Editorial
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os últimos anos, a produção de suínos tem apresentado um incrível desenvolvimento. No entanto, muitos dos problemas reprodutivos tradicionais permanecem nas granjas. Em geral, os problemas são os mesmos, mas a maneira de resolvê-los mudou graças ao surgimento de novas ferramentas. No artigo "Novas soluções para antigos problemas reprodutivos", lidamos com a gestão de dois problemas tradicionais: a síndrome do segundo parto e a condição corporal no desmame, contemplando o cio lactacional e a sua relação com o anestro pós-desmame. A síndrome do segundo parto tem um enorme impacto no desempenho da produtividade das granjas porque de 17% a 20% de todas as porcas são de segundo parto. Este problema está relacionado com a condição corporal ao desmame. Durante a primeira lactação, a porca ainda está crescendo e, portanto, seus requisitos nutricionais são maiores. Os principais sinais dessa síndrome são a redução da taxa de fertilidade, o anestro e as leitegadas de número reduzido. Atualmente, existem estratégias que podem resolver o problema da síndrome do segundo parto como também da perda de condição corporal no desmame, que ocorre durante a lactação em qualquer que seja a paridade. Confira estas estratégias no artigo de reprodução desta edição. Outro tema muito interessante sobre sanidade está no artigo "A mastite suína é uma síndrome multifatorial", que destaca as doenças pós-parto como uma das causas mais importantes de perdas produtivas e econômicas em granjas de criação intensiva, e as consequências manifestam-se em forma de mortalidade de porcas e redução da sobrevivência de seus leitões, com efeitos visíveis durante todo o ciclo produtivo. A terminologia que descreve o fenômeno sofreu mudanças no decorrer dos anos, passando do clássico e superado complexo mastite-metriteagalaxia (MMA) à síndrome da disgalaxia pós-parto (PPDS) e síndrome da hipogalaxia perinatal. Outras denominações fazem referência aos sintomas principais e caracterizam a doença como um complexo composto de agalaxia, ou aleitamento insuficiente ou agalaxia toxêmica pós-parto, com vários agentes etiológicos envolvidos. No entanto, qualquer que seja a terminologia utilizada, o resultado final é a redução da produção de leite nas primeiras 48 horas depois do parto, com rápida perda de peso dos leitões. Confira também, nas páginas a seguir, o artigo sobre nutrição que destaca as "Estratégias para elevar o consumo de ração em leitões recém-desmamados: a importância da nutrição nas primeiras fases de vida do leitão". Ele aborda o conceito de que para estimular o consumo de alimentos e manter a integridade da mucosa intestinal, é essencial a adoção de dietas complexas, as quais incluem alimentos de alta palatabilidade e digestibilidade. Uma vez que no suíno a velocidade de ganho de peso na fase inicial reflete diretamente na idade de abate, é imprescindível entendermos a forte relação que existe entre a fase de creche e as subsequentes, pois só assim poderemos entender que uma dieta mais cara na fase pós-desmame não significa desperdício de dinheiro, e sim investimento para o futuro. Esta edição ainda traz o Divirta-se, com jogos e aprendizados. Confira e boa leitura! As editoras
Índice
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Entrevista
A evolução da genética e da reprodução suína
10 Nutrição
Estratégias para elevar o consumo de ração em leitões recém-desmamados
16 Sanidade
Avaliação de dois diferentes protocolos de tratamentos antibióticos para o controle da doença respiratória dos suínos (SRD)
20 Sanidade
A mastite suína é uma síndrome multifatorial
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Capa
Reprodução Novas soluções para antigos problemas reprodutivos
Revista Técnica da Suinocultura
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SUÍNOS
A Revista Suínos&Cia é destinada a médicos-veterinários, zootecnistas, produtores e demais profissionais que atuam na área de suinocultura. Contém artigos técnicocientíficos e editorias instrutivas, apresentados por especialistas do Brasil e do mundo.
26 Reprodução
Novas soluções para antigos problemas reprodutivos
32 Revisão Técnica
Resumo da 48ª reunião anual da Associação Norte-americana de Veterinários Especialistas em Suínos (AASV)
50 Sumários de Pesquisa 54 Recursos Humanos
A nova economia, revolucionária: Evolução sempre!
56 Vetanco Informa
Novas perspectivas no controle de micotoxinas
60 Jogo Rápido
Nazaré Lisboa pergunta: Como encontra-se a biosseguridade da sua granja?
64 Divirta-se
Encontre as palavras Jogo dos 7 erros Teste seus conhecimentos Labirinto
Editora Técnica Maria Nazaré Lisboa CRMV-SP 03906 Consultoria Técnica Adriana Cássia Pereira CRMV - SP 18.577 Edison de Almeida CRMV - SP 3045 Mirela Caroline Zadra CRMV - SP 29.539
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Foto da capa cedida por Rafael Pallás A reprodução parcial ou total de reportagens e artigos será permitida apenas com a autorização por escrito dos editores.
Entrevista
A evolução da genética e da reprodução suína Rafael Tomas Pallás Alonso, profissional renomado internacionalmente, especialista em reprodução suína, nesta entrevista avalia importantes temas relacionados a genética e a reprodução suína, destacando o presente e futuro dessas importantes áreas da suinocultura. Confira!
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médico-veterinário Rafael Tomas Pallás Alonso é graduado pela Faculdade de Veterinária da Unversidade Complutense de Madrid (1985) e especialista em Seleção e Melhoramento Genético e Inseminação Artificial pela Faculdade de Veterinária da Universidade de Zaragoza (1988). Foi responsável pelo Departamento de Genética e Reprodução da empresa Proinserga. Atualmente é consultor da Kubus SA (empresa especializada em reprodução suína) fundamentalmente na América Latina, América do Norte e Leste europeu e também é professor nas Universidades de Lérida, Barcelona e Zaragoza no curso de Mestrado em Produção e Sanidade Suína. Palestrante em diversos congressos internacionais. Além de inúmeras publicações de trabalhos científico e é membro da ANAPORC (Associação Nacional da Suinocultura Científica) e da AVEPORCYL (Associação de Veterinários Especialistas em Suínos de Castilla e León). Recentemente, foi premiado com a Medalha de Prata do Ilustre Colégio Oficial de Veterinários de Segóvia. Nesta entrevista, Dr. Rafael Tomas Pallás Alonso fala sobre sua carreira profissional, as evoluções nas áreas da genética e reprodução e o futuro dessas importantes áreas da suinocultura.
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S&C: Como iniciou sua trajetória na reprodução suína? RP: Na verdade, é uma coisa de família, uma vez que meu pai, também veterinário, foi um dos pioneiros na industrialização da produção de suínos, na Espanha, na década de 1960. Então, quando criança vivi em uma granja de suínos, onde meu pai era o veterinário. Em 1987 fiz pós-graduação em reprodução e genética animal, em 1988 trabalhei na Dinamarca com reprodução de bovinos e no início de 1989 fui contratado pela Proinserga, uma das maiores empresas de produção de suínos da época, não só da Espanha como também da Europa. Meu trabalho nesta empresa sempre esteve relacionado à reprodução e à genética suína. Suínos&Cia | nº 59/2017
S&C: A suinocultura evolui a cada dia tanto na genética quanto na reprodução. Qual foi o processo de maior impacto nessas duas áreas que revolucionaram a suinocultura mundial? RP: No caso da reprodução, acredito que o maior impacto tenha sido o desenvolvimento da inseminação artificial, que fez com que praticamente todas as porcas sejam inseminadas, a nível mundial. Além disso, ainda a esse respeito, também devemos assinalar a criação de grandes Centrais de Inseminação multigenéticos, os quais distribuem milhares de doses diariamente em todos os territórios, permitindo que a inseminação artificial atinja a todas as granjas, independentemente do seu tamanho e de onde quer que estejam. Quanto à genética, a implementação da leitura de índices genéticos baseados na tecnologia BLUP (Best Linear Unbiased Prediction) por todas as empresas de criação genética tornou possível a excelente produção que temos hoje em dia, especialmente no que diz respeito a parâmetros reprodutivos, os quais têm uma herdabilidade muito baixa e respondem mal aos sistemas de seleção tradicionais.
Rafael Pallás Sierra (1923-2015)
Entrevista
Além disso, nos últimos anos, a seleção genômica proporcionou novos e mais rápidos avanços, permitindo que atingíssemos níveis de produção impensáveis há apenas alguns anos. S&C: Atualmente, as Centrais de Inseminação Artificial (CIAs) concentram-se nas empresas fornecedoras de programa genético por meio da genética liquida. Esse será o futuro ou ainda haverá CIAs independentes? RP: Sim, acho que esse será o caminho para se espalhar o melhoramento genético produzido por linhas genéticas de diferentes empresas envolvidas em genética de suínos. É certo que para a produção e a distribuição de doses de sêmen de machos terminadores, as CIAs independentes continuarão a desempenhar um papel muito importante; mas para a produção das linhas maternas, a genética líquida irá mais longe e não tardará a chegar o dia em que ela será praticamente a única maneira de introduzir genes novos e melhores na nossa suinocultura. S&C: Em relação à IA, ainda existe muito espaço entre a tecnologia disponível e o que se tem nas granjas e nas CIAs? RP: Quanto aos protocolos de aplicação da técnica de inseminação em granjas, acredito sim que sejam atuais. Por exemplo, a técnica de inseminação pós-cervical tem sido adaptada e modificada em relação aos novos conhecimentos que temos no momento. No entanto, na avaliação seminal das Centrais de Inseminação, vejo muita diferença entre o que é feito e o que poderia ser realizado no dia a dia de um laboratório de uma CIA, além de técnicas já disponíveis na área de pesquisas ou das que já são empregadas em medicina humana. O problema é que são técnicas que consomem muito tempo e não podem ser incluídas na rotina diária, ou precisam de equipamentos ou envolvem processos caros, o que as torna inviáveis por razões econômicas. Já no que diz respeito a equipamentos, os grandes CIAs também estão bastante atualizadas, uma vez que trabalham com o sistema CASA (Computerized Assisted Sperm Analysis) para avaliação seminal, utilizam máquinas de embalagem que produzem centenas de doses por hora e usam sistemas de rastreabilidade digital, entre outros avanços.
Rafael Pallás em seu momento de trabalho realizando ultrassonografia RP: Em se tratando dos CIAs, espero a implementação de novas técnicas de rápida avaliação seminal, a generalização do uso de técnicas de fluorescência para identificar anomalias e defeitos espermáticos e a instalação de citômetros de fluxo nos laboratórios (atualmente ainda muito caros, mas já presentes em alguns centros de inseminação). A evolução dos diluentes de sêmen proporcionará maiores possibilidades de conservação das doses e minimizará o forte impacto que o transporte exerce sobre os espermatozoides. No que diz respeito às granjas, acredito que a inseminação em tempo fixo será implementada e o uso de sêmen congelado e sexado aumentará, especialmente em granjas multiplicadoras e em centros de seleção, o que passará a movimentar as doses de sêmen internacionalmente. O desenvolvimento de novas tecnologias digitais ajudará no trabalho, seja na detecção do cio por meio de sistemas eletrônicos ou termográficos, ou nos estudos relativos ao aparelho genital, tanto feminino como masculino, por meio do uso de novas técnicas de ultrassom. A introdução e a generalização do uso do equipamento de ecografia B-Mode permitirá ao veterinário avançar não só no diagnóstico da gestação precoce, como também permitindo toda uma série de aplicações de grande impacto econômico na suinocultura. Entre estas aplicações estão o monitoramento da atividade
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“Acredito que a ultrassonografia, atualmente, não seja muito efetiva, já que é usada apenas para o diagnóstico de gestação, quando se trata de uma técnica que oferece muito mais possibilidades, tanto no uso em fêmeas como nos machos”.
S&C: Para os próximos anos o que espera de inovação em reprodução suína?
nº 59/2017 | Suínos&Cia
Entrevista
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ovariana, a estimativa do momento da ovulação, o estágio de maturação do sistema reprodutivo de futuras reprodutoras, a fim de determinar o início da puberdade, bem como a determinação de patologias, tanto no indivíduo como no grupo, patologias estas relacionadas à piora dos índices técnico e econômico.
S&C: No contesto de avanços da reprodução de técnicas já utilizadas em outras espécies, como IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo), sexagem de sêmen, sêmen congelado, transferência de embriões, inseminação artificial intrauterina profunda, fecundação in vitro, entre outras, algumas delas poderão ser inovadoras nos sistemas de produção suína nos próximos anos?
S&C: O problema de mão de obra especializada nas áreas de maternidade e reprodução ainda são frequentes. Pela sua experiência e visão, como estamos e como será a realidade dessas áreas para os próximos anos? RP: No momento vejo grandes diferenças entre as empresas, pois algumas têm programas rigorosos de treinamento de seus funcionários, não só para os iniciantes, mas também durante o desenvolvimento das atividades por meio de programas de formação contínua. Outras, infelizmente, praticamente se esquecem do treinamento, e as equipes de trabalho fazem o que podem ou sabem, sem que ninguém lhes tenham dado instruções pertinentes. Sem dúvida, diante do futuro e buscando atender às demandas mais exigentes das linhas genéticas com as quais trabalhamos, precisaremos de pessoal muito mais especializado e, portanto, muito mais bem treinado. Acredito que este será, no futuro, um dos pontos principais a serem explorados para se maximizar a utilização do potencial genético de nossos animais. Quem não tiver programas de treinamento para seus funcionários não alcançará resultados produtivos e, consequentemente, econômicos em sua exploração. Não nos esqueçamos de que o treinamento é investimento, não custo.
RP: De todas as técnicas relacionadas, o mais perto de uma aplicação mais ou menos extensa que vejo num futuro próximo é a inseminação artificial em tempo fixo. Embora considerando que não se trata de uma técnica adequada para todos os tipos de granja, creio que haverá quem possa trabalhar com ela rotineiramente. A principal desvantagem desta técnica é o alto nível de organização exigido, com a necessidade do cumprimento de horários concretos e janelas de ação de poucas horas, o que se, não for atendido, invalidará seu funcionamento. Quanto ao uso de sêmen congelado, os protocolos de congelamento e descongelamento de ejaculados são perfeitamente definidos e claros. O problema é que, enquanto os resultados de uso maciço a campo não coincidem com os do sêmen fresco, sua utilização ficará restrita à difusão genética, à movimentação internacional de doses seminais ou à criação de bancos de reserva genética ou de contingência frente a possíveis eventualidades. A aplicação de doses congeladas e descongeladas por meio da técnica de inseminação pós-cervical permite que seu uso venha se incrementando, devido à melhora nos resultados em comparação com a aplicação por inseminação tradicional.
Rafael Pallás em momento de treinamento prático, afirma que: “treinamento é investimento, não custo” Suínos&Cia | nº 59/2017
S&C: Quais as possibilidades que existem na reprodução e estão disponíveis no mercado, porém, ainda são pouco utilizadas na suinocultura? RP: Acredito que a ultrassonografia, atualmente, não seja muito efetiva, já que é usada apenas para o diagnóstico de gestação, quando se trata de uma técnica que oferece muito mais possibilidades, tanto no uso em fêmeas como em machos. Nas fêmeas, pode nos ajudar a determinar a puberdade do plantel de reposição e, sobretudo, auxiliar no diagnóstico de patologias reprodutivas por meio da inspeção ultrassônica dos ovários, ovidutos e útero. Por meio do ultrassom podemos localizar problemas nos testículos dos machos, os quais, já se evidenciou, estão correlacionados com o aparecimento de certas anomalias nos espermatozoides ou com a alteração dos parâmetros de qualidade seminal. Quanto às Centrais de Inseminação, acredito que hoje as técnicas de avaliação da qualidade seminal por meio de fluorescência sejam subutilizadas, principalmente devido ao seu alto custo. Mas se espera que, no futuro, o preço baixe e a sua utilização seja otimizada pelos laboratórios, se não rotineiramente, pelo menos periodicamente.
Entrevista
S&C: Como a reprodução pode otimizar custos de produção em grandes sistemas de produção? RP: Sendo o mais eficiente possível em todos os aspectos, maximizando a produtividade das fêmeas e a difusão do melhoramento genético por meio da obtenção de um número maior de doses seminais dos melhores machos de cada linha genética. A reprodução é o motor ou o coração da granja e, por isso, se não funciona, toda ela se ressente, sendo impossível a obtenção de bons resultados econômicos. Se os resultados reprodutivos, principalmente a fertilidade no nascimento e a prolificidade, não são bons. Além disso, um bom manejo reprodutivo nos ajuda a reduzir o número de dias não produtivos da granja: intervalo de desmame mais curto, entrada no cio, menor taxa de repetição, menor intervalo desmame/cobertura fértil, repetições mais curtas, sincronização do cio de nulíparas. Como se pode notar, existem muitos fatores nos quais podemos trabalhar, reprodutivamente falando, para melhorar a rentabilidade da granja. S&C: Existe alguma fórmula de como é possível conciliar viagens, visitas, aulas e conferências em diferentes países e ainda vida pessoal? RP: Gostaria de ter uma fórmula mágica para resolver esta questão, que para mim é a pior de todas, por estar separado da família por várias semanas. Em primeiro lugar, é preciso que todos entendam que neste nosso mundo globalizado todos os empregos exigem viagens para fora de seu país. De minha parte, tento compensar estando o maior tempo possível com minha esposa e filha quando estou na Espanha, fazendo atividades com elas, mesmo que não seja o que mais quero naquele momento. Além disso, sempre que estou longe de casa, mas em um ambiente próximo, onde se pode chegar de trem ou em um voo de curta duração, procuro fazer com que elas venham na sextafeira e, assim, passamos o final de semana juntos, onde quer que seja. A verdade é que as novas tecnologias, como Skype, Facetime, WhatsApp, entre outras, ajudam muito a lidar com essa questão, pois nos dão uma sensação de proximidade. Até consigo ajudar minha filha com os deveres da escola, mesmo estando a milhares de quilômetros de distância. S&C: Com uma vida profissional brilhante e bem-sucedida, o que diria para àqueles que estão ingressando na profissão e ou fazendo especialização em reprodução suína? RP: Acho que isso vale para qualquer tipo de trabalho. Acredito que o principal é gostar daquilo que se faz e fazê-lo com entusiasmo e honestidade. Outro ponto importante é a necessidade de adquirir a formação necessária, a mais ampla possível no assunto, geralmente por meio da realização de cursos de especialização, pós-graduação ou mestrado, tendo o cuidado de não ser negligente e continuar a estudar todos os dias para se atualizar com rela-
Rafael Pallas: “Para mim, é um motivo de muito orgulho trabalhar na empresa que Dr. Santiago fundou na década de 1980, a KUBUS” ção aos avanços ocorridos no campo da biotecnologia reprodutiva. Finalmente, diria que os suínos são importantes, mas ainda mais importantes são as pessoas, e neste tipo de trabalho, temos muito contato com elas, que são diferentes umas das outras. Por isso, devemos respeitá-las e, certamente iremos aprender algo também com elas. Aprender ouvir e perguntar sem duvida é fundamental. A troca de informações e a parceria também ajudarão a chegar no objetivo determinado.
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S&C: Durante toda a sua formação e atuação, pessoas importantes, ou instituições, ajudaram a fazer sua história. Gostaria de fazer algum agradecimento? RP: Em primeiro lugar, devo agradecer aos meus pais pela oportunidade que me deram de me formar em todos os aspectos, não só no campo profissional, mas também nos valores da vida. Quero agradecer ao meu pai, Rafael Pallás Sierra, também veterinário e com quem visitei as primeiras granjas de suínos, que incutiu em mim o amor por esses animais e pelo trabalho benfeito. No campo da reprodução de suínos, não posso me esquecer do Dr. Santiago Martin Rillo, excelente profissional e pessoa ainda melhor, com quem aprendi muitas coisas e que me iniciou nessa área. Na verdade, foi a sua mão que me guiou na primeira vez que inseminei uma porca. Hoje em dia, para mim, é um motivo de muito orgulho trabalhar na empresa que ele fundou na década de 1980, a KUBUS e, respeitando as proporções, dar continuidade na tarefa que ele começou brilhantemente. Finalmente, gostaria de mencionar dois veterinários, Antonio Vizcaíno e Carlos Sacristán, que me ensinaram todos os segredos da seleção de cachaços e porcas destinados a serem futuros reprodutores. nº 59/2017 | Suínos&Cia
Nutrição
Estratégias para elevar o consumo de ração em leitões recém-desmamados: a importância da nutrição nas primeiras fases de vida do leitão Aline Alves da Silva Zootecnista, Mestre em Ciência Animal Gerente de Nutrição e Formulação na Poli-Nutri Nutrição Animal aline.alves@polinutri.com.br
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a criação comercial de suínos, é comum nos depararmos com consumo reduzido de ração na fase pós-desmame. Alimentação reduzida nessa etapa pode comprometer a produção de enzimas digestivas responsáveis pela hidrólise dos macronutrientes e, consequentemente, aumentar a susceptibilidade dos leitões a desordens intestinais e diarreias. Alterações na arquitetura da mucosa intestinal culminam na redução da capacidade das vilosidades em transportar aminoácidos para os sítios de absorção. Os efeitos cumulativos destes fatores incluem a redução da capacidade digestiva, devido à baixa ingestão de alimentos, durante o período pós-desmame1. As modificações morfométricas da mucosa e a depressão da capacidade das enzimas digestivas ocorrem em estado de desnutrição ou em jejum2, elucidando a importância da ingestão de nutrientes na manutenção da integridade epitelial do intestino nas primeiras fases de vida dos animais. Não está totalmente claro até que ponto os efeitos anatômicos, bioquímicos e histológicos observados no intestino de leitões desmamados refletem na interrupção da ingestão de nutrientes, mas o período envolve o momento da desmama e pode durar 48 horas ou mais. No entanto, sob condições diversas, os leitões se deparam com falta de apetite, menor consumo de ração, e, consequentemente, apresentam retardo no crescimento. As alterações que ocorrem na morfologia intestinal, nas primeiras fases
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Suínos&Cia | nº 59/2017
Julio Cezar Dadalt Zootecnista, PhD em Nutrição Animal Gerente técnico de suínos na Poli-Nutri Nutrição Animal julio.dadalt@polinutri.com.br
de vida do leitão, definem o sucesso no desempenho dos animais nas fases subsequentes do crescimento3. O desenvolvimento fisiológico do trato gastrointestinal, na medida em que o animal cresce, tem implicações na eficiência de hidrólise dos ingredientes e uso dos nutrientes dietéticos. Há, portanto, diferenças na digestibilidade dos alimentos, e a eficiência no aproveitamento dos nutrientes aumenta conforme a idade e peso do suíno, a partir do desmame. Assim, para estimular o consumo de alimentos, e manter a integridade da mucosa intestinal, é essencial a adoção de dietas complexas, as quais incluem alimentos de alta palatabilidade e digestibilidade. Uma vez que a velocidade de ganho de peso na fase inicial reflete diretamente na idade de abate dos suínos, é imprescindível que compreendamos a forte inter-relação que existe entre a fase de creche e as subsequentes, pois só assim entenderemos que uma dieta mais cara na fase pós-desmame não significa desperdício de dinheiro, e sim investimento para o futuro. Aspectos fisiológicos do trato gastrointestinal O leite da porca é composto, principalmente, de gordura (40,6 g/100 g na matérica seca), proteína (29,4 g/100 g na matérica seca) e lactose (28,3 g/100 g na matérica seca)18. A lactose é convertida pela lactase à galactose e glicose. A maior parte da galactose absorvida é utilizada pelo fígado para repor o glicogênio hepático, enquanto a maior parte da glicose absorvida passa pelo fígado sem ser metabolizada, ficando disponível para corrigir a hipoglicemia e servir como fonte de energia para tecidos como o cérebro. Alguns aminoácidos oriundos da proteína do leite podem, além de contribuir para a síntese proteica, ser usados também como fonte de energia para as células epiteliais (por exemplo, glutamina). De forma geral, o leite materno fornecido em quantidades adequadas é suficiente para garantir o aporte energético/proteico necessário para manutenção e crescimento adequado dos leitões.
