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Revisão Técnica
Resumo da 51ª Reunião Anual da Associação Norte-Americana de Veterinários Especialistas em Suínos (AASV)
7 a 10 de março de 2020 – Atlanta - GA/EUA
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A51ª edição do congresso anual da Associação Norte-Americana de Veterinários Especialistas em Suínos (AASV - 2020) foi realizada na cidade de Atlanta, estado da Georgia/EUA, com a participação de praticamente mil profissionais. Foram organizados 11 seminários durante o final de semana, além dos correspondentes aos estudantes e aos da indústria, seguidos da programação da segunda e da terça-feira com sessões gerais e específicas conjuntas, correspondendo a mais de 300 apresentações. O congresso enfatizou as visões da suinocultura para o futuro, centralizadas na formação-educação-investigação, nos mercados globais, na biosseguridade, no diagnóstico/prevenção/controle de doenças – tanto locais como transfronteiriças –, no uso responsável dos antibióticos para minimizar as resistências e no bem-estar dos animais. A ordem que seguirei para expor os resumos dos conteúdos expostos será a seguinte (com base nos pilares da produção de suínos), agrupada em 15 categorias: • Conhecimento global • Peste suína africana • Biosseguridade • Vírus da PRRS (Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína) • Vírus da diarreia epidêmica suína • Vírus da gripe ou FLU (Influenza) • Vírus PCV (circovírus suíno, tipos 1,2 e 3) • Mycoplasmas spp • Lawsonia intracellularis • Streptococcus suis • Antibióticos • Bem-estar e manejo • Nutrição • Reprodução • Miscelânea
CONHECIMENTO GLOBAL
BRET MARSH – Confiar nas pessoas (Howard Dunne Memorial Lecture- 1913/1974): sou veterinário, não sou do governo e tomo minhas decisões, confio nas pessoas. Devemos prestar – como profissionais – nosso serviço de medicina veterinária e nos esforçar coletivamente para o conhecimento das doenças e para preservar a pecuária em nosso
Antonio Palomo Yagüe
Médico-veterinário PhD em Nutrição de Suínos Diretor da Divisão de Suinocultura Setna Nutricion - INZO antoniopalomo@setna.com
país. Devemos manter uma paixão pelo que fazemos, como sendo a essência da nossa profissão.
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BILL HOLLIS – Escolhendo um caminho para se antecipar, na prática de campo (Alex Hogg Memorial Lecture): em nossa prática de campo, para nos aproximarmos da solução dos problemas sanitários partimos de três pontos: fazemos as coisas do jeito que as vemos; sabemos para aonde estamos indo (produção, sanidade, serviço público, produtos e educação) e aprendemos o que deve ser feito para nos ajudar a melhorar (treinamento). A distância entre os momentos de ouvir e de falar é um ponto importante a ser observado. Em nossa prática diária, as mudanças são constantes, com base em novos conhecimentos científicos, na melhoria da qualidade de nossa prática médica e nos processos que a envolvem. Fazemos as coisas como as vemos com base no treinamento educacional recebido de nossas próprias famílias e escolas. Os veterinários são afortunados – em termos de situação perante a sociedade – devido à nossa posição, ao nível de investimento em conhecimento e às possibilidades de progressão contínua por meio do treinamento (particularmente quando se
tem curiosidade pelos sistemas biológicos). A consolidação da suinocultura continuará no rastro da própria medicina veterinária. Em 1998, haviam 50 grandes empresas suinícolas nos EUA, das quais 15 permaneciam no mercado em 2018. A prática da medicina veterinária privada gera grandes retornos em termos de benefícios devido ao seu valor agregado, adotando ações concisas e um bom plano financeiro. Quanto à questão de para aonde estamos indo, como profissionais, devemos tomar decisões precisas relativas à melhoria da produção, da saúde, da qualidade do produto final, da nossa educação e responsabilidade pela saúde pública. Para melhorar a produtividade devemos tomar ações diretas no gerenciamento da produção, assumir a responsabilidade pelos resultados produtivos (fornecer soluções para os problemas) e colocar em prática o que aprendemos (auditorias, assuntos tributários, gerenciamento de pessoas e equipes). As operações de produção estão em mudança constante e somos obrigados a fazer o melhor para os suínos e para os nossos clientes, ajudando-os a criar os programas mais adequados para o desenvolvimento de suas equipes. O futuro da assistência veterinária é uma questão estratégica, de modo que o diagnóstico e a comunicação direta com os clientes devem ser claros e rápidos para a tomada de decisões adequada. No passado, o trabalho do veterinário era o de "apagar incêndios", mas hoje em dia passou a ser um trabalho de especialistas que entendem bem – tanto do grupo da população de patógenos como dos suínos –, englobando conhecimentos em nutrição, genética, meio ambiente, de modo a poder tomar decisões mais precisas e economicamente interessantes. "Grandes projetos demandam grandes equipes". Para atingir esses objetivos precisamos de mentores, conhecimento constante, objetivos pessoais e trabalhistas bem definidos, regras corporativas, ações conjuntas e separadas. Nosso trabalho, como prestadores de serviço, contempla como investimento futuro a melhoria dos níveis de produção – em estreita relação com as indústrias processadoras de carne e as autoridades regulatórias –, além de promover uma relação mais próxima entre a medicina veterinária, a medicina humana e as autoridades de saúde do governo. A inovação em nossas práticas profissionais nos ajuda a manter as vendas dos produtos, enquanto que a comunicação e a pesquisa impulsionam o suporte técnico. Na prática diária, existem oportunidades de treinamento com excelentes recursos em ciências animais, bem-estar, sustentabilidade, segurança alimentar, saúde pública e sanidade suína. A educação é de grande valor quando investimos em conhecimento de qualidade e o traduzimos adequadamente em um mundo global de oportunidades para os profissionais da área da saúde (Mostre – Faça – Ensine). O que pode nos ajudar a seguir o caminho futuro são as pessoas, os livros e as nossas próprias experiências.
LOCKE KARRIKER – Visões atual e futura da educação na medicina de suínos: a carne suína é a proteína animal mais consumida no mundo, que fornece alimentos para milhões de pessoas, passa pela questão da saúde pública, conserva recursos naturais e intervém no avanço do conhecimento médico. Os veterinários que atuam na suinocultura são reconhecidos como especialistas na aplicação de práticas médicas populacionais. Seu trabalho é complexo, necessita de um plano estratégico em nível nacional, interage com outras profissões e precisa de coordenação e de novas projeções, e os profissionais desse segmento têm, certamente, um futuro promissor. Sua primeira função é a de fornecer alimentos para as pessoas em todo o mundo, reduzindo, assim, a taxa de fome e suas consequências imediatas. O setor suinícola sofreu mudanças importantes nos últimos 30 anos. As consequências da rápida diversificação técnica, necessidades sociais e medidas legislativas estritas deram origem a novas oportunidades e demandas. Foi necessário, então, em primeiro lugar, uma adaptação dos planos de estudo das universidades aos novos programas de criação da atualidade, com professores especializados em áreas das quais a sociedade precisa. Para isso, foi preciso levar em consideração a concentração de recursos e a sua percepção social. Nos EUA existem 33 cursos com 270 créditos para suínos, 12 universidades oferecem cursos específicos para suínos com 31 créditos e outras 19 universidades oferecem cursos mistos de várias espécies, mas com créditos rotativos para suínos. Foi necessária a implantação de um plano estratégico nacional, considerando que 4% dos veterinários se dedicam a suínos, 17% a bovinos, 16% a equinos, 23% a caninos e 23% a felinos. Iowa, Carolina do Norte, Minnesota, Indiana e Illinois são os cinco estados onde estão concentradas as necessidades de veterinários especialistas em suínos. Estima-se que o investimento em um novo currículo seja de US$ 0,01/suíno e porca nas granjas dos EUA para que haja um futuro mais promissor para os estudantes e para todo o setor (o desenvolvimento do capital humano implica em investimento de capital para todos os envolvidos na cadeia de produção).
STEVE MEYER – Uma visão para o futuro dos mercados globais: diferentes países têm aptidões distintas na dependência de suas condições próprias: recursos naturais, história-culturas-tradições, tecnologia, regulamentações governamentais, o que individualiza consideravelmente os mercados internacionais. Apesar disso, os mercados interagem entre si com base nas diferentes áreas de produção e nas necessidades globais, sendo necessário, entretanto, uma negociação entre eles e entre diferentes estados e continentes. Mas a distribuição da população mundial é dinâmica e mudará com o tempo (em 2100, a Ásia estagnará e a África aumentará), ao mesmo tempo em que mais pessoas passarão da pobreza extrema para uma vida melhor, estando prevista uma redução notável da referida pobreza nos próximos anos. Os impedimentos ao comércio são principalmente institucionais, somados a medidas protecionistas (taxas alfandegárias ou outras taxas, segurança nacional real ou fictícia), bem como a medidas incertas, tais quais fatores de risco, políticas governamentais (embargo de grãos em 1980), entre outras razões
diferentes (por exemplo, o valor das moedas que pode tornar o suíno mais caro em comparação com as espécies concorrentes). A confiança e o estado de direito, na regulamentação de cada país, determinam de maneira muito contundente essas regras de mercado. As oportunidades do mercado mundial de suínos, sabemos bem, são diretamente afetadas por problemas de sanidade em outros países: PSA na Ásia implica em crescimento da produção no Brasil (+ 4,5%), na Rússia (+ 2,8%), nos EUA (+ 3,4%), afetando também o mercado da carne oriunda de outras espécies animais, tanto no fluxo entre países quanto em seus preços. A questão de um milhão de dólares é saber quando a China recuperará e restabelecerá seus suprimentos. E a partir de que ponto as tarifas alfandegárias que ela pratica imporão – além do envolvimento do Japão como importador – a capacidade da União Europeia de continuar exportando nas quantidades necessárias. O custo de produção nos EUA mostra-se competitivo, favorecendo até a taxa de câmbio da moeda brasileira. A principal questão é se será possível continuar abastecendo o mercado nessas condições econômicas e assimilar o crescimento da produção com a capacidade de abate correspondente, mantendo a estabilidade dos preços. Devemos sempre continuar pensando no princípio da competitividade. e em 10 países asiáticos, os quais afetaram animais dependentemente do tamanho sido estimada uma perda de 50%
