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verdade com conteúdo evangélico
Junho / Julho 2009 Ano 2, número 11
R E P O R T A G E N S
arquivo
14 A violência às portas da igreja
Crimes vitimando crentes são cada vez mais comuns, trazendo perplexidade à comunidade evangélica
Por Mauricio Zágari |
18 Pastores que oprimem
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P o r J o a n n a B r a n d ã o | Jornalista lança livro em que aborda a questão do abuso espiritual praticada por líderes contra seus fiéis
22 Um povo crente
Embora alardeado, número das pessoas sem religião na sociedade brasileira é mínimo – e até elas acreditam em Deus
P o r Va l t e r G o n ç a l v e s J r |
34 Parece, mas não é Reprodução
Divulgação
14
38 Mal do século
Foto de capa: Herman Hooyschuur
Arquivo
No quinto centenário de nascimento do reformador francês, sua doutrina experimenta novo avanço
P o r Yu r i N i k o l a i |
56 Combustão espontânea
P o r C a r l o s Fe r n a n d e s | Autodenominado militante prófamília, Julio Severo ataca o movimento gay e defende ideias com pouco eco até mesmo dentro da Igreja
60 Uma igreja do tamanho do Brasil
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Depressão atinge pelo menos uma em quatro pessoas ao longo da vida, mas fé em Cristo pode ajudar suas vítimas
Por Dan G.Blazer |
48 Calvino vive
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P o r S u l a m i t a R i c a r d o | Igrejas e congregações independentes adotam indevidamente nomes de grandes denominações com as quais não mantêm qualquer vínculo
P o r C a r l o s Fe r n a n d e s | Assembleia de Deus faz das comemorações do centenário mais um desafio missionário
Junho / Julho 2009
N O T Í C I A S ,
S E Ç Õ E S
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C O L U N A S
P&R:
Rick Warren
MENTE E CORAÇÃO:
Ma r c o s C o u t o
6 Primeiras palavras 7 Cartas e mensagens 8 CH Informa John Piper
28 Reflexão | R i c a r d o A g r e s t e
9 Continuam investigações sobre tragédia da Renascer
Entre turistas e peregrinos
30 Perspectiva | E d R e n é K i v i t z
O Livro e os livros
44 Especial | A l i s t e r M c G r a t h
A origem das espécies segundo Agostinho
50 Mulher | E s t h e r C a r r e n h o Falando de inveja
52 CH Cultura
Livros | J a q u e l i n e R o d r i g u e s Vídeos | N a t a n i e l G o m e s Música | N e l s o n B o m i l c a r
arquivo
10 A senadora evangélica Marina Silva: prêmio
62 Os outros seis dias | C a r l o C a r r e n h o Quem não gosta de samba, bom cristão não é
64 Últimas palavras | C a r l o s Q u e i r o z
O coroinha e o office-boy
12 Mar da Galileia pode secar
INTERNACIONAL
Como controlar a próxima Pandemia Os cristãos têm, na melhor das hipóteses, uma resposta curiosa
IGREJA
O surgimento do Pentecostalismo Fatos notáveis e pouco conhecidos sobre os primeiros anos do Pentecostalismo
ARTIGOS
Philip Yancey Vivendo como parte do mundo e abrindo nossas cortinas para o milagre da criação
SOLIDARIEDADE
Elizabeth Taylor doa 100 mil dólares para instituição cristã A atriz judia foi inspirada pelo apelo de Barack Obama para que as pessoas quebrem barreiras ideológicas e políticas Bono Vox em ação social Em mensagem aos cristãos Bono pede aos evangélicos para tomarem a frente na luta contra a Aids e a pobreza
ENTREVISTA
Ciência e fé Francis Collins, diretor e fundador do Projeto Genoma Humano mostra a compatibilidade entre a fé e a ciência. Apologética Lee Strobel acha que os métodos tradicionais dos apologetas não funcionam mais
Arquivo
Primeiras palavras Carlos Fernandes Diretor de Redação
Lágrimas, dores e graça
Revista Cristianismo Hoje A verdade com conteúdo evangélico www.cristianismohoje.com.br Quem somos Cristianismo Hoje é uma publicação evangélica, nacional e independente, que tem como objetivo informar, encorajar, unir e edificar a Igreja brasileira, comunicando com verdade, isenção e profundidade os fatos ligados ao segmento cristão, bem como o poder transformador do Evangelho a todos os seus leitores
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izem que ela é o mal do século. É verdade – afinal, essa tal depressão é uma daquelas coisas das quais pode-se dizer que, se você ainda não teve, possivelmente vai ter um dia. Conjunto de sintomas neurológicos e psiquiátricos que, em casos extremos, pode levar à completa incapacidade do indivíduo, a depressão tem afetado cada vez mais pessoas. E ao contrário de tantas outras enfermidades, que vitimam preferencialmente determinados segmentos da sociedade, ela afeta tanto ricos como pobres, jovens e idosos, mulheres e homens – enfim, é uma doença global. E entre os que padecem com seus efeitos, há incrédulos e crentes. Sim, a fé em Jesus não é garantia contra a depressão. A novidade é que esta realidade já não é tão escandalosa: novos estudos e pesquisas mostram que as causas das síndromes depressivas são muito mais orgânicas que espirituais.
A revista tem uma parceria com o grupo Christianity Today International, um dos mais importantes grupos de mídia cristã do mundo, com 8 revistas e mais de 30 sites de conteúdo Conselho Editorial Carlo Carrenho • Carlos Buczynski • Eleny Vassão Eude Martins da Silva • Marcelo Augusto Souto Mário Ikeda • Mark Carpenter • Nelson Bomilcar Richard Werner • Ronaldo Lidório • Volney Faustini William Douglas • Ziel Machado Editor Marcos Simas Diretor de redação e jornalista responsável Carlos Fernandes – MTb 17336
Na reportagem de capa desta edição de CRISTIANISMO HOJE, a depressão é tratada com a seriedade e a isenção que o assunto recomenda. É preciso ter bom senso e honestidade para admitir que sofrer de depressão não é sinal de pecado ou falta de fé – mas a boa notícia é que o Evangelho também tem solução para este problema. Da mesma forma, outra chaga de nosso tempo, a violência, faz cada vez mais vítimas dentro das igrejas. O caso da jovem Karla Leal dos Reis, assassinada na frente dos pais quando a família voltava da igreja, chocou o país. Nesta edição, pastores e especialistas discutem o problema que, lamentavelmente, afeta a todos – mas os que confiam no Senhor sabem que a sua graça é melhor que a vida.
Jornalistas desta edição Dan G. Blazer • Derek R. Keefe • Yuri Teixeira Joanna Brandão • Maurício Zágari • Sarah Pulliam Sulamita Ricardo • Valter Gonçalves Jr Colunistas Carlo Carrenho • Carlos Queiroz • Ed René Kivitz Esther Carrenho • Nataniel Gomes Nelson Bomilcar • Ricardo Agreste • Rubinho Pirola Revisora Alzeli Simas Colaboradores desta edição Alister McGrath • Carlos Buczynski Jacqueline Rodrigues • Paulo Pancote Arte Oliverartelucas
Provocar reflexão e levar informação acerca do multifacetado segmento cristão é a proposta de CRISTIANISMO HOJE. Nem sempre o que encontramos expressa nossa opinião ou postura teológica; todavia, conhecer o que se tem feito em nome do Evangelho é fundamental para que possamos compreender melhor o que é exatamente o Reino de Deus.
Publicidade publicidade@cristianismohoje.com.br Assinaturas 0800 644 4010 assinaturas@cristianismohoje.com.br Informações e permissões para republicação de artigos faleconosco@cristianismohoje.com.br Distribuição MR Werner Distribuidora de livros Ltda. CNPJ 06.013.240/0001-07 – IE 07.450.716/001-45 Caixa postal 2351 Brasília, DF CEP 70842-970 Impressão Gráfica Ediouro Tiragem – 20.000 exemplares Cristianismo Hoje é uma publicação bimestral da Msimas Editora Ltda. ISSN 1982-3614
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cartas e mensagens é preciso ir lá. Quem vai não quer sair mais; é simplesmente maravilhoso. Ali, oferta quem quer; ninguém é obrigado a ofertar se não quiser. O apóstolo Valdemiro é simplesmente um instrumento usado por Deus.
Rachel Alvarenga Rosa Franco
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Jejuns e orações são fundamentais, mas onde estão a pregação, o amor, o socorro, o discipulado?
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nfelizmente, vemos como o Evangelho tem sido barateado por profissionais da fé [sobre reportagem Mais do mesmo, edição nº 10]. Na mídia, pouco ou quase nada se ouve sobre pecado, arrependimento, vida nova. O que era tema das pregações no Novo Testamento não é falado mais; mudam-se as verdades em benefício próprio. Oremos e voltemos nossos olhos para o que Deus quer, e digamos não ao falso Evangelho. Maurício Pereira do Carmo
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u sou de uma igreja evangélica histórica e nunca vi o que tenho visto na Igreja Mundial do Poder de Deus. Lá, tenho experimentado o que acontecia nos tempos de Jesus. Meu marido foi curado de várias enfermidades depois que estivemos no templo do Brás [em São Paulo]. Ele tomava 14 remédios por dia e agora não toma nenhum! Muitas são as críticas – e elas são válidas –, mas
sse messianismo alucinado traz consigo um enfraquecimento da Palavra de Deus. Tudo gira em torno do líder, considerado um porta-voz do alto, e a Palavra de Deus é sacrificada em nome de um sentimentalismo superficial. Vendem os benefícios da cruz sem a cruz. Pregam uma graça barata, que nada e a ninguém transforma. Cada vez mais a Igreja Evangélica brasileira perde sua vez e voz.
Luiz Fernando Ramos de Souza
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que mais me irrita nessas igrejas, além da deturpação que fazem da Bíblia, é o sectarismo e a mania de perseguição. Ouse questionar a teologia da prosperidade ou a liderança da Igreja Universal, por exemplo, com um de seus membros... Eles consideram qualquer crítico como invejoso ou alguém que foi manipulado pelas reportagens da chamada “mídia secular”. E ainda vão despejar um monte de passagens bíblicas sobre a perseguição contra a “igreja de Cristo”. É gente que não pensa – seus bispos é que pensam por eles. São como papagaios doutrinados, repetindo tudo o que ouvem de seus líderes na igreja, que consideram como homens santos de Deus, que nunca erram. Isso deve justificar a dificuldade que têm em aceitar opiniões contrárias aos erros de sua liderança. Felipe Magalhães
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empre que leio ou fico sabendo de movimentos como esse, recordo-me da passagem de Jeremias 5.30-31: “Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente, e
os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo. Porém, que fareis quando estas coisas chegarem ao fim?
Fernando Frasso
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Bíblia diz que, quando os justos de calam, os maus governam. Sobre o acordo do governo brasileiro com a Igreja Católica “na calada da noite” [reportagem Por baixo dos panos, edição nº 10], sabemos que esse é o intento de alguns governistas há tempos. Seria interessante levantar um abaixo-assinado repudiando tal acordo.
Maurício Pereira do Carmo
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campanha 40 Dias de jejum e oração pelo Brasil [reportagm da edição nº 10] é uma boa iniciativa, porque une em propósito comum comunidades que na prática são divididas. Mas como ouvirão se não há quem pregue? Jejuns e orações são fundamentais, mas onde estão a pregação, o amor, o socorro, o discipulado? Igrejas não vão tornar o mundo absolutamente reto, visto que existe uma coisa no ser humano que se chama livre arbítrio, e alguns optam pela força do pecado. Um dos objetivos dos 40 dias precisa ser a visão cristã para a contemporaneidade, livre de moralismos e maniqueísmos, na busca de uma fé que verdadeiramente redescubra a Cristo.
Angelo Davi
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CONTATO COM CH Redação da revista
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Leia Também
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Jó na tela da Globo 9 Marina Silva premiada Mar da Galileia pode secar Batistas fazem 400 anos
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P a r a n o t c i a s d i á r i a s , v e j a e m w w w. c r i s t i a n i s m o h o j e . c o m . b r
Contas aprovadas Investigação do Senado americano não encontra irregularidades no Ministério Joyce Meyer
A palestrante e escritora Joyce Meyer: contas aprovadas pelo Comitê do Senado Depois de dois anos sob inspeção do Comitê de Finanças do Senado dos Estados Unidos por conta de supostas irregularidades na arrecadação e aplicação de seus recursos, o Ministério Joyce Meyer ( JMM) deu um grande passo para manter sua credibilidade intacta. O Conselho Evangélico para Contabilidade Financeira (ECFA, na sigla em inglês) anunciou a aprovação das contas da organização. A decisão é baseada nos chamados “sete padrões de responsabilidade financeira”, incluindo contabilidade, transparência, administração das diretorias e ética no levantamentos de fundos. O Comitê parlamentar, liderado pelo senador de Iowa Chuck Grassley, 8
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investigou não apenas o grupo ligado à palestrante e escritora Joyce Meyer, mas também outras seis organizações cristãs: o Ministério Paula White, liderado por Randy e Paula White; Ministério Kenneth Copeland; Igreja Batista Novo Nascimento, dirigida pelo bispo Eddie Long; World Healing Center Church; Igreja Internacional World Changers, do pastor Creflo Dollar; e a Healing Center Church World, de Benny Hinn. Na mira, o suposto enriquecimento ilícito de seus dirigentes e um possível aproveitamento ilegal do status de entidades sem fins lucrativos concedido a esses seis ministérios. Até uma cômoda comprada por Joyce Meyer, que segundo informações teria custado US$ 23 mil, entrou na berlinda. Já Hinn teve que explicar a origem dos 3 milhões de dólares usados na compra de uma mansão na Califórnia. O assunto foi tema de reportagem na edição nº 3 de CRISTIANISMO HOJE. Grassley elogiou a cooperação do JMM com as investigações. O grupo disponibilizou relatórios de como as contribuições são aplicadas. “O Ministério Joyce Meyer proveu respostas extensas a todas as perguntas”, confirmou o senador, que é membro da Igreja Batista. Segundo o parlamentar, a entidade tem promovido um diálogo “aberto e honesto” com o Comitê. O relatório anual diz que 83% dos gastos do ministério foram feitos com programas de evangelismo (televisão, livros, conferências etc) e com serviços de ajuda humanitária. O grupo cita, ainda, que todos os lucros das vendas de material midiático são usados nos projetos da entidade, assim como todos os fundos levantados nas conferências. j u n h o
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SBI faz 200 anos Entidade também comemora 15 anos no Brasil e sucesso da Nova Versão Internacional Fundada em 1809 em Nova Iorque (EUA) com o objetivo de disseminar a Palavra de Deus entre seus habitantes e os imigrantes, a Sociedade Bíblica Internacional (SBI) chega ao seu bicentenário como uma instituição globalizada. Com Bíblias publicadas em mais de 375 línguas, a instituição também está completando 15 anos de atividades no Brasil e comemora o sucesso de seu mais amplo empreendimento, a Nova Versão Internacional (NVI) da Bíblia. Muito bem aceita pelos crentes brasileiros, a NVI tem sido adotada como versão padrão por diversas denominações, graças à sua clareza e contemporaneidade – sem abrir mão da fidedignidade aos textos originais em hebraico, aramaico e grego, garantida pelo trabalho de uma comissão permanente de revisão. “Estamos vivendo em todo o mundo um período de crise que abre uma grande oportunidade para a pregação da esperança que há em Cristo”, destaca o diretorexecutivo da SBI no Brasil, Mario Barbosa. Em abril, a instituição elegeu sua nova diretoria, conduzindo o pastor Key Yuasa à presidência. “Com a direção deste grupo, estaremos cada vez mais aptos a realizar o trabalho necessário para que a entidade cresça e com ela a distribuição da Palavra de Deus em nosso país”, anuncia Barbosa. [Mídia]
Louvor disputado Programa Levitas, apresentado pela cantora Cassiane, vai selecionar artistas gospel Desde maio, quem sintoniza a rede CNT nas noites de sábado encontra uma atração bem ao estilo dos reallity shows que viraram coqueluche da televisão mundial. Mas o
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[Ministério]
programa tem cara de crente, linguagem de crente e o objetivo maior, pelo menos segundo os idealizadores, é o louvor ao Senhor. É o Levitas, versão gospel do Ídolos, que vai ao ar pelo SBT. Apresentado pela cantora Cassiane, uma das maiores vendedoras de CDs do showbiz evangélico, Levitas é uma produção de sua gravadora, a Reuel Music, e teve um período de três meses de seleção de candidatos, que enviaram vídeos de todo o Brasil. Participam do júri, entre outros, o produtor musical Jairinho Manhães, marido da apresentadora. Os 32 pré-selecionados passarão por sucessivas eliminatórias até chegar ao vencedor, que será conhecido em 15 de agosto, por votação popular. Ele – ou ela – vai ganhar um contrato com a Reuel para gravar um CD.
que é considerado exemplo de resistência ao sofrimento. O protagonista, Gustavo (provavelmente, o ator Carmo Della Vecchia), será um homem que perde todas as riquezas e, a partir daí, descobre um novo sentido para a vida. Com o título provisório de Pelo avesso, o folhetim substituirá a novela Paraíso e está sendo escrito por Thelma Guedes e Duca Rachid, sob supervisão de João Emanuel Carneiro. A direção será de Ricardo Waddington. “Gustavo foi uma criança pobre, mas enriqueceu a qualquer custo”, antecipa Thelma. “Seu amigo, Alcino, articula para que ele perca tudo, representando Deus na história de Jó”. A dupla de autoras também assinou a trama O Profeta, exibida pela Globo em 2006 e que também tratou de temática religiosa. [ C omportamento ]
Sutra Jó na tela da Globo Kama católico Próxima novela das seis da emissora será baseada na vida do personagem b´blico
Padre polonês lança guia prático de sexualidade para casais
A próxima novela global das seis será inspirada na vida de Jó, o personagem bíblico
Um padre polonês escreveu um guia prático e teológico sugerindo como
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casais casados podem melhorar sua vida sexual. A obra, intitulada Sexo como você não conhece – Um guia para casais casados que amam a Deus, já está sendo chamado de “Kama Sutra católico”, numa comparação com o célebre livro hindu da sexualidade. O objetivo do padre Ksawery Knotz ao escrever o livro foi, segundo o próprio, acabar com as “atitudes excessivamente conservadoras” de muitos fiéis. O religioso franciscano parece bem entusiasmado com o conteúdo de seu livro: “Sexo no casamento não deveria ser enfadonho, e sim apimentado, surpreendente e cheio de fantasia. Cada ato, carícia ou posição sexual com objetivo de agradar ao cônjuge é permitido e agrada a Deus”. A quem estranha que tais sugestões partam de um monge celibatário, Knotz explica que sua experiência advém de muitos anos de aconselhamento a casais. O guia, lançado pela editora Pawel, tem o apoio da Igreja Católica da Polônia e já vai para a segunda edição, depois de vender cinco mil cópias nas primeiras semanas de comercialização.
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Cristãos já podem renunciar à própria fé através de documento A National Secular Society (Sociedade Nacional do Secularismo, em tradução livre), entidade britânica que promove a já famosa campanha publicitária do ateísmo nos ônibus de Londres, inventou mais uma. É o “certificado de desbatismo”, documento através do qual qualquer cristão arrependido pode refutar seus votos e compromissos religiosos. O diploma pode ser baixado e preenchido pela internet ou adquirido, na forma de papel, pelo equivalente a uns R$ 10. Segundo a organização ateia, mais de 100 mil pessoas já requisitaram a novidade. No certificado, está escrito que o detentor está liberado “do pecado original que nunca teve”. [ J u s t i ça ]
Ainda sem solução
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Quase seis meses depois de desabamento do templo, causas da tragédia da Renascer começam a aparecer Quase seis meses depois do desabamento do templo-sede da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, em São Paulo, as causas da tragédia começam a aparecer. De acordo com exame elaborado por técnicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), a falta de reforço metálico na estrutura que sustentava o telhado do templo foi o fator decisivo para a queda do teto, que causou nove mortes e deixou mais de 100 feridos no dia 18 de janeiro, um domingo. Das 14 tesouras de madeira que sustentavam a cobertura, apenas uma, a que ficava em
cima do púlpito, não havia recebido reforço durante a reforma executada há dez anos. Foi justamente esta que se partiu, fazendo com que tudo ruísse sobre os fiéis que aguardavam o culto das 19h. Os eventuais indiciamentos por responsabilidade no acidente vão depender do resultado do laudo do Instituto de Criminalística, com previsão para sair em junho. Mesmo assim, já há ações contra a igreja correndo na Justiça. Uma delas é movida pela família da adolescente Gabriela Nascimento Britto, de 15 anos, que morreu no desabamento. A advogada Gleice Mendoza disse que as indenizações pedidas por danos morais e materiais chegam a 1,7 milhão de reais. A Renascer não comenta a ação. [ C ot i d i ano ]
Igreja vendida Pastor de Duque de Caxias (RJ) precisou se desfazer do templo para quitar d´vidas com energia elétrica Um pastor de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, pôs sua igreja à venda porque não conseguiu pagar a conta de luz. Mário Rodrigues Lopes, de 68 anos, dirige a Assembleia de Deus Nova Canaã e disse, durante audiência pública na Câmara de Vereadores daquele município, que a dívida da congregação, que já chega a R$ 7 mil, cresceu muito depois que a concessionária Ampla mudou o sistema de aferição do consumo. “Depois da implantação do novo chip, o valor da conta pulou para mais de 600 reais mensais”, queixou-se o religioso. Muitos moradores do município também estão reclamando de aumento abusivo das tarifas. “A única alternativa foi vender o prédio. Recebi um adiantamento, com o qual quitei as contas atrasadas”, disse Lopes. Agora, a congregação, de cerca de 40 pessoas, está à procura de um novo local para suas reuniões. [ G ente ]
Marina Silva premiada Senadora evangélica recebe prêmio por sua militância ambiental Investigações sobre tragédia da Renascer ainda não terminaram, mas v´timas já procuram Justiça 10
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A senadora Marina Silva (PT-AC) foi escolhida para receber o Prêmio Sofia 2009, comenda internacional que reconhece os esforços de pessoas do mundo inteiro j u n h o
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Sarah Pulliam
As pessoas procuram sentido Dirigente de uma das maiores igrejas evangélicas dos Estados Unidos, a Comunidade Saddleback, na Califórnia, o pastor Rick Warren é considerado uma das personalidades mais influente de seu pa´s. Neste panorama de crise econômica mundial, ele conversou com CRISTIANISMO HOJE acerca dos efeitos da recessão sobre seu ministério: CRISTIANISMO HOJE – Sua igreja tem sido afetada pela crise?
RICK WARREN – Bem, nós fomos afetados, mas não pela queda nas doações. Recessões vêm e vão – estou há trinta anos em Saddleback, e nós já passamos por três ou quatro declínios diferentes. Mas eu cancelei todos os meus compromissos fora do país, e fiz isso porque senti que esse é um tempo que eu preciso ficar em casa. O último batismo em sua igreja levou às águas cerca de 2,4 mil pessoas. A recessão faz com que as pessoas busquem a fé?
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Batismo às avessas
P+R
Reavivamentos geralmente acontecem fora de recessões, fora de tempos difíceis. Três coisas crescem nas recessões: a frequência às igrejas, a frequência aos bares e a frequência aos cinemas. Isso acontece porque essas três coisas representam o que as pessoas estão procurando: sentido, conexão e satisfação. Através dos nossos grupos de conexão com propósitos, nós estamos tentando ajudar nosso povo a encontrar soluções para questões a administração do dinheiro nesses tempos de dificuldade. O senhor acaba de lançar a revista trimestral Purpose-Driven Connection (Conexão com propósitos), pela Reader’s Digest. Não é uma cartada arriscada no meio de uma crise?
Nenhuma revista está indo muito bem nesse momento. Esse é um tempo difícil para se publicar uma revista. A razão pela qual nós escolhemos a Reader’s Digest é porque ela nos escolheu. Tim Collins, o maior acionista e investidor do grupo, leu meu livro Uma vida com propósitos e se tornou meu amigo. Ele me convidou para lançar a publicação por lá.
