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verdade com conteúdo evangélico
Agosto / Setembro 2009 Ano 2, número 12
R E P O R T A G E N S
14 Louvor enquadrado
Ordem dos Músicos cria Delegacia Cristã, que pretende filiar até quem toca em igreja
Por Moisés Filho |
18 Adultos antes da hora Cathy Yeulet
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Renata Sturm Gary Gnidovic Divulgação
22 A ética da vida e o consenso impossível
Avanços na área da biotecnologia trazem esperança quanto ao fim do sofrimento físico, mas colocam o mundo diante de numerosos dilemas morais
P o r Va l t e r G o n ç a l v e s J r |
32 Teologia a favor do mundo
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Fenômeno da adolescência precoce ganha força, mas pode prejudicar desenvolvimento da juventude cristã
Por Laelie Machado |
Fraternidade Teológica Latino-americana quer ser protagonista da reflexão bíblica no continente
P o r Yu r i N i k o l a i |
34 Muito além de Israel
Nações muçulmanas do Oriente Médio abrigam rico acervo histórico e arqueológico dos primórdios do cristianismo
Por Renata Sturm |
40 Uma iniciativa que fez história
P o r C a r l o s Fe r n a n d e s | O missionário Paul Overholt lembra os 30 anos do Geração 79, evento de MPC que deixou importante legado
42 Cuba para Cristo – Ahora!
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Foto de capa: Harvard Stem Cell Institute
Cinquenta anos depois de Sierra Maestra, crentes aproveitam o momento de abertura política e promovem uma revolução espiritual na ilha
P o r J e r e m y We b e r |
48 Fé e pioneirismo
P o r C a r l o s Fe r n a n d e s | Igreja Presbiteriana do Brasil comemora os 150 anos da chegada do missionário Ashbel Simonton ao país
56 “A pobreza é uma maldição”
Missionário que treina obreiros para atuar em favelas defende que riqueza e dízimos devem ser usados para socorrer carentes
Por Mauricio Zágari |
60 O Messias chegou
P o r C a r l o s Fe r n a n d e s | Obreiros da missão Judeus por Jesus mobilizam-se para pregar o Evangelho em Israel
Agosto / Setembro 2009
N O T Í C I A S ,
S E Ç Õ E S
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C O L U N A S
6 Primeiras palavras
7 Cartas e mensagens
8 Crime religioso
P&R:
Frank Viola
MENTE E CORAÇÃO:
Arquivo
8 CH Informa
John MacArthur
28 Reflexão | Ricardo Agreste
Entre as multidões e os discípulos
50 Espiritualidade | Eduardo Rosa Pedreira
A necessidade e o desejo
52 CH Cultura
62 Os outros seis dias | Carlo Carrenho
Imortalidade, singularidade e/ou a simples paixão pela vida
64 Últimas palavras
Divulgação
Livros Vídeos | Nataniel Gomes Música | N e l s o n B o m i l c a r 10 Sueca é nomeada primeira bispa homossexual do mundo
| Valdemar Figueredo Filho
A igreja e a serra elétrica
12 Estátua de Santa Rita será maior que Cristo Redentor
ARTIGOS ENTREVISTAS
Uma banda de rock que é útil para alguma coisa Autor de Walk On: A jornada espiritual do U2 diz porque políticos dão ouvidos a Bono Evangelismo com um toque a mais Um dos maiores escritores cristãos da atualidade, John Stott reflete sobre nossa situação passada e futura
CULTURA
Jerusalém: o centro do mundo Documentário da PBS explora a rica história da antiga cidade, mas não necessariamente investiga profundamente suas implicações teológicas
Adoração como atuação A diferença entre o entendimento bíblico e pagão de adoração encontra-se na diferença entre um verbo e um substantivo Por Ben Patterson Reenfatizar as doutrinas Evangélicos precisam rever os ensinos básicos do Cristianismo Por Charles Colson Seu estilo de liderança é único O único traço de personalidade que encontrei nas pessoas eficientes era algo que não tinham. Por Peter F. Drucker Cura para a Surdez Espiritual Com toda certeza, sabemos o que é relevante. O que aconteceria se pensássemos um pouco no que é irrelevante? Por Philip Yancey
Divulgação
Primeiras palavras Marcos Simas Editor
A ética no microscópio
Revista Cristianismo Hoje A verdade com conteúdo evangélico www.cristianismohoje.com.br Quem somos Cristianismo Hoje é uma publicação evangélica, nacional e independente, que tem como objetivo informar, encorajar, unir e edificar a Igreja brasileira, comunicando com verdade, isenção e profundidade os fatos ligados ao segmento cristão, bem como o poder transformador do Evangelho a todos os seus leitores
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inguém sabe exatamente onde vai dar este admirável mundo novo preconizado por Aldous Huxley. A humanidade do século 21 convive com uma agenda inimaginável há apenas uma geração atrás. Hoje, qualquer criança de ensino fundamental já tomou contato com temas como clonagem, experimentos com células-tronco, terapias genéticas - contudo, a sociedade ainda não equacionou os sérios questionamentos éticos e religiosos advindos dos avanços da modernidade. E, pelo jeito, não vai encontrar tão cedo uma saída aceitável para a encruzilhada da bioética.