fecciosos com a presença de vírus de baixa, média e alta virulências e com sintomas clínicos altamente variáveis (casos agudos, subagudos e crônicos). As principais causas da disseminação viral foram o movimento de animais infectados, o movimento de carne contaminada pelo vírus, a contaminação de materiais, pessoas, ração, vetores e a falta de medidas de biosseguridade no início do processo. Foram consideradas positivas as medidas de biosseguridade intragranjas, especialmente relativas ao transporte de animais (limpeza e desinfecção rigorosa); ao controle de matérias-primas e ração; ao diagnóstico local com a coleta rápida de amostras pertinentes (sangue e secreções) e às técnicas de diagnóstico por PCR (reação em cadeia da polimerase, na sigla em inglês). Por outro lado, existe um mercado negro paralelo de vacinas – custando entre US$ 5,00 e US$ 20,00 por dose –, cuja utilização pode reduzir a mortalidade em até 50%, mas que não são 100% eficazes. As medidas de higiene, limpeza e desinfecção (com lança-chamas) são preconizadas após o despovoamento da granja, com a manutenção do pessoal isolado no próprio local. Após um diagnóstico positivo, no mesmo dia os animais são sacrificados por eletrocussão, e os negativos são analisados novamente no dia seguinte. A ração utilizada nas granjas positivas é tratada a 85oC por pelo menos três minutos, sendo coletadas amostras em seguida para verificar sua BETSY CHARLES – Reiniciar em positivo: as pesso- negatividade. É importante que as granjas tenham as que acreditam que algo não é bom têm certeza seu próprio laboratório para realizar diagnósticos de que não será bom ou poderá ser até pior. Em preliminares. Quanto ao que não está funcionansituações complexas é necessário manter a esta- do corretamente, foi citado: deficiências nos esbilidade o tempo todo, sendo você mesmo a todo quemas de biosseguridade (conscientização dos momento (resiliência: capacidade de se recuperar funcionários, refeições na própria granja, limpeza ou ajustar-se facilmente a uma mudança ou infor- nas fábricas de ração próprias, transporte local de túnio). Treinar a gratidão incentiva sempre uma animais intragranja/abatedouros), mercados de atitude positiva. carne que não adotam nenhuma medida higiênica, controle deficiente da entrada de sêmen, água PESTE SUÍNA AFRICANA (vírus DNA) de baixa qualidade e uso de vacinas mesmo em JOSEPH YAROS (Pipestone): a PSA (peste suína afri- menos de 100 suínos na China, em 2016, era de cana) foi relatada pela primeira vez na China em 3 41.634.230 – outro problema adicional, associado de agosto de 2018, em suínos domésticos. O con- ao componente humano –, em que as pessoas que sumo de carne suína na China representa 40,4% trabalham nas granjas vivem nelas por três semado consumo mundial, correspondendo a 40 kg/ nas seguidas, pois acredita-se que o vírus estará pessoa/ano (frango: 32,4%; carne bovina: 21,8%; presente no local por um longo tempo e o restante ovelha: 5,3%). Cada 2% das necessidades de im- das pessoas deverá evitar a contaminação. O taportação da China representam 20% da produção manho das granjas está crescendo e as medidas global de carne suína. A Pipestone Serviços Veteri- de biosseguridade têm sido muito mais rigorosas. nários, empresa norte-americana, atua em granjas A China é endêmica em PSC (peste suína clássica), chinesas há 20 anos e nos últimos dois anos tem PSA, doença de Aujeszky e febre aftosa, além de enfrentado situações envolvendo a PSA, o que os conviver com problemas sérios devido ao vírus da habilita a definir quais pontos podem ser trabalha- PRRS. Os produtores locais são foco de atração de dos (os que têm trazido bons resultados e os que grandes investidores sem experiência na produção têm feito pouco efeito). Foram declarados oficial- de suínos, o que, sem dúvida, também influencia a mente 160 casos, em 32 das 33 províncias chinesas evolução da PSA na China e no mundo. de todas as idades e genética, inPSA PSC Febre aftosa da granja (de menos de 500 ca- Contagiosidade Baixa Media Alta beças até 8.000 matrizes), tendo Mortalidade Alta Media Baixa granjas negativas. O número de propriedades com das porcas. Existem muitos casos Tenacidade Alta Baixa Baixa em que foram identificadas coin fecções com outros agentes in Persistente Desaparece pós-vacinação Desaparece espontaneamente
TIM SNIDER: a suinocultura europeia é composta por 27 membros que têm, juntos, 12,6 milhões de matrizes, sendo a Espanha com 20,8% (a primeira), seguida da Alemanha com 17,8%, França com 9,3% e Dinamarca com 8,5%, num total de 148 milhões de suínos. A PSA foi erradicada na Europa nos anos 90, e a partir de 2007 retornou novamente por meio da Georgia. Os fatores responsáveis pelos focos, na Europa, são as pessoas que viajam, os imigrantes que trabalham e circulam entre granjas, a comercialização de produtos e a caça – sendo os javalis e a movimentação de pessoas os dois fatores mais relevantes. Tem havido contágios importantes a longas distâncias – como o da Rússia em 2009 (1.000 km), Bielorrússia em 2013 (500 km), Ucrânia em 2017 (200 km), Bélgica em 2018 (1.275 km) e, mais recentemente, da Polônia em 2019 (300 km). A densidade populacional de suínos nos diferentes países europeus é muito variável, concentrando-se em certas regiões geográficas de cada país. A interação entre suínos, pessoas e javalis é, sem duvida, um ponto a se considerar. Os fatores que influem no controle da ocorrência da PSA são numerosos. O primeiro é uma legislação europeia rigorosa (EC Diretiva 2002/60/EC/5/17) que regula a movimentação de animais domésticos, javalis e o transporte aos abatedouros, determinando uma regionalização em quatro zonas, sendo uma de proteção e outra de sobrevivência. O segundo ponto corresponde ao controle dos javalis, que são o principal foco do problema na Europa. A terceira medida concentra-se em delimitar o tamanho da região infectada (República Checa: 24 km2 – Bélgica: 1.000 km2). O quarto fator concentra-se na delimitação dos focos em áreas próximas às zonas de alta densidade suína (Polônia, Bélgica). Outros fatores críticos relacionados com os anteriores centram-se na cadeia alimentar, na proibição de atividades da caça de javalis, na eliminação/retirada rápida de javalis mortos e na eliminação de javalis em certas áreas delimitadas em diferentes países. Em 2014 foram estabelecidos o controle de movimentos e a regionalização, classificando-se os territórios em quatro regiões (2014/178/EU), o que foi reforçado por SANCO/7112/2015, com base na definição dos territórios por tamanho, divisões administrativas, barreiras naturais e artificiais. Desde abril de 2019 a República Checa se declara negativa por não ter tido nenhum foco de PSA durante os últimos 12 meses.
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CLAYTON JOHNSON: concentra-se nas cinco estratégias de biosseguridade e suas considerações para controlar o vírus da PSA. A situação na Rússia é mantida desde 2007, com um aumento em 2013, 2016 e 2017. O problema na Ásia é ainda mais grave. A contaminação de suínos vivos e seus produtos (frescos, curados e processados) apresenta um alto risco. A poluição de pessoas (visitantes) tem um risco semelhante ao anterior. A contaminação dos veículos de transporte é um componente fundamental (o vírus é sensível à limpeza e à desinfecção). Isso inclui o transporte de animais mortos, que em caso de infecção é um risco crítico. Devemos levar em consideração o transporte de ingredientes para alimentação animal e suas condições de tratamento e armazenamento, as quais podem levar a uma degradação do grau de infecciosidade. Metade do mundo está infectada e a outra metade está lutando para não ser infectada. Para isso, medidas de biosseguridade, diagnóstico precoce e preciso, coordenação de atores e desenvolvimento de uma vacina são as armas utilizadas para evitar suas consequências.
BIOSSEGURIDADE
MEGAN NIEDERWERDER: concentra-se na questão da alimentação após a entrada do vírus da DES (diarreia epidêmica suína), em abril de 2013, e de sua rápida disseminação. Milhões de toneladas de alimentos são transportados por rotas muito diferentes e entre muitos países, daí o seu estudo desenvolvido no sentido de avaliar esse critério de risco na propagação de certos vírus. Foi criado um modelo de análise de sobrevivência para certos vírus no transporte transoceânico de matérias-primas para nutrição animal (transatlântico e transpacífico). O estudo focalizou-se, principalmente, nos vírus da doença de Aujeszky, peste suína clássica e peste suína africana. As análises foram feitas por PCR em farelos de soja convencional e orgânico, óleo de soja, DDGS (destilados solúveis de grãos secos ou distiller’s dried grains with solubles, na sigla em inglês), lisina, colina, vitamina D e ração acabada para cães e gatos. Todos os três vírus foram encontrados na maioria das matérias-primas, no farelo de soja convencional, na colina e na ração para animais de companhia. A transmissão do vírus da PSA via ração é duvidosa, por isso foi realizado um estudo experimental paralelo no qual se infectou a ração de suínos com 7 a 8 semanas de idade – com diferenciação entre rações seca e líquida –, tendo-se observando que a probabilidade de infecção foi maior na apresentação líquida (maior risco em doses menores) e igual quando a dose infectante
foi de 10 para 4. Para atenuar a presença do vírus nos alimentos, três procedimentos foram analisados: tempo de armazenamento, tratamento ultravioleta e tratamento por aditivos. A meia-vida viral no transporte foi variável entre as matérias-primas estudadas, reduzindo-se drasticamente a partir de 15 dias e, principalmente, após 30 dias. Para o desaparecimento total do vírus foram necessários 125 dias para a soja convencional, 156 dias para a soja orgânica e mais de 200 dias para a colina, à temperatura ambiente de armazenamento.
SCOTT DEE: o impacto dos alimentos contaminados pelo vírus da PSA foi estudado na suinocultura e na indústria de ração animal dos EUA (FDA, NPPC). A transparência é essencial para a determinação dessa eventual contaminação. Deve-se, portanto, evitar modelos de análise falhos e conflitos de interesse. Os objetivos do trabalho foram analisar diferentes aditivos procedentes de inúmeras empresas, incorporados na ração, e descobrir seus efeitos tanto na redução da carga viral como indiretamente na produção (parâmetros e mortalidade). A mitigação da contaminação não significa esterilização, mas sim a eliminação dela, medida importante para diminuir o risco de transmissão e o impacto na saúde animal. O projeto foi concluído, mas seus resultados finais estão em processo de preparação pré-publicação. Foram acompanhadas rotas de viagem distintas durante 22 dias, em 18 estados, tendo sido percorridas mais de 6.000 milhas, relativas ao deslocamento desse eventual contaminante pelos EUA. O objetivo será montar um plano nacional, que também inclua o Canadá e o México, além de continuar investigando juntos o problema, a fim de manter o vírus da PSA fora desses três países.
JORDAN GEBHARDT: atenta para a implementação de medidas de biosseguridade alimentar para evitar a contaminação com o vírus da PSA, tanto no alimento em si quanto no meio de transporte e para identificar as áreas críticas nesses processos. A amostragem realizada nas Filipinas começou em agosto de 2019 (2.446 suínos, dos quais 910 foram terminados - ração + matérias-primas), sendo o restante correspondente a caminhões e áreas de produção de ração. Tanto a ração acabada quanto a matéria-prima não foram positivas à contaminação. Houve, sim, contaminação nas cabines dos caminhões, daí a ênfase na extensão das medidas de biosseguridade adotadas nas próprias granjas ao transporte da ração destinada a elas (separação de áreas sujas e áreas limpas), além da desinfecção de caminhões por dentro e por fora.
DERALD HOLTKAMP: a frequência das ondas dos raios ultravioleta, entre 10 nm e 340 nm, age para danificar o ácido nucleico de patógenos, impedindo a sua replicação, sendo o nível ideal = 254 nm (UVC: 200 nm a 280 nm). É utilizado na medicina humana e na indústria alimentícia como antisséptico. Foi realizado um estudo com o vírus Seneca A para descobrir até que ponto ele pode ser desativado, em diferentes superfícies de uma caixa fechada e de uma entrada suplementar em uma sala. Considera-se importante analisar a dose (mJ/ cm2) e a intensidade da irradiação (Mw/cm2). O nível de radiação pode ser determinado com um medidor de UV. Foram avaliadas três superfícies sujeitas ao UV: frascos plásticos de vacinas, sacolas plásticas de polipropileno, sacos plásticos para os pés – limpos e na presença de fezes. A inativação foi mais eficiente nas sacolas plásticas de polipropileno sem a presença de fezes, não havendo atuação em superfícies permeáveis. Outras aplicações a serem estudadas são os seus efeitos em óculos, relógios, telefones e embalagens para alimentos do tipo Tupperware® .
MIKE EISENMENGER: o transporte de animais entre granjas e abatedouros é um ponto crítico de biosseguridade. O objetivo deve ser manter o vírus da PSA fora das propriedades, pois em caso de infecção não haverá vencedores ou perdedores – todos perdemos, alguns mais e outros menos. Nas granjas, o número de entradas e saídas de animais deve ser minimizado, mantendo um fluxo único. O transporte de leitoas da reposição, leitões, porcas velhas e suínos para o abate deve ser revisto, principalmente a coleta de cadáveres. As áreas de espera dos abatedouros são um ponto de convergência de animais de diferentes origens e com diferentes condições de saúde, de modo que caminhões e pessoas que os transportam são expostos a riscos elevados, que devem ser levados em consideração. Os sistemas de limpeza e desinfecção de caminhões são, portanto, um ponto de alta sensibilidade. No futuro, os caminhões deverão ser limpos no local, o que irá requerer infraestrutura envolvendo o pessoal da granja e o motorista do caminhão, o qual, particularmente, deverá cumprir medidas rigorosas (desinfecção/troca de calçados e roupas). Também se considera a necessidade de um trabalho a ser feito no design de interiores dos compartimentos dos caminhões destinados ao transporte de animais.
