QUE VENHAM MAIS 50 ANOS
C
TERCEIRA CAPA
ontar uma história é viajar no tempo. Vamos viajar até o final da década de 1960, mais exatamente até 13 de outubro de 1969, para encontrar o início da história de duas profissões que são regulamentadas desde então.
Para alguns é uma viagem curta, pois são apenas 50 anos passados. Já para outros, uma viagem longa ao se considerar as batalhas travadas, as vitórias alcançadas e todas as conquistas que nos trouxeram até aqui. Duas profissões que têm a mesma gênesis – a reabilitação, e que caminham juntas com passos firmes e decididos na luta por um espaço digno de atuação e pelas condições de saúde e de qualidade de vida humana. Duas profissões que sem perder suas essências, acompanharam a evolução dos tempos e ocuparam espaços importantes na promoção da saúde e na prevenção de doenças, além de, é claro, recuperar a saúde e reabilitar funções humanas. Hoje somos mais de duzentos e cinquenta mil profissionais, entre fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais espalhados pelo Brasil, ocupando espaços em qualquer nível de atenção da saúde. Somos tão importante quanto qualquer outro profissional da saúde, pois temos praxis distintas, próprias das nossas profissões, competências e habilidades específicas que nos tornam
além de importantes, essenciais para o sistema de saúde.
No Rio Grande do Sul, a formação de fisioterapeutas se inicia na Universidade Federal de Santa Maria em 1977, a primeira escola formadora do Estado. Já a formação de terapeutas ocupacionais se inicia no ipa – Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista, em 1980. Hoje, são 42 escolas formando fisioterapeutas e quatro escolas formando terapeutas ocupacionais. Hoje, fazemos ciência. Temos muitos doutores e muitos mestres entre nossos profissionais. Criamos nossas próprias tecnologias com o intuito de garantir uma assistência com a melhor qualidade para todos aqueles que nos procuram.
Enfim, já viajamos 50 anos. E dizem por aí, que a vida é uma viagem e que a profissão que escolhemos é também uma viagem dentro das nossas vidas. Então fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, preparem-se para seguir viagem. Preparem-se para encontrar novos personagens – novos colegas, outros profissionais da saúde com quem viverão e trabalharão em equipes e dividirão experiências e saberes, novos pacientes que lhes ensinarão que cada um tem sua história de vida e sua singularidade, e que o amor é que nos move. Nossas vitórias e nossas conquistas nos trouxeram até aqui. Agora depende de nós garanti-las e honrar aqueles que já lutaram
e os que lutam pelo lugar que ocupamos hoje. Vamos buscar novas conquistas para continuarmos orgulhosos da nossa história. Tenhamos orgulho de nossas escolhas profissionais, pois somos muito importantes na vida daqueles que vêm até nós. Agradeçamos o dom e a graça de sermos fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Coloquemos amor no nosso fazer, pois somos o que fazemos. E só nós fazemos Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Estamos encerrando um ciclo de 50 anos de atividade profissional regulamentada da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional. Temos muito o que celebrar. Vamos aproveitar tudo o que aprendemos e conquistamos neste ciclo que se encerra e seguir no caminho que traçamos até aqui para escrever novos capítulos da história das duas profissões. Sigamos em frente, rumo a novas conquistas. Parabéns fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.
Jadir Camargo Lemos Presidente do Crefito 5
MENSAGEM PRESIDENTE REGIONAL
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SUMÁRIO
CONTEXTO HISTÓRICO
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TRAJETÓRIAS
COMO É, COMO FOI E COMO SERÁ
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COM A PALAVRA, OS PACIENTES
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EXPEDIENTE
MENSAGEM PRESIDENTE NACIONAL
CONTEXTO HISTÓRICO
50 anos de regulamentação das profissões de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Cinco décadas de luta e garra, ensinamentos e desenvolvimentos, mas acima de tudo, muito amor e dedicação.
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CONTEXTO HISTÓRICO
F
isioterapia e Terapia Ocupacional têm histórias sinérgicas. De acordo com o nosso dicionário ortográfico, sinergia é um esforço simultâneo. Vindo da sociologia, essa palavra significa um grupo em prol de um objetivo comum. Da química, uma potencialização da ação de uma ou mais substâncias. Da economia, uma ação conjunta de empresas visando um desempenho melhor do que demonstrado isoladamente. Da fisiologia, sinergia é uma ação associada de dois, ou mais, elementos biológicos cujo resultado seja uma realização de uma função orgânica. Por todos esses conceitos é que a palavra para identificar a nova gestão do Crefito 5 e os 50 anos de regulamentação das profissões foi “sinergia”. Com o intuito de mostrar que as duas profissões podem fazer mais juntas, nada melhor do que resgatar o contexto histórico para entender onde podemos chegar juntos. Poderia ser uma comemoração de mais de 50 anos. Mas por que por muito tempo os serviços de Fisioterapia e Terapia Ocupacional foram exercidos sem regulamentação? Segundo fontes do Ministério da Saúde1, no período entre 1879 e 1883, há registros da criação do serviço de ele-
tricidade médica e serviço de hidroterapia no Rio de Janeiro, que existem até hoje. Além disso, segundo estudos feitos pelo HC de São Paulo, em 1898 iniciou-se o funcionamento do hospital Juqueri (atual hospital Franco da Rocha) onde eram atendidos doentes mentais de todo país na época. 2Franco da Rocha e Antônio Carlos Pacheco e Silva introduziram lá o tratamento pelo trabalho intitulado na época por "praxiterapia" (utilização terapêutica do trabalho, distribuindo-se tarefas de complexidade crescente; terapia ocupacional).
formação O curso de Terapia Ocupacional (aqui se entende ainda como os “profissionais de ajuda”, já que estamos falando de antes de sua habilitação) teve início com uma Portaria do mec, de nº 511 de 1964, que solicitava que existissem as matérias básicas para a formação desses técnicos, a serem “resumidas ao indispensável, à compreensão e a boa execução dos atos terapêuticos”5, fixando um currículo mínimo a serem cumpridos em três anos letivos. Hoje o curso de formação do profissional é de quatro anos. No Rio Grande do Sul existem três universidades e uma faculdade capacitadas a ofertar o curso de Terapia Ocupacional6.
O que ocorreu com as profissões de Terapia Ocupacional e Fisioterapia, historicamente, segundo o Ministério da Saúde, foi o que aconteceu com todas as profissões da área da saúde no Brasil. Primeiramente sua prática foi instituída para depois obter-se o reconhecimento dos cursos de formação e a regulamentação profissional.
Isso porque o Brasil ainda estava atrasado com relação aos países centrais do Ocidente. Até 1969 os recursos fisioterapêuticos só eram aplicados sob a prescrição médica3. Na década de 50, alguns cursos visando à formação do terapeuta ocupacional, eram definidos como profisSegundo uma matéria publicada na Revista Brasileira sionais que exerciam “funções de Fisioterapia, em 1973, houve uma evolução no título intermediárias”, voltados para recebido pelos fisioterapeutas: de técnico em Fisioterao treinamento do “profissional pia para fisioterapista, termo originado de physiothede ajuda”, “vocacional” e “misrapist, utilizado nas escolas anglo-saxônicas. E em 1959, sionário”. Ou seja, ambas as por votação em Assembleia Geral da Associação Brasiprofissões, até a regulamentaleira de Fisioterapeutas, decidiu-se adotar a denomição, ficaram relegadas ao senação de fisioterapeuta, mais usual em países latinos. gundo plano4.
curiosidade
1 A trajetória dos cursos de graduação na área da saúde: 1991-2004. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu cacionais Anísio Teixeira, 2006. Ed. Abril. Pág 202. 2 Terapia Ocupacional no Brasil - Fundamentos e perspectivas. Plexus Editora, 2001. de carlo, m. m. r. p.; bartalotti, c. c. 3 sanchez 1984
Contudo, em 13 de outubro de 1969, por meio do Decreto-Lei nº 938, finalmente ocorreu o reconhecimento legal da autonomia dos nossos profissionais, criando as profissões de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. “Art. 1º: É assegurado o exercício das profissões de fisioterapeuta e terapeuta ocupacional, observando o disposto presente. Art. 2º: O fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional, diplomado por escolas e cursos reconhecidos, são profissionais de curso superior. Art. 3º. É atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas fisioterápicos com finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do paciente. Art. 4º É atividade privativa do terapeuta ocupacional executar métodos e técnicas terapêuticas e recreacional com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade mental do paciente.” Apenas para entendermos um pouco mais de nossa história, o contexto brasileiro do ano de 1969 era de ditadura. Médici seria eleito o novo presidente. Vera Fischer ganhava o concurso de Miss Brasil. Inaugura-
4 lopes, 1991; hahn, 1999. 5 A trajetória dos cursos de graduação na área da saúde: 1991-2004. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006. Ed. Abril. Pág 491. 6 crefito5, Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Disponível em: <http://www. crefito5.org.br/ >. Acesso em: 19 junho 2019
CONTEXTO HISTÓRICO
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va o estádio Beira-Rio. Ano de Woodstock, surgimento do semanário Pasquim, e nas rádios ouvia-se muito Wilson Simonal, com a música “moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”. Se o ano já era importante no cenário nacional, em todos os âmbitos, imagina para a profissão de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Dra. Keila Carvalho, historiadora com doutorado pela Universidade Federal Fluminense (uff) em Políticas Públicas em Saúde no Brasil, relata que em 1969 o Brasil vivia um dos períodos mais violentos da ditadura civil-militar implantada com o Golpe de 1964. “No campo da saúde especificamente, as políticas de Planejamento de 1969 reforçaram a privatização dos serviços médicos, através da compra de serviços pela Previdência, sob a forma de unidades de serviço. As palavras de ordem eram a produtividade, o crescimento, a desburocratização e a descentralização da execução de atividades, gerando pouco investimento e enorme carência no sistema público de saúde. Assim, talvez possamos inferir que a regulamentação das profissões de Fisioterapia e Terapia Ocupacional esteja relacionada a esse quadro mais amplo de racionalização/mercantilização da saúde e, sem sombra de dúvidas, à luta dos profissionais para delimitação e reconhecimento do campo de atuação”. É imprescindível atentar-se para a questão política e social do país, pois ainda que tivessem sido regulamentadas as profissões, os fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais permaneceram até 1984 como limitados técnicos de reabilitação. Pode-se dizer que enquanto a ditadura privou o povo brasileiro do livre exercício de sua cidadania, ela também atingiu a capacidade crítica e mobilizadora de nossos profissionais no sentido de maior participação nas definições de suas leis⁷. Além disso, por muito tempo a profissão ficou limitada também na questão de formação, já que os cursos de graduação eram atrelados às escolas de Medicina. Inclusive, a primeira presidente do Crefito 5 (1986-1988), Maria Tereza Baraúna, cursou Terapia Ocupacional
pela Escola Baiana de Medicina, em 1980: “os cursos eram juntos, ficando apenas o último ano como específico”. Mesmo com a regulamentação em 1969, existiam apenas seis cursos de graduação dessas profissões no Brasil, em cinco Estados: Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Já em 1984 esse número vai para 22, dentre eles, o Rio Grande do Sul também desponta como um dos estados com tais cursos. Dra. Themis Goretti Moreira Leal de Carvalho foi uma das primeiras a se formar no curso de Fisioterapia na Universidade Federal de Santa Maria, em 1983. “Apesar de ser um curso na época voltado para reabilitadores e assistencialista, o que me fez escolher Fisioterapia era a possibilidade do que poderia fazer pela sociedade”, comenta Dra. Themis, hoje professora do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Cruz Alta – unicruz. A Dra. Ana Badaró veio para ufsm em março de 1980, depois de se formar em Fisioterapia pela Universidade de Campinas. Com a incumbência de dar aulas para a segunda turma a ser formada na Universidade de Santa Maria, Dra. Badaró relembra que traziam muitos profissionais de São Paulo e Rio de Janeiro para que a profissão fosse cada vez mais conhecida: “na época era muito confundido com massagista a nossa profissão de fisioterapeuta, pela falta de conhecimento mesmo. Então, trazíamos os profissionais paulistas e cariocas, que já tinham um campo de trabalho mais voltado para a reabilitação industrial e de trânsito, para que assim, aumentasse nosso campo de visão da profissão”.
