Tecnologia e Educação

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Tecnologia e Educação


CAPA

Mercado de trabalho de X a Z

Por Cris Marques

Fotos: Banco de imagens

O mundo muda, dia após dia, e é inegável dizer que cada nova geração traz consigo características próprias que refletem diretamente em seu modo de agir e reagir aos demais. No mercado de trabalho, não seria diferente; afinal, essa geração Z já nasceu hiperconectada, acostumada a resolver as coisas na mesma velocidade de um clique e num contexto onde o “é pra ontem” e o “não dá pra esperar” imperam. Mas, se esse imediatismo e essa ânsia toda podem parecer um ponto negativo para alguns, saiba que existem empresas que conseguem enxergar isso como diferencial positivo. “A habilidade e intimidade com os eletrônicos e a velocidade da informação é algo natural para eles e, se pensarmos em um mundo conectado, com negócios gerenciados em tempo real e a tecnologia como ferramenta indispensável, ter em seu quadro de funcionários alguém que se sente ‘em casa’ utilizando tantos recursos tecnológicos, sem dúvida, é muito significativo’, afirma Elen Souza, assessora de carreiras da Catho, pioneira na oferta on-line de empregos. Essa juventude de agora é muito inteligente, esforçada e rápida, mas, na mesma velocidade em que podem entregar resultados, esperam receber os lucros, o que nem sempre acontece. Assim, essa classe profissional tende a buscar constantemente novas oportunidades de trabalho. “O mercado não acompanha, em sua totalida*Matéria publicada na RG 109

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de, os desejos dos jovens, ocasionando um desencontro de expectativas. Por serem bem novos, eles ainda precisam adaptar-se à forma como o mercado opera, para que as dores de iniciar e construir a própria carreira não sejam demasiadamente desestimulantes”.

O cenário perfeito

Segundo Elen, o grande desafio para as empresas é capacitar gestores que consigam estabelecer uma boa comunicação, despertar o comprometimento e criar vínculos com o profissional Z, um dos maiores desafios dessa geração. “É necessário que o mercado construa uma cultura organizacional, em que a diversidade seja vista como algo positivo, não ameaçadora. É claro que esses jovens terão que aprender com os outros funcionários, que estão acostumados com foco em resultado e metas, mas é preciso que essa maior interação deles com o mundo tecnológico e seu perfil multitarefas seja aproveitado. A possibilidade de ter os perfis X, Y e Z trabalhando juntos, alinhados e respeitando suas diferenças, com certeza, trará resultados expressivos”. 


CAPA

Alteração do modus operandi

Tiago Yonamine, CEO do trampos.co, plataforma de empregos, conteúdo e educação nas áreas de comunicação e tecnologia, acredita que as empresas ainda estão se acostumando com a entrada desses profissionais no mercado de trabalho e pecam justamente por esperar que eles tenham os mesmos comportamentos da geração anterior. “Apesar da diferença de idade entre as gerações Y e Z parecer pequena, há comportamentos específicos. Os nascidos após os anos 80 costumam levantar mais questões e buscar inovação. Já essa rapaziada nova, cresce num momento em que colaboração é a palavra-chave. Em tempos de redes sociais e economia colaborativa, como o Uber e o AirBnb, esses jovens buscam esse espírito de contribuição e coparticipação”. Ele afirma que, em pouco tempo, a geração Y será maioria nas corporações, seguidos pela geração Z, e que é preciso saber ouvir, entender e tirar o melhor de cada época. “A diferença entre on-line e off-line para os mais novos é inexistente; por isso é natural que sejam atraídos por empregos que utilizem essas ferramentas que eles dominam. Entretanto, já é visível que a entrada dessa juventude, até em carreiras mais tradicionais, está mudando as formas de trabalho. Por exemplo, no trampos.co temos ofertas de trabalho em startups na área de medicina, oferecendo tecnologia para o setor hospitalar”.

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Cabeça jovem

Entender a nova geração e, principalmente, agregar esse entendimento dentro do dia a dia das empresas pode ser um diferencial e tanto. É o caso da ação “Papo Cabeça”, desenvolvida pela Linea Brasil, especializada em racks, estantes, homes e complementos, que fica na região Sul do País. “Alinhada com as obrigações legais do governo em relação à contratação de jovens de 14 a 24 anos como aprendizes, atuamos aqui com o ‘Aprendiz Legal’. Mas queríamos ir além da obrigatoriedade e assim surgiu o ‘Papo Cabeça’, encontros bimestrais com essa turma, para debater temas como sexualidade, drogas, família, profissão, bullying e outros assuntos”, conta Wellington Fernandes, psicólogo organizacional da companhia e responsável por mediar esses papos. Para ele, ser ouvido influencia na forma como essa garotada se vê, se comporta e atua em sua função. Além disso, essas reuniões geram informações importantes de como a empresa pode agir e aproveitar o potencial de cada um. “Esse projeto busca tornar nossos jovens mais preparados para lidar com as experiências profissionais e, até, pessoais, além de contribuir no primeiro passo de suas carreiras. Também esperamos que eles possam, mais adiante, desenvolver atividades que contribuam para o crescimento da Linea, inclusive ocupando cargos estratégicos”, complementa. 


