Informativo das Câmaras Técnicas de Terapia Ocupacional do crefito5

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Comissão Organizadora Dra. Lenise Hetzel – Vice-presidente do CREFITO 5 Dra Mônica Paula Thomé – Coordenadora das Câmaras Técnicas de Terapia Ocupacional do CREFITO 5 Paola Bronzatto – Secretária das Comissões do CREFITO 5 Colaboradores Dra. Andrea Christello Mileski – Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Contextos Sociais. Dra. Carem Mabel de Medeiros – Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Contextos Hospitalares. Dra. Carmen Vera Ferreira – Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Saúde Mental Dra. Carolina Mello Sperb – Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Saúde Mental Dra. Deyse Modesto Pinheiro – Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Saúde Coletiva Dra. Gisele Schmitt – Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Contextos Sociais Diretoria: Presidente: Dr. Fernando Antônio de Mello Prati Vice-presidente: Dra. Lenise Hetzel Diretora-Secretária: Dra. Mônica Paula Thomé Diretor-Tesoureiro: Dr. César Abs De Agosto Conselheiros efetivos

Conselheiros suplentes

Dr. César Abs De Agosto Dr. Diego de Farias Diehl Dr. Eduardo Freitas da Rosa Dr. Fernando Antônio de Mello Prati Dra. Lenise Hetzel Dr. Marcelo de Mello Rieder Dra. Marcia Helena Rosa Rocha Dra. Mônica Paula Thomé Dra. Rosemeri Suzin

Dr. Airton Luis Kleinowski Dra. Cheila Maria Schröer Dra. Janaina Cardoso Costa Dr. João Alfredo Mulattieri Barão Dra. Leticia Alves Mendes Dra. Saionara da Rosa Wadi


APRESENTAÇÃO A publicação do Informativo das Câmaras Técnicas de Terapia Ocupacional é uma iniciativa do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 5ª Região – CREFITO 5 e, tem como finalidade divulgar o trabalho realizado pelas Câmaras Técnicas de Terapia Ocupacional desde sua criação – a partir do ano de 2016. As Câmaras Técnicas de Terapia Ocupacional foram criadas, conforme o Regimento Padrão do CREFITO 5: “Pela necessidade de assessoria técnico-científica e metodológica em questões das mais variadas ordens, envolvendo as profissões de Fisioterapia e Terapia Ocupacional e que são ou podem ser demandadas à Diretoria do Crefito – 5 pelos próprios profissionais, por órgãos públicos ou privados, pela população usuária”. Ainda: “É de iniciativa do Crefito-5, como tem ocorrido em tantas outras instâncias institucionais, a de congregar, em Câmaras Técnicas, colegas, de reconhecido desempenho profissional, investigativo e/ou docente, interessados e dispostos a estudar, investigar, debater, selecionar e apontar caminhos, com menor risco de erros, maior competência e segurança, gerando, então, respeitabilidade, credibilidade e valorização para nossas profissões de Fisioterapia e Terapia Ocupacional”. O presente informativo apresenta textos produzidos pelas respectivas Câmaras Técnicas: Terapia Ocupacional em Contextos Hospitalares, Terapia Ocupacional nos Contextos Sociais, Terapia Ocupacional em Saúde da Família, Terapia Ocupacional em Saúde Mental. Como um dos embasamentos teórico norteadores, foram utilizadas as Resoluções do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – COFFITO, que regulamentam as Especialidades da Terapia Ocupacional. Seguem aos textos, o resultado de pesquisas realizadas pelas Câmaras Técnicas de Terapia Ocupacional em Contextos Hospitalares e de Terapia Ocupacional em Saúde Mental, junto aos profissionais do Rio Grande do Sul que atuam nesses contextos. Concluindo, esse informativo tem ainda, como importante finalidade, divulgar aos profissionais Terapeutas Ocupacionais, Fisioterapeutas, profissionais da área da saúde, assistência social, educação, cultura, gestores de saúde nos âmbitos público e privado, entidades de classe e/ou associativas, instituições de ensino superior e à população, as várias possibilidades de atuação profissional realizadas pelos Terapeutas Ocupacionais. Desejamos a todos uma boa leitura! Mônica Paula Thomé Diretora Secretária do Crefito5 Terapeuta Ocupacional Crefito5 5303-TO


SUMÁRIO contextos hospitalares

contextos socais

saúde mental

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pesquisa contextos hospitalares

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saúde da fa m í l i a

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pesquisa saúde mental

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ESPECIALIDADE PROFISSIONAL TERAPIA OCUPACIONAL EM CONTEXTOS HOSPITALARES A especialidade profissional de Terapia Ocupacional em Contextos Hospitalares foi reconhecida e disciplinada pela Resolução Coffito nº 429 de 08 de julho de 2013.

CONCEITO

É a especialidade voltada para atuação em hospitais secundários ou terciários, dentro da estrutura hierarquizada preconizada pelo SUS. A formação profissional dessa especialidade apresenta três áreas de atuação: Atenção Intrahospitalar, Atenção Extra-hospitalar e Atenção em Cuidados Paliativos. Aborda o regime de internação e atendimento ambulatorial, visitas domiciliares, assistência domiciliar, internação domiciliar, a rede assistencial de suporte em saúde e os cuidados preventivos junto a equipes multiprofissionais.

OBJETO

familiares e cuidadores.

A atuação pode abranger todos os níveis de atenção à saúde, visando à proteção, promoção, prevenção, recuperação, reabilitação e cuidados paliativos do indivíduo e da coletividade. O especialista deve dominar o conhecimento de áreas de disciplina como o processo de saúde e doença e epidemiologia, Sistemas de Saúde, atuação em equipes, bioética, órteses e próteses, ergonomia, farmacologia aplicada, medidas de controle de infecção hospitalar e biossegurança, com conhecimento de instrumentos de mensuração e avaliação relacionados ao paciente,

O exercício profissional realiza-se por meio de diagnóstico terapêutico ocupacional, realizando a intervenção por meio de métodos, técnicas e recursos pertinentes e adequados aos contextos hospitalares, às necessidades e características do paciente. Dra. Carem Mabel Medeiros CREFITO-5 5326-TO Especialização em Informação Científica e Tecnológica em Saúde Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Contextos Hospitalares