T r ad u ç ã o : Y u r i N i k o l a i
CH Informa
CH Informa
Flip trará autor ateu Festa Literária de Paraty terá participação de Richard Dawkins em 2009 Os organizadores da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, confirmaram que o polêmico escritor e biólogo britânico Richard Dawkins participará do evento. Dawkins, autor do livro Deus, um delírio, lançado em 2005, criou muita polêmica ao travar debates acalorados com líderes religiosos. Além disso, ele se notabilizou pelo envolvimento em campanhas favoráveis ao ateísmo, destacando supostos efeitos negativos da religião na história da humanidade. Segundo os promotores da Flip, Dawkins não terá interlocutores em sua participação. A dúvida está em qual será o formato da fala do escritor, se uma H O J E
O avião de Terra Nova
Estudiosos alertam para risco de tragédia ambiental em Israel
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“Estou constrangido, mas me submeto, porque o Senhor colocou este sonho em meu coração”. Foi com estas palavras que René Terra Nova, apóstolo do Ministério Internacional da Restauração (MIR), reagiu à sugestão do pastor americano Mike Murdock, que pediu doações para que ele adquirisse um avião. Após uma ministração, Murdock disse que Deus levantaria 120 pessoas que doariam cada uma dez mil reais com aquele objetivo. Em pouco tempo, centenas de líderes subiram ao altar para se comprometer a entregar a oferta. Segundo Murdock, o ato é uma prova de que, mesmo em tempos de crise, “os filhos de Deus prosperarão”. Um dos maiores disseminadores no Brasil do G12, movimento surgido na Colômbia baseado no crescimento da igreja através de pequenos grupos, Terra Nova ganhou notoriedade por sua pregação da prosperidade. Sobre a compra do avião, o religioso diz que foi Deus que colocou este sonho em seu coração. “O Senhor é testemunha que este avião não é para vaidade, mas para estimular que outros ministérios também tenham aviões e, juntos, possamos voar para as nações, pregando o Evangelho de Jesus. Assim, está estabelecido.”
Cenário de diversos episódios do Novo Testamento, o Mar da Galileia está ameaçado de extinção j u n h o
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Mar da Galileia pode secar O Lago Kinneret, no norte de Israel – conhecido na Bíblia como Mar da Galileia, embora tenha água doce –, pode estar com os dias contados. Ambientalistas israelenses estão apreensivos com seu progressivo esvaziamento, acarretado por secas e pelo uso excessivo de suas águas. Segundo eles, caso o nível desça mais dois metros, pode-se chegar a um ponto sem retorno. “A tragédia é que neste momento não é preciso ser Jesus Cristo para poder caminhar sobre o Mar da Galileia”, diz Gidon Bromberg, da organização ambiental Friends of the Earth Middle East. Em alguns lugares, o nível está tão baixo que já é possível andar sobre o espelho d’água. A extinção do lago seria uma catástrofe de consequências imprevisíveis para a região, pobre em recursos hídricos e que já depende bastante da dessalinização das águas do Mediterrâneo. Além de abrigar dezenas de espécies animais e vegetais, o sistema do Kinneret é fundamental para manter o fluxo do Rio Jordão, que também vem minguando ano a ano – ameaçando, por sua vez, a sobrevivência do Mar Morto, ao sul do país, onde fica sua foz. O governo já considera o caso emergencial e lançou uma campanha intitulada “Temos que salvar o Mar da Galileia”, cuja garotapropaganda é a supermodelo israelense Bar Rafaeli. [Mercado]
Sucesso de batina Padres Fábio de Mello e Marcelo Rossi lideram vendas da indústria fonográfica
A crise da indústria fonográfica parece não atingir os padres cantores. Um relatório da Associação Brasileira dos Produtores de Discos mostra que os astros de batina foram os artistas que mais venderam CDs no ano passado, superando ídolos populares como Ivete Sangalo, Roberto Carlos e Zezé di Camargo e Luciano. Na primeira posição dos 20 álbuns mais vendidos, aparece Vida, do padre Fábio de Mello, lançado pela Som Livre. Em segundo,
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em prol da preservação ambiental. A parlamentar brasileira, que é evangélica e já ocupou a pasta do Meio Ambiente no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, receberá US$ 100 mil (cerca de 200 mil reais). O prêmio foi criado em 1997 pelo escritor norueguês Jostein Gaarder, autor de O mundo de sofia. “Foi uma surpresa muito agradável”, comemorou a senadora. “No dia em que o pessoal da fundação me ligou, eu estava no auge da dengue, com muita dor de cabeça e febre”, brincou. Marina, ambientalista respeitada internacionalmente, é membro da Assembleia de Deus em Rio Branco (AC). Em Brasília, ela frequenta os cultos da Assembleia de Deus da L2 Sul.
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[Meio ambiente]
L´der do G12 se diz constrangido, mas admite que aquisição de aeronave é sonho que Deus lhe deu
Respeitada internacionalmente, a senadora Marina Silva vai receber prêmio ambiental
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palestra ou uma entrevista. O evento acontece entre os dias primeiro e cinco de julho, na cidade histórica de Paraty, região sul do Estado do Rio de Janeiro.
polêmica em estabelecer se a denominação surgiu quando da inauguração da Primeira Igreja Batista do Brasil, em Salvador (BA), no ano de 1882, ou se em 1871, em Santa Bárbara do Oeste, interior de São Paulo. Para o pastor, professor e historiador batista Israel Belo de Azevedo, a controvérsia tem pouca relevância diante da grandeza da denominação. “É uma questão apenas historiográfica”, opina. “O lugar dos batistas na história não precisa ser avaliado por sua antiguidade, e sim, por sua fidelidade às Escrituras.” [Arte]
“E agora, Quatro séculos de velhinho?” Quadro com Pernalonga no lugar de fé e tradição Jesus deixa americanos indignados
Mente e coração
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ohn Piper pastoreia a Igreja Batista Bethlehem, em Minneapolis (EUA) desde 1980. É graduado em filosofia e literatura, bacharel em divindade e doutor em teologia. De seus livros, doze já foram publicados no Brasil. Piper é conhecido pelo tema da alegria, uma constante em seus escritos. Veja o que ele disse:
“A melhor coisa que Jesus tem para nos dar é a sua alegria”
Reprodução
[Igreja]
Um homem chamado Jesus Cristo
“A vida é desperdiçada se não captamos a glória da cruz, se não a valorizamos pelo tesouro que é e se não nos apegamos a ela como o preço mais alto de cada prazer e o consolo mais profundo em cada dor”
Aliança Batista Mundial organiza celebrações pelos 400 anos de um dos mais importantes movimentos cristãos da história
Os 37 milhões de crentes batistas estão em festa. Este ano, a denominação, uma das mais tradicionais confissões cristãs do mundo, completa seu quarto centenário. A data será comemorada pela Aliança Batista Mundial (BWA, sigla em inglês) com uma grande celebração por ocasião do seu Conselho Geral, de 27 de julho a 1º de agosto, em Ede, nos arredores da capital holandesa, Amsterdã. No Brasil, onde a denominação possui cerca de 1,3 milhões de fiéis – sem contar os mais de 1 milhão ligados a igrejas batistas independentes ou vinculadas a outras convenções –, a Convenção Batista Brasileira (CBB) também promoverá eventos festivos. Apesar das celebrações, permanecem controversas, tanto no Brasil quanto no mundo, os verdadeiros marcos do surgimento da crença batista. Algumas correntes sugerem que os batistas começaram de fato às margens do Rio Jordão, próximo a Jerusalém, onde João, o batizador, imergia nas águas as pessoas que se arrependessem de seus pecados e cressem no Senhor. Já o segmento majoritário situa a data certa em 1609, quando o pastor britânico John Smith e seus seguidores foram expulsos da Inglaterra e estabeleceram-se em Amsterdã, na Holanda, em busca de liberdade civil e religiosa. No Brasil, há
Não jogue sua vida fora
A obra de Tarnowski traz o irreverente Pernalonga no lugar de Cristo Uma paródia do famoso quadro A Última Ceia, do mestre Leonardo da Vinci, causou polêmica nos Estados Unidos. A obra, intitulada A Reunião, foi elaborada pelo artista plástico Glen Tarnowski e traz os personagens da série Looney Tunes – conhecida no Brasil como Turma do Pernalonga – no lugar de Jesus e seus discípulos à volta da mesa. Exposta na vitrine da Galeria Chuck Jones, em San Diego (Califórnia), A Reunião não atraiu apenas curiosidade. A casa recebeu muitos telefonemas e mensagens de pessoas indignadas com a pintura, que consideram desrespeitosa, ainda mais porque Cristo foi substituído pelo próprio Pernalonga. No desenho, o personagem, cujo bordão é “E agora, velhinho?”, é um coelho encrenqueiro e que não hesita em passar a perna nos outros para levar vantagem. Mike Dicken, diretor de vendas da galeria, diz que duas propostas de compra já foram recusadas. j u n h o
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“Não é incoerência dizer que o amor é o transbordar da alegria em Deus, que atende com satisfação às necessidades dos outros, e que o amor é ter sua própria alegria na alegria do outro” Teologia da alegria
“O Evangelho é o instrumento de Deus para libertar pessoas de se gloriarem em si mesmas para se gloriarem em Cristo” Deus é o Evangelho
“Deus é mais exaltado em nossas vidas quanto mais nos satisfazemos nele” Plena satisfação em Deus Seleção de Carlos Buczynski
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aparece o já veterano Marcelo Rossi, com o primeiro volume de Paz Sim, Violência Não (Sony Music). O fenômeno dos sacerdotes cantores começou nos anos 1980, com o Padre Zezinho. Festejado cantor e compositor do segmento católico carismático, ele abiu as portas para Rossi, que estourou nas paradas em 1998 e fez de suas missas no Santuário do Terço Bizantino, em São Paulo, verdadeiros eventos pop. Seus nove CDs venderam mais de 9 milhões de cópias. Marcelo Rossi também garantiu a primeira posição da relação de DVDs mais vendidos em 2008.
Crimes vitimando crentes são cada vez mais comuns, trazendo perplexidade à comunidade evangélica
Pais e amigos de Karla Santos choram em seu enterro: ato de violência gratuita contra jovem evangélica chocou o pa´s
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O crime, ocorrido no fim de março, ganhou as páginas nas costas em plena Semana Santa, dentro do templo da dos jornais de todo o país. A estudante Karla Leal dos Assembleia de Deus. Em Vila Kennedy, subúrbio do Rio, Reis, de 25 anos, voltava para casa, na região central do um jovem evangélico confessa que matou a ex-namorada Rio de Janeiro, na companhia do pai, o porteiro Carlos por envenenamento, após adicionar chumbinho – fórmula Antônio dos Reis, e da mãe, a vendedora Iolete Fátima usada para eliminar ratos – em sua comida. Na região meLeal dos Reis, após participar de um culto na tropolitana do Recife (PE), um adolescente de Igreja Assembleia de Deus da Penha, subúr15 anos foi assassinado em frente ao templo de Sociedade bio da cidade. A família foi abordada por três uma igreja. Na mesma cidade, um evangélico assaltantes, por volta das 20h de um domingo, após des- de 47 anos é alvejado por dois motociclistas quando voltacer do ônibus. Depois de entregar tudo o que lhe foi exi- va da igreja para sua casa. Em gido, Karla pediu a um dos bandidos que lhe devolvesse Matriz de Camaragibe (AL), o crachá da empresa onde trabalhava como estagiária de dois homens invadiram uma administração e sua Bíblia. O criminoso a atendeu, mas, igreja no centro da cidade e momentos depois, sem nenhuma explicação, disparou na assassinaram a golpes de peiestudante pelas costas, atingindo sua nuca. Karla mor- xeira um trabalhador rural. E reu com o livro nas mãos. No momento do sepultamento, um evangélico de 48 anos foi sua mãe ergueu um clamor a Deus: “Senhor, minha filha abatido com um tiro no peito está descansando em teus braços, mas me dá um consolo. ao lado de sua mulher, logo Acalma esta cidade e o rapaz que fez isso, para que ele após ter saído de um culto em venha à tua casa. Conforta o coração af lito da mãe dele e Piabetá, no Grande Rio. A de todas as mães que sofrem como eu”. polícia suspeita que outro freOcorrências policiais vitimando evangélicos têm se quentador de sua igreja seja o multiplicado pelo país, fazendo com que os crentes en- assassino. grossem as pavorosas estatísticas que dão conta de 40 mil mortes violentas por ano no país. Em Uberaba (MG), um evangélico é fuzilado e tomba com a Bíblia na mão. Em O bispo McAlister: São Sebastião (DF), um homem é alvejado com um tiro “O crente não está blindado”
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A violênci
a às portas da igreja Essa lista chocante de crimes recentes tem em comum o fato de todos envolverem cristãos que morreram de forma violenta em diferentes cidades do Brasil, alguns deles dentro de suas igrejas ou logo após terem participado de momentos de culto a Deus. E a sensação de insegurança, que já afeta a sociedade como um todo, tem entrado com força nas igrejas evangélicas, deixando perplexos muitos crentes acostumados a acreditar no cuidado divino diante das tragédias da vida. Repleta de promessas de proteção – como o Salmo 91, que diz que aquele que habita no abrigo do Altíssimo será livrado do laço do caçador, do veneno mortal e da f lecha –, a Bíblia oferece consolo ao que sofre, mas se por um lado a oração da mãe enlutada mostra um profundo entendimento da realidade – muitas vezes dura –, por outro não são poucos os irmãos que se afundam em questionamentos ao tomar conhecimento de crimes como o perpetrado contra Karla.
Para compreender de que modo eventos como esses se coadunam com as Escrituras, antes de mais nada é preciso conhecer o contexto em que é feita cada afirmação sobre a proteção divina. “Quando lemos a Palavra de Deus, temos de examinar todas as passagens que falam sobre determinado tema. Não podemos ler apenas um trecho, como a poesia escrita por um guerreiro num contexto de batalha, e tomá-lo como regra”, pondera o bispo Walter McAlister, primaz da Aliança das Igrejas Cristãs de Nova Vida. Ele explica que, na época do rei Davi, os povos entendiam que, numa guerra, saía vitorioso aquele cujo deus era mais forte. Esse seria o contexto no qual foi escrito o Salmo 91 – bem diferente da realidade brasileira do século 21. “O crente não está blindado por sua devoção a Cristo”, continua McAlister. “O próprio Jesus afirmou que no mundo teríamos aflições. Afinal, aprouve a Deus que seu próprio Filho fosse moído por nossas transgressões. Quanto mais nós”. O bispo aponta um princípio bíblico básico: “Em nos-
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Por amor a Cristo
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A violência contra os cristãos não é nenhuma novidade na história da Igreja. Desde a gênese do cristianismo, inúmeros seguidores de Jesus têm sido mortos de forma violenta – a diferença é que, noutros tempos, a fé era o principal motivo. Do ano 64 até 313, quando o Edito de Milão proibiu a perseguição aos cristãos, a Igreja enfrentou ciclos de intensa matança e tortura encarniçada, num total de 129 anos. Entre os suplícios enfrentados estavam prisões em cárceres imundos, trabalhos forçados em minas insalubres, torturas de todo tipo e a morte por crucificação, decapitação, feras selvagens e outras práticas cruéis. Naquela época, os cristãos consideravam uma honra e um privilégio morrer por amor ao seu Salvador. São conhecidos relatos como, por exemplo, o do patriarca Policarpo, que, segundo a tradição, ao ser martirizado, no ano 156, fez uma oração que deixa transparecer o espírito da época: “Ó Pai, eu te bendigo por me teres considerado digno de receber o meu prêmio entre os mártires”. A diferença da violência daquele período para a dos dias de hoje é que os seguidores de Jesus entregavam suas vidas para não negá-lo. Na atualidade, a quantidade de cristãos que morre de forma violenta como consequência de sua fé não é menor do que nos primeiros séculos. Um levantamento da Missão Portas Abertas, que se dedica a monitorar e denunciar a perseguição religiosa por todo o planeta, mos-
Mártires cristãos no Coliseu, obra de Konstantin Flavitsky: brutalidade contra cristãos acompanha a história tra centenas de relatos de pessoas em diferentes países que são obrigadas a enfrentar os mais diversos tipos de violência devido à sua ligação com o cristianismo. Na Coréia do Norte, por exemplo – nação onde há menor liberdade religiosa em todo mundo contemporâneo –, cerca de 25% dos cristãos estão presos por causa da fé, detidos em prisões e campos militares mantidos pelo regime comunista. Já na China, no período de um ano mais de 600 pastores e líderes cristãos foram encarcerados.
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O pastor metodista Marco Oliveira lembra os apóstolos Pedro e Paulo: “O sofrimento não nos afasta daquilo que o Senhor preparou para nós”
so mundo, coisas boas e ruins acontecem para nós e nossos vizinhos. O livro de Jó deixa isso claro.” “Ingenuidade” – Aquilo que a letra mostra é comprovado no dia-a-dia. A assistente social e pedagoga Rejane Romero trabalha diariamente com a violência. Pós-graduada em psicologia dos distúrbios de comportamento, ela atua no Conselho de Defesa dos Direitos da Mulher de Belford Roxo, município com alto índice de criminalidade da Baixada Fluminense. Rejane diz que não existem estatísticas conhecidas no país que apontem especificamente quantas vítimas de assassinatos e outros tipos de violência são evangélicas, mas sua experiência mostra que a religião não é fator determinante na hora de se verificar quem sofreu qualquer espécie de ato violento: “Não há uma regra. Os índices de violência independem da tradição religiosa da vítima. Todo tipo de pessoa está sujeito a se tornar mais uma, mas vemos a intervenção divina em muitos casos”, observa. Ela cita como exemplo mulheres que
sobrevivem a estupros. “Em metade das ocorrências que registramos, os estupradores deixam suas vítimas vivas por acreditar que estavam mortas e não desmaiadas, ou quando apenas fingiam. Vejo isso como um livramento de Deus”, conclui. “A violência urbana é um fato social e atinge a todos. Entender que ser evangélico nos manteria livres dessa desarmonia social seria ingenuidade de nossa parte”, afirma o sociólogo Valdemar Figueiredo Filho, pastor da Igreja Batista Central em Niterói (RJ). Ele aponta uma contradição curiosa: apesar do número de evangélicos crescer cada vez mais no Brasil, a sociedade se deteriora mais e mais. A explicação estaria no fato de que a Igreja tem se voltado muito para dentro de si mesma: “Deveríamos ter uma ação voltada para a realidade, mas nos fechamos nos templos. Sem querer, somos excludentes. Precisamos estar menos apegados às estruturas e mais às pessoas. As igrejas precisam estar mais presentes nas suas comunidades.” Professor de antropologia, sociologia e ciência política, o pastor Valdemar lembra que a discussão sobre o tema não é nova, pois tanto no Antigo quanto no Novo Testamento diversos personagens bíblicos questionaram a prosperidade dos ímpios e o próprio sofrimento. “É importante lembrar que pertencer a Cristo pode trazer prejuízos sociais”, ratifica. “Mas, apesar disso, os cristãos são chamados para proclamar esperança, salvação e libertação a todo tempo. Não podemos é ficar encastelados em nossas igrejas, apontando para a Bíblia e esquecendo da realidade.” Em artigo publicado em seu website, Ilana Casoy, integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo e membro consultivo da Comissão de Política Criminal e Penitenciária da
Questionamento sem fim
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Triste ironia. O pai da jovem Karla dos Reis, o porteiro Carlos Antônio, conseguiu deixar o alcoolismo graças às orações da filha e ao projeto Esperança na Praça, trabalho que ajuda a recuperar moradores de rua, pessoas envolvidas na criminalidade e dependentes de drogas e álcool na capital fluminense. E o próprio assassino da estudante, o traficante de crack Augusto César de Souza, preso dias depois do crime, também vinha sendo atendido pelo mesmo ministério. “Imagine a dor que estou sentindo”, desabafa o pastor Fábio Borges de Moura, coordenador do projeto. A tristeza de Fábio só não se equipara à dos pais de Karla, que, imersos em dor, depressão e questionamentos acerca da própria fé, têm sido acompanhados por ele desde o crime, ocorrido em 29 de março. Evidentemente, uma pergunta não quer calar: “Eles questionam por que Deus deixou isso acontecer?”, conta o religioso. “Mas a pergunta que
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todos deveríamos estar nos fazendo é sobre o que estamos fazendo para que coisas assim não aconteçam”, emenda. Ele tem dado assistência constante a Carlos e à sua mulher, Ioleti. “Eu procuro respeitar sua dor, mas também mostrar o caminho da esperança.” Pastor Fábio acredita que a morte de Karla e outros irmãos em Cristo seja um alerta para a Igreja contra o pensamento que diz que Deus só está com o cristão enquanto está tudo bem – “Se esta for nossa teologia, teremos constantes crises de fé”, avisa. O convívio com o submundo do crack leva Fábio à conclusão de que a droga sintética, de efeito devastador – cujo consumo só tem aumentado em cidades como o Rio e São Paulo –, está por trás de crimes brutais como o que vitimou Karla, morta quando voltava da igreja. “A Bíblia antigamente impunha respeito; os bandidos respeitavam o crente. Mas o crack acabou com isso. Ele faz o usuário perder a noção de tudo.”
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A v i o l ê n cia à s p o r t a s da i g reja
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Ordem dos Advogados do Brasil, apresenta um panorama duro: “Matar, neste país, é bem barato. Com uma rapidez absurda o assassino está nas ruas, isso quando cumpre algum tempo de cadeia”, protesta. A especialista advoga a busca por soluções científicas, e não mais tentativas infrutíferas que confundem e atrasam a tomada de medidas adequadas e eficientes.
Cristãos na mira
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Proteção divina – Há dez anos dedicando-se ao estudo de crimes violentos e assassinatos em série, Ilana dá sua receita: “Todo trabalho de prevenção ou diminuição de criminalidade se inicia com pesquisas relacionadas à infância e família, berço da violência e crime.” Quem sabe, então, os cristãos deveriam devotar menos atenção a certas promessas infundadas e passar a viver mais passagens como Provérbios 22.6: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”. Uma aposta – bíblica – num futuro mais seguro e menos violento. “Deus nos proteja, já que a Justiça não o faz”. Dentro dessa perspectiva sombria, o pastor Marco Antonio de Oliveira, da Catedral Metodista do Rio de Janeiro, acredita que existe um equívoco quando os cristãos se imaginam acima da realidade. “Não estamos imunes à violência. Não existe uma promessa bíblica de que Deus nos protegerá de todos os males”, sentencia. A proteção divina precisaria, assim, ser entendida como uma afirmação de que a alma do cristão nunca estará perdida, mas sempre com Deus. “Ou seja, as promessas da Bíblia apontam, antes de tudo, para a vida eterna.” Oliveira, que é doutor em teologia, lembra do sofrimento dos apóstolos Pedro e Paulo e de seus colaboradores registrado no livro de Atos dos Apóstolos como um exemplo claro. “Mesmo sofrendo, entendemos que nossa angústia não nos afasta daquilo que está preparado para nós”, sentencia.
Especialista em psiquiatria forense, Ilana Casoy lamenta a impunidade: “Matar, neste pa´s, sai barato”
Nos Estados Unidos, país onde a comercialização e o porte de armas têm estímulos legais, ocorrências policiais vitimando cristãos também não são nenhuma novidade. Uma das mais recentes, e que repercutiu no mundo todo, foi a execução de um pastor em pleno sermão. O reverendo Fred Winters, dirigente da Primeira Igreja Batista de Marysville (Illinois), pregava para 150 fiéis quando foi alvejado por um homem que entrara repentinamente no templo. O agressor ainda feriu a faca dois outros crentes antes de ser subjugado pelos membros da O pastor Fred Winters, igreja e entregue polícia. O em foto ao lado da assassinato do pastor Winfam´lia: morto a tiros ters, de 45 anos, casado dentro do templo e com duas filhas, foi considerado pelos colegas de ministério como um “ataque das forças do inferno”. Tristemente comuns nos EUA, os crimes praticados por serial killers também contabilizam vítimas evangélicas, como os dois voluntários da agência missionária Jovens com uma Missão (Jocum) mortos pelo pistoleiro Matthew Murray em dezembro de 2007 em pleno centro de treinamento da entidade, no subúrbio de Denver, no estado do Colorado. Murray havia sido expulso da missão três anos antes. Doze horas depois, ele matou duas irmãs e feriu o pai delas no estacionamento da The New Life Church, em Colorado Springs. Ao entrar na igreja, onde provavelmente faria novas vítimas, foi executado por uma guarda de segurança. Pior foi o crime que aconteceu um ano antes, quando o entregador de leite Charles Roberts invadiu uma escola de uma comunidade rural amish – grupo fechado que pratica um protestantismo de linha ortodoxa – na Pensilvânia e matou cinco meninas entre 6 e 14 anos e se suicidou após ser cercado pela polícia. O assassino pedófilo queria estuprar as crianças e contou a um policial com quem negociava estar traumatizado com a perda, nove anos antes, de um bebê prematuro – o rapaz queria “vingar-se de Deus”. O líder da comunidade, Sam Fisher, sugeriu que Roberts pode não ter sido totalmente responsável pelo crime. “O diabo o controlou”, disse na ocasião.
