Jornal da
psicologia Conselho Regional de Psicologia - Minas Gerais
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planejamento estratégico Eixos orientadores da gestão são definidos
Ensino de psicopatologia Pelo respeito a usuários e estudantes
Comissões e gts Conselho amplia para requalificar sua atuação
ano 31 - número 105 - junho de 2017 4ª Região Minas Gerais
EDITORIAL A diversidade da categoria de psicólogas(os) está expressa em suas orientações teóricas e na própria atuação potente em vários campos. Por essa razão a gestão atual afirma essa pluralidade de uma forma muito respeitosa, pretendendo fazer todas as discussões que a contemplem atenta também à representatividade das mulheres, que são maioria na Psicologia. Nessa perspectiva, vem fomentando a estruturação de novas comissões e grupos de trabalho, descentralizando as ações e reforçando as atividades nas subsedes do Conselho. A lógica que sempre orientará as discussões será a dos Direitos Humanos, que nos convoca inclusive, nesse cenário político atual, de forma cada vez mais tocante para fazer uma defesa dos nossos direitos conquistados e, especialmente, das políticas públicas que nós conseguimos construir. Por meio das comissões e grupos de trabalho, o XV Plenário incentivará ações e discussões em defesa da democracia, das formas de participação, de como nos organizamos enquanto categoria profissional, com especial atenção às políticas de controle social. Estaremos alicerçadas(os) na construção coletiva em todos os âmbitos: na própria plenária, com a categoria e com o corpo de funcionárias(os) do Conselho. Esse debate integrado já gerou algumas sementes como o Planejamento Estratégico, que vem sendo elaborado a muitas mãos para o período compreendido entre 2017 e 2019. Por fim, mas não menos importante, essa gestão permanece atuante sob a lógica da valorização de profissão, que possui olhar próprio em relação ao mundo e se tornou um veículo de reconhecimento de direitos coletivos, já que a grande particularidade da(o) psicóloga(o) é ter condições técnicas de interferir em todos os temas que permeiam a sociedade.
EXPEDIENTE SEDE (CRP-MG) R. Timbiras, 1532, 6º andar • Lourdes CEP: 30140-061 • Belo Horizonte/MG Tel: (31) 2138.6767 / Fax: (31) 2138.6763 E-mail: crp04@ crp04.org.br Site: www.crpmg.org.br SUBSEDES Centro-Oeste • Divinópolis Telefone: (37) 3213-8930 E-mail: centrooeste@crp04. org.br Leste • Governador Valadares Telefone: (33) 3225.0475 E-mail: leste@crp04.org.br Norte • Montes Claros Telefone: (38) 3221.7720 E-mail: norte@crp04.org.br Sudeste • Juiz de Fora Telefone: (32) 3215.9014 E-mail: sudeste@crp04.org.br Sul • Pouso Alegre Telefone: (35) 3423.8382 E-mail: sul@crp04.org.br Triângulo Mineiro • Uberlândia Telefone: (34) 3235.6765 E-mail: uberlandia@crp04. org.br
JORNAL DA PSICOLOGIA Informativo do Conselho Regional de Psicologia Minas Gerais (CRP-MG) XIV Plenário (Gestão 2016-2019) DIRETORIA Conselheira Diretora Presidenta Cláudia Natividade Conselheira Diretora Vice Presidenta Márcia Mansur Conselheiro Diretor Tesoureiro Túlio Picinini Conselheira Diretora Secretária Dalcira Ferrão CONSELHEIRAS(OS) Aparecida Maria de Souza Cruvinel; Claudia Natividade; Dalcira Ferrão; Délcio Fernando Pereira; Eliane de Souza Pimenta; Eriane Sueley de Souza Pimenta; Érica Andrade Rocha; Ernane Maciel; Felipe Viegas Tameirão; Felippe de Mello; Flavia Gotelip;
Leila Aparecida Silveira; Letícia Gonçalves; Madalena Luiz Tolentino; Marcelo Arinos; Márcia Mansur; Mariana Tavares; Marília Fraga; Odila Maria Fernandes Braga; Reinaldo Júnior; Paula Khoury; Rita Almeida; Robson de Souza; Roseli de Melo; Solange Coelho; Stela Maris Bretas Souza; Vilene Eulálio; Tulio Picinini; Waldomiro Salles; Yghor Gomes Comissão de Comunicação: Aparecida Maria de Souza Cruvinel, Leila Aparecida Silveira, Rita Almeida, Yghor Gomes Equipe de Comunicação CRP-MG: Carolina Melo, Cristina Ribeiro, Débora Borges, Eliziane Lara, Érica Rodrigues, Lucas Soares,
Nathalia Monteiro, Patrícia Miranda Projeto Gráfico: SRS Criação e Produção Diagramação: Quintal Edições Jornalista Responsável: Cristina Ribeiro (MTB 5222) Reportagem: Brenda Marques Pena, Eliziane Lara (jornalista CRP-MG), Érica Rodrigues e Lucas Soares (Estagiários CRP-MG) Ilustrações: Rômulo Garcia Fotografias: Carol Magalhães, Eliziane Lara, Gabriel Nogueira, Karen Aun e Nello Aun, Lucas Soares Revisão: Rita Rocha Gráfica: Gráfica e Editora O Lutador Leia o Jornal da Psicologia também em versão digital no site www.crpmg.org.br
gestão
nova gestão do crp-mg XV Plenário busca construção coletiva de prioridades que suscitem cada vez mais processos de participação e compartilhamento de ideias
As conselheiras e os conselheiros que tomaram posse em setembro de 2016 ficarão à frente da gestão do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP -MG) até agosto de 2019. Nesse período, têm a missão de implementar as deliberações aprovadas pela categoria na nona edição dos Congressos Regional e Nacional da Psicologia (Corep e CNP) e as propostas apresentadas pela chapa durante o processo eleitoral. Trata-se de uma tarefa que exige grande capacidade de trabalho e organização, por isso, a atual gestão iniciou, em dezembro de 2016, a elaboração do planejamento estratégico institucional. Esse processo tem um caráter marcadamente coletivo e conta com a participação de todas(os) conselheiras(os) e funcionárias(os) do Conselho. “É muito importante estarmos com essa congruência de pensamentos e vontades para fazer uma construção realmente coletiva das prioridades do CRP. Desde o início dessa gestão colocamos essa tônica de suscitar cada vez mais processos de participação e de aproximação das(os) conselheiras(os) com o corpo de funcionárias(os)”, enfatizou a conselheira e presidenta do CRP-MG, Cláudia Natividade, na abertura 3
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do workshop que reuniu conselheiras(os) e equipe de funcionárias(os) da sede e das subsedes do Conselho, em Belo Horizonte, nos dias 24 e 25 de março deste ano. O encontro constituiu uma das etapas mais importantes, pois deu início à formulação e aprovação das questões estratégicas que serão trabalhadas com prioridade nos próximos três anos. “A participação no processo do planejamento não implica somente em presença física nas reuniões e nós temos sentido envolvimento, comprometimento da equipe como um todo e isso é muito bom”, avaliou a conselheira e vice-presidenta, Márcia Mansur, no encerramento da atividade. Pontos norteadores do planejamento estratégico: - Deliberações da categoria durante os Congressos Nacional e Regional da Psicologia realizados em 2016; - Propostas apresentadas pelo Movimento Cuidar da Profissão, eleito no processo eleitoral regional realizado em 2016; - Propostas e demandas identificadas durante a Semana de Integração realizada junto às(aos) funcionárias(os) do CRP-MG em dezembro de 2016.
