Revista Suínos & Cia - Edição 62

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Editorial

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udanças de hábitos, criatividade, reinvenção, precaução, prevenção, higiene, disciplina. Nos últimos meses, passamos a conviver com essas palavras, entre outras, desde que um novo vírus Sars-Cov-2, do grupo coronavírus, passou a causar a doença denominada Covid-19 pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Um vírus que foi descoberto no final de dezembro de 2019 após alguns casos de pneumonia aguda registrados na China, na cidade de Wuhan. Um mês após esta descoberta, a OMS declarou que o surto da doença causada pelo Sars-Cov-2 constituiuse uma emergência de saúde pública de importância internacional e, inevitavelmente, em 11 de março de 2020, o novo vírus passou a ser classificado como uma pandemia. No Brasil, tivemos o registro do primeiro caso confirmado no estado de São Paulo, em 26 de fevereiro de 2020, com um homem que havia viajado recentemente para a Itália e apresentado os sintomas. Rapidamente, novos casos foram sendo confirmados em outros estados, e o Ministério da Saúde tomou medidas emergenciais para conter a evolução do vírus e a disseminação descontrolada entre a população. Atualmente, depois de nove meses convivendo em meio a essa pandemia, contamos perdas de vida, pessoas doentes, êxitos, fracassos e muitos desafios, evidenciando que não podemos fazer o mesmo e esperar resultados diferentes. O mundo mudou, e temos que nos adequar à nova situação. A medicina preventiva nunca esteve em tamanha evidência. Na certeza de que a criatividade desabrocha nos momentos difíceis, o que se deve fazer como adequação ao novo momento é revisar e aplicar o importante conceito de prevenção, adotando a Saúde Única no nosso dia a dia. Nos últimos anos, o termo One Health, ou Saúde Única, vem ganhando espaço cada vez maior dentro das discussões científicas que tratam de questões ligadas à saúde e epidemiologia. Na língua portuguesa, o termo Saúde Única trata da integração entre a saúde humana, a saúde animal, o ambiente e a adoção de políticas públicas efetivas para prevenção e controle de enfermidades, trabalhando nos níveis local, regional, nacional e global. Neste ano, a Suínos & Cia, mesmo diante de todos esses desafios, consegue publicar mais uma edição, esperando que por meio dos presentes trabalhos possa seguir contribuindo para o desenvolvimento da suinocultura brasileira. Boa Leitura!


Índice

6 Entrevista

Mortalidade de porcas nos atuais sistemas de produção suína: como interpretar importantes indicadores

10 Sanidade

Epidemiologia e Profilaxia da Peste Suína Clássica (PSC)

27 Reprodução

Vantagens do uso de ecografia em suinocultura

30 Atualidade

Produzindo suínos em tempos de coronavírus na Itália

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Capa

Sanidade Epidemiologia e Profilaxia da Peste Suína Clássica

Revista Técnica da Suinocultura

&cia

SUÍNOS

A Revista Suínos&Cia é destinada a médicos-veterinários, zootecnistas, produtores e demais profissionais que atuam na área de suinocultura. Contém artigos técnicocientíficos e editorias instrutivas, apresentados por especialistas do Brasil e do mundo.


33 Revisão Técnica

Resumo da 51ª Reunião Anual da Associação Norte-Americana de Veterinários Especialistas em Suínos (AASV)

53 Sumários de Pesquisa

Perdas econômicas associadas à ileíte Suplementação de luz não afeta o intervalo desmame-estro de fêmeas suínas hiperprolíficas

64 Reportagem

Evolução da empresa KUBUS: Inovação na reprodução suína

67 Informe Publicitário

Reagentes de degradação de enzimas efetivamente removem micotoxinas Desoxinivalenol e Zearalenona de sucos digestivos artificiais de suínos e aves DUROC DANBRED: Nova característica melhora a sobrevivência de leitões

72 Dica de Manejo

Inseminação Artificial: controle de qualidade das doses e conservadoras de sêmen em granjas de suínos

76 Divirta-se

Encontre as palavras Jogo dos 7 erros Teste seus conhecimentos Labirinto

Editora Técnica Maria Nazaré Lisboa CRMV-SP 03906 Consultoria Técnica Adriana Cássia Pereira CRMV - SP 18.577 Edison de Almeida CRMV - SP 3045 Mirela Caroline Zadra CRMV - SP 29.539

Ilustrações Roque de Ávila Júnior Departamento Comercial Mirela Caroline Zadra dtecnico@consuitec.com.br Jornalista Responsável Paulo Viarti MTB.: 26.493

Projeto Gráfico e Editoração Dsigns Comunicação comunicacaodsigns@gmail.com

Atendimento ao Cliente Mirela Caroline Zadra dtecnico@consuitec.com.br

Impressão Gráfica SilvaMarts

Assinaturas Anuais Brasil: R$ 160,00 Exterior: R$ 180,00 Mirela Caroline Zadra dtecnico@consuitec.com.br

Administração, Redação e Publicação Av. Fausto Pietrobom, 760 - Jd. Planalto Paulínia - SP - CEP 13.145-189 Tel: (19) 3844-0443 / (19) 3844-0580

A reprodução parcial ou total de reportagens e artigos será permitida apenas com a autorização por escrito dos editores.


Entrevista

Mortalidade de porcas nos atuais sistemas de produção suína: como interpretar importantes indicadores PhD Carlos Piñeiro - Médico-veterinário - Consultor Diretor PigCHAMP Pro Europa SL pigchamp@pigchamp-pro.com

Segundo a experiência e visão do médico-veterinário e Dr. Carlos Piñeiro, o incremento de mortalidade de porcas em granjas de suínos é um indicador da qualidade do sistema de produção que elas são submetidas

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édico-veterinário formado pela Universidad Complutense de Madrid, Carlos Piñeiro possui diploma de Estudos Avançados em Produção Animal pela Universidad Politécnica de Madrid e é PhD pela Universidad de Meiji-Tokyo-Japão. Também é Diplomado pelo European College of Porcine Health Management, especialista em Avaliação de Impacto Ambiental pela Universidad Politécnica de Madrid, membro do Grupo de Trabalho Espanhol para a discussão da Diretiva de Emissões Industriais e membro do Grupo de Gestão Ambiental na Produção de Suínos, coordenado pela Universidad Autónoma de Mexico, Unidade de Xochimilco. Há 20 anos, é diretor da empresa PigCHAMP Pro Europa S.A. Protagonista de uma brilhante carreira profissional, Dr. Carlos Piñeiro comandou mais de 20 projetos de pesquisa aplicada, mais de 26 artigos em revistas científicas, 137 comunicações em conferências científicas e cinco capítulos em livros especializados sobre produção, sanidade, ambiência e bem-estar animal. Além disso, com frequência, publica artigos técnicos/científicos para revistas, mídias sociais e sites, no seguimento de suinocultura. Nesta entrevista, Dr. Carlos Piñeiro relata sua vasta experiência neste importante tema, e das lesões macroscópicas encontradas nas necropsias e como estabelecer um protocolo para a solução do problema.

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S&C: A suinocultura é dinâmica e se mantém em constante evolução. Como entender o incremento da mortalidade de porcas nos atuais sistemas de produção de suínos? CP: Nos últimos sete anos, a mortalidade tem se elevado continuamente nos grandes sistemas de produção de suínos, com um aumento geral entre 80 a 100% quando comparamos com décadas passadas. O que era de 3 a 6%, hoje se reflete em índices superiores à 10%. Embora nenhuma causa principal possa ser atribuída a essa situação, é provável que estejamos acumulando mais fatores de risco do que nunca; fatores que, por sua vez, até agora não eram bem conhecidos ou descritos. Um suíno, seja uma fêmea reprodutiva ou um animal de abate, não morre ou será sacrificado repentinamente. Se isso ocorre, significa que o animal acumulou diferentes tipos de fatores de estresse, até que, por fim, não tenha mais sido possível superálos. A mortalidade reflete, na maioria dos casos, de como se encontra a qualidade dos seguimentos de um sistema de produção suíno. S&C: Atualmente, a produtividade da matriz suína ultrapassa mais de 32 leitões desmamados/porca/ano. Existe alguma relação entre essa produtividade e a mortalidade? CP: Até o momento não foi demonstrada nenhuma relação consistente entre esses dois fatores, embora haja indícios de que essa associação possa ser um elemento de influência. Alta produtividade implica numa alta demanda por padrões sanitários, nutricionais e de bem-estar. Na medida em que eles não sejam totalmente respeitados, assumimos um risco maior de esgotamento dos recursos do animal. O estresse imunológico, devido a doenças, exige a ativação do sistema imune, produção de anticorpos, citoquinas e de proteínas de fase aguda, que em termos fisiológicos demanda muita energia e nutrientes. O estresse metabólico, em determinadas fases da produção, como no final de gestação e durante a lactação, também é muito elevado. E o estresse social, devido a outros animais ou tratadores, também pode comprometer o sistema imunológico por meio da liberação de


Entrevista

corticosteroides e hormônios hipofisários. Assim também funciona o estresse pelo calor. O acúmulo desses fatores em animais já altamente demandados parece aumentar o risco de problemas, descartes precoces, eutanásias e mortalidade. S&C: Quais as principais causas do “por quê morrem as porcas”? O estresse social, devido a outros animais ou CP: Publicações de qualidade sobre esse tratadores, pode comprometer o sistema imune assunto são escassas devido ao baixo percentual de necropsias realizadas em porcas. Além disso, assumir como reposições anuais normais aquelas não existe um sistema padronizado para esse tipo acima de 55% e, como média de idade para desde avaliação. E assim, cada veterinário realiza a carte, valores ao redor de ou abaixo de quatro seu modo. Outro problema é a falta de normatizapartos. Estas não me parecem as melhores opções ção na coleta de dados a esse respeito, o que faz em termos de amortização. Para se ter um número com que algumas informações sejam ignoradas, fácil de lembrar, cada 1% de melhora na mortalisubestimadas ou superestimadas. Por exemplo, é dade de porcas, se traduz em 0,25 leitões a mais muito comum que se anuncie a causa da morte por porca coberta ano, ou 0,22 dólares por leitão súbita sem que se tenha feita uma necropsia. produzido. Não é um impacto pequeno. Morte súbita devido a que, torção intestinal, septicemia, úlceras gástricas, outras causas? Também S&C: Existe relação entre mortalidade e ordem é frequente que se considere como causa da baixa de parto? produtividade em porcas os diferentes graus CP: Um padrão claro de mortalidade está de problemas de aprumo, os quais diminuem o sendo definido em 'u' (mais elevado em P 0 a 1, desempenho ao longo de suas vidas produtivas. e em P 5+), tanto na gestação quanto na lactação, O motivo correto seriam os problemas de aprumo embora os percentuais gerais sejam maiores nessa propriamente ditos e não o baixo desempenho, última fase. mas não é frequente que se faça os registros dessa forma. Além disso, quando S&C: Há evidências de maior se anotam os problemas de "O estresse imunológico, mortalidade de porcas por aprumo, raramente são difefase de produção (vazia, renciados uns dos outros, devido a doenças, exige gestação ou lactação)? osteocondrose, crescimento ativação do sistema CP: Os momentos de excessivo dos tendões, fissumaior risco estão sendo clararas horizontais ou verticais, imune, produção de mente definidos no periparto: laminite infecciosa ou artrite, anticorpos, citoquinas, semana pré-parto e de 2 a 3 o que torna a análise ainda semanas pós-parto. Também e de proteínas de fase mais difícil. Mesmo assim, logo após o desmame, em segundo alguns autores (Alaaguda, que em termos que se concentram, principalKurikka, 2017), problemas fisiológicos demanda mente, as eutanásias. Parece cardiogênicos e inflamações que se espera retirar primeiro do aparelho locomotor são muita energia e a leitegada, antes de sacrificar considerados mais frequentes nutrientes." a porca. É claro que o parto em em fêmeas de primeiro parto; si é um estresse muito forte, e inflamações, ocorridas em que em combinação com outros fatores, como outras localizações, são mais frequentes em poraltas temperaturas ou doenças, aumenta muito o cas adultas, sendo 48% do total de mortes, com risco de morte. predomínio de peritonite. S&C: Como calcular o custo da mortalidade de porcas em um sistema de produção de suínos? CP: Essa questão do custo tem vários pilares. Em primeiro lugar está o custo do animal: ele morre e, portanto, se perde totalmente. Em segundo lugar existe o custo de oportunidade, ou seja, o que esse animal teria gerado na sua vida produtiva e que não teremos mais, o que também afeta os fluxos de produção. E em terceiro lugar estão o custo e o risco, acrescidos de uma reposição maior de entrada de animais. Passamos a

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S&C: Existe relação de mortalidade quanto à estação do ano? CP: No sul da Europa, com estações muito marcadas, o maior risco está nos meses mais quentes. Já nos meses com temperaturas mais amenas, esse risco diminui significativamente. Trata-se de um fator de risco muito importante, mas devemos lembrar que não é o único. Além disso, esse fator também nos chama a atenção para a importância de outras situações, como o controle da temperatura nas maternidades. nº 62/2020 | Suínos&Cia


Entrevista

dos animais (peritonites, torções, lesões hepáticas relacionadas ao C. novyi). São encontradas também, frequentemente, lesões antigas associadas que agregam informações muito valiosas. Observa-se também que mais de 60% das porcas apresentam osteocondrose em diferentes graus de comprometimento e 71% apresentam algum tipo de problema dentário, de origens e graus variados, demonstrando episódios de dor característicos desse tipo de lesão. Cortes na pele e úlceras, assim como cistite, também são frequentemente descritos. De maneira geral, destacam-se muitas porcas sem sintomas claros de um problema específico, embora submetidas a processos dolorosos, os quais provavelmente comprometem o seu desempenho em diferentes graus.

Cada 1% de melhora na mortalidade de porcas traduz-se em 0,25 leitão a mais por porca/ coberta/ano, ou 0,22 dólares por leitão produzido S&C: Quais as principais causas que levariam à eutanásia de porcas? CP: Parecem estar relacionadas, na sua maioria, a problemas de aprumo, como mostra o organograma abaixo entre a relação das lesões de cascos e o rendimento produtivo. E também devido a graves perdas nas condições corporais normais, por pouca, ou nenhuma ingestão de alimento, indicando um problema geralmente não diagnosticado. Como já foi comentado anteriormente, essas ocorrências se concentram principalmente após o desmame.

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S&C: Em alguns casos, quando possível, pode-se usar a ferramenta de necropsia como diagnóstico. Quais as principais lesões encontradas nessas necropsias? CP: É surpreendente o fato de se encontrar, com frequência, lesões compatíveis com a morte

Relação entre lesões de cascos e rendimento produtivo

Mais de 70% das porcas apresentam algum tipo de problema dentário, de origens e graus variados, demonstrando episódios de dor característicos desse tipo de lesão S&C: O que se pode fazer para controlar esse problema? CP: Devemos fazer uma aproximação do problema, do geral ao concreto; ver qual é a taxa de mortalidade que temos atualmente; como evoluiu a granja ou a empresa nos últimos anos; quais as taxas de retenção que temos ao longo do tempo; que causas observamos e se elas definem os problemas com precisão; estudar os padrões temporais, épocas do ano, ciclo produtivo e número de partos, para que tenhamos uma primeira imagem do processo como um todo; e rever partes muito específicas do processo produtivo, incluindo sanidade, manejo nutricional e instalações, para tentar identificar os problemas a partir de suas consequências. Não é uma operação simples, mas que vai requerer um trabalho inicial de análise detalhada para, posteriormente, se adotar um acompanhamento criterioso. A Suínos & Cia gostaria de agradecer, parabenizar e homenagear aos dois importantes profissionais Dr. Carlos Piñeiro e Dr. Yuso Koketsu pela dedicação de tantos anos através de estudos, trabalhos e publicações científicas relacionados às porcas de hiperprolificidade que são as verdadeiras protagonistas nos atuais sistemas de produção suína.

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Sanidade

Epidemiologia e Profilaxia da Peste Suína Clássica (PSC) Profa. Dra. Masaio Mizuno Ishizuka Professora Titular Emérita de Epidemiologia das Doenças Infecciosas da FMVZ/USP mizuno@usp.br

RESUMO Neste texto buscou-se reunir os conhecimentos necessários e suficientes para entender a história natural da Peste Suína Clássica (PSC), ou seja, a epidemiologia e as respectivas medidas de profilaxia. Fontes de infecção (animais vertebrados que albergam o vírus em seu organismo e que o eliminam para o meio exterior) são: i) portadores são/sadios, em incubação e convalescentes, destacando-se as reprodutoras (“síndrome da porca portadora”); leitões nascidos de porcas portadoras (imunotolerantes) e leitões infectados após o nascimento pelas estirpes de baixa patogenicidade e virulência; ii) doentes típicos, atípicos e em fase prodrômica; iii) reservatórios representados por javalis e outros suídeos silvestres.

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Profilaxia: medidas preventivas relativas a fronteiras internacionais e interestaduais de reprodutores, sêmen e produtos cárneos in natura ou industrializados de países ou áreas endêmicas. Vias de eliminação são as secreções oronasais, sangue, urina, fezes, secreções nasal e lacrimal e sêmen. Vias de transmissão podem ser pelo contágio direto (transmissão transplacentária e coito), contágio indireto (objetos, equipamentos, vestimenta, calçados e veículos contaminados), água e alimentos contaminados pelo vírus e resíduos de alimentos (lavagem). Profilaxia: proibir alimentação de suínos de criações de subsistência e de fundo de quintal com restos de cozinha; limpeza e desinfecção de objetos inanimados, incluindo veículos; e disposição adequada de excretas, resíduos, cadáveres e lixo. Portas de entrada representada pela mucosa oronasal, cordão umbilical e mucosa do útero. Suscetíveis e suscetibilidade: somente suídeos são suscetíveis; animais de todas as idades são suscetíveis às cepas de altas patogenicidade e virulência e animais jovens são suscetíveis a cepas de moderadas e baixas patogenicidade e virulência. Profilaxia: i) medidas inespecíficas: cercas Suínos&Cia | nº 62/2020

Dr. Ênio Antonio Marques Ex-secretário Nacional de Defesa Sanitária do MAPA/Brasil enio.marques@uol.com.br

ao redor das propriedades para prevenir entrada de suídeos estranhos ou outros animais; criação de animais separados por grupo etário; seleção cuidadosa da origem dos animais a serem adquiridos; alimentação adequada; medidas de biosseguridade e sistema de registro de produtividade e de saúde; ii) medidas específicas: vacinação quando permitida ou recomendada, Dentre as medidas gerais destacam-se: educação sanitária dos produtores, criadores e funcionários com foco em tópicos essenciais como medidas básicas de profilaxia e comunicação de suspeita ao Serviço Veterinário Oficial (SVO). Finalmente, para os estados livres de PSC, destacou-se o perigo de escape do vírus a partir daqueles estados de risco desconhecido e que não praticam a vacinação e enfrentaram ou ainda enfrentam focos da doença. Conclusão: a transmissão é, principalmente, por i) vias oral e oronasal e contágios próximo, indireto e transplacentário; ii) contato com secreções, excreções, sêmen e sangue; iii) disseminação por meio de visitantes, médicos-veterinários e comerciantes; iv) contágio indireto com instalações, implementos, veículos, roupas e instrumentos como agulhas; v) resíduos de alimentos de cozinha e aeronaves e navios insuficientemente submetidos ao calor destinado a suínos; vi) transmissão transplacentária; vii) suídeos selvagens. CONCEITUAÇÃO Doença infecciosa e altamente transmissível dos suídeos causada por um vírus RNA. As formas clínicas mais frequentemente observadas atualmente são a subaguda e a crônica. A forma aguda é de ocorrência mais rara. O quadro clínico e a evolução dependem da cepa de vírus e das características do hospedeiro. O agente etiológico é um vírus membro do gênero Pestivírus, da família Flaviviridae, e intimamente relacionado com os vírus da diarreia viral bovina (BVD) e da doença de Border (DB). Existe apenas um sorotipo do vírus (vPSC). A doença pode ser de natureza aguda, subaguda ou crônica; de manifestação clínica tardia


Sanidade

ou inaparente, dependendo das várias estirpes virais quanto à patogenicidade e virulência; de fatores ligados ao hospedeiro (idade); e do momento em que ocorre a infecção (pré ou pós-natal). Em adultos, a doença é usualmente menos severa do que em jovens e apresenta melhores condições de sobrevivência. Em fêmeas prenhes, o vírus é capaz de atravessar a barreira placentária e atingir o feto. A infecção intrauterina pelo vírus de moderada ou baixa patogenicidade e virulência é capaz de causar a condição denominada síndrome da “porca portadora”, seguida de morte pré-natal ou pós-natal precoce (natimortalidade) e nascimento de leitões doentes ou aparentemente sadios, porém persistentemente infectados. Surtos de PSC apresentam sérias consequências para o comércio de suínos e produtos de origem suína. A grande variabilidade de sinais clínicos impede ou dificulta sobremaneira o diagnóstico com base nos sinais clínicos e patológicos, e o diagnóstico laboratorial é o principal árbitro. Os métodos de escolha são a detecção de ácido nucléico viral a partir de amostras de sangue total e avaliação de presença de anticorpos no soro sanguíneo. A partir de suínos mortos, são mais apropriados procedimentos para detecção do vírus, de ácidos nucléicos virias ou antígenos a partir de fragmentos de órgãos. A Peste Suína Clássica é classificada como doença de notificação obrigatória (anteriormente incluída na lista A) pela Organização Mundial de Sanidade Animal/OIE, e sua ocorrência acarreta graves consequências ao bem-estar animal, à produção suinícola, às exportações de animais e seus produtos e ao meio ambiente. Esta enfermidade é altamente transmissível, apresenta grande poder de difusão e especial gravidade, que pode estender-se além das fronteiras nacionais, trazendo prejuízos socioeconômicos e sanitários graves e dificultando ou impossibilitando o comércio internacional de animais e produtos de origem animal.

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA O seu conhecimento é de fundamental importância para orientar o comércio de suínos, suídeos, produtos e subprodutos de origem suína. A PSC já foi erradicada em muitos países enquanto que em outros permanece endêmica a despeito dos esforços para a sua erradicação pela vacinação sistemática de susceptíveis. Um dos fatores que pode estar retardando o rápido progresso da erradicação é a limitada execução de ações de profilaxia de natureza inespecífica aplicável no âmbito da propriedade e que tem como base, principalmente, a atuação educativa dos veterinários e a orientação quanto a instalações e alimentação. O conhecimento da distribuição geográfica deve ser constantemente atualizado, pois focos surgem periodicamente em diferentes partes do globo. Ocorre em muitos países da Ásia, América Central, América do Sul e parte da Europa e África. Muitos países são livres da PSC. Para mais detalhes consultar Database (WAHID)/interface. Assim, segundo OIE (até maio de 2019): 2005: África Sul, Nicarágua e Rússia. 2006: Bolívia, Brasil, Equador, Guatemala, Nicarágua, África do Sul, Alemanha, Bulgária e Croácia. 2007: Bolívia, Brasil (Ceará e Paraíba), Guatemala, Nicarágua, Bulgária, Croácia, Hungria e Rússia. 2008: Brasil (Ceará, Maranhão e Paraíba), El Salvador, Bulgária, Hungria, Croácia, Eslováquia e Rússia. 2009: Brasil (Maranhão), México, Bulgária, Croácia, Hungria, Israel, Lituânia e Rússia. 2010: Guatemala, Hungria, Sérvia e Rússia. 2011: Hungria, Sérvia e Rússia. 2018: Brasil (Ceará) 2019: Brasil (Piauí)

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DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA ESPACIAL DE 2012-2019

2012

2013

2014 nº 62/2020 | Suínos&Cia


Sanidade

2015

2016

2017 12

2018

ETIOLOGIA

2019 Situação do Brasil: são considerados pelo MAPA, em 2009, livres de PSC, sem vacinação, os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe e Rondônia. Esta situação é mantida graças às medidas de vigilância epidemiológica e à ausência de atividade viral comprovada por ações de monitoramento sorológico periódico. Atualmente, os estados do norte do Brasil são considerados de risco desconhecido e sem vacinação. Suínos&Cia | nº 62/2020

a. Classificação do vírus da PSC (VPSC): vírus RNA, família Flaviviridade, gênero Pestivirus, existe apenas um sorotipo dividido em três grandes genótipos e dez subtipos. Ao gênero Pestivirus pertencem também os vírus da diarreia viral bovina (BVD) e doença de Border (DB), que são intimamente relacionados (OIE, 2019). b. Características do vírus do gênero Pestivírus: permanecem no organismo dos animais infectados na condição de “portador“, apresentam imunidade cruzada e alteram a capacidade enzimática das células infectadas. c. Características comuns do BVD, DB e PSC: comprometem o SNC, causando hipoplasia cerebelar e desmielinização, que estão associadas ao tremor congênito do recém-nascido, e comprometem os tecidos esqueléticos e o cutâneo.


Sanidade d. Cepas ou estirpes do vírus da PSC: existem 3 estirpes distintas d1. Estirpe de altas patogenicidade e virulência: causa doença de natureza aguda (forma clássica), alta mortalidade (± 100%) e evolução para a morte em 2 a 3 semanas, independentemente da idade. d2. Estirpe de moderadas patogenicidade e virulência: responsável pelos casos subclínicos e crônicos, e a mortalidade é variável. d3. Estirpe de baixas patogenicidade e virulência: aparecimento tardio em casos de infecção pós-natal e doença grave quando transmitida por via transplacentária. e. Resistência e sensibilidade do vírus e1. Frente aos agentes físicos: Temperatura: facilmente inativado pelo cozimento, por exemplo, facilmente destruídos pelo aquecimento a 65,5°C por 30 minutos ou 71,0°C por um minuto. Sobrevive por meses e anos à temperatura de congelamento. Existem estirpes parcialmente resistentes ao aquecimento moderado (56°C). pH: estável entre pH 5-10 e rapidamente inativado ao pH <3,0 ou pH >11,0. Resistência quando contidos em produtos de origem suína, secreções e excreções: sobrevive na carne salgada e defumada de 17 dias até 180 dias, dependendo do processo utilizado. Resiste de 3 a 4 dias em órgãos em decomposição e por 15 dias em sangue em decomposição e na medula óssea. Tabela. Resistência do vírus da PSC segundo os diferentes processos de industrialização PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO

RESISTÊNCIA

Defumação

Variável (7-180 dias)

Frio

Conserva bem

Maturação da carne

Não interfere na infectividade

Salga

Resiste entre 7 - 180 dias

Em presunto

Resiste por ± 180 dias

Em órgãos refrigerados

Resiste por 3 - 6 meses

Em carne congelada

Resiste por ± 95 dias

Em carne resfriada

Resiste por ± 35 dias

Cozimento e escalda

Destruído a 78 C em 1 hora

Em sangue aderido às embalagens de carne

Resiste por ± 20 dias

Em raspado cutâneo e pele

Resiste por 8 - 9 dias

Órgãos em decomposição

3 - 4 dias

Sangue e ossos em decomposição

15 dias

Secreção, excreção e matéria orgânica dessecada

Longo tempo

Em fezes

Resiste por ± 7 dias

Em urina

Resiste por ± 5 dias

Roupas, tecido, fômites, etc.

Destruído a 78oC em 1 hora

Putrefação

Destrói em poucas horas

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e2. Frente aos agentes químicos/desinfetantes: sensível ao éter, clorofórmio e ß-propiolactone (0.4%). Inativado por desinfetantes à base de cloro, cresol (5%), hidróxido de sódio (2%), formalina (1%), carbonato de sódio (4% anidro ou 10% cristalino com 0,1% de detergente), detergentes iônicos e não iônicos e iodóforos fortes (1%) em ácido fosfórico (OIE). Abaixo, algumas recomendações: DESINFETANTE

CONCENTRAÇÃO

TEMPO DE AÇÃO

CONDIÇÃO

Carbonato de cálcio

4%

24 horas

1 litro/m2 de superfície

Hidróxido de sódio

2%

Hipoclorito cálcio (pó) Cloro

2 Kg/ m2

Terra e piso

3%

Formol

0,25 %

48 horas

Temperatura ambiente

Formol

10 %

Fenol

3%

30 minutos

Temperatura ambiente

Ortofenilfenol

1%

1 hora

Temperatura ambiente

Iodofor

10 %

10 minutos

Temperatura ambiente

Calçados e pneus

nº 62/2020 | Suínos&Cia


Sanidade

e3. Resistência no ambiente: moderadamente frágil, não resistindo no ambiente. Sensível à dessecação e à radiação UV. No inverno, sobrevive nas baias por mais de 4 semanas. Sobrevive a 50°C por 3 dias e a 37°C por 7 a 15 dias. HOSPEDEIROS São hospedeiros naturais os suínos domésticos e os suídeos silvestres, incluindo javalis. FATORES PREDISPONENTES 1. Que favorecem a disseminação: existência de criação não tecnificada; alta densidade animal na granja; granjas muito próximas; falta de manejo sanitário de reprodutoras, desmamados e de leitões de engorda; falta de controle ou disciplina no sistema de comercialização, aglomerações (feiras, leiloes, exposições); mistura de animais de diferentes idades ou procedências; alimentação com resíduos de cozinha, hotéis ou lixo; carência de ações de vigilância ativa que favoreçam a presença de matrizes permanentemente infectadas ou de leitões imunotolerantes (portador são); falta de biosseguridade, entre outras. 2. Que dificultam a propagação: distância entre granjas; grandes criações com fornecedores definidos de matrizes e/ou desmamados; integrações fechadas de alta qualidade; existência de programas de educação sanitária dos criadores e intermediários; monitoramento das propriedades pelos indicadores de saúde e de produtividade; monitoramento sorológico pela vigilância ativa e sistema de notificação rápida de casos de suspeita/vigilância passiva.

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REQUISITOS PARA O ENTENDIMENTO DA EPIDEMIOLOGIA 1. Patogenia da PSC Porta de entrada do vírus: cordão umbilical na forma congênita e mucosa oronasal na forma adquirida (pós-natal). A porta de entrada mais frequente do vírus é a mucosa oronasal, a 1ª replicação viral ocorre nas células epiteliais das tonsilas para, em seguida, disseminar-se para os linfonodos regionais. Por meio da corrente sanguínea, atinge a medula óssea, linfonodos viscerais e as estruturas linfoides associadas com o intestino delgado a baço. A disseminação do vírus para as demais partes do organismo do suíno completa-se em menos de 6 dias. No organismo do suíno, o vírus se replica nos monócitos-macrófagos e células endoteliais dos vasos. Como o VPSC é imunossupressor, anticorpos (Ac) aparecem somente por volta de 2 a 3 semanas do início da infecção. Leucopenia, principalmente linfopenia, é um clássico evento que impacta surpreendentemente com linfócitos B e Suínos&Cia | nº 62/2020

células T helper; e, assim, as células T citotóxicas são as mais afetadas. Depleção de subpopulação de linfócitos ocorre de 1 a 4 dias antes que o vírus possa ser detectado no soro pela reação de transcriptase reversa-cadeia de polimerase (TR-PCR). A severidade das alterações da medula óssea e dos leucócitos circulantes sugere que o efeito citopático de células não infectadas seja induzido indiretamente, por exemplo, às custas de um fator solúvel ou pelo contato célula-célula, por não ocorrer efeito direto do vírus ou da proteína viral. Experimentos neste sentido sugerem uma interação entre o vPSC e o sistema monócito- macrófago, resultando na liberação de moléculas mediadoras que promovem a evolução da doença. Admite-se que alterações no equilíbrio hemostático sejam causadas por fatores pró- inflamatórios e antivirais que mediam a trombocitopenia e a hemorragia característica da PSC. A produção de citoxinas inflamatórias pelas células endoteliais infectadas pode desempenhar papel importante na imunossupressão e facilitar a disseminação do vírus, atraindo monócitos. Atualmente sabe-se que o vírus se replica em células dendríticas, e a mobilidade dessas células facilitaria esta disseminação, principalmente para as células linfoides, auxiliada pela interação que ocorre no interior dos folículos linfoides. O entendimento da interação hospedeiro-VPSC induz à evasão da resposta imune inata, retarda o aparecimento da resposta imune adquirida e resulta na patogênese da PSC. 2. Diagnóstico clínico De acordo com as circunstâncias relacionadas com a idade dos animais afetados, a estirpe viral envolvida e as condições de manejo, a doença se manifesta de forma subaguda ou crônica, que pode perdurar por 2 a 4 semanas ou alguns meses. Os sinais clínicos são inespecíficos, tais como emagrecimento na ausência de febre. a. Forma aguda: observada em suínos acometidos pela estirpe de elevadas patogenicidade e virulência e em leitões infectados por qualquer estirpe; portanto, a PSC aguda pode ser de natureza adquirida (pós-natal) ou congênita, e o período de incubação varia de 2 a 14 dias, sendo dependente da estirpe viral, susceptibilidade dos suínos e ocorrência de infecções intercorrentes. Os sinais são febre alta (41oC), anorexia; letargia; severa leucopenia; hiperemia multifocal e/ lesões hemorrágicas cutâneas; conjuntivite; linfonodos hiperplasiados e edemaciados; cianose cutânea, principalmente das extremidades (orelhas, lábios, cauda e focinho); constipação transitória seguida de diarreia; vômito ocasional; dispneia e tosse; ataxia, paresia e convulsão. Os leitões se aglomeram, e a morte ocorre depois de 5 a 25 dias do início dos sinais. A mortalidade em leitões jovens atinge cerca de 100%. b. Forma crônica: causada pelas estirpes de menor patogenicidade e virulência e em rebanhos parcialmente imunes.


