Diretrizes Apóstolicas - Nova Diagramação

Page 1

1


Diretrizes

APOSTÓLICAS Médium: Janaína Farias

Espíritos Diversos

Ilustrações: Adriano Alvess Diagramação: Júlio Corradi Foto de Capa: Thiago Franklim (Monte das Bem Aventuraças) 2ª Edição Belo Horizonte/MG 2015

2


3


Índice Prefácio Apóstolos de Jesus Bezerra de Menezes..................... 7 Prefácio Apóstolos da Nova Era Lúcio de Abreu.............................. 9 Prefácio Momentos Explicativos Blandina .................................... 11 Capítulo 1 - Apóstolo João Assumir-se na Tarefa Educativa .14 Capítulo 2 - Apóstolo Pedro Convicção Íntima........................ 22 Capítulo 3 - Apóstolo Tiago Maior Entusiasmo pela Tarefa............... 30 Capítulo 4 - Apóstolo Tiago Menor Espírito de Reconciliação............ 36 Capítulo 5 - Apóstolo André Espírito de Equipe....................... 44 Capítulo 6 - Apóstolo Mateus Renúncia..................................... 52

4


Capítulo 7 - Apóstolo Tadeu Interesse..................................... 60 Capítulo 8 - Apóstolo Simão Cananeu Zelo............................................. 68 Capítulo 9 - Apóstolo Bartolomeu Bom Ânimo................................. 76 Capítulo 10 - Apóstolo Tomé Espírito Questionador ................. 84 Capítulo 11 - Apóstolo Filipe Disposição para a autorrenovação............ 90 Capítulo 12 - Apóstolo Judas Autossuperação.......................... 98

Sobre os telhados - SUGESTÃO DE TÍTULO

Mateus 10: 1- 42...................... 107

5


6


Apóstolos de Jesus

“Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” – Jesus – João : 13:35.

Meus filhos, compete à Doutrina Espírita o resgate da essência do Cristianismo, em sua pureza inicial. Tempo houve em que os apóstolos de Nosso Senhor, a fim de alicerçar as bases imprescindíveis à construção do Reino de Deus nos corações vacilantes dos homens, sucumbiram ao peso da ignomínia humana. As eras rolaram, e jamais se pôde apagar das páginas da história os exemplos de perseverança, coragem e fé desses admiráveis trabalhadores da implantação do amor. Esses homens, na maioria destituídos de qualquer título honorífico perante o mundo, tornaram-se cântico vivo de trabalho pela humanidade. Hoje, somos, então, chamados a evocar suas vivências, com o intuito de rememorarmos as diretrizes Evangélicas que lhes nortearam a existência. Vasculhando-lhes a vida, extrairemos, se estivermos atentos, as melhores lições sobre como o Evangelho de Jesus renova as criaturas e as coloca no Reino de inalterável felicidade. Eis o intuito destas páginas, construídas com a simplicidade de nossos corações.

7


Não se trata da dispensável homenagem aos nobres apóstolos de Jesus, mas de um convite à observação do feito do Evangelho no coração de Boa Vontade. É um chamamento à conscientização de que não haverá jamais alegria maior que fazer parte da bendita Seara de Jesus. Bezerra de Menezes

8


Apóstolos da Nova Era Em sua Missão Divina, o Mestre esteve entre nós há dois milênios, conclamando-nos ao trabalho de renovação do planeta. Chamou a si homens simples e trabalhadores, para que seu Evangelho não sofresse embargos por óbices do raciocínio viciado nas ordenações mundanas. Seu colégio de cooperadores, com os 12 discípulos de suas lições sublimes, até hoje, e ainda por muitos séculos, nos encanta e enternece. Na vivência destes amigos da humanidade, colhemos, diariamente, o mel da prática dos ensinamentos de Jesus. É esta simplicidade e beleza comezinha que intentamos exaltar em nossas despretensiosas anotações acerca das características dos apóstolos, buscando o incentivo imprescindível aos nossos trabalhos nas lides da evangelização. Desejamos, tão somente, que nossos amigos engajados na tarefa bendita encontrem, nestes veneráveis propagadores do Bem, o exemplo que permita-lhes o consolo, a coragem e o ânimo forte, para perceberem quão maravilhosa oportunidade é estar caminhando com Jesus. Lúcio de Abreu

9


10


Momentos Explicativos Por nosso interesse muito grande pelos trabalhos nas lides da evangelização, e pelas afinidades espirituais com o trabalhador que idealizou este opúsculo, unimonos em esforço, com o interesse sempre carinhoso de auxiliar nossos amigos encarnados a permanecerem constantemente em caminhos seguros em suas tarefas. Devido aos trabalhos da transição do planeta, todo o ofício de evangelização infantil está sob os auspícios de verdadeiras legiões de espíritos nobilíssimos, verdadeiros anjos tutelares que se reportam diretamente a Jesus, responsáveis que são pela evolução do orbe e da raça humana. Dizemos isso para que o evangelizador se conscientize da grandeza da tarefa e não esmoreça. Pois bem, em nosso plano de ação, para nossa instrução e roteiro de conduta, temos um acervo literário completo sobre a vida de personagens conhecidas e anônimas que doaram seu suor, suas lágrimas e seu sangue para o avanço do Cristianismo no planeta. Dentre eles, os apóstolos de Jesus, que estão sendo oportunamente lembrados neste volume. Ao escolhermos, neste acervo, os fatos que usaríamos como referência às lições deste trabalho, demos preferência aos que dizem respeito a períodos marcantes da vida destes irmãos, atendo-nos, com muita atenção, e principalmente, aos períodos testemunhais destas personagens.

11


Os amigos podem estranhar e crer que isto constitua uma apologia ao sofrimento, o que na verdade não é! Tampouco trata-se, apenas, de recurso de sensibilização à emotividade. Guarda, de fato, finalidade útil. O que acontece é que ouvimos diariamente apelos comoventes de evangelizadores que nos buscam em orações e súplicas nominais, talvez por não conhecerem da nossa real desvalia, reclamando do desânimo que se apossa de seus corações perante os obstáculos impostos, muitas vezes, por seus próprios correligionários. Em suas telas mentais, por nós percebidas, desfilam com frequência motivos que consideram suficientemente justos para desertarem do trabalho para o qual Jesus, não se enganem, os escolheu a dedo. Então, a escolha destes episódios se deve a uma tentativa – mais uma – de inspirar-lhes a perseverança e a coragem. É uma analogia justa quanto aos obstáculos que enfrentamos e os que os apóstolos enfrentaram para o trabalho da evangelização do mundo. É para entendermos que, para a tarefa da evangelização infantil, que é um sublime mandato de redenção, necessitamos testemunhar a todo instante a nossa firmeza de ideal e a confiança no Mestre querido, pois fomos tocados por sua doce voz, nos conclamando ao apostolado. Não há como recuar! E porque ansiamos estar com Ele, em seu Reino de amor, vamos enfrentar, não mais as flechas, espadas, pedras e cruzes, não mais o sacrifício nos circos romanos ou nas praças públicas, ante a turba em algazarra. Hoje, são outras as armas e as turbas, bem na verdade, mas, como seus amigos – porque o evangelizador que cumpre conscientemente sua tarefa é amigo de Jesus –, vamos erguer nossa fronte ousadamente e arrostar a má vontade dos homens, as intrigas, os personalismos, 12


sem jamais contabilizar o mal, mas, antes, deixando-o a cargo da didática educativa de Deus, Pai de todos nós. Coragem, evangelizadores! O trabalho aguarda nossas mãos operosas! Que os outros se anteponham, em seus caprichos, ao progresso inevitável; somos obrigados a entender e passar adiante, mas não sejamos nós os que param no caminho, à maneira dos curiosos que observam os fatos momentosos, de braços atados ao peito, sem ação. Que outros escolham a negação sistemática da verdade, rejeitando as advertências do tempo; somos induzidos a respeitar, mas não sejamos nós os ociosos que se enfileiram na margem, muito entretidos com as desditas alheias e esquecidos da própria marcha. Que companheiros desertem, temerosos das obrigações próprias; é prudente que vejamos com piedade e resignação, mas não sejamos nós os que abandonamos o Mestre, à maneira de soldados covardes e ingratos, que adiam a própria graduação. Em verdade, assim já procedemos nos séculos, e soa a hora de modificar tais automatismos, que se escoram no vitimismo repetitivo e sistemático. Aos que param, endereçamos nossas preces e deixamos disponível o braço acolhedor, sem críticas ou reproches, quando resolverem continuar a caminhar, mas, também, sem cessarmos um instante sequer o trabalho que nos reclama abnegação e carinho. Que nos exemplos dessas almas engrandecidas pela própria perseverança no Bem encontremos o conforto que nos falte, compreendendo que Jesus jamais nos desampara e, amoroso, nos aguarda. Blandina.

13


Assumir-se na tarefa Quem sou eu para dar conta!... Clama o trabalhador – amedrontado. Alega-se incapaz ante o ideal, renegando o Divino chamado. Haverá mil artifícios para fugirmos do chamado de Jesus. Mas todos se tornam vazios se compreendermos a mão que nos conduz. Jesus é o dirigente que não erra. Necessitamos compreender e confiar Certamente, conhece as dificuldades e, mesmo assim, aprouve-lhe nos chamar. Cedamos então a honra da confiança, e atendamos ao convite sem vacilar. Sigamos com Ele, ciosos do dever de trabalhar, trabalhar, trabalhar. Lúcio de Abreu

14


Capítulo 1 Assumir-se na Tarefa Educativa

João “Chamastes-me Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou.” Jesus – João 13: 13. Nos inúmeros entraves que se apresentam à tarefa da Evangelização, encontramos a estagnação mental do evangelizador, no que diz respeito às responsabilidades do empreendimento. De certo modo, todos somos professores uns dos outros, em diversos níveis, em diversos graus e maneiras. Entretanto, o evangelizador deve assumir-se como direcionador e candidatar-se a mestre. Os professores instruem ou ensinam conforme a própria capacidade. Os mestres orientam, educam, direcionam, constroem valores, às vezes, transcendendo à sua própria constituição, quando sintonizados com o ideal no Bem. Porém, muitas vezes, os educandos apresentam obstáculos íntimos à própria ascensão, como naturalmente se espera, já que estão na qualidade de espíritos imortais e de individualidades constituídas de experiências. Justamente nestes momentos, os educadores paralisam-se e recuam diante das adversidades, propondo-se responsabilidades muito aquém das que deveriam, de fato, abraçar.

15


Necessário é ter coragem e assumir-se compromissado com a tarefa, sem usar como fuga os subterfúgios da autocomiseração e da suposta incapacidade de encarar o empreendimento.

O apóstolo João O mais jovem dos discípulos é um exemplo de coragem e determinação. João não se esquivou de seguir o Mestre até a cruz infamante e assumiu a sua responsabilidade junto a Maria, que naquela hora foi-lhe entregue como mãe do coração. No Evangelho de João (13: 21 a 26), vemos Pedro pedindo-lhe que perguntasse a Jesus quem seria o traidor indicado, e o apóstolo do amor não deixou de interrogar Jesus, mesmo interiormente, temendo ser ele próprio o traidor. Evocamos a figura jovem e destemida de João para dizermos a todo aquele que se dispõe à tarefa: Coragem! Coragem e firmeza! Afinal, todo aquele que confia e persevera recebe de Jesus, o Supremo Educador de nossas almas, o auxílio indispensável ao êxito. Lúcio de Abreu

Comentário da Passagem Chamastes-me Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou.“ Jesus – João 13:13 Jesus, o Inolvidável, não furtou-se ao título de Mestre das almas, tarefa que lhe foi atribuída por Deus, nosso Pai. 16


Assumiu o título com todas as consequências que a ele se atrelam, na condição em que se situava. Ora, toda tarefa na Seara de Deus traz consigo responsabilidades muito distintas, no que diz respeito à nossa atuação, em razão de, que todo cristão está devidamente agasalhado pelo roteiro do Evangelho de Jesus. Toda concessão traz consigo uma responsabilidade. Cabe a todo discípulo, principalmente aquele que se fez evangelizador de almas, condutor de mentes a Jesus, avaliar o quanto tem assumido a sua tarefa perante o Senhor da Seara. Em primeiro lugar, ele deve assumir-se discípulo dos sublimes ensinamentos, colocando-os na própria vivência, pois assim será conhecido pelos demais. Deve colocar-se disponível para o Mestre, porque nele se encontram os recursos necessários ao trabalho de iluminação de consciências. Por enquanto, somos “mestres” em plano menor, onde apontamos com nossa conduta o alvo iluminado, o farol das almas, que é Jesus. Mas chegará, sem dúvida, o momento em que, como Jesus, também assumiremos a tarefa educativa em plano maior. Seremos como o servo fiel da parábola, que entrou nas alegrias do seu senhor, por havermos cumprido e sido fiéis no pouco. Resta-nos, por enquanto, a honra de pertencermos ao grupo de seareiros do Mestre Jesus, na tarefa de moralização de quantos lhe pertencem ao aprisco. Guardemos semelhante honra na movimentação do trabalho bem-feito e da consciência ilibada do servidor que perseverou em suas obrigações com o Senhor. Bezerra de Menezes.

17


História de João O mês de Nissan era sempre prodigioso na Palestina, na época em que Jesus caminhava entre os homens. Era o mês da colheita, onde a natureza, naqueles dias, parecia entoar canções harmoniosas aos homens. Perfumes sopravam nos rostos castigados pelo sol forte, como a balsamizar os trabalhadores, sussurrando-lhes: Trabalha, trabalha e segue. O Tiberíades assemelhava-se ao espelho do céu, lembrando-lhes de que a vida superior iniciava-se nas lutas da terra. Toda a natureza clamava a render graças a Deus pela presença do CorHideiro entre nós. Os corações mais sensíveis, como o de João, embeveciam-se pelo espetáculo que a natureza propiciava, em êxtase quase constante. Se o observássemos enquanto ouvia o Mestre, nos emocionaríamos ao perceber sua reação a cada palavra de Jesus. Parecia transportado a outras regiões. Em uma dessas ocasiões, caminhando com Jesus pelos bosques, João o contemplava enternecido. Era tão jovem e cheio de forças... Pensava com entusiasmo sobre todas as oportunidades que se lhe apresentavam à mente. Tinha muito a oferecer. Ali estava o Mestre dos mestres, caminhando calmamente. Ele, o Messias. Certamente, governaria o mundo. Os horizontes agora, pareciam mais amplos e seguros. Não haveria o que se temer. Era impossível resistir-lhe ao magnetismo; sua juventude e suas forças eram Dele. Caminharia até o limite do mundo, se Ele assim o quisesse. Conversaria com governantes e pessoas influentes. Semearia a Sua palavra em qualquer lugar, bastando que Ele apontasse a direção. 18


Deixaria os seus e rumaria ao mundo. Todas as provações seriam troféus que Lhe ofereceria. O mundo seria convertido em País da Luz, Reino de Deus. Tudo estava claro. João observou que Jesus parara de caminhar e sentara-se à sombra de árvore amiga. Como era de seu costume, encostou-se ao Mestre, ainda cheio de entusiasmo e vibração. Viu que Jesus pousava nele os olhos serenos – sim, Ele sabia de seus ideais. Com um sorriso acolhedor, disse-lhe: – João, sentamo-nos à sombra desta árvore normalmente, sem medir-lhe todo o trabalho para suavizar-nos a jornada. Sentindo-se chamado ao comentário, João argumentou: – E pensar que esta árvore já foi um pequeno arbusto... – Mais ainda, João! Já foi pequena semente que estava sepultada na intimidade da terra. Lutou e venceu, lentamente, para agora dar-nos alento. O apóstolo sorria. – Lembro-me, João, de quando chamei-te a trabalhar na estruturação do Reino. – Sim – respondeu, emocionado pela reminiscência do momento inesquecível. – Eu estava consertando as redes de meu Pai... – Bem-aventurado, João, o homem que trabalha, pois é no trabalho que a Providência de Nosso Pai nos encontra e nos chama. – Mas, Mestre, existem trabalhos de todas as ordens e representatividades. Agora sei que o trabalho que me chama é maior – disse, lembrando os próprios pensamentos.