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R E S U LT A D O S D A P E S Q U I S A “CONHECENDO OS PROFISSIONAIS ATUANTES EM CONTEXTOS HOSPITAL ARES NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL E SUAS AÇÕES” Carem Mabel Medeiros* A Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Contextos Hospitalares lançou uma pesquisa no ano de 2017 com o objetivo de conhecer os profissionais que trabalham nesse segmento. A Resolução do COFFITO n° 429 de 08 de julho de 2013 reconhece e disciplina a especialidade de Terapia Ocupacional em Contextos Hospitalares, além de definir as áreas de atuação e as competências do Terapeuta Ocupacional especialista em Contextos Hospitalares, sendo três as áreas de atuação: “Atenção intra-hospitalar”, “Atenção extra-hospitalar oferecida pelo hospital” e “Atenção em Cuidados Paliativos”. Com base nessas três áreas, foi realizado um levantamento dos Terapeutas Ocupacionais que atuam em Contextos Hospitalares no Estado do Rio Grande do Sul, possibilitando quantificar e visualizar um panorama do perfil da inserção profissional. Com o rastreamento inicial feito através de contato telefônico, levantou-se 43 Terapeutas Ocupacionais que atuam em Contextos Hospitalares atualmente no RS. Desse número, 25 profissionais responderam à pesquisa (questionário com 19 perguntas), perfazendo um total de 58% de adesão. Abaixo, a Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Contextos Hospitalares apresenta os resultados obtidos na pesquisa. Dentre os 25 profissionais que responderam à pesquisa, a quase totalidade de Terapeutas Ocupacionais são mulheres, com 88% e 12% são homens. *Com contribuição de Mônica Thomé e Paola Bronzatto.

Pós-graduação Titulação

e

Áreas

da

Após a graduação em Terapia Ocupacional, a maioria dos profissionais realizou especialização acadêmica, seguidos de residência, mestrado e doutorado (gráfico 1). Alguns profissionais informaram na pesquisa que possuem mais de uma titulação de pós-graduação.

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As titulações de pós-graduação informadas abrangem as seguintes áreas: Saúde Pública, Reabilitação Física/Neurologia, Saúde Mental, Terapia da Mão, Psicopedagogia/Neuropsicologia, Saúde da Família, Saúde do Idoso, Tecnologia Assistiva, Outros. As áreas de concentração foram em Reabilitação Física/Neurologia/Cinesiologia, Saúde Mental/Psiquiatria/Dependência Química, seguida por Psicopedagogia/Neuropsicologia. Porém, a pesquisa também demonstrou que alguns profissionais não realizaram curso de pósgraduação em qualquer nível. Contratação A contratação do profissional Terapeuta Ocupacional em Contextos Hospitalares, de acordo com a pesquisa se deu em 88% através de processo seletivo/concurso público e 12% por contrato privado. Tempo de atuação nos contextos hospitalares Quanto ao tempo de atuação profissional do Terapeuta Ocupacional em Contextos Hospitalares foram obtidos os seguintes resultados, conforme o gráfico ao lado (gráfico 2):

Constata-se que 72% somam atuação profissional de Terapia Ocupacional em Contextos Hospitalares por um período de 1 a 10 anos, 12% trabalham a mais de 10 anos, 8% atuam há menos de 1 ano e, 8% há mais de 20 anos. Cidades onde atuam Os profissionais Terapeutas Ocupacionais que responderam à pesquisa estão distribuídos em quatro cidades do Estado do Rio Grande do Sul, sendo o maior número na cidade de Porto Alegre, com 60%, seguido de 28% em Pelotas, 8% em Santa Maria e 4% na cidade de São Leopoldo. Dessas cidades, os hospitais onde estão lotados os Terapeutas Ocupacionais são, conforme o gráfico (gráfico 3):

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Hospital onde estão lotados Em Porto Alegre: Grupo Hospitalar Conceição (GHC) 32%, Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) 16%, Hospital Porto Alegre 4%, Hospital Mãe de Deus 4%, Hospital Banco de Olhos 4%. Na cidade de Pelotas: Hospital Escola Universidade Federal de Pelotas 24%, Santa Casa de Misericórdia de Pelotas 4%. Em Santa Maria, no Hospital Universitário de Santa Maria 8% e em São Leopoldo, na Fundação Hospitalar Centenário de São Leopoldo 4%. Faixa etária dos pacientes atendidos Dentre os atendimentos realizados pelos Terapeutas Ocupacionais em Contextos Hospitalares e a faixa etária da população, a pesquisa demonstrou que: 44% contemplam todas as idades; 16% atendem adultos e idosos; 16% atendem apenas adultos; 12% atendem adolescentes, adultos e idosos; 4% atendem crianças, adolescentes e adultos; 4% adolescentes e adultos e 4% atendem apenas crianças. Cobertura e acesso pacientes ao atendimento

dos

O acesso dos pacientes ao atendimento se dá, em 72% unicamente por cobertura do SUS; 16% através do SUS, convênio e privado; 8% por convênio e privado; 4% por cobertura do SUS e convênio. Já, o ingresso do paciente ao serviço de Terapia Ocupacional pode se dar por uma ou mais vias, conforme demonstra o gráfico 4: O ingresso ao serviço de Terapia Ocupacional se dá por diversas vias e de forma combinada*, respeitando a seguinte escala: maior número refere-se a pedido de colegas da equipe, seguida por pedido do médico, avaliação de todos os pacientes, à pedido da enfermeira e, por último, através de consultoria online. *Os pedidos de avaliação/atendimento não são realizados por um único meio de solicitação. Atuação em equipe Quanto à atuação em equipe por parte do Terapeuta Ocupacional em Contextos Hospitalares, o resultado da pesquisa demonstrou que 64% dos Terapeutas Ocupacionais realizam trabalho em equipe, seguidos de 36% Terapeutas Ocupacionais que atuam parcialmente, ou seja, em alguns setores do hospital atuam em equipe, enquanto que em outros, não. Áreas de atuação Com relação às áreas hospitalares em que os Terapeutas Ocupacionais encontram-se presentes, a pesquisa constatou 14 áreas distintas, destacando que um mesmo profissional pode realizar atendimento em mais do que uma área. Conforme demonstra o gráfico 5:

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Destacam-se, como resultado da pesquisa as áreas de atuação em Contextos Hospitalares mais citadas : a Pediatria, Reabilitação Física, Saúde Mental/Psiquiatria, Cuidados Paliativos. Seguem as demais áreas de atuação do Terapeuta Ocupacional em Contextos Hospitalares: UTI, Atenção Domiciliar, Terapia da Mão, Saúde do Trabalhador, Queimados, CAPS Adulto, Oncologia e Hematologia, Centro da Dor, Reabilitação Visual, Traumatologia e Ortopedia. Protocolo de atendimento A pesquisa procurou saber se os profissionais Terapeutas Ocupacionais que atuam em Contextos Hospitalares aplicam protocolo e avaliação inicial. A resposta foi positiva, salientando que alguns profissionais utilizam protocolo próprio de Terapia Ocupacional além de usar protocolo da equipe. Segue o resultado (gráfico 6):

A pesquisa demonstrou que os Terapeutas Ocupacionais utilizam avaliação e protocolo de atendimento de modo combinado*, respeitando a seguinte escala: a maioria utiliza avaliação inicial, seguido de aplicação de protocolo próprio de Terapia Ocupacional, seguido de protocolo da equipe, e outros meios. Dos Terapeutas Ocupacionais atuantes em Contextos Hospitalares, 32% não utilizam qualquer protocolo.

