Radio em Revista - Especial História do Rádio

Page 1

Edição Especial Edição Nº 6 - out/nov 2012 www.radioemrevista.com Distribuição gratuita e dirigida Publicação da Escola de Rádio

www.radioemrevista.com

Rádio em Revista

OS 90 ANOS DO RÁDIO NO BRASIL


Dial RJ Rádio em Revista

Dial Rio de Janeiro Dial FM RJ

Dial AM RJ

88,5 89,5 90,3 90,9 91,1 91,7 92,5 93,3 94,1 94,9 95,7 96,5 97,5 98,1 98,9 99,9 100,5 101,1 102,1 102,9 103,7 104,5 105,1 105,9 106,3 106,7 107,1 107,9

540 Rádio Fluminense 580 Nossa Rádio 630 Roquette Pinto 680 Copacabana 710 Sucesso 760 Manchete 800 MEC AM 830 Tropical 860 CBN 900 Tamoio 940 Super Rádio Brasil 990 Rádio Record 1030 Capital 1060 Canção Nova 1090 Metropolitana 1130 Nacional 1180 Mundial AM 1220 Rádio Globo 1280 Super Rádio Tupi 1320 Rádio Difusora Boas Novas (Petrópolis) 1360 Bandeirantes 1400 Rio de Janeiro 1440 Rádio Livre 1480 Rádio Popular (Duque de Caxias) 1520 Rádio Continental 1560 Grande Rio (Itaguaí)

Tribuna (Petrópolis) Rádio Globo MPB FM Rádio Mania Bradesco Esporte Fm Costa Verde (Itaguaí) CBN 93 FM Roquette Pinto BandNews Fluminense SulAmérica Paradiso Super Rádio Tupi Rede Melodia BEAT98 MEC FM JB FM FM O Dia Transamérica Pop Rádio Mix Jovem Pan Nativa 104,5 Rede Aleluia Faixa comunitária UCP Petrópolis Catedral 107 FM Rádio Gospel

PONTOS DE DISTRIBUIÇÃO FACULDADES DE COMUNICAÇÃO

RÁDIOS DO RIO DE JANEIRO

UNIVERSIDADES DE COMUNICAÇÃO

ESCOLAS PÚBLICAS

CENTROS CULTURAIS

ESCOLA DE RÁDIO


Siga @radioemrevista no Twitter Siga no facebook /radioemrevista

Indíce UMA PUBLICAÇÃO DA ESCOLA DE RÁDIO diretores

Cris Jobim e Ruy Jobim editor/jornalista responsável

Roberto Moret 27849/RJ revisor de texto

Bruno Menezes

02 Dial do Rio de Janeiro 04 Editorial 06 História - O Repórter Esso 07 Por Onde Anda? - Roberto Figueiredo 08 Microfone Aberto - Movimentação 10 Por Trás do Microfone - Nélio Bilate

colaboradores

Bruno Filippo, Bruno Menezes, Julyana Pollo e Maurício Menezes diagramação

Cris Jobim distribuição

Allan Lima

12 Capa - Os 90 anos do Rádio no Brasil 18 Personalidade - Antônio Carlos 20 Gafes do Rádio - O Rádio Vai Acabar 22 Colunista Convidado - Bruno Filippo

impressão

WalPrint Gráfica e Editora tiragem

10.000 exemplares contato

Rua Pedro Américo, 147 lj A Catete | Rio de Janeiro | RJ Tel.: (21) 3596-5794 contato@radioemrevista.com www.radioemrevista.com redação

redacao@radioemrevista.com

24 História - Big Boy 26 Leandro Petersen - O DNA do Big Boy 28 Especial - Predestinação - por Haroldo Jr. 33 Especial - PRK-30 36 Especial - Revista do Rádio 38 Especial - Rádio Mural do Passado

contato para publicidade

comercial@radioemrevista.com rádio em revista é uma publicação bimestral da escola de rádio e circula gratuitamente na cidade do rio de janeiro. as opiniões que aparecem nos artigos assinados não representam necessariamente a opinião da revista.

Patrocínio


Editorial

Para esta edição especial da

tem mudado. Deixaram de ser

Rádio em Revista ficar pronta,

curiosos de rádio e agora chegam

tivemos

no

com disposição criativa para

passado do Rádio. Lembramos

colher no futuro uma profissão

momentos tristes e outros tantos

promissora. Se você gosta do

alegres, mas o mais importante

rádio e quer trabalhar, faça um

é perceber que o Rádio continua

curso na Escola de Rádio.

que

mergulhar

vivo e com várias opções de futuro.

O Rádio pode ser mais que tocar música e dar notícias.

Chegamos aos 90 anos com

Precisamos fazer alguma coisa

uma cara jovem e possibilidades

para mudar isso, não podemos

de

na

desanimar. Leia o bom texto do

internet, no satélite, no sistema

estar

nos

Maurício Menezes e entenda

digital,

a

que

ao

celulares, que

parece,

“morte

do

rádio”.

Leia

também a cronologia dos fatos

finalmente chegará.

marcantes e entenda que o rádio Você quantidade

pode de

reparar ouvintes

a que

está

espantando

mosquitos!

Leia tudo!

Rádio em Revista

agora estão ouvindo suas rádios pelos celulares. O site da nossa

Você esta com uma edição

revista - radioemrevista.com -

especial da Rádio em Revista em

é um sucesso, a credibilidade

mãos. Pense no que você pode

do rádio subiu nas pesquisas

fazer com sua criatividade. O

e temos o que comemorar. O

Rádio precisa de você: aluno,

perfil dos interessados em fazer

professor, radialista, ouvinte e

os cursos da Escola de Rádio

crítico.● Ruy Jobim


Rรกdio em Revista


História

Repórter Esso

Rádio em Revista

0 6

Testemunha ocular da história

Iniciado nos Estados Unidos, em

A partir de 1944, prosseguindo

1935, O Repórter Esso chegou a 15 países

até 1962, o locutor titular do Repórter

se tornando referência de informação.

Esso foi Heron Domingues (nas fotos).

No Brasil, foi transmitido pela primeira

Tornou-se a fase áurea do noticioso,

vez em 28 de agosto de 1941, pela Rádio

que, aproveitando as novas técnicas

Nacional, no Rio de Janeiro. A síntese

ditadas pela escola de comunicação

noticiosa conquistou a audiência brasileira

radiofônica dos Estados Unidos, trazia

dando origem ao jargão: “Se não deu no

notícia curtas e objetivas. A mesma

Esso, não aconteceu”.

escola que nos deu o lead e o sublead

Dia 28 de agosto de 1941, exatamente

no noticiário da imprensa escrita.

às 12h55 foi a estreia do Repórter Esso, na

Testemunha ocular da História

Rádio Nacional, do Rio de Janeiro.

A última transmissão do Repórter

Fanfarras e clarins compunham o

Esso¹, já sem a narração grave e solene

prefixo que ficaria famoso. O locutor da

de Heron Domingues, ocorreu no dia

primeira edição foi Romeu Fernandes,

31 de dezembro de 1969. O locutor,

que anunciou o ataque da RAF, a Real

Roberto Figueiredo, começou a chorar

Força Aérea britânica, à Normandia e

quando leu a última notícia daquele

a inauguração do Palácio da Guerra, na

dia. Era o fim do Repórter Esso,

Praça da República, no Rio de Janeiro. O

testemunha ocular da história. ●

rádio jornal – “o primeiro a dar as últimas” – permaneceu no ar por 27 anos.

¹ Veja este vídeo no site da RR.


Por onde anda?

Roberto Figueiredo

O último Repórter Esso

Como foi o começo?

RF:

Sem nenhuma

RF: O meu começo foi

dúvida foi o REPÓRTER

nos idos de 1953, onde fui

ESSO onde fui escolhido,

aprovado, no programa do

entre vários locutores como

saudoso Ary Barroso, sendo

sucessor do saudoso Heron

contratado pela Rádio Tupi do

Domingues. Foram alguns

RJ e na semana seguinte da

anos de glórias na minha

minha contratação fui lançado

vida profissional, que até

com intenso bombardeio de

hoje

jornais e rádios associados,

deixam orgulhoso.

repercutem

e

me

como o mais jovem animador do rádio carioca num programa de

De

qual

grande sucesso da época chamado “Rádio

saudade?

fase

sente

mais

Sequência G3” comandado posteriormente

RF: A passagem pelo Repórter Esso

por Paulo Gracindo, Aerton Perlingeiro

e ao término dele ter conquistado, passo

e no qual o nosso grande Silvio Santos

a passo a condição de comunicador, líder

atuava como locutor comercial.

de audiência nos programas em que atuei

Este episódio alimentou a minha fantasia de adolescente, pois tinha 17 anos e

nos mais de 20 anos como contratado da Rádio Globo.

foi também um dos fatos mais traumáticos de minha trajetória profissional, pois auditório superlotado entrei mudo e sai Foi uma carreira de animador que durou um programa. Que trabalho mais o destacou na profissão?

RF: No plano pessoal posso dizer que mudei de ativo para inativo. No plano do veículo rádio, principalmente no AM, infelizmente não temos a mesma força do passado, mas quem sabe agora com as novas tecnologias? ●

Rádio em Revista

calado.

para hoje?

