Revista Agro e Negócio 18ª Edição

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SUMÁRIO 12

Café com o produtor

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África no Cerrado

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Capa

Edição 18ª - Revista Agro&negócios Ano 2012 A&F Editora Rua Napoleão Laureano, Nº 622 St. Samuel Graham - Jataí - Goiás CNPJ: 13.462.780/0001.33

Editor chefe: Peterson Bueno petersonbueno.agro@gmail.com Diretor administrativo: Francis Barros francisbarros@vozpropaganda.com.br Direção de arte: Voz Propaganda Auxiliar administrativo: Samara Piva financeiro@agroenegocios.com.br Reportagem / Edição: Tássia Fernandes (2703/GO) tassiajor@gmail.com Luana Loose Pereira (15679/RS) luana@agroenegocios.com.br Diagramação / Tratamento de Imagens: Voz Propaganda (Ernesto Leighton) Fotografia: Peterson Bueno Colunistas: Lorena Ragagnin Artigos: Glauber Silveira Universidade Federal de Santa Maria/ RS Universidade Federal de Goiás (UFG)

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Produção Agroecológica Integrada e Sustentável

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Análise Safras & Mercado

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Qualidade da água garante produtividade

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Produção de ovos em Rio Verde/GO

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Regulamentação da cobrança de Royalties

Leve essa ideia com você:

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Editorial Agenda Portal do Campo Portal UFG Artigo Aprosoja Brasil Coluna Lorena

Envie sua sugestão de matéria para a Revista Agro&negócios: agroenegocios@gmail.com

Colaboradores: Allan Paixão Voz Propaganda Calila Prado Mônica Gonçalves Dayner Costa Alessandro Luz Universidade Estadual de Goiás (UEG) Sebrae/GO Impressão: Poligráfica Tiragem: 3.000 Distribuição dirigida: Jataí, Rio Verde, Mineiros, Chapadão do Céu, Barra do Garças, Água Boa, Canarana, Primavera do Leste e Querência. Contato: (64) 8417-4977 – Francis Barros (64) 9948-7084 – Peterson Bueno

EDITORIAL O raio cairá duas vezes no mesmo lugar? A analogia do título, obviamente, faz referência à frustração da safra norte-americana. Enquanto o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) reporta seus relatórios de oferta e demanda, tamanhos de safras, previsões climáticas e afins, os agricultores brasileiros já deram largada ao plantio da safra 2012/2013. Em temporada de “El Niño”, os veranicos podem vir a atrapalhar o cronograma, como já ocorreu no sudoeste goiano, por exemplo, com o atraso no plantio por falta de chuvas condizentes. Porém, a situação deverá normalizar-se e as perspectivas são de que o raio, pelo menos por aqui, caia no mesmo lugar. A contínua queda de braço: Produtor X Monsanto ainda percorre os tribunais, porém, a multinacional surpreendeu a todos ao interromper a cobrança dos royalties em todo o país, mas irá recorrer da decisão liminar que abriu precedentes em Mato Grosso. As projeções e os gargalos desta nova safra renderam matérias com a Aprosoja e a consultoria Safras & Mercado. Nesta edição de outubro, que tem como capa os 25 anos da Metalcom e sua participação ativa no desenvolvimento sócio econômico de Jataí, a Universidade Federal de Goiás/Campus Jataí e a Universidade Federal de Santa Maria/RS contribuíram com o desenvolvimento de artigos focando o processamento da madeira de eucalipto e o plantio comercial de plantas aromáticas e medicinais, respectivamente. O Café com o Produtor desta edição tem o empresário Sérgio Garcia, da Uniggel Sementes, que vem se destacando no setor e conquistando mercados em vários estados brasileiros. A atuação da Aginterp, em Rio Verde/ GO, agrega a participação de integrados da BRFoods, consolidando trabalho cooperativo na defesa dos interesses dos produtores de ovos, frangos e suínos. Os animais exóticos também ganham destaque nesta edição; a fazenda Serra azul trouxe a África para o cerrado brasileiro, implantando criação comercial de animais de outros continentes. A qualidade da água na alimentação dos animais, a atuação do Sebrae/GO na pequena propriedade e a nova sede da Base Agrícola em Jataí/GO também ilustram nossa 18ª edição. Quem produz continua se encontrando aqui, nas páginas da Agro&Negócios. Boa leitura, caro amigo!

site: www.agroenegocios.com.br e-mail: agroenegocios@gmail.com facebook.com/agroenegocios A Revista Agro&Negócios não se responsabiliza pelos conceitos e opiniões presentes nos encartes publicitários, anúncios, artigos e colunas assinadas.

Peterson Bueno

REPRESENTANTES COMERCIAIS Peterson Bueno (64) 9948-7084 Patrícia Silva Gomes (64) 9967-5692 5


Painel UEG

Agenda

Outubro/Novembro 7º Congresso Internacional de Bioenergia e Bio Tech Fair 2012 O Congresso Internacional de Bioenergia é considerado o mais importante fórum de discussões sobre energias renováveis do Brasil. Neste ano, o evento será realizado em São Paulo/SP, entre os dias 30 de outubro e 01 de novembro. É esperada a participação de mais de dois mil congressistas do Brasil e do exterior. Mais de 800 projetos de pesquisadores, professores, graduandos e analistas serão apresentados na ocasião. Junto com o Congresso são realizados eventos paralelos, como seminários, rodada de negócios, mostra e exposição, apresentação de trabalhos técnicos orais e premiações. Mais informações: (54) 3226-4113, pelo site www.eventobionergia.com.br ou ainda pelo e-mail: contato@bioenergia.net.br

Expoinel MS 2012 Com o objetivo de propiciar aos participantes uma excelente oportunidade de trocas de informações, aquisição de novos conhecimentos e realização de negócios será realizada de 03 a 11 de novembro de 2012, no Parque de Exposições Laucídio Coelho, em Campo Grande – MS, a Expoinel MS 2012 – Exposição Internacional da Raça Nelore. O evento acontece em paralelo à Expogen-MS, que é um evento voltado a animais PO. Os julgamentos acontecem para animais nas categorias Baby, Bezerro, Matriz Modelo e Progênies. Mais informações: (67) 3342-1746

38º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras Para os interessados em obter os últimos resultados relacionados a trabalhos e pesquisas focados no manejo de cafezais e no preparo do café, a sugestão é participar do 38º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras. O evento será 6

realizado em Caxambu/MG, entre os dias 23 e 26 de outubro, e é organizado pela Fundação Procafé. O tema do Congresso neste ano é “Boas tecnologias difundir, pro café bem florir”. O propósito é evidenciar a importância do uso racional de novas técnicas para aumentar a capacidade produtiva dos cafezais e, assim, chegar à redução dos custos e à maior renda. Mais informações: (35) 3214-1411, pelo site www. maiscafe.com.br ou pelo e-mail eventos@fundacaoprocafe.com. br

CANASUL 2012 e 2ª Feira Agrometal de Mato Grosso do Sul Acontece de 22 a 24 de outubro de 2012, no Parque de Exposições João Humberto de Carvalho, em Dourados – MS, o CANASUL 2012 – Congresso da Cana de Mato Grosso do Sul. Considerado o maior evento sucroenergético do estado, o congresso será realizado em paralelo à 2ª Agrometal – Feira do Agronegócio e do Setor Metalmecânico de MS, onde serão realizadas diversas

atividades, dentre exposição de produtos e serviços, palestras, oficinas e rodadas de negócios. Mais informações: (67) 3411-7104/ (67) 3411-7103 ou ainda pelo site www.semaic. dourados.ms.gov.br

6º Congresso Brasileiro de Tomate Industrial Com tema “Inovações no processamento e na mecanização do tomate industrial” acontece de 28 a 30 de novembro de 2012, no Centro de Convenções de Goiânia – GO o 6º Congresso Brasileiro de Tomate Industrial. Em paralelo, acontece a 6ª Feira de Produtos e Negócios, que terá a participação de empresas das áreas de tecnologias, insumos, máquinas e serviços voltados para esse setor da agroindústria O evento tem como público alvo professores, pesquisadores e estudantes da área de Ciências Agrárias e afins, inscritos no congresso. Mais informações: www. congressotomate.com.br/2012/

19º Congresso Internacional do Trigo Será realizado de 21 a 23 de outubro de 2012, no Costão do Santinho Resort, em Florianópolis/ SC, o 19º Congresso Internacional do Trigo. Destaque na cadeia produtiva do trigo como um dos principais eventos do setor esta edição do congresso tem como tema “A hora e a vez do trigo”. Em paralelo ao evento acontece ainda a feira de negócios, com máquinas, equipamentos e tecnologias. Mais informações: abitrigo@abitrigo.com.br

UEG

Formando acadêmicos conscientes

Por Universidade Estadual de Goiás - Unidade Mineiros

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conomia e sustentabilidade. Essas palavras-chaves inspiraram a realização da VI Semana Universitária e I Semana do Economista da Universidade Estadual de Goiás, unidade de Mineiros. O evento foi marcado pela contribuição de diversos profissionais, que ministraram palestras sobre assuntos variados, como empregabilidade, ética e mercados futuros. Contou também com a participação de acadêmicos que fizeram apresentações de estudos e experimentos. A abertura do evento aconteceu na sede da UEG, unidade de Mineiros. Na oportunidade, o diretor do pólo universitário, José Maria de Sousa, proferiu as boas-vindas aos acadêmicos, apresentou vídeos institucionais e convidou os alunos, professores e servidores da instituição a realizarem debates sobre possíveis melhorias para a Universidade. A programação seguiu com a apresentação dos trabalhos realizados pelos acadêmicos, sobre integração de jogos, como o pôquer, nas escolas; horta suspensa, que são plantas como cebola de folha, coentro, alface, entre outros, cultivados em garrafas pet e dependurados em muros ou paredes, contribuindo com o aumento da qualidade de vida e com a economia de espaço; também teve uma apresentação sobre a mandala, que é uma variável de horta, indicado para quem possui pouco espaço de plantio e ainda pode ser integrado à decoração da casa. Os trabalhos foram apresentados com o intuito de fornecerem sugestões que podem contribuir com o bem estar da população, utilizando a sustentabilidade, aplicando a economia e gerando mais qualidade de vida para a sociedade. No decorrer da semana foram realizadas palestras que enri-

Acadêmicos participam da 06ª Semana Universitária da UEG em Mineiros/GO

queceram o conhecimento de todos. Entre os assuntos abordados estavam: AutoCad, Manutenção Industrial, Empregabilidade, Alimentos e Nutrição Aplicada, Agricultura de Precisão, Ética na atuação profissional e Matemática Financeira. O evento foi encerrado com a palestra ministrada pelo administrador e especialista em economia, André Massaro, que abrilhantou da VI Semana Universitária e I Semana do Economista abordando o tema

Mercados Futuros. O profissional ministrou uma verdadeira aula de economia, que deixou em todos os presentes a vontade de aprofundar os conhecimentos sobre a bolsa de valores. Por fim, foi divulgado o resultado da V Mostra Científica, em que o projeto “Horta Suspensa” foi considerado o melhor elaborado e melhor pensado de acordo com as propostas do tema do evento.

Acadêmicos apresentam sistema de Mandala, variável de horta, indicado para quem possui pouco espaço de plantio

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Portal do Campo

CONFIANÇA:

a Base para o crescimento

Base Agrícola/FMC realiza jantar de confraternização para apresentar novos produtos aos clientes Por Tássia Fernandes

Fotos: Peterson Bueno

O cliente sempre em primeiro lugar. Este é o princípio da Base Agrícola/FMC, que pensando nos bons resultados da lavoura e, consequentemente, na rentabilidade da clientela, está sempre trazendo

novas opções de insumos para o produtor rural. A empresa tem consciência de que a confiança é o primeiro passo para o crescimento, por isso, oferece aos agricultores o que há de melhor no seguimento de de-

Produtores rurais e consultores técnicos confraternizam com Base Agrícola/FMC

fensivos agrícolas. As duas grandes novidades, que já estão disponíveis no mercado, foram lançadas oficialmente em Jataí/GO no mês de setembro. Rocks, para ser utilizado no tratamento de sementes de soja e milho e Talisman, voltado para o controle de lagartas e percevejos na cultura da soja, prometem revolucionar o manejo de pragas. Aliando tecnologia e profissionalismo, a Base Agrícola vem ganhando cada vez mais a confiança dos clientes. Degrau por degrau a empresa foi se consolidando no município e hoje, com sede própria, já é uma das grandes referências em meio aos produtores rurais.

• Cuidados com a lavoura Com o início do cultivo os agricultores precisam estar atentos a todos os detalhes. Afinal, como explica o professor Márcio Peixoto, quando se fala em manejo de pragas, o monitoramento da lavoura é o grande diferencial. “O agricultor deve acompanhar a evolução da população de insetos, para agir no momento mais adequado em termos de custo e de suscetibilidade da praga. Assim, o manejo se torna mais econômico e mais eficaz”.

Portanto, quanto antes o agricultor fizer o combate, com foco na redução da população de insetos, melhor será a produtividade da lavoura. Lembrando que as aplicações devem começar quando houver indícios da presença das pragas, o que pode ser verificado por meio de amostragens. “A aplicação preventiva em geral não é recomendada, porque se o agricultor fizer a aplicação supondo que o inseto vai surgir, pode ser que ele não apareça

e o produto terá sido desperdiçado”, destaca o professor. Márcio Peixoto, professor do Instituto Federal Goiano, foi o palestrante da noite e trouxe aos convidados da Base Agrícola/FMC diversas informações relevantes sobre o manejo de pragas. “Vale ressaltar que com a saída de produtos tradicionais do mercado, os produtos novos precisam ser mais bem compreendidos, para que sejam utilizados de maneira adequada”.

utilizando os defensivos, para evitar o ataque das pragas e, consequentemente, garantir uma boa produção”. Durante a noite, o RTC da FMC, Philemon, também aproveitou para divulgar os sete hábitos da atuação responsável. Acy Morais de Assis Neto, sócio-diretor da Base Agrícola, acredita que toda novidade que vem para o campo é positiva. Ele pontua

que a agricultura vive hoje um bom momento, portanto, o produtor deve aproveitar para realizar mais investimentos, de forma consciente, e ter a possibilidade de obter melhores retornos. “O manejo adequado aliado às novas tecnologias é a receita ideal para o sucesso da lavoura”. Os novos produtos já foram utilizados em grande escala e, segundo Acy, os resultados obtidos

• Sugestão FMC Com o propósito de trazer soluções no combate a pragas, a FMC dá mais um passo em busca de resultados satisfatórios. Como destaca o Representante Técnico Comercial da FMC na região, Philemon Martins Costa Neto, os dois lançamentos do momento – Rocks e Talisman - podem contribuir para ganhos significativos em produtividade. “É importante fazer o combate, 8

comprovaram as expectativas. “Nas áreas de grandes parcelas os resultados foram semelhantes àqueles verificados em áreas de teste, o que comprovou a eficácia do produto”. Acy enfatiza, ainda, que os resultados na lavoura são fruto de uma série de ações que são desempenhadas ao longo de todo o período da safra. “Entre as ações, uma das mais importantes é o controle de pragas. Já foi observado, por meio de estudos, que quanto mais a praga é controlada, melhor é o rendimento da lavoura”, confirma. Para auxiliar o produtor a realizar o controle, a Base também conta com uma equipe técnica capacitada, especializada e bem treinada. Os profissionais garantem suporte na lavoura desde o preparo do solo até o acompanhamento da colheita.

Equipe Base Agrícola/FMC

• Relacionamento com o cliente Além da tecnologia oferecida, por meio dos produtos comercializados, outro diferencial da Base Agrícola/FMC é o relacionamento com os clientes. “A parceria com o produtor rural é tudo. É a base de todo o processo”, afirma Sandro Trentin, sócio-diretor da empresa. Um dos propósitos do jantar organizado foi, justamente, estreitar o relacionamento com os clientes. Também foram convidados a participarem da confraternização os consultores que representam a empresa no município. “O evento é uma oportunidade para mostrar a confiança que temos na classe produtora, tanto é que estamos de sede nova. Os investimentos continuam, para poder atender melhor o cliente no seu dia-a-dia”, afirma Acy. A Base Agrícola/FMC preza pelo cliente. Prova disso são os eventos organizados ao longo do ano, como no caso das palestras, jantares e, também, da pescaria que acontece anualmente. “Momentos de confraternização também são importantes. Buscamos sempre desempenhar ações com o propósito de ter um relacionamento melhor com clientes e colaboradores”, enfatiza Sandro Trentin.