Eixos estruturantes do XV Plenário Durante a posse pública de conselheiras e conselheiros que compõem o XV Plenário do CRP-MG, a presidenta, Cláudia Natividade, apresentou oito eixos que orientam a atual gestão e que sustentam todo o planejamento estratégico: Construção coletiva Orienta o trabalho dentro da própria Plenária, com a categoria e com o corpo de funcionárias(os). Também se reflete na discussão das pautas da Psicologia no cenário nacional. Descentralização das ações Na composição da Plenária, 2/3 das integrantes são psicólogas(os) que residem no interior de Minas Gerais. Esse é um marco histórico, que começou a ser construído na gestão passada, quando foram realizadas ações de fomento à descentralização das ações do CRP-MG. Democracia Norteia as formas de participação enquanto categoria profissional e a inserção do CRP-MG nos diversos conselhos de direitos e controle social. Defesa dos Direitos Humanos O grupo de conselheiras(os) está engajado na luta pelos direitos já conquistados e pelas políticas públicas implementadas. O cenário político atual reforça essa necessidade. Reconhecimento da diversidade da Psicologia A categoria possui orientações teóricas e campos de atuação bastante diversificados. A gestão afirma
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essa diversidade de forma muito respeitosa e se propõe a fazer todas as discussões necessárias e em todos os campos em que há psicólogas(os) trabalhando.
Visão Aumentar a satisfação dos profissionais e entidades vinculadas ao sistema prestando serviços com qualidade e no prazo adequado
Representatividade da categoria O grupo de conselheiras(os) conta com profissionais que atuam em diversas áreas e, assim como ocorre com a categoria, é majoritariamente formado por mulheres. Do total de 30 conselheiras(os), 20 são mulheres.
Valores - Capacidade institucional de gestão e inovação - Democracia e construção coletiva da profissão - Direitos Humanos, Equidade e Horizontalidade - Eficácia / Eficiência na gestão - Respeito às subjetividades e suas diversidades - Valorização da profissão
Valorização da profissão A profissão de psicóloga(o) possui olhar próprio em relação ao mundo e se tornou um veículo de reconhecimento de direitos coletivos, já que a grande particularidade da(o) psicóloga(o) é ter condições técnicas de interferir em todos os temas que permeiam a sociedade.
Produtos do planejamento estratégico O planejamento estratégico é a metodologia gerencial para estabelecer a direção a ser seguida visando maior grau de interação com o ambiente. É um processo contínuo e formal de seleção dos objetivos e metas. Neste sentido e a partir de um processo horizontal, o CRP-MG definiu sua Missão, Visão, Valores e elencou os Objetivos Estratégicos que podem ser vistos à seguir: Missão Ser conhecido e reconhecido pela sociedade, pela categoria e instituições por sua excelência na atuação
Objetivos estratégicos - aperfeiçoar a atuação do CRP-MG como instância mediadora da relação entre sociedade e psicólogas(os); - aprimorar a prestação de serviços à categoria e às entidades vinculadas ao Sistema Conselhos; - aumentar a visibilidade das ações do CRP-MG, reforçando sua atuação como entidade que contribui para o desenvolvimento da Psicologia; - incrementar a gestão do conhecimento e da informação; - ampliar a infraestrutura de Tecnologia da Informação e sua governança; - assegurar a continuidade do desenvolvimento de competências técnicas e gerenciais junto às(aos) conselheiras(os) e à equipe do CRP-MG; - garantir os recursos físicos e orçamentários e aperfeiçoar seu gerenciamento, para o alcance dos resultados institucionais.
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conselho amplia comissões e gts Comissão de Direitos Humanos tem como missão principal ser o eixo que orientará o trabalho de todas as demais. A organização em comissões e grupos de trabalho é uma estratégia do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) para atuar nos diversos campos relacionados à Psicologia e estreitar os vínculos com a categoria, uma vez que na maior parte deles a participação é aberta a quem se interessar. O XV Plenário do CRP-MG definiu sua atuação por meio de 22 comissões e três grupos de trabalho. Dentre elas foram criadas três novas comissões temáticas: Psicologia e Clínica; Psicologia e questões étnico-raciais; Psicologia, laicidade, espiritualidade, religião e outros saberes tradicionais. Outra novidade foi a transformação dos grupos de trabalho Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas e também Esporte em comissões temáticas. Além disso, foram constituídos três grupos de trabalho: Infância e adolescência; Mobilidade humana e trânsito; Sistema prisional e socioeducativo.
COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS
A Comissão de Direitos Humanos tem o papel de nortear os princípios do Conselho. Sua direção é pautada pela temática dos Direitos Humanos. Ela tem cinco eixos que foram apontados nas primeiras reuniões plenária da nova gestão:
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• Direitos Humanos e memória – registros, sistematizações, acervo de materiais relacionados à luta pela garantia e reconhecimento dos Direitos Humanos no Brasil. • Reconhecimento das minorias – visibilidade, defesa dos direitos, ações de reconhecimento e de participação de grupos minoritários na sociedade. Temáticas: gênero, raça e etnia, diversidade sexual, crianças e adolescentes, ocupações urbanas, atingidos por desastres. • Direitos Humanos, democracia e controle social - a Psicologia e sua participação nos espaços de controle social: articulação, formação e fortalecimento dos representantes do CRP nesses espaços. Articulação com movimentos sociais. Luta pela democracia. • Lógicas antimanicomiais não segregadoras - defesa de formas inclusivas de vida em sociedade. Posicionamentos contrários às práticas segregadoras, higienistas e privativas de liberdade. Temas álcool e outras drogas, luta antimanicomial, privação de liberdade (sistema socioeducativo e prisional), institucionalização, medicalização da vida. • Formação em Direitos Humanos – subsídios e apoio aos conselheiros e colaboradores sobre os temas relacionados aos Direitos Humanos. Produ-
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ção de materiais sobre as temáticas. Fomento da formação em Direitos Humanos para estudantes e também para profissionais. Articulação com a Associação Brasileira de Ensino e Psicologia e a Comissão de Formação do CRP-MG. A vice-presidenta do CRP-MG, Márcia Mansur, é a coordenadora da comissão, que até a gestão passada era formada por colaboradoras(es) externas(os) ao Conselho e agora é integrada por quatro conselheiras e quatro convidadas, que a tornaram ainda mais operativa por meio de encontros frequentes. Desde o dia 27 de maio realiza também reuniões temáticas mensais, abertas à categoria. “Um dos principais desafios atuais da nossa sociedade está relacionado à dificuldade de conviver com a diferença. Esse ódio ao diferente se expressa na violação de Diretos Humanos de minorias, sejam elas relacionadas a questões de gênero, raça, questões religiosas, econômicas, entre outras. Precisamos conversar mais sobre isso”, declara Márcia.