0 7

pressionado pela timidez diante de um

O que mais mudou de ontem


Microfone Aberto

Movimentação no Rádio redacao@radioemrevista.com Isabella Saes está de volta ao Rádio para comandar o programa “Tá na hora”, de segunda a sexta às 17h, na

0 8

talentoso

A Rádio Roquette Pinto (94,1

Rodrigo

vembro, 15 horas, uma série especial

Sant’anna, conhecido do público no

ator

do “Agora No Ar”. São 4 programas so-

Zorra Total da TV Globo, estreou

bre o Festival Internacional da Canção

às terças à noite um programa na

(FIC), sempre as quintas feiras, com

BEAT98. Ele levou para o Rádio “Os

reapresentação aos domingos. Apre-

Suburbanos”, peça teatral de sucesso

sentadas por Ricardo Cravo Albin, pes-

que conta com suas famosas persona-

quisador, e Marcelo Fróes, produtor, as

gens como Valéria Vasques e Adelaide,

edições trazem canções que marcaram

por exemplo.

a história da música brasileira a partir

O humorista Marcelo Adnet e o

da era dos festivais (1966-1972), além

blogueiro Rica Perrone agora falam de

de fatos interessantes sobre as fases do

futebol com o locutor Paulo Beto, to-

concurso realizadas no ginásio do Ma-

das às segunda, às 21h na BEAT98.

racanãzinho e transmitidas pela tv. In-

Alexandre Howoruski que fa-

térpretes como Maysa, Nana Caymmi

zia a direção artística da Jovem Pan

e Tony Tornado; cantores como Chico

Rio desde que ela chegou no dial do

Buarque, Ivan Lins e Alceu Valença

Rio de Janeiro, passa o bastão para

são exemplos que despontaram com o

Christovam Neumann, Howoruski fica

evento.

na direção artística da JB FM. A Mix Rio FM, do grupo Dial Brasil, foi a Rádio oficial dos shows de Lady Gaga e Madonna. Rádio em Revista

dades, quartas 21h. fm) apresenta, desde o dia 1º de no-

MPB FM. O

vidados ligados à música e personali-

Rádio digital: governo promete, decidir o padrão digital. Com base nos testes feitos até 2010 o então ministro Hélio Costa, apesar de

A Rádio SulAmérica Paradiso

notório defensor do IBOC, esteve pre-

(95,7 MHz) apresenta um novo pro-

stes a se render ao DRM. Costa acabou

grama em sua grade: “No estúdio com

deixando a pasta sem uma definição

Roupa Nova”, promove um encontro

e o assunto só foi retomado quando

entre os integrantes da banda e con-

Paulo Bernardo assumiu o cargo – e o


Rio de Janeiro. A programação da

processo.

emissora não era para massa e sim

O atual ministro também já indicou sua preferência pelo IBOC.

para elite, com óperas, recitais de poe-

Microfone Aberto

(novo) governo resolveu recomeçar o

sia, concertos, palestras culturais etc. Os ouvintes faziam doações financeiras

VOCÊ SABIA? O microfone surge através da

para manter a Rádio no ar. Anúncios eram proibidos.

ampliação dos recursos do bocal do telefone, conseguidos em 1920, nos

O Decreto n. 21.111 de 01/03/32 au-

Estados Unidos, por engenheiros da

torizava destinar 10% de sua program-

Westinghouse.

ação a comerciais.

Foi a Westinghouse que fez nascer, meio por acaso, a radiofusão.

O erudito se torna popular. Contra-

Ela fabricava aparelhos de rádio para

tam-se artistas e produtores. Nos

as tropas da Primeira Guerra Mundial

anos 40 acontece a época de ouro do

e com o término do conflito ficou com

Rádio.

hados. A solução para evitar o prejuízo foi instalar uma grande antena no pátio da fábrica e transmitir música para os habitantes do bairro. Os aparelhos encalhados foram então comercializados. CURIOSIDADES DO RÁDIO NO BRASIL Foi oficialmente inaugurado em A Instalação da primeira Rá-

1942. A primeira radio novela em 1942: “Em busca da felicidade” Esportes,

radio

jornalismo

-

Repórter Esso... O contexto da Primeira Guerra Mundial e a Copa do Mundo marcaram esta época do Rádio.

Chega um poderoso impulso: o transistor, em 23/12/47 - deixa o rádio portátil.

dio de fato aconteceu em 20 de abril

As FMs aparecem na década de

de 1923 com Roquete Pinto e Henry

60 com muito mais qualidade sonora

Morize. Surgiu a Rádio Sociedade do

e música clássica. ●

Rádio em Revista

7 de setembro de 1922.

Surge o Ibope, dia 13 de maio de

0 9

um grande estoque de aparelhos encal-


Por Trás do Microfone

Nélio Bilate - repórter Julyana Pollo Jornalista e produtora

Nélio

Bilate,

77

anos,

carioca, morador da Ilha do Governador. Casado, pai de três filhos e uma vida profissional que se mistura com a história do Rádio no Brasil. Apaixonado pelo que faz, Nélio Bilate está há 41 anos no “ar” em uma única emissora, a Super Rádio

destaque foi a do assassinato da filha

Tupi. Profissional brilhante, humilde e

da autora Glória Perez, a atriz Daniella

com muitas histórias para contar...

Perez, morta pelo então ator Guilherme

JP–Qual

foi

sua

primeira

1 0

matéria? NB: Minha primeira matéria foi com o Zé da Bíblia. Um homem bem

A Rádio Tupi foi a única a entrevistar os envolvidos no crime. JP - Qual a estratégia usada

vestido, com uma bíblia na mão,

para

que tocava a campainha da casa das

NB: O Guilherme não queria falar com

pessoas, se ajoelhava, rezava e pedia um

ninguém. Chegando na cela, ao invés

copo d’água. A pessoa abria a porta e ele

de chamá-lo de Guilherme de Pádua,

pegava uma arma escondida no fundo

o tratei pelo nome do personagem na

falso da bíblia e rendia o morador,

novela, Bira, que era um motorista de

levando dinheiro. Assim, ele foi fazendo

ônibus. Coloquei a mão no ombro dele

várias vítimas.

e disse: - “Bira, eu não acredito que

JP–Mas Nélio, esse foi o início Rádio em Revista

de Pádua e a mulher dele Paula Thomaz.

de muitas histórias...

conseguir

a

entrevista?

você fez isso. Minha filha adora você e isso é sacanagem. Eu tenho certeza que

NB: Ah, sim, eu entrevistei o pai do

você jamais mataria a Daniella Perez”.

menino Carlinhos, João Melo, suspeito

Acrescentei: - “Olha, amanhã eu vou

de ter participado do sequestro do

falar com a tua esposa, a Paula Thomaz,

próprio filho. Outra reportagem de

que está na Polinter, em Niterói, quer


coletiva. Foi quando eu furei o bloqueio

Naquele negócio de mandar mensagem

e o segurança me agarrou e rasgou um

eu comecei a fazer a reportagem. No

pedaço da minha roupa. Gritei: - “Oooo

final, ele deixou a mensagem para

Roberto”. Ele viu meu desespero e

a esposa, que estava grávida de sete

mandou que me soltassem. Falei para

meses.

segurança, você pode até quebrar

JP - E como você conseguiu falar com a Paula Thomaz?

meu braço, mas entrega esse cartão a ele. Minutos depois, a porta abriu e

NB: No dia seguinte eu fui até a

o segurança me mandou entrar. Eu

Polinter, em Niterói, para entrevistar

fiquei emocionado quando ao final da

a Paula Thomaz. - “O senhor não me

reportagem exclusiva, Roberto Carlos

leve a mal, mas eu não posso falar”.

me parabenizou pela garra. Disse que

Respondi que tinha uma mensagem

a rádio estava de parabéns e que se

do Guilherme e perguntei se ela queria

ele abrisse uma emissora eu estaria

escutar. Foi aí que soltei um trechinho

convocado.

do recado e parei. Ela queria ouvir mais. A minha condição foi que Paula

JP - E a experiência de ser comunicador? NB: O programa “A Um Passo da

também. Ela topou e eu coloquei a

Liberdade”, sob meu comando, ficou

gravação para ela ouvir. Em seguida eu

no “ar” 10 anos, 1975 a 1985. O objetivo

fiz a reportagem com ela.

era ajudar o preso que estava saindo

JP - Qual foi a reportagem

da cadeia, fazendo apelo de trabalho e mostrando a importância da sociedade

NB: Ah, foi com o Rei Roberto

no processo de recuperação para que o

Carlos quando ele foi destaque da

indivíduo não retornasse para a vida do

Unidos do Cabuçu. Ele era o enredo da

crime.

escola. Quando ele chegou à Praça da Apoteose, eu saí correndo e pulei no carvalhão, um equipamento de grande

1 1

gravasse uma mensagem para ele

mais emocionante?

Por Trás do Microfone

mandar uma mensagem pra ela?”.