CURRÍCULO CURRÍCULO

NÉCESSAIRE NÉCESSAIRE

Mulher no mercado de trabalho Por PorCris CrisMarques Marques Fotos: Fotos:Rafael RafaelAlmeida Almeidaeearquivo arquivopessoal pessoal

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Pioneirismo Pioneirismo

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clickguarulhos.com.br


NÉCESSAIRE

Empreendedorismo feminino

Para Regina Yabu Pavanello, proprietária da Vital Odontologia há mais de 20 anos, primeira mulher vice-presidente de serviços da ACE-Guarulhos (Associação Comercial e Empresarial), em 50 anos da entidade, e diretora financeira do CME (Conselho da Mulher Empreendedora), a crescente presença feminina nos negócios é uma realidade incontestável, mas ainda existem obstáculos a serem vencidos. “O perfil mais humanista e multitarefa do sexo feminino tornou-se um diferencial importante no mercado. Algumas pesquisas já mostram que 51% das empresas brasileiras são geridas por mulheres. E isso tende a crescer. A mulher tem mais jogo de cintura, é mais sensível e também usa mais a inteligência emocional. Mas, vivemos em um país latino-americano, onde o machismo e suas barreiras culturais ainda predominam. O desafio é vencer essa dominação masculina”, avalia.

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O céu é o limite

Flavia Regina Giardini era secretária e não estava feliz com sua profissão. Então, aos 35 anos, resolveu correr atrás de seu sonho de criança. “Quando pequena, minha mãe me levava ao aeroporto de Congonhas para ver os aviões. Ali nasceu a vontade de pilotar. Após tomada minha decisão, não sofri com reprovações, mas ouvi muitas críticas por tentar uma nova carreira naquela altura da vida”. Ela conta que o primeiro curso que fez foi o de piloto privado, no Aeroclube de São Paulo (2009), cursando depois piloto comercial e instrutor de voo. “Não foi fácil: as aulas exigem dedicação e muito estudo; conseguir trabalho também não é fácil; hoje, por conta da cri-

se, está quase impossível”, afirma ela, que atuou por três anos como instrutora. Sobre o espaço da mulher no mercado de trabalho, a profissional acredita que a sociedade está no caminho certo, mas que a mudança leva um tempo para acontecer. “Não sofri preconceito na área, exceto algumas piadas de mau gosto que ouvi enquanto ainda estudava. [...] Como as mulheres estão quebrando paradigmas e, cada vez mais, ocupando cargos que eram tomados pelo sexo masculino, as crianças começam a ser educadas num contexto diferente. Com certeza, isso vai levar a um futuro com menos machismo e mais igualdade”, finaliza. 

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O mundo (literário)

é deles

om o incentivo, cada vez mais cedo, para que ler se torne um hábito na vida de crianças e adolescentes, é comum que outra paixão acabe sendo despertada nesse processo: a vontade de escrever. E é assim que diversos jovens começam a ganhar espaço no mercado editorial e invadir as prateleiras das livrarias. De acordo com Silvia Tocci Masini, editora da Gutenberg, a participação de escritores com menos de 25 ou 30 anos é um movimento em ascensão. “O jovem sempre falou o que pensa e, atualmente, as pessoas estão mais expostas, e querendo se expor. Isso não quer dizer que os de ‘antigamente’ não escreviam, mas as novas plataformas, principalmente a internet, fazem com que eles tenham um local para se divulgar”. Ainda segundo ela, hoje, quem vende a obra é o autor, por meio da relação que ele mantém com seus leitores. *Matéria publicada na Weekend 304

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“Se ele se movimenta bem na web e tem uma base sólida de seguidores, já tem metade do caminho andado. Claro que a outra metade do sucesso também se deve à qualidade dele como escritor”. Ana Beatriz Brandão, que acabou de completar 16 anos e já tem dois volumes lançados pela Editora Novo Século, “Sombra de um Anjo“ e “Caçadores de Almas”, começou do jeito clássico mesmo, mas entende a necessidade da rede para ampliar o alcance de seu trabalho. “Nunca imaginei lançar um livro, mesmo tendo escrito várias histórias. Mas, depois de terminar uma delas, dei para minha mãe ler e ela afirmou que precisávamos publicá-la. Então enviei para algumas editoras e quando recebemos resposta positiva de três delas, foi surreal. No início, pensava que só meus parentes e amigos comprariam. Quando comecei a receber mensagens nas minhas redes sociais