A revista tem uma parceria com o grupo Christianity Today International, um dos mais importantes grupos de mídia cristã do mundo, com 7 revistas e 35 sites de conteúdo Conselho Editorial Carlo Carrenho • Carlos Buczynski • Eleny Vassão Eude Martins da Silva • Marcelo Augusto Souto Mário Ikeda • Mark Carpenter • Nelson Bomilcar Richard Werner • Ronaldo Lidório • Volney Faustini Ziel Machado • William Douglas
Na reportagem de capa desta edição, Valter Gonçalves Junior mostra que, se por um lado o consenso em torno da questão parece impossível, por outro, a fé cristã aponta caminhos capazes de promover uma saudável interação entre novas descobertas e antigos ideais. Apesar da resistência de setores mais conservadores, cada vez mais cientistas, filósofos e teólogos falam numa espécie de terceira via, onde os progressos do conhecimento em direção ao bem estar humano não precisam necessariamente atropelar valores que se cristalizaram ao longo dos séculos na consciência coletiva. Já não parece tanta utopia assim sonhar com o dia em que fé e razão finalmente caminharão lado a lado em benefício da humanidade.
Editor Marcos Simas Diretor de redação e jornalista responsável Carlos Fernandes – MTb 17336 Jornalistas desta edição Yuri Teixeira • Jeremy Weber • Laelie Machado Maurício Zágari • Moisés Filho • Renata Sturm Valter Gonçalves Jr Colunistas Carlo Carrenho • Eduardo Rosa Nataniel Gomes • Nelson Bomilcar • Ricardo Agreste Rubinho Pirola • Valdemar Figueredo Filho
Em outra reportagem especial, a revista mostra como Cuba, a mitificada ilha comunista do Caribe, tem presenciado uma revolução espiritual 50 anos depois de Fidel Castro e seus comandados terem tomado o poder e imposto um regime ateu ao país.
Revisora Alzeli Simas Colaboradores desta edição Carlos Buczynski • Irenio Chaves • Paulo Pancote Arte Oliverartelucas
Por aqui, uma iniciativa da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) tem causado polêmica. A autarquia criou um departamento para fiscalizar o segmento religioso, e sua ação pode acarretar prejuízos às igrejas. Já houve igrejas multadas e o caso foi parar na Justiça, conforme você lê na matéria investigativa de Moisés Filho.
Publicidade publicidade@cristianismohoje.com.br Assinaturas 0800 644 4010 assinaturas@cristianismohoje.com.br Informações e permissões para republicação de artigos redacao@cristianismohoje.com.br
Nesta edição, temos também a presença de Valdemar Figueredo Filho, professor, sociólogo e pastor, que será o novo colunista de Últimas Palavras, ao lado de Carlos Queiroz. Seu artigo A igreja e a serra elétrica questiona com responsabilidade e preocupação o crescimento numérico da igreja, a qualquer preço.
Distribuição MR Werner Distribuidora de livros Ltda. CNPJ 06.013.240/0001-07 – IE 07.450.716/001-45 Caixa postal 2351 Brasília, DF CEP 70842-970
Estamos também com o novo portal CristianismoHoje no ar. Faça uma visita e confira os vários conteúdos exclusivos da internet.
Impressão Gráfica Bandeirantes Tiragem – 20.000 exemplares
Esperamos que você leitor aproveite mais esta edição. A próxima será a comemorativa de 2 anos da revista.
