Agronegócio
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| AGRONEGÓCIO QUINTA-FEIRA, 26 DE JUNHO DE 2014
PROJETO DE MARKETING
Vitória, junho de 2014 | NÚMERO 2 . ANO 2
Exportação dribla a crise e consegue recuperar os US$ 2 bi em vendas. PÁG. 28
FAMÍLIAS MUDAM A VIDA NO CAMPO N o a n o d a ag r i c u l t u r a f a m i l i a r , E s t a d o e l ev a s e u s l u c r o s n o c a m p o g r a ç a s à inovação das novas gerações
Produtores apostam nos orgânicos e na recuperação de florestas. PÁG. 38
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EDITORIAL
Elaine Silva Editora da Revista Agronegócio
Gerações fazem a diferença no campo
Q
uando se pensa na produção agrícola do Espírito Santo, muitas são as imagens que nos vêm à cabeça: café, frutas, as delícias produzidas nas montanhas, como o socol. O que todas elas têm em comum? A forma e o cuidado com que são produzidas, porque são feitas por famílias inteiras. A força da agricultura familiar, que está presente em 80% das propriedades capixabas, é o tema da Revista Agronegócio que hoje chega às suas mãos. A escolha foi essa porque a Organização das Nações Unidas (ONU) determinou que 2014 é o Ano Internacional da Agricultura Familiar. E como o Estado tem a agricultura familiar fincada em sua história, não poderia se tratar de outro assunto na revista. A matéria de capa traz um dos ícones da produção em família e que só faz crescer o chamado agroturismo do Estado. Histórias dos Brioschi e dos Falqueto, de Venda
Nova do Imigrante, são exemplos a serem seguidos por quem quer lucrar mais na lavoura. São gerações inteiras que plantaram raízes no campo e de lá não saem. O que é interessante é que os mais novos trazem as tecnologias para conseguir produzir ainda mais. A inovação, aliás, é alvo de uma outra reportagem e traz vários cases que estão elevando o nome do Espírito Santo à nata do desenvolvimento tecnológico brasileiro. Por exemplo, com a criação de novas variedades de bananas e cafés, mais resistentes a pragas. O respeito ao meio ambiente também é tema de matéria, que mostra o crescimento dos orgânicos e a recuperação de áreas degradadas. É gratificante ver que a agricultura familiar não só mata a fome da população, como está sendo responsável por não deixar o planeta ser destruído. Boa leitura!
A agricultura familiar não só mata a fome, como é responsável por não deixar o planeta ser destruído
Mãos dadas com o crescimento A agricultura familiar anda de mãos dadas com o crescimento do Espírito Santo. E os bons frutos podem ser vistos em números e depoimentos que moldam as páginas da revista Agronegócio, que chega hoje em sua casa. Mas o debate sobre os avanços na produção capixaba não param por aqui. Em julho, A GAZETA mostra as mudanças que o Estado vem experimentando graças à força das cooperativas, que movimentam tanto o campo quanto as cidades capixabas. Até lá! EDITORA DE CADERNOS ESPECIAIS: Marcelle Secchin
Agronegócio ESPECIAL DE
EDITORA DE CADERNOS ESPECIAIS: Marcelle Secchin (msecchin@redegazeta.com.br); EDITORA: Elaine Silva (elainesilva@redegazeta.com.br); EDITORA-ADJUNTA: Fernanda Zandonadi (fzandonadi@redegazeta.com.br); TEXTOS: Alexandre Lemos, Anderson Salles, Diná Sanchotene, Katilaine Chagas, Rafael José, Rita Bridi e Vitor Ferri; FOTOS: Gabriel Lordêllo e Arquivo AG; INFOGRAFIA E ILUSTRAÇÕES: Gilson Alvarenga; DIAGRAMAÇÃO: Andressa Machado e Adriana Rios; EDITOR DE QUALIDADE: Carlos Henrique Boninsenha; DIRETOR EXECUTIVO DE MÍDIA IMPRESSA E DIGITAL: Álvaro Moura; DIRETOR DE JORNALISMO: Abdo Chequer; EDITOR-CHEFE: André Hees; DIRETOR COMERCIAL: Fábio Enrico Cabral Ruschi; DIRETOR DE MERCADO LEITOR E LOGÍSTICA: Ranieri Aguiar; GERENTE COMERCIAL: José César Leite; GERENTE DE MARKETING: Leandro Vicentini; EDITOR DE ARTE: Paulo Nascimento. CORRESPONDÊNCIAS: Jornal A Gazeta, Rua Chafic Murad, 902, Monte Belo, Vitória, ES, CEP: 29053-315.
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SUMÁRIO
6 Raio-X do campo Propriedades familiares ganham espaço na produção de alimentos e empregam mais de 202 mil pessoas
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Como os nossos pais
Preserve Agricultores dão exemplo de preservação, cuidando de perto das nascentes e das matas
A força da agricultura familiar mantém gerações inteiras no campo, com a grata surpresa dos jovens empolgados em inovar e agregar valor aos produtos
22 Inovar é preciso A tecnologia se firma como instrumento fundamental para crescer no meio rural. Isso eleva a produção, reduz as pragas e aumenta ainda mais a renda
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O sabor da nossa terra De geração para geração, o agroturismo capixaba vem se tornando referência nacional, graças às famílias
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- As cooperativas agropecuárias do Estado são responsáveis re pela inclusão dos agricultores no mercado, prestando-lhes serviços de acesso à tecnologia, assistência técnica, integração e orientação das atividades dos produtores rurais, agregação de valor aos produtos e comercialização, atuando de maneira eficiente na cadeia produtiva de alimentos; - No cooperativismo agropecuário capixaba 90% dos cooperados são agricultores familiares, dado importante levando em consideração que o ano de 2014 foi eleito pela ONU como “Ano Internacional da Agricultura Familiar”, devido a importância do envolvimento destas famílias na produção de alimentos em todo o mundo; - 50% do leite (e derivados) produzidos em todo o ES, passam por uma cooperativa de laticínios capixaba. - Outro dado importante é a participação das cooperativas de leite nos Programas de alimentação escolar e o fato de 100% das cooperativas de laticínios possuírem SIF – Selo de Inspeção Federal, o que garante maior fiscalização dos produtos. - 15% do café capixaba é armazenado e comercializado via cooperativas. Estamos avançando à passos largos e concretos, com apoio do Governo Estadual (SEAG, Incaper e Aderes), para alcançarmos o percentual de 40% nos próximos 03 anos - Na fruticultura, as cooperativas capixabas tem participação ativa nas chamadas públicas do Governo para fornecimento de merenda escolar!
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GABRIEL LORDÊLLO/MOSAICO IMAGEM
A família de Selene Hammertesch é toda envolvida na agricultura orgânica. Na propriedade, são cinco pessoas participando do plantio e da colheita
FAMÍLIAS DA TERRA Propriedades familiares ganham espaço na produção de alimentos e empregam mais de 202 mil pessoas no Estado ANDERSON SALLES asalles@redegazeta.com.br
A
agricultura familiar, segundo definição do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), é uma forma de produção onde o agricultor usa, predominantemente, mão de obra da própria família, tem a
maior parte da renda originada em sua propriedade e também gerencia seus negócios com a ajuda familiar. No Espírito Santo, a agricultura familiar está presente em 80% das propriedades rurais e emprega 64% das pessoas do campo. “São mais de 202miltrabalhadoresocupadosnas diversasatividadesagrícolascondu-
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54% do café produzido no Estado têm origem nas propriedades familiares
zidas por essa categoria de produtores”, explica Enio Bergoli, secretário de Estado da Agricultura. O forte da agricultura familiar no Estado é a produção de alimentos, como frutas (banana, abacaxi, laranja, tangerina, limão, morango, frutas vermelhas, pêssego, uva e manga); raízes (inhame, mandioca e cará); legumes (tomate, cenoura, beterraba, jiló, batata e batata baroa); folhosas (alface, repolho, couve e couve-flor); grãos (milho e café) e produção animal (peixes, mel e leite). “Os agricultores familiares capixabas são responsáveis pela produção de 54% do café e 42% do leite, principais produtos agropecuários do Estado. Produzem 77% do feijão, 72% do milho e 47% da carne suína”, destaca Enio Bergoli. Em média, as famílias que vivem da agricultura no Estado são compostas por quatro integrantes. “Daí a importância de cada vez mais se criar políticas
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• Assessoria para realização de processos seletivos, bem como contratação de estagiários e empr empregados; • Orientação em processos licitatórios.
• Assessoria técnica multidisciplinar; • Suporte e orientação a grupos interessados em constituir cooperativas; • Visitas técnicas para monitoramento do desenvolvimento da cooperativa; • Certificação de regularidade técnica; •Implantação de ferramentas de fomento à autogestão cooperativista.
• Assessoria de imprensa; • Assessoria na criação de informativos; • Criação de materiais publicitários, fôlderes, logomarcas, entre outros; • Construção de planos de comunicação. • Assessoria e consultoria jurídica nas áreas de abrangência dos interesses das cooperativas; • Análise e orientação das atas, estatutos e regimentos internos das cooperativas e negociações sindicais.
• Assessoria em infra-estrutura de rede; • Orientação no licenciamento de software; • Assessoria para proteção contra males externos (vírus e outros) e indicações de ferramentas.
• Consultoria em assuntos contábeis, tributários e financeiros; • Informativos e pareceres contábeis e tributários; • Análise técnica da área contábil, fiscal e trabalhista das cooperativas; • Mapeamento dos processos e rotinas contábeis para melhor confiabilidade e segurança das informações divulgadas.
ocbes.coop.br • cooperares.blog.br • facebook.com/SistemaOcbSescoop.es
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públicas que incentivem esses produtores a continuar investindo nos negócios junto com a família”, diz Aureliano Nogueira da Costa, diretor técnico do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
RENDA SUSTENTÁVEL Em relação ao faturamento, também de acordo com o Incaper, uma família que vive da agricultura no Estado consegue faturar em média, de R$ 1,6 mil a R$ 2 mil por mês. “Esses valores dependem muito da área, da atividade desenvolvida”, avalia Adolfo Bras Sunderhus, engenheiro agrônomo do Incaper. Uma outra característica marcante na produção dos agricultores familiares no Espírito Santo é a utilização de técnicas sustentáveis como o uso mínimo de produtos químicos e fertilizantes, entre outros. “Essa prática torna o custo de produção na agricultura familiar muito mais baixo”, explica Sunderhus. De acordo com o Incaper, para ser considerado agricultor familiar, é preciso que as unidades produtivas tenham tamanho inferior a 30 hectares. Além disso, é preciso ter o Documento de Aptidão (DAP) do Pronaf. Ele é emitido por órgãos credenciados, como sindicatos de trabalhadores rurais, Incaper, Incra, cooperativas, entre outros. TEMA DO ANO A agricultura familiar foi eleita tema do ano pelos 193 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU), num ato de reconhecimento ao papel que representa para a oferta de alimentos e garantia da biodiversidade e sustentabilidade do planeta. “Neste Ano Internacional da Agricultura Familiar, comemoramos, em terras capixabas, avanços em produtividade, melhoria da qualidade da produção e aumento da renda das famílias do campo em equilí-
VITOR JUBINI
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A sustentabilidade é um traço forte nessa forma de cultivo
brio com a preservação e recuperação dos recursos naturais”, frisa Enio Bergoli.
FAMILIAR E ORGÂNICO A família da produtora rural Selene Hammertesch, 51 anos, é toda envolvida na agricultura orgânica. Na sua propriedade, que fica na região de Alto Santa Maria, em Santa Maria de Jetibá, são cinco pessoas participando do plantio e colheita de ervas aromáticas (chás), condimentos alimentares (temperos e ervas finas), além de hortaliças em geral. Selene, que trabalha na terra desde 1979, inclusive já pegou crédito para compra de equipamentos para ajudar na produção. “Com o crédito que peguei, graças às linhas de financiamento do Pronaf, adquiri um microtrator. A máquina é uma ajuda e tanto para nós”, conta, animada, Selene.
Toda a produção da família é comercializada em feiras livres da Grande Vitória. Selene destaca a facilidade e vantagem do crédito financeiro. “Se não fossem essas modalidades do Pronaf, seria praticamente impossível para o agricultor, pois as taxas cobradas nos bancos para os financiamentos comuns são muito altas”. Selene teve acesso às informações sobre o Pronaf graças ao Sindicato de Trabalhadores Rurais de Santa Maria de Jetibá, do qual faz parte. “O sindicato passou todas as informações e deu toda a orientação necessária. Acho muito importante para o produtor ter acesso a essas e outras informações. Muitas vezes algo dá errado justamente devido à falta de informação”. Em relação ao trabalho, que conta com toda a família, Selene diz: “É um negócio excelente para todos”. l
Uma força a mais no seu negócio: agora o Ford C-1119 também faz parte do Pronaf Mais Alimentos.
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2014: o ano da agricultura familiar Tema foi escolhido pela ONU pela importância que desempenha na oferta de alimentos no mundo, além de ser base econômica para inúmeras cidades em vários países
ALEXANDRE LEMOS aljunior@redegazeta.com.br
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O ano dedicado à agricultura familiar é uma excelente oportunidade para discutir a importância do setor
ano de 2014 tem como tema, escolhido pelos 193 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU), a agricultura familiar. Um dos motivos da escolha foi reconhecer o importante papel que a agricultura familiar desempenha na oferta de alimentos em todo o mundo. No Ano Internacional dedicado à Agricultura Familiar (AIAF), desafios e oportunidades terão espaço de debate. O ano é internacional, e a ideia é que a importância dessa atividade esteja refletida em cada canto do mundo, mostrando os impactos positivos para a biodiversidade e sustentabilidade do planeta. A notícia do ano dedicado à agricultura familiar reverberou como uma enorme oportunidade para os trabalhadores da área pensarem no espaço que devem ocupar e o quanto a atividade ainda precisa ser valorizada para cumprir o seu papel, que é o de levar alimento para os lares do mundo inteiro. A iniciativa foi da ONU para a Alimentação e Agricultura (FAO), um fórum onde países desenvolvidos e em desenvolvimento se reúnem para negociar acordos, debater políticas e
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impulsionar estratégias. Além disso é o organismo que lidera os esforços nacionais de erradicação da fome e da insegurança alimentar. Segundo o coordenador-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), Marcos Rochinsk, o setor ocupa 16,6 milhões de brasileiros, está presente em 85% dos estabelecimentos rurais e realmente deveria ser comemorado em um ano internacional. “É de fundamental importância comemorarmos bastante. Hoje a agroecologia é sinônimo de agricultura familiar. Não é com grandes propriedades que vamos matar a fome”, disse. “Que esse setor consiga enxergar sua importância estratégica para a alimentação. Isso vai ganhar muita força”, deseja.
