Contra-Ataque Abril

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www.jornalcontraataque.com.br O incrível

Ano II Edição n° 5 Porto Alegre Rio Grande do Sul

HULK

Abril de 2011

fala ao jornal Contra-Ataque

@jcontra jcontra ataque Distribuição mensal e gratuita

Leia e Passe Adiante!

FOTOS JOÃO FREITAS E DIVULGAÇÃO

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EXCLUSIVO

“Quase me aposentaram lá no Inter. Alguns diretores disseram que não dava mais pra mim” Chiquinho desabafa ao Contra-Ataque e revela seu ressentimento por Roth e Vitorio Piffero

12 e 13

GRÊMIO

INTER Como Lauro deu a volta por cima na carreira 7

Gabriel quer 6 ficar de vez na lateral tricolor

ESPORTEDAVEZ

4e5

Fique por dentro do hóquei sobre a grama

ENTREVISTA KALIL SEHBE As ideias do novo secretário do esporte centrais


Editor Chefe: Guilherme Hamm (51) 9715.2921 Editor Adjunto e Arte: Renan Sampaio (51) 8209.4394 Contato: jornalcontraataque@hotmail.com

EDITORIAL

Iluminando os caminhos de um campeão por Guilherme Hamm Editor Chefe No dia 30 de janeiro de 2010, a vida de um jovem esportista mudou de maneira avassaladora. Anônimo até então, o tenista Tiago Fernandes fez história ao vencer o Aberto da Austrália Juvenil. Pela primeira vez um brasileiro conquistava tal feito. Pela primeira vez o Brasil chegava ao topo do ranking mundial na categoria até 18 anos.

de Roland Garros fez os brasileiros amarem tênis, amarem Guga, simplesmente amarem o esporte. Se Tiago irá repetir as glórias do ex-número 1 do mundo só o tempo dirá. Mas é aí que entra o fator primordial na magia do esporte. Sejamos profissionais, praticantes, meros expectadores, todos necessitamos de um ídolo para torcer, para se espelhar.

Lembro-me bem do sábado em que estava em casa assistindo ao Globo Esporte. O apresentador Léo Batista revelava o feito inédito de um menino chamado Tiago. Nascia ali, ou pelo menos era anunciado como tal, a figura de um ídolo.

E foi isso que motivou a criação do Jornal Contra-Ataque. Nosso objetivo é iluminar um futuro campeão, mostrar o duro caminho trilhado até a glória. Muitas vezes esse atleta está aqui por perto, do nosso lado, mas ninguém parece querer vê-lo.

Neste mesmo dia, inevitavelmente fiz uma relação com o maior nome que o país possui nesse esporte: Gustavo Kuerten. O tricampeonato

Na 5ª edição do JCA você vai entender do que estou falando. Chiquinho, ex-lateral do Inter, era promessa no Beira-Rio. Lesões e

brigas com treinadores e dirigentes fizeram com que o jogador sumisse do mapa. Enquanto ele luta para se reconstruir, outros boleiros da dupla Gre-Nal tentam ficar marcados na história dos seus clubes. Gabriel, pelo lado do Grêmio, e Lauro, pelo Inter, não pensam em outra coisa a não ser permanecer em gramados gaúchos. Por falar no Estado, são nessas terras que surgiram para o futebol duas verdadeiras lendas desse esporte: Renato Portaluppi e Falcão, e isso é assunto para os colunistas Mário Marcos e Fábian Chelkanoff. O fenômeno Messi tem a carreira retratada pelo argentino Ezequiel Vila Petriz. Não perca as primeiras tacadas do hóquei sobre a grama no Estado, o nadador com um futuro promissor na maratona aquática e a entrevista exclusiva com o Secretário Estadual do Esporte, Kalil Sehbe.

Tratamento de imagens: AJornal3 ajornal3@gmail.com

Jornal Contra-Ataque

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Perfil: Vinícius Fernandes

Jornalista responsável: Antão Valderes Rebelo Sampaio – MTB 5514 Editor-chefe: Guilherme Hamm (51) 9715.2921 guihamm@hotmail.com

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FÁBIAN Chelkanoff*

Ídolos de sempre Lembro-me muito bem de 1979. Naquele ano, conheci um time fenomenal. Um time que não perdia para ninguém. Um time que jogava como que por música. Neste time tinha um alemãozinho, como eu dizia na época, que era um craque. No meu imaginário de guri, era um cara de outro mundo. Jogava como todos queriam jogar. No entanto, ele jogava. Vestindo a camisa 5, poucos anos antes, eu já o tinha visto empurrando carrinho de mão lomba acima. É, carregada de areia e cimento. E eu pouco entendia aquilo. Na verdade, só fui entender aquele gesto há pouco tempo. Recentemente quando o futebol foi guindado à categoria dos “profissionais”. Paulo Roberto Falcão era jogador de futebol. Mas Renato ou Falcão podem trazia consigo errar na escalação. Podem o amor pelo perder títulos. Mas no clube. Chegou ao Colorado coração dos torcedores, aos 11 e só saiu eles serão eternos. aos 27 anos. Hoje, no futebol profissional, garotos de 17 já se dizem prontos para encarar a Europa. E em menos de 90 dias choram a falta do feijão brasileiro. Tudo que escrevi sobre Falcão serve para Renato Portaluppi. Os dois são exemplos que ídolos, de verdade, jamais são esquecidos. Movimentam paixões. Mexem com o coração dos torcedores. Renato ou Falcão podem errar na escalação. Podem perder títulos. Mas no coração dos torcedores, eles serão eternos. Renato já é realidade e Falcão recém fez sua estreia com vitória sobre o Santa Cruz. Os pequenos do Ajax da Vila Cruzeiro, de Porto Alegre, querem ser ídolos assim. Num trabalho solitário e com quase nada de ajuda, os irmãos Rosa, o Mano e o Júnior tentam dar esperança para mais de 90 crianças que encontram no futebol uma alternativa de sair da situação em que se encontram. Esses pequenos miram seus olhos para os Renatos e Falcões que já não existem mais. Mas é neles, certamente, que os dois se espelham. E é como eles que cada um desses pequenos quer ser. * Formado em jornalismo e mestre em Comunicação Social pela Famecos, passou pela Zero Hora e Diário Gaúcho. Trabalhou ainda nas rádios Gaúcha, Rural, Farroupilha e Metrô, sempre junto com o jornal. Hoje é professor da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS.


Mário Marcos

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Atual comentarista do PFC, o jornalista Mário Marcos trabalhou 27 anos na editoria de Esportes do Jornal Zero Hora. Hoje, possui um blog pessoal com opiniões sobre todos as modalidades. Confira:

www.mariomarcos.wordpress.com

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O dia que eu vi nascer um craque

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aqueles primeiros anos da década de 70, o repórter encarregado da cobertura diária dos grandes times de Porto Alegre - o chamado setorista - não se limitava a conferir de perto a atividade dos profissionais. Ele tinha de passar também pelas categorias de base. Quando havia Gre-Nal, então, virava uma loucura. A cobertura era intensa, com entrevistas diárias, relatos sobre treinos e destaques, nada escapava. Em um destes dias, entrei no velho Estádio dos Eucaliptos - que, mesmo com a inauguração do Beira-Rio em 1969, ainda era utilizado pela base e até como sede do departamento de futebol do Inter - caminhei até a pista atlética e me acomodei no banco, ao lado do técnico Ernesto Guedes. Repórter da Folha da Tarde, buscava informações sobre o time infanto-juvenil em semana de clássico. Olhei para o campo, onde a equipe juvenil (hoje, júnior) treinava, indiquei um determinado jogador e completei dizendo que gente do clube apostava nele como um futuro destaque do Inter. Ernesto me olhou com atenção, apontou para outro lado do campo e completou:

REPRODUÇÃO

- Aquele lá é que será um craque. Olhei na direção indicada e vi um garoto magro, de pernas longas, cabelos encaracolados, correndo no meio-campo do infanto. Descobri pouco tempo depois que naquela tarde de 1971 vi o surgimento, com absoluta precisão, de um craque – o mesmo que hoje, com menos cabelos, mas o mesmo porte dos tempos de base, é o novo técnico do Inter, encarregado de dar ao time o futebol sonhado por sua torcida. Ernesto me fez prestar atenção nos primeiros passos de Falcão, que arrasaria na seleção olímpica (ele liderou o time brasileiro em uma goleada de 4 a 1 sobre os profissionais do Hamburgo, na preliminar do empate em 3 a 3 entre Brasil e Gaúchos, dia 17 de junho de 1972), assumiria o lugar de Carbone no meio-campo do time profissional e começaria a garantir seu lugar como um dos melhores jogadores brasileiros do século passado. Falcão fez parte de todas as seleções formadas na virada de 2000. Entre aquela tarde de treino do infanto e os dias atuais de técnico do Inter, fez parte da mítica Seleção

de 1982 (perdeu, mas nunca foi esquecida) e viraria Rei de Roma, ao dar aos fanáticos torcedores da Roma o primeiro título depois de décadas. Nunca mais esqueci dos detalhes daquele dia de cobertura porque todas as previsões de um especialista em observar a evolução de jovens jogadores se confirmaram. A cada avanço de Falcão, lembrava da conversa. Ernesto indicou um jovem entre dezenas que trabalhavam no gramado esburacado dos Eucaliptos, apostou nele e fez um jovem repórter de 22 anos, cinco a mais do que o Falcão da época, ficar atento para sempre aos passos daquele jogador. Sempre usei aquela lembrança como uma prova da importância dos especialistas em um clube de futebol, homens capazes de identificar um talento e de ajudar a moldar sua carreira. Nestes 40 anos, o jovem magro dos Eucaliptos virou jogador, ídolo, empresário, comentarista de TV, colunista de jornal e agora volta a ocupar a área técnica de um time. Talento ele tem de sobra, como Ernesto destacou naquele distante 1971.