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Os sinais são apatia, apetite caprichoso, febre intermitente, diarreia prolongada (por mais de 1 mês), pelos arrepiados, crescimento retardado, aparente recuperação com eventual recrudescimento e morte em mais ou menos 3 meses. As formas crônicas e as infecções persistentes são sempre de desfecho fatal. A taxa de mortalidade pode ser ligeiramente superior ao esperado. A PSC afeta o sistema imune, que se reflete na leucopenia generalizada usualmente detectada antes do aparecimento da febre. A imunossupressão favorece a instalação de infecções intercorrentes. Infecção congênita persistente pode passar despercebida durante meses, podendo afetar poucos ou muitos animais de um mesmo rebanho. c. Forma congênita: o desfecho depende da estirpe envolvida e fase da gestação. c1. Nos fetos e leitões: Quando da infecção materna no início da gestação: morte fetal, reabsorção fetal, nascimento de leitões com má formação fetal ou mortalidade neonatal. Quando da infecção materna entre o 2º e 3º meses de gestação: mumificação fetal ou natimortalidade. Quando da infecção materna no momento da formação do SNC dos embriões: defeito do cérebro, hipoplasia cerebelar, desmielinização, tremores, defeitos dos membros anteriores, hemorragias severas de diferentes órgãos e necrose hepática. Quando da infecção materna no final da gestação: não ocorre morte pré-natal, mas nascimento de leitões aparentemente normais e com sinais de aparecimento precoce (hemorragia, tremor congênito e morte) ou tardio (alguns meses após o nascimento, viremia alta na fase pré-colostral, que diminui após a ingestão de colostro, e retorno após 2 semanas). Quando da morte tardia, observam-se atrofia do timo e dos órgãos linfoides periféricos, proliferação de tecido retículo endotelial, degeneração hidrópica do endotélio vascular, hiperplasia da adrenal rara e imunossupressão.

Figura 1. Hemorragia cutânea em leitões apáticos e amontoados. Fonte: Barcelos & Sobestiansky, 2003

Figura 2. Hemorragia cutânea em leitões com apatia. Fonte: Too e Seneque, 2010

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Figura 3. Hemorragia na região do prepúcio. Fonte: Barcellos e Sobestiansky, 2003

Figuras 4, 5 e 6. Petéquias e cianose na orelha de diferentes intensidades. Fonte: Nietfeld, j; info@cld.org nº 62/2020 | Suínos&Cia


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Figura 7. Hemorragia de membros. Fonte: Nietfeld, j.

Figura 8. Hemorragia cutânea. Fonte: Nietfeld, j.

FOTOS DE PSC OCORRIDO NO CEARÁ – 2018/2019

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c2. Nas reprodutoras adultas: sinais ausentes (síndrome da porca portadora); anticorpos presentes em cerca de 80% das porcas infectadas; isolamento viral possível em apenas 30% das porcas infectadas disseminadoras do vírus; abortamento; retenção de placenta; fetos mumificados; leitões natimortos e nascimento de leitões fracos, com tremor congênito ou com lesões cutâneas. Explicação para a persistência do vírus no organismo do portador: células infectadas podem apresentar alteração cromossômica; capacidade de o vírus ser transmitido da mãe para o leitão na presença de anticorpos maternos; vírus continuaSuínos&Cia | nº 62/2020

ria se replicando na membrana intracitoplasmática e replicação ausente ou em baixo título na membrana extracitoplasmática, que conferiria à célula infectada resistência à lise celular (imunidade celular); escassez de vírus na membrana extracelular seria responsável pela baixa imunogenicidade do vírus (baixa resposta imune), principalmente em se tratando de cepa de moderada patogenicidade e virulência; capacidade de infectar células linfoides e macrófagos; o vírus permanentemente presente poderia não interferir na resposta imune, podendo induzir à imunotolerância; quanto mais jovem o animal infectado, mais facilmente a persistência se instala e tem relação direta com a maturidade e a competência do sistema imune.


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3. Diagnóstico anatomopatológico Lesões macroscópicas: A frequência de casos clínicos e a severidade da manifestação estão diretamente relacionadas com a patogenicidade e virulência das estirpes do VPSC envolvido. As lesões variam em severidade e distribuição no organismo do animal afetado na dependência do curso da doença. Na PSC adquirida, as lesões são as seguintes: a. Forma superaguda: lesões macroscópicas são raramente observadas ou muito brandas. b. Forma aguda: o quadro patológico é sempre hemorrágico de diferentes intensidades (petéquias e equimoses) na maioria dos órgãos e tecidos e notadamente nas estruturas que constituem o sistema histiocitário, que são: Pele: surgem petéquias, equimoses e cianose incluindo extremidades. Linfonodos: podem apresentar ligeira tumefação e até hemorragias extensas, que usualmente são de localização periférica. Baço: esplenomegalia acompanhada de infartos na superfície e nas bordas e raramente atinge todo o órgão. Nem sempre este órgão é afetado. Sistema nervoso: congestão de vasos das meninges e/ou hemorragias cerebrais de diferentes intensidades. Aparelho cardiorrespiratório: congestão ou petéquias e sufusões na epiglote, na mucosa da laringe, pleura, epicárdio e endocárdio e eventual hidro pericárdio. Nos pulmões pode-se observar pneumonia lobular, sendo frequente observar lóbulos hepatizados e de coloração vermelho escuro. Nos casos crônicos, pode-se observar infecção secundária que causam aderências e presença de exsudato mucopurulento nos brônquios e bronquíolos. Amígdalas: no suíno normal, a cor das amígdalas é quase a mesma do tecido circundante, mas na PSC aguda são frequentemente de coloração mais escura e tendendo ao vermelho escuro, ocasionalmente são visíveis manchas hemorrágicas. Em vários casos, pode haver a presença de amigdalite hemorrágica e necrótica devido à infecção bacteriana secundária que tende a ser supurativa. Aparelho urinário: petéquias de diferentes intensidades na cápsula e parênquima renal, podendo afetar a mucosa vesical. c. Forma subaguda e crônica: frequentemente causada pela estirpe de moderadas e baixas patogenicidade e virulência e também observada em suínos parcialmente imunes. As lesões são semelhantes aos da forma aguda, mas de intensidades menores na maioria dos casos e geral-

mente acompanhadas de infecção secundária. Aparelho digestório: presença de amigdalite necrótica purulenta quando seguida de infecção secundária. Estômago observado sem conteúdo alimentar, mas apenas catarro inflamatório, e a mucosa com hemorragia e congestão de diversas intensidades e mais frequentes na região fúndica. No intestino (ceco e intestino grosso) podem ser observadas úlceras em forma de botão e depleção generalizada do tecido linfoide. A despeito da degeneração epitelial, hemorragias e lesões inflamatórias ocorrem muito raramente. Rins: glomerulonefrite por deposição de complexos Ag-Ac nos glomérulos renais. Junção da cartilagem costocondral: estrias transversais e crescimento irregular e observado em suínos em crescimento. d. PSC congênita: pode resultar em abortamento, mumificação fetal, natimortalidade e má formação fetal caracterizada por dismielogênese central, hipoplasia cerebelar, microencefalia e hipoplasia pulmonar. Estudos de FLOEGEL-NIESMANN et al (2003) indicam sinais clínicos e lesões causadas por 4 estirpes de campo isolados durante a epidemia de 1990 na Europa, que acometeu suínos domésticos e selvagens comparativamente à estirpe de referência Alfort 187. Ao compararem lesões de pele, tecido subcutâneo, serosas, tonsilas, baço, rins, linfonodos, intestino (íleo e reto), cérebro e aparelho respiratório verificaram que os linfonodos foram os tecidos mais severamente afetados pelas 4 estirpes, seguidos pelas lesões necróticas no íleo e hiperemia dos vasos do cérebro e considerados o tecido e órgão mais confiáveis para fins de diagnóstico patológico. Infarto de baço e lesões necróticas de tonsilas, embora frequentemente descritas no passado, foram pouco frequentes. Semelhantemente, lesões de pulmões estavam ausentes ou bastante suaves.

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Figuras 9 e 10. Hemorragia e hiperplasia e linfonodos abdominais e inguinais. Fonte: Barcellos e Sobestianky, 2003 nº 62/2020 | Suínos&Cia


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Figura 11. Hemorragia e hiperplasia e linfonodos da cabeça. Fonte: Too e Seneque, 2010

Figura 12. Hemorragia na parede do cólon. Fonte: Nietfeld, j

Figura 13: linfonodo hemorrágico. Fonte: info@cld.org

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Figuras 14 e 15. Petéquias nas bordas do baço. Fonte: Barcellos e Sobestiansky, 2003 e Nietfeld, j (Univ. Kansas)

Figuras 16 e 17. Hemorragia cerebral. Fonte: Too e Seneque, 2010 Suínos&Cia | nº 62/2020


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Figuras 18, 19 e 20. Hemorragia nos pulmões. Fonte: Barcellos e Sobestiansky, 2003

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Figuras 21, 22 e 23. Hemorragia nas tonsilas. Fonte: Barcellos e Sobestiansky, 2003 e info@cld.org

Figuras 24 e 25. Amígdala hemorrágica (esquerda) e necrótica (direita) Fonte: Too e Seneque, 2010

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Figuras 26 e 27. Hemorragia difusa e petequial na bexiga. Fonte: Barcellos e Sobestianky, 2003

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Figuras 28 e 29. Petéquias de diferentes intensidades na cápsula, córtex e medula. Fonte: Barcellos e Sobestiansky, 2003 e Nietfeld, j. (Univ. Kansas)

Figura 30. Hemorragia difusa da mucosa da bexiga. Fonte: info@cld.org

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Figura 31. Úlceras em forma de botão na mucosa do cólon. Fonte: Nietfeld, j.


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Lesões histopatológicas: não são patognomônicas, sendo observada degeneração do parênquima do tecido linfoide, proliferação celular do tecido intersticial vascular e meningoencefalomielite não supurativa. 4. Diagnóstico diferencial Peste suína africana: indistinguível clínica e patologicamente requerendo distinção por procedimentos laboratoriais. Septicemias: erisipelose, eperitrozoonose, salmonelose, estreptococose, pasteurelose, actinibacilose e doença pelo Haemophilus parasuis. Doenças hemorrágicas: síndrome de dermatite e nefropatia, doença hemolítica do recémnascido, intoxicação por cumarina e púrpura trombocitopênica. Doenças debilitantes: síndrome da refugagem multisistêmica de pós-desmame, enterotoxicose, disenteria suína e campilobacteriose. Abortamentos: doença de Aujezsky (pseudoraiva), encefalomiocardite viral, PRRS (síndrome respiratória reprodutiva suína) e parvovirose. Infecções congênitas por pestivírus de ruminantes: diarreia viral bovina e doença de Border. 5. Diagnóstico laboratorial A grande diversidade dos sinais clínicos e das lesões pós-morten não permite realizar diagnóstico inequívoco da PSC. Muitas outras doenças (mencionadas no item diagnóstico diferencial) podem confundir o diagnóstico ou subestimar a suspeita, principalmente em casos de infecção intercorrente bacteriana, síndrome de dermatite e nefropatia. Toda suspeita baseada em sinais clínicos e observações de lesões macroscópicas devem ser confirmadas laboratorialmente. Sendo a febre um dos primeiros sinais a ser observado, e acompanhada de viremia, a detecção do vírus ou de ácidos nucléicos pode ser realizada a partir de amostras de sangue total colhido com heparina ou EDTA, ou em tecidos ou pela detecção de antígeno viral ou de anticorpos. Para uma correta interpretação dos resultados, o veterinário oficial deve prestar atenção na ocorrência simultânea de dois ou mais sinais clínicos em animais do rebanho. Para a amostragem, não se recomenda o método casual (random), e em face da facilidade de se realizar a reação de transcriptase reversa em cadeia de polimerase (RT-PCR), é recomendável a colheita de amostras de grande número de suínos com sinais clínicos. Anticorpos são detectáveis a partir da 3ª semana da infecção e persistem, nos sobreviventes, por toda a vida. Amostras devem ser colhidas sem anticoagulantes de animais convalescentes e comunicantes (contatos).

a. Direto: isolamento viral em cultivo celular e observação viral pela prova de imunofluorescência direta (IFD) ou imunoperoxidase inoculação em suíno suscetível. Avaliação de presença de ácidos nucleicos pela prova de RT-PCR ou detecção de antígeno viral por histopatologia ou imunofluorescência direta em cortes congelados (criostato). Para detecção de genoma viral utiliza-se a prova de PCR. Isolamento é conduzido por inoculação em células da linhagem PK15 originário de rim de suíno, embora existam outras linhagens celulares. O crescimento viral nessas células é acompanhado por prova de coloração pela IFD ou imunoperoxidase; isolados positivos são posteriormente caracterizados pelo emprego de AcMo ou por sequenciamento genético parcial. A prova de PCR (Polymerase Chain Reaction) para fins de identificação do ácido nucleico do vPSC está sendo utilizada em muitos laboratórios tanto para a detecção do agente como para diferenciar de outros pestivírus de ruminantes ou RT-PCR. Prova de ELISA para captura de antígeno (ELISAs) tem se revelado útil para triagem de rebanhos, mas é de interpretação individual. Materiais a serem enviados para laboratório: de animais na fase aguda da doença enviar amostras de sangue (animais vivos) com anticoagulante (heparina ou EDTA) e fragmentos de órgãos e tecidos de vários animais na fase febril; de recém-mortos enviar fragmentos de tonsilas, linfonodos (faringeanos e mesentéricos), baço, rins e porção distal do íleo. Envio das amostras para laboratório: todas as amostras devem ser refrigeradas e enviadas ao laboratório o mais rapidamente possível. b. Indireto: as mais utilizadas são a imunofluorescência indireta (IFI), vírus neutralização (VN) e ELISA de bloqueio. As provas indiretas devem apresentar especificidade que permitam distinguir anticorpos específicos contra o vírus da PSC e contra outros pestivírus (BVD e DB). Os reagentes preparados a partir de anticorpos monoclonais apresentam maiores sensibilidade e especificidade. Os resultados positivos obtidos pela prova de ELISA, mesmo preparada com AcMo, devem ser confirmados por provas como vírus neutralização e soroneutralização em placa (NPLA). Detecção de anticorpos é particularmente útil para aplicação em rebanhos suspeitos desde que tenham sido infectados pelo menos há 21 dias. Provas sorológicas são também úteis para monitoramento e estudos de estimativa de incidência, que são informações essenciais quando um país deseja ser internacionalmente reconhecido como livre de PSC sem vacinação. Reações cruzadas com outros pestivírus são ocasionalmente observadas em suínos reprodutores, e as provas de triagem devem ser sucedidas

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por provas confirmatórias de maior especificidade. Determinadas provas de ELISAs são relativamente específicas para o VPSC, mas a prova padrão para diferenciação é a prova comparativa de neutralização, que compara os níveis de anticorpos contra diferentes pestivírus. Material a ser enviado ao laboratório: amostras de soro sanguíneo. c. Escolha do teste laboratorial: depende de vários fatores, como objetivo do teste, características do teste de importância epidemiológica, disponibilidade e custo. Objetivo do teste: os objetivos mais frequentes são diagnóstico da doença, vigilância ativa de um programa de erradicação para identificação de rebanhos infectados, monitoramento da resposta sorológica de rebanhos vacinados, correlação entre os níveis de anticorpos e proteção, auxílio na definição do momento estratégico para se introduzir a vacinação e pesquisa, principalmente. Características do teste de importância epidemiológica: a validação do método de diagnóstico deve ser conhecida a priori, pois a interpretação dos resultados obtidos baseia- se no conhecimento de sua sensibilidade, especificidade, concordância, praticidade, reprodutibilidade, valor preditivo de um resultado positivo e valor preditivo de um resultado negativo. Usualmente, procedimentos de maior sensibilidade detectam maior número de resultados falso positivos, mas em face de sua facilidade, praticidade e baixo custo, podem ser utilizados como provas de triagem, e os positivos serem enviados para provas mais específicas que usualmente são mais demoradas e mais dispendiosas, lembrando que dentre os falsos positivos podem estar incluídos animais infectados com vírus da diarreia viral bovina (VBVD) ou vírus da doença de Border (VDB), que apresentam reações cruzadas em provas que utilizam anticorpos policlonais. São úteis para estudos de prevalência, permitindo examinar maior número de amostras no mesmo espaço de tempo e, consequentemente, aumentando a precisão da estimativa por intervalo. Vantagens de certa prova podem ser compensadas pelas desvantagens de outra. Por exemplo, a prova de imunofluorescência direta (IFD) em cortes congelados para visualização do agente etiológico é menos específica que o isolamento do vírus. Pode-se valer da vantagem como a praticidade e a facilidade de execução associando aos cuidados na amostragem, isto é, obtendo amostras de vários animais em diferentes estágios de evolução da doença, incluindo amostras de animais aparentemente sadios e lembrando sempre que o diagnóstico não é individual, mas com finalidade epidemiológica (rebanho). É preciso ter em mente que, em caso de suspeita em zonas ou regiões livres de PSC, o rápido diagnóstico e pronto atendimento profilático são procedimentos que conferem credibilidade ao país no cenário do comércio internacional.

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Praticidade e reprodutibilidade: refere-se à facilidade de desempenho e rapidez com que os resultados podem ser obtidos. Podem ser fatores importantes que influenciam a seleção do teste. Um teste que não pode ser facilmente realizado possui utilidade limitada. O isolamento do vírus, por exemplo, é um teste mais sensível do que a IFD em cortes congelados. Porém, é mais difícil de realizar, e alguns laboratórios têm dificuldade em isolar o vírus. A confiabilidade refere-se à consistência com a qual os resultados obtidos são os mesmos (ou quase os mesmos) do valor real da variável que está sendo medida. A rapidez com que os resultados podem ser obtidos é evidentemente útil. Entretanto, a necessidade de um diagnóstico precoce é muito mais urgente em países livres de CFS do que em países que são endêmicos para CFS. Disponibilidade: pode ser uma limitação, principalmente em se tratando de testes que dependem de laboratórios capacitados e acessíveis, pois há a necessidade de equipamentos apropriados e pessoal devidamente treinado e habilitado. Custo: O custo de um teste pode ser uma limitação importante, principalmente quando se processa elevado número de amostras. 6. Epidemiologia a. Diagnóstico epidemiológico em caso de suspeita: importante para a fundamentação de suspeita que avalia as circunstâncias que envolvem o problema, os fatores causais que favorecem a disseminação da doença (investigação epidemiológica) e para investigação da origem do foco; em se tratando de cepas de moderadas e baixas patogenicidade e virulência, há os indicadores de saúde (coeficientes ou taxas de natalidade, abortamento, morbidade, ataque primário e secundário, mortalidade, letalidade); informações pregressas do rebanho (incorporação de animais, região ou país de origem, trânsito, quarentena, etc.); informações da região (existência de criações de fundo de quintal, suídeos silvestres, comercialização); natureza da exploração de suínos (granjas comerciais, informal, fundo de quintal) e tipo de alimentação (ração, restos de alimentos de restaurantes, hotéis etc.). b. Transmissão da PSC: a doença é facilmente transmitida por contato com água, alimentos e objetos contaminados com corrimento nasal, saliva, urina e fezes em elevada quantidade, mesmo antes do aparecimento de sinais clínicos (portadores). Os suínos doentes podem liberar vírus até o momento da morte, e os convalescentes permanecem eliminando vírus por longo tempo, quiçá por toda vida. Em rebanhos endêmicos, alguns suínos podem tornar-se portadores e liberar vírus intermitentemente,


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favorecendo a persistência da doença na granja. Suínos infectados com estirpes de vírus de baixa patogenicidade e virulência eliminam o vírus continuamente durante meses na ausência de sinais clínicos. Resumidamente (OIE, 2019), a transmissão da PSC é a seguinte: yy A transmissão é, principalmente, por vias oral e oronasal e contágio próximo, indireto e transplacentário; yy Contato com secreções, excreções, sêmen e sangue; yy Disseminação por meio de visitantes, médicos-veterinários e comerciantes; yy Contágio indireto com instalações, implementos, veículos, roupas e instrumentos como agulhas; yy Restos de alimentos de cozinha e aeronaves e navios insuficientemente submetidos ao calor destinado a suínos; yy Transmissão transplacentária; yy Suídeos selvagens. c. Situações epidemiológicas da PSC no Brasil: o sistema de defesa sanitária animal baseia sua atuação de acordo com o nível de risco sanitário existente, caracterizando as suas ações em cada situação existindo. Atualmente, há três situações de risco: Risco I: ausência de focos de PSC nos últimos 12 meses; atendimento a todas as condições mínimas; situação em que se encontram os estados que formam a zona livre de PSC. Risco II: ausência de focos de PSC nos últimos 12 meses; atendimento a todas as condições mínimas; caracterizado pela identificação de riscos sanitários internos e/ou externos que podem levar ao ressurgimento da PSC. Nessa situação, dependendo de análise de risco, o serviço veterinário oficial poderá declarar “estado de emergência sanitária animal” e deverão ser mantidas todas as ações quando da situação de risco mínimo, devendo-se intensificar aquelas relacionadas com vigilância epidemiológica, investigação sorológica, controle e fiscalização de locais de aglomeração de animais, controle e fiscalização do trânsito intraestadual por meio das equipes volantes, controle e fiscalização do ingresso de animais, materiais de multiplicação animal, produtos, subprodutos de origem suídea, pessoas e equipamentos nos portos, aeroportos e postos de fronteira, controle e fiscalização da entrada de aeronaves, barcos e veículos terrestres originários do exterior e intercâmbio de informações sanitárias entre países. Risco III: caracterizado pelo aparecimento de focos de PSC e declaração de situação de emergência sanitária.

d. Cadeia epidemiológica: i. Fontes de infecção: são animais vertebrados que albergam o vírus em seu organismo e que eliminam para o meio exterior. Podem ser de três modalidades: yy Portadores são/sadios, em incubação e convalescentes que não manifestam sinais porque já se recuperam ou estão incubando e representados pela porca com síndrome da porca portadora; leitões nascidos de porcas portadoras (imunotolerantes) e leitões infectados após o nascimento pelas estirpes de baixa patogenicidade e virulência; yy Doentes típicos, atípicos e em fase prodrômica: os doentes típicos são aqueles infectados pela estirpe de altas patogenicidade, e os atípicos são os infectados por estirpes de moderadas e baixas patogenicidade e virulência a manifestam as formas subclínica e crônica; yy Reservatórios: são animais de outra espécie que não os suínos. No Brasil, são os suídeos silvestres, como o javali, e na Europa, são os suínos selvagens. ii. Vias de eliminação: são os meios ou veículos que o vírus utiliza para ter acesso ao meio exterior. São representados pelas secreções oronasais, sangue, urina, fezes, secreções nasal e lacrimal e sêmen. iii. Vias de transmissão: são os meios ou veículos que o vírus utiliza para acessar um novo hospedeiro. São representados pelo contágio direto (transmissão transplacentária e coito); contágio indireto (objetos, equipamentos, vestimenta, calçados e veículos contaminados); água e alimentos contaminados na origem ou pelas secreções e excreções (vias de eliminação) e resíduos de alimentos (lavagem). iv. Portas de entrada: é o acesso do vírus ao organismo de um novo hospedeiro. são representadas pela mucosa oronasal, cordão umbilical e mucosa do útero v. Suscetíveis e suscetibilidade: novo hospedeiro passível de ser infectado. A suscetibilidade independe de idade quando de cepas de altas patogenicidade e virulência e é maior entre jovens em se tratando de cepas de moderadas e baixas patogenicidade e virulência. Comunicantes: é o animal que esteve exposto ao risco de infecção e, portanto, desconhece- se se foi ou não infectado. Superado o período de incubação previsto e não adoecendo, retorna à condição de susceptível, e se adoecer, passa a ser fonte de infecção. Portanto, não pertence à cadeia epidemiológica. e. Medidas de profilaxia (controle e prevenção): i. Medidas de profilaxia aplicadas às fontes de infecção: identificação de rebanhos infectados para, em seguida, adotar sacrifício, vacinação de

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emergência na dependência da condição epidemiológica; evitar proximidade de suídeos silvestres. ii. Medidas de profilaxia aplicadas às vias de transmissão: cuidados com alimentação dos suínos, proibindo utilização de restos de cozinha; limpeza e desinfecção de objetos inanimados, incluindo veículos; disposição adequada de excretas, resíduos, cadáveres e lixo. iii. Medidas de profilaxia aplicadas aos suscetíveis: yy Inespecíficas: cercas ao redor das propriedades para prevenir entrada de suídeos estranhos ou outros animais; criação de animais separados por grupo etário; seleção cuidadosa da origem dos animais a serem adquiridos; alimentação adequada; instalações de fácil limpeza e à prova de roedores, insetos e animais estranhos; sistema de registro de produtividade e de saúde. yy Específicas: imunização ativa (vacinação). Tipos de vacinas contra PSC Uso de vírus de campo: As primeiras tentativas de proteção específica da PSC foram realizadas com a utilização de vírus virulento pela aplicação de sangue de animais doentes com ou sem aplicação simultânea de soro hiperimune. Os resultados eram totalmente irregulares e foram responsáveis pela disseminação do vírus, causando grandes epidemias de PSC. Atualmente é um método proibido.

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Vacinas inativadas: a esse método inadequado segue-se o desenvolvimento dentre as quais a vacina de cristal violeta (CVV) foi provavelmente a mais comumente usada. Eram vacinas preparadas de forma bastante rudimentar, inativando com cristal violeta misturas de sangue, baço e outros tecidos reticuloendoteliais de suínos infectados. As variações de potência entre lotes e teste de inocuidade eram muito variadas e também foram responsáveis pela disseminação do vPSC. Vacinas vivas atenuadas: podem geralmente ser lapinisadas e de cultura tecidual. Vacinas lapinisadas: estirpes vacinais são atenuadas em coelho para obtenção de sangue, baço e outros tecidos reticuloendoteliais. Vacinas de cultura tecidual: produzidas in vitro pelo cultivo de estirpes vacinais em cultivo de células de diferentes linhagens, podendo ser utilizadas células primárias ou linhagens celulares contínuas. As primeiras vacinas vivas atenuadas depararam-se com problemas de inocuidade por não terem sido suficientemente atenuadas. Em outras circunstâncias foram utilizadas estirpes geneticamente instáveis que reverteram a patogenicidade Suínos&Cia | nº 62/2020

e que tendem a provocar reações anafiláticas em leitões oriundos de mães vacinadas com a mesma vacina. Vacinas atenuadas modernas não têm apresentado problemas, pois existem padrões de qualidade atualmente estabelecidos para vacinas atenuadas de CSF que devem ser obedecidos para receber registro no país de destino. Vacinas de subunidades projetadas geneticamente com “marcador”: produzidas a partir da glicoproteína estrutural E2 do genoma do vírus de CSF, são geneticamente projetadas para que a proteína E2 seja cultivada em culturas celulares de insetos depois de inseridas em um vetor (baculovírus de asa inseto). Como a vacina contém somente a proteína E2, os suínos vacinados não produziriam anticorpos para outras proteínas, como a E1 do genoma do vírus. Anticorpos elicitados por esta vacina são diferentes dos anticorpos produzidos em uma infecção natural, valendo-se de teste de ELISA apropriado. Vacinação contra PSC no Brasil: somente em situação excepcional, configurado o risco de disseminação da doença, após estudo da situação epidemiológica e a critério do serviço veterinário oficial, poderá ser autorizado o uso emergencial da vacina mediante um plano específico aprovado pelo DDA/MAPA, que inclui a extensão e a delimitação da área geográfica em que será efetuada a vacinação; as categorias e a quantidade estimada de suínos a vacinar; a duração da vacinação; as medidas aplicáveis ao transporte dos suínos e respectivos produtos; identificação dos suínos vacinados, no caso de vacinação em estabelecimentos de criação localizados em zona livre, para posterior sacrifício sanitário; e supervisão e acompanhamento da vacinação pelo serviço veterinário oficial. No caso do uso emergencial de vacina contra PSC em zona livre ou em parte do território de uma zona livre, esta perderá a condição de livre, que só poderá ser alcançada novamente quando forem atendidas às condições definidas no Código Zoossanitário Internacional da OIE. Somente poderão ser utilizadas vacinas contra a PSC registradas no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), produzidas sob o controle do serviço veterinário oficial. iv. Medidas de profilaxia aplicadas aos comunicantes: quarentena, vacinação em situação de emergência ou revacinação, de acordo com a situação de cada caso e orientação do serviço oficial, controle de trânsito de animais suscetíveis, controle de aglomeração de animais e diagnóstico sorológico pareado, se necessário. 7. Medidas básicas recomendadas pela OIE a) Eficaz comunicação entre as autoridades veterinárias, médicos-veterinários e produtores de suínos;


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b) Sistema eficaz de comunicação; c) Severos cuidados na importação de suínos vivos, sêmen de suínos e produtos cárneos de suínos frescos ou curados; d) Quarentena prévia à incorporação de suínos ao rebanho nacional; e) Proibição na utilização de resíduos de alimentos antes de destinar aos animais; f) Controle rigoroso das plantas de graxaria; g) Vigilância ativa (sorologia) estruturada direcionada a reprodutores; h) Sistema eficaz de identificação e de registro; i) Medidas eficazes de biosseguridade para proteção dos suínos domésticos do contato com suídeos silvestres. 8. As atividades de combate à peste suína clássica no Brasil Foram iniciadas em zonas selecionadas prioritariamente segundo a importância econômica da região produtora de suídeos e a existência de condições epidemiológicas favoráveis para a obtenção de zonas livres, com o propósito final de erradicação da doença no território nacional. O Programa Nacional de Controle e Erradicação da Peste Suína Clássica foi implantado em 1992, inicialmente em municípios contíguos pertencentes aos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. De forma progressiva, o Programa foi estendido aos outros municípios desses três estados e, posteriormente, aos demais estados brasileiros. Em 4 de janeiro de 2001, por meio da Instrução Normativa nº 1, o Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) declarou a região formada pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe e Distrito Federal como Zona Livre de Peste Suína Clássica. Por mais rigorosas que sejam as medidas sanitárias de proteção adotadas por um país, região ou zona livre de uma doença, não se tem a garantia absoluta da não introdução ou reintrodução do agente infeccioso. Na atualidade, em decorrência dos avanços tecnológicos, intensificou-se o trânsito internacional de pessoas, animais, materiais de multiplicação animal, produtos e subprodutos de origem animal, aumentando o risco da disseminação de doenças entre os países (medidas de vigilância epidemiológica, que incluem as atividades do VIGIAGRO). Quando uma doença é introduzida em um país ou zona até então livres, as ações a serem adotadas objetivando a sua erradicação deverão ocorrer de forma enérgica, rápida e eficaz. Para isto, torna-se necessário manter uma organização adequada, pessoal treinado, respaldo legal, equipamentos e materiais adequados e fundos financeiros suficientes.

O Brasil, por meio do MAPA, orienta as ações e procedimentos para a precoce e imediata notificação e confirmação de suspeitas de Peste Suína Clássica no território nacional, adotando as medidas de defesa sanitária para visar à sua erradicação no menor espaço de tempo e à retomada da condição sanitária livre da PSC. Para se alcançar este objetivo, já se dispõe de um plano de contingência, que estabelece, passo a passo, todas as medidas sanitárias necessárias em caso de emergência sanitária. Referências bibliográficas 1. BASS, E.P.; RAY, J.D. Evaluation of a tissue culture hog cholera vaccine. J Am Vet Med Assc, v.142, p. 112-117, 1963. 2. BIRONT, P., DE ROOSE, P.J.; LEUNEN, J. Anaphylaxis of piglets after hog cholera vaccination. Vlaams Diergeneeskundig Tijdschrift, v. 48, p, 484-497, 1979. 3. BIRONT, P.; VANDEPUTTE J.; LEUNEN, J. Inhibiton of virus replication in the tonsils of pigs previously vaccinated with a chinese strain vaccine and challenged oronasally with a virulent strain of classical swine fever virus. Vet Microbiol, v.14, p. 105-113, 1987.