CAPA Por Cris Marques Fotos: Divulgação e Rafael Almeida

de pessoas de Manaus, Fortaleza, Curitiba e outros tantos lugares do Brasil e até fora dele, como em Portugal, fiquei chocada”. Ela, que começou seu interesse pela leitura com o clássico “O Pequeno Príncipe” e com gibis da Turma da Mônica e teve como companheiro dos tempos difíceis de escola o “Meu Querido Diário Otário”, conta que, apesar de acharem que a escrita é a parte mais difícil do processo, ela é na verdade a mais fácil de todas. “Depois é que o trabalho começa. No meu caso foram inúmeras revisões no original, muitas provas de capa e a ansiedade de ver o material pronto. Ah, e ainda tem a divulgação. Fazer com que as pessoas te conheçam talvez seja o mais trabalhoso de tudo. Tenho muita ajuda dos meus pais e, quando as coisas começaram a ficar muito grandes, contratamos uma assessoria de imprensa”.


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Com a filmadora e a caneta na mão Desde pequeno, Christian Figueiredo de Caldas, de 21 anos, já demonstrava sua paixão pela escrita e pelo vídeo. “Com 8 ou 9 anos de idade, eu pegava a câmera da minha mãe pra brincar de filmar. Fazia paródias de filme, jornal, novela. Depois dessas brincadeiras iniciais, foi que eu criei o ‘Eu Fico Loko’ [www.youtube.com/ euficoloko]. Na mesma época da infância, eu já escrevia diários e crônicas em cadernos normais. Depois eu os encapava e fazia tipo um livro de verdade. [...] Foi assim que usei minha paixão, o sucesso do canal e os contatos que fiz para realizar o sonho de lançar um livro de verdade”. Lançado pela Novas Páginas, o “Eu Fico Loko – As Desaventuras de um Adolescente Nada Convencional” ficou em primeiro lugar na categoria Não Ficção da lista da revista Veja e fez grande sucesso entre os jovens. “Foi tudo muito natural. Quando decidi realmente lançar o livro, levei algumas páginas pra editora e apresentei minha ideia. Eles gostaram do tema e do meu conteúdo. Depois que me lancei, algumas barreiras foram quebradas e vi muitas empresas da área indo atrás de outros criadores de conteúdo pra internet”.

Do www para o papel Rafael Godoy Moreira tem apenas 18 anos e, assim como Christian, começou sua história na internet. “Eu tinha um blog e nele escrevia meus pensamentos. Um amigo meu fazia a mesma coisa, só que em vídeo; aí ele me incentivou a migrar para o Youtube”. Em seu canal, o Me Apaixonei (www.youtube.com/CanalMeApaixonei), o jovem já tem quase 500 mil inscritos e esse foi um dos grandes fatores para o lançamento de seu livro. “Eu tinha alguns textos prontos e o que eu precisei foi estruturar tudo certinho, mudando um pouco a linguagem, sempre com o apoio da editora. Pra mim é incrível não ter nem 20 anos e um livro nas livrarias e é preciso ter muita ‘cabeça’ pra saber lidar com tudo isso”. No “Diário de um Adolescente Apaixonado”, igualmente lançado pela Novas Páginas e que, em poucos meses, alcançou o sétimo lugar na categoria Não Ficção da lista de Veja, é possível encontrar assuntos presentes na vida de qualquer um, como saudade, perda e relação familiar, de uma forma jovem e bem-humorada.

Cabine Literária e o movimento dos booktubers Danilo Leonardi, de 29 anos, também vlogueiro – quem mantém canal de vídeo na internet – e escritor, acredita no potencial da internet para movimentar a área literária. “Acho maravilhoso que exista gente jovem interessada em publicar livros, principalmente pessoas que têm um grande alcance de público. O mercado editorial precisa disso pra se manter vivo”. Além de seu canal pessoal (www.youtube.com/daniloleonardi) sobre sexo, relacionamento e lifestyle, Danilo integra a lista dos booktubers – usuários do Youtube que se dedicam a temas relacionados à literatura –, colaborando com a equipe do Cabine Literária (www.youtube.com/cabineliteraria), criado em 2010 como um canal de entretenimento e cultura dentro do mundo dos livros e que já conta com mais de 100 mil inscritos. Guarulhense, nascido e criado aqui mesmo na cidade, e autor da obra “Por que Indiana, João?”, lançada pela Giz Editorial, ele conta que todo o processo foi bem simples, exatamente pelo seu relacionamento com a editora. “A escrita levou seis meses e depois foram mais seis de produção”.