Segundo o conselheiro Filippe Mello, coordenador dessa comissão, há dificuldades das(os) negras(os) de tratar de diferentes questões: quando uma negra chega ao consultório e diz respeito seu cabelo, com questionamentos sobre se ela deve alisar ou manter seu cabelo cacheado ou crespo, não é uma questão só de estética, a preocupação é com a aceitação na sociedade e com sua identidade. “Falta refletir e transformar essa realidade de exclusão do negro também sobre os aspectos econômico e da acessibilidade”, declara o conselheiro. São metas da Comissão Psicologia e Relações Étnico-raciais: • Fazer um levantamento sobre a representatividade das(os) negras(os) no âmbito do CRP-MG. • Construir um perfil da(o) negra(o) psicóloga(o) para pensar estratégias de atuação. • Estruturar campo obrigatório de cadastro/registro no CRP-MG “raça, etnia e cor”.
COMISSÃO DE PSICOLOGIA E relaçÕES ÉTNICO- COMISSÃO DE SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS -RACIAIS DROGAS Tem como objetivos a elaboração e a construção conjunta de material e ações que visem cuidar da Psicologia e de suas(seus) profissionais no que tange às temáticas relacionadas ao povo negro e todas as condicionantes e determinantes de sua saúde. Historicamente o povo negro é uma população que sofre de diferentes tipos de mazelas: preconceitos, racismo, estigmas, perseguição, genocídio e diversas outras situações degradantes que colocam o povo negro em situação na qual sua saúde física e mental é violentada. Os principais desafios da Comissão dizem respeito à lógica estruturante que ainda sustenta o racismo no Brasil.
A Comissão de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas tem como objetivos fazer avançar questões que eram pauta da gestão anterior e seguir em diálogo permanente com os parceiros institucionais, como o Fórum Mineiro de Saúde Mental (FMSM), a Associação de Usuários dos Serviços de Saúde Mental de BH (Asussam) e a Frente Mineira sobre Drogas e Direitos Humanos (FMDDH). Apresenta especificidades que, em vista dos avanços históricos e também alguns retrocessos que acompanham a temática, exigem atenção redobrada. “Temos focado muito na saúde mental da mu7
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lher em tempos de misoginia global. Inclusive este foi o debate que realizamos no dia 15 de março, em Belo Horizonte. Queremos difundir pelo CRP -MG a posição de que não aceitamos a misoginia e nenhum outro tipo de violação de Direitos Humanos”, diz o conselheiro Filippe Mello, coordenador da comissão. Filippe Mello explica que os campos da saúde mental, álcool e outras drogas apresentam especificidades que merecem atenção concentrada. Dentre tais especificidades estão a Luta Antimanicomial, a sustentação dos princípios da reforma psiquiátrica, a atenção aos usuários de álcool e outras drogas, suas famílias e as parcerias intersetoriais, que permitem avançar na conquista de direitos. Além disso, diante do cenário nacional atual, vê-se como primordial o acompanhamento de mães que estão tendo suas crianças retiradas do cuidado familiar, assim como as internações compulsórias e a lógica persecutória e criminalizante às quais os usuários de álcool e outras drogas estão sendo submetidos. A comissão também tem o compromisso de buscar contato com profissionais de Minas Gerais que se encontram, por diversos motivos, distantes do CRP e que, muitas vezes, atuam em ambulatórios de saúde mental em pequenas cidades, na atenção básica, em Estratégias de Saúde da Família, Unidades Básicas de Saúde, Policlínicas, Núcleos de Apoio à Saúde da Família, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em todas as suas modalidades e demais tipos de serviços. “Dessa maneira, esta Comissão, antes de ser identificada como apartada da Comissão de Saúde do CRP, se soma a ela para que a cisão corpo-mente, por muitas vezes ainda sustentada, seja prática ultrapassada às(aos) psicólogas(os). Para que isso seja conquistado é necessário que identifiquemos as necessidades de cada grupo, municípios, regionalismos,
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idiossincrasias sócio-históricas que nos permitam construir, junto à categoria profissional, pontos comuns que unam o sujeito em sofrimento ao seu território, de modo que possamos produzir cuidado e saúde, e os usuários de serviços de saúde mental não podem estar fora dessa construção “, explica o coordenador.
COMISSÃO DE PSICOLOGIA E CLÍNICA
O Conselho Regional de Psicologia - Minas Gerais percebe a importância da aproximação de profissionais que se vêm hoje diante de grandes questões sociais incidentes sobre a atividade clínica. O enfrentamento dessas questões exige múltiplos olhares e saberes, numa perspectiva de grande abrangência teórica e metodológica. A comissão tem o desafio de discutir o sentido tradicional que se aplica à psicologia clínica. Segundo Mariana Tavares, coordenadora desta comissão, não é possível abdicar do contexto socio-histórico da produção de subjetividades, por isso os trabalhadores da clínica, onde quer que estejam, precisam refletir sobre os impactos da cultura no modo de viver de cada um. “Na comissão, temos a ideia de que a clínica deve trabalhar com o sujeito dentro de um contexto social. Precisamos promover um exercício crítico, pois somos o tempo todo atravessados por demandas de várias origens, tocando em vários pontos no campo dos Direitos Humanos”, explica Mariana Tavares que ainda pontua que “o trabalho da comissão precisa ter uma perspectiva da clínica que leve em conta a produção social de subjetividades”. O trabalho da comissão é perpassado por compreender os desafios que dizem respeito ao contexto
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político geral, à forma contemporânea de produção da ideia mercadológica de felicidade e outros elementos que chegam até a clínica sob diversas formas de sofrimento mental. “Há uma tendência cada vez mais forte de se transformar qualquer sintoma em doença, avançando em uma lógica de medicalização do mal-estar de viver. Ao criar uma comissão como esta, o CRP se propõe a promover o debate ético sobre o lugar da clínica”, assume a psicóloga. “Além disso, interessa-nos discutir que tipo de clínica fazemos, quais nossas dificuldades, para quem direcionamos nossa clínica. E principalmente a indagação quanto ao que nos une como trabalhadores”, finaliza.
