos próximos e alcançar núcleos heterófilos de indivíduos. Daí a

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importância dos laços fracos no processo de difusão (ROGERS,1995). À proposição dos laços fracos deve ser também inserida a definição de buracos estruturais, que expressa a separação existente entre contatos não redundantes (BURT, 1995). “O buraco estrutural é uma brecha ou lacuna que se forma entre dois atores (individuais ou coletivos, situados em grupos sociais ou redes distintas, sem conexão entre si, que detêm recursos complementares” (VALE e outros, 2008. p.4). O ator que conseguir atravessar o buraco estrutural e desenvolver uma conexão estabelece vantagens no acesso à informações, recursos e oportunidades em relação a outros. Por sua vez, as redes de produção abrangem relações colaborativas entre empresas, que têm a confiança como princípio central. Como exemplos de redes de produção podem ser citados os distritos industriais, compostos por unidades descentralizadas, que criam laços entre si, compartilham valores e cooperam numa atmosfera produtiva; as redes de pesquisa e desenvolvimento, nas quais as organizações unem-se com propósitos comuns de desenvolvimento de tecnologias e intercâmbios diversos, tendo normalmente a inovação como pano de fundo; os grupos de negócios, nos quais existe uma identidade e objetivos comuns entre as empresas participantes e as alianças estratégicas, que definem políticas de relações entre firmas autônomas, o que permite que sejam mais competitivas do que outras não aliadas. As pesquisas sobre redes também levam em consideração análises quantitativas de dimensões, como por exemplo, densidade, freqüência e distância entre ligações. A densidade aumenta quanto maior é o número de ligações existentes. Por sua vez a distância considera a proximidade das comunicações. Assim, laços fracos apresentam baixa proximidade de comunicação, uma vez que conectam indivíduos que não compartilham as mesmas ligações com outros indivíduos (ROGERS, 1995). Nesses casos é possível ocorrer difusão de informações, porém sem a robustez da comunicação próxima. Já a freqüência considera a quantidade de contatos entre os indivíduos em um período de tempo. Alta freqüência nas estruturas relacionais significa fortalecimento das relações de confiança e do capital social.

Metodologia Ao discorrer sobre métodos voltados para o estudo das ciências sociais, SCOTT (2000) considera que os dados são envoltos em símbolos e valores culturais e, desta forma, constituídos por significados, motivações, definições e tipologias. Isso significa que a pesquisa em ciências sociais está relacionada a um processo de interpretação e o pesquisador deve utilizar o método de análise apropriado aos dados produzidos, de forma a permitir uma leitura interpretativa. Os principais tipos de dados são os de atributo e os relacionais. Os dados de atributo revelam as atitudes, comportamentos e opiniões dos atores e podem ser coletados através de entrevistas ou surveys e analisados através de procedimentos estatísticos. Os métodos relacionados aos dados de atributo são aqueles que utilizam a análise de variáveis.