Nutrição
Ao desmame, os leitões são confrontados por múltiplos estressores, tais como transição da dieta líquida para a dieta sólida, em que a energia provinda da lactose e da gordura do leite da mãe é substituída pela energia oriunda, principalmente, dos carboidratos vegetais, que são difíceis de ser hidrolizados no trato gastrointestinal ainda imaturo dos animais, e fatores estressores de outras ordens, como mudanças sociais complexas, incluindo a separação da porca e a exposição dos leitões a grupos sociais desconhecidos. Muitas alterações morfológicas e anatômicas do intestino delgado ocorrem nessa fase pósdesmame. Leitões desmamados precocemente têm baixa ingestão inicial de ração, o que parece ser o principal motivo da estagnação do crescimento nessa fase. Várias pesquisas têm elucidado a forte relação que existe entre a ingestão de alimentos e a manutenção constante das vilosidades do intestino delgado4,5. De forma resumida, as vilosidades do intestino delgado são responsáveis pela absorção de aminoácidos, vitaminas, minerais e da glicose, essenciais para geração de energia e síntese proteica nos animais. No entanto, as vilosidades não somente absorvem nutrientes para servir o hospedeiro (leitão), mas dependem destes mesmos nutrientes para manutenção própria, já que sofrem turnover constante. Uma vez que as vilosidades reduzem de tamanho ou atrofiam, pela falta de nutrientes chegando até elas no intestino delgado, a absorção de vitaminas, minerais, aminoácidos, ácidos graxos e glicose fica comprometida, e problemas entéricos podem ser visualizados. Neste sentido, a redução da altura de vilosidades e a taxa vilosidade/cripta (criptas são glandulas localizadas entre as vilosidade e tem por função produzir hormônios e enzimas de defesa) pode ser um reflexo direto da diminuição da ingestão de ração no período imediato pós-desmame. Além do mais, a magnitude das respostas intestinais parece estar relacionada mais com a taxa de consumo do que propriamente com a composição da dieta. Por outro lado, por ser um período crítico, a fase de transição por si só já explica parte da redução da altura das vilosidades e o aumento na profundidade das criptas6. Vente Spreeuwenberg et al.5 analisaram os efeitos da composição dietética envolvendo fontes de proteína, aminoácidos específicos, ácidos graxos, fibras, oligossacarídeos não digeríveis, fatores de crescimento, poliaminas e nucleotídeos na integridade do intestino delgado de leitões desmamados e concluíram que os constituintes individuais dos alimentos tinham apenas efeitos marginais nessa porção do tratogastrointestinal dos animais, enquanto a quantidade de ração ingerida foi mais determinante na função e integridade da mucosa. Isto sugere que, se após o desmame, o consumo de ração for mantido, a atrofia típica das vilosidades pode ser evitada, os problemas entéricos minimizados e o ganho de peso maximizado.
Alterações morfológicas adversas no intestino também podem ser atribuídas a reações locais de hipersensibilidade causadas por antígenos dietéticos. A falta de consumo de ração após as primeiras 48h pós-desmame inicia mudanças morfológicas adversas, deixando o revestimento intestinal mais permeável para os antígenos luminais e eventualmente resulta em maior sensibilidade neste segmento do trato4. O nível de energia da dieta também parece interferir na hipersensibilidade da mucosa do intestino. Uma relação inversa entre as concentrações de ATP (trifosfato de adenosina) na mucosa do jejuno e a permeabilidade na mucosa intestinal pode ser vista, sendo a permeabilidade aumentada quando o nível de energia é baixo. Com o aumento da permeabilidade paracelular, toxinas, compostos alergénicos e bactérias podem entrar nos tecidos sistêmicos, resultando em respostas inflamatórias ou imunológicas7,8. A relação entre a função da barreira epitelial e a atrofia das vilosidades no desmame ainda não é muito bem compreendida. A baixa ingestão de alimentos imediatamente após o desmame interfere também no atendimento dos requerimentos diários de nutrientes. Tais requerimentos de energia em leitões normalmente não são atendidos até o 5º dia após o desmame, e o nível de ingestão de energia no período total de maternidade não é atingido até o final da segunda semana pós-desmame9. A maior necessidade de energia para mantença durante a primeira semana pode refletir maior atividade do leitão na adaptação a novos ambientes físicos e sociais. Neste sentido, leitões recém-desmamados podem gastar mais energia se forem mantidos a temperaturas mais baixas na creche, e se houver disputas pela formação de hierarquia de dominância após a mistura de diferentes grupos nas baias. Portanto, o maior requisito de energia para a manutenção e, simultaneamente, a baixa ingestão de
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nº 59/2017 | Suínos&Cia
Nutrição
alimentos imediatamente após o desmame afetam diretamente na taxa de crescimento dos animais. Fatores que afetam a ingestão de alimentos em leitões desmamados Doenças e ativação do sistema imune A exposição dos suínos a patógenos resulta na liberação de citocinas pró-inflamatórias que ativam o sistema imunológico. Esta ativação do sistema imune produz uma alteração nos processos metabólicos, resultando na supressão da síntese proteica e estimulação da degradação da proteína muscular10. Leitões expostos a desafios que ativam o sistema imune tendem a reduzir a ingestão de alimento, e, consequentemente, piorar o desempenho. Em contrapartida, leitões desmamados precocemente e segregados, expostos a menor pressão de infecção, apresentam consumo mais elevado e maior taxa de crescimento. Em animais desafiados, três fatores principais parecem contribuir para a menor síntese proteica e pelo aumento na degradação da proteína muscular. Primeiro, o desafio associado ao menor consumo de ração (conforme já mencionado) que faz com que a síntese proteica seja limitada pela menor ingestão de aminoácidos. Segundo, as necessidades de nitrogênio do animal desafiado para síntese de proteínas de fase aguda (classe de proteínas cuja concentração plasmática diminui ou aumenta em resposta à inflamação) e outros processos relacionados à imunidade podem impor um encargo maior para o animal. Finalmente, a composição de aminoácidos do músculo esquelético pode ser diferente daqueles usados na síntese das proteínas de fase aguda, fazendo com que o fornecimento total de aminoácidos do músculo esquelético exceda a quantidade necessária para a produção dessas proteínas11. Assim, não é difícil de compreender que as perdas de proteína durante um desafio imunológico sejam maiores do que as causadas pelo consumo reduzido de alimento.
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Creep feeding, idade ao desmame e mistura de leitegadas O creep feeding é uma estratégia comum na fase de pré-desmame dos leitões. O resultado oriundo deste manejo afeta diretamente na fase subsequente de creche, pois permite melhor adaptação do trato digestório às dietas sólidas. Vários estudos confirmam que o fornecimento de dietas sólidas, contendo carboidratos complexos, no período de maternidade, promovem a secreção de ácidos e pepsina no estômago, estimulando, assim, a Suínos&Cia | nº 59/2017
atividade de algumas enzimas responsáveis pela hidrólise dos macronutrientes. As mudanças na produção pancreática de enzimas no período de desmame, e o desenvolvimento saudável do intestino, estão mais relacionadas às mudanças na dieta do que na idade de desmame ou mesmo no ato de desmamar por si só12. Portanto, pode-se sugerir que leitões que consomem dietas sólidas, ricas em amido, proteínas e lipídios durante a lactação, desenvolvem melhor o trato digestório e se adaptam melhor às dietas sólidas no período subsequente de creche. Como já foi visto, o desmame impõe estresse de diferentes ordens: nutricional, psicológico (mistura entre animais de diferentes ninhadas e separação da mãe) e ambiental (baias com menor controle de temperatura, umidade, etc.). Como resposta a isso, os leitões expressam uma resposta aguda ao estresse e um desempenho menor, incluindo baixa ingestão de alimentos, seguido de perda de peso e definhamento. Já tem sido amplamente estudado que quanto mais precoce for o desmame, maior será o estresse gerado no leitão, uma vez que animais muito jovens (< 21 dias de idade) apresentam baixa quantidade de reservas lipídicas e baixa capacidade de aproveitar de forma eficiente os componentes das dietas. No entanto, é de suma importância compreender que leitões desmamados com mais de 21 dias, que não receberam creep-feeding na maternidade, da mesma maneira não utilizam de forma eficiente os componentes das rações após o desmame, pois a baixa quantidade de enzimas digestivas presentes no trato gastrointestinal limita a hidrólise dos macronutrientes da dieta. No que tange mistura de leitegadas, a resposta deste manejo sobre a ingestão de alimentos ainda é controversa. Alguns relatos de pesquisas demostram redução na taxa de crescimento e no consumo de ração e piora na conversão alimentar, enquanto outros trabalhos não demostram efeito sobre o desempenho. No entanto, algumas pesquisas relatam que leitões de diferentes leitegadas, misturadas ao desmame, tendem a um maior consumo de alimento do que leitegadas que, ao desmame, permanecem com os irmãos de sangue. Estas descobertas sugerem que o estresse gerado pela mistura de leitegadas, de fato, aumenta a ingestão de alimento, mas pode ter uma duração de alimentação reduzida. Duas situações são propostas nesse caso; primeiro, a redução na liberação de catecolaminas pela glândula adrenal após a hierarquia social é estabelecida após a mistura e faz com que os leitões dominantes sofram menos da supressão induzida pelo estresse da alimentação e consumam mais do que os animais “dominados”. O aumento da ingestão de ração nos suínos dominantes, após a mistura, pode ser maior do que
Nutrição
naqueles suínos que não reagem ao ato da disputa (luta), e isso, eventualmente, provoca um aumento da ingestão global de ração após o desmame. Em segundo lugar, reduzindo a agressão nas baias pode-se reduzir a ingestão de alimentos por diminuir de forma inadvertida a interação social na alimentação13. Portanto, a formação da hierarquia social, após a mistura de leitões na creche, pode promover o “comportamento alimentar” e, assim, aumentar a ingestão de alimentos pelos leitões. Fatores ambientais Existe um intervalo entre o desmame e o início da ingestão de alimentos. Cerca de 50% dos leitões começam a consumir ração dentro das quatro primeiras horas após o desmame, no entanto, só após 50 h de desmame a maior parte da leitegada (95%) inicia o consumo de fato14. Na prática, vários são os fatores que acometem de forma negativa esse “start” de consumo. As variações climáticas parecem ter uma parcela especial de influência nesse ponto. Leitões desmamados não possuem o sistema termorregulador totalmente desenvolvido, o que aumenta a susceptibilidade deles às doenças respiratórias e entéricas. A temperatura crítica inferior no início de creche varia de 26°C a 28°C na primeira semana e pode ser ajustada para 23°C a 24°C na segunda semana pós-desmame.
Diante da necessidade de ajustes fisiológicos no período de baixas temperaturas, os animais costumam desenvolver alguns comportamentos inatos de sobrevivência e se agrupam para reduzir a área corporal exposta ao frio, e em condições extremas ocorre a mobilização das reservas corporais (reservas lipídicas e as vezes proteica), redução do ganho de peso e aumento na incidência de definhamento e mortalidade. Grande parte da energia fornecida via dieta, nessa fase, é usada para manter a homeostase térmica do leitão por meio da termogênese induzida pela dieta, que é o calor gerado pela digestão e metabolismo dos alimentos consumidos. Em contrapartida, altas temperaturas raramente afetam o desempenho de leitões jovens. Palatabilidade das rações A preferência alimentar dos leitões costuma variar de acordo com a natureza dos macroingredientes da dieta. No entanto, alguns ingredientes colocados em menor quantidade nas formulações também podem desempenhar um papel importante na preferência alimentar. Alguns fatores antinutricionais presentes nos ingredientes de origem vegetal, tais como lecitina, tanino, inibidores de tripsina e quimotripsina, dentre outros, podem comprometer a palatabilidade da ração final. Neste sentido, a forma de processamento e o tratamento térmico, feitos de forma correta, podem reduzir consideravelmente a atividade da maioria destes agentes nocivos ao leitão. As dietas contendo soja crua e produtos de soja (como farelo de soja) sem tratamento térmico adequado não são indicados para leitões desmamados. A fibra dietética também pode ter um impacto negativo no trato gastrointestinal dos leitões, embora algumas fibras sejam importantes para elevar o peristaltismo do bolo alimentar até a saída do trato, sua baixa energia metabolizável disponibilizada para os leitões e a abrasividade que ela pode causar nas vilosidades intestinais devem ser criteriosamente avaliadas antes de serem fornecidas via dieta. Similarmente, a contaminação de alimentos com micotoxinas pode comprometer o consumo e o ganho de peso diário, além de afetar negativamente a saúde dos suínos. As gorduras e os óleos desempenham um papel muito importante na preferência alimentar relacionada à percepção do gosto pelo leitão. Na tabela 1 é mostrado o ranking de preferência de leitões por diferentes fontes lipídicas de uso convencional nas dietas. Ao nível de 30g/kg de inclusão na ração, o óleo de palma foi o mais aceito pelos animais, enquanto o óleo de linhaça teve maior rejeição. Ao nível de inclusão de 100 g/kg, o óleo de soja e o óleo de linhaça foram os que apresentaram maior rejeição dentre as fontes lipídicas testadas.
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Tabela 1. Preferência dos leitões por diferentes fontes lipídicas Taxa de inclusão g/kg* Item
15
30
100
Óleo de coco
44,8
53,2
56,8
Fonte lipídica Óleo de peixe
53,9
56,3
51,2
Banha
40,0
45,7
49,7
Óleo de linhaça
40,5
26,0*
34,4*
Óleo de palma
52,8
68,8*
42,9
Óleo de soja
51,7
49,5
38,2*
Adaptado de D. Sola-Oriol15 *Os valores com um asterisco são diferentes do valor neutro de 50% (P<0,05). Ou seja, o índice de 50% representa a dieta referência. Neste sentido, um valor de 50% indica que a dieta estudada e a dieta de referência são igualmente preferidas. Em suma, esses achados ajudam o nutricionista na escolha dos ingredientes que melhor se aplicam na dieta de leitões. No entanto, atenção especial deve ser dada no armazenamento prolongado e/ou inadequado das fontes lipídicas, pois alguns eventos de oxidação levam à produção de ácidos graxos livres e outros produtos de cadeia curta, tais como aldeídos, cetonas, álcoois e hidrocarbonetos. Estes produtos resultantes da degradação dos óleos e gorduras normalmente têm odor forte ou rançoso que afeta negativamente a palatabilidade e a qualidade da ração final.
14
Em situações comerciais, a limitação de matérias-primas e o custo final das dietas podem restringir o uso de alguns ingredientes importantes para os leitões. No entanto, deve-se levar em consideração que os animais mostram uma preferência inata por dietas nutricionalmente equilibradas, livres de agentes antinutricionais e com características sensoriais que nem sempre se assemelham àquelas dos humanos. Produtos de origem animal, tais como plasma sanguíneo, farinha de sangue, farinha de carne e vísceras, que apresentam baixa palatabilidade para humanos, são muito bem aceitas por leitões jovens. Isto é melhor compreendido quando se estuda a fundo as preferências nutricionais dos leitões. Estudos recentes comprovam que suínos têm preferência por alimentos que elucidam sabor umami16. O sabor referido pela palavra japonesa umami passou a ser reconhecido como o “quinto gosto” (após o sabor doce, salgado, amargo e azedo). O umami capta o que às vezes é descrito como o sabor da proteína. Este sabor é encontrado em uma diversidade de alimentos ricos em glutamato, como peixes, carnes, leite, tomates e alguns vegetais. Quanto aos palatabilizantes artificiais, os resultados de pesquisa ainda são inconsistentes e controversos, uma vez que a replicação dos experimentos nem sempre promovem resultados seSuínos&Cia | nº 59/2017
melhantes. A adição de edulcorantes em dietas de leitões desmamados já demostrou bons resultados no que tange ao aumento no consumo diário. O açúcar, o melaço e o glutamato monossódico, quando adicionados às dietas de leitões desmamados, também melhoram a palatabilidade e, consequentemente, a ingestão de alimento, enquanto a sacarina produz um sabor “metálico” que geralmente resulta em “fadiga” de sabor em leitões jovens17. Portanto, a sacarina deveria ser modificada para eliminar o sabor, combinando-a com sabores como a taumatina, um potencializador do sabor natural isolado do arbusto Thaumacoccus danelli encontrado, principalmente, na África. Considerações finais Quando se trata de nutrição de leitões jovens, o ideal é que o consumo de alimentos seja estimulado ao máximo no período pré e pós-desmame. Este consumo elevado é responsável pela melhor saúde das vilosidades intestinais e, consequentemente, maior ganho de peso dos leitões. No caso de ocorrências de desordens intestinais, seguidas de diarreia, é comum, por parte de alguns produtores, a prática da redução do fornecimento de alimentos no intuito de reduzir/cessar a incidência do problema. Embora a prática deste manejo seja compreensível, já ficou evidenciado nas últimas décadas que o alto consumo de ração nas primeiras fases de vida do leitão mantém a saúde e a integridade das vilosidades intestinais e assegura maior absorção dos nutrientes. Uma vez que a área de contato entre vilosidades e nutrientes no intestino delgado é máxima, a absorção é intensificada e, desta forma, o hospedeiro (leitão) é o principal beneficiado. Portanto, para evitar problemas entéricos e garantir a saúde intestinal, é ideal que o manejo alimentar inicie dentro da maternidade.
Nutrição
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Sanidade
Avaliação de dois diferentes protocolos de tratamentos antibióticos para o controle da doença respiratória dos suínos (SRD)
A
Annalisa Scollo¹’², Flaviana Gottardo², Claudio Mazzoni ¹ ¹Médico-veterinário - Suivet ²Médico-veterinário - Universidade de Pádova, MAPS summa@pointvet.it
s doenças respiratórias sempre tiveram um impacto significativo no status sanitário e produtivo em suinocultura, levando muito frequentemente ao uso difuso de antibióticos, especialmente o oral, em massa e, principalmente, nas primeiras fases da produção. O uso frequente, e às vezes pouco racional do antibiótico, fez com que surgisse a antibiótico-resistência nos últimos anos (WHO, 2011/; Hollis e Ahmed,2014), argumento crítico seja do ponto de vista sanitário, em função da consequente redução da eficácia das moléculas mais utilizadas (Aarestrup, 2015; Ramirez et al, 2015), seja do ponto de vista da mídia e do consumidor, que é cada vez mais atento e exigente quando se trata de escolher no supermercado o produto a comprar. Desde agora, e também no futuro, são necessárias novas estratégias de controle das doenças respiratórias por meio do uso mais responsável e direcionadodos antibióticos e do melhoramento do manejo. Este estudo de campo prevê uma ótica de controle mais responsável da doença respiratória (SRD) como uso de antibióticos, e seu objetivo é verificar a eficácia de dois tipos de procedimentos terapêuticos referentes às principais doenças bacterianas respiratórias com tratamento de massa em metafilaxia por via oral e com tratamento injetável individual em fase de creche.
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Materiais e método O estudo foi conduzido na região norte da Itália, na província de Mantova, em uma granja sítio 2 (creche), com cerca de 1.900 leitões presentes. O teste envolveu 650 leitões provenientes de uma única sala de maternidade. A escolha dessa granja foi feita devido à adoção de rotina do tratamento metafilático em massa por sete dias depois da chegada dos leitões para prevenção de doenças respiratórias. Os animais, que ao chegarem tinham 4 semanas de idade e peso médio de 7,2 quilos, Suínos&Cia | nº 59/2017
foram alojados sem divisão por sexo, em dois tipos de estruturas. Os primeiros 231 leitões foram colocados em uma única sala com 12 gaiolas com 18 a 20 animais cada uma (0,20 m²/cabeça), enquanto o restante, 419 leitões, em uma segunda sala com 4 baias de 103 a 105 animais cada uma (0,20 m²/ cabeça). Ambas estruturas tinham pavimentação ripada (em metal na gaiola, em plástico na baia), alimentos com ração farelada e água à vontade e ventilação automática. No momento da chegada dos animais, a ração foi medicada com Amoxicilina trihidrato 115 mg/gr (Amoxicilina base 100 mg/g) e colistina sulfato (20.000 UI/mg ou 40 mg/g) para um total de produto igual a 40mg/g, correspondente a 600g de produto comercial por cada 100 kg de ração por 5 dias a todos os animais. Vinte e dois dias após a chegada, os animais de cada gaiola/baia foram subdivididos em dois grupos, por peso, deslocando os maiores em uma gaiola/baia idêntica àquela de origem para continuar a garantir um correto espaço por animal e uma boa uniformização sem misturar os animais (0,40 m²/cabeça; 24 gaiolas e um total de 9 a 10 animais; 8 baias de 50 a 53 animais cada). Seja na sala com as gaiolas ou na sala com as baias, os leitões à direita foram destinados ao grupo de tratamento individual (grupo Individual, n= 318), enquanto os leitões da esquerda foram destinados ao grupo de tratamento metafilático em massa (grupo Massa, n= 523). Sete dias após a chegada (T0) foi administrado ao grupo Massa um tratamento via água de bebida com tilmicosina, com duração de 7 dias. O grupo Individual, ao contrário, recebeu uma injeção intramuscular em uma única administração de tulatromicina, mas somente os animais que apresentavam sintomatologia clínica respiratória. O tipo de procedimento adotado no grupo Individual previa o nível de 20% de animais tratados no interior da gaiola ou baia como limite, além do qual toda a gaiola/baia deveria ser tratada com o mesmo fármaco por via intramuscular para reduzir o risco de contágio de animais em contatos
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devido à elevada pressão infectante. Um segundo nível foi adotado em relação ao grupo. A partir de 15% de animais tratados sobre o total, seria efetuado uma medicação em massa com tilmicosina. Todos os animais do grupo Individual tratados por via intramuscular foram identificados por meio de uma marca auricular com número progressivo para avaliar o andamento clínico de cada leitão. Todas as gaiolas/baias de ambos os grupos de tratamento foram monitoradas singularmente por meio de uma ficha de avaliação, anotando diariamente o número de animais tratados, a sintomatologia clínica, a eventual necessidade de retratamento do mesmo animal e mortalidade. Os animais com sintomatologia grave clínica foram separados do grupo, excluídos da prova e colocados em um ambiente chamado enfermaria ou hospital, enquanto para a síndrome respiratória foi utilizada a tulatromicina como fármaco injetável e a tilmicosina como fármaco por via oral (selecionados porque ambos pertencem ao grupo de macrolídios). Para sinais clínicos não de tipo respiratório, o fármaco escolhido era determinado segundo o tipo de patologia. Para avaliar eventuais diferenças de crescimento, os animais foram pesados (cada gaiola/ baia) no sétimo dia depois da chegada (T0), ao momento da uniformização (T22) e no final da prova, 42 dias depois da chegada (T42). Para a avaliação estatística dos resultados, foram realizados t-test de student para o confronto entre as médias e o teste q-quadrado com correção de Yates para o confronto entre as frequências.
uma mortalidade total de 3,14% e um peso médio de 37,2 kg. Durante a prova, verificou-se um problema de estreptococose clínica, 13 dias após o início da prova (T13). Quatro animais foram excluídos da prova (três foram colocados no hospital, um morreu; três do grupo Massa e um do grupo Individual). Visto o aumento dos casos clínicos nos dias seguintes, decidiu-se tratar com Amoxicilina na água de beber (2 gramas por 100 quilos de peso vivo) todos os animais, sem distinção de grupo. Os tratamentos antibióticos utilizados durante o período de observação são indicados na tabela 1. No complexo, o volume de antibióticos utilizado diminuiu 26,42% no grupo Individual (3.719 vs 5.054, 6 gr): 11,69 vs 15,64 /cabeça, com uma economia de 100,68 euros totais (custo de 0,15 vs 0,46 centésimos por leitão). O resultado parece haver levado a um duplo efeito positivo da aplicação do protocolo individual: de um lado, a redução dos custos para o produtor, e do outro, uma redução do uso de antibiótico com uma consequência importante de imagem, que cada vez mais há um peso no critério de escolha do consumidor. Considerar que nos últimos anos uma crescente fatia da população preferiu comprar produtos de melhor qualidade com menor uso de antibióticos na produção dos animais (Rojo-Gimeno et al,2016). Por este motivo, está crescendo a linha de produtos orgânicos e antibiotic-free. O protocolo proposto
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Resultados e discussão O peso médio dos leitões ao T0 foi de 9,8 kg, com nenhuma diferença estatística entre os tratamentos. A ausência de diferença estatística referente ao peso dos leitões manteve-se durante todo o período de observação, com peso médio de 18,9 kg (T22) e CMD (crescimento médio diário) de T0-T22 = 414gr/cabeça (p>0,05), e de 29,3 kg a T42 (CMD T22-T42 = 519gr/cabeça; p>0,05). Nem mesmo o crescimento médio diário do período inteiro evidenciou diferenças significativas (CMD T0-T42= 460/cabeça; p>0,05), assim como a mortalidade (T0-T22 = 2,16%; T22-T42= 0,90%; T0T42 = 3,03%). Depois da conclusão do período de observação, os animais permaneceram na fase de creche por outros 21 dias, atingindo, no período,
Foto 1. O objetivo do estudo foi verificar a eficácia de condutas terapêuticas diferentes para o controle das principais patologias respiratórias dos suínos: um tratamento metafilático por via oral e um tratamento injetável individual em leitões em fase de creche nº 59/2017 | Suínos&Cia
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Tabela 1. Custos relativos ao uso de antibióticos para cada grupo de tratamento Custo antibiótico/leitão
Massa (n=323)
Individual (n=318)
Diferença
g*
Euro
g*
Euro
Euro
Amoxicilina + Colistina
3.500
26.25
3.500
26.25
0
Tilmicosina
1356.6
107.2
0
0
-107.2
Amoxicillina
128
3.88
128
3.88
0
Tulatromicina
14
6.11
30
13.09
6.98
Amoxicilina+ ac.clavulanico
8
0.54
32
2.14
1.6
Enrofloxacin
48
5.84
26
3.17
-2.67
5054.6
149.82
3719
49.14
-100.68
Por via oral
Injetável
Total * Gramas de produto comercial
neste presente estudo pode ser útil não somente às granjas e produções intensivas convencionais, mas também ao produtor de orgânicos e linhas de produção com uso limitado de antibióticos, para os quais seria possível uma personalização dos dois níveis propostos (>a 20% dos animais com sintomatologia, ação com tratamento individual para todo o grupo: gaiola/baia; e >15% de grupo total tratados por via injetável, com tratamento oral) em relação à capacidade individual de reconhecimento precoce da sintomatologia dos animais por parte do operador da granja.
