JCB Cultura
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Crônica Policial A prostituta que fazia ponto na esquina da minha rua foi morta, há quatro dias, por um cabo da Brigada Militar. Quem me informa são os jornais da manhã. Na minha idade e morando só, raros são os prazeres que ainda restam. Portanto devem ser usufruídos até as últimas conseqüências. Este é um deles: esmiuçar os jornais do dia, especialmente a crônica policial, tarefa que inicio à hora do café e que me toma quase o dia inteiro. Outro é polir o meu revólver calibre vinte e dois, pois quem mora só precisa estar prevenido e uma arma, que não é cuidada pode falhar no momento exato. Outro ainda, é ficar à janela à noite, olhando a rua, razão por que conhecia a moça de vista, já que fazia ponto na esquina e eu podia livremente observá-la. Diz a notícia: “A moça, de trinta e dois anos, tinha por nome Maria Amália dos Santos, mas atendia pela alcunha de Bernadete. Junto ao corpo foi encontrada a bolsa que estava fechada, não sendo roubo, portanto, o motivo do crime. A bolsa continha um estojo de pintura, um lenço vermelho, um tubo de sedativo com apenas dois comprimidos, uma escova de cabelo, uma carteira de saúde, algumas moedas e um santinho com dedicatória: para Bernadete, de-
vota do Padre Réus, com a minha eterna amizade, Leci. Segundo testemunho de um senhor idoso que estava à janela de sua casa, a vinte metros da esquina, na hora do crime, a moça estava parada, como de hábito, quando o Cabo se aproximou e disparou dois tiros pelas costas, à distância. Afirma a testemunha que a moça, antes de cair, viu o criminoso e gemeu: “Me mataste, meu amor”. Ato contínuo, tombou de bruços, pondo sangue pela boca. Afirma ainda que o Cabo, aparentemente arrependido do tresloucado gesto, correu, ajoelhou-se ao lado dela e beijou-a no rosto, dizendo: “Que foi que eu fiz!” Segundo ainda notícias da imprensa, o Cabo, de nome Anselmo, tem vinte e oito anos de idade, é casado e pai de duas meninas, mantendo, há alguns meses, um romance com Bernadete, a quem conheceu numa casa noturna da cidade baixa, onde fora dar vistoria. Em declarações à polícia, o Cabo Anselmo afirmou que não matou a moça; que realmente fora ao seu encontro, mas que antes de chegar perto ouviu dois disparos e viu que o corpo dela rodopiava e caía. Correu e ainda ouviu suas últimas palavras: “Me mataram, meu amor!”, e que nessa
O jovem casal Carlos Carvalho
Paulo F. M. Pacheco
ocasião teria beijado o rosto da vítima e dito: “Que foi que te fizeram?” Continua a notícia: “A arma do crime não foi encontrada, motivo por que não foi lavrado o flagrante. A polícia suspeita que o Cabo Anselmo a tenha jogado no mangue próximo, mas as buscas resultaram infrutíferas. Ainda assim, foi decretada a prisão preventiva, devendo o Cabo Anselmo aguardar na cadeia o julgamento”. Esgotadas as notícias, passo ao meu segundo maior prazer: e enquanto limpo caprichosamente o meu revólver calibre vinte e dois, fico pensando na pobre moça que, pela profissão, não seria mulher de um homem só, concluindo que o Cabo deve ser realmente o assassino, já que era o único passante na rua àquela hora, segundo a testemunha, e que o ciúme teria sido o motivo do crime. É verdade que da janela da minha casa, por exemplo, que fica a vinte metros da esquina, alguém poderia ter atirado na moça, que se oferecia à noite como alvo propício. Mas quem atiraria numa prostituta que só conhecia de vista e sem motivo aparente? A não ser, é claro, que o fizesse pelo puro e inenarrável prazer de matar.
Hora crepuscular de domingo – 5/3/2006 – exatamente 18h25 min, momento em que as pessoas de temperamento melancólico tornam-se mais vulneráveis, propensas a desmanchos interiores, a íntimos enlevos. Já instalado no ônibus do BOX n° 43 da Estação Rodoviária de Porto Alegre, passo a observar um jovem casal na iminência de embarcar. Sentados face a face, frente à bagagem volumosa, dispõem-se a enfrentar longa viagem (ou será que padecem a mágoa de breve forçado afastamento?). Natural me parecer ser, que passem despercebidos ante a multidão tumultuária e rumorosa da estação, para a qual parecem devolver a mesma indiferença afetiva. Foi a crônica empatia com a farda brigadiana que me levou a percebê-los. O soldado e a esposa - como sinalizam as alianças na mão esquerda – estão a prodigalizar, em meio àquele desvairamento coletivo, contagiante cena de ternura e beleza. Destacam-se principalmente pela distinção. Sim, porque a beleza, quando desacompanhada da distinção, roça à vulgaridade. Ele enverga singelo, mas impecável fardamento de instrução. A relativa distância não me permite ler o nome apenso do lado esquerdo da camisa-de-campanha, tampouco o brasão da Unidade a que pertence. Porta revólver e, no cinto, munição suplementar. Seu rosto é claro, os lábios finos, cabelos pretos, lisos. Apesar da idade, já esboça incipiente calvície na região occipital. No lado direito da camisa-de-instrução ou de combate, ostenta pequeno distintivo impresso em azul (este detalhamento excessivo justifica-se, porque não me resigno a que a ambos não cheguem os acenos de minha admiração). A esposa tem um rosto bonito. Sorri, plena de jovialidade. Veste-se de maneira discreta, apanágio das mulheres verdadeiramente elegantes. Mantém a cabeça altiva, como num perfil de deusa. Acabam de fazer pequeno lanche e merece sublinhar-se a observância da etiqueta, o chamado bom - tom como o faziam - incapazes de umedecerem, sequer, as pontas das unhas. Em suma, retratavam muito bem a Corporação representada. Comovente a maneira como entretinham os olhos um no outro. Ele, como a reeditar os versos do Neruda: “Gosto de envolvê-la com meus olhos, com meus olhos que nada mais vêem quando a envolvem”... Percebível, claramente percebível, o encantamento e o diálogo carinhoso que mantinham. O distinto colega-de-farda a intervalos olhava para trás, ora à direita, ora à esquerda, num gesto reflexo de permanente vigilância. Submetia-se a esse “desconforto da cabeça mal voltada” - como na descrição pessoana -, pois à missão de proteger a sociedade, se lhe adicionava (com todo o direito de adicionar, viram !?) a missão de proteger a amada. Fato singular: a dureza da profissão que abraçou, não se mostrava inconciliável com os gestos que delicadamente, amorosamente, inexcedivelmente, tributava à esposa. Em determinado momento ele beija o dedo indicador e vai colher microscópica partícula pousada na face da esposa-namorada. Depois, beija-a suavemente, sem aquele despudor com que, hodiernamente, os moços expõem - e aviltam – suas futuras esposas na via pública. Impossível e injusto não admirá-los. Mostram-se dignos um do outro. Merecem-se. E dão, descalculadamente, uma sublime lição de amor-sentimento, de inefável bem-querer. Ao contemplá-los (porque faculdade distinta do simples ver), incoercíveis cogitações assomaram em minha mente: “Estarão de retorno da Operação Golfinho?... Parece um salvavidas!... Uma intempestiva insensível transferência para a Capital te-los-ia obrigado a viverem em lugares distantes?”... E logo, por um desses estranhos mecanismos da memória, intuo que não há funções grandes nem pequenas, apenas funções bem exercidas e funções mal exercidas. E que o amor, como vibração da essência divina, independe das circunstâncias de local e de tempo. Meu ônibus parte. Leva-me em “estado de graça”. Então se me redesenha, com incrível nitidez, minha mãe em desespero, abraçada a meu pai (ex-combatente de 30 e de 32), numa madrugada brumosa e fria, enquanto calçava pressurosamente as perneiras, para coibir desordens nos focos de virulentos inimigos da sociedade. Lembrei-me das mesmas apreensões que, mais tarde, haveria de padecer minha esposa. Hoje, decorridos apenas três dias do pôr-do-sol do último domingo, momento em que agonizavam, em todo mundo - não só nos “bentos cantos dos conventos”- as orações a Nossa Senhora, pedi a ela para que jamais aqueles enamorados se quedassem vencidos. E nesta data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, sinto impor-se, complementarmente, a criação do Dia da Mulher Brigadiana, quer a enquadrada militarmente em nossas fileiras, quer a que se tornou cativa de nossos laços afetivos. É que, o desapego à ostentação, o espírito de renúncia, a busca do amor pelo amor, a resignação a uma vida singela, constituem as mais incisivas de suas virtudes. Socorro-me dos jornais brigadianos, como única forma de fazer chegar a todos e a cada um de nossos soldados (quem sabe ao próprio casal-enamorado), a música daquelas fisionomias que o tempo enrugará, mas não conseguirá silenciar.