Universidade de Santa Maria e o Centro Universitário Metodista de Porto Alegre (ipa), no fim da década de 70, início de 80, foram as primeiras instituições do Rio Grande do Sul a disponibilizarem cursos de graduação na área de Terapia Ocupacional e Fisioterapia.
⁷ A trajetória dos cursos de graduação na área da saúde: 1991-2004. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006. Ed. Abril. Pág 207.
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fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais inscritos no rio grande do sul 4
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2 0
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20 2
3 1
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80 40
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66 78 116
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71
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58
866
38 238
76 20
1046
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32
1128
57
1021
98
232
1531
154 325
1083
114
286
45
846
TOTAL DE PROFISSIONAIS INSCRITOS
Fisioterapia
Terapia Ocupacional
20207 + 1680 = 21887 CONTEXTO HISTÃ&#x201C;RICO
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Em 1975, com a intenção de fiscalizar essa expansão que estava ocorrendo nas profissões de Terapia Ocupacional e Fisioterapia, foi criado o coffito (Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional) em 1977 e os Conselhos Regionais (Crefito-1, com sede em Recife, com jurisdição norte e nordeste; o Crefito-2, no Rio de Janeiro, que compreendia o centro do País e o Crefito 3 que, além de São Paulo, abrangia a região Sul) pela Lei nº 6.316, em 1978: “Art 1º: São criados o Conselho Federal – coffito e os Conselhos Regionais de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional – Crefito, com a incumbência de fiscalizar o exercício das respectivas profissões, definidas no Decreto-Lei nº 938, de 13 de outubro de 1969”. Um fato importante atrelado à criação do Conselho Federal, foi a Resolução nº 10 do coffito, de 03 de julho de 1978. Dela originou o Código de Ética e Deontologia Profissional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, que além de delinear os princípios gerais do comportamento moral, referindo-se ao respeito à vida humana, preservando a integridade física ou psíquica do ser humano, também detalhou os honorários dos profissionais. Na década de 80 o país estava passando por uma importante conjuntura. Dra. Keila nos lembra que no início dos anos 80, com a crise financeira no setor da saúde, que se expressava na seguridade social e no modelo privatizante, um grupo de profissionais da saúde - ligados à perspectiva do que hoje chamamos saúde coletiva, isto é, uma lógica de prevenção em detrimento da doença - apresentaram forte reação às políticas de saúde implantadas, além de emergir como uma alternativa concreta para a reformulação do sistema nesse campo. “Esse processo de reforma sanitária, desencadeado por intelectuais e profissionais, impulsionou a realização da viii Conferência Nacional de Saúde. Em decorrência desse processo, em 1986, o Ministério da Saúde convocou a viii Conferência Nacional da Saúde, inovando na escolha da temática - Direito à Saúde: Sistema de Saúde e Financiamento. O evento contou com a participação da sociedade civil, profissionais da saúde, intelectuais, usuários e membros de partidos políticos e sindicatos. Além disso, a viii Conferência representou um avanço técnico e um pacto político, ao propor a criação do Sistema Único de Saúde (sus), tendo como diretrizes: a universalidade, a integralidade das ações e a participação social, além de ampliar o conceito de saúde, colocando-o como um direito dos cidadãos e um dever do Estado”, explica a historiadora. Assim, o processo de mobilização da sociedade teve continuidade nos trabalhos de elaboração
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CONTEXTO HISTÓRICO
da nova constituição democrática, que culminou com a aprovação de um capítulo inédito da Constituição, que versava sobre a saúde. “Portanto, podemos dizer que a Constituição de 1988 foi um marco de concretização do processo de transformação da saúde como bem público no Brasil, haja vista os principais pontos aprovados: o direito universal à saúde; a saúde como um dever do Estado; a constituição do sus integrando todos os serviços públicos em uma rede. Além da preservação dos princípios aprovados pela viii Conferência e a participação do setor privado no sus de forma complementar, bem como a proibição da comercialização de sangue e de seus derivados”. o crefito 5 – 1985 até hoje Contudo, demandando custos para a fiscalização das profissões devido, principalmente, à distância, o coffito verificou a necessidade de instalar um novo Conselho, que atendesse o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Foi criado assim, em 1985 o Crefito 5, que ficou com essa incumbência até 2003, quando foi criado o Crefito 10, com jurisdição apenas em Santa Catarina. “A questão da distância foi muito porque era impossível fiscalizar todos os profissionais do Sudeste. Na época criamos uma lista com vários nomes que estavam irregulares e levamos ao coffito. Foi aí que Dra. Sônia Gusmann, presidente do Conselho Federal na época, criou o Crefito 5, com jurisdição no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Foi uma grande vitória para todos nós”, comenta Dr. Fernando Prati, fisioterapeuta e ex-presidente do Crefito 5. Roberto Oliveira, primeiro deficiente visual a se formar em Fisioterapia pelo ipa na turma de 1984, recorda que se autodenunciou para que tivessem condições adequadas para o exercício da profissão: “eu e meu colega
Formatura do Roberto Oliveira, primeiro fisioterapeuta deficiente visual formado pelo ipa
1978 Crefito 1 Crefito 2 Crefito 3
1985 Crefito 4 Crefito 5
1988 Crefito 6 Crefito 7
1991 Crefito 8
1994
2011 Crefito 13
2014 Crefito 14
Crefito 9
2003 Crefito 10
2004
2015 Crefito 15 Crefito 16
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Crefito 11
Crefito 17
Crefito 12
Crefito 18
Mapa do Brasil com Crefitos Atuais
de trabalho nos autodenunciamos, pois exercíamos atividades de fisioterapeuta, mas não éramos registrados como tal. E deu certo. Fomos reconhecidos e, claro, autuados pelo coffito”, lembra sorrindo. Para a terapeuta ocupacional e também ex-vice presidente do Crefito 5 na gestão de 1988 até 1990, Dra. Eliana Furtado, desatrelar do Crefito 3 foi muito importante. Dra. Furtado se formou em 1979 em Salvador pela Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública. Veio para Porto Alegre em 1984: “o povo gaúcho é muito guerreiro e conquistador. Ficar atrelado ao Crefito 3 atrasava
a luta que já estava acontecendo por aqui. Com o Crefito 5 ganhamos mais autonomia e força”, relembra a profissional que ainda visita sua família em Salvador, mas que confessa “minha mãe sempre dizia, como é que pode uma baiana gostar de usar meias? Vir para Porto Alegre me realizou também nesse ponto”, nos conta rindo. A instauração de um Crefito no Rio Grande do Sul foi realmente um marco. A primeira sede era em uma sala nas dependências da piscina do Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista (ipa), em 1985. O patrimônio do
CONTEXTO HISTÓRICO
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Crefito 5 naquela época era uma máquina de escrever e papéis de secretaria doados pelo Crefito 3, trazidos de São Paulo pela então vice-presidente, Sônia Manacero. A intenção da abertura de uma sede regional em Porto Alegre era para atender a demanda, principalmente, dos profissionais quanto à fiscalização e para deixar a sociedade mais entendida do papel dos fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Silvana Inês Forster Halmenschlager, fiscal coordenadora, está no Crefito 5 desde 2004. “O trabalho do fiscal vai além do ato em si de fiscalizar. Entendemos que o fiscal, por também ser terapeuta ocupacional ou fisioterapeuta , auxilia em tirar dúvidas, ouvir, enfim, estar junto com profissionais atuantes no mercado para que esse relacionamento seja uma parceria para todos, principalmente para a sociedade”. Hoje, o Crefito 5 tem três fiscais em Santa Maria, dois em Caxias do Sul e três em Porto Alegre, além da própria Silvana. Em 1995, o Crefito 5 conquista sua sede própria, onde está hoje, na Avenida Palmeira. “Oportunizamos a modernização e ampliação dos nossos funcionários e no atendimento à categoria”, comenta o presidente na época, Fernando Prati. Em 1999 foi criada a Associação Brasileira de Ensino em Fisioterapia, com foro em São Paulo, mas com constituição nacional. O objetivo dessa associação para os profissionais é o desenvolvimento e o aprimoramento do ensino e formação em Fisioterapia. Um pouco mais tarde, em 2005, foi registrado a reneto, Rede Nacional de Ensino e Pesquisa em Terapia Ocupacional, que já existia como uma rede virtual de discussões desde 2000. Ambas as Associações, cada uma em sua área, somam esforços com outras entidades das categorias, inclusive o próprio coffito e Crefito 5 para que haja organização, estruturação, ampliação, desenvolvimento e qualificação do ensino e pesquisa para a Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Também em 1999, a Terapia Ocupacional ganha uma nova empreitada: a possibilidade de se inserir no sus, pela Portaria nº 21/sas de janeiro/1999. Nela, o terapeuta ocupacional é um dos integrantes da equipe técnica multidisciplinar para prestar atendimento a pacientes internados. Esse ganho é ampliado em 2002, quando a Terapia Ocupacional ganha espaço dentro da política de saúde mental do sus, na atuação em Centros de Atenção Psicossocial (caps). Com a regulamentação da Portaria nº 336/gm de fevereiro/2002 .
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CONTEXTO HISTÓRICO
Prédio onde é localizada a sede do Crefito 5
Enquanto isso, aqui no Crefito 5 ocorria a divisão entre os dois Estados, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e culminava na criação do Crefito 10 (sc). Em 2003, segundo a coordenadora geral do Crefito 5, Francele Pereira Pinheiro, essa divisão foi bem tranquila. “Lembro que o local da administração em Florianópolis já estava construído, inclusive fui visitar. As normativas e processos também já estavam criados para eles, ou seja, foi um fluxo muito natural”, conta Francele que trabalha no Crefito 5 desde 2001. “A proximidade com os representantes faz toda a diferença”, confirma Luciana Marques da Silva, secretária executiva do Crefito 5 desde 2002. De 2002 até 2013, um dos grandes temas tratados por todas as áreas de saúde foi o Ato Médico. Inicialmente, a definição do Ato Médico constava apenas em uma resolução do Conselho Federal de Medicina (Resolução 1627/2001 - cfm), e assim, aplicava-se apenas à prática de médicos. Entretanto, o conteúdo dessa resolução
Manifestações ao longo dos anos contra o pls 25/2002, conhecido como Ato Médico.
foi transformado em Projeto de Lei (pl), para ter validade de lei, passando a incidir sobre todas as profissões, principalmente as da área da saúde. O pls 025/2002 (conhecido como pl do Ato Médico), elaborado pelo senador Geraldo Althoff (pfl-sc), a partir da Resolução do cfm, buscava a regulamentação da profissão médica, definindo os atos médicos. O Crefito 5, nesse período passou por duas gestões diferentes. Iniciou com Maria Teresa Dresch da Silveira e Silva, em 2002 “foram anos de luta! Lembro com muito carinho de todos os atos para passarmos por mais uma evolução em nossas profissões”. Alexandre Doval da Costa, presidente entre 2010 a 2014 relembra com muito carinho desses momentos, “fui para Brasília convencer as pessoas sobre a importância do movimento, fiz vigílias e passeatas em Porto Alegre. O Dr. Jadir, atual presidente, estava junto conosco. Foi um parceirão!”. Em 10 de julho de 2013, a Presidente da República Dilma Rousseff sancionou a Lei no 12.842, com os vetos
pedidos pelas profissões da saúde: “Decidi vetar parcialmente, por contrariedade ao interesse público, o Projeto de Lei nº 268, de 2002 (nº 7.703/06 na Câmara dos Deputados), que dispõe sobre o exercício da Medicina”, informou a presidente Dilma Rousseff, em comunicado na época. De 2013 até os dias de hoje, muito tem se tratado das duas profissões. Desde aumentar a inserção de conhecimento na sociedade, auxiliar os profissionais na ampliação de seus exercícios, trabalhar na injeção de estudos e pesquisas na área educacional, além de afunilar a parceria entre a Fisioterapia e a Terapia Ocupacional. Já se foram 50 anos e você, profissional, está fazendo parte dessa história. Você, estudante, ainda fará acontecer. Mas o mais importante é que a sinergia entre o todo, profissionais, estudantes e sociedade, nunca perca o foco, porque juntos somos mais fortes.