19


– João, o Reino de Meu Pai pede serenidade e cautela em sua implantação, como a semente paciente que torna-se árvore no transcurso das décadas. Em verdade, te digo que a semente foi lançada, mas os frutos serão colhidos somente no decorrer das eras que hão de vir. Por enquanto, resta-nos transformar nosso entusiasmo em energia e persistência, coragem e paciência, para que possamos consertar as tramas da rede imensa do tempo. Silenciou Jesus. João observou a árvore com atenção e respeito. A lição do tempo jamais deixaria o coração do apóstolo que, dentre os doze, mais viveu sobre a Terra. Blandina.

20


21


Convicção e Evangelho Responde a qualquer indagação Que te procura nesta ocasião Com os ensinamentos de Luz Que saem do Evangelho de Jesus Nenhuma dúvida poderá resistir Se te ocupares em reter e sentir Esta inolvidável lição Jesus vence, com amor, a indecisão Estuda e medita as lições do Senhor Apaga tuas dúvidas na luz do Seu Amor Acalma os anseios que atingem teu coração, O estudo do Evangelho traz paz e convicção. Lúcio de Abreu.

22


Capítulo 2 Convicção Íntima

Pedro ...“E tu, quando te converteres, confirma teus irmãos.” Lucas 22:32 O intento de educar prescinde de convicção íntima. Neste aspecto, salientamos a convicção na eficiência da educação, a convicção no que se ensina, a convicção na capacidade do educando. Quando empreendemos a tarefa da Evangelização, necessitamos acreditar que aí está um instrumento eficaz na regeneração do Ser. O educador deve estar convicto da eficácia da educação como instrumento libertador, ainda que as condições físicas, emocionais, sentimentais ou psicológicas do educando estejam provisoriamente frágeis; ainda que o educando esteja em estágio expiatório limitado perante as condições físico-espirituais; ainda que suas dificuldades se apresentem exacerbadas. O educador deve reconhecer e confiar na ilimitada capacidade da educação bem empreendida por meio do esforço amoroso. O que nos leva a descrer nessa realidade é, sem dúvida, o imediatismo condicionado, porque, na maioria das vezes, queremos resultados rápidos e estrondosos, esquecendo-nos de nosso crescimento gradativo. Educar despretensiosamente é o grande desafio.

23


Necessitamos, igualmente, crer no que ensinamos. Na educação espírita, o educador deve estudar e buscar compreender firmemente os princípios da Doutrina Espírita, a partir de seus pilares, procurando suprir seus questionamentos, por meio da leitura segura das obras básicas e de obras subsidiárias. O educador deve, igualmente, estar convicto de que o educando, espírito imortal e filho da Divindade, possui a capacidade de superar-se na trilha da própria ascensão. Quantos excessos presenciamos por parte dos educadores, que, ao subestimar os educandos confiados ao seu coração, tornam-se aprisionadores de suas vivências! Por fim, o educador pode e deve acreditar em si, buscando superar-se, autoeducar-se, vencer-se, para que arrebate, por meio da própria luta, o educando.

O Apóstolo Pedro O exemplo exímio de Pedro nos felicita a narrativa. O seu combate íntimo na superação de suas imperfeições, a sua incansável peregrinação como disseminador da Boa Nova, após o retorno do Mestre à Pátria Espiritual, são exemplos luminosos de convicção. Pedro, por convicção, inaugurou a assistência social organizada, arrebatou corações e aceitou o martírio imputado como louro da vitória. Sua firmeza de princípios legou-nos a famosa afirmativa: “Não sou digno de morrer como o Mestre”, tendo sido, portanto, crucificado de ponta a cabeça. Tomemos essa lição do grandioso apóstolo que, tendo negado o Mestre em um único momento, confirmou-O em tantos outros atos, com tantos testemunhos, até a hora máxima. 24

Lúcio de Abreu.


Comentário da Passagem “Mas Eu rogarei por ti, para que tua fé não desfaleça, e tu, quando te converteres, confirma os teus irmãos.” – Lucas 22:32 A advertência de Jesus a Pedro é um verdadeiro acalento aos corações daqueles que desempenham a tarefa da educação das almas. O Senhor, em primeiro lugar, advertiu a Pedro quanto aos inúmeros convites e obstáculos íntimos à tarefa. “Eis que Satanás te convida a cirandar como trigo.” – (Lucas 22:31). São os convites ao desnorteamento, ao desequilíbrio, à confusão e ao interesse inútil. Ora, somos defrontados por tais convites em todos os momentos; por isso, muitas vezes, chegamos aos campos do desânimo diante das restrições da disciplina. É a maneira de “cirandar” com a musicalidade de nossas próprias dificuldades íntimas. Todavia, logo após a advertência austera, o Senhor consola: “Mas eu rogarei por ti, para que tua fé não desfaleça”. O que não poderemos realizar se reconhecermos o auxílio efetivo de Jesus em nossos trabalhos? Nesse auxílio, a fé é refrigério para as dores. O que pode temer o homem, se Jesus não nos abandona e intercede por nós com o Pai? Estejamos imbuídos dessa certeza e, naturalmente, nossas tarefas na Seara de Jesus nos figurarão mais suaves e mais alegres. Só há vitimismo onde falta a fé raciocinada. Só existe dúvida onde o estudo ainda não alcançou bases seguras. Só há oscilação onde o discernimento não se edificou. Não nos atenhamos aos perigos, sem cogitar o amor inesgotável de Jesus, que jamais nos falta, por meio de recursos e oportunidades. Bezerra

25


Lucas 22:31 - “Disse também o Senhor: Simão, Simão, eis que Sataná vos pediu para vos cirandar como trigo.”

História de Pedro Na fétida cela onde nenhum raio de luz intentava entrar, o apóstolo jazia deitado nas lajes frias. Seu velho corpo estava dolorido e alquebrado pelas inúmeras vezes em que suportava os maus-tratos infligidos pelos asseclas de Nero. Mas a mente de Pedro alcançava outros sítios, não delimitados pelas paredes frias da prisão. Sabia que viveria os últimos minutos, seria libertado por Jesus. Conjecturava algo, aliviado. Então, recordava-se da esposa, também presa na noite lúgubre, e de quem não sabia o paradeiro. A companheira de todas as horas. Quanto não haveria de estar sofrendo nas mãos impiedosas dos perseguidores? Talvez já houvesse sido libertada do corpo. Certa angústia lhe invadiu o coração, nas preocupações com sua esposa. Pedro, em um gesto muito seu, tocou a própria fronte e buscou Jesus. Sim, o Mestre inesquecível. Relembrou o momento do seu chamamento. – Vinde e eu te farei pescador de Homens. Aqueles olhos lúcidos e transparentes que o hipnotizaram. Recordou-se das saudosas reuniões em sua casa, em Cafarnaum, dos colóquios costumeiros à beira do lago amigo. Pôde sentir as cariciosas brisas que os brindavam ao entardecer. A pregação no monte, as curas... tudo lhe desfilava como em um filme maravilhoso. Sua humilde residência, quase à margem do lago generoso onde, tantas vezes, vira o Mestre meditar observando o Hermon. Sim, o 26


Hermon, com sua cabeleira branca, tão ao extremo Norte. Lembrou-se de Cesárea de Felipe, onde Jesus lhe perguntara: – E tu, Pedro quem dizes que sou? – Tu és o Messias, o filho do Deus vivo. O Messias... Desfilaram-se sob sua observação todos os seus testemunhos de que estava ali o Messias Prometido. As luzes do Tabor, o caminhar sobre as águas. Pedro chorou com a imensa saudade que lhe escapava em longo suspiro. – Tantas maravilhas, tantos testemunhos, e eu o neguei... Foi quando ouviu novamente a voz do Mestre: – Pedro, tu me amas, mais que estes outros? Olhou ao redor. Estava só. – Tu me amas, Simão, filho de Jonas? Ergueu-se o apóstolo, inundado por uma energia nova. – Sim, Senhor. Rabboni! Eu o amo! – Então confirma teus irmãos. – Sim, Senhor! Eu o honrarei. Neste momento, invadem a cela soldados que o levam à presença da “Lei”. Pedro caminha como que sustentado por energia fortíssima. Mediante o representante do poder temporal, ouve serenamente. – Galileu, regozija com minha misericórdia que te concede chance derradeira de reconhecer o teu rei e morrer sem maiores martírios. – Já conheço o meu Rei, em verdade. É o Rei de todos nós: Jesus, o Filho do Deus vivo. Com sorriso bronco, gritou o romano: – Trazei a cúmplice. E Pedro pôde ver a esposa, transformada em estátua de martírio, ser arrastada para a sala.

27


Um choque se apossou do sistema nervoso de Pedro, que não traiu sua serenidade. Recuperou-se em prece. – Reconhece, Galileu imundo, a superioridade de Roma, perante seus seguidores. Abdica do Nazareno crucificado e derrotado a que tomas por Mestre, ou carregue na consciência, se a tens, a morte de sua esposa, nas garras das feras. Não vês que teu destino e o destino de tua esposa repousam em minhas mãos? – Enganas-te, pois que Jesus, o Filho de Deus, é quem me governa o destino, que lho deu de bom grado. Tu, romano, só nos pode ferir os corpos já envelhecidos pelas lutas do mundo. – Basta! – Levantou-se o romano em fúria surda, avançando para o apóstolo em agressão também surda. – Eis o que teu Mestre vos ensina: a ser um covarde que não poupa nem a família. Pedro ergue a fronte com os olhos iluminados e sangrando: – Enganas-te, ainda. Jesus ensinou-me a morrer com a paz dos que trazem tranquila a consciência, e a amar os meus algozes. Os soldados levaram Pedro para o martírio; silenciosos e impressionados. Prepararam a cruz que o sustentaria até a morte. – Não! Não me permita morrer como o Mestre. Não sou digno! Não houve resistência. Crucificaram-no de cabeça para baixo, enquanto sua esposa perecia sob as patas das feras. Mas Pedro nada mais via ou ouvia que seres iluminados cantando hosanas ao Senhor. Sem saber exatamente como aconteceu, Pedro só pôde perceber que repousava no abraço carinhoso de Jesus, que o acariciava as cãs venerandas, com afeto. 28


– Tu me amas, Pedro? – Sim, Mestre... – Eu também te amo, Pedro. E, em verdade, confirmaste. Alegra-te, Simão, que as alegrias do Reino são descanso e refrigério ao lutador. Blandina.

29


Entusiasmo Entusiasmo é um tipo de alegria, Feita de sonhos e emoção que temos a obrigação de equilibrar, para transformá-lo em ação. Dosar entusiasmo e discernimento é uma receita que nunca falha. pois entusiasmo sem governo, é apenas “Fogo de Palha”. Lúcio de Abreu

30


Capítulo 3 Entusiasmo pela Tarefa

Tiago Maior, Filho de Zebedeu

“E o que vos digo em trevas, dizei-o à Luz; o que escutai aos ouvidos, pregai por cima dos telhados.” Mateus 10:27

Em todos os empreendimentos aos quais nos dispomos, é preciso o entusiasmo, que é a força impulsionadora à realização. Entusiasmo vivo, vigoroso, edificante. Fazer-se tomar pelo gosto, pela alegria plena e pelo otimismo. O que dizer da educação? Como não se entusiasmar perante a tarefa de conduzir almas? Como não entusiasmar-se pela oportunidade de clarear os próprios caminhos na opção do amor? A soberana Misericórdia de Deus nos felicita com esta oportunidade única! Vinculados que somos uns aos outros, está aí a possibilidade de reatar amizades, desfazer enganos, apagar antipatias, sublimar afetos. Não nos reportamos à euforia desequilibrada, que nada ajuda. Saibamos nos entender com as palavras e sua significação correta. Falamos da força magnética que nos aproxima da vitória, que nos direciona ao ideal transcendental. Devemos manter o entusiasmo pela tarefa, ainda que entendamos que a educação em si é despretensiosa. 31


O Apóstolo Tiago, filho de Zebedeu Tiago, irmão de João, é nosso exemplo de entusiasmo. Embora discreto, pois era equilibrado, sentiu-se inundar pelas palavras de alerta de João Batista, aguardando, emocionalmente, o Messias predito pelos profetas e anunciado pelo precursor. Plenificou-se com o convívio com Jesus, sendo um dos primeiros a segui-lo. Ouviu dos lábios do doce Mestre a exortação dada à sua mãe, que pedia um lugar especial para os dois filhos; que um assentasse à direita e o outro à esquerda. Tiago, entusiasmado pelas verdades eternas, após o testemunho de Estevão, sorveu o cálice a que se referia Jesus, e foi o primeiro dos doze apóstolos a sofrer o martírio. O entusiasmo rompe as barreiras da dúvida, do medo e da hesitação. Tenhamos, nós educadores, entusiasmo diante da tarefa educativa, tornando-nos o sustentáculo do que pregamos aos nossos educandos. Lúcio de Abreu.