JEAN PAUL CANO: o transporte no setor de genética é extremamente crítico, devendo concentrar-se apenas em algumas granjas. A PIC transporta 500.000 reprodutoras destinadas à seleção e 17.000 cachaços nos EUA, a cada ano, por meio de sete empresas de transporte especializadas, para 2.100 granjas de reprodução. O sistema BioShield é utilizado como norma de biosseguridade para identificar e mitigar os riscos de introdução e disseminação de agentes infecciosos na população de suínos, com base em três processos: protocolos semiquantitativos de risco, treinamento de equipe e treinamento de equipe e inspeção de processos com base na análise de risco, associado ao fornecimento dos meios para realizá-los. É necessário que haja um contato eficaz entre os indivíduos infectados e os suscetíveis para que a infecção ocorra. As probabilidades de transmissão são medidas pela equação que expressa o grau de contato efetivo, resultante da multiplicação do número de contatos por unidade de tempo e a probabilidade de infecção em cada contato.
alto custo, derivado de seu impacto negativo na produtividade da granja. Na empresa Maschhoffs (um dos maiores produtores privados globais de suínos) prioriza-se o movimento de animais na avaliação de riscos da biosseguridade (45%), com foco em quatro pontos: higiene/saúde, segregação, dedicação e execução da auditoria. No que diz respeito à higiene, é essencial comunicar a expectativa à equipe de transporte com base em procedimentos operacionais padrão (sistema SOP, estabelecido em 2019, relativo ao procedimento de limpeza de caminhões – tanto por fora como, principalmente, por dentro – incluindo a cabine). A segregação baseia-se em um novo sistema de lavagem de caminhões, que separa os que vão para granjas comerciais daqueles que se destinam a granjas de seleção, sendo realizado nas próprias granjas. Para o transporte de animais para o abatedouro utiliza-se um esquema diferenciado. Os planos de auditoria são realizados dentro e fora da granja, revisando os planos de movimentação, estudando os relatórios de cada movimento e avaliando cada incidência trimestral para implementar eventuais melhorias no sistema. “O perfeito não é o mesmo que a realidade”.
CHELSEA RUSTON: os caminhões de transporte de suínos de engorda são a principal fonte de disseminação dos vírus da PRRS (síndrome respiratória e reprodutiva suína) e da DEP (diarreia epidêmica suína) entre as granjas. Os abatedouros recebem animais de diferentes origens e estados sanitários, portanto, o risco de contaminação e disseminação de patologias a partir deles é muito alto. Foi estabelecido um projeto piloto utilizando a técnica do gel azul (Glo Germ), que permite conhecer a contaminação cruzada entre os caminhões e as áreas de carga/descarga deles, reduzindo, assim, a contaminação entre eles, as granjas às quais se destinam e os abatedouros.
PHIL OLSEN: já em 1854, John Snow demonstrou como, em Londres, o surto de cólera era transmitido pela água. Em 1908, os EUA regulamentaram o tratamento da água potável municipal com cloro, reduzindo drasticamente o número de mortes causadas por doenças infecciosas e aumentando, assim, a expectativa de vida. Cerca de 100 tipos de vírus patogênicos são excretados – por pessoas e animais – e passam pelo ambiente para aquíferos (por exemplo, enterovírus e adenovírus). O risco de infecção viral por água contaminada é de 10 a 10.000 vezes maior do que exposições semelhantes a bactérias patogênicas. Muitos vírus podem permanecer por longos períodos de tempo nas águas superficiais (3 anos). A definição de um sistema de biosseguridade para higienizar a água potável, do ponto de vista de sua rentabilidade, dependerá da composição da água, do seu fluxo, da seleção do desinfetante, dos pré-tratamentos necessários, da segurança da ausência de contaminação microbiana, das medidas de automação e segurança. A desinfecção com gases pressurizados não é recomendada na produção animal. Só porque a água está livre de Escherichiacoli e coliformes não significa que esteja livre de vírus. KEVIN HARRIGER (US Customer Border Protection/ Departamento de proteção de fronteiras dos EUA): nosso objetivo é manter fora das fronteiras todas as doenças das quais somos livres. Equipes de especialistas em fronteiras foram aumentadas para supervisionar toda a entrada de animais, alimentos e pessoas. O mesmo está sendo realizado em aeroportos e portos (325 pontos). Os controles são realizados na chegada, durante e após o trânsito posterior a ela. O uso de cães especificamente treinados também é importante nesse tipo de operação. https://www.cbp.gov
PATRICK WEBB (Conselho Nacional de Suinocultura/NPB, na sigla em inglês): a suinocultura norte-americana é vulnerável à introdução de patologias que afetem a saúde e o bem-estar dos animais e que alterem o mercado e o comércio internacional, com suas sérias consequências econômicas para produtores e seus funcionários. A identificação e a resposta rápidas às doenças são consideradas de alta prioridade, o que requer investimentos significativos. Para cuidar desse assunto, doenças dos suínos, a suinocultura organizou um Comitê Nacional, com a missão de fornecer recomendações a organizações oficiais e privadas – com o objetivo principal de coordenar as atividades de resposta da indústria –, protegendo os mercados e o comércio de suínos, carne e produtos derivados deles. Este comitê, formado por pessoas influentes na suinocultura e associado a consultores privados, oficiais e de universidades (NPB, NPPC, AASV e SHIC), também tem a capacidade de detectar rapidamente doenças que possam vir a limitar a atividade.
ERIC JENSEN (Aviagen Group): o grupo Aviagen, presente em 100 países, é líder no mercado global de genética de matrizes para frangos de corte, com uma participação de 60%. Sua habilidade para fornecer e dar suporte a todo esse percentual de mercado de pintos de um dia tem a ver com a sua capacidade de lidar com processos infecciosos, como o ocorrido entre 2014 e 2015, contemplando cepas altamente virulentas do vírus da influenza H5N2, que afetou 211 granjas comerciais em nove estados norte-americanos e envolveu o abate de 7,5 milhões de perus (3% da produção anual) e de 42 milhões de galinhas e frangos (11% da população), com grande impacto econômico e perturbação da logística dos mercados de ovos e produtos derivados da avicultura. O custo da resposta a essa emergência federal foi de US$ 700 milhões, havendo uma perda de US$ 4,2 bilhões devido à falta de exportações. Na ocasião, foi estabelecido um plano de resposta do Estado e um plano de contenção, associado ao recebimento da compensação e da incorporação de indenizações por meio de um seguro suplementar, adotando um sistema de regionalização dentro e entre os estados que representavam 80% da produção avícola nacional. Os parceiros dos mercados internacionais inspecionavam a movimentação dos negócios de frango e seus produtos entre os estados, causando grande impacto na tomada de decisões por regionalização. Os surtos de gripe identificaram
um número não depreciável de práticas inadequadas de biosseguridade, que serviram para auditar as granjas participantes que receberam remunerações e compensações. Os grandes parceiros comerciais eram definidos com base em valores econômicos (Canadá > China > Indonésia > México > Brasil > Tailândia > Filipinas). A Ásia representava mais de 60% das exportações, e a China, sozinha, 20%. Em muitas ocasiões, os certificados sanitários de exportação (EHC) requeriam modificações, como alterações de idioma, inclusão do idioma do estado de origem livre da doença e os resultados negativos dos testes do produto exportado. A Coreia do Sul, na ocasião, não tinha legislação sobre regionalização, passando a adotá-la apenas em 2019, e a China manteve a proibição, presumivelmente por razões políticas. A diferenciação entre animais vivos e produtos de animais contemplada na OIE em seu artigo 10.4.19, esclarece as medidas a serem adotadas, bem como os tratamentos térmicos preconizados para a inativação do vírus. No caso de suínos, isso se reflete no artigo 15.1.14, no que diz respeito à compartimentalização de zonas livres de PSA. A única opção realista para manter a exportação de animais vivos e dos produtos à base de proteína animal é a regionalização ou compartimentação. A regionalização é uma separação geográfica em que a zona franca deve ser clara e efetivamente delimitada por barreiras naturais, artificiais ou legais. A compartimentação é um novo conceito estabelecido em sistemas de biosseguridade que possuem diferentes subpopulações de animais, com diferentes condições de saúde em relação a uma patologia específica. Desde setembro de 2017, a Aviagen foi oficialmente certificada pelo USDA como livre de influenza aviária. Eles iniciaram seu projeto de programa de compartimentação em outubro de 2015. Este programa requer uma recertificação anual, no qual se audita 25% das granjas produtoras. Os auditores são veterinários, funcionários do USDA ou especialistas certificados em aves que receberam programas de treinamento específicos. É importante o desenvolvimento de relacionamentos com os departamentos regionais de saúde estaduais, bem como com os departamentos federais de saúde (serviços veterinários, resposta a emergências e serviços de importação e exportação), além dos parceiros industriais dos importadores, como medidas de apoio a um trabalho a longo prazo.
PETER FERNANDEZ: doenças animais transfronteiriças são aquelas que atravessam fronteiras e trazem efeitos negativos para a produção e a economia. As pragas foram descritas no Egito e na Grécia, assim como Aristóteles as descreveu também em 384 a.C. O acesso à comida é uma necessidade fundamental do ser humano e a sua interrupção pode causar sérios problemas sociais e políticos. Metade dos patógenos humanos são originários de animais (60%) e 80% deles são patógenos multiespécies. Foi a partir de meados do século XIX e durante o século XX que ocorreu o aumento das doenças nas granjas. Algumas das doenças transfronteiriças mais importantes são PSA, PSC, Aujeszky e febre aftosa (oloirobi no idioma Massai – falado no sul do Quênia e no norte da Tanzânia –, que significa resfriado comum altamente contagioso, altamente persistente e que afeta diferentes espécies animais). A globalização da economia significou um aumento na integração do desenvolvimento das economias com menor desenvolvimento econômico, havendo diferenças entre as regiões, o que fez com que a Organização Mundial do Comércio (OMC) criasse novas regras, em termos de problemas sanitários, que afetaram a todos os países – de uma maneira ou de outra –, interconectadas com as regras da OMS e da OIE. O comércio internacional aumentou consideravelmente, assim como o turismo, por meio dos chamados “supervetores” (aviões e navios oceânicos de grande porte), associado ao comércio global de animais exóticos, aos mercados de carne e animais vivos na China e em outros países. O transporte de animais vivos, o desmatamento, a deficiência dos sistemas de produção, as práticas inadequadas de biosseguridade e a maior interação entre animais e pessoas levaram a crises na saúde de ambos. A saúde animal é uma questão da economia global, que desempenha um papel essencial na saúde humana e na segurança alimentar, sendo necessário que as regulamentações do mercado forneçam uma base científica, além de diagnóstico rápido, desenvolvimento de novas vacinas antimicrobianas, programas coordenados de sobrevivência e combinações e sistemas de resposta a emergências nas esferas federal, estadual e local, entre os setores público e privado. Para isso, os programas de treinamento e educação são essenciais para todos. Os fatores de emergência das doenças são complexos e incluem questões sociais, econômicas, culturais e ambientais. “Sempre olhe para o lado positivo da vida.”
SÍNDROME RESPIRATÓRIA E REPRODUTIVA SUÍNA (vírus RNA) ou PRRS
www.cvs.umn.edu/sdec/SwineDiseases/PRRSv/index.htm
• A suinocultura norte-americana sofre com essa doença há três décadas, amargando um impacto econômico anual avaliado em US$ 664 milhões, totalizando US$ 1 bilhão adicionando perdas indiretas. O custo estimado de um quadro agudo, em uma granja de porte médio, é de US$ 255,00/ porca, sendo estimadas perdas da ordem de US$ 74,16/porca em granjas infectadas cronicamente. Foi feita uma estimativa de que, desde 1987, nos EUA, foram perdidos US$ 18 bilhões, o equivalente a 14 meses de toda a produção suinícola, ou US$ 4,67 a US$ 6,00/suíno enviado ao abatedouro nesse período. Em alguns quadros clínicos se descreve mortalidade em leitões desmamados da ordem de até 78%. 93% das cepas de campo locais correspondem ao PRRSv do tipo 2, que, por sua vez, são responsáveis por uma maior mortalidade em suínos de engorda, em comparação com as cepas do tipo 1 europeias. Ainda existem muitas perguntas não respondidas a respeito dessa doença, principalmente com relação ao seu controle e à eliminação do agente. Considera-se essencial a concentração nas medidas de biosseguridade e no treinamento das equipes de trabalho. A empresa Hanor re-
úne 100 mil criadores em sete estados, os quais produzem 1,7 milhão de suínos por ano e onde, desde 2015, enfrentam-se sérios problemas devido à entrada de novas cepas em seu sistema de produção (1-8-4 e 1-7-4). Diante dessa situação, passaram a aumentar as medidas de biosseguridade, o que inclui redução da movimentação de animais dentro e entre as granjas, bem como a movimentação de pessoal; acessos específicos para funcionários e visitas às granjas; salas equipadas com radiação ultravioleta para entrada de materiais; armazenagem de carcaças isoladas específica, com separação de zonas limpa e suja para os trabalhadores que as transportam; eliminação de novos leitões de suas próprias granjas positivas e construção de duas novas unidades para produzir futuros reprodutores negativos; controle das entradas de ar e dos suprimentos da água, considerando a possibilidade de serem fontes de entrada de vírus; análises da viremia em leitões, no nascimento e no desmame, com base em amostras de sangue ou fluidos orais; e atuação em conformidade com os processos de gerenciamento da McRebel, que envolvem treinamento e educação específicos para os funcionários das granjas. Para isso, a comunicação regular de todos os procedimentos e a sensibilidade das técnicas são fundamentais para que se atenda às expectativas, além de ter em mente que eles, em cada granja, podem ser diferentes e mudar ao longo do tempo. • A aplicação de duas doses de vacina viva atenuada em suínos de engorda, em uma amostragem de 136.482 animais, demonstrou uma redução na excreção do vírus de campo e, portanto, na sua disseminação, especialmente em granjas estáveis. O benefício indireto da vacinação, além de reforçar a imunidade, é a redução da transmissão por exposição ao vírus de campo e também dos sinais clínicos (ganho médio de peso diário, mortalidade). • Foram desenvolvidas novas técnicas de diagnóstico a partir de amostras de fezes, além das de soro e de fluidos orais, nas quais também se encontram anticorpos de interesse para determinar a sobrevivência viral, em granjas de matrizes e de cachaços. Os leitões infectados produzem especificamente IgA e IgM, que são bem detectados pela prova de ELISA, estudando-se, assim, a presença de anticorpos maternos no soro (IgG) em infecções ativas ou a partir de porcas vacinadas. Prolongar as populações virêmicas nas granjas se traduz em implicações importantes nos processos da transmissão viral. • A radiação ultravioleta é utilizada como desinfetante desde 1910, tendo demonstrado seu efeito inativador sobre o vírus da PRRS após uma exposição de 10 minutos. Os leitões nascidos do primeiro parto desempenham papel importante na manutenção da infecção, sendo necessário mais estudos para se conhecer com detalhe esse escopo, em comparação com outros fatores e características próprias da granja, como a maneira de exposição do vírus às fêmeas nulíparas, as ce-
pas virais envolvidas, as reinfecções, a sazonalidade e os períodos de estabilidade. • Foi realizado um estudo em 13 sistemas de produção, envolvendo 188 granjas em 15 estados, por meio do qual se desenvolveu um modelo de previsão para 44 medidas de biosseguridade. Ficou demonstrado que as quatro primeiras mais importantes, para se evitar quadros clínicos da doença, foram leitões substitutos, a densidade suína em um raio 4,83 km (3 milhas), o número de granjas de matrizes no referido raio e a distância das vias públicas de comunicação. É consenso, em vários trabalhos, a ocorrência de uma relação clara entre as falhas nas medidas de biosseguridade e a instabilidade das granjas contra o vírus da PRRS.