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Pastores que
oprimem Jornalista lança livro em que aborda a questão do abuso espiritual praticada por líderes contra seus fiéis
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Joanna Brandão
Adriano era um profissional com futuro promissor. Ad- nha vida”, desabafa. Este e outros relatos, verídicos apesar vogado formado pela prestigiada Universidade de São da omissão dos nomes verdadeiros, constam do livro FeriPaulo, a USP, ele ainda ocupava a função de obreiro na dos em nome de Deus (Mundo Cristão), da jornalista evanigreja que frequentava. Aspirava ao pastorado – o que, gélica Marília Camargo César. A partir do depoimento conforme a própria Bíblia, é uma excelente opção para o de gente que se considera vítima de líderes religiosos aucrente. Fiel ao seu líder espiritual, Adriano costumava se- toritários, a autora realiza um estudo sério sobre essa reguir seus conselhos e determinações à risca, entendendo alidade, analisando as diferentes situações envolvidas no que desta forma estava agradando a Deus. Chegou a fazer círculo de abuso com sensibilidade e propriedade. A obra um voto público de lealdade ao dirigente. “Ele fazia uma descreve as diferentes formas que o abuso religioso pode espécie de mantra em torno do versículo que assumir – pastores que dominam suas ovelhas diz que quem honra o profeta recebe galarsob o ponto de vista emocional, financeiro e Comportamento dão de profeta”, lembra. Gradativamente, o psicológico, quase sempre com consequências jovem obreiro passou a negligenciar suas resruins. “O líder impõe sua visão de mundo soponsabilidades fora da igreja, como o trababre a ovelha, e esta a aceita como uma ordem lho e o cuidado com a família, tudo em prol daquele seu divina que precisa ser obedecida, sob pena de punição”, diz voto. Submetia-se a condições duras, enquanto o pastor Marília (ver quadro). não se furtava a luxos como mesas fartas e carros impor“O abuso espiritual poderia ser definido como o encontados. A mulher e os dois filhos de Adriano acabaram tro entre uma pessoa fraca e uma forte, em que a segunda abandonando-o, não suportando o controle exercido pelo usa o nome de Deus para influenciar a outra e levá-la a pastor sobre sua vida. Frustrado, o advogado fraquejou na tomar decisões que acabam por diminuí-la física, material fé, envolveu-se com outras mulheres e acabou engravi- ou emocionalmente”, define Marília. O problema acontece dando uma delas. mais comumente em igrejas pentecostais, onde geralmente A vida do rapaz virou do avesso. Hoje, Adriano aguarda o líder tem maior autonomia e pode apelar para elementos o nascimento do bebê inesperado e preocupa-se com o bai- empíricos, como supostas profecias ou revelações para lexo orçamento e a impossibilidade de rever constantemente gitimar seu domínio sobre a vida dos fiéis. Estabelece-se os filhos, que vivem com sua ex-mulher. “É uma loucura o então uma relação que vai muito além do saudável discipudano que meus filhos sofreram por causa disso tudo. Não lado bíblico e pode envolver áreas pessoais da vida do crenhá indenização que pague o que esse pastor causou em mi- te. “A obediência ao líder não pode ser cega. Todo ensino
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paldo do Novo Testamento. “A única vez em que a palavra ‘pastor’ é usada no singular é para se referir a Jesus. Em todas as demais, é usada no plural, para indicar um grupo de anciãos, ou presbíteros, que zela pelo bem-estar de toda a comunidade.” Nesse caso, a autoridade fica dividida entre um colegiado, o que dificulta a possibilidade de haver exageros no controle da obra de Deus e força os líderes a prestarem contas uns aos outros. Fato é que muito sofrimento poderia ser evitado nas igrejas se os fiéis estivessem mais preparados para reconhecer os abusadores ou o ambiente propício para formá-los. O pastor Ricardo Gondim, dirigente da Igreja Betesda em São Paulo, realizou um estudo ex“Porta-voz divino” – Quando o círcupondo algumas características comuns lo do abuso religioso é analisado mais aos pastores abusadores. Entre estas, de perto, nota-se que ambas as partes, encontra-se a postura incontestável do abusado e abusador, sofrem no proceslíder, o qual passa a ter a palavra fiRicardo Gondim: “O pastor so. A base dessa semelhança está no nal para todas as questões, tornandonão pode ser visto como fato de que, em um dado momento, se dono da verdade, uma espécie de porta-voz divino” as duas pontas perderam o controle, “porta-voz divino”. “O medo na relação sua identidade e a própria dignidade. entre o fiel e seu pastor pode ser um si“Quem exagera no autoritarismo também foi ou está sendo nal de problemas, pois essa relação deve ser permeada de vítima de abuso”, aponta o pastor batista Ed René Kivitz. amizade sincera, doação, afeto e solidariedade”, comenta Ele explica que a figura de um pastor único não tem res- Gondim.
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deve ser confrontado com as verdades bíblicas, para evitar desvios de rota”, adverte o pastor Paulo Romeiro, autor dos livros Supercrentes e Decepcionados com a graça, lançados pela mesma editora, em que aborda, entre outros assuntos, a questão do controle exagerado do rebanho pelos pastores. Para o estudioso, no entanto, um erro não pode justificar outro: “A Epístola aos Hebreus que ordena explicitamente: ‘Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles. Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas. Obedeçam-lhes, para que o trabalho deles seja uma alegria e não um peso, pois isso não seria proveitoso para vocês’”, recita.
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Autoritarismo, manipulação e desrespeito
CRISTIANISMO HOJE – A senhora diz que a motivação para escrever o livro foi um caso de abuso espiritual que presenciou. Fale sobre essa experiência. MARÍLIA CAMARGO CÉSAR – Não fui, particularmente, machucada por pastores, porque não andava rotineiramente muito próxima deles, embora convivêssemos bem. Mas testemunhei, na vida de amigos próximos, o estrago que o convívio com nossas antigas lideranças produziu. Muitas histórias de abuso começaram a aparecer depois que um dos pastores de nossa antiga comunidade afastou-se por motivo de saúde. Pessoas que caminhavam bem perto daquele líder começaram a contar histórias tenebrosas de abuso de poder, manipulação psicológica e tirania explícita. As vítimas de abuso eram pessoas adultas e com uma boa formação socioeconômica, por isso eu não conseguia entender como haviam se deixado manipular daquele jeito, só tendo coragem de denunciar o que havia depois que ele se afastou. Qual foi o caso mais grave de abuso que a senhora conheceu enquanto escrevia o livro? Foi o caso de uma jovem que sofria de uma doença degenerativa rara – miastenia gravis – e que foi simplesmente massacrada por sua congregação porque não alcançou plenamente a cura. Além desse problema, ela foi levada a crer, pelo pastor, que deveria orar e investir num relacionamento afetivo com um rapaz da igreja, situação que acabou lhe causando enorme constrangimento quando ele apareceu na igreja com uma nova namorada. De certa forma, foi bom para ela, porque o embaraço serviu-lhe para mostrar o nível de adoecimento daquela comunidade, o nível de fundamentalismo que praticavam, e isso acabou por abrir os seus olhos. Ela saiu da igreja e, até onde eu sei, não fez parte de nenhuma outra congregação desde então. Em sua opinião, quais são os principais tipos de abuso espiritual e suas características? O livro fala de abuso de poder, de abuso financeiro, mas mostra as nuances do abuso que julgo mais sutil e difícil de identificar, mas bastante devastador da mesma forma, que é o abuso de ordem psicológica ou emocional. O líder impõe sua visão de mundo sobre a ovelha, e esta a aceita como uma ordem divina que precisa ser obedecida, sob pena de punição. O pastor diz, por exemplo, que o discípulo deve casar-se com determinaA jornalista Mar´lia Camargo da pessoa, porque teve César se diz espantada com uma “visão” de que esta os casos que analisou era a vontade de Deus
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para a sua vida. Não importa que não haja, a princípio, nada em comum que possa unir aquele casal. E o fiel obedece. O pastor fala para uma mulher que apanha sistematicamente de seu marido que ela deve fidelidade a ele, porque isso é bíblico. Ou então fala para uma pessoa com uma doença grave que ela ainda não foi curada porque está fraquejando na fé. Todos esses são exemplos reais de pessoas que só se recuperaram emocionalmente após muitas horas de psicoterapia. E, claro, após deixarem essas igrejas. E por que as pessoas deixam a situação chegar a tal ponto? Depois de escrever o livro, compreendi que, quando acreditamos estar sofrendo alguma coisa por amor a Deus, aguentamos as piores humilhações. Aquelas pessoas acreditavam, sinceramente, que estavam sendo disciplinados por profetas do Senhor para o seu próprio bem e crescimento espiritual, quando na verdade estavam sendo é espezinhados emocionalmente. Como os abusos podem ser evitados? Maturidade espiritual não é alguma coisa trivial, que se alcance da noite para o dia. É preciso uma longa caminhada, tolerância e paciência; o fiel precisa estar bem acompanhado – e aí se incluem lideranças maduras, com uma boa formação, saudáveis física, psicológica e teologicamente, que possam ensinar um cristianismo autêntico, vivo e nãofundamentalista. É preciso também cercar-se de amigos verdadeiros, que nos apoiem e não fiquem nos julgando quando falamos aquilo que estamos sentindo, por mais horrível que isso possa ser. A n a Pa u l a Pa i v a / Va l o r E c o n ô m i c o
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Autora do livro Feridos em nome de Deus, a jornalista Marília Camargo César falou sobre as dimensões que o abuso espiritual pode ter na vida de fiéis submetidos a lideranças eclesiásticas autoritárias. “Mas é possível identificar o problema e lidar com suas consequências”, diz, nesta entrevista a CRISTIANISMO HOJE:
Multidão no centro de São Paulo, a maior cidade brasileira: ao contrário do que se supunha, pós-modernidade não tem freado religiosidade do pa´s
Um povo crente Colaboração de Treici Schwengber
Quem tem passado os olhos sobre os jornais e revistas dos últimos meses não terá muitas dúvidas em afirmar: não há lugar para o cristianismo no chamado espaço público do Ocidente neste século 21. Esse espaço pertence a agnósticos, a ateus ou aos genericamente chamados de “sem religião” – gente que não se sente identificada por nenhum sistema de fé ou instituição religiosa e que, por isso, estaria mais apta a lidar adequadamente com o pluralismo da sociedade pós-moderna. Esse é o tom do mundo político, do meio acadêmico e
O sociólogo Paul Freston aposta numa estabilização do segmento católico, que sofreu forte queda nos anos 1990 22
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da grande imprensa ocidentais. Num con- ro da Igreja Evangélica no Brasil em tertexto como este, aumenta a preocupação mos de força numérica e também cultural. com números. E pesquisas relacionadas Ele lembra que o país atualmente pode ser à confissão religiosa são acompanhadas considerado a “capital mundial do pentecom interesse em todo planeta. costalismo”, mas que isso não garante que Em abril deste ano, a revista Newswe- a voz dos evangélicos será a hegemônica. ek, nos Estados Unidos, coloFreston afirma, em seus articou na capa matéria com o tígos, que para alguns estudioReligião tulo “O declínio e a queda da sos o crescimento pentecostal América cristã”, que aposta no Brasil vai dar lugar à secuno fim da hegemonia do cristianismo na larização: a trajetória das pessoas iria encultura norte-americana, apressando esse tão do catolicismo para o pentecostalismo diagnóstico por conta da retração, ao lon- e depois para o grupo dos “sem religião”. go das últimas duas décadas, Ele vê um crescimento dos “sem religião” de 10% no número de pessoas – designação que agrega agnósticos, ateus que se auto-identificam como e místicos sem uma filiação religiosa deficristãs. Isso, a despeito de a nida – no mesmo ritmo dos pentecostais e religião agora vista pela publi- justamente nas “mesmas periferias e froncação como decadente ainda teiras” das grandes cidades, entre jovens e contar com nada menos do que não-brancos. a adesão de 76% da população Se as tendências atuais persistirem, do país, de acordo com os da- continua Freston em sua série de três ardos divulgados pela pesquisa tigos, nunca haverá maioria evangélica American Religious Identifica- no Brasil. Ele aposta, assim, que a decation Survey. dência católica se estabilizaria, parando Por aqui, em uma série de no patamar em torno de 40% da popuartigos publicados recentemen- lação. Os evangélicos chegariam a 35% e te pela revista Ultimato, Paul os “sem religião” formariam um terceiro Freston, doutor em sociologia grande grupo, com cerca de vinte e cinpela Universidade de Campi- co por cento dos brasileiros. O sociólogo nas (Unicamp), debate o futu- sublinha, no entanto, que há uma dife-
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Valter Gonçalves Jr
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Embora alardeado, número das pessoas sem religião na sociedade brasileira é mínimo – e até elas acreditam em Deus
rença importante entre os pentecostais e os chamados sem religião – estes são, sobretudo, homens, e os pentecostais, majoritariamente, do gênero feminino. “Talvez, então, ‘sem religião’ seja o substituto do pentecostalismo para rapazes subempregados e ainda sem responsabilidades familiares”, pondera o especialista. Algo temporário, portanto. À revista CRISTIANISMO HOJE, Freston afirmou ter baseado seu cálculo em relação ao futuro da religião no país, a partir do destino que tem sido traçado pelos brasileiros que abandonam o catolicismo: “Apenas um em cada dois ex-católicos vira evangélico”, declara. Para ele, não adianta tentar definir quem seriam os “sem religião”, e sim, entender a variedade que acaba caindo nessa categoria censitária. “Uns poucos cristãos, por alguma razão, talvez aceitem ser contados nesse grupo”, admite. “Componente místico” – Já Agnaldo Cuoco Portugal, doutor em filosofia da
religião e professor da Universidade de Brasília (UnB), lembra que os números dos últimos censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam para uma situação totalmente oposta. “Os últimos dados, de 2005, comparados com os de 2000, mostram na verdade uma diminuição do número das pessoas que se declaram sem religião, ainda que dentro da margem de erro”, aponta. Portugal ressalta que os acadêmicos têm dificuldade de explicar o grande crescimento da religião ao redor do mundo, em que pesem todas as previsões contrárias. E o cristianismo está nessa equação. De fato, o estudo Economia das Religiões, divulgado no ano passado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), com base em dados do IBGE entre 2000 e 2003, mostra o crescimentos dos evangélicos, tanto tradicionais quanto pentecostais. E aponta a queda – não vertiginosa como acontecia nos anos 90, é verdade – do
número de católicos e também dos “sem religião”. Em 2000, o percentual de brasileiros que declaravam não professar qualquer crença era de 9,02%. Três anos depois, esse número caiu para pouco mais de cinco por cento. O professor observa que, entre os que dizem não pertencer a uma religião, há os ateus modernos, que militam contra a fé, e os agnósticos, que simplesmente não encontraram resposta na religião. E há também aqueles que têm algum tipo de religiosidade ou de espiritualidade, mas não se identificam com nenhuma das religiões institucionalizadas. “O que é muito curioso”, avalia o professor. “São ‘sem religião’, mas no sentido institucional da palavra. Eles não são mediados por nenhuma instituição ou participam de grupos muito pouco institucionalizados. O que é uma tendência, até”, diz Portugal. “As ciências sociais têm explicações e discussões muito antigas, datando do século 18, que vaticinaram o fim da religião
“Encontrei novo sentido”
Agência Brasil
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de transcendência com uma espiritualidade mais concreta. IncenPedro Ivo de Souza Batista, 47 anos, voltou a ter fé há pouco tivado pelos cristãos do gabinete de Marina Silva, ele resolveu ler tempo. Foi uma longa trajetória, que envolveu também suas esa Bíblia e a aprender sobre Jesus Cristo. “Vi a forma como ele colhas políticas e intelectuais. “Deus usou a ciência. Na brecha se relacionava com as pessoas, a natureza, a transcendência, que a gente dá, ele vem”, conta. Cearense, criado no catolicistodo o exemplo dele me tocou muito. A beleza do universo só mo, no início da década de 80, sob influência da teologia da liberseria possível com alguém muito amoroso e compassivo com tação, ele participou de movimentos políticos de contestação. todos. Cheguei à conclusão de que Jesus Aos poucos, foi se bandeando até tornar-se estava nesse processo todo”, afirma. “Volum ateu convicto, aos 22 anos. “Não tinha tei a Deus de uma forma muito racional. sentido imaginar que Deus existia e que JeNão houve nada fantástico, não fui curado sus era seu Filho”, confessa. de nada. Mas na busca da esperança, enCom anos e anos de um ateísmo já arraicontrei esse amor incondicional”. gado, algo começou a deixar o militante de Pela formação de esquerda – o que é esquerda inquieto. Primeiramente atraído “contraditório, mas não excludente”, diz –, pela causa da ecologia, passou a ver um Pedro Ivo ficou mais próximo ao protestansentido novo para as coisas. “Comecei a tismo. Interessou-se pela Reforma de Ludiscutir o universo, a criação, a formação tero e pela forma democrática de ser dos da Terra, os elementos que compõem a evangélicos. “Há muito preconceito contra vida. O processo evolutivo é tão sutil, tão os crentes, muitas tentativas de colocádelicado, que passei a pensar na existência O assessor parlamentar Pedro Ivo: los num padrão”, diz Pedro Ivo, que hoje de algo transcendental, acima da gente – transição entre o ate´smo militante congrega na Igreja Anglicana, em Brasília; algum arquiteto disso tudo”, lembra Pedro e uma fé consciente “Meus amigos todos, comunistas, revoluIvo, que coordenou a Agenda 21 Brasil, no cionários, socialistas, não compreenderam minha nova posição. Ministério do Meio Ambiente, e é assessor parlamentar da senaAcharam que eu estava perdendo o rumo, que abdicaria de midora Marina Silva (PT-AC), ex-titular da Pasta. “Passei a ler sobre nhas opções políticas e sociais, com as características do que os cientistas e descobri que muitos viam na ciência um caminho sou”, revela. “Depois que a gente encontra fé, as coisas vão se para Deus.” revelando. Coisas muito bonitas, o Reino de Deus, a possibilidade Pois o caminho de Pedro Ivo não parou por aí. Ele parecia de uma vida nova, a importância da oração”, conta. “Estou muito tomar um rumo mais esotérico, com interesse no budismo. A feliz, mais humano, mais filho de Deus”, resume, convicto. militância política, porém, o chamava para algo que unisse a idéia
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Fiéis em cruzada pentecostal: movimento evangélico segue crescendo dade tradicional e buscam respostas não coletivas, mas individuais”, ressalva. Deus impessoal – Para ele, ainda há muito o que estudar quando se fala desse grupo de pessoas. O estudo Economia das Religiões, da FGV, mostrou que a faixa da população brasileira mais avessa à religião é justamente a mais pobre, da classe E, que ganha até dois salários mínimos. “Entender porque pessoas com nível superior, com alto ingresso de recursos, do sexo masculino e brancas não possuem uma religião é algo de explicação praticamente automática”, diz. “O interesse sociológico reside no outro extremo, o de, por exemplo, mulheres negras que residem em favelas, vivem com salário mínimo ou menos do que isso e provavelmente dependem de programas sociais para complementar sua renda. Por que neste grupo existe um percentual tão
O professor Agnaldo Portugal: “Muita gente tem fé, mas não se identifica com nenhuma crença institucionalizada”
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alto de pessoas que afirmam não ter religião?”, indaga Fonseca, sublinhando que a sociologia brasileira tem começado a se debruçar sobre o tema, analisando os dados nos últimos cinco anos. O fato é que, enquanto atrai uns, a religião pode provocar calafrios em outros. O advogado baiano Felipe Lordelo, de 24 anos, é tão incomodado com o tema que no ano passado criou um site, o www.semreligiao.com.br. Segundo ele, tudo começou por causa de uma ex-namorada evangélica. “Ela vivia um certo radicalismo que começou a provocar em mim questionamentos a respeito da interferência religiosa na vida das pessoas”, conta ele, que chegou a debater o assunto em um programa de TV, acompanhado do roqueiro Lobão. Lordelo afirma ter a colaboração, no site, de ateus, agnósticos, deístas e até católicos. “Nosso grupo tem uma vertente deísta, ou seja, aqueles que acreditam em Deus, mas entendem ser desnecessária a intermediação da religião para compreendermos a vontade dele”, aponta. “Poderíamos assim definir ‘sem religião’ como um gênero e suas espécies como variações relacionadas às crenças”, explica. O próprio Lordelo se declara um deísta, e à sua maneira define Deus como sendo o próprio Design Inteligente, sem poder de influenciar ou decidir o destino dos homens. Lordelo acredita que há um crescimento deste segmento entre os que saem das fileiras evangélicas. “O que acontece é que muitas pessoas dizem ser de uma religião por imposição social ou por terem sido apenas batizadas nela”, assegura, classificando as instituições religiosas como meros suportes psicológicos, prejudiciais até às famílias. Apreciador de debates, o jovem diz que muitos cristãos participam do site com argumentos e críticas. “Alguns, porém, são mais agressivos”, reclama. Perguntado se ele mesmo não estaria estabelecendo um sistema de crenças que poderia ser taxado por alguém como uma nova religião, Lordelo responde enfático. “Com certeza que não!”
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como elemento constitutivo da sociedade”, diz, por sua vez, Alexandre Brasil Fonseca, doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele lembra que esse entendimento veio relacionado ao estabelecimento dos regimes republicanos no Ocidente e aos processos de secularização e advento do Estado laico. Fonseca sublinha, porém, que hoje os teóricos encontram um quadro diferente: a religião ganha força em todo o mundo. “O ponto em que há mais problemas na teoria sociológica contemporânea é entender o inverso”, sustenta. “Compreender processos como a forte presença do pentecostalismo na América Latina, a ampliação do islamismo na Europa, a forte presença de evangélicos conservadores – tanto nas classes baixas quanto altas nos Estados Unidos –, o crescimento das religiões de matriz africana na Argentina e no Uruguai ou o aumento de jovens que optam por ser padres na esteira da renovação carismática católica”, enumera. O sociólogo ressalta que a sociedade brasileira é “eivada de um forte apelo religioso”, o que até dificulta a definição do que configuraria o grupo dos que declaram não pertencer a religião alguma. “Parece impensável, para o brasileiro, levar uma vida que não tenha um componente místico ou transcendental em seu cotidiano”, diz ele. “Definir-se como ‘sem religião’ é dizer que não se segue uma ‘religião-de-igreja’, nos termos de [Peter Ludwig] Berger”, explica Fonseca, referindo-se ao sociólogo e teólogo austríaco que analisou os fenômenos da secularização e da dessecularização, assim como o da individualização da experiência religiosa. “No caso brasileiro, pelo número baixo de ateus e pela pouca expressão de grupos militantes e organizados neste campo, parece que temos aí uma massa de pessoas que optou por moldar uma religiosidade particular”, explica. Essa postura seria, continua o pesquisador, fruto da reunião de diferentes credos e experiências. “Por outro lado, reforça a idéia de que os ‘sem religião’ se cansaram da religiosi-
Ma r c e l o B r a s i l e i r o
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Fé sob ataque
Propaganda ateísta assume ares de batalha cultural
STF tem decidido questões com forte apelo religioso, como as pesquisas com células-tronco e até o uso de s´mbolos cristãos em órgãos públicos, como o crucifixo que ornamenta o plenário
Não são poucos os que esperam que o cristianismo saia de cena de vez. Qualquer discurso que, entre suas argumentações, tangencie uma justificativa cristã, é repelido com veemência em artigos e editoriais na grande mídia. Quando o então Procurador-Geral da República Cláudio Fonteles, católico praticante, provocou, há dois anos, o Supremo Tribunal Federal a se manifestar sobre a legalidade ou não do uso de células-tronco embrionárias para pesquisa científica – tendo como argumento o direito à vida dos embriões congelados –, os principais articulistas do país o criticaram asperamente pela ousadia de tirar sua religião do foro íntimo para o debate no espaço público, no âmbito do Estado. Praticamente uma heresia. Ao que parece, os evangélicos, em especial, estão fadados a ficar confinados em uma espécie de córner de extrema direita, acuados e taxados de intolerantes e responsabilizados por guerras e preconceitos. A grande mídia norte-americana não teve pudor em bater duro no então recém-eleito presidente Barack Obama pelo simples fato de ele ter convidado o pastor Rick Warren – tido como conservador, ou, pecado maior, “fundamentalista” – para ser um dos religiosos a fazer a oração da posse, em janeiro.