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O papel do técnico assume importância primária na aplicação de um protocolo Individual. No total, como era esperado, visto o não tratamento em massa, o grupo Individual exigiu maior número de tratamentos injetáveis por cabeça (0,29 vs 0,19; p=0,022). Este fato confirma que é indispensável considerar a redução do uso de antibióticos, dando, consequentemente, maior responsabilidade ao pessoal que executa a cura dos leitões. Os tratadores devem ser formados para o reconhecimento precoce dos sintomas e deverão ser proativos na tempestiva cura dos animais doentes. Por esse motivo, é obrigatório enfatizar que o protocolo pode não ser aplicável em todas as realidades, mas sim nas granjas onde o pessoal técnico é suficientemente formado e pronto para gerir situações que exigem uma atenção mais elevada com respeito às técnicas de tratamento mais tradicionais. Diferentemente, a formação do pessoal e a sua valorização podem ser a estrada certa para se aproximar gradualmente de uma visão mais responsável de uso do antibiótico, mesmo para aquelas tipologias de produção mais longe dessa realidade. Suínos&Cia | nº 59/2017
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A mastite suína é uma síndrome multifatorial Vittorio Sala Médico-veterinário - Departamento de Medicina Veterinária - Universidade de Milano vittorio.sala@unimi.it
A
s doenças pós-parto são uma das causas mais importantes de perdas produtivas e econômicas em granjas de produção intensiva, e as consequências se manifestam em forma de mortalidade de porcas e redução da sobrevivência de seus leitões, com efeitos visíveis durante todo o ciclo produtivo. A terminologia que descreve o fenômeno sofreu mudanças no decorrer dos anos, passando do clássico e superado complexo Mastite Metrite Agalaxia (MMA) à Síndrome da Disgalaxia Pós Parto (PPSD) e Síndrome da Hipogalaxia Perinatal. Outras denominações fazem referência aos sintomas principais e caracterizam a doença como um complexo composto de agalaxia, ou aleitamento insuficiente ou agalaxia toxêmica post-parto, com vários agentes etiológicos envolvidos.
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Qualquer que seja a terminologia utilizada, o resultado final é a redução da produção de leite nas primeiras 48 horas depois do parto, com rápida perda de peso dos leitões. O enquadramento no complexo MMA, todavia, não é idôneo, já que a metrite, cujas causas e fatores predisponentes são completamente diferentes, observa-se raramente
junto com a mastite, além do que, não se trata de uma agalaxia total, mas sim de uma redução consistente da produção de leite. Porém, a terminologia MMA ainda é amplamente utilizada na Europa, ao contrário dos países anglo-saxonicos, que usam o termo PPDS. Entre os problemas puerperais da porca, a mastite é, certamente, aquela mais frequente, e a etiologia bacteriana predominante dos microrganismos mais comumente isolados são os coliformes que pertencem aos gêneros Escherichia, Citrobacter, Enterobacter e Klebsiella, como para porca, igualmente como acontece nas vacas, é aceita a definição de “mastite por coliforme” (CM) quando encontramos estes agentes etiológicos. As doenças das glândulas mamárias são uma das principais causas de eliminação de porcas, com uma incidência de até 13% nos países do Norte Europeu, mas o principal efeito colateral consiste na mortalidade de leitões na maternidade. As porcas com dores nas glândulas mamárias colocam-se em decúbito esternal, impedindo o acesso aos mamilos. Além disso, em condições de disgalaxia, a quantidade e a qualidade da composição do colostro e do leite não satisfazem as exigências dos neonatos, que retardam o crescimento gradualmente até a morte. Os primeiros três dias de vida do leitão compreendem o momento mais crítico da sobrevivência dos mesmos, que, não havendo reservas de glicogênio e nem mesmo uma gliconeogênese suficiente, vão encontrar rapidamente uma hipoglicemia, porque, privados de leite, mesmo no caso de ingestão inadequada de colostro, a morte é quase que imediata por fome e/ou hipotermia, mas as alterações funcionais resultantes da falta de proteção materna predispõem o leitão a enterites neonatais.
PPDS: Síndrome da Disgalaxia Pós-parto Suínos&Cia | nº 59/2017
O estado de sofrimento da porca e da leitegada representa uma grave interferência sobre o bem-estar de toda a maternidade. A infecção não se transmite por contato direto, mas em granjas predispostas, devido ao insuficiente estado de higiêne e limpeza da maternidade. O problema assume caráter epidêmico envolvendo um elevado número de porcas.
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Mesmo nas maternidades com bom manejo, a mastite pode estar presente, mas o andamento é esporádico e interessa somente às porcas com equilíbrio orgânico mais precário (por exemplo, primíparas e porcas velhas). Nesses casos, o padrão de limpeza e higiene é menos importante para a incidência do problema. Aspecto anatômico e clínico Vários métodos foram propostos para a classificação clínica da síndrome mamária da porca no periparto, mas nenhum desses foi unanimamente aceito. Alguns se baseiam no número de glândulas mamárias afetadas, outros avaliam a entidade e duração do processo inflamatório, agudo ou crônico. Observando as glândulas mamárias afetadas, são evidentes os sintomas típicos da inflamação: edema, endurecimento do parênquima e congestão cutânea. São muito comuns os sintomas sistêmicos de depressão do estado sensorial, febre e anorexia, às vezes associados à constipação. Alguns estudos sustentam que as glândulas posteriores são mais acometidas em relação às anteriores, mas este aspecto não é unânime. As alterações hematológicas e químicas compreendem leucopenia ou leucocitose, diminuição do hematócrito, da concentração de hemoglobina e da concentração sérica de glicose, cálcio e magnésio. Já o fósforo aumenta. Principalmente nas porcas que iniciam a lactação antes do parto, a observação histológica demonstra um acúmulo de secreção e congestão da glândula mamária indicando no aleitamento precoce um fator predisponente à mastite. Além disso, a diminuição da progesterona plasmática que induz a lactação seria antecipada nas porcas com problema, este também é um tema controverso. Em todos os casos, uma má nutrição e a hiperatividade dos leitões consistem no aspecto mais evidente da falta de leite. O aumento do tempo no qual a porca se encontra em decúbito causa o esmagamento de leitões, razões para uma maior mortalidade dos leitões em porcas com mastite. A mastite pode se associar à hipofertilidade infectiva, nos casos mais graves a localização é endometrial; em outros casos, pode ser consequência do precário estado físico da porca. Portanto, é possível que as porcas acometidas de mastite durante a lactação apresentem cio pouco evidente ou problemas de concepção no ciclo sucessivo.
As glândulas mamárias afetadas são evidentes os sintomas típicos da inflamação: edema, endurecimento do parênquima e congestão cutânea A dificuldade dos leitões em extrair o leite das glândulas mamárias é evidente, junto com a falta de saciedade, diminuindo as tentativas de intervalos entre as mamadas até quando, já enfraquecidos, retiram-se ao escamoteador. Em alguns casos, também é possível observar lesões nos mamilos. Inicialmente, as glândulas mamárias podem parecer aumentadas de volume, duras ao tato e quentes, mas essas alterações nem sempre coincidem com a hipogalaxia.
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Diagnóstico O primeiro diagnóstico baseia-se na observação dos sintomas, ou seja, a hipogalaxia nos primeiros três dias de lactação é o principal.
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O aumento da temperatura retal após o parto pode ser um indicador de risco, e vários estudos demonstraram que a hipertermia de 12 a 18 horas depois do parto é seguida da mastite. O intervalo crítico é compreendido entre 39,3°C e 40,5°C, mas é necessário considerar a presença de uma hipertermia fisiológica no pós-parto, por isso é importante aferir a temperatura. É aconselhável medir a temperatura juntamente com uma observação clínica, além de um tratamento profilático. Também pode ser usada como indicadores de mastite aguda a concentração plasmática de proteínas de fase aguda, como a Alfa-1-glicoproteína ácida e haptoglobina. Como sinalizadores do estado inflamatório, foram propostos também o cortisol e 15-cheto-d-idroxi-PGF2alfa, todavia devem ser considerados em relação à alteração da homeostase, que fisiologicamente segue o parto. O diagnóstico precoce pode ser baseado na combinação de vários parâmetros urinários que compreendem a bacteriúria e a concentração de potássio nas amostras de urina recolhidas na primeira semana de aleitamento. Os testes rápidos para o diagnóstico de mastite, rotineiramente utilizados em vacas, não são dispobilizados para porcas, e também a contagem das células somáticas não estão disponíveis. Mesmo que alguns autores tenham tentado definir a sua utilidade para uma melhor eficácia dos tratamentos antibacterianos, poderia ser interessante realizar o exame bacteriológico do leite da glândula acometida, seguido de um antibiograma ou, ainda melhor, a Concentração Inibitória Minima (MIC) dos principais antimicrobianos com seus respectivos princípios ativos teoricamente eficazes.
interferir agindo sobre a microbiota entérica) ou dietas pobres em fibra, racionamento excessivo, assim como uso de matérias primas contaminadas por micotoxina.
Fatores predisponentes
Do leite da porca com mastite clínica é possível isolar várias espécies de bactérias. Por esse mesmo motivo, existe uma polêmica sobre a prevalência desses microrganismos: o principal deles são os coliformes (Escherichia coli e outras bactérias fermentadoras de lactose), mas também os Staphylococos, Pseudomonas sp e Corynebacterium sp têm papel importante, frequentemente aplicados em várias situações predisponentes. Até mesmo o protocolo diagnóstico aplicado pode interferir no isolamento, e não existe hoje um esquema aceito por toda a comunidade científica.
Semelhante ao que ocorre em bovinos, a etiologia da mastite nas porcas é do tipo fatorial, mesmo que a quantidade e a qualidade desses fatores sejam diferentes. Primeiramente, a anatomia da glândula mamária da porca é diferente: cada glândula contém dois sistemas glandulares autônomos que desbocam em dois orifícios separados para cada mamilo, sem cisternas ou esfínctere muscular. A mamogênese ocorre na fase final de cada gestação, produzindo novo tecido glandular a cada ciclo, ou seja, a porca tem uma grande capacidade de recuperar a saúde da glândula mamária entre uma lactação e outra. Somente lesões crônicas do ducto mamilar são irreversíveis. Nas infecções por coliformes, que são as mais frequentes, a contaminação bacteriana ambiental, principalmente aquela de superfície, é o fator predisponente principal, mas também o microclima e o manejo da maternidade, a formulação da ração das porcas durante lactação (que pode Suínos&Cia | nº 59/2017
A ingestão insuficiente de água favorece a constipação, já frequente na fase final da gestação, fazendo com que a permanência intestinal de toxinas bacterianas, ou seja, de um estado de toxicose endógena, seja presente. Recordamos que na porca em lactação, a glândula mamária é o principal órgão secretor, produzindo, principalmente, endotoxinas lipossolúveis. Já foi demonstrada a importância de um manejo nutricional correto para o bom funcionamento do sistema endócrino, principalmente no que se refere ao eixo hipotálamohipofisário e à lactogênese. As informações disponíveis no que se refere à correlação entre mastite e categoria de parto são contraditórias. Já foi demonstrada uma incidência maior de mastite em porcas que parem depois de 116 dias de gestação, assim como a duração do parto (parto distócico) e a concomitância com infecções urinárias. A suinocultura moderna, em grande parte, cancelou a predisposição estacional, mas uma temperatura ambiental excessiva é sempre estressante e há um efeito negativo sobre as funções reprodutivas. Acima de 27°C, a porca em lactação reduz o próprio consumo de alimento e perde peso, até que a temperatura não se reduza a menos de 24°C. Ao mesmo tempo, os leitões necessitam de temperaturas superiores a 30°C. Agentes etiológicos e mecanismo de ação
No que diz respeito à origem da infecção, essa pode ser endógena, do intestino ou do útero, ou exógena dos canais lactíferos ou por meio de feridas penetrantes no tecido cutâneo mamário. É importante recordar que a dose infectante, em se tratando de glândula mamária, é muito baixa, menos de 100 microrganismos vivos e vitais podem causar infecção, facilitando os processos agudos. As bactérias podem ser encontradas no leite ou nos macrófagos presentes nos ductos ou
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alvéolos, mas também em grande quantidade nos linfonodos regionais. É frequente a correspondência em termos de identidade única e expressão de fatores de patogenicidade com os Gram-negativos presentes no íleo. Isso não ocorre com aquelas bactérias presentes no útero, sendo, por isso mesmo, menos importante como fonte de origem das infecções mamárias. As práticas de proteção da glândula mamária da contaminação fecal diminuem a prevalência da mastite, validando a hipótese do percurso canalicular das infecções. A maior sensibilidade é observada no final da gestação e nos dias imediatamente após o parto. De fato, no início da lactação, os leitões se alimentam com grande velocidade a cada 45 minutos, deixando aberto o canal mamário, que pode ser facilmente contaminado por bactérias presentes na pavimentação da gaiola. O uso de cama, por exemplo, provoca um aumento da incidência (em particular a maravalha), na qual a Klebsiella pneumoniae é a bactéria mais presente. Obviamente, a maior fonte de contaminação ambiental são as fezes das porcas. As infecções do trato urinário, mesmo que não sejam clinicamente evidentes, podem ser associadas à doenças pós-parto, nesses casos, o microrganismo mais comum é a Escherichia coli. O papel predominante destes coliformes na patogênese da mastite da porca e nos casos de agalaxia, independentemente da presença ou não de sintomas evidentes, é certo: nessas condições, a glândula mamária torna-se um difusor de infecções aos leitões. Exames bacteriológicos de secreções das glândulas mamárias acometidas já revelaram a presença de Actinobaculum suis, Pseudomonas aeruginosa, especies de Proteus sp e bactérias Gram positivos, como Enterococcus sp (Streptococcus faecalis), Staphylococcus albus e Epidermidis aureus e também Erysipelothrix rhusiopathiae. As cepas de E. coli podem ser diferentes quando são contempladas mais de uma glândula mamária, assim como também são extremamente variáveis os patótipos envolvidos. Ao contrário, é muito frequente o percentual de isolamento de bactérias resistentes a multi-antibióticos. Uma pesquisa sobre E. coli, em casos de mastite aguda, evidenciou porcentagem de similaridade entre os isolamentos não superior a 30%, mas o valor epidemiológico dessa observação ainda não foi completamente compreendido. Os lipopolissacarídeos LPS (endotoxinas presentes em todas as bactérias gram-negativas) têm um papel importante na patogênese. Os sintomas consequentes às ações dos LPS são complexos e envolvem mediadores endógenos diferentes: as alterações das concentrações de cálcio, zinco e ferro, assim como o aumento dos níveis de corti-
No inicio da lactação, os leitões se alimentam com grande velocidade a cada 45 minutos, deixando aberto o canal mamário, que pode ser facilmente contaminado sol, são os parâmetros hemáticos indicativos de exposição. Os lipopolissacarídeos também inibem a liberação da prolactina, interferindo sobre a produção de colostro e de leite. Os sistemas de defesa da glândula mamária
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O aparecimento de qualquer doença depende da interação entre os patógenos e as defesas do órgão acometido. A mastite aparece, principalmente, nas primeiras 24 horas de lactação, e o momento da penetração das bactérias na glândula mamária determina o desenvolvimento da doença.
A mastite aparece, principalmente, nas primeiras 24 horas de lactação, e o momento da penetração das bactérias na glândula mamária determina o desenvolvimento da doença nº 59/2017 | Suínos&Cia
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Experimentalmente, foi possível induzir a mastite infectando as porcas por via canalicular entre 24 e 48 horas depois do parto, mas isso não ocorre depois de 96 horas do parto. As porcas mais sensíveis à infecção apresentam sistematicamente maior quantidade de neutrófilos circulantes. Ao contrário, em granjas com menos incidência de mastite, estão presentes concentrações elevadas de lisozima. A presença endomamária de Escherichia coli aumenta os níveis de citoquinas pró-inflamatórias. A glândula mamária produz interleucina-1-Beta, interleucina-6. interleucina 8 e TNF-alfa, principalmente este último é um indicador da gravidade do processo. Durante o aparecimento da mastite clínica, aumenta de modo significativo a quantidade de linfócitos CD4 e CD8, em relação à normalidade, em consequência da reação inflamatória induzida pelas endotoxinas. Ao mesmo tempo e pela mesma causa, diminui a cota de células portadoras de MHC Classe II. Todas estas indicações fazem pensar que o resultado da infecção mamária depende mais da sensibilidade aos lipopolissacarídeos do que da eficiência da resposta imunitária. Segundo alguns autores, não sempre concordantes, a eficiência seria diminuída em função da presença de cortisol e estrógenos, presentes massivamente durante o parto.
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Indicações terapêuticas e prevenção Tratando-se de uma infecção bacteriana, o tratamento antibiótico é a única solução capaz de reduzir o dano às porcas e aos leitões. A rapidez do tratamento em relação ao diagnóstico clínico pode limitar o jejum dos leitões, mas nestas condições não é possível verificar a sensibilidade do patógeno aos antibióticos. A solução ideal seria uma amostragem de leite antes do tratamento, com envio ao laboratório mesmo durante o tratamento, que serviria para eventual alteração da terapia estabelecida inicialmente, se necessário.
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Todavia, para a redução do impacto econômico da mastite, só o tratamento da porca não é suficiente se não corretamente amparado por corretas medidas de manejo. O primeiro objetivo é garantir a sobrevivência dos leitões com o remanejamento deles ou substitutos do leite, que, se utilizados racionalmente, podem ser de grande ajuda. A nutrição da porca também é um fator importante. O aumento dos níveis de fibra na ração ao final da gestação é uma das soluções, mas não fica bem claro se a menor incidência de mastite depende diretamente da fibra ou da diminuição da quota proteica da ração. A redução quantitativa de alimento com a proximidade do parto é uma prática difusa porque diminui a constipação pós-parto e a quantidade de fezes produzidas, reduzindo a exposição dos mamilos à contaminação. Nos dias imediatamente que precedem o parto, e também aqueles depois do parto, é necessário que as porcas tenham acesso ad libitum à água potável, sendo possível combinar o uso de lactulose ou outras substâncias com ação prebiótica para melhorar o estado intestinal e a prostação dos leitões. Para diminuir a constipação, pode-se utilizar laxativos como semente de linhaça e também o exercício físico da porca no final da gestação. De fato, o problema diminuiu depois da passagem da gestação em grupo das porcas. É redundante enfatizar a importância da biosseguridade em maternidade, na maior parte dos casos é focada para proteção dos leitões, mas também as porcas são beneficiadas no que se refere a infecções, incluindo a mastite. Outro fator predisponente importante é a qualidade do parto. Um parto breve não traumático, corretamente assistido, de modo preciso e discreto, diminui a incidência de patologias mamárias.
O esquema terapêutico mais frequente utiliza antimicrobianos de amplo espectro por via parenteral. Na escolha do princípio ativo, é importante considerar a etiologia do processo e o mecanismo de ação, além da farmacocinética. O objetivo é obter uma concentração eficaz na glândula mamária.
Existem opiniões contrárias em relação a imunoestimuladores não específicos. Os efeitos positivos já demonstrados contrapõem-se a alguns estudos experimentais que colocam em dúvida o resultado atribuível somente ao uso desses produtos. Em todo caso, esses produtos não aumentam a capacidade de defesa da glândula mamária. No nosso ponto de vista, um benefício existe somente se a porca estiver em uma situação ótima para responder plenamente ao tratamento, em condições de campo que respeitem e potencializem a sua capacidade omeostática.
Nos últimos anos, foram utilizados amplamente produtos anti-inflamatórios não esteroidais que reduzem o tempo de recuperação da perda de peso dos leitões. Para estimular a ejeção do leite, podemos utilizar oxitocinas, não esquecendo dos efeitos colaterais.
No caso de mastites por coliformes e de E. coli em particular, a ação protetiva das vacinas utilizadas em profilaxia para enterites neonatais é duvidosa, seja pelo tipo de proteção produzida, seja pela extrema variabilidade dos sorotipos presentes nos casos de infecções mamárias, que
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somente ocasionalmente correspondem aqueles das enterites presentes nos leitões. Além disso, os conhecimentos disponíveis hoje não consentem a identificação de fatores de virulência comuns aos tipos de E. coli responsáveis pela mastite. Em todo caso, a identificação e o controle dos fatores de risco são passagens fundamentais de todas as práticas de manejo preventivas no longo tempo. Perspectivas As pesquisas no campo da genética continuam a melhorar a capacidade reprodutiva da porca comercial, que produzem muitos leitões e grande quantidade de leite. Todavia, é inegável que estes resultados devem ser acompanhados de um manejo para situações fisiologicamente extremas para porcas e leitões, nas quais qualquer erro será pago em forma de graves perdas econômicas. A porca em lactação é um animal constantemente sob pressão, vítima do próprio instinto materno, em confronto contínuo com as exigências dos leitões que podem superar os limites da sua capacidade produtiva. São nessas condições que observamos o desenvolver das patologias mamárias, que assumem contornos de uma síndrome polifatorial, na qual todas as porcas estão em contato com bactérias ambientais, mas a mastite clínica aparece somente em algumas delas. O equilíbrio orgânico da porca é responsável pela qualidade da resposta imunitária e gravidade dos sintomas, mas não é ainda certo que a sua resistência seja geneticamente determinada. O que se faz hoje com um tratamento antibiótico imediato da porca quando a temperatura corpórea supera um determinado nível é uma medida que deve ser considerada paleativa. Além disso, as bactérias envolvidas (principalmente os coliformes) têm desenvolvido e consolidado uma grande resistência aos antimicrobianos mais utilizados e economicamente mais usados, aumentando os custos do tratamento, até mesmo superando o próprio valor do animal, tornando-se difícil encontrar soluções eficazes. É importante organizar-se para uma prevenção eficaz mesmo que a variabilidade dos fatores e da etiologia possa complicar as perspectivas. É por isso mesmo que, considerando a “complexidade de manejo” do período no qual aparece a mastite, é necessário enfrentar o problema de maneira holística e com a finalidade de controlar um dano econômico traduzido em mortalidade de leitões e peso insuficiente ao desmame.