CONTEXTO HISTÓRICO
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TRAJETÓRIAS Da vida pública à pessoal, conheça a história dos presidentes do Crefito 5 Presidente. A palavra remete ao latim praesidere, literalmente, significava sentar-se (sedere) diante (prae) de outras pessoas, para dirigir-lhes a palavra em situação de destaque e liderança. Descrevendo assim, parece simples. Mas o papel do presidente vai muito além de administrar e governar. Eles precisam estar atentos ao que é melhor para uma maioria, cada um dentro do seu contexto. E como fazer isso se cada um carrega dentro si a sua própria história e discernimentos sobre tudo? Para entender um pouco mais sobre a trajetória que trouxe cada presidente do Crefito 5, nas próximas páginas teremos um pouco mais sobre a vida de cada um deles. Serão seis ao todo, mas não nos esquecemos de mencionar aqui os que presidiram interinamente, como Vladimiro Ribeiro de Oliveira, falecido fisioterapeuta de Porto Alegre, que esteve a frente na gestão de 11 de abril até 06 de julho de 1990; Nair Pereira Paim, fisioterapeuta de Alegrete, presidiu o Crefito 5 de 14 de novembro de 2002 até 03 de julho de 2003; e Wilen Heil e Silva, fisioterapeuta carioca, presidente do Conselho de 22 de junho até 13 de dezembro de 2018.
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TRAJETÓRIAS
MARIA TEREZA BARAÚNA DA COSTA
1986 até 1988
Com total plenitude da vida, a primeira presidente do Crefito 5 nos concede a entrevista com muita alegria, como toda boa baiana. Maria Tereza relembra que as duas faculdades, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, eram cursadas juntas. No último ano de graduação é que era dividido para cada parte específica. Além de poucos professores já formados nessas profissões, havia apenas dois livros brasileiros, o restante eram todos em castelhano, francês. “A parte de ética, por exemplo, não era dada na faculdade. Mas claro, que isso não foi um empecilho para sabermos que precisávamos sim ir em busca dessa disciplina em nossa profissão”.
De Salvador para Porto Alegre: o calor da baiana acendeu a chama do Crefito 5
A
primeira presidente do Crefito 5 formou-se em Terapia Ocupacional na Bahia em 1980. Com uma história de 39 anos na profissão, é uma das nossas principais fontes e sua vivência é inspiradora. Maria Tereza Baraúna da Costa nasceu em Uruçuca, na Bahia, em 27 de outubro de 1957. Graduou-se em Terapia Ocupacional pela Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública, em 1980. Tem especialização em Educação Psicomotora pelo ipa (1984) e Mestrado em Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação pela Universidade do Estado da Bahia (2015).
A jovem terapeuta ocupacional baiana Maria Tereza Baraúna vem desbravar o Rio Grande do Sul e assume como primeira presidente do Crefito 5.
Entre risos, Baraúna lembra que saiu da faculdade achando o curso muito positivista e em seu primeiro emprego, inclusive, ficou desesperada: “eu achava que não sabia nada! Fiquei em pânico quando percebi que precisava fazer uma avaliação do paciente. Mas depois, fui me acalmando, conversei com os colegas de profissão e percebi que na verdade eu sabia muita coisa sim”. Maria Tereza veio para Porto Alegre depois de um dos professores comentar que o campo aqui era muito promissor. Ainda sob a jurisdição do Crefito 3 (São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), em 1983, a jovem Baraúna desembarca na capital gaúcha. “Foi para mim uma escola de vida e profissional. Eu vivi Porto Alegre. Gostava muito. Encontrei pessoas maravilhosas”. A ideia de formar um Conselho apenas para o Sul veio da necessidade do coffito em atender os profissionais com melhor qualidade. Baraúna conta que em uma conversa
TRAJETÓRIAS
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no Centro Universitário Metodista de Porto Alegre (ipa) com outras profissionais resolveram fazer uma chapa para tentar a eleição do novo Conselho. “Juntei algumas colegas e fizemos uma chapa. Nós tínhamos um pensamento mais para frente, queríamos fazer coisas legais, um colegiado mesmo”, conta Baraúna que em 15 de março de 1986 tomou posse como primeira presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 5ª Região. A chapa foi a única apresentada na época, e Maria Tereza Baraúna comenta, entre muita risada “você sabia que eu fui multada por não ter votado em mim mesma? O pior não foi não ter votado em mim, foi a vergonha de levar uma multa por isso”. A ex presidente estava de férias em Salvador, visitando sua família. O início do Crefito 5 foi de muita dificuldade. Segundo Baraúna, não havia dinheiro para nada, mas havia muita vontade de mostrar e melhorar as profissões. Entre as questões mais lembradas estão os debates sobre as atividades de auxiliar de Fisioterapia e Terapia Ocupacional e a qualificação do ensino. Depois de algumas viagens durante seu mandato para visitar a mãe adoecida, Maria Tereza resolve deixar o cargo para ficar com sua família. Quando retornou a sua terra natal, após passar em concurso, as-
Hoje, de volta à Bahia, Baraúna continua sua trajetória em defesa das profissões. Atualmente é conselheira suplente do Crefito 7
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sumiu um cargo em um hospital na capital baiana. “Fui muito empolgada, depois da vivência em Porto Alegre, achando que poderia ajudar no trabalho com a comunidade, mas para minha decepção, o local era muito rígido e saí. Hoje vejo que poderia ter ajudado mais, se eu tivesse o pensamento de hoje, teria tentado ter mais jogo de cintura”, desabafa, Baraúna. Hoje, Maria Tereza é conselheira suplente no Crefito 7, que também ajudou a desmembrar. “A profissão ainda é um pouco desconhecida, para contextualizar, aqui em Salvador estamos retornando apenas esse ano com o curso de formação de Terapia Ocupacional. Por muito tempo ficamos sem. Outro ponto, se reclamamos que estamos muito em consultório é culpa nossa mesmo. Se reclamamos que fisioterapeutas e psicólogos estão ocupando nosso lugar, é porque estamos deixando. Ninguém melhor do que o fisioterapeuta para fazer Fisioterapia e ninguém melhor do que o terapeuta ocupacional para fazer Terapia Ocupacional. Mas mesmo assim, precisamos de uma visão mais ampla. Hoje com a informação por meio da internet, já é mais bem aceita a pessoa com alguma deficiência, ou seja, a inclusão ficou mais fácil. Ideal a sinergia nesse momento: todos coordenados e agindo de forma harmoniosa podem fazer mais juntos”, finaliza nossa primeira presidente, Maria Tereza Baraúna da Costa.
SÔNIA APARECIDA MANACERO
1988 até 1990
“S
eja a mudança que gostaria de ver no mundo”, já diria o grande líder pacifista Mahatma Gandhi. Com essa frase, podemos explicar um pouco do que é hoje a carreira da segunda presidente do Crefito 5, Sônia Aparecida Manacero, cargo assumido após Baraúna deixar a presidência para voltar à Bahia.
po de professores do ipa que não estavam contentes com as situações da nossa profissão. Nos reunimos e lançamos a única chapa para concorrer à gestão do novo Crefito 5. Inclusive, quando assumimos, o próprio ipa nos cedeu a primeira sala do Conselho. E a máquina de escrever que foi cedida pelo Crefito 3, eu mesma trouxe de São Paulo”, relembra.
Formada em Fisioterapia no ano de 1982 pela Universidade Metodista de Piracicaba/ sp (unimep), Dra. Sônia Manacero é hoje especialista em Educação Psicomotora (Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista ipa – 1984), possui Mestrado pela pucrs em Medicina e Ciências da Saúde, além de Doutorado, também pela pucrs, em Medicina Pediátrica e Saúde da Criança.
“Eram tempos diferentes e eu era muito nova. Com 29 anos tínhamos propostas diferentes e não éramos bem vistos pelo Conselho Federal. Na época não tinha fax ou internet, e as resoluções eram todas tratadas via telefone ou carta. Fomos muito sonhadores, mas trabalhamos muito para conquistar o que achávamos certo” declara. Dra. Sônia ainda hoje conversa com sua antiga colega de chapa, Maria Tereza Baraúna: “somos muito amigas até hoje, e acho que muito disso é porque na época nada interferia na nossa amizade. Era um tempo muito justo, onde o que era combinado e prometido era cumprido”, desabafa.
Natural de Jundiaí, São Paulo, Dra. Manacero sempre quis uma profissão que fosse referente aos cuidados com as crianças. Não é à toa que hoje é referência quando se fala em fisioterapia neuropediátrica no país. “Desde pequena queria algo voltado ao tratamento de crianças. Fiz muitos cursos dentro e fora do país. Posso dizer que hoje sou uma das únicas no Brasil a poder lecionar sobre o Conceito Neuroevolutivo Bobath Básico e Baby, formação que iniciei em 1989”. Depois de dois anos de formada, a fisioterapeuta veio para Porto Alegre por indicações de amigos que falavam sobre a expansão do campo de mercado gaúcho. “Vim em 1984 para uma vaga que tinha do ipa, onde lecionei por sete anos”, relata. Sua entrada na primeira gestão do Crefito 5 foi por insatisfação: “juntamos um gru-
Hoje com uma clínica multidisciplinar, Dra. Sônia Manacero tem orgulho do legado que está construindo: “nunca tive convênio na minha clínica por achar antiético as propostas nessa área. Tenho certeza que todos os profissionais que estão trabalhando hoje comigo são excelentes e isso reverte no nosso atendimento único com os pacientes”. Para ela, o profissional deve procurar se especializar cada vez mais e fazer isso porque gosta. “Nossa profissão é genial! Para mim, é a melhor profissão, a neuropediatria me deixa absolutamente feliz. Ver que podemos reabilitar as pessoas é um privilégio, faria tudo de novo”, finaliza.
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FERNANDO ANTÔNIO DE MELLO PRATI
1990 até 2002 | 2014 até 2018
A
marcante trajetória do profissional que esteve à frente do Crefito 5 por quatro gestões.
Fernando Antônio de Mello Prati foi presidente por quatro mandatos no Crefito 5. Se hoje o improviso do jazz toma conta do seu dia a dia, durante esses 39 anos como fisioterapeuta, seu ritmo foi pautado por muito trabalho e crescimento da profissão. Nascido em Poços de Caldas, Minas Gerais, em 01 de outubro de 1956. Graduou-se em Fisioterapia pela Universidade Metodista de Piracicaba (1980). Possui mestrado em Ciências Sociais Aplicadas com ênfase em Polícias Públicas, área de Associativismo e Cooperativismo (2005). Pós-graduação em Medicina do Esporte (1984); Metodologia do Ensino Superior (1985) e Ciências do Movimento Humano (1995). É especialista em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica, além de Acupuntura (2000). A escolha da profissão por muitas vezes é difícil para um adolescente de quase 20 anos. Isso desde sempre. Porém, para Fernando Antônio de Mello Prati essa escolha ocorreu com 13 anos. Nascido em Poços de Caldas, mineiro, Fernando se formou em Fisioterapia em 1980, em Piracicaba, interior de São Paulo. “Quando tinha 13 anos, meu pai, militar, sofreu um traumatismo craniano e um avc. Ele foi levado para o Rio de Janeiro para ser tratado. A família toda foi junto: eu, minha mãe e irmã. No hospital eu vi que os médicos cuidavam dele. O que mais me chamou a atenção foi o cuidado do fisioterapeuta. Depois disso, eu tinha certeza que essa seria minha profissão”, relembra o ex-presidente. Na época, em meados dos anos 70, não existiam muitas alternativas de faculda-
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des para essa profissão. Dentre as cidades próximas, Fernando poderia optar por São Paulo, Campinas e Piracicaba. “Não queria ir para a capital paulista, e a cidade de Campinas nunca foi das minhas preferidas. Mesmo tendo feito vestibular para essa última, como passei em Piracicaba, nem tive dúvidas”, conta Prati. O fisioterapeuta nos conta que apesar da formação ainda ser muito atrelada à Medicina na época, isso não foi um problema para ele: “sempre fui muito ligado às questões políticas estudantis, por isso sempre estava em busca de novos acontecimentos na profissão”. Depois de formado, retornou a sua cidade natal, Poços de Caldas, e lá ficou por três anos trabalhando. E não foi pouco trabalho. Ele dava aula de genética em um cursinho da cidade, clinicava em seu consultório, trabalhava no hospital e ainda ia para o munícipio de Cabo Verde atender alguns pacientes. Nesse meio tempo casou e teve um filho. Com tudo isso e ainda aliado ao empenho que teve durante a faculdade, em 1983 ele recebeu uma ligação de um professor do Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista (ipa): “lembro até hoje quando desliguei o telefone e falei para minha esposa que tinha recebido o convite para ser professor em Porto Alegre. Não conhecíamos ninguém aqui. Conversamos e decidimos vir. Em 15 dias desembarcávamos na capital gaúcha com meu filho de dez meses a tira colo. Isso foi no dia cinco de agosto de 1983”. Fernando confessa que o que fez vir para cá foi o projeto de vida, aliado à oportunidade de construir uma referência nacional no quesito educacional da profissão. Com tanta gana, no mesmo ano, ele foi convidado para ser o coordenador do curso de Fisioterapia do ipa.