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DIARREIA EPIDÊMICA SUÍNA POR CORONAVÍRUS (vírus RNA) ou PED
• Trata-se de um vírus RNA, da Ordem Nidoviridae,
Família Coronavírus, Gênero Alphacoronavírus.
As perdas estimadas, em um quadro agudo de
PED, são da ordem de US$ 400,00/porca. Vários estudos mostram que o vírus pode ser encontrado em insetos, que atuam como vetores, desempenhando um papel indireto na transmissão da doença na granja (contaminação alimentar) e entre granjas. O vírus pode sobreviver por até nove meses em dejetos, mantendo seu grau de infectividade por mais de 28 dias em diferentes temperaturas. A dose infectante mínima, veiculada por meio de alimentos contaminados, corresponde a um valor de PCR RT (PCR em Tempo
Real) = 37.
• Nos EUA circulam duas cepas: S-Indel e não
S-Indel, sendo a primeira menos virulenta. Pouco se sabe a respeito de seus efeitos virulentos em suínos adultos de diferentes idades. A patogenicidade e a resposta do sistema imunológico, em termos de produção de anticorpos, são dependentes da idade. www.aavs.org/pedvewww.pork.org/PED
VÍRUS da GRIPE (vírus RNA) ou INFLUENZA (FLU)
• As perdas devidas ao vírus da gripe, nos EUA, são estimadas em US$ 3,23/suíno, podendo ser incrementadas, no caso de coinfecções, em até
US$ 10,00 a US$ 18,00/suíno. • O vírus da gripe continua circulando endemicamente na população suína norte-americana, sendo reconhecidos três sorotipos predominantes: H1N1, H1N2 e H3N2. A circulação de múltiplas variantes de um único vírus foi documentada em um mesmo lote de suínos, havendo como consequência o surgimento de novas cepas, o que não apenas complica o seu controle, como também o seu diagnóstico. O isolamento do vírus pode ser dificultado em função do armazenamento inadequado da amostra coletada, do meio de cultura utilizado nesse armazenamento e do transporte da amostra, propriamente dito, devido à sensibilidade da sua membrana externa (envelope). As amostras obtidas a partir de swab nasal são adequadas para o isolamento viral, desde que bem coletadas. Elas devem ser tomadas de animais com sintomas clínicos agudos (febre, corrimento nasal e tosse), momento em que ocorre o pico de excreção, uma vez que ela tende a diminuir nos dias seguintes, sendo assim mais difícil de se detectar esses sintomas.
A coleta realizada com o auxílio de lenços descartáveis é mais interessante do ponto de vista da qualidade/quantidade do material coletado do que aquela realizada por meio de zaragatoas ou cotonetes. É importante realizar essas coletas em granjas endêmicas, sendo recomendada a quantidade de 45 amostras/unidade de criação. O vírus da gripe é inativado ao ser exposto à temperatura de 37oC, por dois dias, assim como o vírus da doença de Aujeszky. • O vírus da gripe se transmite entre espécies: aves, suínos e humanos, sendo um candidato a causar pandemias. O H3N2 tem um alto potencial de transmissão interespécies, pois seu RNA contém fragmentos das três espécies citadas (um exemplo é o vírus A/Swine/Texas/4199-2/98). Estudos anteriores demonstraram que pessoas em contato regular com suínos têm um risco maior de contrair a variante dessa cepa. O uso da filogenética não só tem o potencial de nos dizer como os vírus estão mudando ao longo do tempo, mas também como eles se movem entre as diferentes espécies. Um estudo realizado entre 2015 e 2018, nos EUA, revelou que não foram encontrados em seres humanos os genes H3 procedentes de suínos, mostrando que eles tendem a se mover mais das pessoas para os suínos. • As vacinas podem ser eficazes na redução da prevalência do vírus da gripe no desmame, mas o seu efeito depende, em parte, da inclusão de antígenos virais adequados de campo presentes nas granjas, uma vez que existe uma alta diversidade antigênica e genética que pode reduzir a eficácia dessas vacinas. O laboratório MSD desenvolveu uma tecnologia denominada
Sequivity para realizar análises de sequências em 12.000 vírus influenza desde 2003 (1.800 sequências disponíveis em 2019), o que permite conhecer o impacto regional do vírus, a sua movimentação entre granjas e as cepas com maior risco de serem introduzidas, com o objetivo de se tomar ações proativas com relação ao tipo de vacina a ser usado em cada sistema de produção. Um estudo realizado em dois períodos (de dezembro de 2017 a dezembro de 2018 e desde então até dezembro de 2019) identificou mudanças importantes como a redução de 8% das cepas H1 Gama e Delta 1 e o aumento de 5%, em cada período, das cepas H1 Alfa e das cepas
Pandêmicas; enquanto a cepa H1 Delta 2 foi a que mais aumentou (8,6% e 20,2% em cada período, respectivamente). Mais estudos serão necessários para determinar se apenas a mutação seria a causa direta de uma redução nas reações cruzadas ou se as alterações adicionais podem influenciar esse declínio. • Foi demonstrado, em um estudo, o papel importante das porcas nutrizes na transmissão e na persistência do vírus da gripe nos leitões, tanto antes como depois do desmame.
CIRCOVÍRUS SUÍNO (vírus DNA) ou PCV
• O circovírus suíno do tipo 3 (PCV3) foi relatado pela primeira vez em 2015, nos EUA, e descrito posteriormente na China, em 2017. Ele causa inflamações sistêmicas, miocardite, mumificação fetal, dermatites e doença renal. Esse vírus é um pouco maior do que o PCV2, havendo entre eles apenas 37% de homologia genética, sendo responsável por quadros de pneumonia, diarreia, refugagem, falhas reprodutivas e patologias multissistêmicas. O PCV1 foi identificado como contaminante celular de cultivos de células PK-15, sendo considerado não patogênico para suínos.
O PCV2 possui seis genótipos reconhecidos (a, b, c, d, e, f) com uma similaridade da sequência
ORF2 entre 81 e 95%. • Até 2005 o PCV2a era o único reconhecido nos
EUA. A partir de 2012 emergiu o PCV2b, também em nível mundial. Do PCV2c existem poucos isolamentos, especialmente focados no Brasil.
O PCV2f foi recentemente detectado na China,
Croácia e Indonésia. É possível prever que a evolução no nível do genoma do PCV2 continuará, dificultando saber qual será o curso da doença e a eficácia das vacinas no futuro. Alguns quadros clínicos, em granjas com PCV3, levam a um aumento no número de mumificações, natimortos, repetições de cio e piora da fertilidade no momento do parto, enquanto os parâmetros de
produção de leitões e animais de engorda permanecem normais, razões pelas quais alguns veterinários nos EUA prescrevem a vacinação em massa do rebanho de reprodutores, com duas doses distanciadas por um intervalo de 3 a 4 semanas. O tempo entre a vacinação e a negatividade da prova de PCR, realizada a partir do processamento de fluidos é de 4 meses. Os valores positivos do Ct PCR para o PCV3 variam entre 25 a 27. • Estima-se que de 20% a 35% dos vírus PCV2 sejam recombinantes, chegando ao sequenciamento de 1.037 genomas completos, em 41 países (19,4%, em média), com base em 4.500 publicações científicas. As coinfecções do PCV2 com o vírus da PRRS são bastante frequentes e aumentam a gravidade dos sintomas, com maior mortalidade e até afetando a resposta imune frente às vacinas contra o PCV e o Mycoplasma hyo. O PCV2 costuma causar doenças clínicas nos suínos entre a 10ª e a 16ª semanas de idade, além de promover infecções precoces que ocorrem quando o vírus é transmitido por meio do útero das mães para os fetos, via colostro ou pelo contato direto antes do desmame. Problemas reprodutivos devidos ao PCV2 são geralmente depouca importância. Em granjas instáveis, altos títulos de anticorpos maternos são observados em leitões, presumivelmente devido a aparentes infecções ativas nas mães. Por isso, nesses casos e em algumas outras situações experimentais, amostras de sangue coletadas de leitões jovens são substratos de baixa sensibilidade para a determinação da viremia e para a confirmação de que estejam ou não infectados. Nessas situações seria indicada a vacinação em massa do plantel reprodutivo. O status dos leitões contra o PCV2, em relação ao seu nível de viremia, é importante para discernir a excreção do agente e capacidade de transmissão vertical; portanto, recomenda-se o controle sorológico quando os animais estiverem em quarentena. • O custo das perdas econômicas nos casos agudos de circovirose suína está estimado entre US$ 20,00 e US$ 30,00/suíno.
