fluir

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fluir Foi uma viagem. Partimos de nós próprios, partimos da Música Popular Portuguesa, das nossas raízes e seguimos a gosto, deixando fluir, conversando com a música, ouvindo o que nos tinha a dizer. Chegámos aqui, onde o prazer nos trouxe, àquilo que somos hoje como reflexo das gerações que nos precederam. Juntámos também canções de autor: Amigos, Homens, Músicos que nos surpreendem, pessoas que admiramos. O resultado foi aquilo a que nos tínhamos proposto no início: fazer música, divertirmo-nos sem preconceitos, comunicar. Joana Pessoa ÷ voz Rodrigo Serrão ÷ produção


Quando falei com JOANA pela primeira vez, num lugar em que nem a ouviria cantar, tive a certeza de que, um dia, ela iria romper aquele cerco que sempre condiciona o início de uma carreira. Ao longo da minha vida profissional já antes tivera a sorte de conhecer alguns exemplos raros nos quais, só o modo como a pessoa manifesta os seus objectivos ou a simples expressão do olhar, logo transmitem a força interior inquieta e determinada, própria de eleitos, que augura a diferenciação artística indispensável ao sucesso público. Na altura, JOANA PESSOA ainda se preocupava em definir um modelo que melhor exprimisse a irreprimível vontade de criar a sua mensagem artística. Mas as inquietações que exteriorizava já eram sinal claro de uma pulsão artística vital e levaram-me a sugerir-lhe que usasse toda a sua determinação numa viagem de procura, sem atender a constrangimentos de campo, de género ou de estilo. Ora, na jornada que empreendeu, JOANA teve a felicidade de encontrar RODRIGO SERRÃO como se tivesse chegado a um porto seguro: o Produtor, ele mesmo um Músico sensível, muito talentoso, perspicaz e culto, saberia conduzi-la ao admirável cenário das Músicas de raiz popular, onde ambos puderam libertar a criatividade que este CD fixou. Rodrigo faria soltar definitivamente a voz e a expressividade de que JOANA PESSOA dispunha, potenciando as diferenciadas características técnicas dela e levando-a a registos interpretativos incomuns e surpreendentes num primeiro disco de carreira e, para mim, verdadeiramente deliciosos. E de tal forma, que não hesito em escrever que “Fluir” é, afinal, um disco sem data. Um CD que fica. Mesmo. José Nuno Martins ÷ 2008


Dedico este CD: Aos meus filhos Francisco e Lourenço expressando a minha gratidão. Ao José Fontes Rocha, mestre e amigo, por quem guardo um grande carinho. Ao Rodrigo Serrão, por acreditar em mim. Agradecimentos: Luís Petisca, João Filipe Ferreira, Fernando Nunes: obrigado por tanto talento! Rui de Luna e Rosário Coelho, pela mestria. Miguel Lacerda, Isabel e António Pessoa, Cristina e Juan Ambrosio, Miguel Jardim, Miguel Angel, Manuel Margarido e Alexandra Paulino, pela amizade e apoio incondicional. Tiago Alves pela seriedade e confiança. Ao José Nuno Martins, pelo reconhecimento do nosso trabalho. iPLAY, RDP - Antena 1 e FARRUTX , por apostarem em nós. Pai, Mãe (Maria e António Sérgio Pessoa), Francisco e Lourenço, pelo vosso amor. José Fontes Rocha pela sabedoria e amizade. Sofia Moreira, pela confiança, segurança e paciência. Rodrigo Serrão, pelo empenho, musicalidade, inteligência, espiritualidade, honestidade, criatividade e por aceitar este desafio. A ti meu Deus, por todas as bênçãos.


dá-me os teus olhos Música: Popular Letra: Rodrigo Serrão Arranjo: Rodrigo Serrão

Em mão aberta, Dom Solidom, Trago o desejo, De te roubar, Dom Solidom, Um novo beijo.

Dá-me os teus olhos, Dom Solidom, Negros pedaços, Vem-te perder, Dom Solidom, Nos meus abraços.

E nesse beijo, Dom Solidom, De lábios belos, Vou combater, Dom Solidom, Muitos duelos.

Nos meus abraços, Dom Solidom, Que pedem tanto, Por teus carinhos Dom Solidom, Neste meu canto.

Muitos duelos, Dom Solidom, Sem mais cautela, P’ra te prender, Dom Solidom, De forma bela.

Neste meu canto, Dom Solidom, De descoberta, Estendo os meus dedos, Dom Solidom, Em mão aberta.

De forma bela, Dom Solidom, Com um gemido, Solto em segredo, Dom Solidom, Ao teu ouvido.