*Utilizam avaliação inicial e/ou protocolos de atendimento próprio e/ou da equipe.

Deste mesmo protocolo utilizado, 40% dos Terapeutas Ocupacionais referem precisar adaptálo conforme as necessidades, e 36% referem não sentir necessidade de realizar adaptações.

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Procedimentos realizados Dos procedimentos realizados pelos Terapeutas Ocupacionais em Contextos Hospitalares, conforme o gráfico abaixo, vê-se um número significativo de intervenções possíveis (gráfico 8):

Com maior evidência, destacam-se: Orientações Gerais; Treino de AVD´s; Confecção de Adaptações, Intervenção Cognitiva e Intervenção no Ambiente com a mesma porcentagem; Prevenção de Deformidades; uso de Tecnologia Assistiva; Intervenção para Aquisição de Função Motora dos Membros Superiores e Confecção de Órteses. Seguem os demais procedimentos mencionados em escala decrescente de aplicabilidade: Prescrições Diversas, Manuseio Motor, Prescrição de Órteses, Prescrição de Cadeira de Rodas, Estimulação Precoce, Brinquedoteca, Manejo de lactação, Sala de Espera, Prescrição de Malha para Queimados. As atividades aplicadas que não constam na lista somam um total de 28%. Dificuldades encontradas na atuação O gráfico abaixo destaca as maiores dificuldades encontradas pelos profissionais Terapeutas Ocupacionais que atuam em Contextos Hospitalares no Rio Grande do Sul, e que participaram desse estudo (gráfico 9):

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As maiores dificuldades informadas foram principalmente o desconhecimento das atribuições do Terapeuta Ocupacional por parte dos profissionais que atuam no Contexto Hospitalar, dos pacientes e público em geral; baixa contratação para a demanda de pacientes e dificuldade em aquisição de recursos materiais para realizar o trabalho. Seguem outras dificuldades informadas: espaço inadequado para a atuação e falta de reconhecimento e valorização do trabalho, profissionais da saúde e pacientes que ainda confundem a atuação do Terapeuta Ocupacional com recreação, hegemonia médica, necessidade de utilizar protocolos diferentes para cada demanda e falta de contato com outros colegas que trabalham em contextos hospitalares. ATOHosP Ao serem perguntados sobre a Associação Científica de Terapia Ocupacional em Contextos Hospitalares e Cuidados Paliativos (sediada em São Paulo), 56% dos Terapeutas Ocupacionais responderam não ter conhecimento da existência da Associação, e 44% referiram ter conhecimento. Disponibilidade para contribuição com a Câmara Técnica Dos Terapeutas Ocupacionais que responderam à pesquisa, 72% alegaram que talvez pudessem colaborar com o trabalho desenvolvido pela Câmara Técnica, 16% responderam possuir disponibilidade e 12% responderam não possuir disponibilidade. Ações Esperadas Entre o desenvolvimento de ações esperadas pela Câmara Técnica, foram obtidos 20% de respostas que solicitam a criação de portarias para contratação de maior número de profissionais, 16% esperam fomentar contratações para o local onde atua e em outros hospitais, 16% desejam que haja divulgação da profissão para seu reconhecimento, 12% afirmaram desejar fiscalização relacionada à baixa contratação, 12% espera receber capacitações para sua atuação em Contextos Hospitalares, 8% deseja a intervenção da Câmara Técnica para aproximá-los dos colegas da área hospitalar, a estruturação de protocolos conta com 4% das ações esperadas e outros 4% gostaria de fossem desenvolvidos debates de Terapia Ocupacional em Contextos Hospitalares. Considerações finais Com a pesquisa foi possível observar que a maioria dos Terapeutas Ocupacionais contratados em ambientes hospitalares atende uma clientela com faixa etária muito abrangente, mesmo sendo

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de conhecimento que cada faixa etária tem suas particularidades. A pesquisa constatou 14 áreas distintas, destacando que um mesmo profissional pode realizar atendimento em mais do que uma área de atuação. Isso confirma a queixa de baixa contratação nos Contextos Hospitalares, sendo que o maior número de contratações se dá na capital, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e hospitais escola. O maior detentor de contratações na capital tem sido o Grupo Hospitalar Conceição nos últimos anos. No interior, a contratação se dá quase que exclusivamente nas cidades onde existe a graduação de Terapia Ocupacional, onde os hospitais universitários detém o maior número de profissionais atuantes. A área extra-hospitalar, como Internação Domiciliar, possui pouca cobertura. E há áreas intra-hospitalares pouco exploradas, como a área de Queimados, Reabilitação Visual, Saúde do Trabalhador e Centro da Dor. As maiores dificuldades relatadas foram principalmente a falta de espaço adequado e de recursos materiais para realização do trabalho além do desconhecimento das atribuições do Terapeuta Ocupacional por parte dos demais profissionais que trabalham nos hospitais, dos pacientes e do público em geral. Apesar da maioria dos terapeutas ocupacionais possuírem pós-graduação nas áreas onde atuam (como em neurologia, por exemplo), não há registro de título de especialista em Contextos Hospitalares. Talvez esse fato se deva a pouca oferta dessa titulação até o momento. A maioria dos profissionais referiu usar protocolo próprio de Terapia Ocupacional e/ou da equipe, sendo que 40% desses alegam precisar adaptá-lo conforme necessidades. Um grande número de profissionais, 32%, não utiliza qualquer protocolo. Há quem solicite, por meio da pesquisa, uma estruturação de protocolos. Frente aos resultados obtidos, faz-se necessário esclarecer que a criação de Portarias não é da alçada da Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Contextos Hospitalares, bem como a fiscalização. As Portarias são emitidas pelos chefes dos órgãos públicos, tendo natureza jurídica de ato administrativo, e a fiscalização fica ao encargo do Departamento de Fiscalização (Defis). A Câmara Técnica pode articular e mediar questionamentos e reclamações dos terapeutas ocupacionais com os respectivos setores dentro do CREFITO 5, dentro de suas atribuições e competências. Por fim, capacitações estão dentro das atividades possíveis de serem realizadas pela Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Contextos Hospitalares, bem como fomentar debates e aproximar colegas Terapeutas Ocupacionais a trocar experiências, de acordo com as solicitações realizadas nas pesquisa.

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ESPECIALIDADE PROFISSIONAL TERAPIA OCUPACIONAL NOS CONTEXTOS SOCIAIS A Especialidade Profissional de Terapia Ocupacional nos Contextos Sociais é regulamentada prla Resolução COFFITO nº 406, de 07 de novembro de 2011.

