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Reprodução
Vantagens do uso de ecografia em suinocultura
MV Dr. Rafael Tomás Pallás Alonso
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Diretor Técnico para Serviços Veterinários da KUBUS - Madri/Espanha rtpallas@gmail.com
Há 30 anos, por meio do desenvolvimento da tecnologia e da portabilidade, as técnicas de ultrassom em tempo real (Modo B) tornaram-se uma valiosa ferramenta de diagnóstico reprodutivo, sendo rapidamente introduzidas na suinocultura como um complemento para determinar a confirmação da prenhez (Kauffold et al, 2019). A introdução dos equipamentos de ultrassom permitiu ao veterinário ir além do diagnóstico precoce da gestação, possibilitando uma série de aplicações de grande impacto econômico para a granja (Inaba et al, 1983). Essas aplicações incluem o monitoramento da atividade ovariana, a estimativa do momento da ovulação, o estado de maturação do sistema reprodutor das futuras reprodutoras – a fim de determinar o início da puberdade – bem como a determinação de patologias, tanto as individuais como as relativas ao grupo e as relacionadas à piora dos índices técnico-econômicos (MartinatBotté et al, 2002).

MVZ Marina López
Departamento Técnico da KUBUS - Madri/Espanha marina@kubus.es
Em primeiro lugar, devemos saber identificar as estruturas anatômicas para realizar um exame transabdominal correto. O transdutor, também chamado de sonda, deve ser colocado no flanco inferior da região inguinal, acima das glândulas mamárias, conforme mostrado na Imagem 1. O diagnóstico de prenhez é feito com base nos registros de inseminação e na observação das vesículas embrionárias. Dentro do útero vamos encontrar as vesículas embrionárias e, na medida em que a gestação avança, dentro delas podemos ver os embriões. Os tecidos são delineados e avaliados com base em sua ecogenicidade, ecotextura e tamanho. Ao posicionarmos a sonda em uma porca púbere não prenhe, as estruturas que encontraremos (ver Imagem 2) são as seguintes: a bexiga urinária identificada por seu conteúdo líquido, que aparece preta (anecoica) na imagem de ultrassom; o gás contido no intestino, que é visualizado como branco (hiperecoico); e entre essas duas estruturas veremos o útero (ecotextura hipoecoica). O diagnóstico correto no início da gestação depende da qualidade do equipamento utilizado, além da habilidade e da experiência de quem realiza o exame.

Quando se tem um ecógrafo na granja é possível detectar em tempo hábil as porcas não prenhas – também chamadas de porcas vazias – evitando-se, assim, os dias não produtivos (DNP). Durante o período correspondente aos DNP, as porcas apenas incorrem em despesas e não geram receitas. Os DNP são todos aqueles dias em que a porca, desde a sua entrada na fase reprodutiva até o descarte, não está prenhe e nem amamentando. Cada DNP por porca é calculado, na Europa, variando entre € 2,50 e € 3,50 (Cubillos, 2016). Esse montante inclui o custo de instalações, ração, mão de obra, pessoal, etc. Mas um DNP pode custar mais se o considerarmos como um custo de oportunidade, por exemplo, quantos quilos de carne deixamos de faturar, conforme detalhado na Tabela 1 abaixo. Temos, ainda, as fêmeas primíparas, grupo de porcas de grande importância técnica e econômica nas granjas, e devemos considerar que a taxa de renovação anual nas granjas comerciais oscila entre 40% e 45%. Antes de sua incorporação ao grupo de reprodução, essas fêmeas – ainda nulíparas – já devem ter atingido a puberdade. No entanto, muitas vezes ocorre atraso nessa transição devido a diferentes razões (Kauffold, 2003). Por isso, muitas vezes os criadores têm dúvidas sobre se as marrãs estão sexualmente maduras ou não, o que leva ao sacrifício de algumas delas – apesar da puberdade – ou à inseminação no primeiro cio, o que provoca um efeito adverso na vida reprodutiva delas. Em geral, o número de marrãs descartadas não deve exceder os 5% em uma granja comercial (Althouse, 2019). Essa má gestão reduz os ganhos financeiros, sendo necessário, e desejável, monitorar corretamente essas fêmeas por meio de um método confiável de detecção da maturidade sexual. Assim, uma outra utilização possível atribuída ao scanner de ultrassom (US) é a capacidade de detectar quais porcas são púberes e quais permanecem impúberes, para que se possa iniciar um tratamento hormonal naquelas que não desenvolveram adequadamente o seu sistema reprodutivo. E se não responderem ao tratamento é conveniente que se faça o descarte delas, pois o útero dificilmente se desenvolverá. As imagens obtidas pelo ultrassom permitem detectar o tamanho do útero e de seus cornos. As porcas cujo diâmetro da secção do corno uterino for menor do que 1 cm, são consideradas pré-púberes. Em contrapartida, úteros grandes com cornos uterinos identificáveis e ocupando uma grande área da tela do aparelho de US são considerados púberes, conforme mostra a Imagem 3.