COLHEITA NO PAÍS Do total da safra, as famílias produzem: P 87% da mandioca P 70% do feijão P 46% do milho P 38% do café P 34% do arroz P 21% do trigo P 60% da produção de leite P 59% do rebanho suíno P 50% das aves P 30% dos bovinos Fonte: Fetaes
A agricultura familiar é uma forma de produção onde predomina a interação entre gestão e trabalho. Os agricultores familiares dirigem o processo
produtivo com ênfase na diversificação e utilizam o trabalho familiar, eventualmente complementado pelo trabalho assalariado. A área de atuação deve ser inferior a quatro módulos fiscais. A definição é do Ministério do Desenvolvimento Agrário do governo federal. Essa modalidade de cultivo é responsável por cerca de 70% dos alimentos produzidos no Brasil. Constitui a base econômica de 90% dos municípios brasileiros, responde por 35% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e absorve 40% da população economicamente ativa do país. O coordenador-geral da Fetraf, Marcos Rochinsk, enumera a importância dos números. “Eles demonstram que as atividades relacionadas à agricultura familiar são importantes tanto para a segurança alimentar, pois
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35% do PIB
do país vem da agricultura familiar. Essa modalidade ainda absorve a mão de obra de 40% da população economicamente ativa do Brasil
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produz alimentos, quanto para a economia, pois gera postos de trabalho”, destaca.
ESPÍRITO SANTO No Espírito Santo, os dados também são muito relevantes. Apesar de ocupar apenas 32% da área, a agricultura familiar está presente em 80% dos estabelecimentos rurais e emprega 64% das pessoas do campo, com mais de 202 mil pessoas ocupadas nas diversas atividades agrícolas conduzidas por essa categoria de produtores. A Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca do Espírito Santo (Seag) aponta que os agricultores familiares capixabas são responsáveis pela produção de 54% do café e 42% do leite, principais produtos agropecuários do Estado. Produzem 77% do feijão, 72% do milho e 47% da carne suína. E ainda, enquanto no Brasil o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBPA) anual por hectare é de R$ 515, no Espírito Santo é de R$ 1.093, mais do que o dobro da média nacional. Segundo o secretário de agricultura, Enio Bergoli, ao considerar a expressão econômica e a dimensão sociocultural e ambiental, foi implantado nos últimos anos um amplo programa de fortalecimento da agricultura familiar capixaba, o Vida no Campo. “O governo estadual adquire produtosdaagriculturafamiliarpara a merenda escolar, regulariza as terras, revitaliza os assentamentos rurais, facilita a agroindustrialização e distribui todos os anos centenas de máquinas e equipamentos agrícolas para uso coletivo das associações e cooperativas da agricultura familiar, o que favorece o progressotecnológicodoscultivose criações”, destaca. DIFICULDADES Mesmo diante de avanços na área, algumas dificuldades ainda são encontradas pelos agricultores familiares capixabas. Para o presidente da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura no Espírito Santo (Fetaes), Julio Cézar Mendel, um
Os agricultores familiares são responsáveis por 42% do leite que é produzido no Espírito Santo
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70%
TEMPO DE REFLETIR
Ano Internacional da Agricultura Familiar dos alimentos no Brasil são produzidos por meio da agricultura familiar
O que é?
Um ano estabelecido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) para refletir a importância dessa atividade para a garantia da biodiversidade e sustentabilidade do planeta.
Promoção Um dos objetivos é promover, em todos os países, políticas públicas para o desenvolvimento sustentável
da agricultura familiar.
Organizações O evento visa, ainda, a fortalecer as organizações representativas.
Conscientização Outro ponto que deve ser fomentado é o aumento da conscientização na sociedade sobre a importância de apoiar a agricultura familiar.
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dos grandes problemas ainda é a garantia da comercialização. “Um dos gargalos é a comercialização, há uma série de fatores que prejudica, como a burocracia na saída dos produtos das propriedades. Ainda encontramos dificuldades nas estradas rurais, além de esbarrarmos numa série de dificuldades na retirada de selo municipal e com a própria vigilância sanitária”, conta. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Espírito Santo (Faes), Júlio da Silva Rocha Júnior, admite que há avanços e muito o que comemorar, mas também aponta dificuldades, sobretudo de logística. “Considerável parte da área de nosso Estado carece de qualidade de energia elétrica, sendo ainda monofásica, e não há muito investimento para termos condições de adquirirmos melhores máquinas, o que prejudica nossa produção”, alerta.
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90% das cidades
têm como base econômica a agricultura familiar
COMEMORAÇÕES Em todo o Brasil estão sendo programadas diversas ações, atividades e eventos para comemorar o Ano Internacional da Agricultura Familiar (AIAF). O Brasil montou um comitê, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, para articular todas as atividades dedicadas ao AIAF. Grande parte das atividades além de serem comemorativas, serão de caráter de reflexão com intuito de buscar a conscientização da sociedade sobre a importância de apoiar a agricultura familiar. No Espírito Santo destaca-se a realização da 10a Edição da Feira de Agricultura Familiar e Reforma Agrária (Feafes), que acontecerá entre os dias 04 e 06 de julho, na Praça do Papa. Em 2014, toda a programação está sendo pensada em torno do AIAF. l
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TERRA PRODUTIVA A agricultura familiar capixaba em números P 67.000 propriedades (80% do total de 84.000); P 202.000 postos de trabalho na agricultura (64% do total de 317.000); P 36% da área agrícola total do Estado; P 44% do total do valor bruto da produção agrícola; P Responsável por 70% do turismo rural, 52% do café, 78% do artesanato e 43% do leite. (Fonte: Incaper)
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Velhos e novos desafios da área rural No país e no mundo, discutem-se políticas públicas que permitam que a agricultura das famílias alcance a sustentabilidade, gere emprego e renda
RAFAEL JOSÉ rjassis@redegazeta.com.br
ste ano, as atenções estão todas voltadas para a agricultura familiar. O setor produz 70% dos alimentos consumidos pelo mundo e está no centro dos debates. A ideia é sensibilizar para a importância do trabalho do produtor rural e erradicar a fome e a pobreza pelos cinco continentes. O reconhecimento da importância da atividade familiar não é à toa. O cultivo feito pelas mãos de agricultores e suas famílias não é atual, mas viajou desde a formação dos campesinatos nas Idades Antiga e Média, passou pelos costumes de plantio e colheita dos índios até ganhar destaque no cenário político social vigente. Em cada época, conceitos e desafios a serem enfrentados. Luta que continua nos dias hoje. O caso brasileiro, aponta Haloysio Miguel de Siqueira, especialista em Agricultura Familiar do Centro de Ciências Agrária da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), é resultado de um processo histórico iniciado a partir da colonização do país, marcada por três grandes características: a grande propriedade, as monoculturas de exportação e a escravatura. Destaque para os ciclos do açúcar e do café, que foram momentos políticos e so-
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70% do alimento produzido no mundo vem dessa forma do cultivo familiar
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966 mil hectares
das terras capixabas são destinados à agricultura familiar
ciais que proporcionaram o surgimento das grandes propriedades, a partir de 1850. “Sob o olhar de muitos intelectuais, sempre foi considerada um segmento marginalizado e de pequena importância. A agricultura familiar era vista como sinônimo de pobreza e de subdesenvolvimento”, explica Siqueira. Mas as transformações só começaram a ser vistas na década de 1950, com a instalação de indústrias produtoras de insumos para a agricultura. “O governo montou inúmeros aparatos para incentivar o uso de tecnologias, como máquinas, adubos químicos e agrotóxicos. Surge, a partir daí, o que muitos especialistas definem como a Revolução Verde, modelo que preconizava a modernização da agricultura e que só veio a se efetivar nos anos 1960”, disse o especialista. Siqueira explica ainda que, em princípio, a inserção de novos aparatos tecnológicos no meio rural não foi o suficiente para resolver os principais problemas da agricultura brasileira. “Se por um lado aumentou a produção agrícola, por outro, deixou desempregados mais de dois terços de agricultores daquela época que, por vários aspectos, não conseguiram adequar-se ao modelo capitalista de produção”.
A Revolução Verde também foi responsável pela inviabilidade da produção, pela baixa competitividade e pelo baixo poder de barganha das propriedades de nível familiar. “O período foi difícil para o produtor rural e sua família. Ele foi obrigado a vender suas terras para aventura-se nos centros urbanos ou continuou em suas terras em condições de miséria rural, abandonado”.
A REALIDADE CAPIXABA A evolução histórica da agricultura familiar no Espírito Santo não foi muito diferente do resto do Brasil. A ocupação do solo por aqui, como explica Josean de Castro, delegado federal do Ministério de Desenvolvimento Agrário do Estado,
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EDSON CHAGAS
Escravos e europeus construíram, em terras capixabas, a base da nossa estrutura agrária e do nosso modo de produção” JOSEAN DE CASTRO DELEGADO FEDERAL DO MINISTÉRIO DE DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO
é caracteriza pela dinamização da imigração italiana e alemã, com o café como principal atividade econômica. “Escravos e europeus construíram, em terras capixabas, a base da nossa estrutura agrária e do nosso modo de produção”. Durante muito tempo, esclarece Maxwell Assis de Souza, diretor-presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), não houve interesse na geração de políticas públicas para essa categoria da sociedade. Mas com o surgimento de uma sociedade mais democrática, a partir dos anos 1990, esse grupo ganhou forças. O segmento se mobilizou na luta por direitos sociais, antes eliminados pelos próprios
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74%
do emprego no campo tem origem na agricultura familiar
instrumentos do Estado. Em toda a história brasileira, somente a partir de 1996, com a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) é que os agricultores familiares conquistaram uma atenção maior do governo federal e ações específicas. “Foi um grande passo dado rumo ao desenvolvimento agrário do país para auxiliar na capitalização de recursos e na conquista da sustentabilidade para esses agricultores e suas famílias”, acentua o diretor-presidente do Incaper. Segundo ele, foi o momento de amadurecimento da democracia, principalmente por meio da criação dos Conselhos Municipais de Desenvolvimen-
to Rural Sustentável (CMDRS), onde o agricultor familiar e os representantes dos segmentos sociais discutem seus problemas e identificam soluções por meio de suas experiências, necessidades e prioridades.
NO MUNDO A agricultura familiar responde por 38% da produção agrícola no Brasil; 30% no Uruguai; 25% no Chile; 20% no Paraguai e 19% na Argentina. No Censo Agropecuário de 2006 – último levantamento feito pelo IBGE da categoria – foram identificados 4.367.902 estabelecimentos de agricultura familiar no Brasil. Eles representam 84,4% do total, mas ocupam apenas 24,3% - ou 80,25 milhões de hectares – da área dos
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A agricultura familiar tomou fôlego a partir dos anos 1990, explica Maxwell Assis de Souza
estabelecimentos agropecuários brasileiros. Já os estabelecimentos considerados não familiares representavam 15,6% do total e ocupavam 75,7% da sua área. Dos 80,25 milhões de hectares da agricultura familiar, 45% eram destinados a pastagens, 28% a florestas e 22% a lavouras. Ainda assim, a agricultura familiar mostrou seu peso na cesta básica do brasileiro, pois foi responsável por 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21% do trigo e na pecuária 58% de leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves e 30% dos bovinos. O mesmo estudo revelou, em nível estadual, que foram encontrados 67.403 estabelecimentos de agricultura fami-
liar, distribuídos em uma área de 966.766 hectares. Já os apontados como não familiares, representam 16.953, em uma área de 1.871.381. Os dados mostram a grande importância socioeconômica da agricultura familiar para o Brasil e para o Estado, mas ainda é preciso melhorar e muito. “A agricultura familiar é um setor determinante para o desenvolvimento do Brasil devido à capacidade de geração de empregos, renda e alimentos, além do resgate da cidadania da população que vive no meio rural. É o principal motor do desenvolvimento regional e responde por 74% do emprego no campo. São necessárias medidas que possibilitem a organização dos agricultores, a adequação do desenvolvimento rural e educação básica ambiental e profissionalizante aos membros das
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“Sob o olhar de muitos intelectuais, a agricultura familiar sempre foi considerada um segmento marginalizado e de pequena importância”
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HALOYSIO MIGUEL DE SIQUEIRA, ESPECIALISTA EM AGRICULTURA FAMILIAR DA UFES
famílias, além de políticas públicas que levem em consideração a peculiaridade de cada região”, atenta o especialista Haloysio Miguel de Siqueira. Josean de Castro complementa, afirmando que as políticas públicas no Estado estão avançando para atender ao trabalhador do campo. “Programa de créditos, assistência técnica às propriedades rurais, ações de fome zero que garante o abastecimento de populações em situação de insegurança alimentar e nutricional e promove a inclusão social no campo, fortalecendo a agricultura familiar, a compra feita pelo governo de ao menos 30% dos alimentos provenientes da agricultura familiar são algumas das estratégias para diminuir as diferenças de oportunidade entre campo e cidades, diminuindo, assim, o êxodo rural”, finaliza. l
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A arte de cultivar passa de pai para filho A força da agricultura familiar mantém gerações no campo, com os mais jovens buscando novas formas de agregar valor aos produtos
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DIVULGAÇÃO
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DIVULGAÇÃO
Vicenzio e três irmãos optaram por trabalhar na propriedade que herdaram dos pais
DINÁ SANCHOTENE dsanchotene@redegazeta.com.br
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primeira propriedade da família de Vicenzio Paulo Cecotti foi comprada há 60 anos pelo seu avô, em Pontões São João, município de Castelo. Tempos depois, em 1973, o pai dele adquiriu terras na mesma região. A ideia era ampliar os negócios da família. Dos quatro irmãos de Vicenzio, três continuam a trabalhar na propriedade e os dois
filhos do agricultor, um de 22 e outro de 19 anos, ajudam a tocar os negócios da família. Vicenzio explica que a propriedade trabalha com a agroindústria. “Nossa atividade sempre foi o café. Há 10 anos, decidimos investir no café em pó. Plantamos e industrializamos tudo aqui”, contou. Cerca de 90% da produção do Café Cecotti é vendida em Castelo, mas há clientes que vão direto na propriedade
o O amor pela terra ultrapassou gerações e hoje, os dois filhos de Vicenzio ajudam a tocar os negócios da família
para adquirir o produto. A produção, em 2013, foi de 430 sacas de café e a expectativa é de que este ano esse número se repita, mesmo com alguns entraves. “Precisamos de estradas melhores. Quando chove, não conseguimos sair da propriedade. Quando o carro quebra é o maior sufoco. Com a estrada que liga Castelo a Muniz Freire pavimentada, poderíamos vender mais”, pontuou Vicenzio.