PSICOLOGIA, LAICIDADE, ESPIRITUALIDADE, RELIGIÃO E OUTROS SABERES TRADICIONAIS
Entre as principais metas em 2017 da Comissão Psicologia, Laicidade, Espiritualidade, Religião e Outros Saberes Tradicionais estão a ampliação e a qualificação da discussão sobre o tema. Para tanto, desde fevereiro está acontecendo o Ciclo de Debates pelo interior de Minas, que já chegou às cidades de Uberaba, Pouso Alegre, Divinópolis, Teófilo Otoni, Coronel Fabriciano, Belo Horizonte, Montes Claros e Juiz de Fora. “Os objetivos são chegar mais próximo das(dos) psicólogas(os) que estão fazendo um trabalho acadêmico ou prático envolvendo a espiritualidade como a busca pela experiência da transcendência e também de que os que tenham mais conhecimento entre os pesquisadores na área possam se aproximar da comissão, para que possamos construir coletivamente uma diretriz para a relação entre Psicologia e religião, dentro de parâmetros éticos. É importante compreender que o Estado laico moderno não significa um Estado ateu afastado da religião, e sim um Estado plural, que permite que a diversidade religiosa se apresente sem reservas. O pensamento laico, por sua vez, não é um pensamento que desconsidera a dimensão de espiritualidade mas o observa enquanto experiência ontológica”, esclarece Reinaldo da Silva Júnior, coordenador da Comissão. Segundo ele, é possível observar em diversos espaços de atuação da(o) psicóloga(o)uma forte presença do elemento religioso, seja no discurso de pacientes, seja na implementação de projetos de políticas de saúde ligados a instituições ou tradi-
ções religiosas. Por conta da força dessa presença, o fenômeno religioso vai atravessar a prática da psicóloga(o), exigindo dela uma postura ética que deve ter como pressuposto a laicidade. “Mas será que está preparada para absorver em sua prática profissional a perspectiva laica na relação com o fenômeno religioso, entendendo que esta postura não deve construir uma barreira entre ciência e religião, mas sim garantir o diálogo entre estas racionalidades? O que entendo é que há a necessidade de produzir um saber psicológico sobre a religião capaz de reconhecer os aspectos políticos no qual o fenômeno se envolve, distinguindo -os da experiência subjetiva que leva as pessoas a perceber o sagrado e tomar consciência da existência dele, fazendo desta uma experiência revolucionária de encontro e sentido da vida”, pontua o coordenador, resumindo o artigo “Psicologia, laicidade, espiritualidade, religião e outras tradições: os desafios de uma ciência e profissão no século XXI”. De acordo com Reinaldo Júnior, a dificuldade da psicóloga(o) em lidar com essa temática se dá muito porque nos cursos não existe a cadeira de Psicologia das religiões e não apresentam essa discussão na formação do profissional.
COMISSÃO DE PSICOLOGIA DO ESPORTE
O conselheiro e coordenador da Comissão de Psicologia do Esporte do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), Yghor Gomes, destaca que existem diversas áreas de atuação dentro da Psicologia do Esporte que vão desde a intervenção na educação física escolar, em projetos sociais, bem como na formação e desenvolvimento de atletas em clubes esportivos e em outros espaços possíveis, como reabilitação e esportes de lazer. 9
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Essa comissão defende a importância de uma abordagem multidisciplinar, e para isso está trabalhando na ampliação dessa discussão em encontros promovidos pelo CRP-MG em várias cidades do estado. Em maio, com a realização do I Encontro Mineiro de Psicologia em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, foram proporcionados diversos momentos para ampliação do diálogo com outras profissões que atuam em conjunto com a psicóloga(o) na área do esporte, principalmente o profissional de educação física. O objetivo dessa Comissão é criar um canal de interlocução entre as(os) psicólogas(os) que atuam na área e outros profissionais, pesquisadores e estudantes que desejam saber mais sobre esse campo de atuação. “Minas Gerais tem muito para contribuir nacionalmente com a Psicologia do Esporte, temos excelentes Psicólogos Esportivos que atuam em grandes times, em Universidades conceituadas e em Associações de desenvolvimento esportivo (ONGs), que podem enriquecer o debate com suas vivências”, detalha Yghor Gomes, que também representa Minas Gerais na Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (ABRAPESP).
GRUPO DE TRABALHO SISTEMA PRISIONAL E SOCIOEDUCATIVO
O Grupo de Trabalho Sistema Prisional e Socioeducativo tem a proposta de pensar no sujeito dentro de um contexto familiar, socio-histórico e psicológico, e não só olhar para ele a partir do delito que cometeu. “O papel da (o) psicóloga (o) no Conselho Disciplinar dos sistemas prisionais é um dos temas
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que temos discutido. A premissa do nosso trabalho é a garantia de direitos humanos, pois lutamos por isto em todos os momentos”, diz a conselheira e coordenadora do GT, Vilene Eulálio de Magalhães. Ela explica que a lei de execução penal de 1984 obriga a participação da(o) psicóloga(o) no Conselho Disciplinar, mas em Minas Gerais essa prática tem sido combatida, pois o principal problema é que as unidades prisionais, muitas vezes, têm uma(um) única(o) profissional que vai tanto participar do Conselho, como realizar o atendimento psicológico clínico, o que gera um conflito e pode prejudicar o acompanhamento e a confiança de quem é atendido. Para Vilene Eulálio um dos pontos que o GT tem discutido é o fato de a Academia não treinar nem orientar a(o) psicóloga(o) que lida na prática com essa situação conflituosa, de atuar tanto no Conselho Disciplinar como no atendimento clínico ao sujeito que está em uma unidade prisional ou socioeducativa. “As opiniões são divergentes: por uma lado a atuação da(o) psicóloga(o) humaniza o Conselho, mas por outro viola os princípios éticos da profissão, porque este sujeito, muitas vezes, é acompanhado pela(o) mesma (o) psicóloga (a), o que pode prejudicar a relação profissional que se estabelece, já que a confiança é básica para o trabalho em Psicologia”, aponta Vilene Eulálio. A Secretaria de Administração Prisional de Minas Gerais quer padronizar a entrevista inicial realizada no sistema prisional mineiro e o Conselho foi consultado. Este grupo de trabalho fez algumas considerações que foram acatadas pela Secretaria, pautadas na luta pelos direitos básicos do sujeito no sistema prisional.