CARACTERIZAÇÃO:

O profissional deve realizar avaliação, planejamento, coordenação, acompanhamento de atividades humanas com fins de emancipação social, desenvolvimento socioambiental, econômico, sócioeducacional e cultural em suas dimensões simbólicas, cidadã e econômica - de pessoas, famílias, grupos e comunidades urbanas, rurais e tradicionais; Atua em projetos de geração de renda, de produção de bens, de serviços, de saberes, de pertencimento identitário, de compreensão e potencialização de saberes tradicionais e de valores sociais e culturais; Deve planejar e executar atividades orientadas para pessoas com deficiência e de crianças, jovens, adultos e idosos em processos de ruptura de redes, em situações de vulnerabilidade social, favorecendo a circulação no território e em diferentes espaços socialmente significativos e acessíveis; Desenvolve atividades sócio-ocupacionais para favorecer processos de participação e inclusão, a cidadania cultural e as interfaces entre cultura, saúde, assistência social e a diversidade cultural;

Promove a articulação das ações de educação, saúde, trabalho e direitos humanos;

Realiza ações e intervenções em diversas modalidades de moradia, habitação e acolhimento tais como residências inclusivas, repúblicas, albergues, casas-lar, casa de passagens entre outros dispositivos;

Planeja, orienta e realiza atendimentos de pessoas no ambiente prisional e seus familiares;

Atua com a população em situação de rua , a fim de realizar o estudo do cotidiano e auxiliar na organização da vida cotidiana, da vida prática e ocupacional para elaborar projetos de vida singulares, favorecer o pertencimento social e cultural além do acesso às trocas econômicas e ao mercado de de trabalho;

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Atua em situações de calamidades e catástrofes, traumatismos vinculados à violência, conflitos e guerras; Atua na área da cultura por meio da identificação de necessidades e de demandas e para o estudo, a avaliação e o acompanhamento de pessoas, famílias, grupos e comunidades urbanas, rurais e tradicionais para atenção individual, grupal e/ou comunitária; Atua junto a comunidades tradicionais, respeitando os princípios éticos implicados na coabitação de diversidades, de perspectivas múltiplas e nas dinâmicas sociais e históricas implicadas;

AREAS DE ATUAÇÃO:

• Assistência Social; • Cultura; • Educação; • Cidadania e Justiça; • Desenvolvimento e meio ambiente; • Comunidades e saberes tradicionais; • População em situação de rua e nomadismo; • Situações de calamidade e conflito seguidos de violência; • Migração e deslocamentos.

ATRIBUIÇÕES : • Coordenação; • Gestão; • Direção; • Chefia; • Responsabilidade técnica • Planejamento • Ensino/Extensão; • Consultoria; • Auditoria; • Perícia; • Assessoria; • Supervisão e orientação. As atividades profissionais podem ser desenvolvidas em locais públicos, militares, privados, terceiro setor, instituições de ensino superior. Dra. Andrea Christello Mileski CREFITO-5 3782-TO Especialista em Metodologia do Trabalho Comunitário Especialista Profissional em Saúde Mental Dra. Gisele Schmitt CREFITO-5 11448-TO Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Contextos Sociais

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ESPECIALIDADE PROFISSIONAL TERAPIA OCUPACIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA A especialidade profissional da Terapia Ocupacional em Saúde da Família foi reconhecida e disciplinada pela Resolução COFFITO n° 407/2011

CONCEITO A especialidade de Terapia Ocupacional em Saúde da Família é voltada para a assistência na atenção terapêutica ocupacional primária, com o objetivo de assegurar a resolutividade nas ações, promovendo saúde, prevenindo agravos e articulando, quando necessário, intervenções nos níveis secundários e terciários do SUS. São áreas de atuação do terapeuta ocupacional Especialista Profissional em Saúde da Família: o Desempenho Ocupacional na Saúde da Criança e do Adolescente; Desempenho Ocupacional na Saúde do Adulto e o Desempenho Ocupacional na Saúde do Idoso. O conhecimento e domínio das áreas como conteúdos específicos da Terapia Ocupacional relacionados à política de Saúde da Família e princípios epistêmicos da Saúde Pública e Saúde Coletiva como compreensão de hábitos, de costumes, de tradições, da diversidade, de modos de realização da vida cotidiana, de atividades da vida diária (AVD) e instrumentais de vida diária (AIVD), de trabalho, de lazer, de saberes e conhecimentos, de participação comunitária, de história da vida ocupacional, comunicacional e expressiva de pessoas e coletivos; Órteses, Próteses e Tecnologia Assistiva; ciências sociais e humanas, ciências biológicas e da Saúde dentre outras, são imprescindíveis para o exercício profissional desta especialidade.

COMPETÊNCIAS Para o exercício profissional, o terapeuta ocupacional especialista em Saúde da Família deve: • Realizar consulta terapêutica ocupacional, triagem, entrevista e anamnese, solicitar e realizar interconsulta e encaminhamento; • Traçar plano terapêutico ocupacional, acompanhar a evolução e planejar alta; • Identificar potencialidades e habilidades do desempenho ocupacional, atribuir diagnósticos e prognósticos por meio de testes e protocolos utilizados pela Terapia Ocupacional específicos ao ciclo de vida e às necessidades dos pacientes; • Planejar, coordenar, desenvolver, prescrever, acompanhar, avaliar e reavaliar as estratégias de