“Enquanto não nos identificarmos com nossa essência, assumirmos a postura de fisioterapeutas, não conseguiremos seguir mais fortes. E quando falo isso é dizer que sou fisioterapeuta e não instrutor de pilates ou rpg, por exemplo”, desabafa Fernando Prati. Engajado politicamente, Fernando conta que foi um dos responsáveis pela criação do Crefito 5: “na época, existia pouca fiscalização por aqui. Junto com alguns colegas, fizemos uma lista de todos os fisioterapeutas que exerciam a profissão de forma irregular e levamos ao coffito. A já falecida Dra. Sônia Gusmann foi quem assinou a resolução em 1985”. Cinco anos depois de sua criação, em 1990, Fernando Prati assume a presidência do Crefito 5. E assim fica até 2002, voltando depois para a gestão de 2014 até 2018. Entre tantos feitos, alguns dos mais lembrados por ele durante nossa entrevista foram a defesa da acupuntura como recurso do fisioterapeuta; a entrega no registro profissional no ato da formatura; as 30 horas máximas semanais; a facilidade no fluxo de troca de experiências entre as seccionais; 1% da verba do Crefito 5 era destinada a projetos das Associações.
identidade. E isso não significa um saudosismo, pelo contrário. Quando estamos mal, a quem recorremos para tentar melhorar? À nossa família, às nossas raízes. E é aí que devemos nos lembrar de quem somos. Acho que ainda temos sim, muito para nos aprimorar”.
Fernando Prati foi presidente do Crefito 5 em quatro gestões.
Há nove anos aposentado, hoje, Fernando ainda leciona e toca saxofone em eventos e com uma banda. “Aprendi a tocar há nove anos, quando decidi que me aposentaria e queria um hobby. Mas já tenho evento fechado para tocar em 2020!”, comenta com um sorriso no rosto. “A Fisioterapia me deu muito mais do que eu para ela. Criei meus três filhos, tenho um patrimônio, me realizei como ser humano nessa profissão”, comenta satisfeito.
rumos da fisioterapia Citando o profissional da área, Ruy Gallart de Menezes, “o fisioterapeuta deve ousar para mudar os rumos de sua história”, Prati comenta que no âmbito científico a Fisioterapia vai muito bem: “Nivaldo Parizotto, fisioterapeuta formado pela puc de Campinas, é um dos cientistas brasileiros mais citados e com impacto no país. O que devemos ainda aperfeiçoar é na revisão de nossos conceitos, na questão de nossa
Fernando Prati em discurso durante cerimônia de posse de sua segunda gestão, em 1994.
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MARIA TERESA DRESCH DA SILVEIRA E SILVA
2002 até 2010
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aria Teresa Dresch da Silveira e Silva é graduada em Fisioterapia pelo Centro Universitário Metodista de Porto Alegre (ipa - 1985), especialista em Medicina Desportiva, Saúde Escolar e Metodologia do Ensino Superior, pela pucrs, e concluiu a faculdade de Direito em 2005. Filha de enfermeira e advogado. Com mais seis irmãos, Maria Teresa e sua irmã mais velha foram as únicas a escolherem a área de saúde na época de adolescência. “Minha mãe se formou em Enfermagem pela ufrgs em 1958 e trabalhou por muito tempo na parte de reabilitação de pacientes na Santa Casa. Acho que esse fato ficou incutido na minha vida. A gente vivia isso em casa com ela. Minha irmã se formou em Enfermagem mesmo e eu me vislumbrei com a Fisioterapia”.
A verdadeira tradução de que o legado da família se passa de mãe para filha, e também, de pai para filha. Na busca por fazer mais, Maria Teresa cria uma chapa para ser presidente do Crefito 5, e em 2002 assume o almejado cargo. “Acreditava, e acredito, que o Conselho deve estar envolvido em todos os setores da vida desde o cidadão até o profissional. Na minha primeira gestão consegui deixar o Rio Grande do Sul 100% fiscalizado quanto aos nossos profissionais, criando assim um comprometimento muito grande na sociedade”, relembra. Além disso, lembra que
Sempre envolvida em questões do diretório acadêmico, nas trocas de experiências com outros colegas, principalmente em Porto Alegre e Santa Maria, Maria Teresa empenhava-se em avançar o quanto fosse possível na profissão de Fisioterapia. Talvez pela veia jurídica que tinha em casa, seu pai foi Presidente do Supremo Tribunal Federal, a fisioterapeuta emergia na parte política também da profissão, e em 1990 ela entrou como diretora tesoureira da gestão do Crefito 5. “Nesse período, lembro que lutava pelo livre trânsito profissional no Mercosul. Em dezembro de 1997, eu estava grávida, com um barrigão, mas estava fazendo reuniões com os profissionais do Paraguai, Uruguai e Argentina, aqui em Porto Alegre. Acho primordial a defesa da inserção do profissional na saúde pública”.
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A fisioterapeuta recém formada Maria Teresa Dresch da Silveira e Silva
Maria Teresa Dresch da Silveira e Silva foi presidente do Crefito 5 em duas gestões.
Cerimônia de inauguração da galeria dos ex-presidentes do Crefito 5
o Estado foi pioneiro no quesito concurso público para a categoria, em 2005. Ainda na primeira gestão, a então presidente influenciou na questão pedagógica, incitando os debates e as comissões estudantis para criarem novos líderes; criou o projeto Mochila nas escolas, com o intuito preventivo, além de iniciar na luta do projeto de lei do Ato Médico, em 2002.
nal, do amor a profissão em todos os aspectos, para que nada de ruim aconteça a elas. E vejo a nova gestão do Crefito 5 muito alinhada a isso. Sinergia foi uma palavra muito bem escolhida por eles para identificar a nova era. Ela é muito intensa. Uma sinergia é um ato capaz de movimentar para evolucionar, englobando todos os setores, profissionais, a parte legislativa, o exercício, o ensino, enfim, com foco, essa palavra significa o avanço para o bem da sociedade através dos nossos profissionais”.
Na segunda gestão priorizou o Conselho mais próximo aos profissionais, não só para fiscalizar, mas para ajudar. Em seu segundo mandato há o desfecho da lei do Ato Médico, em 2013, sancionada pela ex-presidente Dilma Rousseff, de número 12.842: “foram anos de luta! Lembro com muito carinho de todos os atos para passarmos por mais uma evolução em nossas profissões”. Hoje, Maria Teresa faz parte do Conselho como procuradora jurídica, e vê o futuro das profissões com muita apreensão, “a possibilidade de implementar o ead (ensino a distância) para a área de saúde me deixa preocupada. Qual é a qualidade que será dada por esse profissional a distância? Contudo, há de se ter uma grande evolução se cuidarmos da nossa postura profissio-
Liderando a luta contra o pl do Ato Médico durante passeata no centro de Porto Alegre.
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ALEXANDRE DOVAL DA COSTA
2010 até 2014
Do intensivista ao empresário: a multidisciplinaridade em um presidente do Crefito 5
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ormado em Fisioterapia em 1984 no Centro Universitário Metodista de Porto Alegre (ipa), Alexandre Doval da Costa fez especialização em Administração Hospitalar em 1985 e mestrado em Ciências da Saúde com ênfase em Ciências Cardiovasculares pela ufrgs no ano de 2004. Atualmente é sócio-diretor da FisioCare e da Faculdade Inspirar Porto Alegre. Alexandre Doval por pouco não é aluno da primeira turma de Fisioterapia do ipa. “Tentei Medicina e Fisioterapia em 1980, mas rodei nas duas. Passei no ano seguinte em Enfermagem e Fisioterapia, no intuito de poupar dois anos para entrar depois em Medicina. Mas, acabei ficando com Fisioterapia”. Unidade de Terapia Intensiva. Essa era a área que Alexandre Doval mais se identificava quando iniciou a carreira. E não é por menos, a identidade da uti é a abrangência de todos os tipos de casos, “quando comecei a trabalhar no Hospital Porto Alegre eu era o único fisioterapeuta para 100 leitos! Fiquei lá de 1985 até 2012”. A situação não mudou muito nos outros hospitais em que o ex-presidente trabalhou. “De 89 a 93 fui para Santa Casa. Eram dois fisioterapeutas para
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Participação no 7º Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória em 1994.
cada hospital. Já no Nossa Senhora da Conceição, que fiquei de 93 a 99, eram também 100 leitos para 7 fisioterapeutas, uma média de 6 pacientes por hora. Era um trabalho de faz-tudo”. Segundo dados do coffito, em 1995 existiam 16.068 fisioterapeutas registrados para uma população de 162 milhões de brasileiros. Em 1999, para ser mais exato, no dia 31 de dezembro deste ano, Alexandre Doval da Costa aceita um novo desafio, na ala hos-
Formandos da turma de Fisioterapia do ipa de 1984.
pitalar. “Fui chamado pelo hospital Moinhos de Vento para organizar a questão de fisiastras e auxiliares, ou seja, institucionalizar o serviço de fisioterapeuta. Fiz um benchmarking com outros hospitais do país que deram certo. E em junho de 2002 a missão foi cumprida”. Em 2003 Alexandre terminou o Mestrado. “Era de Cardiologia, mas como não sou médico, no meu certificado saiu como Ciências Cardiovasculares, na verdade, com ênfase, isso me chateou muito”. Antes de iniciar a carreira no Crefito 5, Doval foi conselheiro do coffito. “Posso dizer que fiz muito mais quando estava no coffito do que quando fui presidente do Crefito 5, mas não me arrependo de nada. Fiz tudo o que quis fazer”. De 2006 a 2010, quando no órgão federal, Alexandre atuou, entre outros, nas questões dos honorários dos profissionais, estreitamento de relações com a Agência Nacional de Saúde Suplementar, inserção da Terapia Ocupacional nos procedimentos de cobertura dos planos de saúde. Já no órgão político regional, Alexandre lembra bem do Ato Médico. “Fui para Brasília convencer as pessoas sobre a importância do movimento, fiz vigílias e passeatas em Porto Alegre. O Dr. Jadir estava junto conosco. Foi um parceirão!”. O desfecho do Ato Médico foi em 2013, “a movimentação teve um impacto muito grande não só para nós, mas na população em geral também, houve uma maior autonomia para os profissionais”. Hoje, Alexandre é sócio-diretor de uma empresa especializada em equipamentos homecare, a FisioCare. “Esse trabalho é muito especial. Nós ensinamos a família a usar o equipamento. Treinamos o fisioterapeuta”. Além dessa empresa, Doval também é sócio da Faculdade Inspirar. “Costumo brincar que não me deixaram dar aula, então comprei uma faculdade. Mas o mais legal desse emprego é que percebo o quanto aumentou o arsenal terapêutico desde a minha época de aluno.
Fala para coordenadores dos cursos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Rio Grande do Sul.