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Já os dados relacionais correspondem aos contatos, ligações e conexões que relacionam um ator com outros. As relações não são propriedades de atores, mas de sistemas de atores. Os métodos utilizados neste tipo de estudo são inseridos no contexto da análise de redes sociais, que consiste num conjunto de abordagens qualitativas em uma estrutura de rede, abrangendo também aspectos quantitativos e estatísticos. Os dados relacionais enfatizam a investigação da estrutura da ação social que, por sua vez, é construída a partir das relações. Entre os anos trinta e setenta do século XX, antropólogos e sociólogos inseriram ao escopo de estrutura da ação social as metáforas da teia, ou web, e da fábrica, e então surgiram conceitos como densidade e textura das redes sociais (SCOTT, 2000). Por sua vez, WASSERMAN, FAUST (1994) argumentam que a escolha do método para a análise de uma rede social deve ser realizada em decorrência de quais variáveis se deseja medir e qual a melhor técnica para essa mensuração. A natureza do estudo determina também a quantidade de atores a serem pesquisados, podendo ser o universo ou uma amostra. Os autores definem dois tipos de variáveis associadas a uma rede, as estruturais e as de composição. As variáveis estruturais são mensurações características de pares de atores, por exemplo, amizade entre pessoas e as variáveis de composição referem-se aos atributos dos indivíduos, por exemplo, localização geográfica da residência. Nesta pesquisa, o campo estabelecido para o desenvolvimento do estudo de caso é constituído por IEBTs instaladas em localidades caracterizadas por vocação tecnológica no Estado de São Paulo, expressa por um sistema local de inovação relevante e identificado pela presença de universidades, institutos de pesquisa e empresas de base tecnológica. A opção pela realização do estudo no Estado de São Paulo deveu-se a sua posição econômica destacada no cenário brasileiro e também por concentrar a maior densidade de incubadoras do país. Neste âmbito, as IEBTs foram selecionadas pelos seguintes critérios: 1) tempo de operação superior a dez anos. Este critério tem o objetivo de possibilitar a captação do enraizamento social da IEBT desenvolvido ao longo do tempo e por conseqüência, expressar o “estado da arte, o amadurecimento, as melhores práticas” dos relacionamentos institucionais estabelecidos. Este critério tem por premissa que dez anos de operação seja tempo suficiente para a consolidação das redes de atores das IEBTs; 2) IEBTs multisetoriais que participem do Programa SEBRAE-SP de Incubadoras de Empresas. Este critério visa a uniformização de compreensões conceituais e metodologias utilizadas nos projetos analisados. Neste escopo de prospecção de dados, a opção metodológica feita foi pela pesquisa qualitativa utilizando o método de estudo de caso, com a aplicação de entrevista presencial semi-estruturada junto às pessoas-chave das IEBTs que atenderam aos critérios definidos. Especificamente sobre os resultados que poderiam ser proporcionados por um determinado relacionamento institucional, foi estabelecido o seguinte conjunto (quadro 1):

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Resultados Aporte de recursos

Detalhamento Ator aporta recursos financeiros na IEBT

financeiros Aporte de recursos

Ator aporta recursos econômicos na IEBT

econômicos Incremento da imagem

Imagem institucional da IEBT perante a sociedade é

institucional

melhorada em decorrência da associação o ator (associação

Apoio aos incubados – tecnologia Apoio aos incubados –

de marcas) Ator apoia EBTs incubadas em assuntos referentes a tecnologia (cursos, orientações, consultorias etc) Ator apoia EBTs incubadas em assuntos referentes a gestão

gestão Apoio aos incubados – acesso a mercados

de negócios (cursos, orientações, consultorias etc) Ator apoia EBTs incubadas para obtenção de novos clientes

Apoio aos incubados – acesso ao crédito

Ator apóia EBTs incubadas para obtenção de recursos

Apoio aos incubados –

Ator apóia EBTs incubadas para contatos com investidores de

acesso a investidores Apoio aos incubados – recursos humanos

risco Ator apóia EBTs incubadas para identificação e contratação de

Apoio aos incubados –

Ator apóia EBTs incubadas para redução ou obtenção de

isenção de impostos e

melhores condições relacionadas a impostos e tributos

tributos Novas oportunidades em

Ator proporciona novas possibilidades em projetos para a IEBT

projetos para a IEBT Contato com interessados em criar negócios

(feiras, rodadas de negócios, missões comerciais etc) financeiros

recursos humanos especializados

Ator proporciona o contato de empreendedores com a IEBT

Contato com interessados em participar da incubadora

Ator proporciona o contato de empreendedores interessados

Contato com outras instituições

Ator proporciona o contato da IEBT com outras instituições

Intercâmbio de conhecimento Apoio operacional Fortalecimento institucional

em estabelecer negócios na IEBT com as quais ela tenha interesses institucionais Ator e IEBT estabelecem trocas de conhecimento que resultam em aprendizado (processo de gestão de IEBTs, técnicas específicas etc) Ator realiza atividades operacionais para a IEBT Atuação da IEBT no ambiente institucional torna-se fortalecida

em decorrência de relacionamento com o ator Divulgação da incubadora Ações da IEBT são difundidas através do ator Outros Eventuais benefícios proporcionados pelo ator e não previstos QUADRO 1: Desdobramento dos resultados estudados