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Edson Rossatto

Livro coletivo e participação colaborativa Para os jovens (e pessoas de outras faixas etárias também) que têm uma boa história na cabeça e o sonho de ser escritor, algumas iniciativas podem ajudar, e muito, nos primeiros passos da conquista desse objetivo. É o caso do trabalho da Andross Editora (www. andross.com.br), com 11 anos, 90 coletâneas literárias e 2.100 autores publicados. Edson Rossatto, editor de livros da empresa, que publica exclusivamente esse tipo de material, conta que a ideia é exatamente a de orientar novos autores sobre o mercado editorial. “Ninguém começa na vida como presidente de uma multinacional. Você precisa instruir-se cada vez mais e trabalhar

muito para conseguir chegar a esse cargo. Assim também é no mundo dos livros. Digamos que as coletâneas sejam um estágio”. Duas vezes por ano, a Andross define os temas para os próximos lançamentos e recebe, via web, os textos dos interessados. Caso aprovado, a editora e o autor assinam um contrato para a publicação, que é lançada no evento Livros em Pauta (livrosempauta.com.br), de grande repercussão no setor. Outro ponto importante é a participação colaborativa: cada autor compromete-se a vender 20 exemplares do livro, ao custo unitário de R$ 20,90, forma encontrada para viabilização do projeto.

PARA COMEÇAR JÁ “Leia muito. E leia de tudo, não se prendendo a um único gênero. Tenha contato com a maior quantidade de textos e narrativas possíveis. Isso fará com que a sua escrita fique mais rica e completa. E também escreva sempre. A escrita é um exercício que exige muita disciplina e esforço”, Silvia Tocci Masini. “Não desista, estude muito, leia bastante, pesquise ainda mais. Trabalho, persistência, paciência e dedicação são as palavras-chaves para ser escritor”, Ana Beatriz Brandão. “Leia muito, trabalhe duro, e reconheça suas limitações”, Danilo Leonardi. “Comece a escrever. As pessoas costumam dizer que têm uma boa ideia para uma história, mas nunca se sentam para colocá-la no papel. Amigo, é só um conto e não um lançamento de foguete”, Edson Rossatto.

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Jônatas Ferreira, coordenador de conteúdo do portal Click Guarulhos, do mesmo grupo editorial da revista Weekend, lançou recentemente o conto de terror “Conto do Vigário Assombrado”, na coletânea “Legado de Sangue”, por meio da Andross, e acredita que essa é uma boa porta de entrada. “Você passa por todos os processos necessários, desde o contrato até o lançamento. É uma ótima dica para quem quer sentir o mercado e não sabe por onde começar”. Ficou interessado na oportunidade? Até o final de janeiro de 2016, estão abertas as participações para contos sobrenaturais, de suspense e terror, distopias, amor, vingança e coletâneas de poemas.



[ APLICATIVOS ]

Snapchat:

Por Cris Marques Fotos Banco de imagens e Arquivo Pessoal

o aplicativo das possibilidades

USO CORPORATIVO

S

empre que uma nova ferramenta chega é comum que os usuários passem por um período de adaptação e descubram, aos poucos, sua função. Assim como as marcas, que encontram nos apps e nas redes sociais espaço propício para o relacionamento com seu público. E mesmo que o Snapchat não seja necessariamente novo, o fato é que ele só ganhou espaço por aqui neste ano, boa parte por causa das polêmicas em torno do envio de nudes (fotos íntimas). Segundo Gabriel Madureira, diretor de marketing do Scup – uma das maiores aplicações de monitoramento, gestão e análise de mídias sociais para empresas –, o aplicativo parte de uma ideia muito simples, que é possibilitar o envio de imagens, vídeos e mensagens, de forma similar ao WhatsApp, mas sua grande diferença é que o conteúdo só pode ser visto uma vez, pois ele se ‘autodestrói’. “Atualmente, 70% do público ativo é de jovens de até 25 anos, que foram atraídos pela plataforma justamente pela falta de histórico e a troca de mensagens privadas sem deixar registro”. Ok, até aqui parece que a plataforma abre possibilidades para ações, digamos assim, não muito corretas, mas o fato é que depois da empresa sofrer algumas acusações, promover mudanças nos termos de uso e seus usuários ficarem mais atentos com relação à privacidade e segurança fornecida, ela começou a ser vista com outros olhos.