Falcão exclusivo ao Contra-Ataque

FOTOS JOÃO FREITAS

REPRODUÇÃO

Em agosto de 2010, Paulo Roberto Falcão dividia seu tempo como comentarista na TV, no rádio e como colunista diário no Jornal Zero Hora. Naquele momento, o país ainda estava sob o efeito da derrota para a Holanda na quartas de final da Copa do Mundo da África do Sul. Falando em Mundial, Falcão não embarcou para a terra de Nelson Mandela. O motivo era bem simples: o ídolo do Internacional queria voltar a casa-mata. Por isso, preferiu Primeira edição trouxe Falcão nas páginas centrais não assinar novo contrato com a Rede Globo antes do Para conhecer esse lado treinador evento. Esperava uma boa oportunidade. de Falcão a equipe do Contra-Ataque foi até o Bairro Moinhos de Vento, Mano Menezes, recém anunciado como em Porto Alegre. O atual treinador do novo comandante da amarelinha, tinha a colorado falou com exclusividade sobre missão de renovar o elenco brasileiro na o ano que esteve à frente da Seleção busca por um futebol mais bonito, alegre e desabafou: “Muita gente diz que o e cheio de jovens. Coincidência ou não, lá futebol é resultado. Se continuar assim, no ano de 1990 o “Rei de Roma” fez sua não se tem nenhum trabalho”. Para estreia como técnico no mundo da bola, conferir a entrevista na íntegra acesse: e a palavra de ordem após o fracasso na www.jornalcontraataque.com.br Copa de 1990 era justamente renovação.

Amantes da velocidade, liguem seus motores… REPRODUÇÃO

O blog Cockpit já está no ar pelo site do jornal Contra-Ataque. Os jornalistas Eduardo Paganella e Douglas Fortes abordam as principais infomações e opiniões sobre o mundo do automobilismo, com a Fórmula 1, Indy, WTCC e Stock Car. Confira mais em www.jornalcontraataque.com.br/cockpit/.

Além das universidades, o jornal pode ser visto nas praças da Capital

Contra-Ataque nos parques Assumimos o compromisso de levar o Contra-Ataque até você, fã de esportes. Portanto, não deixe de conferir o impresso em academias, clubes e algumas bancas de Porto Alegre. Os Distribuição acontece nos finais de semana frequentadores dos principais parques da Capital também passaram a ler nossas edições mensais. Se você é estudante universitário não deixe de conferir tudo sobre esportes, pois o JCA está à disposição nas principais instituições de ensino.


ESPORTEDAVEZ

No Estado, ele praticamente não existe. No Brasil, faltam atletas de alto nível. Veja o que está feito para impulsionar o hóquei gaúcho e nacional.

Uma TACADA para o futuro

O

s gaúchos estão acostumados a presenciar boas peleias na grama e no salão. Porém, se fizermos algumas modificações como: diminuir o tamanho da bola e acrescentarmos um bastão, já é possível esboçar uma partida de hóquei sobre a grama. Esqueçam a chuteira ou os patins, pois nessa modalidade você pode usar o seu tênis do dia-a-dia. O esporte possui poucos praticantes no Brasil (aproximadamente 1500 jogadores). No Estado, o número é ainda menor tendo em vista que os principais polos do jogo são no Rio de Janeiro, São Paulo e Florianópolis. Apesar das estatísticas pouco animadoras, a Confederação Brasileira de Hóquei Sobre a Grama e Indoor (CBHG) tem boas expectativas com relação ao Rio Grande do Sul. De acordo com o Gerente Geral da CBHG, Eduardo Leonardo

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por Eduardo Paganella e Leonardo Fister

GISELLE OUCHANA/CBHG

dos Santos, a entidade aposta na proximidade com a Argentina, uma das potências no esporte, para alavancar a modalidade. “A CBHG vê um enorme potencial de desenvolvimento do hóquei gaúcho, principalmente pelo fato de estar próximo da Argentina, o que permitirá um intercâmbio constante com as equipes vizinhas, e que elevará o nível do hóquei no Estado”, afirma Santos. Mas não é somente no fator geográfico que a entidade aposta suas fichas. Para contribuir com a fomentação do desporto no cenário gaúcho, a CBGH tem o auxílio do bacharel em Educação Física Daniel Finco. Ele está criando escolinhas, ministrando palestras e promovendo cursos para desenvolver o hóquei sobre a grama. Um dos locais onde o profissional ensina é no ginásio Gigantinho. As aulas fazem parte do projeto social Interagir, que é administrado pelo Sport Club Internacional.

As lições tem a presença de muitas crianças e adolescentes. Para Finco, o esporte chama muito a atenção dos mais novos. “Temos que apostar nos jovens. O hóquei é muito técnico e exige persistência e determinação. Dessa forma, a juventude é a chave para o desenvolvimento de uma base consistente”, comenta. O trabalho no projeto social é um grande avanço, no entanto, Finco ressalta que o abandono torna difícil formar uma equipe entrosada. “Muitos alunos são oriundos de famílias carentes e não têm condições de manter uma presença frequente”, diz. Daniel, entretanto, não desanima e segue a sua luta para promover o hóquei sobre a grama e indoor. “Vou continuar na busca de parcerias e da implementação de escolinhas. É preciso aproveitar a curiosidade das crianças e trabalhar o público. É uma tarefa de longo prazo, mas acredito no sucesso”.

Finco é precursor do hóquei no RS


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Um desafio olímpico

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esforços da Confederação Brasileira de Hóquei sobre a grama para a implementação da modalidade no país estão surtindo efeito. O esporte apresentou uma boa evolução nos últimos anos. Entretanto, o Brasil poderá ter um grande desafio pela frente. Uma regulamentação do Comitê Olímpico Internacional (COI) atesta que o país-sede dos Jogos Olímpicos teria direito à vaga em todas as modalidades da competição. Com isto, as equipes brasileiras masculina e feminina de hóquei teriam presença garantida na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. Porém, uma norma do COI aponta que os países só terão direito a essas vagas caso tenham um nível de competitividade aceitável. E, até o momento, a Confederação Internacional de Hóquei sobre a grama ainda não definiu se as equipes brasileiras têm capacidade técnica de ingressarem no torneio Olímpico. Caso o esporte não se desenvolva o suficiente, o Brasil terá de disputar uma seletiva com outras seleções para comprovar que merece a vaga. O gerente geral da CBHG, Eduardo Leonardo dos Santos, afirma que este processo de analisar o nível técnico de determinadas seleções é comum. “O hóquei brasileiro pode viver uma situação semelhante à do basquete da Grã-Bretanha, que teve de passar por votação para participar das Olimpíadas”, conta Santos. A decisão sobre a necessidade de o Brasil disputar uma seletiva deve ocorrer até o final deste ano.

Saiba mais sobre Hóquei na grama

O representante da CBHG é otimista e destaca que, dificilmente, o Brasil ficará de fora dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. “Além do trabalho que estamos fazendo para melhorar a qualidade do esporte no Brasil, a Confederação Internacional de Hóquei não tem nenhum interesse em nos deixar de fora da disputa de 2016”, ressalta. E para que o Brasil chegue daqui a cinco anos com uma boa equipe, o desenvolvimento do esporte é focado na formação de atletas. Uma das ideias da Confederação é fazer o hóquei entrar na grade curricular de escolas de ensino básico, como já acontece em algumas instituições argentinas. “Se investirmos na popularização e qualificação das crianças e dos jovens, em cinco ou dez anos poderemos nos tornar uma potência no esporte”, afirma. DIVULGAÇÃO

O hóquei na grama surgiu na Grã-Bretanha, na segunda metade do século XI; O objetivo do jogo é simples: marcar mais gols do que o adversário; Cada time tem a presença de 11 atletas em campo: dez jogadores de linha e um goleiro; Atualmente, as principais potências mundiais são Austrália, Alemanha, França e Holanda; Os atletas só movimentam a bola com um stick (taco do hóquei na grama); No hóquei na grama, não é permitido o contato físico entre os atletas; O hóquei sobre a grama foi o percursor de esportes semelhantes como o hóquei no gelo e o hóquei indoor;

O gol só pode ser marcado dentro da área; Até a década de 70, a Índia e o Paquistão dominavam o esporte; A partida é dividida em dois tempos de 35 minutos; Na Argentina, cerca de 120 mil pessoas praticam o hóquei sobre a grama. No Brasil, a estimativa é de apenas 1 mil e 500 praticantes; A equipe feminina de hóquei da Argentina é conhecida como “Las Leonas”, considerada uma das melhores do mundo; O jogo é disputado em um campo de grama sintética; Apenas o goleiro pode usar os braços e as pernas para tocar na bola. Ele utiliza uma espécie de armadura para não se machucar;

Vaga nas Olimpíadas de 2016 não é garantida

DIVULGAÇÃO

Do mesmo berço As semelhanças entre o hóquei na grama e o futebol são evidentes. Nos dois esportes a partida é disputada em um gramado, cada time conta com onze jogadores e o objetivo é marcar gols. Mas o fato de as modalidades serem parecidas não é mera coincidência, afinal, o hóquei na grama veio do mesmo berço do futebol: a Inglaterra. Criado pelos ingleses na primeira metade do século XIX, o hóquei na grama rapidamente se espalhou pelas colônias britânicas. Em 1908, a modalidade participou pela primeira vez dos Jogos Olímpicos, disputados em Londres. Anfitriã, a Inglaterra não tomou partido dos adversários e venceu a competição. Lembram-se das colônias britânicas? Pois é. Depois da primeira olimpíada, parece que eles aprenderam rapidinho a jogar hóquei. Até a década de 1970, Índia e Paquistão dominaram o esporte. A Índia levou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1928,1932, 1936, 1948, 1952, 1956 e 1964. O Paquistão conquistou as Olimpíadas de 1960 e 1968.