Acy Neto, Philemon Martins e Sandro Trentin

Nova sede Base Agrícola Jataí/GO

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Portal UFG

Tecnologia de processamento da madeira de eucalipto:

A FUNÇÃO DA CELULOSE EM NOSSO COTIDIANO

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celulose é o componente mais abundante da parede celular dos vegetais, que confere rigidez e firmeza às plantas. Extraída da madeira, a celulose tem sido amplamente utilizada para produção de papel e outros produtos presentes em nosso cotidiano. As principais fontes de madeira utilizadas para produção de celulose são as florestas plantadas, tanto de pinus quanto de eucalipto,

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responsáveis por 100% do volume produzido no Brasil. Outras plantas também podem ser utilizadas para obtenção de celulose, como bambu, babaçu, sisal e resíduos agrícolas (bagaço de cana-de-açúcar). Dois tipos de celulose, com diferentes características químicas e físicas, são obtidos para produção de papel; a celulose de fibra longa e a de fibra curta. A celulose de fibra longa, extraída de espécies conífe-

ras como o pinus – plantada no Brasil –, tem comprimento entre 2 e 5 milímetros. É utilizada na fabricação de papéis que demandam mais resistência, como os de embalagens, e nas camadas internas do papel cartão, além do papel jornal. Por outro lado, a celulose de fibra curta, com 0,5 a 2 milímetros de comprimento, deriva, principalmente, do eucalipto. Tais fibras são ideais para a produção de papéis como os de imprimir e escrever e de fins sanitários (papel higiênico, toalhas de papel, guardanapos). As fibras do eucalipto também compõem papéis especiais, entre outros itens, como detergentes, pneus, tintas, roupas. Elas têm menor resistência, com alta maciez e boa absorção. A produção de celulose passa por um processo complexo que possui muitas etapas que serão descritas sucintamente. O processo tem início com o plantio e a colheita do eucalipto. Em seguida, as toras são transportadas para os picadores, onde são transformadas em pequenos cavacos. Após picada, a madeira é

dissolvida com soda diluída em água. Metade resultará numa pasta de fibras, que após um processo de peneiramento, lavagem e branqueamento, resultará numa pasta de celulose branca. A outra metade, líquida, principalmente constituída de substância que faz ligação entre as fibras e a soda, será usada como combustível nas caldeiras. Ao final do branqueamento, a celulose está bastante diluída em água, daí a necessidade de seca-lá e acondicioná-la da melhor forma possível. A secagem é feita numa máquina muito semelhante a uma máquina de fazer papel. Após a secagem, a folha é introduzida numa cortadeira, que transforma a folha contínua em pedaços retangulares para serem empilhados e amarrados com arame, constituindo os fardos de celulose, para, posteriormente, serem transportados. Para cada 20 árvores processadas (cerca de 2 toneladas de eucalipto), produz-se, aproximadamente, uma tonelada de celulose e mais uma tonelada de combustível. Dados da Bracelpa (Associação Brasileira de Papel e Celulose) mostram que altos investimentos da indústria e o desenvolvimento econômico do Brasil tiveram impactos expressivos na produção de celulose na última década. O segmento praticamente dobrou o volume de celulose produzido nesse período, com um crescimento médio de 6,5% ao ano, números singulares se comparados aos mercados mais tradicionais da indústria. Em 2008, o setor teve uma grande conquista: alcançou o posto de quarto produtor mundial de celulose – atrás apenas de Estados Unidos, Canadá e China. O recorde foi obtido em um período adverso, durante a crise financeira internacional. A posição foi mantida em 2010, quando o setor produziu 14 milhões de toneladas de celulose. Em 2011, a produção brasileira de celulose chegou a 14 milhões de toneladas. Vale ressaltar que as flores-

tas plantadas para a produção de celulose são cultivadas atendendo os planos de manejo sustentável, que têm objetivo de reduzir os impactos ambientais e promover o desenvolvimento econômico e social das comunidades vizinhas. Com isso, a utilização de florestas plantadas para fins industriais é muito importante para a conservação do meio ambiente, pois as árvores produzem a matéria-prima que supre a necessidade da população por papel, madeira, lenha, carvão para uso energético e outros produtos de largo consumo, sem esgotar os recursos naturais. Propiciando, assim,

a conservação da biodiversidade, a proteção da água e o equilíbrio do clima. E, no campo social, geram empregos, ajudam a reduzir a pobreza e incluem os pequenos produtores na cadeia da economia. Autoras: Laura Rezende Souza e Paula Assis Lopes - Acadêmicas do curso de graduação em Engenharia Florestal da Universidade Federal de Goiás - Campus Jataí (UFG/CAJ) Daniela Pereira Dias - Professora do curso de graduação em Engenharia Florestal da UFG/CAJ

Veja como o Eucalipto e a celulose estão presentes em seu dia-a-dia! • Livro, Jornal, Caderno e Embalagem; • Guardanapo, fralda descartável, papel higiênico, absorvente e lenço de papel; • Cadeira, mesa e outros móveis, brinquedos, construção civil, postes e mourões; • Lenha e carvão vegetal; • Na composição de roupas de tencel e viscose, de pneus, tintas e solventes; • Remédios, pasta de dente, desinfetante, detergente, desengordurante, alimentos como mel, própolis, geleia real e bala.

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Café com o Produtor

Sérgio Guimarães Garcia Vocação pelo agronegócio

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solidez do agronegócio está também fundamentada no comprometimento das empresas de suporte à atividade primária, que através de seus produtos e serviços aperfeiçoam o trabalho do homem do campo. Com um histórico de ligação estreita com o segmento, por sua natureza agrícola, o Grupo Uniggel tem sido a mão amiga dos produtores de grãos e fibras, fortalecendo os laços comerciais e profissionais na consolidação de uma parceria que tem gerado ótimos frutos. Neste Café com Produtor, Sergio Guimarães Garcia, um dos diretores da Uniggel, relata a trajetória de sucesso do Grupo. Revista Agro&Negócios: Como se deu a formação do Grupo Uniggel? Sérgio Guimarães Garcia: Pela necessidade de trabalhar a terra, herança de nossos antepassados, pois toda a nossa história, desde os primórdios de nossa família, passa pelo trato com a terra. O Grupo Uniggel iniciou na atividade agrícola, especificamente plantio de soja, há 24 anos, em maio de 1988, quando resolvemos encarar nossa vocação e amor pela terra. Iniciamos, eu e meus dois irmãos, Ronan Garcia Júnior e Fausto, todos jovens e sedentos por trabalhar e tem sido assim até os dias de hoje. Encaramos nossa atividade como uma empresa e a administramos como tal. Revista Agro&Negócios: Qual a principal atividade desenvolvida pelo Grupo? Sérgio Guimarães Garcia: A agri-

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cultura é a nossa principal atividade, todos os nossos negócios (empresas) são fruto da agricultura, são ramos intimamente ligados como: Uniggel Armazéns Gerais, Uniggel Sementes, Uniggel Cotton, Uniggel Máquinas Agrícolas – Case, TSI – Tratamento Industrial de Sementes, mas, sem sombra de dúvidas, a semente de soja, é hoje o nosso principal negócio. Revista Agro&Negócios: Qual a capacidade atual da Uniggel? Sérgio Guimarães Garcia: A Uniggel, como lavoura, planta uma área total de 36.900 ha, sendo 21.000 ha de soja, 2.400 ha de algodão, 3.000 ha de arroz irrigado, 9.000 ha de milho safrinha e 1500 ha de sorgo safrinha, em 3 estados, Goiás, Mato Grosso do Sul e Tocantins. A Uniggel sementes, empresa de sementes de soja, produz atualmente 710.000 sacas de sementes de 40kg, sendo 407.000 sacas em Goiás e 303.000 no estado do Tocantins. Possui ainda, duas Unidades Básicas de Sementes, uma em Chapadão do Céu e outra na Lagoa da Confusão, em Tocantins. A Uniggel Armazéns Gerais tem capacidade estática de armazenagem de produto a granel total de 1.345.000 sacas, em 4 unidades armazenadoras, uma em Goiás e 3 no Tocantins (atendendo somente o Grupo), e capacidade de 760.000 sacas de soja ensacada em duas unidades, Goiás e Tocantins. A Uniggel Cotton tem capacidade de processar 20.500 toneladas de algodão em caroço, produzindo10.500 toneladas de caroço de algodão e 8.000 toneladas de pluma de algodão, esta empresa é a única do Grupo Uniggel que presta serviços para terceiros. A Uniggel Máquinas Agrícolas, concessionária da Case em Palmas/TO, é uma das mais novas empresas do Grupo Uniggel, hoje fatura suas vendas de máquinas agrícolas, tratores,

Por Luana Loose Pereira colheitadeiras, pulverizadores, entre outros, em todo o estado do Tocantins, com sede em Palmas. Revista Agro&Negócios: Quais estados a Uniggel atende? Sérgio Guimarães Garcia: A Uniggel Sementes atende os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Tocantins, Maranhão e Piauí. Revista Agro&Negócios: Pretende-se ampliar a área de atuação da empresa? Sérgio Guimarães Garcia: Sim, mas nas regiões onde já estamos. No momento estamos muito focados para estarmos presentes nestes estados que já trabalhamos, ampliar nossa carteira e buscar estar mais próximo dos clientes, ampliando a fidelização com os mesmos. Revista Agro&Negócios: Em que nível tecnológico a Uniggel se encontra? Sérgio Guimarães Garcia: A Uniggel Sementes está entre as grande empresas de sementes de soja deste país, tanto em participação de mercado quanto em tecnologia, prova disso, acabamos de inaugurar o TSI da Uniggel Sementes, em parceria com a Syngenta e a Bayer, além de termos materiais e equipamentos de última geração, como INTACTA RR2, uso de resfriamento de sementes (Cool Seed) e armazenamento climatizado (ar condicionado). Sempre estamos buscando as melhores técnicas e avanços do setor de sementes de soja. Revista Agro&Negócios: Qual a opinião a respeito da produção de semente caseira? Sérgio Guimarães Garcia: A Uniggel sempre respeitou esta opção do produtor rural. O que temos a dizer, é que podemos oferecer grandes

vantagens ao produtor rural, desde um variado portfólio, a sementes fiscalizadas de alto teor de germinação e vigor, resultando em um menor custo, menor uso de grãos no plantio e menores gastos com tratamento de sementes, proporcionando um estande uniforme, com uma maior produtividade e maior lucratividade, que é o que todos buscam. O que gostaríamos de salientar a respeito das sementes caseiras é que sua utilização só é permitida para uso próprio, não podendo ser comercializadas. A comercialização é proibida, neste aspecto é muito importante o produtor saber disso. A impressão da semente barata, caseira, pode se tornar muito cara ao produtor, por falta de controle de qualidade, condução dos campos de sementes, colheita adequada, secagem, local adequado para armazenagem, contaminação, mistura varietais, entre outros fatores, trazem resultados indesejáveis. A boa semente (vigor e germinação) e a boa semeadura, são o início de uma boa colheita. Revista Agro&Negócios: Com quais variedades a Uniggel trabalha hoje e como se dá a escolha e o processo de criação das variedades desenvolvidas? Sérgio Guimarães Garcia: A Uniggel não desenvolve variedades, os produtores de sementes de soja no Brasil são multiplicadores de sementes. Nós fazemos parte de um dos maiores grupos de produtores de sementes de soja do Brasil que multiplicam variedades de bancos

genéticos de alguns obtentores, como TMG, Monsoy, Nidera, Soytec, Coodetec, CTPA, entre outros, os quais são proprietários dos bancos de germoplasmas, são quem desenvolvem estas variedades para todas as regiões do Brasil. Revista Agro&Negócios: Como o Grupo esta se preparando para a safra 2012/2013? Sérgio Guimarães Garcia: Com muito otimismo, mas ao mesmo tempo com muita cautela. Sabemos que a agricultura é cíclica, tem anos bons de clima e preços, mas temos anos ruins, tanto de produtividade quanto de preços. A agricultura está vivendo um ótimo momento, não podemos negar, mas devemos aproveitar esta oportunidade para nos equilibrarmos, fortalecendo os nossos negócios. Temos que buscar nos capitalizar, ocupar o nosso papel e espaço e nos garantir no setor. Revista Agro&Negócios: Qual a importância que a Uniggel tem hoje para a região em termos de desenvolvimento e aumento de produtividade? Sérgio Guimarães Garcia: A Uniggel Sementes hoje tem um papel muito importante no nosso mercado, com mais de 700.000 sacas de 40kg de sementes, abrange uma área plantada de mais de 430.000 ha; produz sementes fiscalizadas de alto teor e pureza genética, de alta germinação e vigor; busca, incansavelmente, as variedades mais adaptadas e de alta tecnologia para

nossa região, garantindo ao produtor sementes e variedades de alta performace, trazendo, consequentemente, maior produtividade e lucratividade ao produtor rural. Revista Agro&Negócios: Investimento em tecnologia é atualmente uma realidade na maioria das lavouras. Em que este investimento pode resultar? Sérgio Guimarães Garcia: Não podemos parar, o investimento tem que ser contínuo, porém orquestrado, quero dizer, planejado, para mantermos o equilíbrio; nem demais e nem de menos, senão estamos fadados a sermos engolidos ou sucumbidos. Revista Agro&Negócios: Como o Grupo Uniggel se posiciona diante do potencial de produção do agronegócio no Centro Oeste? Sérgio Guimarães Garcia: A Uniggel, como Grupo, sempre esteve participando ativamente do agronegócio no Centro Oeste, buscando estar cumprindo seu papel diante da sociedade como grupo de negócios, tendo como princípio básico o cumprimento dos seus compromissos, lisura, transparência, cumprir a função social, gerar empregos, investindo, acreditando sempre na agricultura, fazendo como a maioria dos produtores rurais, acreditando na chuva, que ela venha, enfim, acreditando em Deus.

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Negócios no país representam 25% dos resultados da companhia, que mantém seu foco em inovação tecnológica e produtos personalizados Por Gabriela Padovani (ArtCom AC)

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onsiderada uma empresa de inovação tecnológica, a Tradecorp completa 10 anos no Brasil, com cerca de 25% dos negócios da Tradecorp Internacional instalados no país. Com um início tímido, em 2002, quando tinha apenas um representante na região Nordeste, hoje a Tradecorp do Brasil possui uma rede de 150 distribuidores estrategicamente localizados nas principais regiões agrícolas. Possui, ainda, 23 regionais de vendas e é a sede para os negócios da América Latina, que atualmente inclui Paraguai, Bolívia e Uruguai, com planos de expansão para outros países. O diretor geral

da unidade brasileira, Mário Franchi, explica que o principal atrativo para a expansão da empresa foi a dimensão do mercado brasileiro do agronegócio, com todas as oportunidades para uma empresa com mais de 80 anos de experiência no setor de atividade. E, ainda, o fato de também se falar o português, já que o Grupo, apesar de pertencer a uma família belga, tem sua matriz em Lisboa – Portugal. Empresa do Grupo Sapec, a Tradecorp é líder no mercado de fertilizantes agrícolas e nutrição de alta performance e está presente nos principais mercados mundiais, como Europa, África, Leste do Medi-

terrâneo e México. No Brasil, conta com um amplo portfólio de fertilizantes e nutrientes vegetais, que são divididos nas seguintes Gamas: Aton, Humitec, Nutricomplex, Pumma, Starter, Trade TC, TradeMax e Trafos. Os produtos são direcionados às culturas de café, cana-de-açúcar, citrus, grãos, frutas e hortaliças, com tratamentos para redução de estresse das plantas, aumento de enraizamento, nutrição do solo e da planta, manutenção de pH, aceleração do crescimento vegetativo, proteção e promoção da germinação da semente e cuidados foliares. Uma empresa de inovação tecnológica é, por definição, uma companhia em cujo negócio mais de 20% das soluções colocadas à disposição dos clientes, anualmente, têm menos de três anos no mercado. De acordo com o diretor comercial, Luiz Schmitt, no Brasil, este posicionamento é ainda mais inovador, pois a Tradecorp tem uma média anual de 40% de novos produtos em seu portfólio. “A origem europeia da companhia gera uma certa dificuldade em tropicalizar muitos dos produtos e soluções aos mercados da América Latina, o que nos motiva a buscar alternativas para atender às demandas e nos conduz a um patamar de inovação bastante elevado”, explica.