Comentário da Passagem “E o que vos digo em trevas dizei-o à Luz; o que escutai aos ouvidos pregai por cima dos telhados.” Mateus 10: 27 Muitas vezes, presenciamos a voz da propaganda evangélica calar-se mediante as dificuldades humanas, a pretexto de descabidos argumentos que analisaremos juntos. 32


Alguns expositores ou evangelizadores argumentam que não querem ferir o direito à liberdade das almas que se fazem ouvintes, no que diz respeito às questões especificamente doutrinárias. Ora, parte desses ouvintes são infantes que frequentam as salas de evangelização, vindos de fileiras religiosas diferentes. Porém, a liberdade não pode ser oferecida a nenhum filho de Deus sem a conformidade com a condição orgânica do encarnado. Nosso argumento refere-se à lógica, uma vez que não podemos admitir que nossos petizes sejam livres para aderir ou não a determinadas necessidades, como frequentar uma escola, ingerir determinados medicamentos ou, ainda, escolher vestuário adequado a determinada ocasião. Entendemos, portanto, que é necessário aos pequenos o auxílio e a condução de um adulto. Se essa necessidade se faz pertinente nos assuntos do mundo, o que dizer dos assuntos de ordem espiritual? Outra parte dos ouvintes perfaz-se de adultos que frequentam as reuniões doutrinárias. Mas o argumento da inviolabilidade de suas liberdades torna-se insustentável, ainda assim, pois que gozam de plena escolha, inclusive para adentrar as instituições que, em sua grande maioria, trazem em seus frontispícios a informação de seus objetivos. Outros, ainda, afirmam que não seria lícito usar das dificuldades dos que buscam a casa espírita pela porta da assistência social para a propaganda de nossos princípios, mas esse argumento é destituído de visão mais ampla acerca da misericórdia do Pai, porque ela sempre nos conduz para os melhores caminhos, por todas as portas que adentramos, inclusive a da dor. Além do que, a assistência social é apenas o meio, e não o objetivo para promovermos o espírito – filho de Deus – à plenitude.

33


Não deveríamos supor que a difusão do Evangelho de Jesus não traz os melhores benefícios a toda a humanidade, lembrando-nos, assim, que a Doutrina Espírita é o Evangelho Redivivo. Irmãos evangelizadores, Jesus chama-nos à implantação do Seu Reino no coração dos homens! Não rejeitai as facilidades que a Doutrina Espírita dispõe às mãos! Empunhai a charrua com destemor e responsabilidade! Abri a vossa boca e proclamai a imortalidade da alma, a reencarnação, a vida futura; sempre calcadas nas palavras de Jesus. O que temos relegado às trevas de nossas dúvidas e incertezas, iluminemos por meio do estudo, do esforço próprio e da coragem. O que Jesus suavemente nos sussurra aos ouvidos, pelos séculos de nossa caminhada, proclamemos pelo telhado da consciência ilibada do dever bem cumprido. E que quando o Senhor nos chamar – dizendo “O que fizeste tu dos talentos que te dei?” – possamos responder tranquilamente: – Multipliquei-os Senhor, na tarefa bendita junto ao sentimento daqueles que me enviaste. – Tome-os, Mestre, são teus! Bezerra de Menezes.

História de Tiago Maior A noite estrelada sugeria aos mais distraídos, suaves pensamentos de tranquilidade e paz, mas o coração de Tiago perdia-se em cismas indefiníveis. Ecos de uma surda divagação transportavam-no à região de profecia íntima. 34


Sentia perto o momento do testemunho, cismava, cismava... Seu coração juvenil não o enganava. Jesus pedia-lhe coragem. Há pouco tempo, Estevão sucumbira pelas pedradas do orgulho dos varões, enlouquecidos e confundidos pela brandura do Cordeiro. Era sua vez, o eco interior lhe dizia. A ansiedade fazia-lhe tremer as carnes. Lágrimas grossas lhe visitavam os olhos. Foi quando lembrou-se do Mestre. O doce Mestre cuja voz angelical calara-se na cruz da ignomínia. Tiago prostrou-se de joelhos e orou. – Oh, Senhor, sinto o cálice aproximando-se. O que fazer para que a fé não vacile? – Quero testemunhar, mas meu coração está apreensivo. Fortalece-me. Tiago sentiu-se em suave delíquio. Uma luz agigantava-se ao seu lado. Era Jesus! Quis dizer alguma coisa, quis jogar-se aos seus pés, mas só pôde chorar. – Tiago, a cruz jamais poderá calar a verdade, como a espada jamais poderá assustar o coração que se entrega por amor ao Pai. O sacrifício é a coroa de luz que levará os olhares dos homens a contemplar a face do Pai Amado. Ergue a fronte, filho, que no Reino de meu Pai não há lugar para as dores humanas. Estarei contigo. Ergue-te e vem! Após pequeno tremor, Tiago, filho de Zebedeu, retorna ao corpo. O medo não acharia lugar no coração do primeiro dos 12 apóstolos que se entregou, a si mesmo, por amor a Jesus.

Blandina.

35


Tenhamos esse exemplo em nossas mentes. Ainda que a situação exija cuidado Tenhamos em mente esta grande lição Não há contenda que possa resistir À intenção verdadeira da reconciliação. Lúcio de Abreu.

36


Capítulo 4 Espírito de Reconciliação

Tiago Menor Todavia, se praticardes a escritura, conforme a Lei Real: “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”, fazeis bem Tiago 2: 8 Jesus é o nosso Grande Reconciliador. Reconciliou-nos com a ideia de Deus Pai, unindo Criador e criatura. Reconciliou-nos com a ideia da Família Universal. Reconciliou-nos com a nossa própria consciência, trazendo a esperança da imortalidade da alma. A educação-evangelização é a grande chance de reconciliação entre almas coligadas. Ter espírito reconciliador é permitir os ajustes naturais – espírito a espírito – no ambiente educacional. Facilitar as relações, contribuir, apaziguando os corações, sem, contudo, inibir a expressão de cada personalidade no limite da disciplina – eis o que significa reconciliar. Em nossas experiências, muitas vezes nos defrontamos com situações que exigem grande flexibilidade do educador, mas que na verdade necessitam tão somente de pacificação. O que se percebe, com muitíssima frequência, é a preocupação por parte do educador de “conter ânimos”, “conter situações”, “conter atitudes”. Porém, o grande desafio da educação é formar homens de bem, não “homens contidos”.

37


Mais uma vez, ressaltamos que essa atitude é consequência do imediatismo. Não que estejamos encorajando a indisciplina ou a desordem. Bem longe disso! Incitamos o preparo do educador para situações que pedem flexibilidade. Muitas vezes, a situação agrava-se, com excesso de cuidados e escrúpulos do educador. Espírito de reconciliação é não valorizar o negativo, em tempo algum. Reconciliar é voltar as mentes para o Bem, é encontrar alternativas positivas, é pacificar. O educador, a exemplo de Jesus, necessita ter desenvoltura perante qualquer situação, para reconciliar corações. Para isso, o Evangelho, à luz do Consolador, que é a Doutrina, é o melhor remédio.

Tiago, filho de Alfeu Tiago, filho de Alfeu, é extraordinário exemplo de espírito reconciliador. Na medida de suas possibilidades, angariou, para a causa do Cristo, o respeito de certas facções do farisaísmo. Chegou a ser tachado de fanático, ainda arraigado aos conceitos anteriores, defensor do farisaísmo, desertor dos ideais libertadores. Mas o incompreendido apóstolo lutou bravamente para que o Cristianismo não fosse como fonte que seca ainda no nascedouro. Ajustou-se e esmagou, na própria alma, preconceitos diversos; intercedeu, advogou, reconciliou... Não faltaram as críticas, até mesmo de Paulo, o campeão do Evangelho, que mais tarde, ao peso das próprias experiências, compreendeu a sua grande missão. Lúcio de Abreu

38


Comentário da Passagem Todavia, se praticardes a escritura, conforme a Lei Real: “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”, fazeis bem Tiago 2: 8 A carta de Tiago é um verdadeiro hino à vigilância no trabalho em equipe. Constitui um resumo prático de como se deve comportar o cristão na tarefa a que se vincula com seus companheiros de ideal. Esse versículo trata de um resumo da Lei, feito por Jesus; exatamente, o segundo dos Dez Mandamentos. Analisando esse código, percebemos que o Mestre nos diz para amar ao próximo com a medida do amor que devotamos a nós mesmos. Contrariamente ao que alguns imaginam, não há aí uma exaltação à supervalorização do ego. Jesus nos chama a amarmo-nos, pois, somente quem se ama se conhece o suficiente para compreender a necessidade de mudança e elevação. Nossas dificuldades em compreender isto se devem à nossa pouca compreensão do Amor Verdadeiro. Nós estamos, ainda, mais ligados às sensações que aos sentimentos. Nossos instintos ainda necessitam elevar-se e plenificar-se para atingirem o patamar de sentimentos, conforme o Evangelho. Segundo o Espiritismo declama, “Os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito”. Ainda sentimos, por assim dizer, mais com os plexos inferiores, ligados às energias animalizadas, e menos com as estruturas ligadas aos planos imateriais. Exatamente por isso, esse mandamento, tão bem apregoado por Jesus, torna-se um verdadeiro desafio

39


evolutivo em nossos caminhos. Absorvê-lo é o mesmo que confrontarmo-nos com nossas dificuldades de autoestima, com nossos transtornos de inferioridade, traduzidos no orgulho e na incapacidade de seguir regras ou limites, ou nos transtornos de superioridade, com suas manifestações psíquicas intrínsecas. Ajustar-se ao “Amar ao Próximo como a ti mesmo” é iniciar a luta íntima contra as próprias imperfeições e automatismos, às vezes, seculares. Nesse capítulo, Tiago cita argumentos sólidos e cotidianos, no que diz respeito à necessidade do trabalho no Bem, fortificando a fé raciocinada, e coroando nossas melhores perspectivas com a famosa frase: “A fé sem obra é morta em si mesma.” – Tiago 2: 17 Nesse sentido, o apóstolo nos convoca a estabelecer as respostas às nossas dúvidas íntimas acerca do desenvolvimento do amor ao próximo, em bases seguras, trabalhando em favor de todos, nas menores oportunidades que se apresentarem, no minuto silencioso, no dia a dia... Inicialmente, perceberemos que nosso trabalho estará mais vinculado ao sacrifício que ao sentimento mais puro, porque muitas vezes nos movimentamos mais pelo aguilhão da consciência do que pelos braços do amor. Ainda estamos mais preocupados em “cumprir a obrigação que nos cabe”, e menos em edificar o sentimento em nossos corações. Porém, chegará o dia em que nos habituaremos a amar, a renunciar, a desprendermo-nos de nossas amarras egoísticas e, nesse momento, seremos conhecidos como verdadeiros discípulos de Jesus. Bezerra de Menezes.

40


História de Tiago - Filho de Alfeu Tiago, filho de Alfeu, ouviu os impropérios e a decisão arbitrária dos maiores do Sinédrio, sem assombro: – Lapidação é o veredicto! A multidão encolerizada o apupava, gritando: – Lapidemos, agora mesmo, o infame! – Blasfemo! Feiticeiro! – Traidor da Lei! Aproximaram-se os soldados e lhe empurraram, brutalmente. Grossas lágrimas banhavam o rosto do apóstolo, enquanto ele conjecturava sobre sua vida. Lembrou-se do chamado irresistível de Jesus, de quem a saudade pungente lhe abafava o peito. As pregações, as curas, as maravilhas, a derradeira ceia... Recordou-se de si mesmo em fuga na hora extrema, e de, disfarçado, haver se aproximado da cruz onde jazia o corpo inerte do Mestre adorado. Recordou-se da aparição de Jesus, após todo o turbilhão, acalmando e alegrando seu coração; das advertências no andamento dos trabalhos. Tudo desfilava rapidamente por sua mente excitada. Sabia estar vivendo os derradeiros momentos da vida física. Sentia-se em parte jubiloso, pois gostaria de reencontrar-se com o Mestre querido, mas recordava-se dos necessitados e sofredores do “caminho”, a quem se afeiçoara com enternecimento e considerava como família, sendo tomado por preocupações quanto ao destino desses irmãos. Imenso cansaço lhe tomava o corpo maltratado e fraco, e dores acerbas advinham das pernas e dos braços. O apóstolo vertia pranto ininterrupto, sob os empurrões e as cusparadas de muitos. Quando, porém,

41


viu que se aproximava do local reservado ao apedrejamento, onde infamante poste se erguia... Oh! Que emoção sentiu! Seus olhos viam a figura do próprio Legislador, Moisés, lhe aguardando. Abriu os olhos e fechou, tornando a abrir, para se assegurar do que via. Notou que ao redor ninguém se dava conta daquela figura nimbada de safirina Luz. Aproximando-se, tomado de emoção, quis falar e não pôde, mas foi acariciado pelo ancião venerando. – Tiago, filho de Alfeu! Estejas firme e resoluto, pois são com as lágrimas dos que cumprem o dever que se sedimentam no mundo os claros caminhos da justiça e da misericórdia. Regozija, filho, ante o testemunho. A multidão ensandecida o retirou do torpor de deslumbramento em que estava, lançando-lhe os calhaus impiedosamente. O que se seguiu foi seu brutal apedrejamento, mas Tiago permanecia sereno ante todo o espetáculo, do qual era a atração para os inconscientes convivas e irmãos de raça. Em dado momento, quedou irremediavelmente de rosto ao solo, mas percebeu que alguém estava de pé à sua frente, bem próximo, pois que lhe caíra aos seus pés. Com certa dificuldade, ergueu-se e percebeu que seu corpo permanecia no solo. Mas viu aqueles pés que permaneciam no mesmo lugar. Olhou-os e viu que duas chagas características de crucificação ali estavam. Seu coração acelerou-se, olhou para cima, e vislumbrou o Mestre, buscando-lhe para auxiliá-lo a levantar-se. Tiago, porém, lançou-se-lhe aos pés, em pranto, abraçando-lhe as pernas, qual criança. – Senhor! Vieste ver-me! Jesus ergueu o apóstolo em carinhoso abraço. 42


– Sim, Tiago. Eis que é chegado o momento em que deves me auxiliar na tarefa de alicerçar no mundo as bases da Justiça de Nosso Pai, na lei de amor que nos rege, pois tu, que amaste a Moisés, também a mim me amaste e compreendeste! Vem, filho, que o Reino de Deus busca o sentimento dos filhos como moradia e, doravante, és mais um dos construtores do Pai! Blandina.