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CASAL DA TERRA A família de Leomar Poton sempre viveu da roça. Ao fazer o curso de técnico agrícola, ele conheceu Luciana Catane Ricieri Puton, com que se casou anos depois. O desejo do casal sempre foi continuar a viver da agricultura e, por isso, eles decidiram investir no negócio próprio. “Quando fizemos o curso, tivemos que fazer um projeto de conclusão. Foi quando surgiu a ideia da fábrica de polpa de frutas. Eu, com a graviola, e o Leomar, com maracujá. Quando começamos a produzir, ainda trabalhávamos como agricultores e percebemos que a procura era grande também por outros frutos”, contou Luciana. Com o tempo, o casal precisou
o Luciana e Leomar apostaram em uma fábrica de polpa de frutas. O negócio deu tão certo que hoje eles já compram matéria-prima de vários produtores da região
se dedicar apenas à fábrica, porque não conseguiam encontrar mão de obra qualificada. Hoje, a matéria-prima é comprada de produtores da região. AformaturadeLeomareLuciana foi em 2003 e a fábrica estruturada em 2007. “A família do meu marido tem propriedade em Guarapari. O pai e os irmãos compraram e venderam terras entre eles. Quando ainda estudávamos, queríamos procurar uma coisa para fazer, mas a nossa ideia era permanecer na roça. No início, plantamos banana-terra, banana-prata e café, mas as doenças fizeram com que a gente perdesse tudo. Isso foi desestimulando, até que surgiu a ideia a fábrica de polpa”, contou Luciana. Ela conta, ainda, que o começo da fábrica foi difícil, pois eles não
tinham equipamentos e o freezer era usado. Com o apoio do Incaper, a Lara Frut cresceu e conseguiu se profissionalizar.
POLÍTICAS PÚBLICAS No Brasil, 70% da produção agrícola é proveniente da agricultura familiar. Só em solo capixaba, são cerca de 67 mil propriedades. Com estes números, nos últimos 12 anos, o governo intensificou ações para desenvolver ainda mais esse importante setor da economia. Entre os incentivos está o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), onde os governos (União, Estados e municípios) compram os produtos da agricultura familiar para atender às instituições que ofere-
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SAIBA MAIS Definições da prática
cem refeições regularmente. Caso de hospitais e presídios. Há, ainda, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O coordenador de agricultura familiar e crédito rural do Incaper, José Bráz Venturim, explica que essa ação é voltada para compra de alimentos para as escolas. Trinta por cento dos produtos devem ser adquiridos de propriedades da agricultura familiar. E para garantir a permanência dos agricultores familiares em suas terras, o Ministério de Desenvolvimento Agrário criou o Programa de Cadastro de Terras e Regularização Fundiária, que assegura a posse do imóvel. O produtor que precisa in-
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67 mil
propriedades no Espírito Santo têm como base a agricultura familiar
vestir em sua propriedade pode contar com o crédito fundiário, oferecido pelo Branco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco do Nordeste, e ainda com o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). “É bom lembrar que para ter acesso a essas políticas públicas, é necessário ter cadastro da propriedade em sindicatos rurais, Incaper, movimentos de pequenos agricultores, Incra, Funai, colônias de pesca e unidades técnicas. Também é importante lembrar que todas essas entidades devem ser cadastradas e credenciadas no Ministério de Desenvolvimento Agrário”, explicou Venturim. l
P Entende-se por agricultura familiar o cultivo da terra realizado por pequenos proprietários rurais, tendo como mão de obra, essencialmente, o núcleo familiar. P É considerado agricultor familiar aquele proprietário de terra que possui quatro módulos fiscais. O tamanho depende de cada região. P A renda não pode passar de R$ 360 mil por ano. P Grande parte dos produtores familiares trabalham com o café. P O controle da produção precisa ser feito pela família. P Em dezembro de 2011, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 2014 o Ano Internacional da Agricultura Familiar, reconhecendo o papel fundamental do setor para a segurança alimentar do mundo. P O objetivo da entidade, com o ano comemorativo, é reposicionar a agricultura familiar no centro das políticas agrícolas, ambientais e sociais nas agendas nacionais. Além disso, a ONU quer aumentar a visibilidade do papel do segmento na erradicação da fome e pobreza, provisão de segurança alimentar e nutricional, melhora dos meios de subsistência, gestão dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e no desenvolvimento sustentável, particularmente nas áreas rurais.
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INOVAÇÃO A SERVIÇO DO CAMPO A tecnologia se firma no meio rural, a produção aumenta, as doenças sucumbem e a renda do trabalhador cresce VITOR FERRI vferri@redegazeta.com.br
ngana-se quem pensa que as tecnologias estão a serviço apenas das grandes indústrias. O campo já usufrui de várias modernidades que contribuem para ampliar e melhorar a produção de diversos tipos de culturas. E outro mito que tem caído por terra é o de que usar tecnologia avançada no meio rural é um processo caro, de acesso difícil principalmente para os agricultores familiares. Prova disso são as pesquisas do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), que desenvolvem técnicas, métodos e até novas qualidades dos produtos cultivados, tudo para garantir o desenvolvimento do meio rural e, por tabela, do Estado. Em 2013, apenas no Espírito Santo, a meta do instituto era pensar e desenvolver cerca de 140 projetos junto com suas equipes de pesquisadores. “Tínhamos essa meta até dezembro, mas ultrapassamos esse número. Para este ano, nossa expectativa é chegar a 160 projetos desenvolvidos pelo Incaper até o final do ano”, diz o chefe de pesquisa do instituto, José Aires Ventura. Por isso mesmo não é difícil
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encontrar propriedades rurais capixabas que já estão implantando algumas dessas tecnologias, como novas variedades de frutas, legumes e café, além de técnicas de produção. Muitas pessoas podem pensar que levar a tecnologia ao campo se limita a instalar equipamentos e maquinários de ponta, como grandes tratores e colheitadeiras. A inovação, no entanto, vai além disso. Ela começa nos laboratórios de pesquisas, onde os técnicos trabalham para desenvolver novas espécies ou variedades. Esse processo tem por objetivo aumentar a produção ou dar às plantas mais resistência contra as doenças. E isso tudo só é possível com a ajuda da tecnologia. Um bom exemplo do emprego da inovação no campo pode ser visto no café. O carro-chefe da economia no Estado ganhou do Incaper, só em 2013, três novas variedades: Jequitibá, Centenário e Diamante. “Elas trazem uma série de vantagens, como maior produtividade em comparação com as variedades anteriores. Chegam a ultrapassar o dobro da média das outras graças às pesquisas de melhoramento do Incaper”, afirma José Aires Ventura. Outra novidade é o cultivo de
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160
projetos Somente este ano, o Incaper planeja desenvolver 160 projetos que vão levar a tecnologia e a inovação para o homem do campo
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mil eventos voltados para a formação de agricultores foram realizados pelo Incaper, em 2013
morangos em túneis. O Incaper criou um sistema barato de telas que cobre os pés da fruta. Por causa dessa tela, as plantas ficam mais protegidas de ações do clima, como chuvas fortes, granizo ou calor demais. Além disso, ficam menos suscetíveis às doenças que podem acabar com a produção. Na produção de leite, mais inovação. Os técnicos criam maneiras de aumentar a produção da bebida com o gado na condição de pasto. Ou seja: eles buscam formas de intensificar a produção de leite sem gastar muito com insumos e gado preso. A banana também tem ampliado sua participação no campo. O Incaper produziu, em laboratório, uma variedade especial da banana-maçã, chamada de Tropical.
EXEMPLO DE SUCESSO Produtor em Alfredo Chaves, o agricultor Luciano Pinon, de 47
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anos, é um dos que produzem essa nova variedade de banana. Ele ficou sabendo da novidade por meio do instituto capixaba e logo se interessou. “Por ser uma nova variedade desenvolvida em laboratório, ela é mais resistente ao Mal do Panamá, por exemplo. Isso me chamou a atenção. Eu tinha a banana comum, mas era atacada por doenças constantemente, o que acabou diminuindo minha produção”, afirma. A princípio, Luciano começou sua nova lavoura com mil mudas, sendo 200 doadas pelo Incaper. “Eu até desanimei, porque o pessoal estranhou a banana, no início. Achavam parecida com a banana-maçã comum. É difícil mudar o hábito da população de uma hora para outra. Mesmo assim, insisti, mandava para a Ceasa de Vitória e fui fazendo a divulgação. Hoje, tem aceitação até no Rio de Janeiro”, comemora. Hoje, o produtor tem em torno
o O morango é uma das culturas que têm recebido atenção dos pesquisadores
de cinco hectares de banana dessa variedade. A produção semanal varia entre 800 e mil quilos. “Estou produzindo há uns três anos. A produção é boa, maior quando há boa irrigação e cuidado. Mas um atrativo é ser mais resistente às doenças”. No Rio de Janeiro, o preço de uma caixa de 20 quilos varia entre R$ 25 e R$ 30. “Ela tem um sabor excelente e uma ótima aceitação no mercado. Quem come dela não quer saber mais da outra”, enaltece Pinon.
IRRIGAÇÃO Outro projeto inovador para a irrigação está sendo desenvolvido no Estado. Criado por Fernando Toretta, o equipamento é um comando eletrônico microcontrolado. A promessa é que a implantação desse sistema seja até 70% mais barata do que os equipamentos tradicionais. “Esseequipamentosurgiudanos-
sa necessidade. Trabalhava com automação para sistemas de irrigação, e passávamos dez longas horas montando os quadros de comando, a parte mais complicada do sistema. Tive a ideia de criar um equipamento que facilitasse a nossa vida, e surgi com um protótipo que demora apenas 30 minutos para alguém com conhecimentos básicos de elétrica montar.Atéaslojasquevendemesse tipo de equipamento fazem a montagem”, explica. Criado na roça, Toretta desenvolveu o primeiro sistema automático de bombas aos 12 anos e trabalhava com elétrica fora do país e na Petrobras. Para conseguir colocar em prática a criação, ele teve apoio do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes). O projeto, orçado em R$ 186 mil, criou a tecnologia por meio de um software que permite dar a partida em motores à distância e de maneira agendada. Com isso,
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o sistema confere facilidade de operação, rapidez e redução do número de cabos elétricos e do tamanho do quadro de comando, entre outras vantagens. Os custos de implantação foram reduzidos em 70% em relação aos sistemas convencionais e, tomando como exemplo a cultura do café, o aumento da produção ficou entre 20% e 30%. Por meio da nova empresa, Toretto já vendeu o sistema para 15 clientes da região de Linhares e pretende fechar mais 20 negócios apenas neste ano.
INTERAÇÃO Apenas no ano passado, 72.272 pessoas (sem repetição de famílias) foram assistidas pelo Incaper no meio rural do Espírito Santo. “Esses beneficiários são, em sua maioria, agricultores familiares, quilombolas e pescadores”, exemplifica o chefe de pesquisa do Incaper, José Aires Ventura. Segundo ele, o instituto desenvolve ações integradas de pesquisas visando ao crescimento do Estado. “Essa integração de pesquisa e extensão é muito importante para dar apoio aos agricultores. Ao mesmo tempo que geramos tecnologia, a transferimos para os produtores. Com isso, eles têm um retorno rápido e significativo”, ressalta Aires. E, se a tecnologia pode ajudar também a produzir e ganhar mais, é certo que os produtores ficam interessados. Também em 2013, o Incaper realizou 4.213 eventos para formação de agricultores. É onde os pesquisadores do instituto apresentam as novas tecnologias, como são aplicadas, e passam o conhecimento para os produtores por meio de palestras e reuniões. “É assim que os produtores ficam por dentro das novidades, se informam e passam a usá-las em suas propriedades”, explica José Aires Ventura. Outro ponto positivo é o bom impacto econômico das pesquisas do Incaper no campo. Apenas em 2013, o órgão investiu R$ 1,09 bilhão em 25 tecnologias, que foram pensadas e trabalhadas junto aos produtores capixabas. “A cada real investido nessas pes-
quisas, além de levar benefícios aos produtores, como aumento de produção e menos custos, a sociedade recebe R$ 12,46 em retorno social. Para se ter ideia, em alguns Estados, esse retorno é de apenas R$ 6. Ou seja,oEspíritoSantoinvestenocampo e também tem um retorno ainda maior, e não apenas para os produtores. O Estado inteiro sai ganhando”, destaca o chefe de pesquisas do Incaper.