A campeã do mundo Argentina manda no Continente

A supremacia de indianos e paquistaneses começou a ruir a partir de uma determinação

da FIH (Confederação Internacional de Hóquei), que definiu que a modalidade deveria ser praticada em gramados sintéticos, e não em grama natural. Desde então, países como Holanda, Austrália e Alemanha despontaram. Outro avanço do esporte foi a inserção do hóquei sobre grama feminino nos Jogos Olímpicos de 1980, na extinta União Soviética. Entre as mulheres, as principais seleções do mundo são Holanda, Austrália, Alemanha e Argentina. No cenário sul-americano, a Argentina é a grande força do esporte. A equipe feminina é conhecida como “Las Leonas”. As hermanas são as atuais Campeãs Mundiais e Pan-Americanas.

No Brasil Apesar de parecer distante, os primeiros relatos do hóquei sobre a grama no território brasileiro surgiram por volta de 1880, principalmente em virtude das colonizações inglesa e alemã. Entretanto, apenas um século depois, em 1998, foi criado o primeiro campeonato brasileiro da modalidade.


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O pai Wladimir quer o filho no Grêmio. Renato Portaluppi também. Gabriel almeja mais: fazer história no Estádio Olímpico.

GRÊMIO

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nação tricolor está preocupada. O lateral-direito que o Grêmio tanto sonhava desde a era Arce tem presença incerta no Estádio Olímpico. Alheio às críticas tanto da imprensa como da torcida, Gabriel conquistou permanência incontestável na equipe de Renato Portaluppi. O que tira o sono dos torcedores é a data de término do empréstimo junto ao clube: dia 30 junho. O jogador rechaça qualquer rumor quanto a sua vontade de permanecer na Azenha. Gabriel não deixa dúvidas, quer realmente fazer história no tricolor gaúcho. “Estou muito bem resolvido na vida. Por mim, assino contrato por sete anos com o Grêmio e encerro a minha carreira aqui”, atesta o atleta de 29 anos. Com um olhar de preocupação, no entanto, ele ressalta a incerteza com o futuro no clube. “Estou tão preocupado quanto eles (os torcedores), mas a minha vontade é de permanecer. Farei de tudo para que isso aconteça. Infelizmente, não depende apenas de mim”, desabafa o lateral, que tem contrato por mais dois anos com o Panathinaikos, da Grécia. Mas o coro pela permanência de Gabriel não se restringe apenas a quem acompanha de perto suas atuações no tricolor gaúcho. Lá de São Paulo vem o apoio de uma figura ilustre do futebol brasileiro. Inesquecível na memória dos corinthianos, Wladimir, pai do jogador, é o grande conselheiro nas idas e vindas da carreira de Gabriel. “Meu filho já me pediu para ir à Grécia caso seja necessário. Estou de sobreaviso. Se a coisa tiver enroscada, eu pego um avião na hora”, revela Wladimir, aflito com um possível desacerto entre o Panathinaikos e o Grêmio. Gabriel

Por mim, assino contrato por sete anos com o Grêmio e encerro a minha carreira aqui. Hoje, quem vê a figura do lateraldireito ao lado de Rochemback, Victor e Renato na campanha de marketing do Grêmio por novos associados talvez não saiba, de fato, porque Gabriel virou tão rapidamente um ídolo no clube. As respostas parecem vir do lado de fora das quatro linhas. “Eu tento fazer ele entender a responsabilidade que tem. O atleta não é só um líder endeusado e agraciado pela torcida. Ele é cobrado por suas atitudes”, diz o ex-

lateral-esquerdo dos tempos de Corinthians. Nesse aspecto, parece que Gabriel aprendeu direitinho os ensinamentos do pai. O jogador recebe constantemente inúmeros elogios de colorados. Semelhança essa que o Wladimir percebe ao ser cumprimentado por santistas, são-paulinos e palmeirenses. Nas declarações, os dois também formam uma dupla afinada no ataque, ou melhor, nas laterais. Para Wladimir, o filho alia vontade com uma técnica apurada. “Ele é uma versão minha, melhorada”. Gabriel, contudo, não deixa por menos. “Eu serei sempre Wladimir Futebol Clube”, orgulha-se.

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‘você acha que vou te colocar numa fria, numa furada? Confia em mim”, conta o lateral, que faturou com Portaluppi a Copa do Brasil de 2008 pelo Fluminense. Em poucos meses, Gabriel consolidou-se na posição, ajudou a tirar a equipe da degola e ainda tornou-se uma referência técnica no grupo classificado para a Copa Libertadores. Em 2011, foi fundamental no título do primeiro turno do Gauchão e na conquista da vaga para a segunda fase do torneio Continental. O resultado disso é a total confiança do comandante. “Pra mim, o Gabriel é jogador de seleção brasileira”, elogia Renato.

por Guilherme Hamm foto João Freitas

O dono da

LATERAL direita

Formado na base do São Paulo e com passagens por Fluminense, Málaga, Cruzeiro e Panathinaikos, Gabriel possui uma vasta experiência dentro de campo. Deu uma de artilheiro, tornando-se, em 2005, o lateral com mais gols (16) em uma única edição do Brasileirão. Recorde nunca igualado. Dos gramados europeus, ele acredita que veio a maturidade futebolística. Atuando pela equipe grega concretizou o sonho de disputar a Liga dos Campeões da Europa, na temporada 2008/2009. Levou o clube até as oitavas de final da competição. “Foi uma experiência maravilhosa. Fui eleito o melhor em campo na vitória do Panathinaikos em cima da Inter de Milão”, revela ao comentar sobre o trunfo de 1 a 0 no mítico San Siro, em Milão. Após um período de duas temporadas na Grécia, surge o convite de um velho conhecido. Eis que Renato Gaúcho, então recém chegado ao Olímpico, liga para Gabriel a fim de trazer o lateral para tirar o Grêmio da zona do rebaixamento do Brasileirão. “Eu acreditava na proposta dele. Ele me falava:

Assim é Gabriel Rodrigues dos Santos. Um misto de paulista e carioca, com passagem pelo Velho Mundo e que vê no Grêmio a oportunidade de consolidar uma trajetória de vencedor. O lateral também virou pai em fevereiro. Escolheu a Capital gaúcha para poder participar ativamente do parto da filha Estela, que, segundo ele, “possivelmente será gremista”.

Wladimir

Se a coisa estiver enroscada vou à Grécia. Estou de sobreaviso.

Não há mais dúvida. Seu Wladimir, Renato, a torcida... todos estão unidos para que o futuro de Gabriel seja no Olímpico. “Quero ter uma identidade por aqui. Gostaria de me ver dando a volta olímpica e comemorando muitos títulos”, sonha.

Símbolo da Era Renato, jogador pertence ao Panathinaikos


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Giovanni Luigi pediu para ele ficar. Taffarel o apoiou no momento em que estava na reserva. Saiba como Lauro reconquistou a titularidade.

9 INTERNACIONAL

por Rodrigo Pizolotto foto João Freitas

Campeão da Sul-Americana em 2008, o goleiro foi para a reserva com Jorge Fossati, mas teve a confiança de Roth para retornar ao time neste ano

L

auro tornou-se goleiro, destacouse na Ponte Preta, chegou ao Cruzeiro, foi escanteado, pediu para ser emprestado ao Sertãozinho, deu a volta por cima e, hoje, é o dono da camisa 1 colorada. A maneira como Lauro Júnior Batista da Cruz desembarcou em Porto Alegre para jogar no Sport Club Internacional, em agosto de 2008, não condiz com o caminho tortuoso pelo qual o goleiro teve de passar até chegar neste status. Hoje, com 30 anos de idade, ele é o titular absoluto. Dono incontestável da camisa 1. Natural de Andradina, estado de São Paulo, Lauro ficou famoso em 2003, quando, pela Ponte Preta, marcou um gol de cabeça aos 52 minutos do segundo tempo, contra o Flamengo. O jogo terminou com o placar de 1 a 1 e a equipe da Ponte permaneceu na Série A do Campeonato Brasileiro. Quando chegou a Minas Gerais para jogar no Cruzeiro, viveu uma incômoda situação. Fábio era o soberano no gol da Raposa. Sua qualidade era indiscutível. Sabendo que não teria chances, decidiu aceitar um convite para jogar, por empréstimo, no pequeno Sertãozinho, de São Paulo. “Foi uma decisão de muita coragem. Eu saía de

uma das melhores estruturas de treinamento do país, na Toca da Raposa, para treinar no meio de um canavial”, ressalta.

os goleiros Renan e Muriel contraíram hepatite e Lauro foi contratado. Com a posterior venda de Renan para o Valência, da Espanha, o exjogador do modesto Sertãozinho assumia o posto que já foi de Manga, Benítez e Clemer.

No time paulista, a situação não era nada boa. A equipe não tinha qualidade e, para completar, Lauro se lesionou e voltou para Minas Gerais contundido. Porém, durante a passagem pelo desconhecido time do interior, um jogo valeu por toda a carreira. A partida contra o Corinthians, pelo Campeonato Paulista, guarda uma história que o goleiro jamais havia relatado para qualquer jornalista. Entre os telespectadores, estava Abel Braga e seu então auxiliar-técnico no Internacional, Leomir. Abelão pôde observar os reflexos, a agilidade e as saídas arrojadas do arqueiro. Gostou do que viu e indicou Lauro para a diretoria colorada.