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Sanidade

9. KAMOLSIRIPRICHAIPORN, S.; HOOPER, P.T.; MORISSY, C.J.; WESTBURY H.A. A comparison of the pathogenicity of two strains of hog cholera virus 1. Clinical and pathological studies. Aust Vest J, v.69, p. 240-244, 1992 10. KIRKLAND, O.D. ; LE POTIER, M.F. ; VANNIER, F. ; FINLAISON, D. Pestivirus. In Diseases of Swinw. Zimmerman et al ed. 10th ed, 2012 11. Le PORTER, M.; MESPIÈDE, A.; VANNIER, P. Classical Swine Fever and other Pestivirus. In: Diseases of Swine. Ed. Straw et al. Ed Blackwell Pub. 1153p, 2006. 12. NG, F.K.; KOH, J.G.W. Evaluation and field trials on a strain of swine fever vaccine produced in Singapore. Sing Vet J, v.2, p.1-6, 1978. 13. NIETFELD, J.C. Viral diseases (nonenteric) of swine. Kansas Univ. 14. OIE. Animal Disease Card. Classical Swine Fever (hog cholera). Disponível em: <http:// www.oie.int/eng/maladies/en_ technical_diseasecards.htm>. Acesso em: Acesso em: 12 maio 2019. 15. PANINA G.F.; CIVARDI, A.; CORDIOLI, P.; MASSIRIO, I.; SCATOZZA, F.; BALDINI, P.; PALMIA, F. Survival of hog cholera virus (HCV) in sausage meat products (Italian salami). Int J Food Microbiol, v.17, n. 1, p.19-25, 1962

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16. PARCHARIYONON, S., DAMRONGWATANAPOKIN, S., INUI, K., LOWINGS P., PATON, D.; PINYOCHON, W. Proc 15th IPVS Congress, v. 3, p. 359, 1998. 17. RADOSTITS, O M., GAY, C.C., BLOOD, D.C. AND HINCHCLIFF, K.W. Veterinary Medicine. 9TH Edition. W.B. Saunders Company Ltd., London. New York, Philadelphia, San Franciso, St. Louis, Sydney 2000, p.1019-1027, 2000. 18. RADOSTITS, O.M.; GAY, C.C.; BLOOD, D.C.; HINCHCLIFF, K.W. Diseases caused by Viruses and Chlamydia – 1. In: Veterinary Medicine. 9th edition. W.B. Saunders Company Ltd., London. New York, Philadelphia, San Francisco, St. Louis, Sydney 2000, p.1019-1027, 2000. 19. SURADHAT, S.; INTRAKAMBAENG, M.; DAMRONGWATANAPOKIN, S. The correlation of virus- specific interferongamma production and protection against classical swine fever virus infection. Vet Immunol Immunopathol, Suínos&Cia | nº 62/2020

v. 83, n.3-4, p. 177-89, 2001 20. TAKIKAWA, N., IDE, S., SAIJO, K. AND KLUME, K. Immunogenicity of live hog cholera vaccine produced by GPEstrain of hog cholera virus. Proceedings of the 15th IPVS Congress, Vol. 3. 359. 21. TERPSTRA, C. AND WENSVOORT, G. (1987). Influence of the vaccination regime on the herd immune response for swine fever. Vet. Microbiol, v.13, p, 143-151, 1998. 22. TERZIC, S.; BALLRIN-PERHARIC, A.; JEMERSIC, L.; CIZELJ, A.; JANIC, D.; LOJKIC, M.; CAJAVEC, S. Evaluation of the protection of piglets originating from vaccinated sows after vaccination with classical swine fever virus strain China. Proceedings of the 15th IPVS Congress, v. 3, p. 35, 19987. 23. TIZARD, I. In Veterinary Immunology, An Introduction, Fourth edition, W B Saunders, Harcourth Brace Jovanovich, Inc, 1993. 24. TOO, H.; SENEQUE, S. Peste Suína Clássica. Um Manual para Especialista em Suínos. Merial, 2000 25. TORREY, J.P.; ZINOBAR, M.R.; AMTOWER, W.C. Studies on modified virus vaccines for hog cholera II. Reactivation by serial passage. Proc 64th Ann Meet US Livest Sanit Assn, p. 298-308, 1960. 26. VAN OIRSCHOT, J.T.; TERPSTRA, C. A congenital persistent swine fever infection. I. Clinical and Virological observations. Vet. Microbiol, v. 2, p.121-132, 1977. 27. VAN OIRSCHOT, J.T.; TERPSTRA, C. Hog Cholera Virus. Virus Infections of Porcines. Editor: Pensaert, M.B. Elsevier Science Publishers, B.V. p.113130, 1969. 28. VAN OIRSHOT, J.T.; TERPSTRA, C. A congenital persistent swine fever infection I. Clinical and virological observations. Vet Microbiol, v.2, p.121132, 1977. 29. WENSVOORT, G.; TERPSTRA, C.; DE KLUIJVER, E.P.; KRAGTEN, C.; WARNAAR, J.C. Antigenic differentiation of pestivirus strain with monoclonal antibodies against hog cholera virus. Vet. Microbiol, v. 21, p.:9-20, 1989. 30. WILLIAMS, D.R. AND MATTHEWS, D. (1988). Outbreaks of classical swine fever in Great Britain In: Vet Rec, v. 122, n. 20, p. 479-483, 1986


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Vantagens do uso de ecografia em suinocultura MV Dr. Rafael Tomás Pallás Alonso Diretor Técnico para Serviços Veterinários da KUBUS - Madri/Espanha rtpallas@gmail.com

H

á 30 anos, por meio do desenvolvimento da tecnologia e da portabilidade, as técnicas de ultrassom em tempo real (Modo B) tornaram-se uma valiosa ferramenta de diagnóstico reprodutivo, sendo rapidamente introduzidas na suinocultura como um complemento para determinar a confirmação da prenhez (Kauffold et al, 2019). A introdução dos equipamentos de ultrassom permitiu ao veterinário ir além do diagnóstico precoce da gestação, possibilitando uma série de aplicações de grande impacto econômico para a granja (Inaba et al, 1983). Essas aplicações incluem o monitoramento da atividade ovariana, a estimativa do momento da ovulação, o estado de maturação do sistema reprodutor das futuras reprodutoras – a fim de determinar o início da puberdade – bem como a determinação de patologias, tanto as individuais como as relativas ao grupo e as relacionadas à piora dos índices técnico-econômicos (MartinatBotté et al, 2002).

MVZ Marina López Departamento Técnico da KUBUS Madri/Espanha marina@kubus.es

Em primeiro lugar, devemos saber identificar as estruturas anatômicas para realizar um exame transabdominal correto. O transdutor, também chamado de sonda, deve ser colocado no flanco inferior da região inguinal, acima das glândulas mamárias, conforme mostrado na Imagem 1. O diagnóstico de prenhez é feito com base nos registros de inseminação e na observação das vesículas embrionárias. Dentro do útero vamos encontrar as vesículas embrionárias e, na medida em que a gestação avança, dentro delas podemos ver os embriões. Os tecidos são delineados e avaliados com base em sua ecogenicidade, ecotextura e tamanho. Ao posicionarmos a sonda em uma porca púbere não prenhe, as estruturas que encontraremos (ver Imagem 2) são as seguintes: a bexiga urinária identificada por seu conteúdo líquido, que aparece preta (anecoica) na imagem de ultrassom; o gás contido no intestino, que é visualizado como branco (hiperecoico); e entre essas duas estruturas veremos o útero (ecotextura hipoecoica). O diagnóstico correto no início da gestação depende da qualidade do equipamento utilizado, além da habilidade e da experiência de quem realiza o exame.

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Quando se tem um ecógrafo na granja é possível detectar em tempo hábil as porcas não prenhas – também chamadas de porcas vazias – evitando-se, assim, os dias não produtivos (DNP). Durante o período correspondente aos DNP, as porcas apenas incorrem em despesas e não geram receitas. Os DNP são todos aqueles dias em que a porca, desde a sua entrada na fase reprodutiva até o descarte, não está prenhe e nem amamentando. Cada DNP por porca é calculado, na Europa, variando entre € 2,50 e € 3,50 (Cubillos, 2016). Esse montante inclui o custo de instalações, ração, mão de obra, pessoal, etc. Mas um DNP pode custar mais se o considerarmos como um custo de oportunidade, por exemplo, quantos quilos de carne deixamos de faturar, conforme detalhado na Tabela 1 abaixo. Temos, ainda, as fêmeas primíparas, grupo de porcas de grande importância técnica e econômica nas granjas, e devemos considerar que a taxa de renovação anual nas granjas comerciais oscila entre 40% e 45%.

Antes de sua incorporação ao grupo de reprodução, essas fêmeas – ainda nulíparas – já devem ter atingido a puberdade. No entanto, muitas vezes ocorre atraso nessa transição devido a diferentes razões (Kauffold, 2003). Por isso, muitas vezes os criadores têm dúvidas sobre se as marrãs estão sexualmente maduras ou não, o que leva ao sacrifício de algumas delas – apesar da puberdade – ou à inseminação no primeiro cio, o que provoca um efeito adverso na vida reprodutiva delas. Em geral, o número de marrãs descartadas não deve exceder os 5% em uma granja comercial (Althouse, 2019). Essa má gestão reduz os ganhos financeiros, sendo necessário, e desejável, monitorar corretamente essas fêmeas por meio de um método confiável de detecção da maturidade sexual. Assim, uma outra utilização possível atribuída ao scanner de ultrassom (US) é a capacidade de detectar quais porcas são púberes e quais permanecem impúberes, para que se possa iniciar um tratamento hormonal naquelas que não desenvolveram adequadamente o seu sistema reprodutivo. E se não responderem ao tratamento é conveniente que se faça o descarte delas, pois o útero dificilmente se desenvolverá. As imagens obtidas pelo ultrassom permitem detectar o tamanho do útero e de seus cornos. As porcas cujo diâmetro da secção do corno uterino for menor do que 1 cm, são consideradas pré-púberes. Em contrapartida, úteros grandes com cornos uterinos identificáveis e ocupando uma grande área da tela do aparelho de US são considerados púberes, conforme mostra a Imagem 3.

Imagem 1: Posição do transdutor (sonda) para avaliação do aparelho reprodutor da fêmea (imagem de porca gestante)

Imagem 2: Ecografia reprodutiva de uma porca púbere não prenhe

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Tabela 1: Cálculo de dias não produtivos e custo de oportunidade (Zenatti, 2020) QUANTO DEIXAMOS DE FATURAR COM 1 DNP? LEITÕES POR FÊMEA POR ANO LEITÕES/FÊMEA/DIA PREÇO DE VENDA SUÍNO 110 KG

LFA

29 LFA/365 DIAS €

€ 0,079 1,29

1 DIA NÃO PRODUTIVO

€ 141,90 € 11,30

QUANTO SE DEIXA DE GANHAR C/ UMA REPETIÇÃO DE CIO/PORCA? 21 DIAS Suínos&Cia | nº 62/2020

€ 237,31


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Tabela 2: Comprimento uterino, peso de ovários e corpos lúteos em porcas impúberes e púberes (Goudetet al; 2018) Análise do trato genital de porcas após o abate Estado fisiológico no momento do abate

Puberdade verificada

Imatura

No 2º ciclo estral

171,8 ± 7,8

73,3 ± 2,4

199,5 ± 7,5

Comprimento dos ovários (média ± SEM*)

8,8 ± 0,4

6,1 ± 0,4

10,2 ± 2,8

Número de corpos lúteos/ovário (média ± SEM*)

8,9 ± 0,6

0,0

10,0 ± 4,0

Comprimento dos cornos uterinos (média ± SEM*)

* Erro padrão da média

Imagem 3: Lado esquerdo, fêmea impúbere (útero pequeno), vs lado direito, fêmea púbere (útero grande) Referências bibliográficas 1. Kauffold, J.: Peltoniemi, O.; Wehrend, A.; Althouse, G.; Principles and clinical uses of real-time ultrasonography in female swine reproduction. Animals. 9 (2019), doi:10.3390/ani9110950.

Imagem 4: Comparativo do aparelho genital de porcas púberes (direita e esquerda) e de uma porca impúbere (no centro). As três fêmeas pertenciam a um grupo com a mesma idade e a mesma genética Um estudo realizado por Goudet et al, em 2018, demonstra como o comprimento dos cornos uterinos, o peso dos ovários e o número de corpos lúteos variam, comparando uma fêmea púbere com uma fêmea imatura e com uma fêmea de segundo cio, conforme mostra a Tabela 2. Corroboramos esses dados ao realizar uma análise na Escola de Veterinária de Zaragoza, Espanha, na qual pudemos identificar claramente diferenças no comprimento, diâmetro e peso entre os cornos uterinos de fêmeas púberes e impúberes, bem como no tamanho e na atividade ovariana, como mostra a Imagem 4. Desde a década de 1980 contamos com uma ferramenta valiosa, que se tornou um elemento essencial para o desempenho reprodutivo e para a realização de diagnósticos na granja. A combinação de treinamento adequado com uma equipe de qualidade proporciona valor agregado para a obtenção dos melhores índices de produção na granja.

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2. Inaba, T.; Nakazima, Y.; Matsui, N.; Imori, T.; 1983. Early pregnancy diagnosis in sow by ultrasonic linear electronic scanning. Theriogenology 20:97-101. 3. Martinat-Botté, F., Royer, E., Venturi, E., Boisseau, C., Guillouet, P., Furstoss, V., &Terqui, M. (2003). Determination by echography of uterine changes around puberty in gilts and evaluation of a diagnosis of puberty. Reproduction, nutrition, development, 43 3, 225-36. 4. Kauffold, J.; Rautenberg, T.; Richter, A.; Waehner, M.; Sobiraj, A. Ultrasonographic characterization of the ovaries and the uterus in prepubertal and pubertal gilts. Theriogenology 2004, 61, 1635–1648. 5. Goudet G.; Nadal-Desbarats L.;Douet C.; et al. Salivary and urinary metabolome analysis for pre-pubertyrelated biomarkers identification in porcine. Animal. 2019;13(4):760-770. doi:10.1017/S1751731118002161 nº 62/2020 | Suínos&Cia


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Produzindo suínos em tempos de coronavírus na Itália Telma Tucci Médica-veterinária ttucci@333corporate.com

A

pandemia de Covid-19 está transformando todo o mundo, todo tipo de produção, todas as pessoas, todas as fábricas, tudo e todos, decididamente. Infelizmente, ninguém ficou livre dessas consequências, nem mesmo o setor agroalimentar, que, por vários aspectos, pode se sentir privilegiado porque não pode deixar de cuidar dos animais e tem a obrigação de continuar a produzir alimentos. As leis de bem-estar animal também ajudam muito neste difícil momento. Vamos segmentar todos os contornos desta crise para quem produz suínos, trabalha com suínos, cuida dos suínos e fornece matérias-primas, rações e medicamentos e também como a produção está caminhando neste ano de 2020. A análise da situação da Covid-19 na Itália, em 2020, deve ser feita avaliando-se três períodos distintos: 1ª fase do lockdown (março-junho 2020), 2ª fase da liberdade gradual (julho-outubro) e a 3ª fase que se iniciou em novembro, associada ao retorno de aumento de mortalidade, aumento de positividade ao vírus e aumento da ocupação dos hospitais.

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Pessoal que trabalha com os animais A) No primeiro período, a locomoção ao local de trabalho estava garantida, mas com limitações: para chegar à granja (local de trabalho) era preciso utilizar veículos próprios, o trabalhador tinha que apresentar uma justificativa por escrito já preenchida com data, hora, destino, local de partida e motivo, que, no caso, era o trabalho de atividade essencial (o que nos distingue de outros tipos de trabalhadores). Neste controle frequente, esta justificativa era recolhida por um policial (agente de controle de trânsito e de pessoas). Sem a devida apresentação desse documento, o trabalhador poderia ser multado. Devido a essas limitações, a maioria das pessoas optava por não voltar para casa na hora do almoço (prática comum na Itália) e permanecer na granja até o final do horário de trabalho. Esta situação perdurou por cerca de dois meses, terminando em meados de junho. Mas, agora, com a entrada do inverno, é provável que se retome a limitação de movimentos que foi suspensa de junho ao final de outubro. B) Horário de entrada e saída: muitas granjas passaram a adotar horários diferenciados de entrada e saída dos funcionários para evitar aglomerações e maiores contatos entre os companheiSuínos&Cia | nº 62/2020

ros de trabalho; em algumas situações, as pessoas nem mesmo usam uniformes da granja, apenas trocam de roupas ou tomam banho apenas na própria casa. Outras granjas adotam a subdivisão dos funcionários em dois grupos: Grupo I, que trabalha pela manhã, e Grupo II, que trabalha à tarde, com “downtime” de 1 hora, sem ninguém (sem pessoas) nos vestiários ou na granja, contornando muitos problemas de gestão em atividades que requerem grupos de pessoas trabalhando juntos para determinadas tarefas. Estas foram mudanças que, em muitas realidades, tornaram-se rotina, mudando, assim, o modo temporal de trabalho em granjas na Itália, que sempre se caracterizou por dois horários separados e bem distintos, com intervalo para pausa de almoço bem longo, até mesmo de três horas no período de verão. Este aspecto cultural pode se interpretar como uma adaptação de trabalho nos horários menos quentes, mas esta mudança é uma daquelas que veio pra ficar. C) Todos os funcionários trabalham com dispositivos de segurança: máscara e luvas, com as dificuldades resultantes do mal-estar em trabalhar, suar e comunicar por meio das máscaras por horas a fio. Hoje estão disponíveis em vários pontos das granjas desinfetantes para mãos e também há constante lavagem das mãos com água e sabão. Estas medidas de higiene também vieram para ficar.

Tatuagem de leitão na maternidade Fonte: Universidade de Bologna


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D) Distância entre pessoas: o decreto ministerial obriga ou apenas permite que atividades de trabalho tenham uma distância mínima de 1 metro entre as pessoas. No entanto, existem várias atividades de manejo que requerem uma aproximação mais estreita, como, por exemplo, no caso da tatuagem dos leitões na maternidade. Assim sendo, esta exigência dificilmente poderá ser respeitada, o que levou os produtores a solicitar um pedido de exceção ao Ministério por meio da associação da UNAITALIA (União de Produtores de Alimentos de Origem Animal). E) Veterinários: na primeira fase, foram tutelados e puderam servir seus clientes, mas as visitas foram limitadas aos casos de maiores necessidades. Veterinários que antes visitavam várias granjas, como profissionais da área de nutrição, indústria farmacêuticas, etc., passaram a trabalhar em casa e não mais visitavam granjas. Nestes casos, foram as empresas que diretamente obrigavam seus profissionais a ficarem em casa. Os profissionais que têm a função de prescrição de receita médica, também não estavam visitando as granjas, e sim emitindo a prescrição por meio da receita eletrônica, em vigor na Itália desde 2019. Ainda hoje, muitas empresas, laboratórios e fábricas de ração estão com política de smartworking até o final de 2020. As atividades de campo continuam, por ora, sem restrições. Existe, ainda, uma preocupação maior, que é o “medo” de acontecer positividade de uma pessoa ou mais na granja. Neste caso, além do isolamento delas, teríamos a quarentena em casa de todas as pessoas que tiveram contato com ela. O que seria uma situação desastrosa, pois faltariam pessoas para cuidar e assistir aos animais, já que no momento contamos com a falta de mão de obra constantemente no setor. Esta preocupação voltou nesta 3ª fase a atormentar os produtores.

rias-primas. Mas, de agora até o final do ano, não sabemos o que pode ocorrer, já que vários países estão aplicando o lockdown das fronteiras. Transporte de suínos vivos A Itália é um grande importador de carne suína e de suínos vivos para abate ou engorda. Os principais fornecedores são Espanha, Holanda e Dinamarca. Outros países também são importadores de leitões, como a Polônia. A Holanda já impôs restrições aos motoristas e caminhões com destino à Itália e a outros países, obrigando, também neste caso, a quarentena de pessoas, repetindo-se o problema do aumento de entraves administrativos (justificativas, etc.), mesmo que a Comissão Europeia já tenha afirmado que o trânsito de animais é livre na UE. A Dinamarca, grande exportadora de leitões, habilitou uma página na web a serviço de produtores na qual se identificam áreas, galpões e estruturas disponíveis de aluguel para suínos que, normalmente, vão para fora do país e que, devido a esta situação, tendem a aumentar a população local, seja pela diminuição do comércio ou por motivos logísticos. Hoje os produtores de leitões para engorda (cerca de 50% dos leitões na Dinamarca são exportados para Alemanha, Itália e países do Leste Europeu) estão em sérias dificuldades, pois a presença de PSA na Alemanha limitou a entrada e até mesmo a simples passagem de leitões pelo território alemão para atingir os países do Sul ou do Leste Europeu. 31

Abate Na primeira fase, para garantir o respeito às regras, os abatedouros tiveram que limitar a velocidade de abate, que em média são de 400 a 500 suínos/hora (suínos de 180 kg de peso vivo), para

Matérias-primas Na primeira fase, mesmo com a liberdade de movimento e entrega de medicamentos, matérias-primas, rações, materiais de consumo de rotina e instrumentos necessários, existia um grande problema de fornecimento. A Itália é um grande importador de matérias-primas, como milho e soja, que provêm, principalmente, de outros países europeus. Hungria e Eslovênia fecharam temporariamente as fronteiras com a Itália, e estes países são fornecedores de matérias-primas, mas, mesmo que não fossem, fazem parte de rotas de caminhões transportadores que se viam bloqueados, não podendo atravessar as fronteiras, além da falta de motoristas por motivos óbvios de saúde. Consequentemente, vem ocorrendo aumento vertiginoso dos preços das matérias-primas e do custo de produção. Outros países impuseram quarentena aos motoristas que entregam matérias-primas na Itália na volta ao país de origem, com deserções de trajetos em direção ou que atravessam a Itália. Além disso, houve aumento de aspectos burocráticos ao passarem nas fronteiras. Desde junho, não houve mais limitações ou problemas com as maté-

Mapa dinamarquês de estruturas disponíveis para aluguel no território Fonte: SEGES nº 62/2020 | Suínos&Cia


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300 suínos/hora. Além disso, houve falta de pessoas que não se apresentavam ao trabalho, ou por medo ou porque estavam doentes. Esta situação estava pesando no preço comercial, já que os abatedouros não retiravam os suínos das granjas ou o faziam com atraso. Apesar de algumas positividades em vários abatedouros italianos, não houve repercussão importante nos abates (um percentual elevado de trabalhadores não é composto por funcionários dos abatedouros, e sim terceirizado, isso facilita o isolamento e substituição das pessoas) e, hoje, eles operam normalmente. Mercado da carne Primeira fase: a crise de consumo, mesmo com menor abastecimento devido ao menor abate, foi grave. A Itália produz suínos para produção de embutidos: presunto de Parma, presunto de San Daniele, salames, copas e outros produtos maturados. Estes produtos são, principalmente, comprados por restaurantes e pizzarias (ou seja, todo o setor HORECA: hotéis, restaurantes e catering), que estavam 100% fechados. Os únicos produtos que tinham um pouco de saída eram os presuntos já fatiados e confeccionados. A venda da carne “fresca” deveria ser mantida, pois, sem ela, não se sustenta todo o custo de abate e fabricação de embutidos. Muitas fábricas de presunto não retiravam produtos dos abatedouros. O preço de venda do presunto cru pronto para a maturação era um dos mais baixos da história. Além disso, com o confinamento em casa, as famílias estavam preparando comida, pão, macarrão (o preço do farelo de trigo já estava chegando a valores recordes) e se notava uma diminuição de consumo de carne em geral (normalmente consumimos embutidos quando há falta de comida caseira pronta), além do aumento de delivery e do e-commerce, mais voltados a produtos não frescos. Segunda fase: de junho a outubro, observou-se um retorno à normalidade, apesar de muitas atividades terem ficado fechadas (restaurantes, bares, hotéis), e uma visível retomada do setor, mas que durou muito pouco. Na terceira fase: novamente, o setor HORECA foi castigado neste mesmo momento que estamos em um lockdown restrito, com cobre-fogo depois das 23h ou das 21h (depende das regiões, menos ou mais afetadas). Então, com isso, já chegou a nova crise das carnes e, de consequência, do preço dos suínos. Temos só que esperar.

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Javalis Não menos importante é a questão da caça e contenção da população de javalis. Sabemos que estamos em um período de risco para a peste suína africana e estima-se que a população de javalis tenha chegado a dois milhões de cabeças desde o início do período do coronavírus, causando grave risco ao equilíbrio ambiental e danos à agricultura e colocando as granjas de suínos em risco sanitário. Hoje, não raramente se observam javalis passeando pelos parques de Roma e de outras cidades italianas. A chegada da peste suína africana na Suínos&Cia | nº 62/2020

Javalis em zona residencial em Genova Fonte: Corriere della Sera

Javalis revirando o lixo Fonte: Corriere della Sera

O logotipo exposto em muitas casas italianas Alemanha veio complicar ainda mais a situação de incerteza. Medidas mais rigorosas de controle dos javalis já estão sendo aplicadas com aumento da incerteza em um momento de queda de preços de suínos em toda a Europa. O logotipo exposto em muitas casas italianas na primeira fase desapareceu e, infelizmente, o que se vê hoje, com a terceira fase, é uma manifestação popular de revolta contra o fechamento em vista de mais desempregos e fechamentos de atividades comerciais, fábricas, etc. E como acontece em situações instáveis e de grande dificuldade, a política se intromete e movimentos antialguma coisa se infiltram. Vamos esperar que “fique tudo bem” de novo!


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Resumo da 51ª Reunião Anual da Associação Norte-Americana de Veterinários Especialistas em Suínos (AASV) 7 a 10 de março de 2020 – Atlanta - GA/EUA

“2020: UMA VISÃO PARA O FUTURO”

A

51ª edição do congresso anual da Associação Norte-Americana de Veterinários Especialistas em Suínos (AASV - 2020) foi realizada na cidade de Atlanta, estado da Georgia/EUA, com a participação de praticamente mil profissionais. Foram organizados 11 seminários durante o final de semana, além dos correspondentes aos estudantes e aos da indústria, seguidos da programação da segunda e da terça-feira com sessões gerais e específicas conjuntas, correspondendo a mais de 300 apresentações. O congresso enfatizou as visões da suinocultura para o futuro, centralizadas na formação-educação-investigação, nos mercados globais, na biosseguridade, no diagnóstico/prevenção/controle de doenças – tanto locais como transfronteiriças –, no uso responsável dos antibióticos para minimizar as resistências e no bem-estar dos animais. A ordem que seguirei para expor os resumos dos conteúdos expostos será a seguinte (com base nos pilares da produção de suínos), agrupada em 15 categorias: • Conhecimento global • Peste suína africana • Biosseguridade • Vírus da PRRS (Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína) • Vírus da diarreia epidêmica suína • Vírus da gripe ou FLU (Influenza) • Vírus PCV (circovírus suíno, tipos 1,2 e 3) • Mycoplasmas spp • Lawsonia intracellularis • Streptococcus suis • Antibióticos • Bem-estar e manejo • Nutrição • Reprodução • Miscelânea CONHECIMENTO GLOBAL BRET MARSH – Confiar nas pessoas (Howard Dunne Memorial Lecture- 1913/1974): sou veterinário, não sou do governo e tomo minhas decisões, confio nas pessoas. Devemos prestar – como profissionais – nosso serviço de medicina veterinária e nos esforçar coletivamente para o conhecimento das doenças e para preservar a pecuária em nosso

Antonio Palomo Yagüe Médico-veterinário PhD em Nutrição de Suínos Diretor da Divisão de Suinocultura Setna Nutricion - INZO antoniopalomo@setna.com

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país. Devemos manter uma paixão pelo que fazemos, como sendo a essência da nossa profissão. BILL HOLLIS – Escolhendo um caminho para se antecipar, na prática de campo (Alex Hogg Memorial Lecture): em nossa prática de campo, para nos aproximarmos da solução dos problemas sanitários partimos de três pontos: fazemos as coisas do jeito que as vemos; sabemos para aonde estamos indo (produção, sanidade, serviço público, produtos e educação) e aprendemos o que deve ser feito para nos ajudar a melhorar (treinamento). A distância entre os momentos de ouvir e de falar é um ponto importante a ser observado. Em nossa prática diária, as mudanças são constantes, com base em novos conhecimentos científicos, na melhoria da qualidade de nossa prática médica e nos processos que a envolvem. Fazemos as coisas como as vemos com base no treinamento educacional recebido de nossas próprias famílias e escolas. Os veterinários são afortunados – em termos de situação perante a sociedade – devido à nossa posição, ao nível de investimento em conhecimento e às possibilidades de progressão contínua por meio do treinamento (particularmente quando se nº 62/2020 | Suínos&Cia


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tem curiosidade pelos sistemas biológicos). A consolidação da suinocultura continuará no rastro da própria medicina veterinária. Em 1998, haviam 50 grandes empresas suinícolas nos EUA, das quais 15 permaneciam no mercado em 2018. A prática da medicina veterinária privada gera grandes retornos em termos de benefícios devido ao seu valor agregado, adotando ações concisas e um bom plano financeiro. Quanto à questão de para aonde estamos indo, como profissionais, devemos tomar decisões precisas relativas à melhoria da produção, da saúde, da qualidade do produto final, da nossa educação e responsabilidade pela saúde pública. Para melhorar a produtividade devemos tomar ações diretas no gerenciamento da produção, assumir a responsabilidade pelos resultados produtivos (fornecer soluções para os problemas) e colocar em prática o que aprendemos (auditorias, assuntos tributários, gerenciamento de pessoas e equipes). As operações de produção estão em mudança constante e somos obrigados a fazer o melhor para os suínos e para os nossos clientes, ajudando-os a criar os programas mais adequados para o desenvolvimento de suas equipes. O futuro da assistência veterinária é uma questão estratégica, de modo que o diagnóstico e a comunicação direta com os clientes devem ser claros e rápidos para a tomada de decisões adequada. No passado, o trabalho do veterinário era o de "apagar incêndios", mas hoje em dia passou a ser um trabalho de especialistas que entendem bem – tanto do grupo da população de patógenos como dos suínos –, englobando conhecimentos em nutrição, genética, meio ambiente, de modo a poder tomar decisões mais precisas e economicamente interessantes. "Grandes projetos demandam grandes equipes". Para atingir esses objetivos precisamos de mentores, conhecimento constante, objetivos pessoais e trabalhistas bem definidos, regras corporativas, ações conjuntas e separadas. Nosso trabalho, como prestadores de serviço, contempla como investimento futuro a melhoria dos níveis de produção – em estreita relação com as indústrias processadoras de carne e as autoridades regulatórias –, além de promover uma relação mais próxima entre a medicina veterinária, a medicina humana e as autoridades de saúde do governo. A inovação em nossas práticas profissionais nos ajuda a manter as vendas dos produtos, enquanto que a comunicação e a pesquisa impulsionam o suporte técnico. Na prática diária, existem oportunidades de treinamento com excelentes recursos em ciências animais, bem-estar, sustentabilidade, segurança alimentar, saúde pública e sanidade suína. A educação é de grande valor quando investimos em conhecimento de qualidade e o traduzimos adequadamente em um mundo global de oportunidades para os profissionais da área da saúde (Mostre – Faça – Ensine). O que pode nos ajudar a seguir o caminho futuro são as pessoas, os livros e as nossas próprias experiências.