ética e atuação profissional
desafios do atendimento psicológico online As solicitações de cadastros de sites no Sistema Conselhos de Psicologia são crescentes, mas faltam estudos e discussões sobre essa modalidade de orientação. Por Comissão de Orientação e Fiscalização do CRP-MG A prestação de serviços psicológicos por meio de tecnologias de comunicação a distância foi regulamentada desde 2005 e ficou conhecida pela categoria como “atendimento psicológico on-line”. Mais recentemente, a Resolução CFP nº 11/2012 traz novos critérios para o cadastro de sites, que é obrigatório para esta modalidade de prestação de serviços. Desde a referida regulamentação, a solicitação de cadastro de sites vem crescendo de forma significativa, como é possível observar na tabela: Solicitações de cadastro/recadastro de sites recebidas pelo Sistema Conselhos de Psicologia 2004 0 2005 1 2006 4 2007 6 2008 8 2009 8 2010 40 2011 79
2012 127 2013 141 2014 108 2015 163 2016 219 2017 67 TOTAL
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Fonte: Conselho Federal de Psicologia, até março de 2017
Até março de 2017, são 41 sites cadastrados na jurisdição do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) aptos a oferecerem os serviços de orientação on-line. Atualmente, ainda que se verifiquem avanços nos estudos e discussões pela categoria e o Sistema Conselhos de Psicologia, o tema se coloca como um desafio no que concerne à prestação de serviços e desta forma tem se desdobrado em uma prática que carece de maior fundamentação ou crítica por parte da(o) profissional psicóloga(o), que deve analisar as possibilidades e limitações do seu trabalho e assim colaborar com a adequada delimitação ético-profissional.
Diante desse quadro, e do número crescente de solicitações de credenciamento de sites, o Conselho Federal de Psicologia (CFP), em Assembleia de Políticas, da Administração e das Finanças (APAF), realizada em dezembro de 2016, criou um Grupo de Trabalho Nacional (GT), composto por representantes de Conselhos Regionais. O grupo deve discutir uma possível revisão da Resolução nº 11/2012, bem como aprofundar o debate e a pesquisa sobre serviços psicológicos ofertados por meios tecnológicos, sua pertinência e eficiência. Também a partir das inúmeras demandas sobre a oferta desse serviço, entendeu-se como necessário discutir parâmetros éticos e técnicos do exercício profissional mediado por tecnologias, além de construir e disponibilizar uma normatização que efetivamente auxilie o trabalho de psicólogas(os) neste campo. Preocupado com esse contexto e trabalhando em conjunto na revisão da Resolução junto ao GT Nacional, o CRP-MG, por meio de sua equipe técnica, vem também construindo regionalmente, procedimentos internos para análise e credenciamento de sites. O intuito é seguir criteriosamente a Resolução CFP nº 11/2012, e ainda incluir no processo de análise para o credenciamento de site um termo de responsabilidade técnica para que a(o) psicóloga(o) responsável se comprometa pelos serviços de Psicologia prestados pelo site com qualidade técnica e ética. Outro ponto para o qual se pretende chamar a atenção das(os) psicólogas(os) que têm o interesse em ofertar tais serviços se refere à necessidade de manter os registros de todo o trabalho realizado, conforme previsto nas Resoluções CFP nº 001/09 e 005/10. Para saber mais, acesse a Resolução CFP nº 11/2012 e o endereço: cadastrosite.cfp.org.br 11
entrevista: celso francisco tondin
A psicologia nas escolas pela redução das desigualdades Celso Francisco Tondin, doutor em Psicologia, tem uma trajetória de 25 anos na Psicologia Escolar e Educacional. Seu engajamento sempre lhe conferiu uma postura política atuante, como no enfrentamento ao projeto de lei do Ato Médico e na luta pelo projeto que insere a Psicologia na rede pública de educação básica. Integrou os Conselhos Regionais de Psicologia de Minas Gerais e de Santa Catarina e o Conselho Federal de Psicologia. Atualmente, é professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei e colabora como integrante das Comissões Psicologia Escolar e Educacional e de Psicologia e Formação Profissional do CRP-MG. Em entrevista exclusiva ao Jornal da Psicologia, fala sobre os principais desafios do segmento escolar.
Jornal da Psicologia – O que você classifica como principal desafio da Psicologia Escolar e Educacional no Brasil hoje? Celso Tondin – A participação na implantação do Plano Nacional de Educação de 2014 visando à redução das desigualdades existentes no campo da educação. A Psicologia dispõe de recursos para contribuir para esta redução, atuando na desconstrução dos estereótipos e preconceitos que ensejam as violências relacionadas às questões de gênero, raça, etnia, orientação sexual, classe social, condição física, intelectual ou sensorial, entre outras. Porém, isso se dá num cenário no qual os investimentos em políticas sociais estão diminuindo. Jornal da Psicologia – Você indicaria um caminho para isso? Celso Tondin – Avançar para uma compreensão de Psicologia Escolar e Educacional na relação com a rede de proteção integral à infância e à adolescência, que envolve os serviços da saúde, educação, assistência social, cultura, esporte, lazer, habitação, geração de trabalho e renda etc. Porque a Psicologia Escolar e Educacional, no meu ponto de vista, tem uma visão voltada para o contexto escolar e para outras instituições educativas, como abrigos e programas socioeducativos, mas não faz um diálogo 12
exatamente no sentido da proteção integral. Na verdade, penso que o campo da experiência está avançado em alguns lugares. Já a produção acadêmica não conseguiu ainda discutir de uma forma consolidada a Psicologia Escolar e Educacional no atendimento em rede. Também a Lei de Diretrizes Básicas da Educação Nacional (LDB) não explicita este tipo de atendimento, que é princípio das políticas sociais brasileiras, hoje. Jornal da Psicologia – Então o ponto nevrálgico é a LDB? Celso Tondin – Sim. Veja que o artigo 61 desta lei não nos reconhece como profissionais da educação, além de que no artigo 71 a assistência psicológica é considerada programa suplementar. Disso resulta que os recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) não podem ser utilizados para pagamento dos salários de psicólogas e psicólogos. Do meu ponto de vista, isso não impede que este pagamento seja feito com recursos da educação que extrapolem os 25% que estados e municípios são obrigados a investir nessa área. Porém, na prática muitos estão pagando com dinheiro da saúde. Acho que esse é um entrave da LDB, que coloca esse limite na questão de financiamento. E
entrevista: celso francisco tondin
também há um discurso de que não há verbas para mais investimento em políticas sociais. Jornal da Psicologia – Indo para a questão da formação, você acredita que o currículo acadêmico prepara as(os) psicólogas(os) para atuar na educação? Celso Tondin – Nossa formação é generalista e, em princípio, isso responde positivamente a questão, porque a interface com a educação é conhecimento historicamente acumulado pela Psicologia. Assim, no núcleo comum e nos estágios básicos já deve ser contemplada esta interface. Depois, temos as ênfases curriculares e os estágios específicos em processos educativos, de gestão, clínicos, entre outros. O problema é que, neste último caso, nem sempre os cursos contemplam os processos educativos, fazendo com que a(o) aluna(o) tenha que buscar depois especialização em Psicologia Escolar e Educacional, que é pouco ofertada. Portanto, o currículo forma sim, mas com esse limite. E mesmo que não tenha experimentado tal limite, acredito que seja fundamental buscar uma especialização, mestrado e doutorado, também pensando na formação de docentes que irão ensinar nos cursos de graduação os conhecimentos do núcleo comum e da ênfase em processos educativos.