Ao vestir a camisa vermelha, ele estreitou sua relação com o maior ídolo: Taffarel. Quando ainda vestia as cores da Ponte Preta, Lauro recebeu, enquanto concentrava no hotel, uma visita inusitada. “Cheguei à recepção e lá estava o Taffarel. Queria falar comigo. Ele estava iniciando a carreira de empresário”. Ao mirar a figura histórica do tetracampeão do mundo com a Seleção Brasileira, Lauro ficou imóvel. “Cara, estou emocionado por estar na sua frente”, murmurou ao tetracampeão brasileiro em 1994. Lauro jamais esqueceu daquele encontro. E jamais esquecerá quando recebeu uma ligação do ídolo no momento em que perdeu a titularidade no colorado. “Ele me ligou, me deu força, palavras de incentivo. Foi fundamental para eu erguer a cabeça e seguir trabalhando. Por isso que eu sempre digo: um ídolo não se consolida apenas por aquilo que faz na profissão. Temos que levar em conta a pessoa que ele é”, ensina.

Não deu outra. Na época,

Lauro foi o titular da inédita

Um ídolo não se consolida apenas por aquilo que faz. Temos que levar em conta o que ele é.

conquista da Copa SulAmericana, em 2008, e do vice da Copa do Brasil no ano seguinte. Porém, a situação ficou crítica após uma falha, contra o antigo Grêmio Barueri, atual Grêmio Prudente. E, desde a chegada do então novo técnico, Jorge Fossati, no início de 2010, não houve nenhum tipo de avaliação dos jogadores da posição. “Ele simplesmente chegou e definiu que precisava de um novo goleiro”, lembra. A diretoria trouxe o argentino Pato Abbondanzieri. Lauro soube que não seria o titular da Libertadores na palestra que antecedeu a estreia do time, contra o Emelec, no Beira-Rio. “Foi um momento triste, mas de aprendizado para mim”, enfatiza.

Em um clube como o Inter, o jogador nunca pode se sentir titular incontestável. Do período no banco ele adquiriu hábitos, até então, desconhecidos. “Passei a assistir mais jogos, observar o posicionamento dos goleiros”, conta. Mas confessa que

pensou em deixar Porto Alegre quando recebeu propostas do Fluminense e do Braga, de Portugal. “O Fernando Carvalho disse que tinha muito carinho e respeito por mim, mas que as propostas não interessavam ao clube. O Giovanni Luigi, que era vice-presidente de futebol, me ajudou muito. Me incentivou, disse que o futebol era dinâmico e que as coisas podiam mudar a qualquer momento”, relata. Então, quando o Internacional chegava, a trancos e barrancos, na semifinal da Copa Libertadores, a direção demitiu Jorge Fossati e trouxe Celso Roth. “Fui o primeiro jogador que o Celso chamou para conversar. Ele disse que gostava muito do meu trabalho”, afirma Lauro, que estava suspenso na competição por se envolver na briga pósjogo contra o Estudiantes, nas quartas-de-final, na cidade de Quilmes. Em 2011, Lauro tornou-se titular absoluto do Internacional. Mas garante que não relaxa com a atual situação. “Em um clube como o Inter, o jogador nunca pode se sentir titular incontestável. Sempre mantenho a confiança e procuro ajudar a equipe”, explica. O futuro dirá se o ex-goleiro do Sertãozinho vai pendurar as chuteiras vestindo a gloriosa camisa 1 do Sport Club Internacional.


ENTREVISTAESPECIAL

O lado político do esporte por Guilherme Hamm foto João Freitas

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om a Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas 2016, eventos a serem realizados no Brasil, surge o sentimento de que está na hora do esporte dar um grande salto no país. Mais do que um objetivo, é obrigação. Parte dos governantes a responsabilidade de oferecer uma estratégia que resulte em avanços nessa área tão importante na formação de atletas e cidadãos. No meio político, o esporte nunca foi tratado como prioridade. O Jornal Contra-Ataque quis ir a fundo nessa questão: o Governo do Estado tem condições de alavancar o esporte gaúcho? Para responder a questão aos leitores, conversamos com o novo Secretário do Esporte e do Lazer do Rio Grande do Sul, Kalil Sehbe. O antigo atleta de handebol e ex-dirigente esportivo em Caxias do Sul terá quatro anos pela frente para mudar essa realidade. Confira entrevista na página ao lado:

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Qual é a avaliação que você faz do governo passado em relação à área esportiva?

Vai acontecer. Tenho garantia e convicção. O apoio do governo é total. Não faltará empenho de nossa parte.

Penso que o relógio anda para frente. O que passou, passou. Eu digo que nós nunca tivemos cuidado específico com o esporte no Rio Grande do Sul. Antigamente tínhamos a subsecretaria de desporto e em 2001 foi criada a Fundergs (Fundação de Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul). Mas não foi feita uma política estadual de esportes.

A Copa do Mundo é uma prioridade dentro da secretaria?

Como será essa política estadual que o governo pretende implementar? Até junho deste ano a secretaria vai reunir todas as instituições e as pessoas que vivem da atividade esportiva para criarmos a política estadual de esporte. Encaminharemos dois grandes projetos: o Pró Esporte será um incentivo fiscal vindo do ICM que as empresas têm a pagar. É parecido com a lei de incentivo à cultura. Voltaremos a ter esporte escolar, universitário, não formal, de alto rendimento. A outra iniciativa será o Fundo Estadual do Esporte. Inclusive, teremos cinco centros de excelência no Estado. A Fundergs terá o papel de elaborar todas essas ações.

Queremos o aeroporto pronto já para a Copa das Confederações. O que cabe ao Estado e a prefeitura está em dia. Qual será a sua marca à frente da secretaria do Esporte e do Lazer? Na verdade, o governador Tarso vem para deixar uma política estadual de Estado, para que não seja apenas uma ação de governo. Não é para quatro anos. Nós queremos uma política que se perpetue. Outro grande objetivo é ressignificar o Centro Estadual de treinamento Esportivo (Cete). Vamos criar lá a Casa do Esporte, onde teremos um auditório para 365 pessoas, salas para as federações, a Fundergs e o Comitê Gestor da Copa. Como irá funcionar a Casa do Esporte? É uma verba que nós conseguimos no Ministério do Esporte. Serão investidos R$ 5 milhões para a obra. É muito importante criarmos as políticas, mas temos que materializar os resultados. Atletas, treinadores e dirigentes precisam saber onde o esporte está. Nós queremos estar com isso funcionando em 2013. Estamos esperando a licitação para começar as obras. É possível garantir que a casa do esporte estará pronta em quatro anos?

Com certeza. O Governador fez um decreto que criou o Comitê Gestor. Também temos as Câmaras Temáticas. Estamos focados no grande legado que evento trará. Queremos o aeroporto pronto já para a Copa das Confederações. O governo trabalha de forma integrada entre todas as secretarias, envolvendo segurança, saúde e o setor turístico.

Vamos criar a política estadual do esporte. Não é só uma ação do Governo para quatro anos. Queremos que se perpetue. Mas e o atraso nas obras do Aeroporto Salgado Filho? O que cabe ao Estado e a prefeitura está em dia. O único atraso que nós temos é por parte da Infraero, que quer deixar a pista ampliada em dezembro de 2013. Mas o Rio Grande do Sul trabalha em cima da Copa das Confederações. Daí já teríamos a pista aumentada e o ISL (equipamento específico contra neblina) prontos um ano antes. Então você confia que Porto Alegre será sede da Copa das Confederações? Nós estaremos lá no Rio de Janeiro chuleando. Até dezembro de 2012 o Beira-Rio estará pronto. Teremos um bom programa de qualificação. Aumentaremos o número de leitos nos hotéis. Por isso, acredito que o Estado será a melhor sede da Copa do Mundo. Como transformar o RS na melhor sede? As reuniões que estamos tendo no Comitê Organizador Local (COL) nos dá segurança de que o cronograma está em dia. As cidades estão se envolvendo e todo mundo começou a entrar no ambiente Copa. As universidades estão inscrevendo os alunos que querem participar do evento. A sociedade mostra a vontade em receber bem. O governo estadual assumiu como meta transformar os serviços para a Copa. Por onde isso começa? Esse ano vamos começar com 2,1 mil vagas que o Ministério do Trabalho nos proporcionou para qualificar pessoas desempregadas. Elas irão ao Sine Porto Alegre para se inscrever. Começarão os cursos para garçons,

camareiras, recepcionistas e motoristas. Até a Copa serão 15 mil vagas. O diferencial para estas pessoas entrarem no mercado é o selo Copa que será criado? Será criado um carimbo da Copa. Vamos carimbar os estabelecimentos que se preocuparam em ter uma pessoa que fala inglês, um cardápio em braile. Estamos vendo ainda a possibilidade de fazer teleducação em uma parceria com a TVE, visando o mundial. E a questão das sub-sedes... Alguma candidata tem mais chance na disputa? Até a Copa teremos entre sete e oito cidades. Agora está no momento de detalhar a estrutura necessária nos parâmetros da carta de encargos da Fifa. Alumas cidades já estão se destacando. Você pega o Vale dos Vinhedos... a Fifa já reservou todo os hotéis por lá. A cidade de Caxias tem 250 leitos reservados. Canoas e Porto Alegre também têm grande chance. Por exemplo, a PUCRS, a UCS, a Ulbra... essas universidades possuem uma estrutura muito capacitada. Como fazer para que a escolha não vire mera politicagem? Os critérios técnicos estão muito bem estabelecidos. Isso sobrepõe a vontade política. A Fifa vai fazer a listagem das cidades para as 32 seleções. A entidade estará muito ligada nos parâmetros de exigência.

É possível fazer transformações sociais com o esforço coletivo. Não é o Kalil, é a sociedade organizada que vai fazer isso.