Prédio do QCG Está aberta a seleção de trabalhos em verso para poetas/poetisas da Brigada Militar que queiram participar da V Antologia de Poetas Brigadianos da Polost/Apesp. Organizador: Tenente João de Deus Vieira Alves.. antologia@seguranca.org.br.. Em breve: Oficinas Literárias de Prosa e Verso, com renomados escritores. OrganizaVerso ção do Centro Educacional Apesp Apesp. Fiquem atentos! I Salão do Artista Policial. Exposição de artes plásticas, esculturas e artesanato. Coordenação-geral do presidente da Apesp. Agenda Histórica da Brigada Militar 2007. Todo brigadiano deve ter uma. Associação Montenegrina de Escritores, AMES, é presidida pelo Capitão Oscar Bessi Filho, integrante proativo da Apesp. O Cel RR Afonso obteve o 2º lugar no concurso de contos realizado pela Sociedade Escritores de Blumenau em 2006. Além dele, o Sgt Bayerle foi destaque no 7º Habitasul Revelação Literária da Feira do Livro de Porto Alegre.
CIANOMAGENTAAMARELOPRETO
O Major Ordeli Savedra Gomes, lançou o livro Código de Trânsito Brasileiro Comentado que vem a ser uma obra das mais completas em se tratando de trânsito brasileiro. A DE/Apesp parabeniza seu sócio, Soldado Ângelo Marcelo Cúrcio dos Santos, bacharel em Direito pela Uniritter.
O Azimute congratula-se com o 3º Sgt Enídio Eduardo Dias Pereira pela conclusão do CTSP/2006, no 9º BPM. O Caderno Cultural do JCB/Apesp estende os cumprimentos ao Major Julio Cezar Dal Paz Consul, por ter conquistado o merecido título acadêmico de Doutor em Serviço Social pela PUCRS. Com a assunção do Coronel João Baptista da Rosa Filho como Chefe do EMBM EMBM, o Tenente-Coronel Jorge Luiz Agostini Agostini, Mestre em Ciências Criminais Criminais, assumiu o cargo de Diretor do DE, e o Major Pedro Joel Silva da Silva, Mestre em Educação Educação, é o novo Chefe do IPBM. www.recantodasletras.com.br. Excelente espaço virtual para publicação, gratuita, de textos literários e culturais. Participe! Brigada Militar Militar, 169 incansáveis anos de lutas e glórias! Parabéns a seus integrantes, homens e mulheres, que labutam em prol da segurança pública gaúcha! A editora Polost publica seu livro ou trabalho acadêmico. Condições excelentes para servidores da Segurança Pública Pública. Veja a relação de títulos publicados: www.polost.com.br. Informações: polost@seguranca.org.br. Mande suas notícias e trabalhos literários para publicação no Caderno Cultural jcbcultura@seguranca.org.br. bayerle@seguranca.org.br.
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O desenho acima, publicado em janeiro de 1927, na edição número dez da Revista Pindorama, mostra o projeto do prédio do QCG da BM, cuja pedra fundamental foi lançada em 14 de julho de 1927. O engenheiro civil que apresentou o projeto foi o doutor Theóphilo Borges de Barros, dentro de um estilo próprio em que se “sobressae a ordem dorica - de linhas fortes e equilibradas como convém a um quartel. O edifício contém dois torreões, que, na época do projeto, eram destinados à residência do comandante da BM e do assistente do pessoal. Além das dependências normais de um quartel, como alojamentos e locais destinados à guarda de armamento, equipamento e fardamento, eram previstos locais para funcionamento de serralheria, carpintaria, ferraria, marcenaria, alfaiataria, estofaria, depósito, garagens, etc. Para a construção do novo quartel foi necessária a demolição do edifício antigo onde estava instalado o Comando-Geral da Brigada Militar. O edifício ocupava uma área de dois mil metros quadrados e, pelo projeto original, atendia todas as exigências para o funcionamento dos serviços necessários à corporação.
Expediente/ JCB Caderno Cultural Suplemento Cultural do Jornal Correio Brigadiano
Seleção de textos e redação: Cel RR Alberto Afonso Landa Camargo Maj Res Pércio Brasil Álvares Sgt Cláudio Medeiros Bayerle Sgt Luiz Antônio Rodriguez Velasques
Diagramador: Felipe Bornes Samuel Trabalho de imagens: Vera Eledina
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Caderno Cultural do Jornal Correio Brigadiano
Dezembro 2006
Apesp – 20 anos Trabalhando pela cultura na segurança Neste ano de 2006, a Associação PróEditoração à Segurança Pública, popularmente conhecida de nosso público como “APESP”, organização pioneira no apoio e incentivo à produção intelectual e ao desenvolvimento cultural no contexto institucional da segurança pública estadual, está completando seus vinte anos de criação. Ao longo desses vinte anos de atividades somente agora é possível parar para refletir um pouco a respeito das realizações dessa entidade e fazer uma avaliação acerca de seu papel político-institucional e do trabalho desenvolvido nessas duas primeiras décadas, marcadas pelo idealismo, pela renúncia e pela dedicação de seus laboriosos colaboradores, no enfrentamento das dificuldades e vicissitudes características das organizações dedicadas às atividades culturais. Desde os idos de 1985, um grupo de abnegados integrantes da Brigada Militar começava a debater a idéia de fundar uma agremiação cultural genuinamente voltada à editoração da produção intelectual brigadiana. Naqueles dias difíceis de um passado que já começa a se distanciar, nos quais labutavam os pioneiros da idéia inovadora, ocorreu, paradoxalmente, uma manifestação expressa do Comando da Brigada Militar, quando instado a manifestar-se a respeito, opondo-se à idéia da criação de uma entidade voltada à consecução de tais objetivos e cuja denominação envolvia o nome da Brigada Militar. Esse paradoxo, entretanto, era perfeitamente compreensível, pois estávamos vivenciando uma época de intensos movimentos políticos que buscavam implantar a redemocratização do país, depois de vivido um período autoritário de Estado que já se prolongava por dois decênios e cujo cenário futuro era prenhe de dúvidas e temores e, como sabemos, as incertezas fazem com que as pessoas e as instituições acabem agindo sempre com redobradas cautelas, por mais infundados que tais temores possam parecer. Naquele momento histórico, o que transparecia da postura institucional é que o pensamento corporativo levava em consideração, especialmente, a herança histórica brasileira, experimentada desde a década de 1920,
Atual diretoria executiva da Apesp: acima, da esquerda para a direita, Sgt Claudio Bayerle, Cel RR Délbio Vieira. Abaixo, Sgt Luiz Velasques e Maj Res Pércio Álvares segundo a qual muitas organizações culturais haviam-se tornado centros de debate das questões nacionais, propagando focos paralelos de poder, geradores de instabilidades sobre as quais as instituições oficiais não podiam exerceu um controle direto. Apesar de ver seu primeiro intento obstado, perseverou, o grupo originário, na concretização da idéia, que prosseguiu seu desenvolvimento conduzido, agora, pela preocupação de não provocar qualquer forma de instabilidade nas relações da nascente organização cultural com a mais que centenária instituição pública gaúcha que representava a Brigada Militar. Foi assim que a agremiação terminou por focar sua atenção institucional sobre o fomento à produção intelectual no campo institucional da segurança pública, abrangendo, assim, uma multiplicidade de vivências e saberes específicos que transitam nessa área de atividade, não ficando, pois, adstrita ao campo restrito relativo aos temas de polícia militar, como era o seu in-
teresse primacial. Dessa forma, o próprio processo histórico havia-se encarregado de fazer com que todos passassem a vislumbrar, num segundo momento, que estávamos, na verdade, reduzindo nossa própria ação a um campo fragmentário daquele universo muito mais rico e abrangente da complexidade institucional albergada pelo setor. A partir daí, o crescimento vigoroso das atividades da Associação foi inevitável e já no ano de 1987, quando a Brigada Militar comemorava os 150 anos de sua criação a APESP participava, em parceria com a Comissão Literária do Sesquicentenário da BM, sob a chancela de “Editorial Presença”, da co-edição de diversos títulos da “Coleção Sesquicentenário da Brigada Militar”. Esse exitoso trabalho inaugural deveu-se ao pioneirismo, à capacidade e à visão empreendedora do então Major José Hilário Retamozo, renomado poeta brigadiano, que fora designado como Presidente daquela Comissão e, ao mesmo tempo, tinha sido eleito