ACESSO E DIFICULDADES Mas como os produtores da agricultura familiar fazem para ter acesso às novas tecnologias desenvolvidas para o campo? Uma das maneiras mais fáceis é procurar as unidades do Incaper, presente em cada uma das 78 cidades capixabas. “Os produtores interessados devem procurar o escritório. É gratuito e não paga nada mesmo! Nosso público-alvo é o agricultor familiar, que tem certa limitação de recursos”, afirma o chefe de pesquisas do órgão, José Aires Ventura. Além de procurar o instituto, os
o Luciano Pinon apostou em uma nova variedade de banana para alavancar a produção
produtores podem ficar por dentro das novidades comparecendo às palestras e reuniões promovidas pelo Incaper. “Nesses eventos, os agricultores podem se informar sobre o nosso trabalho e como ter assistência. Nossa missão é promover as tecnologias por meio de ações integradas, ou seja, criando e implementando as pesquisas no campo. Buscamos o desenvolvimento sustentável do campo e do Estado”, reitera Ventura. O chefe de pesquisas também cita as facilidades de acesso a todas as cidades capixabas como um ponto que facilita a disseminação das pesquisas do Incaper. “É um Estado de fácil deslocamento, por isso temos uma resposta rápida”, observa. Projetos do governo do Estado também contribuem para essa facilidade. “O Caminhos do Campo facilita o acesso às propriedades rurais. Temos uma estrutura boa no Espírito Santo, o que nos dá esse diferencial e faz do Incaper uma das melhores instituições de assistência
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técnica do país”, destaca. O fato de o Incaper ser uma instituição integrada, ou seja, a mesma instituição que faz pesquisas também ajuda a implementar as novidades no campo, contribui para uma maior cobertura em todo o Estado, atendendo e ajudando a solucionar as demandas do produtor. Mas, para isso tudo, é preciso captar recursos por meio de editais, por exemplo, para que os pesquisadores possam desenvolver seus trabalhos. “Os projetos são apresentados e avaliados para só depois saber se teremos recursos de custeio ou investimento. Muito desse recurso vem do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes)”, acrescenta Ventura. Outra dificuldade que precisa
ser superada é a valorização do quadro técnico de pesquisadores. Segundo o chefe de pesquisas, todos os pesquisadores têm mestrado e muitos até doutorado. “São eles que desenvolvem as novas variedades de culturas e novas téc-
o Toretta: equipamento de irrigação 70% mais barato do que os sistemas convencionais
nicas para o cultivo no campo. Os pesquisadores são muito qualificados e enfrentamos concorrência com outros institutos, que oferecem melhores salários. Assim acabamos perdendo bons profissionais”, finaliza. l
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INOVAÇÕES NO CAMPO Conheça as técnicas mais simples e as mais modernas P Horta vertical: com pouco espaço, inclusive para quem mora na cidade e em locais menores, é possível cultivar hortaliças, temperos, plantas medicinais e até tubérculos, como cenouras e beterraba. Basta uma semente e o composto orgânico com terra. Depois, use garrafas pet, restos de troncos e até sapateiras como canteiros. É fácil e ainda ajuda o meio ambiente por conta da reciclagem de materiais. P Mel no vidro: basta adaptar uma estrutura à caixa onde fica a colmeia para ter um mel mais puro. A técnica favorece a produção de favos diretamente em vidros de conserva. Depois, os potes são retirados, lacrados e rotulados para a venda. P Espalhador de café: criado por um produtor do Norte do Espírito Santo, o equipamento artesanal é usado para secar os grãos. Com ele, a quantidade de café espalhada é maior e o processo leva menos tempo.
P Tilápia defumada: basta colocar um latão sobre a lenha, com suporte de tijolos. Com uma camada de areia e pós de serra, a fumaça aumenta, o que intensifica o cozimento do alimento. Por ser mais artesanalmente, o processo agrega valor na hora da venda em relação aos industrializados.
P Bichinho do bem: uma pequena joaninha pode ajudar no controle de pragas no campo. Pesquisadores do Incaper descobriram que esses animais são predadores ferozes para pulgões e cochonilhas, que atacam folhas de algumas plantas. A ideia é provar que o controle biológico pode ser tão eficaz quanto o uso de produtos químicos.
P Plantio clonal: planta-se um número reduzido de genótipos (clone) por área. Uma variedade clonal é formada pelo agrupamento de um pequeno número de clones. Já no plantio de mudas seminais, por sementes, mantém-se um grande número de genótipos distintos, pois cada planta será um genótipo diferente.
P Composteira agroecológica: consiste em uma mistura de camadas de esterco, palha e outros restos de matérias orgânicas que existem na propriedade. Essa mistura enriquece o solo. Faça também: coloque 20 cm de palha seca com uma camada de esterco durante até 10 dias. Faça a mistura constante dos produtos. Em 120 dias surge o adubo natural pronto e barato.
P Banana Prata: o Incaper desenvolveu duas novas variedades: a Vitória e a Japira. Foram lançadas há nove anos, mas vêm se consolidando agora. Elas são mais resistentes, ganhando mercados do Rio de Janeiro pela qualidade da fruta e baixo custo de produção. Elas também são mais tolerantes à seca e precisam de menos adubação.
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P Irrigação microcontrolada: trata-se de um sistema novo em que a irrigação é comandada por meio eletrônico, programada. Assim, diminui-se os gastos e, melhor ainda, a implantação é até 70% mais barato do que os sistemas tradicionais. E mais: após primeiros testes, a produção de café aumentou até 30%, em média.
P Inhame São Bento: nova variedade mais produtiva. Lançada em 2008, mas continua sendo expandida no campo.
P Novas variedades de café conilon: chamadas de Jequitibá, Centenário e Diamante, elas foram lançadas em 2013 e trazem uma série de vantagens. Uma delas é a maior produtividade na comparação com as variedades anteriores. Chegam a ultrapassar o dobro da média das anteriores graças às pesquisas de melhoramento do Incaper.
P Abacaxi Vitória: voltada principalmente para pequenos produtores, essa variedade é mais resistente às pragas e oferece frutos de maior qualidade. Vários produtores estão aderindo.
P Banana-maçã tropical: em substituição à banana comum, que é mais suscetível ao Mal do Panamá. A nova variedade foi desenvolvida para ser mais resistente às doenças. P Morangos em túneis: trata-se de um sistema feito com telas, que cobrem as plantas. Isso evita problemas com as chuvas, doenças e a produção aumenta. P Produção intensiva de leite no pasto: a área de Zootecnia do Incaper desenvolve ações para produzir mais leite em condição de pasto, às vezes até em áreas mais reduzidas. P Calagem de adubação: desenvolvido pela área de nutrição de plantas do Incaper. É uma forma de recomendar corretamente adubação e o manejo da cultura como um todo. Isso eleva o nível de produtos de qualidade. P Polo de frutas: o Incaper desenvolve mudas mais resistentes de manga, abacaxi, banana e mamão, por exemplo, oferecendo técnicas para produtores, principalmente da Região Norte. P Clones de seringueiras: o Incaper também desenvolveu sistemas diferenciados de sangrias, o D3, por exemplo. A cada três dias, o produtor realiza o procedimento para ter maior produtividade.
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Em 2013, a exportação de pimenta-do-reino gerou receita de US$ 32 milhões
Pimenta, mamão e peixe tipo exportação A agricultura no Estado se fortalece vendendo seus produtos para o exterior. Somente este ano, a expectativa é de que as exportações alcancem US$ 2 bilhões em receita
VITOR FERRI vferri@redegazeta.com.br
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ão se engane: o Espírito Santo pode até ser pequeno em extensão territorial, mas já é um gigante no que se refere à exportação de produtos do agronegócios. E os números comprovam esse bom momento do mundo do campo. Este ano, a expectativa da Secretaria Esta-
dual de Agricultura é de gerar cerca de US$ 2 bilhões em divisas apenas com o comércio exterior desses produtos. O Estado é um dos maiores produtores e exportadores de dezenas de itens. Vamos a alguns exemplos práticos: somos o primeiro produtor de café conilon do Brasil e o segundo entre todos os tipos de cafés; o Estado também é o segundo
maior produtor de pimenta-do-reino e mamão do país, sendo o primeiro em exportação da fruta. Também produzimos 1,3 milhão de litros de leite por dia. Além disso, temos a maior planta de celulose de fibra do país, no Norte do Estado, e o sexto polo moveleiro do Brasil. E uma curiosidade: você sabia que o Estado também se destaca pela exporta-
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10% de alta De janeiro a março deste ano, as exportações tiveram aumento de 10% na receita em relação a igual período de 2013
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ção de peixes ornamentais? “Desde 2011 vivemos uma crise mundial que afeta os preços e a exportação. Houve uma retração no comércio como um todo. Como reflexo disso, as exportações caíram de US$ 2 bilhões, em 2012, para US$ 1,8 bilhão em 2013. Isso ocorreu por conta da retração dos preços. Mas tudo indica que com os dados preliminares de janeiro a março deste ano já tivemos aumento de 10% em receita em relação ao mesmo período de 2013. Em 2014, devemos recuperar os US$ 2 bilhões em exportações”, afirma o secretário Enio Bergoli da Costa, explicando a recuperação da economia agrícola capixaba. Bergoli salienta que um dos motivos da queda foi o preço do café. E como o Espírito Santo é um dos maiores produtores, essa baixa inevitavelmente afe-
tou as exportações. “Mas alguns preços já estão ficando melhores”, diz o secretário.
MAMÃO E PIMENTA De acordo com dados da Secretaria de Agricultura, em 2012, de janeiro a outubro, o Espírito Santo produziu 10.430.186 quilos de mamão, o que gerou US$ 15 milhões. No mesmo período de 2013, as divisas subiram para US$ 16 milhões, para uma produção um pouco menor: 10.372.250 quilos. No caso da pimenta-do-reino, o Estado se destaca ainda mais: nos dez primeiros meses de 2012, foram exportados 6.109.417 quilos, totalizando US$ 39 milhões. Em 2013, a exportação caiu um pouco, mas as divisas ainda assim passaram dos US$ 32 milhões. Miguel Carneiro é um dos exportadores de pimenta-do-reino no Espírito Santo. Apenas
Mamão capixaba responde por 60% da exportação do fruto no país
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sua empresa, a Carneiro Mendonça Industrial e Exportadora LTDA, exporta cerca de 2 mil toneladas por ano. “Os produtores estão cuidando bem das lavouras, adubando e irrigando porque perceberam que é um produto que oferece retorno”, explica. Segundo ele, os principais destinos da pimenta capixaba são Estados Unidos, Europa e América Latina, como Argentina, México e Colômbia, mas também há espaço na agenda para Oriente Médio e até África. Para Carneiro, o Estado está muito bem posicionado no mercado internacional pela produção e qualidade de seus produtos. Apenas o Espírito Santo produz, em média, de 7 a 8 mil toneladas por ano. “O produtor está tendo retorno e sendo bem remunerado. Ele investe no pró-
prio negócio e, por isso, há uma expansão dessa cultura”.
LÍDERES É consenso no meio que o Espírito Santo tem uma rica diversificação de sua produção agrícola. Mas apenas alguns itens dessa pasta do agronegócio são responsáveis pela maioria do montante exportado pelo Estado. E mais: fazem tanta diferença que ganham projeção nacional, representando grande peso nas divisas vindas do campo. É o caso, por exemplo, da celulose e grupos do café (verde, torrado, moído e solúvel), que juntos representam mais ou menos 90% do que o Estado vende para fora do Brasil. “Mas temos uma pauta diversificada. No caso do mamão, cerca de 60% das exportações nacionais deve-se ao que é produzido em solo capixaba. Somos
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“O Espírito Santo é, talvez, o Estado que tem a economia agrícola mais aberta”
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ENIO BERGOLI, SECRETÁRIO DE AGRICULTURA
também o maior produtor de gengibre do país e, sobre a pimenta do reino, perdemos apenas para o Pará”, destaca o secretário de Agricultura, Enio Bergoli. Para ele, isso deve-se a uma agricultura altamente competitiva e devido à qualidade dos produtos, que têm padrão internacional. Isso atrai maiscompradoreseabrenovosdestinos para os produtos e produtores capixabas no mercado exterior”.
SUCESSO CAPIXABA Segundo Enio Bergoli, o sucesso do agronegócio capixaba deve-se a três pilares: competência, técnica e modelo gerencial dos produtores. “O Espírito Santo é, talvez, o Estado que tem a economia agrícola mais aberta. Os produtos do agronegócio chegam a mais de 100 países, além de abastecer os brasileiros e os próprios capixabas. Temos
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competitividade, acima de tudo, que está acima da média dos outros Estados”, afirma. Juntas, essas características são importantes porque possibilitam que os produtores atendam às exigências dos compradores e produzam itens de qualidade. “Por causa de nossa agricultura altamente competitiva e da qualidade dos produtos que atendem aos padrões internacionais, os produtores estão mais atentos. Isso também acaba valendo para o mercado nacional, cujas indústrias estão mais exigentes. O consumidor também mais exigente leva a mais cuidados na produção para que o produtor venda mais e tenha retorno garantido”, destaca o secretário.