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Recuo paradoxal – Na Inglaterra, a batalha em torno da fé chegou ao complicado trânsito londrino. Propaganda ateísta toma algumas dezenas daqueles tradicionais ônibus vermelhos, de dois andares, com a frase “Provavelmente não há Deus; agora pare de se preocupar e curta a vida”. O que pouco se noticiou é que o grupo que paga a propaganda, ligado a Dawkins, um pregador do ateísmo, resolveu
agir para responder à criativa forma de evangelização encontrada pelo grupo interdenominacional Lamb of God (Cordeiro de Deus). Os crentes seguem colocando versículos bíblicos na lateral de vários ônibus londrinos. “Quando vier o Filho do homem, encontrará, porventura, fé na Terra?”, pergunta um dos anúncios, com o texto do Evangelho de Lucas (18.8). Em recente palestra proferida na milenar catedral de Saint Paul, em Londres, o arcebispo da Igreja Anglicana, Rowan Williams, defendeu a relevância cultural da fé cristã numa Europa pluralista e multiétnica. Ele refutava a tese de que o cristianismo não cabe em ambiente democrático. Para chegar lá, o arcebispo precisou refrescar a memória com 20 séculos de história, argumentando que a religião se disseminou como força civilizatória e democratizante. Do outro lado do Atlântico, debates intensos cercam o uso de símbolos cristãos em prédios públicos norte-americanos, tidos como desrespeitosos aos que não professam a fé cristã – ainda que nada menos três em cada quatro cidadãos do país se declarem adeptos da crença, entre protestantes, católicos e evangélicos. A posição de recuo do cristianismo, continuamente sob ataque, guarda pelo menos um paradoxo. Tida como página virada, a fé cristã ainda é professada pela maioria da população ocidental. Apesar de sofrer grandes revezes e estar sendo banido do espaço público – sendo desconsiderado como voz legítima no meio acadêmico, na mídia e na política –, a verdade Mensagem cristã em ônibus londrino: disputa entre ateus e cristãos ganha ares de batalha cultural
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é que as pesquisas sobre religião demonstram o enorme poder de influência do cristianismo. Na secularizada Europa, o número de pessoas que buscam a religião tem aumentado. Em 2005, pesquisa do Eurobarometter Poll mostrou, para surpresa de muitos, que 52% dos europeus afirmaram crer em um Deus pessoal, à maneira cristã, e outros 27% disseram acreditar que uma força espiritual e sobrenatural governa o universo. Estado laico - No Brasil, o tom antireligioso da mídia e dos meios acadêmicos também não deixa dúvidas de que o cristianismo, por aqui, já não parece ter a mesma força política e cultural. A ONG Brasil para Todos, que combate manifestações religiosas no âmbito do Estado, pediu ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que se pronunciasse sobre o uso de crucifixos em tribunais de todo o país. O grupo, que agrega de ateus e agnósticos a adeptos de várias religiões minoritárias (inclusive protestantes), defende o caráter laico do Estado brasileiro, consagrado pela Constituição – a mesma cujo preâmbulo evoca o nome de Deus. Eles dizem não haver espaço nos tribunais para o uso de crucifixos ou qualquer menção à fé cristã, atualmente confessada por quase 90% da população do país. O CNJ, surpreendentemente, preferiu não mexer no vespeiro e manteve a tradição do uso desses símbolos nos espaços judiciários. O jurista Ives Gandra Martins tem ressaltado, em resposta a quem combate a influência cristã – especialmente católica – no âmbito da Justiça, que o laicismo não deve ser confundido com ateísmo oficial. “Estado laico, que reconhece o fator religioso como componente constitutivo das sociedades humanas, não se confunde com Estado ateu, que rejeita toda manifestação religiosa”, afirma.
Agência Brasil
O jurista Ives Gandra: “O Estado laico deve reconhecer o fator religioso como componente constitutivo das sociedades humanas”
Treici Schwengber
A crítica se baseava no fato de Warren simplesmente continuar pregando a salvação em Jesus e não concordar com casamento entre homossexuais. O clima nas universidades, na mídia e na política é de uma autêntica batalha cultural. “Minha experiência mostra que as universidades ocidentais não se preocupam com conhecimento e aprendizado, mas com ideologia”, disse no ano passado o teológo Rikk Watts, no seminário Cristianismo: Benção ou maldição?, promovido em Brasília (DF) pelo Centro Cristão de Estudos. “Se vamos salvar essas universidades, nós, cristãos, teremos que aprender a falar a verdade e conhecer a nossa história”, observou Watts, que é professor do seminário do Regent College, no Canadá, além de PhD em teologia em Cambridge e especialista em filosofia, história da arte e sociologia. “O problema é que a maior parte dos cristãos não sabe explicar diferentemente do que pregam pessoas como o cientista britânico Richard Dawkins, para quem todos os males do mundo vêm do cristianismo”, declarou. “Mas eu cheguei à conclusão, e não sou só eu, que não há nada que tenha feito tão bem ao mundo quanto o cristianismo”, ousa dizer o teólogo, que deve voltar ao Brasil em agosto, para novas conferências.
reflexão Ricardo Agreste teólogo e escritor
Entre turistas e peregrinos Existe estreita relação entre a jornada de um cristão e a experiência de um peregrino
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Todos estes viveram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido; viram-no de longe e de longe o saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra” (Hebreus 11.13). O sociólogo polonês Zygmunt Bauman usa a imagem do turista para representar um comportamento bastante comum nos dias de hoje. Turista é aquele indivíduo que visita muitos lugares, mas não pertence a nenhum deles. Às vezes, fica extasiado com aquilo que vê; em outras ocasiões, o desdenha por ter em sua mente um grande quadro comparativo de lugares e situações. Seja qual for seu sentimento, não pretende se comprometer com nada à sua volta. Afinal, está apenas de passagem. Sua maior motivação está vinculada à descoberta de novos lugares, à vivência de novas experiências. Por outro lado, Bauman apresenta a imagem do peregrino. O peregrino é uma espécie em extinção em nossa cultura contemporânea. Diferentemente do turista, ele não está envolvido numa aventura de entretenimento, mas numa jornada que tem um início, um meio e um fim. Algo o moveu a iniciar a jornada, e ele percebe que, ao longo dela, existe uma missão a ser vivenciada – e a realidade última se encontra no fim da caminhada. Tudo o que presencia ao longo do caminho são pontos de referência de grande importância e, portanto, tratados com grande reverência por parte do peregrino. Interessante que não poucas vezes na história da espiritualidade cristã os discípulos de Cristo são comparados aos peregrinos. Existe uma estreita relação entre a jornada de um cristão e a experiência de um peregrino. Ambas possuem alguns elementos em comum: a consciência de que a realidade última está ainda por vir; a sensibilidade de que o caminho que trilham pertence ao processo da descoberta e do preparo de si mesmo para esta realidade final; e, por fim, o senso de missão para com os lugares por onde passam e as pessoas que encontram em direção do lugar almejado. As metáforas de Bauman remetem-nos às maiores barreiras impostas pela nossa cultura ao desenvolvimento de uma espiritualidade biblicamente consistente e sadia. Em nossas igrejas, não é difícil constatar a presença massiva de pessoas mais parecidas com turistas do que com peregrinos. Elas estão ali para usufruir do espaço, degustar das informações transmitidas do púlpito e, principalmente,
experimentar o clima. Tão logo se sintam saciados com o que é oferecido e com a forma como as coisas acontecem, são tomados pelo tédio; logo serão impulsionados na direção de um novo lugar, onde encontrarão novas informações e terão novas experiências. Como consequência disso, é triste constatar que algumas de nossas igrejas se tornaram “centro turísticos”, com diferentes elementos de fascinação. Em algumas delas, a atração principal é o famoso pregador com seu poder de reflexão; em outras, é a música de adoração, com seu poder de arrebatamento coletivo. Há também denominações onde o clímax é o momento de oração, com seu alardeado poder de convencer Deus a agir e, até mesmo, de coagi-lo a mudar de ideia diante de determinadas situações. O que muitos cristãos não se dão conta é da completa inviabilidade de uma espiritualidade sadia nessa cultura gerada por demandas de turistas. Enquanto turistas estão comprometidos apenas com o próprio prazer e seu insaciável desejo por entretenimento, peregrinos estão comprometidos com uma jornada na qual possuem uma vocação a ser exercida ao longo do caminho. Enquanto turistas consomem lugares e atrações como fins em si mesmos, peregrinos estabelecem relacionamentos, caminhando com reverência e integrando as experiências – e as pessoas que encontra – na construção da própria maturidade. Turistas estabelecem relacionamentos frágeis e descartáveis; peregrinos descobrem, especialmente na vivência com aqueles com quem caminham lado a lado na jornada, uma grande fonte de consolo, confronto, encorajamento e sabedoria. Turistas, de forma geral, não possuem qualquer compromisso para com o mundo à sua volta. Afinal, pensam, estão apenas de passagem, e importa apenas aproveitar o momento, antes de seguir viagem. Já peregrinos estão numa jornada que os faz o próximo daquele que está à beira do caminho, tal como o samaritano da parábola. Eles querem ser luz e sal, sentem o chamado para influenciar os outros com sua ação e testemunho. Como cristãos, temos tido uma postura de turista ou de peregrino diante da nossa comunidade e para com o mundo no qual estamos inseridos? Qual seria o reflexo em nossas vidas, comunidades e sociedades se, na contramão da cultura do superficial e do transitório, aceitássemos o desafio de viver como peregrinos, e não turistas?
O que muitos cristãos não se dão conta é da completa inviabilidade de uma espiritualidade sadia nessa cultura gerada por demandas de turistas
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Perspectiva Ed René Kivitz teólogo e escritor
O Livro e os livros
A fé protestante propagou-se paralelamente à difusão do saber e à busca do conhecimento
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história se passa num mosteiro beneditino na Itália no ano de 1327, onde se guardava a sete chaves o maior acervo literário cristão da época. A extraordinária narrativa foi utilizada para debater a livre circulação do conhecimento face ao dogmatismo religioso de então, que considerava temerária toda disseminação do saber – e, mais ainda, qualquer espírito inquiridor e questionador das doutrinas da Igreja. Submeter a afirmação religiosa ao escrutínio da razão era demasiado perigoso e devia ser evitado a qualquer custo, o que justifica a trama de um monge. Ele se vale de um expediente criminoso para impedir aos copistas do mosteiro o acesso a um suposto livro de Aristóteles, O Riso, considerado um ataque à fé. A biblioteca de O Nome da Rosa é símbolo de uma postura religiosa que pretende se impor às custas da ignorância por ela mesma patrocinada. Em contraponto a esta postura, a Reforma Protestante se notabilizou pelo acesso de todos à Bíblia. O protestantismo é, desde a sua gênese, um movimento deflagrado pela redescoberta e revalorização das Escrituras Sagradas. A liturgia protestante tinha na exposição da Palavra de Deus seu ponto central. Os reformadores incentivaram seu estudo pessoal – por esta razão, se dedicaram sem medir esforços à educação e à tradução da Bíblia para a língua do povo. Com justo mérito, o protestantismo foi chamado de “a religião do livro”. A fé protestante propagou-se paralelamente à difusão do saber e ao incentivo à busca do conhecimento. Ela sempre foi favorável à investigação racional da Palavra de Deus, valendo-se das categorias iluministas para o labor teológico e a interpretação dos seus textos básicos, para bem e para mal. A maior evidência dessa postura é a defesa intransigente do livre exame das Escrituras e da competência do indivíduo diante de Deus. Isso explica a diversidade fragmentária do protestantismo. É bem explorada a distinção entre as tradições católica romana, cuja ênfase é a unidade, e a protestante, fundamentada na verdade. Enquanto o catolicismo romano se articula na tentativa de preservar a unidade na diversidade – todos sob uma mesma e una hierarquia –, o protestantismo se expande através de cisões baseadas em visões particulares de lideranças carismáticas que dão origem a igrejas e denominações diferentes, num desenrolar sem fim de dissidências.
O fenômeno protestante se explica, pelo menos parcialmente, pela infeliz confusão entre livre exame e livre interpretação das Escrituras. A afirmação de que todos têm iguais direitos de acesso e liberdade inalienável para o exame dos textos sagrados não equivale à afirmação de que cada um é livre para interpretar os textos sagrados à luz exclusiva de sua própria compreensão e consciência. De quando em vez encontro pessoas advogando a devolução da Bíblia ao povo, como se em algum momento da tradição protestante esse acesso lhe tivesse sido negado. Imagino que o apelo a que se devolva as Escrituras ao povo pode ser compreendido de duas maneiras. A primeira seria colocar a Bíblia na mão de alguém e dizer: “Aí está, ouça apenas e tão somente a voz do Espírito Santo e interprete livremente conforme lhe parecer bem ao coração”. A outra, bem diferente, seria entregar a Palavra de Deus ao indivíduo, abrir a porta da biblioteca e dizer: “Aí está a Bíblia e o acervo da comunidade da fé, a coletânea das visões e interpretações de todos os que ao longo da história têm buscado ouvir a voz de Deus; investigue, estude, compare as diferentes interpretações dos diferentes mestres e tradições, e faça a opção que melhor lhe parecer ao coração e à consciência sob a direção do Espírito Santo que guia à toda a verdade”. Esta segunda postura colocaria cada pessoa com a Bíblia na mão sob a responsabilidade de fundamentar suas crenças e afirmações para além das simples opiniões ou preferências. “A liberdade de expressão implica dois postulados, não apenas um. Ela começa por permitir que os indivíduos expressem as suas ideias sem a coerção de terceiros”, diz João Pereira Coutinho. “Mas existe um segundo postulado usualmente esquecido: o fato de alguém ter liberdade de expressão não implica, logicamente, que os outros têm de prestar atenção ao que ele diz”, conclui. Isso pode ser aplicado ao conceito de livre exame das Escrituras: a liberdade de qualquer um examinar as Escrituras não implica, necessariamente, que somos obrigados a dar atenção à sua interpretação. A exegese bíblica é tarefa comunitária, isto é, deve ser feita não apenas na comunhão dos pares como também sob a iluminação da comunidade histórica da fé. É certo que todos têm pleno direito ao livre exame. Mas não é fato que devemos levar a sério aqueles que se limitam às opiniões particulares sem quaisquer preocupações com a fundamentação de suas afirmações.
A exegese b´blica é tarefa comunitária, isto é, deve ser feita não apenas na comunhão dos pares como também sob a iluminação da comunidade histórica da fé
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Igrejas e congregações independentes adotam indevidamente nomes de grandes denominações com as quais não mantêm qualquer vínculo
Um fenômeno decorrente do crescimen- rizadas por todo o território nacional, to do segmento evangélico está cha- com uma trajetória cuja origem remonta mando a atenção de algumas das mais à segunda metade do século 19 e início tradicionais denominações do país. É a dos anos 1900. Mas a placa na entrada clonagem de nomes de igrejas, utiliza- não é garantia de legitimidade. Muitas ção indevida de marcas tradicionais no comunidades autônomas, sem qualquer meio protestante por instituições sem ligação administrativa ou doutrinária qualquer ligação com as grandes con- com as denominações cujos nomes utivenções, cujos nomes utilizam numa lizam, funcionam livremente. Na zona tentativa de atrair fiéis e de tirar uma norte do Rio de Janeiro, por exemplo, casquinha na credibilidade alheia. Em é possível encontrar a Assembleia de meio a um crescimento com ares desor- Deus Ministério Renovo e a Igreja Badenados – só em São Paulo, a cada ano tista Templo de Milagres, que apesar são criadas cerca de 220 novas igrejas dos nomes não são subordinadas às enevangélicas, algumas das quais não pas- tidades cujas nomenclaturas adotam. sam de salinhas alugadas nas periferias A clonagem eclesiástica preocupa lí–, parece cada vez mais difícil norma- deres evangélicos. “Nós estamos acomtizar o setor. E o pior é que, panhando isso com muita peralém de gente bem intencioplexidade, porque essas igrejas Igreja nada que quer apenas anunestão nos causando grande ciar o Evangelho da salvação, prejuízo”, diz o pastor José aventureiros pegam carona na tradição Wellington Bezerra da Costa, presidende grandes organizações religiosas, pre- te da Convenção Geral das Assembleias judicando sua imagem perante o públi- de Deus do Brasil (CGADB). Reeleito co. No meio das mais de 300 mil igrejas no mês de abril para mais um mandato evangélicas que funcionam no Brasil, à frente da maior denominação evangémuitas parecem uma coisa e são outra. lica nacional, Wellington diz que a AsDenominações como a Batista, a As- sembleia de Deus é uma das mais afetasembleia de Deus e a Presbiteriana são das pelo problema, pois acaba tendo seu as maiores vítimas da clonagem eclesi- nome respingado por qualquer atitude ástica. Organizadas em convenções na- errada de religiosos free-lancers. “Muitas cionais, essas três gigantes, que juntas vezes, os pastores dessas igrejas não têm reúnem milhões de fiéis, estão capila- boa formação eclesiástica, espiritual,
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moral e até cultural para o exercício do ministério. Por isso, causam desordem doutrinária em seus púlpitos”, observa. Um dos principais prejuízos acontece na área financeira. Segundo Wellington, eventuais desmandos ou calotes perpetrados por dirigentes de congregações clonadas sujam o nome da denominação. “Quando precisamos fazer alguma transação ou giro bancário, temos de provar por A mais B que não somos esse tipo de gente”, reclama. O presidente diz que está nos planos da denominação fortalecer seu Corpo Jurídico para acionar a
D i v u l g a ç ã o CP A D
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Sulamita Ricardo
Sulamita Ricardo
Fachada da Assembleia de Deus do Azeite Quente: uso não-autorizado do nome de grandes denominações é comum por pequenas igrejas independentes
O pastor José Wellington, dirigente da CGADB, estuda medidas legais: “Perplexidade”
Parece, mas não é
Arquivo
Justiça em alguns casos. “Claro que primeiro tentaremos a via diplomática, solicitando a troca do nome”, adianta. Fragilização – Para José Carlos da Silva, presidente da Convenção Batista Nacional (CBN) e pastor da Primeira Igreja Batista de Brasília, o que está em jogo é a soberania das denominações. “O uso indevido do nome ‘batista’ por igrejas desvinculadas das entidades que nos representam causa muitos problemas”, aponta. Os crentes batistas brasileiros estão ligados a dois grandes grupos: a CBN, reunindo as igrejas de orientação pentecostal, que surgiu na década de 1960, e a centenária Convenção Batista Brasileira (CBB), de linha tradicional, cada uma delas com mais de um milhão de fiéis. Há ainda entidades menores, como a Igreja Batista Regular e a Igreja Batista Independente. Em comum, explica Silva, todas essas organizações seguem estatutos denominacionais e administrativos, com representatividade através das assembleias gerais, que normatizam o processo de eleição dos líderes. “Ou seja, há prestação de contas.” No entender do pastor, o processo de abertura indiscriminada de congregações reflete o processo de fragilização da Igreja Evangélica brasileira, “multifacetada e carente de orientação”. Basta uma passeada pelas maiores cidades brasileiras, e até mesmo no interior, para constatar que o mercado da expansão evangélica está a todo vapor. A cada dia, novas comunidades abrem suas portas – e os nomes, por vezes, são curiosos e até esdrúxulos, como Igreja Bailarinas da Valsa Divina ou Assembleia de Deus da Fonte Santa (ver quadro). Para José Carlos da Silva, tanta originalidade, digamos assim, é uma característica cultural do povo brasileiro. “Normalmente, essas nomenclaturas são escolhidas a partir de experiências místicas, atribuídas a revelações ou sonhos. Expressam tanto ignorância como mau gosto, mas o amor tudo suporta”, resigna-se o presidente da CBN. Roberto Brasileiro, pastor-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, também expressa preocupação com essa pulverização e pelo uso indevido do nome de sua denomi-
nação por grupos desconhecidos. “Esse fenômeno causa prejuízos para o Evangelho em geral, e traz descrédito e críticas para as igrejas. Mas nós não temos responsabilidade sobre isso”, comenta. O problema é que nomes como os usados pelas grandes denominações já são de domínio público – ou seja, quem os utiliza não comete nenhuma irregularidade do ponto de vista legal. É o que explica o advogado e mestre em direito Gilberto
Garcia, especialista na legislação ligada ao funcionamento das instituições religiosas. Ele lançou o livro O Novo Código Civil e as Igrejas em 2003, época em que a mudança na lei causou alvoroço entre os pastores. Ele diz que um título como “metodista” pode ser utilizados por qualquer igreja, já que no Brasil é muito fácil abrir uma instituição religiosa. “Nomes como Assembleia de Deus, Igreja Batista ou Igreja Presbiteriana são exemplos de
Entre o público e o privado
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Federal. Entretanto, se o dirigente vai assumir a presidência de uma organização religiosa – seja qual for sua confissão de fé – juntamente com a posição de líder religioso, ele precisa, de acordo com o Código Civil, ser civilmente capaz, e ainda, não ter qualquer pendência fiscal com a Receita. Também precisa comprovar que não foi condenada em processo criminal, através de certidões oficiais.
O advogado Gilberto Garcia, especializado em direito civil e na legislação que rege as entidades religiosas, respondeu a algumas perguntas de CRISTIANISMO HOJE sobre o processo de abertura de igrejas:
CRISTIANISMO HOJE – O que é preciso para se abrir Especialista na uma igreja no Brasil? GILBERTO GARCIA – A or- legislação que rege ganização religiosa é uma funcionamento das entidade associativa, uma igrejas, Gilberto Garcia pessoa jurídica de direito explica que muitas privado. Para funcionar, ela nomenclaturas já são de As entidades denomiprecisa averbar seu Estatuto dom´nio público nacionais não podem Associativo no Cartório do exercer um controle efetivo sobre a Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Em abertura de novas igrejas, sobretudo seguida, os responsáveis devem providenaquelas que utilizarão indevidamenciar o registro na Receita Federal, obtendo te nomenclaturas já consagradas? assim o Cadastro Nacional de Pessoas As denominações históricas não têm Jurídicas (CNPJ). É preciso, ainda, obter o qualquer controle sobre a abertura de certificado de vistoria do Corpo de Bomigrejas com seus nomes, pois nomenclabeiros para o templo, e em alguns casos, turas como Assembleia de Deus, Batista alvará, fornecido pela prefeitura local. ou Presbiteriana são consideradas de domínio público, não havendo qualquer Existe algum tipo de controle ou exiilegalidade em sua utilização de modo gência sobre quem será o titular da genérico. O que não se pode é utilizar o nova igreja? nome de uma igreja local que tenha sido Compete exclusivamente à igreja local, registrada, por exemplo, como Assemconvenção, denominação ou grupo relibléia de Deus em Goiás ou Igreja Batista gioso estabelecer os critérios para que em São Paulo. No caso das igrejas louma pessoa se torne um pastor – ou cais, seus membros podem adotar meevangelista, presbítero, diácono, bispo, didas legais cabíveis para impedir, incluapóstolo... Não há qualquer controle púsive judicialmente, a utilização do nome blico sobre isso, em função da liberdade especifico, sob as penas da lei. religiosa consagrada pela Constituição
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como Primeira Igreja Batista em São Paulo ou Igreja Presbiteriana Central de Brasília, por exemplo. “Cada igreja legalizada tem propriedade sobre seu nome específico, que é protegido contra plágios.”