MYCOPLASMAS SPP
• O Mycoplasma hyopneumoniae causa perdas na indústria suinícola norte-americana que variam entre US$ 375 e US$ 400 milhões anualmente, com um custo da doença por suíno da ordem de US$ 6,00 a US$ 10,00. A prevalência das bactérias no desmame está correlacionada com a gravidade da doença na engorda. Sugere-se que as leitoas de reposição e as porcas de primeiro parto sejam as disseminadoras do agente. A entrada de suínos jovens em uma propriedade endemicamente infectada representa a principal fonte de manutenção da bactéria no plantel e o início da sua propagação. Reduzir a transmissão vertical entre nulíparas, marrãs e leitões é essencial para se diminuir a gravidade da doença. A bactéria é transmitida lentamente,
devido ao seu período prolongado de excreção, dificultando a exposição de todos os animais e não permitindo que se tenha certeza do grau de redução na excreção do agente durante a fase de lactação. Daí serem propostos longos períodos de aclimatação/quarentena. Existe a alternativa da implantação de programas destinados à exposição precoce às bactérias, pelas vias aerossol, intranasal e intratraqueal. Nesses três casos, aos 49 dias após a inoculação, ocorre uma soroconversão (21, 21 e 14 dias, respectivamente), sem diferenças significativas nos níveis de PCR RT. Na via intratraqueal é onde se detecta anticorpos mais cedo, embora a coleta local de material exija mais trabalho e cause mais estresse, tanto nos animais quanto nas pessoas. Por isso, considera-se o procedimento intranasal e os aerossóis como sendo alternativas mais respeitadoras do bem-estar, particularmente nos processos de aclimatação. • A técnica de diagnóstico, por excelência, é a de
PCR em tempo real a partir de tecido pulmonar, com material coletado por meio de zaragatoas traqueobrônquicas (preferencialmente em animais mais velhos, como porcas reprodutoras) e zaragatoas traqueais e laríngeas para comparação (a sensibilidade em ambas as amostras varia ao longo do tempo e em função do método de exposição, especialmente nos estados agudos de infecção, em que existem atualmente limitações de diagnóstico). A detecção de bactérias em fluidos processados é inconsistente, além do que, em granjas com baixa prevalência, a diluição utilizada tem um grande efeito nos resultados finais. Uma quantidade pequena de amostras também nos dá uma probabilidade muito baixa de detecção. As bactérias, além do sistema respiratório, podem ser encontradas no baço e no fígado. A técnica de ELISA fornece uma resposta rápida, relativa à presença de anticorpos e à soroconversão, embora saibamos que metodologias diferentes têm sensibilidades diferentes. • A detecção precoce da infecção pode nos ajudar a controlá-la. Em um estudo metabólico, conduzido com leitões infectados às 8 semanas de idade, foram descritas mudanças profundas no metabolismo de aminoácidos e ácidos graxos, após 5 dias. Há uma diminuição na concentração sérica de aminoácidos de cadeia ramificada, além de outros aminoácidos proteinogênicos, como prolina, alanina, arginina, histidina e glicina. Ao mesmo tempo, há aumento significativo nos níveis de ácido 2 amino butírico (aminoácido não proteinogênico) entre 14 e 21 dias após a infecção. O nível de ácidos graxos livres no soro aumentou drasticamente entre o 14º e o 21º dias após a infecção. A transmissão por via aérea foi descrita em até 9,2 km de distância de uma granja positiva, dependendo do grau de transmissão, da variação da cepa, das condições ambientais, dos parâmetros de ventilação e das diretrizes geográficas e de vacinação. Esta bactéria tem uma baixa taxa de transmissibilidade (R = 0,56 a 1,16), podendo ser excretada por até 240 dias.
• O uso de aerossóis como técnica de vacinação foi testado em várias ocasiões. Aos 14 dias após o procedimento, 100% das leitoas vacinadas foram positivas, segundo prova de PCR. No entanto, uma colonização mais rápida é observada pela exposição intratraqueal, em comparação ao aerossol. A solução salina mostra-se tão eficaz quanto outros excipientes para uso em aerossóis, tendo um custo mais baixo e sendo mais fácil de preparar pelos clínicos veterinários. A exposição uniforme de todas as futuras reprodutoras durante a aclimatação, antes de entrar em produção, é o objetivo principal dos programas de eliminação de doenças. Um dos métodos que atendem a essa finalidade é a exposição das fêmeas a um homogeneizado de pulmões da própria granja. Seus doadores são selecionados com base em seu valor de Ct por PCR, a partir de amostras colhidas com cateteres traqueais e não pelo grau de lesão, além da quantificação das bactérias nos homogenados e sua correta filtração, na diluição 70:30. • A tilmicosina, fornecida aos leitões e às reprodutoras tanto por meio da ração como via água de bebida, demonstrou ser eficiente nos programas de controle e eliminação do Mycoplasma hyopneumoniae em conjunto com as vacinas.
Da mesma forma, alguns trabalhos demonstram a eficácia da tilvalosina a 5 mg/Kg de peso vivo para porcas, administrada sete dias antes de sua entrada na sala de partos e novamente aos sete dias antes do parto. • A prevalência do Mycoplasma hyorhinis aumentou 60% entre 2014 e 2019, o que resultou na colonização dos cílios do trato respiratório superior dos suínos, sem provocar manifestações clínicas. Também nos casos de estresse provocou quadros septicêmicos de poliserosite e artrites em leitões desmamados.
LAWSONIA INTRACELLULARIS (ileíte)
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• Com relação à ileíte, os programas de controle com vacinações e pulsos de antibióticos são econômicos, mas não previnem as infecções subclínicas. Nas experiências sobre esse assunto consideram-se quatro pilares a ser aplicados na prevenção e na eliminação de ileítes nos sistemas de produção: antibiótico de escolha (não impedem a colonização e a eliminação de portadores), vacinação (os suínos são resistentes a reinfecções após uma exposição inicial a bactérias em doses baixas ou altas), diagnóstico preciso do estado de saúde efetivo, por PCR fecal e sorologia pelo IPMA (diferenciação entre títulos de vacinação e infecção), e medidas de biosseguridade (insetos e roedores são portadores, procedimentos de vazio sanitário que incluem limpeza, lavagem com água quente, uso de detergentes, desinfecção). Os valores das amostras de fezes analisadas por PCR Ct são < 31 a 40 e estão associados a quadros clínicos com perdas econômicas. Na sorologia, a presença de IgG tem leituras diferentes: em granjas negativas não vacinadas, não há títulos; em suínos expostos, os títulos obtidos por IPMA são maiores que 480 ou mais altos (até 15.000); em suínos imunizados com a vacina Porcilis IleitisTM, os títulos são inferiores a 480; e em suínos vacinados com o produto Enterisol IleiteTM , há títulos pouco consistentes, além de não apresentarem resposta de títulos por meio de ELISA. • O uso de vacinas traz bons resultados com relação à resolução dos sinais clínicos e das lesões decorrentes da ileíte. Em 2015 foi permitido o uso de uma nova vacina injetável, que permitiu diminuir a colonização pela Lawsonia e a duração da sua excreção fecal, além de reduzir o grau de lesões macroscópicas e microscópicas. Tanto nas vacinas orais, como nas intramusculares, observa-se uma melhora no ganho médio de peso diário. Ocorre também um reflexo na microbiota intestinal dos suínos vacinados por meio da contagem mais alta de Clostridium butiricum.
STREPTOCOCCUS SUIS (Gram +)
• Esta bactéria pode ser comensal ou patogênica. As formas patogênicas estão associadas a problemas sistêmicos e neurológicos (meningite, artrite, endocardite/epicardite e septicemia) em leitões lactentes e desmamados e em suínos de engorda. Já os comensais normalmente residem no trato respiratório superior, servindo como portadores da bactéria. O S. suis também pode ser um patógeno oportunista em coinfecções com outras bactérias e vírus. Foram caracterizados 208 isolados entre 2014 e 2017, nos EUA, os quais foram sorotipados (35) e sequenciados (MLST), sendo os predominantes, em ordem decrescente: ½, 7, 2 e ST28, ST94, ST1 e ST108, respectivamente. Isolados patogênicos foram obtidos de tecidos sistêmicos em suínos com sinais
clínicos neurológicos ou septicêmicos. Oportunistas em potencial foram isolados do tecido pulmonar de suínos com sinais neurológicos ou doenças sistêmicas. Foram realizados isolamentos a partir da laringe, amígdalas e amostras nasais. A mortalidade no pós-desmame variou de 4% a 20%. • Na última década, os casos de S. suis nas granjas norte-americanas vêm crescendo, chegando a 36% entre 2014 e 2019, com maior destaque para os dois últimos anos. A importância de se desenvolver vacinas com cepas homólogas da própria população é crítica para que tenhamos resultados positivos. Nos EUA não há vacinas comerciais, e as vacinas autógenas estão sendo preparadas.
ANTIBIÓTICOS – ALTERNATIVAS
LIZ WAGSTROM: o FDA (Administração de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos) regulamenta os medicamentos de uso veterinário, e o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) regulamenta os métodos biológicos e de diagnóstico em medicina veterinária. O cumprimento da legislação sobre o uso de antibióticos é importante para a segurança alimentar e a confiança do consumidor. Em setembro de 2018 o FDA publicou um documento sobre resistência antimicrobiana veterinária para os exercícios fiscais de 2019 a 2023 (https://www.fda.gov/media/115776/ download). Este plano estratégico visa transferir antibióticos para um ou outro grupo – dependendo de sua resistência, duração do uso e uso em diferentes espécies animais – apoiar o desenvolvimento de novos produtos (apêndice A do anexo 152) e apresentar alternativas ao uso de agentes antimicrobianos. Além disso, serão promovidos programas de treinamento e educação em níveis nacional e internacional. O próximo passo será integrar os relatórios do Monitoramento Nacional de Resistência Antimicrobiana (National Antimicrobial Resistance Monitoring ou NARMS, na sigla em inglês), estudos-piloto sobre o uso de antibióticos e a venda deles, propriamente dita. Antibióticos são essenciais para manter a saúde e o bem-estar de pessoas e animais. Usá-los para evitar resistência significa aplicá-los com cuidado e responsabilidade (OMS, FAO e OIE). A interação com o Código Alimentar e o Código de Boas Práticas é importante no nível internacional, e as áreas prioritárias são a profilaxia/prevenção e a classificação nacional das listas de medicamentos de referência. “Em toda a cadeia alimentar é necessário integrar os animais, o terreno e o meio ambiente” (We Care Ethical Principles).
JARROUD SUTTON: os consumidores e os grupos de ativistas continuam pressionando supermercados e serviços de alimentação para eliminar o uso de antibióticos em seus canais de abastecimento, concentrando-se no desperdício e na resistência a antibióticos em todas as frentes. A comida se move no equilíbrio entre a ciência e as necessidades emocionais dos consumidores. Qual será o próximo passo? As empresas de alimentos devem repensar, a curto e a longo prazos, no uso de antibióticos.
PETER DAVIES: a resistência aos antibióticos é conhecida desde 1940 em humanos e animais, mas nos últimos 20 anos seu interesse foi agravado. Por 60 anos os antibióticos foram a chave para manter a saúde e o bem-estar dos animais. A resistência antibiótica ao fago 29 da Salmonella typhimurium foi descrita em 1964 em bezerros e pessoas e, em meados da década de 1990, a variante DT104 da referida salmonela emergiu resistindo a cinco antibióticos em diferentes países do mundo, incluindo Dinamarca e EUA, sendo hoje muito raro encontrá-la. Nos últimos anos houve mudanças consideráveis no acesso a antibióticos por fontes não profissionais. A resistência aos antibióticos é um dos pilares da iniciativa global One Health. Tudo começou com o relatório Swann em 1969, na Inglaterra, depois veio a proibição do uso de todos os antibióticos como promotores de crescimento em 1986, na Suécia, seguida pela proibição de 2006 em toda a Europa e a Diretriz 209.213 do regulamento VFD dos EUA, em 2017. Nos EUA, entre 2016 e 2017, o uso de antibióticos foi reduzido em 33%, chegando a um valor 43% menor do que era em 2015, que foi o pico de consumo. O primeiro ano de referência foi 2009, com uma redução de 28% desde aquela época até 2017. As tetraciclinas diminuíram 40% entre 2016 e 2017 (a OTC, 96,6% no mesmo período). Os ionóforos não são importantes em termos de conflito com a medicina humana. A distribuição de medicamentos por espécie, em 2017, nos EUA, era de 42% para bovinos, 36% para suínos, 12% para perus e 5% para frangos de corte. O FDA desenvolveu um projeto, de setembro de 2016 até setembro de 2021, para avaliar o consumo nas diferentes espécies, tanto qualitativa quanto quantitativamente (mg de atividade do antibiótico por kg de peso vivo vendido). A análise mostra o percentual de uso de cada antibiótico e o percentual de uso cumulativo e relativo entre os diferentes sistemas de produção. Os antibióticos também são classificados por sua importância crítica: muito ou pouco importantes em relação à medicina humana. As informações obtidas dos participantes são compartilhadas entre todos, de modo confidencial, obtendo-se um feedback, além de exigir maior integração entre as empresas, incluindo dados de produção de granjas e diferentes sistemas de produção (www.aacting.org). A colistina dificilmente tem sido usada nos EUA em suínos por tratar-se de um antibiótico antigo que causa toxicidade renal em humanos, embora seja usada com frequência na Europa e na China desde 1960. A OMS a utiliza como antibiótico de importância crítica, com resistência múltipla a infecções gram-negativas, não tendo sido relatados, até 2015, mutações cromossômicas e transmissão horizontal em função de seu envolvimento na resistência em Escherichia coli – na China em suínos e aves (gene mcr-1) –, o que, caso acontecesse, proibiria o seu uso em 2016. Ainda com relação à colistina, entre 2015 e 2018 seu uso foi reduzido em 97% na Espanha. A Dinamarca reduziu o uso de antibióticos na suinocultura em 54%, associado a uma redução relativa
de 22% nos últimos cinco anos na proporção de isolamentos de E. coli resistentes a antibióticos. Em 1º de janeiro de 2017 o FDA publicou a Diretriz 209.213 e a Diretiva de Alimentos para uso Veterinário (VFD), com base na regulamentação do uso de antibióticos na alimentação e na água potável como tratamento terapêutico (tratamento, controle e prevenção de doenças).