primeiro Presidente da APESP, já que era um dos principais idealizadores da entidade, juntamente com o grupo que dava sustentação à idéia e trabalhava para a concretização de seus projetos inovadores. Do significativo sucesso alcançado durante a experiência editorial vivida durante os festejos do sesquicentenário, veio a transformação da Comissão Literária, de caráter temporário, em Comissão Editorial da BM, como órgão de caráter permanente na estrutura institucional da Milícia Gaúcha, sendo mantida a parceria editorial com a APESP, da qual resultou a edição de mais de quarenta títulos, retratando os mais diversos temas de interesse profissional e de cultura geral. Hoje, com inúmeras obras editadas, ou em relação às quais influenciou e colaborou decisivamente para que viessem a público, versando sobre temas variados, de interesse tanto das polícias e corpos de bombeiros militares, como das polícias civis, dos serviços penitenciários,
Pércio Brasil Álvares1
de polícia técnico-científica, além de muitos títulos de cultura geral, produzidos pelos escritores que atuam nas instituições de segurança, a APESP é uma organização que cresce e se vê divulgada amplamente na condução da bandeira do ativismo cultural, em um Estado que se destaca no cenário nacional pela produção de uma pujante literatura regional fomentada por inúmeras agremiações literárias, artísticas e culturais. Dentre as realizações mais recentes da APESP ganham destaque as Antologias de Poetas Brigadianos, tradição que está indo, neste ano, rumo à concretização de sua quinta edição, a par da primeira edição da Antologia Poética de Policiais Civis e da Antologia de Contistas Brigadianos, em 2004, dos Princípios Básicos de Atuação Operacional nos Estabelecimentos Penais, em colaboração com a Escola do Serviço Penitenciário e, ainda, as recentes edições da Cronologia Histórica da Polícia Civil no RS e do livro Aspectos da Origem e Evolução da Brigada Militar, neste ano de 2006. Também não poderia deixar de ser feita referência ao Suplemento Cultural do Jornal Correio Brigadiano (o ABC da Segurança Pública), cujas edições circulam encartadas periodicamente no jornal, espalhando-se por todo o Rio Grande do Sul, divulgando as letras e os valores culturais do segmento da segurança pública, já tendo sido alvo de rasgados elogios do público leitor, bem como de pessoas e agremiações que, entrando em contato com esse veículo, surpreenderam-se com o significativo potencial de produção intelectual e artística, aliado a um intenso ativismo cultural que floresceu entre os irmãos de ofício que atuam nas instituições do setor da segurança pública gaúcha. Por tudo o que fez, faz e continuará fazendo pela segurança pública do RS, nada mais justo do que almejarmos vida longa e plena de realizações à APESP, neste ano em que festeja seus florescentes vinte anos. FELICIDADES redobradas à instituição gaúcha que faz acontecer a cultura na segurança.
1 Major da Reserva da Brigada Militar e Secretário da APESP (Gestão 2006-2008).
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Jorge Ribacki
Verlaine Ulharuso de Vasconcellos
Cada livro é um fragmento De uma mente humana Embutida Em minha prateleira Está ali o pensamento Sintetizado em um trabalho gráfico De alguém que pensou, Ao meu inteiro dispor No livro está impresso O teu, o nosso pensamento Do qual somos herdeiros. Os livros estão na prateleira Parados imóveis Pensar que dentro deles pulsa, pulsa o coração de um ser que há tanto tempo conhecemos e a quem nem sempre damos a devida atenção
Editorial No ano em que a Apesp completa 20 anos, estamos apresentando, ao nosso público leitor, o 7º Suplemento Cultural do Jornal Correio Brigadiano – JCB, caderno que teve sua primeira edição em fevereiro de 2003. À época, o Major Pércio Brasil Álvares, então presidente da Apesp, em seu editorial de abertura, atestou que a premissa era a valorização dos servidores da Segurança Pública através da divulgação da produção intelectual, anelo este que continuamos ombreando, inclusive com colegas da Polícia Civil, Polícia Tecnica, Polícia de Trânsito e da Polícia Prisional. Várias idéias e projetos pululam em nossas mentes, muitos já realizados: publicação de livros, realização de saraus, seminários, cursos, concursos, etc. Se o que nos dificulta é o fator financeiro, o que nos motiva sobremaneira é a satisfação do dever cumprido. Alceu Wamosy, Alfredo Jacques, Helio Mariante, José Retamozo e tantos outros renomados literatos brigadianos são os baluartes da causa cultural que ora defendemos alegremente. Agradecemos aos nossos leitores, em especial aos poetas e prosadores, as diversas manifestações de apreço e felicitações recebidas em relação ao caderno cultural. Fatos assim nos motivam cada vez mais a prosseguirmos nessa difícil mas gratificante jornada literária.
Claudio Medeiros Bayerle Presidente da Apesp
Carta chorona do andejo sujo de terra
CIANOMAGENTAAMARELOPRETO
Joaquim Moncks Choro por ti, minha pátria gaúcha, arrinconada na memória, ao ouvir os bordoneios de uma gutural milonga. O berro do boi e o roçar do capim santa-fé solapam o destino andarilho. O tempo de viver anda curto e a andança não é a mesma, aquela de “correr o chinaredo”. Bebo água nas cacimbas do amor à terra e gente brasileiras. Este povaréu miúdo de escolas de saber universal canta o sofrimento da fome. O barro amassado é china rebolcada, lobuna de serenos, chuvas nos corredores. É grossa a sola dos pés e unhas crescem gretadas de pó sobre elas próprias. Estou longe das veredas, grotões de carretas e ventos conhecidos. O minuano e o pampeiro não sopram aqui em São Paulo, o coração motriz do Brasil. Tomo o mate-chimarrão da saudade no canto campechano de Lisandro Amaral, terrunho cantador cuja voz trouxe comigo na mala-de-garupa. A inspiração corre aos pulos nas artérias e veias. A celebrada pátria gaúcha crava bandeiras, lanças ancestrais mortiças de sal e glórias. Amarga é a saudade de ti, meu Rio Grande reiúno. Anseio pelo sol do amanhã, nesta hora em que mastigo o pasto guardado de invernos. Guio e tanjo meus novilhos fugidos. Não há toco de vela pro Negrinho do Pastoreio. Os fetiches se cansam além das fronteiras do Rio Grande. Só a estrela boieira sabe de amores e de liberdade. Não há canseira nem soalheira que afogue os temores de ser. Por isso a vida é um bater de cascos. Os ideais de Pátria não se desgarram. Fogoneiam na vincha sobre a melena ao vento. A tropilha das idéias possui alma e não tem preço. Cincerros tilintam no caminho feito, repontando a tropa dos desejos de amar o que é puro e verdadeiro. E como me faz bem chorar a tua ausência! É amarga a saudade de ti, meu Rio Grande de Deus. E antigos paus-de-fogo, ancestrais fogões votivos, pigarreiam no mate-amargo a baba das vivências.
O correio da segurança
Martin Fierro
Livros
A ausência dos dias Alberto Afonso Landa Camargo Não há mais a suavidade dos dias... Para onde ela foi deixando a saudade Das manhãs outonais, das tardes macias, Das noites claras e suas estrelas?
Amor que dói
A suavidade dos dias Quem sabe se perdeu No tempo, nas mágoas de hoje, Nos sonhos que não se realizaram.
Marisa Burigo
Quem sabe ela sumiu No olhar perdido no vento, No saltitar incerto das folhas Espalhadas pelo chão...
Vazio dentro do peito já fazia tanto tempo que o amor não batia à porta do coração... E, de repente vi, naquele olhar, o amor que há muito deixei de buscar... E agora? Faço o quê? Com esta dor no peito... Com este nó na garganta... querendo perguntar ao tempo... querendo gritar ao vento... Por que ele não veio só?
A ação e a taça Marco Antônio Aguiar A ação do amor Rasga a película E a muralha do mentiroso É destruída O silêncio cria verbo Que a paz sustenta
Aprendizado
A taça cheia Danifica o vinho Mas a taça Está sempre cheia Para aquele que não se embebesse Dos venenos e dos estéreis Que matam a alma.