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O teólogo Lourenço Rega prefere ver o fenômeno como fruto do crescimento evangélico: “Essas igrejas oferecem mensagem que atende às demandas do povo” ‘nomes genéricos’, chamados assim por não terem sido registrados em órgãos oficiais na época oportuna.” Segundo Garcia, depois de devidamente regulamentadas, as igrejas têm direito de personalidade sobre o seu nome, uma novidade implantada pelo novo Código Civil. “Tal direito antes só era reservado aos cidadãos”, acrescenta. “Daí ser praticamente inviável a adoção de providência legal para impedir que alguém adote essas nomenclaturas”. A proteção é assegurada, ressalva o advogado, apenas ao nome específico de uma igreja local,
“Mão torta” – Ainda segundo Gilberto Garcia, o Judiciário não pode fazer muito para frear esse processo. “No prisma legal, a denominação que uma igreja escolhe não traz qualquer embaraço, e o Cartório do Registro Civil das Pessoas Jurídicas não pode, a princípio, impedir o registro do Estatuto Associativo em função da nomenclatura”, explica. A Justiça só pode intervir, e assim mesmo se for provocada, quando o nome ferir o bom senso, os bons costumes e a percepção da sua atuação como instituição espiritual. Ou seja, a questão está sujeita a uma avaliação para lá de subjetiva. “As igrejas aparecem, se multiplicam e ficam cheias porque oferecem uma mensagem simbólica que atende às demandas das pessoas”, opina o pastor e teólogo Lourenço Stélio Rega, diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo. Referência evangélica na área da ética cristã – é autor de Dando um jeito no jeitinho: Como ser ético sem deixar de ser brasileiro, lançado em 2000 pela Editora Mundo Cristão –, ele frisa que o cresci-
mento de movimentos evangélicos não o incomoda. “A Bíblia diz que a porta do Reino dos Céus é estreita. A mensagem pura do Evangelho encontra-se na Palavra de Deus.” Para Rega, a maneira certa de diminuir o apelo de igrejas de fachada é o Corpo de Cristo cumprir sua missão com mais seriedade e dar mais ênfase no testemunho pessoal do crente. “Temos que pregar a mensagem pura e simples do Evangelho e ter, como Igreja do Senhor, influência positiva no ambiente em que estivermos implantados”, conclui o teólogo. Na mesma linha vai o doutor em sociologia Ricardo Mariano. Autor de Neopentecostais – Sociologia do neopentecostalismo, ele é um dos maiores especialistas brasileiros no fenômeno evangélico e acredita que as igrejas-clone são muito pequenas para prejudicar seriamente denominações de grande porte. “Isso não vai atrapalhar um movimento religioso ascendente, que já envolve mais de 40 milhões de brasileiros”, acredita. José Wellington aposta na semeadura do Evangelho: “Ainda que muitas vezes pregada por pessoas despreparadas, os brasileiros estão sendo apresentados à Palavra de Deus. O agente pode ter mão torta, mas se a semente cair, ela vai brotar. Na hora de passar a peneira, Deus passa.”
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Para todos os gostos
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• Assembleia de Deus do Azeite Quente O que um visitante desavisado diria ao ser convidado • Igreja da Bênção Mundial Fogo de Poder para assistir a um culto na Igreja Bailarinas da Valsa • Igreja Batista Templo de Milagres Divina? Ou que impacto pode ter sobre a vida de um • Igreja Chave do Éden crente carnal o ministério da Igreja Evangélica Pen• Igreja do Amor Maior que Outra Força tecostal Jesus Vem, Se não Vigiar Você Fica Fora? • Cruzada Evangélica do Ministério de Jeová, Igrejas com nomes curiosos ou bizarros são cada Deus do Fogo vez mais comuns no Brasil. A jornalista Luciana Maz • Igreja Bailarinas da Valsa Divina zarelli, de São Paulo, está preparando um livro sobre • Igreja das Sete Trombetas do Apocalipse o assunto. Ela se diz surpresa com a criatividade dos • Igreja de Deus da Profecia (no Brasil e pastores. “Em alguns casos, eles conseguem unir América do Sul) no mesmo nome palavras antagônicas, como IgreA jornalista Luciana • Igreja Cenáculo de Oração Jesus Está ja Evangélica Muçulmana Javé É Pai”, diverte-se. No Mazzarelli prepara Voltando entanto, o objetivo de sua pesquisa – feita na maiolivro sobre igrejas • Igreja Pentecostal Subimos com Jesus ria das vezes in loco, palmilhando ruas de periferias com nomes curiosos • Igreja Evangélica Pentecostal Jesus Vem, e bairros populares – não é ridicularizar ninguém, e Se Não Vigiar Você Fica Fora (IEPJVSNVVFF) sim, mostrar a diversidade de interpretações bíblicas e liturgias: • Igreja Evangélica Arca de Noé “O fenômeno tem um lado positivo, pois assim o propósito de • Rancho dos Profetas levar o Evangelho a todos os lugares está sendo cumprido”, ex• Igreja Asas de Águia – Visão Além do Alcance plica Luciana. “Hoje em dia ninguém deixa de ir à igreja por falta • Igreja Evangélica Pentecostal Quero Te Ver na Glória de opção. Temos igrejas para cada tribo: surfistas, motociclistas, • Igreja do Cavaleiro do Cavalo Branco do Apocalipse 6.2 artistas... enfim, é igreja para todos os gostos”. Conheça algumas • Igreja da Ressurreição dos Mortos dessas congregações cuja originalidade já começa pelo nome:
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Depressão atinge pelo menos uma em quatro pessoas ao longo da vida, mas a fé em Cristo pode ajudar suas vítimas
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Dan G.Blazer
Já virou lugar-comum dizer que a depressão é o mal do século. Aliás, ela já o foi no século passado, e adentrou no terceiro milênio com força total, alavancada por uma série de fatores típicos da modernidade, como o estresse da vida moderna, a falência dos relacionamentos interpessoais e, mais recentemente, o agravamento da crise econômica global. A Organização Mundial da Saúde considera a depressão como a segunda maior causa de deficiência no mundo, depois apenas das doenças cardiovasculares, e a expectativa é que se torne a número um nos próximos dez anos. Nos Estados Unidos, de cinco a 10% dos adultos experimentam os sintomas da depressão. Mais de 25% das pessoas enfrentarão a depressão em algum momento de suas vidas, e quinze por cento dos adultos americanos fazem uso constante de medicamentos antidepressivos. Como explicar esses números? Em parte, eles são resultado de uma dupla mudança nas atitudes culturais sobre depressão. Grupos como a Aliança Nacional em Doenças Mentais e companhias farmacêuticas têm agressivamente promovido a idéia de que ela não é uma falha característica, mas um problema biológico – doença, mesmo – e precisa de uma solução biológica, ou seja, terapia medicamentosa. E, de tão disseminada, já não é algo a ser escondido. Consequentemente, a depressão saiu do armário. Alguns críticos argumentam que, junto com a epidemia de depressão, vem um baixo diagnóstico limiar. Os professores Allan Horwitz e Jerome Wakefield, autores de A perda da tristeza, alertam que os psiquiatras deixaram de fornecer espaço para as agruras emocionais de seus clientes ou aqueles altos e baixos usuais da vida, rotulando até flutuações de humor como sintoma depressivo. Críticos como Horwitz e Wakefield estão certos em parte. É verdade que profissionais e instituições de saúde mental tenham baixado o limiar para o reconhecimento da enfermidade, o que faz com que outros sintomas, muitos deles passageiros e circunstanciais, sejam diagnosticados como depressão. Por outro lado, ainda que se trace o quadro da depressão nos Estados
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Unidos ao longo dos últimos 20 anos usando um critério fixo, será notado um crescimento significativo na ocorrência de novos casos. Então, apesar de os números poderem estar inflados, esse solavanco inquestionavelmente serve para as margens de lucro das empresas farmacêuticas, que têm um substancial e documentado crescimento para tentar explicar.
se consideram sãos, mas para os doentes. Não deve ser surpresa, então, que os depressivos estejam não somente nos hospitais e clínicas, mas nas igrejas também. Contudo, a depressão permanece tanto familiar quanto misteriosa para pastores e líderes, para não mencionar aqueles que dividem o banco de igreja com pessoas depressivas – quando não são os próprios a experimentá-la. É claro que todo mundo já Capa Sofrimento emocional – Depressão é geralmente diagexperimentou um dia “para baixo”, frequentemente por nosticada quando o paciente exibe um ou ambos dos nenhuma razão clara. Mas a profundidade de uma dedois sintomas principais – humor depressivo e falta de interesse pressão severa permanece um mistério – e já atormentava gente nas atividades do dia a dia, junto com quatro ou mais sintomas como Davi, que no Salmo 31 traça acerca de si mesmo uma como sentimentos de inutilidade ou culpa inapropriada, dimi- descrição típica de um deprimido: “Seja misericordioso cominuição da habilidade de se concentrar ou tomar decisões, fadi- go, ó Senhor, pois estou em aflição; meus olhos se consomem ga além do normal ou do razoável em face da própria rotina e agitação psicomotora (caracterizada quando a pessoa não consegue se aquietar), insônia ou excesso de sono. Pode haver também queda ou MINHA VIDA COM OS ANTIDEPRESSIVOS © aumento significativo de peso ou apetite, além de, nos casos mais extremos, pensamentos recorrentes “Comecei a tomar antidepressivos há oito anos. Eu era solteide morte ou suicídio. ro e bastante envolvido com a vida religiosa e PhD em Teologia. A A definição clínica é estéril, entretanto, é falha combinação do estresse da academia, o estilo de vida solitário e em capturar a principal característica da pessoa que um ambiente espiritualmente tóxico me enviou para uma severa desofre severamente de depressão: o sofrimento emopressão. Felizmente, havia ganhado bastante experiência no assunto cional. Não se trata simplesmente de um estado da com outras crises ao longo da vida, já que o problema também era mente ou um modo negativo de ver a vida, mas de hereditário, e reconheci o que estava acontecendo em tempo de algo que afeta o corpo físico também. Sinais de um buscar ajuda profissional. Dentro de poucas sessões, meu terapeuta episódio significativo de depressão incluem avaliacristão me recomendou antidepressivos. Eu nunca os tinha tomado ções negativas e sem razão de amigos, da família e antes e tive resistência inicialmente, mas minha depressão era tão de si mesmos, dor emocional e problemas físicos. A intensa que eu logo concordei em tentar. nossa sociedade colheu benefícios consideráveis da “Os resultados não foram rápidos ou miraculosos. Dentro de sefusão como ampla rede e assumindo que tudo que é manas, minha depressão piorou. Eu já não me sentia sobrecarregaadquirido é uma doença. do ou que Deus estava longe de ser encontrado. Eu estava isento Agora, doentes e seus familiares estão mais sinde confusão e paralisia mental para tomar decisões importantes em tonizados com a carga emocional do sofrimento da minha vida que levaram, entre outras coisas, ao casamento e família depressão, e contam com medicações que combaque hoje eu tenho. Os remédios, combinados com aconselhamento, tem esses fatores. É um ganho significativo. Por melhoraram sensivelmente a minha vida. Meu terapeuta recomendou outro lado, a definição ampla como uma doença que eu continuasse os tomando – definitivamente, se necessário –, também traz consequências desfavoráveis. Esse o que fiz pelos seis anos seguintes. Mas, lentamente, percebi que a modelo reconhece certamente o aspecto biológico medicação estava me afetando de uma maneira que não me agradada natureza humana e a possibilidade de que seja va. Comecei a ficar realista e impaciente, insensível e espiritualmente inteiramente desordenado; porém, falha em concomplacente. Os antidepressivos faziam com que me sentisse bem siderar outras dimensões no jogo. Por exemplo, o mesmo quando eu não deveria. Parecia que eu flutuava sobre as cirmodelo da doença ignora ambientes sociais como cunstâncias da vida, envolvido numa esfera farmacêutica de impenepossíveis contribuintes para o desencadeamento do trabilidade emocional. processo depressivo, visualizando as pessoas de“E então, pouco menos de dois anos atrás, eu parei de tomar meprimidas como indivíduos isolados com uma fordicamentos para depressão. Sou grato a Deus pelo modo como eles te fronteira entre o limite de seu corpo e tudo do me ajudaram quando eu estava em crise e os recomendaria a outras lado de fora. Pessoas depressivas são reduzidas a pessoas em situação semelhante. Mas estou desconfiado do modo corpos quebrados e cérebros que precisam de concom que os antidepressivos podem nos acostumar a sentimentos serto. Ainda que o aspecto biológico da depressão como compaixão, aflição, culpa e arrependimento – emoções que seja mais complexo que um simples desequilíbrio são essenciais para a maturidade espiritual. E o pior é que a sociequímico, a enfermidade é associada, não obstandade vê essas drogas como uma espécie de saída mágica. Antidete, como regulação insignificante dos mensageiros pressivos são uma vantagem para quem verdadeiramente precisa químicos do cérebro, como a serotonina.
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deles, mas não são uma panacéia para a condição humana.”
Hospital de Deus – A igreja é o hospital de Deus. Sempre foi cheia de pessoas “no conserto”, já que o próprio Cristo enfatizou que não veio para os que
Joel Scandrett é sacerdote anglicano e instrutor-adjunto de teologia na Faculdade de Wheaton
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de tristeza, e minha alma e meu corpo, de desgosto. Minha vida é consumida pela angústia e meus anos pelos gemidos. Minha força falha por causa da minha aflição, e meus ossos estão fracos.” Depressão severa é frequentemente um mal além de qualquer descrição. E quando tais profundos e dolorosos sentimentos não podem ser explanados, eles cortam o coração de um ser espiritual. Se as igrejas querem efetivamente ministrar a pessoas nesta condição, elas devem contar com toda a complexidade do ser humano. Estudos de grupos religiosos – de judeus ortodoxos a cristãos evangélicos – revelam evidências de que a fé não os imuniza contra seus sintomas, embora muitos pensem o contrário. Em uma tí-
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“Eu tenho uma doença crônica mental, uma desordem cerebral que costumava ser chamada de depressão maníaca, mas agora é denominada, menos ofensivamente, de desvio bipolar. Comecei minha jornada no mundo da doença mental com uma depressão pós-parto depois do nascimento do meu segundo filho. Procurei ajuda de psiquiatras, assistentes sociais e profissionais de saúde mental. Submeti-me a terapia ativa com sucessivos profissionais por muitos anos e recebi prescrições de muitos medicamentos psiquiátricos, que pouco aliviaram meus sintomas. Cheguei a ser hospitalizada e recebi até tratamentos terapêuticos eletroconvulsivos. Tudo isso ajudou, eu devo dizer, apesar da minha repugnância a remédios e hospitais. Esse processo todo ajudou-me a reconstruir algo de mim mesma, e pude continuar a ser a mãe, sacerdotisa e escritora que acredito que Deus quer que eu seja. “O problema era que, durante esse período de doença, eu me perguntava frequentemente o porquê de tudo aquilo, ou seja, como uma cristã de fé poderia ser submetida àquela tortura da alma? E como eu poderia dizer que aquilo não tinha nada a ver com Deus, que é o pressuposto dos psiquiatras em geral, para quem a fé é geralmente encarada como uma muleta, ou, pior ainda, sintoma de doença? E ainda como eu poderia confessar minha fé nesse Senhor que era “socorro bem presente na tribulação”? E se minha depressão tivesse alguma coisa a ver com pecado, punição ou castigo divino? E se eu fosse, para usar uma frase de Jonathan Edwards, simplesmente um “pecador nas mãos de um Deus irado”? “Mas depressão não é só tristeza ou aflição. Depressão não é somente pensamento negativo, ou simplesmente ‘estar para baixo’, como se diz. Depressão é como estar andando descalço no vidro quebrado, sentindo o peso do corpo
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pica congregação de 200 adultos, 50 vão experimentar depressão em algum momento de suas vidas, e no mínimo trinta fazem uso de algum antidepressivo. O problema é que, além das causas tipicamente biológicas, pensamentos distorcidos contribuem para o desencadeamento da depressão. Aqueles que são depressivos não se avaliam rigorosamente – ou seja, tendem a pensar simplesmente que não são tão bons quanto os outros –, e constantemente depreciam o próprio valor. Aaron Beck, o pai da mais popular psicoterapia de hoje, a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), propõe que a depressão deriva em grande parte dessas distorções cognitivas. Quando usados sensatamente, antidepressivos e terapia comportamen-
Luz na escuridão
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moer ainda mais os fragmentos que nos ferem. Quando eu estou depressiva, todo pensamento, toda respiração, todo momento consciente machuca. E, com o meu problema de bipolaridade, muitas vezes acontece o oposto – sinto-me cintilante, tanto para mim mesma, e em minha imaginação, como para o mundo todo. Mas mania é mais que velocidade mental, euforia ou gênio criativo no trabalho. Algumas vezes, quando aponta para uma psicose desabrochada, pode ser aterrador. A doença mental não nos permite simplesmente tirar o corpo fora: não há como se salvar pelos próprios esforços. “No meu caso, a fé oferece um mundo de esperança real, encontrada no Cristo crucificado. Nos meus cantos de doença mental, o entendimento da esperança cristã me dá conforto e encorajamento, mesmo se não houver alívio dos sintomas. A ressurreição de Cristo mata até o poder da morte, e promete que Deus irá tirar toda lágrima no último dia. O sofrimento não é eliminado pela ressurreição, mas transformado por ela – mas nós ainda temos lágrimas no presente. Nós ainda morremos. Mas toda a Criação será redimida da dor e da aflição. A aflição e tristeza não existirão mais. As lágrimas acabarão. Até cérebros doentes como o meu serão restaurados.” Kathryn Greene-McCreight é pastora da Igreja Episcopal de São João, em New Haven, Connecticut, e autora do livro A escuridão é minha única companheira: A responsabilidade cristã para a doença mental (Brazos Press, 2006)
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tal cognitiva podem restaurar a estabilidade nos indivíduos de negociar melhor os desafios do dia-a-dia. Para aqueles que estão no auge da depressão paralisante, os efeitos dos remédios e da TCC podem levar à gratidão pela graça comum. Eles deveriam agradecer. Essas aproximações nem providenciam muita ajuda em entender o mais fundamental e intratável problema do qual a epidemia da depressão é um sintoma. Essa aproximação provê alívio necessário, mas não respostas ou prevenção. Os modelos médicos fizeram sucesso rápido porque eles podem somente ir tão longe quanto sua compreensão do tema do problema irá levá-los. E tratam do mesmo assunto: o ser humano. As instituições culturais e autoridades podem até algumas vezes tratar o ser humano como se fossem apenas cérebros em corpos, mas isso não faz com que pessoas de fato limitem-se a esta equação. Para aqueles com olhos para ver, a epidemia da depressão é uma testemunha da complexa natureza humana. Em particular, ela nos lembra que somos criaturas sociais e espirituais, assim como físicas, e que as aflições da sociedade caída estão frequentemente gravadas nos corpos dos seus membros. Na verdade, algumas vezes um episódio que parece com quadro depressivo não indica que o corpo humano esteja funcionado mal – a dor emocional pode ser uma resposta apropriada para o sofrimento em um mundo errado.
“A igreja deve formar comunidades autênticas”
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Chorar com os que choram – O autor do livro bíblico das Lamentações pode ter sentido dor quando contemplou a destruição de Jerusalém, por volta do ano 588 a.C. “ Já se consumiram os meus olhos com lágrimas; turbada está a minha alma; o meu coração se derramou pela terra por causa do quebrantamento da filha do meu povo, pois desfalecem os meninos e as crianças de peito pelas ruas da cidade.” Os cristãos são chamados para chorar com os que choram e receber sua dor emocional como resultado da empatia. Se a Igreja crescer adormecida para a dor e sofrimento que a cerca, perderá sua humanidade. O ensinamento de cristão sobre o pecado e seus efeitos liberta a Igreja da surpresa sobre o estado desordenado do assunto humano. Ela pode reconhecer os efeitos do pecado tanto dentro quanto fora e apontar para Deus, que ressuscitou o único que entrou completamente na condição humana e foi capaz de quebrar o poder do pecado, da morte e do inferno. Aqueles que suportam as marcas da perda da esperança em seus corpos precisam de uma comunidade que lhes aponte o caminho. Eles precisam de comunidades que exercitem a esperança novamente e se deliciar nas promessas de Deus para o mundo vindouro. Eles precisam ver que essa grande promessa, assegurada pela ressurreição de Cristo, compele o ser humano a trabalhar no meio dos destroços na esperança. E fazendo isso, a Igreja provê aos seus membros depressivos uma esperança plausível e lembrança tangível da mensagem que eles mais precisam ouvir: Esse pecado, cravado na realidade, não tem a última palavra. Cristo, consagrado na sua Igreja, é a solução final. 42
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Jonh Ortberg é um escritor e pregador muito conhecido. O que muitos não sabem é que, além de mestre em divindade, ele também é Ph.D em psicologia pelo Seminário Teológico Fuller e escreveu dois livros sobre depressão. Ortberg é o pastor mais antigo da Igreja Presbiteriana de Menlo Park, na Califórnia. Com larga experiência teórica e prática em gabinetes, o religioso conhece bem o drama de crentes que sofrem de depressão e, muitas vezes, sentem-se fracos na fé devido à doença. CRISTIANISMO HOJE – Como as igrejas podem ajudar as pessoas a entender melhor a depressão? JOHN ORTBERG – Nós vivemos um tempo em que as pessoas tendem a usar a linguagem psicológica para questões espirituais. Mas existem linhas divisórias, não muito claras, entre o que é fisiológico, o que é psicológico e o que é espiritual. É importante para as igrejas admitir essa complexidade. O que influencia nosso comportamento, e o que determina nosso nível de responsabilidade, são questões muito complexas. Simplificando as coisas nós não ajudamos em nada as pessoas. Como o ministério da Menlo Park ajuda pessoas depressivas na congregação? Um dos ministérios mais apreciados na nossa igreja é o HELP [“socorro” em inglês e sigla formada pelas iniciais de esperança, encorajamento, amor e oração), voltado para quem está sofrendo problemas de saúde mentais e emocionais. É um grupo de suporte para essas pessoas e suas famílias. Para quem sofre de depressão, a coisa mais importante é fazer parte de uma comunidade onde outras pessoas dividem as mesmas lutas, falam a mesma linguagem e são capazes de suportar as cargas uns dos outros. Temos também um ministério de diáconos que providenciam vários níveis de cuidado, com conselheiros profissionais. Periodicamente, alguém que faz parte do HELP conta seu testemunho em nossa igreja. Qual o benefício desse tipo de exposição? Quando você ouve a história de alguém com problemas nessa área, vendo seu rosto, a depressão deixa de ser artigo de revista para se tornar algo real, que pode acontecer a qualquer um. Isso abre o coração das pessoas. Nomear a condição humana e a realidade do sofrimento tem um efeito iluminador para cada pessoa que ouve isso, mesmo que ela não possa fazer as coisas da mesma forma. Que medidas preventivas a igreja pode tomar a fim de combater a depressão? A maior contribuição que uma igreja pode dar é formar comunidades autênticas, onde uma conexão íntima entre os membros é fomentada.