43


Espírito de Equipe Ninguém nasce sozinho. E, sozinho nada se faz A cooperação é sempre necessária na construção da paz. O próprio Jesus não dispensou uma equipe de cooperadores. escolheu 12 apóstolos, cada qual com seus valores. Deixou-nos, o Senhor, uma linda lição com a escolha do colégio apostolar Eram homens simples e rudes aparentemente sem nada para doar. No entanto, nestes mesmos homens humildes e de pouca instrução a semente do Evangelho achou terreno ideal para a frutificação. Também nós devemos aprender a ver o potencial que Jesus conseguiu enxergar em nossos colegas de ideal Nós todos somos parte da equipe, selecionada pelo Mestre para construir a regeneração, a Nova Era o mundo feliz do porvir. Lúcio de Abreu

44


Capítulo 5 Espírito de Equipe

André “Onde houver dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” Jesus – Mateus:18:20 Jesus, o Mestre, em seu caminhar carnal, instituiu uma equipe de trabalho, desde o início. Contou com a colaboração maternal e solícita de Maria, com a proteção de José, com a abnegação do precursor João Batista, seu primo. Mais tarde, expandiu as luzes de seu coração divinizado com os Doutores da Lei. Ainda mais além, formou o colégio de apóstolos com os 12 companheiros mais próximos, os 70 enviados e os 500 mais além. Hoje, todos nós, cada um conforme a própria capacidade, fomos dignificados com a oportunidade excelsa de participarmos dessa equipe. Na atividade educacional, é imprescindível este discernimento: cada um participa, como peça indispensável, na equipe de Jesus. Quantas vezes observamos determinadas aberrações, por falta de compreensão real de espírito de equipe, compreensão do papel de cada um, principalmente do nosso? É primordial compreendermos que o educando também é parte ativa dessa engrenagem. Entretanto,

45


muitas vezes o vemos como simples depositório passivo de informações.

O Apóstolo André Temos em André um exemplo muito digno de compreensão do espírito de equipe. Reconhecido por seus companheiros, tantas vezes foi procurado em momentos de hesitação e dúvidas. Certa feita, Felipe foi procurado por dois gregos que queriam ver Jesus. Felipe cuidadoso quanto ao equilíbrio do grupo, e conhecedor das características de vigilância do companheiro, buscou antes a opinião de André, só então indo ambos à procura de Jesus. Um momento marcante do Evangelho foi estabelecido por esse apóstolo quando, diante da multidão faminta, buscou a participação de um determinado rapaz, trazendo-o a Jesus para apresentar os cinco pães e dois peixinhos que alimentariam a massa ruidosa. Entendamos, como André, a oportunidade de participação, de trabalho e de contato com a Boa Nova. Lúcio de Abreu.

46


Comentário da Passagem “Onde houver dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio destes” Jesus – Mateus 18: 20 O versículo de Mateus precede a grandiosa lição do perdão que Jesus legou aos apóstolos e ao mundo, e não é por acaso, que está junto à lição do trabalho na Seara de Jesus. O perdão é a edificação da qual mais necessitamos, no trato com os companheiros; afinal, adentramos as tarefas, carregando conosco todas as aquisições psicológicas que nos dizem respeito – à persona e à individualidade imortal. Carregamos, da mesma maneira, todo o resultado de nossas experiências nos campos do mundo, às vezes, com bagagens desnecessárias ao nosso aprimoramento evolutivo. Sendo assim, temos muita necessidade da compreensão, do entendimento e da caridade de nossos irmãos que conosco convivem. Ora, sendo o amor o sublime objetivo de nossas tarefas, e tendo o Mestre asseverado que seus discípulos seriam conhecidos por muito se amarem, nos cabe o máximo esforço no trabalho em equipe dentro dos padrões de qualidade ensinados por Jesus e expressos no Evangelho. Se o mundo guarda tamanho cabedal de diretrizes de comportamento institucional com desenvolvimento notável, que dizer do ensinamento imorredouro do Evangelho, que é roteiro memorável para as almas? Cabe-nos assumir a superioridade dos conceitos que nos regem a existência e caminhar desassombradamente, mediante quaisquer obstáculos ou intempéries, juntos em verdade, pois que o Mestre nos asseverou acompanhar com desvelado carinho os que se agrupam em seu nome.

Bezerra de Menezes.

47


História de André A Palestina estava tomada de perfumes e cores. O pôr do sol era moldura aurífera do espetáculo perfeito que se desdobrava no monte. Talvez, se devidamente aguçados os sentidos, se pudesse ouvir as notas musicais dos anjos, que entoavam, certamente, hosanas ao cordeiro de Deus, que parecia resplandecer de santa emotividade. Aqueles olhos doces perlustravam pela multidão com amor imenso. A sua figura majestosa e simples, num suave mistério, doce encantamento, magnetizava de tal maneira que a multidão, a turba imensa, silenciara. Um empurrão tirou André das suaves recordações, trazendo-o ao ambiente onde vozes desrespeitosas o acusavam e mãos impiedosas o apupavam. André observou os verdugos e lembrou-se do Mestre. “Assim agem porque não O conheceram”, – conjecturou intimamente e sentiu enorme piedade por eles. – Atai o feiticeiro ao madeiro! – Gritou um rude homem, após empurrá-lo ao solo. Lá estava o madeiro, em forma de um “x”, pois que o apóstolo se opôs a morrer como o Mestre Inesquecível. – Tens algo a declarar, infame? – Novamente dirigiu-se a André, aos berros. André sentia suas forças quase nulas. A voz se lhe trancara na garganta. Foi erguido no madeiro sob dores agudas no corpo já alquebrado. Estranhamente, sentiu uma carícia em sua face. Suavevoz falava-lhe ao ouvido: – André, filho de Jonas, ergue a tua fronte! Ainda não é tempo de te calares. Fala, em nome de Meu Pai, 48


aos teus irmãos, pois em breve venho buscar-te. Não havia dúvidas. Aquela era a voz de Jesus. O apóstolo encheu-se de energia desconhecida, ergueu a fronte e falou: – Irmãos, eis que o Mestre ressuscitado me chama a dar-vos o testemunho da verdade que vos tenho anunciado, pois que fui testemunha de coisas extraordinárias. Jesus é o Messias que o mundo aguardava ansioso e Sua vida na Terra foi um hino perene ao Reino de Deus que se estabelecerá entre nós. Estejais preparados e destemidos, pois o mundo ainda rejeita a verdade sublime do Evangelho! Mas não temais, irmãos, os que ameaçam com a morte da carne, pois que Jesus asseverou que jamais poderão importunar-nos o espírito imortal. E, logo além destas paragens, o Mestre aguardanos, os que perseveramos, no seu Reino fabuloso! Ora, que serão alguns momentos de infortúnio, se a eternidade de alegrias nos acena? Que compensará mais? Reter-se na carne, que para nada aproveita, ou cobrir-se em roupagem de luz pelas boas obras para acharmo-nos, em breve, nos braços carinhosos do Cordeiro Imaculado? André falava com a voz embargada em emoção. Lágrimas emolduravam seu discurso tocado de magnetismo. Em breve, pequena multidão se postava naquele campo da Acádia para ouvi-lo. Durante dois dias, André falou sobre as alegrias do Reino para muitos, que se espantavam com sua perseverança, e por isso, criam. Ao término desse tempo, sentia André que suas forças se esvaíam. Entre aqueles que o ouviam, viu que estavam alguns convertidos mais frequentes às pregações diárias da Igreja que fundara.

49


Ofegante, quase em agonia, voltou o olhar para eles, que choravam enternecidamente, compungidos pelo quadro comovedor. – Irmão André, que faremos nós agora que partirás? – Disse-lhe um jovem, entre lágrimas. – Filho, a todos chega o momento... de subir o monte... Eis o meu! ... Confia no Mestre... e segue adiante... pois que é... necessário... perseverar. André fitou o céu, buscando forças. – Lembra-te... da oração... do Senhor... filho? – Sim. – Podeis... recitá-la... para... vosso... irmão? O jovem, em uma atitude muito espontânea, ajoelhou-se fechando os olhos e erguendo a voz, no que foi acompanhado por todos. – Pai nosso, que estais nos céus, santificado seja o Teu nome... André lhe acompanhava nos últimos momentos. Ao recitar “Venha a nós o Teu Reino”, verificou que ouvia hinos em vozes indefiníveis. Sentiu-se leve, de repente, como se transportado acima da compacta multidão, que chorava. Parecia que suave chuva de luz descia do céu. Sem saber dizer como, viu-se nos braços de Jesus, que lhe acariciava os cabelos. André abraçou-se a Ele em pranto copioso. – Senhor! Estarei eu em Teu Reino? Quanta alegria! – André, filho de Jonas, bem-aventurado aquele que persevera na verdade. Terás agora o descanso merecido por todos quantos lutam no bom combate. – Senhor! Quero apenas permanecer contigo! – Então, André, recupera as forças, pois urge a instituição das alegrias celestes entre os homens da Terra. Descansa, filho, para continuares em breve o trabalho incessante no plantio do Bem. Assevero que a 50


Seara está pronta! Prostrou-se André nos braços do Mestre. Após a oração, os ouvintes do apóstolo perceberam que perecera-lhe o corpo físico. Emocionados, os frequentadores da sua igreja, onde tantos benefícios doou, começaram a entoar um cântico, que chegou aos ouvidos do apóstolo como suave carícia, enquanto ele partia da Terra para o Reino de que tanto falara. Blandina.

51


Renúncia Caridade em alta expressão, descrita em outra pronúncia. O amor que se devota, chama-se renúncia. Amigo, se em tua luta, desejas a vitória da luz, Aprende a renunciar, seguindo o Exemplo de Jesus. Lúcio de Abreu

52


Capítulo 6 Renúncia

Mateus “E ele, deixando tudo, levantou-se e o seguiu” Lucas 5:28 Caro amigo educador, é esse um aspecto muito grave na tarefa. Para educar, é necessário imbuir-se de renúncia. Ninguém que se propõe educar pode se furtar a mudar, tantas vezes radicalmente, seus hábitos. No momento em que nos tornamos modelos, pessoas que estão em destaque, pessoas observadas por alguém, a responsabilidade nos emoldura as mínimas ações. As atitudes efêmeras, corriqueiras, tão próprias do comum, são inviáveis a quem pretende educar. O educador deve ser incomum, surpreendente e inovador, em seus aspectos mais positivos. Esta luta interior para sobrepor as superpersonalidades às vicissitudes; esta luta para elevar-nos no terreno de nosso próprio coração, superando as sensações e estabelecendo, cautelosamente, os sentimentos, chama-se renúncia. Jesus, nosso Mestre, legou-nos a lição luminosa de que é este o caminho retilíneo à felicidade imorredoura. Devemos tomar, cada um, a própria cruz e seguilo. . .

53


Amigo educador, renuncia a tudo que se choca com o ideal do Cristo. Se tiveres alguma dúvida sobre a que renunciar, pergunta, em cada situação: – O que faria Jesus em meu lugar? Coragem, companheiro educador! Peregrina o caminho estreito, certo da felicidade que espera a todos que perseverarem! O Apóstolo Mateus Levi, filho de Alfeu, é exemplo de renúncia. Em um momento inolvidável, escutou o chamado do Mestre: “Vem e me segue!” Levi estava, como publicano que era, em pleno exercício da profissão, defronte aos tesouros destinados a César, dos quais certa percentagem lhe pertencia. Envolvido nas doces vibrações de amor de Jesus, levantou-se, deixando tudo, e O seguiu. Renunciou à sua vida prática, aos tesouros humanos, renunciou a tudo, até ao próprio nome! Não se importou com a opinião dos homens, da família, com a profissão . . . Quantos de nós teríamos tal coragem? Não podemos, nenhum de nós, dizer que nunca fomos chamados por Jesus, na doçura de Sua voz, a segui-Lo. E a nós, que nos propomos ser educadores, o Cristo de Deus nos diz: – Nega-te a ti mesmo, toma a tua cruz e segueme! Lúcio de Abreu.

54


Comentário da Passagem

“E ele, deixando tudo, levantou-se e o seguiu.” Lucas 5:28

A anotação de Levi quanto ao seu chamamento é uma das mais ricas para as nossas reflexões. Observamos que o apóstolo se levantou, deixando tudo para seguir Jesus. Quantas dificuldades nós temos , os discípulos da Terceira Revelação, para tudo deixar, em nome de Jesus? Quantas aquisições inúteis nos permitimos carregar inadvertidamente pelo caminho? Mas tudo não passa de “peso excessivo”, a nos dificultar a caminhada ascensional. Entre eles, estão os vícios físicos ou morais, os preconceitos e as ideias fixas, os hábitos infelizes. Em nosso trabalho na Seara de Jesus, muitas vezes tentamos adaptar as tarefas aos nossos costumes e conceituações. Porém, tudo isso constitui perda de tempo para o espírito que necessita avançar e seguir. O trabalho nos chama a deixar tudo. Ora, raciocinemos quanto ao magnetismo do chamamento do Mestre, ao nos convidar ao trabalho, e nada temeremos. O versículo nos convida a levantarmo-nos para seguir Jesus. Então, devemos melhorar o nosso padrão mental para atendê-lo, renunciando às edificações menos felizes. Assim, ergamo-nos e sigamos juntos em direção ao Mestre, seguros de seu convite e certos de seu auxílio na tarefa de vencermos a nós mesmos no campo de trabalho que nos cabe; e então compreenderemos o real valor de “vincere cor proprium plus est quam vincere mundum”. “Quem se vence, vence o mundo.” Bezerra de Menezes.

55


História de Mateus Naqueles dias tumultuosos, Levi conjecturava quanto ao seu convívio com o Mestre. Sua doce voz parecia ressoar ainda aos seus ouvidos. – Segue-me!... Que magnetismo era aquele que lhe impulsionara, irremediavelmente, ao encalço de Jesus? Que forças misteriosas o fizeram deixar a coletoria, sem qualquer questionamento, e buscá-Lo no palco soberbo da natureza, para beber-lhe as palavras de vida e luz? Nada mais importava, quando Seus olhos brilhantes e Seus gestos gentis sussurravam o Reino de Deus. Ah, que momentos inesquecíveis! Quanto havia testemunhado ao lado do Messias, que tanto amara. Em instantes, pela tela mental de Levi, desfilaram portentos de espiritualidade e comunhão com o Pai. Maravilhado, o apóstolo sorriu, recordando as curas, as alegrias... Mas parou de sorrir quando recordou-se dos fatos culminantes da crucificação. Levi, que estava sentado sozinho no recinto, levantou-se instintivamente. Cerrou os olhos molhados, que estavam voltados ao alto, como se buscasse Jesus dentro de si mesmo. – Que fizemos nós, Senhor? Ah, a ignomínia do mundo lançou-te à cruz... Descerrando os olhos, levou a mão ao próprio coração. – Mas jamais calar-te-ás oh, Mestre , pois enquanto houver voz em mim proclamar-te-ei! Senhor, permite-me a honra de levar a Tua palavra ao mundo. Em um arroubo de emotividade, ajoelhou-se Levi. – Senhor, Senhor, ajuda-me a jamais temer os homens que ferem e matam, perseguem e condenam, de modo que eu possa merecer reencontrar-me contigo! 56


Com a voz embargada de emoção, Levi cedeu aos soluços de intensa saudade; então, notou que sua visão estava diferente, bem como todos os seus sentidos. Sentiu-se desprender do próprio corpo, para alguma paisagem talvez descrita nos Salmos. Intensa luz formava-se perto. Logo pôde ver Jesus se aproximando. Emocionado ao extremo, prostrouse Levi no solo. – Senhor! – Levi! – falou Jesus, erguendo o apóstolo delicadamente. – Em verdade, filho, jamais faltar-te-á a coragem e o ânimo, pois que os anjos de meu pai te sustentarão e eu cá estarei contigo, para que possas disseminar a alegria do Reino entre os homens. Convoco-te, Levi, a falar e agir em nome do Pai, que legou ao mundo o conhecimento de seu amor magnânimo. Levi, segurando a mão de Jesus, falou, resoluto: – Sim, Raboni! Pregarei por toda a parte. Não haverá barreiras que me desanimem. Jesus, olhando-o nos olhos, afirmou: – Usa, filho, de todos os recursos que o Pai te facultou e marca, indelevelmente, com o que dispões. Vê, Levi, que nada do que possuis foi obtido em vão. Estás disposto a doar tudo quanto tendes de riqueza? – Senhor, dispõe de mim! Se te aprouver, amanhã mesmo, logo cedo, disporei até de minha túnica. – Em verdade, Mathayos, tens riqueza mais útil que a material. Dispões da riqueza cultural que o Pai permitiu desfrutares. Anota para teus irmãos tudo quanto viste. Jesus acariciou a fronte do apóstolo com extremado carinho. – Assim farei, Mestre! – Exclamou Levi. O apóstolo sentiu-se estremecer e voltar à realidade objetiva. Não havia ninguém além dele no recinto. A noite ia alta. Levi tomou o material necessário e

57


debruçou-se na escrita, em lágrimas de emotividade, enquanto revivia nitidamente as suaves e doces manifestações de Jesus entre os homens. Blandina.

