Rui Ribeiro, Hoje, canto cá!

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Queria um disco acústico de sonoridade camerística, impregnado de brasilidade rural, com DNA pernambucano mas ancestralidade e amplitude universais. Sem didatismo ou submissão estética. Celebrando o prazeroso e volátil dom de cantar! Juntos comigo nesta jornada, Sebastian, Percy, Tomás, Valdemir, Sérgio e Júlio, maravilhosos pássaros de alma viajeira e canto instrumental. Cúmplices diletos, sempre dispostos a novos vôos musicais. Sem eles nada teria acontecido com tamanha delicadeza e apuro. Eis, enfim, o belo registro testemunhal desse momento interativo de criação. Vamos seguir pelo ar, soando por aí, pelo etéreo e vital desejo de soar! Rui Ribeiro


Ariano - Instrumental

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(Rui Ribeiro)

Homenagem a Ariano Suassuna

Passarinho

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(Rui Ribeiro)

Passarinho na gaiola, Dá até dó de escutar! Canta com dó de quem, fora, Solto, não sabe cantar! Passarinho, é de dar pena, Vê-lo preso e não no ar! Pena tem de quem, sem pena, Livre, não pode voar! Passarinho passa o tempo Como um disco na vitrola! Foge o canto, vai com o vento, Lá de dentro, ele decola!


Fantasias de uma caixinha-de-música (Rui Ribeiro)

Baila, rodopia numa perna só, Elegante, esguia, dançando um rondó! Dona do holofote, Ao luar do spot E eu, de camarote, pra vê-la melhor! Boneca de talco, musa do balé, Passeia no palco, na ponta do pé! Veste a sapatilha. Sola a seguidilha. Será de Sevilha? De onde ela é? Leve borboleta paira pelo ar, Segue a opereta, a habanera! Na noite de gala, Salta, abre escala: O seu mestre-sala aonde andará? Frágil, pequenina, tão angelical, Uma bailarina presa ao pedestal! Dentro da caixinha, Girando sozinha, Sonha ser rainha do Municipal!

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Aurora

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(Rui Ribeiro)

Quando o sol bem cedo se levanta, Sabiá ainda canta pra acordar-te, Aurora! Diante do espelho das marés, O Capibaribe aos pés, Resplandeces como outrora! Do Recife, serás sempre o seu cartão postal, O porta-retrato da beleza natural! Minha Aurora, musa da Veneza tropical, Desde os tempos idos de Nassau! Do alvorecer ganhaste o nome de mulher, Por ser a primeira a ver o astro-rei de pé! Quando o céu sobre a manhã põe seus olhos azuis, És a preferida dos raios de luz! Quando o sol desmaia, finda a tarde, Cai a noite na cidade, tantos males já se viu! Gangues e moleques sem escola, Bangue-bangue, gente esmola Pelas ruas do Brasil! Sirenes, buzinas, passarinhos, nem um pio. As tuas esquinas, pontes, poetas de brio, Prédios e sobrados, sobras do teu casario, Adormecem à beira do rio!


Além

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(Rui Ribeiro)

Não, não vai se repetir o que já foi. Nem pode haver um clone de nós dois. De novo, o novo amor virá depois, Pra me dizer que o peito não morreu. Se um raio ousar cair no mesmo breu, Não será mais você ao lado meu! Tivemos bons momentos, nosso bem. Mas tudo passa e a gente também. O coração tem que ir além! Ao que inda vem! Tem!


Baião da retirada

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(Rui Ribeiro)

Pedra, pau e sol à pino, o pó da estrada... Sigo sem destino, bato em retirada: Agreste jornada! Céu azul, aberto, a longa estiada... Ao redor, deserto, meio-dia em brasa E eu longe de casa! Meu rumo é incerto, não vejo chegada! Solidão por perto! Só silêncio! Nada! Pelo chão deixo pegada! Pelo ar levo a canção! Passo de ema, que a vida segue apressada, No groove dessa pisada, no pique do coração! Que nem cinema, entra o tema do personagem, Com o tempo vou de viagem: Som! Câmera! Luz! Ação! Parece filme meu Baião!