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A origem das espécies segundo Agostinho Para o bispo de Hipona, o relato bíblico da Criação expressa a potencialidade dinâmica da obra divina
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Alister McGrath
No ano que marca o bicentenário do nascimento de Charles Darwin e os 150 anos da publicação de seu célebre livro A origem das espécies, muitos debates acerca da obra do naturalista britânico têm ganhado corpo. Para inúmeros estudiosos, o darwinismo, baseado na concepção da aleatoriedade do surgimento da vida e em sua capacidade de evoluir, eleva-se da categoria de simples teoria científica para uma verdadeira visão de mundo, forma de ver a realidade que exclui Deus permanentemente. Já outros reagem fortemente contra os apologistas do secularismo. O ateísmo, eles argumentam, tem usado teorias científicas como armas em sua guerra contra a religião. Eles também temem que as interpretações bíblicas estejam se adaptando às teorias científicas modernas. Certamente, dizem, a Criação narrada em Gênesis deve ser interpretada literalmente, como um relato histórico do que realmente aconteceu. Por outro
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lado, muitos evangélicos de hoje temem ligioso do que uma narrativa confiável. que os modernistas abandonem a lon- Na história da Igreja, o assunto sempre ga tradição de uma exegese bíblica fiel. suscitou controvérsia, e a mera aceitação Eles dizem que a Igreja sempre tratou da literalidade bíblica em relação às orio relato da Criação como uma história gens sempre foi questionada. O teólogo, clara do surgimento das coisas. Entre os professor e bispo Agostinho de Hipona dois extremos, a autoridade das Escri- (354-430), embora tenha interpretado a turas parece estar em jogo. Escritura mil anos antes da Revolução O aniversário de Darwin é um con- Científica, não tinha problemas em revite a olhar o assunto em perspectiva. lação às controvérsias sobre as origens. Afinal de contas, desde que O mais marcante em sua trajeele formulou suas teses após a tória é que ele não compromeEspecial épica viagem a bordo do navio teu a interpretação bíblica para Beagle, muita coisa mudou – acomodá-la às teorias vigentes no entanto, o evolucionismo continua em seu tempo. Para Agostinho, o mais sendo a tese mais universalmente acei- importante era deixar a Bíblia falar por ta para explicar o surgimento da vida si mesma. no planeta. E o relato bíblico da CriaHá pelo menos quatro pontos nos ção, que durante séculos a fio embasou seus escritos em que tenta desenvolver qualquer estudo acerca do tema, tem um relato sistemático de como aquela sido constantemente posto em xeque passagem deve ser entendida – e cada não apenas pela modernidade, mas por um é sutilmente diferente um do outro. muitos estudiosos cristãos, que enxer- Em O significado literal de Gênesis, cogam ali muito mais um compêndio re- mentário escrito durante quatorze anos /
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No entender do bispo de Hipona, os relatos sobre a Criação revelam que Deus criou o mundo em um momento espec´fico, mas previu que as diferentes espécies de vida iriam se desenvolver gradualmente durante os tempos
no início do século 5, Agostinho deixa clara sua crença de que Deus trouxe todas as coisas à existência em um só momento, ainda que a ordem criada não seja estática. Ou seja, o Criador teria dotado as criaturas com capacidade de desenvolvimento, como uma semente, cuja vida está contida em si, mas só se desenvolve e cresce no momento certo. Usando uma linguagem mais técnica, Agostinho incita seus leitores a pensar sobre a ordem criada como algo que contém casualidades divinas ocultas que só emergirão futuramente. É que até aquele momento o bispo não tinha no-
ção de acaso ou de mudanças arbitrárias na obra divina. O desenvolvimento da Criação está sempre sujeito à soberana providência de Deus, que não apenas cria a semente, como direciona o tempo e o lugar do seu crescimento. Agostinho argumenta que o primeiro relato sobre a Criação não pode ser interpretado isoladamente, mas deve ser entendido ao longo da segunda parte, descrita em Gênesis 2.4-25, e também por qualquer outra narração sobre o tema nas Escrituras. Por exemplo, ele sugere que o Salmo 33.6-9 – cujo resumo é “Pois ele falou, e tudo se fez” – menciona a origem instantânea do mundo através da palavra criadora de Deus, enquanto o texto de João 5.17 (onde Jesus diz “meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”) aponta que o Senhor ainda está agindo na Criação. Além disso, ele enfatiza que uma leitura detalhada dos primeiros textos bíblicos aponta que os seis dias da Criação não são períodos cronológicos delimitados, e sim, uma forma de categorizar o trabalho criador de Deus. Em síntese, Agostinho cria que o Senhor criou o mundo em um instante a partir de sua vontade, mas continua a moldá-lo, mesmo hoje em dia. O bispo de Hipona estava preocupado de que os intérpretes estivessem fechados às novidades cientificas quando liam a Bíblia, fato que gerou conflitos mais de dez séculos depois, quando Copérnico desafiou a crença tradicional de que o Sol é que girava em torno da Terra, e não o contrário. O detalhe é que, em pleno século 16, a Igreja
A posição de Agostinho nos obriga a refletir sobre essas questões, mesmo que achemos que ele estava errado – e a´ está um dos motivos da relevância de seu legado
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interpretou a teoria heliocêntrica como um desafio para a autoridade da Bíblia. Não era, com certeza, e constituiu-se em mais um desafio para que se interpretasse a Palavra de Deus de maneira mais ampla – uma interpretação com urgente e constante necessidade de revisão. Já no seu tempo, Agostinho preconizava que algumas passagens bíblicas estão abertas para diversas interpretações e não devem se casar com as predominantes teorias científicas. Por outro lado, a Bíblia se torna prisioneira do que um dia foi considerado uma verdade cientifica: em assuntos tão obscuros e distantes da nossa visão, nós encontramos nas Sagradas Escrituras passagens que podem ter várias interpretações sem que a fé que um dia recebemos seja prejudicada. Essa aproximação de Agostinho fez com que teólogos não caíssem numa visão pré-científica do mundo, e o ajudou a não se comprometer em face das pressões culturais, que eram enormes. Por exemplo, muitos pensadores contemporâneos consideraram incoerente a visão cristã sobre a criação ex nihilo (do nada). Cláudio Galeno, médico do então imperador romano Marco Aurélio, por exemplo, rejeitou isso como uma lógica e metafísica absurda. Agostinho argumenta também que o tempo faz parte da ordem criada. Ou seja, no seu entender Deus criou espaço e tempo juntos, e este último só existe dentro do universo criado. Para alguns, porém, a ideia de que o tempo tenha sido criado parece ridícula. Novamente aqui, Agostinho se opõe à ideia de que a narrativa bíblica não pode ter interpretações alternativas. Assim, o tempo deve ser visto como uma das criaturas e servos de Deus; por outro lado, a infinidade é uma característica essencial da eternidade. Mas a esta altura surge uma dúvida essencial: então, o que Deus estava fazendo antes da criação do universo? Para o teólogo, 2 0 0 9
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o Senhor não trouxe a criação à existência num momento especifico, pois o tempo não existia antes da Criação. Interessante, pois é exatamente esse o estado da existência, o chamado Caos, que muitos cientistas defendem ter havido antes do hipotético Big Bang, a gigantesca explosão que, há mais de 13 bilhões de anos, teria dado origem ao universo. Agostinho poderia até estar errado ao afirmar quer a Escritura ensina claramente que a Criação foi instantânea. Os evangélicos creem, apesar de tudo, na infalibilidade da Escritura, não na infalibilidade das interpretações. Como alguns nos lembram, o próprio Agostinho não era constante nas suas convicções acerca das origens. Outras posições certamente existem – por exemplo, a ideia de que os seis dias de Criação, mencionados no Gênesis, foram seis períodos de 24 horas, ou a tese de que eles representam, na verdade, seis extensos períodos, cada um deles com seus milhões de anos. Todavia, a posição de Agostinho nos obriga a ref letir sobre essas questões, mesmo que achemos que ele estava errado – e aí está um dos motivos da relevância de seu legado. Afinal de contas, quais são as implicações dessa antiga interpretação bíblica sobre as afirmações de Darwin? Primeiro, Agostinho não limita os atos de criação à Criação inicial. Deus ainda está, ele insiste, trabalhando com o mundo, direcionando seu continuo desenvolvimento e expandindo seu potencial. Para ele, há dois “momentos” na Criação: aquele primordial e um contínuo processo de direcionamento. Logo, a Criação não é um instante circunscrito ao passado remoto. O Senhor continua trabalhando no presente, ele escreve, sustentando e direcionando o sucessivo desabrochar das gerações. Esse duplo foco sobre a Criação permite ler Gênesis de uma forma que afirma que Deus criou todas as coisas do nada. Porém,
isso também nos permite afirmar que o universo foi criado com a capacidade de evoluir, sob a soberana direção de Deus – dessa forma, o primeiro estágio da Criação não corresponde ao que vemos agora. Para Agostinho, o Senhor criou um universo deliberadamente designado para se desenvolver e evoluir. E o plano para essa evolução não é arbitrário, mas programado na estrutura de tudo quanto foi criado. Os primeiros escritores cristãos tomaram nota de como o primeiro relato do Gênesis falava sobre a terra e a água dando origem à vida. Eles diziam que isso mostra como Deus dotou a ordem natural com a capacidade de gerar criaturas. Agostinho foi ainda mais longe: ele sustentava que Deus criou o mundo com uma série de poderes adormecidos, que são consumados em um certo momento, de acordo com a divina providência. Uma das evidências disso seria o texto de Gênesis 1.12, que sugere que a terra recebeu o poder de produzir vida por si mesma. A imagem da semente, ali mencionada, sugere que a Criação original contém em si mesma o potencial de fazer emergir todos os subsequentes tipos de vida. Isso não significa que Deus criou o mundo incompleto e imperfeito, como pretendia Darwin ao enfatizar a necessidade da evolução; esse processo de desenvolvimento, Agostinho declara, é governado por leis fundamentais, que revelam a vontade do Criador: “Deus estabeleceu leis fixas que governam a produção das espécies de seres, e os tira do esconderijo para serem vistos completamente”, diz em seu comentário. Por outro lado, enquanto alguns podem entender a Criação como Deus inserindo novos tipos de plantas e animais num mundo já existente, Agostinho considera isso uma incoerência com o resto das Escrituras. Antes, o Senhor deve ser visto como o criador, naquele primeiro momento, da potencialidade de todas as coisas vivas que iriam surgir depois, incluindo a humanidade.
As passagens das Sagradas Escrituras podem ter várias interpretações sem que a fé que um dia recebemos seja prejudicada
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Isso significa que o primeiro relato das Sagradas Escrituras descreve o instantâneo surgimento da matéria primitiva, incluindo os recursos para o desenvolvimento futuro. O segundo relato explora como essas possibilidades casuais surgiram e se desenvolveram na terra. Na visão agostiniana, esses dois relatos sobre a Criação revelam que Deus criou o mundo instantaneamente, enquanto imaginava que as outras espécies de vida iriam aparecer gradualmente durante os tempos. Em posição diametralmente oposta à de Charles Darwin, Agostinho rejeitaria qualquer idéia do desenvolvimento do Universo como um processo aleatório e desprovido de leis. Por isso, ele teria se oposto à visão darwinista de variação casual, insistindo que a providência de Deus está profundamente envolvida no desenvolvimento da vida. O processo pode ser imprevisível; casual, nunca. Previsivelmente, Agostinho aproxima o texto da pressuposição cultural prevalente da fixação das espécies, e não viu nisso algo que desafiasse seu pensamento sobre esse assunto – apesar de a maneira com a qual ele critica as autoridades contemporâneas e de sua própria experiência sugerir que, pelo menos nesse assunto, ele estaria aberto a correções mediante a luz de descobertas cientificas. O significado literal de Gênesis realmente nos ajuda a lidar com as questões levantadas por Darwin? Vamos deixar claro que a obra de Agostinho não responde esses questionamentos; todavia, nos ajuda a ver que o real problema não é a autoridade bíblica, mas sua interpretação. Além disso, ele oferece uma maneira clássica de pensamento que ilumina muitos debates ainda hoje, quase 1,6 mil anos após sua morte. Nesse assunto, Agostinho nem é liberal nem acomodado; mas totalmente bíblico, tanto no sentido quanto na intenção. Nós precisamos de paciência, generosidade e graça para refletir sobre essas grandes questões. E Agostinho pode nos ajudar a começar. O ex-ateu Alister McGrath é professor de teologia histórica da Universidade de Oxford e pesquisador sênior do Harris Manchester College, no Reino Unido. Possui doutorados em biofísica molecular e em teologia pela Universidade de Oxford.
Calvino vive
No quinto centenário de nascimento do reformador francês, sua doutrina experimenta novo avanço
O reformador Calvino: cinco séculos depois, doutrinas baseadas na graça e na soberania de Deus ganham novo alento
uinhentos anos depois do nascimento forte apelo intelectual em seus ensinamentos e, em muitos do reformador João Calvino, suas ideias casos, pelo menos no Brasil, muito espaço nos bancos. Um estão ganhando nova força. Combati- dos problemas desse aspecto tradicionalista que a corrente do e contestado dentro e fora do seg- teológica sempre apresentou é a falta de uma linguagem pomento cristão ao longo de sua história, pular. O calvinismo já foi acusado diversas vezes de ser uma o calvinismo firmou-se como corrente espécie de Evangelho de pessoas cultas, embora muitas doudoutrinária e chega ao século 21 re- trinas que se atribuem a Calvino não sejam de sua autoria vigorado, influenciando milhões de (ver quadro). Isso e suas doutrinas polêmicas – sobretudo a pessoas, grandes grupos religiosos e de predestinação, calcanhar-de-aquiles que provoca consaté mesmo o mundo corporativo. Recentemente, a revista tante cizânia entre os evangélicos e segundo a qual Deus americana Time listou em sua edição eletrônica as dez ideias já resolveu quem seria ou não salvo, independentemente de que mais estão mudando o mundo neste exato momento. E qualquer ação humana – geraram um sectarismo em torno o calvinismo está lá, em terceiro lugar, apontado pela revista do movimento, que parece estar sendo superado agora. Os como uma “base segura” para a vida devido à crença irrestri- novos ministros calvinistas estão mais atentos às necessidata na soberania de Deus sobre todas as coisas. A concepção des do povo cristão, o que os torna populares. “A teologia de segundo a qual o Todo-poderoso está interessado e atuante Piper pode ser resumida como um ‘hedonismo cristão’, que é nos mínimos detalhes da existência humana pode parecer a teoria de que o ser humano é mais feliz quanto mais prazer uma revolução na sociedade pós-moderna, mas o ele sentir em Deus”, sintetiza Leandro. moderno calvinismo surge como resposta a anseios No quesito popularidade, ninguém ganha do História não supridos por anos e anos de liberalismo. “brigão”, como se referiu a Time, Mark Driscoll. Líderes contemporâneos como John Piper, Paul “Um amigo assistiu uma pregação dele e ficou Washer e Mark Driscoll, e seus respectivos ministérios, são muito entusiasmado com o que ouviu”, afirma o professor exemplos desse movimento, conservador em suas doutrinas de teologia Franklin Ferreira, autor dos livros Agostinho de mas impactante em seus efeitos. Com uma roupagem mo- A a Z e Gigantes da fé, lançados pela Editora Vida. Driscoll derna, a corrente vem conquistando cada vez mais adeptos, pode subir ao púlpito vestindo uma blusa de malha com a esespecialmente entre os jovens, e sobretudo nos Estados Uni- tampa do Mickey Mouse e usar palavras arrogantes em suas dos. “O novo calvinismo citado pela Time é um movimen- mensagens, mas sua doutrina é bíblica, séria e reformada. to que demonstra abertura para novas formas litúrgicas, ao “Driscoll define sua igreja como teologicamente conservamesmo tempo em que mantém o formalismo das doutrinas dora – ou seja, calvinista – e culturalmente aberta”, continua historicamente reformadas”, diz o pastor Leandro Antonio Franklin. Tal estilo pode assustar um pouco os calvinistas de Lima, da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, em São tradicionais, mas é essa abordagem que vem arrebanhanPaulo, e professor de teologia sistemática. “É basicamente do multidões para Cristo. Franklin sai em defesa de Mark um resgate da mensagem do reformador João Calvino.” Driscoll, dirigente da Mars Hill Church, em Seattle. “DeAs igrejas que se autodenominam calvinistas geralmente vemos levar em conta que ele plantou uma congregação forte possuem características bem tradicionais: liturgia formal, um numa localidade conhecida como cemitério de igrejas. Até 48
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Arquivo
Yuri Nikolai
a mídia local está espantada com ele. Convém lembrar que ele é muito respeitado por gente importante da comunidade reformada americana, como Piper.” “Porto seguro” – O francês João Calvino nasceu em 10 de julho de 1609 em Noyon. Contemporâneo de Martinho Lutero e influenciado por suas ideias, em 1533 Calvino rompe com a Igreja e adere de vez à Reforma. Expulso da França após apresentar sua obra As institutas da religião cristã, sua vontade era viver uma vida pacata como um literato reformado. Todavia, o que considerou o chamado de Deus em sua vida veio em Genebra, cidade suíça onde o teólogo se radicou e de onde o movimento calvinista acabaria se espalhando pelo mundo. Genebra teve seu caminho preparado por Zwinglio, que já havia disseminado as doutrinas luteranas na Suíça, e contou com a colaboração Guilherme Farel, seu grande companheiro em Genebra. O rastilho de pólvora da nova doutrina fundamentada na soberania absoluta de Deus e na salvação pela graça divina não demoraria a se alastrar pelas nações da época. Teólogos desenvolveram movimentos reformistas na França, nas Ilhas Britânicas, na Holanda e em outras partes do mundo. John Knox, por exemplo, teve um papel fundamental na implantação do calvinismo na Escócia, após ter sido discípulo do reformador francês enquanto esteve em Genebra. Assim, com os ensinamentos de Calvino e a atuação de outros religiosos, desenvolveu-se o que logo passou a ser chamado de calvinismo. É importante ressaltar que o próprio teólogo dizia que tais pensamentos não eram seus, propriamente ditos. Eles teriam vindo de longe, muito longe – primeiro de Agostinho, que por sua vez dizia que sua doutrina provinha de Paulo. A doutrina calvinista sempre provocou polêmicas ao longo da sua história. Paradoxalmente, suas afirmações não atingem apenas os dogmas católicos, como foi em seu início, mas também muitas supostas verdades construídas
pelo próprio protestantismo, e casos de conflitos com outros grupos cristãos não são raros. Como movimento, o calvinismo não está atrelado a apenas uma denominação, nas espalhado por várias confissões diferentes, sobretudo as igrejas reformadas nacionais surgidas ao longo do século 17. Mas seu principal expoente é, sem dúvida, a Igreja Presbiteriana, que possui seu modelo de administração semelhante ao que Calvino implantou em Genebra: a descentralização do poder, onde a direção não se concentra nas mãos do pastor, mas de um colegiado de presbíteros. A diferença desse novo calvinismo parece estar mais focada no âmbito litúrgico do que doutrinário. Apesar de os novos ícones calvinistas não utilizarem os meios de comunicação de forma tão intensa quanto outros famosos pastores do evangelicalismo americano, os cultos, a linguagem e o relacionamento dos atuais calvinistas com outros cristãos mudaram. “O velho calvinismo era temeroso e desconfiado dos outros cristãos, queimando pontes. Essa nova corrente faz o contrário”, afirma Mark Driscoll em seu blog. Outra questão que surgiu com esse fortalecimento da doutrina de Calvino é a da contemporaneidade dos dons espirituais. Muitas igrejas calvinistas de hoje acreditam na legitimidade da manifestação desses dons nos dias atuais, o que pareceria heresia para as gerações anteriores. “Não deveria ser surpresa para nós que o calvinismo tem potencial para transformar o mundo”, insiste o pastor Leandro. “Muito antes da Time chegar a essa conclusão, o teólogo e estadista holandês Abraham Kuyper já havia previsto isso.” Kuyper, que foi primeiro-ministro de seu país no início do século 20, defendeu que o calvinismo tinha uma agenda para o futuro. “Ele disse que a doutrina poderia ser a solução para os dilemas da modernidade.” No entender do pastor, a cosmovisão reformada é um porto seguro para os “barquinhos” que navegam nas águas tempestuosas desse mundo. Coisa que Calvino, que enfrentou as agruras da Contra-Reforma mas manteve sua fé até morrer, em 1564, sabia muito bem.
Mitos e meias-verdades
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Com o passar dos anos, a figura histórica de João Calvino foi prejudicada por conta de suas supostas posições teológicas. Contudo, o professor Franklin Ferreira diz que muito do que se atribui ao reformador francês é meia-verdade ou simples mito. Confira: MITO
FATO
Calvino inventou a doutrina da predestinação
Agostinho, Aquino, Lutero e Zwinglio ensinaram e escreveram sobre a doutrina da predestinação antes de Calvino, enfatizando a livre graça de Deus que triunfa sobre a miséria e escravidão ao pecado
Calvino é o pai do capitalismo
Calvino de fato valorizou o trabalho, a economia, a disciplina, o senso de vocação. Mas forças que moldaram o capitalismo contemporâneo já estavam presentes na cultura ocidental quase 100 anos antes da Reforma
Calvino era o ditador de Genebra
Ele tinha pouca influência sobre as decisões acerca do ordenamento civil da cidade e nem tinha direito de voto em decisões políticas ou eclesiásticas no conselho municipal. Sua influência era persuasiva, por meio de seus sermões e escritos
Calvino não tinha interesse em missões
Os primeiros mártires da fé evangélica nas Américas foram enviados ao Brasil, em 1555, pelo próprio reformador francês
Os ensinos de Calvino são social e politicamente alienantes
Pode-se ver a influência do pensamento de Calvino na revolução puritana de 1641 e na primeira deposição e execução de um rei tirano em 1649, na Inglaterra; no surgimento do governo republicano (com a divisão e alternância do poder, além de ênfase no pacto social); na revolução americana de 1776; na libertação dos escravos e na defesa da liberdade de imprensa
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Mulher Esther Carrenho teóloga e psicóloga clínica
Falando de inveja
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Sempre é possível resgatar quem de verdade se é
inveja é um dos sentimentos mais difíceis de serem identificados e reconhecidos. Ignoramos que não há ninguém que respire que seja tão bem resolvido na vida a ponto de nunca desejar, pelo menos um pouco, daquilo que se admira no outro. O sentimento da inveja é filho da admiração – o que não significa que não exista admiração sem inveja. Mas onde existir a inveja, com certeza, houve a admiração antes. A inveja, enquanto sentimento, não é boa nem má. É apenas o desejo de possuir ou ser o que o outro tem ou é. O que pode ser mau ou bom é o comportamento que adotarmos diante desse sentimento. Traçado o limite entre a admiração e a inveja, o que importa é cada um identificar no próprio coração qual é a reação que aflora e que poderá determinar seu comportamento. Podemos reagir de três formas quando identificamos e aceitamos em nós mesmos o sentimento de inveja. A primeira forma é reconhecer que se quer o que o outro é ou tem, avaliando as possibilidades reais de ser ou possuir o que admiramos no próximo. Posso desejar ter um carro de luxo caro, mas quando faço as contas descubro que, com o salário que ganho, é impossível adquirir um. Diante disso, há quem abra mão de outras coisas, esforça-se mais e se sacrifique para conquistar aquele objetivo. Neste caso, o sentimento de inveja foi positivo: um estímulo para o uso dos próprios recursos no empenho de conseguir o que se deseja. A segunda reação é quando admiramos e desejamos o que outro tem, mas diante da impossibilidade de tê-lo passamos a desvalorizar e criticar aquilo que não temos condições de adquirir. No caso do carro, o invejoso diria: “Este carro não presta. Consome muito combustível, sua manutenção é caríssima e ocupa muito espaço.” Às vezes, esse tipo de comportamento até começa com um elogio, mas logo em seguida vem a crítica, o menosprezo. E a terceira maneira de reagir diante da inveja é quando, diante da impossibilidade de conseguir o que desejamos, adotamos um comportamento destrutivo em relação à pessoa e ou aos bens que são alvo dos nossos desejos. É o caso da pessoa, que muitas vezes, até sem perceber, assume uma postura de: “Já que não posso ter, você também não terá.” O lado bom da história é que podemos tirar proveito quando detectamos os sentimentos de inveja no nosso coração. Eles apontam para uma deficiência na capacidade de reconhecer o nosso próprio valor, o nosso potencial, e desenvolvê-lo de tal forma que se tornem uma fonte de contentamento e realização. Enquanto simplesmente invejamos o próximo, tiramos o foco do que somos e temos, e
gastamos inutilmente uma energia que poderia ser canalizada para o desenvolvimento das nossas habilidades e talentos. Tentamos a todo custo ter a vida do outro. E nessa tentativa perdemos a oportunidade de sermos nós mesmos. Um dos provérbios do rei Salomão já nos adverte que a inveja é a podridão dos ossos. A Bíblia tem também um bom exemplo disso. Quando o filho pródigo da parábola – aquele que saiu de casa à revelia do pai e consumiu toda sua herança – voltou para casa, ganhou um banquete de recepção. Seu irmão mais velho, que sempre ficou ao lado do pai, sentiu-se injustiçado – afinal, embora tivesse permanecido sempre em casa, seguindo fielmente as ordens paternas, nunca tivera uma festa daquelas. A resposta do pai esclarece que o filho mais velho é que não sabia desfrutar do que tinha: “Meu filho, tudo que é meu é seu”. O que na realidade aconteceu foi que o irmão mais velho não conseguiu tomar posse do que tinha conquistado por direito. E este é o pior castigo para quem é dominado pelo sentimento de inveja – ele não usa e nem desfruta do que tem por direito, e também não consegue festejar e se alegrar com o que o outro tem. E ainda coloca a culpa em terceiros. Não sabemos qual foi a resposta deste jovem para o pai. Seria muito bom se ele tivesse reconhecido que tinha inveja do presente dado ao irmão e dificuldade em usufruir o que já lhe pertencia. É claro que o pai desta parábola contada por Jesus representa Deus, que sempre nos acolhe e nos restaura diante de nosso arrependimento. Não há duas pessoas iguais no mundo. Cada um tem personalidade e habilidades que são únicas, mas que esperam ser reconhecidas e desenvolvidas. O ideal seria que o jeito de ser de cada um, bem como suas habilidades, recebessem um olhar de aprovação desde o nascimento. É assim que aprendemos desde cedo a nos alegrar com o que somos. Mas nem sempre é isso que acontece. No desejo de agradar, deixamos de lado o que naturalmente somos e nos esforçamos para sermos iguais àqueles que são apontados como modelos, seja pelo que são ou pelo que têm. A solução, depois do estrago feito, é cada um se reencontrar no próprio espaço, onde possa ser ele mesmo, com todas suas características e talentos – tanto os natos como os aprendidos. Sempre é possível resgatar quem de verdade se é. E esta é uma busca que o indivíduo deve fazer para dentro de si mesmo, para, a partir daí, se doar e ser um caminho de bondade e amor para com aqueles que vivem à sua volta. Assim, faremos para nós mesmos nossas próprias festas e teremos recursos para nos alegrarmos e celebrarmos a alegria dos outros.