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*Matéria publicada na Weekend 305

Gabriel considera o app um ótimo canal para as empresas. “A Taco Bell divulga promoções-relâmpago e lançamentos. A Colcci criou conteúdo durante o São Paulo Fashion Week e a WWF, instituição de proteção animal, lançou uma campanha com fotos de animais em risco de extinção”. Mas não se engane, assim como em outras mídias, estar no Snapchat também exige estratégia. “As marcas precisam encará-lo como qualquer outro meio de comunicação. As ações precisam ser pensadas para fortalecer interações e criar relacionamento com o cliente. Se o consumidor tiver um perfil, então é preferível apostar em outros canais, como o Facebook”.

POR DENTRO DO SUCESSO Elisangela Franceschi Benedito, assistente de arte da Agência Mitrah, em Guarulhos, tem seu perfil há quase 1 ano e posta fotos e vídeos de suas cadelinhas, além de treinos da academia e alguns de seus desenhos. “O snap é legal para postar os bastidores daquela foto que do Instagram, por exemplo”. Ela acredita que o aplicativo faz sucesso justamente por permitir conteúdos tão diversos e pela presença massiva dos famosos, que mostram o dia a dia deles por lá. Mas não é só isso. “Hoje, ele é um dos únicos que ainda protegem o usuário da propaganda indesejada, aquela que, ao invés de ser eficiente, acaba sendo invasiva. Os anúncios dentro do aplicativo, se comparados com os demais, são quase inexistentes. As pessoas consomem o que elas querem e só seguem as marcas que desejam”, finaliza.


A escolha

CAPA Por Cris Marques Fotos: Arquivo pessoal e banco de imagens

da escola

scolher uma nova escola para os filhos ou até mesmo a primeira, no caso dos pequenos da educação infantil, não é uma tarefa fácil, mas, com reflexão, sensibilidade e bom senso, essa decisão se torna possível e assertiva. Anita Lilian Zuppo Abed (foto), psicopedagoga da Mind Lab e consultora da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) explica que não existe o local certo ou ideal e sim a melhor escolha que pode ser feita e que, para isso, pais ou tutores precisam se conhecer e conhecer a criança para depois buscar uma instituição de ensino. “As mais modernas teorias da aprendizagem mostram que as pessoas não aprendem todas do mesmo jeito; umas são mais criativas, outras mais lógicas ou até sentimentais. O ser humano varia muito de personalidade e, por isso, cada um precisa de um ensino diferente”. Para ela, uma boa forma de começar é pensar no que os psicopedagogos chamam de método do espelho. Assim, a família deve olhar para si mesma e questionar o que considera importante e quais são seus valores e, principalmente, quais as necessidades do menor. Depois vem a questão pedagógica: metodologia de ensino, material utilizado, profissionais, formas de avaliação... E, por fim, outros aspectos como custo-benefício, espaço físico, atividades extras, distância da casa e diferenciais. “Se eu tenho um filho extremamente criativo e que está sempre com uma ideia nova na cabeça, não adianta colocá-lo em um colégio tradicional; assim como um jovem com ‘papo cabeça’ e que gosta de fazer cálculos não vai se dar bem em uma escola alternativa. E não é só questão de não adaptação, essa inadequação pode gerar até mesmo um problema de aprendizagem reativo, ou seja, resultante de uma causa externa à estrutura familiar e/ou individual”.

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*Matéria publicada na Weekend 312


O INÍCIO DA VIDA ESCOLAR Com a rotina agitada das famílias e, em alguns casos, ambos os pais trabalhando fora, hoje em dia é comum que os filhos ingressem cada vez mais cedo na vida escolar. Fernanda Fernandes (foto), pedagoga e psicopedagoga, afirma que esse aspecto é importante, pois em casa nem sempre existe o estímulo ideal e contato com outras pessoas. “A escola sempre é positiva, pois leva a criança a explorar mais, viver novas experiências e se socializar”. Segundo ela, ainda no caso dos pequenos, alguns fatores específicos devem ser levados em consideração antes de bater o martelo. “Verifique se eles têm acompanhamento individual do desenvolvimento do aluno. Questione sobre os horários das reuniões de pais e mestres, se eles disponibilizam relatórios sobre as vivências, produções e aprendizagens e também sobre a proteção de todos os pontos potencialmente perigosos do prédio, para que não ocorram acidentes. Além disso, consulte alvará de funcionamento e também o certificado da Vigilância Sanitária, são itens importantes e que às vezes passam, pois nos preocupamos com outras coisas e nos esquecemos de averiguar questões um pouco mais burocráticas como essas”, alerta.