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intervenção terapêuticas ocupacionais visando à prevenção de doenças, promoção à saúde, a independência e autonomia no cotidiano quanto ao desempenho ocupacional, atividades de vida diária e instrumentais de vida diária, trabalho e lazer, acessibilidade, desmonte de processos de segregação e exclusão social, justiça ocupacional, emancipação social, desenvolvimento socioambiental, econômico e cultural e estimular a participação e inclusão social da pessoa, família, grupos e comunidade em atividades culturais, expressivas, econômicas, corporais, lúdicas e de convivência; • Atuar como apoiador matricial das Equipes de Saúde da Família em aspectos referentes à indivíduos e comunidades com restrição ocupacional, com comprometimentos de habilidades e potencialidades, auxiliando os profissionais da equipe mínima na promoção da saúde mental, saúde funcional e saúde comunitária; • Ser agente ativo no diagnóstico territorial, planejamento, gestão e avaliação de ações, bem como responsável pelo registro informacional dos dados, pela atualização da sala de situação e pela publicidade dos indicadores produzidos, referentes à sua atuação profissional; • Colaborar com as Equipes de Saúde da Família no cuidado, intervenção e realização de ações de educação em saúde com grupos prioritários de acordo com o perfil epidemiológico; • Promover espaços de Educação Permanente na Estratégia de Saúde da Família, facilitando processos de aprendizagem significativa, a partir do cotidiano da prática dos profissionais, abordando temas gerais da atuação em Saúde da Família, bem como temas específicos da atuação da Terapia Ocupacional, favorecendo a visibilidade e a potencialidade das ações da mesma no trabalho em equipe; • Destinar enfoque especial à saúde do trabalhador, incluindo o trabalhador da saúde de forma a promover processos laborais significativos e saudáveis, podendo lançar mão de recursos que intervenham no ambiente, rotina e processos de trabalho; • Elaborar relatórios, laudos, atestados e pareceres. O Terapeuta Ocupacional Especialista Profissional em Saúde da Família pode exercer as seguintes atribuições, entre outras: coordenação, supervisão e responsabilidade técnica; Gestão; Direção; Chefia; Consultoria; Auditoria; Perícia. Por fim, este profissional pode exercer suas atividades profissionais em todos os níveis de atenção à saúde e nos seguintes locais, estabelecimentos ou ambientes, entre outros, nas áreas: Hospitalar; Ambulatorial (clínicas, consultórios, centros de saúde); Domiciliar e Home Care; Públicos; Filantrópicos; Militares;Privados;Terceiro Setor. Dra. Deyse Modesto Pinheiro CREFITO-5 134890-TO Residência Multiprofissional em Saúde mental Residência Multiprofissional em Atenção Básica em Saúde Coletiva Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Saúde Coletiva

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ESPECIALIDADE PROFISSIONAL TERAPIA OCUPACIONAL EM SAÚDE MENTAL A especialidade Profissional Terapia Ocupacional em Saúde Mental é regulamentada pela Resolução do COFFITO nº 408, de 18 de agosto de 2011.

CONCEITO É a especialidade da terapia ocupacional com atuação na promoção, prevenção e reabilitação psicossocial relacionadas à saúde mental, objetivando a promoção da saúde, a produção de autonomia, inclusão social e melhoria da qualidade de vida, em consonância com o princípio da integralidade da atenção à saúde.

OBJETO

cotidiana em saúde mental e avaliar AVD e AIVD.

No campo da saúde mental compete ao especialista realizar consulta, triagem, entrevista, anamnese, solicitar e realizar interconsulta e encaminhamento em saúde mental; bem como realizar avaliação ocupacional, dos componentes perceptocognitivos, psicossociais, psicomotores, psicoafetivos e sensoperceptivos no desempenho ocupacional; avaliar os fatores pessoais e os ambientais que, em conjunto, determinam a situação real da vida (contextos); avaliar as restrições sociais, atitudinais e as do ambiente; realizar avaliação da função

Deve realizar, solicitar e interpretar exame psíquico-ocupacional e exames complementares; aplicar testes dos componentes do desempenho ocupacional que sustentam a Saúde Mental; realizar reavaliações; bem como, atribuir diagnóstico do desempenho ocupacional e da função cotidiana em saúde mental e realizar diagnóstico diferencial e contextual. O profissional deve ter domínio em planejar tratamento e intervenção, acolher a pessoa, promover, prevenir e restaurar a saúde mental em qualquer fase do cotidiano da vida; planejar, acompanhar e executar etapas do tratamento e alta; redesenhar as atividades em situação real de vida e promover o reequilíbrio dos componentes percepto-cognitivos, psicossociais, psicomotores, psicoafetivos e sensoperceptivos do desempenho ocupacional; redesenhar as atividades em situação real de vida e reduzir as restrições ambientais e atitudinais; adaptar a atividade, o ambiente natural e o transformado; desenhar atividades em ambiente controlado (setting terapêutico) para facilitar, capacitar, desenvolver e reequilibrar os componentes do desempenho ocupacional, entre outros de acordo com o plano terapêutico singular.

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Deve conceber e supervisionar oficinas terapêuticas visando à internalização de valores laborais e econômicos, socioculturais e psicossociais; aplicar estratégias de intervenção individual e grupal; utilizar animais na assistência à saúde mental; utilizar técnicas corporais e artísticoculturais. Compete também ao especialista planejar, reorganizar e treinar as AVDs e AIVDs; realizar atendimento domiciliar; orientar, educar e capacitar a família, cuidadores e a rede de apoio.

Prescrever tecnologia assistiva.

Planejar condições de segurança, aplicar vigilância e promover condições de justiça ocupacional; bem como registrar e guardar a evolução clínica e relatórios em prontuário próprio, emitir laudos, atestados e pareceres. A qualificação do especialista tem como base o domínio e conhecimento de áreas e disciplinas, tais como fundamentos da terapia ocupacional em saúde mental e fundamentos da ciência ocupacional; modelos da terapia ocupacional aplicados a saúde mental, políticas públicas de saúde mental, processo saúde/doença mental nas suas múltiplas determinações (o trabalho, as relações, o ambiente natural, o ambiente transformado, os valores sociais, o ócio, a recreação, entre outros), desenvolvimento ontogênico dos componentes psicomotores, psicoafetivos, psicossociais, percepto-cognitivos e sensoperceptivos, estilo de vida e saúde mental, análise da atividade e da ocupação humana aplicada a saúde mental, avaliação de tecnologias em saúde mental, epidemiologia – determinantes da alteração das condições de saúde mental, saúde coletiva e bioética. A especialidade tem como área de atuação o desempenho ocupacional psicossocial; psicoafetivo; psicomotor, percepto-cognitivo e sensoperceptivo; desenvolvendo suas atividades em todos os níveis de atenção à saúde na rede de atenção psicossocial em estabelecimentos como centros de atenção psicossocial em todas as suas modalidades, consultório na rua, serviços residenciais terapêuticos, centros de convivência e cultura, nas oficinas de geração de trabalho e renda, em unidades básicas de saúde, em núcleos de apoio à saúde da família, em hospitais, ambulatórios (clinicas, consultórios), domiciliar e home care, sejam eles, públicos, privados, filantrópicos e terceiro setor, entre outros. Dra. Carmen Vera Ferreira CREFITO-5 2330-TO Pós-graduação em Metodologia do Trabalho Comunitário Pós-graduação em Saúde e Trabalho Pós-graduação em Aperfeiçoamento Especializado em Saúde Mental Coletiva Pós-graduação em Gestão Pública e Sociedade Dra. Carolina Mello Sperb CREFITO-5 5878-TO Pós Graduação em Saúde Coletiva com ênfase na atenção de usuários de álcool e outras drogas Mestrado em Psiquiatria Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Saúde Mental