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LOCKE KARRIKER – Visões atual e futura da educação na medicina de suínos: a carne suína é a proteína animal mais consumida no mundo, que fornece alimentos para milhões de pessoas, passa Suínos&Cia | nº 62/2020

pela questão da saúde pública, conserva recursos naturais e intervém no avanço do conhecimento médico. Os veterinários que atuam na suinocultura são reconhecidos como especialistas na aplicação de práticas médicas populacionais. Seu trabalho é complexo, necessita de um plano estratégico em nível nacional, interage com outras profissões e precisa de coordenação e de novas projeções, e os profissionais desse segmento têm, certamente, um futuro promissor. Sua primeira função é a de fornecer alimentos para as pessoas em todo o mundo, reduzindo, assim, a taxa de fome e suas consequências imediatas. O setor suinícola sofreu mudanças importantes nos últimos 30 anos. As consequências da rápida diversificação técnica, necessidades sociais e medidas legislativas estritas deram origem a novas oportunidades e demandas. Foi necessário, então, em primeiro lugar, uma adaptação dos planos de estudo das universidades aos novos programas de criação da atualidade, com professores especializados em áreas das quais a sociedade precisa. Para isso, foi preciso levar em consideração a concentração de recursos e a sua percepção social. Nos EUA existem 33 cursos com 270 créditos para suínos, 12 universidades oferecem cursos específicos para suínos com 31 créditos e outras 19 universidades oferecem cursos mistos de várias espécies, mas com créditos rotativos para suínos. Foi necessária a implantação de um plano estratégico nacional, considerando que 4% dos veterinários se dedicam a suínos, 17% a bovinos, 16% a equinos, 23% a caninos e 23% a felinos. Iowa, Carolina do Norte, Minnesota, Indiana e Illinois são os cinco estados onde estão concentradas as necessidades de veterinários especialistas em suínos. Estima-se que o investimento em um novo currículo seja de US$ 0,01/suíno e porca nas granjas dos EUA para que haja um futuro mais promissor para os estudantes e para todo o setor (o desenvolvimento do capital humano implica em investimento de capital para todos os envolvidos na cadeia de produção). STEVE MEYER – Uma visão para o futuro dos mercados globais: diferentes países têm aptidões distintas na dependência de suas condições próprias: recursos naturais, história-culturas-tradições, tecnologia, regulamentações governamentais, o que individualiza consideravelmente os mercados internacionais. Apesar disso, os mercados interagem entre si com base nas diferentes áreas de produção e nas necessidades globais, sendo necessário, entretanto, uma negociação entre eles e entre diferentes estados e continentes. Mas a distribuição da população mundial é dinâmica e mudará com o tempo (em 2100, a Ásia estagnará e a África aumentará), ao mesmo tempo em que mais pessoas passarão da pobreza extrema para uma vida melhor, estando prevista uma redução notável da referida pobreza nos próximos anos. Os impedimentos ao comércio são principalmente institucionais, somados a medidas protecionistas (taxas alfandegárias ou outras taxas, segurança nacional real ou fictícia), bem como a medidas incertas, tais quais fatores de risco, políticas governamentais (embargo de grãos em 1980), entre outras razões


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diferentes (por exemplo, o valor das moedas que pode tornar o suíno mais caro em comparação com as espécies concorrentes). A confiança e o estado de direito, na regulamentação de cada país, determinam de maneira muito contundente essas regras de mercado. As oportunidades do mercado mundial de suínos, sabemos bem, são diretamente afetadas por problemas de sanidade em outros países: PSA na Ásia implica em crescimento da produção no Brasil (+ 4,5%), na Rússia (+ 2,8%), nos EUA (+ 3,4%), afetando também o mercado da carne oriunda de outras espécies animais, tanto no fluxo entre países quanto em seus preços. A questão de um milhão de dólares é saber quando a China recuperará e restabelecerá seus suprimentos. E a partir de que ponto as tarifas alfandegárias que ela pratica imporão – além do envolvimento do Japão como importador – a capacidade da União Europeia de continuar exportando nas quantidades necessárias. O custo de produção nos EUA mostra-se competitivo, favorecendo até a taxa de câmbio da moeda brasileira. A principal questão é se será possível continuar abastecendo o mercado nessas condições econômicas e assimilar o crescimento da produção com a capacidade de abate correspondente, mantendo a estabilidade dos preços. Devemos sempre continuar pensando no princípio da competitividade. BETSY CHARLES – Reiniciar em positivo: as pessoas que acreditam que algo não é bom têm certeza de que não será bom ou poderá ser até pior. Em situações complexas é necessário manter a estabilidade o tempo todo, sendo você mesmo a todo momento (resiliência: capacidade de se recuperar ou ajustar-se facilmente a uma mudança ou infortúnio). Treinar a gratidão incentiva sempre uma atitude positiva. PESTE SUÍNA AFRICANA (vírus DNA)

fecciosos com a presença de vírus de baixa, média e alta virulências e com sintomas clínicos altamente variáveis (casos agudos, subagudos e crônicos). As principais causas da disseminação viral foram o movimento de animais infectados, o movimento de carne contaminada pelo vírus, a contaminação de materiais, pessoas, ração, vetores e a falta de medidas de biosseguridade no início do processo. Foram consideradas positivas as medidas de biosseguridade intragranjas, especialmente relativas ao transporte de animais (limpeza e desinfecção rigorosa); ao controle de matérias-primas e ração; ao diagnóstico local com a coleta rápida de amostras pertinentes (sangue e secreções) e às técnicas de diagnóstico por PCR (reação em cadeia da polimerase, na sigla em inglês). Por outro lado, existe um mercado negro paralelo de vacinas – custando entre US$ 5,00 e US$ 20,00 por dose –, cuja utilização pode reduzir a mortalidade em até 50%, mas que não são 100% eficazes. As medidas de higiene, limpeza e desinfecção (com lança-chamas) são preconizadas após o despovoamento da granja, com a manutenção do pessoal isolado no próprio local. Após um diagnóstico positivo, no mesmo dia os animais são sacrificados por eletrocussão, e os negativos são analisados novamente no dia seguinte. A ração utilizada nas granjas positivas é tratada a 85oC por pelo menos três minutos, sendo coletadas amostras em seguida para verificar sua negatividade. É importante que as granjas tenham seu próprio laboratório para realizar diagnósticos preliminares. Quanto ao que não está funcionando corretamente, foi citado: deficiências nos esquemas de biosseguridade (conscientização dos funcionários, refeições na própria granja, limpeza nas fábricas de ração próprias, transporte local de animais intragranja/abatedouros), mercados de carne que não adotam nenhuma medida higiênica, controle deficiente da entrada de sêmen, água de baixa qualidade e uso de vacinas mesmo em granjas negativas. O número de propriedades com menos de 100 suínos na China, em 2016, era de 41.634.230 – outro problema adicional, associado ao componente humano –, em que as pessoas que trabalham nas granjas vivem nelas por três semanas seguidas, pois acredita-se que o vírus estará presente no local por um longo tempo e o restante das pessoas deverá evitar a contaminação. O tamanho das granjas está crescendo e as medidas de biosseguridade têm sido muito mais rigorosas. A China é endêmica em PSC (peste suína clássica), PSA, doença de Aujeszky e febre aftosa, além de conviver com problemas sérios devido ao vírus da PRRS. Os produtores locais são foco de atração de grandes investidores sem experiência na produção de suínos, o que, sem dúvida, também influencia a evolução da PSA na China e no mundo.

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JOSEPH YAROS (Pipestone): a PSA (peste suína africana) foi relatada pela primeira vez na China em 3 de agosto de 2018, em suínos domésticos. O consumo de carne suína na China representa 40,4% do consumo mundial, correspondendo a 40 kg/ pessoa/ano (frango: 32,4%; carne bovina: 21,8%; ovelha: 5,3%). Cada 2% das necessidades de importação da China representam 20% da produção global de carne suína. A Pipestone Serviços Veterinários, empresa norte-americana, atua em granjas chinesas há 20 anos e nos últimos dois anos tem enfrentado situações envolvendo a PSA, o que os habilita a definir quais pontos podem ser trabalhados (os que têm trazido bons resultados e os que têm feito pouco efeito). Foram declarados oficialmente 160 casos, em 32 das 33 províncias chinesas e em 10 países asiáticos, os quais afetaram animais de todas as idades e genética, inPSA PSC Febre aftosa dependentemente do tamanho Contagiosidade Baixa Media Alta da granja (de menos de 500 cabeças até 8.000 matrizes), tendo Mortalidade Alta Media Baixa sido estimada uma perda de 50% Tenacidade Alta Baixa Baixa das porcas. Existem muitos casos em que foram identificadas coinDesaparece Desaparece Persistente fecções com outros agentes inpós-vacinação espontaneamente

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áreas delimitadas em diferentes países. Em 2014 foram estabelecidos o controle de movimentos e a regionalização, classificando-se os territórios em quatro regiões (2014/178/EU), o que foi reforçado por SANCO/7112/2015, com base na definição dos territórios por tamanho, divisões administrativas, barreiras naturais e artificiais. Desde abril de 2019 a República Checa se declara negativa por não ter tido nenhum foco de PSA durante os últimos 12 meses.

TIM SNIDER: a suinocultura europeia é composta por 27 membros que têm, juntos, 12,6 milhões de matrizes, sendo a Espanha com 20,8% (a primeira), seguida da Alemanha com 17,8%, França com 9,3% e Dinamarca com 8,5%, num total de 148 milhões de suínos. A PSA foi erradicada na Europa nos anos 90, e a partir de 2007 retornou novamente por meio da Georgia. Os fatores responsáveis pelos focos, na Europa, são as pessoas que viajam, os imigrantes que trabalham e circulam entre granjas, a comercialização de produtos e a caça – sendo os javalis e a movimentação de pessoas os dois fatores mais relevantes. Tem havido contágios importantes a longas distâncias – como o da Rússia em 2009 (1.000 km), Bielorrússia em 2013 (500 km), Ucrânia em 2017 (200 km), Bélgica em 2018 (1.275 km) e, mais recentemente, da Polônia em 2019 (300 km). A densidade populacional de suínos nos diferentes países europeus é muito variável, concentrando-se em certas regiões geográficas de cada país. A interação entre suínos, pessoas e javalis é, sem duvida, um ponto a se considerar. Os fatores que influem no controle da ocorrência da PSA são numerosos. O primeiro é uma legislação europeia rigorosa (EC Diretiva 2002/60/EC/5/17) que regula a movimentação de animais domésticos, javalis e o transporte aos abatedouros, determinando uma regionalização em quatro zonas, sendo uma de proteção e outra de sobrevivência. O segundo ponto corresponde ao controle dos javalis, que são o principal foco do problema na Europa. A terceira medida concentra-se em delimitar o tamanho da região infectada (República Checa: 24 km2 – Bélgica: 1.000 km2). O quarto fator concentra-se na delimitação dos focos em áreas próximas às zonas de alta densidade suína (Polônia, Bélgica). Outros fatores críticos relacionados com os anteriores centram-se na cadeia alimentar, na proibição de atividades da caça de javalis, na eliminação/retirada rápida de javalis mortos e na eliminação de javalis em certas

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CLAYTON JOHNSON: concentra-se nas cinco estratégias de biosseguridade e suas considerações para controlar o vírus da PSA. A situação na Rússia é mantida desde 2007, com um aumento em 2013, 2016 e 2017. O problema na Ásia é ainda mais grave. A contaminação de suínos vivos e seus produtos (frescos, curados e processados) apresenta um alto risco. A poluição de pessoas (visitantes) tem um risco semelhante ao anterior. A contaminação dos veículos de transporte é um componente fundamental (o vírus é sensível à limpeza e à desinfecção). Isso inclui o transporte de animais mortos, que em caso de infecção é um risco crítico. Devemos levar em consideração o transporte de ingredientes para alimentação animal e suas condições de tratamento e armazenamento, as quais podem levar a uma degradação do grau de infecciosidade. Metade do mundo está infectada e a outra metade está lutando para não ser infectada. Para isso, medidas de biosseguridade, diagnóstico precoce e preciso, coordenação de atores e desenvolvimento de uma vacina são as armas utilizadas para evitar suas consequências. BIOSSEGURIDADE MEGAN NIEDERWERDER: concentra-se na questão da alimentação após a entrada do vírus da DES (diarreia epidêmica suína), em abril de 2013, e de sua rápida disseminação. Milhões de toneladas de alimentos são transportados por rotas muito diferentes e entre muitos países, daí o seu estudo desenvolvido no sentido de avaliar esse critério de risco na propagação de certos vírus. Foi criado um modelo de análise de sobrevivência para certos vírus no transporte transoceânico de matérias-primas para nutrição animal (transatlântico e transpacífico). O estudo focalizou-se, principalmente, nos vírus da doença de Aujeszky, peste suína clássica e peste suína africana. As análises foram feitas por PCR em farelos de soja convencional e orgânico, óleo de soja, DDGS (destilados solúveis de grãos secos ou distiller’s dried grains with solubles, na sigla em inglês), lisina, colina, vitamina D e ração acabada para cães e gatos. Todos os três vírus foram encontrados na maioria das matérias-primas, no farelo de soja convencional, na colina e na ração para animais de companhia. A transmissão do vírus da PSA via ração é duvidosa, por isso foi realizado um estudo experimental paralelo no qual se infectou a ração de suínos com 7 a 8 semanas de idade – com diferenciação entre rações seca e líquida –, tendo-se observando que a probabilidade de infecção foi maior na apresentação líquida (maior risco em doses menores) e igual quando a dose infectante


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foi de 10 para 4. Para atenuar a presença do vírus nos alimentos, três procedimentos foram analisados: tempo de armazenamento, tratamento ultravioleta e tratamento por aditivos. A meia-vida viral no transporte foi variável entre as matérias-primas estudadas, reduzindo-se drasticamente a partir de 15 dias e, principalmente, após 30 dias. Para o desaparecimento total do vírus foram necessários 125 dias para a soja convencional, 156 dias para a soja orgânica e mais de 200 dias para a colina, à temperatura ambiente de armazenamento. SCOTT DEE: o impacto dos alimentos contaminados pelo vírus da PSA foi estudado na suinocultura e na indústria de ração animal dos EUA (FDA, NPPC). A transparência é essencial para a determinação dessa eventual contaminação. Deve-se, portanto, evitar modelos de análise falhos e conflitos de interesse. Os objetivos do trabalho foram analisar diferentes aditivos procedentes de inúmeras empresas, incorporados na ração, e descobrir seus efeitos tanto na redução da carga viral como indiretamente na produção (parâmetros e mortalidade). A mitigação da contaminação não significa esterilização, mas sim a eliminação dela, medida importante para diminuir o risco de transmissão e o impacto na saúde animal. O projeto foi concluído, mas seus resultados finais estão em processo de preparação pré-publicação. Foram acompanhadas rotas de viagem distintas durante 22 dias, em 18 estados, tendo sido percorridas mais de 6.000 milhas, relativas ao deslocamento desse eventual contaminante pelos EUA. O objetivo será montar um plano nacional, que também inclua o Canadá e o México, além de continuar investigando juntos o problema, a fim de manter o vírus da PSA fora desses três países. JORDAN GEBHARDT: atenta para a implementação de medidas de biosseguridade alimentar para evitar a contaminação com o vírus da PSA, tanto no alimento em si quanto no meio de transporte e para identificar as áreas críticas nesses processos. A amostragem realizada nas Filipinas começou em agosto de 2019 (2.446 suínos, dos quais 910 foram terminados - ração + matérias-primas), sendo o restante correspondente a caminhões e áreas de produção de ração. Tanto a ração acabada quanto a matéria-prima não foram positivas à contaminação. Houve, sim, contaminação nas cabines dos caminhões, daí a ênfase na extensão das medidas de biosseguridade adotadas nas próprias granjas ao transporte da ração destinada a elas (separação de áreas sujas e áreas limpas), além da desinfecção de caminhões por dentro e por fora. DERALD HOLTKAMP: a frequência das ondas dos raios ultravioleta, entre 10 nm e 340 nm, age para danificar o ácido nucleico de patógenos, impedindo a sua replicação, sendo o nível ideal = 254 nm (UVC: 200 nm a 280 nm). É utilizado na medicina humana e na indústria alimentícia como antisséptico. Foi realizado um estudo com o vírus Seneca A para descobrir até que ponto ele pode ser desativado, em diferentes superfícies de uma caixa fechada e de uma entrada suplementar em uma

sala. Considera-se importante analisar a dose (mJ/ cm2) e a intensidade da irradiação (Mw/cm2). O nível de radiação pode ser determinado com um medidor de UV. Foram avaliadas três superfícies sujeitas ao UV: frascos plásticos de vacinas, sacolas plásticas de polipropileno, sacos plásticos para os pés – limpos e na presença de fezes. A inativação foi mais eficiente nas sacolas plásticas de polipropileno sem a presença de fezes, não havendo atuação em superfícies permeáveis. Outras aplicações a serem estudadas são os seus efeitos em óculos, relógios, telefones e embalagens para alimentos do tipo Tupperware®. MIKE EISENMENGER: o transporte de animais entre granjas e abatedouros é um ponto crítico de biosseguridade. O objetivo deve ser manter o vírus da PSA fora das propriedades, pois em caso de infecção não haverá vencedores ou perdedores – todos perdemos, alguns mais e outros menos. Nas granjas, o número de entradas e saídas de animais deve ser minimizado, mantendo um fluxo único. O transporte de leitoas da reposição, leitões, porcas velhas e suínos para o abate deve ser revisto, principalmente a coleta de cadáveres. As áreas de espera dos abatedouros são um ponto de convergência de animais de diferentes origens e com diferentes condições de saúde, de modo que caminhões e pessoas que os transportam são expostos a riscos elevados, que devem ser levados em consideração. Os sistemas de limpeza e desinfecção de caminhões são, portanto, um ponto de alta sensibilidade. No futuro, os caminhões deverão ser limpos no local, o que irá requerer infraestrutura envolvendo o pessoal da granja e o motorista do caminhão, o qual, particularmente, deverá cumprir medidas rigorosas (desinfecção/troca de calçados e roupas). Também se considera a necessidade de um trabalho a ser feito no design de interiores dos compartimentos dos caminhões destinados ao transporte de animais.

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JEAN PAUL CANO: o transporte no setor de genética é extremamente crítico, devendo concentrar-se apenas em algumas granjas. A PIC transporta 500.000 reprodutoras destinadas à seleção e 17.000 cachaços nos EUA, a cada ano, por meio de sete empresas de transporte especializadas, para 2.100 granjas de reprodução. O sistema BioShield é utilizado como norma de biosseguridade para identificar e mitigar os riscos de introdução e disseminação de agentes infecciosos na população de suínos, com base em três processos: protocolos semiquantitativos de risco, treinamento de equipe e treinamento de equipe e inspeção de processos com base na análise de risco, associado ao fornecimento dos meios para realizá-los. É necessário que haja um contato eficaz entre os indivíduos infectados e os suscetíveis para que a infecção ocorra. As probabilidades de transmissão são medidas pela equação que expressa o grau de contato efetivo, resultante da multiplicação do número de contatos por unidade de tempo e a probabilidade de infecção em cada contato. AMY MASCHHOFF: os quadros epidêmicos têm um nº 62/2020 | Suínos&Cia


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alto custo, derivado de seu impacto negativo na produtividade da granja. Na empresa Maschhoffs (um dos maiores produtores privados globais de suínos) prioriza-se o movimento de animais na avaliação de riscos da biosseguridade (45%), com foco em quatro pontos: higiene/saúde, segregação, dedicação e execução da auditoria. No que diz respeito à higiene, é essencial comunicar a expectativa à equipe de transporte com base em procedimentos operacionais padrão (sistema SOP, estabelecido em 2019, relativo ao procedimento de limpeza de caminhões – tanto por fora como, principalmente, por dentro – incluindo a cabine). A segregação baseia-se em um novo sistema de lavagem de caminhões, que separa os que vão para granjas comerciais daqueles que se destinam a granjas de seleção, sendo realizado nas próprias granjas. Para o transporte de animais para o abatedouro utiliza-se um esquema diferenciado. Os planos de auditoria são realizados dentro e fora da granja, revisando os planos de movimentação, estudando os relatórios de cada movimento e avaliando cada incidência trimestral para implementar eventuais melhorias no sistema. “O perfeito não é o mesmo que a realidade”. CHELSEA RUSTON: os caminhões de transporte de suínos de engorda são a principal fonte de disseminação dos vírus da PRRS (síndrome respiratória e reprodutiva suína) e da DEP (diarreia epidêmica suína) entre as granjas. Os abatedouros recebem animais de diferentes origens e estados sanitários, portanto, o risco de contaminação e disseminação de patologias a partir deles é muito alto. Foi estabelecido um projeto piloto utilizando a técnica do gel azul (Glo Germ), que permite conhecer a contaminação cruzada entre os caminhões e as áreas de carga/descarga deles, reduzindo, assim, a contaminação entre eles, as granjas às quais se destinam e os abatedouros.

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PHIL OLSEN: já em 1854, John Snow demonstrou como, em Londres, o surto de cólera era transmitido pela água. Em 1908, os EUA regulamentaram o tratamento da água potável municipal com cloro, reduzindo drasticamente o número de mortes causadas por doenças infecciosas e aumentando, assim, a expectativa de vida. Cerca de 100 tipos de vírus patogênicos são excretados – por pessoas e animais – e passam pelo ambiente para aquíferos (por exemplo, enterovírus e adenovírus). O risco de infecção viral por água contaminada é de 10 a 10.000 vezes maior do que exposições semelhantes a bactérias patogênicas. Muitos vírus podem permanecer por longos períodos de tempo nas águas superficiais (3 anos). A definição de um sistema de biosseguridade para higienizar a água potável, do ponto de vista de sua rentabilidade, dependerá da composição da água, do seu fluxo, da seleção do desinfetante, dos pré-tratamentos necessários, da segurança da ausência de contaminação microbiana, das medidas de automação e segurança. A desinfecção com gases pressurizados não é recomendada na produção animal. Só porque a água está livre de Escherichiacoli e coliformes não significa que esteja livre de vírus. Suínos&Cia | nº 62/2020

KEVIN HARRIGER (US Customer Border Protection/ Departamento de proteção de fronteiras dos EUA): nosso objetivo é manter fora das fronteiras todas as doenças das quais somos livres. Equipes de especialistas em fronteiras foram aumentadas para supervisionar toda a entrada de animais, alimentos e pessoas. O mesmo está sendo realizado em aeroportos e portos (325 pontos). Os controles são realizados na chegada, durante e após o trânsito posterior a ela. O uso de cães especificamente treinados também é importante nesse tipo de operação. https://www.cbp.gov PATRICK WEBB (Conselho Nacional de Suinocultura/NPB, na sigla em inglês): a suinocultura norte-americana é vulnerável à introdução de patologias que afetem a saúde e o bem-estar dos animais e que alterem o mercado e o comércio internacional, com suas sérias consequências econômicas para produtores e seus funcionários. A identificação e a resposta rápidas às doenças são consideradas de alta prioridade, o que requer investimentos significativos. Para cuidar desse assunto, doenças dos suínos, a suinocultura organizou um Comitê Nacional, com a missão de fornecer recomendações a organizações oficiais e privadas – com o objetivo principal de coordenar as atividades de resposta da indústria –, protegendo os mercados e o comércio de suínos, carne e produtos derivados deles. Este comitê, formado por pessoas influentes na suinocultura e associado a consultores privados, oficiais e de universidades (NPB, NPPC, AASV e SHIC), também tem a capacidade de detectar rapidamente doenças que possam vir a limitar a atividade. ERIC JENSEN (Aviagen Group): o grupo Aviagen, presente em 100 países, é líder no mercado global de genética de matrizes para frangos de corte, com uma participação de 60%. Sua habilidade para fornecer e dar suporte a todo esse percentual de mercado de pintos de um dia tem a ver com a sua capacidade de lidar com processos infecciosos, como o ocorrido entre 2014 e 2015, contemplando cepas altamente virulentas do vírus da influenza H5N2, que afetou 211 granjas comerciais em nove estados norte-americanos e envolveu o abate de 7,5 milhões de perus (3% da produção anual) e de 42 milhões de galinhas e frangos (11% da população), com grande impacto econômico e perturbação da logística dos mercados de ovos e produtos derivados da avicultura. O custo da resposta a essa emergência federal foi de US$ 700 milhões, havendo uma perda de US$ 4,2 bilhões devido à falta de exportações. Na ocasião, foi estabelecido um plano de resposta do Estado e um plano de contenção, associado ao recebimento da compensação e da incorporação de indenizações por meio de um seguro suplementar, adotando um sistema de regionalização dentro e entre os estados que representavam 80% da produção avícola nacional. Os parceiros dos mercados internacionais inspecionavam a movimentação dos negócios de frango e seus produtos entre os estados, causando grande impacto na tomada de decisões por regionalização. Os surtos de gripe identificaram


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um número não depreciável de práticas inadequadas de biosseguridade, que serviram para auditar as granjas participantes que receberam remunerações e compensações. Os grandes parceiros comerciais eram definidos com base em valores econômicos (Canadá > China > Indonésia > México > Brasil > Tailândia > Filipinas). A Ásia representava mais de 60% das exportações, e a China, sozinha, 20%. Em muitas ocasiões, os certificados sanitários de exportação (EHC) requeriam modificações, como alterações de idioma, inclusão do idioma do estado de origem livre da doença e os resultados negativos dos testes do produto exportado. A Coreia do Sul, na ocasião, não tinha legislação sobre regionalização, passando a adotá-la apenas em 2019, e a China manteve a proibição, presumivelmente por razões políticas. A diferenciação entre animais vivos e produtos de animais contemplada na OIE em seu artigo 10.4.19, esclarece as medidas a serem adotadas, bem como os tratamentos térmicos preconizados para a inativação do vírus. No caso de suínos, isso se reflete no artigo 15.1.14, no que diz respeito à compartimentalização de zonas livres de PSA. A única opção realista para manter a exportação de animais vivos e dos produtos à base de proteína animal é a regionalização ou compartimentação. A regionalização é uma separação geográfica em que a zona franca deve ser clara e efetivamente delimitada por barreiras naturais, artificiais ou legais. A compartimentação é um novo conceito estabelecido em sistemas de biosseguridade que possuem diferentes subpopulações de animais, com diferentes condições de saúde em relação a uma patologia específica. Desde setembro de 2017, a Aviagen foi oficialmente certificada pelo USDA como livre de influenza aviária. Eles iniciaram seu projeto de programa de compartimentação em outubro de 2015. Este programa requer uma recertificação anual, no qual se audita 25% das granjas produtoras. Os auditores são veterinários, funcionários do USDA ou especialistas certificados em aves que receberam programas de treinamento específicos. É importante o desenvolvimento de relacionamentos com os departamentos regionais de saúde estaduais, bem como com os departamentos federais de saúde (serviços veterinários, resposta a emergências e serviços de importação e exportação), além dos parceiros industriais dos importadores, como medidas de apoio a um trabalho a longo prazo. PETER FERNANDEZ: doenças animais transfronteiriças são aquelas que atravessam fronteiras e trazem efeitos negativos para a produção e a economia. As pragas foram descritas no Egito e na Grécia, assim como Aristóteles as descreveu também em 384 a.C. O acesso à comida é uma necessidade fundamental do ser humano e a sua interrupção pode causar sérios problemas sociais e políticos. Metade dos patógenos humanos são originários de animais (60%) e 80% deles são patógenos multiespécies. Foi a partir de meados do século XIX e durante o século XX que ocorreu o aumento das doenças nas granjas. Algumas das doenças transfronteiriças mais importantes são PSA, PSC, Aujeszky e febre aftosa (oloirobi no idio-

ma Massai – falado no sul do Quênia e no norte da Tanzânia –, que significa resfriado comum altamente contagioso, altamente persistente e que afeta diferentes espécies animais). A globalização da economia significou um aumento na integração do desenvolvimento das economias com menor desenvolvimento econômico, havendo diferenças entre as regiões, o que fez com que a Organização Mundial do Comércio (OMC) criasse novas regras, em termos de problemas sanitários, que afetaram a todos os países – de uma maneira ou de outra –, interconectadas com as regras da OMS e da OIE. O comércio internacional aumentou consideravelmente, assim como o turismo, por meio dos chamados “supervetores” (aviões e navios oceânicos de grande porte), associado ao comércio global de animais exóticos, aos mercados de carne e animais vivos na China e em outros países. O transporte de animais vivos, o desmatamento, a deficiência dos sistemas de produção, as práticas inadequadas de biosseguridade e a maior interação entre animais e pessoas levaram a crises na saúde de ambos. A saúde animal é uma questão da economia global, que desempenha um papel essencial na saúde humana e na segurança alimentar, sendo necessário que as regulamentações do mercado forneçam uma base científica, além de diagnóstico rápido, desenvolvimento de novas vacinas antimicrobianas, programas coordenados de sobrevivência e combinações e sistemas de resposta a emergências nas esferas federal, estadual e local, entre os setores público e privado. Para isso, os programas de treinamento e educação são essenciais para todos. Os fatores de emergência das doenças são complexos e incluem questões sociais, econômicas, culturais e ambientais. “Sempre olhe para o lado positivo da vida.”

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SÍNDROME RESPIRATÓRIA E REPRODUTIVA SUÍNA (vírus RNA) ou PRRS www.cvs.umn.edu/sdec/SwineDiseases/PRRSv/index.htm • A suinocultura norte-americana sofre com essa doença há três décadas, amargando um impacto econômico anual avaliado em US$ 664 milhões, totalizando US$ 1 bilhão adicionando perdas indiretas. O custo estimado de um quadro agudo, em uma granja de porte médio, é de US$ 255,00/ porca, sendo estimadas perdas da ordem de US$ 74,16/porca em granjas infectadas cronicamente. Foi feita uma estimativa de que, desde 1987, nos EUA, foram perdidos US$ 18 bilhões, o equivalente a 14 meses de toda a produção suinícola, ou US$ 4,67 a US$ 6,00/suíno enviado ao abatedouro nesse período. Em alguns quadros clínicos se descreve mortalidade em leitões desmamados da ordem de até 78%. 93% das cepas de campo locais correspondem ao PRRSv do tipo 2, que, por sua vez, são responsáveis por uma maior mortalidade em suínos de engorda, em comparação com as cepas do tipo 1 europeias. Ainda existem muitas perguntas não respondidas a respeito dessa doença, principalmente com relação ao seu controle e à eliminação do agente. Considera-se essencial a concentração nas medidas de biosseguridade e no treinamento das equipes de trabalho. A empresa Hanor renº 62/2020 | Suínos&Cia


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úne 100 mil criadores em sete estados, os quais produzem 1,7 milhão de suínos por ano e onde, desde 2015, enfrentam-se sérios problemas devido à entrada de novas cepas em seu sistema de produção (1-8-4 e 1-7-4). Diante dessa situação, passaram a aumentar as medidas de biosseguridade, o que inclui redução da movimentação de animais dentro e entre as granjas, bem como a movimentação de pessoal; acessos específicos para funcionários e visitas às granjas; salas equipadas com radiação ultravioleta para entrada de materiais; armazenagem de carcaças isoladas específica, com separação de zonas limpa e suja para os trabalhadores que as transportam; eliminação de novos leitões de suas próprias granjas positivas e construção de duas novas unidades para produzir futuros reprodutores negativos; controle das entradas de ar e dos suprimentos da água, considerando a possibilidade de serem fontes de entrada de vírus; análises da viremia em leitões, no nascimento e no desmame, com base em amostras de sangue ou fluidos orais; e atuação em conformidade com os processos de gerenciamento da McRebel, que envolvem treinamento e educação específicos para os funcionários das granjas. Para isso, a comunicação regular de todos os procedimentos e a sensibilidade das técnicas são fundamentais para que se atenda às expectativas, além de ter em mente que eles, em cada granja, podem ser diferentes e mudar ao longo do tempo.

pas virais envolvidas, as reinfecções, a sazonalidade e os períodos de estabilidade.

• Foi realizado um estudo em 13 sistemas de pro-

dução, envolvendo 188 granjas em 15 estados, por meio do qual se desenvolveu um modelo de previsão para 44 medidas de biosseguridade. Ficou demonstrado que as quatro primeiras mais importantes, para se evitar quadros clínicos da doença, foram leitões substitutos, a densidade suína em um raio 4,83 km (3 milhas), o número de granjas de matrizes no referido raio e a distância das vias públicas de comunicação. É consenso, em vários trabalhos, a ocorrência de uma relação clara entre as falhas nas medidas de biosseguridade e a instabilidade das granjas contra o vírus da PRRS.

• A aplicação de duas doses de vacina viva atenua-

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da em suínos de engorda, em uma amostragem de 136.482 animais, demonstrou uma redução na excreção do vírus de campo e, portanto, na sua disseminação, especialmente em granjas estáveis. O benefício indireto da vacinação, além de reforçar a imunidade, é a redução da transmissão por exposição ao vírus de campo e também dos sinais clínicos (ganho médio de peso diário, mortalidade).

• Foram desenvolvidas novas técnicas de diagnós-

tico a partir de amostras de fezes, além das de soro e de fluidos orais, nas quais também se encontram anticorpos de interesse para determinar a sobrevivência viral, em granjas de matrizes e de cachaços. Os leitões infectados produzem especificamente IgA e IgM, que são bem detectados pela prova de ELISA, estudando-se, assim, a presença de anticorpos maternos no soro (IgG) em infecções ativas ou a partir de porcas vacinadas. Prolongar as populações virêmicas nas granjas se traduz em implicações importantes nos processos da transmissão viral.