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Novas soluções para antigos problemas reprodutivos Rafael Tomás Pallás Alonso Médico-veterinário PhD em Reprodução Animal Diretor Técnico para serviços veterinários da Kubus – Madri-Espanha rtpallas@gmail.com
Resumo
N
os últimos anos, a produção de suínos apresentou considerável evolução no que se refere aos manejos reprodutivos. No entanto, alguns dos antigos problemas nesse segmento permanecem na maioria das granjas. Em geral, os problemas são os mesmos, mas a maneira de resolvê-los mudou graças ao surgimento de novas ferramentas. Neste artigo, lidamos com a gestão de dois tipos de problemas reprodutivos tradicionais, como a síndrome do segundo parto e a condição corporal no desmame, contemplando o cio lactacional e a sua relação com o anestro pós-desmame. A síndrome do segundo parto quando presente em um sistema de produção suína, repercute com grande impacto no desempenho da produtividade da granja, simplesmente porque 17% a 20% do plantel reprodutivo encontra-se no segundo parto. A causa dessa síndrome se relaciona com a condição corporal da primípara ao desmame. Durante a primeira lactação, muitos eventos fisiológicos ainda estão acontecendo, entre eles segue o crescimento da primípara e, portanto, seus requisitos nutricionais são maiores. Os principais indicadores dessa síndrome são a redução da taxa de parto, anestro pós-desmame e redução do número de leitões nascidos no segundo parto. Atualmente, existem ferramentas para resolver esta síndrome de segundo parto e a má condição corporal ao desmame em qualquer que seja a ordem de parição. Uma das opções é através do uso de Altrenogest a partir do dia anterior do desmame seguindo por mais seis dias depois de desmamada, ou seja, um total de oito dias de tratamento com o referido produto. Durante a lactação, a porca não deve entrar no cio e, quando isso acontece, significa que existe algo errado nas unidades de parto. A suspeita que isso esteja acontecendo é quando existem porcas desmamadas em cio entre o 14º e o 22º dias pós desmame ou quando as gonadotropinas 400-200 (PMSG-HCG) não surtem efeito ao serem usadas no desmame, ou nove dias depois. Em um breve passado, não havia como diagnosticar a diferença se a porca realmente estava ciclando durante a lactação ou se enfrentávamos problema de anestro típico pós-desmame. Na atualidade se pode recorrer ao teste de progesterona sérica no desmame para
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saber, com certeza, o que está acontecendo. Se o resultado revela níveis de progesterona > 3ng/ml, a porca realmente ciclou durante a lactação, mas se encontrarmos níveis de progesterona < 3ng/ml, então estaremos diante de um caso típico de anestro pós-desmame. Obviamente, o tratamento de ambos os problemas será totalmente diferente. Palavras-chave: Síndrome do segundo parto; Cio lactacional; Anestro; Altrenogest. Introdução Como é bem conhecido em nível mundial, a produção atual de suínos tem revelado um desenvolvimento espetacular nos últimos anos, atingindo níveis de produtividade impensáveis até então. Isso tem sido possível graças ao progresso que vem atingindo os principais pilares que sustentam a produção de suínos: genética, meio ambiente, manejo, nutrição, sanidade e gestão. Estes avanços tecnológicos, juntamente com as novas orientações de manejo implementadas nos últimos anos, fizeram com que alguns dos problemas reprodutivos tradicionais, que geralmente surgem e, infelizmente, continuam a aparecer em granjas, fossem, em grande parte, controlados. Síndrome do segundo parto e condição corporal no desmame Em qualquer granja que tenha uma taxa adequada de renovação anual, entre 40% a 50%, o percentual de fêmeas, aquelas que pariram uma vez e caminham para o segundo parto, oscila entre 17% a 20%. Portanto, é essencial que se tenha bons resultados produtivos com este grupo de fêmeas para que o resultado final da granja seja ótimo em termos técnicos e econômicos. Nos atuais sistemas de produção suína altamente tecnificadas e com plantel de linhagens genéticas trabalhadas no momento, é muito comum obter excelente desempenho reprodutivo tanto de fertilidade como número de leitões nascidos vivos desde o primeiro parto. No entanto, também é muito comum que estes excelentes resultados venham abaixo a partir desse evento devido ao que se conhece por síndrome do segundo parto,
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transtorno reprodutivo que se manifesta pelos seguintes problemas: • Anestro pós-desmame: alongamento do intervalo desmame/cio (> 7 dias), como demonstram os gráfico I e II; • Infertilidade: taxa de partos inferior a 85%; • Diminuição do número total de leitões nascidos para menos de 11 e, como consequência, a existência de dois problemas: a) Incremento do descarte de fêmeas jovens; b) Aumento dos custos de reposição do plantel de reprodutoras. A síndrome de segundo parto pode estar difundida em todos os países de expressões de produção suína nas granjas de alta produtividade, ocorrendo pelo menos um dos transtornos reprodutivos anteriormente citados, estimando em 80% dessas granjas. E que existe a presença de dois desses problemas em 40%, dessas granja. No entanto, é estimado que síndrome completa, com os três tipos de problemas ou falhas reprodutivas ocorram na ordem de 10% desses rebanhos. Na origem desse quadro está uma perda de peso relativamente elevada, que ocorre durante a primeira lactação das fêmeas, chegando ao desmame com baixa condição corporal. Uma primípara tem que comer o suficiente para se manter, crescer e produzir leite para seus leitões. Porém, o seu consumo de ração durante a fase de lactação costuma ser insuficiente para cobrir todas essas necessidades. A primípara deveria comer de 7,5 a 8,0 kg de ração/dia, no entanto, o seu consumo médio nessa fase raramente excede os 6,0 a 7,0 kg de ração/dia. Na maioria das vezes, nem mesmo chega a 6,0 kg/dia, e este déficit energético altera o seu equilíbrio hormonal, gerando um pico de LH retardado e inferior no desmame, o que leva ao aparecimento de cio tardio, a um atraso na ovulação e a um nível de progesterona inferior ao normal, o que, consequentemente, implica em infertilidade. Além disso, a taxa de ovulação nesta categoria de fêmeas costuma ser menor; e, mais importante, os oócitos liberados por elas são de qualidade inferior, o que leva ao desenvolvimento de embriões com viabilidade reduzida, aumento da mortalidade embrionária, leitegadas pequenas e leitões heterogêneos quanto ao peso e tamanho no nascimento. Tradicionalmente, para resolver este problema reprodutivo tem se recorrido a estratégias para estimular essas fêmeas a comerem mais durante a fase de lactação e/ou a desconsiderar o primeiro cio após o desmame, ações que ajudam a promover uma melhor recuperação da condição corporal; e, mais importante, mudam o estado metabólico de catabólico para anabólico. Além disso, este atraso na cobertura garante uma boa involução uterina. O problema é que pular um cio tem
Gráfico I: Influência do número de ciclos sobre o intervalo desmame/cio Fonte: PigChamp Pro Europa – 31.447 coberturas
27 Gráfico II: Influência do número de ciclos sobre o percentual de anestros (IDC >10 dias) Fonte: PigChamp Pro Europa – 31.447 coberturas um custo significativo em termos de dias não produtivos: pelo menos 21 dias, que, com um custo de € 2,00 a 2,50/dia, faz com que esta prática custe, no mínimo, de € 42,00 a € 52,50 por porca na qual é aplicada. Há alguns anos temos uma ferramenta de trabalho, o Altrenogest, princípio ativo que, embora inicialmente tenha tido seu uso restrito à sincronização do cio de fêmeas nulíparas, atualmente tem aplicações importantes no desmame, uma das principais é a minimização dos efeitos da síndrome de segundo parto. O Altrenogest é um progestágeno sintético ativo, semelhante à progesterona natural, que, quando administrado por via oral, impede que as fêmeas entrem em cio. Sua ação consiste em suprimir o ciclo estral, eliminando sinais de cio e ovulação. Uma vez suspensa a sua administração, retorna o processo de liberação natural do hormônio GnRH pelo hipotálamo e, consequentemente, a liberação de FSH e LH pela hipófise; as fêmeas voltam então a entrar em cio. nº 59/2017 | Suínos&Cia
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Gráficos III, IV e V: Resultados da aplicação de altrenogest durante 7 dias em fêmeas de 2º parto Autores: C. Pereida et al. - IPVS Cancun (México), 2012. Prova realizada em uma granja de 1.850 matrizes
Um detalhe que deve deixar claro é que muitas vezes causa problemas ou mal-entendidos entre os usuários, é que o Altrenogest não provoca o cio nas fêmeas. Ele apenas bloqueia a sua manifestação, sendo o ciclo estral normal restabelecido uma vez suspenso o uso do produto. O uso do Altrenogest, a ser descrito, é válido tanto para as porcas que acabaram de completar a sua primeira lactação quanto para todas aquelas fêmeas que ao desmamarem sua leitegada exibiram uma condição corporal baixa, independentemente da ordem de parto.
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• Completar corretamente a involução uterina; • Diminuir o percentual de fêmeas em anestro; • Melhorar os parâmetros produtivos no ciclo seguinte. Com relação a este assunto, cabe citar o trabalho de C. Pereida et al., apresentado no IPVS/2012, sobre a utilização do Altrenogest durante sete dias a partir do desmame, em fêmeas de primeiro e segundo partos, cujos resultados estão demonstrados nos Gráficos III, IV e V acima.
• Atrasar a entrada no cio por uns dias para permitir a recuperação da fêmea;
Como pode ser observado nos gráficos acima, a fertilidade no grupo de fêmeas que recebeu o Altrenogest aumentou de 80,7% para 90,0%; o número total de leitões nascidos cresceu 0,3 e os dias não produtivos diminuíram de 79,3 para 54,8, ou seja, uma redução de 24,5 dias por porca.
• Mudar o estado fisiológico da porca tratada, de catabólico para anabólico;
Ainda que, nesse ensaio, a administração do Altrenogest tenha sido iniciada no mesmo dia
O Altrenogest, administrado no desmame, permite:
Quadro I: Protocolo de aplicação de Altrenogest em fêmeas magras e de 1º parto Suínos&Cia | nº 59/2017
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do desmame. É mais recomendável fazê-lo no dia anterior do mesmo e não no dia seguinte. O esquema recomendado para o delineamento do trabalho está descrito no fluxo acima. Dois dias antes do desmame deve-se fazer a identificação das fêmeas que irão para o segundo parto e de todas aquelas que apresentem baixa condição corporal, independentemente do número de partos que tenham. No dia seguinte, ou seja, antes do desmame, inicia-se a aplicação do Altrenogest. No dia do desmame aplica-se, da mesma forma, o produto, e este grupo de porcas deverá ser desmamado nos mesmos moldes que os de suas companheiras de lote ou banda, acompanhado até o setor de desmame/cobertura da granja onde deverá receber o mesmo manejo nutricional que o seus grupos: flushing, alimentação com ração específica a fase, etc. A aplicação do Altrenogest continua durante mais seis dias após o desmame, de modo que o número total de dias de aplicação do produto será de oito dias (um dia antes do desmame, o dia do desmame propriamente dito, e mais seis dias). Com este protocolo, o último dia de aplicação será o que precede o dia do próximo desmame das fêmeas que seguiram o fluxo normal da granja. Como as fêmeas que tomaram o Altrenogest voltam a ciclar espontaneamente no 4° ou no 5° dia após cessada a aplicação do produto, elas entram em cio junto com as fêmeas desmamadas da próxima semana, passando, assim, a fazer parte do próximo lote ou banda de cobertura. Se esta rotina de trabalho é adotada de modo contínuo, com exceção da primeira vez em que for executada, não haverá diminuição na cota de montas/inseminações semanais, já que cada banda de produção passa um grupo de fêmeas para a próxima semana, ao mesmo tempo que recebe outro da banda anterior, de modo que o número de coberturas/inseminações semanais permanece praticamente constante. O prolongamento do intervalo desmamecio é um dos fatores que mais influenciam no resultado produtivo da granja, de modo que as porcas que ciclam entre três e seis dias após o desmame têm sempre os melhores resultados produtivos, tanto em termos de fertilidade no parto quanto de prolificidade. De modo inverso, as porcas que prolongam este intervalo de sete até dez dias, normalmente têm os piores resultados entre todas as fêmeas da granja. Estes fatos estão ilustrados de modo claro nos Gráficos VI e VII a seguir, nos quais há um resumo dos resultados reprodutivos analisados em 203.141 matrizes, considerando o intervalo desmame/cio. Cio na lactação e anestro pós-desmame Um transtorno reprodutivo que, com frequência, ainda vemos em granjas são porcas em
Gráfico VI: Influência do intervalo desmame/cio sobre a fertilidade no parto PigChamp Pro Europa: 203.141 porcas, entre 24 de agosto de 2011 e 24 de agosto de 2012
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Gráfico VII: Influência do intervalo desmame/cio sobre o nº de Nascidos Totais PigChamp Pro Europa: 203.141 porcas entre 24 de agosto de 2011 e 24 de agosto de 2012 cio durante a lactação. A meu ver, este tipo de problema está se tornando cada vez mais comum nas granjas, pois, como veremos adiante, é decorrência de um manejo inadequado de leitões produzidos a partir de fêmeas hiperprolíficas. Fisiologicamente, uma fêmea não deveria entrar em cio durante a sua lactação. É nessa fase que os estímulos gerados pelos leitões sobre a porca (sucção, grunhidos e a sua própria presença) induzem o cérebro da porca a comandar a liberação de alguns peptídeos opiáceos, os quais impedem a liberação do GnRH pelo hipotálamo, não permitindo também que a hipófise gere e libere prolactina, cuja função, por sua vez, é induzir a produção de leite pelas glândulas mamárias e sintetizar/liberar a progesterona a partir do corpo lúteo para a corrente sanguínea. Quando esses estímulos cessam, interrompe-se também a ordem de produção de peptídeos opiáceos pelo cérebro da porca, o que faz com que o hipotálamo inicie a produção e a linº 59/2017 | Suínos&Cia
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(PMSG-HCG), seja no desmame ou nove dias depois, práticas habituais quando enfrentamos situações de anestro pós-desmame. No entanto, quando ocorrer esse tipo de problema, deve-se investigar o que pode estar acontecendo quanto a falha de manejo de maternidade, tais como: • Lactações em grupo e contato com machos: sistema de produção extensiva; • Redução brusca da produção de leite, como: - Agalaxia - Diminuição do número de leitões: adoções inadequadas, desmame parcial, mortalidade pré-desmame elevada - Leitões doentes e/ou débeis • Fêmeas mãe de leite; beração de GnRH, ações estas que levam a hipófise a liberar FSH e LH, com o consequente início de um novo ciclo e o surgimento de um novo cio. Na maioria das vezes, estes cios lactacionais são difíceis de ser detectados em porcas que estão na sala de partos. Dessa forma, os problemas só se tornam evidentes após o desmame, quando se observam intervalos desmame/cio longos (entre 14 - 22 dias). Embora, normalmente, essa extensão do intervalo nos faça suspeitar de que estejamos diante de porcas ciclando durante a lactação, não é possível haver 100% de certeza de que este seja realmente o problema. Outro sinal que pode nos fazer suspeitar de estarmos diante desse problema é o fato de não se obter resposta quando aplicamos uma combinação de gonadotrofinas 400-200
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• Inadequado manejo nutricional das porcas durante a lactação: há genéticas com fêmeas de alta capacidade de ingestão, muito vorazes a ponto de, dado os níveis de energia que consomem durante a lactação, serem capazes de iniciar um novo ciclo e entrar no cio ainda que estejam lactando. Do mesmo modo, os altos níveis nutricionais da alimentação durante a fase de lactação, os quais normalmente são utilizados nas épocas mais frias do ano, juntamente com o efeito do fotoperíodo negativo, que estimula os níveis de melatonina, são fatores muito importantes no favorecimento à entrada em cio, por parte das porcas, durante a lactação. • Inadequado manejo nutricional dos leitões durante a lactação: é incomum, mas, às vezes, ocorre quando os leitões lactentes têm à sua disposição sucedâneos de leite, papinhas ou rações pré-iniciais altamente palatáveis. Nesses casos, eles preferem se alimentar a partir destas fontes, em detrimento do leite da porca, deixando de mamar e diminuindo o reflexo de sucção, o que reinicia o processo normal de ciclagem da fêmea, conforme já explicado anteriormente. • Algumas micotoxinas, especialmente as ergotoxinas produzidas pelo Claviceps purpurea, podem levar à supressão da liberação da prolactina, favorecendo a entrada em cio durante a lactação. Atualmente, existe uma ferramenta que nos permite identificar, sem margem de dúvidas, se as fêmeas estão ciclando durante a lactação ou se estamos diante da presença de um anestro pós desmame típico. Trata-se de kit rápido para determinação de progesterona no sangue.
Foto I: Kit rápido para determinação de progesterona no sangue Suínos&Cia | nº 59/2017
Quando temos situações de anestro pósdesmame alongado, mas não temos certeza do que está acontecendo, é aconselhável usar o referido kit analisando amostras de sangue das fê-
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meas recém-desmamadas. Se encontrarmos níveis sanguíneos de progesterona maiores do que 3 ng/ ml, não haverá dúvidas de que a porca em questão ciclou durante o período de lactação. Se os níveis forem menores do que 3 ng/ml, estaremos diante de um caso tradicional de anestro pós-desmame. Analise detalhadamente ambos os casos: Níveis sanguíneos de progesterona maiores do que 3ng/ml Não há duvida de que o problema deverá ser investigado nas salas de parto; Não é recomendável a aplicação de gonadotropinas 400-200 (PMSG-HCG) nem no desmame, nem aos nove dias depois do mesmo, já que, além de não surtir efeito, esse procedimento poderá ainda trazer outros problemas para as fêmeas; Aplicar PGF2α entre o 13º e o 15º dias pós-desmame, aplicando dois dias depois as gonadotropinas 400-200 (PMSG-HCG); Se não for possível determinar a causa origem do problema, durante a lactação se pode lançar mão novamente do altrenogest, administrando diariamente 20 mg do produto, por via oral, entre o 7º e o 14º dias anteriores ao desmame, até o dia do desmame. Esta prática não é recomendada para uso contínuo, mas apenas durante o período em que se investiga a causa e a solução do problema. Níveis sanguíneos de progesterona menores do que 3ng/ml Encontramo-nos diante de um caso típico de anestro pós-desmame; Há vários protocolos de tratamento, entre eles: o Aplicação de GnRH no dia do desmame;
o Aplicação de gonadotropinas 400-200 (PMSGHCG) no dia do desmame ou no dia seguinte; o Aplicação de PGF2α no dia do desmame; o Se pode combinar esses dois hormônios:
- Aplicação de PGF2α no dia do desmame - Aplicação de gonadotropinas 400-200 (PMSGHCG) no dia seguinte.
Em qualquer das situações: trabalho intenso com os machos desde o dia do desmame. Este é um ponto-chave para solucionar o problema, devendo-se deixar os tratamentos hormonais como último recurso e sempre com uma utilização racional e não indiscriminada, nem rotineira e muito menos contínua.
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7. DECUADRO-HANSEN, G. Abordaje práctico a fallas reproductivas con foco en el síndrome de segundo parto. Comunicación Virbac. 8. MEISSONNIER, E. et al. Value of altrenogest, a progestagen, for managing pig reproduction in French breeding units. IPVS Congress. 19. Proceedings... v. 2. p. 34. 2006. 9. PALLÁS, R.T. Uso del altrenogest en la sincronización de hembras nulíparas. Avances en Tecnología Porcina. Proceedings… v. 10. n. 96. p. 61-66. 2013. 10. PEREIDA, C. et al. Use of altrenogest in weaned gilts to improve 2nd parity performance. IPVS Congress. 22. Proceedings... v. 24. p. 95. 2012. 11. SOEDE, N. M. et al. El síndrome del segundo parto en cerdas: causas, consecuencias y posibilidades de prevención. Avances en Tecnología Porcina. Proceedings…v.11. n. 112. p. 48-55. 2015. 12. SOEDE, N. M. et al. Follicle development during luteal phase and altrenogest treatment in pigs. IPVS Congress. 18. Proceedings… 2004. nº 59/2017 | Suínos&Cia
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Resumo da 48ª reunião anual da Associação Norte-americana de Veterinários Especialistas em Suínos (AASV) 25 a 28 de fevereiro de 2017 – Denver (Colorado)/EUA
“Um só mundo, uma única saúde, uma paixão pelos suínos”
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rata-se de uma tentativa que faço, de escrever o básico sobre as apresentações da reunião anual da Associação Norte-americana de Veterinários Especialistas em Suínos, realizada em fevereiro, na cidade de Denver - Estado do Colorado/EUA. Foram ordenados os itens relativos a temas de pesquisa e apresentações de parceiros da indústria (mais de duzentas), além do desenvolvimento de conceitos básicos adotados em nossa prática de produção de suínos. Os temas discutidos aqui são os seguintes:
32 • Itens gerais • Vírus da PRRS (Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína) • Vírus da Diarreia Epidêmica Suína (PED vírus) • Vírus da Influenza (FLU vírus) • Vírus da Circovirose Suína (PCV-2 vírus) • Mycoplasma spp • Lawsonia intracellularis • Escherichia coli • Salmonella spp • Miscelânea • Manejo – Bem-estar • Nutrição • Reprodução Geral JEFF ZIMMERMAN Em 2015, os EUA exportaram 24% da sua produção de suínos, correspondente a US$ 5,6 bilhões (www.pork.org , www.usmef.org), comparado à produção nacional de US$ 39 bilhões (em 1992 havia exportado apenas 2%). Suínos&Cia | nº 59/2017
Antonio Palomo Yagüe Médico-veterinário PhD em Nutrição de Suínos Diretor da Divisão de Suinocultura Setna Nutricion - INZO antoniopalomo@setna.com
Hoje, o país tem um plantel de 6 milhões de reprodutoras, com um abate anual de 110 milhões de suínos. Desde aproximadamente 10.000 anos aC, quando se domesticou o Sus scrofa, a produção de suínos corre em paralelo com o crescimento da população humana. Cristóvão Colombo, em sua segunda viagem ao continente americano, trouxe suínos em suas embarcações e, em 1600, começou a alimentá-los na Pensilvânia, com excedentes de milho. Em 1847, os EUA produziram 35 milhões de suínos, sendo a cidade de Cincinnati o mercado mais importante em todo o mundo, naquela época. No início de 1900, os agricultores dinamarqueses começaram a confinar suínos para otimizar o uso do solo e protegê-los das condições climáticas adversas, melhorando, assim, a sua eficiência alimentar. Foi entre 1970 e 1980 que os sistemas de
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produção intensiva passaram a se impor, e o tamanho das granjas começou a crescer, da média de 250 matrizes em 1980 para 1.500 fêmeas em 2002 (Estado de Iowa/EUA), com o impacto sanitário correspondente, incluídos os animais importados (www.fao.org.faostat). Isso explica a rápida disseminação atual dos patógenos e as mudanças na ecologia das doenças infecciosas. Se somarmos a esses fatos a renovação contínua do plantel, sua suscetibilidade imunológica, as medidas de biosseguridade, a circulação de doenças endêmicas e de animais entre as regiões/Estados e a mistura de idades e fases de produção, entenderemos melhor a medicina aplicada à suinocultura no século XXI. Em 1990 movimentavam-se 5 milhões de suínos entre os Estados, número que passou atualmente a 50 milhões. A título de exemplo, o risco de óbito devido a um quadro de PRRS, em 24 meses, será de 15%, 40% ou 58%, dependendo do tamanho da granja (< 250, de 250 a 500 ou 500 reprodutoras). Como veterinários profissionais, somos responsáveis pela saúde, bem-estar e produção rentável da suinocultura empresarial. Para tanto, devemos dispor de práticas de fácil aplicação, baseadas na análise de informações comparativas; precisamos de tempo suficiente para realizar uma boa avaliação dos dados de sensibilidade coletados, antes das conclusões; necessitamos de um plano de negócios e de produção inteligente, o qual nos possibilite retorno sobre o investimento; além de sermos flexíveis com relação aos objetivos, os quais podem ser afetados por causas infecciosas ou não (biologia). E com relação ao estudo dos problemas sanitários, precisamos fazê-lo com base em uma coleta de amostras adequada (tipo, número, localização e frequência), a qual nos proporcionará um diagnóstico preciso. TURNER, M. Quando falamos do conceito de “Uma Única Saúde”, devemos partir do principio de que Hipócrates, no ano 400 antes de Cristo, já fazia referência ao fato de a saúde das pessoas poder ser afetada pelo ambiente e, especialmente, pelo contato com áreas pantanosas e águas contaminadas. A relação entre as patologias humanas e animais tem sido estreita ao longo da história. Outros exemplos estão nas bases da vacinação, atribuídas ao Dr. Louis Pasteur (cólera) e ao Dr. Edward Jenner (varíola, erradicada em 1980, mas que no ano de 1800 infectou pessoas que ordenhavam vacas na Inglaterra – daí o nome
anglo-saxão da vacina: cowpox). Nesse mesmo ano, o Dr. Rudolf Virchow descobriu a interação entre as saúdes humana e animal, estudando o parasita Trichinella spiralis e adotando o termo zoonoses para as infecções mistas, entre pessoas e animais, reconhecido hoje pelo Movimento Uma Única Saúde. O Dr. Calvin Schwabe definiu o termo Uma Única Medicina (autor do livro Veterinary Medicine and Human Health – UC Davis, 1966). Em uma revisão de literatura sobre patógenos humanos, foram descritos 1.415 organismos infecciosos reconhecidos, sendo 538 bactérias e rickettsias, 307 fungos, 287 helmintos, 217 vírus e príons, 66 protozoários. De todos eles, 61% (868) são transmitidos entre pessoas e animais, enquanto 175 são considerados patógenos emergentes. A história recente do conceito “Uma Única Saúde” começou nos EUA, em 2006, na gestão do presidente da American Veterinary Medical Association (AVMA), Dr. Roger K. Mahr, em conjunto com a Associação Médica Americana. Foi estabelecida uma resolução conjunta entre a medicina humana e os serviços veterinários, na qual se reconhecia as zoonoses (doenças dos animais que podem afetar humanos), as sinergias entre a medicina humana e veterinária, a promoção de uma colaboração entre as duas, o apoio à educação conjunta, a sobrevivência das patologias interespécies, os medicamentos e as vacinas interespécies e a necessidade de colaboração entre os profissionais de ambos os setores. O reconhecimento mundial do conceito pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), pela OIE (Organização Mundial de Epizootias) e pela OMS (Organização Mundial da Saúde) deu-se em abril de 2010, focado o seu impacto sobre a segurança alimentar, a saúde pública e o bem-estar animal. As resistências antimicrobianas (AMR) tiveram seu ponto de partida, internacionalmente, no Reino Unido, com o Relatório Swann, em 1969, após a ocorrência de um surto de salmonelose (Salmonella typhimurium tipo 29) em pessoas e bezerros. A Suécia foi o primeiro país a banir completamente, em 1986, os antibióticos promotores de crescimento na alimentação animal, seguida pela Dinamarca, em 2000, e pelo resto da Comunidade Europeia, em 2006, prevalecendo o princípio da precaução. A FAO adotou uma resolução em junho de 2015, com o objetivo de esclarecer sobre a resistência microbiana aos tratamentos, o que levou a uma
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maior pressão comercial junto à documentação sobre o uso de antibióticos e à transparência no uso prático deles, aumentando a responsabilidade imposta à profissão de médico-veterinário. A Dra. Laura Kahn propôs o conceito de “resistoma”, relativo à resistência aos antibióticos, em seu livro One health and the politics of antimicrobial resistance, com base na afirmação de que todo o uso de antibióticos contribui para uma pressão de seleção. Essa pressão impõe uma adaptação aos microrganismos para a sua sobrevivência. Os genes de resistência emergentes disseminam-se entre os micróbios do solo, uma vez excretados pelos animais, disseminando-se, assim, globalmente. A demanda por alimentos continua a aumentar em todo o mundo. Alimentar 2,5 trilhões de pessoas em 2050, tendo em conta o impacto tanto ambiental quanto na saúde humana, é um desafio para a agricultura. A produção de proteína animal em confinamento é considerada um tremendo serviço para a sociedade, se tomarmos como exemplo as práticas adotadas pela suinocultura em 2009, que utilizavam 78% menos do espaço terrestre e 41% menos de água e reduziam em 35% a emissão de carbono, em comparação com a produção de 1959. Além disso, a redução da interação com animais silvestres diminui os riscos sanitários para essa cadeia alimentar (www.foodintegrity.org).