Música e letra:

este linho é mourisco

quando a barca vier Sebastião Antunes

Este linho é mourisco A fita dele namora Quem aqui num tem amores Tiró chapéu bá s’embora

Foram-se as barcas embora, Foram-se os homens ao mar, Quem ficou na praia chora, Por querer vê-los voltar.

Ó lua que és viageira, E companheira do mar, Traz-me de volta o barqueiro, Que me dói tanto esperar.

Ó minha mãe dos trabalhos Para quem trabalho eu, Trabalho, mato o meu corpo, Num tenho nada de meu.

O mar tem tantos segredos, Que não os sabe ninguém, Na praia ficam os medos, Enquanto a barca não vem.

Quando a cor mansa das ondas, Embalar o amanhecer, Quando se acalmar o vento, No tardar do meu querer.

Maçadeiras lá de baixo, Maçai-me o meu linho bem, Num olheis par’ó portelo Que a merenda logo bem.

Há-de haver outro voltar, Há-de haver outro partir, Há-de haver outro chegar, Outro sentir.

Tantas horas por contar, Tanto mar sem calmaria, Tanta vida de esperar por outro dia.

Quando a barca vier, Quando a barca voltar, Quero estar na areia p’ra te ver chegar.

Quando a barca vier, Quando a barca voltar, Quero estar na areia p’ra te ver chegar.

Música e Letra: Popular Arranjo: Rodrigo Serrão


era um redondo vocábulo Era um redondo vocábulo uma soma agreste, Revelavam-se ondas em maninhos dedos, Polpas seus cabelos, Resíduos de lar. P’los degraus de Laura a tinta caía no móvel vazio, Convocando farpas, chamando o telefone, Matando baratas, a fúria crescia clamando vingança. Nos degraus de Laura, no quarto das danças. Na rua os meninos brincavam e Laura na sala de espera, inda o ar educa. Música e Letra: José Afonso


ondas do mar da terra Música Popular Letra: Rodrigo Serrão Arranjo: Rodrigo Serrão

Ó ondas do mar da terra, Cantai-me numa balada, A história dessa pastora, Que ao mar, se desejava.

Cruzando montes e vales, Sempre a passo decidido, Entregou à lua os olhos, Que guiaram o caminho.

Matilde pelo o seu nome, De serras percorrida, Era um sonho à luz da noite, Como um barco de partida.

Coragem fez-se o seu nome, Cansaço fez-se alegria, Pela estrada aberta à noite, Foi encanto que sorria.

As velas que num anseio, Sonhando desfraldava, Levaram-lhe o receio, Numa noite que embalava.

Chegou nos braços da aurora, Às ondas que desejava, Entregou-se ao mar aberto, Foi a gaivota que sonhava.

Partiu sem ter despedida, Pela sombra disfarçada, Foi em busca de uma sina, Que o seu peito amordaçava.


Música: Popular Letra: Rodrigo Serrão Arranjo: Rodrigo Serrão

quando a terra chama Quando a terra chama, Estende o seu abraço, O homem que a ama, Ergue o seu cansaço.

E o homem trabalha, Até o sol-pôr, De dura batalha, Se faz o labor.

Sai p’la estrada fora, Passo bem marcado, Que o bater da hora, Canta um duro fado.

E ao cair da noite, Feitos de verdade, Os campos que adora, Cantam de saudade.

Sementes despertam, Ao ouvir-lhe o passo, E aves já namoram, O fruto do seu braço.

E ao dormir à noite, Cheios de saudade, Os campos que adora, Sonham de verdade.

À sombra da serra, Crava um cajado, Do ventre da terra, Nasce o pão doirado.

altinho

Música e Letra: Popular Arranjo: Rodrigo Serrão

Eu quero ir Para o altinho que eu daqui não vejo bem Quero ir ver Do meu amor se ele adora mais alguém Se ele adora Mais alguém se ele me ama a mim sozinha E a alegria de uma mãe é uma filha solteira Casa a filha vai-se embora vai-se a rosa da roseira


Ó sino da minha aldeia Dolente na tarde calma Cada tua badalada Soa dentro da minha alma E é tão lento o teu soar Tão como o triste da vida Que já primeira pancada Tem o som de repetida Por mais que me tanjas perto Quando passo sempre errante És para mim como um sonho Soas-me na alma distante A cada pancada tua Vibrante no céu aberto Sinto mais longe o passado Sinto a saudade mais perto Música: Paulo Ribeiro Letra: Fernando Pessoa


sino da minha aldeia Música e Letra: Popular Arranjo: Rodrigo Serrão

ó laurinda, linda, linda Ó Laurinda linda, linda, Ó Laurinda linda, linda, És mais linda do que o sol, Deixa-me dormir uma noite, Nas dobras do teu lençol.

Ou ela está doentinha, Ou ela está doentinha, Ou já tem outro amor, Ou então procura a chave, Lá no meio do corredor.