58


59


Interesse Quando acompanhamos no Evangelho as curas ou os atos de benesse, percebemos o interesse de Jesus, que de nenhum detalhe se esquece. Se suas mãos iluminadas e augustas, partem o pão material, de seus lábios em doces lições, surge o alimento espiritual. O Senhor cura e consola o coração deixando-nos uma profunda lição para um trabalho criterioso e ideal Quem quer ser verdadeiramente caridoso diligente, útil e bondoso, precisa desenvolver interesse integral. Lúcio de Abreu

60


Capítulo 7 Interesse

Tadeu “Senhor, de onde vem que hás de manifestar-te a nós, e não ao mundo?” João 14:22 A diretriz do interesse deve iluminar-nos o coração nas lides da educação. Caminhando pelas letras do Evangelho, ficamos emocionados com o acompanhamento de Jesus aos passos de seus discípulos. Seja nos fatos decisivos ou nos pequenos acontecimentos do dia a dia, a presença de Jesus era patente, sempre interessado nas realizações de seus discípulos. Se o espírito questionador nos encaminha para a descoberta da raiz de determinados problemas, o interesse é a alavanca da solução. Temos testemunhado, nos dias de hoje, em que a ciência avulta o raciocínio, a formação de técnicos em explicações e soluções e certo esfriamento do interesse real de espírito para espírito. Citamos, anteriormente, o esforço que se emprega em conter, e não em educar, propriamente, uma criatura. Fujamos de tais teias, onde tantos se enganam ou se perdem. Interessemo-nos, verdadeiramente, individualmente, intensamente, pelos nossos educandos, sem, contudo, ter a pretensão de solucionar problemas.

61


Estamos nos referindo ao interesse caloroso e carinhoso que aproxima as almas. Referimo-nos ao interesse em ensinar e em aprender, em conquistar e em doar, em observar e em informar.

O Apóstolo Tadeu Tadeu, também chamado Lebeu, é considerado, segundo as tradições seculares que regem a denominação católica, o grande solucionador das “causas difíceis”. Esta tradição foi herdada do grande interesse desse valoroso apóstolo pela solução dos problemas graves. Normalmente, no colegiado apostolar, era um dos primeiros a interpelar Jesus sobre a interpretação das parábolas que eram citadas aos muitos que o procuravam. Relembramos, com muito respeito, o exemplo de Tadeu, assim como o de Judas, o Iscariotes. Em razão da estagnação de nossos preconceitos, Tadeu, por se chamar também Judas, foi por longo tempo esquecido da história do Cristianismo. Sigamos seu exemplo de interesse e de acompanhamento, o exemplo daquele que foi imolado em nome da causa que esposou como ideal de vida. Lúcio de Abreu.

62


Comentário da Passagem “Senhor, de onde vem que hás de manifestar-te a nós, e não ao mundo?” João 14:22 Judas Tadeu questionou mediante a revelação de Jesus quanto aos trabalhos do Consolador e quanto à necessidade da perseverança de nossa fé nos caminhos que trilhamos. Nós, muitas vezes, afirmamos convictos que o Cristo nos pertence ao modo de nossa interpretação. O questionamento de Tadeu é, recorrentemente, um questionamento do mundo Cristão, porém, no intuito de monopolizar Jesus nos ideais de um seguimento em particular. Quantas vezes julgamos que o Cristo apenas se manifesta segundo a nossa visão e os nossos anseios, em detrimento dos outros cristãos, que também clamam por Ele em suas convicções, ainda quando divergentes das nossas? Nós, muitas vezes, afirmamos convictos que o Cristo nos pertence ao modo de interpretação. Ora, isso nos define a situação mental pouco afeita à vivência das luzes evangélicas. Onde existe a atitude partidarista ou sectarista, é sinal de que Jesus ainda não se manifestou nos corações dos discípulos; afinal, onde o Cristo se manifesta, todas as coisas, todos os conceitos, assim como toda a vivência, se renova, se transmuda. Ser-nos-ia, então, muitíssimo proveitoso questionar: – Senhor, onde haverá de manifestar-se a mim? A resposta advém dos ensinamentos evangélicos: – Manifestar-me-ei, filho, no refúgio do sentimento modificado pela vontade firme no Bem. Aos cristãos, como nós mesmos, principalmente

63


aqueles que guardam a honra da tarefa da disseminação das verdades consoladoras do Evangelho de Jesus, cabe o interesse de adentrar as veredas íntimas como precursores de nossa própria ascensão. Devemos estabelecer, em nossas atitudes, a manifestação de Jesus ao mundo. Eis que são os tempos do Consolador, quando Ele retorna em palavra e vida, amor e fé, ao mundo sedento e saudoso que O aguardava na confusão de seus caminhos. Que Jesus manifeste-se, através de nossas ações pequeninas e dos minutos de vigilância e disciplina, para que, em tempo oportuno, com nossa vivência substancialmente verdadeira, possamos dizer como Paulo: – Já não sou eu que vivo, mas é o Cristo que vive em mim. Bezerra de Menezes.

História de Tadeu A cena aterrorizante se desdobrava no altar pagão. O sacerdote equivocado observava os restos carnais do apóstolo que vivia os últimos momentos. Conjecturava que havia feito o melhor, desferindo golpe certeiro no adorador do Carpinteiro. Lebeu estava reduzido a retalho carnal, desfigurado pela violência. Sentia-se consciente ainda, mas as forças se esvaíam rapidamente. A visão se lhe turvava. Quis falar, talvez gritar o nome do Mestre amado, no momento de sua entrega. As dores calcinantes lhe embargavam o pensamento, mas ainda assim sentia-se feliz. Perseverara até ao sacrifício, ali, no altar pagão, juntamente com o 64


irmão de fé. Sim, havia dado a si mesmo por amor ao Mestre. Quando sentiu as próprias forças faltarem, vislumbrou augusta luz, que se formava próxima aos seus despojos. Era Jesus! O Mestre viera ver-lhe e receber-lhe no seu Reino! Lágrimas de indefinível emoção acorreram os seus sentidos. Não podia falar, mas sabia ser ouvido. – Tadeu, Tadeu, veja as maravilhas do Reino de meu Pai – Disse Jesus, sorrindo. Tadeu observou que a atmosfera mudara. Vozes angelicais cantavam hosanas ao seu redor. Não havia mais dores, nem tão pouco via seus despojos despedaçados. Entretanto, via o machado que lhe tirara a vida física, iluminado por luzes que não compreendia. Estava estranhamente de pé. Procurou Jesus e não mais O via, mas sentia-se desfalecer em braços carinhosos. – À luta, segue-se o merecido refazimento, filho... – ainda pôde ouvir. Adormeceu Lebeu, para despertar mais tarde para dar continuidade ao trabalho da Boa Nova. Conhecido por sua firmeza e coragem, disciplina e objetividade, Tadeu continuava o servo fiel. Um dia, em conversação com outros companheiros de ideal, em local de trabalho na vida Maior, inquiriu, interessado: – Eu gostaria de saber sobre o destino daquele que me permitiu o testemunho para o Mestre. Por onde andaria este irmão? – Tadeu, o companheiro, após o momento de seu martírio, curvou-se ao peso da própria consciência, da qual tentou em vão fugir. Caminhou entre os homens, tentando olvidar o inolvidável e perambula agora em plano extrafísico, sofrendo os prejuízos de si mesmo,

65


sem permitir, de nossa parte, maiores auxílios. – Seria possível a oportunidade para eu tentar auxiliá-lo? Com o consentimento dos seus companheiros, durante muitos anos acompanhou e auxiliou o verdugo, que demorou para perceber-lhe a presença. Permaneceu na incumbência, até que, em um dia glorioso, acompanhou comovido o resgate daquele irmão. Em prece de agradecimento, Tadeu curvou-se e pôde sentir a presença do Mestre, a tocar-lhe os ombros com a destra. – Tadeu, eis que a ventura do Reino alcançou em tua alma sismos de percepção. – Mestre, eu posso sentir... – Sim, Tadeu, o maior de todos os mandamentos que vos deixei – “Que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”– nos permite ver a face de Nosso Pai. Blandina.

66


67


Zelar pelo bem Zelar pelo bem não é brigar, na defesa de nossa Doutrina. pois nenhum opositor poderá parar, a marcha de uma Revelação Divina. Zelar pelo bem é vigiar, o meu próprio procedimento. de maneira que minhas ações, retratem o meu devotamento. Se quero ser considerado zeloso, nos padrões Cristãos de vivência, o maior cuidado eu devo ter, com o que constitui a minha essência. Lúcio de Abreu

68


Capítulo 8 Zelo

Simão Cananeu “O zelo de tua casa me devorará.” João 2:17 – Salmos 69:9

Salientamos o zelo, dentre as responsabilidades do educador. Todos aqueles que são adeptos da Doutrina Espírita, por meio dessa citação evangélica sentir-se-ão automaticamente direcionados ao zelo espiritual para com os seus educandos. Sem dúvida, carecemos zelar pelo espírito daqueles que seguem nossas diretrizes. Havemos de cuidar do aspecto vibracional, semeando os ensinamentos de Jesus nas almas de nossos educandos, através dos recursos que nos são dispostos, em nosso caminhar. Havemos de cultivar as boas obras, as virtudes, as palavras moralizadoras, as atitudes coerentes e cristãs. Entretanto, devemos compreender que uma preocupação não anula a outra. O zelo espiritual não nos retira a responsabilidade do zelo emocional e material, do zelo psicológico, do zelo total. Jesus, em momento algum, deixou de zelar por todos nós, em todos os sentidos. Em sua vida pública, zelou pela semeadura do Bem e da moral, sem descuidar do zelo físico. Espargiu as Bem-Aventuranças e multiplicou os pães para a multidão faminta. Com os nossos educandos, não nos percamos 69


destas diretrizes: agasalhar, para aquecer o corpo e o espírito; alimentar a alma e o organismo físico. Nossa meta é equilibrar os dois polos, ordenadamente, com sensibilidade e disciplina.

O Apóstolo Simão, o Cananeu

Simão era um dos mais velhos discípulos em idade terrestre. Seu nome – Cananeu, em Grego; Zelote, em Aramaico – significa, em ambos os casos, zeloso, cuidadoso. Pouco citado nos Evangelhos sinóticos, foi, também, pouco compreendido pelos cristãos, que não o conhecem. Este apóstolo é a caracterização do cuidado, do zelo. Na obra extraordinária “Boa Nova”, do apóstolo Chico Xavier, no capítulo 9, podemos ler a narração de um fato interessante: durante a pregação de Jesus, o zelo de Simão salvou duas crianças de se perderem nas águas do Tiberíades. Sejamos, pois, como Simão: cuidadosos dos assuntos do espírito, zelando também pelos assuntos do plano material sem que haja detrimento do primeiro. Lúcio de Abreu.

70


Comentário da Passagem “O zelo de tua casa me devorará.” João 2:1 O apontamento evangélico refere-se à lembrança da citação de Salmos pelos discípulos, após Jesus expulsar os mercadores do templo. Essa atitude de Jesus é muitas vezes lembrada por algumas mentes menos afeitas aos estudos, como prova de descontrole ou ira. Na verdade, a atitude de Jesus nada possui nesse sentido. Entretanto, podemos aferir que sua iniciativa foi muitíssimo ousada, uma vez que ele agiu perante os judeus, em cujas mãos, como nas dos romanos, estaria o poder temporal. Jesus agiu independente das ameaçadoras circunstâncias. Ora, não é este justamente o papel do evangelizador? Dentre as muitas objetividades da tarefa, não cabe ao evangelizador auxiliar o espírito a dar os devidos valores às inúmeras ferramentas que a misericórdia de Deus nos faculta? Não é papel do educador de almas auxiliar os evangelizandos a separarem, em setores específicos de aprimoramento, as oportunidades que jorram do Pai aos filhos, em todos os campos da atuação dos espíritos milenários? Quando depreendermos verdadeiramente a significação e abrangência do zelo, atuaremos ousadamente em todos os labores que nos são afeitos: • No zelo próprio, de maneira que nosso templo íntimo esteja resguardado pela prece e pelo hábito dos bons pensamentos. • No zelo para com as nossa manifestações, para que não sirvamos de pedra para o tropeço daqueles que nos compartilham a existência, quando dificultamos,

71


por nossas atitudes desconexas, a compreensão do Evangelho em sua pureza. À medida que cada um de nós não profanarmos o que é sagrado no campo das palavras; não materializarmos o que é imaterial no campo das atitudes; não escandalizarmos o que é puro no campo dos pensamentos – mantendo a voz gentil e educada, as atitudes disciplinadas e equilibradas, a conduta misericordiosa e rica em perdão –, estaremos trabalhando para o nascimento do zelo mais complexo. Esse zelo nos consumirá de tal modo que nossa ousadia será a fuga à inércia, filha da estagnação mental que vemos tão amplamente induzida em nosso meio. Então, nós expulsaremos os mercandejadores íntimos, adquiridos pelo automatismo negativo ao qual nos entregamos ao longo dos séculos, e que tanto nos dificulta a entrada no “Lugar Santo” onde nos encontraremos com Jesus. Bezerra de Menezes.