JP– Qual recado você deixa para os jovens profissionais NB:

Exerça

a

profissão

com

vontade, conduza a matéria com

usado para tirá-lo do alto do carro. As

carinho e mostre que é um profissional.

pessoas embaixo gritavam “maluco,

Nunca agrida o entrevistado. Seja

esse cara é maluco, você vai cair daí”. O

humilde, a humildade esta acima de

Roberto Carlos cercado de seguranças

tudo. E lembre-se: A reportagem mais

seguiu para o camarote onde daria uma

difícil é que é a boa! ●

Rádio em Revista

porte, uma espécie de elevador, que foi


Capa

OS 90 ANOS DO RÁDIO NO BRASIL

1883 - Do alto da Avenida Paulista,

comemorativa, no Rio de Janeiro,

o padre gaúcho Landell de Moura

trouxe o que era o assunto do momento

realiza a primeira experiência radio-

nos Estados Unidos: a tecnologia da

telefônica no Brasil, transmitindo um

radiodifusão e seus aparelhos. Uma

sinal de voz até o Morro de Santana

transmissão experimental foi realizada

– uma distância de 8 quilômetros. O

direto do Teatro Municipal. O público

experimento de Landell é considerado

ouviu o pronunciamento do presidente

o passo inicial do Rádio no País.

Epitácio Pessoa e a ópera o Guarani, de

1 2

Década de 20 O fim da Primeira Guerra Mundial

(1914-1918)

tecnologia,

antes

de

música lírica, conferências e concertos,

a

captados pelos 80 aparelhos de rádio

controle

distribuídos pela cidade. Após as

leva

expresso das Forças Armadas,

festividades,

para a área comercial. David

interrompidas.

Sarnoff,

russo

Estados

Unidos,

radicado

transmissões

são

nos

1923 – Roquette Pinto e Henrique

a

Morize criam a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que apresentava programas

receptora de música à Marconi

educativos e culturais. Influenciadas

Company

de para

sugere

as

caixa

concepção

Rádio em Revista

Carlos Gomes. Seguem-se emissões de

uma

ao

por ela, são fundadas rádios amadoras

público. A ideia não vinga, mas

a

venda

em várias partes do país. Todas nascem

estabelece um caminho futuro

como clubes e sociedades e como a

para o desenvolvimento do rádio

legislação proibia a publicidade, são

como a primeira mídia eletrônica

sustentadas por seus associados.

de massa. 1922 – Em setembro de 1922, quando o Brasil celebrava o centenário de sua independência, uma feira

1924 – É regulamentada a atual faixa de Ondas Médias, compreendidas entre 550 à 1550 KHz. 1927 – O advento das mesas


Programa da Rádio Clube do Brasil

que um toca-disco fosse executado

do Rio de Janeiro. Locutores paulistas

diretamente, sem a necessidade de

usam o rádio como instrumento

captação do áudio via microfone)

para conseguir a adesão popular à

marca o início da era eletrônica do

Revolução Constitucionalista de 1932.

rádio.

1934

Década de 30 Com Vargas

o o

golpe rádio

Algumas

Capa

de controle de som (que permitiam

emissoras,

como a Philips, começam a explorar de foi

Getúlio

os anúncios publicitários de outra

utilizado

maneira. Os apresentadores Adhemar

como propaganda do governo.

Casé e Nássara criam os primeiros

Neste período também surgiram

modelos

diversas rádios de notícias.

(Padaria Bragança). É inaugurada a

de

jingles

publicitários

1930 – O rádio começava, aos

Rádio Mayrink Veiga, que seria uma

poucos, a se tornar um veículo mais

das maiores emissoras do Rio de

popular. Em São Paulo, porém, o valor

Janeiro. 1935 – Getúlio Vargas cria A Voz

quase um sexto da renda mensal de

do Brasil que se mantem no ar até hoje.

uma família de classe média da época.

1936 – Entra no ar a Rádio

1931 – São vendidos os primeiros

Nacional, que seria a de maior sucesso

receptores com o nome das estações no

na chamada ‘Era de Ouro’ do meio no

dial. No mesmo ano foram inauguradas

Brasil. Responsável pelo lançamento

as rádios: Record e América de São

dos maiores nomes da música nacional

Paulo.

conquistou tanto sucesso que chegou

1932 – O governo do presidente

a ser utilizada pelo presidente Vargas

Getúlio Vargas autoriza as inserções

como ponto de apoio de sua campanha

publicitárias, inaugurando assim o

política.

atual modelo de mídia comercial.

1937

-

Assis

Chateaubriand

Na época, somente 10% da grade

inaugura a Rádio Tupi, uma das

poderia ser ocupada por comerciais

maiores do Brasil. 1938 - Formação da primeira rede

Nesse mesmo ano, o governo também

nacional de rádios, a Rede Verde e

passa a distribuir concessões de canais

Amarela, liderada pelas Organizações

a empresas privadas e a indivíduos.

Byngton, realiza cobertura esportiva

anúncios de rádio no Esplêndido

pioneira de um Campeonato Mundial de Futebol na França.

Rádio em Revista

(atualmente, esse índice é de 25%).

- Waldo de Abreu cria os primeiros

1 3

de um aparelho ainda correspondia a


Capa

1939 - Começam as atividades

Década de 50

Propaganda (DIP), órgão que tem,

O início da década é marcado

entre

outras

finalidades,

exercer

Brasil.

radiofônicos.

de

A

partir

da

Através Assis

da

iniciativa

Chateaubriand,

proprietário do grupo Diários estatização

Associados, entra ao ar no dia

radiofônica implanta por Getúlio

19 de Setembro em São Paulo a

Vargas no final da década de

TV TUPI. A primeira emissora

30, o rádio sofreu mudanças

televisiva

radicais. Neste período também

concorrer com o novo veículo, o

surgiram as primeiras redações

rádio teve que se transformar.

jornalísticas

voltadas

para

o

rádio.

do

Brasil.

Para

1951 – A radionovela O Direito de Nascer se torna o primeiro fenômeno

1940 - O governo do presidente

1 4

pela chegada da televisão no

censura prévia sobre os programas Década de 40

Getúlio

Vargas

estatiza

a

de audiência do rádio brasileiro. A

Rádio

Rádio Nacional ficou em destaque

Nacional do Rio de Janeiro. As

com a exibição de 314 capítulos, que

primeiras agências de publicidade

mantiveram a novela no ar por mais de

começam a atuar e os programas de

três anos.

rádio recebem patrocinadores como

1955

Primeira transmissão

Coca-Cola, Gessy Lever, Colgate, Esso,

experimental de rádio FM, pela Rádio

Goodyear, etc.

Imprensa do Rio de Janeiro, extinta

1941 – Entra no ar o Repórter Esso,

o

jornalismo

primeiro da

programa

história

do

de

rádio

em dezembro de 2000. Década de 60 Nos anos 60, o rádio adquiria

brasileiro. Após a exibição de diversos

novas

radio teatros, a Rádio Nacional veicula

emissoras

a primeira radionovela do País: Em

ouvintes de classe A com músicas

Busca da Felicidade.

selecionadas, intercaladas com

1944 – No Rio de Janeiro é Rádio em Revista

ouvidos e a imaginação dos ouvintes.

do Departamento de Imprensa e

inaugurada a Rádio Globo.

dimensões. se

Algumas

dedicavam

a

noticiários políticos nacionais e internacionais.

1948 – Inicia-se a fase áurea

1960 - O primeiro programa

dos programas de auditório, na qual

“Patrulha da Cidade” foi ao ar no dia

nomes como Emilinha Borba, Marlene

02 de janeiro de 1960. O jornalista

e Dalva de Oliveira cativavam os

Afonso Soares, que criou o programa


e seu “Alô crazy people”. Ao contrário

notícias policiais em tópicos curtos,

do que muitos imaginam Big Boy não

sucintos e cheio de gírias de policiais

morreu de overdose, mas de uma crise

e bandidos. No início Afonso teve que

de asma. Não viu a transformação do

lutar com a direção da rádio por causa

FM.

dos termos ousados e avançadíssimos

1975 - A Rádio Globo se consagra

para a época, mas conseguiu manter o

nas transmissões de partidas de

programa no ar.

futebol.

1962 – É realizada a primeira

1977 - Inauguração da Rádio

transmissão de rádio via satélite.

Cidade FM, no Rio de Janeiro, líder

Em novembro é criada a Associação

de audiência na década de 80. Nomes

Brasileira das Emissoras de Rádio e

como

Televisão (Abert).

Mansur,

1967 – É criado o Ministério das Comunicações no dia 25 de fevereiro. Repórter Esso no rádio.

de

Paulo

Martins, Sérgio Luís e Jaguar fazem escola em FM sob a coordenação de Carlos Townsend. O mercado de rádio 1979 - O comunicador da Rádio

A ditatura militar assombrava veículos

Fernando

Luís,

jamais seria o mesmo.

Década de 70 os

Sandoval,

Romilson

Globo AM, Waldir Vieira é campeão

comunicação

de audiência nas tardes do Rio de

graças ao Ato Institucional 5. O

Janeiro com o programa “As Canções

rádio não seria o único veículo a

do Roberto” e a “Carta da Vovó”. - No

se adaptar aos tempos militares.

auge da carreira, em novembro de

A década consolidaria o Brasil

1985 – foi encontrado morto em um

como País do Futebol com o

motel devido a um vazamento de gás.

Tricampeonato mundial. E no

Década de 80

final da década, a população

As rádios FM se consolidam

vê os resultados da luta pela

como o novo canal de rádio.

democracia.