Alvorecer

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(Percy Marques e Rui Ribeiro)

Clareou, a minha vida feito o alvorecer! Fulgurou de amor, querida, meu olho ao te ver! Como o sol já se anuncia, resplandece na manhã, Veste o dia com seu manto de ouro e lã! Encantou, encheu de cor, luziu na escuridão! Lumiou, como um pavio, o breu do coração, Um lampejo de alvorada, matinal raio de luz! És, amada, flor da aurora que reluz! Um anjo despencou lá do céu, Coberto de esplendor, claro véu! No meu caminho entrou, fez o mundo acender, Foi chegando como fosse amanhecer, Qual astro-rei, celeste farol! Flertei com um luminar girassol! Brilhou no horizonte a feminina fronte, Um rosto de mulher, semblante do arrebol! Eis-me, enfim, diante de ti, formosa aparição! Dentro em mim, deu de fulgir a flama da paixão! São só teus, iluminada, o botão que me seduz, Versos de alma raiada que compus!


Toada pra lua cheia

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(Rui Ribeiro)

Pra ser tocador quem não foi à escola, Nem pinho traz na sacola, No ventre do tronco, entalha! De corda de arame faz a viola, Em vez de afinar, amola, Soando no ar, retalha! Com a unha afiada do sentimento, Dedilha seu instrumento, Na beira do rio se isola!

Sob o manto escuro da madrugada, Se a lua dorme entocada, Um som de metal consola! Essa companheira de pau e aço, Que se deita entre dois braços, Dolente, trina e ponteia! Sem trégua, do oco do seu regaço, Ecoa no breu do espaço, Num céu de cristal passeia! Espalha nos cantos por onde for, As cantigas de mato e flor, Estrada de pedra e areia! Tirando loa, sossega a alma, Tocando na noite calma, Toada pra lua cheia! Quem toca à toa, sossega a alma, Tocando na noite calma, Toada pra lua cheia!




Pois é, Josué! (Rui Ribeiro)

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Dedicado à memória de Josué de Castro

Pois é, Josué, Você foi e o tempo passou, Por aqui pouca coisa mudou, Desde que pro exílio partiu! Pois é, Josué, A miséria consome, Tanta gente nem come, Vive à margem, na lama do rio! Pois é, Josué! Você disse, ninguém escutou, Que somente com pão e amor, Menos armas e mais pro plantio! Pois é, Josué, Sofre quem muito sabe E professa a verdade, Desafia os que tem poderio!

Pois é, Josué, Triunfou a maldade, Foi preciso morrer de saudade Pra voltar pro Brasil! Pois é, Josué, Quantos mortos sem nome! A geografia da fome É um mapa-múndi sombrio! Pois é, Josué, Será que valeu à pena? Inda morre criança pequena Com o abdome vazio! Pois é, Josué!


Tambores silenciosos

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(Rui Ribeiro)

Orquestra de alfaia no chão troveja! Vestido de gala, calunga na mão, O rei, a rainha e a corte negra: Salve o gingado da minha nação! No reino de Momo, uma noite inteira, O povo no Pátio faz louvação! À meia-noite da terça-feira, Tambores se calam na escuridão! Maracatu! A tua etnia é Bantu! Maracatu! Debaixo da umbela, eu e tu! Maracatu! Batuque de fé e paixão! O baque do teu coração é blue!


Vento negro

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(Di Assis e Rui Ribeiro)

Vento! Ondas, mares tropicais! Leva longe, aonde vais, Caravelas! Vento! Calmarias, vendavais! Vai e traz de volta ao cais, Brancas velas! Vento, quanto sofrimento! Galeões em movimento! No carregamento, negros nos porões! Bantos, congos e benguelas! Vento, vagalhões, procelas, Correntes marinhas, pretos em grilhões! Vento negro, sopra a embarcação! Larga o timão! Vento negro, mar de escuridão É a escravidão!

Vento! Oceanos, litorais! Teu destino é não ter paz! Vem e leva! Vento! Venta, perde tuas naus, Afugenta os tempos maus, Tange a treva! Vento, quanto sofrimento! Galeões em movimento! No carregamento, negros nos porões! Bantos, congos e benguelas! Vento, vagalhões, procelas, Correntes marinhas, pretos em grilhões! Vento negro, sopra a embarcação! Larga o timão! Vento negro, mar de escuridão É a escravidão!