• A radiação ultravioleta é utilizada como desinfe-

tante desde 1910, tendo demonstrado seu efeito inativador sobre o vírus da PRRS após uma exposição de 10 minutos. Os leitões nascidos do primeiro parto desempenham papel importante na manutenção da infecção, sendo necessário mais estudos para se conhecer com detalhe esse escopo, em comparação com outros fatores e características próprias da granja, como a maneira de exposição do vírus às fêmeas nulíparas, as ce-

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DIARREIA EPIDÊMICA SUÍNA POR CORONAVÍRUS (vírus RNA) ou PED • Trata-se de um vírus RNA, da Ordem Nidoviridae, Família Coronavírus, Gênero Alphacoronavírus. As perdas estimadas, em um quadro agudo de PED, são da ordem de US$ 400,00/porca. Vários estudos mostram que o vírus pode ser encontrado em insetos, que atuam como vetores, desempenhando um papel indireto na transmissão da doença na granja (contaminação alimentar) e entre granjas. O vírus pode sobreviver por até nove meses em dejetos, mantendo seu grau de infectividade por mais de 28 dias em diferentes temperaturas. A dose infectante mínima, veiculada por meio de alimentos contaminados, corresponde a um valor de PCR RT (PCR em Tempo Real) = 37.


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• Nos EUA circulam duas cepas: S-Indel e não S-Indel, sendo a primeira menos virulenta. Pouco se sabe a respeito de seus efeitos virulentos em suínos adultos de diferentes idades. A patogenicidade e a resposta do sistema imunológico, em termos de produção de anticorpos, são dependentes da idade. www.aavs.org/pedvewww.pork.org/PED VÍRUS da GRIPE (vírus RNA) ou INFLUENZA (FLU) • As perdas devidas ao vírus da gripe, nos EUA, são estimadas em US$ 3,23/suíno, podendo ser incrementadas, no caso de coinfecções, em até US$ 10,00 a US$ 18,00/suíno. • O vírus da gripe continua circulando endemicamente na população suína norte-americana, sendo reconhecidos três sorotipos predominantes: H1N1, H1N2 e H3N2. A circulação de múltiplas variantes de um único vírus foi documentada em um mesmo lote de suínos, havendo como consequência o surgimento de novas cepas, o que não apenas complica o seu controle, como também o seu diagnóstico. O isolamento do vírus pode ser dificultado em função do armazenamento inadequado da amostra coletada, do meio de cultura utilizado nesse armazenamento e do transporte da amostra, propriamente dito, devido à sensibilidade da sua membrana externa (envelope). As amostras obtidas a partir de swab nasal são adequadas para o isolamento viral, desde que bem coletadas. Elas devem ser tomadas de animais com sintomas clínicos agudos (febre, corrimento nasal e tosse), momento em que ocorre o pico de excreção, uma vez que ela tende a diminuir nos dias seguintes, sendo assim mais difícil de se detectar esses sintomas. A coleta realizada com o auxílio de lenços descartáveis é mais interessante do ponto de vista da qualidade/quantidade do material coletado do que aquela realizada por meio de zaragatoas ou cotonetes. É importante realizar essas coletas em granjas endêmicas, sendo recomendada a quantidade de 45 amostras/unidade de criação. O vírus da gripe é inativado ao ser exposto à temperatura de 37oC, por dois dias, assim como o vírus da doença de Aujeszky. • O vírus da gripe se transmite entre espécies: aves, suínos e humanos, sendo um candidato a causar pandemias. O H3N2 tem um alto potencial de transmissão interespécies, pois seu RNA contém fragmentos das três espécies citadas (um exemplo é o vírus A/Swine/Texas/4199-2/98). Estudos anteriores demonstraram que pessoas em contato regular com suínos têm um risco maior de contrair a variante dessa cepa. O uso da filogenética não só tem o potencial de nos dizer como os vírus estão mudando ao longo do tempo, mas também como eles se movem entre as diferentes espécies. Um estudo realizado entre 2015 e 2018, nos EUA, revelou que não foram encontrados em seres humanos os genes H3 procedentes de suínos, mostrando que eles tendem a se mover mais das pessoas para os suínos.

• As vacinas podem ser eficazes na redução da prevalência do vírus da gripe no desmame, mas o seu efeito depende, em parte, da inclusão de antígenos virais adequados de campo presentes nas granjas, uma vez que existe uma alta diversidade antigênica e genética que pode reduzir a eficácia dessas vacinas. O laboratório MSD desenvolveu uma tecnologia denominada Sequivity para realizar análises de sequências em 12.000 vírus influenza desde 2003 (1.800 sequências disponíveis em 2019), o que permite conhecer o impacto regional do vírus, a sua movimentação entre granjas e as cepas com maior risco de serem introduzidas, com o objetivo de se tomar ações proativas com relação ao tipo de vacina a ser usado em cada sistema de produção. Um estudo realizado em dois períodos (de dezembro de 2017 a dezembro de 2018 e desde então até dezembro de 2019) identificou mudanças importantes como a redução de 8% das cepas H1 Gama e Delta 1 e o aumento de 5%, em cada período, das cepas H1 Alfa e das cepas Pandêmicas; enquanto a cepa H1 Delta 2 foi a que mais aumentou (8,6% e 20,2% em cada período, respectivamente). Mais estudos serão necessários para determinar se apenas a mutação seria a causa direta de uma redução nas reações cruzadas ou se as alterações adicionais podem influenciar esse declínio. • Foi demonstrado, em um estudo, o papel importante das porcas nutrizes na transmissão e na persistência do vírus da gripe nos leitões, tanto antes como depois do desmame.

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CIRCOVÍRUS SUÍNO (vírus DNA) ou PCV • O circovírus suíno do tipo 3 (PCV3) foi relatado pela primeira vez em 2015, nos EUA, e descrito posteriormente na China, em 2017. Ele causa inflamações sistêmicas, miocardite, mumificação fetal, dermatites e doença renal. Esse vírus é um pouco maior do que o PCV2, havendo entre eles apenas 37% de homologia genética, sendo responsável por quadros de pneumonia, diarreia, refugagem, falhas reprodutivas e patologias multissistêmicas. O PCV1 foi identificado como contaminante celular de cultivos de células PK-15, sendo considerado não patogênico para suínos. O PCV2 possui seis genótipos reconhecidos (a, b, c, d, e, f) com uma similaridade da sequência ORF2 entre 81 e 95%. • Até 2005 o PCV2a era o único reconhecido nos EUA. A partir de 2012 emergiu o PCV2b, também em nível mundial. Do PCV2c existem poucos isolamentos, especialmente focados no Brasil. O PCV2f foi recentemente detectado na China, Croácia e Indonésia. É possível prever que a evolução no nível do genoma do PCV2 continuará, dificultando saber qual será o curso da doença e a eficácia das vacinas no futuro. Alguns quadros clínicos, em granjas com PCV3, levam a um aumento no número de mumificações, natimortos, repetições de cio e piora da fertilidade no momento do parto, enquanto os parâmetros de nº 62/2020 | Suínos&Cia


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produção de leitões e animais de engorda permanecem normais, razões pelas quais alguns veterinários nos EUA prescrevem a vacinação em massa do rebanho de reprodutores, com duas doses distanciadas por um intervalo de 3 a 4 semanas. O tempo entre a vacinação e a negatividade da prova de PCR, realizada a partir do processamento de fluidos é de 4 meses. Os valores positivos do Ct PCR para o PCV3 variam entre 25 a 27. • Estima-se que de 20% a 35% dos vírus PCV2 sejam recombinantes, chegando ao sequenciamento de 1.037 genomas completos, em 41 países (19,4%, em média), com base em 4.500 publicações científicas. As coinfecções do PCV2 com o vírus da PRRS são bastante frequentes e aumentam a gravidade dos sintomas, com maior mortalidade e até afetando a resposta imune frente às vacinas contra o PCV e o Mycoplasma hyo. O PCV2 costuma causar doenças clínicas nos suínos entre a 10ª e a 16ª semanas de idade, além de promover infecções precoces que ocorrem quando o vírus é transmitido por meio do útero das mães para os fetos, via colostro ou pelo contato direto antes do desmame. Problemas reprodutivos devidos ao PCV2 são geralmente depouca importância. Em granjas instáveis, altos títulos de anticorpos maternos são observados em leitões, presumivelmente devido a aparentes infecções ativas nas mães. Por isso, nesses casos e em algumas outras situações experimentais, amostras de sangue coletadas de leitões jovens são substratos de baixa sensibilidade para a determinação da viremia e para a confirmação de que estejam ou não infectados. Nessas situações seria indicada a vacinação em massa do plantel reprodutivo. O status dos leitões contra o PCV2, em relação ao seu nível de viremia, é importante para discernir a excreção do agente e capacidade de transmissão vertical; portanto, recomenda-se o controle sorológico quando os animais estiverem em quarentena.

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• O custo das perdas econômicas nos casos agudos de circovirose suína está estimado entre US$ 20,00 e US$ 30,00/suíno. MYCOPLASMAS SPP • O Mycoplasma hyopneumoniae causa perdas na indústria suinícola norte-americana que variam entre US$ 375 e US$ 400 milhões anualmente, com um custo da doença por suíno da ordem de US$ 6,00 a US$ 10,00. A prevalência das bactérias no desmame está correlacionada com a gravidade da doença na engorda. Sugere-se que as leitoas de reposição e as porcas de primeiro parto sejam as disseminadoras do agente. A entrada de suínos jovens em uma propriedade endemicamente infectada representa a principal fonte de manutenção da bactéria no plantel e o início da sua propagação. Reduzir a transmissão vertical entre nulíparas, marrãs e leitões é essencial para se diminuir a gravidade da doença. A bactéria é transmitida lentamente, Suínos&Cia | nº 62/2020

devido ao seu período prolongado de excreção, dificultando a exposição de todos os animais e não permitindo que se tenha certeza do grau de redução na excreção do agente durante a fase de lactação. Daí serem propostos longos períodos de aclimatação/quarentena. Existe a alternativa da implantação de programas destinados à exposição precoce às bactérias, pelas vias aerossol, intranasal e intratraqueal. Nesses três casos, aos 49 dias após a inoculação, ocorre uma soroconversão (21, 21 e 14 dias, respectivamente), sem diferenças significativas nos níveis de PCR RT. Na via intratraqueal é onde se detecta anticorpos mais cedo, embora a coleta local de material exija mais trabalho e cause mais estresse, tanto nos animais quanto nas pessoas. Por isso, considera-se o procedimento intranasal e os aerossóis como sendo alternativas mais respeitadoras do bem-estar, particularmente nos processos de aclimatação. • A técnica de diagnóstico, por excelência, é a de PCR em tempo real a partir de tecido pulmonar, com material coletado por meio de zaragatoas traqueobrônquicas (preferencialmente em animais mais velhos, como porcas reprodutoras) e zaragatoas traqueais e laríngeas para comparação (a sensibilidade em ambas as amostras varia ao longo do tempo e em função do método de exposição, especialmente nos estados agudos de infecção, em que existem atualmente limitações de diagnóstico). A detecção de bactérias em fluidos processados é inconsistente, além do que, em granjas com baixa prevalência, a diluição utilizada tem um grande efeito nos resultados finais. Uma quantidade pequena de amostras também nos dá uma probabilidade muito baixa de detecção. As bactérias, além do sistema respiratório, podem ser encontradas no baço e no fígado. A técnica de ELISA fornece uma resposta rápida, relativa à presença de anticorpos e à soroconversão, embora saibamos que metodologias diferentes têm sensibilidades diferentes. • A detecção precoce da infecção pode nos ajudar a controlá-la. Em um estudo metabólico, conduzido com leitões infectados às 8 semanas de idade, foram descritas mudanças profundas no metabolismo de aminoácidos e ácidos graxos, após 5 dias. Há uma diminuição na concentração sérica de aminoácidos de cadeia ramificada, além de outros aminoácidos proteinogênicos, como prolina, alanina, arginina, histidina e glicina. Ao mesmo tempo, há aumento significativo nos níveis de ácido 2 amino butírico (aminoácido não proteinogênico) entre 14 e 21 dias após a infecção. O nível de ácidos graxos livres no soro aumentou drasticamente entre o 14º e o 21º dias após a infecção. A transmissão por via aérea foi descrita em até 9,2 km de distância de uma granja positiva, dependendo do grau de transmissão, da variação da cepa, das condições ambientais, dos parâmetros de ventilação e das diretrizes geográficas e de vacinação. Esta bactéria tem uma baixa taxa de transmissibilidade (R = 0,56 a 1,16), podendo ser excretada por até 240 dias.


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• O uso de aerossóis como técnica de vacinação foi testado em várias ocasiões. Aos 14 dias após o procedimento, 100% das leitoas vacinadas foram positivas, segundo prova de PCR. No entanto, uma colonização mais rápida é observada pela exposição intratraqueal, em comparação ao aerossol. A solução salina mostra-se tão eficaz quanto outros excipientes para uso em aerossóis, tendo um custo mais baixo e sendo mais fácil de preparar pelos clínicos veterinários. A exposição uniforme de todas as futuras reprodutoras durante a aclimatação, antes de entrar em produção, é o objetivo principal dos programas de eliminação de doenças. Um dos métodos que atendem a essa finalidade é a exposição das fêmeas a um homogeneizado de pulmões da própria granja. Seus doadores são selecionados com base em seu valor de Ct por PCR, a partir de amostras colhidas com cateteres traqueais e não pelo grau de lesão, além da quantificação das bactérias nos homogenados e sua correta filtração, na diluição 70:30. • A tilmicosina, fornecida aos leitões e às reprodutoras tanto por meio da ração como via água de bebida, demonstrou ser eficiente nos programas de controle e eliminação do Mycoplasma hyopneumoniae em conjunto com as vacinas. Da mesma forma, alguns trabalhos demonstram a eficácia da tilvalosina a 5 mg/Kg de peso vivo para porcas, administrada sete dias antes de sua entrada na sala de partos e novamente aos sete dias antes do parto. • A prevalência do Mycoplasma hyorhinis aumentou 60% entre 2014 e 2019, o que resultou na colonização dos cílios do trato respiratório superior dos suínos, sem provocar manifestações clínicas. Também nos casos de estresse provocou quadros septicêmicos de poliserosite e artrites em leitões desmamados.

LAWSONIA INTRACELLULARIS (ileíte) • Com relação à ileíte, os programas de controle com vacinações e pulsos de antibióticos são econômicos, mas não previnem as infecções subclínicas. Nas experiências sobre esse assunto consideram-se quatro pilares a ser aplicados na prevenção e na eliminação de ileítes nos sistemas de produção: antibiótico de escolha (não impedem a colonização e a eliminação de portadores), vacinação (os suínos são resistentes a reinfecções após uma exposição inicial a bactérias em doses baixas ou altas), diagnóstico preciso do estado de saúde efetivo, por PCR fecal e sorologia pelo IPMA (diferenciação entre títulos de vacinação e infecção), e medidas de biosseguridade (insetos e roedores são portadores, procedimentos de vazio sanitário que incluem limpeza, lavagem com água quente, uso de detergentes, desinfecção). Os valores das amostras de fezes analisadas por PCR Ct são < 31 a 40 e estão associados a quadros clínicos com perdas econômicas. Na sorologia, a presença de IgG tem leituras diferentes: em granjas negativas não vacinadas, não há títulos; em suínos expostos, os títulos obtidos por IPMA são maiores que 480 ou mais altos (até 15.000); em suínos imunizados com a vacina Porcilis IleitisTM, os títulos são inferiores a 480; e em suínos vacinados com o produto Enterisol IleiteTM, há títulos pouco consistentes, além de não apresentarem resposta de títulos por meio de ELISA.

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• O uso de vacinas traz bons resultados com relação à resolução dos sinais clínicos e das lesões decorrentes da ileíte. Em 2015 foi permitido o uso de uma nova vacina injetável, que permitiu diminuir a colonização pela Lawsonia e a duração da sua excreção fecal, além de reduzir o grau de lesões macroscópicas e microscópicas. Tanto nas vacinas orais, como nas intramusculares, observa-se uma melhora no ganho médio de peso diário. Ocorre também um reflexo na microbiota intestinal dos suínos vacinados por meio da contagem mais alta de Clostridium butiricum. STREPTOCOCCUS SUIS (Gram +) • Esta bactéria pode ser comensal ou patogênica. As formas patogênicas estão associadas a problemas sistêmicos e neurológicos (meningite, artrite, endocardite/epicardite e septicemia) em leitões lactentes e desmamados e em suínos de engorda. Já os comensais normalmente residem no trato respiratório superior, servindo como portadores da bactéria. O S. suis também pode ser um patógeno oportunista em coinfecções com outras bactérias e vírus. Foram caracterizados 208 isolados entre 2014 e 2017, nos EUA, os quais foram sorotipados (35) e sequenciados (MLST), sendo os predominantes, em ordem decrescente: ½, 7, 2 e ST28, ST94, ST1 e ST108, respectivamente. Isolados patogênicos foram obtidos de tecidos sistêmicos em suínos com sinais nº 62/2020 | Suínos&Cia


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clínicos neurológicos ou septicêmicos. Oportunistas em potencial foram isolados do tecido pulmonar de suínos com sinais neurológicos ou doenças sistêmicas. Foram realizados isolamentos a partir da laringe, amígdalas e amostras nasais. A mortalidade no pós-desmame variou de 4% a 20%. • Na última década, os casos de S. suis nas granjas norte-americanas vêm crescendo, chegando a 36% entre 2014 e 2019, com maior destaque para os dois últimos anos. A importância de se desenvolver vacinas com cepas homólogas da própria população é crítica para que tenhamos resultados positivos. Nos EUA não há vacinas comerciais, e as vacinas autógenas estão sendo preparadas. ANTIBIÓTICOS – ALTERNATIVAS LIZ WAGSTROM: o FDA (Administração de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos) regulamenta os medicamentos de uso veterinário, e o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) regulamenta os métodos biológicos e de diagnóstico em medicina veterinária. O cumprimento da legislação sobre o uso de antibióticos é importante para a segurança alimentar e a confiança do consumidor. Em setembro de 2018 o FDA publicou um documento sobre resistência antimicrobiana veterinária para os exercícios fiscais de 2019 a 2023 (https://www.fda.gov/media/115776/ download). Este plano estratégico visa transferir antibióticos para um ou outro grupo – dependendo de sua resistência, duração do uso e uso em diferentes espécies animais – apoiar o desenvolvimento de novos produtos (apêndice A do anexo 152) e apresentar alternativas ao uso de agentes antimicrobianos. Além disso, serão promovidos programas de treinamento e educação em níveis nacional e internacional. O próximo passo será integrar os relatórios do Monitoramento Nacional de Resistência Antimicrobiana (National Antimicrobial Resistance Monitoring ou NARMS, na sigla em inglês), estudos-piloto sobre o uso de antibióticos e a venda deles, propriamente dita. Antibióticos são essenciais para manter a saúde e o bem-estar de pessoas e animais. Usá-los para evitar resistência significa aplicá-los com cuidado e responsabilidade (OMS, FAO e OIE). A interação com o Código Alimentar e o Código de Boas Práticas é importante no nível internacional, e as áreas prioritárias são a profilaxia/prevenção e a classificação nacional das listas de medicamentos de referência. “Em toda a cadeia alimentar é necessário integrar os animais, o terreno e o meio ambiente” (We Care Ethical Principles).

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JARROUD SUTTON: os consumidores e os grupos de ativistas continuam pressionando supermercados e serviços de alimentação para eliminar o uso de antibióticos em seus canais de abastecimento, concentrando-se no desperdício e na resistência a antibióticos em todas as frentes. A comida se move no equilíbrio entre a ciência e as necessidades emocionais dos consumidores. Qual será o próximo passo? As empresas de alimentos devem Suínos&Cia | nº 62/2020

repensar, a curto e a longo prazos, no uso de antibióticos. PETER DAVIES: a resistência aos antibióticos é conhecida desde 1940 em humanos e animais, mas nos últimos 20 anos seu interesse foi agravado. Por 60 anos os antibióticos foram a chave para manter a saúde e o bem-estar dos animais. A resistência antibiótica ao fago 29 da Salmonella typhimurium foi descrita em 1964 em bezerros e pessoas e, em meados da década de 1990, a variante DT104 da referida salmonela emergiu resistindo a cinco antibióticos em diferentes países do mundo, incluindo Dinamarca e EUA, sendo hoje muito raro encontrá-la. Nos últimos anos houve mudanças consideráveis no acesso a antibióticos por fontes não profissionais. A resistência aos antibióticos é um dos pilares da iniciativa global One Health. Tudo começou com o relatório Swann em 1969, na Inglaterra, depois veio a proibição do uso de todos os antibióticos como promotores de crescimento em 1986, na Suécia, seguida pela proibição de 2006 em toda a Europa e a Diretriz 209.213 do regulamento VFD dos EUA, em 2017. Nos EUA, entre 2016 e 2017, o uso de antibióticos foi reduzido em 33%, chegando a um valor 43% menor do que era em 2015, que foi o pico de consumo. O primeiro ano de referência foi 2009, com uma redução de 28% desde aquela época até 2017. As tetraciclinas diminuíram 40% entre 2016 e 2017 (a OTC, 96,6% no mesmo período). Os ionóforos não são importantes em termos de conflito com a medicina humana. A distribuição de medicamentos por espécie, em 2017, nos EUA, era de 42% para bovinos, 36% para suínos, 12% para perus e 5% para frangos de corte. O FDA desenvolveu um projeto, de setembro de 2016 até setembro de 2021, para avaliar o consumo nas diferentes espécies, tanto qualitativa quanto quantitativamente (mg de atividade do antibiótico por kg de peso vivo vendido). A análise mostra o percentual de uso de cada antibiótico e o percentual de uso cumulativo e relativo entre os diferentes sistemas de produção. Os antibióticos também são classificados por sua importância crítica: muito ou pouco importantes em relação à medicina humana. As informações obtidas dos participantes são compartilhadas entre todos, de modo confidencial, obtendo-se um feedback, além de exigir maior integração entre as empresas, incluindo dados de produção de granjas e diferentes sistemas de produção (www.aacting.org). A colistina dificilmente tem sido usada nos EUA em suínos por tratar-se de um antibiótico antigo que causa toxicidade renal em humanos, embora seja usada com frequência na Europa e na China desde 1960. A OMS a utiliza como antibiótico de importância crítica, com resistência múltipla a infecções gram-negativas, não tendo sido relatados, até 2015, mutações cromossômicas e transmissão horizontal em função de seu envolvimento na resistência em Escherichia coli – na China em suínos e aves (gene mcr-1) –, o que, caso acontecesse, proibiria o seu uso em 2016. Ainda com relação à colistina, entre 2015 e 2018 seu uso foi reduzido em 97% na Espanha. A Dinamarca reduziu o uso de antibióticos na suinocultura em 54%, associado a uma redução relativa


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de 22% nos últimos cinco anos na proporção de isolamentos de E. coli resistentes a antibióticos. Em 1º de janeiro de 2017 o FDA publicou a Diretriz 209.213 e a Diretiva de Alimentos para uso Veterinário (VFD), com base na regulamentação do uso de antibióticos na alimentação e na água potável como tratamento terapêutico (tratamento, controle e prevenção de doenças). BAILEY ARRUDA: a microbiota desempenha um papel importante na saúde dos organismos e dos ecossistemas. Pode ser encontrada nos diferentes sistemas dos suínos, como os sistemas digestivo, respiratório e urogenital. O número de bactérias no cólon dos suínos é da ordem de 1010 por grama. A microbiota, nessa espécie, é responsável pela produção de ácidos graxos de cadeia curta, vitaminas, inibição e prevenção da colonização de patógenos, além de participar do desenvolvimento e da manutenção do sistema imunológico, pelo qual tem recebido atenção especial nos últimos anos. Muitos estudos de microbiota gastrintestinal sugerem que há uma interação direta entre diferentes agentes com o hospedeiro, enquanto outros desempenham um papel mais localizado na manutenção do habitat microbiano. Assim, é necessário diferenciar ambos os nichos e seus papéis específicos de interação: microbiologia com imunologia; patologia e nutrição, no sentido de nutrição de precisão por meio de sistemas de radiotraçado-

res; isótopos estáveise inibidores metabólicos, por meio dos quais se conhecem melhor os requisitos nutricionais dessas comunidades microbianas. MICHAEL PIERDON: a pressão comercial sobre os sistemas de produção de proteína animal livre de antibióticos (ABF, na sigla em inglês) continua aumentando e tende a crescer mais no futuro. Existem programas de produção “livres de antibióticos” muito diferentes, que do ponto de vista de marketing impõem requisitos adicionais às instalações, manejo e nutrição, a fim de diferenciá-los no mercado. Foram criados dois tipos diferentes de programa: Commodity ABF e Niche ABF. O Commodity ABF concentra-se na produção de base livre de antibióticos, a fim de produzir alimentos em larga escala a um preço razoável. Neste programa, os suinocultores adotam novas práticas de produção focadas em modificação genética (animais resistentes a doenças específicas) e seleção e nutrição de animais com base na saúde digestiva (probióticos, prebióticos, ácidos graxos de cadeia média, extratos vegetais), além do uso de vacinas para reforçar a imunidade e anti-inflamatórios, anti-helmínticos, antivirais e suplementos nutricionais, que podem ser usados para controlar o aparecimento de certos surtos de doenças. O Niche ABF também adiciona outros requisitos para atrair consumidores com práticas de produção muito diferentes dos padrões, como idade mais avançada no desmame, 45

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limitação de práticas rotineiras, pisos compactos, acesso a materiais de cama e restrições de gaiola no parto. Este produto é voltado para pequenos mercados de consumidores requintados, que não se importam em pagar um preço mais alto por eles e se concentra em pequenas propriedades. Os veterinários continuam a desempenhar um papel importante no auxílio aos produtores desses sistemas por meio da implementação de protocolos de gerenciamento sanitário que protegem a saúde dos suínos sem o uso de antibióticos. HANS COETZEE: todos os anos, nos EUA, mais de 50 milhões de leitões são castrados e têm suas caudas e presas cortadas, procedimentos, esses, que envolvem dor. O FDA não tem nenhum medicamento permitido para aliviar a dor em suínos, embora seja possível o uso de produtos extra label (ELDU, na sigla em inglês), os quais só podem ser usados sob prescrição e supervisão de um veterinário, não podem deixar resíduos e tampouco serem administrados via alimentação animal. Os consumidores se preocupam com o bem-estar animal e, portanto, com o controle da dor, a qual só pode ser controlada por meio do uso de um produto seguro, eficaz, prático e econômico. A patologia da dor surge como consequência de danos nos tecidos, nos nervos e inflamação, associados à hipersensibilidade que se manifesta de duas maneiras: hiperalgesia (resposta exacerbada ao estímulo doloroso) e alodinia (dor resultante do estímulo inofensivo normal). Também está contemplada a importância do tempo de indução – a partir do momento em que o produto é aplicado até o início da sua atividade analgésica –, bem como a sua rota de aplicação, a qual deve ser realizada por pessoal treinado. São mencionados medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) que causam analgesia e efeito anti-inflamatório, reduzindo a síntese de prostaglandinas e inibindo a ação da enzima ciclo-oxigenase no sistema nervoso central. Os anestésicos locais são os mais amplamente utilizados como indutores da anes-

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tesia, bloqueando os canais de sódio das células nervosas e impedindo a geração e a disseminação do impulso nervoso (lidocaína, com efeito em 3 a 5 minutos e duração de até 90 minutos). A flunixina meglumina é um derivado do ácido nicotínico que, como o AINE, é aprovado pelo FDA para uso em suínos, com farmacocinética e farmacodinâmica conhecidas. Os derivados do ácido salicílico (aspirina e salicilato de sódio) foram os primeiros AINEs usados na medicina moderna e também são utilizados como analgésico, antipirético e anti-inflamatório na suinocultura. O meloxicam é outro AINE aprovado na Europa para problemas locomotores não infecciosos e síndrome MMA, administrado a 0,4 mg/kg de PV, por via IM (sua apresentação para uso oral é muito bem absorvida, com alto pico plasmático e meia-vida de cerca de 6 horas). Atualmente, trabalha-se com analgésicos intramamários para porcas para aliviar a dor em leitões e reduzir o manejo (meloxicam a 30 mg/kg PV por via oral, para porcas por vários dias: dose 75 vezes maior do que a aprovada na Europa, o que torna o seu uso antieconômico). O firocoxib – AINE aprovado pelo FDA para o tratamento da osteoartrite em cavalos e cães –, se aplicado em porcas por via IM, em doses que variam entre 0,5 mg e 2 mg/kg PV, sete horas antes da castração de leitões, traz resultados satisfatórios com ausência de toxicidade (a priori, satisfatório na dose de 2 mg/kg PV). JEREMY PITTMAN: os mecanismos de ação dos antibióticos sobre as bactérias são os quatro seguintes: sobre a parede celular (beta lactâmicos, aminopenicilínicos e ceftiofur), sobre a síntese proteica nos ribossomos (ionóforos), sobre a síntese de DNA (aminoglicosídeos, tetraciclinas, macrolídeos, florfenicol, pleuromutilinas-tiamulina) e sobre a síntese do ácido fólico (trimetoprim, sulfamidas) www.KSUantibiotics.org. É importante diferenciar os antbióticos entre bacteriostáticos (interrompem a replicação das bactérias) e bactericidas (causam a morte das bac-


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BEM-ESTAR E MANEJO DE PORCAS

em sua definição (Mellor), nos mecanismos neuroendócrinos (dopamina) e no comportamento biológico (interações leitões-mãe, jogos, acasalamento). Trabalhos de pesquisa demostram que os materiais manipuláveis – para as porcas – motivam seu comportamento de diferentes maneiras: exploração, conforto e termorregulação, dependendo de como esses comportamentos podem ser realizados com eficiência e quais materiais são os melhores motivadores. Essa mesma situação ocorre no caso dos suínos de engorda (correntes, madeiras, cordas de algodão), os quais passam 64% do dia deitados (se eles precisam procurar a comida, ficam 59% do tempo andando e fuçando). Quanto às acomodações, o benefício do fornecimento de um espaço extra – que envolva a criação de dois habitats diferentes – continua em estudo. Considera-se crítica a manutenção das condições de temperatura nas faixas de termoneutralidade em todas as etapas da produção, especialmente nos leitões, tanto do ponto de vista do bem-estar quanto da produção. O conceito de granjas inteligentes ou de precisão é considerado bem-estar positivo, com base no controle preciso das temperaturas, dos consumos de água e ração, da luminosidade e do comportamento dos animais (padrões de agressão, mordidas, movimentos, vocalização de estresse, tosse). O bem-estar na fase reprodutiva vem ganhando interesse nos últimos anos, com base na sobrevivência neonatal (leitões vivos aos 5 dias de idade), crescimento intrauterino, vascularização uterina. A mordida da cauda também está sendo estudada em profundidade, observando-se alguns dos genes de expressão genética cerebral envolvidos no processo. Estereótipos, jogos e comportamentos afiliativos fazem parte de um conjunto de situações que não são bem diferenciadas no bem-estar positivo. O comportamento e o bem-estar dos animais devem ser analisados inter e intragranja de maneira realista e com bases científicas, de modo a evitar os confrontos entre produtores, ativistas e sociedade. O importante é minimizar os estados negativos e aumentar os estados positivos de bem-estar, conhecendo as complexas interações existentes entre o ambiente e os animais, enquanto se auditam os suínos nas próprias granjas para avaliar o bem-estar deles.