Graças

1970 - Ainda de forma tímida, as emissoras de FM

a

automação

das

emissoras, é possível escutar músicas 24 horas por dia.

Rádio

Mundial

Cidade os locutores Eládio Sandoval

AM que se tornou a cara da zona sul

e Romilson Luis apostam na Rádio

do Rio revelou um dos maiores disck-

Antena UM, que mais tarde seria

jockeys da época, o inovador Big Boy

conhecida como a “Lite FM”.

instalar no País. -

A

1981 - Com o sucesso da Rádio

Rádio em Revista

começam a se

1972

1 5

1969 – Chega ao fim a era do

Eládio

Capa

policial humorístico era quem lia as


Capa

1982 - A Rádio Fluminense FM,

informações.

mais conhecida como “Maldita”, criou

1995 - Início da campanha pelo

uma nova linguagem de locução nas

fim da obrigatoriedade de transmissão

FMs. Era a Rádio Rock. Na época do

do programa oficial A Voz do Brasil.

primeiro Rock in Rio, estava entre as

A Igreja Católica forma a Igreja-Sat,

cinco mais ouvidas regularmente. Num

maior rádio do país.

segmento mais informativo desponta a

1 6

Rádio Del Rey FM.

1996 - Lançamento da CBN-FM São Paulo, primeira rádio só de

1985 - A Transamérica FM passa a

notícias em frequência modulada. O

transmitir ao vivo para o Rio de Janeiro

governo envia ao Congresso projeto

com uma equipe jovem e criativa. O rock

de lei que prevê a regulamentação do

nacional desponta. Com a coordenação

funcionamento das rádios piratas.

de Eduardo Andrews, locutores como

1997 - O percentual de domicílios

Adriana Riemer, Paulo Beto, Ruy

brasileiros com aparelhos de rádio

Jobim, Jairo Roberto e Carlos Alberto

chega a 90,3%, contra 84,9% em

despontam no mercado. Produção

1992, segundo o IBGE. Na Região

de

Cláudio

Carneiro.

Sul, o índice é de 94,8%; na Sudeste,

de

Renato

Justino.

Sonoplastia DJ

Marcelo

Mansur. Programação Musical com

94,3%; na Centro-Oeste, 87,2%; e na Nordeste, 83,3%.

Fernandinho e Sônia Freitas.

Século XXI

Década de 90

Desde 1922, o rádio teve que

Marcada

por

acontecimentos,

o

grandes rádio

teve

adaptar

Do

transistor o

constantemente. às

rádio

plataformas

participação nas coberturas de

móveis,

grandes eventos como a Copa do

noventa anos em 22 de setembro

Mundo de 1998.

de 2012 e enfrenta um processo

1990 - No Rio de Janeiro uma

Rádio em Revista

se

completou

de reinvenção.

Rádio se destaca no berço do rádio

2000 - Começam a ter destaque

brasileiro. Era a Rádio RPC FM da

as rádios virtuais pela internet. Entra

Praça Mauá para a liderança na

em atividade a RadioClick do Sistema

audiência. Uma “rádio doida”, como

Globo de Rádio.

era conhecida.

2004 - Inauguração do FM Hall

1991 - Com o slogan “A rádio

no Shopping Rio Sul no Rio de Janeiro.

que toca notícia”, o Sistema Globo de

As rádios Paradiso FM e Jovem Pan

Rádio inaugura a Central Brasileira de

são as primeiras a transmitir em fibra

Notícias (CBN-AM), com 24 horas de

ótica de estúdios envidraçados onde o


do ar para dar lugar a Rádio MIX FM.

– A operadora de telefonia Oi dá

- Morre a astróloga Nena Martinez

o passo inicial da nova era das rádios

da Rádio Tupi após 68 anos de

customizadas, com a participação de

trabalho.

anunciantes que dão nome e estilo às emissoras.

Na

sequência,

surgiram

- Criada a Empresa Brasil de Comunicação

(EBC),

congregando

outros exemplos, como a Sul-América

a TV Brasil, NBR (televisão a cabo),

Trânsito,

Agência Brasil e os Sistemas de Rádio

Sulamérica

Paradiso,

Mitsubishi FM, Fast 89, entre outras.

(Rádio Nacional AM e FM/ DF, Rádio Nacional AM /RJ, Rádio MEC AM/RJ, Radio MEC AM/DF, Rádio MEC FM/

Brasil, as principais emissoras do país

RJ, Rádio Nacional do Alto Solimões

começam a testar a difusão digital de

– AM, Rádio Nacional da Amazônia –

sua programação. A tecnologia é testada

OC, Radioagência Nacional).

por parte das emissoras dos grupos

2008 - Em 27 de maio entra no ar

Eldorado, Bandeirantes, Jovem Pan,

a nova Rádio Mundial AM 1180 no Rio.

2005 - Primeira rede em FM com 24 horas de notícias (BandNews). - O Sistema Globo de Rádio tira do ar a Globo FM com 32 anos de atividade

Com a idéia de unir rádio e TV pela internet, o projeto não durou 9 meses. 2012 - A Presidenta Dilma Russef em abril, incluiu o nome de Landell de Moura no Livro dos Heróis da Pátria.

e põe em seu lugar a Rádio CBN que até

– No momento em que completa

então estava em AM. A Rádio Globo FM

90 anos, o rádio atravessa a fase

passa a transmitir pela internet, pela

final da definição de seu modelo

SKY TV, Net Digital, para Curitiba em

digital. O governo promete que, até

93,9 e Maringá em 97,9 Mhz.

o fim do ano, as diretrizes para a

– Comemorando os 84 anos do

digitalização estejam definidas. Nesse

rádio no Brasil, inicia-se no país em 26

mesmo ano, também, o País ganha

de setembro as primeiras transmissões

o primeiro Grand Prix de rádio no

de rádio no sistema digital, tecnologia

Festival de Criatividade de Cannes. A

que está apenas “aterrissando”.

peça vencedora foi desenvolvida pela Talent para a revista Go Outside, que usava uma frequência radiofônica

Rádio OI FM.

imperceptível ao ouvido humano, mas

Pan do Rio de Janeiro, 102.1MHZ, sai

que conseguia ter um efeito repelente aos mosquitos.●

Fonte: internet.

Rádio em Revista

2006- A Rádio Cidade FM do Rio de Janeiro sai do ar para dar lugar a 2007 - Em março a Rádio Jovem

1 7

No ano em que o rádio comemora 83 anos de transmissão analógica no

RBS e Sistema Globo de Rádio.

Ccapa

público assiste ao trabalho dos locutores.


Personalidade 1 8 Rádio em Revista

Antônio Carlos “ ...

desde pequenininho”

João Gilberto inventou a batida da

que o criador do Show do Antônio

bossa nova tocando violão no banheiro.

Carlos caiu de paraquedas no rádio.

Pelo mesmo motivo – a boa acústica

Um dos maiores orgulhos da vida

do aposento – era no banheiro que

desse comunicador carismático é o de

Antônio Carlos lia textos em voz alta,

ter sido, em fins dos anos 50, um “pé-

treinando a voz para tentar uma vaga

marrom” – no jargão militar, assim são

de locutor na Rádio Nacional. Muito

chamados os integrantes da Brigada

cantor de banheiro nunca chegou aos

Paraquedista.

pés do Pavarotti. Já Antônio Carlos

Centenas de saltos depois, o sol-

conseguiu o que queria na vida: é líder

dado precisava vencer também na vida

absoluto de audiência em seu horário

civil. Queria fazer rádio e foi de uma

e completou, em 2009, meio século de

tenacidade impressionante para atin-

microfone.

gir este objetivo. Aluno do Instituto

Não está distante da verdade dizer

Lafayette, no bairro carioca da Tijuca,


de São Paulo, pela produção de Sílvio

convidado a entrar para um grupo de

Santos, então na TV Globo, pela

teatro amador. Não para ser ator, isso

Roquette Pinto e pela Rádio Tupi, onde

ele não sabia fazer, mas como narrador

ficou até 1987, ano em que veio para a

das peças.

Rádio Globo, trazendo na bagagem o

Antônio Carlos ralou muito por

show que leva seu nome.

um lugar ao sol. Só conseguiu entrar

Na Roquette Pinto uma novidade:

na Rádio Nacional depois de ter sido

os programas da emissora não podiam

reprovado oito vezes nos testes. Como

ter patrocinador. E isso valia para

demorava muito esse emprego, seu iní-

o Futebol de Sucesso, muito ouvido

cio de carreira, em 1959, foi na Rádio

pelos passageiros do ônibus que o

Continental com a função registrada

carioca chama de “frescão”. Para não

em carteira de locutor-auxiliar III. Ou

viver apenas do salário, Antonio Carlos

seja, lia pequenos anúncios e olhe lá!

dava brindes aos ouvintes “com o apoio

Como gostava muito de jazz, usava um

do Álvaro da Camélia”. Pronto. Estava

estúdio para produzir um quadro de

inventado o apoio, que existe até hoje.

jazz.