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• A informação sobre o uso de antibióticos na produção animal é, atualmente, um assunto primordial e que envolve veterinários, produtores,
abatedouros, empresas de nutrição, agências reguladoras e consumidores. Em 2015, a Câmara de Representantes dos EUA (H.R. 2459) elaborou uma lei sobre a transparência no uso de antimicrobianos na produção animal. Até o momento, o FDA desenvolveu diretrizes para a indústria (152, 209 e 213), a fim de quantificar o uso de antibióticos com base no programa DANMAP dinamarquês. Todos os produtos foram padronizados em gramas de atividade por quilo (usados por via injetável, por meio da ração e solúveis na água de bebida). Um primeiro estudo, realizado entre 2015 e 2016 com 21 antibióticos e com 918.050 suínos nas fases de creche e engorda, (MetaFarms) mostrou que, do total de gramas utilizado, 57,3% foram destinados a animais em fase de crescimento, sendo 75,9% desse percentual administrado por meio da ração. As médias de consumo foram 41,16 gramas/suíno em 2015 e 38,39 gramas/suíno em 2016. Foi considerada essencial a definição dos conceitos de dose diária, gramas de atividade por unidade de peso e gramas de atividade por animal. Por exemplo, num estudo feito na França sobre a utilização ótima de antibióticos (ABU), relatou-se que o total, em medicina veterinária, foi de 1.320 toneladas, em comparação com 760 toneladas para uso humano (1,7 vezes mais), embora quando expresso com base na população, utilizando a estimativa de peso dos animais vs a população humana, o ABU tenha sido quase três vezes maior em humanos do que na veterinária (220 mg/kg/ano em humanos versus 80 mg/kg/ano nos animais - http://www.autoriteitdierge neesmiddelen.nl/en/dg-standard). O percentual de mortalidade nos suínos em questão não está correlacionado, estatisticamente, com os gramas de antibiótico ativo utilizados por animal. • www.KSUantibiotics.org: inclui as diretivas sobre rações na alimentação de suínos, as práticas de manejo alimentar para reduzir o uso de antibióticos, as alternativas nutricionais, os mecanismos de resistência e os planos do FDA, USDA, OMS, FAO e CDC. Os antibióticos são importantes na manutenção da saúde e do bem-estar das pessoas e dos animais, mas a utilização deles em quantidades menores não só é possível, como também necessária.
Foto do autor: Universidade do Colorado/Denver – prédio do IC Suínos&Cia | nº 59/2017
• Em um estudo apresentado pela empresa Pipestone Grow & Finish, comparando dois progra-
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mas de tratamento baseados (1) na total ausência de antibióticos (ABF – livre de antibióticos) e (2) no uso racional deles (AB), em granjas comerciais, concluiu-se que o grupo AB era composto de mais suínos íntegros e de menos refugos. Além disso, o grupo AB também apresentou um ganho de peso diário melhor, maior peso de abate e melhor rendimento de carcaça, sendo necessário para a referida avaliação considerar a margem de lucro no custo fixo (MOFC) entre os lotes, bem como o estado de saúde de cada granja. • FeedTackur é um hardware/software usado para a automação, em tempo real, do transporte em fábricas de ração, tanto de matérias-primas como de rações terminadas. Destinado à rastreabilidade delas, entre a origem (fábrica) e as granjas de destino, trata-se de um APP disponível na aplicação Java para sistemas operacionais Android. A eficácia de seus resultados operacionais apresenta um retorno sobre o investimento estimado em 3:1. Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína (PRRS/vírus RNA) www.cvs.umn.edu/sdec/SwineDiseases/PRRSv/ index.htm • A suinocultura norte-americana perde, anualmente, US$ 664 milhões devido ao vírus da PRRS, o que corresponde ao montante de US$ 1 bilhão ao longo de 20 anos de problemas. O custo estimado de um quadro agudo de PRRS em uma granja de reprodutoras média é de US$ 255,00/porca, e as perdas em função de uma infecção crônica são estimadas em US$ 74,16/porca. Os EUA produzem, anualmente, 65,4 milhões de suínos, em aproximadamente 63.000 granjas. 42% dessas granjas participam voluntariamente do Programa Nacional de Sanidade Suína (HSMP, na sigla em inglês), o qual visa a monitorar e avaliar as medidas de controle adotadas contra o PRRSv. A distribuição das perdas, analisadas por um amplo estudo, apontou a redução do número de leitegadas em 38%, a diminuição do número de nascidos vivos em 24% e o aumento da mortalidade na lactação também em 38%. As variações são atribuídas à qualidade do manejo, aos sistemas de produção, às cepas virais e a fatores intra-granja. A densidade populacional dos suínos e o tamanho da granja correlacionam-se diretamente com a maior incidência de
quadros clínicos da doença. Estudos sobre fatores ambientais, analisados pelo método de regressão de Poison, concluíram que nas granjas localizadas em zonas protegidas por vegetação e florestas, a incidência do problema é mais baixa. • Na primavera de 2014 ressurgiu uma cepa de alta virulência nos EUA, caracterizada como 1-7-4 RFLP e que causou tanto na Carolina do Norte como em outros Estados do meio-oeste norte-americano falhas reprodutivas anuais da ordem de 10% a 20%, mortalidade de leitões entre 40% e 100% e mortalidade na engorda entre 10% e 50%. Tais isolamentos tinham uma semelhança de 87,4% a 95,1% com a cepa ORFs2-7. Os níveis de replicação viral e o nível sérico da viremia não têm relação com a patogenicidade das cepas, mas pode-se tomar como referência para avaliar a gravidade dela o impacto sobre o ganho médio de peso diário, a febre e as lesões pulmonares. Em suínos de engorda, as perdas estimadas foram da ordem de US$ 2,87/ animal. • Sua transmissão por via aérea, em diferentes tamanhos de partícula, está bem demonstrada e especialmente associada a partículas de tamanho grande (bio-aerosóis). Por esse motivo, o número de granjas com filtros de ar instalados multiplicouse por dez, entre 2005 e 2015, nos EUA, e a incidência da PRRS nelas passou a variar entre 0% e 17%.
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• A implementação de programas regionais de controle está frutificando, de tal modo que a incidência da PRRS vem diminuindo significativamente quanto maior é a participação e menor é a densidade dos plantéis. Durante os primeiros quatro anos do Projeto de Monitoramento da Sanidade Suína (SHMP, na sigla em inglês), que começou em 2011, a incidência semanal do problema baixou durante a primavera e o verão e aumentou durante o inverno e o outono (atualmente inclui 735 granjas, de 24 empresas, e 1,99 milhões de porcas). Estima-se que os casos agudos de PRRS provoquem perdas da ordem de 3,57 leitões desmamados/porca/ano, resultando em uma perda de 54,3% no número de nascidos vivos, causando um aumento no índice de mortalidade na lactação da ordem de 39,1% e de 1,1% no número de leitegadas (mais um erro de 5,5%). A restauração da produtividade da granja afetada demora, em média, 20 semanas (de 16 a 26). nº 59/2017 | Suínos&Cia
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• O diagnóstico a partir de fluidos orais permite a identificação sensível tanto do vírus (prova do PCR em tempo real ou qRT-PCR, na sigla em inglês) quanto dos anticorpos contra o vírus (prova de ELISA). É igualmente importante, ou até mais, a frequência da amostragem em detrimento do próprio tamanho da amostra (períodos de duas semanas). Este procedimento nos permite detectar a soroconversão precoce, importante, particularmente, na identificação de leitões negativos em sistemas de criação em três fases. O vírus pode ser detectado no tecido linfoide até o período de 225 dias pós-infecção. Nos casos de leitões desmamados de porcas infectadas endemicamente e/ou vacinadas, os anticorpos maternos (IgG) não podem ser diferenciados daqueles que são produzidos em resposta à infecção. A detecção de IgM/IgA pode ser utilizada para determinar a resposta ativa da infecção na presença de anticorpos maternos. Quando a prevalência da doença é elevada em leitões, a sensibilidade das amostras de esfregaços de orofaringe é alta, ficando pendente apenas a determinação dela em granjas com quadro de doença crônica. Tanto a prova da Imunoperoxidase (IPMA) como a da Imunofluorescência (IFA) são consideradas técnicas sorológicas de eleição para a detecção do PRRSv. Entretanto, um novo teste de ELISA (ELISA BioChek PRRSv) que mostra uma correlação elevada com as duas técnicas anteriores, mais caras e mais trabalhosas, vem sendo desenvolvido, com a vantagem de poder discriminar melhor os anticorpos totais e neutralizantes.
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• Melhorar a biosseguridade nas granjas não só reduz o risco da presença dos quadros clínicos da doença nelas, mas também diminui a sua propagação entre as propriedades vizinhas. No caso de um surto de PRRS, a granja costuma implementar medidas de manejo que, embora redundantes, não são menos importantes para mitigar as perdas em função da doença (aplicação rigorosa do sistema tudo dentro/tudo fora; desinfecção e secagem criteriosa das salas de parto, entre a entrada e a saída de lotes; adoção de pedilúvios nas entradas das salas). • Limitar a circulação do vírus para estabilizar as granjas de matrizes é um procedimento chave para o controle da epidemiologia viral na espécie suína. A circulação viral nos leitões, após o desmame, está relacionada com os problemas oriundos das Suínos&Cia | nº 59/2017
porcas. Desse modo, quando a fase pós-desmame dos leitões é operacionalizada em condições de fluxo contínuo e as porcas estão estáveis, a circulação do vírus a partir da 9ª/10ª semanas de idade é mínima. O PRRSv tem como característica persistir por longos períodos de tempo nos animais, após a infecção. • Há basicamente dois tipos de vacinas contra a PRRS: vacinas de vírus vivo modificado ou atenuado (MLV, na sigla em inglês) ou vacinas produzidas a partir do vírus inativado ou morto (INV ou KV, nas siglas em inglês). O uso combinado delas, dependendo da condição da granja, melhora os resultados de ganho médio de peso diário e mortalidade, reduz a excreção viral, a viremia e a pressão de infecção e diminui a incidência de lesões pulmonares. Suínos vacinados são ELISA positivos e também excretam o vírus vacinal durante períodos de tempo variáveis, dependendo do tipo de vacina e do desafio na granja. A eficácia na neutralização da infecção viral por anticorpos específicos é o que se espera do processo imunológico (anticorpos neutralizantes), ainda que, no caso do PRRSv, estes dados não sejam inteiramente consistentes. Assim, foram detectados títulos elevados de anticorpos neutralizantes em porcas de granjas com casos agudos da doença e em porcas inoculadas repetidamente com soro. A resposta imune humoral à infecção pelo PRRSv é considerada leve, e o aparecimento de anticorpos neutralizantes em níveis baixos após um processo de viremia aguda pode diminuir, chegando mesmo a desaparecer. No caso de infecções prolongadas, estes anticorpos neutralizantes não costumam aparecer em níveis elevados nos tecidos linfoides. Foi demonstrado que a resposta imune é variável em suínos de diferentes idades, com históricos distintos da doença, submetidos a programas de vacinação diferentes, ainda que vivendo dentro da mesma granja. A resposta do interferon alfa (IFN-α) em porcas vacinadas, com a finalidade de reduzir a viremia, é considerada secundária. • Está sendo estudada a memória imunológica dos esplenócitos (células mononucleares fagocíticas presentes no baço), com o objetivo de caracterizar a resposta específica de células B de memória, que são críticas para a compreensão da variação na eficácia imunológica e que vão auxiliar no desenvolvimento de vacinas mais eficientes.
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• Há uma nova geração de vacinas vivas intranasais (Aptimmune™) que induzem uma resposta mucosal específica do tipo IgA, em glândulas salivares e no trato respiratório superior e inferior (G16X PRRSv vaccine). • Nos últimos dez anos houve grandes progressos nas técnicas de sequenciamento do ácido nucleico (NGS – a um o custo atual de US$ 300,00 a US$ 400,00/ amostra). A tecnologia desenvolvida pela MJPRRS Grouping permite classificar e diferenciar as cepas do vírus da PRRS com base nas suas diferentes propriedades físicas, identificando a sua sequência de aminoácidos em ORF5 (a proteína estrutural geneticamente mais variável). A técnica pode identificar a presença de mais de uma cepa na mesma amostra (fluidos orais, pulmões e soro), mas nem sempre distingui-la. Um universo de 25 grupos permite identificar os movimentos virais e as possíveis fontes de origem deles para estabelecer programas de controle regionais sistêmicos ou no nível da granja. • As coinfecções PRRSv/PCv2 afetam gravemente o crescimento dos leitões/suínos adultos. Diarreia Epidêmica Suína por Coronavírus (vírus RNA) www.aavs.org/pedv e www.pork.org/PED • Este é um vírus RNA da Ordem Nidoviridae, Família Coronavirus e Gênero Alphacoronavirus, com um diâmetro médio de 95 a 150 nm, de cadeia simples, envelopado e pleomorfo, com uma estrutura genômica e modo de replicação muito semelhantes aos de outras espécies animais e de humanos. O vírus é composto por sete ORFs que codificam quatro proteínas estruturais (S, E, M e N) e altamente infeccioso a tão somente na potência 103. A virulência dos isolados em diferentes países e continentes durante os 30 anos de sintomas clínicos foi semelhante, com um mínimo de dispersão genética. O referido vírus não tem nenhuma implicação na saúde humana. • O vírus foi detectado nos EUA pela primeira vez em abril de 2013, tendo sido identificadas duas cepas antigenicamente distintas, cocirculando
simultaneamente nas granjas de suínos (US PEDv e S-indels). A segunda era menos patogênica para suínos com cinco dias de idade, embora a patogenicidade desse vírus seja dependente da idade. A cepa US PEDv é excretada em maior quantidade nas fezes de leitões com três semanas de idade, e a cepa S-indels, em animais com sete semanas de idade. A primeira cepa gera proteção cruzada frente às duas cepas em leitões desmamados, enquanto a segunda faz melhor apenas frente às cepas homólogas e parcialmente frente às heterólogas. No México, o vírus da SED (sigla em inglês) foi detectado pela primeira vez em julho de 2013, causando 100% de mortalidade em leitões. Na província de Ontário (Canadá), ocorre desde janeiro de 2014. • No primeiro ano morreram 8 milhões de suínos nos EUA, causando perdas econômicas de US$ 900 milhões a US$ 1,8 bilhão, afetando 60% das granjas de reprodutoras norte-americanas, com uma perda total estimada, entre maio de 2013 e maio de 2014, de 12,5 milhões de suínos em idade de abate (11% da produção total). O vírus reapareceu na China, Japão, Coreia do Sul, Filipinas, Tailândia, Vietnã, Canadá, México, Alemanha, Bélgica, França e Portugal. Cerca de 996 granjas (2,53 milhões de matrizes) que participaram voluntariamente de um projeto em Minnesota/EUA tiveram perdas médias de 2,6 a 4,7 leitões/porca/ano e demoraram de 15 a 20 semanas para retomar a produção anterior e 28 semanas (de 7 a 64) para se estabilizar.
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• A infecção de leitões no desmame provoca redução no crescimento e excreção fecal do agente durante 24 dias pós-infecção, sendo factível a reinfecção e a disseminação a partir dos dejetos. • A transmissão do vírus da SED está bem estabelecida, podendo ocorrer por meio de aerossóis, em partículas de tamanhos diferentes (detectáveis pela prova do PCR), até a 16 km de distância do local da infecção. A transmissão por meio de suínos infectados é rápida, e pelo transporte contaminado é segura. Além disso, em 2014, foi demonstrada a transmissão via matérias-primas, alimentos contaminados e caminhões para transporte de ração. O vírus pode sobreviver por até sete dias em alimentos secos e 28 dias na alimentação úmida, armazenados à temperatura ambiente. A dose infectante mínima calculada foi de 5,6 x10 TCID50/mL nº 59/2017 | Suínos&Cia
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ao quadro clínico (ELISA e IFA), e a excreção fecal cessa a partir de seis semanas posteriores.
Mensagem na recepção do hotel, no Congresso da AASV (Ct = 37). O uso de produtos sanitizantes na ração (0,325% de formaldeído ou ácido propiônico) diminui a presença do vírus. A sobrevivência viral nas matérias-primas para ração (soja, DDGS, proteínas de plasma, aminoácidos, milho, cloreto de colina) depende das condições de armazenamento, do ambiente e das variações na temperatura. A presença do vírus nas embalagens (sacos, bombonas) também deve ser levada em conta. Trabalhos realizados considerando as condições térmicas padrão da fabricação de rações granuladas concluíram que, se produzidas/processadas a 68°C e acondicionadas posteriormente a 54ºC, a inativação do vírus, independentemente da sua concentração, será bem-sucedida. Leitões com dez dias de idade, alimentados com ração produzida nessas condições, não manifestaram sinais clínicos da doença e tampouco lesões características a ela. A utilização de ácidos graxos de cadeia média, óleos essenciais e formaldeído tem se mostrado eficaz no controle da infectividade viral (Feed Safety Research Center – Kansas State University).
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• Este vírus é detectado nas fezes e nos fluidos orais a partir do sexto dia de exposição. Os níveis de IgG e IgA são detectáveis em amostras de soro, fezes e fluidos orais a partir do 14º dia pós-infecção, havendo um pico de IgG já no 13º dia e de IgA no 27º. A IgA está presente também, em maior quantidade, nos fluidos orais (pico no 97º dia) e nas fezes (pico no 41º dia). Os anticorpos são detectados em porcas infectadas até os cinco meses posteriores Suínos&Cia | nº 59/2017
• Pouco se sabe ainda sobre a proteção cruzada entre genótipos, bem como a respeito da via ideal para a vacinação. Nos EUA, a partir de janeiro de 2014, estão disponíveis duas vacinas comerciais: uma inativada G2b e outra produzida a partir de fragmentos de RNA (Zoetis® e Harrisvaccines®) que induzem uma boa resposta imune em porcas (IgA e IgG), em granjas onde ainda não houve exposição ao vírus. Entretanto, não induzem a produção de um bom nível de IgA em leitões nascidos de porcas vacinadas. Foi realizado um ensaio utilizando uma vacina viva produzida a partir de G1b, aplicada por via intramuscular, mas a proteção gerada não foi suficiente. Devemos continuar trabalhando para entender o mecanismo molecular da atenuação do vírus. Ao se vacinar marrãs de reposição e porcas jovens em produção, previamente infectadas, os títulos de anticorpos neutralizantes – IgG e IgA – já podem ser detectados a partir do 3º dia no soro, no colostro e no leite, sendo o referido título maior em nulíparas. Os anticorpos presentes no leite declinam a partir do 3º ao 10º dias pós-parto em porcas vacinadas, o que já não é tão evidente no caso de porcas infectadas não vacinadas. • A prevalência da SED, no Canadá, foi reduzida consideravelmente, de forma que a metade das granjas infectadas eliminou o vírus pelo estabelecimento da imunidade, e as reinfecções são prevenidas mediante o incremento do uso de protocolos de biosseguridade, limpeza e desinfecção. • Foi demonstrado que o uso de desinfetantes peroxigenados (Virkon®) é eficaz na inativação do vírus da SED em superfícies plásticas e metálicas com pouca contaminação fecal, assim como na desinfecção ambiental. Os sistemas de limpeza, lavagem com água quente mais detergente e desinfecção em veículos são eficazes também na redução do risco de transmissão da doença. Vírus da gripe (vírus RNA) • As perdas devidas ao vírus da gripe são estimadas em US$ 3,23/suíno, nos EUA, podendo aumentar em casos de coinfecção. O vírus da Influenza (Iv) codifica, pelo menos, 12 proteínas virais. Entre
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1998 e 2013 foram caracterizados três grupos antigênicos circulantes do vírus H3N2, nos EUA. O suíno é um dos hospedeiros necessários à evolução viral para infectar várias espécies animais. Desde 2012, novos vírus H3 foram identificados em humanos, de modo sazonal, sendo muito próximos filogeneticamente ao tipo H3N2, que circulou entre 2010 e 2011, e ao H1N1pdm09, responsável pela pandemia de 2009. Estes vírus humanos podem infectar suínos de modo eficaz, causando pneumonia moderada via contaminação por meio do ar (a viremia pulmonar é mais patogênica quando causada pelo H3N1, em comparação ao H3N2). Em dezembro de 2014, a indústria avícola norte-americana sofreu um grave surto de gripe, causado pela cepa H5N2, que se estendeu até a primavera de 2015. Apenas em Minnesota, mais de 9 milhões de aves morreram e muitas mais foram afetadas no meiooeste norte-americano (50 milhões de frangos, 42 milhões de galinhas e 7,5 milhões de perus). A propagação rápida do vírus sugere um grande potencial para a sua transmissão por via aérea e o transporte entre granjas. Devemos considerar a persistência viral em superfícies inanimadas e instalações, tal como detectado por meio da prova do PCR, vários dias após a infecção. • O vírus Influenza A infecta muitas espécies animais (aves, suínos, equinos, caninos, felinos, mamíferos aquáticos e morcegos), além de seres humanos. A sazonalidade da infecção pelo vírus em suínos do meio-oeste norte-americano concentrase na primavera e no outono, ao passo que em humanos, entre o outono e a primavera, passando pelo inverno (tempo mais frio). Já foi demonstrado, mais de uma vez, que os vírus adaptados para aves replicam-se muito mal em suínos. Especulase, desde 1800, sobre a transmissão da cepa H3N8 de humanos para equinos. E uma variante dela foi identificada em 2004, como causadora de gripe em cães. A cepa H3N2 canina asiática provocou casos de gripe em áreas urbanas dos EUA, na primavera de 2015. Ela é derivada da cepa aviária e capaz de ser transmitida entre cães. • Foram observadas diferenças na eficácia da proteção cruzada entre vacinas, tanto as inativadas e com adjuvante óleo/água quanto as vivas atenuadas. Nos EUA, utilizam-se vacinas autógenas diante de evidências epidemiológicas para prevenir ou reduzir a morbidade e a propagação do vírus da gri-
pe. Os aminoácidos da proteína viral responsáveis pela reação antigênica cruzada da cepa H3 norteamericana estão localizados nas posições 145 – 155 – 156 – 158 – 159 e 189, o que permite identificar o número possível de variantes genéticas do vírus para a inclusão em vacinas multivalentes. • São muitos os protocolos de vacinação testados, com resultados variados, incluindo a aplicação da vacina no futuro plantel de reprodutores e a vacinação massal combinada com a vacinação no préparto, tanto no caso de vacinas comerciais quanto de autógenas. O uso de vacinas reduziu o índice de detecção viral nos leitões desmamados sem que sejam percebidas diferenças significativas entre as vacinas. O tempo médio para a manifestação da infecção após o desmame é de 1,5 semana, e a sua duração é de 1,6 semana, o que nos dá uma ideia dos baixos níveis de anticorpos maternos no momento do desmame (leitões filhos de mães vacinadas). A vacinação não previne a infecção, mas pode reduzir os sintomas clínicos, as lesões pulmonares e a excreção viral por parte dos animais infectados. 39
• O vírus é capaz de iludir o sistema imunológico, incluindo as defesas criadas pelas vacinas comerciais. As vacinas autógenas são usadas, então, para fornecer proteção contra os vírus que “enganam” o sistema imunológico. Estudos recentes têm demonstrado que as vacinas inativadas podem causar exacerbação de problemas respiratórios associados a elas. Além disso, a presença de anticorpos maternos pode interferir no resultado da vacinação, quando do uso de vacinas inativadas próximo do desmame. • No caso dos leitões, a presença conjunta do PRRSv e do Mycoplasma hyopneumoniae é frequente, e a infecção causada pela bactéria predispõe os animais à infecção pelo vírus, resultando em coinfecções que alongam o quadro clínico, devido à indução da pneumonia. O uso de vacinas combinadas, em granjas-problema, resulta em melhora significativa no peso dos suínos às 12 semanas de idade e no momento do abate. • Os leitões desmamados são os responsáveis por manter, diversificar e transmitir o vírus da gripe a outras granjas. A vacinação das reprodutoras nº 59/2017 | Suínos&Cia
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é adotada como medida para reduzir o impacto das infecções na granja. A dinâmica das infecções causadas pelo vírus da gripe é significativamente distinta no que diz respeito à prevalência entre os grupos de leitões desmamados e dentro da mesma granja. Nas granjas de média e alta prevalência no desmame, ela varia entre a 4ª e a 6ª semana posteriores; nas granjas de baixa prevalência, ela é mínima. Em vários trabalhos realizados não foram detectadas diferenças significativas entre o grau de prevalência e a sua incidência no crescimento e na taxa de tosse dos leitões, sendo, por isso, necessário que haja mais estudos para que sejamos capazes de avaliar o impacto econômico real, de acordo com a prevalência no momento do desmame. • A ordem de parto da porca não tem efeito sobre a incidência e nem sobre o momento da infecção dos leitões, com base em vários estudos. A idade dos leitões sim é altamente significativa, particularmente quando o número de leitegadas aumenta, com o aumento da idade. O nível viral, detectado em leitões por meio dos fluidos orais e exsudatos nasais por meio de PCR, é uma alternativa para se conhecer o estado sanitário das granjas endêmicas. É importante, para melhorar a sensibilidade das técnicas, tomar amostras de animais infectados de forma aguda. O tempo de armazenamento das amostras e o meio de transporte delas até o laboratório pode influenciar na sensibilidade da técnica (degradação do ácido nucleico viral = falsos negativos). A técnica de inibição da hemaglutinação (HI, na sigla em inglês) é usada para comparar a homologia da sequência viral.