MEGHANN PIERDON: o conceito científico de bem-estar animal surgiu com a formação da ComissãoBrambell, em seu primeiro relatório (1965), nos EUA. A concepção de bem-estar animal engloba todas as funções, comportamentos e sentimentos biológicos, em torno dos quais estão a produtividade, a apreciação da sociedade e as características próprias de cada espécie, sendo fundamental a experiência com os animais. A inteligência do suíno está baseada na sua capacidade de saber onde está a comida. Diferentes estudos demonstram que seu comportamento varia de acordo com esse parâmetro (GUY, J.H. - 2002 - Applied Animal Behavior Science). Os recursos preferidos concentram-se na sua capacidade de termorregulação, no acesso a substratos para fuçar e no estabelecimento de comportamentos afiliados. Os estados de bem-estar positivo são determinados com base

DAVID FIKES (Food Industry Association):a indústria de alimentos está progredindo no fornecimento de opções seguras, saudáveis e mais eficientes para o consumidor, com valor agregado para produtores e consumidores. Saúde, bem-estar e sustentabilidade fazem muitas pessoas hesitarem em consumir proteína animal, sendo a transparência o ponto crítico para explicar as bases das relações entre esses três pontos, em todas as direções e amplitude. Hoje, comer carne ainda é a norma, de modo que 81% comem normalmente, 12% são flexitaristas, 4% são vegetarianos e veganos e 3% são consumidores de pescados. 87% das famílias preparam refeições que incluem algum tipo de carne. A indústria animal vem fazendo grandes esforços, há anos, para melhorar o bem-estar animal, reduzindo o impacto ambiental e a sustentabilidade, com uma drástica redução de recursos para pro-

térias). É aceito, via de regra, que não se combine antibióticos com essas duas funções (por exemplo, tetraciclínicas com beta-lactâmicos, tiamulina com ionóforos). Também deve-se considerar as sinergias entre certas moléculas, como lincosamidas com espectinomicina, trimetoprim com sulfamidas, aminoglicosídeos com beta-lactâmicos e tiamulina com clortetraciclina. Conhecer a distribuição dos antibióticos nos diferentes órgãos internos ajuda a escolher os mais indicados para cada processo infeccioso, de tal forma que:  Aminoglicosídeos (gentamicina / neomicina) atuam bem nos rins e nos fluidos extracelulares, sendo pouco absorvidos no trato digestivo;  Beta-lactâmicos (amoxicilina/ampicilina/penicilina) atuam bem no fígado, rins, pulmões e na musculatura. Por sua vez, têm baixo poder de penetração na placenta, no tecido mamário, nas secreções bronquiais e no sistema nervoso central;  Cefalosporinas (ceftiofur) atuam bem nos rins, pulmões, ossos, articulações e tecidos moles;  Cloranfenicois (florfenicol) atuam em todos os tecidos, abscessos e fetos, mas têm baixa perfusão no leite;  Fluorquinolonas (enrofloxacina) atuam bem em todos os tecidos e no nível intracelular;  Lincosamidas (lincomicina) distribuem-se bem por muitos tecidos e fluidos, inclusive os dos pulmões e articulações;  Macrolídeos (tilosina, tulatromicina, tilvalosina, tilmicosina) atuam bem no fígado, rins, pulmões, secreções bronquiais, fluidos peritoniais, pleura e leite;  Pleuromutilinas (tiamulina) têm elevada distribuição nos pulmões e em outros órgãos;  Sulfonamidas distribuem-se bem no trato urinário e todos os tecidos, sem penetrar em áreas com exsudatos;  Tetraciclinas (tetraciclina, oxitetraciclina, clortetraciclina) penetram em todos os tecidos, saliva, fetos e atuam também no nível intracelular.

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duzir mais alimentos como um ponto essencial em sua responsabilidade social. Considera-se crítico o valor da transparência em termos de cuidar dos animais de criação, e explicá-lo à população será importante para toda a cadeia alimentar (produtores, indústrias da carne, grandes lojas, consumidores). Um quarto dos compradores de alimentos são solteiros que fazem 16% das compras on-line, sendo a maioria deles representante da geração do milênio. Para as gerações Z e Y, o bem-estar animal também interessa e querem saber se a comida vem de animais que foram bem tratados. Nos EUA, cresce o interesse na certificação de produtos derivados da carne nos pontos de venda, bem como a conscientização do consumidor sobre o impacto ambiental. 49% dos consumidores acreditam no uso responsável de antibióticos, quase o mesmo porcentual dos dois pontos anteriores. Portanto, acredita-se que o importante seja transferir as boas práticas de produção animal em todos esses aspectos para os consumidores, de maneira transparente e evitando mensagens confusas. GRANJAS INTELIGENTES: a ciência de alta qualidade apoia uma melhor tomada de decisão. Novas tecnologias estão surgindo dentro do conceito de “Pecuária de precisão” (Precision livestock farming, ou PLF, na sigla em inglês), as quais vêm para melhorar a produção e a saúde de nossos animais, sendo necessário resolver previamente problemas estruturais, culturais e econômicos para a sua implementação, cenário esse no qual os veterinários desempenham um papel essencial nas granjas. Alguns exemplos são vídeos remotos para melhorar a biosseguridade (RVA: câmeras, internet e hardware de qualidade), sensores visuais automáticos para detectar alterações nos padrões de comportamento dos animais (alterações na saúde, animais doentes, alterações no consumo de ração e água, sinais de calor), LF RFID (sistemas de identificação de animais por radiofrequência de baixa intensidade), sistemas SOMO + para monitoramento de distúrbios respiratórios, Humatec para seleção de pessoal da granja, plataformas para diagnósticos e tratamentos individuais (www.everypig.com e V-ETIC), controle de temperatura dos alarmes para regulagem em faixas de 1oC, procedimentos de áudio em tempo real para antecipar o esmagamento de leitões recém-nascidos (Swine Tech hardware ECHO), processamento de imagem para pesar os animais (sistema EyeGrow) e sistemas de rastreabilidade geofísica por GPS (FeedTrackur).

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REFUGOS E MORTALIDADE DE PORCAS: a taxa de reposição de reprodutoras nos EUA é superior a 50%, o que significa que 3,2 milhões de porcas são substituídas a cada ano. Desse número, 90% são comercializadas por intermediários, sendo, consequentemente, alojadas em locais distintos das granjas de origem antes de chegar aos abatedouros, com alto risco de disseminação de patologias pelo transporte delas. As porcas percorrem uma distância média de 534 ±363 km, e 66,1% delas chegam ao abatedouro em 3 dias, 24,3% entre 4 e 5 dias e 9,6% com mais de 5 dias, o que equivale a uma média de 3,08 dias (e um máximo de Suínos&Cia | nº 62/2020

40 dias). Não devemos esquecer que muitas delas são reservatórios de patógenos. Aquelas que apresentarem problemas locomotores serão responsáveis por sérias perdas econômicas e de bem-estar. Estima-se, de acordo com diferentes estudos, que mais de 20% das porcas descartadas pertençam a esse grupo (22,9% a 26,2%) devido a causas como osteocondrose, osteoartrite e osterocondrite dissecante – lesões traumáticas que são posteriormente infectadas por bactérias sistêmicas, estando a Trueperella pyogenes entre as mais isoladas (76,9%). Em um estudo realizado com 109.672 porcas, durante 5 anos, em 11 granjas com alta taxa de reposição, 12,5% foram devido a problemas locomotores, 54,5% devido a falhas reprodutivas, 17,3% devido à idade e 3, 9% devido à condição corporal delas. Porcas com problemas locomotores passam menos tempo na granja (219 dias, em comparação com 504 dias das demais), sendo aquelas que estão em grupos dinâmicos menos do que aquelas que são estáticas (192 vs 259 dias). Os dias improdutivos para o parto em porcas com problemas locomotores são mais longos (44 dias vs 24,8 dias) e estima-se que essas porcas tenham uma média de dois partos a menos que a média restante. NUTRIÇÃO PROBIÓTICOS: a incorporação de Saccharomyces cerevisiae fermentada em meio líquido (água), na alimentação de porcas em lactação (15 mL/porca/dia), deu origem a vários estudos nos quais se buscava uma redução do número de leitões natimortos, uma leitegada mais pesada no desmame e uma redução do intervalo desmame-cio, especialmente no verão. O custo da dosagem foi de US$ 3,27/porca/ano, com um retorno ao investimento (ROI) estimado de 9,7:1. EXTRATOS DE ALGAS: as preparações com polissacarídeos de algas verdes (Ulva armoricana) ou vermelhas (Solieria chordalis), in vitro, demons-


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tram sua capacidade de estimular a produção de citocinas envolvidas na ativação e na migração de linfócitos e células dendríticas, envolvidas na modulação da resposta imune, tanto inata como adaptativa, reforçando a barreira intestinal, seja em condições fisiológicas como em processos inflamatórios. ANEMIA: porcas com níveis de hemoglobina abaixo de 10 g/dL apresentam alto risco de gerar leitões natimortos. No meio da gestação, os níveis são mais altos, diminuindo ao mínimo no início da lactação e aumentando um pouco no final para continuar subindo até o primeiro mês de gestação. Os valores são bastante distintos entre granjas diferentes e entre partos distintos, sendo mais baixos na medida em que o número de partos aumenta, como demonstrado na Figura 4 adiante. Foi determinada uma correlação negativa entre o número de natimortos e a concentração de hemoglobina no parto. Especula-se que baixos níveis de hemoglobina afetem as contrações uterinas, durante o trabalho de parto, além de dificultar a transferência de ferro da mãe para o feto por via materno-uteroferrina-transferrina-ferritina. A via nutricional parece ser uma solução para esses problemas de anemia. VITAMINAS: as vitaminas lipossolúveis são nutrientes essenciais para os suínos (A, D3 e E). Existem numerosos trabalhos que apontam para maiores necessidades delas nas porcas atuais, que geram mais leitões. Em aplicações injetáveis nas porcas antes do parto, foi demonstrada uma redução no tempo entre os nascimentos, com uma redução do número de natimortos, especialmente em porcas com mais partos e com prolapso uterino, melhorando o estado oxidativo delas. Os momentos mais críticos da necessidade dessas vitaminas para as porcas são o momento do parto, da inseminação de marrãs e a fase de desmame. A vitamina D é essencial para manter a homeostase do cálcio e fósforo no sistema esquelético. Existem receptores de vitamina D nos enterócitos, miócitos, células da glândula mamária e outras células endócrinas. Estudos epidemiológicos correlacionam os níveis inadequados de vitamina D com o aumento de distúrbios mediados pelo sistema imunológico em humanos. Atualmente, estudos na espécie suína estão em andamento nesse sentido. MINERAIS: a nutrição mineral durante processos infecciosos é complexa. O cobre, por exemplo, desempenha um papel importante em muitas funções metabólicas, processos enzimáticos e funções imunológicas. Assim, as deficiências de cobre podem influenciar negativamente as imunidades inata e adquirida, incluindo a produção de anticorpos, a atividade microbicida dos macrófagos, a atividade citolítica das células assassinas naturais, a função das células T e a expressão de citocinas do sistema imunológico. Foi realizado um teste em 1.312 suínos de engorda infectados pelo vírus da PRRS com três níveis/fontes distintas de cobre: nível basal de 12 ppm de SO4Cu (permitido na UE); 50 ppm de Cu (HMTBa), hidroxianálogo de cobre

quelado em metionina; e 150 ppm de CLCu2OH, cloreto de cobre. Nesse estudo ficou demonstrado que altos níveis de cobre desempenham um papel importante na manutenção da eficiência energética dos suínos durante doenças virais, com menor mortalidade nos dois segundos e melhor retorno do investimento em cobre orgânico, com melhor redução de margem líquida. MICOTOXINAS: os sintomas clássicos que nos levam a pensar em problemas de micotoxinas são a redução do consumo de alimentos, a redução dos parâmetros produtivos e a presença de episódios de vômitos. Os produtores se perguntam qual é o impacto econômico das micotoxinas em condições clínicas e subclínicas, uma vez que,mesmo em níveis baixos, predispõem a patologias entéricas, respiratórias e reprodutivas, além do risco de prolapso pélvico, causando processos inflamatórios, modulando o ambiente gastrointestinal e causando imunossupressão, que afeta a eficácia das vacinas. Os níveis recomendados de intervenção para o uso de aditivos que atenuam seu impacto na produção foram referenciados pelo Dr. E Hendel, Regulamento da EU 2006/576/EC; e Regulamento da EU 2013/165/EU) - Classe de micotoxinas, níveis de intervenção (ppb): Aflatoxinas Alcaloides Fumonisinas Ochratoxina A-Trichothecenos (T-2) B-Trichothecenos (DON) Zearalenona

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> 100 a 200 > 900 > 1000 > 400 a 500 > 250 a 400 > 900 > 250

Foram analisadas amostras de milho e subprodutos para uso em rações (silagem de milho e DDGS) durante o ano de 2019 nos EUA, quando descobriu-se que 96% deles continham pelo menos uma micotoxina (91% em 2017 e 94% em 2018) e 51% tinham duas ou mais micotoxinas (58% em 2018 e 48% em 2017). Este ano, o pool de B-tricothecenos foi o mais prevalente, com 75% e níveis de 1376 ppb; a fumonisina teve uma prevalência de 54%, com níveis médios de 2968 ppb; a nº 62/2020 | Suínos&Cia


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prevalência da zearalenona foi de 42%, com níveis médios de 386 ppb, menor nos dois casos do que no ano anterior. A prevalência das aflatoxinas, em relação aos anos anteriores, é muito baixa, sendo que em todos os casos ela foi maior no milho ensilado e com mais umidade. REPRODUÇÃO ROMOSER, M.R. - ESTRATÉGIAS PARA SELEÇÃO DE FUTURAS REPRODUTORAS: um indicador potencial da produtividade das porcas, ao longo da sua vida, é a idade da puberdade. A atividade folicular é determinada pelo desenvolvimento de folículos terciários, que ocorre cerca de 75 a 115 dias após o nascimento. O efeito masculino é positivo para se atingir a puberdade. Atrasar o contato com os cachaços no período puberal resulta em maior sincronização grupal das porcas. O desenvolvimento folicular e o aumento no tamanho das trompas uterinas e da vulva são variáveis entre as marrãs de reposição, estando positivamente associados à idade do primeiro cio. O peso vivo está positivamente associado ao primeiro cio aos 200 dias de idade, e o peso aos 75 dias e aos 115 dias de idade está correlacionado com a idade do primeiro cio. O peso vivo tem pouca relação com o tamanho da vulva às 15 semanas de idade. Existem variações no desenvolvimento do trato reprodutivo, antes da puberdade, associadas ao seu potencial reprodutivo. Coletivamente, o efeito positivo do tamanho da vulva às 14 semanas de idade está relacionado aos resultados dos dois primeiros partos das porcas e ao primeiro cio aos 200 dias de idade. O peso vivo está pouco correlacionado com o tamanho da vulva às 15 semanas de idade e existem variações no desenvolvimento do trato reprodutivo antes da puberdade, associadas ao seu potencial reprodutivo. Coletivamente, um efeito positivo relacionado ao tamanho da vulva às 14 semanas de idade está correlacionado com os resultados em seus dois primeiros partos.

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GRAY, K. - BASES GENÉTICAS DA EFICIÊNCIA REPRODUTIVA: é importante definir nossas prioridades mantendo um equilíbrio entre economia e variação genética. O aprimoramento genético é um quebra-cabeça multidimensional. Seu último objetivo é gerar valor dentro das múltiplas alternativas oferecidas pelo melhoramento genético, para as quais é necessário projetar protocolos de teste tanto no nível da granja quanto do abatedouro, com base em uma abordagem simples. Tanto a pressão de seleção quanto a herdabilidade dos caracteres devem ser melhorados (proporção de variação – que não é explicada pelo ambiente ou por outras variáveis – nutrição, programas renovados, saúde). Os parâmetros mais herdáveis, por ordem, são comprimento da carcaça, percentual de gordura, nível de gordura lombar, idade na puberdade, taxa de ovulação, taxa de conversão alimentar, ganho médio de peso diário, peso da leitegada ao nascer; intervalo desmame/cio, sobrevivência pré-natal, total de nascidos vivos e os muito pouco herdáveis: número de desmamados, mortalidade na lactação e mortalidade de porcas. Qual a sua Suínos&Cia | nº 62/2020

expectativa para os próximos 25 anos? Reduzir a mortalidade de porcas em 4 pontos. As mudanças nas quais se trabalha, no momento, afetarão os suínos produzidos dentro de 4 a 5 anos. Não menos importante é levar em consideração os antagonismos nas correlações genéticas das linhagens maternas, como os nascimentos totais, a mortalidade na lactação, o número de tetas ao nascer, o número de tetas funcionais no parto, determinando as diferenças esperadas na progênie que nem sempre estão relacionadas ao índice de seleção quando temos diferentes linhas de machos envolvidas nos programas de produção de F1. A taxa de renovação adequada e a intensidade da seleção são críticas para se obter o melhor retorno econômico de nossa genética. Nos EUA, entre 2005 e 2010, o tamanho da leitegada, os nascidos vivos por leitegada e os leitões desmamados por porca por ano aumentaram em 0,24 - 0,22 e 0,44 leitões por ano. KIEGER, Z.E. - PROLAPSO DE ÓRGÃOS PELVIANOS NA TAXA DE MORTALIDADE: a mortalidade de porcas aumentou nos últimos cinco anos nos EUA, principalmente devido aos prolapsos, o que levou o NPP (entidade local que regulamenta a produção nacional de suínos) a criar um projeto para analisar suas causas e as estratégias para o seu controle. Participaram do projeto 104 granjas (385.000 matrizes, em 19 propriedades independentes e 85 grandes empresas), de 15 estados, gerando relatórios semanais de baixas na produção e analisando fatores da granja (manejo, água, alimentação), os quais foram classificados em três grupos de acordo com ograu de implicação: sem relação, evidência moderada e diretamente correlacionado. A mortalidade média foi de 12,7% (4,2% a 23,4%). 2,7% dessa mortalidade ocorreram devido ao prolapso retal (0,3% a 10,3%), com variações significativas entre as propriedades, representando 21% das causas de mortalidade. 39% das mortes foram atribuídas a causas desconhecidas e 29% a problemas locomotores. As causas potenciais atribuídas à raiz do problema não estão associadas, estatisticamente, ao tamanho da granja, aos protocolos de indução e assistência aos partos, ao tamanho das partículas da alimentação (granulometria da ração), tampouco ao comprimento da cauda das porcas. Estratégias de alimentação pré-parto foram identificadas como importantes: porcas com condições corporais precárias no parto têm mais probabilidade de apresentarem prolapsos do que aquelas com condição corporal ideal, e mais ainda do que as porcas com sobrepeso; eo uso de sistemas automatizados de alimentação na fase anterior ao parto reduz a incidência do problema. Outro fator importante envolvido é a água potável, de modo que, nas granjas onde ela é convenientemente higienizada, a incidência de prolapsos é menor, comparativamente àquelas granjas em que a qualidade da água potável não é adequada. Foi realizada uma análise do microbioma vaginal, sendo este muito diverso entre animais e granjas, bem como entre porcas de 1 e 3 partos, sem que fosse encontrada, no momento, correlação entre ele e a incidência de prolapso. O percentual de prolapsos aumentou com a maior profusão da área perianal,


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característica do período final da gestação. Ao analisar os níveis de cortisol e biomarcadores séricos observou-se que os níveis de plaquetas, linfócitos e monócitos das porcas com prolapso são mais baixos, sem que isso afete o fator de necrose tumoral, embora os níveis de hormônios esteroides aumentem. Porcas de terceiro parto são as mais afetadas pelo prolapso. WILLIAMS, T. - INVESTIGAÇÃO DA INFERTILIDADE EM NULÍPARAS: em uma granja nova, de 5.400 matrizes negativas para o vírus da PRRS, Mycoplasma hyopneumoniae e o vírus Flu, episódios de anestros ocorreram abruptamente, com a presença de conjuntivite e meningite por Streptococcus suis nas marrãs, causando uma interrupção no fluxo de animais. Foram analisadas as causas não infecciosas: os níveis de ferro e manganês na água potável estavam muito altos (5,7 ppm e 1519 ppb, respectivamente), a qualidade da alimentação estava correta tanto em termos de nutrientes quanto com relação à ausência de micotoxinas, a condição corporal estava adequada e o sêmen era de boa qualidade, também sem contaminação. Do ponto de vista infeccioso, isolou-se Clamydia suis, Streptococcus suis 1/14 e Streptococcus equisimilis e identificou-se a presença do PCV2 e do PCV3, embora considerando-se que não teriam participado desse problema reprodutivo. Os tratamentos foram feitos com amoxicilina e tetraciclinas, sem a obtenção de resultados positivos aparentes. No estudo do esquema reprodutivo da granja, concluiu-se que as marrãs estavam fisiologicamente maduras e que aparentemente haviam ciclado. Após todos os testes, a causa da ausência de cio em um importante grupo de porcas de reposição não foi descoberta, o que mostra que nem sempre é fácil se determinar a primeira etiologia de um problema. DISTAD, T. - INFERTILIDADE ASSOCIADA AO CIRCOVÍRUS SUÍNO: o envolvimento do PCV2 e do PCV3 em problemas reprodutivos foi demonstrado em uma granja de 2.400 porcas que entrou recentemente em operação, negativa para PRRSv, Mycoplasma hyopneumoniae, vírus da influenza, DEP, coronavírus respiratório e GET. Ocorreram perdas de fertilidade, a taxa de natimortos aumentou e foi detectado também um número maior de mumificados. Tudo começou com o exame de ultrassom, que mostrou alto porcentual de porcas vazias (entre 5% e 20%), resultado esse repetido várias semanas consecutivas. Além disso, aumentou o número de nulíparas (comprovadamente vazias após o exame de imagem) e houve um pequeno aumento porcentual de abortos precoces. Todo o efetivo reprodutivo (nulíparas e porcas em produção) foi imunizado com uma vacina contra o PCV3, antes da cobertura e em todas as fêmeas já em produção, com um intervalo de três semanas entre as duas doses, o que leva a crer que a granja tenha atingido suas metas e seus níveis de produção. AUSEJO, R.: nos últimos dez anos aumentou o número de cachaços jovens com baixa qualidade de sêmen nas centrais de inseminação, os quais seguem prematuramente para o abatedouro. Em

mais de cem deles foi realizado um estudo local, o qual mostrou que 85% foram abatidos devido à baixa qualidade seminal (formas anormais ou baixo volume/concentração) ou por libido ruim, 10% foram abatidos em nome do progresso genético e 5% foram abatidos devido a problemas de aprumo. Em 90% dos casos foram identificadas lesões macroscópicas com considerável grau de fibrose, além de focos inflamatórios, hematomas e hemorragias. As lesões mais comuns foram edema, inflamação, fibrose e varicocele (> 40%), sendo o epidídimo a área onde predomina mais lesões. Devemos sempre lembrar que a espermatocitogênese/espermiogênese e a maturação no epidídimo duram entre 45 e 47 dias. MISCELÂNEA PATÓGENOS BACTERIANOS: nas granjas há várias bactérias endêmicas sistemáticas que causam perda de produtividade, aumento no consumo de antimicrobianos e piora do bem-estar animal, entre elas, o Streptococcus suis, a Glaesserella (Haemophilus) parasuis, o Mycoplasma hyorhinis, o Mycoplasma hyosynoviae, o Actinobacillus suis e o Streptococcus equisimilis. O diagnóstico preciso e as técnicas de sequenciação delas adquirem relevância, de modo a nos auxiliarem na monitoria da presença desses microrganismos nas granjas. A melhoria dos sistemas bioinformáticos reduzirá o seu custo, de modo a podermos contar com essas técnicas para o diagnóstico diário, a fim de analisar o manejo do fluxo de animais (determinar a fonte ideal de leitões ou misturar animais de diferentes origens que sejam compatíveis), evitar problemas de saúde (seleção de vacinas adequadas e identificação de genes de resistência antimicrobiana), bem como preparar programas de sobrevivência frente a esses agentes bacterianos (estudos epidemiológicos para determinar as fontes de contágio, os fatores de risco para essas doenças e suas rotas reais de transmissão). No dia a dia das granjas, o controle dessas patologias envolve conhecer bem a dinâmica da infecção, os movimentos verticais entre mães e leitões nas infecções precoces durante a lactação, bem como a colonização nos dias após o desmame, fatores que determinarão de maneira importante a gravidade do problema na fase de engorda. Os pontos críticos para esse tipo de controle se concentram na origem dos futuros criadores e na sua aclimatação, na estabilização das granjas contra agentes infecciosos virais, como PRRS, PCV e influenza, além do M. hyopneumoniae, junto aos quais as referidas bactérias atuam como agentes de coinfecções, agravando seus quadros clínicos. Não menos importantes são as boas práticas sanitárias em todos os processos de manuseio de animais; os protocolos de limpeza e desinfecção, que permitem reduzir a pressão da infecção, contribuindo para o sucesso dos programas de vacinação (levar em consideração a proteção cruzada apenas com os mesmos sorotipos destas bactérias, sendo, nesses casos, muito importante o adjuvante das vacinas comerciais e autógenas); e as estratégias de sensibilidade aos antibióticos.

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respiratória de suínos saudáveis. De acordo com os polissacarídeos capsulares, são definidos 15 sorogrupos, sendo a cápsula importante como fator de virulência, embora não haja correlação direta disso com a potencial doença. As vacinas protegem muito pouco contra isolados heterólogos. A imunidade capsular é essencial apenas em alguns isolados, enquanto certas proteínas de imunidade podem fornecer menos proteção às cepas encapsuladas. Portanto, é importante o conhecimento preciso da cepa que temos na granja para determinar em que cápsula ou proteína deve se basear a imunidade para que ela seja mais eficaz. ROTAVÍRUS: é o agente de uma das infecções virais mais comuns em leitões, que se apresentam com alta mortalidade, lesões graves no intestino que reduzem o ganho médio de peso diário, penalizando até os dias de saída para o abatedouro, com as consequentes perdas econômicas. A eficácia das vacinas comerciais contra o rotavírus suíno é limitada. Foi avaliado um esquema de exposição natural de fezes frescas a porcas às 4, 3, 2 e 1 semanas antes do parto. A contaminação foi administrada por via oral a partir de uma alíquota de amostras de fezes congeladas, com uma concentração específica de rotavírus A e C. Não foi encontrada diferença significativa entre os tratamentos, mas observou-se melhora na morbidade e na mortalidade dos leitões filhos das mães contaminadas, em comparação a um lote-controle. Isso sugere que a imunidade lactogênica das porcas pode ser manipulada com exposições naturais ao rotavírus, afetando tanto a gravidade clínica como a mortalidade. Não menos importante é considerar a idade em que os leitões são afetados (idade do desmame) e a dose infectante que usamos para a exposição das porcas. Serão necessários mais estudos para saber como estimular a imunidade lactogênica das porcas e descobrir a correlação entre o período de detecção e excreção do vírus.

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SALMONELAS: salmonela entérica, serovares Choleraesuis ou Typhimurium são as causas principais de salmonelose nos EUA, onde há duas vacinas atenuadas comercialmente aprovadas (ArgusTM, do laboratório MSD, e Enterisol TM Salmonella, da Boehringer Ingelheim) que são administradas por via oral a leitões de 2 a 3 semanas de idade. O uso de alimentação com altas doses de zinco (2.000 a 3.000 ppm), atuando como bactericida durante a utilização da vacina, afeta a geração da imunidade intestinal contra a salmonela (em ambas as vacinas), além de ter demonstrado resistência a antimicrobianos cruzados pelo uso nessas doses. GLAESSERELLA PARASUIS (antigo Haemophillus parasuis): bactéria gram-negativa da família Pasteurellaceae e agente causador da doença de Glässer, caracterizada por polisserosite fibrino-purulenta, artrite e meningite, além de ser um complicante para o Complexo Respiratório Suíno, cuja prevalência nos últimos cinco anos aumentou 60% nos EUA. A bactéria coloniza precocemente o trato respiratório superior, como membro da microbiota Suínos&Cia | nº 62/2020

PESTIVÍRUS: o pestivírus atípico suíno (APPV, na sigla em inglês) é detectado esporadicamente nas granjas, associado a quadros clínicos de tremores congênitos em leitões recém-nascidos (tipo A II). Sua epidemiologia e patogenia são pouco conhecidas. O diagnóstico pode ser feito por PCR, por meio de material coletado em fluidos orais e soro sanguíneo. SENECAVÍRUS A (SVA) ou VÍRUS SENECA VALLEY (SVV): vírus RNA responsável por uma doença vesicular nos suínos, difícil de distinguir clinicamente da febre aftosa. Há uma vacina em teste que parece eficaz no controle dos sinais clínicos, em comparação com animais não vacinados, tanto em reprodutores quanto em suínos de engorda. Tambémse observa redução na viremia e na excreção viral nas fezes. A prevalência atual é muito baixa nos EUA, e sua presença é observada nas amígdalas, onde permanece 91 dias após os sinais clínicos. Nos fluidos orais e nas fezes, seu isolamento é menos sensível. O estresse no transporte não parece ser um fator determinante na sua transmissão.


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Perdas econômicas associadas à ileíte Dr. Derald Holtkamp DESTAQUES Com base em um levantamento feito com veterinários da suinocultura, as perdas na produtividade e o aumento dos custos com saúde animal em suínos afetados pela ileíte na terminação foram estimados em US$ 4,65 por suíno comercializado. Com base em resultados de estudos de caso-controle e desafio experimental, o valor das perdas de produtividade causadas pela ileíte na terminação variou de US$ 5,98 a US$ 17,34 por suíno comercializado. O custo da variação do crescimento causado pela ileíte torna mais difícil a alimentação e comercialização dos suínos, o que aumenta o custo da doença. O investimento em intervenções na saúde animal, como vacinas, antimicrobianos, serviços veterinários e diagnósticos, deve ser ponderado em relação ao benefício de reduzir as perdas de produtividade causadas pela ileíte. INTRODUÇÃO

ESTIMATIVAS DE PERDAS ECONÔMICAS

awsonia intracellularis (L. intracellularis) é o agente causador da enteropatia proliferativa suína, ou ileíte, uma doença que afeta suínos em todo o mundo (Lawson et al., 2000). Em suínos em crescimento, lesões, sinais clínicos e perdas de produtividade podem variar de leves a graves. Os sinais clínicos podem incluir diarreia, e as lesões podem variar desde um espessamento da mucosa do intestino delgado e cólon até uma enterite necrosante ou uma enteropatia hemorrágica proliferativa em suínos mais gravemente afetados (Rowland et al., 1975). Os suínos podem ser afetados a qualquer momento durante a fase de crescimento, mas as perdas de produtividade relacionadas à ileíte são mais significativas na terminação, desde aproximadamente 20 kg até o peso de abate (Bane et al., 2001). Os sinais clínicos de suínos afetados por ileíte incluem diarreia e perda de peso. No entanto, os suínos afetados frequentemente crescem mais lentamente e requerem mais alimento por unidade de ganho de peso, mesmo sem diarreia ou perda de peso. Esta forma é, muitas vezes, chamada de doença subclínica, pois as perdas de produtividade não são caracterizadas por sinais clínicos evidentes. A Ileíte é um problema prevalecente em todo o mundo. Com base em uma pesquisa feita em 2012 com produtores nos Estados Unidos, realizada pelo National Animal Health Monitoring System (USDA, APHIS, NAHMS, 2016), a ileíte foi relatada como um problema sanitário em 28,7% das granjas de crescimento e terminação.

Em um estudo de 2006, em uma pesquisa com veterinários para classificar e quantificar a produtividade e as perdas econômicas devido aos grandes desafios de saúde em 19 grandes empresas de produção suína nos EUA, a ileíte foi classificada como um desafio de saúde em 14 das empresas (Holtkamp et al., 2007). No mesmo estudo, o valor das perdas de produtividade e do aumento dos custos com saúde animal em suínos afetados pela ileíte nas terminações foi estimado em US$ 4,65/suíno comercializado, com perdas totais nos EUA estimadas em US$ 56,1 milhões anuais (dados não publicados).

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FONTES DE PERDAS ECONÔMICAS PERDAS DE PRODUÇÃO A principal fonte de perdas econômicas associadas à ileíte surge das perdas de produtividade causadas pela doença. Os suínos afetados pela ileíte crescem mais lentamente e têm uma pior taxa de conversão alimentar. Um crescimento mais lento é medido por uma redução no ganho de peso diário (GPD), e uma conversão menos eficiente da ração em ganho de peso é medida por um aumento na taxa de conversão alimentar (TCA). A doença pode também resultar em um aumento da porcentagem de descartes, e em alguns casos pode causar mortalidade, resultando em um aumento das taxas de descarte e mortalidade. Boas estimativas das perdas de produtividade causadas pela ileíte são difíceis de fazer devido à falta de dados suficientes coletados pelos produtores. nº 62/2020 | Suínos&Cia


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A lacuna de dados mais significativa decorre da dificuldade em classificar grupos de suínos em crescimento como afetados ou não pela ileíte. Estão disponíveis ferramentas de diagnóstico para determinar se os suínos estão infectados pela L. intracellularis, têm anticorpos contra L. intracellularis (isto indica uma infecção anterior) e se a bactéria está associada às lesões. No entanto, os exames diagnósticos aumentam os custos de produção e são realizados com pouca frequência e

raramente de forma rotineira. Quando os diagnósticos são realizados, falta à indústria uma definição amplamente aceita para classificar grupos de suínos como afetados ou não afetados com base nos resultados de diagnósticos laboratoriais. Na prática, a observação de sinais clínicos é menos dispendiosa do que a realização de exames laboratoriais, mas é algo subjetivo, e a falta de sinais clínicos evidentes em casos subclínicos torna impossível confiar nesse parâmetro para classificar os grupos como afetados. No entanto, a falta de bons dados dos produtores, estudos observacionais publicados e estudos de desafio experimental controlados podem fornecer uma base para fazer estimativas aproximadas razoáveis.