• Taxa de recompra elevada Segundo Franchi, algumas dificuldades iniciais aconteceram, como acontecem com todos os entrantes em novos mercados; mas, a persistência do Grupo em cima dos produtos, pessoas e serviços, juntamente com a inovação tecnológica que a Tradecorp conseguiu, levou a uma boa receptividade por parte do 18

mercado, não só brasileiro, como em boa parte da América Latina. Em relação à fatia de mercado que possui, Schmitt explica que “a empresa tem indicadores de produtividade e de presença em cada mercado próprio e busca um bom retorno para os acionistas, clientes e colaboradores”. Uma das

conquistas que mais orgulha a empresa, segundo Schmitt, é a taxa de recompra de produtos, um dos mais importantes indicadores de desempenho nos negócios, que hoje são superiores a 90%, número bastante elevado. Para o diretor geral da companhia no Brasil, Franchi, apesar da trajetória bem sucedida, os desafios

ainda são grandes e o primeiro deles é consolidar o Brasil como o maior mercado para o Grupo, por meio de um desenvolvimento sustentável. “Para isso teremos que nos conso-

lidar como uma companhia desenvolvedora e retentora de talentos, promover relações duradouras com todos os stackeholders e conseguir que cada vez que um agricultor pen-

sar em qualidade e inovação tecnológica e fisiologia e nutrição vegetal pense Tradecorp”.

• Comemorando com ações sociais A Tradecorp do Brasil promove, desde 2010, a campanha “Para comemorar...doar”, em que parte dos lucros com as vendas de produtos são doados às instituições assistenciais que atendem crianças. A campanha faz parte do Projeto Vocações – Vocação Social que a empresa mantém. Na primeira edição da campanha foram contemplados o Instituto Boldrini e o Grupo Primavera, ambos em Campinas (SP). Neste ano, em razão da comemoração do aniversário de dez anos da Tradecorp, dez instituições, localizadas nas cidades em que a empresa atua, receberão doações também. “Entendemos que é mais uma forma de colaborar com as instituições, divulgando seus trabalhos e envolvendo uma rede de clientes nossos. Assim incentivamos que ações deste tipo sejam realizadas por mais empresas”, comenta Delma Trovó, do departamento de Marketing da empresa.

Fotos: Divulgação Tradecorp

TRADECORP empresa completa 10 anos de Brasil

“A origem europeia da companhia gera uma certa dificuldade em tropicalizar muitos dos produtos e soluções aos mercados da América Latina, o que nos motiva a buscar alternativas para atender às demandas e nos conduz a um patamar de inovação bastante elevado” Luiz Schmitt, diretor comercial da Tradecorp do Brasil

Distribuidores Tradecorp em Goiás Safra Forte – Jataí Telefone: 64-3631-7227 Agrinova – Rio Verde Telefone: 64-3612-3590 Integração – Mineiros Telefone: 64-3661-9718 Tradecorp do Brasil Sede: R. Dr. Emílio Ribas, 600 B. Cambui - Campinas, SP Telefone (19) 3709-3400

“Teremos que nos consolidar como uma companhia desenvolvedora e retentora de talentos, promover relações duradouras com todos os stackeholders e conseguir que cada vez que um agricultor pensar em qualidade e inovação tecnológica e fisiologia e nutrição vegetal pense Tradecorp” Mário Franchi, diretor geral da Tradecorp do Brasil 19


PAIS incentiva a

sustentabilidade

nas pequenas propriedades rurais Projeto promove o desenvolvimento sustentável e garante melhoria de renda Por Luana Loose Pereira As atividades desenvolvidas pelos seres humanos interferem diretamente na qualidade de vida no planeta. Atualmente a comunidade global já começa a sentir as consequências dos anos em que a aceleração do crescimento socioeconômico impulsionou o descaso com o meio ambiente. Com isso, as ações sustentáveis vêm se destacando no cenário contemporâneo mundial. A preservação dos recursos naturais torna-se cada vez mais uma questão de sobrevivência para toda a civilização. Neste contexto, buscando incentivar a implantação de ações sustentáveis no cotidiano agrícola das pequenas propriedades rurais brasileiras, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) desenvolveu uma

tecnologia social que reúne técnicas simples de produção agroecológica visando à promoção do desenvolvimento sustentável. A PAIS - Produção Agroecológica Integrada e Sustentável, além de gerar mais emprego e renda para os pequenos produtores, impulsiona ainda a produção de alimentos mais saudáveis, sem o uso de agrotóxicos, com o aproveitamento rentável dos recursos de solo e de água. Integrando técnicas básicas, já conhecidas por muitas comunidades rurais, o modelo busca reduzir a dependência de insumos vindos de fora da propriedade, diversificar a produção e incentivar o uso eficiente e racional dos recursos naturais disponíveis. Destinado, principalmente, a agricultores familiares de baixa ren-

da, assentados em projetos de reforma agrária e produtores de áreas quilombolas, o projeto atende hoje cerca de 7.500 famílias em todo Brasil. Em Goiás, já existem 691 Unidades Familiares de Produção Agrícola Sustentável (Ufpas) instaladas, 85 delas em parcelas de assentamentos rurais atendidas pelo convênio INCRA/SEBRAE. Entre os parceiros do SEBRAE para o desenvolvimento e aplicação da tecnologia PAIS estão a CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, a Fundação Banco do Brasil, o Ministério da Integração Nacional, a Fazenda Vale das Palmeiras e a RTS - Rede de Tecnologia Social.

• Horta agroecológica e sustentável

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ção dos animais ao sistema de produção, além de noções de associativismo e de acesso ao mercado. As famílias participantes do projeto recebem ainda consultoria técnica para cumprir as etapas de implantação do sistema PAIS em

suas propriedades. Segundo dados da “Cartilha PAIS”, manual disponibilizado pelo SEBRAE aos produtores participantes do projeto, a primeira etapa que deve ser cumprida é a escolha do terreno. Para atender uma família de cinco pessoas, a área

Unidade Familiar de Produção Agrícola Sustentável (Ufpas) montada durante a Tecnoshow 2012, em Rio Verde/GO

Foto: Divulgação SEBRAE

As Unidades Familiares de Produção Agrícola Sustentável (Ufpas) consistem em uma horta circular com um galinheiro ao centro e com sistema de irrigação por gotejamento. O objetivo do projeto é que este seja um sistema de produção integrada, onde o esterco produzido no galinheiro possa ser utilizado na adubação da horta e as sobras de hortaliças possam servir como suplementação alimentar para o galinheiro. Além disso, o sistema de irrigação por gotejamento induz o aproveitamento responsável dos recursos hídricos. Antes de iniciar o projeto, os produtores inscritos no programa participam de uma capacitação com aulas práticas e teóricas. Durante o curso são ensinadas técnicas de produção agroecológicas, princípios da sustentabilidade da agricultura familiar e a importância da integra-

deve ser plana e ter em torno de 5.000 metros quadrados, com uma fonte de água próxima e presença de luz solar na maior parte do dia. A escolha das culturas é a segunda etapa a ser cumprida. Para a realização da escolha das espécies a serem cultivadas, o potencial produtivo, as condições de solo e climáticas e as potencialidades de consumo na região são alguns dos fatores que devem ser observados. A terceira etapa perpassa a demarcação do galinheiro, dos canteiros e da fonte de água. A unidade deve ser demarcada começando com a definição do ponto central do galinheiro, que servirá de referência para a medição de cada círculo de canteiros. A localização da fonte de água precisa oferecer condições para que possa encher a caixa d’água a fim de fazer funcionar por gravidade o sistema de irrigação por gotejamento. A construção do galinheiro é a quarta etapa a ser efetuada. Estacas de madeira e capim seco disponíveis na propriedade podem ser aproveitadas para a construção da estrutura do galinheiro. As etapas que seguem, por sua vez, perpassam a reparação dos canteiros e também a instalação do sistema de energia e de irrigação por gotejamento. O sistema de irrigação será constituído de uma fonte de energia, que pode ser até mesmo de energia solar; uma caixa d’água, que deve ser localizada cinco metros acima da horta para viabilizar a irrigação por gravidade; uma mangueira preta de uma polegada com furos voltados para cima; distantes 30 centímetros um do outro, que deve ser colocada até a entrada da porta do galinheiro, sendo dividida em duas linhas para abastecer cada metade dos canteiros. As duas linhas da mangueira são ligadas a fitas gotejadoras de 0,5 polegadas cada uma. Um filtro de disco pode ser colocado na mangueira 5 metros antes do terceiro canteiro, o que evitará o acúmulo de sujeira e entupimento dos furos de gotejamento. O sistema de irrigação deverá contemplar ainda uma saída

Medidas da Unidade Familiar de Produção Agroecológica (Ufpa) • 2,5 metros de raio para Galinheiro • 1 metro de área de escape depois do galinheiro • 0,5 metros de distância entre os canteiros • O primeiro canteiro começa a 3,5 metros do ponto central do galinheiro • Os canteiros devem ter largura de 1,2 metros • O espaçamento entre os demais canteiros deve ser de 50 centímetros • Altura dos canteiros na época das chuvas deve ser de 20 centímetros • 10 centímetros deve ser a altura dos canteiros em outras épocas • 5,20 metros é a distância entre o segundo canteiro e o ponto central do galinheiro • 6,90 metros é a distância entre o terceiro canteiro e o ponto central do galinheiro • Pode ser montado um corredor cercado para acesso das aves ao quintal agroecológico

Fonte: Cartilha PAIS/SEBRAE

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para fornecimento de água para as áreas de compostagem e dos quintais agroecológicos. As três últimas etapas de consultoria tratam da implantação do quintal agroecológico, da produção de adubos naturais e da produção e mercado. O quintal agroecológico é uma área complementar, destinada à produção de frutas, grãos e outras culturas, com o objetivo de complementar a alimentação

da família e dos animais e melhorar a renda do produtor. Com o avanço da unidade familiar, uma área do quintal agroecológico poderá servir, futuramente, para a movimentação das aves criadas no galinheiro central. Ao final de todo acompanhamento teórico, cada família beneficiada recebe um kit-ajuda. Para a composição da horta são disponibilizadas, gratuitamente, as sementes

de hortaliças, calcário e todo o sistema de irrigação; já para a construção do galinheiro são disponibilizadas telas, arames, pregos e, também, dez galinhas e um galo. Os produtores recebem capacitação para o trabalho, os técnicos do SEBRAE oferecem orientação e assistência técnica durante todo o processo de construção e gerenciamento das Ufpas.

agrotóxicos, é um facilitador da venda. A procura por alimentos mais saudáveis só tende a aumentar”. Com o objetivo de reduzir a dependência de insumos vindos de fora da propriedade, todos os produtos na tecnologia PAIS são cultivados sem o uso de defensivos químicos. O manejo de pragas e doenças é realizado com produtos caseiros que não agridem o meio ambiente. “Nós trabalhamos focados na agricultura orgânica, controlamos as pragas com produtos feitos em casa, sem nenhum aditivo químico. A presença do galinheiro no centro do sistema auxilia também a afastar alguns predadores”, explica o produtor jataiense. A produção da horta de Fabrício é hoje direcionada para a venda em feiras livres e também para o PAA, Programa de Aquisição de Alimentos, do governo federal, que auxilia no fornecimento de alimen-

tação para entidades filantrópicas. “Em dois anos de projeto já comecei a fazer minhas entregas ao PAA só com a produção do kit e ainda realizo vendas na Feira Municipal”, se orgulha o assentado. Fabrício utiliza o sistema PAIS em sua propriedade de fevereiro a setembro, período no qual, segundo ele, as condições climáticas da região são mais favoráveis ao desenvolvimento das hortaliças. “Trabalho com a PAIS somente neste período porque há diminuição das chuvas, então, na hora que as folhas estão mais vistosas e que a chuva poderia atrapalhar, as precipitações já estão diminuindo, com isso, a qualidade das verduras fica melhor e, também, sem a chuva fica mais fácil de controlar as pragas”. Mesmo utilizando o sistema apenas durante este período do ano, Fabrício afirma que a lucratividade é garantida. “É muito lucrativo, até porque em volta das áreas dos canteiros de hortaliças existe o quintal ecológico, onde você pode fazer uma plantação de bananeira, mandioca, etc. Para o ano que vem a minha ideia é diversificar ainda mais a produção com a plantação de Gueroba, que pode até oferecer sombreamento e proteger as hortaliças do vento no período em que eu estiver utilizando o sistema”. O kit PAIS é entregue pelo SEBRAE aos produtores rurais assentados de forma totalmente gratuita, o único gasto necessário é relacionado à mão de obra. Porém, segundo Fabrício, depois de implantado o manejo do sistema é simples.

• PAIS em Jataí/GO Proprietário de um lote no Assentamento Nossa Senhora de Guadalupe, no município de Jataí/ GO, o produtor rural Fabrício Calero do Prado participa há dois anos do projeto PAIS. Fabrício conta que tomou conhecimento do projeto pela internet. “Pesquisando sobre hortas redondas, nós encontramos informações sobre este sistema de plantio de hortaliças, depois os técnicos do SEBRAE/GO fizeram um cadastramento buscando saber quais as atividades que nós tínhamos interesse e, com isso, iniciamos o projeto PAIS em nosso lote”. Com comércio garantido, a horta agroecológica se tornou uma alternativa de renda viável para a família de Fabrício. “Hoje principalmente os projetos que a prefeitura e o governo federal disponibilizam nos ajudam a comercializar a produção. Além disso, o comércio de produtos agroecológicos, que não possuem

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“Por ser redonda, a horta tem os canteiros bem divididos e circulação livre pelas camadas, então o manejo é muito fácil. Por causa do sistema de gotejamento não precisamos nem aguar as hortaliças; no caso a mão de obra é praticamente só minha, mas se eu não estivesse presente, minha esposa poderia facilmente tomar conta da produção”. Fabrício cultiva atualmente hortaliças de raiz, como cenoura e beterraba, e também verduras como alface e rúcula, que se adéquam perfeitamente ao sistema de irrigação por gotejamento. Ao implantar o galinheiro, Fabrício optou pela criação de galinhas caipiras, porém, segundo ele, outras espécies também podem ser utilizadas. “Nós sabemos que alguns proprietários estão utilizando galinhas de granja, mas, optamos pela espécie caipira, por que a mesma se adapta melhor ao consumo das sobras de hortaliças”. Hoje, no Brasil, inúmeras famílias rurais já possuem uma pro-

dução diversificada com base agroecológica e tem conhecimento de como realizar o manejo correto dos recursos naturais graças a projetos e tecnologias sociais como a PAIS, desenvolvida pelo SEBRAE. “Nós aprendemos muito com os técnicos do SEBRAE e também com os cursos realizado através do INCRAC e do SENAC. Essas parcerias são muito importantes; hoje eu cultivo hortaliças e já tenho dois cursos de agricultura voltados para o plantio da cultura, que são a horta caseira e comercial”, salienta Fabrício. Mais do que uma horta cir-

cular com um galinheiro ao centro e irrigação por gotejamento, o PAIS é um sistema integrado e uma alternativa de trabalho, renda e melhoria da qualidade de vida para a agricultura familiar. “Os dois anos para mim até agora foram ótimos. A produção da horta me proporcionou excelente lucratividade, além de eu economizar tempo, economizei água e também gastei bem menos insumos e ainda não utilizei agrotóxicos. Com a PAIS a qualidade de vida da minha família melhorou em todos os sentidos”, finaliza Fabrício.