BAILEY ARRUDA: a microbiota desempenha um papel importante na saúde dos organismos e dos ecossistemas. Pode ser encontrada nos diferentes sistemas dos suínos, como os sistemas digestivo, respiratório e urogenital. O número de bactérias no cólon dos suínos é da ordem de 1010 por grama. A microbiota, nessa espécie, é responsável pela produção de ácidos graxos de cadeia curta, vitaminas, inibição e prevenção da colonização de patógenos, além de participar do desenvolvimento e da manutenção do sistema imunológico, pelo qual tem recebido atenção especial nos últimos anos. Muitos estudos de microbiota gastrintestinal sugerem que há uma interação direta entre diferentes agentes com o hospedeiro, enquanto outros desempenham um papel mais localizado na manutenção do habitat microbiano. Assim, é necessário diferenciar ambos os nichos e seus papéis específicos de interação: microbiologia com imunologia; patologia e nutrição, no sentido de nutrição de precisão por meio de sistemas de radiotraçadores; isótopos estáveise inibidores metabólicos, por meio dos quais se conhecem melhor os requisitos nutricionais dessas comunidades microbianas.
MICHAEL PIERDON: a pressão comercial sobre os sistemas de produção de proteína animal livre de antibióticos (ABF, na sigla em inglês) continua aumentando e tende a crescer mais no futuro. Existem programas de produção “livres de antibióticos” muito diferentes, que do ponto de vista de marketing impõem requisitos adicionais às instalações, manejo e nutrição, a fim de diferenciá-los no mercado. Foram criados dois tipos diferentes de programa: Commodity ABF e Niche ABF. O Commodity ABF concentra-se na produção de base livre de antibióticos, a fim de produzir alimentos em larga escala a um preço razoável. Neste programa, os suinocultores adotam novas práticas de produção focadas em modificação genética (animais resistentes a doenças específicas) e seleção e nutrição de animais com base na saúde digestiva (probióticos, prebióticos, ácidos graxos de cadeia média, extratos vegetais), além do uso de vacinas para reforçar a imunidade e anti-inflamatórios, anti-helmínticos, antivirais e suplementos nutricionais, que podem ser usados para controlar o aparecimento de certos surtos de doenças. O Niche ABF também adiciona outros requisitos para atrair consumidores com práticas de produção muito diferentes dos padrões, como idade mais avançada no desmame,
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limitação de práticas rotineiras, pisos compactos, acesso a materiais de cama e restrições de gaiola no parto. Este produto é voltado para pequenos mercados de consumidores requintados, que não se importam em pagar um preço mais alto por eles e se concentra em pequenas propriedades. Os veterinários continuam a desempenhar um papel importante no auxílio aos produtores desses sistemas por meio da implementação de protocolos de gerenciamento sanitário que protegem a saúde dos suínos sem o uso de antibióticos.
HANS COETZEE: todos os anos, nos EUA, mais de 50 milhões de leitões são castrados e têm suas caudas e presas cortadas, procedimentos, esses, que envolvem dor. O FDA não tem nenhum medicamento permitido para aliviar a dor em suínos, embora seja possível o uso de produtos extra label (ELDU, na sigla em inglês), os quais só podem ser usados sob prescrição e supervisão de um veterinário, não podem deixar resíduos e tampouco serem administrados via alimentação animal. Os consumidores se preocupam com o bem-estar animal e, portanto, com o controle da dor, a qual só pode ser controlada por meio do uso de um produto seguro, eficaz, prático e econômico. A patologia da dor surge como consequência de danos nos tecidos, nos nervos e inflamação, associados à hipersensibilidade que se manifesta de duas maneiras: hiperalgesia (resposta exacerbada ao estímulo doloroso) e alodinia (dor resultante do estímulo inofensivo normal). Também está contemplada a importância do tempo de indução – a partir do momento em que o produto é aplicado até o início da sua atividade analgésica –, bem como a sua rota de aplicação, a qual deve ser realizada por pessoal treinado. São mencionados medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) que causam analgesia e efeito anti-inflamatório, reduzindo a síntese de prostaglandinas e inibindo a ação da enzima ciclo-oxigenase no sistema nervoso central. Os anestésicos locais são os mais amplamente utilizados como indutores da anestesia, bloqueando os canais de sódio das células nervosas e impedindo a geração e a disseminação do impulso nervoso (lidocaína, com efeito em 3 a 5 minutos e duração de até 90 minutos). A flunixina meglumina é um derivado do ácido nicotínico que, como o AINE, é aprovado pelo FDA para uso em suínos, com farmacocinética e farmacodinâmica conhecidas. Os derivados do ácido salicílico (aspirina e salicilato de sódio) foram os primeiros AINEs usados na medicina moderna e também são utilizados como analgésico, antipirético e anti-inflamatório na suinocultura. O meloxicam é outro AINE aprovado na Europa para problemas locomotores não infecciosos e síndrome MMA, administrado a 0,4 mg/kg de PV, por via IM (sua apresentação para uso oral é muito bem absorvida, com alto pico plasmático e meia-vida de cerca de 6 horas). Atualmente, trabalha-se com analgésicos intramamários para porcas para aliviar a dor em leitões e reduzir o manejo (meloxicam a 30 mg/kg PV por via oral, para porcas por vários dias: dose 75 vezes maior do que a aprovada na Europa, o que torna o seu uso antieconômico). O firocoxib – AINE aprovado pelo FDA para o tratamento da osteoartrite em cavalos e cães –, se aplicado em porcas por via IM, em doses que variam entre 0,5 mg e 2 mg/kg PV, sete horas antes da castração de leitões, traz resultados satisfatórios com ausência de toxicidade (a priori, satisfatório na dose de 2 mg/kg PV).
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JEREMY PITTMAN: os mecanismos de ação dos antibióticos sobre as bactérias são os quatro seguintes: sobre a parede celular (beta lactâmicos, aminopenicilínicos e ceftiofur), sobre a síntese proteica nos ribossomos (ionóforos), sobre a síntese de DNA (aminoglicosídeos, tetraciclinas, macrolídeos, florfenicol, pleuromutilinas-tiamulina) e sobre a síntese do ácido fólico (trimetoprim, sulfamidas) www.KSUantibiotics.org. É importante diferenciar os antbióticos entre bacteriostáticos (interrompem a replicação das bactérias) e bactericidas (causam a morte das bac-
térias). É aceito, via de regra, que não se combine antibióticos com essas duas funções (por exemplo, tetraciclínicas com beta-lactâmicos, tiamulina com ionóforos). Também deve-se considerar as sinergias entre certas moléculas, como lincosamidas com espectinomicina, trimetoprim com sulfamidas, aminoglicosídeos com beta-lactâmicos e tiamulina com clortetraciclina. Conhecer a distribuição dos antibióticos nos diferentes órgãos internos ajuda a escolher os mais indicados para cada processo infeccioso, de tal forma que: Aminoglicosídeos (gentamicina / neomicina) atuam bem nos rins e nos fluidos extracelulares, sendo pouco absorvidos no trato digestivo; Beta-lactâmicos (amoxicilina/ampicilina/penicilina) atuam bem no fígado, rins, pulmões e na musculatura. Por sua vez, têm baixo poder de penetração na placenta, no tecido mamário, nas secreções bronquiais e no sistema nervoso central; Cefalosporinas (ceftiofur) atuam bem nos rins, pulmões, ossos, articulações e tecidos moles; Cloranfenicois (florfenicol) atuam em todos os tecidos, abscessos e fetos, mas têm baixa perfusão no leite; Fluorquinolonas (enrofloxacina) atuam bem em todos os tecidos e no nível intracelular; Lincosamidas (lincomicina) distribuem-se bem por muitos tecidos e fluidos, inclusive os dos pulmões e articulações; Macrolídeos (tilosina, tulatromicina, tilvalosina, tilmicosina) atuam bem no fígado, rins, pulmões, secreções bronquiais, fluidos peritoniais, pleura e leite; Pleuromutilinas (tiamulina) têm elevada distribuição nos pulmões e em outros órgãos; Sulfonamidas distribuem-se bem no trato urinário e todos os tecidos, sem penetrar em áreas com exsudatos; Tetraciclinas (tetraciclina, oxitetraciclina, clortetraciclina) penetram em todos os tecidos, saliva, fetos e atuam também no nível intracelular.
BEM-ESTAR E MANEJO DE PORCAS
MEGHANN PIERDON: o conceito científico de bem-estar animal surgiu com a formação da ComissãoBrambell, em seu primeiro relatório (1965), nos EUA. A concepção de bem-estar animal engloba todas as funções, comportamentos e sentimentos biológicos, em torno dos quais estão a produtividade, a apreciação da sociedade e as características próprias de cada espécie, sendo fundamental a experiência com os animais. A inteligência do suíno está baseada na sua capacidade de saber onde está a comida. Diferentes estudos demonstram que seu comportamento varia de acordo com esse parâmetro (GUY, J.H. - 2002 - Applied Animal Behavior Science). Os recursos preferidos concentram-se na sua capacidade de termorregulação, no acesso a substratos para fuçar e no estabelecimento de comportamentos afiliados. Os estados de bem-estar positivo são determinados com base em sua definição (Mellor), nos mecanismos neuroendócrinos (dopamina) e no comportamento biológico (interações leitões-mãe, jogos, acasalamento). Trabalhos de pesquisa demostram que os materiais manipuláveis – para as porcas – motivam seu comportamento de diferentes maneiras: exploração, conforto e termorregulação, dependendo de como esses comportamentos podem ser realizados com eficiência e quais materiais são os melhores motivadores. Essa mesma situação ocorre no caso dos suínos de engorda (correntes, madeiras, cordas de algodão), os quais passam 64% do dia deitados (se eles precisam procurar a comida, ficam 59% do tempo andando e fuçando). Quanto às acomodações, o benefício do fornecimento de um espaço extra – que envolva a criação de dois habitats diferentes – continua em estudo. Considera-se crítica a manutenção das condições de temperatura nas faixas de termoneutralidade em todas as etapas da produção, especialmente nos leitões, tanto do ponto de vista do bem-estar quanto da produção. O conceito de granjas inteligentes ou de precisão é considerado bem-estar positivo, com base no controle preciso das temperaturas, dos consumos de água e ração, da luminosidade e do comportamento dos animais (padrões de agressão, mordidas, movimentos, vocalização de estresse, tosse). O bem-estar na fase reprodutiva vem ganhando interesse nos últimos anos, com base na sobrevivência neonatal (leitões vivos aos 5 dias de idade), crescimento intrauterino, vascularização uterina. A mordida da cauda também está sendo estudada em profundidade, observando-se alguns dos genes de expressão genética cerebral envolvidos no processo. Estereótipos, jogos e comportamentos afiliativos fazem parte de um conjunto de situações que não são bem diferenciadas no bem-estar positivo. O comportamento e o bem-estar dos animais devem ser analisados inter e intragranja de maneira realista e com bases científicas, de modo a evitar os confrontos entre produtores, ativistas e sociedade. O importante é minimizar os estados negativos e aumentar os estados positivos de bem-estar, conhecendo as complexas interações existentes entre o ambiente e os animais, enquanto se auditam os suínos nas próprias granjas para avaliar o bem-estar deles.
DAVID FIKES (Food Industry Association):a indústria de alimentos está progredindo no fornecimento de opções seguras, saudáveis e mais eficientes para o consumidor, com valor agregado para produtores e consumidores. Saúde, bem-estar e sustentabilidade fazem muitas pessoas hesitarem em consumir proteína animal, sendo a transparência o ponto crítico para explicar as bases das relações entre esses três pontos, em todas as direções e amplitude. Hoje, comer carne ainda é a norma, de modo que 81% comem normalmente, 12% são flexitaristas, 4% são vegetarianos e veganos e 3% são consumidores de pescados. 87% das famílias preparam refeições que incluem algum tipo de carne. A indústria animal vem fazendo grandes esforços, há anos, para melhorar o bem-estar animal, reduzindo o impacto ambiental e a sustentabilidade, com uma drástica redução de recursos para pro-
duzir mais alimentos como um ponto essencial em sua responsabilidade social. Considera-se crítico o valor da transparência em termos de cuidar dos animais de criação, e explicá-lo à população será importante para toda a cadeia alimentar (produtores, indústrias da carne, grandes lojas, consumidores). Um quarto dos compradores de alimentos são solteiros que fazem 16% das compras on-line, sendo a maioria deles representante da geração do milênio. Para as gerações Z e Y, o bem-estar animal também interessa e querem saber se a comida vem de animais que foram bem tratados. Nos EUA, cresce o interesse na certificação de produtos derivados da carne nos pontos de venda, bem como a conscientização do consumidor sobre o impacto ambiental. 49% dos consumidores acreditam no uso responsável de antibióticos, quase o mesmo porcentual dos dois pontos anteriores. Portanto, acredita-se que o importante seja transferir as boas práticas de produção animal em todos esses aspectos para os consumidores, de maneira transparente e evitando mensagens confusas.