MELHOR MOMENTO O agronegócio brasileiro vive um dos melhores momentos de
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100 países recebem os produtos do agronegócio capixaba
sua história, apesar da crise mundial que prejudicou os bons números de produção, exportação e lucro. Em 2013, o setor foi responsável por 22,8% do PIB do país. Neste ano, o país deve colher quase 200 milhões de toneladas de grãos. Apenas de soja, serão 90 milhões de toneladas. Com isso, o Brasil pode ultrapassar os Estados Unidos como maior produtor mundial. De acordo com o mais recente censo agropecuário, 70% da produção nacional de alimentos têm como origem a agricultura familiar. Para desenvolver este segmento, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) comemora em 2014 o Ano Internacional da Agricultura Familiar. O objetivo é incluir os pequenos e médios produtores na discussão em torno do aumento da produção de
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alimentos no país e no mundo. Segundo a Confederação Nacional da Agricultura, atualmente apenas 11% dos agricultores familiares têm acesso regular a insumos tecnológicos. Aqui no Estado, a maioria das lavouras é tocada por pequenos e médios produtores. Segundo o secretário de Agricultura, Enio Bergoli, mais da metade da produção de café, por exemplo, vem da agricultura familiar. Já o mamão é produzido por médios e grandes produtores. “No caso da pimenta-do-reino, um de nossos maiores destaques, muitos proprietários são pequenos donos de terra que cultivam a pimenta. Eles têm percebido o retorno e estão ampliando a área plantada. O caso do gengibre mostra ainda mais essa tendência: 100% do produto vem da agricultura familiar”, afirma Enio Bergoli. l
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A família de Alvécio Falqueto consegue hoje sobreviver com o que é produzido no sítio Recanto do Tio Zé
SOCOL, VINHO E PROSA
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ALEXANDRE LEMOS aljunior@redegazeta.com.br
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Visitar uma propriedade que aposta no agroturismo é entrar em contato com a natureza, com uma boa comida na mesa e conversa da melhor qualidade
atendimento é diferenciado, o espaço é bem familiar, os produtos são naturais, e ainda há a possibilidade de ter contato com a natureza. Esses são alguns dos motivos que contribuem para a valorização e a procura pelo agroturismo no Espírito Santo. Para o turista, a experiência de ter contato com a terra, pegar a uva no pé, descascar um palmito e mostrar para as crianças a origem de alguns dos produtos comprados nos supermercados. Para o empreendedor rural, a oportunidade de complementar sua renda familiar e agregar valor aos seus produtos. No agroturismo no Espírito Santo, o papel das famílias é essencial. Foram elas que se uniram para descobrir o que há de melhor em suas regiões e agora se dedicam a receber turistas de perto e de longe em suas propriedades. Segundo a secretária de Estado de Turismo, Diomedes Caliman Berger, o agroturismo capixaba surgiu, se fortaleceu dia a dia, e se transformou em uma grande possibilidade de alavancar as atividades rurais. “São numerosas famílias que buscam, por meio do turismo, agregar valor ao que é produzido em suas terras”, disse. Diomedes acrescenta que o fato de as famílias conseguirem alavancar a renda a partir do turismo tem diminuído consideravelmente o êxodo rural. “Não há tantos motivos para que membros das famílias saíam para os grandes centros em busca de melhores oportunidades. Agora eles encontram em suas propriedades a sua fonte de renda”, afirma. Ela ainda explica que o papel da secretaria é trabalhar na promoção da imagem do turismo no Estado. “Temos levado o agroturismo para todo o Brasil, por meio das feiras nacionais que participamos, o que gera reconhecimento. Tenho percebido que o Espírito Santo tem sido a bola da vez”, comemora.
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d “Não há mais tantos motivos para que membros das famílias saiam para os grandes centros em busca de melhores oportunidades. Agora eles encontram em suas propriedades a sua fonte de renda”
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DIOMEDES CALIMAN BERGER, SECRETÁRIA DE TURISMO
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Três vezes agroturismo: na família Brioschi, avó, mãe e filha trabalham com produtos artesanais em Venda Nova
OPORTUNIDADES O agroturismo capixaba tem chamado a atenção em diversos pacotes de viagens que são oferecidos a turistas de todas as regiões brasileiras, e o retorno tem sido positivo. Segundo o diretor da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Espírito Santo (ABAV-ES), Edson Ruy, a procura está cada vez maior. “Há um conjunto de atrativos que despertam o interesse no Espírito Santo, de forma especial, o agroturismo associado à Região de Montanha. Muitos querem conhecer a capital nacional do agroturismo, Venda Nova do Imigrante, e se encantam com o clima e as demais peculiaridades”, disse. A demanda aumenta a cada dia e, por conta disso, as famílias se dedicam cada vez mais para mostrar o potencial da região e do agroturismo. AfamíliaFalquetoconsegue,hoje, sobreviver da feirinha da cidade e do agroturismo nosítio “RecantodoTio Zé”, em Venda Nova do Imigrante. Juntos, o pai Alvécio, 51 anos, a sua esposa, Rita de Cássia, 46 anos, e seus filhos Alonso, 23 anos, e Thais, 21 anos, encontraram em sua propriedade uma fonte de renda. Socol, biscoitos e pães são as especialidades da família Falqueto. O filho Alonso destaca que o que faz darcertoéauniãoentre eles.“Éum trabalho em conjunto que envolve toda a família. Buscamos juntos as soluções para as dificuldade que aparecem”, disse. A família Brioschi, de Venda Nova do Imigrante, é uma delas. A aposta no agronegócio surgiu pelas mãos da matriarca Ana Joana, de 71 anos, e do patriarca, Clarindo Brioschi, 77 anos. Há mais ou menos 18 anos, eles perceberam que o vinho de jabuticaba que produziam estava fazendo muito
O trabalho de várias gerações se encontra no agroturismo, prática que ganha força e incentivo em várias cidades do Espírito Santo
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sucesso em Venda Nova. Depois do vinho, vieram os biscoitos, as geleias e os doces feitos com as frutas do quintal. O socol também se tornou especialidade. Ana Joana passou seus conhecimentos adiante. A filha, Elis Angela, de 42 anos, e a neta Priscila, de 21 anos, também começaram a trabalhar com os produtos artesanais. Três gerações trabalhando unidas e dando um toque todo especial na acolhida aos turistas que visitam a propriedade. Com o passar do tempo, a procura pelos produtos foi tão grande que a família resolveu abrir uma pequena loja em sua propriedade, que se tornou o carro-chefe do sustento da família. As três mulheres sempre foram muito otimistas em relação ao empreendimento, mas não deixam de apontar algumas
dificuldades encontradas. “No começo, o mais difícil é se fazer conhecido, principalmente porque nossa região é muito concorrida e existem várias possibilidades. Mas com o boca a boca e depois de conhecerem nossos produtos, todos artesanais, a procura só foi aumentando”, disse Priscila. Ela acredita que o trabalho de sua família é diferenciado por conta da recepção e da acolhida na propriedade. “Afinal, são três gerações juntas. Fazemos questão de acolher o turista como se fosse mais um membro de nossa família”, conta.
DESAFIOS Além da dificuldade de divulgação do trabalho, um outro problema relatado por grande parte das pessoas que trabalham com o
o O patriarca da família, Clarindo Brioschi, de 77 anos, tem no agroturismo seu modo de vida
agroturismo é a dificuldade de acesso aos investimentos e a falta, pelo menos no início, de informações sobre a gestão do negócio. Quem tem ajudado a assessorar os empreendedores rurais é o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). De acordo com o analista do Sebrae ES, Rodrigo Belcavello, a entidade atua exatamente com esse intuito. “Buscamos formar os empreendedores rurais que eles consigam administrar com êxito suas propriedades. Além disso, apresentamos tecnologias importantes para odesempenhodostrabalhos,eainda damos noções de turismo para o meio rural, bem como desenvolver o marketing nessa área”, disse. Belcavello, afirma ainda que o Sebrae contribui também para ajudar os empreendedores a enxer-
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garem oportunidades escondidas. “Ensinamos a terem acesso a linhas de crédito para primeiros investimento, e também apresentamos as políticas públicas que eles podem recorrer”, conta. A Associação de Agroturismo do Estado do Espírito Santo (Agrotures), braço da Associação Brasileira de Turismo (Abratur), tem realizado um papel importante de cadastro das propriedades de agroturismo no Estado. O presidente da Agrotures, Jorge D'Avila Saiter, reconhece os desafios da divulgação e gestão e aponta um outro, a da legalização da marca “agroturismo”. “Hoje, qualquer um pode usar o nome agroturismo, o que prejudica, e muito, o trabalho de propriedades sérias. E é por isso que buscamos filiar todas as propriedades do ramo para, juntas, se fortalecerem e mostrarem seus potenciais”, disse. “Temos avançado. Nossa visibilidade para todo país tem acontecido por meio das feiras nacionais que somos convidados a participar”, acrescenta.
EMPREENDEDORISMO Em relação à formalização das agroindústrias familiares e do empreendedorismo no campo como instrumento de agregação de valor à atividade rural, a Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo (Aderes) tem desenvolvido um importante papel. Segundo o diretor-presidente da instituição, Pedro Rigo, a agência coordena o Plano de Desenvolvimento da Agroindústria Familiar e do Empreendedorismo Rural, chamado Agrolegal, que faz parte do Programa Vida no Campo. “O objetivo é promover o fortalecimento dos empreendimentos rurais, gerando a possibilidade de trabalho e renda, contribuindo com o crescimento do Estado”, afirma. Entre as ações previstas no plano, que já se iniciaram, estão: o estabelecimento de um novo marco legal com adequações das legislações municipais, orientação técnica e apoio na estruturação dos municípios para formalizar as agroindústrias. l
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d Plano que incentiva Agricultores recebem mais apoio O Programa Vida no Campo é um marco para quem tira da terra o seus sustento. São várias ações para incentivar a agricultura familiar, entre elas, o estabelecimento de um novo marco legal com adequações das legislações municipais, orientação técnica e apoio na estruturação dos municípios para formalizar as agroindústrias
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A criação de uma associação vai abrir novas portas para o agroturismo na Serra
Turismo rural bem pertinho de casa Na Serra, o agroturismo ganha força com melhorias na infraestrutura e no atendimento aos visitantes. Na cidade, três mil famílias trabalham com essa atividade
“O objetivo do Agrolegal é promover o fortalecimento rural, gerando a possibilidade de trabalho e renda, contribuindo com o crescimento do Estado”
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PEDRO RIGO, DIRETORPRESIDENTE DA ADERES
Até o final do ano, moradores e turistas que visitarem as propriedades dos Circuitos de Agroturismo na Serra perceberão melhorias no atendimento e na infraestrutura dos empreendimentos. Cerca de 90% são formados por agroindústrias familiares, e eles estão trabalhando para melhorar o negócio cada dia mais. Segundo o secretário de Agricultura, Aguicultura e Pesca de Serra, Paulo Menegueli, algumas ações estão sendo implantadas para atender as mais de 3 mil famílias que vivem da agricultura familiar. “Estamos incentivando a agricultura familiar por meio da criação de uma associação e do
Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável. Esses projetos abrem uma porta para uma maior e melhor captação de recursos para essas pessoas”. Além disso, foi criado o Plano de Ação Coletiva, fruto de uma parceria entre a Prefeitura da Serra e o Sebrae. O estudo enumera as necessidadesindividuaisecoletivasdo setor, e aponta soluções práticas. Ao todo, 12 empreendimentos participam do projeto e tiveram o estabelecimento visitado pela equipe técnica. A partir de julho, começam aserimplantadasasprimeirasações previstas no plano, como boas práticas ambientais, melhorias na gestão da propriedade, roteirização, sinalização, entre outras. l
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CIRCUITOS CAPIXABAS No Espírito Santo, existem várias rotas turísticas de norte a sul do Estado. Dentro de cada rota, há diversos circuitos que contemplam o agroturismo. Conheça alguns deles. P Circuito do Chapéu, em Domingos Martins Localizado na Estrada do Chapéu, esse circuito possibilita a visita por quem se hospeda em Domingos Martins ou Vitória. A área é cercada de montanhas e o clima, frio. A culinária é marcada por traços dos descendentes alemães que habitavam a região. Há comida caseira e produção de bombons e produtos à base de chocolate. Há também mata nativa para trilhas, pomar com frutas da roça e lagoas para a prática de pesque-pague. P Circuito Turístico Vale do Verde de Marechal Floriano Nesse circuito, é possível descobrir os encantos do agroturismo em Marechal Floriano. São empreendimentos rurais que se desenvolveram e se adaptaram para receber turistas que buscam contato com a vida do campo. Cachoeiras, lagos, passeios, visitas a orquidários e restaurantes com a culinária local fazem parte do passeio. P Circuito Turístico do Agroturismo de Venda Nova do Imigrante O agroturismo de Venda Nova surgiu sem planejamento, pois os produtores não sabiam que essa atividade existia. Os turistas, entretanto, com o objetivo de descobrir como os produtos eram feitos nas propriedades rurais, começaram a fazer visitas às plantações, comércio de produtos caseiros e artesanais, além do cultivo e comercialização de orquídeas e oficina e venda de objetos feitos de mármore e granito, valorizando toda a região. P Circuito de Alfredo Chaves A cidade dispõe de dois circuitos turísticos rurais: Vale da Aventura e Caminho das Águas. O ponto de partida é a sede do município, e no caminho há cachoeiras, vales, quedas-d'água e a famosa rampa de voo livre. Atividades como rapel, voo livre de parapente ou asa-delta, trilhas, mergulho, boiacross, canoagem, rafting, tirolesa e pedalinho no lago são algumas das opções dos turistas. P Circuito Caminho dos Tropeiros, em Ibatiba, Muniz Freire e Iúna Composto por 10 propriedades rurais nos municípios de Ibatiba, Muniz Freire e Iúna, a cultura manifesta-se na culinária com o feijão tropeiro, torresmo, linguiça caseira, morcela, carne na lata e mandioca com torresmo. A agricultura familiar é um traço típico da região, com cultivo de frutas e fabricação de compotas, suco concentrado e vinho. Em tempo de colheita, a visita às propriedades agrega a atividade de “colhe e pague”. Conheça mais detalhes e outros circuitos no site Circuitos do Espírito Santo: http://www.circuitosturisticosdoes.com.br/
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Produção em sintonia com a natureza As novas técnicas agrícolas aplicam a sustentabilidade. É um processo em que todos ganham: consumidores, agricultores e, principalmente, o meio ambiente
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DINÁ SANCHOTENE dsanchotene@redegazeta.com.br
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roduzir conservando. Conservar produzindo. Essassãoaspremissasdotrabalhodesenvolvidopelo governo do Estado para manter a sustentabilidade no campo. Os programas de preservação ambiental propostos são seguidos pelos agricultores familiares e vão desde a preservação de nascentes, produção de orgânicos e preservação e recuperação das matas. Está em fase de construção o Projeto Bacias de Tratamento de Água, que trata sobre a recuperação do Rio Mangaraí, que nasce em Santa Leopoldina e abastece grande parte da Grande Vitória. O projeto, segundo o coordenador da área de meio ambiente do Incaper, Miguel Angelo Aguiar, visa a melhorar a qualidade da água e deixar mais perene a vazão do rio Mangaraí. De acordo com o Incaper, o Projeto Mangaraí tem previsão de ser executado em cinco anos, com um custo total de R$ 14 milhões. O objetivo é articular esforços e executar ações, visando à redução de sedimentos no curso d’água, com isso ampliando a quantidade e a qualidade do recurso hídrico. A sub-bacia do Rio Mangaraí totaliza 17.400 hectares e está localizada na Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria da Vitória. Caracteriza-se predominantemente por região rural,fazendopartedestasub-baciaosmunicípiosdeSanta Leopoldina e Cariacica, com respectivamente 87% e 13% do total de sua área. Com o projeto, aproximadamente 600 mil habitantes localizados na Grande Vitória, que são abastecidos com água tratada da Bacia do Rio Santa Maria da Vitória, serão beneficiados. “Quando chove a água fica barrenta e a população da região fica sem água. A ideia é trabalhar com diversas ações, entre elas, o tratamento integral da água, reflorestamento e práticas agronômicas”, disse Aguiar. O projeto é uma parceria do Incaper com a Cesan, Iema, prefeituras municipais, Secretaria de Agricultura, entre outros. Os recursos são do Banco Mundial.