Esse projeto faz parte do Programa de Prevenção à Violência (PPV) do Ministério da Justiça. Verba que vem do tempo em que Tarso comandava o ministério. A Fundergs funcionará plenamente no incentivo ao esporte depois da aprovação na assembleia do projeto de lei que cria novos cargos na fundação? A Fundergs será resignificada. Ela vai ter estrutura para executar a política de estado no esporte. Terá recursos humanos qualificados. Com a Fundergs recomposta, temos coragem de trazer para cá uma Olimpíada Escolar ou quem sabe uma Olimpíada Universitária. Existe algum programa no meio universitário? E como o governo pode contribuir nessa questão? Temos excelentes infra-estruturas nas universidade do Estado. Vejo que faltam competições, mas, além disso, criar a valorização do atleta dentro das instituições. Através do PróEsporte a universidade vai arrumar patrocinadores que tem ICM a pagar, ou seja, as empresas irão ajudar a manter as equipes de alto rendimento. O Bolsa Estímulo Atleta que era realidade em governos anteriores poderá ser criado novamente? Estamos estudando. Dentro do Fundo Estadual pode ser criado o bolsa atleta, mas ainda está sob avaliação. O esporte paraolímpico será tratado com o devido valor? Daremos incentivo não só ao paraolímpico, mas aos surdos e à terceira idade. Estamos nos reunindo com todas as associações e entidades que trabalham com esse tipo de atleta. Faremos a conferência estadual para ver o que a sociedade quer no esporte. Como será a conferência?

Você defende a implementação de locais para a prática esportiva em turno inverso ao da escola. De que forma essa iniciativa será efetuada? Queremos ter áreas de esporte onde existem dificuldades sociais, bem no foco do problema. Serão ginásios poliesportivos que fornecerão quadras, vestiários, salas para reforço escolar, inclusão digital, nutrição. Assim será o turno inverso. Quando as crianças não tiverem na escola, estarão nestes locais.

Essa conferência está pautada em cima de sete regiões do Estado. Nesse debate, vamos estabelecer uma linha. Se temos que investir no esporte escolar, veremos como trabalhar. Se o objetivo é aproximar as federações com o Comitê Olímpico Brasileiro também ajudaremos no processo. O esporte de alto nível será realizado em Porto Alegre, no Cete. Nas demais regiões, nós vamos colocar recursos dentro dessa política integrada.

Quando o projeto será posto em prática?

Com esses projetos saindo do papel você se sentiria realizado como Secretário Estadual do Esporte e do Lazer?

Já está sendo feito. Nas 38 quadras entregues até o meio do ano, teremos pessoas usufruindo disso. Não é necessário um projeto de lei. Entregamos obras em Esteio, Farroupilha, Alegrete, São Gabriel, entre outros municípios.

Realizado muito mais como esportista do que como secretário, sabendo que é possível fazer transformações sociais com o esforço coletivo. Não é o Kalil, é a sociedade organizada de forma democrática que vai fazer isso.


FUTEBOL

NACIONAL E INTERNACIONAL

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Em entrevista exclusiva ao JCA, o goleador fala sobre o bom momento na Europa e o sonho de ir à Copa América na Argentina.

HULK Ele não é

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ALINE Rimolo* Correspondente de Madri

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A recuperação de um craque

ficção

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por Guilherme Hamm

o início ele até chamou a atenção pelo porte físico: 75 quilos de pura massa muscular distribuídos em 1,82 metro de altura. O apelido de super-herói também foi motivo de muitos comentários por parte da imprensa internacional. Mas o que impressiona a todos é o que esse brasileiro tem feito dentro de campo: muitos gols. Em 24 rodadas na Liga Portuguesa foram 22 gols e 10 assistências, ou seja, participação em 52% das vezes em que o Porto balançou as redes no campeonato. O resultado de tudo isso é a supervalorização do artilheiro que possui multa rescisória estipulada em 100 milhões de euros. Givanildo Vieira de Souza, 24 anos, o Hulk, não teve a chance de brilhar nos grandes palcos do Brasil. Logo aos 15 anos, o atacante tentou a sorte no Vilanovense, de Portugal. Trazido de volta ao país depois da rápida passagem pela Europa, ele esteve nas categorias de base do São Paulo antes de ser levado por seu empresário ao Vitória, da Bahia. A reviravolta na carreira de Hulk começou no distante campeonato japonês. O atleta atuou por quatro temporadas e meia na terra do sol nascente. No Tokyo Verdy, desandou a marcar gols, chamando a atenção dos grandes clubes europeus. Nascia ali a figura do matador. Em 2008, assediado pelo Atlético de Madri, Hulk preferiu voltar ao país onde havia atuado na juventude. No Porto, o jogador apenas confirmou o que se esperava dele. Foi importantíssimo na conquista de títulos, como o bicampeonato da Taça de Portugal e O fato de você ter jogado pouco no Brasil atrapalha na hora de treinadores e imprensa lembrarem do Hulk? Querendo ou não atrapalha um pouco. Eu sou uma interrogação para o povo brasileiro que não me conhece. Não me arrependo de ter saído cedo do Brasil. Estou muito feliz por onde cheguei e devo isso às minhas escolhas. Aqui na Europa é diferente, todo mundo me conhece, mas espero dar uma resposta à nação brasileira. Muitos brasileiros nem imaginam que a sua multa rescisória gira em torno de 100 milhões de euros. Como você vê todo esse crescimento no futebol europeu? Está sendo uma experiência muito boa para mim. Não só como jogador, mas na vida. Minha família está gostando bastante. Minha passagem pelo Japão foi importante também. Espero seguir brilhando aqui na Europa. Jornalistas portugueses afirmam que sem o Hulk os jogos do Porto não têm emoção. A entrega dentro de campo e os tantos gols que você vem marcando são o diferencial?

Multa de 100 milhões de euros para tirar o jogador do Porto o Campeonato Português. Na temporada 2010/2011 é destaque do elenco campeão da Liga Portuguesa com cinco rodadas de antecedência - inclusive marcando o gol do título contra o Benfica - e tenta conduzir a equipe à inédita conquista da Liga Europa. Seja por não ter se tornado um ídolo em clubes brasileiros ou pelo pouco tempo que teve para mostrar que merece estar na seleção de Mano Menezes, o nome de Hulk não fez parte da última convocação. Porém, ele ainda sonha com uma vaga na Copa América, o primeiro passo para estar no elenco que disputará a Copa de 2014. Confira abaixo os melhores trechos da entrevista que Hulk concedeu com exclusividade ao Contra-Ataque:

Realmente se fala que o jogo não é o mesmo sem mim. Mas o Porto tem grandes jogadores. Sei da responsabilidade que tenho. Dou sempre o máximo dentro dos jogos. Com certeza fico muito feliz por essa admiração. O pessoal gosta do Hulk aqui em Portugal.

Eu sou uma interrogação para o povo brasileiro que não me conhece. No Brasil, sabemos que a cobrança em cima dos atacantes é muito grande quando eles não balançam as redes. Em Portugal essa pressão é a mesma? Sem dúvida. Principalmente em um time grande como o Porto. Primeiramente as cobranças vem de nós mesmos. Semanas atrás, fiquei oito jogos sem marcar e já estava com saudade de balançar as redes. Mas, graças a Deus, voltei a fazer gols. A conquista da Liga dos Campeões da UEFA de 2003/2004 é constantemente lembrada pelos torcedores...

Seria sonhar muito conquistar mais uma vez esse feito? Nada é impossível. Seria histórico conquistar esse título novamente, não só para o Porto, mas para nós jogadores e torcedores. Porém, esse ano nosso objetivo é vencer a Liga Europa. Vamos com humildade e seriedade em busca deste título. Acredito que possuímos um grande time para isso. Você ficou chateado por ficar de fora da convocação do técnico Mano Menezes para o amistoso contra a Escócia? Tudo isso foi muito triste para mim, mas procuro estar concentrado no dia-a-dia do meu trabalho e em fazer o melhor possível. Espero que eu seja reconhecido. Infelizmente, não fui para a Seleção. Vou permanecer focado aqui no Porto para que venham novas convocações. Pensa em estar no grupo que disputará em junho a Copa América na Argentina? Certamente é um sonho de todo o jogador. Até lá estarei dando meu máximo aqui no clube. Se vier a oportunidade vou agarrá-la com unhas e dentes.

Os torcedores do Real Madrid gostariam de ver o Kaká Bola de Ouro em 2007 que todos nós brasileiros conhecemos. No clube merengue, ele ainda não mostrou todo o seu potencial. O próprio jogador reconhece isso. Depois de um longo período de recuperação, no mês de abril Kaká começou uma partida. Na coletiva após o jogo declarou que está devendo um melhor rendimento em campo e que se sente incomodado com isso, mesmo que nesse mesmo dia tenha marcado dois gols de pênalti, ajudando o time espanhol a vencer. A cobrança por resultados não podia ser diferente, já que a contratação de Kaká foi uma das mais caras da história. Só que o alto investimento do Real não é garantia de que o brasileiro permaneça em Madri. A maioria dos meios de comunicação espanhóis dão como certa a saída do craque no final da temporada europeia. O destino do jogador? Muito se especula sobre um retorno ao futebol italiano, mas há quem diga que o destino pode ser a Inglaterra. Fala-se ainda que ele também pode seguir o exemplo de Ronaldo, Ronaldinho e Robinho e voltar ao Brasil. O que se percebe é que no “super time” de José Mourinho com Cristiano Ronaldo, Özil e Xabi Alonso dificilmente tenha lugar para o atual Kaká. E o que mais prejudicou o atleta foi, sem dúvida, o grande número de lesões, que lhe impediram de jogar nessa temporada. Desde a Copa do Mundo foram sete meses de recuperação de uma cirurgia no menisco. Voltou aos gramados em janeiro e em fevereiro se retirou mais uma vez. Agora, num momento decisivo para o clube, Kaká parece estar pronto para ajudar mais uma vez. Independente do destino que tome, o que todos esperamos é que recupere logo seu futebol. *Aline Peixoto Rimolo, jornalista formada pela PUCRS. Atualmente faz Mestrado de jornalismo esportivo na Universidade Rey Juan Carlos, em Madrid.