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Capa

METALCOM 25 anos projetando o seu sonho

Entrevista concedida por LEONARDO DE OLIVEIRA COSTA, natural de Jataí, graduado em Engenharia Civil, na cidade de Ribeirão Preto, em 1985, com especialização em Cálculos Estruturais e sócio proprietário da METALCOM

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m outubro de 1987, na cidade de Jataí/GO, surge a empresa METALCOM, que hoje comemora 25 anos de atuação no mercado de construção civil, mais especificamente na área de projetos, execuções e montagens de Estruturas Metálicas e Caixas D’água. Tempo este só possível devido ao excelente nível dos Clientes, aliado à fidelidade e honestidade com que sempre trataram e deram preferência à empresa. A estrutura física e mesmo técnica não seria nada se não pudesse contar, também, com o excelente quadro de funcionários, que só é definido assim na hora de determinar funções e serviços, pois são colegas e colaboradores na execução de obras e serviços. A empresa METALCOM, nestes 25 anos de atuação, contabiliza mais de 1.000.000 m2 (Um milhão de metros quadrados) em Estruturas, Coberturas, Painéis e Fechamentos Laterais; somados a mais de 9.000.000 litros (nove milhões de litros) de água armazenadas em Caixas D’àgua, Tanques e Bebedouros Metálicos. Revista Agro&Negócios: Qual o carro chefe da METALCOM ? Leonardo: Como foi dito anteriormente, são as Estruturas Metálicas, que podem se referir à apenas uma viga, ou se tratar de uma complexa obra com vários detalhes construtivos metálicos e obras de arte. Revista Agro&Negócios: Qual o motivo de optar pela Estrutura

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Metálica? Leonardo: Hoje a Estrutura Metálica, por ser muito versátil, está sendo usada de casas populares aos mais arrojados projetos arquitetônicos; além das inúmeras vantagens que possui, tais como tempo de construção, dimensões dos vãos, menor custo por m2, ser ecologicamente correta e segura. Revista Agro&Negócios: Qual é a utilização de Estrutura Metálica no meio rural? Leonardo: A cada dia o produtor rural vem adquirindo máquinas mais modernas e, com isto, há uma correlação direta com a necessidade de conservação do patrimônio, sendo assim, nada mais correto do que construir um barracão para poder proteger as máquinas e equipamentos do sol e das chuvas; evitando danificar pinturas, correias, pneus, entre outros. Revista Agro&Negócios: Existe um padrão específico para os Barracões? Leonardo: Este é o grande segredo; não existe uma regra geral, pois cada produtor tem a sua realidade e necessidade. Os barracões poderão ter medidas e especificações diferentes, para que possam atender as necessidades de cada um. O produtor, ao decidir pela aquisição deste, poderá contar com o apoio de profissionais qualificados da METALCOM para lhe auxiliar na melhor definição do barracão. Revista Agro&Negócios: O que deve ser levado mais em conta neste caso específico? Leonardo: Cada caso deverá ser avaliado, para que no final a decisão

tomada tenha sido a melhor. Fatores como quantidade de máquinas, altura mínima, desnível do terreno, terraplenagem, fechamentos laterais, iluminação e ventilações naturais, portões de acesso, piso e, também, a verba disponível para a construção, devem ser levados em conta. Revista Agro&Negócios: Qual a vantagem de optar pelo Barracão Metálico? Leonardo: O Barracão Metálico tem várias vantagens em relação aos de concreto e madeira. Podemos citar o tempo da execução, vence grandes vãos livres, estrutura mais leve, beleza, custo e durabilidade do produto. Revista Agro&Negócios: E nas cidades, qual é a utilização das Estruturas Metálicas? Leonardo: Tudo o que foi dito e que pode ser feito para beneficiar o produtor rural, também poderá ser utilizado na zona urbana, e até com muito mais requinte, devido à qualidade dos Projetos Arquitetônicos e dos Projetistas que trabalham na área. Revista Agro&Negócios: Foi citado um enorme volume de água armazenada, como é calculado? Leonardo: O número de mais de 9.000.000 litros é a somatória dos volumes de Caixas D’água, Bebedouros para gado, Tanques de Combustíveis e Tanques de Água que produzimos nestes 25 anos de existência da METALCOM. São centenas de unidades produzidas e em utilização, principalmente, na Região Centro-Oeste e em outros locais, como Petrobrás –

Campo de Guamaré/RN e Prefeitura Municipal de Santa Clara do Xingú/ MT, Revista Agro&Negócios: Quanto à utilização de Caixas D’àgua, qual a importância das mesmas? Leonardo: Água é vida; um elemento natural para a sobrevivência da humanidade, item que o homem insiste em não preservar e que poderá faltar aos nossos netos. Nas cidades a água é captada de córregos, rios e poços artesianos; tratada por processo de decantação e químico; bombeada até pontos mais altos dos bairros; depositada em Caixas D’água e canalizadas até as residências, comércios e indústrias. Já nas propriedades rurais, ainda na maioria dos casos, as nascentes são de água potável, próprias para consumo, mas que na maioria dos casos não são utilizadas na sua melhor forma. Uma das formas de conseguir este equilíbrio é criar Caixas D’água para armazenar a água e depois distribuí-la aos locais de consumo; como casa, bebedouros para gado, ordenha mecânica, chiqueiro, horta, etc. Revista Agro&Negócios: Em relação a um reservatório rural, o que deve ser levado em conta

“Beleza, baixo custo e durabilidade são marcas inconfundíveis da Metalcom. Nestes 25 anos desenvolvemos projetos sólidos, visando atender às demandas de mercado. Tudo o que pode ser feito para beneficiar o produtor rural, também poderá ser utilizado na zona urbana” Leonardo Costa, proprietário da Metalcom para planejar as suas dimensões? Leonardo: Devemos, primeiramente, definir quais as principais necessidades, o consumo diário e a localização. Depois, definir a quantidade de água disponível, de onde será retirada e de que forma será captada. Temos como exemplo das formas de captação: a queda natural, carneiro hidráulico, bombas hidráulicas e bombas elétricas. Revista Agro&Negócios: Existe um tamanho Mínimo e Máximo para a execução das Caixas D’àgua? Leonardo: Quando falamos em Caixa D’água Metálica devemos levar em conta a relação Custo/Benefício para a escolha da mesma. O menor reservatório executado pela METALCOM é de 5.000 litros e o maior foi de 800.000 litros. Revista Agro&Negócios: Para

finalizar, qual mensagem o senhor gostaria de deixar? Leonardo: Primeiramente, não poderia deixar de agradecer a DEUS, por ser o meu maior parceiro durante toda minha vida; aos meus filhos, que sempre só nos deram alegrias; à minha esposa, que dedica todo seu tempo para que todas as partes continuem unidas, formando uma grande Família. Ao meu pai e minha mãe, que sempre me ensinaram, corrigiram e me apoiaram em tudo o que era correto. Aos meus avós, que infelizmente não estão mais conosco, mas que tiveram papel de destaque na minha criação e formação de caráter. A todos os familiares que nos deram o nome e o sobrenome de uma família forte, trabalhadora, honesta e cumpridora de seus deveres. Aos amigos e colegas de trabalho, pessoas de nosso convívio diário, um grande abraço e que Deus esteja junto de vocês, por onde quer que vocês estejam. 25


Artigo Paulo Molinari

Analista Safras & Mercado

SAFRA 12/13 – EXPECTATIVAS O Brasil sempre se destacou no agronegócio mundial. Seja com o ciclo mais distante do café e do açúcar ou no mais recente de milho, carnes e soja. O fato é que o país é um forte participante no agronegócio mundial. Neste ano de 2012 a situação não é diferente, talvez com maior relevância devido à necessidade de produções perfeitas na América do Sul, para fazer frente ao abastecimento mundial de curto prazo. Em situações como estas, os preços passam a ser atrativos e a rentabilidade espalha um ótimo ambiente no interior brasileiro. As estimativas de longo prazo sempre são importantes para focar evoluções possíveis e oportunidades que tendem a surgir. Porém, para o mercado brasileiro de commodities, o curto prazo é relevante. Nos últimos anos, os fatores ligados ao clima e a situação econômica têm trazido grandes alterações no perfil de preços das principais commodities e gerado certos ciclos de curto prazo. Neste momento, o mercado mundial passa por um destes ciclos, com milho e soja tendo atingido patamares recordes de preços na Bolsa de Chicago e se convertendo em ótimos patamares aos produtores brasileiros. É importante destacar este momento cíclico como um ingrediente importante para 2013. Devemos destacar que tudo o que vem ocorrendo em 2012 é resultado de uma sequência de ocorrências, entre elas: - Situação envolve três anos consecutivos de quebra de safra nos Estados Unidos, sendo que em 2012 é a maior desde 1988; - Duas quebras em três safras no Leste Europeu; - Duas quebras em três safras na Argentina; - Pelo menos uma quebra de safra brasileira em três 26

anos, entre elas em 2012; Esta é uma situação que vai trazendo estoques mundiais em patamares problemáticos e de maior risco. Por isso, os preços em patamares recordes. Isto vai garantindo preços já saudáveis para a safra sul-americana 2013 de verão e uma boa rentabilidade aos produtores que tem aproveitado os preços futuros em patamares históricos. Certamente, contudo, isso não garante um segundo semestre de 2013 com os mesmos perfis de preços e liquidez. É importante frisar que os preços são altos não apenas para o produtor brasileiro, mas, também, para todos os produtores mundiais. Por isso, não apenas o Brasil plantará uma supersafra de soja, mas os demais países sul-americanos, seguidos da Europa e Estados Unidos, em 2013. Assim, como uma sequência de perdas de produção trouxe os preços em patamares históricos, uma sequência de boas produções podem acomodar razoavelmente os mercados, já em 2013. As variáveis clima e economia continuam sendo ingredientes fundamentais dentro deste contexto. E a primeira questão para 2013 se resume no item clima, ou seja, haveria chance da quarta quebra consecutiva de produção nos Estados Unidos de forma a manter os preços extremamente elevados? Esta certamente é uma questão que somente poderemos averiguar no próximo ano. Este contexto é fundamental no sentido de avaliarmos o quadro de 2013 para a safra brasileira. Teremos uma safra de

soja recorde que vai sendo negociada a preços recordes. Parece que a soja garante uma condição favorável para o próximo ano, diante de uma situação em que os produtores já negociaram mais de 50% da safra 2013. A grande preocupação esta na safrinha de milho 2013. Nos últimos três anos, a comercialização da safrinha foi “salva” por situações internacionais que mudaram radicalmente o contexto dos preços e da exportação, ou houve atitudes de governo que colaboraram. Em 2012, uma safrinha de 37,7 milhões de toneladas deveria ter causado problemas sérios no mercado interno. Porém, a forte quebra nos Estados Unidos trouxe liquidez para a comercialização em Goiás e Mato Grosso. Sem esta quebra, os dois estados não teriam como escoar tal volume de safrinha. Esta situação promete ter o mesmo perfil para 2013. Na confirmação de uma nova grande safrinha no próximo ano, há fortes preocupações com patamares de preços no segundo semestre, custos da logística e escoamento. Uma safra normal nos Estados Unidos, Leste Europeu e uma safrinha novamente gigantesca no próximo ano revela a necessidade de avançarmos nas negociações futuras com o milho para o próximo ano, como forma de reduzir os riscos com uma sobre-oferta interna de milho.

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Brasil registra mais uma

PRODUÇÃO RECORDE Produção da safra 2011/12 é calculada em 165,90 milhões de toneladas de grãos Expansão na área total cultivada com grãos, condições climáticas favoráveis na maioria das regiões produtoras e investimentos em tecnologia por parte do produtor rural. Juntos os três fatores resultaram em mais uma superação nos números da produção brasileira. Calculada em 165,90 milhões de toneladas, a safra 2011/2012 teve um volume de produção 1,9% maior do que o registrado na safra anterior, considerada recorde até então, com 162,80 milhões de toneladas. O aumento da produção é de 3,09 milhões de toneladas de grãos. O elevado crescimento tem contribuição significativa da produção de milho segunda safra, que apresentou expansão de 23,1% na área cultivada em todo o país, de acordo com informações do último levantamento de safras realizado

pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O aumento em produção ficou calculado em 73%, ou seja, 16,40 milhões de toneladas a mais. O valor total de milho produzido durante a segunda safra é de 38,86 milhões de toneladas. Mais uma vez a região Centro-Oeste se consagrou como celeiro da produção brasileira. Com aumento de 24,7%, a região produ-

Por Tássia Fernandes ziu 70,77 milhões de toneladas. O estado que teve maior destaque foi Mato Grosso, com crescimento de 30,4% no que diz respeito à produção, gerando 40,35 milhões de toneladas de grãos. Logo na sequência vem Goiás, com 15,3% de aumento, correspondente à produção de 18,59 milhões de toneladas.

Índices Safra 2011/2012

teve lucros acima do previsto, afinal, a maior parte da produção já havia sido comercializada em contratos antecipados. “Foi uma porcentagem muito pequena de produtores que aproveitaram a alta dos preços durante a safra 2011/12, pois quando a soja chegou a R$50 a saca, por exemplo, a grande maioria efetivou a comercialização”, complementa Antônio Gazarini, empresário rural que culti-

va em Jataí/GO. Antônio não comemora a alta no preço dos grãos, afinal, a melhoria na remuneração de alguns foi causada pela dificuldade enfrentada por outros, que perderam grande parte da produção em virtude do clima, que apesar das modernas técnicas de monitoramento na agricultura é uma variável instável e incontrolável. “Como produtor, gostaria

muito que o estoque mundial de alimentos estivesse baixo devido ao aumento no consumo e não por conta de situações climáticas que prejudicaram outros produtores rurais. Tratando de clima, sabemos que hoje o problema está no hemisfério norte, mas amanhã pode estar no hemisfério sul, por isso, é importante ter cautela e não devemos, jamais, pensar no sucesso de um baseado na desgraça de outro”, reflete.

a mercê das negociações de balcão. Para o empresário rural, Antônio Gazarini, a melhor opção continua sendo garantir parte da venda antecipadamente. “O produtor não pode jogar todos os ovos em uma cesta só. Ele precisa ter cautela e tentar fazer um preço médio. Às vezes o preço médio não é tão bom quanto o esperado, mas é melhor não arriscar. Nem

sempre é fácil acertar na hora de vender. Para o produtor é mais fácil produzir do que comercializar”. Ainda em fase inicial de plantio, grande parte da safra 2012/13 já foi comercializada. A estratégia de travar preços antes da colheita do grão continua sendo a opção mais garantida de retorno para o agricultor.

• Novo ciclo Em relação aos elevados índices de produção obtidos na safra 2011/12, a expectativa é de que os bons resultados perdurem durante o próximo ciclo de produção. Já em relação à comercialização, apesar dos melhores preços terem sido ofertados depois de concluída a colheita, principalmente durante a segunda safra de milho, a sugestão é de que os produtores não fiquem

• Altos e baixos Entretanto, em meio aos destaques, a safra 2011/12 também foi marcada por quebras. No Brasil a situação foi complicada, principalmente, na região Sul. De acordo com o cálculo de produção estimado pela Conab, a região produziu 57,97 milhões de toneladas de grãos, 14,4% ou 9,77 milhões de toneladas abaixo da safra anterior. O clima foi o gran-

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de vilão responsável pelas perdas, pois o longo período de estiagem foi crucial para as culturas de milho primeira safra e de soja. No cenário internacional o problema mais visível foi nos Estados Unidos da América (EUA). A estiagem prolongada interferiu drasticamente naquela que estava prevista para ser a maior safra do país.

De acordo com relatório divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção ficou em torno de 115 milhões de toneladas a menos do que estava sendo esperado pelos agricultores. Considerada uma das perdas mais graves até então, a situação afeta diretamente todo o mundo, primeiramente, com o risco de redução ainda maior nos estoques de alimentos, aumentando a preocupação a cerca do problema da fome. A escassez do produto, devido ao aumento da demanda, também elevou o preço dos grãos, provocando inflação. Além da elevação no preço pago pelas commodities – soja e milho – a quebra na safra americana também contribuiu com o aumento das exportações brasileiras. Entretanto, apesar de se deparar com valores acima da média de comercialização – a soja chegou a ser vendida a R$ 70 a saca e o milho a R$ 26 a saca - o agricultor não 29


Começa o plantio da

SAFRA 2012/13 Expectativa para o novo ano safra é de produzir mais de 176 milhões de toneladas de grãos Por Tássia Fernandes

Em busca de mais um recorde. Este é o pensamento que guia todo o trabalho em torno de mais uma safra de grãos no Brasil. Com o fim do período do vazio sanitário e o início das chuvas, já foi dada a largada para o plantio 2012/13. A cerimônia simbólica foi realizada em Sorriso/MT, pela Aprosoja Brasil. O estado de Mato Grosso é considerado a capital do agronegócio brasileiro. De acordo com o levantamento divulgado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) em outubro, a expectativa de produção de soja para o ano safra 2012/13 é de mais de 24 milhões de toneladas. Portanto, o estado deve continuar na liderança, já que na safra anterior foi responsável por produzir 22 milhões de toneladas do produto, o correspondente a 63% da safra de soja da região Centro-Oeste, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento. Para Goiás as expectativas também são de uma safra positiva. De acordo com a primeira projeção realizada pela Federação de Agricultura e Pecuária do estado (Faeg), a produção total de grãos deve chegar a 20 milhões de toneladas, índice recorde.