Temos uma área de atuação muito maior, mas infelizmente muitas não estão ainda amparadas. E é onde deveria entrar o Conselho, as Associações, para validar para os profissionais e dizer vamos fazer!”. Para Alexandre, a palavra sinergia escolhida pela nova gestão do Crefito 5 significa isso, trabalhar juntos, em harmonia, pensando todos para o mesmo lado. “Sinergia é em prol de algo comum, na verdade me lembro de abraçar”, finaliza sorrindo.
Em Brasília, participando das articulações em busca do arquivamento do Projeto do Ato Médico.
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JADIR CAMARGO LEMOS
2018 até 2022
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ascido em 25 de setembro de 1955, recém-feitos 64 anos, o atual presidente do Crefito 5 possui graduação em Fisioterapia pelo Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista (ipa – 1984), mestrado em Psicologia – Avaliação da carga psíquica nos quadros de Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho, dort em trabalhadores de enfermagem – pela Universidade Federal de Santa Catarina (2001) e doutorado em Engenharia de Produção – Carga psíquica no trabalho e processos de saúde em professores universitários – também pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005). Filho caçula de militar, Jadir nasceu em Porto Alegre mas sempre viajou muito quando pequeno devido à carreira do pai. Quando morava em Farroupilha, sua irmã trabalhava na apae (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais) e sempre que podia, estava com ela. “Lembro que me interessava muito pelo comportamento das crianças da apae, porque inclusive entre eles existia diferença. Isso me encantava. E minha irmã também dirigia a kombi de lá, então quando conseguia, estava com eles”.
sua foi a segunda turma formada de fisioterapeutas pelo Instituto. “Foram 55 alunos formados em 1984. Existia muito espaço para se trabalhar na área, inclusive o ipa foi a segunda instituição a ter Fisioterapia no Rio Grande do Sul, era tudo muito novo e desconhecido. Um grande desafio”. Com lembrança da apae de Farroupilha, Dr. Lemos focou em neuropediatria e foi ser auxiliar de Fisioterapia no Centro de Reabilitação de Porto Alegre, Cerepal, ainda na faculdade. “Percebemos, quando saímos a campo, a complexidade da profissão. Era muito diferente da teoria”. Assim que se formou, por indicação do próprio ipa, Jadir foi trabalhar na clínica da Polícia Civil, onde ficou até 1985.
“Viver o sofrimento do outro, ser efetivo na reabilitação, era muito dolorido e cansativo. Porque essa vivência não é só com o paciente, é com a família dele também a nossa responsabilidade”.
O sonho de sua mãe era ver o filho mais novo como médico, mas não foi o que aconteceu. Em 1974 quando já tinham retornado à capital gaúcha, Lemos primeiro cursou técnico em contabilidade. “Mas não era o que eu queria. Depois de um tempo fui pesquisar sobre o curso de Fisioterapia no ipa e fiz o vestibular. Passei”. Dr. Jadir comenta que a
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Com isso em mente, em 1986 a decisão foi optar pela carreira de professor. “Em 1986 ingressei na feevale, em Novo Hamburgo, onde fiquei por cinco anos, e em 1990 entrei para o corpo docente da Universidade de Santa Maria, onde me aposentei em 2017”. Nesse meio tempo, o atual presidente ainda trabalhou no antigo inps, atual sus, de 1987 até 1989, em Viamão.
A entrada de Jadir como professor teve um caso inusitado em 1990. “Passei no concurso em 2º lugar para a ufsm, mas a professora que ficou em primeiro estava grávida e me ligaram perguntando se poderia assumir. Isso foi quando assumiu o governo Collor, lembro que foi em janeiro de 1990. Às 12h me ligaram, às 20h o Collor disse que não haveria contratação em nenhuma Universidade, e na mesma hora me ligaram para me descontratar”. Contudo, em maio do mesmo ano, o chamaram para ser professor substituto na Universidade de Santa Maria. “Era tipo professor bombril, mil e uma utilidades (risos), mas era bom, porque me obrigava a me renovar constantemente em todas as áreas”, o professor ainda relembra que era o único de fora da ufsm a ser contratado lá “minha estatura já não ajudava muito, então, eu era muito observado, todos queriam saber quem era o ser que veio de fora”. Com investimento na carreira acadêmica, Dr. Jadir sempre viveu ela completamente, inclusive na parte política. “Participei do Movimento Sindical da ufsm de 1993 até 2000, primeiro como conselheiro, depois
Jadir na posse da gestão em 1990, quando assumiu o cargo de diretor secretário.
como tesoureiro e por último como presidente. Meu pai, militar, costumava dizer que eu era muito metido”. Inclusive, por ser muito metido, segundo ele diz, é que entrou no Crefito 5, em 1990, como diretor secretário. Nas gestões de 1994 até 2002, Jadir ainda continuou, mas como Conselheiro Suplente. Já em 2006 até 2010 ele entra na chapa eleita como vice-presidente.
Discurso de posse da presidência do Crefito 5 - Gestão 2018-2022
Hoje como presidente do Conselho Regional, Jadir idealiza o reconhecimento do Crefito 5 pela sociedade como um parceiro: “queremos difundir que fiscalizamos os profissionais pelo bem de todos, de nós mesmos e da sociedade e mais, queremos conduzir a saúde em sua integralidade para o alcance de todos, como qualidade de vida e lê-se aqui a qualidade de vida como o acesso para todo ser humano a cuidar de si, como ser humano em sua totalidade”.
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COMO É, COMO FOI E COMO SERÁ O antes, o agora e o depois das profissões de Fisioterapia e Terapia Ocupacional “Felicidade é a certeza de que nossa vida não está se passando inutilmente”, Érico Veríssimo, gaúcho de Cruz Alta. Escrever sobre o antes, o agora e o futuro das profissões de Fisioterapia e Terapia Ocupacional requer uma volta ao passado, mas não só no quesito de como foi estruturada a experiência profissional, mas sim a sua base: os estudos, a formação acadêmica. Além, claro, de uma observação à luz de novos olhares que estão despontando em ambos os ramos para tentarmos entender para onde estamos indo.
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COMO É, COMO FOI E COMO SERÁ
como foi - “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia” Como já mencionamos anteriormente na matéria sobre a História dos 50 anos das profissões, ambas nasceram em um período em que o país vivia uma ditadura governamental. Segundo a fisioterapeuta Ana Fátima Badaró, nessa época também, os recursos físicos naturais, como o sol, fonte de luz e calor, eletricidade do peixe elétrico e a água, por meio dos banhos de imersão, já eram indicados para o cuidado humano, assim como as técnicas de massagens e os exercícios individuais1, como expôs em sua tese de doutorado. “Em uma das minhas primeiras entrevistas de emprego inclusive, havia um anúncio de jornal dizendo que era para fazer massagem. Fui, exatamente porque era, e é, um de nossos recursos como fisioterapeutas. Mas chegando lá, era um outro tipo de massagem que queriam. Saí de imediato”, relembra, Badaró que se formou na puc de Campinas, em 1979. Ana Lúcia Soares, formada em Terapia Ocupacional em 1983 pela Universidade Metodista de Piracicaba, lembra que nesse período, em São Paulo, já existia muita informação sobre os cursos na área de saúde, principalmente porque a Associação de Assistência à Criança Deficiente (aacd) já era uma potência na época. “Eu já tinha esse conhecimento e a Universidade em São Paulo tinha vários pensadores nesse ramo da Terapia Ocupacional, me sentia realizada, não tinha dúvidas da carreira a seguir. E vim para Porto Alegre em 1985, ser professora do ipa, onde me aposentei em 2018. Trilhar o caminho aqui no Rio Grande do Sul me dá muito orgulho, pois ainda era uma área pouco conhecida”.
A fisioterapeuta Themis Goretti Carvalho foi a primeira profissional no município de Tupanciretã, no Rio Grande do Sul, e foi uma das responsáveis pela criação do curso na Universidade de Cruz Alta (unicruz). Formada em 1983 pela Universidade Federal de Santa Maria, a professora, hoje aposentada, conta que o fundamental é o conhecimento e a aproximação. “Lembro que quando ingressei na carreira acadêmica, na primeira oportunidade que tive, levei os alunos para conhecer a sede do Crefito 5, em Porto Alegre. Porque o importante é o saber, o poder transitar na profissão. E o conhecimento está num todo, porque o ser humano deve ser tratado na sua totalidade. E sozinhos não conseguimos nada”. Glademir Schwingel, fisioterapeuta graduado em 1993 pela Universidade Federal de Santa Maria, e hoje, vice-presidente do Crefito 5, conta que quando ingressou na
Universidade, em 1988, eram quatro dias de vestibular. “Lembro que dormia no ceu (Casa do Estudante Universitário) e ficava ouvindo o rádio que alguns colegas tinham no andar debaixo do edifício para saber se meu nome estava na lista dos aprovados. Outra coisa que me lembro na época, que não tem a ver com o curso, mas só para entendermos o contexto da sociedade como mudou, é que a carona era muito comum. E graças a ela conseguia visitar minha família em Teutônia. Fazíamos cartazes em cartolina e ficávamos na estrada pedindo carona”, rememora. Com esses relatos, podemos notar que mesmo antes, quando as profissões eram pouco conhecidas, o caminho a se trilhar era certo: não desistir, porque ele só existe quando se passa por ele. Por isso a importância dos primeiros alunos, educadores, terem oportunizado essas profissões.
1 Retirado de http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/1378/1/2008_AnaFatimaVieroBadaro.pdf
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ALVENI MARIA V. DE OLIVEIRA
Terapeuta Ocupacional
Nascida em Tupanciretã, em 11 de julho de 1938, Alveni Maria Veríssimo de Oliveira é a terapeuta ocupacional viva com o registro mais antigo no Rio Grande do Sul: número 16. Alveni se formou em 1964, no ex-iapc (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários), em São Paulo. “Nunca tinha ouvido falar em Terapia Ocupacional até o dia em que foi publicado num jornal aqui de Porto Alegre um aviso que o ex-iapc, oferecia bolsa de estudos para quem fosse selecionado em seu Estado, para cursar em São Paulo Fisioterapia ou Terapia Ocupacional e mais Locomoção de Cegos e Prótese e Órtese. Eu e meu esposo fizemos os testes
A terapeuta ocupacional mais antiga do Rio Grande do Sul foi homenageada em 2017, durante o 15º Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional em Porto Alegre.
e fomos aprovados aqui em Porto Alegre. Embarcamos para São Paulo e fizemos as provas. Fomos aprovados”, relembra. Alveni foi casada com o ex-presidente interino do Crefito 5, Vladimiro Ribeiro de Oliveira. Ambos foram recém-casados para São Paulo estudar. “Vimos nessas duas profissões novos horizontes em termos de conhecimento e também atividades para a recuperação física e mental de pacientes. Eu escolhi Terapia Ocupacional porque era uma atividade com vários recursos para atingir um objetivo maior”. De acordo com Alveni, os cursos eram de dois anos, sendo no primeiro ano de disciplinas básicas e no segundo atividades específicas e estágios em vários setores, entre eles Instituto de Reabilitação, Instituto para Cegos, Instituto de Paralisia Cerebral e o setor de Psiquiatria. “Lembro que na época tínhamos aula com Elisabeth, uma professora americana. E também tínhamos aula nos turnos da manhã e tarde”. A realidade depois de ter passado por um período de teoria foi impactante para Alveni. “O confronto era tamanho, tanto das realidades entre os próprios pacientes e os diversos diagnósticos, que nos levava a organizar um planejamento de atividades nas quais fossem incluídas as necessidades que cada paciente precisava para ser recuperado nas Atividades de Vida Diária (avd) e também expressar e reconduzir as suas emoções”. Alveni diz que faria tudo de novo, “foi um curso que me abriu novos horizontes em razão de entender o ser humano com as suas limitações físicas e psicológicas”.
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COMO É, COMO FOI E COMO SERÁ
CEZAR VALENZUELA
Fisioterapeuta
“O que importa na vida não é o ponto de partida, mas a caminhada”, Cora Coralina. Cezar foi aluno de Fisioterapia da primeira turma no Centro Universitário Metodista de Porto Alegre (ipa), formada em 1983. Hoje, com 57 anos, é especialista em Medicina Desportiva, Ortopedia e Traumatologia, e nos conta como foram os primeiros anos dessa profissão aqui em Porto Alegre.
