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Treinamento Capacitação Formação
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Mapa Estratégico do Cooperativismo – lançado pelo Sistema OCB neste ano, com base na construção de cenários para o cooperativismo com horizonte em 2025, seus desdobramentos em desafios estratégicos, além da definição do papel dessas entidades na contribuição para o futuro do cooperativismo – dá como Visão do Cooperativismo para 2015 ser “reconhecido pela sociedade por sua competitividade, integridade e capacidade de promover a felicidade dos cooperados” Entre os sete desafios listados como situações a serem superadas, dois falam diretamente ao desenvolvimento do capital humano: qualificar mão de obra para o cooperativismo e profissionalizar a gestão e a governança do sistema cooperativo. Como explica o documento, “ser mais competitivo é uma obrigação. A competitividade, aliás, é condição para que as cooperativas não só sobrevivam, mas também se sobressaiam no mercado e na capacidade de gerar desenvolvimento. Mas, não a qualquer custo. É preciso fortalecer o diferencial da atividade cooperativista, seguir os valores e os princípios do cooperativismo, exercer e comunicar para toda a sociedade a capacidade do cooperativismo de gerar felicidade para os cooperados”. O caminho passa, necessariamente, pela capacitação, pelo treinamento e pela formação, seja dos cooperados, sejam colaboradores. E os números são grandiosos. Segundo o documento Dimensões Sociais do Cooperativismo no Brasil e no Mundo, editado pelo Sistema OCB em 2014, o Brasil possui mais de 6,8 mil cooperativas, distribuídas em 13 ramos de atividades, que reúnem 11,5 milhões de associados e geram cerca de 340 mil empregos formais, total 83,2% acima do registrado em 2004. No entanto, frente à atual instabilidade econômica do País, é natural
o questionamento: “como investir no desenvolvimento de pessoas, se é fundamental controlar custos e, muitas vezes, cortar custos e até fazer demissões?” causa e consequência O foco, segundo os especialistas, precisa estar na diferenciação entre os parceiros de mercado. Produtividade, excelência no atendimento ao cliente, superação de metas, resiliência, criatividade, entre outras metas, são essenciais à sobrevivência das organizações. E o principal ingrediente para isso chama-se Ser Humano, pois investir em tecnologia, normalização, certificações não é suficiente se o capital humano, que opera e coloca em execução o negócio da empresa, não souber como tirar o melhor de cada um desses elementos. “Em tempos de crise, treinamento é insumo básico!”, afirma Fábio Azevedo – administrador, consultor de negócios, palestrante e articulista, com textos publicados no Brasil e no Exterior, também atua como avaliador do Prêmio de Competitividade do Sebrae (MPE Brasil) e da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ). “O processo de aprendizagem por meio de treinamentos, transforma o comportamento e finca suas bases na experiência, ocorrendo de forma consciente e inconsciente, e o sucesso virá por meio de um programa de treinamento formatado para o segmento em que a empresa atua, gerando soluções moldadas às necessidades de quem participa”, garante. O consultor cobra, ainda, o entendimento de que “treinar e aperfeiçoar sua equipe de colaboradores periodicamente, faz parte do todo de sua empresa, é insumo básico e fundamental. Trabalhe para aperfeiçoar e reter colaboradores, invista no capital humano e desenvolva o capital intelectual, essa
contribuição é significativa para o seu crescimento como empresário e fundamental para o desenvolvimento econômico de nosso país”. “É viável e essencial investir em treinamento justamente em momentos de crise. Além de ser o quinto princípio cooperativista – Educação, formação e informação – devemos ter a visão estratégica de que as crises são cíclicas, vêm e vão, fazem parte do nosso sistema econômico. Assim, devem ser encaradas como momentos de grandes oportunidades, para revisão de conceitos, mudança de paradigmas, aprendizado e melhoria contínua”, comenta Marcelo Correa Medeiros – mestre em Direção Estratégica, palestrante, professor, administrador, contador e gestor com experiência em instituições financeiras cooperativas. Complementando seu posicionamento, Medeiros frisa que “quem se preparar adequadamente e souber aproveitar as oportunidades, sairá na frente. Ao contrário, quem não tiver visão estratégica durante a crise, sairá enfraquecido e em grande desvantagem no mercado, quando mais esse ciclo passar”. Ao concordar com Medeiros e Azevedo, Dorly Dickel – administrador de
marcelo correa medeiros, gestor com experiência em instituições financeiras e cooperativases