CAMPO SUSTENTÁVEL O coordenador destaca outras ações do órgão, como a importância de desenvolver um campo sustentável, com a adequação ambiental. O Projeto de Adequação Ambiental de Propriedades Agrícolas incentiva os produtores rurais a realizarem suas atividades de forma planejada, visando a uma maior produtividade agrícola, conservando e recuperando os recursos naturais. Nesse caso, Aguiar explica que o produtor recebe as mudas e assistência técnica para a recuperação ambiental da sua propriedade. Os produtores recebem mudas e/ou sementes de espécies agrícolas e florestais(café, frutas, seringueira , cacau, pastagem) e também mudas de espécies florestais nativas da Mata Atlântica. “A proposta do Incaper é gerar lucro para o agricultor e economia para o nosso Estado, com sustentabilidade. Para isso, contamos com o apoio dos produtores rurais”, disse.
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A produção de água se dá na propriedade rural e a agricultura é um grande consumidor de água. Por isso, as ações de preservação e recuperação de nascentes é tão importante. A proteção de nascentes já faz parte do dia a dia do produtor rural. Além das orientações de práticas agronômicas sustentáveis e conservacionistas de solo, os produtores recebem a orientação de não utilizar fogo em sua propriedade. “Quando utilizamos mudas e sementes melhoradas geneticamente, aumentamos a produtividade, tornando possível a diminuição da área plantada. Desta forma, o agricultor libera a área para recuperação e preservação, como ocorre em topos de morros e encostas ingremes”, disse o coordenador de recursos florestais do Incaper, César Pereira Teixeira.
REFLORESTAR Outra ação desenvolvida pelo Incaper é o Programa Reflorestar (Programa Estadual de Ampliação da Cobertura Florestal), lançado pelo governo do Estado em 2011. O orçamento previsto é de R$ 200 milhões. O objetivo do Reflorestar é potencializar os esforços para a preservaçãodaMataAtlântica,cominiciativas que visam à conservação e recuperação dos recursos naturais. O programa é composto por seis linhas de atuação: mapeamento do uso do solo, pesquisa/conhecimento, Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), estrutura/logística, assistência técnica e marco legal. Para isso, uma das principais ferramentas de estímulo é a remuneração dessa preservação ambiental. As propriedades cadastradas nos escritórios do Incaper recebem até R$ 200 por hectare por ano. Os recursos são provenientes dos royalties do petróleo. Pode participar do programa todo produtor rural que destina ou queira destinar parte de sua propriedade para fins de preservação do meio ambiente ou para práticas rurais sustentáveis. DIVERSIFICAÇÃO A diversificação de culturas na
Selene Tesch se dedica ao cultivo de orgânicos desde 1992. Ela garante que, desde que aderiu à técnica, a qualidade de vida da família só melhorou
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produção agrícola é o único caminho capaz de levar a sociedade ao desenvolvimento sustentável, garantem especialistas. A sua adoção pode gerar ganhos econômicos diretos e indiretos vinculados, principalmente, à redução dos custos de produção, à obtenção de vantagens ambientais e à redução do impacto econômico oriundo de diversas crises no setor rural. Assim, a diversificação é a melhor forma de evitar as incertezas e vulnerabilidades referentes ao clima, mercado, pragas e doenças. O Incaper também incentiva o produtor a investir na diversificação deculturasemsuasterras.Umadessas alternativas é o plantio por meio do Sistema Agro-florestal (SAFs). Esse sistema consiste em uma combinação entre as mais variadas espécies de árvores e cultivos agrícolas, que também podem ser substituídos ou mesclados com criações de animais. São as agroflorestas.
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R$ 200 milhões estão sendo aplicados pelo governo no Programa Reflorestar, que visa à conservação da Mata Atlântica
PRODUTOS ORGÂNICOS A produtora rural Selene Tesch trabalha com a produção de orgânicos (produtos sem agrotóxicos) desde 1992, como uma forma de oferecer alimentos alternativos ao consumidor. A primeira participação dela em feiras foi em 1993 e, em 2000, os mercados começaram a exigir certificados desses produtos. A propriedade de Selene fica em Santa Maria de Jetibá. “De lá pra cá, esse mercado só cresceu tanto no número de itens quanto no número de feiras. A produção da nossa associação é de 2,7 mil caixas por semana, distribuídas por 85 variedades de produtos, que vão de acordo com o ciclo da produção. Isso para não forçar a natureza. Há 22 anos decidi entrar nessa linha e percebi que a qualidade de vida de minha família só cresceu, bem como a satisfação do cliente. E isso não tem preço”, comentou Selene Tesch.
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Alimentos orgânicos são frutas, hortaliças, grãos, laticínios e carnes produzidos com respeito ao meio ambiente e sem utilizar substâncias que possam colocar em risco a saúde dos produtores e consumidores. É bom lembrar que o produtor precisa certificar o que comercializa. O Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica, criado pelo Ministério da Agricultura, credencia e fiscaliza as entidades a verificarem se os produtos orgânicos que vão para o mercado estão de acordo com as normas oficiais. Os produtores de alimentos orgânicos demonstram preocupação com a intoxicação com os agrotóxicos. Com isso, eles perceberam que é possível produzir de forma saudável e sustentável. O cultivo proporciona uma harmonia entre terra, água, ar, animais, plantas e seres humanos. l
Luz e Força Santa Maria, Pioneira em Eletriicação Rural no Brasil. A Luz e Força Santa Maria tem um dos maiores percentuais de consumo de energia elétrica na zona rural do Brasil. Ajudar a impulsionar o setor do agronegócio, um dos mais importantes do país, é o que chamamos de energia de qualidade.
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O CAMPO CAPIXABA XA ESTÁ LIGADO NO MUNDO, ONLINE COM AS OPORTUNIDADES E NO CAMINHO CERTO DO O. DESENVOLVIMENTO.
O Governo do Espírito Santo está levando energia elétrica, telefonia móvel, internet 3G e boas estradas para o interior do Estado. São 3 programas de infraestrutura fundamentais para quem vive no campo. O Energia Mais Produtiva facilita a utilização de equipamentos elétricos pesados, incentivando o desenvolvimento do agronegócio. O Comunicação no Campo diminui o isolamento das comunidades rurais, ligando o interior com a tecnologia e a modernidade do mundo.
O Caminhos do Campo facilita o escoamento da produção e atrai turistas das cidades para as zonas rurais, fortalecendo a economia do interior. É tecnologia por todo canto e infraestrutura pra gente produzir mais e viver melhor. Afinal, todas estas ações somadas, aumentam o potencial produtivo do interior, beneficiam as comunidades e ainda reforçam os laços dos capixabas com a sua terra.
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327 km DE REDE ELÉTRICA TRIFÁSICA E
R$ 8,25 MILHÕES INVESTIDOS.
552 KM DE ESTRADAS E R$ 220 MILHÕES INVESTIDOS. TELEFONIA MÓVEL E INTERNET 3G EM 81 LOCALIDADES RURAIS E R$ 24,3 MILHÕES INVESTIDOS.
Mais informações: www.seag.es.gov.br
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Abra porteiras com o crédito mais barato
As linhas de financiamento voltadas para a agricultura fortalecem a atividade rural. Com o dinheiro, a safra tem condições de aumentar e o sistema produtivo pode se modernizar
ANDERSON SALLES asalles@redegazeta.com.br
ara estimular a geração de renda e melhorar o uso da mão de obra familiar, o governo federal criou, em 1995, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). A proposta é facilitar o financiamento de atividades e serviços rurais, fortalecer atividades do agricultor familiar, integrá-lo à cadeia do agronegócio, aumentar sua renda e
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agregar valor ao produto e à propriedade, além de modernizar o sistema produtivo e valorizar o agricultor familiar. Nesse contexto, o crédito rural é de extrema importância para os agricultores. É ele que possibilita o custeio e a comercialização de produtos, especialmente alimentos. Além disso, o crédito propicia o investimento para ampliação ou modernização da estrutura das atividades de produção, de armazenagem, transporte ou de serviços agropecuários,
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R$ 688,7 milhões é o valor financiado no Espírito Santo, por meio do Pronaf, entre 1º de julho de 2013 e 1º abril de 2014
promovendo o aumento da produtividade e a redução dos custos de produção, visando à elevação da renda da família produtora rural. Uma vantagem para o agricultor familiar em relação às linhas de crédito do Pronaf é que, geralmente, elas apresentam taxas mais em conta do que os outros tipos de financiamentos oferecidos pela rede bancária. As taxas variam de 0,5% ao ano a 4% ao ano. Os financiamentos para outras finalidades apresentam taxas
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FOTOS: GABRIEL LORDÊLLO/MOSAICO IMAGEM
de juros que podem chegar a 13% ao ano. O produtor familiar capixaba reconhece a força que o crédito representa para o seu negócio. De acordo com dados do Departamento Financeiro e Proteção à Produção da Secretaria Agrícola de Finanças do Ministério do Desenvolvimento Agrário, no Estado ocorreu um crescimento de crédito de 7,7% no ano safra 2013/2014, em relação ao ano anterior.
“SAFRA DE MILHÕES” O valor financiado no Espírito Santo registrado entre 1º de julho de 2013 e 1º abril de 2014 é de R$ 688,7 milhões. Foram 34.189 contratos. Vale lembrar que o ano safra 2013/2014 vai até 30 de junho de 2014. O Banco do Brasil, que oferece 14 linhas de crédito do Pronaf voltadas para a agricultura, por exemplo, confirma o crescimento no número de financiamentos. “Somente no ano safra 2013/2014, foram financiados R$ 635 milhões. O
montante superou o ano de 2012/2013, que registrou R$ 607 milhões”, explica Wederson Hubner Nascimento, gerente de Agronegócios da Superintendência Estadual do Banco do Brasil.