È o poema mais importante de caráter regionalista da Argentina e também diz respeito a nós e ao Uruguai. O poema nos diz respeito porque fazemos parte de uma tradição cultural estreitamente interligada em função das características geográficas e econômicas e até dos intercâmbios sociais e políticos que nem sempre foram pacíficos. O poema além de circular na Argentina, também é muito importante para nós, visto que fazemos parte de uma cultura ligada à figura do gaúcho. Em 1972 comemorou-se os cem anos do lançamento da primeira parte do poema Martin Fierro, simultaneamente na Argentina e no Brasil. Estas comemorações dão a dimensão da importância deste poema para a literatura gauchesca. Seu autor, José Hernandes, era um homem sempre envolvido em conspirações e conflitos políticos. Pertencia à ala dos rosistas, isto é, federalistas. Quando fez a primeira parte do poema, pretendia fazer uma obra popular e de crítica ao Ministério da Guerra pelo recrutamento forçado dos gaúchos para combater nas frentes de luta contra os índios. Já a primeira e a segunda parte do poema transcenderam a mera apologia política e se transformaram no decorrer dos anos no grande poema sobre o gaúcho e seus sofrimentos nas mãos das autoridades e dos poderosos. Não se tem certeza se a primeira parte foi redigida em Buenos Aires ou em Livramento, Rio Grande do sul, num dos momentos de exílio ou de organização de novas conspirações. O autor era um homem comum que pouco chamou a atenção durante a sua vida, o que tornou difícil precisar sua biografia. Na época em que viveu, ser autor de poemas sobre o gaúcho não era valorizado e ainda pelo fato de ser vinculado ao partido do ditador Rosas, isto trazia mais restrições a sua pessoa. Roberto Mara, em 1972, na cidade de Porto Alegre fez uma manifestação que bem sintetiza o que representa o poema e seu conteúdo para o contexto latino-americano: “Cada vez que una ley es aplicada injustamente nace un
Martin Fierro, un Cruz, un Picardia... Rebelde contra la injusticia, jamás contra el amor. Ni vengador de pecados viejos ni profeta de desajustes.” A. A Gómes del Arroyo diz: “ Martín Fierro foi o inconformado. Este gaúcho andarengo é contestação secular. Decorridos cem anos – ressalvadas as diferenças de época e as peculiaridades ambientais - ainda se afigura viva a luta do homem telúrico, visceralmente honesto, em conflito com as estruturas dominantes. Aí reside o sintonismo universal de Martin Fierro e sua contemporaneidade através de gerações.”
Jorge Luis Borges destaca, como um dos fenômenos mais singulares, a poesia gauchesca, mas ao mesmo tempo enfatiza que a mesma é criação de pessoas cultas e não como parece a primeira vista ser dos próprios gaúchos. E esta situação também ocorre em nosso Estado, onde grande parte da produção é de pessoas cultas que moram na cidade. No Brasil, em especial no Rio Grande do Sul, nós temos algo similar, embora não tenha a divulgação e a importância da obra que estamos falando, que é o poema Antonio Chimango de Ramiro Barcellos. Ele é uma sátira política à pessoa do ex-governador Borges de Medeiros,
sua forma de governar e suas relações com o também ex-governador Julio de Castilhos. Como já falamos, o poema trata das vicissitudes a que passou Martin Fierro com o recrutamento forçado para combater aos índios. Nele, ele narra, na primeira pessoa, a maneira como seus superiores o trataram: o não pagamento dos vencimentos; não recebimento de fardamento; a compulsão de trabalhar graciosamente para os superiores em suas estância e chácaras nos períodos de paz. Narra também a desestruturação de sua família em conseqüência de seu afastamento forçado. Fala sobre sua posterior deserção e os conflitos em que ele matou em um baile um negro, em uma pulperia, um gaúcho provocador e depois sua luta com a ajuda de Cruz com uma patrulha que o queria prender. Também narra o tempo em que ele e Cruz estiveram presos pelos índios. Depois, o poema passa falar sobre a vida sofrida de seus filhos abandonados e o reencontro com Martin Fierro. Por fim, trata da nova separação, por falta de meios para viverem juntos. Como vemos, é a odisséia de um gaúcho que é obrigado a abandonar sua família e seus parcos bens para ir lutar por uma causa que não é sua. Este poema tem uma importância fundamental para a literatura argentina e já foi motivo de vários ensaios e também serviu de ponto inicial para outras obras de ficção como um conto de Jorge Luis Borges. Sua importância na literatura argentina pode ser entendida pelo depoimento de Jorge Luis Borges: ”Minha mãe proibiu a leitura de Martin Fierro pois aquele livro só servia para os desordeiros e colegiais e, além disso nem era sobre gaúchos de verdade. Também este, eu li às escondidas. Seus sentimentos se baseavam no fato de que Hernandes fora um defensor de Rosas, e portanto inimigo de nossos antepassado unitários.” Portanto, ler Martin Fierro é ler uma obra consagrada por intelectuais brasileiros e argentinos e, ao mesmo tempo, ter oportunidade de alcançar uma visão diferente do gaúcho.
Meninos de rua Moisés Silveira de Menezes
Iara Baierle Limpei o meu porão secreto. A alma, esfomeada, alimentei. Retirei, do corpo, o peso e, resoluta, prossegui. Discerni o coercitivo do coeso e a vida pulsou novamente, enfim, liberta do medo.
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Histórias sonhadas
A mulher e a casa Pércio Brasil
Camponez Frota O sol “eu divino” A lua, meu bem. O dia sorrindo A noite dormindo Acalento do corpo E da alma também. O renascer das noitadas Das noites geladas São histórias sonhadas... O meu corpo e tua alma Amantes no coito Fazendo neném.
Na rua elegante, já molhada pela chuva. Solitária está a casa, embicada na esquina. Parece um veleiro que flutua, Ancorado no aconchego da marina. As primeiras raias de sol Não deixam transparecer, perdida e nua, Daqueles umbrais em arrebol, A silhueta grácil da Dama desta triste rua... Senhora dos meus enlevos, Abandone seus segredos E apareça no portal! Expondo, sem temer desvelos, Teu vulto dócil que atende aos apelos Dos desvarios deste amor carnal!
De onde vem esses meninos mal vistos, maltrapilhos, mal amados, mal vividos, desnutridos, deserdados, destituídos, desvalidos que perambulam nas vielas dos guetos pobres, das vilas pobres? esses meninos de rua olhar tristonho,
andar gingado percorrendo barulhentos, sorridentes, desvairados as ruas do centro reduto intocável da elite vistosa. de onde vem esses meninos que dormitam sobre folhas desfolhadas de jornal sobre os tetos das marquises
nos colos das meretrizes ao largo das diretrizes que ignoram cicatrizes da sociedade ferida. Não virão esses meninos do medo do olhar armado pelo medo que deles temos futuro em ocaso da Grande Nação.
Jorge Bengochea Nestes tempos conturbados De críticas transformações Surgiste como um ideal Informar à opinião pública E valorizar o agente policial
Eternizando seus atores Com o louvor que merecem
És um portal das letras, Veículo na figura de jornal, Onde publica a herança Produzida pelos irmãos de ofício Trabalhadores na segurança Façanhas e heroísmos Solidariedade, empenho e valores Que as glórias reconhecem
Estandarte e vós Destes heróis da sociedade Que escolheram como sina Prestar serviço à comunidade Arriscando a própria vida Andejando de forma gratuita Para quem quiser ler Fazes um trabalho espartano Que suas páginas transmitem Ó, meu Correio Brigadiano!
Democracia José Hilário Ajalla Retamozo Na esquina, a Democracia - menina-moça, menina quer crescer, ver a vida do povo com liberdade, olha espantada uma foice com ódios fundos brandida, ceifar uma vida moça... Olha e não crê! Nessa esquina não pode a violência nunca ser a fúria que destrói a própria democracia, a foice que vidas trunca, fere consciências e dói. A rosa rubra de sangue brota do asfalto tão rubra que vai ficar sempre assim - eterna, viva a centelha vertendo a chama vermelha da dor que respinga em mim. Respinga em todos - é o sangue do humilde, nobre soldado que no serviço tombou. Democracia - a menina - condena a mão assassina e a foice que o degolou.
Noite fria II Charles de Jesus Noite fria de abril Onde fico pensando se alguém Já se descobriu Também começo a pensar Se alguém já sorriu
E hoje vejo apenas Independente do frio; Que tudo aconteceu...
Em ver que outro ser Que não tinha nem o que escrever Pensou e agiu, Tão logo que se descobriu
Pelo simples passar deslizante Da caneta azul anil Nesta folha de papel Pode ser criada Tão linda poesia.
Mein Söhne (für Felipe und Guilherme) Claudio Bayerle Amor, barriga, hospital casa, creche, escola chuva, pipoca, gibi sol, pitanga, pandorga férias, praia, bicicleta lanhouse, violão e gurias barzinho, balada, casório Amor, barriga, hospital...