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PROJETO DA CÂMARA TÉCNICA DA SAÚDE MENTAL / 2018 Carmen Vera Passos Ferreira Carolina Mello Sperb Apresentação A Câmara Técnica da Saúde Mental, além de responder as questões demandadas pelo CREFITO 5 referentes a sua área, realizou uma pesquisa com as terapeutas ocupacionais que atuam na saúde mental no estado do Rio Grande do Sul (RS), tendo como finalidade auxiliar no planejamento das ações a serem realizadas no decorrer do ano de 2018. Desta forma, a Câmara Técnica, ao conhecer a realidade e as demandas dos terapeutas ocupacionais, pretende auxiliar no fortalecimento da atuação da terapia ocupacional no RS, na área da saúde mental. Além do que, esta pesquisa possibilitou mapear na rede de atenção psicossocial (RAPS) do RS os locais de atuação da terapia ocupacional; identificar o papel do terapeuta ocupacional dentro dos serviços da RAPS; identificar as cidades que contam com terapeutas ocupacionais nos seus quadros funcionais; e conhecer as áreas de interesse em capacitação dos profissionais, atingindo os objetivos propostos. Para realização da pesquisa, foi disparado on-line pelo setor de jornalismo do CREFITO um questionário formulado pela Câmara Técnica com questões relevantes aos objetivos propostos. Como forma de atingir e sensibilizar um maior número profissionais para o preenchimento do questionário, também foi postado por duas vezes o link da pesquisa no grupo de WhatsApp “TOs no RS” pela Câmara Técnica. A pesquisa ocorreu entre os meses de janeiro e abril de 2018, com um retorno de 117 formulários preenchidos. Universo avaliado como uma amostra considerável para a validação dos dados, apesar de ser esperada maior adesão dos profissionais. Introdução Ao iniciarmos a análise dos dados da pesquisa, avaliamos ser relevante um breve resgate histórico da construção da saúde mental nas últimas décadas no Rio Grande do Sul(RS). Os movimentos de saúde mental desencadeados no Brasil, nas décadas de 70 e 80, em consonância com os movimentos democráticos mais amplos que o país vivia, constituíram a origem e determinação do processo de transformação na saúde mental no RS. Os municípios foram ousados ao tomarem a iniciativa de criarem serviços locais de saúde mental, no final da década de 80, utilizando os recursos humanos, culturais, materiais e financeiros disponíveis. São pioneiros Bagé, São Lourenço do Sul, Santo Augusto, Alegrete, Novo Hamburgo, Porto Alegre, Pelotas, Santa Maria, Osório, Palmares, Nova Prata, Passo Fundo, Carazinho, Três de Maio, Nova Petrópolis, São Marcos, Santa Cruz do Sul, e Santiago. A maior parte dos serviços continua numa trajetória de avanços e recuos, condicionadas pelas gestões, pelos trabalhadores de saúde e de saúde mental e, muito especificamente, pelos recursos financeiros. Os primeiros serviços foram impulsionados e impulsionaram a formação de pessoas para a atenção à saúde mental no RS. (GUIA DE SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL – RS 2002)

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Em decorrência deste movimento, o estado foi o primeiro a contar com uma lei específica de reforma do modelo de atenção à saúde mental. A lei nº 9176 sancionada em 07 de agosto de 1992 propõe um redimensionamento global no atendimento em saúde mental. A aprovação desta lei só foi possível através da mobilização de diversos movimentos sociais e políticos. Ainda em 1992, aproximadamente 120 municípios do estado realizaram conferências municipais e regionais em saúde mental. O processo de municipalização da saúde, iniciado também nesta década, foi outro potencializador para que começassem a constituir suas redes de atenção à saúde mental com a garantia dos direitos às pessoas com transtornos mentais. Consolida-se ainda mais a construção de uma rede de atendimento à saúde mental no RS. No final dos anos 80, 1/3 dos municípios contavam com algum serviço de saúde mental. Podemos destacar :Centro Comunitário Nossa Casa, de São Lourenço do Sul; Casa de Saúde Mental, de Novo Hamburgo; Oficina de Criação Criativa, Bagé; CAIS Mental, Passo Fundo; e Pensão Pública Protegida, Porto Alegre. Antes mesmo que esta lei fosse aprovada, terapeutas ocupacionais no RS já trabalhavam com a lógica antimanicomial, e, posteriormente, estando mais presentes em vários serviços que foram criados a partir de sua aprovação e intensificados com a aprovação da Lei 10.216 em âmbito nacional em 2001. Mângia e Nicácio ao pontuarem as ações ocorridas neste processo com transformação das instituições asilares e implementação da rede de atenção referem que estas se inscreveram no percurso de busca de efetiva universalização da atenção às parcelas tradicionalmente excluídas do setor publico e propiciaram a efetiva participação dos terapeutas ocupacionais na elaboração de projetos e nas políticas públicas (2001) A terapia ocupacional manteve-se presente e atuante nesta construção com participação efetiva em diversos fóruns como de saúde, geração de trabalho e renda, do controle social entre outros, contribuindo ativamente na construção cotidiana do cuidado em saúde mental. Dados da Pesquisa Abaixo serão expostos os gráficos que ilustram as respostas dos itens pesquisados com algumas observações a partir da análise dos dados coletados. Desta forma, procuramos levantar algumas questões para uma posterior discussão com os profissionais envolvidos, com a pretensão de auxiliar no planejamento das ações da Câmara Técnica. I. Cidades que contam com terapeutas ocupacionais atuando em saúde mental O Rio Grande do Sul é o 5º maior estado do Brasil, com extensão territorial de 281.730,2 km², ocupando mais de 3% do território brasileiro. Dividido em 497 municípios, possui 11,3 milhões de habitantes, conforme dados atuais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que corresponde a 6% da população nacional. Também, é dividido em 7 macrorregiões de saúde que são referência para as transferências de recursos entre os entes federativos; bem como, base para o planejamento em saúde, através da composição de mapas da saúde e mapas de metas regionais, que orientarão a elaboração dos planos de saúde, e 19 coordenadorias regionais de saúde que coordenam, articulam e organizam o sistema de saúde loco-regional. Ainda que o maior número de profissionais esteja na macrorregião metropolitana, (60%) de acordo com a pesquisa, temos terapeutas ocupacionais presentes em todas as demais macrorregiões e em municípios que pertencem a 16 coordenadorias regionais de saúde.

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Segundo dados atuais do CREFITO-5, somos 877 terapeutas ocupacionais com registro ativo no estado, sendo que desses, de acordo com o DATASUS, 406 estão no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), que visa, entre outros, dar transparência a sociedade, pelo site, de toda a infraestrutura de serviços de saúde, bem como a capacidade instalada existente e disponível no país. A grande concentração de profissionais se dá na capital do estado, Porto Alegre, com 42 % dos entrevistados. Mesmo em cidades que contam com cursos acadêmicos, como Pelotas, Caxias e Santa Maria, contam com 6,0%, 5,1% e 5,1%, respectivamente; onde o número de profissionais é bem pequeno. A leitura destes dados nos faz avaliar que é necessário a intensificação do investimento na interiorização e divulgação do trabalho da terapia ocupacional. O pequeno número de serviços atendidos por terapeutas ocupacionais em cidades que contam com curso acadêmico, no nosso entendimento, pode dificultar a pactuação das universidades com os serviços para realização das atividades práticas dos acadêmicos.