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Apresentação dos dados Considerando as quatro IEBTs estudadas, foram mapeadas cento e doze ego-conexões que perfazem o universo de noventa atores institucionais, dentre entidades de fomento, entidades de conhecimento, universidades, empresas privadas, fundos de investimento, entidades de apoio técnico, entidades setoriais, empresas de eventos e escolas técnicas. Nota-se a variação na intensidade de participação dos atores nas quatro redes estudadas. Considerandose um indicador de participação em redes e uma escala estruturada em participações plena, parcial (duas ou três redes) e isolada, nota-se que somente 3% dos atores fazem parte das quatro redes analisadas, 10% participam parcialmente e 87% estão inseridos em somente uma rede (figuras 1 e 2). Este fato revela um adensamento localizado das instituições em redes específicas e possibilita a formulação da hipótese de que os ativos existentes nas redes individuais atuais poderiam ser maximizados através de conexões com maior amplitude sistêmica, em uma robusta rede de redes. FIGURA 1: Indicador de participação dos atores nas redes das IEBTs analisadas Indicador de participação em redes

3%

10%

Plena Parcial Isolada

87%

FIGURA 2: ConjuntoInc1 de redes com intensidade de participação dos atores Inc4

I nc2

Inc3

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Legenda: Verde : participação em 4 redes Laranja: participação em 3 redes Marrom: participação em 2 redes Azul: participação em 1 rede Sem escala

Com relação ao conjunto de resultados apresentados pelos casos estudados, demonstrados nas figuras 3 e 4, nota-se uma predominância dos aspectos fortalecimento institucional e divulgação da IEBT. Esta situação reflete a busca, pelas IEBTs, de um posicionamento institucional perante a sociedade, no sentido de firmarem-se como projetos relevantes e inseridos no sistema de inovação. Em outras palavras, significa um esforço para fazerem-se reconhecer, espelhando a trajetória pioneira que esses projetos percorreram em seus anos de existência.

A seguir foram constatados os contatos com outras

instituições, imagem e contatos com interessados em incubar empresas ou em novos negócios . Por outro lado, nota-se pouca expressão do apoio às EBTs incubadas nos aspectos isenção de impostos e tributos, crédito e acesso a investidores, em conformidade com as argumentações de PINHO e outros (2002) a respeito de dificuldades para obtenção de capital e a existência de poucos atores voltados ao aporte de recursos financeiros e econômicos destinados à financiar a operação dos projetos.

FIGURA 3: Resultados relacionados ao conjunto de IEBTs

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Resultados dos relacionamentos

Outros Divulgação da IEBT Contato com outras instituições Fortalecimento institucional Apoio operacional Intercambio de conhecimento Interessados em incubar Interessados em negócios Novas oportunidades Apoio - isenção impostos e tributos Apoio - recursos humanos Apoio - investidores Apoio - crédito Apoio - mercados Apoio - gestão Apoio - tecnologia Imagem Rec Econ Rec Fin 0

20

40

60

FIGURA 4: Representatividade dos resultados do conjunto de IEBTs

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80

100

120


Representatividade dos resultados Outros 1%

Rec Fin Rec Econ 1% 2%

Divulgação da IEBT 10%

Imagem 9%

Contato com outras instituições 9%

Apoio - gestão 4% Apoio - mercados 5% Apoio - crédito 0% Apoio investidores 2%

Fortalecimento institucional 17%

Apoio - recursos humanos 4% Apoio - isenção impostos e tributos 0%

Apoio operacional 0% Intercambio de conhecimento 7%

Apoio - tecnologia 7%

Interessados em Interessados em incubar negócios 9% 9%

Novas oportunidades 3%

Conclusão Os resultados apresentados devem ser compreendidos à luz do referencial teórico e das considerações a respeito do estágio de desenvolvimento do sistema de inovação brasileiro, no qual o universo de IEBTs está inserido. Com relação ao objetivo da pesquisa de caracterizar as redes de relacionamentos constituídas por Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica e seus resultados, através do estudo de projetos em operação há mais de dez anos em regiões de alta densidade tecnológica do Estado de São Paulo, nota-se que as redes identificadas têm convergência teórica com as redes de acesso e oportunidades e as redes de produção, havendo encontros de ofertas com demandas e intercâmbios diversos, tendo a inovação como pano de fundo. Todos estes aspectos, no escopo das limitações naturais do método de estudo de casos, permitem uma extrapolação para o universo das Incubadoras de Base Tecnológica Brasileiras e a conclusão de que as redes constituídas em torno delas têm características predominantemente endógenas e particularizadas, constituindo-se redes “semi-fechadas”, com pouca conexão entre si e buracos estruturais, o que torna lenta sua evolução como grande rede. Para promover a aceleração do crescimento é necessária a aproximação entre os níveis local, estadual, federal e internacional do sistema de inovação, incluindo a própria interação entre incubadoras de todo o país e a utilização do potencial de difusão instalado nos

