Entrevista do presidente da Veneza, Sr. José Carnieli, para o jornal A Notícia

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Nova Venécia, sábado, 29 de agosto de 2015

4 - A Notícia

Entrevista - José Carnieli - Presidente da Veneza

“A maioria dos produtores continua produzindo leite como no passado” Pedeag 3 vai incrementar o setor agrícola capixaba

Flávio Borgneth ADI-ES

Presidente da Cooperativa Veneza afirma que melhoria da produtividade nas propriedades do Espírito Santo é fundamental para sobrevivência do setor O setor de laticínios no Espírito Santo tenta se ajustar a cenários que não esperava. De um lado a crise hídrica, do outro a crise econômica. “Neste ano a produção caiu muito por conta da questão climática. Justamente a queda de produção minimizou a queda de consumo. Uma coisa compensou a outra” avalia o presidente da Cooperativa de Laticínios Veneza, José Carnieli. “A tendência da produção para o final do ano é crescer. Aí provavelmente vamos sentir mais essa queda de consumo”, complementa. A baixa produção nas propriedades que hoje permite que não exista desperdício de matéria prima em tempos de retração de consumo é uma solução passageira. O desafio histórico do setor é outro e rema justamente na necessidade de que cada produtor produza mais e melhor. “Se não melhorarmos a produtividade do leite no Estado, as cooperativas e as empresas privadas aqui instaladas terão muita dificuldade de sobrevivência. A maioria dos produtores continua produzindo leite como no passado. A atividade mudou, o mundo mudou. Se nós não mudarmos, qual a tendência? Ficarmos para trás, ou até desaparecer”, pontua Carnieli. Leia entrevista completa: O que incomoda mais no meio rural: a retração financeira ou a estiagem do começo do ano? “Vivemos situação particular no Espírito Santo pela questão hídrica e falta de chuvas. No meio rural isso incomoda muito mais que a crise política e econômica que está instituída no país. O esvaziamento de nossas reservas hídricas tem sido grande dificuldade no meio rural. Quanto a crise do país, o que mais afeta é a dificuldade de renovação de crédito bancário”.

» O presidente da Cooperativa Veneza, José Carnieli Como as cooperativas como a Veneza tem sentido a atual conjuntura econômica? “Não existe dificuldade de comercialização do leite no setor de matéria primária para indústria no Estado. Mas, quando isso chega à indústria, ela transforma essa matéria prima para comercializar esse produto, aí existe dificuldade. Temos uma retração de consumo de leite e derivados”. Já foi possível contabilizar o quanto o setor foi afetado? “No Espírito Santo temos uma produção do leite muito empírica e tradicional, sofremos variação forte de produção. Neste ano a produção caiu muito por conta da questão climática. Justamente a queda de produção minimizou a queda de consumo. Uma coisa compensou a outra, minimizou a outra. Mas, se nossa produção fosse linear, teríamos muita dificuldade. A tendência da produção para o final do ano é crescer. Aí provavelmente vamos sentir mais essa queda de consumo”. Como vocês estão se preparando para isso? “Em outras atividades é possível paralisar a compra da matéria prima. No leite não. A vaca produz leite todo dia. A indústria tem que receber todo dia. Para estocar o leite de forma mais durável, podemos transformar o leite fluido em leite em pó. Duas unidades fazem isso no Estado, a Selita (no Sul) e Damare (no Norte). Mas existe um limite para essa produção. A Veneza tem conseguido administrar essa queda de consumo. Nossa expectativa é que para safra vindoura de 2015/2016 possamos equacionar isso para que os produto-

res não tenham tanto prejuízo como já estão tendo”. Uma das maneiras de garantir a compra em tempos de crise é chegar com produtos mais em conta nas prateleiras do supermercado. Vocês conseguem fazer isso, o que impede que um produto local tenha menos custo que os outros? “Existe quem diga que essa dificuldade é tributária, ou de gestão. Acho até que podem existir vieses nesse sentido. Mas avalio que a grande dificuldade está no custo da produção da matéria prima. Nosso leite é produzido de forma tradicional, com pouco profissionalismo e baixa escala de produção. Não temos grandes produtores de leite no Estado. Nossa região é de pequenos produtores. Uma coisa é captar 100 litros de leite em 100 diferentes propriedades. Outra é captar o mesmo número de litros de dez propriedades. Esse fator pesa muito na produção de leite capixaba. Se insistirmos nisso, daqui a pouco nossa cooperativa vai deixar de existir. A competitividade nos leva a rever esses custos. No mundo de hoje isso é insustentável. Esse é um custo que o consumidor não quer pagar”. Vocês já iniciaram essa mudança? “Temos intensificado esse processo de mudança junto com as demais cooperativas do Estado. Até os laticínios privados tem trabalho voltado para melhorar produtividade. Estamos bem encaminhados e temos parceiros. O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), o próprio Sescop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo). Temos um