Cristianismo Hoje é uma publicação bimestral da Msimas Editora Ltda. ISSN 1982-3614
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cartas e mensagens
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A perseguição hoje se dá no campo dos pensamentos que envolvem a fam´lia
lamentável que a revista tenha caracterizado Júlio Severo [entrevistado na edição nº 11] como “um daqueles crentes quixotescos, disposto a lutar contra moinhos que talvez só ele consiga enxergar.”. Isso porque ele está atribuindo ao governo a defesa do aborto e do homossexualismo? Talvez seja melhor a redação desta conceituada revista gastar mais tempo em pesquisa para perceber que o entrevistado está mais do que correto. O atual ministro da Saúde é defensor ferrenho da legalização do aborto (...) Quanto ao movimento gay, observem quem lançou um amplo programa de defesa homossexual. Quanto ao sistema de homescholling, trata-se de uma opção que não pode ser descartada pelos evangélicos. E quanto ao casamento prematuro, isso não precisa de defesa. Basta observar que os judeus se casavam na adolescência, santificando, assim, grande parte de suas vidas.
Ageu Magalhães
“conservador de direita”, como se define Júlio Severo em seu perfil no Orkut, tem sido alvo de minhas constantes orações, pedindo ao Senhor que o guarde de todas as astutas armadilhas do inimigo. Admiro-o por sua coragem, fé e determinação, mas observo que tem tomado decisões isoladas e solitárias, sem amparo de pessoas íntegras que o orientem nas estratégias. Está mais para Cervantes do que para Quixote, mas polêmico o suficiente para somente acirrar o ódio de homossexuais e simpatizantes (...) O curioso é ver que a maioria dos comentários dessa entrevista seguem uma mesma linha de crítica, com um discurso ensaiado que enfatiza ofensas raivosas (comparadas ao ódio dos fariseus), menções a Lula, Marx, comunistas e capitalistas conservadores – só falta temperar com TFPs e Ku Klux Klan, e tudo em nome da família. O que faremos, pois? Uma fogueira em praça pública para queimar as revistas? E a liberdade de expressão e de imprensa? Renato Saito
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enho manifestar meu repúdio ao tratamento dispensado a Júlio Severo nessa reportagem. Está bastante claro que CRISTIANISMO HOJE quis entrevistá-lo para se mostrar abertamente antipática às posturas por ele defendidas. No entanto, o título, a apresentação e o tom das perguntas mostram que isso foi feito de modo desrespeitoso com a luta e as perseguições de alguém que deveria ter sido tratado como irmão. O resultado final é não apenas ridículo, mas contraria fortemente os ideais de fraternidade cristã, sendo indigno do nome da revista.
Norma Braga
contra os gays e sua estratégia na luta, que é a do “quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Ele está alimentando o ódio contra os homossexuais a ponto de nós, cristãos evangélicos, sermos acusados de praticar ou acirrar a violência contra eles (...) Agora, vem chorar a perseguição que ele mesmo procurou, fazendo-se de vítima.
Tito Monteiro
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úlio Severo, na minha opinião, é hoje um daqueles que se levantam em favor da família. Um João Batista dos nossos tempos. Homem que não tem medo de denunciar o pecado, mesmo que para isso seja perseguido e até morto, se for preciso. A perseguição hoje se dá no campo dos pensamentos que envolvem a família. Severo pensa de acordo com a Bíblia e não de acordo com filosofia do politicamente correto.