METODOLOGIAS DE ENSINO Um critério fundamental e que pode facilitar na hora da escolha é conhecer a linha pedagógica oferecida pela instituição. Por meio dela é possível entender o que o colégio usa como base para seu ensino e como lida com a individualidade da criança. “Para tomar a decisão usando esse critério, é importante verificar qual melhor se enquadra com o perfil do filho e a expectativa dos pais. Isso dá uma boa visão do que será desenvolvido quanto a senso crítico e repertório”, afirma Fernanda. Anita também reconhece a importância da decisão por meio das metodologias, mas defende que, por vezes, elas podem ser muito técnicas. “Isso é muito bom para quem é pedagogo; já para quem é leigo nessa área, como o pai, não necessariamente. Por isso, tem que ter uma boa conversa, ver o material didático que eles usam, questionar o que é mais importante e quais as prioridades”.

CONHEÇA AS LINHAS PEDAGÓGICAS MAIS COMUNS E SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS: Construtivista: baseia-se na construção do conhecimento, na qual o aluno é levado a criar hipóteses que fazem parte do processo da aprendizagem, de acordo com as fases de desenvolvimento do aluno. Tradicional: transmissão de conhecimentos para a formação geral do aluno e preparação para provas que exijam conhecimento acumulado, como Enem e vestibular. Montessoriana: baseada na pedagogia criada por Maria Montessori, na qual o aluno é incentivado a desenvolver o senso de responsabilidade pelo aprendizado, o trabalho é feito por agrupamentos em séries ou ciclos e tem como principal fator a individualidade. Waldorf: criada pelo filósofo alemão Rudolf Steiner, a ideia é que a turma seja acompanhada por um mesmo professor durante vários anos e que cada um aprenda de uma forma mais lúdica e de acordo com seu ritmo intelectual, físico e espiritual.

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VISITANDO A ESCOLA

DIFERENCIAIS

O PESO DA ESCOLHA

Conhecer, literalmente, a escola também faz parte das primeiras coisas que devem ser observadas. O momento também é propício para esclarecer toda e qualquer dúvida que tenha surgido até então. “O pai pode verificar a existência de locais amplos, com espaço para movimentação da criança, locais para as atividades específicas, materiais disponíveis para estimular a capacidade de cada faixa etária e a questão da segurança, como proteção de janelas, portas, quantidade de escadas e também acessibilidade”. Normalmente, as instituições de ensino disponibilizam um horário específico para isso, mas Fernanda também aconselha que sejam feitas visitas “surpresas”, para observar, de fato, o funcionamento, limpeza e rotina. Ela também indica que a criança não acompanhe os pais nas visitas iniciais, entrando no circuito apenas quando restar poucos colégios, para não dificultar ainda mais a decisão. “Quando tiver eliminado outras opções, leve a criança e observe se ela se sente bem naquele ambiente, como os profissionais a tratam e se ela gosta”.

Outros aspectos também podem ser interessantes para fazer a escolha final ou até desempatar: atividades extras e períodos oferecidos, horário estendido, acompanhamento de nutricionista, presença de educação religiosa e/ou sexual, tempo de funcionamento e até tradição nos esportes. “Diferenciais são importantes, mas é preciso verificar o custo-benefício disso. Sobre o integral mesmo, existem escolas que oferecem atividades direcionadas no tempo em que o aluno não está em sala, já outras apenas ficam com a criança até o momento que o pai vai buscar. Com relação ao ensino religioso, vale lembrar que, de acordo com a Constituição e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, ele deve ser facultativo para assegurar o respeito à diversidade de credos e não tentar impor um dogma ou converter alguém. Acredito que o mais importante é que seja um espaço onde cada um possa expressar suas ideias e credos de forma livre, que ensine e transmita a tolerância”, analisa Fernanda Fernandes.

Por fim, apesar do peso dessa decisão, afinal os pais precisam ter em mente que a escola será como a segunda casa para a criança, que ela passará boas horas lá dentro e a maior parte de sua socialização acontecerá lá também, a psicopedagoga Anita Lilian Zuppo Abed afirma que errar faz parte do processo. “Escola a gente troca; o filho, não. O ser humano é muito complexo; então, os pais não precisam se sentir culpados se a escolha não foi boa. Não dá para ter certeza, não é uma equação matemática. Então, fique atento e sensível e tente fazer o seu melhor”. Além disso, ainda existe a opção de uma consulta com um psicopedagogo que pode avaliar melhor a criança e indicar algumas instituições. “Para uma escolha inicial, não vejo tanta necessidade, mas se a criança começa a não gostar da aula, ir mal ou tirar nota baixa, é recomendado. O profissional pode ajudar a família a entender o que está acontecendo e, se for o caso, indicar uma troca de colégio”, finaliza.