GRANJAS INTELIGENTES: a ciência de alta qualidade apoia uma melhor tomada de decisão. Novas tecnologias estão surgindo dentro do conceito de “Pecuária de precisão” (Precision livestock farming, ou PLF, na sigla em inglês), as quais vêm para melhorar a produção e a saúde de nossos animais, sendo necessário resolver previamente problemas estruturais, culturais e econômicos para a sua implementação, cenário esse no qual os veterinários desempenham um papel essencial nas granjas. Alguns exemplos são vídeos remotos para melhorar a biosseguridade (RVA: câmeras, internet e hardware de qualidade), sensores visuais automáticos para detectar alterações nos padrões de comportamento dos animais (alterações na saúde, animais doentes, alterações no consumo de ração e água, sinais de calor), LF RFID (sistemas de identificação de animais por radiofrequência de baixa intensidade), sistemas SOMO + para monitoramento de distúrbios respiratórios, Humatec para seleção de pessoal da granja, plataformas para diagnósticos e tratamentos individuais (www.everypig.com e V-ETIC), controle de temperatura dos alarmes para regulagem em faixas de 1oC, procedimentos de áudio em tempo real para antecipar o esmagamento de leitões recém-nascidos (Swine Tech - hardware ECHO), processamento de imagem para pesar os animais (sistema EyeGrow) e sistemas de rastreabilidade geofísica por GPS (FeedTrackur).
REFUGOS E MORTALIDADE DE PORCAS: a taxa de reposição de reprodutoras nos EUA é superior a 50%, o que significa que 3,2 milhões de porcas são substituídas a cada ano. Desse número, 90% são comercializadas por intermediários, sendo, consequentemente, alojadas em locais distintos das granjas de origem antes de chegar aos abatedouros, com alto risco de disseminação de patologias pelo transporte delas. As porcas percorrem uma distância média de 534 ±363 km, e 66,1% delas chegam ao abatedouro em 3 dias, 24,3% entre 4 e 5 dias e 9,6% com mais de 5 dias, o que equivale a uma média de 3,08 dias (e um máximo de 40 dias). Não devemos esquecer que muitas delas são reservatórios de patógenos. Aquelas que apresentarem problemas locomotores serão responsáveis por sérias perdas econômicas e de bem-estar. Estima-se, de acordo com diferentes estudos, que mais de 20% das porcas descartadas pertençam a esse grupo (22,9% a 26,2%) devido a causas como osteocondrose, osteoartrite e osterocondrite dissecante – lesões traumáticas que são posteriormente infectadas por bactérias sistêmicas, estando a Trueperella pyogenes entre as mais isoladas (76,9%). Em um estudo realizado com 109.672 porcas, durante 5 anos, em 11 granjas com alta taxa de reposição, 12,5% foram devido a problemas locomotores, 54,5% devido a falhas reprodutivas, 17,3% devido à idade e 3, 9% devido à condição corporal delas. Porcas com problemas locomotores passam menos tempo na granja (219 dias, em comparação com 504 dias das demais), sendo aquelas que estão em grupos dinâmicos menos do que aquelas que são estáticas (192 vs 259 dias). Os dias improdutivos para o parto em porcas com problemas locomotores são mais longos (44 dias vs 24,8 dias) e estima-se que essas porcas tenham uma média de dois partos a menos que a média restante.
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NUTRIÇÃO
PROBIÓTICOS: a incorporação de Saccharomyces cerevisiae fermentada em meio líquido (água), na alimentação de porcas em lactação (15 mL/porca/dia), deu origem a vários estudos nos quais se buscava uma redução do número de leitões natimortos, uma leitegada mais pesada no desmame e uma redução do intervalo desmame-cio, especialmente no verão. O custo da dosagem foi de US$ 3,27/porca/ano, com um retorno ao investimento (ROI) estimado de 9,7:1.
EXTRATOS DE ALGAS: as preparações com polissacarídeos de algas verdes (Ulva armoricana) ou vermelhas (Solieria chordalis), in vitro, demons-
tram sua capacidade de estimular a produção de citocinas envolvidas na ativação e na migração de linfócitos e células dendríticas, envolvidas na modulação da resposta imune, tanto inata como adaptativa, reforçando a barreira intestinal, seja em condições fisiológicas como em processos inflamatórios.
ANEMIA: porcas com níveis de hemoglobina abaixo de 10 g/dL apresentam alto risco de gerar leitões natimortos. No meio da gestação, os níveis são mais altos, diminuindo ao mínimo no início da lactação e aumentando um pouco no final para continuar subindo até o primeiro mês de gestação. Os valores são bastante distintos entre granjas diferentes e entre partos distintos, sendo mais baixos na medida em que o número de partos aumenta, como demonstrado na Figura 4 adiante. Foi determinada uma correlação negativa entre o número de natimortos e a concentração de hemoglobina no parto. Especula-se que baixos níveis de hemoglobina afetem as contrações uterinas, durante o trabalho de parto, além de dificultar a transferência de ferro da mãe para o feto por via materno-uteroferrina-transferrina-ferritina. A via nutricional parece ser uma solução para esses problemas de anemia.
VITAMINAS: as vitaminas lipossolúveis são nutrientes essenciais para os suínos (A, D3 e E). Existem numerosos trabalhos que apontam para maiores necessidades delas nas porcas atuais, que geram mais leitões. Em aplicações injetáveis nas porcas antes do parto, foi demonstrada uma redução no tempo entre os nascimentos, com uma redução do número de natimortos, especialmente em porcas com mais partos e com prolapso uterino, melhorando o estado oxidativo delas. Os momentos mais críticos da necessidade dessas vitaminas para as porcas são o momento do parto, da inseminação de marrãs e a fase de desmame. A vitamina D é essencial para manter a homeostase do cálcio e fósforo no sistema esquelético. Existem receptores de vitamina D nos enterócitos, miócitos, células da glândula mamária e outras células endócrinas. Estudos epidemiológicos correlacionam os níveis inadequados de vitamina D com o aumento de distúrbios mediados pelo sistema imunológico em humanos. Atualmente, estudos na espécie suína estão em andamento nesse sentido.
MINERAIS: a nutrição mineral durante processos infecciosos é complexa. O cobre, por exemplo, desempenha um papel importante em muitas funções metabólicas, processos enzimáticos e funções imunológicas. Assim, as deficiências de cobre podem influenciar negativamente as imunidades inata e adquirida, incluindo a produção de anticorpos, a atividade microbicida dos macrófagos, a atividade citolítica das células assassinas naturais, a função das células T e a expressão de citocinas do sistema imunológico. Foi realizado um teste em 1.312 suínos de engorda infectados pelo vírus da PRRS com três níveis/fontes distintas de cobre: nível basal de 12 ppm de SO4Cu (permitido na UE); 50 ppm de Cu (HMTBa), hidroxianálogo de cobre quelado em metionina; e 150 ppm de CLCu2OH, cloreto de cobre. Nesse estudo ficou demonstrado que altos níveis de cobre desempenham um papel importante na manutenção da eficiência energética dos suínos durante doenças virais, com menor mortalidade nos dois segundos e melhor retorno do investimento em cobre orgânico, com melhor redução de margem líquida.
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MICOTOXINAS: os sintomas clássicos que nos levam a pensar em problemas de micotoxinas são a redução do consumo de alimentos, a redução dos parâmetros produtivos e a presença de episódios de vômitos. Os produtores se perguntam qual é o impacto econômico das micotoxinas em condições clínicas e subclínicas, uma vez que,mesmo em níveis baixos, predispõem a patologias entéricas, respiratórias e reprodutivas, além do risco de prolapso pélvico, causando processos inflamatórios, modulando o ambiente gastrointestinal e causando imunossupressão, que afeta a eficácia das vacinas. Os níveis recomendados de intervenção para o uso de aditivos que atenuam seu impacto na produção foram referenciados pelo Dr. E Hendel, Regulamento da EU 2006/576/EC; e Regulamento da EU 2013/165/EU) - Classe de micotoxinas, níveis de intervenção (ppb):
Aflatoxinas Alcaloides Fumonisinas Ochratoxina A-Trichothecenos (T-2) B-Trichothecenos (DON) Zearalenona > 100 a 200 > 900 > 1000 > 400 a 500 > 250 a 400 > 900 > 250
Foram analisadas amostras de milho e subprodutos para uso em rações (silagem de milho e DDGS) durante o ano de 2019 nos EUA, quando descobriu-se que 96% deles continham pelo menos uma micotoxina (91% em 2017 e 94% em 2018) e 51% tinham duas ou mais micotoxinas (58% em 2018 e 48% em 2017). Este ano, o pool de B-tricothecenos foi o mais prevalente, com 75% e níveis de 1376 ppb; a fumonisina teve uma prevalência de 54%, com níveis médios de 2968 ppb; a
prevalência da zearalenona foi de 42%, com níveis médios de 386 ppb, menor nos dois casos do que no ano anterior. A prevalência das aflatoxinas, em relação aos anos anteriores, é muito baixa, sendo que em todos os casos ela foi maior no milho ensilado e com mais umidade.
REPRODUÇÃO
ROMOSER, M.R. - ESTRATÉGIAS PARA SELEÇÃO DE FUTURAS REPRODUTORAS: um indicador potencial da produtividade das porcas, ao longo da sua vida, é a idade da puberdade. A atividade folicular é determinada pelo desenvolvimento de folículos terciários, que ocorre cerca de 75 a 115 dias após o nascimento. O efeito masculino é positivo para se atingir a puberdade. Atrasar o contato com os cachaços no período puberal resulta em maior sincronização grupal das porcas. O desenvolvimento folicular e o aumento no tamanho das trompas uterinas e da vulva são variáveis entre as marrãs de reposição, estando positivamente associados à idade do primeiro cio. O peso vivo está positivamente associado ao primeiro cio aos 200 dias de idade, e o peso aos 75 dias e aos 115 dias de idade está correlacionado com a idade do primeiro cio. O peso vivo tem pouca relação com o tamanho da vulva às 15 semanas de idade. Existem variações no desenvolvimento do trato reprodutivo, antes da puberdade, associadas ao seu potencial reprodutivo. Coletivamente, o efeito positivo do tamanho da vulva às 14 semanas de idade está relacionado aos resultados dos dois primeiros partos das porcas e ao primeiro cio aos 200 dias de idade. O peso vivo está pouco correlacionado com o tamanho da vulva às 15 semanas de idade e existem variações no desenvolvimento do trato reprodutivo antes da puberdade, associadas ao seu potencial reprodutivo. Coletivamente, um efeito positivo relacionado ao tamanho da vulva às 14 semanas de idade está correlacionado com os resultados em seus dois primeiros partos. GRAY, K. - BASES GENÉTICAS DA EFICIÊNCIA REPRODUTIVA: é importante definir nossas prioridades mantendo um equilíbrio entre economia e variação genética. O aprimoramento genético é um quebra-cabeça multidimensional. Seu último objetivo é gerar valor dentro das múltiplas alternativas oferecidas pelo melhoramento genético, para as quais é necessário projetar protocolos de teste tanto no nível da granja quanto do abatedouro, com base em uma abordagem simples. Tanto a pressão de seleção quanto a herdabilidade dos caracteres devem ser melhorados (proporção de variação – que não é explicada pelo ambiente ou por outras variáveis – nutrição, programas renovados, saúde). Os parâmetros mais herdáveis, por ordem, são comprimento da carcaça, percentual de gordura, nível de gordura lombar, idade na puberdade, taxa de ovulação, taxa de conversão alimentar, ganho médio de peso diário, peso da leitegada ao nascer; intervalo desmame/cio, sobrevivência pré-natal, total de nascidos vivos e os muito pouco herdáveis: número de desmamados, mortalidade na lactação e mortalidade de porcas. Qual a sua expectativa para os próximos 25 anos? Reduzir a mortalidade de porcas em 4 pontos. As mudanças nas quais se trabalha, no momento, afetarão os suínos produzidos dentro de 4 a 5 anos. Não menos importante é levar em consideração os antagonismos nas correlações genéticas das linhagens maternas, como os nascimentos totais, a mortalidade na lactação, o número de tetas ao nascer, o número de tetas funcionais no parto, determinando as diferenças esperadas na progênie que nem sempre estão relacionadas ao índice de seleção quando temos diferentes linhas de machos envolvidas nos programas de produção de F1. A taxa de renovação adequada e a intensidade da seleção são críticas para se obter o melhor retorno econômico de nossa genética. Nos EUA, entre 2005 e 2010, o tamanho da leitegada, os nascidos vivos por leitegada e os leitões desmamados por porca por ano aumentaram em 0,24 - 0,22 e 0,44 leitões por ano. KIEGER, Z.E. - PROLAPSO DE ÓRGÃOS PELVIANOS NA TAXA DE MORTALIDADE: a mortalidade de porcas aumentou nos últimos cinco anos nos EUA, principalmente devido aos prolapsos, o que levou o NPP (entidade local que regulamenta a produção nacional de suínos) a criar um projeto para analisar suas causas e as estratégias para o seu controle. Participaram do projeto 104 granjas (385.000 matrizes, em 19 propriedades independentes e 85 grandes empresas), de 15 estados, gerando relatórios semanais de baixas na produção e analisando fatores da granja (manejo, água, alimentação), os quais foram classificados em três grupos de acordo com ograu de implicação: sem relação, evidência moderada e diretamente correlacionado. A mortalidade média foi de 12,7% (4,2% a 23,4%). 2,7% dessa mortalidade ocorreram devido ao prolapso retal (0,3% a 10,3%), com variações significativas entre as propriedades, representando 21% das causas de mortalidade. 39% das mortes foram atribuídas a causas desconhecidas e 29% a problemas locomotores. As causas potenciais atribuídas à raiz do problema não estão associadas, estatisticamente, ao tamanho da granja, aos protocolos de indução e assistência aos partos, ao tamanho das partículas da alimentação (granulometria da ração), tampouco ao comprimento da cauda das porcas. Estratégias de alimentação pré-parto foram identificadas como importantes: porcas com condições corporais precárias no parto têm mais probabilidade de apresentarem prolapsos do que aquelas com condição corporal ideal, e mais ainda do que as porcas com sobrepeso; eo uso de sistemas automatizados de alimentação na fase anterior ao parto reduz a incidência do problema. Outro fator importante envolvido é a água potável, de modo que, nas granjas onde ela é convenientemente higienizada, a incidência de prolapsos é menor, comparativamente àquelas granjas em que a qualidade da água potável não é adequada. Foi realizada uma análise do microbioma vaginal, sendo este muito diverso entre animais e granjas, bem como entre porcas de 1 e 3 partos, sem que fosse encontrada, no momento, correlação entre ele e a incidência de prolapso. O percentual de prolapsos aumentou com a maior profusão da área perianal,
característica do período final da gestação. Ao analisar os níveis de cortisol e biomarcadores séricos observou-se que os níveis de plaquetas, linfócitos e monócitos das porcas com prolapso são mais baixos, sem que isso afete o fator de necrose tumoral, embora os níveis de hormônios esteroides aumentem. Porcas de terceiro parto são as mais afetadas pelo prolapso.