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Dois irmãos realizam o desejo da maioria dos meninos brasileiros: ter um time para chamar de seu. Foi aí que surgiu o Ajax da Vila Cruzeiro.

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Sonho de GURI por Cássio Santestevan fotos João Freitas

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a escolinha. Seu filho, Eduardo, participa há 2 meses do projeto. Ela estava de passagem e conferiu se o menino tinha ido da escola para o treino. “Gosto daqui porque ele pratica uma atividade saudável, fica entretido, e faz isso em um lugar seguro - diz Carmem.

futebol é uma fábrica de sonhos. O esporte mais popular do Brasil está nos campinhos, entre duas árvores ou entre um par de chinelos que pareçam traves no meio da rua. A receita é muito simples: qualquer coisa que simule uma bola será chutada no alvo improvisado. Todos os clubes nascem dessa paixão. Na televisão e no rádio os jogos de futebol viram espetáculos, com inúmeras câmeras e narração emocionada a cada gol. Mas quando a voz que ecoa vem de uma comunidade pobre na zona sul de Porto Alegre é que se torna possível ver o tamanho do sentimento que pode mover alguém. No caso abaixo, dois irmãos. A Região Metropolitana da Capital possui diversos times de várzea, como o Esporte Clube Ajax, da Vila Cruzeiro, criado e mantido com dificuldades por Olmidio Rosa, 39 anos, o Mano, técnico do clube e Olmiro Rosa, 38 anos, o Júnior, moradores da comunidade. “Colocamos diversas sugestões no papel para escolher o nome do time. Éramos jovens e só queríamos jogar por um time nosso, com a nossa camiseta. A maioria dos nomes veio das equipes europeias que se destacavam na época. Ficou Ajax, e óbvio, da

Crianças treinam toda a sexta-feira sem custos no Cegeb Vila Cruzeiro”, explica o Mano. Essa era a cena que ocorria na Vila Cruzeiro, zona sul de Porto Alegre, no dia 12 de setembro de 1988. O Ajax já conquistou sim seus títulos, mas o maior deles é a criação de um projeto social que dá oportunidade e possibilita lazer para as crianças da vila.

O Projeto Social Em 1992, quatro anos após o embrião ter dado certo, a dupla teve a ideia de não apenas disputar torneios de várzea: criaram uma categoria de base para a equipe, possibilitando que o Ajax fosse constantemente alimentado de novos craques. Nasceu o projeto social Escolinha do Ajax da Cruzeiro. Hoje, 95% da

equipe principal é formada por jogadores oriundos do projeto. Com o objetivo de desenvolver atividades sociais e esportivas, a iniciativa conta com 90 crianças divididas em quatro categorias (pré-mirim, mirim, infantil e sub-17), que treinam toda a sexta-feira, sem custo nenhum, no campo do Centro Esportivo Comunitário George Black (Cegeb), na própria comunidade. Em poucas palavras, Douglas revela o prazer em fazer parte do Ajax. “Eu estou no projeto desde pequeno. É legal vir aqui jogar, conversar com meus amigos e aprender o esporte que mais gosto”, conta o garoto de 15 anos. Antes de começar o treino, uma mãe, Carmen Gonçalves, visitou

Os adolescentes entre 7 e 17 anos utilizam o espaço cedido pela Secretaria Municipal de Esportes, Recreação e Lazer (SME). Os idealizadores do projeto, Mano e Júnior, trabalham de segunda a sexta-feira em outras atividades, mas dedicam o tempo livre à causa que há 22 anos abraçaram. “Eu trabalho no horário comercial. Consegui com o meu chefe para que eu saia 30 minutos antes e compenso em outro dia. Não tem preço levar esse projeto adiante”, afirma Mano. Normalmente os campeonatos são realizados nos sábados, e para manter a escolinha Mano e Júnior realizam rifas e dependem de doações. Os custos com bola, fardamento e transporte chegam a R$ 500 mensais. Sem patrocínio, a grana às vezes sai do próprio bolso. Os irmãos cuidam para que todos os meninos do projeto estejam estudando. Assim, o futuro não depende só do futebol. Porém, “se acontecer de virar jogador, melhor ainda”, afirma Olmiro, o Júnior.

O Jonas da Vila Cruzeiro ARQUIVO PESSOAL

Ele não é atacante, nunca jogou no Grêmio e nem é parecido com o xará que foi vendido para a Europa. Mas é o exemplo e ídolo dos garotos que jogam na escolinha do Ajax da Vila Cruzeiro. Jonas, 24 anos, atualmente atua no Nacional, do Amazonas. É volante e capitão da equipe. Pertence ao São José, de Porto Alegre, clube onde entrou aos 17 anos, após um olheiro vê-lo se destacar no campeonato municipal de várzea, pelo Ajax. Jogando pelo Zequinha, firmou-se na equipe sub20, disputou Gauchão, teve passagem pelo Brasil de Pelotas e então foi emprestado ao Nacional. Mano ainda mantém contato com o jogador, que possui casa na Vila Cruzeiro e retorna nas férias para visitar o lugar onde seu sonho começou a se tornar realidade.


PERFIL

Em tom revelador, Chiquinho fala sobre desgostos, derrotas, vitórias e superação que marcaram sua carreira no mundo do futebol.

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por Vinícius Fernandes fotos João Freitas

Reinício aos 27 Ele falava algumas coisas que me deixavam triste. Ele dizia na frente de todo mundo: ‘o queridinho da torcida’ ou ‘o Kaká dos pampas’. Pra mim, entrava por um ouvido e saía pelo outro, mas às vezes, em uma palestra, quando tinha muita gente, eu ficava sem jeito. A gente conhece bem o Celso Roth e isso não aconteceu só comigo, um monte de guris reclamam dele. Tive uma discussão com o Vitorio (Piffero). Foi um embate de salário. Ele combinou um valor e no dia da assinatura do contrato estava outro valor no papel. Eu questionei e ele me disse que era só aquela quantia que eles poderiam pagar. Eu falei que ele não tinha palavra e ele enlouqueceu. Me xingou e eu xinguei de volta. O Vitorio não era presidente, mas depois assumiu e daí acabou virando uma questão pessoal.


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uita habilidade, boa velocidade e um excelente cruzamento. Subtraia disso tudo as más companhias e escolhas precipitadas. A resposta desta conta está na carreira de Paulo Francisco da Silva Paz, vulgo Chiquinho. O ex-lateral e agora meia do São José de Porto Alegre vive uma nova fase na vida, bem diferente dos gloriosos tempos de Inter. Com pés no chão, ele tenta reencontrar um rumo na sua carreira. Tudo começou em 2002, período de vacas magras para os colorados, ano em que o Internacional chegou mais próximo da segunda divisão do futebol brasileiro. Os tempos eram outros no Beira-Rio e Chiquinho tentava a projeção em um clube em reconstrução. Não era cena rara ver o time perdendo uma partida e o nome do lateral - na época com 19 anos sendo entoado nas arquibancadas. O menino representava a esperança de uma torcida ferida, acostumada a ver atletas decadentes vestindo a camisa alvirrubra. No mesmo ano em que chegou aos profissionais, quatro técnicos dirigiram a equipe. Ivo Wortmann, Guto Ferreira (interinamente), Celso Roth e Cláudio Duarte passaram pela casamata colorada, mas é do penúltimo que Chiquinho tem as melhores histórias a contar. “Ele falava algumas coisas que me deixavam triste. Ele dizia na frente de todo mundo: ‘o queridinho da torcida’ ou ‘o Kaká dos pampas’. Para mim, entrava por um ouvido e saía pelo outro, mas às vezes em uma palestra, quando tinha muita gente, eu ficava sem jeito. A gente conhece bem o Celso Roth e isso não aconteceu só comigo, um monte de guris reclamam dele”, relata o meia. “Na época o time estava em uma fase ruim. Ele me botava em jogos difíceis e dizia: ‘entra aí e vê se tu faz alguma coisa. Estão te pedindo, então vai”, revela. Celso Roth foi a primeira pedra no sapado de Chiquinho dentro do Internacional. A segunda seria maior, mais difícil de superar e traria grandes reflexos na carreira do jogador nascido em Canguçu, sul do Estado, que chegou ao Beira-Rio em 1998. Ao renovar o contrato, no alto da sua ingenuidade, optou por bater de frente com um peixe grande. “Tive uma discussão com o Vitorio (Piffero). Foi um embate de salário. Ele combinou um valor e no dia da assinatura do contrato estava outro valor no papel. Eu questionei e ele me disse que era só aquela quantia que eles poderiam pagar. Eu falei que ele não tinha palavra e ele enlouqueceu. Me xingou e eu xinguei de volta. O Vitorio não era presidente, mas depois assumiu e daí acabou virando uma questão pessoal”, afirma o jogador, que na época renovou o contrato da forma desejada, mas acredita que esse foi o começo do seu fim dentro clube. Para piorar a situação, em 2005, um ano após fazer uma temporada extraordinária no Inter, Chiquinho

sentiu uma lesão no púbis, que o afastaria dos gramados por um ano. Era a segunda vez, em quatro anos, que o atleta iria parar de atuar, por doze meses. Dois anos antes foi descoberto um problema neurológico no jogador. As dormências no lado direito não eram apenas obras do acaso. “Eu estava com um problema na artéria do cérebro e não sabia. Às vezes não sentia todo o lado direito e achava que isso era tensão, nervosismo. Fui até o meu limite, mas vi que não tinha como. Parei de jogar um ano. Quase me aposentaram lá no Inter. Alguns diretores disseram que não dava mais pra mim”, conta o meio-campista, que, recebendo R$ 800 por mês, ia até São Paulo para se tratar. Um período complicado na sua vida. “Eu só caminhava. Não podia fazer nada de esforço”.