História de Simão Cananeu Naqueles dias, os olhos de Simão, o Cananeu, pareciam tomados por estranhas fulgurações. Os amigos o observavam zelosos e carinhosos, mas seus olhares não escondiam a cogitação de que a idade havia entorpecido a clareza de pensamentos do ancião venerado. A verdade é que Simão jamais sentira-se tão lúcido. Sua mente transitava célere entre as duas realidades: a objetiva e a transcendental. Às vezes, ao seu redor podia escutar vozes argênteas, vindas das regiões da vida verdadeira, declamando Salmos ou fazendo apontamentos preciosos, quando ele se entregava ao estudo das anotações de Levi. 72


Divisava paisagens excelsas, que se misturavam às paisagens da Terra. Nessas horas, ansiava por ver ou ouvir o Mestre, de quem a saudade imensa lhe confrangia o peito. Apesar da preocupação dos companheiros, tomava as funções do púlpito com desassombro, e sua palavra, sempre apaixonada, arrebatava os corações para aquele Messias adorado. Aguardava ansioso o coroamento de sua vida na entrega incondicional a Jesus. Mas era prematuramente idoso. Suas forças não lhe permitiam os serviços necessários à demonstração de coragem. Caminhava sustentado pelos braços dos companheiros e exigia deles largas doses de paciência e tolerância por seus passos lentos; mas seguia sempre, aguardando o trabalho das pequenas coisas. Naquele dia, ele e Lebeu eram aguardados no templo do deus estrangeiro. Justamente aquele dia em que mal se conseguia manter fixo na realidade mundana. Seu coração estava tomado de estranho júbilo. Vez por outra, via junto a si a figura de Tiago, filho de Zebedeu – o apóstolo jovem e corajoso que fora supliciado na lâmina de uma espada – lhe acariciando a face. – Vejo Tiago, o filho do Trovão – disse a Lebeu, que carinhosamente segurou suas mãos venerandas. – Estás cansado, meu bom Simão. Se quiseres, descansa um pouco; cuido dos serviços da propaganda hoje – disse-lhe, acariciando sua face. – Mas necessito caminhar, Lebeu. Aguardo Jesus, ansioso. Sei que te sobrecarrego nos serviços, tu que me desvelas o carinho filial, mas a verdade é que não posso deixar de caminhar. Lebeu tocou o ombro do amigo e disse: – Simão, não cogites assim! Não digas novamente

73


semelhante absurdo. Escuta, tens razão. Necessitamos caminhar. Iremos juntos aos serviços e tu me sustentarás com tua palavra. Vem... Seguiram os dois amigos de trabalho. Em seus passos, luzia a caridade ensinada pelo Mestre, que consentia que suas mãos ministrassem curas e consolo. Naquele dia, o machado calou a voz dos dois discípulos do Senhor, a golpes de impiedade. Ao tombar no solo, Simão sentiu-se cair nas areias macias de Cafarnaum. Ergueu a fronte, extasiado. Sorveu aquela brisa conhecida e levantou-se cheio de vigor. Sim, estava na mesma praia em que vira o Mestre tantas vezes proferir a lição das estrelas. Caminhou um pouco e viu imensa luz se formando. Era Jesus! Caiu de joelhos e, como uma criança ansiosa, estendeu-lhe os braços e disse, entre soluços: – Oh, Senhor! Vem, Jesus! Jesus o abraçou carinhosamente. – Eu não mereço, Senhor! – O pranto de Simão era de uma saudade imensa. Aninhou-se como criança indefesa no peito de Jesus, tomado por uma alegria enorme. – Vê, Simão, que o Evangelho do Reino renova todas as coisas. Tu, no mundo, eras Simão, o nacionalista que ansiava libertar Israel do jugo romano. Hoje, depois de tua conversão, és Simão, o universalista que deseja libertar o homem, teu irmão, do jugo de si mesmo. Jesus acariciou a face do apóstolo com infinito carinho. – Achaste no mundo a alegria da utilidade, a vitória do serviço de toda hora. Viste que para ser fiel no muito é necessário servir no pouco. Agora, Simão, venho 74


buscar-te, porque apraz a meu Pai que ingresses em tarefas maiores ainda no meu Reino. Foste conhecido na Terra como Simão, o Zelote. Doravante serás chamado Simão, o Zeloso! E seguiu Jesus em direção às estrelas distantes, apoiando nos braços o apóstolo Cananeu. Blandina.

75


Bom Ânimo Lutas - as temos em toda parte. obstáculos – hão de nos afrontar. Mas, se sabemos que estamos com Jesus não podemos jamais desanimar. Tudo que é bom pede luta e esforço por isso Jesus pede para perseverar. Se somos trabalhadores na sua Seara, não podemos nos deixar desanimar. Bom ânimo trabalhador, que Jesus te chama. para o quinhão que te cabe, na implantação do amor. Se sabemos que o Mestre está conosco, Não desistas! Bom ânimo! Ergue-te e vem! Lúcio de Abreu.

76


Capítulo 9 Bom Ânimo

Bartolomeu “No mundo passareis por aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” João: 16:33 “Tende bom ânimo” – nos exorta o Cristo de Deus. Bom ânimo traduz-se por alegria, vitalidade, esperança. Na educação, devemos escutar esta afirmativa dentro de nossos corações. Torna-se necessário encorajar-se e manterse firme diante das aflições que o mundo oferece aos nossos corações e aos corações de nossos educandos. Quando nos decidimos pelo caminho do Bem, naturalmente o “mundo”, ainda mergulhado no imediatismo, oferece-nos a face dos obstáculos e das experiências que são instrumentos da renovação. Se, trabalhando para a própria educação, é assim que acontece, que pensar do trabalho de autoeducação na educação de almas? Virão as experiências, por vezes, aflitivas. Mas não nos enganemos com a face obscura da situação; tenhamos bom ânimo, pois o labor no Bem garante apoio e construção a nosso favor. Lembremo-nos de Jesus em seu trajeto luminoso no planeta: Com bom ânimo, abraçou o trabalho na carpintaria; com bom ânimo, instruiu os discípulos

77


sobre as realidades do Reino de Deus; com bom ânimo, entendeu nossa infância espiritual, auxiliando-nos sempre; e com o mesmo bom ânimo, trilhou o caminho do martírio para deixar-nos o exemplo inesquecível. Tenhamos bom ânimo em nossa tarefa, nos momentos ensolarados de alegria, e nos momentos da tempestade e da angústia. A vitória no Bem é para os que perseveram até o fim.

O apóstolo Bartolomeu Segundo o capítulo 8 do livro “Boa Nova”, Bartolomeu era um exemplo de dedicação. Procurava estar sempre com o Cristo, em suas funções. Com o coração antes dilacerado pela incompreensão das angústias do mundo, encontrou em Jesus a alegria de viver e tornou-se exemplo de bom ânimo na luta contra as próprias dificuldades. Foi citado no Evangelho de João, com a afirmação de Jesus como “homem sobre quem não há dolo”. Também no Evangelho de João, capítulo 1, versículos 45 a 50, Natanael pergunta a Jesus: – Donde me conheces? E Jesus lhe responde: - Antes que Felipe te chamasse, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira. Bartolomeu então diz a Jesus: – Rabi, és o Filho de Deus; és o Rei de Israel”. Tomemos este exemplo de Bartolomeu, antes entristecido pelas angústias do mundo e, depois, revivido na alegria do Evangelho. Bom Ânimo! Alegria de Viver! Lúcio de Abreu

78


Comentário da Passagem “No mundo passareis por aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” Jesus – João 16:33 Quando resolvemos seguir Jesus, depois dos desenganos e inutilidades que aglomeramos nas eras transcorridas, sentimos que o mundo – este mundo no qual nós mesmos espargimos nossas energias mais densas, nossos pensamentos mais arraigados e nossas intenções menos dignas de ontem – nos apresenta óbices múltiplos, em decorrência dos automatismos aos quais nos atrelamos. Observando tais obstáculos, não é improvável que aflições nos adentrem o terreno dos sentimentos, esculpindo-se, então, em nosso campo mental, o desânimo e a letargia emocional. Ora, o Mestre, sabendo de nossas dificuldades, estende-nos os braços amorosos nas trilhas em que percorremos. “Tende bom ânimo” parece, à primeira vista, redundante, mas é que o Mestre queria deixar claro o tipo de energia que devemos desprender de nossa vontade para empreender a luta interior contra os vermes do desânimo – que nada mais é que o orgulho em doses periódicas – e a energia necessária para edificarmos o Bem nos nossos pensamentos mais singelos, de maneira que nossa palavra esteja sempre imantada pela alegria de viver. Ora, Jesus venceu o mundo e deixou-nos a trilha iluminada de Seu amor, para que o sigamos, destemidos. O que poderemos temer, se Jesus nos aguarda a resolução de braços abertos? Não temeremos doravante, pois que reconhecemos que jamais faltará recurso àquele que se empenha no Bem.

79


Eia, evangelizadores! O Mestre aguarda nossos passos à maneira de esteio amoroso. Bezerra de Menezes.

História de Bartolomeu Bartolomeu era uma figura admirável. Possuía uma conduta reta e ilibada e hábitos austeros, autênticos. Qualquer pessoa que travasse conhecimento com ele se admirava da retidão do seu caráter e da sinceridade de suas crenças. A essas características, o apóstolo aliava uma simplicidade quase infantil, no campo da espontaneidade, e uma doçura ímpar, no trato com os sofredores. Bartolomeu trazia nos olhos um fulgor diferente, uma força desconhecida, além do que, eles pareciam estar sempre sorrindo. O apóstolo pregava a Boa Nova com um entusiasmo contagiante e uma alegria estruturada na fé. Parecia estar sempre aguardando a visita inesperada do Messias adorado, cujo nome lhe suscitava intensas emoções benéficas. Assim era o “Israelita em quem não há dolo”, nas palavras de Jesus; alma fervorosa, corajosa, que não se intimidava, mesmo diante da ferocidade dos homens. Ali estava ele, encolhido na laje fria, alquebrado e enfraquecido pela prisão ignominiosa e injusta, com o mesmo olhar sorridente, aguardando a hora extrema. A mente de Natanael Bartolomeu vagava por esferas diferentes da fétida cela onde jazia o corpo dolorido. Recordava-se nitidamente da lição, da alegria que Jesus lhe ensinara, naqueles tempos inesquecíveis, quando seu coração estava assolado pelo desânimo. Nunca mais fora o mesmo! Recordava-se de Jesus mediante as mais diversas 80


situações. Sua palavra estava sempre tocada de júbilo e esperança. Nem mesmo na ceia derradeira, deixou o Mestre de cantar com os amigos alguns Salmos, ainda que sob emoções profundas. Não era ele, Natanael, um discípulo da Boa Nova? Não foi seu convívio com Jesus uma sinfonia de perfeitas e imensuráveis alegrias, de tal modo que lhe sustentariam em todos os transes da vida? Que seriam a prisão e o testemunho, além de pequenos segundos de aflição mediante a certeza de uma felicidade real com Jesus? Nessas conjecturas, os olhos de Natanael fulguravam. Pareceu sentir suave carícia na face descorada. Um cheiro familiar despertou-lhe os sentidos. Imensa saudade invadiu-lhe o peito. Natanael fechou os olhos e fez íntima prece. Ao abrir os olhos, visualizou uma senhora, que conduziu sua cabeça enfraquecida ao seu regaço, com imenso carinho. – Mamãe! Mamãe! – Natanael prorrompeu-se em soluços, agarrando-se à mãezinha querida. – Meu filho! – Disse-lhe a mãezinha, afagando-lhe os cabelos. – Ouve, filho. Em breve estarás no Reino que pregaste com tanto amor. – Oh, Mamãe! Quanta alegria! Anseio reunir-me a ti e a Jesus, os meus maiores tesouros do coração. Não sabes como me honro... – Filhinho, sempre foste corajoso. A mamãe o sabe, mas necessitarás arregimentar tuas forças, pois o mundo ainda expulsa a golpes de impiedade aqueles que muito amam! Vem, filhinho, para que saibas que a mamãe estará contigo a todo momento, pois assim permitiu-me o Senhor de nossos passos. Suporta, alma minha, com coragem, o cálice que te oferecerão... A nobre senhora trazia os olhos obnublados de pranto.

81


– Mamãe, eu não temerei, podes confiar... – Sim, filho meu! Aguarda o Mestre que soubeste tanto amar, para que Ele te conduza novamente aos braços da sua mamãe, que te ama! Ia responder Natanael, mas foi arrancado da visão reconfortante por rude carrasco, que o conduziu ao local das torturas. Caminhou o apóstolo cambaleante, mas resoluto. Durante seus tormentos físicos, infligidos para que abjurasse Jesus, manteve-se com tal serenidade que constrangia seus agressores. – Abjura, infeliz, o feiticeiro Galileu! – Não posso! – Respondia Natanael, fatigado. – Abjurarás! Tenho poderes para mudar-te a conduta mental! – De certo, possuirás nesta sala instrumentos que me estraçalhem o corpo, mas não reconheço em ti poderes que me façam renunciar ao Senhor Jesus! A cada novo flagelo, Natanael procurava, ansioso, a visão do Mestre. Sentia as suaves mãos maternas balsamizando suas dores. Em certo ponto, o algoz, irritado com a inflexibilidade do apóstolo, mandou que o esfolassem como pena suprema, mas Natanael Bartolomeu suportou heroicamente e continuou vivo. Sentia que a fraqueza da morte o rondava, enquanto o algoz, agora sensibilizado com o apóstolo, lhe dizia quase suplicante: – Abjura, homem! Para que isso acabe. – O Senhor ...Jesus...é o...Meu...Pastor! Murmurava, com esforço. Nesse momento, Bartolomeu pôde ver que duas mãos se impunham à sua frente, como a lhe pedir um abraço. Olhou-as e percebeu que nelas havia as chagas características da crucificação. Em meio a uma emoção que não poderia ser descrita, Natanael ergueu os olhos. 82


Lá estava Ele. Era o Mestre adorado, com o mesmo sorriso amável. – Vim buscar-te, Bartolomeu. O apóstolo intentou responder, mas o verdugo, já tocado por um constrangimento desconhecido, mandou que finalizassem aquele espetáculo de extrema covardia e eliminassem a vida da vítima. Natanael, após um leve impacto, deixou-se cair nos braços de Jesus. – Bartolomeu, deixa no mundo o corpo que te serviu de instrumento de luta, para que vossos irmãos transviados do caminho melhor possam fitar nele a inutilidade das próprias convicções ilusórias. Em verdade, possuis a veste nupcial e entrarás para sempre no regozijo das bodas do Reino de meu Pai. Suave torpor tomou conta das forças de Natanael, que sentia-se adormecer nos braços de Jesus. Antes de entregar-se ao sono, o apóstolo tocou a face do Senhor, como a averiguar de que Ele realmente ali estava. – Senhor, eu agora posso verdadeiramente sentir a alegria do Reino! E Jesus partiu com o apóstolo, conduzindo-o ao refazimento. Blandina.