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atores já existentes. Trata-se de amplificar o acesso a informação, conhecimento e recursos. Em outras palavras, significa otimizar a força dos laços fracos. Este é um grande desafio que significará um novo patamar na evolução do movimento brasileiro de incubadoras. Esta ação poderia ser viabilizada através das tecnologias digitais existentes, entretanto, o grande esforço deve voltar-se ao incremento do capital social entre os atores, principalmente através do estabelecimento de relações cada vez mais intensas de confiança e reciprocidade, o que permitirá a geração de fluxos de recursos e informações, constituindo-se em uma grande rede com possibilidade de coordenação das intenções sociais. Neste contexto de relações sociais é necessário preparo para articulações. Este aspecto suscita a necessidade do desenvolvimento de modelos gerenciais e de políticas públicas voltados ao incremento e gerenciamento das conexões e muita capacitação. Torna-se fundamental a instauração de uma consciência do poder das redes de instituições tecnológicas, norteando as relações que devem ser estrategicamente estabelecidas. Assim, tratar projetos de IEBTs à partir de suas conexões sociais é ponto relevante para a formulação de políticas públicas que fortaleçam estas iniciativas e culminem com a disseminação do empreendedorismo e a geração de empresas de base tecnológicas competitivas. Nesse contexto, algumas proposições podem ser apresentadas, a partir das constatações reveladas através dos estudos de casos: 1) a criação de mecanismos para aproximação das diversas entidades voltadas ao apoio de negócios tecnológicos, buscando sinergia e complementaridade de ações, com foco nas incubadoras, nas empresas incubadas e no adensamento da rede. Uma proposta para a realização desta ação seria a formação de uma comunidade multi-institucional colaborativa, baseada na internet e que possibilitasse a participação dos diversos atores institucionais e das EBTs, através dos indivíduos que constituem as equipes dessas organizações. O resultado seria uma maior convergência de ações, identificação de necessidades, intercâmbio de conhecimento e agilidade. 2) o estímulo às relações junto a investidores de risco, o que poderia ser feito através de encontros e rodadas de negócios e até mesmo de um portal de oportunidades tecnológicas na internet, reunindo as EBTs de incubadoras do país e exterior; 3) o desenvolvimento de conexões com instituições de crédito e a disponibilização de produtos financeiros especiais, no sentido de proporcionar aos incubados novas possibilidades de financiamento de seus empreendimentos tecnológicos, mesmo após a graduação; 4) o estreitamento do contato com as universidades públicas e privadas, principalmente no que diz respeito ao contato com potenciais empreendedores e projetos com grande potencial de mercado; 5) a capacitação de diretores e gerentes de IEBTs em habilidades, planejamento e gestão de relacionamentos institucionais. Algumas temas poderiam ser abordados em futuros programas de qualificação, tais como: conceitos de redes sociais e de comunidades virtuais e desenvolvimento de projetos através de colaboração virtual. 6) a produção e difusão de software voltado para planejamento e gestão de relacionamentos institucionais em IEBTs;

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7) o incremento ao uso intensivo de TICs – Tecnologias de Informação e Comunicação, no sentido da redução de custos e aproximação de entidades convergentes ao propósito de apoio ao desenvolvimento tecnológico; 8) a ampliação e diversificação de fontes de recursos para financiamento de projetos de IEBTs, financiadas por linhas amparadas na Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas. As medidas de políticas públicas, alinhadas com a consciência do poder das redes por parte de lideranças no meio tecnológico, irão proporcionar condições para a evolução do Brasil em seu posicionamento futuro como referência em competitividade e inovação.

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