No ano em que completou 50 anos de atividades, Antônio Carlos continua

canal 9, em 1960, ele foi pedir em-

fiel às origens: “Sou pé-marrom. Pé-

prego ao diretor Demerval Costa Lima.

marrom, hoje, significa trabalhar na

O chefão perguntou o que ele sabia

Rádio Globo”. ●

fazer. “Eu tenho um programa de jazz”,

O Show do Antônio Carlos

mentiu. O diretor fez a contraproposta:

acontece de segunda a sábado,

“Jazz não é popular. Faz um programa

das

de jazz e bossa nova. Começa na quin-

parte da sua equipe: Juçara

ta-feira”. Antônio Carlos, que se con-

Carioca, Pudica e Zora Yonara.

sidera produtor, antes de tudo, não viu

Os produtores Karla de Lucas,

tempo ruim: chamou uns convidados e

Fernando

Fraga

o programa foi ao ar.

Campello.

Tudo

De volta ao Rio, passou pela TV Tupi

6 às 9 da manhã. Fazem

e ao

Ricardo som

do

sonoplasta Tuninho Malvadeza. Fonte: www.radioglobo.com

Rádio em Revista

Depois disso, foi trabalhar na nova

1 9

Quando surgiu a TV Continental,

capital, na recém-criada TV Brasília.

Personalidade

jogava basquete e, por ter boa voz, foi


Gafes do Rádio

ATENÇÃO: O RÁDIO VAI ACABAR! Maurício Menezes Jornalista, radialista e apresentador que eu queria trabalhar em rádio, já que o rádio estava acabando. Logo depois eu fui para a Rádio Globo. O departamento de jornalismo funcionava numa sala suja e escura no quarto andar do prédio do jornal. O diretor, o chefe de reportagem, o redator e os dois repórteres – isso mesmo, os dois repórteres sentavam lado a lado. A sala onde funcionava

2 0

o departamento de jornalismo Eu tinha 20 anos e alguns

tinha 4m x 4m. Um dia visitei

fios de barba quando entrei

a Tupi e levei um susto: uma

pela primeira vez numa redação

emissora escura, mal cuidada,

de Rádio. Era na Nacional e o

equipamentos

jornalismo

rotos. Mas pra que melhorar, se

estava

em

greve.

Para fazer uma ligação para

Rádio em Revista

Niterói

era

preciso

velhos,

móveis

o rádio estava acabando?

esperar

Hoje, quarenta e dois anos

1h40m. Os teletipos, por onde

depois (estou com 62) a Rádio

chegavam as notícias nacionais

Globo funciona em dois prédios

e

um

na rua do Russel. Estão lá até hoje

barulho tão grande que eles

as três árvores que eu plantei

ficavam

separada

e ainda o meu filho Bruno.

e à prova de som. Os colegas

Os equipamentos são os mais

mais antigos (todos eram mais

modernos, as salas são claras

antigos) me perguntavam por

e

internacionais, numa

faziam

sala

confortáveis,

os

repórteres


Gafes do Rádio

estão por todos os cantos – do

Assim tem acontecido com a

Brasil e do mundoe existe um

FM O Dia, com a BEAT98, com

grande ambiente de respeito e

a MPB, com a Band News, com

profissionalismo. A Globo tem

a CBN, que se multiplicou pelo

até helicóptero.

país, com a Transamérica e a

A

Tupi

em

Bradesco, que mergulharam no

mal

mundo do esporte e a Nativa, com

cuidada. A rádio modernizou-se

um público incrivelmente fiel e

e tornou-se pioneira em vários

tantas outras emissoras. O rádio

aspectos, como nas transmissões

hoje está nos celulares e está no

em FM, nas câmeras colocadas

mundo. Dia desses uma ouvinte

à disposição dos ouvintese em

pediu um remédio na Tupi e

outras inovações. Através de seu

ligou um ouvinte da França! Em

site –indicado ao Prêmio Escola

seguida ligou outro, também da

de Rádio – os ouvintes podem

França, onde o medicamento

recuperar a programação que

pedido era comum. São todas

perderam. A Tupi tornou-se uma

emissoras

fábrica de bons profissionais.

responsáveis, com profissionais

Outro

de renome e que crescem a cada

coisa

dia

o

nada

escura

repórter

Sérgio

Américo entrou no ar e eu

modernas,

2 1

lembra e

aquela

ágeis,

dia.

perguntei se ele não tinha viajado É bom ouvi-las. Porque como

ia jogar no sul do Peru. Sergio

me disseram há 42 anos, o rádio

Américo estava lá. É que o som

está acabando... ●

estava tão limpo que eu pensei que ele estivesse no estúdio ao lado.

Leia outros textos de Maurício Menezes na coluna do site RR.

Rádio em Revista

com o time do Flamengo, que


Colunista convidado

O Tambor Tribal do Futuro

Bruno Filippo

Jornalista e Sociólogo

Com o fôlego de camaleão proporcional pretensos

inimigos

da imagem acoplada a aparelhos

dos

domésticos.

Ressuscitou-o

que

Marshall Mcluhan (1911-1980), o profeta da aldeia global que hoje

brasileiro

retorna à voga

sopra

as

noventa

pelas mãos de

velinhas para comemorar não

pesquisadores que perscrutam

só a data redonda, mas também

o universo da internet. Ele deu

para

celebrar adaptar-se

a

capacidade

ao rádio o status acadêmico de

às

mudanças

“meio quente”, e diagnosticou-

tecnológicas

que

a

lhe o poder sensorial sobre o

relação

emissor-receptor.

ouvinte que equivale à de um

Essas

2 2

força

poderiam emboscá-lo, o rádio

de

alteram

mudanças,

bruscas

tambor tribal.

desde a invenção da imprensa

No canônico Os meios de

por Gutemberg no século XV,

comunicação de massa como

tornaram-se mais impactantes

extensões

e massivas no século XX com a

publicada em 1964 nos Estados

propagação da voz e da imagem.

Unidos e, aqui no Brasil, cinco

Há sessenta anos, discutia-

anos depois em tradução do

o

se

velório

rádio,

homem,

obra

que

poeta Décio Pignatari, escreveu este pensador canadense: “Com

insubstituível da transmissão

a TV, o rádio se voltou para

findaria

do

do

pujança

se

Rádio em Revista

à

pela


individuais

que hoje seria diferente, se o

do povo, em diferentes horas

necessidades

World Wide Web (www) e as

do dia, bem em sintonia com

novas plataformas levam ao

a multiplicidade de aparelhos

paroxismo a ideia de aldeia

receptores

global, de retribalização?

nos

banheiros, cozinhas,

quartos, carros

Ao contrário dos anos

e – agora – bolsos.” Todas as

50 e 60, quando a televisão

análises dos noventa anos de

parecia a muitos sobrepor-

rádio no Brasil subscrevem essa

se ao rádio, as tecnologias

afirmação.

deste

início

de

século

Particularizando sua relação

XIX não rivalizam com o

com o ouvinte que, graças ao

meio radiofônico: bem ao

transistor, pôde transportar o

contrário,

assimilam-no,

aparelho aonde quer que fosse,

permitindo

a

o rádio remodelou-se técnica e

formas de aprofundar a

esteticamente. E, nas palavras

individualização

de

o

receptor. Não foi à toa que

nos

o jornalista e comunicólogo

mundo”,

ao

“retribalizou despertar

ele

novas

com

indivíduos sensações que antes

brasileiro

cabiam aos rituais primitivos e ao

disse que o rádio é a mídia

permitir que eles se agrupassem

do futuro. ●

em torno de interesses comuns. Se foi assim há meio século, por

Alberto

o

2 3

Mcluhan,

Colunista convidado

as

Dines

*Leia outros textos do autor na sua coluna do site.

Rádio em Revista


História 2 4

Big Boy | inconfundível

O texto a seguir foi tirado do livro

comissários amigos. Coadjuvado por

“Noites Tropicais”, de Nelson Motta,

‘DoktorSylvana’, seu técnico de som e

que abrange todo o processo de

criador de sensacionais efeitos sonoros,

transformação da música brasileira,

Big Boy falava tantas loucuras e num

desde o surgimento da Bossa Nova até

ritmo tão alucinante que era ouvido

os primeiros anos da década de 1990,

como o doidão de todos os doidões. No

com suas diferentes tendências, fases

início ele ainda viveu uma vida dupla: de

e modismos, acompanhado de perto

manhã era o sisudo e tímido professor

por seu autor.

Newton, que ensinava Geografia no

“Tímido

gorducho

Colégio de Aplicação da Lagoa, e à tarde

e sorridente, Newton Duarte se

se transformava no enlouquecido Big

transformava diante do microfone:

Boy no microfone da Rádio Mundial.

Rádio em Revista

sua

voz

e

tenso,

metralhava

Uma manhã, o professor Newton

palavras em ritmo vertiginoso e

entrou na sala, de paletó e gravata, e,

espantosa precisão, criava gírias

como sempre, com uma pesadíssima

e novas expressões, apresentava

pasta, que jamais abria. Entre os alunos

aos

jovens

metálica

últimas

crescia a curiosidade por seu volumoso

novidades do rock internacional,

conteúdo, e alguns deles, ouvintes e

em

fãs de Big Boy, já começavam a notar

discos

cariocas

as

contrabandeados

por


História vertiginosamente uma torrente de

jeito rápido de falar, o ritmo, a dicção

loucuras e proclamando que sua

perfeita do mestre chatíssimo e do

verdadeira identidade era Big Boy

querido DJ. Até que naquela manhã, no

e que o professor Newton estava

meio de uma dissertação tediosa sobre

morto. A porta se abriu e ele foi

a Bacia Amazônica, o professor Newton

interrompido pelo diretor furioso,

parou de repente e começou a falar

pediu demissão no ato e saiu

como Big Boy, com seu grito de guerra

ovacionado pelos alunos.