83


Espírito Questionador Questionar é buscar conhecer Profundamente sobre alguma questão. Duvidar é não aceitar um ensinamento Mesmo que este esteja embasado na razão. Questionando, buscamos agigantar A nossa bagagem de conhecimento. Duvidando, só vamos conseguir Confundir nosso pensamento. Espírito questionador está ligado Ao raciocínio, bom senso, discernimento. Dúvida é fruto da confusão Sentimentalismo, orgulho e endurecimento.

84


Capítulo 10 Espírito Questionador

Tomé “Senhor, não sabemos para onde vais; e como poderemos saber o caminho?” João 14:5 Ao empreendermos a tarefa educacional, necessitamos desenvolver espírito questionador. Buscar o porquê das coisas, a origem, o contexto. Desenvolver o gosto por descobrir, desvendar, aquilatar conhecimento, empreender pesquisa. O educador é um questionador por excelência. Mas, vejamos bem, estamos falando de questionamento, não de dúvida. Há que se demarcar a fronteira entre estes dois conceitos. Ninguém que possua a incumbência de educar poderá furtar-se a mudar os próprios hábitos tantas vezes quanto se fizer necessário, até radicalmente, se preciso for.

O Apóstolo Tomé

O apóstolo Tomé, também chamado Dídimo, é um exemplo vivo de espírito questionador. Este apóstolo nos traz, em sua vivência, a confirmação de que o espírito questionador, se mal administrado, se não embasado em raciocínio lógico e sentimento equilibrado, pode suscitar a dúvida, que em nada ajuda.

85


É célebre a passagem em que Tomé pede confirmação ao Mestre da autenticidade de Sua aparição. Mas não nos lembremos deste venerável discípulo em seu momento de dúvida. Recordemos sua perseverança inigualável, que nos confirma a certeza que lhe inundava o coração. A certeza, que foi constituída por um espírito de pesquisa e de busca constante. Iluminemos nossos passos na inigualável exemplificação de Dídimo que foi martirizado por volta do ano de 53, conforme as tradições humanas. Na educação, estejamos sempre dispostos a nos inteirar, o quanto pudermos, a respeito da matéria e do objetivo que pretendemos ensinar. Lúcio de Abreu.

Comentário da Passagem “Senhor, não sabemos para onde vais; e como poderemos saber o caminho?” João 14:5 O questionamento de Tomé ao Mestre guarda algumas características muito próprias do discípulo que anseia por seguir o Mestre, mas encontra em si mesmo dúvidas oriundas da inexperiência quanto aos ensinamentos e à supremacia moral do mesmo. Ansiamos ardentemente segui-Lo, mas ainda não compreendemos aonde vai o Cristo. Queremos a indicação formal do caminho a seguir, afeitos que ainda somos ao menor esforço. Ora, basta estudarmos com atenção os sinais das escrituras do Evangelho, e eis que encontraremos o melhor caminho a seguir: amando aos nossos 86


inimigos, perdoando aos ofensores, amando incondicionalmente, sem aguardar recompensa, servindo a todos, sem distinção, trabalhando incessantemente pelo bem comum, dedicando-nos às pequenas coisas e aos pequeninos labores, com proporcional interesse que pelos grandes feitos, fazendo a parte que nos cabe, sem guardar pretensão de mudar ninguém, guardando a disciplina e a autovigilância. Muitas vezes, guardamos a intenção de acharmos algum atalho no caminho da autoiluminação. E questionamos Jesus sobre o caminho, de maneira que nossa responsabilidade se restrinja a do seguidor que não pode discernir. O Mestre, com sua doçura imensurável em sua lógica Divina, e por nos conhecer o imo das intenções, responde-nos, como respondeu a Tomé no versículo 6 do mesmo capítulo: “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim”. Para conhecermos o caminho, devemos nos empenhar em conhecer Jesus, através de Sua palavra registrada nos escritos apostólicos, roteiro de iluminação imprescindível. Bezerra de Menezes.

História de Tomé Naqueles dias, Tomé trazia dentro de si presságios insondáveis, e certa angústia, emoldurada de saudade, lhe anestesiava os sentimentos. Ultimamente, no trabalho da propaganda evangélica, trazia na voz um acento especial que comovia seus ouvintes até as lágrimas. Quando se referia ao martírio do Mestre, compungia-se enormemente, não ocultando a descrença nos companheiros que asseveraram o ressurgimento

87


do Messias, que vencera os umbrais da morte. – Meus irmãos, eu duvidei! – Exclamava entre lágrimas, em suas pregações. – Depois de tudo o que vi, de todas as maravilhas, de todos os sinais... Mas Ele veio até mim e me mostrou as chagas, que eu toquei, e então eu senti. Eu creio! Eu vos atesto. É Ele, o Messias. Tomé fixava os olhos no alto, como se procurasse nas regiões celestiais o Mestre adorado. À noite, não conseguira conciliar bem o sono e dedicava-se a meditar nas anotações e nos textos da Lei para preparar os argumentos do dia seguinte na modesta igreja que fundara próxima a Madras. As perseguições eram constantes. As ameaças eram muitas. Mas Tomé prosseguia. Naquele dia em especial, estava ainda mais pensativo. Recordava-se de Jesus carregando a cruz do martírio em silêncio, com as chagas visíveis dos maustratos sofridos. Aqueles olhos adorados encobertos de sangue, todo o corpo em chaga viva. E a mesma firmeza e ternura de sempre. E ele, Tomé, disfarçado na multidão, temendo o poder temporal. Dos lábios do Mestre, na última frase ao seu coração, nenhum reproche, nenhuma crítica. O sinal do céu é o completo sacrifício de nós mesmos. Recordou o Mestre Redivivo, as suas chagas, que ele tocou e sentiu. Ajoelhou-se no chão da igreja, em lágrimas. – Senhor, quisera eu ter aceitado a cruz contigo! – murmurou em prece. Tomé ouviu um estranho som e sentiu algum objeto trespassando-lhe as carnes. Uma dor imensa o fez cambalear, mas levantou-se. Novamente foi atingido. Virou-se e pôde ver os soldados do rei lhe deferindo flechas envenenadas. A dor o fez cair novamente de joelhos. Com os sentidos alterados, ia gritar em angústia 88


terrível, quando sentiu uma suave mão tampando delicadamente os seus lábios com os dedos. Levantou o olhar e... – Oh! – verificou que era Jesus, à sua frente. – Tomé, não grita, para que a tua vida fale mais alto. O apóstolo levou as mãos ao rosto de Jesus, extasiado. – Senhor! Estás aqui... Os soldados lhe perceberam os gestos e lhe ouviram as palavras, mas nada viam, além dele mesmo. Jesus sustentou-lhe, porque caía para frente, sem forças. Enquanto seu corpo distendia-se no chão com enigmático sorriso nos lábios e estranha fulguração de paz no olhar, Jesus o levava nos braços. – Tomé, eis o sinal mais forte de nosso Pai aos seus filhos: justamente quando algum homem cumpre a vontade de Deus, sem vacilar. – Senhor, quisera não ter duvidado... – Em verdade, meu filho, a tua dúvida da primeira hora foi o alicerce da tua convicção hoje, pois o Reino do Pai é obra no sentimento. O material, cada filho traz em si, e a Providência tudo renova. Com um gesto muito carinhoso, Jesus afagou a cabeleira do apóstolo, que se animara, sonolento, em seus abraços. – Descansa, filho, com a paz dos que cumprem o dever. Foste fiel e creste. Doravante, tua vida será como sinal do céu entre os homens. Blandina.

89


Coisas Novas Retalho novo em roupa velha, com o tempo a desfigura. O Evangelho transformará o Mundo, quando transformar a criatura. Luz escondida debaixo do alqueire, não cumpre sua destinação. O Evangelho renovará o mundo, quando renovar cada coração. Todos sonhamos com um mundo, de paz, concórdia e amor. Mas um mundo assim é apenas reflexo, da renovação de cada morador. Lúcio de Abreu

90


Capítulo 11 Disposição para a autorrenovação

Filipe “Eis que faço novas todas as coisas.” Apocalipse 21:5. Esta, talvez, é a mais trabalhosa diretriz a ser seguida por quantos realizam trabalhos de educação e evangelização. Possuímos uma capacidade de inércia muito grande, traduzida pela rotina e estagnação. Mas todos aqueles que desejam educar ou autoeducar-se necessitam renovar ideias, caminhos e conceitos errôneos. O Mestre Jesus nos diz em Seu Evangelho: “Vós sois deuses”, indicando nosso potencial luminífero. Entretanto, diante de nossos enganos ficamos mais presos à autoflagelação ou ao vitimismo do que ao esforço de modificar e renovar nossas atitudes. O Evangelho nos ensina um caminho de mais trabalho e atitude no Bem, por meio da reflexão e do aprimoramento, não nos cabendo mais a estagnação na culpa. Sigamos Jesus, que renova todas as coisas, com seus ensinamentos eternos.

O Apóstolo Filipe

Filipe, o venerável apóstolo de Betsaida, está marcadamente presente em muitos pontos do Evangelho, sendo um dos discípulos mais atuantes. 91


Em seus primeiros passos na nova revelação, vêse a evolução do polêmico e fervoroso defensor das palavras de Jesus – à custa, às vezes, da rigidez – para o apóstolo símbolo da retidão de caráter. No capítulo 1 do Evangelho de João, vemos este discípulo chamando Natanael para ver Jesus, aquele de quem João Batista havia falado e, diante da interpelação do companheiro, dita apenas: “Vem e vê”, demonstrando a personalidade deste apóstolo nos seus primeiros passos na renovação com o Senhor. A sequência de sua vida, como pregador do Evangelho e mártir, faz-nos observar neste apóstolo, a estruturação de uma imagem confiável, renovada à custa do esforço em viver nos moldes evangélicos, conforme foram contados pelo Mestre dos Mestres. Lúcio de Abreu.

Comentário da Passagem “Eis que faço novas todas as coisas”. Apocalipse: 21:05. Este versículo evangélico que encontra-se no Apocalipse é muito atual. Em meio à grande transição de nossa amada Terra, eis que surge, para aqueles que abraçam a 3ª revelação por ideal de vida, a oportunidade de refletir acerca da renovação de nós mesmos. Renovar significa tornar-se novo outra vez, dar novas forças, confirmar. Contudo, muitas vezes, confundimos o conceito de renovação com inovação. Renovação é o papel da Doutrina Espírita, conforme depreendemos da leitura da questão 627 de O Livro dos Espíritos, que define que cabe a nós descortinar os ensinamentos de Jesus. Ora, para isso é necessário 92


que conheçamos estes ensinamentos; sobretudo as pessoas que aderiram à tarefa da evangelização de almas. Quem, ao tomar contato com as palavras de Jesus, não se renovará? Conforme o apóstolo Paulo afirmou, aquele que está em Cristo, nova criatura é. (2 Coríntios 5:17). Estar em Cristo... Nós estamos em Cristo ao realizar nossas atividades? Deixamos que as palavras de Jesus, à maneira de bálsamo, nos penetre o sentimento, quando nos propomos a levar estes mesmos ensinamentos aos que nos escutam? Essa seria a nossa renovação. Entretanto, muitas vezes estamos mais preocupados em inovar, quando os tempos nos pedem para renovar. Queremos impor, quando nossa tarefa é expor. Que teríamos nós a inovar, depois que Jesus, o Governador de nosso orbe, veio à sombra da carne grosseira a ensinar-nos o Evangelho, que é o código moral do universo e da criação? Alguns dirão que a reforma é sempre mais ruidosa e mais trabalhosa que a nova construção, porque, como espíritos milenários, gastamos os séculos em construção do desnecessário e do perecível. Nos tempos atuais, em que urge tomarmos posição, necessitamos nos empenhar na reformulação daquilo que erigimos, muitas vezes, à custa de suor e lágrimas. A melhor estratégia será sempre seguir Jesus, que renova todas as coisas com Seu toque de amor. Bezerra de Menezes.

93


História de Filipe Filipe, o velho apóstolo da Betsaida, há vários dias estava tomado por lúgubres perspectivas. Secreta voz dizia-lhe que a estadia no corpo não tardaria a se encerrar, não pelas portas do decesso natural do desgaste, mas dentro do programa do testemunho, conforme alguns dos companheiros de apostolado já haviam experimentado. Debalde, as filhas e os amigos tentavam demovê-lo da atmosfera introspectiva em que o venerando companheiro de Jesus conservavase, enquanto fora dos trabalhos da pregação e do atendimento. A imponência de Hierápolis, bem como suas maravilhas naturais, já não conquistavam a atenção de Filipe, que pensava, pensava... Não eram novidades as perseguições gratuitas, as ameaças e agressões, as quais ele sempre encarou corajosamente. Porém, o íntimo lhe avisava que aqueles dias seriam decisivos. Entregara-se aos trabalhos com uma emotividade enorme e pensava nas filhas com preocupação. Certa noite, após um dia intenso de trabalho na propaganda do Reino, onde visivelmente desagradou autoridades da cidade, dentro da sinceridade que lhe era peculiar, o apóstolo conservava-se em seus aposentos, envolto em sentimentos de preocupação. Rememorava a atitude desrespeitosa com que um dos que desagradou com a palavra incisiva observava uma de suas filhas, apesar de ela já se tratar de veneranda senhora. Os pensamentos de Filipe analisavam dolorosamente a atitude de idêntica concupiscência quanto as outras miseráveis jovens que lhe seguiam os passos apostólicos e preocupava-se sobremaneira. 94


“Enquanto aqui estou, a ferocidade desses homens ainda se mantém sob certo controle; porém, quando me for, o que será dessas pobres irmãs?” Seu íntimo não o enganava. Em breve estaria na nova vida. Em sua angústia, de repente lhe ocorreu que se apartando do mundo, reencontraria o Mestre. Uma enorme saudade de Jesus confrangeu-lhe o peito. Não era justamente o testemunho em nome do amor imenso por Jesus que ele desejara desde o dia angustiante do calvário? Vivera até ali procurando atender aos Seus doces ensinamentos, de maneira a merecer a suprema honra, de modo que a sua fuga naquele dia, o seu abandono ao Senhor, não mais lhe doesse na consciência. Queria ardentemente dar, por Aquele que tudo lhe dera, inclusive a própria vida, em nome do Reino de Deus. Mas e as filhas? E os irmãos e irmãs que dele dependiam? Tantos jovens, viúvas, órfãos, homens e mulheres miseráveis que lhe constituíam a família do coração... O que seria deles? Filipe, com a espontaneidade de uma criança, ajoelhou-se no aposento e elevou ao alto os olhos marejados, dizendo: – Senhor, peço-te auxiliar-me neste transe com Tua palavra sempre esclarecedora, e da qual tenho tanta sede. Que fazer, Senhor? Quero entregar-te a vida em oblação completa e anseio estar no Teu Reino, mas meu coração está inquieto por aqueles que me confiaste, nos caminhos da pregação, que constituem agora uma parcela do meu coração. É justo abandoná-los à sanha de lobos vorazes? Não seria razoável prezar pela segurança destes, antes de partir? Que providências tomar, afinal? Que devo fazer para o cumprimento dos deveres de pai, irmão e amigo que me cabem? Senhor, peço-te, auxilia-me... Filipe, em um arroubo de emoção, percebeu que, na solidão do aposento pouco iluminado, uma luz safi