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empresas com pós-graduação em cooperativismo, professor, consultor e instrutor de cursos para o sistema OCB/ Sescoop, entre outras atividades – cita a necessidade de investir em desenvolvimento humano de forma constante, por isso, exclui a possibilidade de cortar investimentos nesse campo e recomenda: “as cooperativas, como as empresas, precisam cortar despesas em épocas de crise, mas é preciso reduzir os gastos supérfluos e não aqueles que geram melhoria na eficiência e aumento de produtividade”. diferencial cooperativista Treinar colaboradores e cooperados – reforça Medeiros – fideliza, compromete, melhora o desempenho e a produtividade das pessoas, agregando mais valor e resultados para a empresa cooperativa. Quando aplicados às cooperativas, esses conceitos ganham força, pois “a empresa cooperativa é acima de tudo a união de pessoas e de talentos”, justifica Dickel. Fortalecendo a ideia central, Medeiros destaca que é importante que a cooperativa “seja vista pelo mercado, como uma empresa sustentável, sob os aspectos econômico, ambiental e social, que tem solidez econômica e financeira, mas também cuida das pessoas e do planeta. É fundamental a empresa cooperativa levar ao conhecimento do mercado sua condição de empresa comprometida com as pessoas, que se preocupa em ter pessoas
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melhores, associados, funcionários e dirigentes melhores, para ajudar a construir um mundo melhor. Isso, além de estar em consonância com os princípios cooperativistas, traz reconhecimento, credibilidade e novos negócios para as cooperativas”. Por esses motivos, os investimentos devem ser direcionados, principalmente para as áreas estratégicas ou essenciais do chamado “Negócio Cooperativo”, ou, como explica Medeiros, “a mudanças no perfil gerencial, na cultura organizacional e treinamentos voltados para as atividades fim das Cooperativas, especialmente”. Em cooperativas, treinamento e capacitação dos cooperados – principal patrimônio é o seu quadro social – é alternativa para obter a imprescindível satisfação dos associados e podem ser promovidos com recursos do Fundo de Assistência Técnica Educacional e Social (Fates) e colaboração do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop). Embora as necessidades em algumas áreas de uma cooperativa e uma sociedade empresária sejam semelhantes (área de Vendas, RH, Crédito e Finanças), alguns setores exigem uma especificação diferenciada (Contabilidade e Tributação, por exemplo). Para atender as necessidades e obter os resultados dorly dickeli, administrador de empresas
desejados, Medeiros recomenda que a cooperativa não improvise os seus treinamentos: “deve haver um planejamento com objetivos e metas bem definidos e, na medida do possível, é importante mensurar os benefícios e o retorno que os investimentos realizados proporcionam”. Atenção às especificidades do setor é prioritário. Por isso, é fundamental que os instrutores, professores e palestrantes, sempre que possível, possuam profundo conhecimento prático e vivência da realidade dos negócios cooperativos, para poderem adequar os treinamentos à realidade da cooperativa, assim como direcioná-los de acordo com as áreas ou temas mais relevantes para o momento. Inúmeros são os benefícios gerados pelos treinamentos, sendo possível, inclusive, a cooperativa alcançar ganhos econômicos e financeiros diretos e imediatos. “A capacitação dos contadores para a correta apuração dos tributos e contribuições devidos evita o pagamento de valores indevidos, além de alertar para a recuperação de créditos que muitas vezes são desperdiçados”, exemplifica Dickel.
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retenção e desenvolvimento de talentos O treinamento pode ser considerado uma ferramenta de retenção de talentos porque as pessoas, ainda que estejam capacitadas para a função que exercem, buscam crescimento profissional constante e para isso precisam ser treinados, define Dickel, e alerta: “a cooperativa deve divulgar ao mercado o investimento que faz em treinamento, inclusive porque, na atualidade, este é um indicador que faz parte do Balanço Social das empresas”. A opinião dos especialistas é unânime quanto ao fato de que é um diferencial a cooperativa manter profissionais constantemente preparados para enfrentar os desafios do mercado, bem como estimular os colaboradores para identificar as oportunidades e buscar inovações. Concordam, também, que interromper os investimentos em treinamento, capacitação e formação,
benefícios Aprendizado e atualização de conteúdos Revisão de conceitos, opiniões, crenças, valores e princípios Troca de ideias, intercâmbio e Intercooperação Construção do conhecimento de forma cooperativa, em conjunto, em parceria Conciliação entre a teoria e a prática cooperativista Profissionalização da gestão Preservação da essência cooperativista Maiores eficiência e produtividade Redução de custos e desperdícios
pode levar os cooperados e colaboradores a, rapidamente, ficarem obsoletos, com prejuízo para a cooperativa. Como argumento, Dickel cita informação recentemente divulgada por uma organização norte-americana chamada Conference Board: “são necessários quatro trabalhadores brasileiros para atingir a mesma produtividade de um norte-americano”. Essa realidade, ressalta o consultor, tem origem na falta de investimentos em qualificação da mão de obra e se constitui um dos fatores para o distanciamento do Brasil no mapa global da produtividade. Há quem questione ou se preocupe com a possibilidade de investir em treinamento e o cooperado ou colaborador sair da empresa. O principal questionamento ou preocupação – diz Medeiros – deve ser: “E se eu não investir em treinamento e o funcionário ficar na empresa?” E deixa uma provocação: Fica a dica para pensar!
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