Pág 2 - Dezembro 2006
Ano III - Nº 7
JCB Cultura amcurcio@yahoo.com.br
Pág 3 - Dezembro 2006
Jorge Ribacki
Verlaine Ulharuso de Vasconcellos
Cada livro é um fragmento De uma mente humana Embutida Em minha prateleira Está ali o pensamento Sintetizado em um trabalho gráfico De alguém que pensou, Ao meu inteiro dispor No livro está impresso O teu, o nosso pensamento Do qual somos herdeiros. Os livros estão na prateleira Parados imóveis Pensar que dentro deles pulsa, pulsa o coração de um ser que há tanto tempo conhecemos e a quem nem sempre damos a devida atenção
Editorial No ano em que a Apesp completa 20 anos, estamos apresentando, ao nosso público leitor, o 7º Suplemento Cultural do Jornal Correio Brigadiano – JCB, caderno que teve sua primeira edição em fevereiro de 2003. À época, o Major Pércio Brasil Álvares, então presidente da Apesp, em seu editorial de abertura, atestou que a premissa era a valorização dos servidores da Segurança Pública através da divulgação da produção intelectual, anelo este que continuamos ombreando, inclusive com colegas da Polícia Civil, Polícia Tecnica, Polícia de Trânsito e da Polícia Prisional. Várias idéias e projetos pululam em nossas mentes, muitos já realizados: publicação de livros, realização de saraus, seminários, cursos, concursos, etc. Se o que nos dificulta é o fator financeiro, o que nos motiva sobremaneira é a satisfação do dever cumprido. Alceu Wamosy, Alfredo Jacques, Helio Mariante, José Retamozo e tantos outros renomados literatos brigadianos são os baluartes da causa cultural que ora defendemos alegremente. Agradecemos aos nossos leitores, em especial aos poetas e prosadores, as diversas manifestações de apreço e felicitações recebidas em relação ao caderno cultural. Fatos assim nos motivam cada vez mais a prosseguirmos nessa difícil mas gratificante jornada literária.
Claudio Medeiros Bayerle Presidente da Apesp
Carta chorona do andejo sujo de terra
CIANOMAGENTAAMARELOPRETO
Joaquim Moncks Choro por ti, minha pátria gaúcha, arrinconada na memória, ao ouvir os bordoneios de uma gutural milonga. O berro do boi e o roçar do capim santa-fé solapam o destino andarilho. O tempo de viver anda curto e a andança não é a mesma, aquela de “correr o chinaredo”. Bebo água nas cacimbas do amor à terra e gente brasileiras. Este povaréu miúdo de escolas de saber universal canta o sofrimento da fome. O barro amassado é china rebolcada, lobuna de serenos, chuvas nos corredores. É grossa a sola dos pés e unhas crescem gretadas de pó sobre elas próprias. Estou longe das veredas, grotões de carretas e ventos conhecidos. O minuano e o pampeiro não sopram aqui em São Paulo, o coração motriz do Brasil. Tomo o mate-chimarrão da saudade no canto campechano de Lisandro Amaral, terrunho cantador cuja voz trouxe comigo na mala-de-garupa. A inspiração corre aos pulos nas artérias e veias. A celebrada pátria gaúcha crava bandeiras, lanças ancestrais mortiças de sal e glórias. Amarga é a saudade de ti, meu Rio Grande reiúno. Anseio pelo sol do amanhã, nesta hora em que mastigo o pasto guardado de invernos. Guio e tanjo meus novilhos fugidos. Não há toco de vela pro Negrinho do Pastoreio. Os fetiches se cansam além das fronteiras do Rio Grande. Só a estrela boieira sabe de amores e de liberdade. Não há canseira nem soalheira que afogue os temores de ser. Por isso a vida é um bater de cascos. Os ideais de Pátria não se desgarram. Fogoneiam na vincha sobre a melena ao vento. A tropilha das idéias possui alma e não tem preço. Cincerros tilintam no caminho feito, repontando a tropa dos desejos de amar o que é puro e verdadeiro. E como me faz bem chorar a tua ausência! É amarga a saudade de ti, meu Rio Grande de Deus. E antigos paus-de-fogo, ancestrais fogões votivos, pigarreiam no mate-amargo a baba das vivências.
O correio da segurança
Martin Fierro
Livros
A ausência dos dias Alberto Afonso Landa Camargo Não há mais a suavidade dos dias... Para onde ela foi deixando a saudade Das manhãs outonais, das tardes macias, Das noites claras e suas estrelas?
Amor que dói
A suavidade dos dias Quem sabe se perdeu No tempo, nas mágoas de hoje, Nos sonhos que não se realizaram.
Marisa Burigo
Quem sabe ela sumiu No olhar perdido no vento, No saltitar incerto das folhas Espalhadas pelo chão...
Vazio dentro do peito já fazia tanto tempo que o amor não batia à porta do coração... E, de repente vi, naquele olhar, o amor que há muito deixei de buscar... E agora? Faço o quê? Com esta dor no peito... Com este nó na garganta... querendo perguntar ao tempo... querendo gritar ao vento... Por que ele não veio só?
A ação e a taça Marco Antônio Aguiar A ação do amor Rasga a película E a muralha do mentiroso É destruída O silêncio cria verbo Que a paz sustenta
Aprendizado
A taça cheia Danifica o vinho Mas a taça Está sempre cheia Para aquele que não se embebesse Dos venenos e dos estéreis Que matam a alma.
È o poema mais importante de caráter regionalista da Argentina e também diz respeito a nós e ao Uruguai. O poema nos diz respeito porque fazemos parte de uma tradição cultural estreitamente interligada em função das características geográficas e econômicas e até dos intercâmbios sociais e políticos que nem sempre foram pacíficos. O poema além de circular na Argentina, também é muito importante para nós, visto que fazemos parte de uma cultura ligada à figura do gaúcho. Em 1972 comemorou-se os cem anos do lançamento da primeira parte do poema Martin Fierro, simultaneamente na Argentina e no Brasil. Estas comemorações dão a dimensão da importância deste poema para a literatura gauchesca. Seu autor, José Hernandes, era um homem sempre envolvido em conspirações e conflitos políticos. Pertencia à ala dos rosistas, isto é, federalistas. Quando fez a primeira parte do poema, pretendia fazer uma obra popular e de crítica ao Ministério da Guerra pelo recrutamento forçado dos gaúchos para combater nas frentes de luta contra os índios. Já a primeira e a segunda parte do poema transcenderam a mera apologia política e se transformaram no decorrer dos anos no grande poema sobre o gaúcho e seus sofrimentos nas mãos das autoridades e dos poderosos. Não se tem certeza se a primeira parte foi redigida em Buenos Aires ou em Livramento, Rio Grande do sul, num dos momentos de exílio ou de organização de novas conspirações. O autor era um homem comum que pouco chamou a atenção durante a sua vida, o que tornou difícil precisar sua biografia. Na época em que viveu, ser autor de poemas sobre o gaúcho não era valorizado e ainda pelo fato de ser vinculado ao partido do ditador Rosas, isto trazia mais restrições a sua pessoa. Roberto Mara, em 1972, na cidade de Porto Alegre fez uma manifestação que bem sintetiza o que representa o poema e seu conteúdo para o contexto latino-americano: “Cada vez que una ley es aplicada injustamente nace un
Martin Fierro, un Cruz, un Picardia... Rebelde contra la injusticia, jamás contra el amor. Ni vengador de pecados viejos ni profeta de desajustes.” A. A Gómes del Arroyo diz: “ Martín Fierro foi o inconformado. Este gaúcho andarengo é contestação secular. Decorridos cem anos – ressalvadas as diferenças de época e as peculiaridades ambientais - ainda se afigura viva a luta do homem telúrico, visceralmente honesto, em conflito com as estruturas dominantes. Aí reside o sintonismo universal de Martin Fierro e sua contemporaneidade através de gerações.”