“sim” ao convite do presidente da Federação Gaúcha de Futebol e do São José, Francisco Noveletto, e integrar a equipe do Zequinha. No pequeno time da Capital o lateral virou armador, ganhou notoriedade no futebol regional, salários em dia, paz e o melhor: felicidade para jogar. “Eu tinha proposta de ir para o Porto Alegre e o Novo Hamburgo. Só que o Noveletto me ligou e disse: ‘eu quero que tu seja o nosso Paulo Baier, não na lateral, quero te ver jogando no meio. Não precisa nem marcar, só preciso que tu jogue. Se der para fazer uns golzinhos, melhor”, afirma Chiquinho, com um sorriso de orelha a orelha, de quem faz um ótimo Campeonato Gaúcho e, enfim, se reencontrou no futebol.

Passado o drama, Chiquinho foi reintegrado ao grupo colorado em 2006, por Abel Braga, que o avisou que só o utilizaria na equipe se ele atuasse no meio de campo. Lateral-esquerdo desde a sua chegada a Porto Alegre, o jogador não vislumbrou futuro no Inter. Sem a menor ideia de que poderia fazer parte de um grupo campeão da América, ele foi para o Palmeiras a pedido de Tite, então técnico do time. Para o seu azar, pouco mais de um mês após chegar no Palestra Itália, o treinador foi demitido. Resultado: Chiquinho caiu em esquecimento no elenco palmeirense. Ao voltar à Capital gaúcha o atleta encontrou um clube em outra situação: Campeão da América, do Mundo e que não fazia mais questão de contar com o seu futebol. Escanteado no Beira Rio, o meia foi emprestado a diversas equipes até 2009, ano em que encerrava o seu vínculo com o Inter. Por um curto período de empréstimo, o atleta esteve no Goiás, Fortaleza e Joinville. Em 2010 Chiquinho estava livre. Não dependia mais do Internacional para se transferir para algum clube. Solução? Não, problema. Ele conheceu um empresário uruguaio que lhe prometeu uma transferência para o Nacional, do Uruguai, e um apartamento mobiliado em Montevidéu. Ao chegar em solo platino o ex-colorado acabou indo parar no River Plate local, um modesto time que o fez conhecer uma realidade diferente de qualquer outra que havia encontrado nos clubes por onde passou.

Lembranças de conquistas marcantes

Ex-lateral vive dias de tranquilidade no São José

Eu estava com um problema na artéria do cérebro e não sabia. Às vezes, não sentia todo o lado direito e achava que isso era tensão, nervosismo. Fui até o meu limite, mas vi que não tinha como. Parei de jogar por um ano. Quase me aposentaram lá no Inter. Alguns diretores disseram que não dava mais pra mim.

“A maioria dos jogadores não tinha nem carro, eles iam de ônibus treinar. Nas concentrações a gente dormia em oito no mesmo quarto. O empresário uruguaio que me levou para lá prometeu várias coisas e não cumpriu nada. Me garantiu um apartamento equipado, mas o meu sofá era uma cama de solteiro. Na academia do clube os ferros estavam enferrujados”, revela. Depois da dura experiência internacional, Chiquinho retornou a Porto Alegre para tomar aquela que provavelmente seria a decisão mais acertada na sua carreira: responder

Jogador guarda sua maior relíquia: o primeiro par de chuteiras no futebol profissional


ESPORTESHOW

Saiba tudo sobre as seis equipes que disputam o título de campeão da 6ª edição do Campeonato Gaúcho de Rugby.

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Começa a PELEIA texto Henrique Riffel fotos João Freitas

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Da mesma forma, o arquirrival sandieguista também iniciou a elaboração do elenco para a disputa regional. “Nós queremos impor o nosso ritmo e estilo de jogo. Treinamos forte para isso. O objetivo é esse: ganhar e ser campeão”, define o capitão, Nahuel Silvestrini.

rugby union lembra um pouco o futebol argentino. Ambos possuem o campo com dimensões parecidas. A torcida, apaixonada, canta em espanhol e se inflama com belos dribles. A equipe adversária é catimbeira. Não existe bola perdida. É nesse cenário de muita raça e peleia que acontece a 6ª edição do Campeonato Gaúcho de Rugby Union. O ContraAtaque te mostra como os seis clubes participantes chegam na competição.

Já os outros times ficam para o embate pelo quarto lugar. O Antiqua, de Pelotas, conta com a parceria dos Corsários, de Rio Grande, para melhorar o plantel, enquanto o Novo Hamburgo mantém a mesma base de atletas do ano passado.

O Farrapos entra no certame para defender o título conquistado no ano passado. O time de Bento Gonçalves é candidato ao bicampeonato por ter um elenco forte. Conta com o Estádio da Montanha, único para a prática de rugby no Brasil. É o primeiro e único gaúcho, até o momento, a representar o Rio Grande do Sul no Campeonato Brasileiro de Union (15 atletas para cada lado). Além do clube da serra, outros fortes participantes são as duas equipes de Porto Alegre. Os tradicionais bicampeões Charrua e San Diego querem retomar a hegemonia do Estado. O índio tricolor, liderado por Uary Gondin, começou a preparação dos atletas ainda em janeiro. “Acertamos muita coisa que queríamos melhorar na questão técnica da equipe, em comparação com o ano passado. O nosso scrum (formação

O Serra, de Caxias do Sul, passa por reformulação do grupo. O clube está em negociações com um técnico argentino. “O Serra pretende ir para o campeonato com muita força. Temos muitos novatos no clube. Estamos refazendo um time que entrou com uma baixa no final do ano passado. Vamos em busca da quarta vaga”, crê o capitão Diego Costa.

Guilherme, do Charrua, e Carter, do San Diego são os destaques da capital A ideia é estabelecer o nosso estilo de jogo contra todos os adversários”, diz o sub-capitão, Bruno Cardoso.

do time no momento em que a bola é posta em jogo) continua excelente, o que nos deixa com saldo positivo.

A Federação Gaúcha de Rugby divulgou os enfrentamentos da primeira fase do Campeonato Gaúcho de Union. O torneio seguirá o formato adotado em 2010. Na primeira fase os seis participantes se enfrentarão em turno único. Os quatro primeiros avançam às semifinais, agendadas para os dias 18 e 19 de junho. A decisão ocorre no dia 10 de julho no Complexo Esportivo da PUCRS.

Novo Hamburgo Rugby Clube

Serra Rugby

Charrua Rugby Clube

San Diego Rugby Clube

Farapos Rugby Clube

Novo Hamburgo Fundação: 6 outubro 2007 Estádio: Campo Centro Tecnológico do Couro Senai. Cores azul e preto

Caxias do Sul Fundação: 7 abril 2006 Estádio: Campo Escola da Natureza/UCS Cores branco e preto

Porto Alegre Fundação: 2 junho 2001 Estádio: Campo Ramiro Souto (Redenção). Cores vermelho, branco e azul

Porto Alegre Fundação: 3 março 2006 Estádio: Campo 78 da PUCRS Cores verde e preto

Bento Gonçalves Fundação: 25 novembro 2007 Estádio: Estádio da Montanha Cores branco e verde

Futebol e Ponto Final REPRODUÇÃO

Futebol em toda sua essência. Tática, filosófica, engraçada. Com mais de 4 mil visitas em dois meses, o blog Ponto Final Futebol Clube une forças ao Jornal Contra-Ataque para mostrar tudo sobre o esporte bretão. Escrito por Rodrigo Adams, Vinícius Fernandes, Rodrigo Pizolotto e Juliano Westphal, o blog traz análises táticas, vídeos, crônicas, humor, música e tudo o que envolve o esporte mais amado do planeta. Com essa galera não tem papas na língua. É hora de descontrole. É futebol e ponto final!

@jcontra ataque

Antiqua Pelotas Fundação: 14 julho 2007 Estádio: Campo Centro de Treinamento Lobão Cores bordô e azul


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Espaço livre para opiniões esportivas. Você também pode participar na web, através do site e Twitter.

VOCÊCONTRA-ATACA

As duas maiores estrelas treinando seus clubes: nunca tivemos nada igual. No mês da Páscoa, o Contra-Ataque saiu às ruas para saber:

@Masqueees

Quem é mais ídolo, Renato ou Falcão?

Hahaha conversa no MSN | Luise: hehe q q tem o falcao? | Eu: é o novo tecnico do inter | Luise: mas nao eh o falcao esse brega ne?

FOTOS JOÃO FREITAS

Renato com certeza! Porque na trajetória dos clubes, Renato foi mais ídolo que o Falcão. Falcão foi um grande ídolo na Seleção, mas falando de Grêmio e Inter, acho que o Renato fez mais coisas que o Falcão.

Renato Gaúcho, porque é gremista e bonito. Na verdade, eu acho que na nossa geração ele é uma figura mais lembrada, porque foi jogador recentemente. Eu, por exemplo, não vi o Falcão jogador, só lembro dele como comentarista.

Andrew Magaldi Direito - UFRGS Renato. Pra começar, porque eu sou gremista. Segundo, ele não é hipócrita: defende que tu podes fazer o que quiseres fora do gramado, tu podes jogar vôlei de praia desde que haja desempenho dentro do campo. Além disso, ele é campeão do mundo. Gabriela Feldens Direito - UFRGS

Os gremistas afirmam que é o Renato, os colorados que é o Falcão, mas acredito que o Falcão jogou em clubes na Europa mais valorizados, e o Renato só jogou no Brasil. Admiro o Falcão pelo fato de nunca ter esquecido que jogou na várzea de Canoas. Adão dos Santos Treinador de atletismo

@fogoeterno Tirem o blazer do Mourinho e ponham uma prancheta na mão dele. Você acaba de criar o Joel Santana.