O lado bom da história é que podemos tirar proveito quando detectamos os sentimentos de inveja no nosso coração
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livros | música | vídeo
CH Cultura
[Livros – Jaqueline Rodrigues]
professora de Português-Literatura
Resgate do fundamental LANÇAMENTO DA SHEDD PUBLICAÇÕES ENFATIZA O VALOR INSUPERÁVEL DA PALAVRA PREGADA
A arte e o of´cio da pregação b´blica Haddon Robinson e Craig Larson (organizadores) 888 páginas Shedd Publicações
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pregação bíblica é parte fundamental e indispensável da prática cristã; afinal, a Bíblia já adverte que os incrédulos não poderão crer se não há quem pregue. Por isso, A arte e o ofício da pregação bíblica traz renovo e esperança para a Igreja brasileira nesse momento em que a grande maioria dos pregadores optam por sermões temáticos, onde cada um defende seu ponto de vista utilizando as Escrituras – muitas vezes, fora de contexto e apenas para apoiar suas idéias, doutrinas e teologias. Organizado por Haddon Robinson e Brian Larson, a obra é na verdade um compêndio dos melhores artigos já publicados no site PreachingToday.com, ligado ao grupo Christianity Today, ampliado com novos artigos escritos especificamente para este lançamento. Entre os colaboradores, nomes de expressão internacional como Richard Foster, Timothy Keller, Bill Hybels, John Piper, John Stott, Charles Swindoll, Dallas Willard e muitos outros. O leitor brasileiro tem agora acesso a uma rica e frutífera fonte de apoio e suporte para o pregador da atualidade. A arte e o ofício da pregação bíblica é abrangente, cobrindo quase todos os aspectos da homilética, e proporciona não somente informação, mas também diferentes perspectivas. Entre os temas abordados na obra, estão o chamado da pregação, a vida espiritual do pregador, o foco no ouvinte, interpretação e aplicação, estrutura de um bom e eficiente sermão – tudo de maneira muito didática sem, contudo, abrir mão da profundidade, de modo que tanto os novatos como os veteranos do púlpito, terão no livro uma grande ajuda para seu ministério. 52
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ESTANTE
GENTE DA BÍBLIA Todos os personagens da B´blia de A a Z Richard R.Losch 640 páginas Templus Quem já não teve curiosidade de saber mais sobre os personagens bíblicos do que aquilo que é mencionado nas Escrituras? Pois Todos os personagens da Bíblias de A a Z é uma obra que vem suprir essa lacuna com folga. Fundamentado não apenas nas Sagradas Escrituras, mas em fontes extrabíblicas e registros históricos e arqueológicos, Todos os personagens é escrito de forma detalhada e clara, tornando fácil o entendimento sobre a personalidade, a trajetória e a importância de cada um no contexto em que é citado na Palavra de Deus – inclusive ilustres desconhecidos (ou quase) como Azricão e Medade. Richard R.Losch, ministro jubilado da Igreja Episcopal St James em Livingston, Alabama (EUA), não deixou de lado em sua pesquisa o aspecto da tradição dos povos e suas origens, oferecendo uma magnífica ajuda àqueles que querem conhecer e prosseguir em conhecer a Palavra de Deus
PENSAMENTO DO REFORMADOR Salmos – Vol. 4 | Série Comentários B´blicos – Comentários dos Salmos do 107 ao final João Calvino 602 páginas Editora Fiel Finalmente chega às livrarias o tão esperado quarto e último volume do comentário bíblico dos Salmos escrito pelo célebre reformador francês. E o lançamento da Editora Fiel chega em hora certa, quando se comemora o quinto centenário de nascimento de João Calvino (ver reportagem nesta edição). A abordagem clássica, ortodoxa e objetiva foge aos padrões adotados em grande parte das obras contemporâneas, caracterizadas por enfoques exageradamente acadêmicos, mais semelhantes a análises literárias do que a comentários das Escrituras Sagradas (Carlos Buczynski).
ARTE E INSPIRAÇÃO Mensagens cristãs Jenise Torres 136 páginas Adelfo Editora Mensagens cristãs é um livro reflexivo, com pensamentos escritos por Jenise Torres e também textos bíblicos comentados por ela. Se você ainda não a conhece, é bom prestar atenção a esse nome. Professora graduada em letras e música e pós-graduada em tecnologia educacional pela Universidade do Estado Rio de Janeiro, Jenise escreveu um livro baseado em sua visão muito particular e própria a respeito de diversos temas. Na parte final da obra, o leitor encontra uma coletânea de 16 poesias, sendo onze de sua autoria. Todos os poemas foram musicados e gravados em um CD na forma de canções em estilo sacro, que acompanha o livro como parte integrante do projeto (Paulo Pancote)
[Música – Nelson Bomilcar]
compositor e escritor
PRATELEIRA CAROL GUALBERTO
Das coisas boas da vida
Evangelho e
cultura nacional
AO BRASILEIRO, DE MÁRCIO VALLADÃO, FUNDE MÚSICA, LOUVOR E REFERÊNCIAS À CULTURA BRASILEIRA
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música do autor, compositor e poeta cristão Mário Valladão se distingue por trazer referências do Evangelho e de obras de autores da literatura nacional, como Machado de Assis e Gonçalves Dias. As composições revelam sua caminhada na arte contemporânea, com suas inquietações e observações da vida cotidiana e indagações da alma humana – mais que necessárias, já que a Igreja brasileira infelizmente continua ignorando nossa cultura. A amizade é celebrada também com inúmeras participações: sua esposa Viviane Valladão, com quem divide os arranjos, Daniel Maia na produção musical e de músicos e compositores conhecidos como Jorge Rehder, Arlindo Lima, Cláudio Rocha e Gilson Oliveira, além do virtuoso acordeonista Toninho Ferragutti. Ao brasileiro é um CD que promove a arte e a vida em todas as suas dimensões. Contatos: mariovalladao@terra.com.br e (11) 3129-8387.
Com sua voz de contralto, a cantora e dançarina Carol Gualberto traz ao ouvinte a musicalidade e a sonoridade de Minas Gerais. Com composições suas, de Carlinhos Veiga e Stênio Marcius, bem como do músico Telo Borges (Clube da Esquina) e Vander Lee – um dos autores mais gravados na música brasileira hoje –, ela nos surpreende com esta excelente produção, gravada no Estúdio Ícone, de Belo Horizonte. Das coisas boas da vida tem arranjos do tecladista Christiano Caldas e o destaque é para a faixa Rotina, que Carol divide com sua mãe Vânia Sathler Lage (Quarteto Vida). Para entrar de vez no clima, ouça saboreando um delicioso pão de queijo – e louvando ao Pai. (www.carolgualberto.com.br)
ÍNDIO MESQUITA Uma voz & um violão
Com uma grande bagagem na música evangélica brasileira, Índio Mesquita é integrante do conhecido grupo do centro-oeste brasileiro Expresso Luz. Com muito tempo de estrada e no Evangelho, Índio faz de Uma voz & Um violão uma produção tão simples e despretensiosa quanto bonita e competente. Todas as composições são assinadas por ele, que divide os violões com Dimar Viana, co-produtor musical do trabalho. Além da qualidade musical, destaque também para detalhes como capa, fotografia e ilustração de Romero Fonseca. (indiomesquita.blogspot.com)
FLÁVIO RÉGIS E JADER GUDIN De lá pra cá – piano e voz (CD)
Boas lembranças! Este CD é uma produção cuidadosa de Luz Para o Caminho (LPC-Campinas) para a preservação de nossa hinódia. Hinos consagrados da tradição cristã, com Santo, santo, santo, Comunhão preciosa, Fortalece a tua Igreja e Doxologia são interpretados por Flávio Régis (VPC) ao piano e Jader Gudin (Grupo Tauató) na voz. O trabalho foi gravado e mixado nos estúdios LPC Comunicações e VMP, com produção executiva de Celsino Gama. (www.delapraca.com)
Márcio Valladão: talento e brasilidade
SOM DO CÉU (vários artistas) Comemorativo 25 anos
Este CD é o registro de 25 anos do histórico encontro de música cristã conhecido como Som do Céu, realizado por Mocidade para Cristo no seu acampamento em São Sebastião das Águas Claras (MG). Diversos artistas, como Cezar Elbert, Cíntia e Silvia, Marcus Américo (Céu na Boca), Marivone Lobo, Sérgio Pereira e Jorge Camargo deixaram seus registros em músicas feitas para este encontro, que encorajou e deu visibilidade a tantos músicos, ministérios e artistas no Brasil. Comemorativo 25 anos inclui um trabalho gráfico maravilhoso de Romero Fonseca e Rick Szuecs, e lindos textos de Rubão, Cláudia Barbosa, Reny Cruvinel e Marcelo Gualberto, entre outros. (www.mpc.org.br) www.nelsonbomilcar.com.br
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[V deos – Nataniel Gomes]
professor e editor
PELÍCULAS
Barulho para nada
Boa parte dos conflitos humanos – para não dizer todos – começam dentro de casa. Seja nas brigas entre irmãos ou nas desavenças por conflitos de interesses, muitas vezes a fraternidade é deixada de lado por quem vive sob o mesmo teto, com resultados que vão do trágico ao hilário. No cinema e na TV, muitas obras trazem os resultados dessa convivência muito próxima:
ANJOS E DEMÔNIOS, CONTINUAÇÃO DE O CÓDIGO DA VINCI, EXAGERA NOS CLICHÊS E REPETE AS MESMAS FÓRMULAS, MAS MESMO ASSIM ATORMENTOU O VATICANO
Desastre em família
Andrew Hanson (vivido por Philip Seymour Hoffman) é um executivo viciado em drogas cuja carreira está em decadência. Para tentar se livrar de uma auditoria, ele convence o irmão Hank (Ethan Hawke), que deve três meses de pensão para a filha, a assaltar a joalheria dos pais deles. O plano é aparentemente simples, já que a dupla conhece o funcionamento e estrutura do lugar, mas dá errado: confundida com uma funcionária, a mãe dos irmãos é gravemente ferida. Seu marido – e pai dos protagonistas –, Charles, jura vingança, sem saber que está à caça dos próprios filhos. Agora os dois irmãos terão de lidar com as consequências do trágico plano. O filme, intitulado Antes que o diabo saiba que você está morto, faz lembrar a máxima bíblica de que “um abismo chama outro abismo” e é para quem tem nervos de aço. (Before the devil knows you’re dead, EUA, 2007, 117 min. Europa Filmes)
M
ais uma vez, o simbologista (sabe-se lá o que é isso?) Robert Langdon precisa descobrir o início do Caminho da Iluminação, uma rota secreta em Roma que leva ao local de encontro da antiga sociedade secreta conhecida como Illuminati. Só assim poderá impedir o assassinato de cardeais que participam da sucessão papal e a explosão de uma bomba antimatéria no Vaticano. Na literatura, Anjos e demônios deu origem ao personagem sem sal de Langdon, mas no cinema virou uma continuação. Os motivos são óbvios: o maior sucesso de Dan Brown foi com O Código Da Vinci, centro de uma intensa polêmica há alguns anos. Assim como a primeira obra, Anjos chegou à telona tendo Tom Hanks no papel principal. E a celeuma continua: já há notícias de protestos da Igreja Católica, teorias conspiratórias e a expectativa de revelações que dinamitariam o cristianismo. Ou seja, mais do mesmo. Anjos e demônios, em cartaz em grande circuito, é um filme de ação crescente e absurdamente exagerada. São mais de duas horas de música subindo, corre-corre e tensão. Não há um clímax, mas seis, e seguidos – um para cada cardeal, mais a bomba e a perseguição final. O resultado é uma canseira exagerada. Chama atenção como um diretor como Ron Howard, que fez Apollo 13 (1995), Uma mente brilhante (2001) e A luta pela esperança (2005) conseguiu reunir tantos clichês em um longa só. Certa vez, um crítico disse que, se nosso comentário sobre um filme for apenas sobre a sua fotografia, significa que esse filme não tem muito a acrescentar. Pois é, Anjos e demônios tem cenário e edição das mais competentes, e só. O Vaticano, que propôs ao público um boicote ao filme, está enxergando demônios onde eles não existem. (Angels & Demons, EUA, 2009. Direção: Ron Howard. Elenco: Tom Hanks, Ewan McGregor. Duração: 140 min)
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Como cão e gato
Não resta dúvida de que os filmes da franquia X-Men começaram bem. Bryan Singer, diretor dos dois primeiros longas, conseguiu dar-lhes a verossimilhança necessária, gerando um dos gêneros mais lucrativos do cinema. O terceiro filme, X-Men origens: Wolverine, é apenas quebra-pau sem sentido do início ao fim, seguindo um dos piores vícios dos quadrinhos. O filme narra a origem dos irmãos Wolverine e Dentes de Sabre, suas desavenças e a tão esperada reconciliação, exatamente como ocorreu com os irmãos Esaú e Jacó da história bíblica. (X-Men Origins: Wolverine, EUA, 2009, 107 min. Fox)
De tudo um pouco
Quem curte seriados já deve ter visto The Big Bang Theory (“A Teoria do Big Bang”), pautado no cotidiano de três doutores em física – o esquisitão Sheldon Cooper, Leonard Hofstadter e Rajesh Koothrappali, indiano que somente sob efeito do álcool consegue se aproximar de mulheres. Há ainda o engenheiro judeu – um galanteador – Howard Wolowitz. Esses sujeitos são capazes de descrever com maestria coisas que vão do universo ao átomo, mas não conseguem se relacionar com pessoas, digamos, comuns. As discussões vão da busca pelo Prêmio Nobel, passando pela personalidade difícil de cada um e os engraçadíssimos tiques e as manias de Sheldon – que, apesar de ser um físico respeitado e praticante da ciência moderna, não perde suas referências cristãs, mesmo depois de ter saído da casa dos pais. As marcas da Criação aparecem sempre que ele precisa resolver uma questão de ordem moral, pendendo sua decisão final sempre para algo que “não desagrade a Jesus”, o que o deixa apavorado. A primeira temporada de The Big Bang Theory foi lançada em DVD no fim do ano passado. (The Big Bang Theory – Season 1, EUA, 2007-2008. Direção: Vários. Elenco: Johnny Galecki, Jim Parsons, Kaley Cuoco, Simon Helberg, Kunal Nayyar. Duração: 357 min)
Combustão espontânea
Autodenominado militante pró-família, Julio Severo ataca o movimento gay e defende ideias com pouco eco até mesmo dentro da Igreja
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Carlos Fernandes
Desde 1998, quando seu livro O movimento homossexual foi lan- velar minha localização. A alegação deles é que havia uma queiçado pela Editora Betânia, Julio Severo começou a chamar a xa de homofobia registrada contra mim em 2006 [N.da Redação: atenção. Ele se posiciona como um crítico ferrenho do compor- Procedimento Administrativo Cível nº 1.34.001.006020/2006-44, tamento gay, que combate com argumentos religiosos, socioló- aberto a pedido da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis gicos e políticos. Diferentemente de outros cristãos, que fazem e Transexuais, a ABGLT ]. Sou alvo de outros tipos de ataques. da própria trajetória a motivação para sua militância, Severo, de Ameaças, xingamentos. Em julho de 2007, meu blog foi fecha43 anos, garante que nunca teve qualquer envolvimento com a do pelo Google depois de uma longa campanha de denúncias homossexualidade – é casado e pai de três filhos – e se diz um de ativistas homossexuais. Graças à intervenção de advogados ativista pró-família, chamado para salvar o Brasil de uma “di- evangélicos e de um procurador, o Google liberou meu blog, entadura homossexual”. Segundo o próprio, a atividade tem lhe tendendo que meu direito de livre expressão estava sendo violacausado muitas dores de cabeça: “Sou alvo de todo tipo de ata- do. Tempos atrás, interceptei uma mensagem do líder máximo que. Ameaças, xingamentos”. O blog que mantém, e do movimento homossexual brasileiro, Luiz Mott, que é o principal veículo de divulgação de suas ideias, direcionada a outros dirigentes gays, onde havia o Entrevista já chegou a ser tirado do ar a partir de denúncias de pedido para que se levantasse a meu respeito inforentidades de defesa dos direitos da comunidade gay, mações pessoais, como nome completo, endereço, foque o acusam de homofóbico. Severo diz que a pressão foi tanta tos, histórico etc. Regularmente, aparecem páginas na web com que ele teve que deixar o Brasil no fim de março. Ele não revela conteúdo de pornografia homossexual contendo meu nome, o lugar onde está de jeito nenhum. “Seria perigoso para mim e como se eu estivesse ligado a tais obscenidades. Um conhecido para minha família”, justifica. Lá, afirma que tem frequentado site esquerdista chegou a publicar uma entrevista forjada, onde uma igreja “muito humilde” e se mantido graças à ajuda que re- um falso “Julio Severo” se confessa um homossexual promíscuo. cebe de colaboradores e instituições que o apoiam. Severo é daqueles crentes quixotescos, disposto a lutar contra moinhos que talvez só ele consiga enxergar. Nas suas palavras, até mesmo o governo brasileiro teria interesse em pedir sua deportação por conta das críticas que faz a Luiz Inácio Lula da Silva. “O presidente faz defesa intransigente do homossexualismo e do aborto. Quanto ainda falta para considerarmos Lula e seu governo como possessos? Ele está acabando com a moralidade e a honestidade da sociedade”, dispara. O tom histriônico dá ao perfil de Julio Severo um contorno incendiário que ele faz questão de alimentar, e não apenas quando fala da homossexualidade. Ele defende, por exemplo, o direito de os pais crentes educarem seus filhos em casa (prática proibida pela legislação brasileira) como forma de mantê-los a salvo de supostas influências perniciosas da escola. Além disso, diz que o casamento é a solução contra a promiscuidade sexual entre os jovens evangélicos. “Querem sexo? Então, que se casem”, prega Severo, para quem as famílias não deveriam estimular seus filhos a postergar o matrimônio em busca de qualificação educacional e profissional, e sim, fazer justamente o contrário. É provável que poucos crentes concordem com ele, mas Severo avisa: “Quando meu livro foi publicado, muitos o acharam exagerado. Quem leu, hoje me chama de profeta.”
Se a maioria religiosa não tem o direito de impor sobre a sociedade seus valores, que direito tem então a minoria gay de fazê-lo?
CRISTIANISMO HOJE – Que tipo de ameaças o senhor recebeu por conta de sua militância contra a homossexualidade e que o obrigaram a deixar o pa´s?
JULIO SEVERO – Precisei sair do país depois que procuradores federais, numa atitude abusiva, intimaram um amigo meu a re56
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Quando o senhor saiu do Brasil?
impulso extraordinário. Foi assim que nasceu meu livro O movimento homossexual.
Onde o senhor está atualmente?
Muitos de seus detratores o chamam de radical. O senhor se considera um fundamentalista?
Saí no fim de março deste ano.
Não posso revelar o lugar por motivo de segurança para mim e minha família. Qual tem sido sua atividade e o que o senhor está fazendo para se manter?
Minha atividade aqui é exatamente a mesma que desenvolvia no Brasil: alertar, informar e conscientizar a sociedade através do meu blog. Não vou abandonar minhas responsabilidades para com o Brasil. Meu sustento atual está vindo da colaboração voluntária dos leitores e admiradores do meu trabalho. Com base em qual instrumento legal o senhor tem sido denunciado?
Na base da pura truculência estatal. A Visão Nacional para a Consciência Cristã (Vinacc) teve seu direito de livre expressão totalmente violado numa campanha de defesa da família, pois sob pressão de ativistas gays e do governo federal, uma juíza acolheu uma queixa de homofobia contra a entidade. A Vinacc foi obrigada a remover seus outdoors, com mensagens como “Homossexualismo: E Deus os criou homem e mulher e viu que isso era bom”. Essa simples declaração foi considerada criminosa e homofóbica. E como está a ação movida pela ABGLT?
Embora desagrade à Igreja, a regulamentação da união civil entre homossexuais ganha força em todo o pa´s, já que os tribunais têm não apenas reconhecido os direitos decorrentes das uniões homoafetivas, como também concedido aos parceiros gays o direito à adoção de filhos na condição de “dois pais” ou “duas mães”. Em um Estado democrático de Direito, o segmento religioso tem legitimidade para interferir na vida em sociedade?
Em um legítimo Estado democrático de Direito, a família natural e seus interesses são respeitados e protegidos acima de todo e qualquer interesse de outros grupos. O que a falsa democracia brasileira quer impor é a descaracterização da família e sua importância, colocando como prioridade um comportamento sexual antinatural que nenhuma função tem para a preservação da espécie humana ou para a estabilidade da família. Do ponto de vista natural, a homossexualidade é uma das maiores aberrações e ameaças à família natural. Ora, a sociedade é dividida em diferentes segmentos ideológicos. Há o segmento que tem ideologias religiosas e o segmento que tem a ideologia homossexual. Se a maioria religiosa não tem o direito de impor sobre a sociedade seus valores, que direito tem então a minoria homossexual de fazê-lo? Do ponto de vista da democracia tradicional, é ditatorial submeter a vontade da maioria à de uma minoria. Só uma democracia deturpada permitiria tal medida.
O conceito de namoro é uma invenção moderna sem nenhum apoio na B´blia. O que deve haver é compromisso. Não quer casar? Não namore. Quer sexo? Case-se
Não sei. Pelo tempo que já passou, considero essa ameaça sem efeito. Foi o que fiz também em 2006, quando recebi um e-mail da Associação da Parada do Orgulho Gay de São Paulo, dizendo que estavam entrando com queixa contra mim no Ministério Público Federal [MPF]. Não dei atenção, pois recebo muitas ameaças. Em maio de 2008, Luiz Mott declarou publicamente que entraria com queixas contra mim no MPF e outros órgãos. Depois da nossa saída do Brasil, sei que o MPF do Rio Grande do Sul pediu o arquivamento do caso, o que será decidido pela Procuradoria Federal paulista, de onde a ação é originária. Por que o senhor começou sua militância nesta área? Já teve algum envolvimento homossexual?
Eu nunca fui homossexual. No começo de 1995, senti claramente Deus me dirigindo a escrever um livro sobre a ameaça do movimento homossexual. Durante algumas semanas, hesitei, pois o tema era um tabu enorme. Não havia paradas gays, nem a obsessão homossexual que vemos hoje na mídia, nas escolas e em outros segmentos. Depois de algum tempo, venci meus temores e aceitei o chamado do Espírito Santo, começando a pesquisar sobre o movimento homossexual. Quando, em meados de 1995, ocorreu no Brasil a primeira conferência internacional da ILGA [International Lesbian and Gay Association] no Hemisfério Sul, entendi a intenção divina de me chamar para o combate, pois depois daquele evento os grupos gays brasileiros ganharam um
Sou apenas um servo de Deus, radicalmente apaixonado por Jesus. Muitas igrejas do Brasil, tanto evangélicas quanto católicas, estão comprometidas com a esquerda, e é natural que queiram tachar de radical quem ouse pensar diferente da ideologia predominante na sociedade e nas igrejas. Quanto às designações, no final vai valer somente o que Deus disser. Por isso, minha meta é agradar a Deus.
O aborto é outro tema importante na atual agenda pol´tica brasileira. Setores do governo, do Poder Legislativo e da sociedade defendem a ampliação de sua legalidade, hoje restrita aos casos em que a gravidez ameaça a vida da mãe ou é originada de estupro. O que o senhor pensa a respeito?