“Interface com a educação é conhecimento historicamente acumulado pela Psicologia.” áreas do conhecimento precisam dialogar. Aposto no diálogo. Temos nos deparado com diversas áreas do conhecimento que se dirigem à escola para produzir uma compreensão a respeito da problemática realidade educacional brasileira, tentando propor situações para essa realidade. A intenção é das melhores, mas não mostra compreensão do que é o sistema escolar. É um grande desafio, pois essa fragmentação e desconhecimento produzem intervenções que retornam ao modelo clínico focado no aluno, mesmo que com roupagens atualizadas. São as visões psicopatologizantes e medicalizantes da educação que transformam fenômenos complexos, multifacetados, que exigem intervenções de ordem institucional e macroestrutural, em um transtorno, um distúrbio, uma doença que precisa de intervenção médica ou psicológica de ordem individual.
Jornal da Psicologia – Nesta esteira da especialização, qual sua análise sobre uma possível aprovação da Psicopedagogia como profissão? Celso Tondin – A Psicopedagogia se constitui como especialização e é reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia, pela Resolução 13/2007, como uma das especialidades da Psicologia. É interdisciplinar porque se configura na interface entre a Psicologia e a Pedagogia, e pode ser trabalhada por profissionais graduados em Psicologia, Pedagogia ou até outras áreas e que cursem Psicopedagogia em nível de especialização. Então, não se forma psicopedagogo como profissão. O que está em jogo é que um grupo de psicopedagogos quer a criação de uma profissão, um curso de graduação correspondente à área e futuramente um conselho profissional. Então, como eu entendo que é uma especialização interdisciplinar, automaticamente eu não entendo que ela deva vir a se tornar uma profissão. Porque senão qualquer outra especialização pode vir a ser uma profissão. Jornal da Psicologia – E qual sua sugestão para esse impasse? Celso Tondin – Eu acredito que duas profissões consolidadas, em vez de se fragmentarem, devam criar uma contribuição para a educação. Todas as 13
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Violência política sexista: uma nova categoria de violência contra as mulheres no brasil Marlise Matos psicóloga e professora do Departamento de Ciência Política da UFMG. Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem) e do Centro do Interesse Feminista e de Gênero da UFMG
As mulheres são 51,6% da população brasileira; somos mais de 104 milhões de mulheres. Em 2014, 40% dos domicílios brasileiros possuíam apenas UMA MULHER como provedora. As mulheres são a maioria na população em idade de trabalhar no Brasil. Todavia, entre as pessoas ocupadas, verifica-se a predominância do trabalho de homens. Dados de violência contra as mulheres insistem em denunciar o que sofremos cotidianamente: a cada 15 segundos uma mulher é espancada e a cada uma hora e meia uma mulher é assassinada no nosso país. Os homicídios entre as mulheres brancas caíram nos últimos anos, mas os homicídios de mulheres negras aumentaram consistentemente no mesmo período. As mulheres são, de fato, as principais trabalhadoras do Sistema Único de Saúde (SUS), do Sistema Único de Assistência Social (Suas) e da Educação: somos a imensa e indiscutível maioria de professoras, assistentes sociais, psicólogas, gestoras educacionais, enfermeiras e médicas. As mulheres são, também, o maior público atendido pelo SUS, pelo Suas, inclusive por conta dos agravos das violências cotidianas, dos descasos no atendimento materno-infantil, do abortamento inseguro promovido por silenciamento em relação aos nossos direitos sexuais e direitos reprodutivos e do adoecimento crônico – já que estamos sujeitas a uma vida de duplas, triplas e, não infrequentemente, quádruplas jornadas de trabalho. As mulheres também são as principais atendidas pelas políticas educacionais, 14
pois não só elas estudam mais e por mais anos do que os homens, mas também porque precisam das creches e escolas para deixarem seus filhos para trabalhar. A eleição de Dilma em 2014 culminou com um ataque grotesco à figura da presidenta com a publicação pela Revista IstoÉ de 1º de abril de 2016 da “reportagem”: “Uma presidente fora de si”. O texto afirmava que antes da votação do impeachment na Câmara, a petista teria se “descontrolado”, “gritava” com todos e “perdia o controle” com frequência. Dilma recorreu à Justiça, que reconheceu o erro das publicações e afirmou que o direito de resposta é garantido pela Constituição. Em abril de 2016, a Revista Veja publicou outra “reportagem”, desta vez sobre Marcela Temer – mas o alvo continuava sendo Dilma - intitulada “Bela, Recatada e do Lar”. O texto soava elogioso ao fato de Marcela ser discreta, falar pouco e usar saias na altura do joelho. Mas era absolutamente evidente a tentativa da revista de fazer uma oposição ao que Dilma representa. Uma mulher aguerrida, forte, fora do padrão imposto ao que deve ser o comportamento feminino, especialmente na política. Mas, era como se nos dissessem: mulher boa é mulher esposa, é a primeira dama, aquela “que está por trás de um grande homem”. No dia da votação do impeachment na Câmara, um dia em que todos(as) os(as) brasileiros(as) se sentiram profundamente envergonhados(as), dentre os
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muitos episódios grotescos, o que mais me chamou a atenção foi o discurso criminoso proferido por Jair Bolsonaro, quando fez alusão a Ustra, homem que comandou o DOI-Codi em São Paulo. Os três episódios a que me refiro são frutos do explícito esforço REPATRIARCALIZADOR desse novo momento ilegítimo de nossa experiência política, pois não habitamos mais uma democracia: o retorno do primeiro-damismo e seus programas de políticas públicas que querem disciplinar as mulheres à maternidade e à docilidade de corpos encaixados nos valores do atraso. A violência política sexista, que apenas parecia ser exercida contra a figura de Dilma Rousseff (e que já era gravíssima assim como inaceitável), agora se volta contra todas nós mulheres, todas aquelas que ousamos construir uma voz pública, estudar, ter uma profissão; mulheres que ousaram agir e se mobilizar politicamente: a nós restará a violência sexista patriarcal e o arbítrio. A violência que já está anunciada aqui em todos esses nefastos eventos está explicitamente desenhada na Emenda Constitucional 95, que limita os gastos públicos e foi promulgada em dezembro de 2016. Uma Emenda que mantém intocados os verdadeiros dilemas que estão na raiz do desequilíbrio fiscal brasileiro: a queda da arrecadação tributária (e que man-
temos intocada porque não há coragem política de taxar as grandes fortunas deste país) e o pagamento dos juros da dívida (também intocada pela impossibilidade de fazer qualquer Auditoria nessa dívida), e que vai congelar o nosso crescimento pelos próximos 20 anos! Quem será mais afetado por isso? As mulheres. As mulheres negras e pobres vão sofrer infinitamente mais. Serão elas as vítimas prioritárias de mais essa violência política cometida contra todo o povo brasileiro. Serão as mulheres que mais vão sofrer com os recursos escassos da assistência estudantil, com a ausência de novas creches e escolas para seus filhos e com o desmantelamento do SUS e do SUAS. E todas sofreremos com a política sexista cometida agora abertamente pelo Estado brasileiro, que foi ocupado ilegitimamente, ilegalmente, autoritariamente, por essa elite política atávica, colonial, constituída basicamente de homens brancos, heterossexuais, racistas e machistas. Portanto, mulheres, ACORDEM! Resistam, porque se o horizonte do que se desenha para os próximos tempos neste país já é suficientemente ruim para os homens “normais” e “medianos” que o habitam, o nosso horizonte será de perdas ainda mais severas e profundamente graves que poderão jamais ser reconvertidas em conquistas e em direitos. 15
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organização e trabalho: desafios atuais para profissionais da psicologia A contribuição da(o) psicóloga(o) nas organizações têm sido apontada como fundamental para a criação de um ambiente mais saudável para o trabalhador.