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E O MATERIAL ESCOLAR? Depois da decisão e com o filho matriculado, outra coisa acaba tirando o sono dos pais: a compra do material escolar. De acordo com dados do Procon, algumas dicas são importantes para economizar e garantir seus direitos: • Separe os materiais do ano anterior e veja se há produtos que podem ser aproveitados; • Pesquise antes de comprar; se necessário, compre em lojas diferentes ou pela internet; • A escola não pode exigir marcas de produtos ou locais onde comprar o material; • Itens de higiene pessoal, material de escritório e de uso comum não podem ser pedidos pelo colégio; • Não leve as crianças para a compra; em geral, elas optam por produtos mais caros, que têm personagens ou são mais atraentes. Confira a pesquisa que a Revista Weekend fez para você e conheça os preços de duas grandes redes de varejo presentes na cidade:

Kalunga

Armarinhos Fernando

Apontador c/ depósito

A partir de R$ 2,70

A partir de R$ 0,90

Borracha branca látex

A partir de R$ 1,20

A partir de R$ 2,60

Caderno brochura A4,

A partir de R$ 7,90

A partir de R$ 3,60

A partir de R$ 4,50

A partir de R$ 2,50

A partir de R$ 5,90

A partir de R$ 5,50

A partir de R$ 3,90

A partir de R$ 3,99

A partir de R$ 5,90

A partir de R$ 2,99

Cola branca lavável tubo

A partir de R$ 1,70

A partir de R$ 0,80

Tubo de cola bastão (10g)

A partir de R$ 2,99

A partir de R$ 0,60

Giz de cera – caixa com 12 cores

A partir de R$ 1,50

A partir de R$ 2,30

Lápis de cor longo

A partir de R$ 3,20

A partir de R$ 2,70

Lápis preto nº 2 - 4 unidades

A partir de R$ 3,50

A partir de R$ 1,50

Régua de 30cm, transparente

A partir de R$ 1,90

A partir de R$ 2,50

Tesoura sem ponta

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96 folhas Caderno brochura 1/4 capa dura – 96 fls Caderno universitário capa dura espiral – 1 matéria (96 fls) Caneta esferográfica cristal (diversas cores, 3 unidades) Caneta hidrocolor estojo c/ 12 cores

caixa com 12 cores

*Preços pesquisados em 06/01

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CONTRIBUINDO COM A EDUCAÇÃO DO PAÍS Com o objetivo de criar um currículo nacional, o Ministério da Educação convocou profissionais da área para a elaboração da Base Nacional Comum Curricular – documento preliminar do material que pretende apontar o que todo estudante brasileiro precisa aprender, desde a educação infantil até o final do ensino médio. E para que a BNC faça a diferença na formação dos brasileiros, o MEC resolveu abrir uma consulta pública, que vai até 15 de março, para que professores e estudantes, escolas e secretarias de educação, associações profissionais e sociedades científicas, pesquisadores e pais possam dar a sua contribuição. Mais do que opinar, é possível manifestar-se sobre qualquer texto ou objetivo de aprendizagem que compõe a base, emendar, aperfeiçoar a redação original, ou mesmo excluir ou incluir novos objetivos. Conheça e participe: http:// basenacionalcomum.mec.gov.br/.


[ COMPORTAMENTO ] Por Cris Marques Fotos Arquivo pessoal e banco de imagens

Dependência tecnológica: quando a ânsia por conectividade ultrapassa os limites

É inegável que a tecnologia mudou a vida das pessoas. Hoje, com internet, acesso 3G, Wi-fi e aparelhos, como smartphones e tablets, é possível, em um clique, pedir um táxi ou Uber, encomendar o jantar, pagar contas, agendar viagens, conferir no Waze o trajeto menos carregado até seu destino, conversar com alguém que está na sala ao lado ou em outro país... E se as ações possíveis não param por aí, os riscos também não, incluindo exposição exacerbada, suscetibilidade a fraudes e golpes e até vício. De acordo com Dora Sampaio Góes, psicóloga do Programa de Dependência Tecnológica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, viver nessa era hiperconectada traz muitas facilidades, mas é preciso saber lidar com isso. “Se a pessoa deixa de fazer coisas cotidianas para ficar vidrada em algum aparelho, tem algo errado. Bater o carro por estar lendo ou digitando uma mensagem no WhatsApp, deixar de dormir para zerar um game, não prestar atenção e nem interagir com as

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*Matéria publicada na Weekend 322

pessoas ao redor, pôr em risco colégio, faculdade ou trabalho é um problema real de quem vive no virtual”. Além disso, dividir a atenção com o celular enquanto faz outras atividades pode ser nocivo para a saúde mental. “Focar em coisas alternadas é um trabalho imenso para o cérebro, pode parecer que não porque isso ocorre em milésimos de segundo, mas são várias as funções cerebrais exercidas. Sem contar que isso acaba atrapalhando até a forma como as informações são armazenadas, pois, nessa bagunça, os dados não vão parar no lugar certo, o que prejudica até a memória”.