Acho o aborto um problema muitíssimo importante, pois envolve o sacrifício de inocentes. A legalização do aborto faz parte de um projeto das trevas para expandir a atividade demoníaca na sociedade, com suas consequentes devastações. As igrejas evangélicas, de forma geral, estão em cima do muro. Igrejas como a Universal, que apoiam o aborto, se descaracterizam completamente como entidades cristãs. Uma cultura que desvaloriza crianças – e temos de reconhecer que a atual cultura é fundamentalmente contraceptiva – fatalmente valoriza o aborto. Ao invés de confrontar essa cultura, tudo o que as igrejas têm conseguido fazer é se adaptar. É uma apostasia que começou na área j u n h o
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sexual, afetou o casamento e a família e agora atinge em cheio os púlpitos, tornando as igrejas cristãs e suas mensagens quase que socialmente insignificantes.
é hora de casar, em vez de pressioná-lo ao contrário, as famílias evangélicas envolvidas deveriam apoiar e ajudar o moço e a moça a começarem sua vida juntos. Eles precisam se casar.
Falta conscientização pol´tica e social aos pastores brasileiros?
Não é arriscado apostar num casamento tão prematuro?
Muitos pastores desconhecem os embates culturais e preferem não se envolver na política, por causa da corrupção presente até mesmo entre políticos evangélicos. A esquerda evangélica hoje detém quase que exclusivamente o monopólio da tal “conscientização política e social”. Daí, quando se fala em ação política ou social evangélica, a primeira imagem que vem à mente do público cristão é a imagem de igrejas e grupos religiosos atuando como se fossem meros braços assistencialistas do Estado socialista. Essa visão deformada é praticamente a única que os evangélicos do Brasil têm de “ação social”. Falta uma visão genuína de Reino de Deus para a atuação dos evangélicos na política brasileira.
O combate ao sexo pré-conjugal é uma de suas bandeiras, assim como da maioria das igrejas evangélicas. Como convencer o jovem cristão a manter a castidade num mundo que enfatiza o prazer e o descompromisso das relações?
O que pude constatar em várias igrejas é que a maioria dos jovens que namoram já está fazendo sexo. Filhos de pastores estão engravidando moças fora do casamento. Filhas de pastores estão tendo bebês sem casar – isso quando não os matam através do aborto. Tudo é sacrificado: bebês, casamento, moral, espiritualidade, comunhão com Deus. Tudo – menos as idolatradas metas educacionais. O caminho certo é encaminhar rapidamente esses jovens ao casamento. Por isso, quando as famílias evangélicas sentem que o rapaz e a moça já estão num namoro, é recomendável ajudar num casamento sem demora. Aliás, o conceito de namoro é uma invenção moderna sem nenhum apoio na Bíblia. Na área sexual e em outras áreas importantes, o que deve haver é compromisso. Não quer casar? Não namore. Quer sexo? Case-se. A cultura do namoro leva menos ao casamento do que ao sexo promíscuo. Só os rapazes e moças que não estão namorando ou não tendo nenhum tipo de relacionamento abrasante é que podem prosseguir com suas metas educacionais. Os outros, para o seu próprio bem-estar físico, moral, espiritual, psicológico e conjugal, precisam se casar o mais cedo possível.
A doutrinação homossexual da m´dia é notória e descarada. Homossexuais são falsamente retratados como anjos inocentes e os não-homossexuais como desequilibrados e desajustados
O tipo de castidade que as igrejas evangélicas hoje defendem é impossível, pois requer dos jovens abstinência sexual, mas não propõem casamento quando seus impulsos exigem satisfação a todo custo. O adolescente evangélico vai à escola, onde recebe doutrinação estatal para fazer sexo de todas as formas possíveis; vê seus amigos namorando e fazendo sexo; o que ele acaba fazendo? Para piorar, as igrejas e as famílias dizem ao adolescente e ao jovem que reprima suas tentações e não pense em casamento até acabar os estudos. O resultado é que acontece hoje entre os jovens evangélicos exatamente o que está acontecendo entre os jovens não-cristãos: sexo promíscuo. Num tempo de suas vidas em que a prioridade de seus sentimentos está voltada ao sexo, as pressões principais sobre os jovens — vinda dos pais, dos amigos e das igrejas — colocam o casamento em último plano. Falta muita valorização do casamento e família para os jovens. O senhor não acha mais sensato orientar os jovens a priorizar o preparo intelectual e profissional visando ao seu futuro?
A Bíblia nos instrui: é melhor casar do que abrasar-se. O jovem vive muitas vezes abrasado, pois está cercado de lascívia e prostituição. Por isso, quando o jovem não consegue mais se controlar, é fundamental não pressioná-lo a sacrificar possibilidades de casamento por causa de metas educacionais. De que adianta, do ponto de vista do Reino de Deus, um evangélico ter diploma universitário e um rastro de prostituição ao longo de sua caminhada? Ele terá grandes perdas espirituais e problemas pelo resto da vida, inclusive conjugais, pois sacrificou todos os seus valores em prol da educação. Portanto, se o jovem sente que 58
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Em seu blog, o senhor fez uma relação de l´deres evangélicos que apoiaram ou apoiam o governo Lula, aos quais não poupa cr´ticas. Por quê?
É triste constatar que famosos pastores e outros líderes com forte presença política conhecem os graves problemas do Brasil, mas não assumem uma postura profética de ação e denúncia porque querem aproveitar suas ligações e alianças políticas para avançar em suas ambições pessoais, ministeriais ou denominacionais. A grande tragédia é que, assim como eles usaram Lula, Lula também os usou. Como eles conseguirão denunciar profeticamente a promoção do aborto e do homossexualismo na sociedade brasileira, sabendo que o principal responsável por tal promoção é o “ungido” que eles escolheram para a presidência do Brasil? A maioria dos líderes evangélicos deste país tem grande responsabilidade por tudo o que está acontecendo na sociedade brasileira e um dia darão contas a Deus por terem trocado a fidelidade ao Senhor por ambições e dinheiro. O apoio deles a Lula foi público, de modo que minha exposição do nome deles no meu blog nada mais faz do que tornar público o que já o é. É para que ninguém se esqueça e possa orar por eles – além de perceber que, em questões políticas, os conselhos que dão são inconfiáveis.
O senhor costuma associar o avanço da militância homossexual à ideologia esquerdista e denuncia uma suposta simpatia do governo Lula à causa da homossexualidade. Qual seria a intenção do governo em favorecer os gays?
Quem diz que apoia a agenda gay é o próprio presidente Lula, que declarou recentemente que “setores atrasados” e “hipócritas”
têm criticado seu governo por apoiar iniciativas que criminalizam palavras e atos ofensivos à homossexualidade. No início de seu primeiro mandato, em 2003, a equipe diplomática de Lula apresentou na Organização das Nações Unidas e na Organização dos Estados Americanos resolução pioneira, classificando o homossexualismo como direito humano inalienável. No Brasil, há o programa federal Brasil Sem Homofobia, para impor a doutrinação homossexual à sociedade, pois conforme divulgou instituição de pesquisa ligada ao PT [partido do presidente], 99% da população do Brasil não aceita o homossexualismo. E quem é que pode esquecer que Lula declarou que a oposição ao homossexualismo é uma “doença perversa”, convertendo assim a vasta maioria dos brasileiros em “doentes”? Quando um povo não vê a doença moral do seu próprio presidente, o doente é que acabará acusando os sãos de serem doentes! O que faz Lula apoiar tanto o homossexualismo? O mesmo que fazia o rei Acabe do antigo Israel apoiar o homossexualismo inerente ao culto de Baal. Quanto ainda falta para classificarmos Lula e seu governo como possessos? Décadas atrás, quando o Brasil era muito mais católico e conservador do que hoje, Lula seria muito merecidamente enxotado aos pontapés da presidência do Brasil. Hoje, é ele quem está enxotando aos pontapés a moralidade e a honestidade do governo e da sociedade. Qual o papel da m´dia neste processo?
A doutrinação homossexual da mídia é notória e descarada. Homossexuais são falsamente retratados como anjos inocentes e os não-homossexuais como desequilibrados e desajustados. Nas no-
velas, os parceiros gays são os grandes exemplos de paz e harmonia, enquanto que o casamento normal é apresentado como palco de conflitos, ódio, inveja, traição etc. Quem não se lembra da novela Duas Caras, da Rede Globo, escrita pelo homossexual Aguinaldo Silva, militante de esquerda? Sua obra literalmente pintou os evangélicos como loucos e violentos, enquanto personagens homossexuais promíscuos foram retratados como símbolos de gentileza, educação e comportamento politicamente correto. O Projeto de Lei 122/2006, que entre outros pontos criminaliza a prática da homofobia no Brasil, tem sido combatido de maneira intensa pelos evangélicos, que identificam no seu conteúdo uma ameaça à liberdade religiosa no pa´s. Contudo, o Artigo 5º da Constituição Federal assegura ampla liberdade de crença e direitos individuais de opinião, inclusive na forma de cláusulas pétreas. Não tem havido muitos exageros nesta questão?
A perseguição aos cristãos alcançou a Alemanha e a Rússia no passado porque os cristãos não souberam reconhecer que, por trás das mentiras e da fachada, o nazismo e o comunismo eram ideologias destrutivas. É sempre assim: o sistema de perseguição entra na sociedade em roupagem elegante, como eram elegantes o nazismo e o comunismo. Depois da lua-de-mel, vem o poço do abismo. O PL 122 é um projeto que mal consegue disfarçar suas más intenções. Quando meu livro foi publicado, muitos o acharam exagerado e disseram que suas previsões nunca ocorreriam. Infelizmente, acabaram ocorrendo. E quem leu hoje me chama de profeta.
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Membros da Assembleia de Deus reunidos em evento: igreja de multidões marca presença em todo o território nacional
Carlos Fernandes
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Pastores assembleianos reunidos na última Convenção Geral da denominação: centenário é motivação para crescimento
Às portas do seu centenário, a Assembleia de Deus está em festa. Maior denominação evangélica e segunda instituição religiosa do país em número de fiéis – atrás, apenas, da Igreja Católica Romana –, a Assembleia de Deus (AD) comemora em 2011 um século de existência, trajetória marcada pelo fogo pentecostal e pelo ardor missionário. Mais popular das confissões protestantes em território nacional, a AD é uma igreja com a cara do Brasil. Presente das grandes cidades aos vilarejos do interior, ela congrega gente de todo tipo, origem e classes sociais; ao mesmo tempo, mantém a ortodoxia doutrinária e a fidelidade às Escrituras que se tornaram sua marca desde que os fundadores, os missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, aportaram em Belém (PA). Daqueles tempos de pioneirismo e perseguição, ficou na alma dos assembleianos a urgência de anunciar o Reino de Deus. Há
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Assembleia de Deus faz das comemorações do centenário mais um desafio missionário
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Uma igreja do tamanho do Brasil
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quase 100 anos, os crentes da deticipação recorde, tendo mais de 13 nominação só têm colocado mais mil ministros eleitores, derrotando e mais pedrinhas em sua coroa – é o pastor Samuel Câmara. A priassim que eles, carinhosamente, meira vice-presidência ficou com chamam as almas ganhas para Jeo pastor e conferencista Silas Masus. lafaia. “Deus nos chamou para ser A ocasião festiva já está sendo sal e luz, e temos obedecido a esse comemorada em diversos eventos chamado com poder e autoridade. e a agenda vai ficar cheia até 2011. O trabalho dos pioneiros continua A coordenação do programa do em nossos dias, e o Senhor nos centenário está a cargo da Conproporcionou os meios para fazê-lo venção Geral das Assembléias de da melhor forma possível.” Deus do Brasil (CGADB), entidade que congrega mais Sobre as comemorações, Wellington lembra que a hisde 100 mil igrejas e 35 mil pastores. O número exato tória da AD é caracterizada pelo mover divino. “Cem anos de fiéis é impossível de mensurar. “Segundo o Censo de não são cem dias. Contamos tempos trabalhosos, de perse1991, os assembleianos eram 2,4 milhões; já em 2000, 8,1 guição, de incompreensão contra a nossa fé, e hoje podemos milhões de pessoas se declararam membros da AD”, lem- colher os frutos de um evangelismo pacífico e respeitoso em bra o pastor Silas Daniel, diretor de Jornalismo da Casa nossa nação. Deus se fez presente conosco, confirmando sua Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD). “Nove Palavra e acrescentando à igreja os que vão sendo salvos”. anos depois do último Censo, com base não A programação começou oficialmente durante a apenas em projeções, mas em dados de cresciAssembleia Extraordinária da CGADB em PorMinistério mento que nos chegam de alguns ministérios to Alegre (RS), ano passado. O marco inaugural regionais, chega-se a um número estimado de foi um cerimonial no Hotel Sheraton, na capital 15 milhões.” gaúcha, com a presença de líderes de quase todas as convenções regionais e de órgãos ligados à igreja. Ali, “Sal e luz” – A verdadeira dimensão numérica da AD é toda a programação de 2008 a 2011 foi exibida em vídeo. menos importante do que seu legado. Ao longo do século Na ocasião, foi apresentada também a marca do centenário, 20, a denominação exerceu papel fundamental na evan- que representa o número “100” estilizado com uma chama – gelização do país. “Há décadas as Assembleias de Deus lembrando o pentecostalismo – e duas alianças entrelaçadas. têm feito a diferença em uma sociedade que diariamente Um dos destaques das comemorações é a série de conperde os referenciais de ética, integridade, vida espiritu- ferências pentecostais que serão promovidas até 2011, uma al e moral”, destaca o pastor José Wellington Bezerra da em cada região do país. “Serão grandes eventos evangelísCosta, presidente da CGADB. Em abril, ele foi reeleito ticos e de renovação espiritual”, descreve José Wellington. para seu décimo mandato à frente da entidade numa par- Mas o que está motivando os assembleianos do Brasil é mesmo comemorar os cem anos bem ao seu estilo – ou seja, pregando a Palavra a toda criatura. Uma das metas até 2011 é que cada membro leve ao menos uma pessoa à conversão ao Evangelho. Outro desafio é abrir uma congregação da AD em cada município do país. “Queremos que todas as cidades tenham uma igreja da Assembleia de Deus pregando a salvação em Jesus Cristo”, anuncia o dirigente. A primeira conferência foi realizada no Centro-Oeste, em outubro de 2008, no Grande Templo da AD em Cuiabá (MT). A segunda será na Região Sul, em Curitiba, ainda este ano. Em seguida, será a vez do Nordeste, na cidaOs pioneiros de de Recife (PE), em junho de 2010; depois, será a vez Daniel Berg da Região Norte, com o evento em Belém do Pará, já em (esquerda) junho de 2011, na semana de aniversário de cem anos da e Gunnar denominação no Brasil. Finalmente, em outubro de 2011, Vingren: será realizada a última conferência, desta vez no Sudeste, chama na cidade de São Paulo, ocasião em que será inaugurado o missionária da novo templo-central da Assembleia de Deus do BelenziAD permanece nho (SP). acesa
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Os outros seis dias Carlo Carrenho editor de livros
Quem não gosta de samba, bom cristão não é
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O samba é uma grande festa. O cristianismo também
o último dia 14 de maio, tive a reunião mais inesperada para um editor de livros cristãos. No fim da tarde, tomei um táxi no bairro carioca de Bonsucesso com direção à Cidade do Samba. Para quem não sabe, esse espaço é um complexo de galpões perto do centro do Rio que abriga os ateliês das escolas de samba do grupo especial, como Portela, Salgueiro, Mocidade Independente... Ou seja, as melhores do Brasil e do mundo. Chegando lá, como bom paulista sem samba no pé que sou, fiquei fascinado com o tamanho do local, que só parece pequeno diante dos carros alegóricos gigantes usados no carnaval deste ano e que ainda se espremem no local, pois só serão desmontados a partir de junho. Mas por que eu fui até lá? Resposta simples e direta: para me reunir com a diretoria da tradicionalíssima Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira e negociar um evento com o escritor cristão Max Lucado na quadra da escola. É isso mesmo – um pastor evangélico americano vai falar na quadra de uma escola de samba! Quando surgiu essa possibilidade, parecia coisa de maluco. Simplesmente, começamos a brincar com a ideia de levar um autor evangélico com mais de 65 milhões de livros vendidos para aquele templo do samba. Quando paramos de rir, ficou a pergunta no ar: e por que não? Pensamos um pouco sobre o assunto, consultamos Lucado e ele topou. Organizamos a agenda e o único dia que encaixava era o 26 de julho – um domingo! Mais uma vez: e por que não? Depois de um contato prévio com a diretoria da Mangueira, lá estava eu conhecendo o recém-eleito presidente da escola, Ivo Meirelles, e o diretor de Eventos, Roberto Benevides. Eles foram presenteados com livros com capas nas cores verde e rosa, em uma explícita homenagem à octogenária Mangueira, que se eternizou no samba ostentando aquelas duas cores em seu estandarte. Os sambistas, é claro, adoraram a homenagem e se interessaram pelo evento inusitado. A reunião fluiu, acertamos vários detalhes, e tudo indica que, quando esta edição de CRISTIANISMO HOJE estiver nas mãos dos leitores, tudo já estará mais que confirmado. Ou seja, no último domingo de julho, Max Lucado não estará em nenhum templo cristão, mas na quadra da Mangueira – e tenho
certeza de que Deus e sua igreja também estarão presentes por lá. Na programação, além da palavra do famoso pastor evangélico, que trará uma mensagem de esperança e fé aos sambistas, visitantes e crentes presentes, haverá uma programação musical. A bateria da Mangueira e um coral evangélico farão parte do espetáculo, tocando juntos hinos cristãos. É, os bumbos, repiniques, cuícas e tamborins da Estação Primeira serão usados para glorificar o nome do Senhor. E por que não? A ocasião festiva leva também a algumas reflexões. Primeiro, porque mensagem cristã de esperança e redenção será levada à quadra da Mangueira, lá dentro da comunidade. Segundo, porque cristãos das mais diversas denominações terão, muitos pela primeira vez, contato com o samba, uma tradição tão brasileira e tão bela. Os mais críticos poderão lembrar do lado promíscuo e pagão do carnaval, que muitos consideram uma folia profana, mas a verdade é que o samba é muito mais do que isso. Ele é o ritmo mais brasileiro, o que mais exalta nossa alma de raízes negra, branca e indígena. O fato de muitas vezes aparecer atrelado a mulheres seminuas e bailes libertinos não quer dizer que esse rico gênero musical se limite apenas a isso. Há sambas com letras maravilhosas e, assim como qualquer outro ritmo, não existe nada contraditório em sua associação com o cristianismo. Na verdade, assim como a Igreja é muito mais do que seus erros do presente e do passado, o samba é muito maior do que alguns aspectos do carnaval que essa Igreja condena. O samba é uma grande festa. O cristianismo, também. Que tal, então, festejarmos todos juntos e proclamar nossa bela tradição musical e também a mensagem redentora do Evangelho? É uma ocasião única para um grande testemunho de fé, quando os crentes em Jesus mostrarão aos seus irmãos do samba como Deus os ama. E olha, é provável que muitos evangélicos até arrisquem uns passinhos – afinal, quem não gosta de samba, bom cristão não é. Mais uma vez, a pergunta: e por que não? Quem sabe um dia desses o pessoal da Mangueira, com direito a bateria, mestre-sala, porta-bandeira, baianas, velha guarda e tudo o mais, aparece para visitar uma de nossas igrejas? E por que não?
Assim como a Igreja é muito mais do que seus erros do presente e do passado, o samba é muito maior do que alguns aspectos do carnaval que essa Igreja condena
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ÚLTIMAS PALAVRAS Carlos Queiroz professor e escritor
O coroinha e o office-boy
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A essência da liderança é o cuidado especial para com as pessoas
uando se afirma que uma determinada pessoa é líder, isso não significa necessariamente um acréscimo de qualidade positiva àquela pessoa. Denominam-se de líderes, por exemplo, desde os governantes aos chefes de gangues; dos gestores de empresa aos sacerdotes de uma religião. Enfim, seja para o bem ou para o mal, os líderes existem. Se estiver correto o conceito de que liderança é basicamente influenciar pessoas, a história registra líderes que assassinaram milhões de pessoas, como o soviético Joseph Stálin, e líderes que conduziram suas nações ao progresso social, como o pastor americano Martin Luther King Jr. Portanto, não basta ser um líder. Importa que o líder seja um ser humano dotado da capacidade de inspirar, apoiar e mobilizar pessoas a cumprir uma missão. O mérito da liderança não é exercê-la como um fim em si mesmo, mas a capacidade de usá-la para servir. Há outros fundamentos básicos da liderança, como caráter e integridade – e essas são características que podem ser desenvolvidas por qualquer pessoa. O servo que lidera é marcado pela singularidade do bom caráter, que nada mais é que a manifestação pública do seu estado de ser. Conheço mais servos que são líderes do que líderes que são servos. E há muito mais gente escrevendo para os líderes do que para os servos. Depois que li O monge e o executivo, de James Hunter, que anima os líderes a serem servidores, fiquei pensando em escrever um livro intitulado “O coroinha e o office-boy”. Não seria uma réplica – apenas uma forma de falar de serviço a partir do público que serve e tem um potencial extraordinário para liderar. O detalhe é que nem sempre o pastor titular é o grande líder de uma igreja. Nem sempre o artilheiro é o líder do time de futebol, assim como há gerentes que exercem muito mais liderança numa empresa do que o presidente da corporação. Muitas vezes, os líderes não têm qualquer posição oficial no grupo a que pertencem, mas se destacam por sua integridade, carisma, caráter, capacidade de inf luenciar as pessoas para o bem comum. A essência mais básica da liderança é o cuidado especial para servir as pessoas. O líder, neste contexto, se realiza em cumprir o seu papel peculiar de tornar os seres humanos mais humanos. O ser humano é a matéria-prima do servo que lidera. E, se a matéria-prima dos líderes é o ser humano, o
produto final que realiza esses líderes é o desenvolvimento máximo das pessoas que lideram. Em geral, os servos que lideram agem assim e nunca souberam conscientemente o bem realizado. Ora, se liderança é influenciar pessoas pelo exemplo e pelo caráter, qual outro líder na história da humanidade conseguiu influenciar pessoas tão positivamente e por tantos séculos senão Jesus de Nazaré? Seu propósito não era liderar, era servir. Todos nós temos sérias suspeitas sobre o cristianismo e sobre a incoerência das instituições cristãs; mas, nem mesmo os opositores da religião cristã têm qualquer suspeita sobre a capacidade extraordinária do serviço de Jesus Cristo prestado à humanidade. Nessa tentativa de propor uma liderança marcada pela integridade, bom caráter, compromisso com a plenitude de vida para todas as pessoas, e, naturalmente relacionados ao exemplo de Jesus Cristo, o perfil proposto nesta reflexão estará sempre denunciando inadequações, equívocos e atitudes que podem ser melhoradas na liderança. O propósito não é provocar uma sensação de culpa, muito menos sugerir que alguém pode ser melhor do que outras pessoas. A intenção é fortalecer uma necessidade básica para toda e qualquer liderança – a necessidade fundamental de servir, em aprendizado e crescimento contínuos. Aprender sempre, mas nunca para ser melhor do que os outros; basta ser e fazer, a fim de se tornar o dia de hoje melhor do que o de ontem. A partir deste raciocínio, fica evidente que a primeira tarefa do líder é cuidar de si mesmo. Há um consenso muito evidente entre todos os estudiosos sobre liderança: o de que ninguém consegue liderar outras pessoas se não gastar tempo, muito trabalho e sabedoria em liderar a si mesmo. Se a tarefa primária da liderança é amar, servir e influenciar os outros, o próprio líder é a primeira pessoa a desfrutar dessa tarefa. O líder precisa ser inspirado por seus valores, fortalecido pelo prazer de servir e motivado pela capacidade de se sacrificar. Se os monges e executivos precisam ser lembrados sobre suas potencialidades em servir, os servos – tanto os coroinhas como os office-boys da vida – precisam ser desafiados a exercer suas capacidades para que possam liderar. Não há como pensar de forma diferente: a tarefa de liderar requer de quem a exerce muita disciplina pessoal, investimento em conhecimentos diversos e, acima de tudo, conhecimento e domínio sobre si mesmo.
O l ´der precisa ser inspirado por seus valores, fortalecido pelo prazer de servir e motivado pela capacidade de se sacrificar
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