O aumento nacional está calculado em 7% sobre o total colhido na safra 2011/12, o que deverá ficar em torno de 176,243 milhões de toneladas de grãos, entre cereais e oleaginosas, na temporada 2012/13. Os dados são do levantamento realizado pela Safras & Mercado. O destaque previsto é em relação à soja, que deverá apresentar alta de 24%, chegando a 82,245 milhões de toneladas em todo o país. De acordo com a análise realizada pela Safras & Mercado, além da produção, a expectativa para a produtividade das lavouras também é favorável. Isso se deve, principal-

mente, ao cuidado do produtor rural que tem se preocupado mais com a utilização de insumos; como fertilizantes, calcário, defensivos e com a qualidade das sementes utilizadas. O clima também é visto com bons olhos; de acordo com a análise, apesar de ser uma variável imprevisível, a ação do fenômeno climático El Niño deverá impulsionar a safra de verão, principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste; segundo previsões divulgadas pelo Climatempo Meteorologia. O clima com sol, calor e pancadas de chuva será favorável para o bom desenvolvimento das lavouras.

produtividade”. A sugestão é corrigir a fertilidade do solo por meio de adubação e corretivos, e fazer uma poupança no solo para cenários econômicos mais difíceis. Como o cenário atual está favorável, este seria o momento de aproveitar e focar na melhoria do solo. Para que haja melhor aproveitamento de nutrientes, a recomendação de Veronese é corrigir a acidez do solo, balancear a quantidade de nutrientes que estão sendo adicionados aos sistemas produtivos, medir os nutrientes que estão sendo exportados e adotar sistemas de produção com manejo conserva-

cionista. Ainda segundo o pesquisador, a produtividade das culturas não depende apenas da quantidade de adubo que é adicionada ao solo. É preciso avaliar criteriosamente o sistema de produção adotado, pois ele interfere na disponibilidade de nutrientes, na eficiência de aproveitamento pelas plantas e, consequentemente, na produtividade; daí a importância de manter o cuidado com a lavoura e de realizar investimentos não só voltados para a melhoria da fertilidade do solo, mas também na rotação de culturas.

• Caminho do sucesso Manter índices satisfatórios na produção é o objetivo de todos os agricultores. Mas, para que isso aconteça, é preciso ter certos cuidados com a lavoura. Investir em estratégias de manejo respaldadas em resultados de pesquisa é a recomendação da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso – Fundação MT. Para o pesquisador da Fundação, Márcio Veronese, o produtor rural deve aproveitar a alta que obteve nos preços das commodities durante a comercialização da safra 2011/12, para melhorar a nutrição da cultura. “Mas, é preciso investir no que realmente traz resultados na 30

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• De olho na ferrugem Lidar com a lavoura envolve inúmeros procedimentos. Além de garantir uma adubação de qualidade, com o fornecimento dos nutrientes adequados, também é importante manter a imunização, independente da cultura cultivada. Afinal, a infestação de pragas e a incidência de doenças podem afetar a lavoura e trazer prejuízos em produção e, consequentemente, em lucratividade. Entre os grãos que tem maior destaque na produção nacional está a soja. E entre os principais problemas que afetam a cultura está a Ferrugem. Causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, a doença se espalha facilmente com o auxílio do vento e pode comprometer a produtividade da oleaginosa se não for identificada a tempo. Com o início da safra 2012/13 o agricultor deve ficar ainda mais atento, pois de acordo com a observação realizada por pesquisadores da Fundação MT, neste novo ciclo de cultivo a Ferrugem pode chegar mais cedo às lavouras e ser ainda mais agressiva. Como explica o pesquisador da Fundação MT, Fabiano Siqueri, a probabilidade é explicada pela quantidade de soja tigüera espalhada em várias regiões produtoras de Mato Grosso e, também, de Goiás. A soja tigüera, ou guaxa, é aquela que nasce de grãos perdidos da colheita

anterior. Durante o período do vazio sanitário o agricultor tem a obrigação de eliminar as plantas, mas nem sempre é possível, principalmente, porque a germinação não acontece apenas na área da propriedade, mas também às margens das rodovias, entre outros locais; tornando-se potenciais fontes de inóculos do fungo causador da doença. Fabiano Siqueri destaca que a situação é preocupante, uma vez que o histórico da doença mostra que nos anos em que houve sobrevivência de soja no período de entressafras, o fungo também sobreviveu, a doença chegou mais cedo e trouxe grandes prejuízos às lavouras. “A situação é semelhante a que verificamos atualmente. Por isso, o produtor deve ficar de olho, porque se o fungo sobreviveu ao pior período da seca, agora, com a chegada das chuvas e com o clima mais úmido, a tendência é de que ele se multiplique mais rápido”, destaca. Para se ver livre do problema, o agricultor precisa realizar o monitoramento constante, observando passo a passo o desenvolvimento da lavoura. O pesquisador destaca que é interessante ter o auxílio de profissionais capacitados no acompanhamento da safra. “Não é tão simples identificar a doença. É

preciso ter o olho bem treinado, por isso, o auxílio de técnicos, engenheiros agrônomos ou de pesquisadores e laboratórios é importante”. Siqueri ressalta que o agricultor deve ficar atento para verificar se a ferrugem vai chegar antes do florescimento da soja. “Caso isso aconteça, ele deve fazer a aplicação de defensivos imediatamente”. Mas, se não forem identificados focos da doença até este estágio, assim que o florescimento começar a aplicação preventiva deve ser realizada. “A doença é muito rápida e se o agricultor perder qualquer tempo que seja em relação ao seu desenvolvimento, as perdas podem ser irreversíveis. Portanto, com a chegada do florescimento, mesmo que não tenham sido identificados focos da ferrugem, é preferível fazer a aplicação, afinal, com os altos preços pagos pela soja atualmente, qualquer perda é significativa”. Como enfatiza o pesquisador, além do monitoramento local e regional, é de fundamental importância a aplicação de produtos eficientes e na hora certa, para garantir a sanidade da lavoura de soja e protegê-la contra a ferrugem. Com as ações realizadas de maneira eficaz, o agricultor tem ainda mais chances de chegar a mais um recorde na produção de grãos.

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Métodos de

PULVERIZAÇÃO Por Tássia Fernandes

No momento de combater pragas e doenças a utilização de defensivos agrícolas eficientes deve ser aliada ao melhor método de aplicação. Pulverização terrestre e aérea são as opções disponíveis para o produtor rural. Cabe a ele optar por aquela que considera mais econômica e eficaz para garantir a imunização da lavoura e, consequentemente, o bom rendimento da produção. No caso da pulverização terrestre, diversos modelos de maquinários estão disponíveis para o agricultor. Entre eles, pulverizadores com barras frontais, traseiras e centrais. A localização da barra é um dos detalhes que deve ser observado no momento da escolha, pois a função do acessório é distribuir o produto ao longo da faixa de comprimento e quanto mais estável for a barra, melhor será o controle do alvo e a penetração do defensivo na planta. Para quem defende o sistema, a capacidade de penetração do produto na lavoura é apontada como grande destaque. Entretanto, para Matheus Gonzaga de Lima, engenheiro agrônomo e responsável técnico de aviação agrícola, a pulverização aérea também pode garantir bons índices de absorção do produto pela cultura, devido à uniformidade e o tamanho das gotas. De acordo com o profissional, o sistema ainda traz outras vantagens, como a rapidez no momento de realizar o combate. “Por meio do sistema o agricultor consegue imunizar grandes áreas em um 34

curto espaço de tempo, garantido a proteção da lavoura no momento adequado e ficando disponível para dar sequência a outras atividades”. Regulamentada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e pelo Ministério da Aeronáutica, a aviação agrícola deve seguir alguns procedimentos, como, por exemplo, trabalhar com profissionais qualificados, como pilotos especializados – com certificado de conclusão do curso de aviação agrícola - e técnicos agrícolas. O técnico é o responsável por abastecer o avião com o combustível e com os produtos que serão aplicados na lavoura. A aeronave utilizada também deve ser específica para realizar a pulverização de defensivos agrícolas. Matheus Gonzaga destaca que para realizar a pulverização aérea o agricultor pode adquirir uma aeronave ou contratar uma em-

presa prestadora do serviço. Neste caso, deve estar consciente de que a empresa é responsável apenas por realizar a aplicação. “A receita do defensivo agrícola que será aplicado na lavoura deve ser elaborada pelo engenheiro agrônomo que atende à propriedade e a compra do produto deve ser realizada pelo agricultor”, esclarece. O engenheiro agrônomo destaca que outra vantagem do método de aplicação é o fato de que a pulverização aérea evita que aconteça perdas na cultura, pois não amassa as plantas e não causa a compactação do solo. Matheus afirma que a aplicação terrestre gera perdas em torno de R$ 80 por hectare, quando há a destruição de parte da plantação, devido ao trajeto percorrido pela máquina em meio à lavoura. “A pulverização aérea é indicada para qualquer produtor rural e o benefício independe do tamanho da área. Pelo que temos observado, a aviação agrícola é mais solicitada por grandes agricultores, porque eles têm controle sobre os custos e reconhecem os benefícios econômicos; mas o pequeno produtor também pode ter economia de gastos e garantir uma imunização eficiente utilizando o método de pulverização aérea”, garante.

Rapidez

Característica de maior destaque. A rapidez na aplicação garante a eficácia no combate a pragas e doenças, realizando a imunização de grandes áreas em curto espaço de tempo.

Evita danos

O agricultor tem garantia de que não terá perdas na lavoura, pois as plantas não serão amassadas e não haverá compactação do solo.

Indicada para qualquer tipo de solo

Mesmo com a chegada das chuvas, o fato do solo ficar encharcado não é motivo para suspender a pulverização. Pois não há necessidade de esperar até que o solo esteja apto para suportar o peso dos pulverizadores

Uniformidade

Considerada excelente, a uniformidade de aplicação acontece porque o método não sofre influência das condições do terreno, por exemplo.

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Artigo

Glauber Silveira

Produtor rural, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) E-mail: glauber@aprosoja.com.br / Twitter: @GlauberAprosoja

Os apagões da

SAFRA 2013

É iminente o crescimento da produção brasileira nesta próxima safra, em que devemos, de longe, superar os 165,5 milhões de toneladas obtidos em 2012. Algumas estimativas apontam números próximos aos 200 milhões de toneladas e este número, sem dúvidas, é possível, uma vez que se o clima for favorável, só na soja, podemos crescer 20 milhões de toneladas e mais outros 10 milhões de toneladas no milho. Mas, o que deveria ser só comemoração traz sérias preocupações. Nos principais fóruns nacionais e internacionais que discutem os gargalos da cadeia produtiva do agronegócio brasileiro, os temas centrais são infraestrutura e mão de obra. De infraestrutura me refiro à logística, armazenagem, etc. Já no quesito mão de obra o problema é referente à qualificação e à quantidade disponível. Os investimentos e os pro-

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gramas logísticos nem de longe têm acompanhado o dinamismo da safra brasileira. Para se ter uma ideia, segundo dados da Conab, a capacidade de estocagem da safra brasileira é de cerca de 135 milhões de toneladas, o que gera um déficit de 30 milhões de toneladas em 2012. Então, imaginem agora que podemos chegar a 200 milhões. Ou seja, podemos constatar na próxima safra o maior apagão de armazenagem da história. Embora o governo lance programas para a construção de armazéns, teria que fazer um esforço muito concentrado para suprir a defasagem, pois o descompasso entre a produção e a capacidade de estocagem no Brasil sempre foi grande. Ao contrário de muitos países, onde a infraestrutura se antecipa ao prognóstico de crescimento de produção, aqui estamos sempre defasados e, pior, quem paga o prejuízo

pelo empreendedorismo é somente o produtor. O governo deve urgentemente buscar alternativas ao déficit de armazenagem. Será impossível solucionar em uma safra, ainda mais que ela já começou e não temos mais tempo hábil. É salutar buscar alternativas como silobag, armazéns de lona, que entre outras seriam alternativas temporárias, mas que serviriam para amenizar o problema, além de flexibilizar e descentralizar o financiamento, visto que o financiamento não pode ser centralizado no Banco do Brasil e nem imaginar que o produtor consiga todas as certidões em tempo recorde. É preciso tratar o tema como emergencial e prioritário, pois ele é. Em Mato Grosso, o problema da falta de armazéns é ainda mais crítico, sendo que na próxima safra a capacidade de estocagem pode ser de apenas 60% da produção. O

problema se agrava ainda mais devido à produção de culturas diversas e suas diferenciações, como soja convencional e transgênica, milho, sorgo, girassol e arroz. Nesta safra, já tivemos milho a céu aberto, imaginem agora, quando a soja e o milho podem ter um acréscimo de cinco milhões de toneladas. Diversos fatores agravam ainda mais a nossa futura capacidade de estocagem, como burocracia na tomada de empréstimos para construção de armazéns (agravada pelo endividamento de uma parcela significativa dos produtores), dificuldade de financiamentos pelos pequenos produtores, ou seja, tudo isto faz com que o Brasil - entre os principais produtores de grãos do mundo - seja o país com menor capacidade de estocagem nas propriedades. O agronegócio brasileiro deve crescer muito rapidamente nos próximos 10 anos e é preciso que o governo faça um real esforço para responder ao dinamismo da agricultura, caso contrário, teremos diversos apagões no sistema de armazenagem, escoamento e exportação de nossa produção. O problema é grave e o máximo que for possível fazer será ainda pouco, uma vez que estamos muito defasados. E ressalto, não é que o governo desconhecesse o potencial crescimento, o que ocorre são as prioridades, e o agro nunca

É preciso que o governo faça um real esforço para responder ao dinamismo da agricultura, caso contrário, teremos diversos apagões no sistema de armazenagem, escoamento e exportação de nossa produção foi prioridade. A próxima safra também enfrentará problemas sérios de escoamento, seja por congestionamento de estradas, nos portos, nos armazéns, o que trará graves danos à produção, onerando custos principalmente de transporte, o que já estamos constatando hoje com o aumento de fretes seja na entrega dos insumos da produção ou no escoamento desta. A questão portuária me preocupa muito. Nossos portos já estavam acima de seu limite, e como imaginar que consigam absorver um aumento de 20% da safra brasileira? O problema se agrava porque hoje mais de 70% da safra de soja brasileira é exportada pelos portos do sul e sudeste, que estão estrangulados. Se aliarmos a estes problemas de infraestrutura portuária questões trabalhistas de jornada de trabalho, é de colocar a mão na cabeça e dizer: “Meu Deus!”. Outro fator fundamental ao crescimento da produção que está tirando o sono dos produtores é a falta de

mão de obra, não só pela quantidade, mas também pela qualificação. Se imaginarmos só o crescimento da área de soja no Brasil precisaríamos de, no mínimo, 5.000 novos trabalhadores diretos capacitados para atuar com as novas tecnologias de produção. Porém, isto não tem sido simples, primeiro porque as pessoas têm preferido trabalhar na cidade e, depois, porque não é simples treinar pessoas em um curto espaço de tempo. Fatores como logística e mão de obra têm afetado todos os segmentos produtivos. Com o crescimento projetado para o Brasil nos próximos anos será preciso enfrentar isso fazendo esforço dobrado como os asiáticos, mas, infelizmente, no Brasil, tudo é na contramão: quando precisamos trabalhar mais para enriquecer e aproveitar as oportunidades, chegam os “do contra” e querem reduzir jornadas, proibir investimentos, tudo passa a ser proibido e não sustentável. Sinceramente, não entendo, você entende? 37


Qualidade garante a produtividade Qualidade da água pode interferir diretamente no rendimento produtivo dos animais A água é o bem mais precioso que a humanidade possui, sem este elemento natural toda e qualquer forma de vida no planeta deixaria de existir. Fonte de sobrevivência tanto humana como animal, a água tem um papel extremamente importante e determinante na qualidade de vida dos seres e interfere diretamente no rendimento produtivo dos animais. A disponibilidade de água para o consumo animal é um fator mais relevante até mesmo do que a própria oferta de pastagem ou ração suplementar. Débora Ferguson, criadora de aves por meio do sistema de

integração e diretora da Associação Goiana dos Integrados Produtores de aves, ovos e suínos (Aginterp), destaca que no caso da criação de aves a disponibilidade de água é fundamental. “Para se ter uma ideia, a primeira coisa que o meu funcionário tem que fazer na hora que ele entra no aviário de madrugada, para poder dar a primeira ração para os animais é verificar se eles têm água disponív,el, se não tiver água o animal não pode comer”. Sendo responsável por, aproximadamente, 80% da constituição corporal dos animais, a água atua em várias partes do organismo. “A

Por Luana Loose Pereira água auxilia a digestão dos nutrientes; age também na termorregulação, possibilitando ao organismo manter a temperatura ideal para o bom funcionamento das funções metabólicas; colabora no transporte de oxigênio e nutrientes para as células e lubrifica articulações. A água também protege os órgãos e tecidos corporais e ainda reduz a sobrecarga dos rins e do fígado, facilitando a excreção de resíduos”, afirma Samara Rosa, acadêmica do curso de zootecnia da Universidade Federal de Goiás (UFG)/Campus Jataí.