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• No meio-oeste norte-americano há padrões estacionais, com prevalências maiores no nível das granjas durante os meses de inverno e primavera, e menores nos meses de verão (estudo feito em 40 granjas, entre 2011 e 2016). Circovirose - PCV2 (vírus DNA) • A apresentação clínica típica do quadro infeccioso ocorre no final da fase de creche/princípio da fase de engorda, podendo surgir sintomatologia clínica já nos estágios iniciais do desmame (leitões infectados ativamente, antes do desmame), o que provoca uma redução na eficácia da vacinação. A aplicação de vacinas em marrãs, antes da primeira Suínos&Cia | nº 59/2017
inseminação, é uma alternativa para reduzir a prevalência do vírus no ambiente da granja. • As cepas não patogênicas do PCV1 têm baixa prevalência em granjas, enquanto as do PCV2 são altamente prevalentes. Foram identificados cinco genótipos do PCV2: a – b – c – d – e. A coinfecção mais comumente observada é a do PCV2 com o PRRSv e com o Mycoplasma hyopneumoniae (MYC). • As vacinas atuais são muito eficazes no controle da doença, dependendo da imunidade induzida delas. Quando não se observa soroconversão por meio da prova de ELISA após a vacinação e se detecta viremia por PCV2 pelo qPCR, o esquema de vacinação deverá ser revisto. Há uma correlação positiva entre o BioChek™ ELISA e o Test IPMA para se analisar a soroconversão depois da vacinação, os títulos de anticorpos maternais e o momento da infecção viral. O PCV2 qPCR é usado para analisar a presença e a quantidade de vírus. Uma das causas possíveis da redução da eficácia das vacinas é a aparição de novas cepas, como a mutante chinesa PCV2d, além de erros vacinais associados ao número de doses, idade no momento da vacinação e o uso de doses incompletas. • O uso de vacinas conjugadas PCV2 + MYC tem se mostrado efetivo também em vários ensaios, tanto com uma como com duas doses, no tocante ao ganho médio de peso diário, índice de mortalidade e taxa de refugos. Não obstante, é possível que leitões, individualmente, não sejam protegidos frente ao vírus e apresentem sintomas clínicos em razão de problemas de imunossupressão, coinfecções, cronicidade frente a cepas virais não patogênicas ou falhas vacinais. • Os novos adjuvantes das vacinas proporcionam melhor resposta imune (óleo em água, água/óleo/ água e polímeros poliacrílicos), assim como reduzem as reações locais e sistêmicas, buscando um equilíbrio entre a estabilidade, a eficácia e a segurança. • A transmissão vertical do PCV2 já está descrita, e a quantificação do DNA viral pode ser realizada a partir de cordões umbilicais (PUCs, na sigla em inglês) de leitões ao nascer (desejável que sejam de três a cinco unidades, da mesma placenta/por-
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ca, sendo mais sensível o pool de três do que de cinco PUCs). Esta técnica é uma boa indicadora da circulação viral na fase de lactação e do status das reprodutoras contra o vírus. Esta análise, por meio de PCR, tem uma sensibilidade semelhante às análises realizadas com amostras de colostro e soro de porcas, sendo os resultados obtidos superiores aos derivados de amostras de soro de leitões neonatos. Em condições práticas, são detectadas variações no percentual de casos positivos, semana após semana, na mesma granja. Mycoplasmas spp • Mycoplasma hyopneumoniae é o agente responsável pela pneumonia enzoótica (PE), além de estar envolvido no complexo respiratório suíno, que afeta suínos de engorda juntamente com o PRRSv, o PCV2, o vírus da gripe, entre outros, e também conhecido como a “doença das dezoito semanas”. Causa perdas econômicas em suínos de engorda, que variam de US$ 3,25 a US$ 9,00/animal (atraso no crescimento, morbilidade, refugagem, mortalidade, custo com tratamentos). Outros estudos
realizados revelaram perdas de € 1,00/suíno, nos casos de pneumonia enzoótica, e de € 10,00/suíno em quadros clínicos complicados com o PRRSv e o vírus da gripe. • Foi proposta uma classificação das granjas segundo o status sanitário delas frente ao M. hyopneumoniae, em quatro categorias: o positiva instável (I): sinais clínicos e detecção da bactéria no trato respiratório de leitões, no desmame. A população é sorologicamente positiva. o positiva estável (II): nenhum sintoma clínico em granjas de reprodutoras e nem lesões pulmonares. Baixa prevalência em leitões no desmame (< 10%) e nos últimos 90 dias de idade. As porcas são sorologicamente positivas. o provisionalmente negativa (III): nenhum sintoma clínico associado e nem detecção da bactéria, a população de reprodutoras, porém, é sorologicamente positiva, e os leitões são negativos desde os 90 dias de idade. 41
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o negativa (IV): as reprodutoras não apresentam nenhum sintoma clínico, e a bactéria não é detectada em nenhuma das fases da granja, sendo ela soronegativa. • Os sinais clínicos da PE são tosse seca e não produtiva exacerbada pelo exercício, febre, falta de apetite e dificuldade para respirar. Na necropsia, encontram-se lesões caracterizadas por hepatização de diferentes lobos pulmonares, os quais passam a apresentar consistência de fígado. Ao microscópio, observam-se lesões peribrônquicas microscópicas nos lóbulos pulmonares, fluido seroso ao redor dos vasos sanguíneos e presença de macrófagos e neutrófilos (células do sistema de defesa, não específicas, compatíveis com processos virais). A detecção do M. hyopneumoniae em animais vivos é complicada durante os estágios iniciais da infecção. Há uma correlação positiva entre a presença de bactérias no trato respiratório superior de leitões desmamados e o grau de lesão pulmonar, determinado no abate. A entrada de marrãs de reposição nas granjas desempenha um papel crítico na estabilidade delas contra as bactérias. Nesse caso, quando animais negativos são expostos aos positivos, a contaminação não é uniforme, o que nos obriga a manter grupos de porcas negativas misturadas com positivas para que as primeiras cheguem a ser infectadas.
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Lincoln Center Denver – Montanhas do Colorado Suínos&Cia | nº 59/2017
• O MYC é transmitido por contato direto, persistindo de 200 até 254 dias pós-infecção, e um elevado percentual de animais infectados pode ser portador crônico do agente, capazes de infectar animais susceptíveis. A transmissão por aerossóis pode ocorrer até a 9,2 km de distância. A relação de transmissão estimada e a probabilidade de infecção esperada são de 1,28 suíno por semana e 0,6, respectivamente, com base em um modelo de simulação em condições experimentais. É necessário uma média de seis porcas excretoras, em um grupo de dez marrãs negativas e por um período de quatro semanas, para assegurar que todas se infectem. Portanto, nos programas de climatização de marrãs devemos levar em conta o tamanho dos grupos e a idade em que a exposição começou. Casos de infecção são descritos por transmissão lateral, originada em caminhões que transportam marrãs de reposição, de lotes positivos para outros negativos. É de consenso geral, para o controle do MYC em uma granja de reprodutoras, que seja feita uma aclimatação adequada das futuras porcas. Para tanto, é preciso realizar uma imunização homogênea em todo o plantel, com o objetivo de reduzir a tempo à excreção local do MYC, antes de alojar as leitoas de reposição nas baias. Assim sendo, o ideal é que as marrãs já tenham sido expostas ao agente e que não o estejam excretando no momento do seu contato com as porcas em produção (não se detecta DNA, por PCR, em amostras do trato respiratório). • O uso de amostras de material oriundo da laringe, coletado por meio de swabs locais, mostra-se eficaz quando se utilizam técnicas de PCR em modelos estocásticos, sendo, inclusive, mais sensível do que esfregaços nasais e lavagens traqueobrônquicas. Outras técnicas de diagnóstico utilizam a imuno-histoquímica, os anticorpos fluorescentes e a hibridação in situ. A sorologia e o método de PCR em tempo real (RT-PCR, na sigla em inglês), a partir de exsudatos da laringe, correlacionam-se apenas durante a fase aguda da infecção, sugerindo, assim, não ser a sorologia um bom indicador da remoção do MYC. Da mesma forma, apenas o índice de tosse não é um bom indicador do status da remoção, especialmente a partir do 125º dia após a exposição (infecção em fase crônica). Isso tudo indica que a excreção do microrganismo em questão ocorre mais durante a fase aguda da infecção, diminuindo, subsequentemente, durante a
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fase crônica. A prevalência do referido agente varia consideravelmente entre as salas de parto, o que sugere que há fatores intra-granja agindo sobre a sua epidemiologia. • Os protocolos de eliminação do MYC em granjas se apoiam em quatro recomendações, sendo muitas as empresas de genética, nos EUA, que são livres dessa bactéria: o despovoamento e repopulação: traz como problema principal a perda de produtividade durante bastante tempo; o fechamento da granja durante 240 dias; o programa de medicação global, sem o fechamento da granja; o mudança no fluxo de produção, com segregação de partos.
• O Mycoplasma hyorhinis é uma bactéria primária comensal, que coloniza o trato respiratório superior dos suínos, sendo responsável por quadros clínicos de pneumonia, polisserosite, poliartrite, otite em leitões de três a dez semanas de idade e, ultimamente, conjuntivite associada em suínos de 8 a 22 semanas de idade. O diagnóstico diferencial deve ser realizado frente ao PRRSv, às pestes suínas clássica e africana, à doença de Aujeszky, à gripe, ao citomegalovírus e à clamidiose. Na cultura das lesões da conjuntivite, costuma-se detectar o Staphylococcus cromogens e o Staphylococcus aureus. O diagnóstico laboratorial é feito pela prova do PCR e por cultura bacteriana. O Mycoplasma hyosinoviae é um agente patogênico muito dinâmico, que provoca artrite em suínos de três a cinco meses de idade (> 10 semanas). Ambos os agentes (M. hyorhinis e M. hyosinoviae) estão cada vez mais envolvidos em casos de artrite e/ou sinovite (ISU VDL 37% em 2010). As técnicas de diagnóstico também são baseadas em PCR e cultura bacteriana. Estudos recentes sugerem que a colonização das amígdalas, por essas duas bactérias, ocorre durante o período de lactação. A priori, a contaminação é mais elevada em leitões com três semanas pós-desmame para o M. hyorhinis, sendo superior em leitões de porcas de primeiro parto, não havendo essa correlação com o M. hyosinoviae e sem que se saiba, ainda, se eles competem entre si. São
necessários estudos adicionais a respeito dos períodos de excreção dos referidos agentes em suínos infectados e sobre a sua dinâmica de transmissão. Supõe-se que a duração dessa dinâmica seja mais prolongada do que a do M. hyopneumoniae. • O fosfato de tilmicosina foi aprovado, nos EUA, na primavera de 2014 para o controle da Pasteurella multocida e do Haemophilus parasuis. Ele foi também considerado eficaz “in vitro” frente ao M. hyopneumoniae, na dose de 200 ppm via água de bebida, aplicado durante cinco dias (redução das lesões pulmonares). Outros antimicrobianos considerados também eficazes contra os agentes em questão foram a tulatromicina e a tilvalosina. Lawsonia intracellularis (ileíte) • A Lawsonia intracellularis é uma bactéria intracelular obrigatória que infecta as células epiteliais do intestino, causando o aumento da proliferação de células imaturas nas criptas, que pode manifestarse clinicamente (aguda ou crônica) ou de modo subclínico (mais prevalente), estando presente em 96% dos suínos em fase de engorda nos EUA, entre eles, 28% com sintomas clínicos. As perdas estimadas variam de US$ 2,73 a US$ 19,76/suíno, o que causa um prejuízo para a indústria norteamericana de mais de US$ 100 milhões anuais. A forma crônica da doença é mais comum em suínos de seis a vinte semanas de idade.
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• Para se conhecer melhor a transmissão natural da bactéria em suínos de engorda, foi validado um modelo de excreção baseado em homogeneizados de mucosa intestinal, analisado por meio de PCR quantitativo a partir de amostras de fezes, e por meio de IPMA em amostras de soros (Seeder Pig Model). • A excreção fecal, no final do período de engorda, é um indicador pobre da exposição prévia ao agente. • Os resultados do uso de tilvalosina e tiamulina são positivos no controle da sintomatologia clínica, ao mesmo tempo que melhoram os índices de crescimento dos suínos afetados. nº 59/2017 | Suínos&Cia
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• O uso de vacinas no desmame alivia o problema, seja a oral viva modificada ou a injetável (Enterisol Ileíte™ e Porcilis Ileíte™). A vacinação reduz o tempo de excreção, mais a quantidade de bactérias excretada; diminui também a replicação bacteriana no intestino e o grau de lesões macro e microscópicas no íleo terminal, melhorando, assim, os parâmetros de produção e conferindo imunidade por um período de cerca de cinco meses após a sua aplicação. Escherichia coli • O custo da diarreia neonatal estimado para granjas comerciais do Canadá é de € 134,00/porca/ano. A colibacilose entero-toxigênica (ETEC, na sigla em inglês) é a maior causa de patologia entérica local em suínos, provocando mortalidade e atraso no crescimento e aumentando os custos de tratamento. Ela se apresenta nas duas formas seguintes: o diarreia neonatal: fímbria K88; o diarreia pós-desmame: fímbrias K88 (F4) e F18; para esses casos está indicado o uso da vacina oral com a cepa F4 viva não patogênica, aplicada sete dias antes do dia crítico, na dose de 2 ml, com uma janela de antibiótico de três dias antes e três dias depois da sua aplicação. Outras fímbrias associadas à diarreia pós-desmame local, muito menos frequentes, são a F5 (K99), a F6 (987P) e a F7 (F41).
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• A idade do desmame está bem estabelecida como um fator de risco importante, de modo que em um comparativo com leitões desmamados aos 16 dias de vida vs leitões desmamados aos 20 dias de vida, a incidência e a gravidade do problema são muito maiores nos mais jovens. Da mesma forma, a importância das condições climáticas (ambiente quente e seco), a redução da pressão ambiental com boas práticas de limpeza e remoção da matéria orgânica do piso (5% dela no local já pode inativar a ação dos desinfetantes), o uso de detergente no processo de lavagem e a desinfecção eficaz são fatores que contribuem para diminuir a gravidade do problema. Não menos importantes são as práticas de manejo alimentar, antes e após o desmame, oferecendo aos leitões sempre pequenas quantidades, em doses frescas e múltiplas diárias, além da garantia da presença de água potável suficiente e de qualidade. Suínos&Cia | nº 59/2017
• Na diarreia pós-desmame, o uso de avilamicina (73 g/ton), ceftiofur sódico e enrofloxacina tem se mostrado eficaz para reduzir o desenvolvimento das fímbrias, prevenindo o ataque aos enterócitos. Não obstante, o uso conjunto de vacinas aplicadas por via oral, ao mesmo tempo que a aplicação do antibiótico, tem um impacto negativo tanto na colonização quanto no desenvolvimento da imunidade frente a Escherichia coli. • A doença do edema (PESD, na sigla em inglês), está se tornando mais importante tanto na Europa quanto no Brasil e nos EUA, causada pela E. coli do tipo Shiga toxina-2e (Stx2e). O quadro clínico consiste na presença de leitões com edema nas pálpebras e no focinho, bem como com reflexo de pedalar em decúbito lateral, com vocalização, além da ocorrência de morte súbita, sem os sintomas anteriores. O diagnóstico por meio de amostras de fezes e swabs intestinais, por PCR, é essencial para o controle adequado da doença e um plano para a sua prevenção. • A inclusão de probióticos, como elementos reguladores da flora intestinal e da resposta imune, ajuda a reduzir a incidência e a gravidade dos quadros clínicos de diarreia por E. coli, em suas apresentações tanto agudas quanto subagudas e crônicas (morbidade, mortalidade, leitões tratados com medicamentos, refugos, crescimento prejudicado). Há ensaios concretos com o uso do Lactobacillus acidophilus. Salmonella spp • Salmonella enterica sorovar typhimurium (sorogrupo B) e Salmonella cholerasuis (sorogrupo C1) são bactérias prevalentes que causam enterite e enterocolite em suínos de engorda, nos EUA. A via de infecção é oro-fecal, e a excreção aumenta durante os períodos de estresse. O quadro clínico depende da virulência das cepas, da dose infectante e da resistência da população exposta. A utilização de vacinas atenuadas reduz a excreção fecal esporádica do agente nas fezes, sem chegar a eliminá-lo (infecções experimentais, durante duas a seis semanas pós-infecção). • Em quadros clínicos de colibacilose pós-desmame, ocasionalmente, a Salmonella spp atua como
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agente secundário, podendo também, como sabemos, atuar como agente primário. • Em granjas com alta presença de roedores, o risco da ocorrência de salmonelas aumenta. • Os suínos podem atuar como portadores assintomáticos da salmomelose. Na excreção das bactérias influem os fatores de manejo durante a fase do pós-desmame, o estado de saúde do plantel, o programa de biossegurança e a composição das rações. Citam-se como exemplo as dietas de leitões de menor digestibilidade e baixo custo (milho/soja vs trigo/plasma), as quais podem torná-los mais vulneráveis a problemas sanitários, por meio da alteração de suas floras digestivas. Um teste realizado estimou que essas rações favorecem em 2,6 vezes a excreção da Salmonella spp. Miscelânea • Seneca Valley Vírus A – SVA (picornavírus – RNA, da mesma família do vírus da doença vesicular e da febre aftosa): já em 1988 foram identificados quadros clínicos dessa virose; e, desde julho de 2015, nos EUA, observa-se um elevado percentual de granjas com lesão pelo vírus em questão, em suínos de engorda e reprodutoras, correspondentes a vesículas no focinho ou boca, úlceras interdigitais e na banda coronária. A doença apresenta elevada morbidade (80%) e baixa mortalidade, sendo o vírus isolado por RT-PCR em amígdalas, fluidos vesiculares, exsudados nasais, retais e soro sanguíneo durante a fase aguda da doença e de sete a dez dias pós-infecção, podendo ser encontrado em até quatro semanas mais tarde. O período de incubação é de três a cinco dias, e a transmissão é horizontal entre porcas infectadas e seus leitões, tendo sido demonstrado que o vírus é ativo em tripsina e em amostras de soro (atenção às contaminações na produção de vacinas). • Pestivírus: os sinais clínicos da doença dos tremores (mioclonia congênita, ou CT na sigla em inglês) foram reconhecidos já há cem anos (Kinsley, 1922 – EUA; Payen & Fournier, 1934 – França; Hindmarsch, 1937 – Austrália) com quadros clínicos esporádicos em leitões recém-nascidos, com diferentes graus de gravidade. Foi detectado um vírus RNA que impacta no sistema nervoso central,
Hall do Centro de Convenções do Encontro da AASV com um mecanismo desconhecido e classificado como um pestivírus, próximo dos pestivírus que afetam vampiros chineses. O mesmo é detectado por PCR em amostras de soro, exsudados nasais, fezes, cérebro, cerebelo, medula, fígado, linfonodos mesentéricos e traqueobronquiais, timo, coração e baço, bem como no sangue do cordão umbilical. • Sapelovírus: foi descrito um caso agudo em leitões com 11 semanas de idade, apresentando lesões neurológicas atípicas, além da diminuição do consumo de água e alimentos por parte dos animais, leitões com ataxia, descoordenação, paresia e paralisia, com morbidade de 20% e uma taxa de mortalidade correspondente a 30% dos afetados. As lesões correspondiam a encefalomielite necrosante e com áreas multifocais de gliose, sugerindo a presença de um vírus neurotrópico. Em 2014 foi descrito um processo semelhante, tendo como o único agente causal um Sapelovírus, o qual não causava perturbações do sistema nervoso de outras espécies animais. Outro vírus descrito como tendo características clínicas semelhantes foi um Teschovírus, da família dos Picornavírus.
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• Complexo Respiratório Suíno: o custo médio dessa doença foi estimado em US$ 10,00/suíno, e para se chegar nesse valor, foi necessário estudar com detalhes os fluxos de produção e os sintomas clínicos (tosse, entre outros) tanto em porcas quanto em leitões na fase do pós-desmame, a fim de discernir particularidades da transmissão vertical mãe/leitegada durante a fase de lactação. A aplicação de tulatromicina em porcas, antes do parto, reduz a excreção do M. hyopneumoniae delas para os leitões, por meio do rompimento da síntese proteica bacteriana, sendo este agente antimicrobiano bacteriostático em baixas concentrações e bactericida em concentrações elevadas. nº 59/2017 | Suínos&Cia
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Essa prática faz com que a colonização do M. hyopneumoniae nos leitões desmamados seja menor, o que permite que o impacto do referido agente sobre os passos subsequentes da produção também seja. Novos ensaios, contemplando o tratamento de porcas três dias antes e sete dias após o parto, também demonstraram uma redução na colonização dos leitões desmamados pelo Actinobacillus suis e pelo M. hyorhinis. • Bordetella bronchiseptica: bactéria responsável pela rinite atrófica não progressiva. A vacinação das porcas antes do parto permite uma transferência efetiva de anticorpos via colostro, o que reduz tanto a prevalência como os sinais clínicos e lesões da doença nos leitões, antes e depois do desmame. • Erysipelothrix rhusiopathiae: responsável por abortos, problemas locomotores e mortes súbitas em suínos. O incremento das artrites, como problema crônico nos suínos de engorda, é uma realidade, estimando-se perdas entre US$ 2,00 e US$ 10,00/suíno afetado. A presença do DNA bacteriano pode ser detectada em fluidos orais até sete dias posteriores à infecção, ainda que sua excreção seja intermitente, o que supõe que a sua detecção pelo PCR em fluidos orais e nas fezes não seja de todo segura.