Jorge Luis Borges destaca, como um dos fenômenos mais singulares, a poesia gauchesca, mas ao mesmo tempo enfatiza que a mesma é criação de pessoas cultas e não como parece a primeira vista ser dos próprios gaúchos. E esta situação também ocorre em nosso Estado, onde grande parte da produção é de pessoas cultas que moram na cidade. No Brasil, em especial no Rio Grande do Sul, nós temos algo similar, embora não tenha a divulgação e a importância da obra que estamos falando, que é o poema Antonio Chimango de Ramiro Barcellos. Ele é uma sátira política à pessoa do ex-governador Borges de Medeiros,
sua forma de governar e suas relações com o também ex-governador Julio de Castilhos. Como já falamos, o poema trata das vicissitudes a que passou Martin Fierro com o recrutamento forçado para combater aos índios. Nele, ele narra, na primeira pessoa, a maneira como seus superiores o trataram: o não pagamento dos vencimentos; não recebimento de fardamento; a compulsão de trabalhar graciosamente para os superiores em suas estância e chácaras nos períodos de paz. Narra também a desestruturação de sua família em conseqüência de seu afastamento forçado. Fala sobre sua posterior deserção e os conflitos em que ele matou em um baile um negro, em uma pulperia, um gaúcho provocador e depois sua luta com a ajuda de Cruz com uma patrulha que o queria prender. Também narra o tempo em que ele e Cruz estiveram presos pelos índios. Depois, o poema passa falar sobre a vida sofrida de seus filhos abandonados e o reencontro com Martin Fierro. Por fim, trata da nova separação, por falta de meios para viverem juntos. Como vemos, é a odisséia de um gaúcho que é obrigado a abandonar sua família e seus parcos bens para ir lutar por uma causa que não é sua. Este poema tem uma importância fundamental para a literatura argentina e já foi motivo de vários ensaios e também serviu de ponto inicial para outras obras de ficção como um conto de Jorge Luis Borges. Sua importância na literatura argentina pode ser entendida pelo depoimento de Jorge Luis Borges: ”Minha mãe proibiu a leitura de Martin Fierro pois aquele livro só servia para os desordeiros e colegiais e, além disso nem era sobre gaúchos de verdade. Também este, eu li às escondidas. Seus sentimentos se baseavam no fato de que Hernandes fora um defensor de Rosas, e portanto inimigo de nossos antepassado unitários.” Portanto, ler Martin Fierro é ler uma obra consagrada por intelectuais brasileiros e argentinos e, ao mesmo tempo, ter oportunidade de alcançar uma visão diferente do gaúcho.
Meninos de rua Moisés Silveira de Menezes
Iara Baierle Limpei o meu porão secreto. A alma, esfomeada, alimentei. Retirei, do corpo, o peso e, resoluta, prossegui. Discerni o coercitivo do coeso e a vida pulsou novamente, enfim, liberta do medo.
Ano III - Nº 7
JCB Cultura
Histórias sonhadas
A mulher e a casa Pércio Brasil
Camponez Frota O sol “eu divino” A lua, meu bem. O dia sorrindo A noite dormindo Acalento do corpo E da alma também. O renascer das noitadas Das noites geladas São histórias sonhadas... O meu corpo e tua alma Amantes no coito Fazendo neném.
Na rua elegante, já molhada pela chuva. Solitária está a casa, embicada na esquina. Parece um veleiro que flutua, Ancorado no aconchego da marina. As primeiras raias de sol Não deixam transparecer, perdida e nua, Daqueles umbrais em arrebol, A silhueta grácil da Dama desta triste rua... Senhora dos meus enlevos, Abandone seus segredos E apareça no portal! Expondo, sem temer desvelos, Teu vulto dócil que atende aos apelos Dos desvarios deste amor carnal!
De onde vem esses meninos mal vistos, maltrapilhos, mal amados, mal vividos, desnutridos, deserdados, destituídos, desvalidos que perambulam nas vielas dos guetos pobres, das vilas pobres? esses meninos de rua olhar tristonho,
andar gingado percorrendo barulhentos, sorridentes, desvairados as ruas do centro reduto intocável da elite vistosa. de onde vem esses meninos que dormitam sobre folhas desfolhadas de jornal sobre os tetos das marquises
nos colos das meretrizes ao largo das diretrizes que ignoram cicatrizes da sociedade ferida. Não virão esses meninos do medo do olhar armado pelo medo que deles temos futuro em ocaso da Grande Nação.
Jorge Bengochea Nestes tempos conturbados De críticas transformações Surgiste como um ideal Informar à opinião pública E valorizar o agente policial
Eternizando seus atores Com o louvor que merecem
És um portal das letras, Veículo na figura de jornal, Onde publica a herança Produzida pelos irmãos de ofício Trabalhadores na segurança Façanhas e heroísmos Solidariedade, empenho e valores Que as glórias reconhecem
Estandarte e vós Destes heróis da sociedade Que escolheram como sina Prestar serviço à comunidade Arriscando a própria vida Andejando de forma gratuita Para quem quiser ler Fazes um trabalho espartano Que suas páginas transmitem Ó, meu Correio Brigadiano!
Democracia José Hilário Ajalla Retamozo Na esquina, a Democracia - menina-moça, menina quer crescer, ver a vida do povo com liberdade, olha espantada uma foice com ódios fundos brandida, ceifar uma vida moça... Olha e não crê! Nessa esquina não pode a violência nunca ser a fúria que destrói a própria democracia, a foice que vidas trunca, fere consciências e dói. A rosa rubra de sangue brota do asfalto tão rubra que vai ficar sempre assim - eterna, viva a centelha vertendo a chama vermelha da dor que respinga em mim. Respinga em todos - é o sangue do humilde, nobre soldado que no serviço tombou. Democracia - a menina - condena a mão assassina e a foice que o degolou.
Noite fria II Charles de Jesus Noite fria de abril Onde fico pensando se alguém Já se descobriu Também começo a pensar Se alguém já sorriu
E hoje vejo apenas Independente do frio; Que tudo aconteceu...
Em ver que outro ser Que não tinha nem o que escrever Pensou e agiu, Tão logo que se descobriu
Pelo simples passar deslizante Da caneta azul anil Nesta folha de papel Pode ser criada Tão linda poesia.
Mein Söhne (für Felipe und Guilherme) Claudio Bayerle Amor, barriga, hospital casa, creche, escola chuva, pipoca, gibi sol, pitanga, pandorga férias, praia, bicicleta lanhouse, violão e gurias barzinho, balada, casório Amor, barriga, hospital...
JCB Cultura
Pág 4 - Dezembro 2006
Crônica Policial A prostituta que fazia ponto na esquina da minha rua foi morta, há quatro dias, por um cabo da Brigada Militar. Quem me informa são os jornais da manhã. Na minha idade e morando só, raros são os prazeres que ainda restam. Portanto devem ser usufruídos até as últimas conseqüências. Este é um deles: esmiuçar os jornais do dia, especialmente a crônica policial, tarefa que inicio à hora do café e que me toma quase o dia inteiro. Outro é polir o meu revólver calibre vinte e dois, pois quem mora só precisa estar prevenido e uma arma, que não é cuidada pode falhar no momento exato. Outro ainda, é ficar à janela à noite, olhando a rua, razão por que conhecia a moça de vista, já que fazia ponto na esquina e eu podia livremente observá-la. Diz a notícia: “A moça, de trinta e dois anos, tinha por nome Maria Amália dos Santos, mas atendia pela alcunha de Bernadete. Junto ao corpo foi encontrada a bolsa que estava fechada, não sendo roubo, portanto, o motivo do crime. A bolsa continha um estojo de pintura, um lenço vermelho, um tubo de sedativo com apenas dois comprimidos, uma escova de cabelo, uma carteira de saúde, algumas moedas e um santinho com dedicatória: para Bernadete, de-
vota do Padre Réus, com a minha eterna amizade, Leci. Segundo testemunho de um senhor idoso que estava à janela de sua casa, a vinte metros da esquina, na hora do crime, a moça estava parada, como de hábito, quando o Cabo se aproximou e disparou dois tiros pelas costas, à distância. Afirma a testemunha que a moça, antes de cair, viu o criminoso e gemeu: “Me mataste, meu amor”. Ato contínuo, tombou de bruços, pondo sangue pela boca. Afirma ainda que o Cabo, aparentemente arrependido do tresloucado gesto, correu, ajoelhou-se ao lado dela e beijou-a no rosto, dizendo: “Que foi que eu fiz!” Segundo ainda notícias da imprensa, o Cabo, de nome Anselmo, tem vinte e oito anos de idade, é casado e pai de duas meninas, mantendo, há alguns meses, um romance com Bernadete, a quem conheceu numa casa noturna da cidade baixa, onde fora dar vistoria. Em declarações à polícia, o Cabo Anselmo afirmou que não matou a moça; que realmente fora ao seu encontro, mas que antes de chegar perto ouviu dois disparos e viu que o corpo dela rodopiava e caía. Correu e ainda ouviu suas últimas palavras: “Me mataram, meu amor!”, e que nessa
O jovem casal Carlos Carvalho
Paulo F. M. Pacheco
ocasião teria beijado o rosto da vítima e dito: “Que foi que te fizeram?” Continua a notícia: “A arma do crime não foi encontrada, motivo por que não foi lavrado o flagrante. A polícia suspeita que o Cabo Anselmo a tenha jogado no mangue próximo, mas as buscas resultaram infrutíferas. Ainda assim, foi decretada a prisão preventiva, devendo o Cabo Anselmo aguardar na cadeia o julgamento”. Esgotadas as notícias, passo ao meu segundo maior prazer: e enquanto limpo caprichosamente o meu revólver calibre vinte e dois, fico pensando na pobre moça que, pela profissão, não seria mulher de um homem só, concluindo que o Cabo deve ser realmente o assassino, já que era o único passante na rua àquela hora, segundo a testemunha, e que o ciúme teria sido o motivo do crime. É verdade que da janela da minha casa, por exemplo, que fica a vinte metros da esquina, alguém poderia ter atirado na moça, que se oferecia à noite como alvo propício. Mas quem atiraria numa prostituta que só conhecia de vista e sem motivo aparente? A não ser, é claro, que o fizesse pelo puro e inenarrável prazer de matar.