‘Hello, crazypeople’, e seguiu falando

Big Boy teve breve e fulgurante

como Big Boy, no seu ritmo, com suas

carreira, se transformou em uma

gírias, os alunos deliravam, jogavam

legenda do rádio, fez inúmeros

livros e cadernos para o alto, gritavam

inimigos, influenciou milhares de

‘É Big Boy! É Big Boy! É Big Boy’.

pessoas e morreu com 33 anos, sozinho em um quarto de hotel em

o paletó, o professor Newton abriu

São Paulo, sufocado por um ataque

sua famosa pasta e começou a jogar

de asma.”

discos, discos e mais discos para os

Big Boy, criou uma linguagem

alunos, ‘Discos para todos!’, gritava

revolucionária para os padrões da

e gargalhava histericamente, falando

época. ●

Rádio em Revista

Arrancando a gravata e tirando

2 5

estranhas semelhanças entre a voz e o


Entrevista Especial

LEANDRO PETERSEN O DNA do Big Boy por Bruno Menezes

A semelhança de Leandro Petersen, filho do saudoso Big Boy que tinha 8 meses 2 6

de vida quando o pai se foi, vai além da aparência: ele também é DJ BM: O que você faz hoje em

Rádio em Revista

dia?

mãe guardou quando ele morreu, o que inclui os discos de vinil (cerca de

LP: Trabalho como produtor de

20000 entre compactos e LPs), as fitas

TV, na rede Globo. Também dou uma

cassette (muitas delas com entrevistas

de DJ na festa "Soul, baby, SOUL!" em

interessantíssimas, de nomes como

parceria com os DJs Sir Dema e Lucio

Mick Jagger, Wilson Pickett, James

Branco.

Brown, Chico Buarque, etc), fotos e

BM: O que tem guardado do seu pai Big Boy? LP: Praticamente todo o acervo dele ficou comigo. Tudo o que minha

matérias para jornais e revistas da época. BM: Como era o Newton Alvarenga Junior como pai?


baby, SOUL! é um exemplo disso: um baile black baseado em funk dos anos

apenas 8 meses.

70, mas que cativa um público amplo

BM:

Qual

mensagem,

ensinamento que ele

deixou

para a sua vida? a

há quase 7 anos justamente porque é autêntico. BM: O que as pessoas mais

LP: Mesmo não o tendo conhecido pessoalmente,

história

interessantíssima, um cara que fazia

Na verdade, o que eu mais ouço é o

o impossível para levar adiante sua

que as pessoas SABEM dele. Chega a

paixão pela música. Desde matar

ser engraçado, toda vez que alguém

aula para comprar discos em SP,

mais velho que eu descobre de quem

quando

os

eu sou filho vem uma história boa pela

quatro cantos do mundo em busca de

frente. Ele foi muito importante na

novidades para tocar na rádio, depois

vida de muita gente, porque música

de radialista consagrado. Acho que

marca muito a vida das pessoas, traz

ficou a mensagem da perseverança,

lembranças... Eu passei a minha vida

de acreditar em seus sonhos perseguir

inteira ouvindo essas histórias, e

seus objetivos até a última instância.

ouço até hoje. Acho inclusive que foi

Eu penso muito nisso no meu dia-a-

através desses relatos que eu construí

dia.

a minha imagem do Big Boy, que eu

percorrer

BM: Qual influência o Big Boy deixou na sua vida. LP: A influência dele foi enorme,

2 6

LP: Essa é uma pergunta difícil.

até

dele

querem saber dele?

é

garoto,

Entrevista Especial

LP: Infelizmente não o conheci, pois quando ele morreu eu tinha

pude conhecer um pouco quem foi o meu pai. E isso é muito gratificante, porque só vem coisa positiva dessas lembranças,

eu escuto até hoje. Com ele eu aprendi

quanto ele era querido não só como

para

perceber

o

que você deve levar o seu gosto a sério,

pessoa pública, mas no âmbito pessoal

tocar o que você realmente gosta e

também. ●

acredita, ao invés de ceder às pressões

Assista no site da RR o

do mercado. Isso lhe dá personalidade.

documentário sobre Big Boy

Eu procuro seguir isso como DJ, a Soul,

feito por Leandro Petersen.

Rádio em Revista

principalmente através dos discos, que


Especial

PREDESTINAÇÃO Haroldo de Andrade Junior Radialista

conta dos presos mais perigosos. O coração do guri acelerou. Ele sentia as batidas mais fortes no peito e não conseguia se controlar. Ficou em dúvida, perguntando-se se deveria correr até o curral e ajudar o pai a descer da charrete e depois tirar a sela do cavalo, escovar o pelo do animal e

2 8

alimentá-lo com o capim que colhera A história que agora conto foi

de manhã cedinho, com as mãozinhas

contada por meu pai e dela eu muito

endurecidas pela geada que caíra

compartilhei.

durante toda a

De cabelos quase cor de cobre,

ficava esperando dentro de casa, na vã

o menino aguardava, ansiosamente,

expectativa de disfarçar e esconder do

a chegada do pai a casa. Os minutos

pai o quanto estava nervoso.

pareciam intermináveis e a noite não

Na indecisão, quando se deu

escurecia de vez. o céu nublado e o frio

conta, o pai, com um grande embrulho

dos dias típicos do inverno curitibano.

debaixo do braço, entrou na sala e já

Era primeiro de maio de 1944. O garoto

dando ordens, como era de hábito:

estava completando dez anos, e o pai

- Por que essa cara de paspalho,

lhe prometera, de presente, a realização

piá? Vai lá cuidar do cavalo, anda, guri!

do seu maior sonho..

– determinou o pai, mal humorado,

De ouvidos aguçados, o ranger Rádio em Revista

madrugada, ou se

como sempre.

do portão, o gemido das rodas da

O garoto não conseguia desgrudar

charrete e o trote do cavalo logo foram

os olhos da caixa. Paralisado, esperava

percebidos por ele. Era o pai, finalmente

que o pai estendesse a mão e lhe

retornando, após mais um dia duro de

entregasse o presente prometido.

trabalho na penitenciária, tomando

- Não te mandei cuidar do cavalo,


ao prolongar a demora para fazer a

na cabeça do filho, desmanchando-lhe

abertura da caixa que trouxera. Era

o topete que fora penteado com muito

um jogo de paciência, que o garoto

zelo, para celebrar a ocasião. Como um

venceu. O pai se levantou, atirou o

raio, o pequeno saiu do seu estupor,

pitoco de cigarro pela janela e sem

e partiu para o quintal da chácara,

dizer uma palavra, foi para o banho. A

molhando o seu sapatinho novo na

sós na cozinha, mãe e filho se olharam e

lama formada pela água da chuva em

trocaram um sorriso de cumplicidade e

mistura com o chão de terra roxa e

aliviado conforto, e dirigiram-se a sala,

barro.

para aguardar a hora tão esperada.

Ele

perdeu

um

bom

tempo,

cuidando das suas obrigações. Quando

Cansado pela espera e pela ansiedade, o garoto adormeceu.

retornou para dentro de casa, com

- Acorda, piá! Acorda! – disse o pai,

tristeza, viu que o pai ainda não tomara

rudemente, sacolejando o filho pelos

banho, como sempre fazia, e nem estava

ombros que ao abrir os olhos, apesar de

à mesa, reclamando do feijão aguado

sonolento, a primeira coisa que viu foi

e do arroz “papa” preparados pela

o rádio, orgulhosamente colocado em

mulher. Sem pressa, na maior calma,

cima de uma estante de madeira, em

o pai estava sentado no banquinho

posição de destaque. Como se fora um

azul de madeira que ficava embaixo

boneco de mola, o garoto deu um salto

da janela da cozinha, pitando o seu

e correu para o aparelho; antes que

cigarrinho de palha.

encostasse a mão nele, o pai o agarrou

A ansiedade do menino crescia, mas

e fez a advertência: - Você nunca meta as patas no

com o pai, que poderia explodir em

rádio! Nunca! Ouviu? Se o rádio

fúria, como tantas vezes acontecia,

quebrar, eu vou moer você na pancada,

e massacrá-lo com a força dos seus

entendeu, guri? Entendeu? Responda!

2 9

ele tinha medo de falar sobre o presente

punhos, calejados de tanto bater nos

Especial

piá? – gritou o pai, dando um safanão

Fascinado com o equipamento, novinho em folha,

com os seus

filho. O clima estava tenso. O silêncio

grandes botões e um brilhante visor

tomou conta do ambiente, ouvindo-se

de luz esverdeada, tudo emoldurado

apenas o crepitar da lenha no fogão,

por uma linda caixa de madeira escura,

atirando fagulhas, pequeninas estrelas

o menino fez que sim, balançando

de fogo, pelo ar.

afirmativamente a cabeça. O pai,

O menino percebeu que o pai

solene, aumentou o volume, e o som

o estava torturando, com prazer,

mágico e maravilhoso de uma valsa

Rádio em Revista

presidiários, assim como também no


Especial 3 0

tomou conta de tudo. Foi uma emoção

O padrinho, ao saber do ocorrido,

indescritível, com as notas do Danúbio

decidiu socorrer o menino, levando-o

Azul enchendo de felicidade o coração

para morar na sua casa, protegendo e

do menino.

cuidando do afilhado.