Tabela 1. Resumo das perdas de produção dos estudos de caso-controle e desafio experimental

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1. A idade dos suínos era a idade em que era desafiado. A duração do estudo é o tempo durante o qual o GPD e a CA foram medidos após o desafio. 2. B = Baixo, M = Médio, A = Alto. 3. Classificados como rebanhos Negativos (Controle) por sorologia. 4. Classificados como rebanhos Positivos (Casos) por sorologia. Suínos&Cia | nº 62/2020


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GPD REDUZIDO E PIORA NA CA

MORTALIDADE E ABATES

Os estudos publicados fornecem uma base para estimar o impacto da ileíte no GPD e na CA (Tabela 1). Um estudo de caso-controle comparando rebanhos afetados pela ileíte com aqueles não afetados pela doença relatou que o GPD no sistema wean to finish (do desmame ao final da terminação) foi reduzido em 9% e que a CA aumentou em 7% (Fourchon et al., 2000). Os rebanhos foram classificados como positivos ou negativos com base no seu estado serológico. Vários estudos experimentais de desafio, comparando suínos não desafiados (controle negativo) com suínos desafiados (controle positivo) também foram publicados. Todos os estudos resumidos na Tabela 1 incluíram um controle negativo e pelo menos um grupo de suínos desafiados, e nenhum dos estudos incluiu quaisquer grupos de suínos que foram tratados com uma vacina ou antimicrobianos. A idade dos suínos quando desafiados e a dose de desafio variaram em cada estudo. Em geral, o impacto no GPD e CA é maior nos suínos mais jovens e aumenta à medida que a dose de desafio aumenta. No caso dos estudos de desafio experimental em que os suínos tinham menos de 42 dias na época do desafio (Guedes et al., 2003; Paradis et al., 2012; Shurson, 2002a), a redução do GPD variou de 37% para 79%, e a CA aumentou de 37% para 194%. No entanto, os estudos experimentais de desafio em que os suínos tinham 42 dias (6 semanas) ou mais representam melhor o momento das infecções no campo. Em estudos nos quais os suínos tinham 42 dias ou mais na época do desafio (Shurson et al., 2002b; Beckler et al., 2012; Collins et al., 2014a,b), a redução no GPD variou de 3% a 19%. O impacto na CA foi relatado apenas em um dos estudos com suínos mais velhos (Collins et al., 2014a), no qual foi relatado um aumento de 7%.

Nas formas mais graves da doença, a mortalidade também pode ocorrer, especialmente mais tarde na fase de crescimento. No estudo de caso-controle conduzido por Fourchon (Fourchon et al., 2000), a taxa de mortalidade no sistema de produção wean to finish foi de 5,4% em granjas negativas e aumentou para 6,7% em rebanhos positivos (um aumento relativo de 24%). A taxa de descarte também pode aumentar, pois os suínos mais gravemente afetados podem não crescer rápido o suficiente para atingir pesos que são aceitos pelos mercados frigoríficos.

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VALOR ECONÔMICO DAS PERDAS DE PRODUTIVIDADE ESTIMADAS Para estimar o valor das mudanças na produtividade causadas pela ileíte, foi realizada uma análise econômica utilizando um modelo produtivo e econômico. Para o cenário Não afetado pela ileíte, o valor basal para GPD foi de 900 gr/dia, 2,950 para CA e 4,0% para mortalidade. Os limites inferior e superior relativos à redução do GPD foram de 3% e 19%. Devido ao número limitado de estudos que relatam CA, um aumento de 7% foi usado tanto para o cenário de limite inferior quanto para o de limite superior. A taxa de mortalidade para o limite inferior permaneceu inalterada em relação à taxa não afetada de 4,0% e aumentou para 5,0% para o limite superior, um aumento de 25%, com base nos resultados do estudo de Fourchon (Fourchon et al., 2000). Em cada cenário foi utilizado um peso médio inicial de 22 kg e 115 dias de ração. Portanto, à medida que o GPD diminuiu, o peso médio do nº 62/2020 | Suínos&Cia


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Tabela 2. Valor estimado dos GPDs mais fracos, CAs e taxas de mortalidade causadas pela ileíte

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número de animais e ao tempo que eles podem permanecer em cada instalação. Quando a variação no peso dos suínos aumenta devido à doença durante o período de crescimento, torna-se mais difícil alimentar e comercializar os suínos. As dietas serão sobrefortificadas para suínos mais pesados e subfortificadas para suínos mais leves. Dependendo para onde os produtores visam à dieta em cada fase de crescimento, o custo da ração aumentará se as dietas forem sobrefortificadas, e o crescimento e a conversão alimentar sofrerão se as 1. Limite inferior: dietas forem subfortificadas. Na comercializa- O GPD diminuiu de 0,90 para 0,87 kg/dia (-3,0%) ção, a maior variação de peso dos suínos torna - A CA aumentou de 2.950 para 3.157 kg de ração/kg de ganho (+7,0%) mais difícil vender aqueles que se enquadrem - A taxa de mortalidade não se alterou em um grupo de peso ótimo. Os suínos mais pesados podem ser comercializados mais 2. Limite superior: cedo, mas os suínos no extremo mais leve da - O GPD diminuiu de 0,90 para 0,73 kg/dia (-19,0%) distribuição de peso são os que causam mais - A CA aumentou de 2.950 para 3.157 kg de ração/kg de ganho (+7,0%) problemas. Se houver espaço disponível nas instalamercado também diminuiu. Foram utilizados no ções, os suínos mais leves podem ser mantidos modelo um preço de suíno de mercado de US$ em alimentação por um período mais longo. No 1,76/kg e um preço de ração de US$ 190/tonelada. entanto, quando o espaço é limitado, como geralO preço da ração era o médio para todas as mente acontece, os suínos mais leves são comerfases da terminação. Apenas o GPD, a CA e a taxa cializados com pesos inferiores ao ideal, o que de mortalidade mudaram entre cada um dos cenáresulta em uma perda de receita e lucro. rios. Os valores do resto dos parâmetros foram Dependendo se o espaço nas instalações mantidos constantes para os três cenários. Os é próprio ou alugado, segurar o espaço por um resultados da análise econômica são apresentados período mais longo também pode aumentar os custos. na Tabela 2. Os valores dos GPDs, CAs e taxas de morAUMENTO DOS CUSTOS DA SAÚDE ANIMAL talidade mais fracos foram calculados como a mudança no lucro a partir do cenário não afetado O custo das intervenções de saúde anipela Ileítes. O valor da perda de produtividade caumal, tais como vacinas, antimicrobianos, serviços sada pela ileíte oscilou entre US$ 5,98 para o limite veterinários e diagnósticos, não são diretamente inferior e US$ 16,94 para o limite superior. causados pela ileíte, mas ocorrem em resposta à doença. O dinheiro gasto nestas intervenções deve VARIAÇÃO ser ponderado em relação ao benefício de reduzir os impactos da doença descrita acima. Uma anáA principal fonte de perdas econômicas lise de custo-benefício pode fornecer informações associadas à ileíte surge das perdas de produtivivaliosas para ajudar os produtores e veterinários a dade causadas pelos grupos de suínos afetados decidir quais intervenções realizar. pela ileíte. Observa-se a variação de leitão para leitão no ganho de peso diário entre suínos, já que alguns podem ser mais afetados do que outros. As restrições do sistema contribuem para as consequências econômicas associadas à variação. Restrições comuns à maioria dos produtores surgem de recursos fixos limitados, tais como espaço de construção, e restrições impostas pelo manejo, tal como o fluxo de suínos no sistema. O número e o tamanho das instalações colocam um limite ao

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CONCLUSÕES A maior fonte de perdas econômicas associadas à ileíte é decorrente das perdas de produtividade causadas pela doença. Na terminação, na qual as perdas devidas à ileíte são mais significativas, os suínos afetados terão um GPD menor e um aumento da CA, e ocasionalmente um aumento na mortalidade e nas taxas de descarte. Outras


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perdas econômicas resultam da variação de GPD entre suínos, uma vez que alguns suínos podem ser mais afetados do que outros. A variação no crescimento causada pela ileíte torna mais difícil a alimentação e comercialização dos suínos, o que aumenta o custo da doença. Poucas estimativas do custo da ileíte foram publicadas. Em um estudo, baseado em um levantamento feito por veterinários de suínos, o valor das perdas de produtividade e do aumento dos custos com a saúde animal em suínos afetados pela ileíte na terminação foi estimado em US$ 4,65 por suíno comercializado.

É difícil fazer boas estimativas das perdas de produtividade devido à ileíte pela falta da coleta de dados de campo. Por esta falta de coleta de dados de campo, estudos observacionais publicados e estudos experimentais controlados podem fornecer uma base para fazer estimativas razoáveis. Com base nos resultados de um único caso-controle e de vários estudos experimentais de desafio, o valor estimado das perdas de produtividade (GPD, CA e mortalidade) causadas pela ileíte na fase de terminação variou de US$ 5,98 a US$ 17,34 por suíno comercializado.

Referências 1. Lawson G.H., Gebhart C.J. Proliferative enteropathy. 2000. J Comp Pathol, 122 (2–3), pp. 77-100. 2. Rowland, A.C., Lawson, G.H.K., 1975. Porcine intestinal adenomatosis: a possible relationship with necrotic enteritis, regional ileitis and proliferative haemorrhagic enteropathy. Veterinary Record 97, 178–180. 3. Bane, D.P., Neumann, E., Gebhart, C.J., Gardner, I.A., Norby, B., 2001. Porcine proliferative enteropathy: a case-control study in swine herds in the United States. Journal of Swine Health and Production 9, 155–158. 4. United States Department of Agriculture (USDA), Animal Plant Health Inspection Service (APHIS), National Animal Health Monitoring System (NAHMS). 2016. Swine 2012 Part II: Reference of Swine Health and Health Management in the United States, 2012. (https://www.aphis.usda. gov/animal_health/nahms/swine/ downloads/swine2012/Swine2012_dr_ PartII.pdf) (Accessed 6/15/2018) 5. Holtkamp D.J., Rotto, H., Garcia R. 2007. The economic cost of major health challenges in large U.S. swine production systems. In: Proc. 38th American Association of Swine Veterinarians Annual Meeting. Orlando, Florida. March. pp. 85-89.

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Sumários de Pesquisa

Suplementação de luz não afeta o intervalo desmame-estro de fêmeas suínas hiperprolíficas FERREIRA, R.A.1*; LOPES, J.P.N.2; CHAVES, F.J.S.R2; RESENDE, A.C.C3; RESENDE, M.P.4; SOARES, A.R.5 1

Professor do DZO/UFLA-Lavras/MG. Tutor do PET-Zootecnia. * 2 Zootecnistas UFLA 3 Proprietário Mangá Agronegócio, Lagoa Dourada MG 4 Gerente Mangá Agronegócio, Lagoa Dourada MG 5 Gerente técnico de suínos - Trouw Nutrition Premix * rony@ufla.br

Resumo

O

sistema de resfriamento evaporativo adotado para melhorar o conforto térmico das fêmeas suínas pode reduzir a iluminância dos galpões. Não se sabe, até o momento, se as matrizes suínas modernas são afetadas pela falta de luz, tendo como efeito negativo piores índices reprodutivos. Programas de luz já são conhecidos na avicultura, beneficiando desde o consumo de ração até a reprodução. Em suínos, tem-se a referência de no mínimo 40 lux por oito horas e sabe-se dos efeitos positivos dela para os leitões. Objetivou-se avaliar os efeitos do uso de iluminação artificial sobre o intervalo desmame-estro de fêmeas suínas modernas, verificando a viabilidade técnica do uso de suplementação para animais mantidos em galpão climatizado. O experimento foi realizado na Fazenda Mangá Agronegócio, situada no município de Lagoa Dourada, MG, sendo adotados dois tratamentos: o fornecimento ou não de luz artificial para fêmeas suínas mantidas em galpão climatizado. Foram utilizados dados do intervalo desmame-estro (IDE) de 480 fêmeas suínas mantidas 16h em fotofase e 8h em escotofase. Destas, 240 receberam 470 lux por meio de luz artificial e 240 receberam luz natural de 10 lux. As porcas foram estimuladas duas vezes ao dia por reflexo de tolerância a macho. Foi realizado teste F para análise dos dados e não houve diferença significativa.Ambos os tratamentos mantiveram o IDE próximo à média de 3,98± dias. Diante do exposto, conclui-se que não se recomenda luz suplementar para fêmeas suínas recém-desmamadas mantidas em galpão climatizado, mesmo com intensidade luminosa abaixo de 40 lux.

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Palavras-chave: climatização, Iluminância, lux, porcas e suinocultura. Introdução A suinocultura teve grandes avanços nas áreas de nutrição, genética e manejo, o que possibilitou ganhos expressivos em produtividade. Para que os suínos consigam expressar seu potencial genético produtivo, muitas fases da criação estão sendo realizadas em galpões climatizados, com alto grau de fechamento, o que reduz a iluminação interna. Suínos&Cia | nº 62/2020

Embora tenha havido avanços nos sistemas de resfriamento de galpões, o resfriamento evaporativo vem sendo amplamente empregado como alternativa para melhorar o conforto térmico das fêmeas suínas. Este sistema pode se apresentar de duas formas principais: na primeira, o ar resfriado pelas placas evaporativas é direcionado, por meio de tubos, à região cervical das fêmeas, mais usado na maternidade; eno segundo, as placas evaporativas são instaladas nas laterais dos galpões, de modo que o ar externo passe por elas e entre na edificação já resfriado.Este últimoé mais utilizado para a fêmeas gestantes, mas também pode ser adotado na maternidade (Mendes et al. 2020). Com o emprego destas placas evaporativas nas laterais dos galpões, muitas vezes se estendendo por todo o pé direito da edificação, há redução significativa na iluminância interna, reduzindo a quantidade de lux às fêmeas suínas. A iluminação está relacionada às necessidades básicas, como alimentação, água e conforto térmico (Baldwin e Meese, 1979). Os ritmos diários de atividade dos animais são fortemente influenciados e determinados pelas condições de luz ao longo do dia. Embora o ritmo circadiano endógeno tenha influência direta da luz, a literatura disponível sobre os efeitos da iluminação, em suínos, é relativamente incipiente (Aguggini et al., 1992). Em espécies sazonais, a reprodução é regulada por meio da modulação do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal (HHG) pela melatonina. Isso ocorre pela ativação de receptores de melatonina encontrados em diferentes locais, como em neurônios hipotalâmicos liberadores de GnRH, hipófise anterior e gônadas (Vanecek,1998; Roy et al., 2001; Frungieri et al., 2005). Os efeitos da luz já foram evidenciados no desempenho de cordeiros (Forbeset al., 1975; Brinklow e Forbes, 1984), ratos, hamsters (Wurtman, 1975) e de outros mamíferos, como éguas e gatas. Ao estudar o efeito do fotoperíodo sobre a produção de vacas leiteiras, Reksenet al. (1999), observaram que a utilização de iluminação, no período da noite, aumentou a produção de leite e melhorou a fertilidade com a maior exposição diária à luz. Em aves, a manipulação do fotoperíodo é largamente utilizada a fim de se adiantar ou retardar o início da


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postura, melhorar a qualidade da casca do ovo e maximizar a eficiência alimentar (Etches, 1994). Os primeiros achados em mamíferos que relacionam o fotoperíodo como um marcador sazonal foram relatados em 1932, por Baker & Ranson. Eles observaram que muitas funções fisiológicas dos mamíferos apresentavam caráter sazonal. Posteriormente, evidenciou-se que o fotoperíodo tem grande importância em muitas espécies de interesse zootécnico, como os ovinos, que são influenciados em seus aspectos produtivos e reprodutivos. O aumento da luminosidade pode elevar seu ganho de peso (Eisemannet al., 1984), produção de leite (Kann, 1997) e o crescimento da lã (Butler, 1994). Esta sazonalidade ocorre em função das mudanças no perfil de secreção de melatonina advindas de alterações no fotoperíodo. Os ovinos são classificados como animais de fotoperíodo curto, sendo este um potente sincronizador biológico. Os javalis, ancestrais do suíno doméstico dividem o dia em longos períodos de sono profundo e atividades (Gundlach, 1968). Em áreas onde não são perturbados, eles são primariamente ativos durante o dia (Zhang et al., 2007). Porém, javalis e suínos selvagens podem adotar hábitos noturnos em resposta à pressão de caça (Lemel et al., 2003). Ao tratar de fertilidade sazonal, o fotoperíodo é o fator mais importante, pois os javalis são animais de dias curtos, e sua reprodução é estimulada pelo encurtamento do dia no outono, com um período sexualmente inativo na primavera e início do verão (Mauget, 1982). Até certo ponto, espera-se que o suíno doméstico seja influenciado por essa herança (Peltoniemi e Virolainen, 2006) Os estudos sobre a influência da intensidade luminosa em relação ao bem-estar dos suínos são poucos e contraditórios (Aguggini et al., 1992). Van Putten (1980) não conseguiu provar, experimentalmente, que o repertório comportamental dos suínos e, indiretamente, seu bem-estar, sejam afetados pela presença ou ausência de luz. Entretanto, sabe-se que as alterações no ciclo de luz escura afetam a atividade hormonal da glândula pineal, que desempenha um importante papel no controle neuroendócrino do ritmo circadiano e da fisiologia reprodutiva dos animais (Aleandri et al., 1996). Andersson (2001) mostrou que suínos de idade, raça e sexo diferentes apresentaram aumento na concentração de melatonina no período noturno, com elevada amplitude entre os animais, o que sugere uma origem genética dessas diferenças. Nesse mesmo sentido, McGloneet al. (1988) estudaram a influência do fotoperíodo 1L:23E (L=horas de luz; E=horas de escuro) e 16L:8E no consumo, ganho de peso e mortalidade, não encontrando diferenças entre os tratamentos, porém foi verificada redução na taxa de retorno ao cio em porcas durante o fotoperíodo 16L: 8E. Kraeling et al. (1987) avaliaram o efeito do fo-

toperíodo e temperatura na secreção de prolactina em marrãs ovariectomizadas. Cinco marrãs ovariectomizadas foram colocadas em cada uma das duas câmaras a 20°C com 12 horas de luz e 12 horas de escuridão (12L:12E) por oito dias. Os autores verificaram que aumentos simultâneos de temperatura e fotoperíodo aumentaram a resposta da prolactina sérica ao hormônio tireoestimulante. McGlone et al. (1988), realizaram três experimentos para avaliar a produtividade de porcas e leitões sob fotoperíodo estendido. Verificaram que o fotoperíodo prolongado reduziu o intervalo desmame-estro (IDE). Não foram observados benefícios no peso da leitegada ou na sobrevivência pré-desmame ou pós-desmame pelo uso de fotoperíodo prolongado. Os primeiros estudos sobre a influência da luz para suínos realizados no Brasil foram conduzidos por Furlan et.al. (1986a, 1986b), e os autores trabalharam com animais em crescimento e terminação. Outros pesquisadores também estudaram os efeitos da suplementação de luz para suínos na fase de creche (Souza Júnior et al., 2011). A iluminação artificial tem sido usada também em outras fases, como a maternidade, com o objetivo de melhorar a sobrevivência de leitões e seu peso ao desmame (Mabry et al., 1982;1983), mas poucos são os relatos dos efeitos nas fêmeas modernas. Não somente no Brasil há carência de estudos nesta linha com suínos, e muitas indagações e suposições compõem a realidade dos produtores. Este estudo se faz particularmente importante em situações em que as fêmeas suínas são mantidas em galpões climatizados, uma vez que o uso de resfriadores laterais tipo cooling promove escurecimento do galpão. Assim, uma pesquisa foi conduzida para estudar o efeito da intensidade de iluminação sobre o intervalo desmame-estro nas fêmeas suínas alojadas em galpão climatizado.

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Material e métodos O experimento foi conduzido em suinocultura comercial localizada no município de Lagoa Dourada, MG, situado a 20o89’64” de latitude sul e 44o04’52”de longitude oeste, com altitude de 1.080 m, na região do Campo das Vertentes. O clima é Cwb, segundo a classificação de Köeppen, sendo caracterizado como temperado úmido, com inverno seco e verão temperado. Os dados foram coletados em fêmeas suínas recém-desmamadas alojadas em galpão de gestação. O galpão era orientado na direção norte-sul, no eixo de seu comprimento, com telhado em duas águas de telhas de fibrocimento. Para climatização, foram instaladas duas placas evaporativas nas laterais leste e oeste, próximas ao oitão norte do galpão, e os exaustores foram instalados no oitão oposto,na extremidade sul, caracterizando um sistema de resfriamento evaporativo com pressão nº 62/2020 | Suínos&Cia


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Figura 1: Vistas externa e interna de galpão para fêmeas suínas em gestação. Mangá agronegócio negativa. As placas evaporativas ocupavam todo o pé-direito do galpão, (Figura 1) tornando a extremidade norte da edificação com mínima iluminação natural. Foram coletados dados em fêmeas suínas recém-desmamadas mantidas em galpão climatizado, com 10 metros de largura e 100 metros de comprimento,com 470 gaiolas para alojamento de fêmeas em gestação, com as dimensões 2,20 x 0,60 x 1,00m (comprimento, largura, altura), tendo piso suspenso de plástico, equipadas com bebedouro do tipo lâmina d’água e comedouro de fornecimento manual de ração. As gaiolas eram distribuídas em três linhas, sendo 450 destinadas a porcas em gestação e 25 destinadas às porcas recém-desmamadas e aptas à inseminação artificial. Destas 25 gaiolas, foram utilizadas 24 para alojar as fêmeas em coleta de dados, sendo uma gaiola vazia, utilizada como separação dos tratamentos por uma lona plástica adiáfana, ou seja, que não permitia a passagem da luz. Conforme o manejo da granja, as fêmeas suínas recém-desmamadas eram acondicionadas nas gaiolas localizadas na extremidade norte do galpão, posicionadas entre as placas evaporativas, caracterizado como o local com menor iluminância

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Figura 2: Uso de iluminação para fêmeas suínas em gestação. Mangá agronegócio Suínos&Cia | nº 62/2020

natural na edificação em razão das placas evaporativas. Para caracterizar os tratamentos experimentais, semanalmente, 24 fêmeas recém-desmamadas foram alojadas nesta extremidade do galpão e eram acompanhadas até a manifestação do cio. Destas, 12 foram alojadas em gaiolas sem a suplementação de luz artificial (10 lux de intensidade luminosa) e outras 12 em gaiolas com suplementação de luz (470 lux de intensidade luminosa – Figura 2), separadas pela lona plástica adiáfana. Logo após a manifestação do cio, as fêmeas eram transferidas para outras gaiolas e inseminadas. Assim, o estudo dos efeitos do uso de luz artificial sobre o intervalo desmame-cio (IDE) foi realizado com a coleta de dados de IDE semanalmente, durante 20 semanas, totalizando o uso de 480 fêmeas suínas, sendo 240 com luz e 240 sem luz. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com dois tratamentos. No tratamento 1 (sem luz), foramutilizados 10 lux de intensidade luminosa, e no tratamento 2 (com luz), 470 lux de intensidade luminosa, ambos com iluminação artificial de 16 horas por meio de lâmpadas de led de 15Winstaladas acima da cabeça das fêmeas suínas. Completando o período nictemeral, todas as fêmeas receberam escotofase de oito horas.As mensurações da intensidade luminosa foram realizadas com luxímetro digital portátil da marca Minipa,modelo Mlm-101®. Conforme o manejo da propriedade, o desmame das porcas foi realizado em período matutino com a retirada dos leitões e, em seguida, realizando o deslocamento delas às baias individuais no galpão, onde receberam alimentação de 2,5 kg/diade ração em duas refeições ao dia e fornecimento de água à vontade. Todas as fêmeas foram expostas à presença de rufião duas vezes ao dia. A detecção do cio ocorreupor meio do reflexo de tolerância ao homem, com uma pressão exercida no dorso da fêmea avaliada durante as exposições diárias ao macho. Ao final do experimento, os dados foram tabulados e analisados utilizando o teste F, tendo duas variáveis: fêmeas suínas com luz e fêmeas suínas sem luz.


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Resultados Os resultados são apresentados na forma de gráfico (Gráfico 1) e pode-se observar que o fornecimento de luz artificial não foi suficiente (P=0,53) para promover melhora(redução) no intervalo desmame-cio das fêmeas suínas. A reprodução é uma função controlada pelo eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal (HHG), no qual os neurônios hipotalâmicos apresentam secreção pulsátil de fator liberador do hormônio gonadodrópico (GnRH), que estimula a liberação do hormônio folículo estimulante (FSH) edo hormônio luteinizante (LH) pela hipófise anterior. Esta estimulação é modulada pela melatonina, produzida na escotofase pela fêmea suína. Pelos resultados, as fêmeas suínas mostraram não ser influenciadas pela luz na incidência de estro após o desmame.Em um estudo conduzido por Griffithe Minton (1991) com suínos em crescimento e terminação, no qual os autores mantiveram os animais em ambiente com luz (202 lux) ou escuro (7 lux) por 14 dias, foi verificado que não houve alteração significativa nas concentrações de ACTH, cortisol ou melatonina. Evidenciaram ainda que os animais mantidos por 24 horas em qualquer dos tratamentosmantinham o ritmo circadiano de secreção dos hormônios estudado. Estes resultados nos auxiliam a justificar a falta de resposta à suplementação de luz para as porcas recém-desmamadas. Entretanto, outros estudos nos levam a inferir que a recomendação mínima de 40 lux para fêmeas suínas (Dias et al. 2016) pode não ser aquela preferida pelas porcas ou ter influência no IDE, necessitando rever as recomendações para esta fase e para outras fases do sistema produtivo. Nossas sugestões se amparam nos resulta-

Gráfico 1: Valores de intervalo desmame-estro, em dias, de fêmeas suínas recebendo ou não luz suplementar logo após o desmame, mantidas em galpão climatizado dos de Taylor et al. (2006), que, ao avaliarem diferentes intensidades luminosas para suínos (2,4; 4; 40 e 400 lux), verificaram que há certa preferência por determinadas intensidades luminosas em diferentes momentos. Segundo os autores, os animais preferiram descansar em menor intensidade (2,4 lux) de luz e defecar em ambientes mais iluminados (400 lux). Em outro estudo com suínos pesados (dos 111 aos 160kg), os autores verificaram melhor desempenho quando os animais estavam em ambiente com 70 lux por 14 horas, em relação à recomendação atual, de 40 lux por 8 horas (Martelli et al. 2005).

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Conclusão Não se recomenda luz suplementar para fêmeas suínas recém-desmamadas mantidas em galpão climatizado, mesmo com intensidade luminosa abaixo de 40 lux.

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Reportagem

Evolução da empresa KUBUS: Inovação na reprodução suína KUBUS, DA ORIGEM À ATUALIDADE

A

KUBUS é uma empresa localizada em Madri-Espanha, que se dedica a todo tema técnico da reprodução suína. Fundada em 1986 pelo Dr. Santiago Martín Rillo, renomado pesquisador e cientista especializado em reprodução animal assistida, que trabalhou incansavelmente no segmento da reprodução de suínos por meio da ciência, tratando de transferi-la para a prática da suinocultura e dando, assim, uma grande contribuição para o desenvolvimento da inseminação artificial em suínos (IAS) durante as décadas de 80 e 90. O Dr. Santiago Martín Rillo, na qualidade de pesquisador do Instituto Nacional de Investigaciones Agrarias (INIA), de Madri/Espanha, e formado nas principais instituições europeias da época,

como o INRA, na França, entre outras, não desenvolveu apenas a metodologia para implementar a IA no nível das granjas de criação de suínos, mas foi também um formador de técnicos de grande prestígio nesta área, principalmente na América Latina. Com todo esse histórico, a empresa KUBUS, dirigida pelo Dr. Santiago Martín Rillo, deu uma grande contribuição para a implantação dessas técnicas em granjas de suínos, a exemplo do desenvolvimento e implementação da IA no Brasil, onde a KUBUS estabelece uma parceria de grande sucesso com a empresa CONSUITEC, que perdura por mais de 30 anos. Desde a sua fundação, a KUBUS atua no mercado internacional por meio da resolução de um problema global relacionado ao transporte de genética líquida, desenvolvendo o primeiro di-

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Equipe Kubus, setor de GMP e departamento de fabricação de diluentes Suínos&Cia | nº 62/2020


Reportagem

luente de longa duração, altamente protetor para o sêmen suíno, o diluente MR-A®. Devido ao seu impacto no segmento da IA e suas vantagens para a suinocultura mundial, a técnica de inseminação artificial foi padronizada de modo pioneiro em termos globais. Nestes 35 anos, a empresa lançou inúmeros produtos inovadores que facilitam o trabalho de inseminação e reduzem os custos de produção e os erros humanos. Em função do seu perfil de empresa ligada à investigação e ao desenvolvimento de técnicas e produtos para a reprodução assistida, a KUBUS vem se modernizando e colocando à disposição do mercado soluções integrais para todos os processos de IAS, tanto nas Centrais de IA (CIA) como nas granjas. Hoje, a KUBUS é formada por uma equipe multidisciplinar que atende a todos os aspectos da IAS: desde a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos (P&D), setor no qual são desenvolvidas soluções aos novos desafios exigidos pelo mercado; passando pelo laboratório de controle de qualidade (C&Q), onde são realizados controles de qualidade sofisticados de nossos produtos acabados; até o departamento de produção, onde os diluentes são fabricados seguindo os rígidos padrões exigidos pela nossa certificação de Boas Práticas de Produção (GMP, na sigla em inglês); e o setor de engenharia elétrica, onde são gerados softwares e equipamentos para automatização dos processos de produção das doses de sêmen de nossos clientes. Além disso, possui uma equipe técnicacomercial composta de excelentes colaboradores, os quais transmitem inovações aos clientes finais para solucionar os novos desafios exigidos pelo mercado. A companhia considera os usuários finais de seus produtos e serviços como sócios, muito mais do que como clientes, uma vez que o êxito deles é o êxito da KUBUS. Finalmente, e seguindo o exemplo de seu fundador, o Dr. Santiago Martín Rillo, a transferência de novas tecnologias geradas para atender ao mercado continua sendo seu objetivo prioritário. Atualmente, para o mercado brasileiro, a parceria KUBUS-CONSUITEC continua oferecendo aos usuários finais todas as soluções tecnológicas relativas à reprodução de suínos, por meio de seu atendimento técnico-comercial, sua assessoria técnica e seus serviços de treinamento e de laboratório para um controle de qualidade acessível. DILUENTES Desde o lançamento no mercado do primeiro diluente de longa conservação, o MR-A®, a KUBUS continuou a pesquisar constantemente para introduzir inovações na composição de seus diluentes para adaptá-los às necessidades do mercado. Atualmente, a KUBUS oferece uma gama de diluentes adaptados, tanto em termos de composição como em seus formatos, às necessidades atuais das CIA. A gama de diluentes MRA® veio evoluindo até o lançamento, no mercado, do novo MR-

MR-A ® Antiox em envelopes e embalagens A®Antiox, diluente de última geração que foi especialmente projetado para proteger os espermatozoides (spz) dos processos oxidativos e atenuar o efeito de fatores externos, tais como variações de pH e temperatura, preservando, assim, a qualidade do sêmen durante o processamento, transporte e armazenagem. O MR-A® Antiox caracteriza-se por sua qualidade de proteção extralonga para os spz, por sua capacidade antioxidante que neutraliza a ação dos radicais livres (ROS) e por expandir a faixa de temperatura (de 5 °C a 22 °C) na qual se pode armazenar e transportar as doses de sêmen em condições adversas, seja pela distância ou por desvios de temperatura que ocorram durante o transporte. Todas essas qualidades fazem do MRA® Antiox um diluente muito indicado para as características geográficas de um país como o Brasil.

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PROGRAMA DE INSEMINAÇÃO INTELIGENTE O Programa de Inseminação Inteligente é um plano de ação destinado à automação do processo completo das ações realizadas desde a coleta de sêmen do macho na Central de Inseminação até a deposição dele, por inseminação, na porca reprodutora. Este plano abrangente adota a filosofia “Scan & Go”, na qual os processos biológicos e tecnológicos são mesclados, resultando em uma excelente economia de tempo e na rastreabilidade máxima de todas as etapas do processo. Setor de Engenharia Elétrica Onde fabrica-se o equipamento necessário para processar toda a produção do sêmen na CIA, a partir de sistemas de coleta de sêmen “mãos livres” (manequim SPERMATICTM “mãos livres”), processamento de diluente (tanques de diluição, disnº 62/2020 | Suínos&Cia


Reportagem

Fotos das máquinas QS300 e QS1000 tribuidores de diluente), processo de embalagem (máquinas para embalagem no formato blister), sistemas de preservação, transporte, entre outros. Vale ressaltar as máquinas de embalagem do tipo blister automáticas, blister QSBag. As máquinas QS1000, QS300, QSHandy cobrem toda a gama de necessidades das CIA, qualquer que seja o porte delas (grandes CIA independentes/pequenas CIA em granjas). Destacamos a máquina para embalagem blister modelo QS1000 como um equipamento totalmente automatizado, que realiza todo o processo de envase, selagem, corte e etiquetagem. Uma máquina fabricada em um ambiente GMP, com design moderno, fácil de limpar e higienizar, especialmente adequada para grandes CIA que trabalham buscando eficiência.