De quem é aquele suspiro, De quem é aquele suspiro, Que ao meu leito se atirou, Laurinda que aquilo ouviu, Caiu no chão desmaiou.

Sim, sim, cavalheiro, sim, Sim, sim, cavalheiro, sim, Hoje sim, amanhã não, Meu marido não está cá, Foi p’rá feira de Gravão.

De quem é aquele casaco, De quem é aquele casaco, Que ali vejo pendurado, É para ti mê marido, Que o trazes bem ganhado.

Ó Laurinda linda, linda, Ó Laurinda linda, linda, Não vale a pena desmaiar, Todo o amor que te eu tinha, Vai-se agora acabar.

Onze horas, meia-noite, Onze horas, meia-noite, Marido à porta bateu, Bateu uma, bateu duas, Laurinda não respondeu.

De quem é aquele cavalo, De quem é aquele cavalo, Que na minha esquadra entrou, É para ti mê marido, Foi teu pai quem to mando

Vai buscar tuas irmãs, Vai buscar tuas irmãs, Trá-las todas num andor, A mais lindas delas todas, Há-de ser o meu amor.


jรก namorei


toada do alentejo

com a lua

Já namorei com a lua Já fui um peixe no mar Atravessei o deserto Só para te ouvir cantar Transformei balas em flores Plantei jardins de esperança Tive mais de mil amores ao ritmo de uma só dança Já dormi noites ao vento Já fiz das pedras colchão Bebi o vinho encantado Entrei no teu coração Andei à volta do mundo Numa barca de papel Fiquei preso num segundo Aos teus olhos cor de mel Música e Letra: Paulo Ribeiro

Ainda trago um gosto a trigo atrás de mim, Que se me agarrou à alma ao nascer, Sou como um carreiro longe de ter fim, Como quem ceifou searas sem saber. Sou lá de onde ninguém fala das marés, De onde o horizonte queima p’lo olhar, Por paixão ainda trago a arder nos pés, O calor de uma seara por cortar. Já cantei desde a nascente até à hora do sol pôr, Já naufraguei nas ribeiras ao luar: Ai Alentejo quem te amou não te esqueceu, E ainda se ouvem os teus ecos nas cantilenas do sol. O sol deu-me histórias velhas p’ra contar, Que eu guardei de manhãzinha ao pé do rio, Em Janeiro roubei mantas ao luar, E a um pastor roubei um tarro e um assobio, Já corri atrás dos corvos já me escondi nos trigais, Ouvi rolas nos sobreiros a cantar: Ai Alentejo que te amou não te esqueceu, E ainda se ouvem os teus ecos cada vez que a lua cai. Música e Letra: Sebastião Antunes


reza um canto Reza um canto a voz do mar Chama a despertar, Num crescendo a voz do mar Vem p’ra me levar. Não deixes o mar levar-me de ti, Fervendo em ciúmes o seu ardil, O mar só me quer por te ver aqui, Ó lua ancorada a um amor febril. Brame e grita, chama por mim, Em ventos que rasgam vontades sem fim, Range abrindo brechas por mim, Vergando navios e velas sem fim. Bordados lamentos que o vento me traz, E a lua ausente a chorar, Resguarda o meu canto que o quer trocar, O mar p’lo brando luar. Música: Popular Letra: Rodrigo Serrão Arranjo: Rodrigo Serrão


Ficha técnica: voz ÷ Joana Pessoa segundas vozes ÷ João Filipe Ferreira [dá-me os teus olhos; este linho é mourisco; já namorei com a lua] guitarras acústicas, eléctrica e portuguesa ÷ Luís Petisca [excepto: quando a terra chama; reza um canto] guitarra eléctrica ÷ Fernando Nunes [este linho é mourisco] teclados e programações ÷ Rodrigo Serrão orquestrações, arranjos, direcção musical ÷ Rodrigo Serrão misturas ÷ Fernando Nunes e Rodrigo Serrão captações e masterização ÷ Fernando Nunes produção ÷ Rodrigo Serrão Gravado nos estúdios Pé de Vento entre Julho e Dezembro de 2006 IP 1272 2



SPA IP 1272 2 & 2008, iPlay - Som e Imagem, Lda. Editado e Distribuido em Portugal por iPlay - Som e Imagem, Lda. Reservados todos os direitos do produtor fonográfico e do proprietário da obra gravada. Proibidos a duplicação, o aluguer e a utilização deste disco para qualquer execução pública e radiofusão não autorizada.


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joana pessoa

dá-me os teus olhos quando a barca vier este linho é mourisco era um redondo vocábulo ondas do mar da terra quando a terra chama altinho sino da minha aldeia ó laurinda, linda, linda já namorei com a lua toada do alentejo reza um canto

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