Gilson Bifano
CORREÇÕES • Na coluna CH Cultura – Música da edição nº 11, houve um erro no subtítulo da nota Evangelho e cultura nacional. O artista mencionado não é Márcio Valladão, e sim, Mário Valladão. Pedimos desculpas a ele, ao colunista Nelson Bomilcar e aos leitores • Na reportagem História da edição nº 11, houve um erro na citação ao ano de nascimento de João Calvino. Ele não nasceu em 1609, e sim, em 1509 Por necessidade de clareza e em função do espaço disponível, CRISTIANISMO HOJE reserva-se o direito de editar as cartas que recebe, adaptando sua linguagem ou suprimindo texto. Todas as mensagens foram recebidas via portal www.cristianismohoje.com.br
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Julius Severius é cristão aloprado no bom sentido. Já tive uma discussão muito séria com ele, na qual disse que não concordava com o seu radicalismo doentio
CONTATO COM CH Redação da revista
redacao@cristianismohoje.com.br Inclua seu nome e endereço completos Assinaturas ou dúvidas
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Leia Também
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Campanha contra barulho de templos 9 Acharam os restos mortais de Paulo? 10 Mick Jagger contra a Universal RR Soares de olho no SBT
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Mais sexo antes dos 15 anos
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[ J u s t i ça ]
[ Soc i e d a d e ]
Pastor e fiel envolvidos na depredação de terreiro no Rio podem ser primeiros brasileiros condenados por crime religioso
Encontro do Conplei foi marcado por reivindicações acerca de direitos civis e religiosos
Presos por intolerância O pastor Tupirani da Hora Lores, 43 anos, líder da Igreja Geração Jesus Cristo, e seu seguidor Afonso Henrique Lobato, 26, podem se tornar os primeiros brasileiros a serem condenados por crime de intolerância religiosa. Eles foram indiciados em junho, sob a acusação de terem promovido a depredação do Centro Espírita Cruz de Oxalá, na zona sul do Rio de Janeiro, um ano antes. A polícia chegou a eles graças a um vídeo divulgado por Henrique na internet, onde ele se gaba de ter quebrado imagens do templo e classifica os adeptos de ritos de matriz africana como “adoradores de Satanás”. Na época do crime, que cometeu na companhia de três outras pessoas, Henrique disse que agiu por influência do pastor. Tupirani foi indiciado pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática e teve a prisão decretada após a Justiça entender que ele foi o mentor intelectual do ataque. “A prisão dos dois acusados visa a garantir a ordem pública. Esses dois indivíduos estavam usando a internet para difundir suas idéias nefastas e incentivar a violência e a intolerância religiosa”, disse o promotor Márcio José Nobre, responsável pela denúncia. Até o fechamento desta edição, ainda não havia data para o julgamento e os dois permaneciam presos. E no fim de junho, a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) entregou ao embaixador 8
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As imagens destru´das por extremistas pentecostais: crime religioso motivou até queixa à ONU Martin I. Uhomoibai, presidente do Conselho de Direitos Humanos da ONU, um relatório que denuncia o estado de “ditadura religiosa” supostamente promovido pelos neopentecostais no Brasil. O documento relata quinze casos atendidos pela CCIR, que acarretaram em 34 ações judiciais no estado do Rio de Janeiro, além da situação de três pessoas que viveriam ameaçadas em suas próprias comunidades em função de sua crença. O relatório aponta a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) como principal propagadora da intolerância religiosa no país. O objetivo da CCIR é que o embaixador designe um investigador para comprovar as denúncias e que seja elaborado um diagnóstico do problema pela ONU. Outra meta do grupo é acelerar a implantação, pelo governo brasileiro, do prometido Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. a g o s t o
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O Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos (Conplei) realizou seu encontro nacional no mês passado, em Santa Isabel do Rio Negro (AM). Cerca de 1 mil participantes, representando mais de 50 diferentes etnias de todo o país, estiveram presentes. Temas como as dificuldades enfrentadas pelos povos indígenas no Brasil, discriminação e restrições legais à ação das agências missionárias estiveram na pauta. Recentemente, o Conplei divulgou um manifesto, no qual cobra atenção da sociedade e reivindica do governo ações efetivas para garantir os direitos do segmento. Um deles é a livre expressão e disseminação de sua fé.
Unidos contra as drogas Com apoio de igrejas, governo federal lança curso de capacitação para atendimento a dependentes qu´micos O governo federal pretende usar o voluntariado religioso e a rede de assistência ligada às igrejas para combater a dependência química. A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), ligada à Presidência da República, pretende capacitar religiosos de diferentes credos e famílias confessionais na prevenção ao vício no álcool e em drogas ilegais. O anúncio foi feito em junho, no encerramento da 9ª Semana Nacional de Prevenção ao Uso Indevido de Drogas. O curso Fé na Prevenção será ministrado na forma do ensino à distância, com carga de 60
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Índios cristãos cobram respeito
horas/aula, e os participantes receberão certificados emitidos pela Universidade Federal de São Paulo. Até 2011, o programa pretende capacitar 20 mil pessoas. A Senad espera contar com o know how dos grupos religiosos, tanto católicos como evangélicos, na reabilitação de dependentes químicos. A ideia é integrar numa grande rede os projetos sócio-educativos. centros de recuperação, casas de acolhida e fazendas de desintoxicação ligados às diferentes confissões religiosas. “A espiritualidade mexe com o senso ético do dependente, resgata o amor próprio e ocupa um vazio antes dominado pela droga”, diz o padre Márcio Roberto Geira, da Fazenda Esperança, de Guaratinguetá (SP).