o Crédito é essencial para estruturar atividades de produção, como transporte e armazenagem
Já no Banestes são R$ 53,96 milhões aplicados, destinados a investimentos agropecuários, atendendo a 3.018 pequenos produtores rurais, com uma média de contratos na ordem de R$ 17.868,00. l
O QUE OS BANCOS TÊM A OFERECER Banco do Brasil P São 14 linhas de crédito voltadas para a agricultura familiar, por meio do Pronaf P Os valores dos créditos são a partir de R$ 5 mil P As taxas de juros variam de 0,5% a 4% ao ano P Para ter acesso às linhas de financiamento, os agrilcutores interessados devem ser correntistas do banco P O prazo de quitação do financiamento é a partir de 1 ano P O valor do financimento, assim como o prazo de pagamento, depende do tipo de finalidade a qual o dinheiro será empregado P Mais informações nas agências do Banco do Brasil Banestes P O financiamento é por meio do Pronaf
P Os valores dos créditos são a partir de R$ 3 mil P Para ter acesso às linhas de financiamento, os agrilcutores interessados devem ser correntistas do banco P O prazo de quitação do financiamento pode chegar a até 72 meses P O valor do financimento, assim como o prazo de pagamento, depende do tipo de finalidade para a qual o dinheiro será empregado P Para informações adicionais, basta procurar uma das agências do Banestes Sicoob P O financiamento é por meio do Pronaf P O valor do empréstimo pode chegar a R$ 100 mil ou R$ 300 mil P As taxas de juros partem de 1% ao ano P O prazo para pagamento chega a até 10 anos
P O valor do financiamento, assim como o prazo de pagamento, depende do tipo de finalidade a qual o dinheiro será empregado P Informações nas agências do Sicoob Banco do Nordeste P São 13 linhas de crédito voltadas para a agricultura familiar, por meio do Pronaf P Os valores dos créditos são a partir de R$ 2,5 mil P As taxas de juros variam de 1% a 4% ao ano P O prazo de quitação do financiamento é a partir de 1 ano P O valor do financiamento, assim como o prazo para o pagamento, depende do tipo de finalidade para a qual o dinheiro será empregado P Mais informações podem ser obtidas nas agências do Banco do Nordeste
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Cooperação é a chave para bons negócios Pequenos produtores encontram no cooperativismo uma forma de driblar o preço baixo da safra e concorrer de igual para igual com as grandes produções KATILAINE CHAGAS kchagas@redegazeta.com.br
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uem é pequeno agricultor sabe a dificuldade que é competir com as grandes propriedades do agronegócio. Por produzirem em larga escala, elas têm condições de oferecer preços competitivos, mais atrativos aos compradores. Mas essa situação tem sido encarada com sucesso graças à união entre os pequenos produtores em cooperativas. Tradicionais agricultores de Santa Maria de Jetibá, a família de Fábio Fosch, 25 anos, há décadas se beneficia das vantagens de se ligar a uma cooperativa. “O meu avô foi cooperado. Meu pai é cooperado há 30 anos. Estamos na terceira geração em cooperativas”, conta Fosch, proprietário de uma criação de aves para a produção de ovos. “Não ser cooperado inviabiliza os negócios. O pequeno produtor necessita de uma cooperativa para abrir mercados e comprar insumos”, diz Fábio, que é ligado à Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi). Na propriedade, trabalham, além de Fábio, outras quatro pessoas: a esposa dele, o pai, a mãe e a irmã. Todos tiram sustento da pequena propriedade familiar. Para ser considerada pequena propriedade, ela precisa ter tamanho de até quatro módulos de terras, cada um com 14 a 20 hec-
tares, que variam de acordo com o município. São considerados também pequenos proprietários os pescadores artesanais, povos indígenas, quilombolas e população ribeirinha. “O cooperativismo é fundamental para a agricultura familiar. Ele une e dá dimensão ao pequeno agricultor. Se não fosse o cooperativismo, os pequenos agricultores seriam engolidos”, afirma Enio Bergoli, secretário de Estado da Agricultura. Além de permitir a junção da produção de pequenas propriedades, a união em cooperativas ajuda na compra de insumos. “Um coisa é comprar sozinho, outra é comprar em conjunto. Isso reduz o custo das aquisições, o que torna os produtos mais competitivos”, explica Bergoli. No Estado, de todas as cooperativas existentes, 60% são do ramo agropecuário. Esse índice representa cerca de 25 mil cooperados, dos quais 80% são de agricultores familiares. No Espírito Santo, há duas organizações que juntam as cooperativas, o Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras do Estado do Espírito Santo (OCB/ES), que agrega 37 cooperativas, e a União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária no Estado (Unicafes/ES), que une 12. São dois órgãos que fomentam as cooperativas e dão capacitação a elas.
É da pequena propriedade em Santa Maria de Jetibá que a família Fosch tira seu sustento
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Na avaliação da OCB/ES, pequenos agricultores são extremamente vulneráveis a ofertas de atravessadores na compra de seus produtos. “Essas pessoas, na maioria das vezes, agem de má fé, oferecendo valores acima do praticado em momento de mercado aquecido e bem abaixo quando o mercado está fraco”, explica por nota o sindicato. “Como o pequeno agricultor não tem muito poder de barganha, ele acaba aceitando a oferta que tiver, e dessa maneira acaba não se preocupando com a qualidade do produto, higiene no manuseio e diversas outras questões que o mercado formal exige. Por isso é tão importante a participação desse pequeno agricultor em uma cooperativa”, completa a OCB/ES. O desafio das cooperativas é agregar valor aos seus produtos. Hoje, as exceções são as cooperativas do ramo do leite, que processam o item e conseguem ampliar o leque de produtos derivados. “As outras só comercializam, sem valor agregado. Então para nós é importante que eles se beneficiem desse processo de agregação de valor", diz Enio Bergoli. A meta é crescer a participação das cooperativas. Das 12 milhões de sacas de café produzidas por ano no Estado, menos de dois milhões passam pelo cooperativismo. No caso do leite, de 1,3 milhão de litros por dias, mais da metade passa por cooperativas. “Mas ainda é frágil na produção de hortaliças e frutas. No conjunto, ainda precisamos avançar muito”, reconhece o secretário de agricultura. De maneira geral, para aderir a uma cooperativa é necessário ter toda a documentação que comprove que você é proprietário ou arrendatário daquele pedaço de terra e pagar uma taxa de adesão.
COOPERATIVAS O diretor-presidente da Cooperativa de Produtores Rurais de Jaguaré (Coopruj), Fábio Fiorot, avalia que as cooperativas “igua-
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O maior desafio das cooperativas hoje em dia é agregar valor aos seus produtos. Para aumentar a renda, é preciso ampliar o leque de derivados GABRIEL LORDÊLLO/MOSAICO IMAGEM
lam todo mundo”. “O diferencial é na hora de comercializar. Sozinho, ele estaria vendendo mais barato. No nosso caso, o preço do quilo é igual para todos. Ele pode ter um quilo ou mil para vender. O preço da venda será o mesmo”, afirma Fiorot. A Coopruj conta hoje com 493 filiados e existe há sete anos. No ramo agropecuário, destaca-se a Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), presidida por Antônio Joaquim de Souza Neto. “Nós somos a maior cooperativa de café conilon do mundo”, diz o presidente. Com
4.450 famílias associadas, a Cooabriel disponibiliza aos cooperados laboratório de análise de solo, macro e micronutrientes e viveiros de mudas. “Temos uma assessoria formada por 20 técnicos. O nosso forte é a armazenagem do café, grátis, por tempo indeterminado”, conta o presidente. A Cooabriel é 80% formada por pequenos agricultores. “Eles não teriam como sobreviver sem uma cooperativa. Mas nós não estamos fazendo favor nenhum”, diz o presidente. No ramo da avicultura, o destaque vai para a Cooperativa
o No caso da produção de ovos e frango, ser cooperado é fundamental para compra de insumos
Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi). “Foi fundada há 50 anos. Não tínhamos estradas aqui. Ficou difícil para comprar ração e todo mundo se uniu”, relata o diretor-presidente, Argêo Uliana. Hoje, são 8,5 mil associados no Espírito Santo e em Estados vizinhos. “O pequeno produtor só tem o trabalho de produzir. Ele não precisa se preocupar com a comercialização. O preço é de mercado”, conta Uliana. “Se eles não estiverem unidos, como vão concorrer com os grandes? A cooperativa faz esse trabalho”, acrescenta. l
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Graças à diversidade, a agricultura familiar está associada à segurança alimentar
O fim da fome mundial está na mão das famílias Propriedades pequenas produzem uma variedade gigantesca de alimentos, ao contrário dos grandes agronegócios, que se concentram em um único item, produzido em grande escala
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m todo o planeta, ainda passam fome 842 milhões de pessoas, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura Familiar e a Alimentação (FAO). No Brasil, são 13,6 milhões de pessoas que não têm o que comer. Nesse mar de famintos, pequenas propriedades rurais, comandadas por núcleos familiares, têm papel fundamental para o fim da fome mundial. O diferencial da agricultura familiar é a diversidade dos produtos. Enquanto no grande agronegócio a ideia é a produção, geralmente de um único item, em larga escala, a agricultura familiar se caracteriza pela produção diversificada, do pequeno produtor aviário ao de hortaliças. Graças a essa diversidade, a agricultura familiar está sempre associada tam-
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bém à segurança alimentar, que é ter ofertas de alimentos em boas condições de consumo. “Em termos mundiais, tem que se incentivar a agricultura familiar. Países pobres não têm renda para importar nem incentivar a agricultura familiar. O Brasil é um dos países com mais tecnologia. Precisa ter intercâmbio entre os países”, explica Ênio Bergoli, secretário de Estado da Agricultura. O presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), Marcos Rochinski, confirma esse papel de destaque no combate à fome e na luta pela segurança alimentar. “Hoje, 70% dos alimentos que compõem a cesta básica do brasileiro são oriundos da agricultura familiar”, afirma Rochinski. Em todo o Brasil, há 4,3 milhões de propriedades familiares. No Espírito Santo, esse nú-
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4,3 milhões de propriedades, no Brasil, são consideradas familiares
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mero é de 64.400 mil. A participação da agricultura diminui, segundo Rochinski, quando fala-se em commodities, matérias-primas produzidas em grande quantidade. No caso da soja, por exemplo, a participação da agricultura familiar é de 20%. Outro caso é o do milho, em que a produção familiar cobre apenas 35%. “O grande agronegócio produz cana, açúcar, soja. O que supre o mercado é o arroz, a carne suína, o leite. Quem produz isso são os agricultores familiares”, diz Rochinski. “Quem é que produz a maioria do hortifruti granjeiro? A maioria é a agricultura familiar”, acrescenta o presidente da Fetraf. É nesse sentido que a agricultura familiar tem papel chave na segurança alimentar. “Você precisa ter uma mesa diversifica. Ela só é assegurada se tiver agricultura familiar”, garante o presidente da Fetraf.
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ESTADO A agricultura familiar tem participação significativa na produção de itens básicos da alimentação brasileira. Alguns exemplos? De todo o café produzido no Estado, 54% é da agricultura familiar; no caso do feijão, é ainda maior, 77%; do milho, 72%; da carne suína, 47%; do leite, 42%. Dos 84.300 estabelecimentos rurais do Espírito Santo, 80% são considerados de agricultura familiar. Essas pequenas propriedades ocupam 202 mil trabalhadores, que representam 64% das pessoas que trabalham no campo em atividades agropecuárias, segundo Enio Bergoli, secretário de Estado da Agricultura. LUTA INTERNACIONAL A agricultura familiar é vista de maneira estratégica para acabar ou, pelo menos, arrefecer as necessidades humanitárias em países mais pobres. Em vez de políticas de doação de comidas, a proposta é fortalecer a agricultura familiar em locais com índices altos de pobreza e fome. “Temos uma plataforma internacional de lutar pelo fortalecimento da agricultura familiar nesses países mais empobrecidos. Outra estratégia é aumentar o nível de cooperação, sobretudo na África”, diz Rochinski. A ideia é incentivar que esses países mais pobres comprem os alimentos de seus próprios agricultores familiares, em vez de importarem de outros países. Estaria
assim o Brasil perdendo potenciais mercados? “Nós não disputamos mercado no sentido de sermos grandes exportadores de alimentos”, diz o presidente da Fetraf.
INCENTIVO No Estado, há programas de incentivo à agricultura familiar, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). “Por ele, só se compra de agricultores familiares”, conta Aureliano Nogueira da Costa, diretor técnico do Instituto Capixaba de Pesquisa Técnica e Extensão Rural (Incaper). O alimento comprado é usado para o abastecimento da merenda escolar da rede pública de ensino e para famílias em situação de insegurança alimentar. O diretor cita também outros incentivos ao pequeno agricultor, como programas de pesquisa aplicada, que leva tecnologia ao pequeno produtor. “Um exemplo é a banana Vitória, que é resistente à sigatoka negra. É uma criação do Incaper. O abacaxi Vitória, resistente à fusariose, também é criação do Incaper”, cita. “Se você produz algo de baixa qualidade o consumidor não compra”, cita. CONCEITO Pequenas propriedades possuem até quatro módulos de terra, que podem variar de 14 a 20 hectares cada. Isso vai de acordo com o município. Entram na lista dos pequenos agricultores pescadores artesanais, povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos.
Selene se especializou nos alimentos orgânicos
O alimento orgânico ao alcance de todos HÁ 22 ANOS a agricultora familiar Selene
SAIBA MAIS P 80% dos estabelecimentos rurais do Estado são considerados de agricultura familiar. P Há 84.300 estabelecimentos rurais no Estado, dos quais 67.400 são propriedades rurais familiares. P As propriedades rurais ocupam cerca de 240 mil pessoas no Estado. O grupo inclui pescadores artesanais, quilombolas, povos
indígenas, ribeirinhos. P O faturamento bruto por hectare na propriedade familiar é de R$ 1.093. Na não familiar, R$ 687. No Brasil, a média de faturamento é de R$ 515. P A agricultura familiar está presente em pelo menos 70% das propriedades rurais de cada um dos 78 municípios do Estado.
Hamner Cesch, 51 anos, cumpre seu papel na produção de alimentos cada vez mais saudáveis na mesa do brasileiro, ao trabalhar com agricultura orgânica. “Esse é o objetivo. Nós vamos a feiras onde todos podem ter acesso”, conta Selene, sobre a produção de hortaliças e plantas medicinais e aromáticas. Mãe de oito filhos, todos seguiram carreiras ligadas à agricultura. “Todos são agricultores. Todos são formados em horticultura”, relata Selene, que mantém sua propriedade no distrito de Garrafão, em Santa Maria de Jetibá. l
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Cadastro rural garantirá recuperação mais rápida Depois da aprovação do Código Florestal, o Estado saiu na frente, e 7 mil proprietários rurais já se cadastraram até agora para poder preservar o que existe e recuperar áreas degradadas DIVULGAÇÃO
Em 1992, 600 mil hectares de terras no Estado estavam degradadas. Por meio da conscientização do produtor, esse índice já baixou para 400 mil hectares
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processo de cultivo e produção da agroindústria capixaba deixou como marca cerca de 600 mil hectares de área degradada. Isso em 1992. Hoje, a marca baixou para 400 mil hectares. “Essa redução foi possível com ações de recuperação de áreas”, disse o secretário de Agricultura, Enio Bergoli. As políticas públicas foram as principais responsáveis por baixar esse índice negativo. Exemplo é o Programa Reflorestar. Hoje, segundo Bergoli, estão sendo aplicadas ações para melhorar a base de produção e, assim, diminuir a área degradada. Desde o ano passado, essas políticas foram reforçadas com a aprovação do Código Florestal. O Espírito Santo foi o primeiro Estado no país a iniciar o cum-
primento de uma das exigências do novo Código Florestal, que é a inscrição da propriedade no Cadastro Ambiental Rural (CAR). O cadastramento foi aberto em outubro último e cerca de 7 mil propriedades já fizeram sua inscrição. O prazo para que os demais proprietários – em torno de 126 mil – façam o CAR de seus imóveis terminará em maio de 2015. O objetivo principal do cadastro, explica Bergoli, é promover o desenvolvimento sustentável do campo com a elaboração de políticas públicas mais eficazes na preservação e recuperação das florestas e demais formas de vegetação nativa. O atual Código Florestal foi aprovado em 2012, e a Instrução Normativa que regulamenta a implantação do CAR é de maio último. Para as propriedades com até
d Campo sustentável Produzir sem prejudicar o ambiente Melhorar a produção rural não é apenas produzir mais, mas produzir em consonância com o meio ambiente
25 hectares (ha), o cadastramento do imóvel será feito pelo poder público gratuitamente. Cerca de 60 mil propriedades serão beneficiadas com a gratuidade do cadastramento, por estarem entre aquelas com até quatro módulos fiscais. Os donos de imóveis com esse tamanho podem procurar os escritórios do Idaf nos seus municípios para o cadastramento das propriedades. Os donos de imóveis rurais com área superior a 25 ha terão que arcar com os custos do cadastramento. Os proprietários devem procurar suas cooperativas, sindicatos rurais ou as secretarias municipais de agricultura. As cooperativas e sindicatos rurais estão disponibilizando técnicos ou fazendo convênios com o Idaf para o atendimento a seus associados. l
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ENTREVISTA
Enio Bergoli A agricultura familiar tem dois desafios que estão sendo superados: dar mais opções de renda às famílias e manter os jovens no meio rural RITA BRIDI rbridi@redegazeta.com.br
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Espírito Santo tem uma das melhores estruturas fundiárias no país. O modelo de propriedades menores contribuiu para o fortalecimento da agricultura familiar, que marca presença em 80% dos imóveis rurais do Estado. O café, o principal produto do agronegócio capixaba, tem em mais da metade da sua produção a participação direta da agricultura familiar. O secretário estadual de Agricultura, Enio Bergoli,detalhanaentrevista,aforçada agricultura familiar no Estado.