Imagem 1: Posição do transdutor (sonda) para avaliação do aparelho reprodutor da fêmea (imagem de porca gestante) Imagem 2: Ecografia reprodutiva de uma porca púbere não prenhe

Tabela 1: Cálculo de dias não produtivos e custo de oportunidade (Zenatti, 2020) QUANTO DEIXAMOS DE FATURAR COM 1 DNP? LEITÕES POR FÊMEA POR ANO LFA
LEITÕES/FÊMEA/DIA LFA/365 DIAS
PREÇO DE VENDA SUÍNO 110 KG € 1,29
1 DIA NÃO PRODUTIVO QUANTO SE DEIXA DE GANHAR C/ UMA REPETIÇÃO DE CIO/PORCA? 29 € 0,079 € 141,90 € 11,30
Tabela 2: Comprimento uterino, peso de ovários e corpos lúteos em porcas impúberes e púberes (Goudetet al; 2018) Análise do trato genital de porcas após o abate Estado fisiológico no momento do abate Comprimento dos cornos uterinos (média ± SEM*) Comprimento dos ovários (média ± SEM*) Número de corpos lúteos/ovário (média ± SEM*)
* Erro padrão da média Puberdade verificada 171,8 ± 7,8 8,8 ± 0,4 8,9 ± 0,6 Imatura 73,3 ± 2,4 6,1 ± 0,4 0,0 No 2º ciclo estral 199,5 ± 7,5 10,2 ± 2,8 10,0 ± 4,0

Imagem 3: Lado esquerdo, fêmea impúbere (útero pequeno), vs lado direito, fêmea púbere (útero grande)
Referências bibliográficas
A.; Althouse, G.; Principles and clinical uses of real-time ultrasonography in female swine reproduction. Animals. 9 (2019), doi:10.3390/ani9110950. Imori, T.; 1983. Early pregnancy

Imagem 4: Comparativo do aparelho genital de porcas púberes (direita e esquerda) e de uma porca impúbere (no centro). As três fêmeas pertenciam a um grupo com a mesma idade e a E., Boisseau, C., Guillouet, P., Furstoss, V., &Terqui, M. (2003). Determination
mesma genética

Um estudo realizado por Goudet et al, em 2018, demonstra como o comprimento dos cornos uterinos, o peso dos ovários e o número de corpos lúteos variam, comparando uma fêmea púbere com uma fêmea imatura e com uma fêmea de segundo cio, conforme mostra a Tabela 2. Corroboramos esses dados ao realizar uma análise na Escola de Veterinária de Zaragoza, Espanha, na qual pudemos identificar claramente diferenças no comprimento, diâmetro e peso entre os cornos uterinos de fêmeas púberes e impúberes, bem como no tamanho e na atividade ovariana, como mostra a Imagem 4. Desde a década de 1980 contamos com uma ferramenta valiosa, que se tornou um elemento essencial para o desempenho reprodutivo A combinação de treinamento adequado com uma equipe de qualidade proporciona valor agregado para a obtenção dos melhores índices de produção na granja.
1.
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5. Kauffold, J.: Peltoniemi, O.; Wehrend, Inaba, T.; Nakazima, Y.; Matsui, N.; diagnosis in sow by ultrasonic linear electronic scanning. Theriogenology 20:97-101.
Martinat-Botté, F., Royer, E., Venturi, e para a realização de diagnósticos na granja.
by echography of uterine changes around puberty in gilts and evaluation of a diagnosis of puberty. Reproduction, nutrition, development, 43 3, 225-36.
Kauffold, J.; Rautenberg, T.; Richter, A.; Waehner, M.; Sobiraj, A. Ultrasonographic characterization of the ovaries and the uterus in prepubertal and pubertal gilts. Theriogenology 2004, 61, 1635–1648. Goudet G.; Nadal-Desbarats L.;Douet C.; et al. Salivary and urinary metabolome analysis for pre-pubertyrelated biomarkers identification in porcine. Animal. 2019;13(4):760-770. doi:10.1017/S1751731118002161