Também, cabe ressaltar que a grande maioria das cidades conta com 1 ou 2 profissionais, o que, ao nosso ver, pode dificultar o fortalecimento do campo de trabalho. O mapa ao lado demonstra os dados do gráfico evidenciando os municípios que não comportam a Terapia Ocupacional:

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II. Em que locais, estabelecimentos ou ambientes você atua na rede de atenção psicossocial (RAPS)? No que se refere aos locais, estabelecimentos e ambientes de trabalho em que os terapeutas ocupacionais realizam suas atividades, os mesmos estão de acordo com o esperado, uma vez que os centros de atenção psicossocial nasceram com a missão de serem articuladores da RAPS. Onocko-Campos e Furtado (2006) ressaltam que os CAPS se configuram como serviços comunitários, ambulatoriais e regionalizados, em que assumem o papel de articulador de uma rede de saúde, aproximando questões relativas à saúde coletiva e a saúde mental, constituindo um campo interdisciplinar de saberes e práticas (et al). Cabe ressaltar a relevância deste dado, 17 % dos terapeutas ocupacionais atuam em CAPS, pois na Portaria MS 336/02, que define e estabelece diretrizes para o funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial, não há uma obrigatoriedade de contar com o profissional na equipe básica de trabalho, podendo ser um dos profissionais necessários ao projeto terapêutico deste dispositivo. Desta forma, a grande presença de terapeutas ocupacionais em CAPS demonstra, ao nosso ver, o reconhecimento do trabalho no cotidiano dos serviços. Além da participação nesta modalidade, também podemos notar, ainda que em diferentes porcentagens, a atuação dos terapeutas ocupacionais em todos os dispositivos da RAPS, desde os serviços especializados até a atenção básica como Nasf, consultório na rua e unidades de saúde. Outra observação que os dados nos demonstram é que há terapeutas ocupacionais em maior quantidade nos serviços privados em comparação com os públicos. A terceirização/parcerização para constituição dos serviços, bem como a diminuição dos concursos públicos poderia justificar esses dados; o que nos remete a necessidade de acompanhar com atenção esta questão, cientes de que podem levar a precarização das relações de trabalho, bem como dificultar o vínculo terapêutico com os usuários, em razão da fragilidade dos contratos trabalhistas desses padrões de contratação.

III. Quais atribuições você exerce no serviço em que atua? Como esperado, a porcentagem maior de profissionais se dá no atendimento clínico dentro da RAPS; cabe também ressaltar que muitos profissionais, além do atendimento clínico,

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realizam outras atividades nos serviços, como responsabilidade técnica, coordenação, supervisão e orientação, ensino e extensão. A presença de terapeutas ocupacionais nos serviços e sua participação em fóruns de planejamento, gestão e controle social podem ser importantes estratégias para a inserção do profissional em outros serviços da rede de saúde.

IV. Quais os temas de capacitação são do seu interesse? A avaliação terapêutica ocupacional, como tema de interesse em capacitações, contou com 42% dos entrevistados. Cabe uma reflexão, um olhar mais detalhado sobre este item, contextualizando o momento em que a RAPS se encontra. As redes de serviços de saúde mental buscam promover a integralidade e humanização do cuidado, e colocam como objetivo de suas ações a promoção da saúde e a melhoria da qualidade de vida a partir do desenvolvimento dos projetos terapêuticos, orientados para a promoção da participação dos sujeitos e integrados aos valores e crenças das comunidades alvo. Um dos pressupostos da reforma psiquiátrica e da reabilitação psicossocial é um trabalho em rede, investindo no trabalho interdisciplinar no bojo dos serviços. O Sus e a reforma psiquiátrica incorporam outros saberes em suas práticas, reconhecendo as potencialidades, mas também os limites do conhecimento dos profissionais de saúde e das tecnologias, colocando o trabalho na perspectiva intersetorial como necessidade premente. (Pimentel, 2013) Ainda, refletindo sobre o tema, a autora nos coloca que os profissionais se deparam com um abismo entre teoria, as políticas públicas e o cotidiano real dos serviços, com a fragmentação do saber e simultaneamente com a necessidade de compreender o conhecimento de forma contextualizada e integrada. Nas primeiras décadas do movimento da reforma a interdisciplinaridade foi vivenciada intensamente, permitindo a abordagem do sujeito como um todo, considerando seu contexto sócio-

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econômico-cultural, contrapondo o modelo médico hegemônico, com a participação de diversos atores e categorias profissionais num novo modelo de pensar e realizar ações efetivas em saúde mental. No momento, nos parece que, além de pensar na interdisciplinaridade e sem pensar na fragmentação das práticas, os terapeutas ocupacionais tem buscado fortalecer seu lugar na rede de atenção. Desta forma, investindo na capacitação da avaliação e na clínica da terapia ocupacional, estaremos fortalecendo também a identidade do terapeuta ocupacional como um profissional imprescindível na composição da RAPS. Também, observamos que há demanda dos profissionais por capacitação em geração de trabalho e renda, e qualidade de vida e saúde no trabalho. O trabalho tem sido tema recorrente no cotidiano dos profissionais da RAPS, tanto no que se refere ao direito ao trabalho para os usuários da saúde mental seja ele solidário ou formal, bem como as relações e organização do trabalho nas equipes de trabalho.