A maioria dos produtores rurais no Estado trabalha no modo familiar de produção. O bom desempenho do agronegócio capixabapodeseratribuídoàforçada agriculturafamiliar? É inegável a importância da agricultura familiar para o agronegócio capixaba. Está presente em 80%
dos estabelecimentos rurais e emprega 64% dos trabalhadores do campo, ou seja, mais de 202 mil pessoas. Esse número sobe para mais de 240 mil pessoas, quando somados todos os públicos associados ao conceito da agricultura familiar, que envolve também os pescadores artesanais, as comunidades quilombolas e os povos indígenas. Com apenas 32% da área dos estabelecimentos rurais, responde por 45% do Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBPA), que é uma espécie de faturamento total. Se considerarmos o VBPA/hectare referente à agricultura familiar, os capixabas são novamente exemplo para o resto do país, pois a média no Espírito Santo é de R$ 1.093,00. É mais do que o dobro da média nacional, que é de R$ 515,00. Isso mostra que estamos no caminho certo e podemos sim creditar o bom desempenho do agronegócio capixaba à força da agricultura familiar, pois está claro
o resultado da adoção de tecnologias que permitem aumentar a produtividade e geração de renda em pequenas unidades de área.
Em quais setores do agronegócio a agricultura familiar é mais forte, está mais consolidada? Considerando os principais produtos agropecuários do Estado, os agricultores familiares são responsáveis pela produção de 54% do café e 42% do leite, as duas atividades mais presentes no meio rural capixaba. Mas são também responsáveis pela produção de 77% do feijão, 72% do milho e 47% da carne suína. No café conilon, especialmente, o Incaper é uma instituição de excelência mundial quando nos referimos à geração de tecnologia aplicada, seja pelo lançamento de materiais mais produtivos e com foco na qualidade oupelodesenvolvimento de técnicas de manejo. Essa pro-
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u Atualmente, vêm da agricultura familiar 54% do café e 42% do leite produzidos no Estado, as duas atividades mais presentes na área rural capixaba
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ximidade e a credibilidade da instituição contribuíram muito para a adoção dessas tecnologias pelos agricultores familiares, que se apropriaram do conhecimento e aplicaram na prática, chegando ao ponto de ouvirmos relatos de produtores que estão erradicando lavouras com produtividade média inferior a 60 sacas por hectare, pois buscam produtividades médias ainda superiores. No café arábica, embora a produtividade precise avançar, o salto que ocorreu na qualidade é indiscutível, tanto que já existem diversas marcas de café torrado e moído sendo comercializadas em vários municípios e na Grande Vitória. Isso representa uma importante ampliação da geração de renda por meio da agroindustrialização da produção. A agricultura familiar é muito expressiva também em cadeias produtivas da fruticultura, hortaliças, pimenta-do-reino e raízes, como gengibre e inhame.
Em quais regiões do Estado a agricultura familiar é mais representativa? Ela está presente e é maioria em todas as regiões do nosso Estado. Contudo, na região Serrana é onde a agricultura familiar tem peso mais forte, pois é de lá que vem grande parte dos produtos hortícolas que abastecem o mercado capixaba. Em virtude das características da produção de hortaliças, que estão entre os cultivos com maior potencial de geração de receita por unidade de área, há um casamento perfeito entre a estrutura fundiária dessa região e a tradição dos agricultores nesses cultivos. Por outro lado, são cultivos que apresentam grandes riscos aos empreendedores, principalmente pela suscetibilidade às intempéries climáticas, como as fortes chuvas ocorridas no fim do ano passado. Mas como o café e pecuária de leite estão presentes em todas as regiões, a agricultura familiar predomina em todo o nosso território. A produção de café conilon na região de fronteira entre o Norte e o Noroeste do Estado avança muito em tecnologia sob a gestão familiar. Nos principais municípios produ-
“O Espírito Santo é o Estado que representa a melhor síntese do agronegócio brasileiro, pois temos condições de clima, solo e relevo que propiciam a produção de praticamente todas as espécies cultivadas” tores, a regra é a condução de lavouras de alta produtividade, com uso de variedades melhoradas e emprego completo das tecnologias disponíveis de irrigação, manejo, nutrição e controle de pragas e doenças. Há ainda algumas regiões de Norte a Sul do Estado, especialmente no entorno de cooperativas de laticínios, onde ocorre uma verdadeira revolução na pecuária de leite, com a melhoria da qualidadedorebanhoe,acimadetudo, com manejo correto das pastagens. São comuns os casos de agricultores que obtiveram verdadeiros saltos de produtividade de leite.
A tendência é a manutenção desse modelo ou poderá ser substituído por outro? Pela estrutura fundiária do Espí-
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EDSON CHAGAS
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mil empregos A agricultura familiar está presente em 80% das propriedades rurais e emprega 64% das pessoas do campo, ou seja, mais de 202 mil pessoas
u A agricultura familiar tem força na produção de alimentos, como legumes, verduras e frutas
rito Santo, a tendência é que esse modelo permaneça sempre. O que acontece é que, aos poucos, está havendo uma grande mudança em dois pontos claros: emprego de tecnologia e surgimento de novos negócios no campo. O Espírito Santo é o Estado que representa a melhor síntese do agronegócio brasileiro, pois temos condições de clima, solo e relevo que propiciam a produção de praticamente todas as espécies cultivadas. Associado a isso, temos regiões naturais belíssimas e que já despertam o interesse e a curiosidade de turistas locais, de outras regiões e até de outrospaíses.Essefluxodespertou há muitos anos o desenvolvimento das atividades não agrícolas, como o agroturismo, artesanato e a agroindústria de pequeno porte, que atualmente já são componentes importantes na formação de renda de muitas famílias rurais. Assim, a tendência é de continuidade da agricultura familiar capixaba, produzindo alimentos de forma competitiva com expansão das atividades rurais não agrícolas, que empregam todos os membros da família e ampliam a renda média das propriedades rurais. Para se ter uma ideia, a renda média das famílias rurais que trabalham apenas com as rendas agrícolas é a metade em relação às famílias que também desenvolvem atividades não agrícolas.
Quais os principais desafios a serem vencidos pelos agricultores familiares? A agricultura familiar, embora tenha avançado muito na produtividade, ainda tem como característica a produção em volumes menores, o que dificulta competir em um mercado cada vez mais aberto, onde os consumidores têm as mais diversas opções, comodidades e informações. Assim, um dos principais desafios é a cooperação entre os agricultores familiares para ampliarem as forças para competir. Nesse aspecto, as cooperativas e associações cumprem um papel fundamental para dar maior competitividade à agricultura familiar. Por meio dessas organizações, é possível reduzir os custos de aquisição
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de insumos em compras coletivas e também obter melhores negociações de venda dos produtos, em função de maior volume negociado. Outro desafio diz respeito à agregação de valor à produção e à diferenciação como vantagem competitiva. Precisamos avançar no surgimento de novas agroindústrias familiares com foco em produtos de qualidade superior, antenados com os anseios dos consumidores. Focar em produtos agrícolas de altíssima qualidade, que fogem do mercado comum e resultam em melhor retorno do investimento realizado, também é uma estratégia muito importante. Precisamos ainda reconhecer que noBrasilruralcomoumtodo,ainda temos muitas deficiências em infraestruturaelogística,fatoqueafeta a agropecuária como um todo.
O que o poder público pode fazer (ou está fazendo) para que esses problemas sejam solucionados? Ao considerar a expressão econômica e a dimensão sociocultural e ambiental, o governo do Espírito Santo, com o apoio de várias instituições, implantou nos últimos anos um amplo programa de fortalecimento da agricultura familiar capixaba, o Vida no Campo, que contempla projetos nas áreas de infraestrutura, crédito rural, assistência técnica, capacitação, regularização fundiária, habitação, juventude rural, dentre outras. Os resultados do “Vida no Campo” são expressivoserecordes.Porano,maisdeR$ 700 milhões são aplicados em crédito rural e 60 mil agricultores são assistidos tecnicamente de forma gratuita. O governo estadual adquire produtos da agricultura familiar para a merenda escolar, regulariza as terras, revitaliza os assentamentos rurais, facilita a agroindustrializaçãoedistribuitodososanoscentenas de máquinas e equipamentos agrícolas para uso coletivo das associações e cooperativas da agricultura familiar. Isso favorece o progresso tecnológico dos cultivos e criações. O governo conduz ainda programas com muitos investimentos na infraestrutura rural. Com o programa “Caminhos do Campo”, vamos pavimentar 553 km de es-
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GABRIEL LORDÊLLO/MOSAICO IMAGEM
tradas tipicamente rurais em apenas 4 anos. Até novembro deste ano, o “Comunicação no Campo” beneficiará 200 comunidades rurais com telefonia móvel e internet, a partir da implantação de 81 torres em todas as regiões do Estado. O “Energia Mais Produtiva” vai levar rede trifásica em mais de 120 comunidades rurais capixabas.
Os filhos dos agricultores familiares que saem da propriedade para estudar em centros urbanos, depois de concluídos os estudos, retornam à área rural? Muitos não voltam, mas também não perdem relações com o rural, pois há uma série de carreiras em que os profissionais residem no urbano e trabalham nas cadeias produtivas do agronegócio. No Espírito Santo, no Brasil e no mundo todo não existe mais essa dicotomia entre o urbano e rural. As cidades e distritos estão mais próximos das áreas deprodução, as rodoviascada vez mais pavimentadas reduzem tempo de deslocamento e os serviços especializados, em diversas áreas, também estão mais pulverizados. Portanto, é muito comum
quegrandeparceladapopulaçãode cidades do interior, principalmente as pequenas e médias, seja representada por famílias de agricultores e também por profissionais com atuação no setor. Precisamos enxergar o setor e todos seus elos, como produção, insumos e serviços, agroindustrialização e distribuição. A redução da população tipicamente rural é uma tendência no mundo todo e, mesmo assim, há ampliação e diversificação da produção de alimentos, fibras e energia renovável, a partir da agropecuária.
Há projetos e ações em curso direcionados para os jovens rurais do Espírito Santo? Aqui no Espírito Santo implantamos o Projeto de Valorização da Juventude Rural, pensado justamente para lidar com esse público que é imprescindível para a sustentabilidadedoagronegócionofuturo e também no presente. Cerca de 10 mil jovens já foram beneficiadospelasdiversasaçõesdoprojeto, com destaque para os cursos de gestão da propriedade rural ou gestão da unidade pesqueira, por meio dos quais os jovens são apre-
o Por meio do programa “Vida no Campo”, mais de R$ 700 milhões são aplicados em crédito rural e 60 mil agricultores são assistidos tecnicamente de forma gratuita
sentados aos mais modernos conceitos de gestão de negócios, empreendedorismo, inovação e outros,tudocomfoconoagronegócio. Essa base sólida de conhecimento é que permite ao jovem planejar seu futuro e ter a confiança necessária para que faça a opção por permanecer ou trabalhar no campo. Os programas que conduzimos para melhorar a infraestrutura rural reduzem as desigualdades entre o rural e o urbano, e têm um papel estratégico neste contexto. Já é possível verificar jovens rurais capixabasacessandoaomundointeiropor meio de seus smartphones, tablets, notebooks e computadores. Quando o rural tem igualdade de tratamento nos investimentos em infraestrutura em relação ao urbano, e há fomento para geração de oportunidades no campo, as famílias rurais, aí incluídos os jovens, passam ser protagonistas de seus destinos. Residir no rural, numa comunidade, num distrito ou numa cidade deve ser uma decisão de cada um. Contudo, aqui no Espírito Santo, nos últimos anos, tivemos uma das maiores reduções do fluxo rural urbano do país. l
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As cooperativas oop vas capixabas estão nos lares e no n coração do Espírito Santo, caminhando de mãos dadas por um Estado justo e cooperativo. Acompanhe o cooperativismo capixaba xaba pelos p nossos ss canais na internet: fb.me/SistemaOcbSescoop.es e/ coop.e • cooperares.blog.br • ocbes.coop.br
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