Pesquisa realizada em 2008 pela Universidade de Brasília (UnB), em parceria com a Previdência Social, demonstra que o número de trabalhadores com sofrimento psíquico tem crescido. No levantamento, 48,8% dos trabalhadores que se afastam por mais de 15 dias do serviço sofrem algum tipo de psicopatologia. “Quando se olha o ranking divulgado pelo INSS sobre a principal causa de afastamento do trabalho, o sofrimento mental está em terceiro lugar, mas considero que é a primeira, pois há outras doenças que são diagnosticadas como adoecimento físico, principalmente as doenças cardiovasculares e osteomusculares, que têm como um dos fatores causais as relações e condições de trabalho”, aponta a conselheira e coordenadora da Comissão Psicologia Organizacional e do Trabalho, do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), Aparecida Cruvinel. Segundo ela, os ambientes estão cada vez mais “superficiais e fugazes”, fazendo com que o trabalhador precise lidar com inseguranças e incertezas a todo momento. A psicóloga Débora Comitre, especialista em psicodinâmica do trabalho e atuante nas organizações desde o período da faculdade, localiza a importância da Psicologia no ambiente corporativo em casos como assédio moral, processo de perícia médica e afastamento decorrente de depressão provocada por situações relativas ao trabalho. No entanto, o grande desafio neste momento para a Psicologia Organizacional e do Trabalho, na opi16
nião de Aparecida Cruvinel é a transformação nas leis do trabalho e nas relações no ambiente das organizações: a(o) psicóloga(o) deve atentar para como as novas reformas que estão sendo propostas hoje no Congresso Nacional, trazendo ainda mais angústia para o trabalhador. Afinal, o que vem por aí?
Formação e mercado A professora de Psicologia nas Faculdades Promove e Unicor, Maria do Carmo Teixeira Costa, e também integrante da Comissão de Psicologia Organizacional e do Trabalho do CRP-MG, destaca que a formação tem várias disciplinas que contribuem com a preparação para atuação profissional nas mediações de conflitos nas empresas, nas relações interpessoais, no ambiente e no levantamento do clima organizacional. A professora da PUC-Minas, Nanci Rajão, destaca que cada vez mais tem visto alunos da graduação se interessarem na atuação dentro das organizações como psicóloga(o), inclusive no terceiro setor onde o foco não é alcançar maior produtividade, mas desenvolver a cooperação em equipe. Segundo ela, por essa razão as universidades tentam oferecer uma formação mais ampla que contribua com questões como a solução de conflitos sociais.
reportagem
Por um ambiente multidisciplinar na organização do trabalho Está em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei do Senado (PLS) 439/2015, que estabelece como privativos para tecnólogos (as) e administradores (as) profissionais regulares os cargos e fun-
ções com atribuições voltadas para esses campos, em organizações privadas, não governamentais e públicas. Dentre as atividades que se tornariam exclusivas do administrador, pelo texto do PLS, estão as de Recursos Humanos , comumente desenvolvidas pelas(os) psicólogas(os), e cuja base teórica e metodológica é do campo da Psicologia.