95


rina se formava à sua frente. Ficou estático. Não conseguia mover-se. Apenas chorava silenciosamente. A luz cresceu e tomou forma. Era Jesus! Em uma atitude carinhosa, colocou a destra na fronte do apóstolo, que o observava boquiaberto. Filipe murmurou apenas: – Senhor... – e prorrompeu em soluços, enquanto cobria a face com as duas mãos. – Filipe, realmente aproxima-se o momento de Eu vir buscar-te para o Reino. – Oh, Senhor! Que mais eu poderia desejar? Extasiado, o apóstolo a custo recordou das conjecturações íntimas. Lembrou-se dos receios quanto à segurança dos irmãos de ideal. Ergueu os olhos e fitou o Mestre, que o olhava carinhosamente e, quando intentou falar, Jesus lhe disse: – Filipe, todos somos invariavelmente filhos do Pai e o Pai é Perfeito. Nenhum filho permanece descuidado de Sua providência. – Mas Senhor, homens inescrupulosos rondam as pobres mulheres que aqui se refugiam. Não lhes devíamos defender a honra? – Nobre cometimento. Mas acaso haverá honra maior que servir ao Pai Celestial no tempo devido? Jesus afagou a cabeleira branca do apóstolo, em breve pausa. – Tu citas as mentes enfermas que se acercam deste agrupamento, mas não serão eles, igualmente teus irmãos? Não são filhos de Deus essas criaturas, e não carecem também eles de teus cuidados e carinhos? Filipe respirou profundamente, mediante os argumentos do Mestre. Jesus continuou: – Além disso, por que temer, meu filho, os que apenas podem ferir os corpos? Não são eles os mais miseráveis dentre todos, porque jungidos às ilusões do 96


mundo? Filipe, encontro-te preocupado com os sãos, ou com os convalescentes, e descuidado dos doentes. Pois não vim senão para eles. Compadece-te, filho, rogando ao Pai que os ampare. E deixa os cuidados dos filhos de Deus ao Magnânimo, quando perceberes que, dentro das tuas responsabilidades, não tens os recursos de solução. – Senhor, eu compreendo. – Incita os que te ouvem à coragem e à perseverança para alcançarem a fé desassombrada. Auxilia-os a edificar a certeza no Reino, para que não temam os embates do mundo, e os estará defendendo do mal, pois o mal não os alcançará. Segue, enfim, confiante que, em breve, nos reuniremos em meu Reino. Filipe nada mais fazia que chorar. Viu que a figura de Jesus foi-se desvanecendo lentamente, até desaparecer. Um ânimo novo se instalara no seu coração. No dia seguinte, Filipe estava de humor renovado. Entregou-se ao trabalho com alegria e destemor, pregando o Reino com exortações à fé, à vigilância e à entrega pessoal que arrebatavam pela nota de emotividade de Suas palavras. As filhas e os amigos o acompanhavam, fortalecidos. Daí a alguns dias, Filipe e as filhas enfrentaram o martírio com uma fé tão grande que confundia os adversários. Enquanto Filipe, na vida nova, era recebido pelo amplexo carinhoso de Jesus, em Hierápolis, os irmãos da igreja choravam a falta do valoroso apóstolo. Acima de seu túmulo, nasceu nova igreja, para perpetuar as palavras de Jesus para a edificação do Reino de seu amor inesgotável. Blandina.

97


Superação No Evangelho nós aprendemos, que é preciso sempre ir além. se nós não praticamos o mal, precisamos praticar o Bem. Se praticamos o Bem, que bom! Mais um passo na Evolução. Mas evolução não para nunca, pede sempre superação. Se convivemos com os desafetos, eaprendemos a suportar, a superação, porém nos chama, a ir mais além e amar. Diante de um ofensor talvez já saibamos nos calar. Porém, a superação nos convida, a ir mais além e abençoar. Afrontado por um adversário, se eu já aprendi a não revidar, a superação me aconselha, A ir mais além e perdoar. “Vós sois deuses” – diz o Evangelho, Indicando nosso potencial latente. que a superação convida a desenvolver de forma gradual e consciente. Lúcio de Abreu.

98


Capítulo 12 Autossuperação

Judas “Não vedes tudo isso? Em verdade vos digo que não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada.” Jesus – Mateus 24: 2 O educador, além da capacidade de autorrenovação, dentro dos padrões dos sentimentos que traz em seu íntimo e das dificuldades que deve transmutar em virtudes para tal fim, deve atentar-se ao impositivo da autossuperação. A renovação é o processo de transformação de obstáculos íntimos em habilidades adquiridas. A autossuperação deve procurar atingir os patamares além dos limites desta transformação de caracteres. É por essa razão que Allan Kardec, na questão 917 de O Livro dos Espíritos, define educação como a arte de “Formação de caracteres”. A transformação é apenas uma etapa. Devemos ir além. Mas como superar certos aspectos de inferioridade que trazemos cristalizados em nós? Como é possível que espíritos inexperientes no Bem, como nós, superem aquilo que ainda não conhecem? – perguntará o discípulo, preocupado. Ora, poderíamos questionar, também, como um espírito puro como o Mestre pôde vencer as barreiras vibratórias da animalidade para encarnar-se em corpo grosseiro, sendo Ele luz em estado de pureza. Não

99


existem barreiras que impeçam a vontade do espírito em nenhuma direção. Se nos dispusermos à autorrenovação, com esforço e disciplina, estaremos nos ligando, automaticamente, à fonte das bênçãos inesgotáveis de Deus. Se avançarmos um passo apenas a cada dia e cada minuto, no sentido de nos superarmos nas oportunidades do dia a dia, a Providência Divina, como o pai do filho pródigo, que o buscou na metade do caminho, nos alcançará e nos auxiliará. Ao evangelizador, principalmente, é imprescindível que esteja disposto à superação de si mesmo, para que os prepostos de Jesus o inspirem no grave trabalho que desempenha. Espelhemo-nos em Judas Iscariotes, o grande símbolo da autossuperação que o Evangelho nos apresenta e o conhecimento da Doutrina nos completa. Se, em superando-nos na luta diária, deixarmos que Jesus adentre a casa íntima, não haverá pedra – como símbolo de nossa dureza de coração – sobre pedra que não seja derribada – como símbolo de reconstrução.

O Apóstolo Judas Iscariotes Marcado pelas gerações por causa da traição, o nome de Judas, para nós, que temos contato com a Doutrina esclarecedora, é sinônimo de capacidade de renovação. Se antes inseguro e imaturo nas coisas espirituais, renovou-se nos séculos posteriores, marcando-se como mártir e patrono da nação onde a Doutrina Espírita iniciou seu caminho de renovação da humanidade. De Judas a Jeanne, a Pucela de Lorraine. Por este espírito magnífico, que deixou-nos a lição de que a renovação interior é trabalho árduo de cada um, manifestamos nossa admiração e gratidão. 100


Tenhamos em nós esta disposição para a mudança necessária em nosso íntimo, nos padrões do Evangelho. Lúcio de Abreu.

Comentário da Passagem “Não vedes tudo isso? Em verdade vos digo que não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada” Jesus – Mateus 24:2

As anotações de Levi quanto ao sermão profético de Jesus são sempre oportunidades inigualáveis na aquisição de valores relacionados ao raciocínio e ao sentimento, seja em matéria de educação íntima, ou na tarefa de educação das almas. Neste versículo, Jesus chama a atenção dos discípulos, deslumbrados com a pompa e preciosidade da estrutura do Templo, para a transitoriedade das construções humanas destinadas à materialização de sentimentos à Divindade. Eles estavam diante do Templo, símbolo da soberania espiritual do povo hebreu, mas que não passava de um símbolo. “O Reino de Deus não vem com aparências exteriores” – advertiu-nos Jesus, seguramente. Jesus nos chama à edificação interior. Ora, esta é uma grande advertência aos educadores, expositores, evangelizadores, pois devemos admitir que nossos discursos, muitas vezes, estão mais embasados em símbolos do que em vivências. Nós estamos mais atrelados aos automatismos do discurso do que à prática daquilo que pregamos. Na verdade, essa postura é natural nos processos de evolução da criatura humana; porém, devemos 101


admitir que – cristãos que somos, ligados aos trabalhos da 3ª Revelação – o tempo urge e não cessa. Não possuímos mais a desculpa de não conhecermos nossas responsabilidades, porque já nos encontramos semidespertos diante das nossas consciências. Cabe-nos, portanto, uma postura de maior responsabilidade frente à grave tarefa que desempenhamos, por misericórdia do Pai Soberano. Ao nos prepararmos para nossas incumbências, necessitamos aurir maiores construções, e que estas sejam imortais, deixando de lado as construções inúteis da simbologia e materialidade sem razão. Devemos, como educadores, adaptar o ensinamento ao aprendiz, respeitando-lhe as limitações mentais, emocionais e físicas, mas nos cabe apresentar Jesus com a pureza e liberdade que lhe é peculiar, usando como ferramenta o esclarecimento que a Doutrina dos Espíritos nos faculta. Estejamos certos que, ao nosso redor, por nossa própria melhoria e pela melhoria de todo o planeta no campo das ilusões, não ficará pedra sobre pedra, que não seja derribada pela luz da verdade contida no Evangelho de Jesus. Bezerra de Menezes.

História de Judas Iscariotes Ao iniciar a caminhada, a jovem pisava na barra da longa vestimenta que fora obrigada a vestir, empapada de combustível para facilitar as chamas. Estava esquálida e desfigurada, com a marca das longas fomes estampada no rosto. Os hematomas eram visíveis, denotando os maus-tratos infringidos pelos ditos servos de Deus. As grossas correntes pesavam-lhe enormemente, mas caminhava. Os cabelos lhe foram rapados de maneira brutal. 102


À frente, a multidão na praça gritava: - “Feiticeira! Herege!” Mas seu coração estava tranquilo. Suas vozes lhe haviam prometido libertação após todo esse tempo imensurável de maus-tratos e inquéritos. Parou no meio de local pré-determinado e viu o cadafalso cheio de lenha a acenar-lhe com o martírio. Um dos sacerdotes levantou-se e leu a peça de acusação e condenação à morte na fogueira. Estremeceu. Recordara-se que acreditava na libertação prometida. – Então é isso? – disse tristemente. – Condenaram-me? Queimarão-me? Onde há um crucifixo, para que eu tenha a derradeira consolação? – Inquiriu humildemente. Grossas lágrimas lhe invadiram a visão. Foi quando percebeu nobre dama acariciando-a. – Coragem! A libertação se aproxima. De súbito, um refrigério acalentou a sua mente. Viu que um dos julgadores aproximou uma cruz do cadafalso. Foi levada e amarrada em silêncio. Pensamentos lhe discorreram rapidamente o campo mental. A cruz aproximou-se. Pareceu vê-la enorme e pensou em Jesus. Sim! O Senhor a havia chamado desde cedo, através das vozes queridas. As chamas iniciaram-se. – Eu vos perdoo – disse, com uma paz imensa. A fumaça a entorpecia, mas podia ver imensa luz se formando. - Era tudo verdade! Minhas vozes não mentiram. Por fim, só pôde gritar o nome do Cordeiro Divino, e desfaleceu. Sentiu-se carregada por mãos amigas até – não se sabe quanto tempo depois – acordar em campo belíssimo. Nobre entidade observava carinhosamente. Levantou-se; sentia-se diferente. O nobre amigo acudiu

103


lhe com carinhosa assistência. – Por quem sois, podeis me explicar por que me sinto tão diferente? – Creio, alma querida, que em ti estão as melhores respostas. Vinde comigo. Foi conduzido à margem de um lago onde se ajoelhou e viu-se no espelho d’água. – Oh! – Exclamou em lágrimas. Suas feições transmutaram-se para um homem trajado à maneira da época de Jesus. – Judas, meu amigo, concedeste à tua consciência o perdão que ansiava? O apóstolo ergueu-se e asseverou: – Em verdade, conquistei a paz, finalmente. Abraçou o amigo jubiloso e caminhou pela margem. Percebeu que alguém se aproximava a certa distância. Judas não pôde mais caminhar, pois percebera se tratar de Jesus. Jogou-se-lhe aos pés, em pranto convulsivo. – Senhor, Senhor! Perdoa-me! Eu não soube te amar e sucumbi ao peso da bolsa, mesmo após teus carinhosos avisos. Jesus levantou o apóstolo e abraçou-o carinhosamente. – Em verdade, Judas, conquistaste a libertação de ti mesmo nas lutas redentoras, no perdão de ti mesmo. Regozija, Judas, pois estás restituído à vida verdadeira. Tu te apartastes da vida e de ti mesmo nas vacilações em que te entregaste, mas jamais eu me apartei de ti ou te afastaste de meu amor! Ergue-te, filho, e trabalha, pois apraz ao Pai que as terras que ajudaste a libertar recebam o consolador prometido em tempo oportuno. Judas contemplou as paisagens que o Mestre querido lhe apontava e amou-as um tanto mais, a partir daquele momento. 104

Blandina.


105


106


Galardão Mateus 10: 1- 42

E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e para curarem toda a enfermidade e todo o mal. Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: O primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Lebeu, apelidado Tadeu; Simão o Zelote, e Judas Iscariotes, aquele que o traiu. Jesus enviou estes doze, e lhes ordenou, dizendo: Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos; Mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel; E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai. Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos.

107


Nem alforjes para o caminho, nem duas túnicas, nem alparcas, nem bordão; porque digno é o operário do seu alimento. E, em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai saber quem nela seja digno, e hospedai-vos aí, até que vos retireis. E, quando entrardes nalguma casa, saudai-a; E, se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz. E, se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para o país de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade. Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas. Acautelai-vos, porém, dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas; E sereis até conduzidos à presença dos governadores, e dos reis, por causa de mim, para lhes servir de testemunho a eles, e aos gentios. Mas, quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós. E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai o filho; e os filhos se levantarão contra os pais, e os matarão. E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo. Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acaba108


reis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem. Não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor. Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos? Portanto, não os temais; porque nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se. O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados. E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo. Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos. Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus. Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; E assim os inimigos do homem serão os seus familiares. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim 109


não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou. Quem recebe um profeta em qualidade de profeta, receberá galardão de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá galardão de justo. E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.

110


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.