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Certificação GMP A KUBUS é a única empresa global do setor de produtos para inseminação artificial que elabora seus diluentes para sêmen sob as mais estritas normas de qualidade e garantia, o que exige uma certificação em Boas Normas de Produção (Good Management Practices ou GMP). A certificação GMP da companhia desenvolveu uma nova área de negócios dedicada ao desenvolvimento e fabricação de medicamentos farmacológicos para saúde animal. Entre outros, vale destacar o próximo lançamento de um progestágeno semelhante ao Altrenogest, indicado para a sincronização de cio, com o qual a KUBUS ampliará seu leque de soluções para o manejo reprodutivo nas granjas. A nova unidade de produção está equipada com tecnologia de ponta e com um sistema de controle de qualidade que permite fabricar produtos de última geração, atendendo às necessidades atuais do mercado e às exigências da regulamentação europeia. Departamento de P&D

Fotocomposição do OCSA e um detalhe do BSM Suínos&Cia | nº 62/2020

A KUBUS está desenvolvendo um programa de gerenciamento para CIA, seu próximo lançamento: BSM (Boar Stud Manager). Trata-se de um programa que utiliza um software de gerenciamento abrangente para todos os processos das CIA: coleta, avaliação, processamento, rastreamento até a chegada nas ganjas, etc., o que será extremamente útil para a gestão de um manejo mais eficiente da CIA. A KUBUS também desenvolveu uma versão otimizada do sistema CASA, denominado OCSA (On Cloud Semen Analyzer): com ele, é possível contar com um contraste preciso e objetivo para o cálculo da concentração útil de spz nas doses de sêmen, por meio de inteligência artificial. Por último, a KUBUS vem trabalhando no desenvolvimento de plásticos “sperm friendly”, adequados por não afetarem os spz contidos nos blisters fabricados nas instalações da companhia, na Espanha.


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Reagentes de degradação de enzimas efetivamente removem micotoxinas Desoxinivalenol e Zearalenona de sucos digestivos artificiais de suínos e aves Ko-Hua Tso, Jyh-Cherng Ju, Yang-Kwang Fan and Hsin-I Chiang

A

s micotoxinas (MX) são metabólitos secunZearalenona (ZEA) [6]. Por sua vez, os inativadores dários tóxicos produzidas por vários fungos enzimáticos têm demonstrado ser a melhor opção filamentosos, principalmente Aspergillus, para o controle dessas micotoxinas [10, 11]. Até Fusarium e Penicillium [1]. Ao consumir alimentos hoje, não existe um método analítico simples e contaminados com micotoxinas, os animais sofrem prático que possa avaliar a capacidade de remouma série de efeitos tóxicos, tais como diminuição ção das micotoxinas in vivo, portanto, os métodos do consumo de alimentos, diminuição do ganho de de avaliação padrão são os ensaios in vitro. Apesar peso, diarreia, imunossupressão, vômitos, lesões disso, é importante que as condições do ensaio ulcerativas, etc. [2]. Dentre as principais estratéin vitro sejam estritamente controladas para que gias para controle de micotoxinas, a mais utilizada possam ser bem semelhantes ao modelo in vivo, é o emprego dos aditivos antimicotoxinas no alide maneira que os resultados possam ser replicamento, nas fábricas de rações e nas granjas, para dos [12]. reduzir a concentração das micotoxinas. Outras No presente ensaio, diagramou-se um alternativas são a inativação térmica, irradiação e modelo in vitro semelhante às condições do trato diluição física [3]. gastrointestinal dos suínos (Sus scrofa), replicando Os aditivos antimicotoxinas são, atualos tempos de permanência do alimento em cada mente, a estratégia mais eficaz para diminuir a uma das estruturas anatômicas (estômago e intesconcentração de micotoxinas no animal. Existem tino), os pHs de cada uma das estruturas, a temdois grandes grupos de aditivos antimicotoxinas: peratura, o tempo de permanência, a motilidade os sequestrantes e os inativadores enzimáticos. Os intestinal e a presença de enzimas digestivas prósequestrantes evitam a absorção das micotoxinas prias do animal. por meio do trato gastrointestinal, ligando-se à sua Dessa maneira, foi possível criar um superfície. Eles podem ser inorgânicos (Bentonitas, modelo que mimetiza, satisfatoriamente, in vitro, Aluminossilicatos, etc.) ou orgânicos (Parede de as condições in vivo do animal. As simulações in leveduras) [4,5]. Os inativadores enzimáticos posvitro foram realizadas imergindo o alimento consuem uma atividade biológica que permite alterar taminado com micotoxinas em suco gástrico artifia estrutura química das MX e transformá-la em cial (SGA) a um pH de 2,5 por 5 horas, ou em suco metabólitos, com efeito tóxico menor ou nulo. intestinal artificial (SAI) em pH de 6,5 por 2 horas, Normalmente, eles podem ser uma bactéria, uma mimetizando as condições do estômago e inteslevedura ou só um extrato enzimático [6]. tino, respectivamente. As MX classificam-se em polares e com menor polaridade, de acordo com sua estrutura química Tabela 1. Aditivos antimicotoxinas, dose recomendada e a [7]. As micotoxinas polares, tais como marca/empresa dos respectivos produtos utilizados a Aflatoxina B1 e a Fumonisina B1, Aditivo Dose são as mais polares das micotoxinas Marca/Empresa Antimicotoxinas (%) e adsorvidas mais facilmente do que as apolares. Por sua vez, o peso moleEDR1 0,05 Detoxa Plus® New/Dr. Bata® cular, a solubilidade, a capacidade de EDR2 0,10 Detoxa Plus® /Dr. Bata dissociação e as cargas iônicas também desempenham um papel essenEDR3 0,10 Micofix Plux®MTV/Biomin cial em sua capacidade de ser adsorEDR4 0,10 Toxi-free®/Liferainbow vidas [8]. A Aflatoxina B1 tem maior EDR5 0,20 MLI®/Henan Yi-Wan Zhong-Yuan taxa de adsorção do que Fumonisina B1; é por isso que Aflatoxina B1 é o Adsorvente 1 0,20 Calibrin-Z®/Amlan principal objetivo dos adsorventes Adsorvente 2 0,20 Minazel Plus®/Patent [9]. A maioria dos adsorventes Fonte: Adaptado de Ko-Hua Tso et al, 2019. EDR: Reagentes de tem demonstrada baixa e/ou nula degradação enzimática. *Produto em fase de desenvolvimento, não está disponível para comercialização. capacidade para adsorver micoto*EDR1 - Detoxa Plus® New/Dr. Bata – Produto em fase de desenvolxinas com menor polaridade, tais vimento, não está disponível para comercialização. como o Desoxinivalenol (DON) e a

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Tabela 2. Recomendações do LAMIC de limites máximos toleráveis de micotoxinas (μg/kg) em alimentos para suínos Suínos

Micotoxinas

Fase de Criação

DON

ZEA

Inicial

200

10

Crescimento

200

50

Terminação

400

25

Matrizes

400

0

Fonte: https://www.lamic.ufsm.br/site/legislacoes/legislacao-brasil

Os aditivos antimicotoxinas avaliados, expostos na Tabela 1, foram selecionados de acordo com sua maior prevalência no mercado, sendo que as doses utilizadas nos testes foram sugeridas pelos fabricantes. O método utilizado para a avaliação foi o HPLC, por ser considerado o mais preciso para a avaliação das micotoxinas. A dose de desafio de DON utilizada no estudo foi de 1.000 ppb, e a dose de desafio de ZEA foi de 500 ppb [13], de acordo com as diretivas da China Hygienic Standard for Feed (GB130782017) e os regulamentos da FDA. Ambas as doses de micotoxinas utilizadas no ensaio ultrapassam os limites máximos toleráveis para a espécie (Tabela 2). Vale lembrar que a prevalência média de DON conforme E-book de Micotoxinas Vetanco (2019) foi de 14% das amostras positivas para esta micotoxina, sendo a concentração média encontrada nas amostras de 500 ppb. Dados do LAMIC (20102020) referentes a aproximadamente 11.500 amostras trazem menores prevalências (5%) e concentrações (95 ppb) desta mesma micotoxina.

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Resultados

No Gráfico 1 pode ser observada a capacidade de inativação ou adsorção de DON em função do tempo ao longo do modelo in vitro do trato gastrointestinal dos suínos. Após a avaliação das 5 primeiras horas em um pH de 2,5 (equivalente ao estômago dos suínos), os percentuais de remoção de DON no nível de 1.000 ppb foram 92%, 79%, 52%, 35% e 56% para EDRs (1 a 5), respectivamente, e 12% e 13% para adsorvente 1 e adsorvente 2, respectivamente. Após 5h de simulação estomacal, todos os EDRs apresentaram maior capacidade de remoção de DON do que os dois adsorventes (p <0,05), e a capacidade de remoção de EDR1 foi maior que todos os outros EDRs (p <0,05), exceto EDR2, do qual não foi observada diferença significativa na capacidade de remoção entre os dois adsorventes. Para as condições simuladas do intestino delgado (pH de 6,5) por 2h, os percentuais de remoção de DON no nível de 1.000 ppb foram 100%, 84%, 83%, 54% e 68% para os EDRs (1 a 5), respectivamente, e 15% e 19% para os adsorventes 1 e 2, respectivamente (Gráfico 1). Na simulação do intestino delgado (após 2h) a um pH de 6,5, todos os EDRs apresentaram maior capacidade de remoção de DON do que os dois adsorventes (p <0,05), e a capacidade de remoção de EDR1 foi maior que todos os outros EDRs (p <0,05). Não houve diferença estatística entre EDR2 e EDR3, ambos melhores que EDR4 e EDR5 (p <0,05). Também não foi encontrada diferença significativa no percentual de remoção entre dois adsorventes (Gráfico 1). Vale lembrar que a prevalência média de ZEA conforme E-book de Micotoxinas Vetanco (2019) foi de 4% das amostras positivas para esta micotoxina, sendo a concentração média encontrada nas amostras de 72 ppb. Dados do LAMIC

Gráfico 1. Percentual de remoção do desoxinivalenol (DON) 1.000 ppb com reagentes de degradação enzimática (linha sólida) e adsorventes (linha pontilhada) em simulações gastrointestinais de suínos

Fonte: Ko-Hua Tso et al., 2019..u: EDR1 a 0,05%; n: EDR2 a 0,1%; : 0,1% de EDR3; ×: EDR4 a 0,1%; □: 0,2% de EDR5; ●: 0,2% adsorvente 1; +: 0,2% e adsorvente2. a, b, c sem os mesmos sobrescritos diferem (p <0,05). SGA: Suco gástrico artificial; SIA: Suco intestinal artificial; DON: Desoxinivalenol; EDR: Reagentes de degradação enzimática. Suínos&Cia | nº 62/2020


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Gráfico 2. Percentual de remoção da Zearalenona (ZEA) 500 ppb com reagentes de degradação enzimática (linha sólida) e adsorventes (linha pontilhada) em simulações gastrointestinais de suínos

Fonte: Ko-Hua Tso et al., 2019.. u: EDR1 a 0,05%; n: EDR2 a 0,1%; : 0,1% de EDR3; ×: EDR4 a 0,1%; □: 0,2% de EDR5; ●: 0,2% adsorvente 1; +: 0,2% de adsorvente2. a, b, c sem os mesmos sobrescritos diferem (p <0,05). SGA: Suco gástrico artificial; SIA: Suco intestinal artificial; ZEA: Zearalenona; EDR: Reagentes de degradação enzimática.

(2010-2020) referentes a aproximadamente 17.000 amostras trazem maiores prevalências (75%) e concentrações menores (20 ppb) desta mesma micotoxina. Após a avaliação das 5 primeiras horas em um pH de 2,5 (equivalente ao estômago dos suínos), os percentuais de remoção de ZEA no nível de 500 ppb foram de 100%, 89%, 50%, 30% e 57% para EDRs (1 a 5) e 0% e 30% para os adsorventes 1 e 2, respectivamente (Gráfico 2). O percentual de remoção de ZEA do EDR1 foi melhor que EDR2, que, por sua vez, foi maior que todos os demais do EDRs e adsorventes (p <0,05). Na simulação do intestino delgado (após 2h) a um pH de 6,5, os percentuais de remoção de ZEA a 500 ppb foram de 100%, 100%, 74%, 65%, e 68% para EDRs (1 a 5), respectivamente, e 0% e 36% para os adsorventes 1 e 2, respectivamente (Gráfico 2). Após 2h de simulação do intestino delgado, apenas o EDR1 e o EDR2 apresentaram 100% de remoção de ZEA (p <0,05). Discussão Foi possível observar como Detoxa Plus® e Detoxa Plus® New (produto em fase de desenvolvimento, não disponível para a venda) possuem uma capacidade de remoção significativamente superior aos outros inativadores enzimáticos e aos sequestrantes. Na diminuição do pH, devido à passagem da solução pelo estômago, ocorre aumento ainda maior da capacidade de remoção do Detoxa Plus® e do Detoxa Plus® New frente aos outros inativadores. Essa capacidade de eliminação das micotoxinas nos primeiros segmentos do trato

gastrointestinal é específica do Detoxa Plus®, uma vez que, diferentemente dos demais produtos avaliados, as enzimas presentes neste produto possuem seu grau máximo de atividade enzimática em pH ácido, como pode ser observado no Gráfico 3. Quando da chegada da solução nos intestinos, provoca um aumento do pH (de 2,5 a 6,5). Desta forma, é perceptível que o processo de biotransformação do Detoxa Plus®mantém-se, e se nota aumento na capacidade dos demais inativadores. Essa variação ocorre porque as enzimas dos outros produtos avaliados possuem seu grau máximo de atividade em um pH perto da neutralidade. Por sua vez, a atividade dos sequestrantes não varia, demonstrando que a capacidade de adsorção deles não foi influenciada pelo pH. Durante a passagem total da solução pelo modelo animal (7,5 horas), foi possível obter uma capacidade de remoção total (100%) de DON com e Detoxa Plus® New e uma remoção de 84% com Detoxa Plus®, enquanto os outros inativadores enzimáticos tiveram uma ação de 83% (EDR3), 54% (EDR4) e 68% (EDR5). Por sua vez, os adsorventes tiveram a capacidade de eliminação de DON de 15% para adsorvente 1 e de 9% para adsorvente 2. Por último, na passagem total da solução pelo modelo animal (7,5 horas), foi possível obter uma capacidade de remoção total (100%) de ZEA com o Detoxa Plus® New e com o Detoxa Plus®, enquanto os outros inativadores enzimáticos tiveram uma ação de 74% (EDR3), 68% (EDR4) e 65% (EDR5). Por sua vez, os adsorventes tiveram a capacidade de eliminação de ZEA de 0% para adsorvente 1 e de 36% para adsorvente 2.

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Gráfico 3. Porcentagem de atividade enzimática em pH diferentes do Detoxa Plus®

A diferença de eliminação total de DON entre Detoxa Plus® e dos demais produtos ocorre devido à capacidade de as enzimas do Detoxa Plus® agirem em um pH ácido nos primeiros segmentos do trato gastrointestinal, o que permite maior tempo de ação total. Os outros produtos aumentam sua velocidade de ação na chegada ao intestino; porém, para esse momento, o alimento permanece pouco tempo no interior do intestino e, ademais disso, uma vez nesta porção, já é iniciada a absorção das micotoxinas. Referências bibliográficas

1. Pierron, A.; Alassane-

Kpembi, I.; Oswald, I.P. Impactoftwomycotoxinsdeoxynivalenol and fumonisinonpig intestinal health. Porc. Health Manag. 2016, 2, 21.

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2. W ang, S.; Yang, J.; Zhang, B. etal. Deoxynivalenol impairsporcine intestinal host defensepeptideexpression in weanedpiglets and IPEC-J2 Cells. Toxins 2018, 10, 541. 3. H e, J.; Zhoua, T.; Christopher, Y.J. et al., Chemical and biological transformations for detoxification of trichothecene mycotoxins in human and animal foodchains: A review. TrendsFoodSci. Technol. 2010, 21, 67–76. 4. N edeljkovic-Trailovic, J.; Trailovic, S.; Resanovic, R. et al.,Comparative investigation of the eficacy of three diferent adsorbents against OTAinduced toxicity in broiler chickens. Toxins 2015, 7, 1174–1191. 5. Saminathan, M.; Selamat, J.; AbbasiPirouz, A. et al., Effectsof Nano-composite adsorbent son the growth performance, serumbiochemistry, and organ weight sofbroilersfedwithaflatoxin contaminatedf eed. Toxins 2018, 10, 345. 6. Kabak, B.; Dobson, A.D.; Var, I.Strategies to prevent mycotoxin contamination of food and animal Suínos&Cia | nº 62/2020

Conclusão Os inativadores enzimáticos são uma opção viável para a eliminação das micotoxinas Desoxinivalenol e Zearalenona no modelo in vitro e, dentre eles, Detoxa Plus® e Detoxa Plus® Newapresentaram maior capacidade de eliminação dentre os produtos testados, sendo que para a micotoxina Zearalenona, ambos tiveram 100% de efetividade na remoção dela ao longo do trato gastrointestinal dos suínos. feed: A review. Crit. Rev. FoodSci. Nutr. 2006, 46, 593–619. 7. Wang, G.; Lian, C.; Xi, Y. et al.,Evaluation of nonionic surfactant modified montmorillonite as mycotoxinsadsorbent for aflatoxin B1 and zearalenone. J. Colloid Interface Sci. 2018, 518, 48–56. 8. Huwig, A.; Freimund, S.; Kappeli, O. et al., Mycotoxindetoxicationof animal feedbydifferentadsorbents. ToxicolLett. 2001, 122, 179–188. 9. Phillips, T.D.; Kubena, L.F.; Harvey, R.B. et al.,Hydrated sodium calcium alumino silicate: A high amitysorbent for aflatoxin.Poult. Sci. 1988, 67, 243–247. 10. Karlovsky, P.; Suman, M.; Berthiller, F. et al., Impact of food processing and detoxification treatmentson mycotoxin contamination. Mycotoxin Res. 2016, 32, 179–205. 11. Tan, H.; Hu, Y.; He, J. et al. Zearalenone degradation by two Pseudomonasstrains from soil. Mycotoxin Res. 2014, 30, 191–196. 12. Hahn, I.; Kunz-Vekiru, E.; Twaruzek, M. et al., Aerobic and anaerobic in vitro testing of feed additives claiming todetoxifydeoxy nivalenol and zearalenone. FoodAddit. Contam. Part A 2015, 32, 922–933. 13. Park, D.L.; Troxell, T.C. US Perspective on mycotoxin regulatory issues. Adv. Exp. Med. Biol. 2002, 504, 277–285.


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DUROC DANBRED: Nova característica melhora a sobrevivência de leitões A característica "fertilidade do macho", um dos objetivos do melhoramento do Duroc, foi alterada para "fertilidade e sobrevivência". De acordo com simulações da área de Pesquisa e Desenvolvimento da DanBred, o Centro Dinamarquês de Pesquisa em Suínos, essa mudança levará a uma melhor sobrevivência dos leitões ainda neste ano

Q

uando os leitões sobrevivem aos primeiros cinco dias pós-parto, as chances de eles chegarem até o abate aumentam significativamente. Isso foi comprovado por todos os estudos realizados pela área de Pesquisa e Desenvolvimento da DanBred, com base em dados de plantéis de granjas-núcleo e multiplicadoras. A característica LV-5 (leitões vivos ao quinto dia) foi, há muito tempo, incorporada como um dos objetivos do melhoramento das linhagens Large-White e Landrace e, agora, será implementada também no melhoramento do Duroc. "No caso do Duroc, que é a nossa linha de reprodutores terminadores, trabalhamos, nos últimos quatro anos, para melhorar a característica "fertilidade do macho". Essa característica foi incorporada aos objetivos do melhoramento em 2015 visando ao aumento do tamanho da leitegada, dentre outros aspectos, e foi um grande sucesso", afirma a cientista-chefe do Centro Dinamarquês de Pesquisa em Suínos, Birgitte Ask. "O tamanho da leitegada aumentou significativamente, produzindo efeitos quase imediatos na produção comercial. Ao alterarmos essa característica para "fertilidade e sobrevivência", como fizemos agora, estamos focando não apenas no tamanho da leitegada, mas também no aumento da sobrevivência dos leitões", explica a cientista-chefe. Melhoria imediata na sobrevivência dos leitões Essa mudança no objetivo do melhoramento do Duroc promoverá uma maior sobrevivência dos leitões, com reflexos já neste ano, de acordo com as estimativas da área de Pesquisa e Desenvolvimento da DanBred.

"Além do efetivo positivo existente na sobrevivência, alcançado pelo melhoramento com base no LV-5, que faz parte dos objetivos do melhoramento das linhagens maternas da DanBred desde 2004, a inclusão dessa nova característica paterna entre os objetivos do melhoramento do Duroc contribuirá ainda mais para o aumento da sobrevivência dos leitões", explica Birgitte. "Veremos um aumento de 0,05 leitão vivo ao quinto dia por leitegada durante o primeiro ano e, durante o ano seguinte, o número aumentará para 0,10 leitão vivo a mais, e assim por diante", afirma a pesquisadora. Embora a melhoria possa parecer relativamente pequena, é importante levar em consideração o grande número de leitegadas que nasce a cada ano e o fato de que o número de leitões sobreviventes se acumulará ano após ano, resultando em um efeito positivo significativo na sobrevivência dos leitões.

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Reavaliação do peso econômico Com a introdução da nova característica, o peso econômico dos objetivos do melhoramento também foi reavaliado. Como consequência, o peso econômico reflete, agora, o fato de que um leitão vivo a mais ao quinto dia tem mais valor do que se fosse um leitão a mais ao parto. "Os leitões sobreviventes ao quinto dia valem mais dinheiro e, portanto, o peso econômico para "fertilidade e sobrevivência" é maior do que o da característica antiga "fertilidade do macho". Especificamente, o novo valor é de € 1,49 por leitão por leitegada, comparado a € 1,34 da característica anterior", finaliza Birgitte Ask. nº 62/2020 | Suínos&Cia


Dica de Manejo

Inseminação Artificial: controle de qualidade das doses e conservadoras de sêmen em granjas de suínos

A

suinocultura encontra-se sempre em processo de evolução, e a reprodução suína é um dos segmentos mais inovadores. Se nós nos recordarmos, a produção das doses de sêmen iniciou-se em pequenos laboratórios adaptados ou construídos dentro das próprias granjas. Aos poucos, evoluiu para pequenos centros próprios ou terceirizados nas proximidades das granjas. Atualmente, convivemos com uma realidade bem diferente no que se refere à produção de doses seminais, que são produzidas em grandes centros, localizados em áreas isoladas para garantir a

biosseguridade, além do alto controle de qualidade em todas as etapas de produção, para chegar nas granjas com valor agregado e transferência de melhoramento genético. Dessa maneira, o mais indicado é seguir com o controle de qualidade durante o transporte e por todo período de conservação. Com o objetivo de garantir excelência nos resultados reprodutivos, faz-se necessário adotar protocolos de análises e monitoria de controle de qualidade das doses na granja, desde o recebimento até a inseminação artificial. Confira!

Transporte do sêmen: deve ser transportado em veículo próprio, temperatura adequada e motoristas devidamente capacitados, respeitando todos os critérios e cuidados que se exigem durante o transporte de sêmen.

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Na recepção das doses de sêmen, o responsável deverá aferir a temperatura na chegada das doses. • Na recepção, deve-se registrar a temperatura na chegada das doses. • Informar ao centro de inseminação se houver diferenças de temperatura do esperado. A temperatura de chegada das doses deve ser entre 15 ⁰C e 18 ⁰C.

Monitorar as doses durante a rota de transporte com Data Logger. • O centro de IA deve ter um protocolo estabelecido para controle de rotina. • Monitorar todas as doses e cada rota de distribuição de sêmen.

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Dica de Manejo

• Temperaturas abaixo de 14 ⁰C alteram a membrana do espermatozoide. • Acima de 20 ⁰C, os espermatozoides entram em atividade, predispondo ao consumo de reservas, liberação de metabolitos e crescimento bacteriano.

Equipamento necessário para a análise de sêmen na granja. • Microscópio com tela digital. • Placa térmica aquecida. • Pipetas Pasteur. • Lâmina e lamínula.

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Parâmetros a serem analisados Aspecto das doses: motilidade, aglutinação e contaminação Aspectos externos das doses

• Avaliação macroscópica da dose por meio da cor, contaminantes e odor.

Análise de motilidade: movimento das células espermáticas Tipos de movimentos com classificação de 0 a 5: 0 = sem movimento 1 = sem movimento progressivo, girando sobre si mesmo 2 = com movimentos anormais e alguns progressivos 3 = com movimentos progressivos lentos e sinuosos 4 = com movimentos progressivos rápidos 5 = com movimentos progressivos muito rápidos nº 62/2020 | Suínos&Cia


Dica de Manejo

Aglutinação

Contaminação

• Altas temperaturas + açúcares = meio de cultivo bacteriano.

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• Os primeiros sinais de contaminação seminal são o aumento de aglutinação e a perda da capacidade de conservação. Conservadoras A conservadora de sêmen é um dos mais importantes itens para manter a conservação das doses de sêmen.

Controle de temperatura da conservadora de sêmen e o que é necessário: • Manter a temperatura indicada para conservação das doses de sêmen entre 15 ⁰C a 18 ⁰C. • Manter termômetro de máxima e mínima no interior da conservadora para avaliação diária. • Disponibilizar Data Logger para análise frequente do histórico da temperatura da conservadora. Quanto ao procedimento de limpeza: • Manter a conservadora sempre limpa, contendo apenas as doses de sêmen. • Efetuar uma rotina de limpeza nas partes externa e interna da conservadora a cada semana. • Informações: todas as análises deverão ser notificadas, e sempre quando existir um problema, comunicar imediatamente ao centro de inseminação (caderno, ficha de controle ou computador do setor). Autor: MV Dr. Rafael Tomás Pallás Alonso Suínos&Cia | nº 62/2020


Dica de Manejo

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nº 62/2020 | Suínos&Cia


Divirta-se

Encontre as palavras Otohematoma Também conhecida como orelha tipo concha, trata-se de um problema que acomete com mais frequência leitões de maternidade e creche. Porém, pode ser encontrado em suínos de crescimento. O otohematoma decorre do rompimento e hemorragia de vasos da orelha em consequência de traumas provocado pelo próprio animal movimentando fortemente a cabeça. É possível ocorrer em uma ou nas duas orelhas. Inicialmente, a tumefação tem consistência flutuante, mas com o tempo, o conteúdo coagula e a consistência torna-se firme. A lesão localiza-se na pele e tecido subcutâneo. No diagrama ao lado vamos encontrar as possíveis causas que podem produzir este tipo de lesão:

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SARNA BACTÉRIA MANEJO ACIDENTE INSTALAÇÕES

PICADAS DE INSETOS BRIGAS TATUAGEM BRINCO MOSSA

A U F D K S P B E P I C A D A S D E I N S E T O S T P V J U

H H Z S M W K T X L V Q N C N D X N D B L V R G W R J U H Y

Jogo dos 7 erros

Suínos&Cia | nº 62/2020

P R C P A A H V S J B P M V B S Z Y Y V I C E V A F U H G H

Y C G O N Q F C W U N O K B G Z A G F C J X W F Q C N T T B

F E R I E Z S F T N M I J N T A W B S F N F T C S D B G A V

R X B U J W A G Z Y K U H M V Q S V W R B D V D E E G C V G

D Y M Y O X Z K A B I J G K R W E F A D T E V X F X T F C T

C D T T V E C P Q V U U F J F P D T Q F F S H S R É F C X R

S F J R F C B L E T J P D L C O X R Z G C R B Z R I V D S F

Q G K E C R M O T C A K S P E I C D X H X G N I T J T X E C

H H O W D V J A R R P L A I D U F C R T S B A B H G C S R X

N L L Q X T T G Y D S M Q O X Y R X V R U N K R V F F E F D

K P S A S U T R P X K N W Y S T T S Y E G H U I B D R W V E

L H A W A Y V D L Z H Y R U W R G E H W F Y N G N S D A B S

U N Q G A N R X I S M B T R Q E V W G D D J H A J A C Z H Z

N M E E P U G Z J E R G Y T A W B Q F H S U G S M Q X Q Y W

T M I D L M K W N W B V U W Z Q H A R N X M V L I E S X U A

V A P R O I L S Y A W T I R Y A Y Z T K V K C O O S E E J Q

X H G F K N P A B Q R C O Q H S U P V I I I D I L A R Y N W

Z N B U I S O Q V F V R P E J D J L B G K L X U K Z F B M E

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Divirta-se

Teste seus conhecimentos A Epidermite Exudativa, ou Eczema Úmido, é uma doença de pele (dermatite) de origem bacteriana que acomete leitões nas primeiras semanas de vida. Quando presente, causa perdas econômicas por incrementar a mortalidade e comprometer o desempenho dos leitões. Teste seus conhecimentos, assinalando verdadeiro ( V ) ou falso ( F ) às sentenças abaixo sobre as principais causas e controle dessa doença quando presente em um sistema de produção suína. ( ) A Epidermite Exudativa é uma doença de pele que se apresenta em forma de dermatite. Causa engrossamento de pele e dermatite seborreica de forma localizada ou generalizada. ( ) A incidência desta doença ocorre em decorrência de vários fatores associados a condições ambientais, baixa imunidade, deficiência de higiene e manejos, como limpeza e desinfecção. (

) O agente etiológico causador da doença é o Staphylococcus hyicus. Trata-se de uma bactéria cocos gram-positiva, não hemolítica, coagulase negativa, mas DNAase positiva.

(

) Podem-se destacar como fatores predisponentes instalações contaminadas, ambiência (altas temperatura e umidade), agulhas contaminadas, manejos inadequados de corte de dentes e adoções.

(

) O manejo de incentivar e estimular o colostro, curativos com produtos cicatrizantes do umbigo e após o corte de cauda, manter um ambiente limpo, seco e com temperatura adequada, uso individual de agulhas e seringas e evitar excessivas transferências nas primeiras horas de vida são medidas indicadas no controle da doença.

(

) Medidas de higiene e sanitização pouco ajudam no controle da doença.

( ) Antibioticoterapia injetável nos leitões doentes não é o mais indicado como tratamento. Apenas deve-se hidratar os enfermos e medicar a ração. (

) O manejo Tudo Dentro Tudo Fora, com vazio sanitário e mantendo instalações sempre limpas, desinfetadas e secas, faz parte da estratégia do controle da doença. 77

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Teste seus conhecimentos

Encontre as palavras A U F D K S P B E P I C A D A S D E I N S E T O S T P V J U

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Jogo dos 7 erros

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( V ) A Epidermite Exudativa é uma doença de pele que se apresenta em forma de dermatite. Causa engrossamento de pele e dermatite seborreica de forma localizada ou generalizada. ( V ) A incidência desta doença ocorre em decorrência de vários fatores associados a condições ambientais, baixa imunidade, deficiência de higiene e manejos, como limpeza e desinfecção. ( V ) O agente etiológico causador da doença é o Staphylococcus hyicus. Trata-se de uma bactéria cocos gram-positiva, não hemolítica, coagulase negativa, mas DNAase positiva. ( V ) Podem-se destacar como fatores predisponentes instalações contaminadas, ambiência (altas temperatura e umidade), agulhas contaminadas, manejos inadequados de corte de dentes e adoções. ( V ) O manejo de incentivar e estimular o colostro, curativos com produtos cicatrizantes do umbigo e após o corte de cauda, manter um ambiente limpo, seco e com temperatura adequada, uso individual de agulhas e seringas e evitar excessivas transferências nas primeiras horas de vida são medidas indicadas no controle da doença. ( F ) Medidas de higiene e sanitização pouco ajudam no controle da doença. ( F ) Antibioticoterapia injetável nos leitões doentes não é o mais indicado como tratamento. Apenas deve-se hidratar os enfermos e medicar a ração. ( V ) O manejo Tudo Dentro Tudo Fora, com vazio sanitário e mantendo instalações sempre limpas, desinfetadas e secas, faz parte da estratégia do controle da doença.

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