O rádio só era ligado à noite,

- Padrinho, como é que eu faço

quando o pai chegava e a família se

para comprar um rádio? – o garoto,

reunia em volta do equipamento para

um dia, quis saber.

ouvir

histórias,

novelas,

músicas,

notícias sobre a guerra – e sonhar.

e ganhando dinheiro – respondeu o

Uma noite, o pai, ao ligar o rádio, descobriu

que

haviam

tirado

padrinho.

de

- Eu quero comprar um rádio pra

sintonia a sua emissora preferida. Quis

mim, só meu. Quero trabalhar com

saber quem foi. Fez ameaças. Gritou.

você – o garoto pediu.

Ninguém se acusou. Os irmãos não

Rádio em Revista

- Só tem um jeito: trabalhando

Na manhã seguinte, bem cedinho,

se acusaram. A mãe se calou. E o pai

padrinho

e

afilhado

estavam

decidiu que tinha sido o garoto, que

no curral, tirando leite das vacas

precisava aprender uma lição. Naquela

e enchendo os latões, que eram

noite, com o corpo brutalmente ferido

colocados em cima de uma charrete, na

a socos e pontapés, os olhos, a boca

qual padrinho e afilhado percorriam as

e os ouvidos sangrando, o menino,

ruas da capital paranaense oferecendo

desmaiado, foi colocado na cama e não

o produto fresquinho. O dinheiro que

escutou os seus programas favoritos.

ganhavam era pouco, mas o garoto


Especial

economiza tostão por tostão. - Padrinho, não quero mais ir a escola, não – ele falou um dia. - Por que isso, garoto? Lugar de menino é na escola, pra poder se formar, trabalhar e ganhar mais dinheiro – o padrinho explicou.

Na rádio, na falta do locutor do horário, o operador de áudio, de brincadeira, provocou: - E aí, garoto, quer falar no microfone? Meu pai aceitou. O diretor da emissora, em casa, ao ouvir aquela voz diferente da habitual, telefonou para

ganho o meu dinheiro? – o menino

a rádio, querendo saber quem estava

respondeu.

apresentando o programa de músicas

- Simplesmente porque, se você

clássicas.

estudar e quiser ser leiteiro, será um

- É o Haroldo, o garoto da limpeza

leiteiro muito melhor – o padrinho foi

– o operador de áudio esclareceu,

taxativo.

pedindo

desculpas

e

prometendo

tirar o menino do ar. O diretor não

de meu pai. Depois, na sua paixão,

deixou. Disse que estava indo para a

conseguiu emprego numa estação de

rádio e que, chegando lá, resolveria o

rádio, trabalhando como faxineiro,

problema.

observando , aprendendo e praticando

E foi assim que Haroldo de

no serviço de alto-falantes de um

Andrade iniciou a sua carreira de

parque

radialista, parecendo uma surpresa

diversões,

oferecendo

músicas aos casais enamorados.

para todos, menos para si mesmo,

Rádio em Revista

Leiteiro. Foi a primeira profissão

de

3 1

- Pra que, se eu já sou leiteiro e já


Especial

porque já vinha se preparando à

criando quadros como o “Bom Dia”, a

espera de uma oportunidade.

“Pesquisa do Dia”, “A Música da Minha

Aos 19 anos, em meados dos

Vida”, “Por um Milagre”, “A Parada de

anos 50, veio para o Rio de Janeiro,

Cada Um”, e introduziu a participação

contratado pela rádio Mauá, onde

de médicos e advogados, em lugar das

passou a apresentar O MUSIFONE,

tradicionais previsões astrológicas e

primeiro

do

receitinhas, trazendo esclarecimentos

rádio brasileiro, com a participação ao

e informações para os ouvintes. Mas,

vivo dos ouvintes que, pelo telefone,

o seu grande legado para o rádio

escolhiam as suas músicas favoritas.

contemporâneo é o debate.

programa

interativo

“OS DEBATES POPULARES”, o seu quadro mais famoso, foi criado no comecinho dos anos 70, no auge da ditadura militar, com a censura lacrando jornais, emissoras de rádio e de televisão, impedindo a liberdade de expressão. Os Debates Populares resistem – até hoje, nas principais emissoras de rádio de todo o Brasil. Tive a honra, o orgulho e a sorte de ser o primeiro redator das primeiras pautas dos “debates do Haroldo de

3 2

Andrade”, como o povo dizia. O sonho de comprar um aparelho rádio foi realizado e cresceu. Meu pai comprou a sua própria emissora, a rádio Haroldo de Andrade, que morreu Virou uma febre.

com ele num primeiro de março, dia

Logo se tornou líder de audiência, desbancando

nomes

tradicionais

Rádio em Revista

e emissoras muito mais poderosas

de aniversário da cidade do Rio de Janeiro que ele verdadeiramente amou e defendeu através dos microfones.

do que a sua pequena “rádio do

Em nome de todos os radialistas,

trabalhador”. No comecinho dos anos

esteja você onde estiver, meu pai, pra

60, foi contratado pela rádio Globo,

você estas minhas palavras, o nosso

onde ficou durante mais de 40 anos,

agradecimento, a nossa saudade – e

sempre líder absoluto de audiência,

este BOM DIA. ●


Este foi, sem dúvida, o maior

Rádio Clube do Rio de Janeiro, com os

programa de rádio de todos os

mesmos apresentadores. Lauro Borges

tempos no Brasil. Dois dos maiores

recebeu um convite irrecusável para se

humoristas brasileiros, Lauro Borges

mudar para a rádio Mayrink Veiga e

e Castro Barbosa estavam à frente

lá, criou a PRK-30, segundo ele, com

desse programa de humor, que estreou

10 megahertz a mais de potência que

na rádio Mayrink Veiga, no Rio de

a anterior. Castro Barbosa só iria para

Janeiro, em 19 de outubro de 1944.

a Rádio Mayrink Veiga em 16 de Abril

PRK-30 era o prefixo de uma suposta

rádio

D’alicerce Otelo

onde

Megatério (Castro

Trigueiro

Nababo

Barbosa)

(Lauro

dois e

de 1945, na 25º edição do programa, porque estava preso ao contrato com a Rádio Clube. Enquanto

Castro

Barbosa

permanecia na Rádio Clube, o ator Pinto Filho assumia o seu posto com o

correspondentes

personagem Chouriço de Moraes.

internacionais,

cantores, declamadores, etc, todos

Ainda mesmo antes da PRK-30,

protagonizados pelos dois humoristas.

Lauro Borges já tinha ficado famoso

O programa PRK-30 teve a sua

com dois outros programas de humor.

origem no programa PRK-20 da

Eram eles, A Buzina e Cenas Escolares

Rádio em Revista

Borges),

apresentavam notícias de impagáveis

3 3

speakers,

pirata,

Especial

PROGRAMA: PRK-30, RÁDIO COM HUMOR


Especial

(mais tarde, batizado de Piadas do

abelhas se inspiram para fazer o mel”,

Manduca, devido a problemas com a

que fala para o “deleite condensado

censura).

das

das

O programa humorístico PRK-

louras inelutáveis e até das morenas ferruginosas. Para todas aquelas que

Itararé, o grande humorista, está para

estão me ouvindo, meus sinceros

o jornal escrito. Se até hoje os livros

parabéns”!

de humor do Barão são lidos com total

As radionovelas que faziam grande

prazer, as poucas gravações existentes

sucesso na época não escaparam às

permitem que possamos acompanhar,

sátiras dos dois e então a PRK-30

com a mesma satisfação, Lauro Borges

colocava no ar novelas como: “Só

e Castro Barbosa à frente do programa

morra em Godoma”, que tinha os

de rádio que permaneceu no ar de 1944

personagens: Romeu de Pontapelier,

a 1964, sendo que em 1947, no auge

tio de uma sobrinha. Amaro, primo

da Rádio Nacional do Rio de Janeiro,

de Rosa. Rosa, prima de Amaro. Alice,

conseguiu 52,5% da audiência em

filha de um vizinho da esquerda. Dona

novembro e fechou o ano com 50,1%.

Esquerda, vizinha do pai de Alice. Dona

programa

passava

para

o

ouvinte a idéia de uma “rádio pirata” que entrava no ar em cima do prefixo

3 4

inequívocas,

30 está para o rádio como o Barão de

O

Rádio em Revista

morenas

Moema, esposa do doutor Valério, já falecido e, portanto, viúva. Lauro Borges fazia um outro

da Rádio Nacional, satirizando tudo

programa

que acontecia no rádio da época. PRK-

Manduca” e Castro Barbosa fazia

30, que segundo os apresentadores,

o mesmo “português” em outros

era um programa “só para homens,

programas. Antes disso, em 1937,

mulheres e crianças de ambos os

Lauro tinha um programa chamado

sexos”, era escrito por Lauro Borges e

“A Buzina”, onde imitava vozes de

apresentado por ele e Castro Barbosa,

correspondentes estrangeiros. Os dois

sendo que apenas os dois faziam todas

conheceram-se no lendário “Programa

as vozes de todos os personagens,

Casé” e foi Renato Murce quem teve a

coisa que boa parte do público não

idéia de reuni-los pela primeira vez no

acreditava que fosse possível.

programa “A Hora Sorrindo”.