Hora crepuscular de domingo – 5/3/2006 – exatamente 18h25 min, momento em que as pessoas de temperamento melancólico tornam-se mais vulneráveis, propensas a desmanchos interiores, a íntimos enlevos. Já instalado no ônibus do BOX n° 43 da Estação Rodoviária de Porto Alegre, passo a observar um jovem casal na iminência de embarcar. Sentados face a face, frente à bagagem volumosa, dispõem-se a enfrentar longa viagem (ou será que padecem a mágoa de breve forçado afastamento?). Natural me parecer ser, que passem despercebidos ante a multidão tumultuária e rumorosa da estação, para a qual parecem devolver a mesma indiferença afetiva. Foi a crônica empatia com a farda brigadiana que me levou a percebê-los. O soldado e a esposa - como sinalizam as alianças na mão esquerda – estão a prodigalizar, em meio àquele desvairamento coletivo, contagiante cena de ternura e beleza. Destacam-se principalmente pela distinção. Sim, porque a beleza, quando desacompanhada da distinção, roça à vulgaridade. Ele enverga singelo, mas impecável fardamento de instrução. A relativa distância não me permite ler o nome apenso do lado esquerdo da camisa-de-campanha, tampouco o brasão da Unidade a que pertence. Porta revólver e, no cinto, munição suplementar. Seu rosto é claro, os lábios finos, cabelos pretos, lisos. Apesar da idade, já esboça incipiente calvície na região occipital. No lado direito da camisa-de-instrução ou de combate, ostenta pequeno distintivo impresso em azul (este detalhamento excessivo justifica-se, porque não me resigno a que a ambos não cheguem os acenos de minha admiração). A esposa tem um rosto bonito. Sorri, plena de jovialidade. Veste-se de maneira discreta, apanágio das mulheres verdadeiramente elegantes. Mantém a cabeça altiva, como num perfil de deusa. Acabam de fazer pequeno lanche e merece sublinhar-se a observância da etiqueta, o chamado bom - tom como o faziam - incapazes de umedecerem, sequer, as pontas das unhas. Em suma, retratavam muito bem a Corporação representada. Comovente a maneira como entretinham os olhos um no outro. Ele, como a reeditar os versos do Neruda: “Gosto de envolvê-la com meus olhos, com meus olhos que nada mais vêem quando a envolvem”... Percebível, claramente percebível, o encantamento e o diálogo carinhoso que mantinham. O distinto colega-de-farda a intervalos olhava para trás, ora à direita, ora à esquerda, num gesto reflexo de permanente vigilância. Submetia-se a esse “desconforto da cabeça mal voltada” - como na descrição pessoana -, pois à missão de proteger a sociedade, se lhe adicionava (com todo o direito de adicionar, viram !?) a missão de proteger a amada. Fato singular: a dureza da profissão que abraçou, não se mostrava inconciliável com os gestos que delicadamente, amorosamente, inexcedivelmente, tributava à esposa. Em determinado momento ele beija o dedo indicador e vai colher microscópica partícula pousada na face da esposa-namorada. Depois, beija-a suavemente, sem aquele despudor com que, hodiernamente, os moços expõem - e aviltam – suas futuras esposas na via pública. Impossível e injusto não admirá-los. Mostram-se dignos um do outro. Merecem-se. E dão, descalculadamente, uma sublime lição de amor-sentimento, de inefável bem-querer. Ao contemplá-los (porque faculdade distinta do simples ver), incoercíveis cogitações assomaram em minha mente: “Estarão de retorno da Operação Golfinho?... Parece um salvavidas!... Uma intempestiva insensível transferência para a Capital te-los-ia obrigado a viverem em lugares distantes?”... E logo, por um desses estranhos mecanismos da memória, intuo que não há funções grandes nem pequenas, apenas funções bem exercidas e funções mal exercidas. E que o amor, como vibração da essência divina, independe das circunstâncias de local e de tempo. Meu ônibus parte. Leva-me em “estado de graça”. Então se me redesenha, com incrível nitidez, minha mãe em desespero, abraçada a meu pai (ex-combatente de 30 e de 32), numa madrugada brumosa e fria, enquanto calçava pressurosamente as perneiras, para coibir desordens nos focos de virulentos inimigos da sociedade. Lembrei-me das mesmas apreensões que, mais tarde, haveria de padecer minha esposa. Hoje, decorridos apenas três dias do pôr-do-sol do último domingo, momento em que agonizavam, em todo mundo - não só nos “bentos cantos dos conventos”- as orações a Nossa Senhora, pedi a ela para que jamais aqueles enamorados se quedassem vencidos. E nesta data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, sinto impor-se, complementarmente, a criação do Dia da Mulher Brigadiana, quer a enquadrada militarmente em nossas fileiras, quer a que se tornou cativa de nossos laços afetivos. É que, o desapego à ostentação, o espírito de renúncia, a busca do amor pelo amor, a resignação a uma vida singela, constituem as mais incisivas de suas virtudes. Socorro-me dos jornais brigadianos, como única forma de fazer chegar a todos e a cada um de nossos soldados (quem sabe ao próprio casal-enamorado), a música daquelas fisionomias que o tempo enrugará, mas não conseguirá silenciar.
Prédio do QCG Está aberta a seleção de trabalhos em verso para poetas/poetisas da Brigada Militar que queiram participar da V Antologia de Poetas Brigadianos da Polost/Apesp. Organizador: Tenente João de Deus Vieira Alves.. antologia@seguranca.org.br.. Em breve: Oficinas Literárias de Prosa e Verso, com renomados escritores. OrganizaVerso ção do Centro Educacional Apesp Apesp. Fiquem atentos! I Salão do Artista Policial. Exposição de artes plásticas, esculturas e artesanato. Coordenação-geral do presidente da Apesp. Agenda Histórica da Brigada Militar 2007. Todo brigadiano deve ter uma. Associação Montenegrina de Escritores, AMES, é presidida pelo Capitão Oscar Bessi Filho, integrante proativo da Apesp. O Cel RR Afonso obteve o 2º lugar no concurso de contos realizado pela Sociedade Escritores de Blumenau em 2006. Além dele, o Sgt Bayerle foi destaque no 7º Habitasul Revelação Literária da Feira do Livro de Porto Alegre.
CIANOMAGENTAAMARELOPRETO
O Major Ordeli Savedra Gomes, lançou o livro Código de Trânsito Brasileiro Comentado que vem a ser uma obra das mais completas em se tratando de trânsito brasileiro. A DE/Apesp parabeniza seu sócio, Soldado Ângelo Marcelo Cúrcio dos Santos, bacharel em Direito pela Uniritter.
O Azimute congratula-se com o 3º Sgt Enídio Eduardo Dias Pereira pela conclusão do CTSP/2006, no 9º BPM. O Caderno Cultural do JCB/Apesp estende os cumprimentos ao Major Julio Cezar Dal Paz Consul, por ter conquistado o merecido título acadêmico de Doutor em Serviço Social pela PUCRS. Com a assunção do Coronel João Baptista da Rosa Filho como Chefe do EMBM EMBM, o Tenente-Coronel Jorge Luiz Agostini Agostini, Mestre em Ciências Criminais Criminais, assumiu o cargo de Diretor do DE, e o Major Pedro Joel Silva da Silva, Mestre em Educação Educação, é o novo Chefe do IPBM. www.recantodasletras.com.br. Excelente espaço virtual para publicação, gratuita, de textos literários e culturais. Participe! Brigada Militar Militar, 169 incansáveis anos de lutas e glórias! Parabéns a seus integrantes, homens e mulheres, que labutam em prol da segurança pública gaúcha! A editora Polost publica seu livro ou trabalho acadêmico. Condições excelentes para servidores da Segurança Pública Pública. Veja a relação de títulos publicados: www.polost.com.br. Informações: polost@seguranca.org.br. Mande suas notícias e trabalhos literários para publicação no Caderno Cultural jcbcultura@seguranca.org.br. bayerle@seguranca.org.br.