@andrepase

Juliana da Silva Arquitetura - UFRGS

É melhor o Grêmio não virar o jogo. Seria uma overdose de “o imortaaaaaaaaal tricolor” deveras medonha.

Falcão. É um cara disciplinado e que sabe fazer as coisas. É a melhor coisa para o Inter, seja pelo lado do marketing, seja por tudo o que fez e fará. Confio nele e no trabalho que vai desempenhar no time.

@renato__gaucho Gosto de ver a cara da recepcionista do hotel quando vou me hospedar e escrevo “pegador” no campo profissão.

Tânia Fagundes Aposentada

@JuarezRoth Todos estes que aí estão atravancando o meu caminho. Eles volantão; eu, volantinho... Boa noite!

Falcão, pois foi campeão brasileiro antes do Renato, e invicto. Além disso, saiu do Inter para conquistar mais glórias e não somente para o Rio de Janeiro. É um dos grandes ídolos da torcida colorada. Torço pelo sucesso dele mais uma vez.

@tmaravilha1000 Não vejo a hora oportuna de dar a vcs boas notícias...E fazer do clube que eu for contratado mídia nacional,internacional,divulgar a cidade.

Arthur Reis Direito - UFRGS

Fútbol sin Fronteras

Siga: @jcontraataque

Ezequiel Vila Petriz*

Messi, a estrela que não tem limite Apareceu no mundo do futebol em 2005, no Barcelona, como um projeto, e rapidamente transformou-se em uma peça fundamental da equipe titular. Com uma infância difícil por causa de seus problemas de saúde e um presente ao lado dos deuses mundiais da história do futebol, Lionel Messi é apontado como o melhor jogador do planeta. Oriundo de Rosário, na Argentina, jogou nas categorias infantis do Newell’s Old Boys, mas aos 11 anos teve diagnosticada uma deficiência no hormônio de crescimento. Ante a negativa do clube rosarino de lhe ajudar com os gastos em tratamento foi tentar a sorte no River Plate. A resposta foi a mesma, o milionário clube não podia arcar com o tratamento, que custaria 900 dólares por mês. A família Messi tinha parentes na cidade de Lérida, Catalunha, e por isso, posto o interesse mostrado pelo treinador do Barcelona à época, Carlos Rexach, tomaram a decisão de viajar à Espanha, já que o clube catalão iria pagar os medicamentos. Com apenas 16 anos, Messi estreou na equipe principal

do Barcelona, nada menos que no clássico catalão contra o Espanyol em 2004. Um ano mais tarde converteria seu primeiro gol, enfrentando o Albacete no Camp Nou. Canhoto, desequilibrante e gênio, em seguida saltou de promessa à realidade. Já são sete temporadas jogando no Barcelona, ganhou 13 títulos e ainda tem a oportunidade de aumentar essa cifra até o final da temporada. Na história ficaram gols como o que fez contra o Getafe pela Copa do Rei, simulando aquela corrida histórica de Diego Maradona no México em 1986; os três que marcou contra o Real Madrid em 2007 ou também os quatro que aplicou no Arsenal jogando em casa pela Liga dos Campeões. Deu seus primeiros passos com a camisa argentina em um amistoso contra o Paraguai em 2004, após ter recém negado a proposta para jogar na seleção espanhola. Em 2005, com a seleção sub-20, conquistou o Campeonato Mundial na Holanda, sendo o jogador mais valioso do torneio. Estreou na seleção principal sob o comando de José Pekerman e com ele fez sua apresentação

Correspondente de Buenos Aires Tradução: Carlos Thompson Flores

no Mundial da Alemanha de 2006, no qual marcou na goleada por 6 a 0 contra Sérvia e Montenegro. Com Sergio Batista de técnico, brilhou nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, conduzindo a seleção a uma nova medalha de ouro. Com Maradona, disputou seu segundo Mundial, na África do Sul, e apesar de não converter nenhum gol, teve um grande desempenho, levando a alviceleste até as quartas de final. Com somente 23 anos, tem 175 gols em 260 partidas jogadas pela equipe blaugrana, sendo, desta maneira, o terceiro maior goleador da história do clube. Chegou à marca histórica de 48 gols em uma temporada, número que o coloca como o primeiro jogador da liga espanhola a alcançar a marca. Jogando pela seleção argentina tem 18 gols em 60 partidas e está rumo a destronar Gabriel Batistuta como o maior artilheiro nacional. Na história ficaram jogadores como Pelé, Cruyff, Maradona, Platini, entre outros, mas o presente tem uma nova estrela mundial: Lionel Messi. Ele monopoliza a atenção de todos, não para de quebrar recordes e nem as duas bolas de ouro entregues pela revista France Football que ganhou em 2009 e 2010 parecem frear aquele que é hoje o novo Deus do futebol mundial.


FUTUROOLÍMPICO

Atual campeão da Travessia dos Fortes, o gaúcho Samuel de Bona tentará fazer história no mundial de maratona aquática em Xangai.

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Porto Alegre Abril de 2011

O novo rei de

COPACABANA

F

ortalecer coragem, espírito de competição, lealdade, solidariedade e determinação: eis os objetivos da Travessia dos Fortes, segundo o próprio regulamento. A elite da natação brasileira reunida nas areias de Copacabana, à espera da largada. Apenas 3.500 metros - de trajeto em águas abertas - separam os maratonistas da coroação. Um incontável número de braçadas a lutar contra as águas, mar adentro. O vencedor termina o percurso menos de um segundo antes dos atletas que dividiram a segunda posição. A praia mais famosa do Brasil já tem sua nova corte e é com orgulho que afirmamos: o rei é gaúcho! Samuel Menegon de Bona é o novo Rei de Copacabana. O título conquistado neste mês nos remete a um passado recente. Sem dúvidas o ano de 2010 foi um divisor de águas na carreira do nadador. Aliás, não apenas em sua própria carreira, como também na história da natação gaúcha. Surge um guri com determinação suficiente para conquistar oceanos antes nunca explorados. Foi o brasileiro mais bem colocado no Mundial de Esportes Aquáticos, disputado no Canadá, ficando com a 15ª colocação - uma prova muitíssimo disputada, o que significa dizer que ele ficou apenas 2 segundos atrás da 8º posição. Ocupou o 3º degrau do pódio, em sua primeira participação, na Travessia dos Fortes do ano passado. Isso sem contar as inúmeras vezes em que ganhou etapas do Circuito Brasileiro de Maratonas Aquáticas e as competições internacionais nos Estados Unidos, Argentina, Portugal e México. De Bona começou a nadar ainda pequeno, no Grêmio Náutico União, em Porto Alegre. Praticava a natação junto com outros esportes, como esgrima, tênis e futebol. Por insistência dos técnicos, aos 12 anos, passou a se dedicar exclusivamente às piscinas, integrando a equipe profissional.

Hoje, aos 20 anos, treina por cerca de cinco horas diárias, todos os dias da semana e ainda concilia a carreira de atleta com a de estudante de Direito. Carlos Pavão, Guilherme Bier, Fábio Lima e Marcelo Romanelli: as maiores inspirações de Samuel, passaram pelas piscinas onde hoje treina o jovem nadador. Fã assumido, ele costumava recortar as matérias que saiam no jornal sobre os colegas de clube. “Poder competir com alguns dos meus maiores ídolos é um privilégio e conseguir ganhar deles, é quase inacreditável. Foi aí que percebi que estava no caminho certo”, orgulha-se. Atualmente, o grande rival do gaúcho é o nadador baiano Allan do Carmo. Os dois disputaram ombro a ombro a travessia em Copacabana e De Bona levou a melhor. “Nós temos uma disputa interna pra ver quem fica na melhor colocação”, afirma. Por enquanto,

texto Joana Weit foto João Freitas

quem está levando a vantagem é Allan. “Ele tem muita experiência em competições internacionais. Até esses tempos, era imbatível”, confessa.

Samuel de Bona

Quero estar sempre nadando com os melhores” O ritmo de treinos é intenso. As próximas maratonas serão mais longas, com um percurso de 10 Km. Já pensando no Mundial de Xangai, em julho, De Bona passará 21 dias nadando em altitudes mais elevadas, no México. Ele já traça suas metas. “Meu objetivo mais

próximo é conseguir uma medalha no Pan-Americano e depois tentar uma medalha em uma Olimpíada ou em um Mundial”. E complementa: “quero estar sempre nadando com os melhores”. Treinar em Porto Alegre é uma vantagem, pois o corpo acostuma-se com o frio, possibilitando uma melhor adaptação. O União é tradicionalmente uma referência nacional nesta modalidade. Nos últimos anos, o Brasil tem se mostrado muito forte nas maratonas aquáticas. “O esporte ainda é considerado novo. Nem sempre o melhor vence. Ganha quem consegue se adaptar melhor à prova, por isso, todos tem chances”, conclui De Bona. Segundo ele, a maior dificuldade encontrada é a pouca experiência em competições internacionais. Mas não faltarão oportunidades já que o Mundial o aguarda. Vida longa ao Rei de Copacabana!

Saiba mais: A natação de águas livres (maratona aquática) passou a fazer parte dos Jogos Olímpicos em 2005. A modalidade é disputada em uma só prova, de 10km, com participantes do sexo feminino e masculino. A Maratona Aquática passou a fazer parte dos Jogos Pan-Americanos em 2007, no Rio de Janeiro.

Nadador espera garantir vaga inédita nas Olímpíadas de 2012, em Londres

O gaúcho Carlos Pavão participou de 6 mundiais de maratonas aquáticas e registra a melhor colocação brasileira da história na competição: o 10º lugar, no Mundial de Dubai, em 2004.


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