Alguns exemplos são: Megatério Nababo

d’Alicerce

(Castro),

um

chamado

“Piadas

do

Estiveram também nos programas humorísticos

“Variedades

Esso”,

português que se orgulhava de “falar

“Programa Colgate-Palmolive”, “Clube

inglês em vários idiomas”, e Otelo

do Lero-Lero”, mas, sobretudo, “PRV-

Trigueiro (Lauro), “a voz onde as

8 “RaioX” e “PRK-20”, esboços da


Ninguém sabia que Lauro Borges

Castro Barbosa assumiu o seu nome

criava as suas criaturas a partir

real.

de impressões do quotidiano: um

PRK-30 estreou no dia 19 de

rapazinho negro, que gostava de

outubro de 1944, às 21h, pelas ondas

escrever poemas de amor às moças

da Mayrink Veiga: “Meus estimados

da sua rua, inspirou a figura de “Otelo

admiradores, boa-noite. A voz que

Trigueiro” e as folias poéticas do

vocês estão tendo o prazer de ouvir

“Boa-Noite”; um português do bar

neste momento é a voz penicilínica,

da esquina, gordo e bigodudo, serviu

veludosa e afiambrada do maior

de modelo para o “Megatério”; uma

espícler da presente atualidade: Otelo

vizinha portuguesa metida a entoar

Trigueiro. Tanques! Tanques! Tanque

fados e que vivia implorando por uma

iú vira e mexe”.

oportunidade no rádio deu origem à

A partir dessa saudação ao público, a empatia popular do programa só fez crescer a cada edição, principalmente

Especial

futura “PRK-30” - quando só então

“Maria Joaquina Dobradiça da Porta Baixa”. Infelizmente

existem

quando passou a ser transmitido pela

informações

Rádio Nacional, em 1947.

importantes nomes da radiofonia e do

sobre

poucas

estes

humorismo

dois

brasileiros.

Laurentino Borges Sáes (Lauro Borges) era paulista. Nasceu Joaquim Silvério de Castro

3 5

em 1901 e faleceu em 1967. Barbosa (Castro Barbosa) era mineiro, nascido em 7 de maio de 1905 e falecido em 20 de Abril de 1975. Segundo humoristas, PRK30 foi o melhor programa de humor de todos os tempos e o embrião de todo humor Televisão desde então. ● *Assista

o

vídeo

da

PRK-30 no site da Rádio em Revista.

Rádio em Revista

desenvolvido pelo Rádio e pela


Especial

REVISTA DO RÁDIO Lançada em abril de 1948 pelo

que assim iam se tornando, como é da

jornalista Anselmo Domingos, não

natureza da cultura de massas, “ídolos

por acaso quando a ascensão do rádio

populares”, “astros” e “estrelas”.

no Brasil dava origem ao que ficou

A primeira edição teve quarenta

conhecido como “Era do Rádio”, a

páginas, custou três cruzeiros e trouxe

Revista do Rádio, que por 22 anos

na capa Carmem Miranda, de quem

(1948-1970) circulou em praticamente

Anselmo era fã.

todo

o

território

nacional,

logo

se tornou uma das mais célebres protagonistas desse rico momento de nascimento da cultura de massas em nosso país. Poucas publicações no Brasil conseguiriam encarnar tão intensamente o seu objeto quanto a Revista do Rá-

3 6

dio, provocando em seus leitores a forte sensação de que ela emergia dos bastidores das emissoras e da intimidade dos elencos das rádios, de que ela era de fato a “voz” oficial do rádio

Ainda na introdução do primeiro

no Brasil. Em especial de uma delas: a

número, Anselmo fez breve análise do

dinâmica e poderosa Rádio Nacional,

ano de 1947. Citando diversas emissoras

emissora criada em 1936 pela empresa

então em funcionamento, demonstrou a

carioca A Noite, que editava jornal do

efervescência do rádio na época, quando

mesmo nome.

informações a respeito eram publicadas,

A Revista do Rádio veio mostrar Rádio em Revista

os donos das vozes que encantavam os ouvintes: cantores, animadores de

porém de forma espaçada e irregular nas páginas dos jornais. Publicações

como

Carioca,

auditório, locutores, humoristas, radio

Promove, Vida Doméstica, A Voz do

atores, atrizes... Em forma de texto e

Rádio, Cine-Rádio-Jornal, Cinelândia,

fotografia, revelava aos brasileiros a

Guia Azul já abordavam a temática,

vida profissional e íntima dos artistas,

mas foi a Revista do Rádio – e pouco


(1952 – 1962), da Rio Gráfica Editora

Outras

colunas

fixas

sobre

intimidades dos artistas eram “Buraco da fechadura”, “Ficha completa”, “Eu sou assim” e “Entrevista teco-teco”,

Especial

depois uma concorrente, Radiolândia

além da interessante “Minha casa é assim”, que mostrava fotografias das casas dos astros e estrelas do rádio. Em geral, as notícias eram sobre a vida amorosa, rivalidades, aparências, contas bancárias e comportamentos dos famosos. Havia também interação com o público por meio de promoções e – que proporcionou ao rádio o seu

premiações aos artistas de rádio, como

maior destaque. Sempre em formato

“Os melhores do Rádio” e o, sempre

de 19cmx27cm e com apenas a capa

ansiado pelos fãs, concurso anual “A

em cores, a Revista do Rádio variou

Rainha e o Rei do Rádio”, promovido

na periodicidade. Foi mensal nos dois

pela Associação Brasileira de Rádio. Já

primeiros anos, mas se tornou semanal

em tom mais sério, o editorial, escrito

a partir de março de 1950.

por Anselmo Domingos, analisava

A revista oferecia ainda uma diver-

quaisquer assuntos relativos ao rádio. istir em 1970, poucos meses depois da

Semana” (opiniões de artistas sobre

morte de seu criador. Foram vinte e

um tema), “Feira de amostras” (piadas

dois anos de informação, histórias de

sobre gente do rádio), “Discos” (lança-

astros e estrelas e construção, semana

mentos e parada de sucessos), “Teatro

a semana, dos grandes mitos do rádio

na Revista do Rádio”, “Cinema na Re-

brasileiro. Aliás, nada ou quase nada se

vista do Rádio” (em meados da década

divulgava sobre artistas estrangeiros, a

de 50 passou a sair também a seção

não ser quando vinham se apresentar

TV, assinada por Hélio Tys), “Correio

no Brasil. Vinte e dois anos de criação,

dos fãs” (perguntas dos fãs), “Rádio

ainda ingênua e com pequena ambição

em revista” (atualidades do rádio),

mercantil, de uma nascente cultura de

além da popularíssima “Mexericos da

massas no Brasil, num estilo que não

Candinha”, inaugurada em 1953 com

deixaria, no entanto, de influenciar as

o nome “Segredos da Candinha”, com

dezenas de publicações que viriam a

fofocas picantes sobre os artistas.

ser criadas no país. ●

Rádio em Revista

A Revista do Rádio deixaria de ex-

de um tipo de assunto: “A pergunta da

3 7

sidade de seções, cada uma tratando


Rádio Mural

Rádio Mural - alguns rostos do passado

Assis Chateaubrian

Cesar Ladeira e Carmem Miranda

Rádio em Revista

Alberto Peres,Ioná Magalhaes,Aliomar e outros.Elenco Tupi anos 50. Foto Arq.Silvio Matos (site)

Roquette Pinto e Getúlio Vargas Almirante


Rádio Mural

Elenco da radionovela “Direito de Nascer”

Mario Luiz

Oduvaldo Cozi locutor esportivo

Emilinha Borba e Marlene

Rádio em Revista

As fotos que estão neste mural foram coletadas através de pesquisas na internet com o intuito de apresentar as antigas gerações que fizeram do rádio o maior veículo de comunicação do Brasil. Se quiser ver mais acesse o site www.radioemrevista.com e clique no Flickr


Facebook: /escoladeradiotvweb Twitter: @_escoladeradio Rua Pedro Américo, 147 loja A Catete - RJ - tel: 2225-5794 curso@escoladeradio.com.br

A Escola de Rádio, tem como objetivo principal desde sua criação em 1994: promover a possibilidade de apaixonados pelo meio alcançarem os sonhos, ampliando os horizontes e criando possibilidades de se trabalhar em Rádio. A ER é a única no Rio de Janeiro que ensina Rádio perpertuando a importância desse meio de comunicação. Venha fazer parte deste universo com a gente!

• • • • • • •

Edição de áudio Edição de vídeo Produção para rádio Redação rádio, TV e Web Reportagem esportiva para Rádio Reportagem esportiva TV Telejornalismo

Rádio em Revista

• • • • •

Profissionalizante de locutor, animador e apresentador. Locução básica Locução publicitária Locução esportiva Apresentação de TV Dublagem

ESCOLADERADIO.COM.BR

WWW.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.