Formandos da primeira turma de Fisioterapia do ipa.
tal na época, e como era o primeiro curso, ainda não tinha sido reconhecido quando nos formamos, pois a parte de laboratórios ainda era precária na época, o que acarretou na perda de um ano na espera. Perdi a oportunidade de um concurso, mas a Secretaria da Saúde autorizou o exercício depois e consegui lecionar em 1984 em uma faculdade em Novo Hamburgo”. César Valenzuela, jovem fisioterapeuta graduado em 1983.
“Lembro que não sabia exatamente o que era a Fisioterapia. Quando fui fazer vestibular, tinha optado para Medicina, mas um colega me contou sobre a Fisioterapia e que eu poderia eliminar grades para depois entrar no curso de Medicina. Mas, acabei me encantando com a profissão”, relata. Valenzuela conta que os professores, em maioria, eram médicos, os livros, quase todos, eram de autores alemães, traduzidos para o espanhol, com defasagem de 10 anos: “deveriam ter uns três ou quatro profissionais de Fisioterapia aqui na capi-
A Fisioterapia para o Cezar é tudo. “Sempre fui uma pessoa tímida e a profissão me fez interagir; conheci minha esposa por meio de colegas, conheci cidades, fiz amigos, enfim, como dizem lá em casa, a Fisioterapia é um outro membro da família”, conta entre risos. Mas a caminhada ainda continua. Valenzuela admite que ainda é necessário melhorar. Segundo ele, a base da educação no Brasil deve ser colocada em evidência para discussão. “A Universidade também deve ser vista como uma simbiose junto com as gestões. E devemos estudar muito, sempre. Nunca devemos parar”, finaliza.
Após 36 anos de formado, Valenzuela continua atendendo no consultório.
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CLORI ARAÚJO PINHEIRO
Terapeuta Ocupacional
Nascida em Arroio dos Ratos, município do Rio Grande do Sul, em 1º de dezembro de 1961, Clori se formou em Terapia Ocupacional em 1992, pelo ipa (Centro Universitário Metodista). “Em 1983 vim para Porto Alegre trabalhar no Grupo Hospitalar Conceição como auxiliar de enfermagem. A mudança de profissão, não de área, foi pelo conhecimento mesmo. Mas antes pensei em ser fisioterapeuta, pois conhecia alguns profissionais, mas ao conhecer o trabalho de uma terapeuta ocupacional tomei a decisão e fui em frente. Entendi ser mais amplo e completo para minhas expectativas”. Em 1992 Clori se formou em Terapia Ocupacional pelo ipa, logo em seguida 1994 começou a atuar com essa área no Serviço de Saúde Comunitária. Ficou lá até 2003 quando assumiu a gerência de rh do grupo hospitalar e continuou até 2007. Depois disso, foi para a saúde do trabalhador sendo assistente de coordenação da área da medicina do trabalho, e onde atua até hoje. “Também fui presidente da actorgs (Associação Cul-
Clori é atuante nas entidades representativas da profissão.
tural dos Terapeutas Ocupacionais do Rio Grande do Sul) de 2011 a 2013, depois fui presidente da abrato (Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais) de 2013 a 2015. Hoje faço parte da Associação de Terapia Ocupacional em Contextos Hospitalares e Cuidados Paliativos”. Clori possui pós-graduação em Saúde Comunitária (Ulbra), em Metodologia do trabalho Comunitário (ipa) e em Administração Hospitalar e negócios em Saúde (Associação dos Hospitais do rs). “Vejo a profissão com um polo de expansão, porém sem fugir do seu objeto de trabalho que é a ocupação humana, além disso, o papel das entidades da profissão é fundamental para a qualificação da assistência prestada, bem como para a valorização profissional. Principalmente quando unem esforços para o bem maior dos usuários e dos profissionais ali representados”.
A terapeuta ocupacional recém formada em 1992.
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EDSON MISSAU
Fisioterapeuta
“Quem estará nas trincheiras ao seu lado? E isso importa? Mais do que a própria guerra”, Ernest Hemingway Edson Missau é natural de Santa Maria, nasceu no dia 18 de maio de 1955. Fez graduação no curso de Fisioterapia, na Universidade Federal de Santa Maria (ufsm). “Lembro de ver panfletos sobre o curso na cidade. E antes de fazer o vestibular, era necessário uma entrevista. Tentei e passei na turma de 1979. Era a única universidade que oferecia o curso no sul do país”.
Em 1987 fez especialização em Acupuntura pela Associação Médica Brasileira de Acupuntura. “Atualmente, como professor de reumatologia acabo falando sobre alguns conceitos de acupuntura em sala de aula, mas nada que dê tantos detalhes para que o aluno ache que já pode sair fazendo essa prática. Mas acho importante entenderem o que é”. “Hoje vejo que há muitos cursos de Fisioterapia sendo ofertados. Está saturado. Isso causa muito subemprego. Há profissionais ganhando menos que um salário mínimo! Acho que não deveriam existir os intermediários, que cobram do cliente um preço e repassam outro bem menor para o profissional. Além disso, os planos de saúde pagam pouco. E se algum fisioterapeuta recusa entrar para o plano, outro aceita. Deveríamos ajudar mais um ao outro. Inclusive na questão da prática do pilates. Eu indefiro todos de Educação Física que solicitam como aluno especial. Eles ganham espaço e tratam como comércio. O Crefito precisa ajudar nossa profissão nessas questões”, finaliza Edson Missau.
O jovem Edson Missau no dia da formatura em Fisioterapia
Missau conta que nos primeiros semestres já entravam em hospitais e observavam os pacientes. “Muita coisa era diferente naquela época. Além do tempo de curso, que antes eram três anos, evoluiu para quatro e agora são dez semestres e nos últimos é que se faz estágio na área. Além disso, se o aluno reprovava uma matéria, tinha que esperar um ano para poder fazê-la de novo. Tive um colega que rodou e quando voltou para a ufsm eu era professor dele”.
Primeira turma de formandos de Fisioterapia da ufsm.
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MARIA CRISTINA G. DE LIMA CANEPPELE Terapeuta Ocupacional
“Quem habita este planeta não é o Homem, mas os homens. A pluralidade é a lei da Terra”, Hannah Arendt Maria Cristina Garcia de Lima Caneppele se formou no Centro Universitário Metodista de Porto Alegre (ipa) em 1983. Foi uma das primeiras terapeutas ocupacionais a se graduar em Porto Alegre: “lembro que li no jornal sobre o curso e me chamou muito a atenção”, nos conta a profissional que nasceu em Porto Alegre em 28 de abril de 1962. A terapeuta ocupacional relembra que os primeiros semestres do curso eram vinculados à grade de Medicina e que a maioria dos profissionais vinha de fora de Porto Alegre: “a parte de laboratórios, como a disciplina de anatomia, era praticada na antiga Faculdade Católica de Medicina e nem sempre tínhamos a grade fechada com os professores que iram lecionar no semestre”. Caneppele nos conta que os primeiros estágios já eram muito bem or-
Maria Cristina Caneppele se formou em Terapia Ocupacional no ipa em 1983
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ganizados: “a turma se divida em quatro grupos e tínhamos acesso a muitas áreas de desenvolvimento com a sociedade desde idosos, crianças e a parte do inss, local que trabalho desde 2008, no campo de reabilitação profissional”. Para Maria Cristina, a profissão trouxe independência financeira e valorização como profissional, contudo, há ainda muito a se melhorar. “Nossa profissão é muito mais valorizada fora de Porto Alegre, percebe-se isso pelo número de cursos ofertados no Rio Grande do Sul. Aqui ainda temos pouco conhecimento dessa área. Quando morei em Cuiabá percebi mais de perto essa questão. Lá, em São Paulo e Curitiba, por exemplo, as pessoas procuram pela Terapia Ocupacional. Há clínicas multidisciplinares, áreas de estudos para mestrado. Ainda temos muito trabalho por aqui e ver o que conquistamos junto com os pacientes, autonomia e independência deles, nos dá mais vontade de irmos em frente no Rio Grande do Sul”, desabafa.
ROBERTO OLIVEIRA
Fisioterapeuta
“A maior glória em viver não está em jamais cair, mas em nos levantar cada vez que caímos”, Nelson Mandela. Resiliência. É disso que Nelson Mandela fala nessa frase. E para muitos de nós, é uma arte de vida. Roberto Oliveira nasceu em Pelotas no dia três de novembro de 1954, mas logo veio para Porto Alegre. Cresceu e ainda mora na capital gaúcha. Terminou a escola e o segundo grau. Vendia livros como ocupação e para ter seu dinheiro. Em 1978, com 24 anos, Roberto fez curso de massoterapia. “Gostei muito. Vi que a parte de reabilitação me fazia muito bem. A parte empírica da vida era o que eu gostava”, relembra. Na pesquisa por um curso superior, ele descobriu a Fisioterapia. “Existia o curso em Santa Maria, mas ficava muito longe para mim. Então tentei no Centro Universitário Metodista de Porto Alegre (ipa). Rodei no primeiro ano. Mas tentei de novo e consegui. O curso foi barra pesada”, recorda Roberto Oliveira, o primeiro aluno deficiente visual a se formar em Fisioterapia, em 1984.
Fisioterapia poderia ser sim praticada por um cego. O primeiro estágio do Roberto Oliveira foi no antigo hospital Ipiranga. “Era um local bem precário. Lembro que alguns profissionais me testavam, não minha capacidade profissional, mas minha capacidade espacial. A gente pegava os prontuários dos pacientes e eu apenas perguntava onde era o quarto 35? E a resposta geralmente era, se eu não sabia me achar nas dependências do hospital, como eu seria um fisioterapeuta?” Oliveira se aposentou em 2014 pelo Estado e hoje é presidente do Conselho Estadual dos Direitos da pessoa com Deficiência (coepede) e trabalha também na ong Rumo Norte, para inclusão de pessoas com deficiência. “Hoje em dia cada um acha que é mais discriminado do que o outro. Vamos trabalhar mais a homogenia, aceitando as diferenças. Não podemos ficar parados no tempo, e isso vale para todo mundo”, recomenda.
Depois de muitas batalhas durante o curso, Roberto se formou em 1984.
“Eu fazia as provas em 15 minutos, pois era tudo oral, mas, em Citologia eu reprovei. A professora queria que eu olhasse no microscópio e dissesse qual era o tecido! Depois o Conselho liberou essa prova para o meu caso”, conta hoje rindo, mas na época não foi bem assim. “Alguns professores diziam que eu tinha que trocar de curso, mas não era o que eu queria. Tive a ajuda de todos os colegas de turma. A Suzana Estrazas foi uma delas. Sempre lia em voz alta a matéria para mim. Tinha fitas gravadas por todos eles para poder estudar”, recorda Oliveira. Se a profissão na década de 80 já era nova para quem estava em Porto Alegre, imagina para as pessoas entenderem que a
A família teve grande importância durante toda a sua trajetória profissional.