novo governo e estamos discutindo um projeto para unificar toda assistência técnica no Estado. Precisamos ajudar o produtor a trabalhar de maneira mais profissional as atividades que ele desenvolve e, consequentemente, melhorar a produtividade. O ideal seria uma média de 10 litros vaca. A média hoje gira em torno de 3 litros/dia”. E quais são as dificuldades? “Nesse momento, falta água. Não se melhora a produção sem água. Mão de obra também está difícil. Dentro do agronegócio do Estado, a atividade preponderante não é leite, é café. No Norte temos a pimenta do reino. Isso acaba respingando no leite. A tendência da mão de obra é preferir essas atividades ao invés do leite. Regra geral, você tem que trabalhar no leite sete dias por semana, nas outras culturas, cinco dias”. Essa mudança na maneira de produzir dos produtores é o grande desafio do setor de laticínios do Espírito Santo na próxima década? “Sinceramente, respeito quem pensa diferente. Mas, se não melhorarmos a produtividade do leite no Estado, as cooperativas e as empresas privadas aqui instaladas terão muita dificuldade de sobrevivência. A maioria dos produtores continua produzindo leite como no passado. A atividade mudou, o mundo mudou. Se nós não mudarmos, qual a tendência? Ficarmos para trás, ou até desaparecer. Esse é o grande esforço que temos que empreender. Precisamos trazer os produtores para dentro desse projeto. Essa é uma questão de sobrevivência de todos”.

As prioridades e diretrizes para o desenvolvimento do setor agrícola até 2030 começam a ser definidas pela Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca, em conjunto com produtores rurais e representantes das diversas cadeias produtivas do agronegócio. E na última quinta-feira, o secretário de agricultura, Octaciano Neto, participou do programa Norte Notícias, da Rádio Notícia FM, onde falou um pouco sobre o PEDEAG 3. A entrevista, você confere na íntegra a seguir: Importância do Pedeag 3 “O Pedeag é o Planejamento Estratégico da Agropecuária Capixaba. Em 2003, no primeiro mandato do governador Paulo Hartung, foi colocado em prática do PEDEAG 1, 2007, em seu segundo mandato, foi feito o Pedeag 2 e agora, estamos iniciando o Pedeag 3”. “A ideia do Pedeag é visitar todos os municípios capixabas, para discutir o que é prioridade para cada arranjo produtivo. Hoje (última quinta) pela manhã, estivemos em São Mateus, debatendo pimenta do reino e a tarde em São Gabriel da Palha para discutirmos sobre café conilon. A importância do Pedeag, devese ao fato de que os produtores, os especialistas, os pesquisadores e os lojistas podem nos alertar em relação, a quais são as prioridades de cada arranjo produtivo. Por exemplo, hoje (última quinta), em São Mateus, foi apontado como um grande desafio para pimenta do reino, a necessidade do cuidado pós-colheita. Pois, o fogo direto na secagem da pimenta, tem dado muito Antracnona e isso tem reduzido o mercado da pimenta do reino na Europa e cria-se uma tendência de queda de preço se não ficarmos alertas. Então, com uma informação como essa, o Governo do Espírito Santo pode tomar medidas para melhorar ou proibir o fogo direto na secagem da pimenta, como forma de garantir o mercado internacional para esse produto. Esse é um exemplo, de como é fundamental essa orientação do governador Paulo Hartung, que a gente visite o interior do estado discutindo e

entendendo os desafios de cada arranjo produtivo que temos em nosso território”. Participação dos Produtores “Quem conhece o problema é quem vive o problema. Quem está com a mão na enxada, na água, quem está todo o dia na fazenda ou na sua propriedade rural. Não adianta o governo achar, que ficando encastelado dentro do gabinete, saberá quais são esses desafios. Por isso, que nós estamos visitando o interior, ouvindo o produtor, o técnico agropecuário, o professor da Universidade, o nosso servidor do Incaper, do Idaf, que são as pessoas que vivem esses problemas diariamente e sabem o que, de fato, deve ser enfrentado. Esse é o motivo que nós não fazemos plano de gabinete. O governador Paulo Hartung disse para debater e ouvir as demandas, pois tem medidas muito simples de serem implementadas, muitas vezes, dependendo apenas de decreto do governo ou de uma portaria normativa da secretaria de agricultura”. Oficinas de Trabalho “São 52 oficinas e nós temos em média 80 a 90 especialistas, que estarão diretamente ligados a cada arranjo produtivo. Vamos ter de mamão, café conilon, café arábica, gado de leite, irrigação, reflorestamento, enfim, de todos os setores relacionados à agricultura. E nesses fóruns as pessoas poderão apresentar as demandas. E essas oficinas, estarão percorrendo todo o Estado do Espírito Santo”. “Já estamos fazendo divulgação nas rádios, nos jornais e vamos estar divulgando, também, em outros meios, para que o produtor possa ver o calendário de eventos, que serão de 3 a 4 por semana. As solenidade serão muito boas para participar, contamos com a participação de todos, pois os produtores verão que são oficinas de trabalho e é isso que temos priorizado nesses eventos, oficinas, verdadeiramente, de trabalho, onde o Produtor tenha prazer em fazer parte, falando, explicando e nos apresentando, quais são os desafios de cada arranjo produtivo existentes em nosso estado”.


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