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• Struve Labs International Inc, desde 1962 produz suínos retirados das matrizes por cesariana e que ainda não tenham tomado colostro (CDCD, na sigla em inglês). São utilizados em estudos de sanidade animal e como doadores de componentes biológicos para humanos (válvulas cardíacas, pele, ligamentos, transplante de órgãos). Manejo e bem-estar • Nos EUA, a castração de leitões machos dentro da primeira semana de vida, para o controle do futuro odor sexual, é uma prática habitual. Foram realizados ensaios práticos usando spray de lidocaína e meloxicam oral (1 mg/kg de peso corporal), entre 10 e 30 minutos antes da intervenção. Concluiuse que entre os leitões assim tratados não houve grandes diferenças no comportamento posterior à castração (com base, principalmente, no tempo de sono), ainda que eles tenham começado a maSuínos&Cia | nº 59/2017
mar em um espaço de tempo mais curto do que os animais-controle. • Os princípios ativos mais eficazes para anestesiar suínos em fase de engorda são telazol a 4,4 mg/ kg, ketamina a 2,2 mg/kg, xylazina a 4,4 mg/kg, acepromazina a 0,03 mg/kg, em diferentes combinações, além da lidocaína a 2% (2,2 mg/kg) para anestesia epidural. • As más condições de bem-estar podem ser observadas pelo grau de lesões na pele, problemas de patas e nas mudanças da condição corporal. Na Universidade da Pensilvânia estão sendo estudadas as correlações entre a agressão e os percursos cognitivos nas porcas em gestação (saúde fisiológica). Em diferentes linhas genéticas não foram encontradas diferenças significativas no seu comportamento social no momento de alojá-las em grupos de gestação (Tamworth-DanBred). • Nos EUA, não se pratica a analgesia em procedimentos de corte de cauda, nem em castrações. Mas na Europa sim, havendo, inclusive, vários ensaios com a aplicação de lidocaína na forma de spray para diminuir a dor. • Comparando a saúde digestiva de leitões desmamados aos 16 dias de idade vs aos 28 dias de idade, concluiu-se que os mais jovens têm mais defeitos na barreira gastrointestinal (aumento da permeabilidade intestinal, aumento da massa celular e das funções de defesa) e mais alterações no sistema imunitário inato, o que os predispõem a uma resposta intestinal exacerbada diante de fatores de estresse nas fases posteriores da criação. • Sistemas de auditoria em granjas: www.pork. org/common-industry-audit • A segurança biológica é um dos conceitos-chave nos programas sanitários das granjas tanto para limitar a entrada de agentes infecciosos quanto para diminuir a transmissão entre animais e granjas. Para que esses programas sejam eficazes é necessário que toda a equipe da granja, em cada fase de produção, tenha conhecimento pormenorizado deles, que seja uma equipe empolgada e motivada e, além do que, haja uma atitude correta da super-
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visão local para com eles. Protocolos de biosseguridade para granjas: www.pic.com/biosecurity • Tecnologia holandesa de sensores para monitoria de condições ambientais da granja, contínua e automática, combinado com medidas de bem-estar animal implantadas e acompanhadas por meio de software integrado a câmeras de vigilância (iFarming granjas inteligentes) – Fancom’s eYeNamic System. Monitoria constante para melhorar os parâmetros de produção (cálculos de peso, índice de tosse, volume e dinâmica do consumo de água, consumo de ração/alimentos, intensidade de luz e erros no funcionamento de equipamentos). Nutrição • A biossegurança com relação ao controle da higiene de matérias-primas, aditivos e ração acabada deve ser intensificada, pois trata-se de um fator de risco importante na transmissão e na proliferação de patógenos, sejam bactérias ou vírus, entre os suínos (PRRS, DEP, Salmonella, Campylobacter, Clostridium, Escherichia coli). Também os processos de granulação, com base no nível de umidade, são outro ponto importante a se considerar. Assim, são tomadas medidas rigorosas com relação à higienização tanto de matérias-primas quanto de rações terminadas, as quais, nos EUA, concentramse principalmente no uso de ácidos orgânicos (de preferência, com relação aos inorgânicos, devido ao grau de dissociação em função do pH e da forma eficaz com que alteram a bomba de prótons das estruturas extracelulares bacterianas). Os três mais comumente utilizados são o ácido fórmico, o ácido láctico e o ácido propiônico. O ácido fórmico, na concentração de 1% a 1,5%, é o mais usado, em suas três formas: ácido fórmico a 85%, formiato de amônio (aprovado recentemente para essa finalidade, em 30/09/2016) e formiato de sódio. Algumas meta-análises realizadas demonstram que, além do seu poder acidificante/tampão, também promovem melhorias na digestibilidade das proteínas (de 0,5 a 1,5%) e na absorção de certos nutrientes. • As xilanases são utilizados na indústria da nutrição já há duas décadas para incrementar a digestibilidade de dietas ricas em arabinoxilanos (trigo, arroz), reduzir a viscosidade da alimentação e per-
mitir que uma maior quantidade de sais biliares e amilase entre em contato com as partículas de alimento, estimulando, assim, o equilíbrio entre a flora saprófita e a flora patogênica, o que reflete diretamente na saúde digestiva. Incrementam a digestão das gorduras e do amido, enquanto promovem a redução da circulação do fator de necrose tumoral (TNF-alfa), uma das citocinas consideradas como marcadores inflamatórios. Ensaios realizados com suínos têm demonstrado melhora no ganho médio de peso diário e na conversão alimentar em 50% dos casos, mas em nove dos estudos revisados, houve uma redução na mortalidade dos suínos em cuja ração foi adicionada a xilanase, desde o desmame até a terminação, variando entre 14,5% e 47,6% tanto em granjas com níveis altos ou baixos de sanidade. • As vitaminas lipo-solúveis A, D e E são nutrientes essenciais em todas as fases de produção, sendo fundamentais nas funções imune e muscular. Antes da absorção, as vitaminas A e E devem ser esterificadas pela ação das enzimas esterases intestinais, produzidas no pâncreas. As formas injetáveis são melhor absorvidas do que as orais. Os leitões ao nascer têm baixas reservas destas vitaminas em função da transferência insuficiente delas por meio do colostro e do leite, os quais costumam ser pobres, especialmente em vitamina D. Após o desmame, as reservas de vitamina E declinam drasticamente até a níveis subótimos (1 ug/mL). O fluido ovariano folicular contém cerca de quatro vezes mais ácidos graxos poli-insaturados do que o soro, de modo que a presença dessa quantidade de vitaminas lipossolúveis aumenta a sua proteção contra a oxidação. A aplicação injetável dessas três vitaminas, antes do parto e no momento do desmame, melhora a duração do parto e o nível delas nos leitões lactentes, diminui a incidência da doença do coração de amora, uniformiza e imprime melhor qualidade aos embriões, mas não aumenta o número de nascidos vivos.
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• Ensaios na área de nutrição de porcas nulíparas, com suplementação de 2000 UI de vitamina D3 durante as suas primeiras gestação e lactação, comparado com grupos experimentais aos quais se forneceu 50 ug/kg de 25OHD3 (ACME), não revelaram diferenças no consumo de alimento na fase de lactação ou no peso vivo. Tampouco houve alteração no peso dos leitões nem nas fases de nº 59/2017 | Suínos&Cia
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nascimento ou do desmame. Houve aumento nos níveis sorológicos de 25OHD3, no nascimento e no desmame, com a combinação das duas vitaminas. A densidade das fibras musculares e a quantidade delas, em leitões no momento do nascimento e no desmame, também aumentou no grupo experimental. • O fornecimento de soluções isotônicas proteicas/ eletrolíticas aos leitões lactentes, como suplementação microenteral por meio da água de bebida, melhora a saúde intestinal deles, revertendo em um crescimento melhor, com maior peso no desmame, menor incidência de diarreias e baixa mortalidade. Seu uso, antes e após o desmame, também melhora o ganho de peso médio diário dos leitões de tamanhos pequeno e médio. • As rações com tamanho de partícula abaixo de 600 microns fazem crescer o percentual de suínos com úlceras gastroesofágicas na fase de engorda, sejam as suas formulações fareladas ou granuladas. Rações à base de farinha de milho, com um tamanho de partícula inferior a 600 microns, podem reduzir o consumo e o crescimento de leitões desmamados e de suínos de engorda, sem, entretanto, afetar a sua eficiência alimentar. Esse tipo de ração costuma ter também baixa fluidez em silos e moegas.
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• A inclusão de altos níveis de aminoácidos sintéticos com baixa concentração de proteína bruta na ração de suínos de engorda reduz a retenção de energia, ao mesmo em tempo que diminui o pH da digestão, reduzindo, portanto, a sobrevivência de certos patógenos no trato gastrintestinal, diminuindo a concentração de metabólitos tóxicos e melhorando, portanto, a saúde intestinal.
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tem efeitos negativos sobre a saúde digestiva ao reduzir a produção de muco, provocar inflamação intestinal e suprimir a resposta imune. • Suínos machos imunocastrados, em comparação aos castrados cirurgicamente, criados até os 130 kg de peso vivo, têm 10% de melhora no ganho médio de peso diário e no índice de conversão alimentar. Os níveis recomendados de lisina, para os primeiros, variam de 125% a 128%. Já o nível de fósforo recomendado para o grupo de castrados por cirurgia é de 111%. Em ambos os casos, recomenda-se a alimentação com separação de sexos, quando da criação conjunta com fêmeas inteiras. • A sociedade tem uma percepção negativa quanto ao uso de antibióticos na produção animal, na Europa e nos EUA, o que fará com que o uso deles seja mais limitado no futuro. Considera-se que as porcas possam transferir a resistência aos agentes antimicrobianos por meio do leite para os leitões lactentes, além da presença dos referidos agentes na ração promover eventuais alterações na flora microbiana normal. Portanto, temos de trabalhar para otimizar as defesas do organismo animal contra os processos infecciosos, tanto a defesa imunitária inata local quanto a sistêmica. A microflora da superfície mucosa tem um papel importante como reguladora dos mecanismos imunológicos, em uma ação conjunta entre o sistema imunológico, o sistema nervoso e a microbiota. O desenvolvimento da flora microbiana dos leitões, ainda na fase de lactação, vai condicionar sua evolução na fase de engorda. Entre as principais alternativas nutricionais para leitões, com retorno para o investimento (ROI, na sigla em inglês), destacam-se vários estudos com acidificantes, probióticos, prebióticos, óleos essenciais e ácidos graxos de cadeia média.
• Ensaios com rações pré-iniciais e iniciais para leitões desmamados aos 19 dias de idade, comparando a adição de farinha de pescado versus proteína de plasma (tanto de origem suína, como bovina e ovina), destacam melhores resultados de consumo e ganho médio de peso diário para o primeiro caso.
• Em janeiro de 2017 foi publicada a nova regulamentação do uso de antibióticos em granjas e nas rações, pelo Food and Drug Administration (FDA, na sigla em inglês), com base no uso responsável de antimicrobianos, que tem como diretriz a guia 209, de 2010, e a guia 213, de dezembro de 2013, às quais se adiciona a diretiva final de rações de junho de 2015 (Veterinary Feed Directive ou VFD).
• Os níveis de micotoxinas (DON) por Tricotecenos em rações e no milho, nos EUA, no período de 2014 a 2016, foram elevados (63%). Sua presença
www.globalvetlink.com www.fda.gov/AnimalVeterinary/ DevelopmentApprovalProcess/ucm449019.htm
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https://ebusiness.avma.org/files/ productdownloads/extralabel_brochure.pdf www.cdc.gov/drugresistance/pdf/ ar-threats-2013-508.pdf • A solubilidade de diferentes antibióticos testados em água tem variações significativas. Trata-se de uma característica importante a ser levada em conta no momento de dosá-los corretamente (sulfato de neomicina, tartarato de tilosina, cloridrato de lincomicina, penicilina G potássica, sulfametazina sódica, cloridratos de clortetraciclina e de oxitetraciclina). A prática de aumentar a diluição para melhorar a solubilidade pode nos ajudar a determinar melhor a sua eficácia. E sempre utilizando água potável de qualidade (dureza, pH, cloro residual, nível de ferro, contaminações). Reprodução • A seleção de linhagens maternas por prolificidade tem sido uma constante, havendo, entre 2009 e 2014, um aumento de 0,14 leitão por ano nos EUA, com uma média total de nascidos de 13,5 leitão em 2014, tendo sido encontrada uma correlação negativa entre o tamanho da leitegada e o peso dos leitões ao nascer, o que provoca uma diminuição do retorno à melhora obtida, uma vez que o fator peso ao nascer está fortemente ligado à mãe. A herdabilidade estimada tem um efeito aditivo de 0,22 na raça Large White (LW) e de 0,16 nos suínos Landrace (LD), sendo a herdabilidade individual no nascimento dos leitões, de 0,06 e 0,08, respectivamente. Então é mais eficaz selecionar o peso médio dos leitões na leitegada com relação à mãe do que com relação ao peso individual deles ao nascer. Para cada leitão adicional nascido, o peso varia entre 28 g e 27 g, seja ele originário de fêmeas LW vs de fêmeas LD. A proporção entre leitões pequenos e grandes mantém-se quase constante, entre 10 e 20 leitões por leitegada. Em um universo de 91.905 leitões, pesados ao nascer, foi encontrada uma correlação altamente significativa entre o peso e a sobrevivência tanto na fase de lactação quanto no pós-desmame (cada 100 g de peso a mais aumenta a sobrevivência em 4,3% na fase de lactação e em 0,5% na fase do pós-desmame). Assim, tem sido enfatizada a mudança dos programas de seleção com base nos leitões nascidos vivos no dia 5 (LP5), em várias empresas de genética. Em outro estudo, contemplando 27.350 leitões controlados a partir
do nascimento, foi descrito que há diferenças de até 30 dias na saída para o abatedouro e de até 6% no rendimento de carne magra na carcaça entre leitões nascidos pequenos ou grandes. • Em um estudo realizado na Europa, foi estimado o limiar de peso abaixo do qual a sobrevivência dos leitões estaria em risco: 1,13 kg, quando o peso médio é de 1,46 kg para 13,1 leitões nascidos vivos e 14,3 leitões nascidos totais (178 leitegadas, em três granjas). Um outro estudo realizado na Iowa State University, analisando a estimativa econômica por meio de seu programa Pig Profit Rastreador, observou que para cada 100 g de peso ao nascer inferior a 1,40 kg, a mortalidade na lactação aumentou 2%, o peso de abate diminuiu 1,63 kg e a probabilidade de que se enquadrem dentro do grupo de suínos de valor total é reduzida em 2%. Estabelece ainda como limites inferiores os pesos de 1 kg ao nascer e de 5 kg no desmame, os quais consideram não trazer nenhum benefício para o produtor. • Outro estudo, conduzido em 600 granjas com plantéis variando entre 250 a 5.000 matrizes, todas com algum tipo de problema reprodutivo (aumento de repetições, baixa fertilidade, redução no tamanho da leitegada), concluiu que a má qualidade do sêmen foi a responsável por 33,3% das falhas reprodutivas. São muitos os fatores, intrínsecos e extrínsecos, que afetam a qualidade do sêmen, entre eles a frequência de saltos para coleta, a idade dos cachaços, o ambiente da central de I.A., a sanidade do plantel de machos, a qualidade e a quantidade nutricional, as micotoxinas, a genética, a contaminação bacteriana (com Serratia marcescens, por exemplo: bactéria gram-negativa pertencente à família Enterobacteriaceae), os métodos de preparação e a conservação das doses seminais.
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• PigWatch 2016 é um sistema automatizado que detecta a entrada das porcas em cio e indica o momento ideal para a inseminação das fêmeas desmamadas. O dispositivo em questão tem um monitor com um led, colocado na parte anterior da baia, que analisa em tempo real os dados de comportamento de cada porca, mediante uma base de dados algorítmica e que, por meio de uma interfase, envia a informação para um computador. Foi desenvolvido no CDPQ, em Quebec/Canadá. nº 59/2017 | Suínos&Cia
Sumários de Pesquisa
Por que leitões neonatos têm diarreia? H. Kongsted1; P. Baekbo2; C. K. Hjulsager3; S. E. Jorsal3 1: Laboratory for Pig Diseases; 2: Health, SEGES Pig Research Centre, Kjellerup; 3: National Veterinary Institute, Technical University of Denmark, Copenhagen, Denmark Introdução A diarreia, durante a primeira semana de vida, é uma grande preocupação em muitos plantéis de suínos dinamarqueses, não menos importante desde a introdução suspeita da “nova síndrome da diarreia neonatal”. Esse estudo investiga patógenos e fatores de manejo associados a estes problemas. Material e métodos Um total de 107 plantéis, incluindo 55 casos com diarreia durante a primeira semana de idade e 52 casos sem diarreia como problema no plantel, preencheram questionários relacionados a estratégias de alojamento, alimentação e manejo. Dentro desses plantéis, 67 (37 casos positivos e 30 controles) encaminharam leitões (quatro com diarreia e dois sem) para a detecção de rotavírus A, Clostridium difficile, genes β2 de Clostridium perfringens e fatores de virulência de E. coli (LT, STa, STb, EAST-1, AIDA-1, F4, F5, F6, F18, F41). Todas as análises foram realizadas por q-PCR. Os testes para genes de virulência de E. coli foram realizados no nível do rebanho (em conjuntos de isolados de E. coli de todos os leitões). O teste do qui-quadrado foi utilizado para buscar diferenças significativas. Para as análises dos fatores de manejo foram construídos modais lineares generalizados, que levaram em conta as interações plausíveis.
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Resultados
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Os fatores de manejo associados à diarreia
• A saúde da porca* (OR 6 [IC 95% 1,4 - 39,4], P = 0,01) • A negligência na secagem das baias de parição após a lavagem (OR 4 [IC 95% 1,3 - 12,3], P = 0,01) • Os sistemas de aquecimento “manuais”** (OR 2 [95% CI 0,9 - 4,3], P = 0,1) • Alimentação líquida da porca (OR 2 [95% CI 0,9 - 4,8], P = 0,1) *: subjetivamente avaliado pelo veterinário responsável pelo plantel; **: “manual” significa aquecimento por palha ou madeira em oposição ao aquecimento por óleo ou bomba de calor. A diarreia foi associada à detecção do rotavírus A. 22% dos leitões diarreicos versus 5% dos leitões não diarreicos foram positivos (P < 0,0001). Três fatores de virulência de E. coli pareciam estar associados à diarreia. A combinação AIDA-1, EAST-1 e STb foi observada em 27% dos casos de plantéis positivos, contra 13% dos casos de plantéis-controle (P = 0,2). A diarreia não foi associada à detecção de C. difficile ou à detecção de genes β2 do C. perfringens. 64% dos leitões diarreicos versus 61% dos leitões não diarreicos foram C. difficile positivos. Os genes β2 foram detectados em 91% dos leitões diarreicos e 91% dos não diarreicos. Conclusão De acordo com este estudo, os agentes patogênicos importantes nos casos de diarreia, em plantéis dinamarqueses, são o rotavírus A e, provavelmente, a E. coli, que transporta os genes de virulência AIDA-1, EAST-1 e STb. Nem o Clostridium difficile e nem os genes β2 do C. perfringens parecem estar associados à diarreia neonatal. A baixa sanidade do plantel de reprodutores, a negligência na secagem das baias de parição, o aquecimento instável e a alimentação líquida representam fatores de manejo associados à diarreia.
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Sumários de Pesquisa
Aclimatação de marrãs frente ao Mycoplasma hyopneumoniae: investigando a proporção ideal do contato de animais infectados com animais suscetíveis para uma exposição natural bem-sucedida L. R. Roos1,*; E. Fano2; N. Homwong1; B. Payne2; M. Pieters1 1: Veterinary Population Medicine, University of Minnesota, St. Paul, MN, USA; 2: Boehringer Ingelheim Vetmedica, Inc., St. Joseph, MO, USA Introdução Mycoplasma hyopneumoniae é um agente patogênico respiratório que leva ao comprometimento do bem-estar do suíno e a perdas econômicas em animais de terminação. A infecção pulmonar causada por esse agente pode durar até sete meses, fazendo com que os animais infectados tornem-se portadores assintomáticos, capazes de infectar seus companheiros na granja. O patógeno é transmitido principalmente por contato direto, sendo a transmissão vertical reconhecida como fator de risco para a prevalência do M. hyopneumoniae no desmame. Sabe-se que os leitões lactentes colonizados são considerados iniciadores da propagação do M. hyopneumoniae após o desmame, infectando seus companheiros de baia susceptíveis. Uma vez que as fêmeas de reposição negativas para o M. hyopneumoniae, ao serem introduzidas em granjas comerciais endemicamente positivas para o patógeno, sofrem duras consequências, é importante que medidas adequadas de aclimatação sejam levadas em consideração nesse sentido. Um método alternativo para a aclimatação dessas marrãs é a exposição natural controlada delas junto a animais já infectados para que elas se tornem resistentes. O objetivo deste estudo, portanto, foi avaliar a proporção ideal entre fêmeas infectantes e suscetíveis, em um período de quatro semanas, para que a exposição ao M. hyopneumoniae fosse bem-sucedida. Material e métodos Sessenta marrãs foram divididas em dois grupos. 21 delas, com duas semanas de idade, foram inoculadas com o M. hyopneumoniae, e 39 delas, com a mesma idade, foram expostas ao grupo inoculado por um período de quatro semanas. A exposição foi realizada dividindo as fêmeas em seis grupos, de dez diferentes proporções, entre infectadas e suscetíveis: de uma infectada para nove suscetíveis até seis infectadas para quatro suscetíveis. Foram coletadas amostras da laringe, de fluidos orais e de sangue de todas as fêmeas participantes, antes, durante e após a inoculação e exposição ao agente. A infecção nas fêmeas inoculadas foi confirmada pelo desenvolvimento de sinais clínicos pós-inoculação, soroconversão e detecção de material genético de M. hyopneumoniae nas amostras coletadas. As fêmeas expostas foram consideradas positivas após quatro semanas de exposição, caso o M. hyopneumoniae tivesse sido
51 detectado em amostra coletada a partir de swab bronquial ou tecido pulmonar fixado. Resultados 33% (3/9) das marrãs suscetíveis expostas foram positivas na proporção de 1:9; 75% (6/8) na proporção de 2:8; 28% (2/7) na proporção de 3:7; 33% (2/6) na proporção de 4:6; 80% (4/5) na proporção de 5:5 e 100% (4/4) na proporção de 6:4. Considerando os resultados obtidos a partir dos esfregaços de laringe, foi detectado material genético de M. hyopneumoniae em todas as fêmeas originalmente suscetíveis, na proporção de cinco inoculadas e cinco suscetíveis, o que implica ser essa a proporção indicada para se alcançar a exposição de todas as marrãs do grupo em períodos mais prolongados. A taxa de transmissão estimada (β) e a probabilidade esperada de infecção (ψ) foram de 1,28/suíno/semana e de 0,6/suíno/semana, respectivamente. Conclusão Foi necessário seis infectantes, em um grupo de dez marrãs, para uma exposição bemsucedida ao M. hyopneumoniae, em um período de exposição de quatro semanas. No entanto, uma proporção de 1:1 poderia ser possivelmente utilizada em uma abordagem menos conservadora e para períodos de exposição mais longos. nº 59/2017 | Suínos&Cia
Sumários de Pesquisa
Estudo sobre a adição de ácidos orgânicos na alimentação como uma estratégia de baixo custo para combater a salmonela em suínos desmamados H. Lynch1, 2,*; H. Arguello1; K. Walia1, 3; P. G. Lawlor4; G. Duffy1; G. E. Gardiner3; F. C. Leonard5 1: National Food Research Centre, Teagasc, Ashtown, Dublin, Ireland; 2: University College Dublin, Dublin, Ireland; 3: Waterford Institute of Technology, Waterford, Ireland; 4: Teagasc Moorepark, Fermoy, Cork, Ireland; 5: Veterinary Sciences Centre, University College Dublin, Dublin, Ireland Introdução A veiculação das salmonelas pelos os suínos é uma questão significativa de segurança alimentar, sendo 8,9% dos casos europeus de salmonelose, em humanos, ligados ao consumo da carne suína ou de seus derivados. Embora resulte em custo adicional para o produtor, as medidas de controle da salmonela implementadas nos primeiros estágios de produção são altamente necessárias. A inclusão de ácidos orgânicos na dieta dos suínos já demonstrou reduzir a contaminação e a transmissão da salmonela. O objetivo do presente estudo foi examinar o efeito de três produtos derivados de ácidos orgânicos, comercialmente disponíveis, nos níveis de salmonela presentes em suínos desmamados, utilizando um modelo de infecção experimental que imita de perto a exposição natural ao referido microrganismo.
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Material e métodos Os suínos utilizados no ensaio (n = 40) foram colocados em uma das quatro baias contaminadas
com salmonela, as quais continham dez animais cada. As baias já haviam sido inoculadas com um nível de 103 a 104 CFU/g de fezes por meio da permanência de dois suínos experimentalmente desafiados com 5 x 106 CFU de uma variante monofásica de Salmonella typhimurium, durante cinco dias. Os animais desafiados foram, então, removidos das baias e eutanasiados. Os suínos utilizados no ensaio receberam uma das quatro dietas seguintes: T1, dieta de controle; T2, dieta suplementada com butirato de sódio (três kg/ton); T3, dieta suplementada com ácido benzoico (cinco kg/ton); e T4, dieta suplementada com ácidos fórmico/cítrico (quatro kg/ton). Outros dez suínos foram colocados em uma baia não contaminada pela salmonela, a qual recebeu a dieta T1. Os animais foram pesados e houve a coleta de amostras de sangue nos dias zero e 28. As fezes foram coletadas nos dias zero, 2, 3, 5, 7, 14, 21 e 28, sendo examinadas quanto à presença e quantidade de salmonela. No dia 28, cinco suínos por grupo foram eutanasiados, havendo coleta de amostras dos linfonodos ileocecais e do conteúdo do ceco para cultura. Os cinco animais restantes por baia foram então alimentados com a dieta T1. Suas fezes foram coletadas nos dias 35 e 42. No dia 42 foram pesados e eutanasiados, sendo seus linfonodos ileocecais e os conteúdos cecais amostrados e testados para determinação dos níveis de salmonela. O teste foi replicado uma vez. Resultados Os resultados sugerem que os ácidos orgânicos utilizados neste estudo não conseguiram prevenir a infecção ou reduzir a contaminação por salmonela. Um estudo complementar está em andamento para determinar os efeitos dos ácidos orgânicos sobre o desempenho e o crescimento dos suínos.
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Recursos Humanos
A nova economia, revolucionária: Evolução sempre! Muitas mudanças ocorreram no mundo nos últimos tempos... 1 Mp3 faliu as gravadoras. 2 Netflix faliu as locadoras. 3 Booking complicou as agências de turismo. 4 Google faliu a Listel, Páginas Amarelas e as enciclopédias.