• Qualidade da água Por ter uma participação ativa em várias funções metabólicas do organismo, a água é considerada determinante na busca por melhores resultados na produção. Porém, mais importante do que a disponibilidade constante, a qualidade da água ingerida pelos animais é que se torna extremamente relevante, pois contribui com o bem estar dos animais, tornando-os mais sadios e produtivos. De acordo com Samara Rosa, a qualidade da água interfere na saúde e no bom desenvolvimento de qualquer espécie animal. “Se a qualidade da água for ruim, os animais irão ingerir baixas quantidades do líquido, que ocasionará também o baixo consumo de alimento. Em uma reação em cadeia, não ocorrerá ganho de peso, o que resultará num baixo rendimento animal/dia. O animal que não se alimenta, não produz leite em quantidade e qualidade, as-

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sim como não produz ovos ou ainda não produzirá carne de qualidade. Em todos os casos a consequência final é a mesma, ocorrerá perda de peso, já que o organismo dos animais estará deslocando as reservas corporais na tentativa de manter os níveis normais de produção”. Para ser considerada adequada para o consumo, a água oferecida aos animais deve ter características específicas que determinam e comprovam sua qualidade. “Deve ser inodora, incolor e livre de microrganismos patogênico (Escherichia coli), substâncias tóxicas (metais pesados, minerais tóxicos, agrotóxicos) e sem nitratos, sulfatos e com o pH ao nível de 7”, explica Samara Rosa. Para ter certeza de que a água está nos padrões ideais, é necessário que o criador faça regularmente a análise da água, levando em consideração os aspectos bac-

teriológicos, físicos e químicos. Débora Ferguson, que utiliza água de poço artesiano, salienta que em sua propriedade os testes de análise da qualidade da água são realizados diariamente e antes de chegar ao consumo dos animais a água passa por um sistema de filtragem. “A gente controla a qualidade da água através de testes diários onde sempre estamos verificando as características da água oferecida aos animais”. Capaz de eliminar microrganismos, o cloro é o desinfetante mais utilizado no tratamento de água. Fácil de ser aplicado e com baixo custo, a utilização do cloro já tem boa aceitação pela maioria dos produtores. “Quando necessário colocamos uma pastilha de cloro no sistema de filtragem, através do qual os bebedouros são abastecidos”, esclarece Débora.

• Armazenagem A forma de armazenagem também é um dos fatores que pode interferir na qualidade da água. Samara Rosa pontua que o local de armazenagem de água deve ser limpo, livre de agentes contaminantes e de qualquer tipo de organismos que possam, de alguma forma, alterar os parâmetros de qualidade. “Os locais, como bebedouros, devem ser lavados sempre que necessário, evitando o acúmulo de folhas, restos de comida ou qualquer tipo de sujidades que possam resultar no surgimento de doenças nos animais. Além disso, no caso das caixas d’água, é importante que sejam mantidas tampadas

e sejam limpas periodicamente, no mínimo a cada seis meses”. Dependendo do tipo de armazenagem, a temperatura da água também pode sofrer alterações e prejudicar o consumo por parte dos animais. “É comum ouvir dizer que a temperatura ideal é a temperatura ambiente, mas o produtor deve tomar cuidado, já que há lugares em que a temperatura pode chegar aos 40ºC. A água consumida pelos animais deve ser fresca, para possibilitar a termorregulação do organismo. Quando muito quente ou muito fria, a água impossibilita a manutenção da temperatura corporal e acaba

prejudicando o animal. Pode-se considerar como temperatura ideal para boa aceitação dos animais, a água próxima aos 25ºC”, afirma Samara Rosa. Em relação à armazenagem, Débora Ferguson conta que a preocupação com a higiene e manutenção dos reservatórios de água é constante. “Na propriedade, temos dois tipos de caixas d’água, uma de metal e outra de fibra. A preocupação é mantê-las sempre cobertas e em bom estado de conservação para que não interfiram na qualidade da água armazenada”.

lecidas pelo Conselho, porém, grande parte releva sua importância e a consequência do não cumprimento das mesmas. “Quando se pensa nos criatórios de suínos e aves, essa preocupação já está um pouco mais evidente, frente aos efeitos diretos da qualidade do abastecimento de água sobre a produção dos animais, porém, no que diz respeito à criação de bovinos e ovinos, os criadores ainda são muito relapsos. Isso acon-

tece na maioria das vezes por falta de interesse de alguns produtores, mas, as novas leis de proteção ao meio ambiente e as multas geradas, estão fazendo com que os produtores tomem um pouco mais de cuidado com as práticas relacionadas, principalmente, à conservação da qualidade da água”.

• Resoluções do CONAMA A qualidade da água vem ganhando cada vez mais espaço e relevância entre os profissionais ligados à pecuária. Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) estabelecem, atualmente, os padrões de qualidade para águas tanto superficiais como subterrâneas. Samara Rosa destaca que na maioria das vezes os criadores têm conhecimento das normas estabe-

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ÁFRICA

NO CERRADO Criatório comercial em Quirinópolis/GO possui mais de 35 espécies de animais exóticos Por Luana Loose Pereira A preservação ambiental é hoje um dos temas mais debatidos pela comunidade mundial. A conservação da fauna e da flora, visando à manutenção e também a perpetuação das espécies, tanto vegetais como animais, são temas de projetos ambientais realizados por inúmeras entidades no mundo intei-

Fotos: Peterson Bueno

ro. Numa época, em que ações sustentáveis vêm se tornando o centro das atenções, a criação comercial de animais exóticos e silvestres na maioria das vezes não é encarada com bons olhos por leigos e especialistas da área. Com o objetivo de desfazer a ideia errônea que comumente

rotula esta atividade como ilegal, muitos criadores profissionais vêm buscando divulgar o seu trabalho e demonstrar que os criatórios comerciais, devidamente licenciados pelos órgãos competentes, também são um sistema comprometido com a preservação e a perpetuação das espécies.

adultos, nós resolvemos nos juntar e a partir daí começamos a criação de espécies domésticas, como pavões, faisões, etc. Em 1997, nós passamos a criar a Ema e o Veado Catingueiro, fizemos então os projetos e apresentamos junto ao Instituto Brasileiro de Amparo ao Meio Ambiente (IBAMA), executamos todas as normas e começamos a criação comercial. A partir do ano 2000, novos exemplares, entre servos e antílopes foram sendo adquiridos”. Hoje na propriedade já são mais de 35 espécies de animais, entre mamíferos e aves, originário das faunas Africana, Européia e Asiáti-

ca. “Nós temos os Waterbuck (Kobus Ellipsiprymnus) e os Elandes (Taurotragus Oryx) que são antílopes da fauna africana; temos os antílopes cervicapra (Antilope cervicapra) que são indianos, temos também os cervos Dama (Dama Dama), Nobre (Cervus Elaphus) e Axix (Axis Axis) que são asiáticos, além dos Emús (Dromaius Novaehollandie) que são australianos e os búfalos da raça Jafarabadi (Bubalus bubalis) que tem como característica exótica a pele branca e os olhos azuis”, destaca Noel Miranda.

• Exemplo goiano Proprietários da Fazenda Serra Azul, localizada no município de Quirinópolis/GO, Noel Gonçalves Lemes e seu filho Noel Gonçalves Miranda são um exemplo de profissionais que por paixão aos animais resolveram investir na criação e na comercialização de espécies exóticas e silvestres. Segundo Noel Miranda, a iniciativa de transformar a propriedade em um criatório comercial partiu de seu pai, Noel Lemes, mas logo chamou a atenção de toda a família. “Desde quando eu era criança meu pai já gostava, eu acredito que tudo isso veio com o incentivo dele. Quando ficamos

• Sistema de criação dos animais Na Fazenda Serra Azul todas as espécies são criadas coletivamente. Noel Miranda explica que mesmo em um espaço coletivo a convivência é tranquila. “Desde o momento em que chegam aqui os animais são criados todos no mesmo ambiente. O local de convívio e pastagem é muito amplo e a oferta de suplementação alimentar satisfatória para todos, então não há conflito entre eles”. Os animais ocupam uma área de aproximadamente 40 hecta40

res, dividida entre um ambiente de pastagem maior e os demais piquetes. Soltos em nível de pastagem, os animais recebem suplementação alimentar com silagem de milho e ração para ruminantes. A água oferecida é proveniente de poços e armazenada em reservatórios de onde é distribuída para os bebedouros espalhados por toda a propriedade. Noel ratifica que a adaptação dos animais é tranquila e se dá de forma natural. “A questão principal é prestar atenção no manejo de cada espé-

cie, e em dias de calor, por exemplo, nós evitamos trabalhar com aquelas que sejam nativas de áreas mais frias”. Adquiridos em outros criatórios nacionais, os animais, na maioria das vezes, chegam ao recinto ainda jovens. Noel Miranda salienta que a compra de adultos ou jovens depende da oferta no mercado. “Nós costumamos trabalhar com animais jovens, que tem mais futuro, mas isso não quer dizer que já não chegamos a comprar espécies adultas”. 41


• Comercialização

Búfalo Branco (Bubalus bubalis)

Waterbuck (Kobus Ellipsiprymnus)

Cervo Dama (Dama dama)

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Alguns exemplares exóticos nascidos na propriedade ou adquiridos ainda filhotes são tratados com o uso de mamadeira. A proximidade entre os humanos e os animais acaba tornando algumas espécies mais sociáveis na vida adulta. “O animal, na maioria das vezes, é agressivo por sobrevivência; a agressividade é uma forma de defesa. A criação não afeta o instinto do animal, porém o convívio o torna mais humanizado e acostumado com a presença de humanos”, esclarece Noel Miranda. O segredo para a manutenção de uma boa relação que facilite o trabalho com os animais, segundo Noel Miranda, é o respeito às peculiaridades de cada espécie e o carinho para com todos. “Para saber se os animais são bem tratados em qualquer propriedade é só chegar perto, se eles não fogem você percebe na hora que os mesmos estão bem tratados. Eu busco deixá-los mais calmos e um pouco mais domésticos por que isso facilita o manejo. Quando é mais dócil, o animal sofre menos com o transporte, com as mudanças de habitat, um exemplar mais manso tem a garantia de uma sobrevida melhor”. A ideia da família é continuar aumentando ainda mais o número de exemplares exóticos e silvestres na propriedade. Noel Miranda afirma que, primeiramente, o incremento será na linha dos herbívoros, espécie de fácil manejo e que diminui a necessidade de ampliação da mão de obra.

A Fazenda Serra Azul tem uma estrutura montada para atender a todo o Brasil. Os clientes, na maioria das vezes, são proprietários de outras fazendas, sítios, hotéis fazenda e haras, que adquirem os animais para criação doméstica. Outro nicho de mercado potencial são os zoológicos e áreas ecológicas voltadas para a visitação do público. Noel Miranda afirma que esse não é um mercado fácil, porém não deixa de ser rentável. “Nosso trabalho é voltado para pessoas que queiram criar o animal exótico em suas áreas, existem animais com valores expressivos, então, às vezes, o preço dos exemplares não é acessível a todo mundo.” O preço de comercialização oscila de acordo com o tipo de espécie e das características do animal. Além disso, Noel Miranda pontua que não é apenas o preço que deve ser levado em consideração. Como todo animal doméstico, as espécies exóticas necessitam de uma estrutura específica para sua criação. “Não é só comprar o animal, o cliente tem que ter uma estrutura para recebê-lo. O animal precisa de conforto e, principalmente, uma alimentação adequada. Se o proprietário chegar e soltar o animal sem estrutura, o animal acaba se evadindo e o cliente perdendo todo o investimento realizado”. O custo em relação à criação dos animais exóticos em propriedades particulares é considerado viável. Noel Miranda conta que os criadores que trabalham com grandes quantidades de animais ainda sofrem com as variações de preço de ração no mercado, mas quando a criação é pouca este fator não chega a causar impacto econômico. “Nós, criadores comerciais, já tivemos épocas melhores, hoje, por exemplo, com o aumento do preço do milho e da soja, o quilo de ração aumentou de 20% a 30% em dois meses, uma variação de um mês para o outro é muita coisa e a tendência é aumentar ainda mais. Para o criador comercial acaba sendo oneroso, mas para

um criador que vai manejar dois ou três animais o fato acaba sendo economicamente irrisório”. Qualquer pessoa física ou jurídica que esteja interessada na criação de espécies da fauna silvestre pode adquirir um animal de um criadouro comercial registrado e criá-lo em seu recinto sem a necessidade de registrá-lo novamente junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O criatório profissional devidamente licenciado pelo órgão competente emite nota fiscal, o GTA (Guia de Transito Animal) e atestados veterinários, o que caracteriza e formaliza a venda para terceiros.

A área mínima necessária para a criação e a característica da área depende da espécie que o cliente pretende adquirir. “Os Cervos Nobre e Dama são espécies que precisam de um recinto protegido com tela com pelo menos dois metros de altura, para que o animal não saia do ambiente, caso se assuste com alguma coisa. Porém manter um casal de Cervo Dama, por exemplo, desde que forneça ração e água, o proprietário pode utilizar uma área de 250 a 300 m² de pastagem, até mesmo, porque um recinto de zoológico não tem mais do que esta metragem”, explica Noel Miranda.

Pavão azul (Pavo cristatus)

Antílope Elandes (Taurotragus Oryx)

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Noel Gonçalves Lemes e seu filho Noel Gonçalves Miranda, proprietários da Fazenda Serra Azul, localizada no município de Quirinópolis/GO

Os animais criados e comercializados pela Fazenda Serra Azul estão em conformidade com o que rege as portarias 117 e 118N do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que, por meio de seus agentes, supervisiona periodicamente todas as atividades do criatório. Noel Miranda salienta que apóia o trabalho realizado pelo IBAMA, pois ao contrário do que muitos acreditam o Instituto não é somente um órgão de repressão. “O IBAMA é um órgão que nos orientou muito sobre quais procedimentos deveriam ser feitos para montar um criatório comercial legal. É importante destacar que o IBAMA não é apenas um órgão repressor ou regulador das

Antílope cervicapra (Antilope cervicapra)

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Para a família de Noel Lemes, o criatório comercial é hoje um berço onde se busca garantir a preservação e a perpetuação da fauna exótica e silvestre. atividades desenvolvidas; é um Instituto que também traz orientação e conhecimento para o criador que se preocupa em realizar um trabalho correto dentro das normas da lei”. As espécies são identificadas de forma individual internamente através do uso de microchips e externamente por meio de brincos, tatuagem ou anilha. A propriedade possui hoje dois registros diferentes, um como comercial e outro como comerciante. Segundo Noel Miran-

da, é interessante ressaltar que a propriedade não trabalha com visitação, ficando restrita somente a cria, reprodução e comercialização dos animais. Para a família de Noel Lemes, o criatório comercial é hoje um berço onde se busca garantir a preservação e a perpetuação da fauna exótica e silvestre. “O que tentamos mostrar é o verdadeiro trabalho feito pelo criador legalizado. Da forma como a sociedade mundial está evoluindo, por uma questão de produção alimentar, os espaços de mata nativa estão cada vez mais escassos, então, animais que precisam de um espaço mais amplo não encontram mais este ambiente natural, desta forma, a tendência lógica é a extinção, e aí entra a relevância do trabalho desenvolvido pelo criador comercial. Investimos em estrutura, alimento, manejo e remédios para que aquele animal reproduza e seja comercializado de forma legal, assim, acabamos formando um banco genético que, futuramente, pode ser utilizado em uma possível reintrodução destas espécies na natureza”, conclui Noel Miranda. 45


Produção integrada de

aves e suínos é opção segura para pecuaristas Associação e cooperativa atuam ao lado do produtor rural integrado em Rio Verde/GO Por Tássia Fernandes

Atualmente, suinocultores e avicultores enfrentam uma situação de mercado desfavorável. Com a alta no preço dos grãos, soja e milho, o mercado de aves e suínos entrou em dificuldades, pois o preço elevado encarece os custos de produção, afetando criadores e indústrias. A situação se transforma em ameaça à competitividade do setor e se torna crítica, principalmente, para o produtor independente. Como explica Débora Ferguson, presidente da Aginterp (As-

sociação Goiana dos Integrados Produtores de Aves, Ovos e Suínos), os produtores integrados também são atingidos pelas oscilações de mercado, porém, em menor escala. No caso dos associados à Aginterp, por exemplo, entre os prejuízos verificados até o momento, devido à situação vigente, se destaca, basicamente, a interrupção de negociação da planilha de custos; documento que prevê a remuneração dos gastos do integrado e que precisa ter os valores ajustados pe-

riodicamente, para evitar que o profissional tenha prejuízos. Já no que diz respeito ao ganho previsto em contrato assinado com a empresa integradora não houve alterações. Produtores rurais integrados ficam resguardados e tem garantia de remuneração, diferente do que acontece com quem trabalha de forma independente. “De uma maneira geral o mercado acaba influenciando a integração, mas não de forma tão agressiva quanto o produtor rural independente”. Mas, o sistema de integração também apresenta desvantagens. Se por um lado o produtor rural integrado está resguardado em tempos de crise, pois o valor de pagamento acordado em contrato é mantido; em tempos de alta no preço pago pelos animais, a vantagem fica com o produtor independente, que tem direito de procurar ofertas melhores, enquanto o integrado continua ganhando o preço estabelecido em contrato, sem altas. Ai entra o papel da Aginterp, que atua na defesa dos direitos dos associados.