AJUDA PROFISSIONAL Ela conta que a busca por ajuda normalmente acontece depois da pessoa ter um prejuízo real pelo uso exacerbado de tecnologia, como o término de um relacionamento, a ocorrência de brigas com familiares ou amigos e até a perda do emprego. Mentir sobre o tempo conectado, usar como desculpa um “fui ver a hora”

para dar mais uma olhada na tela ou tentar diminuir o uso e não conseguir também são ótimos termômetros para entender que o auxilio é necessário. “O ideal é procurar um profissional da área da saúde, um psicólogo ou psiquiatra, ou grupos que tratem especificamente desse tema, como o nosso. Até porque é comum que esse vício esteja ligado a outros problemas; entre eles, fobia social, depressão ou transtorno bipolar”. Segunda Dora, o Programa de Dependência Tecnológica surgiu há uns nove anos por meio de um convite do doutor em psiquiatria Cristiano Nabuco, que, na época, assim como ela, atuava em outro ambulatório do Hospital das Clínicas. “Ele veio conversar comigo, pois estava interessado no assunto depois de participar de uma palestra sobre dependência de internet, em um congresso. Então começamos a estudar e ler tudo o que encontramos no meio científico sobre o assunto, para entender quem seria esse paciente, quais suas características e sintomas e, assim, formatamos nosso programa”.


O PROGRAMA DE DEPENDÊNCIA TECNOLÓGICA Para participar do tratamento, feito no HC, em São Paulo, e com duração de 18 semanas, a pessoa precisa ser maior de idade e inscrever-se por meio do site www.dependenciadeinternet. com.br ou telefone 2661-7805, agendar uma triagem para identificar se ela realmente é dependente e, depois de uma bateria de exames neuropsicológicos, participar das sessões de psicoterapia em grupo. “Nosso objetivo é que ela aprenda a usar a tecnologia e conter seus impulsos, até porque não dá para proibir, diferente de quem busca ajuda por causa de álcool ou drogas, que precisa se afastar dessas substâncias. Junto com isso, a gente começa a entender o que acontece na vida emocional dessa pessoa, o que a levou a isso e como desenvolver recursos para ela lidar com as situações da vida de uma maneira diferente que não seja fugir para o mundo virtual”, pontua a psicóloga.

TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO A popularização das inovações tecnológicas é algo relativamente novo e, para os mais velhos, que cresceram vendo as novidades chegar de forma bem mais devagar, é quase impossível não se render a seus encantos. “A escola negligenciou completamente o uso de tecnologia dessa geração. São pessoas que até tinham computadores em casa, mas não podiam levar isso pra escola, escreviam a mão, no papel; e quando se tornaram adultas, não tiveram nenhum tipo de aculturamento. Esses adventos chegaram para resolver uma série de problemas que todo mundo viveu e agora não tem mais que viver; então ganha status de indispensável”, explica Fernando Domingues, diretor de inovação do Eniac. Para ele, o maior problema do uso exacerbado é a deseducação. E proibir não é a solução. “O trabalho que a gente tem feito aqui no colégio com os mais novos é mostrar o uso produtivo desses dispositivos tecnológicos. Entre as crianças, o vício maior são os joguinhos; então, como a gente aproveita isso? Traz a tecnologia pro nosso lado, transforma educação em jogo, usa os games para fins educacionais. Assim, o aluno pode, na escola ou em casa, dedicar seu tempo para aprimorar uma nova língua, entender princípios matemáticos, desenvolver a capacidade de escrever códigos, de programar. E com os adultos é parecido, só que dentro de seus interesses; é pensar o que pode ser adicionado de produtivo dentro de seus gostos e necessidades”.

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USO SAUDÁVEL “Com as crianças e adolescentes, o ideal é, sim, estipular um horário, mas todo conjunto de regras para ser válido precisa ser entendido. Então é preciso mostrar que usar o tablet ou celular na hora da comida é errado, pois ela não repara nem no que está ingerindo, que na rua pode ser perigoso, que ela pode deixar de presenciar algo legal ou importante por estar vidrada na tela”, garante Fernando. Dora ainda afirma que criar empecilhos pode ajudar a diminuir o uso. “Uma pessoa que está fazendo regime não deve comprar sorvete, não que ela não vá tomar por aí, mas é melhor não ter em casa. Então, para estudar ou ler, procure deixar o celular longe, com a tela para baixo e sem avisos sonoros ou vibratórios. Quando for jogar, estipule um tempo máximo para aquilo e acione o despertador. Quando for dormir, não leve nenhum aparelho para o quarto. Já para os menores, a maior dica é que os pais sejam modelos e ensinem, instruam e monitorem”, finaliza.



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