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como é – “tudo o que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo. tudo muda o tempo todo no mundo”. Com o ensejo de qualificar cada vez mais as duas profissões, algumas mudanças foram traçadas. O aumento de carga horária na formação foi uma delas. Primeiro de dois anos, como a terapeuta ocupacional Alveni de Oliveira cita em seu relato, para os oito semestres mínimos exigidos hoje pelo Ministério da Educação. “É impressionante como evoluiu a Terapia Ocupacional ao decorrer dos anos: nas adaptações para o paciente desenvolver as atividades da vida diária, nas atividades a fim de coordenar os movimentos dos membros afetados, na parte de pacientes psiquiátricos com atividades mais específicas conforme o diagnóstico de cada um, nos aparelhos que facilitam a coordenação motora tanto fina como grossa. Vai num crescente à medida que há o interesse de pesquisa sobre o que será mais indicado, mais prático nas dificuldades apresentadas”, confirma Alveni sobre as mudanças. Hoje em dia, conforme vimos na matéria da História dos 50 anos de regulamentação, ambas já estão inseridas no Sistema Único de Saúde e de Assistência Social (sus e suas, respectivamente). Com o Ato Médico, finalizado em 2013, a importância da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional só se confirmou. O impedimento de restrição a atuação de outros profissionais da área da saúde, subordinando sua prática aos médicos, em funções como a realização de diagnóstico e a prescrição terapêutica, além da limitação em chefias de serviços, foi um marco importantíssimo que protocolou a independência das duas profissões. Segundo estudo feito pelo site Reabilitech, em 2015, os planos de saúde tiveram um avanço de 43% na busca por profissionais habilitados em Fisioterapia e Terapia Ocupacional, crescimento responsável também pelo aumento das oportunidades de trabalho no setor. É muito mais comum falarmos sobre o passado e o futuro de uma profissão, ou de uma vida. Quando focamos no agora percebemos o que estamos fazendo para gerar a energia que queremos para o futuro, sempre com o passado em serviço do presente. Por isso a importância de histórias: nossa identidade é construída a partir delas. E também dos anseios: nosso futuro depende deles. Mas eles só acontecem no hoje.
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como será – “a esperança, equilibrista, sabe que o show de todo artista tem que continuar”. Claro que ainda há muito o que se pensar e fazer pelas duas profissões. Mas essa edição especial quer deixar documentado o que os profissionais pensam sobre o futuro, e não o que são as novas pesquisas e estudos. Se focarmos nisso, é um vasto campo e faltará espaço. Durante todo o processo, as histórias e opiniões dos fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais foram essenciais. Algumas delas eram de comum acordo entre todos, outras nem tanto. Mas algumas preocupações como a união de ambas as profissões, a autonomia profissional e a atuação política desde o início da faculdade foram muito citadas. Além disso, o cuidado que se deve ter com as novas áreas de atuação para que sejam concisas, bem definidas e amplamente divulgadas para todos e o desenvolvimento de pesquisas para fortalecer a produção e relevância acadêmica, tornaram-se quase que um fato consumado para todos. E como se estivessem em uma mesma sintonia, a questão de ver o paciente como um todo não só mais com foco na doença e sim, também em sua essência e qualidade de vida, foi conclusiva para todos. Então, deixamos aqui mais um pouco dessas opiniões profissionais, obtidas durante todo o projeto da revista. Com certeza terá alguma com a qual você se identificará.
“Precisamos ver o futuro da profissão de Terapia Ocupacional com foco na importância de repensar os processos de trabalho com adoecimentos dos trabalhadores, formais e informais, e longevidade. A Terapia Ocupacional tem um campo e um trabalho muito importante para desenvolver”. Clori Pinheiro, Terapeuta Ocupacional
“Precisamos da união do estudo com a tecnologia, como a reabilitação com jogos virtuais. Precisamos entender que uma complementa a outra (Fisioterapia e Terapia Ocupacional). E que não podemos parar no tempo. Estudar o que está surgindo no mundo para não ficar na caixinha”. Maria Tereza Baraúna, Terapeuta Ocupacional
“Sozinhos não conseguimos fazer nada. A construção com o paciente vem em entender que a pessoa é o todo. Não podemos mais focar só na patologia. Precisamos modificar a visão do mundo, sermos mais flexíveis e compreender o mundo de forma mais abrangente”. Themis Goretti Carvalho, Fisioterapeuta
"Hoje, a Terapia Ocupacional está sufocada pela Fisioterapia dentro de um contexto político. Mas não adianta só reclamarmos. Falta liderança para a Terapia Ocupacional deslanchar de vez." Eliana Furtado, Terapeuta Ocupacional
“Temos que aceitar as diferenças. Não podemos ficar parados no tempo. Hoje cada um acha que é mais discriminado que o outro. Vamos ser resilientes e irmos juntos para o futuro”. Roberto Oliveira, Fisioterapeuta
“Não podemos ficar olhando a falta. Se fizermos isso, as coisas nunca acontecem. Precisamos ter autonomia para apropriar a nossa vida. O Brasil precisa se ajustar às novas práticas sociais. Devemos ter parâmetros mínimos de atenção à população brasileira”. Ana Lucia Soares, Terapeuta Ocupacional
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“Ainda estamos construindo a história dessas profissões, mas precisamos urgente melhorar a base da educação. Ousar mais dentro das universidades”. Cezar Valenzuela, Fisioterapeuta
“Os alunos precisam entender também a parte política das profissões. Precisamos entender o cenário nacional na questão de saúde e formação de carreiras e também entender o que está acontecendo com o retrocesso dos cursos de Terapia Ocupacional, principalmente na capital gaúcha”. Vera Elaine Marques Maciel, Terapeuta Ocupacional
“Temos um arsenal terapêutico muito maior do que o que está no mercado hoje. Mas não utilizamos porque não estamos amparados. Precisamos dos Conselhos e Associações para validá-los para os nossos profissionais”. Alexandre Doval, Fisioterapeuta
“Se estivermos atentos a sempre somar na vida das pessoas, veremos que a experiência sempre dará mais sentido à vida. Precisamos focar no habilitar e não só no reabilitar”. Vera Terezinha Ramos Leonardi, Terapeuta Ocupacional
Mais do que opiniões e histórias, o importante é que cada um saiba para onde está direcionando a energia profissional. A busca da qualificação constante, a atenção e cuidado com as pessoas, sem deixar de compreender o que está ocorrendo no cenário nacional e internacional. Querer melhores condições de trabalho para todos, acompanhar a evolução tecnológica e dividir o conhecimento são princípios que devem ser mantidos todos os dias nas profissões. Associar tudo isso a prática profissional fará com que a harmonia esteja presente no dia a dia. E é isso que a sinergia nos mostra: todos juntos somos mais fortes.
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COM A PALAVRA, OS PACIENTES O reconhecimento da sociedade pelos profissionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional Mais do que entender os rumos e o início das profissões. Mais do que saber a importância dos feitos de todos os presidentes do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, o que tentamos trazer agora é um epílogo, resumo final do que essas duas profissões representam para a sociedade. Para isso, selecionamos dois personagens que passaram por um processo marcante em suas vidas e dependeram totalmente de fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais: a primeira teve a síndrome de Guillain-Barré e a segunda um Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico.
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A HISTÓRIA DE ILDA CASTEDO
A Fisioterapia foi fundamental na recuperação de Ilda.
Encontrei Ilda Castedo no Relicário Saúde e Movimento. Um espaço multifuncional, onde nossa entrevistada faria dali uma hora sua aula de ginástica funcional. Quando a vi em pé ao lado do balcão da recepção esbocei um largo sorriso. E como se já não bastasse, além de verificar que ela estava em sua quase plenitude, a recepcionista nos avisou que a sala para que pudéssemos conversar tranquilamente seria no terceiro andar. Imaginei que subiríamos pelo elevador, mas Ilda disse que a escada seria uma ótima opção. Quase plenitude, plenitude total, isso sim! o antes Ilda Castedo nasceu em Canoas no ano de 1947. “Tive uma infância muito inclusiva. Alimentação saudável, em meio à natureza”. Passou sua adolescência em Uruguaiana. E fez curso de Farmácia Bioquímica na Universidade Federal de Santa Maria. No final de 1977 casou-se e veio morar em Porto Alegre. Fez pós-graduação em Toxicologia Aplicada e se aposentou em 1997. Sua saúde sempre esteve em primeiro lugar, prova disso são os dois filhos que teve, um com 35 anos e outro com 40. Em 1998 sua mãe teve um prognóstico devido a um tumor de abdômen. “Os médicos chamaram minha irmã e eu para falar que ela não teria mais do que dois meses. Fiquei indignada. Quem faz a previsão do tempo de vida de uma pessoa?” Depois do Réveillon, Ilda foi para Capão da Canoa com o casal de filhos e seu marido. Com o tumulto devido aos cuidados com sua mãe, chegaram à casa de veraneio sem conseguir organizar tudo e tiveram que fazer uma limpeza geral. Foram dois dias até que se sentissem devidamente instalados. “Quando pensávamos em aproveitar as fé-
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rias, tive formigamentos nas mãos, braços e pés. Achei que era do esforço da limpeza na casa. No dia seguinte vieram as dores nas costas. Achei que pudesse ser a escoliose. Não dormi à noite. No dia seguinte fui a um médico na cidade e ele me receitou medicamento para a circulação e um antinflamatório, além de um encaminhamento a um ortopedista. No especialista se confirmou o desvio da coluna vertebral. Novos medicamentos para dor, inclusive um injetável. Não me lembro de ter sentido tamanha dor na vida”. Ilda precisava esperar a chegada do pai e dos sobrinhos na praia para poder voltar para Porto Alegre. Isso aconteceu no dia seguinte da injeção analgésica. No mesmo dia retornaram ao médico de Capão e ele solicitou uma ressonância. Foram fazer em Porto Alegre, “fui com mais uma injeção antinflamatória no corpo. Chegando a capital, meu marido me acompanhou no hospital para o exame. Voltei para casa precisei de ajuda de minha filha para um banho. Não aguentava de dor. Fomos ao pronto atendimento. Manifestou-se a paralisia facial e o médico solicitou mais alguns exames. Isso já passava da meia-noite”. Depois dos exames, os médicos solicitaram a baixa hospitalar de Ilda. Isso ocorreu no dia 13 de janeiro de 1999. o durante Ilda permaneceu 75 dias internada no hospital, desses, foram 54 no Centro de Tratamento Intensivo (cti). Foram dois neurologistas que avaliaram como sendo a síndrome de Guillain-Barré. Foram dias exaustivos. Além da síndrome, Ilda ainda teve infecção respiratória durante esse período. Mas como nosso foco aqui é o papel do fisioterapeuta e Ilda está muito bem,
vamos a ele. Segundo Castedo, os procedimentos de fisioterapia respiratória e motora começaram já nos primeiros dias de internação. “Os exercícios para o fortalecimento do diafragma eram torturantes. A sensação durante os exercícios era de não conseguir colocar ar para os pulmões e de sucumbir tamanho esforço”. Além da orientação nos exercícios respiratórios, os fisioterapeutas auxiliaram o marido de Ilda a fazerem uma planilha com o alfabeto. “Sob a orientação do fisioterapeuta, digitou e imprimiu todas as letras do alfabeto, maiúsculas, e colocou numa prancheta de madeira. Conseguir me fazer entender, mesmo sob condições tão adversas, me deixava muito orgulhosa. O esforço e a vontade levavam ao prazer de ser entendida”. Quanto à recuperação motora, ainda restava a incerteza de que ela poderia ficar com sequelas. “Convivia com a sensação de ter blocos de gelo no lugar das pernas. Por isso, quando o fisioterapeuta chegava, eu me entregava às suas mãos com prazer, pois precisava sentir o toque humano. A Fisioterapia vai além desse toque, claro, é uma ciência da saúde, e sim, graças a ela, a recuperação motora foi praticamente total”. Uma das principais preocupações dos médicos era o chamado pé de bailarina. E de novo, sob a orientação da equipe de profissionais, o marido de Ilda construiu duas talas de madeira, que foram fixadas às pernas dela por ataduras elásticas para forçar a posição em ângulo reto dos pés, que estavam tendendo a ficar frouxos para baixo.
sionais responsáveis. Tomei medicação e saí da crise”. Ilda recorda que sempre teve a escrita como uma arte. “Ao verificar no hospital que não conseguia escrever, fiquei horrorizada. Os garranchos que tive nessa fase foram também os registros dos anseios e sucessos relevantes”. o agora Ilda Castedo relembra que ficou muito apreensiva para se reinserir no contexto social. “Uma coisa é você ficar no hospital onde todos esperam a reabilitação, outra coisa é você voltar para sua casa onde tudo está na rotina normal e a diferente é você”.
“Ia escrevendo: 'eu quero caminhar, eu quero escrever.' 17/05/99 – dei os primeiros passos. 20/05/99 – segurei o garfo e comi com a minha mão. 20/06/99 – dei duas voltas no terraço com o andador. 21/06/99 – dei mais voltas no terraço com andador. 12/07/99 – caminhada sem andador."