WILLIAMS, T. - INVESTIGAÇÃO DA INFERTILIDADE EM NULÍPARAS: em uma granja nova, de 5.400 matrizes negativas para o vírus da PRRS, Mycoplasma hyopneumoniae e o vírus Flu, episódios de anestros ocorreram abruptamente, com a presença de conjuntivite e meningite por Streptococcus suis nas marrãs, causando uma interrupção no fluxo de animais. Foram analisadas as causas não infecciosas: os níveis de ferro e manganês na água potável estavam muito altos (5,7 ppm e 1519 ppb, respectivamente), a qualidade da alimentação estava correta tanto em termos de nutrientes quanto com relação à ausência de micotoxinas, a condição corporal estava adequada e o sêmen era de boa qualidade, também sem contaminação. Do ponto de vista infeccioso, isolou-se Clamydia suis, Streptococcus suis 1/14 e Streptococcus equisimilis e identificou-se a presença do PCV2 e do PCV3, embora considerando-se que não teriam participado desse problema reprodutivo. Os tratamentos foram feitos com amoxicilina e tetraciclinas, sem a obtenção de resultados positivos aparentes. No estudo do esquema reprodutivo da granja, concluiu-se que as marrãs estavam fisiologicamente maduras e que aparentemente haviam ciclado. Após todos os testes, a causa da ausência de cio em um importante grupo de porcas de reposição não foi descoberta, o que mostra que nem sempre é fácil se determinar a primeira etiologia de um problema. DISTAD, T. - INFERTILIDADE ASSOCIADA AO CIRCOVÍRUS SUÍNO: o envolvimento do PCV2 e do PCV3 em problemas reprodutivos foi demonstrado em uma granja de 2.400 porcas que entrou recentemente em operação, negativa para PRRSv, Mycoplasma hyopneumoniae, vírus da influenza, DEP, coronavírus respiratório e GET. Ocorreram perdas de fertilidade, a taxa de natimortos aumentou e foi detectado também um número maior de mumificados. Tudo começou com o exame de ultrassom, que mostrou alto porcentual de porcas vazias (entre 5% e 20%), resultado esse repetido várias semanas consecutivas. Além disso, aumentou o número de nulíparas (comprovadamente vazias após o exame de imagem) e houve um pequeno aumento porcentual de abortos precoces. Todo o efetivo reprodutivo (nulíparas e porcas em produção) foi imunizado com uma vacina contra o PCV3, antes da cobertura e em todas as fêmeas já em produção, com um intervalo de três semanas entre as duas doses, o que leva a crer que a granja tenha atingido suas metas e seus níveis de produção.
AUSEJO, R.: nos últimos dez anos aumentou o número de cachaços jovens com baixa qualidade de sêmen nas centrais de inseminação, os quais seguem prematuramente para o abatedouro. Em mais de cem deles foi realizado um estudo local, o qual mostrou que 85% foram abatidos devido à baixa qualidade seminal (formas anormais ou baixo volume/concentração) ou por libido ruim, 10% foram abatidos em nome do progresso genético e 5% foram abatidos devido a problemas de aprumo. Em 90% dos casos foram identificadas lesões macroscópicas com considerável grau de fibrose, além de focos inflamatórios, hematomas e hemorragias. As lesões mais comuns foram edema, inflamação, fibrose e varicocele (> 40%), sendo o epidídimo a área onde predomina mais lesões. Devemos sempre lembrar que a espermatocitogênese/espermiogênese e a maturação no epidídimo duram entre 45 e 47 dias.
MISCELÂNEA
PATÓGENOS BACTERIANOS: nas granjas há várias bactérias endêmicas sistemáticas que causam perda de produtividade, aumento no consumo de antimicrobianos e piora do bem-estar animal, entre elas, o Streptococcus suis, a Glaesserella (Haemophilus) parasuis, o Mycoplasma hyorhinis, o Mycoplasma hyosynoviae, o Actinobacillus suis e o Streptococcus equisimilis. O diagnóstico preciso e as técnicas de sequenciação delas adquirem relevância, de modo a nos auxiliarem na monitoria da presença desses microrganismos nas granjas. A melhoria dos sistemas bioinformáticos reduzirá o seu custo, de modo a podermos contar com essas técnicas para o diagnóstico diário, a fim de analisar o manejo do fluxo de animais (determinar a fonte ideal de leitões ou misturar animais de diferentes origens que sejam compatíveis), evitar problemas de saúde (seleção de vacinas adequadas e identificação de genes de resistência antimicrobiana), bem como preparar programas de sobrevivência frente a esses agentes bacterianos (estudos epidemiológicos para determinar as fontes de contágio, os fatores de risco para essas doenças e suas rotas reais de transmissão). No dia a dia das granjas, o controle dessas patologias envolve conhecer bem a dinâmica da infecção, os movimentos verticais entre mães e leitões nas infecções precoces durante a lactação, bem como a colonização nos dias após o desmame, fatores que determinarão de maneira importante a gravidade do problema na fase de engorda. Os pontos críticos para esse tipo de controle se concentram na origem dos futuros criadores e na sua aclimatação, na estabilização das granjas contra agentes infecciosos virais, como PRRS, PCV e influenza, além do M. hyopneumoniae, junto aos quais as referidas bactérias atuam como agentes de coinfecções, agravando seus quadros clínicos. Não menos importantes são as boas práticas sanitárias em todos os processos de manuseio de animais; os protocolos de limpeza e desinfecção, que permitem reduzir a pressão da infecção, contribuindo para o sucesso dos programas de vacinação (levar em consideração a proteção cruzada apenas com os mesmos sorotipos destas bactérias, sendo, nesses casos, muito importante o adjuvante das vacinas comerciais e autógenas); e as estratégias de sensibilidade aos antibióticos.
SALMONELAS: salmonela entérica, serovares Choleraesuis ou Typhimurium são as causas principais de salmonelose nos EUA, onde há duas vacinas atenuadas comercialmente aprovadas (ArgusTM, do laboratório MSD, e Enterisol TM Salmonella, da Boehringer Ingelheim) que são administradas por via oral a leitões de 2 a 3 semanas de idade. O uso de alimentação com altas doses de zinco (2.000 a 3.000 ppm), atuando como bactericida durante a utilização da vacina, afeta a geração da imunidade intestinal contra a salmonela (em ambas as vacinas), além de ter demonstrado resistência a antimicrobianos cruzados pelo uso nessas doses.
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GLAESSERELLA PARASUIS (antigo Haemophillus parasuis): bactéria gram-negativa da família Pasteurellaceae e agente causador da doença de Glässer, caracterizada por polisserosite fibrino-purulenta, artrite e meningite, além de ser um complicante para o Complexo Respiratório Suíno, cuja prevalência nos últimos cinco anos aumentou 60% nos EUA. A bactéria coloniza precocemente o trato respiratório superior, como membro da microbiota respiratória de suínos saudáveis. De acordo com os polissacarídeos capsulares, são definidos 15 sorogrupos, sendo a cápsula importante como fator de virulência, embora não haja correlação direta disso com a potencial doença. As vacinas protegem muito pouco contra isolados heterólogos. A imunidade capsular é essencial apenas em alguns isolados, enquanto certas proteínas de imunidade podem fornecer menos proteção às cepas encapsuladas. Portanto, é importante o conhecimento preciso da cepa que temos na granja para determinar em que cápsula ou proteína deve se basear a imunidade para que ela seja mais eficaz. ROTAVÍRUS: é o agente de uma das infecções virais mais comuns em leitões, que se apresentam com alta mortalidade, lesões graves no intestino que reduzem o ganho médio de peso diário, penalizando até os dias de saída para o abatedouro, com as consequentes perdas econômicas. A eficácia das vacinas comerciais contra o rotavírus suíno é limitada. Foi avaliado um esquema de exposição natural de fezes frescas a porcas às 4, 3, 2 e 1 semanas antes do parto. A contaminação foi administrada por via oral a partir de uma alíquota de amostras de fezes congeladas, com uma concentração específica de rotavírus A e C. Não foi encontrada diferença significativa entre os tratamentos, mas observou-se melhora na morbidade e na mortalidade dos leitões filhos das mães contaminadas, em comparação a um lote-controle. Isso sugere que a imunidade lactogênica das porcas pode ser manipulada com exposições naturais ao rotavírus, afetando tanto a gravidade clínica como a mortalidade. Não menos importante é considerar a idade em que os leitões são afetados (idade do desmame) e a dose infectante que usamos para a exposição das porcas. Serão necessários mais estudos para saber como estimular a imunidade lactogênica das porcas e descobrir a correlação entre o período de detecção e excreção do vírus. PESTIVÍRUS: o pestivírus atípico suíno (APPV, na sigla em inglês) é detectado esporadicamente nas granjas, associado a quadros clínicos de tremores congênitos em leitões recém-nascidos (tipo A II). Sua epidemiologia e patogenia são pouco conhecidas. O diagnóstico pode ser feito por PCR, por meio de material coletado em fluidos orais e soro sanguíneo. SENECAVÍRUS A (SVA) ou VÍRUS SENECA VALLEY (SVV): vírus RNA responsável por uma doença vesicular nos suínos, difícil de distinguir clinicamente da febre aftosa. Há uma vacina em teste que parece eficaz no controle dos sinais clínicos, em comparação com animais não vacinados, tanto em reprodutores quanto em suínos de engorda. Tambémse observa redução na viremia e na excreção viral nas fezes. A prevalência atual é muito baixa nos EUA, e sua presença é observada nas amígdalas, onde permanece 91 dias após os sinais clínicos. Nos fluidos orais e nas fezes, seu isolamento é menos sensível. O estresse no transporte não parece ser um fator determinante na sua transmissão.