De acordo com Elizabeth Lacerda Barbosa, conselheira por Minas Gerais do Conselho Federal de Psicologia, questões relacionadas a atuação de Psicólogas(os) e Administradores no ambiente corporativo, têm merecido cada vez mais atenção, especialmente, em função da complexidade envolvida no gerenciamento das pessoas. CFP e CFA assinaram um termo de compromisso no qual defendem o diálogo constante em defesa da autonomia profissional de cada categoria, respeitando a multidisciplinaridade sempre que necessária. “A Psicologia Organizacional e do Trabalho está entre as especialidades reconhecidas pelo Conselho Federal de Psicologia para efeito de concessão e registro do título profissional de especialista em psicologia. Acreditamos não ser pertinente restringir esta prática aos profissionais com registro no Conselho de Administração. Uma equipe multiprofissional certamente desenvolverá programas que visem a satisfação, proteção, valorização e saúde do trabalhador com maior chance de sucesso, exatamente pela diversidade de saberes envolvidos. Não queremos e nem pretendemos interferir na regulamentação da profissão do administrador, mas não podemos deixar de nos posicionar sempre que normas ou regulamentos impactem negativamente em nosso campo de atuação. A Psicologia Organizacional e do Trabalho pode viabilizar, adequadamente e de modo mais efetivo, a relação entre pessoas e trabalho de forma que ambos possam se beneficiar, sem necessariamente causar prejuízo ou sofrimento às partes envolvidas. E nossa formação nos diferencia neste tipo de intervenção”, pontua Elizabeth Lacerda. A psicóloga Débora Comitre considera que os profissionais formados em Psicologia que atuam dentro de uma empresa conseguem imprimir um olhar mais humano ao ambiente do trabalho e defende que o ideal não é restringir a formação do profissional, mas trabalhar com uma equipe multidisciplinar. Para Elizabeth Lacerda, uma das prerrogativas da(o) psicóloga(o) é realizar avaliações dos resultados do
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trabalhador, observando a psicodinâmica do indivíduo e das relações no ambiente organizacional. “Atualmente a área de ARH não presta serviços especializados apenas, ela é também uma área de consultoria interna, preparando e orientando para a nova realidade mercadológica. Assim, o planejamento estratégico de RH deve ser parte integrante do planejamento estratégico da organização e deve contribuir para o alcance dos objetivos organizacionais e individuais. As(os) Psicólogas(os) como legítimas(os) conhecedoras(es) e estudiosas(os) da mente humana, são profissionais que buscam auxiliar as pessoas a encontrar o equilíbrio mental no desempenho de suas atividades laborais. Pesquisas de estudiosos dessa temática demonstram que funcionário saudável e satisfeito com o ambiente do trabalho certamente é mais comprometido e engajado profissionalmente”, conclui. A conselheira Aparecida Cruvinel defende que a atuação de psicólogas(os) dentro das organizações contribui para promover um ambiente que respeite as relações humanas e que seja mais inclusivo e diverso; e que o sentido do trabalho seja levado em conta como forma de criar laço social e trazer sentido para a vida. “Quando aproximamos a expressão das potencialidades com a produção de produtos e serviços significativos para a vida do trabalhador produzimos saúde nas situações de trabalho”, ressalta. Minas Gerais tem proposto ações para evidenciar as especificidades da Psicologia no âmbito das organizações. A realização de seminários e publicação de artigos que evidenciem a atuação da(o) psicóloga(o) no campo de trabalho está entre as atividades da Comissão de Psicologia Organizacional e do Trabalho do CRP-MG. Em 2016 foi publicada a cartilha “Saúde do trabalhador: saberes e fazeres possíveis da Psicologia do Trabalho e das Organizações” com artigos que colaboram com o debate sobre a formação e especificidades da(o) psicóloga(a) nesta área. Clique aqui para ler. 17
ciência e profissão
ensino de Psicopatologia deve respeitar usuários e estudantes Comissões de Saúde e de Formação Profissional do Conselho têm atuado em conjunto com outros atores sociais para encontrar práticas cidadãs e éticas
Orientado pelos marcos jurídicos da saúde mental no Brasil, o Conselho Regional de Psicologia - Minas Gerais (CRP-MG), entidades da área da saúde mental e instituições de ensino refutam algumas formas de ensino da psicopatologia, como levar alunas (os) para espaços de internação psiquiátrica em instituições totais, com o objetivo de realizar uma entrevista com pacientes com finalidade pedagógica. A conselheira Odila Braga coordenou a Comissão de Saúde no XIV Plenário do CRP-MG, quando o Conselho foi demandado a posicionar-se sobre o tema do ensino de Psicopatologia e a prática de apresentação de pacientes - questão que vinha sendo objeto de incômodo para professores e alunos em cursos de Psicologia. Reuniu para esta discussão vários setores da Saúde Mental, entidade dedicada ao Ensino de Psicologia, diretores de cursos de Psicologia no estado, por meio da Comissão de Educação Profissional do CRP-MG e atores representativos de usuários e trabalhadores da Saúde Mental. “Trata-se de um tema delicado e que exige um tratamento sensível, pois tal prática é desenvolvida e defendida em alguns espaços acadêmicos, trazendo à baila questionamentos éticos por parte de usuários e estudantes, que a entendem como limitada ao aprendizado de sintomas, ferindo princípios da luta antimanicomial e avanços das próprias políticas de Saúde Mental dos últimos anos”, explica Odila Braga, que, diante disto, considera importante o esforço em buscar e evidenciar outras formas de ensino de Psicopatologia, através 18
de práticas que respeitem os direitos humanos de usuários e estudantes. A Comissão de Saúde do CRP-MG do XIV Plenário, em conjunto com o Sindicato dos Psicólogos do Estado de Minas Gerais (PSIND), a Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP), a Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais (ASSUSAM), a Frente Mineira sobre Drogas e Direitos Humanos, o Fórum Mineiro de Saúde Mental (FMSM) e o Programa de Extensão à Saúde Mental da UFMG (PASME), discutiram, por quase um ano o tema, elaborando a carta “Por uma prática de ensino em psicologia sem manicômios”. Este documento foi enviado para comitês de ética em pesquisa das instituições de ensino superior de MG, para a Coordenação Estadual de Saúde Mental de Minas Gerais, para as direções de hospitais psiquiátricas de diversos municípios, para colegiados de professores dos cursos de Psicologia em MG, reitorias de universidades, para diretorias e coordenações de cursos de Psicologia no Estado.
Clique aqui e leia a carta “Por uma prática de ensino em psicologia sem manicômios”
ciência e profissão
Novas práticas A discussão sobre o ensino da psicopatologia tem sido enfocada na Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas (Asussam). De acordo com Sílvia Maria Soares Ferreira, primeira secretária do coletivo, uma alternativa ética de ensino da psicopatologia levaria em conta os benefícios ao usuário na sua integração social. “O processo de aprendizado sobre este tema deveria ser feito com cuidado, com várias abordagens no serviço substitutivo. Um diagnóstico adequado não se restringe aos sintomas de um paciente em crise. São necessários olhares multidisciplinares, observação do histórico e inclusive contexto familiar do indivíduo. Somos contra a entrevista com pacientes por um professor com um grupo de alunos como forma de diagnóstico e estudo, pois esta prática é invasiva, expõe a privacidade do sujeito e não contribui com a sua inclusão social”, defende Sílvia. Lecy Rodrigues Moreira, diretora da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (Abep) explica que é preciso entender o lugar da loucura e ser contra práticas de exclusão. Segundo a professora, autores da psicologia social, contribuem para uma mudança de ponto de vista com relação à loucura, que não poderia ser compreendida apenas no campo intrapsíquico da subjetividade, mas levando-se em conta seu contexto social, ou seja, a sociedade que também a produz. Alternativas de ensino da psicopatologia têm sido discutidas com profissionais da academia e usuários de serviços de saúde mental. “Quem quer aprender sobre as psicopatologias pode buscar nos livros. Há literaturas que mostram avanços para lidar com o tema. Infelizmente muitas instituições escolhem o retrocesso, por acharem mais prático usar pacientes como cobaias para realizar o diagnóstico e mostrar essas patologias apenas pelos sintomas. Sabemos também que existe certa hegemonia de pensamento com relação à prática de apresentação de pacientes, sendo difícil mudar uma cultura já implantada, mas estamos de alguma forma caminhando em direção a práticas éticas e de respeito a direitos humanos, aprendendo sobre o indivíduo com sofrimento mental em uma dimensão social e humana”, conclui Lecy Moreira.
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