• Em prol dos integrados Representar o produtor rural junto à Integradora. Este é o papel da Associação Goiana dos Integrados Produtores de Aves, Ovos e Suínos. Entre as principais funções da Associação está a negociação das planilhas de custo adotadas no sistema de produção, com o objetivo de proporcionar mais ganhos ao pecuarista. A Aginterp também acerta detalhes referentes à situação de produção junto à empresa integradora. “O principal propósito da Associação é amparar o integrado nas necessidades dele, seja diante de um problema coletivo ou individual”, destaca Débora. A Aginterp também conta com assessoria jurídica, que está apta a defender os interesses do profissional perante a empresa integradora. A Associação é subdividida em grupos que ficam responsáveis por assessorar os pecuaristas que trabalham com a avicultura e com a suinocultura. No caso da avicultura são dois sistemas de produção, um deles voltado para a engorda de aves para abate (FGO) e outro voltado para a produção de ovos férteis (SPO). “No SPO são produzidos ovos que são enviados para o laboratório da BRF, para o incubatório. Quando os pintinhos nascem são encaminhados para o sistema de frangos, que é o FGO, onde é feita a engorda

dos animais, até que estejam prontos para serem conduzidos para o abate”. Já no caso da suinocultura, também existem dois sistemas, porém, a Aginterp representa somente um deles, o SVT, que é voltado para a engorda de suínos que serão destinados para o abate. “Entre aves e suínos a Associação engloba três grupos. Só não trabalhamos com o SPL, que é o sistema que produz o leitão que será encaminhado para a engorda. Esta vertente é de responsabilidade da AGIGO, outra associa-

ção que também atua no sistema de integração”. Podem participar da Associação apenas produtores que lidam com a avicultura ou a suinocultura por meio do sistema de integração. Anteriormente ligada apenas a uma empresa integradora, a Aginterp alterou o estatuto e, a partir de agora, pode ter associados de outras empresas, em todo o estado de Goiás. “Para que isso aconteça é preciso que haja a legitimidade de representá-los”, pontua Débora.

o passar dos anos as situações foram ficando mais complexas e viu-se a necessidade de adotar mecanismos mais formais. Hoje, para tornar-se um integrado é necessária a formulação de contrato com a empresa integradora. O sistema, que começou a ser implantado em Santa Catarina, ganhou o Brasil e já se faz presente em diversos estados, inclusive em Goiás. A BR Foods é uma das indústrias que com sede em Rio Verde/GO adota a maneira de produ-

ção e já tem contrato firmado com centenas de produtores rurais, tanto no ramo de aves quanto de suínos. Débora Ferguson é uma das integradas. Contadora e professora universitária, a empresária decidiu investir no ramo em 2005; no ano seguinte decidiu se associar à Aginterp e em 2009 assumiu o cargo de presidente do grupo do Sistema de Produção de Ovos; atualmente é a presidente da Associação.

Foto: Peterson Bueno

• Sistema de integração

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Granja Santa Cândida possui três núcleos de produção de ovos

O sistema de produção integrada funciona como parceria entre as atividades rural e industrial, em que há o fornecimento da matéria-prima produzida no campo para a indústria. Implantada no Brasil desde a década de 60, a integração trabalhava, inicialmente, apenas com a avicultura. Atualmente, a criação de suínos também faz parte do sistema de produção. Os negócios eram firmados por meio de acordos informais entre produtor rural e indústria, mas, com

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“O principal propósito da Associação é amparar o integrado nas necessidades dele, seja diante de um problema coletivo ou individual” Débora Ferguson, presidente Aginterp e produtora de ovos em Rio Verde/GO

• Contrapartida da empresa A vantagem da indústria em trabalhar como integradora é a garantia da obtenção de matéria-prima. “Os produtores vão fornecer o produto que eles têm e do qual a empresa necessita”, pontua Débora. Para que isto seja possível, a empresa tem a função de fomentar os pecuaristas, ou seja, a contrapartida é dar condições para que a matéria-prima seja produzida. No sistema de integração adotado pela BRF, no caso específico do Sistema de Produção de Ovos

(SPO), atividade desempenhada por Débora Ferguson, são fornecidos aos produtores as aves (galos e galinhas), a ração, os medicamentos necessários para garantir a sanidade dos animais e todos os custos previstos na planilha. Já o produtor deve entrar com toda a estrutura física do aviário. A empresa também disponibiliza profissionais capacitados para prestarem assistência técnica na propriedade. A contrapartida garantida pela empresa é mantida ao

longo de todo o período de criação e não apenas no início de implantação do sistema na propriedade. O produtor rural também tem funções e a grande responsabilidade do profissional é gerir o negócio. “No contexto, de forma geral, prestamos um serviço de gestão, produzindo matéria-prima para a indústria. Meu negócio é produzir a maior quantidade de ovos, com qualidade”.

sistema de integração, deve procurar a empresa, para saber se existe a possibilidade de firmar a parceria. Vale ressaltar que, atualmente, a integração junto a BRF, em Rio Verde/ GO, encontra-se em fase de estabilização.”. Cada indústria integradora tem uma cota de integrados, por

isso, nem sempre é fácil conseguir uma oportunidade de ingressar no sistema. Geralmente a adesão de novos produtores acontece quando a indústria tem necessidade de mais animais ou quando alguém está deixando a parceria.

tos. “Tudo vai depender da gestão de manejo adotada”. No caso da produção de ovos, por exemplo, o saldo líquido é definido com base na produção de uma quantidade determinada de ovos de acordo com os gastos previstos na planilha de custos. “Se eu gastar mais que o previsto, vou ter que tirar do meu lucro para pagar o excesso das despesas. Porém, se eu conseguir produzir a quantidade determinada de ovos, gastando menos, terei uma economia e, consequentemente, um lucro maior, ou seja, começo a ganhar em

produtividade. Essa gestão é minha responsabilidade, é ai que entra o papel do integrado”, esclarece Débora. Outra possibilidade de ganho extra é produzir mais ovos do que a meta estabelecida pela integradora. Em outra situação, como no sistema de engorda de frangos, o esquema é o mesmo. Mas, neste caso, os rendimentos extras são observados pela economia da ração. “Se para engordar a quantidade de quilos necessária para ser encaminhado para o abate o animal precisa consumir 10 toneladas de ração, esta

• Como participar Para que o sistema de integração aconteça é preciso, primeiramente, que exista uma indústria interessada em trabalhar como integradora e, depois, que haja interesse por parte da empresa em ter o produtor rural como parceiro. “O produtor que tiver interesse em produzir ovos, frangos, ou suínos, por meio do

• Rendimentos Como explica Débora Ferguson, ao participar do sistema de integração o produtor tem uma remuneração garantida, independente das oscilações de mercado. “Participar da integração é mais seguro do que trabalhar de forma independente, pois o integrado tem garantia média de lucratividade, ou seja, um valor constante, sem grandes interferências das oscilações de mercado.”, afirma. Além da remuneração prevista, o integrado ainda tem a oportunidade de aumentar os rendimen48

é a projeção estipulada. Porém, se o produtor consegue fazer com que os animais cheguem ao peso com menos ração, há um ganho em cima da alimentação”. Mas, o inverso também pode acontecer. Se o produtor gasta mais ração que o previsto na planilha de custos terá uma punição e poderá perder em lucratividade. Para chegar a resultados positivos e obter lucros, o produtor precisa tomar alguns cuidados com os animais. Segundo Débora, é preciso seguir um cronograma de acordo com o seu objetivo. “No caso das aves existem peculiaridades que precisam ser levadas em consideração, como a quantidade de luz que é dispensada aos animais, o horário em que é fornecida a ração e a qua-

Para que o sistema de integração aconteça é preciso, primeiramente, que exista uma indústria interessada em trabalhar como integradora e, depois, que haja interesse por parte da empresa em ter o produtor rural como parceiro lidade da água utilizada”, esclarece. Cuidados sanitários também são de fundamental importância. Para evitar qualquer tipo de contaminação, ainda de acordo com as normas do sistema de produção de ovos, apenas pessoas autorizadas podem entrar na granja e precisam seguir todas as determinações previstas. “É necessário passar pela barreira sanitária, onde o funcionário ou visitante vai tomar um banho e vestir um uniforme. Quando sair do

local é preciso adotar o mesmo procedimento”. Além disso, Débora relata que quem trabalha na granja não pode ter contato com aves caipiras, também com o propósito de evitar a contaminação. “Brincamos muito que em Goiás existe a tradição de ir à feira, mas nós não podemos seguir o costume, já que, geralmente, são vendidos animais caipiras no local”, comenta.

Da cidade em direção ao campo Três irmãs com carreiras definidas e situação financeira estabelecida. Este é o perfil das sócias da Granja Santa Cândida, localizada no município de Rio Verde/GO. Além de Débora Ferguson, as irmãs Denise Ferguson e Renata Ferguson, também participam do negócio. A atuação no Sistema de Produção de Ovos, por meio de uma empresa integradora, surgiu a partir da influência dos pais, John Lee Ferguson e Maria Cândida Ferguson. John Lee Ferguson é agricultor tradicional no município e decidiu incentivar as filhas a participarem das atividades da fazenda proporcionando a possibilidade de administrarem a granja. Assim, Débora, que é contadora e professora universitária; Denise, que é pedagoga e Renata, que é engenheira, passaram a ter uma nova fonte de renda. Além disso, foi uma maneira de aproveitar, ainda mais, as áreas da propriedade rural. “Apesar de estar localizada na Fazenda Santa Cândida, que é de propriedade dos pais, a Granja é outra empresa e a administração é completamente separada”, esclarece Débora. Atualmente as sócias trabalham com três núcleos de pro-

dução de ovos, cada um composto por três aviários. Cada núcleo é responsável por acomodar em torno de 35.500 galinhas, que produzem cerca de seis milhões de ovos a cada dez meses, o que corresponde à produção de 18 milhões de ovos por lote. Por dia são em média 110 mil ovos. “Não acontece o número exato por que durante o período é possível identificar picos de produção e, também, porque os três núcleos não são estabelecidos na mesma época, ou seja, existem diferenças em relação à quantidade de ovos gerados em cada um”, pontua. Como explica Débora, as galinhas chegam até a granja com 23 semanas de vida e são alojadas. Na 25ª semana começam a produzir e matem a produção até a 66ª semana. Ou seja, o período de produção do animal dura em torno de dez meses. “Depois desse período as galinhas são descartadas e vão para o abate. Às vezes a própria BRF fica responsável por abater os animais ou, então, revende para outras empresas realizarem o procedimento”. O sistema adotado na propriedade é semi-automatizado. “Enquanto está dentro do aviário, automaticamente, a galinha entra no ninho. O animal bota o ovo, que vai

cair em uma esteira e ser transportado para a área onde é realizada a coleta. A partir do momento que ovo chega à ponta da esteira o processo deixa de ser automático e se torna manual. Funcionários fazem a coleta dos ovos, colocam em bandejas e levam para uma sala refrigerada, onde os ovos ficam armazenados até serem coletados pela indústria. O recolhimento do produto por parte da integradora é realizado diariamente. Depois, os ovos são levados para o encubatório onde ficam até gerarem pintinhos”. Já são sete anos administrando a Granja Santa Cândida e, agora, as irmãs estão a caminho do alojamento do oitavo lote de animais. Apesar do período de produção ter duração de dez meses, é alojado um lote por ano, pois entre um período e outro é realizada a higienização do local. “Lavamos e desinfetamos para, então, entrar um novo lote”, destaca Débora. Além dos ovos, a granja também gera a produção de cama de aviário, que é destinada à Fazenda Santa Cândida. Na propriedade o adubo orgânico é utilizado na lavoura de grãos.

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Artigo

• Cooperativismo Com o intuito de trazer ainda mais benefícios para os produtores rurais que trabalham com avicultura e suinocultura os diretores da Aginterp e da AGIGO deram o primeiro passo em direção à criação de uma cooperativa voltada para os integrados. Fundada em 2011, a cooperativa tem o propósito de atender as associações com lojas para o fornecimento dos produtos necessários e, principalmente, como uma alternativa para comercialização das matérias-primas geradas, por meio de grupos de vendas. “A cooperativa vai buscar se tornar uma nova opção de negócio para os associados, além de fomentar novos negócios possibilitando a otimização da propriedade”, enfatiza Débora. A presidente da Aginterp destaca que até o momento os integrados associados têm compromisso firmado por meio de contrato com a BRF. Porém, com as alterações no estatuto da associação que permitem a integração com outras em-

UFSM - Universidade Federal de Santa Maria

Plantas Medicinais e Aromáticas

Um negócio promissor presas e, agora, com o surgimento da cooperativa, os produtores terão mais opções de escolha em relação à destinação do que é produzido, caso cheguem à conclusão de que as expectativas não estão sendo atendidas pela empresa. Apesar de ter sido criada pelas associações que amparam os integrados, não existe relação entre as duas entidades, ou seja, o pro-

dutor é que vai optar por se tornar associado, cooperado, ou participar das duas maneiras. Débora destaca a relevância em participar da cooperativa. “O sistema de cooperativismo significa a união de pessoas em busca de um objetivo comum que vai trazer resultados para todos, por isso é interessante participar. Eu, por exemplo, sou uma defensora do cooperativismo”, reforça.

Relação de produtores e produção no sistema de integração em Rio Verde/GO

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Possivelmente a utilização de plantas medicinais começou na pré-história. Os homens primitivos, assim como os outros animais, iniciaram as “práticas de saúde” pelo instinto de sobrevivência, testando e imitando uns aos outros, selecionando plantas para sua alimentação ou as rejeitando por serem tóxicas. Com isso, esse conhecimento empírico foi sendo acumulado e passado de geração para geração. Evidencias concretas da utilização de plantas medicinais são datadas das antigas civilizações Chinesas e Egípcias, dando início as ciências medicinais e farmacêuticas. O uso de plantas medicinais vem crescendo nos últimos anos no Brasil. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% da população mundial faz uso de medicamentos derivados de plantas medicinais. No Brasil, pesquisas demonstram que mais de 90% da população já fez uso de alguma planta medicinal, sendo que 40% da população mantêm cultivo caseiro dessas plantas. A planta medicinal é todo e qualquer vegetal que possui, em um ou mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas com fins terapêuticos ou que sejam precursores de fármacos semi-sintéticos. O mercado de fitoterápicos movimenta mais de 400 milhões de dólares por ano somente no Brasil, no mundo, a estimativa é que este valor ultrapasse a 27 bilhões de dólares, representando cerca de 7% do mercado mundial de medicamentos. Esse mercado é tão promissor que cresce 6 a 7% ao ano, enquanto a indústria farmacêutica cresce em torno de 3 a 4% ao ano. Portanto, não fica difícil entender por que cresce diariamente

Espécies medicinais do horto de plantas medicinais e aromáticas da Universidade Federal de Santa Maria, campus de Frederico Westphalen – RS.

o interesse de empresas, grupos e países desenvolvidos na biodiversidade dos países tropicais e subtropicais. Particularmente a Amazônia, que tem cerca de 50 mil espécies de plantas (20% de todas as existentes no planeta e apenas 2% já estudadas), é um grande alvo para ser fornecedora de matéria-prima na produção de antibióticos, antiinflamatórios, diuréticos, analgésicos, laxantes, antidepressivos, anti-hipertensivos, entre outros. O mercado de plantas medicinais tem crescido no Brasil por diversos fatores, com destaque para o consumismo de produtos naturais, eficácia no tratamento de enfermidades, os evidentes efeitos colaterais dos medicamentos sintéticos, a descoberta de novos princípios ativos nas plantas, a comprovação científica de fitoterápicos e o preço que, de maneira geral, é mais acessível à população com menor poder aquisitivo. O Brasil tem a maior biodiversidade de plantas do planeta, as-

sociada a ricas diversidades étnicas e culturais, com o maior percentual de plantas medicinais encontradas na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica, respectivamente. Todas as culturas, até as mais primitivas, fizeram e fazem uso de plantas com intuito medicinal. Essas tradições populares de tratamento acabaram servindo como base para a farmacologia moderna. O trabalho com plantas medicinais tem trazido bons retornos para a economia, começando pela geração de empregos, que vai desde a produção no campo até a indústria. Vários países têm investido em programas fitoterápicos mais consistentes e avançados, buscando validar suas plantas. O comércio formal de plantas medicinais reúne grande variedade de estabelecimentos, como mercados, drogarias, feiras e farmácias, com grande diversidade de plantas e fitoterápicos. Os segmentos da cadeia produtiva, desde a produção até a comercialização, devem ob51