Desamanhecer

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(Rui Ribeiro)

Foi alucinação? Um pesadelo meu? O sol dormiu no ponto, Se esqueceu! A noite é um embrião! O dia nem nasceu: Nenhum raio de luz Brilhou no breu! Terá sido ilusão? De fato, aconteceu? Manhã vestindo luto, Se escondeu! Ao léu, a escuridão Cobriu de negro o céu, Pôs sobre tudo Seu escuro véu! Canário não cantou, Nem flor, enfim, se abriu! Sereno prorrogou Silêncio e frio!

Aurora não pintou! Sem cor, nada fulgiu! O mundo despertou Sombrio! Quem sabe o coração Sob o peito bateu, Pra me lembrar Que ainda não morreu! Nem se apagou, em vão, A chama no meu eu: Dentro de mim Não desamanheceu!


Sina de cantar

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(Rui Ribeiro)

Ontem, lá, cantei. Hoje, canto cá. Amanhã, não sei Aonde irei cantarolar! Sei que sigo assim, Por todo lugar. Ânsia dá em mim, De, cantando, ir pelo ar! Cantor de jardim, Canta sem parar! Eu, também, Tenho, que nem passarim, Sina de cantar! Trina canarinho De manhã cedinho! Sabiá faz coro Com gogó de ouro! Sola curió, Cantador maior! Solto a voz aqui, por enquanto, Mas não canto só!


01 - Ariano

Violão de Sete Cordas - Percy Marques Violoncelo - Sebastian Poch Percussão - Tomás Melo

02 - Passarinho

Voz - Rui Ribeiro Violão de Sete Cordas - Percy Marques Violoncelo - Sebastian Poch Percussão - Tomás Melo

08 - Toada pra lua cheia Voz - Rui Ribeiro Violão de Aço de Seis Cordas - Percy Marques Violoncelo - Sebastian Poch Percussão - Tomás Melo Acordeom - Júlio César

09 - Pois é, Josué! Voz - Rui Ribeiro Violão de Sete Cordas - Percy Marques

03 - Fantasias de uma caixinha-de-música Violoncelo - Sebastian Poch

Voz - Rui Ribeiro Violão de Sete Cordas - Percy Marques Violoncelo - Sebastian Poch

Percussão - Tomás Melo

10 - Tambores silenciosos

04 - Aurora

Voz - Rui Ribeiro Violão de Sete Cordas - Percy Marques Violoncelo - Sebastian Poch Percussão - Tomás Melo Piano Acústico - Sérgio Godoy

05 - Além

11 - Vento negro

06 - Baião da retirada

12 - Desamanhecer

Voz - Rui Ribeiro Violão de Sete Cordas - Percy Marques Violoncelo - Sebastian Poch Percussão - Tomás Melo Voz - Rui Ribeiro Violão de Sete Cordas - Percy Marques Violoncelo - Sebastian Poch Percussão - Tomás Melo Voz - Rui Ribeiro Violão de Sete Cordas - Percy Marques Violoncelo - Sebastian Poch Percussão - Tomás Melo Sax Soprano - Valdemir Silva

07 - Alvorecer

Voz - Rui Ribeiro Violão de Sete Cordas - Percy Marques Violoncelo - Sebastian Poch

Voz - Rui Ribeiro e Di Assis Violão de Sete Cordas - Percy Marques Violoncelo - Sebastian Poch Percussão - Tomás Melo Voz - Rui Ribeiro Violão de Sete Cordas - Percy Marques Violoncelo - Sebastian Poch

13 - Sina de cantar Voz - Rui Ribeiro Violão de Sete Cordas - Percy Marques Violoncelo - Sebastian Poch Percussão - Tomás Melo


Gravado, Mixado e Masterizado no Estúdio Carranca (Recife/PE) De Maio a Outubro de 2014 Músicos: Violão de Sete Cordas e Violão de Aço de Seis Cordas - Percy Marques Violoncelo - Sebastian Poch Percussão - Tomás Melo Convidados: Voz - Di Assis Acordeom - Júlio César Sax Soprano - Valdemir Silva Piano Acústico - Sérgio Godoy Técnico de Gravação - Jorginho Maneiro Mixagem - Jorginho Maneiro Masterização - Carlos Borges Produção Artística - Rui Ribeiro Direção Musical e Harmonização - Percy Marques Fotografia - Glauce Oliveira Projeto Gráfico - Glauco Nobre Esculturas dos “Passarinhos” - João Silva (Delmiro Correia/AL) *Arranjos Compostos Coletivamente




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