No retorno para casa, foi também o fisioterapeuta quem identificou sinais de depressão em Ilda. “Ele identificou os sinais em mim, principalmente pela falta de alegria em acordar e comer, e avisou meu marido, que prontamente conversou com os profis-
“Durante oito meses, como em uma viagem, pude refletir sobre essa vida com o compromisso único de sobreviver. E ter ao lado uma equipe competente fez toda a diferença. Reconhecer nesses profissionais pessoas generosas, dedicando-se a um ofício que exige paciência, esforço e capacidade de assistir o sofrimento humano na sua forma mais explícita, a dor física, só me fez ter mais admiração pelos profissionais dessa área. Até hoje tenho uma relação muito boa com meu fisioterapeuta, Sandro Groisman”.
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A HISTÓRIA DE TATIANA DA SILVA ROSSI Fui ao apartamento de Tatiana da Silva Rossi numa terça-feira chuvosa em Porto Alegre. Subi pelo elevador para chegar ao 5º andar. Apertei a campainha e ouvi passos para chegar a porta. Pensei, é a Tatiana! Abriu a porta com um sorrisão. Como uma querida anfitriã, me ofereceu um café para conversarmos. o antes Tatiana da Silva Rossi nasceu em Montenegro, no ano de 1975. “Eu tive uma infância maravilhosa. Não via meus pais brigarem, se eu tive uma aborrecência foi por mim mesma”. Seu pai viajava muito devido à profissão de cervejeiro. Por esse motivo inclusive foi que vieram, ela, sua irmã mais velha, seu irmão mais novo e seus pais, para Porto Alegre. Por dez anos Rossi trabalhou em uma rede de hotéis, pela sua formação de hotelaria.
“Saí esquartejada de lá. É que aquele negócio: quando não quer, sai. Não fica tentando”, relembra até que sorrindo. Depois disso, sua irmã conseguiu uma vaga no hospital Mãe de Deus. “Na época não falava muito com minha irmã. Mas ela conseguiu uma vaga e eu trabalhava como uma das sete supervisoras das higienistas do hospital. Eram aproximadamente 200 funcionárias”. Tatiana comenta que durante a semana toda ela havia sentido dores de cabeça. “Tinha dor, mas achava que era do trabalho exaustivo e que logo passaria”. No sábado, quando terminou seu plantão, Rossi sai do hospital, atravessa a rua e desmaia com a cara no chão. “Saí do meu plantão, na boa, rindo, atravessei a rua e caí. Tentei levantar e desmaiei”. Isso aconteceu no dia 27 de maio de 2017. o durante “Eu não me lembro ao certo, mas acho que fiquei uns três meses no hospital”, comenta Tatiana. “69 dias, mãe”, vem uma voz doce lá de dentro do apartamento. Pergunto quem é, e conheço sua filha, Maria Clara, de dez anos. Uma menina encantadora. “Desse período eu não lembro quase nada. Eu não conseguia distinguir quem eram os médicos”.
Tatiana antes do avc
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Com o diagnóstico de um avc Hemorrágico, Tatiana iniciou seu tratamento com todas as terapias necessárias, entre elas, claro, a Terapia Ocupacional. “Fui muito bem tratada por todos os profissionais, mas o trabalho da terapeuta ocupacional foi inesquecível. Ela consegue nos fazer dar vida a todo o sofrimento. Parece que todo o esforço tem um motivo e a cada superação, uma vitória”.
Durante todo esse período, Tatiana lembra que todos do hospital iam visitá-la. “Eu me sentia muito amparada, tanto pela minha irmã que vinha de São Paulo toda semana me visitar e nesse momento, pela falta de proximidade com ela, percebi o quão importante ela seria, principalmente por eu ter uma filha na terceira série; quanto por todos os funcionários do hospital, que eu já conhecia, mas que pude sentir o que esses profissionais fazem pelos pacientes, principalmente a Dra. Cristina Arioli, minha terapeuta ocupacional”. “A Dra. Cristina sempre chegava em um momento ruim. Estava chorando ou a psicóloga tinha acabado de sair. Ela chegava e eu estava arrasada. Mas ela conseguia me levantar. Devo confessar que os exercícios dela eram um pouco chatos, mas, eram necessários”, ri. Depois de sair do hospital, Rossi ainda ficou mais três meses sendo tratada em casa pelos terapeutas. “Eu não entendia nada, mas a terapeuta ocupacional conseguiu fazer com que eu entendesse a necessidade de estar inserida novamente na minha própria vida”. Depois desse período, Tatiana deu um basta. Queria continuar com o tratamento fora de casa. Conversou com sua irmã que conseguiu com que a Dra. Cristina fizesse as sessões na aacd. “Consegui que meu tratamento fosse lá, mas particular. E hoje, depois de um ano, conseguimos pelo sus. Perfeito para mim”, celebra. o agora No início desse ano Tatiana voltou para a faculdade, que devido ao avc, havia parado. “Eu vou me formar em Recursos Humanos no final desse ano!”, comemora. “Minha rotina hoje é levantar às 6 horas, levar a Maria Clara para o ônibus da escola, volto e dou uma deitadinha (risos) e às 9 horas desço para fazer os exercícios. Com chuva tenho a escada. Faço Fisioterapia às segundas, quartas e sextas-feiras pelo sus. Pelo plano de saúde é difícil conseguir sessões de fisioterapia que não sejam traumato, é só na zona norte. Longe para mim. Não
é igual a uma aacd mas é o mais próximo. Terças e quintas-feiras faço o projeto Pescar . Muito legal mesmo. Porque eu tenho 100 horas complementares que tenho que fazer cursos, palestras. O projeto é de uma amiga que trabalhava comigo no Mãe de Deus. Finais de semana fico mais em casa. Mas faço minha filha sair ao ar livre, pra viver a vida de criança mesmo”. Tatiana ainda tem sequelas físicas do avc. A parte motora de um dos lados não conseguiu ser revertida. Mas sua fala, apesar dela mesma achar que gagueja, está excelente. “Nossa (bah!), não tenho nem palavras. A Cris, então, ficou algo sentimental, sabe. Eles são incríveis. Hoje eu entendo o trabalho que eles tem no hospital. A importância da profissão e do carinho. Porque quem trabalha no hospital não é só por dinheiro, é também por carinho, gratidão, um sentimento de ajudar os outros”, finaliza.
Registros da Tatiana após o avc.
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50 anos de fisioterapia e de terapia ocupacional no brasil: o que construímos e o que ainda podemos construir?
A
Fisioterapia e a Terapia Ocupacional completam meio século de existência neste ano. Cinco décadas de descobertas, aperfeiçoamento, encontros e até alguns desencontros. Profissões que nasceram na reabilitação, mas que, ao longo da jornada, compreenderam e descobriram vocação e capacidade para a promoção da saúde, prevenção de doenças e recuperação, e atuação em todos os níveis de atenção à saúde. Profissões que cresceram em quantitativo de profissionais, de áreas e em especialidades. 50 anos soam como muito tempo, ao passo que, também, parecem tão pouco para tudo o que foi conquistado até aqui. Ao pensar em como demos os nossos primeiros passos, fico feliz em contemplar que foram passos largos e assertivos. A Fisioterapia e a Terapia Ocupacional se posicionaram, ganharam respeito e reconhecimento da sociedade, encontraram nichos de atuação e, por meio da evolução técnica e científica das categorias, asseguram diariamente uma saúde de qualidade e resolutividade para a população brasileira. É reconfortante olhar para trás e perceber que o nosso percurso tem muitas vitórias. A conquista pelo espaço no mundo do trabalho sempre é voraz e faz com que muitas profissões disputem entre si. Não foi diferente com a Fisioterapia e com a Terapia Ocupacional. Diariamente lutamos por nossas classes, e é bom lembrar que a saúde interdisciplinar
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MENSAGEM PRESIDENTE NACIONAL
venceu ao demarcar seu espaço e sua relevância para a população brasileira quando a lei da Medicina foi sancionada. O Sistema coffito/Crefitos também obteve vitórias importantes em tribunais brasileiros em temas como a Acupuntura e a Quiropraxia.
nhecimentos próprios para recuperação de enfermidades. Além disso, esse tema também já se tornou realidade em políticas públicas que asseguraram a inserção das profissões em programas voltados às práticas integrativas e à promoção de saúde.
Crescer implica amadurecer. A Fisioterapia e a Terapia Ocupacional tiveram de passar por esse processo. Hoje a Fisioterapia possui 15 especialidades profissionais reconhecidas, em áreas diversas, mas que foram angariadas e construídas nas últimas décadas, seja pela evolução da própria profissão ou pela necessidade da sociedade. A Terapia Ocupacional soma sete especialidades, também legisladas com base no desenvolvimento da classe nesse período.
O nosso saldo tem sido positivo até aqui. Claro que temos um longo trajeto pela frente, que, com sorte, será marcado por conquistas para as profissões e principalmente para a saúde da população.
Um exemplo claro dessa evolução contínua é a especialidade de Gerontologia, criada em 2017 para ambas as profissões e reflexo da necessidade, afinal, atualmente, 13% da população é idosa e, até 2043, um quarto da sociedade será composta por pessoas com mais de 60 anos. Essa é nossa nova realidade e precisamos nos adequar, principalmente pela relação intrínseca que temos com essa área. Com mais informações, estudos e conhecimento, a nossa sociedade evolui e apresenta novas tendências, entre elas, a compreensão de que o uso desenfreado de medicamentos pode trazer mais malefícios que benefícios. Aqui, novamente, nos encontramos. A nossa atuação está pautada pela utilização de co-
Para encerrar, devemos nos lembrar de que somos o que fazemos. Nossa profissão é reflexo direto das nossas ações. Nós, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, no nosso dia a dia, construímos o futuro das profissões e escrevemos e reescrevemos muitas histórias. Precisamos assumir essa responsabilidade e, com senso crítico, saber se estamos ou não no caminho em que queremos estar daqui para a frente.
Roberto Mattar Cepeda Presidente do coffito
Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional 5º Região – Rio Grande do Sul www.crefito5.org.br Sede (Porto Alegre): Av. Palmeira, 27 cj. 403 Fone/Fax (51) 3334.6586
Seccional de Caxias do Sul/RS: Rua Moreira César, 2715/21 Telefone/Fax: (54) 3215-2872
Seccional de Santa Maria/RS: Alameda Montevidéo, 322/204 Telefone/Fax: (55) 3221-6730
Presidente:
Jadir Camargo Lemos – Fisioterapeuta
Vice Presidente
Glademir Schwingel – Fisioterapeuta
Diretora Secretária
Vera Elaine Marques Maciel – Terapeuta Ocupacional
Diretora Tesoureira
Vera Terezinha Ramos Leonardi – Terapeuta Ocupacional
Conselheiros Efetivos
Renata Cristina Rocha da Silva – Terapeuta Ocupacional Adriana Azevedo Ervalho – Fisioterapeuta Denise Cherutti Scopel – Fisioterapeuta José Cláudio dos Santos Araújo – Fisioterapeuta Marcelo Faria Silva – Fisioterapeuta
Conselheiros Suplentes
Auber Fernando Alves – Fisioterapeuta Candissa Silva da Silva – Fisioterapeuta Márcia Lazzari Viana – Terapeuta Ocupacional Eliane Soares Tavares – Fisioterapeuta Emilyn Borba da Silva – Terapeuta Ocupacional Francini Jacques de Souza – Terapeuta Ocupacional Francisco Solano Trindade de Lima – Fisioterapeuta Gerson Adriano Chequi Pinto – Fisioterapeuta June Gallina Corrêa – Fisioterapeuta
Revista 50 anos do Crefito 5 Assessoria de Comunicação
Gabriela Carpes – Jornalista Israel Silveira – Relações Públicas
Texto
Giana Liebel – Jornalista
Fotografia
Arquivo Crefito 5 Acervo Pessoal Depositphotos Pexels
Projeto Gráfico
Luzz Design
Impressão
Quatro Estações Indústria Gráfica ltda
Tiragem
2.300 exemplares
EXPEDIENTE
43