Ano III - Nº 7
O desenho acima, publicado em janeiro de 1927, na edição número dez da Revista Pindorama, mostra o projeto do prédio do QCG da BM, cuja pedra fundamental foi lançada em 14 de julho de 1927. O engenheiro civil que apresentou o projeto foi o doutor Theóphilo Borges de Barros, dentro de um estilo próprio em que se “sobressae a ordem dorica - de linhas fortes e equilibradas como convém a um quartel. O edifício contém dois torreões, que, na época do projeto, eram destinados à residência do comandante da BM e do assistente do pessoal. Além das dependências normais de um quartel, como alojamentos e locais destinados à guarda de armamento, equipamento e fardamento, eram previstos locais para funcionamento de serralheria, carpintaria, ferraria, marcenaria, alfaiataria, estofaria, depósito, garagens, etc. Para a construção do novo quartel foi necessária a demolição do edifício antigo onde estava instalado o Comando-Geral da Brigada Militar. O edifício ocupava uma área de dois mil metros quadrados e, pelo projeto original, atendia todas as exigências para o funcionamento dos serviços necessários à corporação.
Expediente/ JCB Caderno Cultural Suplemento Cultural do Jornal Correio Brigadiano
Seleção de textos e redação: Cel RR Alberto Afonso Landa Camargo Maj Res Pércio Brasil Álvares Sgt Cláudio Medeiros Bayerle Sgt Luiz Antônio Rodriguez Velasques
Diagramador: Felipe Bornes Samuel Trabalho de imagens: Vera Eledina
Ano III - Nº 7
Caderno Cultural do Jornal Correio Brigadiano
Dezembro 2006
Apesp – 20 anos Trabalhando pela cultura na segurança Neste ano de 2006, a Associação PróEditoração à Segurança Pública, popularmente conhecida de nosso público como “APESP”, organização pioneira no apoio e incentivo à produção intelectual e ao desenvolvimento cultural no contexto institucional da segurança pública estadual, está completando seus vinte anos de criação. Ao longo desses vinte anos de atividades somente agora é possível parar para refletir um pouco a respeito das realizações dessa entidade e fazer uma avaliação acerca de seu papel político-institucional e do trabalho desenvolvido nessas duas primeiras décadas, marcadas pelo idealismo, pela renúncia e pela dedicação de seus laboriosos colaboradores, no enfrentamento das dificuldades e vicissitudes características das organizações dedicadas às atividades culturais. Desde os idos de 1985, um grupo de abnegados integrantes da Brigada Militar começava a debater a idéia de fundar uma agremiação cultural genuinamente voltada à editoração da produção intelectual brigadiana. Naqueles dias difíceis de um passado que já começa a se distanciar, nos quais labutavam os pioneiros da idéia inovadora, ocorreu, paradoxalmente, uma manifestação expressa do Comando da Brigada Militar, quando instado a manifestar-se a respeito, opondo-se à idéia da criação de uma entidade voltada à consecução de tais objetivos e cuja denominação envolvia o nome da Brigada Militar. Esse paradoxo, entretanto, era perfeitamente compreensível, pois estávamos vivenciando uma época de intensos movimentos políticos que buscavam implantar a redemocratização do país, depois de vivido um período autoritário de Estado que já se prolongava por dois decênios e cujo cenário futuro era prenhe de dúvidas e temores e, como sabemos, as incertezas fazem com que as pessoas e as instituições acabem agindo sempre com redobradas cautelas, por mais infundados que tais temores possam parecer. Naquele momento histórico, o que transparecia da postura institucional é que o pensamento corporativo levava em consideração, especialmente, a herança histórica brasileira, experimentada desde a década de 1920,
Atual diretoria executiva da Apesp: acima, da esquerda para a direita, Sgt Claudio Bayerle, Cel RR Délbio Vieira. Abaixo, Sgt Luiz Velasques e Maj Res Pércio Álvares segundo a qual muitas organizações culturais haviam-se tornado centros de debate das questões nacionais, propagando focos paralelos de poder, geradores de instabilidades sobre as quais as instituições oficiais não podiam exerceu um controle direto. Apesar de ver seu primeiro intento obstado, perseverou, o grupo originário, na concretização da idéia, que prosseguiu seu desenvolvimento conduzido, agora, pela preocupação de não provocar qualquer forma de instabilidade nas relações da nascente organização cultural com a mais que centenária instituição pública gaúcha que representava a Brigada Militar. Foi assim que a agremiação terminou por focar sua atenção institucional sobre o fomento à produção intelectual no campo institucional da segurança pública, abrangendo, assim, uma multiplicidade de vivências e saberes específicos que transitam nessa área de atividade, não ficando, pois, adstrita ao campo restrito relativo aos temas de polícia militar, como era o seu in-
teresse primacial. Dessa forma, o próprio processo histórico havia-se encarregado de fazer com que todos passassem a vislumbrar, num segundo momento, que estávamos, na verdade, reduzindo nossa própria ação a um campo fragmentário daquele universo muito mais rico e abrangente da complexidade institucional albergada pelo setor. A partir daí, o crescimento vigoroso das atividades da Associação foi inevitável e já no ano de 1987, quando a Brigada Militar comemorava os 150 anos de sua criação a APESP participava, em parceria com a Comissão Literária do Sesquicentenário da BM, sob a chancela de “Editorial Presença”, da co-edição de diversos títulos da “Coleção Sesquicentenário da Brigada Militar”. Esse exitoso trabalho inaugural deveu-se ao pioneirismo, à capacidade e à visão empreendedora do então Major José Hilário Retamozo, renomado poeta brigadiano, que fora designado como Presidente daquela Comissão e, ao mesmo tempo, tinha sido eleito
primeiro Presidente da APESP, já que era um dos principais idealizadores da entidade, juntamente com o grupo que dava sustentação à idéia e trabalhava para a concretização de seus projetos inovadores. Do significativo sucesso alcançado durante a experiência editorial vivida durante os festejos do sesquicentenário, veio a transformação da Comissão Literária, de caráter temporário, em Comissão Editorial da BM, como órgão de caráter permanente na estrutura institucional da Milícia Gaúcha, sendo mantida a parceria editorial com a APESP, da qual resultou a edição de mais de quarenta títulos, retratando os mais diversos temas de interesse profissional e de cultura geral. Hoje, com inúmeras obras editadas, ou em relação às quais influenciou e colaborou decisivamente para que viessem a público, versando sobre temas variados, de interesse tanto das polícias e corpos de bombeiros militares, como das polícias civis, dos serviços penitenciários,
Pércio Brasil Álvares1
de polícia técnico-científica, além de muitos títulos de cultura geral, produzidos pelos escritores que atuam nas instituições de segurança, a APESP é uma organização que cresce e se vê divulgada amplamente na condução da bandeira do ativismo cultural, em um Estado que se destaca no cenário nacional pela produção de uma pujante literatura regional fomentada por inúmeras agremiações literárias, artísticas e culturais. Dentre as realizações mais recentes da APESP ganham destaque as Antologias de Poetas Brigadianos, tradição que está indo, neste ano, rumo à concretização de sua quinta edição, a par da primeira edição da Antologia Poética de Policiais Civis e da Antologia de Contistas Brigadianos, em 2004, dos Princípios Básicos de Atuação Operacional nos Estabelecimentos Penais, em colaboração com a Escola do Serviço Penitenciário e, ainda, as recentes edições da Cronologia Histórica da Polícia Civil no RS e do livro Aspectos da Origem e Evolução da Brigada Militar, neste ano de 2006. Também não poderia deixar de ser feita referência ao Suplemento Cultural do Jornal Correio Brigadiano (o ABC da Segurança Pública), cujas edições circulam encartadas periodicamente no jornal, espalhando-se por todo o Rio Grande do Sul, divulgando as letras e os valores culturais do segmento da segurança pública, já tendo sido alvo de rasgados elogios do público leitor, bem como de pessoas e agremiações que, entrando em contato com esse veículo, surpreenderam-se com o significativo potencial de produção intelectual e artística, aliado a um intenso ativismo cultural que floresceu entre os irmãos de ofício que atuam nas instituições do setor da segurança pública gaúcha. Por tudo o que fez, faz e continuará fazendo pela segurança pública do RS, nada mais justo do que almejarmos vida longa e plena de realizações à APESP, neste ano em que festeja seus florescentes vinte anos. FELICIDADES redobradas à instituição gaúcha que faz acontecer a cultura na segurança.
1 Major da Reserva da Brigada Militar e Secretário da APESP (Gestão 2006-2008).