O trabalho deve ser entendido em seu caráter plural e polissêmico, pois é por meio do trabalho que o homem se reconhece como ser social. Segundo Lancman (2008), a inclusão pelo trabalho não se refere somente à remuneração. Há também a remuneração social e a função psíquica: o trabalho é um dos grandes alicerces do sujeito e de sua rede de significados. V. Contribuições e observações dos participantes no item: Gostaria de deixar alguma mensagem para a Câmara Técnica de Terapia Ocupacional em Saúde Mental? - Olá. Importantíssimo esse movimento, gostaria de poder ter conhecimento de todos estes assuntos que marquei. Importante nos fortalecer como categoria e de conhecimento. Penso ser muito importante este espaço de interlocução para os profissionais da Saúde Mental, na perspectiva de repensar nosso fazer cotidianamente; - É importante que, antes de qualquer iniciativa de ação ou intervenção, se faça um diagnóstico situacional da terapia ocupacional em saúde mental no RS para, com isso, ser possível

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compreender a situação de desenvolvimento na qual a área se encontra e, assim, direcionar as ações para a realidade da mesma. Fica a sugestão de um encontro, seminário ou um colóquio para reunir e dialogar com os profissionais envolvidos; - Cidade de Santa Maria não possui Terapeuta Ocupacional no quadro do município. Considerando que a cidade tem dois cursos de Terapia Ocupacional e uma rede de saúde mental que foi fortalecida após tragédia Kiss. Gostaria de saber qual ação do conselho nesta situação; - Gostaria que a câmara técnica de T.O em saúde mental, fizesse um trabalho de fortalecimento, para que houvesse abertura de mais campos de atuação de terapia ocupacional, desde das residências multiprofissionais até prefeitura; - Na cidade de Canguçu, NÃO HÁ, postos de trabalho abertos ao profissional de Terapia Ocupacional, utilizando o município de outros profissionais dos quais realizam procedimentos que não são terapêuticos ocupacionais, entretanto são nomeados como tal. É necessária rigorosa avaliação da situação o município, pois este por tais motivos não julga necessária a contratação do profissional; - O trabalho do Terapeuta Ocupacional em Consultório na Rua é essencialmente interdisciplinar e os aspectos específicos estão implícitos na prática de campo; - Saliento a necessidade de profissionais de Terapia Ocupacional inseridos nos vários setores da Prefeitura de Pelotas como Caps, Nasf, Escolas, Centro de Autismo, etc... - Que esta Câmara Técnica está em ótimas mãos Preocupação quanto à falta de Faculdade de TO em POA e consequente dificuldade na reposição dos cargos públicos; - Diante das perdas que a SM tem enfrentado nestes últimos anos, seria importante nos oferecer espaço de discussão para novas estratégias possíveis para nossa área, mais especificamente; - Parabéns pela iniciativa. Gostaria de pedir que os resultados sejam divulgados da mesma forma que o questionário; - Gostaria muito que nossa profissão fosse mais reconhecida em diversas áreas, tem locais que desconhecem nossa profissão. - É o momento de nos fortalecermos enquanto classe profissional; e assim reivindicar direitos aos usuários pela garantia de atendimento multi/interdisciplinar com uma visão ampla pautado na reforma; buscando a qualidade de vida dos sujeitos; - Gostaria de receber por e-mail ou saber sobre o meio de comunicação que utilizam para informar sobre as promoções que a Câmara realiza. Obrigada! Trabalho com Gerontologia; - Deveria haver maior exigência e orientação quanto a importância da presença de profissionais de Terapia Ocupacional nos serviços de Saúde Mental; - Acredito que seria de extrema importância o profissional de Terapia Ocupacional dentro de instituições públicas e privadas, hospitais, casas geriátricas, clínicas, entre outros serviços. Atualmente, infelizmente, há profissionais de outras áreas atuando como profissionais de Terapia Ocupacional, acredito ser se suma importância a fiscalização atuar nestes locais e a colocação de

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terapeutas ocupacionais inseridos no mercado de trabalho; - O município de Montenegro carece de capacitação e aprimoramento na área da Terapia Ocupacional, sendo de suma importância e relevância a existência desse para ampliar o trabalho da Terapia Ocupacional na rede do município que infelizmente ainda é limitado; - Seria interessante dar um retorno aos profissionais do resultado desta pesquisa Acho necessária a discussão sobre a inserção de terapeutas ocupacionais trabalhando com saúde mental na atenção básica. Quando vamos discutir um caso clínico com estas equipes nunca tem a presença de um profissional da nossa área para repassarmos o caso e pensarmos estratégias que competem a nossa profissão; - Necessário que as cidades tenham terapeutas ocupacionais, nas unidades de saúde e clínicas, tem outros especialistas atuando como se fossem; - Necessidade de integrar as câmaras técnicas. Ñ há como falar em saúde mental sem pensar em contextos sociais, por exemplo. Algumas considerações finais Primeiramente, gostaríamos de deixar nosso agradecimento aos colegas que participaram da pesquisa e nos auxiliaram a iniciar esta reflexão que deverá auxiliar a condução e enriquecer o trabalho da Câmara Técnica em Saúde Mental. Poucos meses atrás assumimos o desafio de trabalhar ativamente junto ao CREFITO para o fortalecimento da atuação da terapia ocupacional, mais especificamente no que tange à saúde mental. Apesar de atuarmos na RAPS, avaliamos que seria imprescindível ouvirmos os colegas antes de fazermos o planejamento das atividades. As respostas dos terapeutas ocupacionais, muito além de nos trazerem dados quantitativos, nos levaram a diversas reflexões, algumas expostas nas nossas observações, outras que procuraremos acrescentar com a continuidade deste processo de discussão e construção. Acreditamos que necessitamos de mais ações que potencializem o fazer terapêutico ocupacional, e a partir desse levantamento conseguiremos formatar ações mais eficazes e suscitar novos desafios para a categoria na Saúde Mental. Importante ressaltar a necessidade dos profissionais denunciarem as irregularidades e apontarem ao conselho as necessidades dos municípios pois é através dessas ações que conseguiremos modificar o diagnóstico dessa pesquisa.

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Referências Bibliográficas BRASIL. Ministério da saúde. DATASUS. http://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude/ tabnet/rede-assistencial. Acessado em 4/06/18 LANCMAN, S. O mundo do trabalho e a psicodinâmica do trabalho. In: LANCMAN, S.; SZNELWAR, L. I. (Org.). Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, Brasília: Paralelo 15, 2008. MÂNGIA, Elisabete Ferreira e NICÁCIO, Fernanda. Terapia Ocupacional em saúde mental: tendências principais e desafios contemporâneos. in Terapia Ocupacional no Brasil: fundamentos e perspectivas. Prado de Carlo e Marysia Mara Rodrigues, Bartalotti, Celina Camargo, 2001 ONOCKO-CAMPOS, R. T. & Furtado, J. P. Entre a saúde coletiva e a saúde mental: um instrumento metodológico para avaliação da rede de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Sistema Único de Saúde. Cadernos de Saúde Pública, 22(5), 1053-1062, 2006 PIMENTEL, F.A. Entre o velho e o novo. In Terapia Ocupacional e Complexidade: práticas multidimensionais/organização Elisabete Matallo Marchesin de Pádua, Mari de Lourdes Ferriotti. 1.ed-Curitiba.PR: CRV,2013 RIO GRANDE DO SUL, Secretaria de Saúde. Guia de saúde mental. Porto Alegre: Secretaria da Saúde; 2002. http://www.sipergs.org.br/guia.pdf. Acessado em 2/06/2018 RIO GRANDE DO SUL, Secretaria de Saúde. www.saude.rs.gov.br/crs. Acessado em 4/06/2018

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