Fotos: Daiane Prochnow

Espécies medicinais do horto de plantas medicinais e aromáticas da Universidade Federal de Santa Maria, campus de Frederico Westphalen – RS.

servar quais são as tendências do mercado, para identificar quais os atributos que tem maior valor para o consumidor final, para aproveitar as reais oportunidades, gerando maior lucratividade. Atualmente no Brasil, existe um maior número de profissionais envolvidos nos mais diversos trabalhos com plantas medicinais e/ou fitoterápicas, seja na pesquisa, fomento ou difusão. Outro motivo de suma importância são os programas oficiais de saúde, implementados pela maioria dos governos estaduais e municipais. Em 2006, o ministério da saúde divulgou uma portaria que aprova a política nacional de práticas integrativas e complementares no Sistema Único de Saúde, com a divulgação de uma lista de 71 espécies de interesse para serem utilizadas na rede pública de saúde, mas destas, somente oito foram aprova52

das e estão sendo distribuídas. A ideia é orientar pesquisas e estudos, com o objetivo de ampliar a lista de medicamentos fitoterápicos disponíveis na assistência farmacêutica básica em todo o país. Recentemente a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou uma lista de plantas as quais foram comprovadas cientificamente sua eficiência no tratamento de algumas doenças. Essa lista contém, além das plantas com sua devida identificação, a forma como a mesma deve ser utilizada, para evitar efeitos colaterais e o uso indiscriminado. O mercado de plantas medicinais não fica restrito somente ao uso de partes da planta para chás ou infusões. Pesquisadores tem estudado o uso de óleos essenciais como matéria prima para fabricação de medicamentos e cosméticos. Esse é um mercado que tem cresci-

do muito e que tem agregado valor a muitas plantas, sendo que o óleo essencial pode atingir altos valores de comercialização. Pesquisas estão sendo desenvolvidos na Universidade Federal de Santa Maria, Campus Frederico Westphalen - RS, com o objetivo de aperfeiçoar a produção de óleo essencial de plantas medicinais, bem como avaliar de que forma o ambiente interfere na produção e composição destes. As plantas medicinais e aromáticas têm demonstrado grande potencial produtivo de óleo essencial e já são utilizadas na indústria de cosméticos e medicamentos. O cultivo de plantas medicinais visando à comercialização exige planejamento, de modo a manter produção constante e de boa qualidade. Dentre as vantagens do cultivo de plantas medicinais, pode-se destacar que é uma atividade simples, de baixo custo, que requer apenas vontade e dedicação. Além disso, é uma alternativa que detêm os conhecimentos tradicionais, experiência do agricultor com a biodiversidade da região, ajuda na conservação e recuperação de área degradada, ajuda a proporcionar saúde à população, pode ser implantada em pequena área, possibilitando melhor qualidade de vida e interação com a natureza, e ainda gera renda para o agricultor, podendo até tornar-se a sua atividade principal. Autores: Renes Rossi Pinheiro - Mestrando em Agronomia: Agricultura e Ambiente Universidade Federal de Santa Maria, Campus Frederico Westphalen/RS. Denise Schmidt; Braulio Otomar Caron - Professores Associados, Universidade Federal de Santa Maria, Campus Frederico Westphalen/RS. Velci Queiróz de Souza - Professor Adjunto, Universidade Federal de Santa Maria, Campus Frederico Westphalen/RS. Daiane Prochnow; Ivan Ricardo Carvalho - Acadêmicos do curso de Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria, Campus Frederico Westphalen/RS. 53


PRIMEIRA CONQUISTA Cobrança de royalties no estado de Mato Grosso é suspensa Por Tássia Fernandes

Ricardo Peres – Presidente do Sindicato Rural de Jataí/GO

O Tribunal de Justiça do Mato Grosso (TJMT) decidiu, no início de outubro, pela suspenção da cobrança de royalties no uso das tecnologias Bollgard I (BT) – presente nas sementes de algodão - e Roundup Ready (RR) – nas sementes de soja. A determinação é a primeira conquista dos produtores rurais na luta pela regulamentação da cobrança pelas tecnologias. A justificativa apresentada pela Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e pelos Sindicatos Rurais, entidades que representam os agricultores no processo, foi de que o prazo para a cobrança dos royalties havia vencido em agosto de 2010 e, portanto, as tecnologias já seriam consideradas de domínio público, o que tornaria a cobrança indevida.

A cobrança da tecnologia sobre as sementes Roundup Ready é a mais questionada, já que a soja é a cultura cultivada em maior escala no estado e, também, em todo o país. A tecnologia RR insere um gene na soja, resistente ao herbicida glifosato. Já a tecnologia BT, presente no Bollgard I, provoca a morte de insetos que atacam as plantações. O juiz relator do TJMT, Elinaldo Veloso Gomes, declarou na decisão que a intenção da lei brasileira da propriedade industrial é proporcionar ao inventor uma remuneração correspondente à recuperação do investimento realizado para o desenvolvimento da tecnologia, isto, por um determinado período de tempo. De acordo com a decisão, a Monsanto, empresa titular da patente, já havia alcançado o retorno do investimento durante o tempo em que explorou a exclusividade tecnológica no país. A ação judicial foi baseada em estudo técnico e jurídico que confirmou o vencimento da patente em 2010, tornando-a de domínio público. Se for comprovada a alegação, os produtores rurais ficam desobrigados de pagarem os royalties que começam a ser cobrados a partir deste mês, referentes às sementes utilizadas neste novo ano safra

(2012/13). A multinacional alega que o pagamento dos royalties referente à tecnologia Roundup Ready deve acontecer até 2014 e informou que vai recorrer da decisão judicial, para que a cobrança pelo uso da tecnologia aconteça até a decisão final do processo. Em relação ao Bollgard I, a informação é de que os direitos de propriedade intelectual da tecnologia terminaram em 2011 e, portanto, a cobrança foi suspensa a partir do ano em questão. A Famato e os Sindicatos Rurais esperam que quando a ação for julgada e ficar comprovado que o prazo de cobrança estava vencido, os produtores rurais tenham direito ao ressarcimento do que foi pago desde 2010. A estimativa da Famato e da Aprosoja, que também apoia a manifestação dos agricultores, é de que em dois anos o valor pago em royalties à multinacional seja calculado em R$ 300 milhões. A discussão que trouxe resultados favoráveis no Mato Grosso repercutiu em todo o país e não sensibilizou a Monsanto, mas fez com que a multinacional repensasse seu posicionamento e, pelo menos, por enquanto, acatasse a decisão judicial suspendendo a cobrança dos royalties no estado e em todo o país.

gam a orientação, a empresa poderá deixar de receber em torno de R$ 44 milhões. Segundo informações divulgadas, 95% dos hectares cultivados com soja no estado utilizam a tecnologia, o que corresponde a cerca de 1,99 milhões de hectares. Se não houver acordo com a multinacional, os produtores rurais de Mato Grosso do Sul já se posicionaram a favor do início de um processo judicial, assim como tem acontecido em outros estados. O presidente da Aprosa no estado afirmou que os agricultores procuraram o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) para se certifica-

rem de que o prazo para a cobrança dos royalties estaria vencido, porém, a documentação é muito técnica e apenas especialistas podem compreendê-la, por isso, o vencimento não pôde ser constatado. Ainda de acordo com o presidente, o preço pago pelo uso da tecnologia no estado é, em média, de R$ 22 por hectare. Até o momento o estado também se beneficia da decisão repentina da multinacional em suspender, temporariamente, a cobrança dos royalties em todo o país.

• Mato Grosso do Sul Depois da liminar favorável aos produtores de Mato Grosso, agricultores do Mato Grosso do Sul também decidiram questionar o pagamento sobre a tecnologia Roundup Ready (RR), que pode estar com a patente vencida. A Associação dos Produtores de Soja do estado está orientando aos produtores rurais, que utilizam as sementes transgênicas da multinacional Monsanto, a não efetuarem o pagamento das parcelas referentes à cobrança dos royalties. As parcelas devem ser pagas até o final de outubro. Caso os agricultores si54

Royalties na moega,

!

não

Produtores goianos entram na justiça pela regulamentação da cobrança dos royalties em parceria com o Rio Grande do Sul Por Tássia Fernandes

Jair Barrachi – Presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos de Jataí/GO.

Antônio Gazarini – produtor rural e Presidente da Associação dos Produtores de Grãos de Jataí/GO

O questionamento sobre a validade da cobrança dos royalties vem tomando conta de todo o país e em Goiás não é diferente. Agricultores do município de Jataí/GO, representados pelo Sindicato Rural e pela Associação dos Produtores de grãos, com o apoio da Aprosoja Brasil, também entraram com ação judicial solicitando a suspenção das cobranças atuais e a regulamentação de cobranças futuras. O processo é realizado em conjunto com produtores de Porto Alegre/RS, que há algum tempo já buscam o fim do pagamento pelas

tecnologias utilizadas. “O processo já está a caminho da segunda etapa. Na primeira o parecer foi favorável ao movimento e a não cobrança dos royalties, agora será julgado em segunda instância”, explica o engenheiro agrônomo e secretário da Associação dos Produtores de Grãos de Jataí/GO (APGJ), Jair Barrachi. As entidades de classe representantes dos produtores de Goiás decidiram entrar na justiça em conjunto com o Rio Grande do Sul, que já está com o processo em andamento, com a intenção de ganhar tempo, no que diz respeito à instau-

ração e ao julgamento do processo. O produtor e empresário rural, presidente da APGJ, Antônio Gazarini, destaca que a classe não é contra o pagamento pela tecnologia, mas sim a favor de que seja cobrado apenas aquilo que é de direito. “Se existe um prazo para que os royalties sejam recolhidos e esse prazo se expirou, nada mais justo do que suspender a cobrança. Isso não quer dizer que sejamos contra, pois se vierem novas tecnologias estamos dispostos a pagar por elas”. Ricardo Peres, presidente do Sindicato Rural de Jataí/GO, faz questão de pontuar que a intenção não é causar desentendimentos com a multinacional responsável pela tecnologia. “Só estamos querendo fazer valer o direito dos agricultores e vamos lutar para que além de interromper a cobrança dos royalties, seja realizado o pagamento das cobranças que foram realizadas indevidamente desde outubro de 2010”, afirma. Ricardo enfatiza que o trabalho está sendo realizado em conjunto com diversas entidades, o que traz ainda mais força ao movimento. “O produtor pode ficar tranquilo porque não estamos entrando com o processo apenas por entrar. Temos certeza e segurança de que iremos vencer essa batalha e regularizar a situação, para que o produtor não gaste mais o dinheiro que poderia estar sendo utilizado para outras finalidades”. O presidente do Sindicato Rural acredita que o valor cobrado pelos royalties poderia, por exemplo, estar sendo investido na aquisição de insumos, máquinas e implementos agrícolas, contribuindo com a renda de comerciantes e empresários do município; ou investido em mão de obra, gerando mais empregos na região. Jair Barrachi concorda 55


e afirma que a economia com os royalties pode trazer benefícios não apenas para os agricultores, mas para todo o município. “São cobrados dois por cento da produção, ou seja, a cada 50 sacas produzidas por hectare, uma é destinada para o pagamento dos royalties”, esclarece. O presidente da APGJ, Antônio Gazarini, observa que, talvez, para um agricultor dois por cento da produção não seja significativo, mas em nível de município o valor se torna extremamente alto. Além de questionar o vencimento do prazo previsto para a cobrança dos royalties, agricultores goianos e gaúchos também questionam o fato de pagarem mais de uma vez pela tecnologia aplicada à semente. “Defendemos que os royalties sejam pagos apenas pela semente certificada, adquirida na época da planta, para ser levada para a lavoura”, explica Jair Barrachi.

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Na prática, o agricultor paga pela tecnologia quando compra semente, paga novamente quando entrega o grão na moega e, depois, em qualquer transação comercial que seja realizada com base no grão. “Atualmente muitos negócios são fechados para que o recebimento seja em soja, o que não tem nada a ver com o plantio. Mas, mesmo assim, é preciso pagar os royalties da transação. Ou seja, o produtor já pagou pela tecnologia quando foi realizar o plantio e, depois, é preciso efetuar o pagamento novamente. É isto que estamos questionando”, esclarece Jair. Antônio Gazarini destaca que é preciso que o produtor rural fique de olho, para avaliar os valores cobrados pela tecnologia e identificar o que é cobrança indevida. “A soja virou moeda de troca na região e, às vezes, ao negociar com o grão a pessoa paga royalties sobre um pro-

duto que nem plantou. É uma situação muito complexa e que precisa ser analisada”, pontua. Os agricultores esperam que a situação seja regulamentada antes que a nova tecnologia da multinacional, Intacta RR PRO, comece a ser comercializada. “É em relação a essa nova tecnologia que estamos tentando impor um novo sistema de cobrança, que seria o pagamento dos royalties apenas no momento de aquisição das sementes”, acrescenta Jair Barrachi. Jair complementa que as ações movidas não têm o propósito de desestimular os agricultores de utilizarem sementes certificadas. “O que não queremos é pagar royalties sobre royalties, o que se torna uma cobrança em cascata. Nossa intenção é regularizar a cobrança sobre o uso da tecnologia”.

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Coluna Lorena Ragagnin Advogada

Gestão de contratos O que é um contrato? Em poucas palavras, é um acordo de vontades. Muitos pensam que o contrato se finaliza com a sua assinatura. Mas ao contrário, a “vida” de um contrato está apenas começando quando o mesmo é assinado pelas partes contratantes. Daí o leitor pode se perguntar: “Para quê auditar/ rever meus contratos, se já estão assinados e até hoje eu não tive nenhum problema?”. É aí que reside o ponto crucial da atuação preventiva, através de um gestor de contratos: até hoje, mas quem sabe do amanhã? Justamente por isso que o produtor/ empresário tem que contar com auxílio profissional nas suas tomadas de decisões, que inevitavelmente repercutem em seu negócio; que então seja com o mínimo de riscos envolvidos. Uma das ferramentas para o controle do dia-a-dia da atividade rural é a gestão de contratos. E a gestão começa a sua atuação ainda na fase de negociação e estabelecimento das cláusulas que devem constar no contrato, atendendo aos anseios de ambas as partes contratantes. A con-

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fecção de um contrato deve ser vista como um investimento, para ser bem feito; pois se futuramente for necessário qualquer exigência da parte que não cumpriu com a obrigação assumida, será feita com base no contrato que, se for bem elaborado, as partes estarão resguardadas. Você leitor, saberia dizer quantos contratos tem hoje, na sua atividade, tanto como fornecedor/ vendedor, quanto como comprador? Se como comprador, estão lhe entregando exatamente como e da forma que contratou? Se como fornecedor, encontra-se dentro do prazo que assumiu com a outra parte para entrega? Os Recursos Humanos de sua empresa/ propriedade rural estão todos formalizados contratualmente? Se há terceirização de mão-de-obra na sua empresa, este terceirizado está em dia com as obrigações trabalhistas, vez que qualquer falta neste sentido pode refletir diretamente na sua empresa/ propriedade rural? Assunto inclusive abordado na edição anterior e as consequências de um passivo trabalhista “do dia para a noite” dentro de uma atividade. São dados como esses que permitem ao produtor/ empresário o conhecimento total de todos os elos de sua atividade.

Ao gerenciar seus contratos, o produtor/ empresário necessariamente estará gerindo e minimizando os riscos aos quais pode expor a sua atividade. Todo esse cenário tem despertado a demanda por esse tipo de profissional, que não tem necessariamente que ser da área jurídica, mas sim conhecedor da atividade empresarial que seu cliente desenvolve. É o que pôde ser constatado no 3º Congresso Latino-Americano de Gestão de Contratos, realizado no final de setembro, na cidade de São Paulo/SP pela ANGC – Associação Nacional dos Gestores de Contratos –, associação na qual orgulhosamente nosso escritório possui integrante. Como não exige formação específica, a entidade está formatando um curso de certificação desses profissionais, colocando no mercado pessoas comprometidas com a qualidade e controle das atividades de seus clientes. E a mensagem que deixo aos senhores e que pôde ser constatada no Congresso é: não importa o tamanho e estrutura de sua atividade empresarial, tenha o maior controle possível sobre ela. Até a próxima!

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