5 Airbnb está complicando os hotéis. 6 Whatsapp está complicando as operadoras de telefonia.
19 Facebook complicou a vida dos portais de conteúdo.
20 Coaching mudou a forma de aprender,
pensar e agir, levando a um novo modelo mental, gerando resultados extraordinários em um curto espaço de tempo nas organizações.
21 Tinder e similares complicando baladas e
8 Uber está complicando os taxistas. 9 OLX acabou com os classificados de jornal. 10 Smartphone acabou com as revelações
22... 23... ...e você quer viver como vivia há 10 anos?
fotográficas e com as câmeras amadoras.
11 Zip Car está complicando as locadoras de veículos.
12 Tesla está complicando a vida das montadoras de automóveis.
13 O e-mail e a má gestão complicou os Correios.
14 Waze acabou com o GPS. 15 O 5 andar está acabando com as imobiliárias que intermediam aluguéis.
16 O Original e o
Nubank ameaçam o sistema bancário tradicional.
17 A “nuvem”
complicou a vida dos “pen drive”.
Suínos&Cia | nº 59/2017
Adolescentes não assistem mais canais abertos.
7 Mídias sociais estão complicando os veículos de comunicação.
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18 Youtube complica a vida das tvs.
“similares”.
Temos que nos reinventar diariamente para continuarmos nesse “jogo” chamado VIDA. VAMOS EM FRENTE... Não porque atrás vem gente..., mas porque já tem muita gente na nossa frente!!! Autor desconhecido
Vetanco Informa
Novas perspectivas no controle de micotoxinas
O
Brasil é considerado, globalmente, um país de excelência em produção agropecuária e especialista no processo de transformação de grãos em proteína animal de altíssima qualidade. Neste país de proporções continentais, aproximadamente 80% da produção nacional de milho é destinada à fabricação de rações para suínos e aves (Abimilho, 2008). Devido às condições climáticas dos trópicos, nossos grãos estão constantemente expostos ao crescimento fúngico e à consequente formação de seus metabólitos secundários: as micotoxinas. Além da predisposição climática, a grande demanda por grãos na produção animal faz com que as agroindústrias brasileiras utilizem para a fabricação de rações grãos de qualidade longe das ideais, principalmente no que se diz respeito a micotoxinas. Resta aos responsáveis pelas áreas técnica e de gestão atuar corretivamente para minimizar os efeitos negativos que as micotoxinas causam nos parâmetros produtivos e sanitários das aves e suínos.
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Dentre as centenas de toxinas produzidas pelos fungos, sabe-se que as micotoxinas de maior importância na produção animal são aquelas oriundas de fungos do gênero Aspergillus spp (aflatoxina e ocratoxina) e Fusarium spp (zearalenona, fumonisina e tricotecenos como DON e T-2). Estudos de prevalência das diferentes micotoxinas em rações da América Latina demonstram que a maior ocorrência atual é derivada do crescimento de Fusarium spp nas lavouras. Em pesquisas realizadas no Brasil, entre 50% e 90% das amostras de
grãos apresentaram positividade para Fumonisina, uma das principais toxinas do Fusarium spp. Segundo Mallman et al. (2007), a contaminação por micotoxinas pode ocorrer em vários estágios de produção dos grãos, como na colheita, transporte, processamento e armazenamento. As melhorias na qualidade do processo de colheita, processamento e estocagem de grãos no Brasil fizeram com que as micotoxinas produzidas pelos fungos durante o período pós-colheita (p.ex. Aflatoxinas) apresentassem incidência reduzida gradualmente. Por outro lado, micotoxinas como as produzidas pelo gênero Fusarium spp são formadas nos grãos ainda na lavoura, tornando a existência dessas toxinas independentemente da qualidade da estocagem. Como resultado, as micotoxinas derivadas do Fusarium spp têm tomado crescente importância nos programas de controle. Aos envolvidos na produção de aves e suínos, são conhecidos de longa data os prejuízos causados pelas micotoxinas no desempenho zootécnico e sanitário dos animais. Com esses prejuízos na ponta do lápis, as agroindústrias dedicam recursos humanos e financeiros para minimizar as perdas relacionadas às micotoxinas. Historicamente, os inibidores de crescimento fúngico e os adsorventes figuraram como a principal estratégia para o controle de micotoxinas; porém, modernas tecnologias surgiram nos últimos anos, proporcionando uma nova perspectiva para o controle de micotoxinas na produção animal. Os inibidores fúngicos previnem o crescimento vegetativo dos fungos e a
Gráfico 1. Biotransformação da toxina T-2 no fluído ruminal. Fonte: Bata et al., 1985 Suínos&Cia | nº 59/2017
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consequente formação de micotoxinas durante a estocagem dos grãos. Já os adsorventes atuam de forma eficaz na eliminação de micotoxinas polares dentro do trato digestório dos animais, já que sua adsorção é feita, principalmente, por polaridade (carga iônica das moléculas). Como citado acima, anteriormente, o foco principal era dado no controle das Aflatoxinas por considerá-las muito prevalentes; hoje observa-se uma maior preocupação com as micotoxinas produzidas por fungos do gênero Fusarium spp (ZEA, DON, T-2, Fumonisinas, etc.). Estas micotoxinas apresentam particularidades físico-químicas que as diferenciam das demais, especialmente por serem geralmente moléculas de baixa polaridade. Sendo produzidas já no campo e possuindo carga polar reduzida, as toxinas oriundas do Fusarium spp não são adequadamente controladas pelos inibidores fúngicos de estocagem e pelos adsorventes tradicionais. O aprofundamento no conhecimento da prevalência e nos mecanismos de ação das micotoxinas resultou no desenvolvimento de novas plataformas tecnológicas, permitindo uma abordagem integral do controle de micotoxinas na produção animal. Nos últimos anos, o uso de enzimas para inativação de micotoxinas tornou-se uma ferramenta segura e eficaz, com efeitos sobre uma ampla gama de micotoxinas que, em sua maioria, não são adequadamente controladas por meio dos métodos tradicionais. Mecanismos enzimáticos de inativação de micotoxinas Enzimas são estruturas amplamente conhecidas por seus efeitos vitais no metabolismo dos seres vivos, com atividades que variam desde a contração muscular até a troca gasosa nos pulmões. As enzimas são substâncias orgânicas de natureza normalmente proteica, com atividade intra e extracelular. Possuem funções catalisadoras de reações químicas, permitindo que elas ocorram da forma e velocidade necessárias. Essa capacidade catalítica das enzimas também as torna adequadas para aplicações industriais, como na produção de antimicrobianos em larga escala e na melhoria da digestibilidade de determinados nutrientes das rações de monogástricos (por exemplo, a fitase). Dentro dessa vertente, mecanismos de inativação enzimática de toxinas foram alvo de investigação por várias instituições de pesquisa, resultando em uma plataforma eficaz para a detoxificação das micotoxinas que dificilmente são controladas por mecanismos tradicionais na produção animal.
Figura 1. Anatomia do sistema digestivo do suíno: as cores apontam o pH fisiológico de cada órgão. Adaptado de Muirhead & Alexander, 1997
Estudos nas áreas de microbiologia e enzimologia levaram à descoberta de enzimas secretadas por microrganismos, com capacidade de metabolizar as micotoxinas. Este mecanismo denominou-se detoxificação, biotransformação ou inativação enzimática. A detoxificação de micotoxinas é conhecida desde a década de 60, quando foram publicados os primeiros relatos da biotransformação de toxinas por microrganismos. Do ponto de vista prático, o primeiro resultado importante deu-se em meados da década de 80, quando a capacidade de inativação da toxina T-2 foi demonstrada (Gráfico 1). Isso foi resultado da observação da fisiologia dos ruminantes, já que eles não apresentavam sinais de intoxicação por certas micotoxinas. A partir do fluido ruminal isolaram-se alguns microrganismos capazes de metabolizar a porção tóxica dos tricotecenos. Demonstrou-se então, que determinados microrganismos secretavam enzimas capazes de clivar as micotoxinas em regiões específicas, resultando em metabólitos atóxicos ou de baixa toxicidade. Com o uso de técnicas de biotecnologia e fermentação industrial, viabilizouse a produção dessas enzimas para inativação de micotoxinas em grande escala.
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DETOXA PLUS® – aditivo inativador enzimático de micotoxinas Recentemente, a plataforma enzimática de detoxificação de micotoxinas assumiu uma posição de referência no combate às micotoxicoses na produção animal. Considerando as micotoxinas de maior importância e as peculiaridades fisiológicas das aves e suínos, o Instituto Húngaro-Canadense de Pesquisas Biotecnológicas Dr. Bata Ltd. desenvolveu um inativador enzimático de micotoxinas nº 59/2017 | Suínos&Cia
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Gráfico 2. Estabilidade térmica do Detoxa Plus® após 30 minutos na temperatura. Fonte: Dr. Bata Ltd.
58 Gráfico 3. Atividade enzimática do Detoxa Plus® de acordo com o pH do meio. Fonte: Dr. Bata Ltd. moldado especialmente para apresentar ação ótima no trato digestório de monogástricos. Comercializado na Europa e Ásia há mais de 5 anos, o DETOXA PLUS® chega ao mercado brasileiro por meio de uma parceria entre a Dr. Bata Ltd. e a Vetanco do Brasil. Como as enzimas são extremamente específicas (catalisam reações químicas em um determinado ponto de uma molécula) e dependentes de um meio característico (temperatura, pH, tempo, etc.), os pesquisadores da Dr. Bata Ltd. buscaram encontrar enzimas que fossem específicas para as micotoxinas de importância em produção de monogástricos e que apresentassem sua atividade potencializada no ambiente do trato gastrointestinal destes animais. Com estes objetivos, desenvolveuse o DETOXA PLUS®, um inativador enzimático eficaz e seguro para uso na nutrição animal, especialmente focado no controle das micotoxinas importantes na produção de aves e suínos. O complexo enzimático presente no DETOXA PLUS® é produzido por leveduras do tipo Saccharomyces cerevisiae, que, além de secretar as enzimas, também possuem características físicas Suínos&Cia | nº 59/2017
na sua parede, as quais são importantes para o controle de micotoxinas por adsorção. Fatores críticos para eficácia da inativação enzimática de micotoxinas no trato digestório dos monogástricos 1. Estabilidade Térmica (Gráfico 2): as enzimas presentes no DETOXA PLUS® permanecem ativas mesmo após a peletização das rações; 2. Atividade dependente do pH do meio (Gráfico 3): para que a atividade enzimática apresente seu pico no local de maior interesse para o controle de micotoxinas é fundamental que as enzimas sejam adaptadas ao ambiente do trato digestório dos monogástricos. O objetivo é que as enzimas já atuem na porção anterior do trato digestório (estômago) por dois motivos principais:a inativação ocorreria antes da absorção intestinal das micotoxinas (Figura 1), minimizando a toxicidade a elas relacionada; e,adicionalmente, como a reação enzimática de inativação é tempo-dependente, a atividade torna-se mais eficiente nessas porções do trato digestório, uma vez que o grande
tempo de retenção do alimento nessas estruturas permite maior contato e consequente ação das enzimas. Para que um inativador enzimático funcione eficazmente, é importante que possua características que se relacionem com o metabolismo dos animais em questão, além de possuir atividade voltada para as micotoxinas realmente importantes para essas espécies. O desenvolvimento do DETOXA PLUS® é resultado de anos de pesquisas, chegando a um produto de alta qualidade, seguro e eficaz para o controle das micotoxinas importantes na avicultura e na suinocultura modernas.
Referências 1. Abimilho – Associação das Indústrias de Milho. 2008. Processos Industriais e Aplicações- Aproveitamento do milho. Disponível em :http://www.abimilho. com.br/estatistica/producao_mundial. Acesso em: 20/10/2012. 2. BENNETT, J.W.; KLICH, M. Mycotoxins. ClinicalMicrobiologyReviews, Washington, v.16, n.3, p. 497-516, July 2003. 3. GIMENO, A; MARTINS, M.L. Micotoxinas y micotoxicosisenanimales y humanos: specialnutrients, 3 ed. Miami: SpecialNutrients, 2011. 130p. 4. Haláz et al., 2009. DecontaminationofMycotoxin – ContainingFoodandFeed byBiodegradation. 5. MALLMANN, C. A. et al. Desempenho produtivo de frangos de corte intoxicados com diferentes concentrações de aflatoxinas na dieta. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE AVICULTURA BRASIL, 20., 2007, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre UFRGS, 2007a. 1 CD-ROM. 6. MUIRHEAD, M. & ALEXANDER, T. ManagingPig Health andthetreatmentofdisease. 5M, 1997. 7. SWAMY, H.V.L.N. Mycotoxicoses in poultry: in the overview. FromtheAsia – Pacific region. In: BIOTECHNOLOGY IN THE FEED INDUSTRY, 21., 2005, London.
Jogo Rápido
Biosseguridade
Nazaré Lisboa pergunta: Como encontra-se a biosseguridade da sua granja?
A
biosseguridade faz-se por meio da implantação e manutenção de um conjunto de normas e medidas que são necessárias para prevenir doenças e controlar as existentes no sistema de produção suína. Prevenir sempre é a melhor estratégia para diminuir os riscos de entrada de agentes causadores de doença. Respondendo às perguntas abaixo, assinalando Sim ou Não, vamos conhecer o grau de vulnerabilidade ou o quanto seu plantel encontra-se protegido em relação à preservação de saúde animal do rebanho.
8. Existe telas antipássaros nas laterais dos galpões, que são protetoras para evitar presença de pássaros em contato com alimentos e animais? ⃝ Sim
9. O controle de tráfego é limitado por meio de cercas, impedindo a entrada de pessoas e animais de outras espécies? ⃝ Sim
⃝ Não
1. A localização e a distância entre granjas respeitam os limites de controle sanitário?
10. O escritório está localizado estrategicamente para que se possa cumprir o objetivo de controlar e rastrear a entrada de pessoas e todo tipo de transporte?
⃝ Sim
⃝ Sim
⃝ Não
60 2. Existe barreira verde em volta da granja? ⃝ Sim
⃝ Não
3. Existe barreira com cerca de isolamento em volta das instalações? ⃝ Sim
⃝ Não
4. Todos os funcionários estão devidamente capacitados sobre a importância da biosseguridade? ⃝ Sim
⃝ Não
5. Novos funcionários, quando contratados, sempre são treinados sobre a importância da biosseguridade? ⃝ Sim
⃝ Não
6. Existe um programa de treinamento com reciclagem sobre a importância da prática de biosseguridade? ⃝ Sim
⃝ Não
⃝ Não
11. Antes da entrada na granja existe um arco de desinfecção para todos os veículos antes de se aproximarem da granja? ⃝ Sim
⃝ Não
12. Todos os veículos passam pelo processo de lavagem, secagem e desinfecção antes de se aproximarem na granja? ⃝ Sim
⃝ Não
13. Os caminhões são lavados, secados e desinfetados sempre que terminam o descarregamento dos animais, em locais especificamente selecionados e preparados para tal? ⃝ Sim
⃝ Não
14. Existe um quarentenário que recebe animais sempre da mesma origem, aliado ao apoio laboratorial, minimizando os riscos de introdução de animais portadores de doenças e assegurando a saúde dos animais recém-adquiridos? ⃝ Sim
Suínos&Cia | nº 59/2017
⃝ Não
⃝ Não
7. Faz-se auditoria periodicamente das medidas de biosseguridade como também avaliação teórica / prática de todos os funcionários?
15. Existe um programa com um protocolo consistente de limpeza e desinfecção das instalações?
⃝ Sim
⃝ Sim
⃝ Não
⃝ Não
Jogo Rápido
16. Existe revisão do processo de limpeza de desinfecção dos veículos antes de se aproximarem da granja e, se necessário, quando não adequado, voltam ao processo? ⃝ Sim
⃝ Não
18. Depois da revisão do processo de limpeza e desinfecção há tempo e disponibilidade de instalações para refazer o processo, se necessário? ⃝ Sim
⃝ Não
19. Existe adequado destino aos animais mortos e demais matéria orgânica? ⃝ Sim
⃝ Não
20. Existe um programa na rotina de análise da água de bebida quanto à qualidade e contaminantes? ⃝ Sim
⃝ Não
21. A água de bebida fornecida aos animais é tratada, se necessário, existindo rotina de controle e certificação de qualidade? ⃝ Sim
⃝ Sim
⃝ Não
⃝ Não
17. Existe revisão do processo de limpeza, desinfecção e vazio sanitário das instalações antes do uso delas? ⃝ Sim
ou outros sistemas de decomposição sem prejudicar o meio ambiente ou comprometer a saúde dos animais por atrair carnívoros?
⃝ Não
26. Existe um eficiente check-list para avaliar o programa de controle de pragas e ajustá-lo quando necessário? ⃝ Sim ⃝ Não 27. Existe um programa de vacinação que oferece adequada imunidade sem que cause reação anafilática? ⃝ Sim ⃝ Não 28. Existe um monitoramento laboratorial por meio de exames periódicos que avaliem o status sanitário de cada população nas diferentes fases de produção? ⃝ Sim ⃝ Não 29. Existe um programa de rotina de monitoramento em laboratório de diagnóstico especializado para controle de agentes patogênicos que possam comprometer a saúde dos doadores de sêmen e do sêmen da Central de Inseminação Artificial? ⃝ Sim ⃝ Não 30. Existe um destino adequado para agulhas e seringas depois do uso? ⃝ Sim ⃝ Não
22. A água utilizada para limpeza dos veículos e das instalações segue o processo de descontaminação e tratamento com certificação quanto à qualidade (controle de contaminantes e impurezas)?
31. Sempre utiliza-se uma agulha e uma seringa para animal doente e por tratamento? ⃝ Sim ⃝ Não
⃝ Sim
32. O sistema de aplicação de vacina é sem agulha? ⃝ Sim ⃝ Não
⃝ Não
23. Existe um consistente e adequado controle de pragas por meio de produtos e profissionais especializados para o controle de ratos, moscas, mosquitos e larvas? ⃝ Sim
⃝ Não
24. Existe um programa de rotina para coleta e análise de amostras de matérias-primas e rações quanto ao grau de contaminação? ⃝ Sim
⃝ Não
25. Produtos produzidos nos partos, como placentas, natimortos e mumificados, são devidamente destinados a um sistema de compostagem, fossas
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33. No manejo de vacinação com agulhas, jamais aplica-se com a mesma agulha mais de cinco animais? ⃝ Sim ⃝ Não 34. Silos, carrinhos e reservatórios de ração e comedouros estão sempre tampados, impedindo o contato de aves e outros animais com a ração? ⃝ Sim ⃝ Não 35. Existem estradas separadas para o acesso de transportes internos e externos? ⃝ Sim ⃝ Não nº 59/2017 | Suínos&Cia
Jogo Rápido
Após concluir suas respostas, preencha a tabela abaixo. A soma do número de Sim e Não demonstrará como sua granja encontra-se situada quanto à prática das medidas de biosseguridade. TOTAL: SIM _________
NÃO _________
Se respondeu 31 SIM e 4 NÃO Parabéns! Existe baixo risco de entrada de doenças na sua suinocultura e você promove cuidados e manejo da biosseguridade. Siga adotando medidas que garantem a saúde e o bem-estar dos animais. Peque por excesso, mantenha-se atento e revise constantemente todos os processos. Mente aberta para adotar novos conceitos que podem melhorar e prevenir riscos de entrada de doenças no seu plantel. Capacitar, treinar sempre seus funcionários e novos contratados: essa é a regra básica. Qualquer descuido pode comprometer o excelente trabalho que desenvolveu durante todos esses anos. Mantenha-se consciente de que medidas de prevenção são investimentos e promovem a saúde do rebanho. Sua empresa é exemplo para outros suinocultores.
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Se respondeu entre 26 - 30 SIM e 9 - 5 NÃO Estado de alerta! Precisa rever seus conceitos e iniciar um trabalho listando as prioridades. Certamente, em curto prazo, garantirá um melhor controle à entrada de agentes causadores de doenças, que podem produzir perdas econômicas incalculáveis.
Se respondeu menos de 26 SIM e mais de 9 NÃO Encontra-se altamente vulnerável. A qualquer momento pode enfrentar problemas com doenças. Quando elas entram, pode haver riscos de perder tudo o que adquiriu ao longo de todos esses anos. É importante lembrar que a saúde é o maior tesouro e deve ser preservada. Em alguns casos, quando entra doença em um sistema de produção, podem ocorrer perdas na ordem de 30% a 50%, as quais nenhuma empresa conseguirá resistir. Como diz o ditado, “antes tarde do que nunca”. Estabeleça um programa de prioridades junto ao veterinário e comece a implantar as medidas de biosseguridade promovendo saúde e bem-estar aos animais e estabilidade financeira ao seu investimento.
Suínos&Cia | nº 59/2017
RISCO DE MICOTOXINA
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A alternativa natural para evitar os efeitos das micotoxinas.
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Divirta-se
Encontre as palavras No diagrama abaixo, vamos encontrar as palavras que são fatores predisponentes à mastite suína:
ALIMENTO ÁGUA TEMPERATURA AMBIENTE HIGIENE LIMPEZA ORDEM DE PARTO INSTALAÇÕES ESTRESSE PARTO DISTÓCICO 64
Jogo dos 7 erros
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Divirta-se
Teste seus conhecimentos As complicações pós-parto são uma das causas mais importantes de perdas produtivas e econômicas em granjas de suínos. As consequências dessas perdas manifestam-se em mortalidade de porcas e na viabilidade de seus leitões, com efeitos visíveis durante todo o ciclo produtivo. As doenças das glândulas mamárias são uma das principais causas de eliminação de porcas, com uma incidência de até 13% nos países do norte europeu, mas o principal efeito colateral consiste na mortalidade de leitões na maternidade. Teste seus conhecimentos no que se refere à Síndrome da Disgalaxia Pós-parto (PPDS), assinalando nas alternativas abaixo (V) verdadeiro ou (F) falso. ( ) A terminologia que descreve o fenômeno de MMA sofreu mudanças no decorrer dos anos, passando do clássico e superado complexo Mastite Metrite Agalaxia (MMA) à Síndrome da Disgalaxia Pós-parto (PPDS) e Síndrome da Hipogalaxia Perinatal. ( ) Existem diferentes denominações que fazem referências aos sintomas principais e caracterizam a doença como um complexo composto de agalaxia, ou aleitamento insuficiente ou agalaxia toxêmica pós-parto. ( ) Entre os problemas puerperais da porca, a mastite é, certamente, a mais frequente, e a etiologia bacteriana predominante dos microrganismos mais comumente isolados são coliformes que pertencem aos gêneros Escherichia, Citrobacter, Enterobacter e Klebsiella. ( ) O termo mastite é o único e o mais correto para ser utilizado na infecção do tecido mamário. ( ) As principais medidas preventivas no controle de mastite suína são manter higiene, efetuar e manter adequada limpeza e desinfecção juntamente no vazio sanitário das instalações. ( ) A porca com dor na glândula mamária coloca-se em decúbito esternal, impedindo o acesso ao mamilo. Além disso, em condições de disgalaxia, a quantidade e a qualidade da composição do colostro e do leite não satisfazem as exigências nutricionais dos neonatos, que retardam o crescimento gradualmente, seguido de morte. ( ) A mastite comumente acomete porcas jovens e raramente porcas mais velhas acima de quatro partos. ( ) O aumento da temperatura retal após o parto pode ser um indicador de risco, e vários estudos demonstraram que a hipertermia de 12 a 18 horas depois do parto é seguida da mastite. ( ) O intervalo crítico da temperatura corporal é compreendido entre 39,3°C a 40,5°C, porém, é necessário considerar a presença de uma hipertermia fisiológica no pós-parto. O mais indicado é, primeiramente, aferir a temperatura corporal para um adequado diagnóstico clínico.
Labirinto
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Divirta-se
Encontre as palavras
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Jogo dos 7 erros
Teste seus conhecimentos ( V ) A terminologia que descreve o fenômeno de MMA sofreu mudanças no decorrer dos anos, passando do clássico e ... ( V ) Existem diferentes denominações que fazem referências aos sintomas principais e caracterizam a doença como um ... ( V ) Entre os problemas puerperais da porca, a mastite é, certamente, a mais frequente, e a etiologia bacteriana predominante dos ... ( V ) O termo mastite é o único e o mais correto para ser utilizado na infecção do tecido mamário. ( V ) As principais medidas preventivas no controle de mastite suína são manter higiene, efetuar e manter adequada limpeza e ... ( V ) A porca com dor na glândula mamária coloca-se em decúbito esternal, impedindo o acesso ao mamilo. Além disso, em ... ( F ) A mastite comumente acomete porcas jovens e raramente porcas mais velhas acima de quatro partos. ( V ) O aumento da temperatura retal após o parto pode ser um indicador de risco, e vários estudos demonstraram que a ... ( V ) O intervalo crítico da temperatura corporal é compreendido entre 39,3°C a 40,5°C, porém, é necessário considerar a ...
Labirinto
Suínos&Cia | nº 59/2017