“Deus não é surdo” Cansado de reclamar sem sucesso contra barulho de templos, internauta lança campanha pelo silêncio Cultos religiosos lideraram a lista de reclamações contra a poluição sonora
no Estado de São Paulo ano passado. Na maioria das vezes, as ocorrências referem-se a celebrações pentecostais, mas também há queixas contra missas carismáticas. O excesso levou o promotor José Ismael Lutti, da Promotoria do Meio Ambiente, a propor um acordo com as igrejas. “Queremos convocar os líderes dessas instituições para assinar um Termo de Ajustamento de Conduta, onde eles se comprometeriam a respeitar a lei”, diz Lutti. Enquanto o acordo não chega, vizinhos incomodados fazem o que podem. Cansado de reclamar, sem sucesso, com os responsáveis por um templo evangélico barulhento no bairro do Limão, zona norte da capital paulista, o analista de sistemas Leandro Zavitoski, de 27 anos, decidiu criar o movimento Deus não é Surdo (www.deusnaoesurdo.com.br) na internet. O site já recebeu 400 reclamações. “É quase impossível chegar a um acordo com as pessoas que comandam esses espaços. Na maioria do casos, a lei não nos ajuda e o processo se torna extremamente lento e desanimador”, lamenta Zavitoski. “No site, pelo menos, compartilhamos nosso
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sofrimento”. A homepage tem até uma enquete para eleger a igreja que mais acaba com o sono dos internautas. [ A r q u eo l o g i a ]
A busca chegou ao fim? Patriarca cristão da Etiópia diz que antiga Arca da Aliança está em seu pa´s Um dos maiores enigmas da história pode ter chegado ao fim – pelo menos, se forem verdadeiras as afirmações do patriarca copta etíope, Abuna Paulos. O religioso revelou que a Arca da Aliança, objeto sagrado do antigo judaísmo mencionado na Bíblia, encontra-se em seu país. “Ela está em bom estado de conservação”, declarou o patriarca durante um evento em Roma, na Itália. “A Arca está há três mil anos na Etiópia e continua ali”. De acordo com a tradição copta etíope, o artefato, no qual foram guardadas as tábuas da lei dadas por Deus a Moisés, foi trazida à África pelo lendário imperador Menelik I,
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que seria filho do rei hebreu Salomão com a rainha de Sabá. Pelo relato bíblico, a última menção ao objeto remonta a 586 a.C., quando os babilônios conquistaram Jerusalém. Para frustração geral – e para aumentar o ceticismo de seus ouvintes –, Paulos disse que não pode revelar ainda a exata localização da Arca. Ele disse que só o fará quando o Museu da Aliança, ainda a ser construído na cidade etíope de Axum, ficar pronto. A cidade fica numa ilha fluvial e o santuário onde repousaria a Arca é guardado por monges. A Etiópia é o país independente cristão mais antigo do mundo, e foi um dos primeiros a adotar o cristianismo como religião oficial. Seu Santo Sínodo, contudo, não mantém ligações nem com Vaticano nem com a Igreja Ortodoxa, o que dificulta a confirmação da história.
[ I g reja ]
Bispa lésbica Igreja Luterana sueca nomeia homossexual para comandar Arquidiocese de Estocolmo
Igreja Luterana sueca designou a primeira bispa homossexual do mundo, Eva Brunne
Apóstolo exumado Cardeal anuncia intenção de abrir sarcófago que conteria restos mortais de Paulo A Santa Sé estuda a possibilidade de abrir pela primeira vez o sarcófago que conteria os restos mortais do apóstolo Paulo. O anúncio foi feito pelo cardeal Andrea Cordero Montezemolo, clérigo responsável pela Basílica de São Paulo Fora dos Muros, no Vaticano. “Há tempos que se pensa na abertura da tumba de Paulo, e o papa pode ordená-la”, diz Montezemolo. O sarcófago, descoberto em 2006, é enorme, e sua abertura acarretaria a destruição do altar da Basílica de São Paulo. Por isso, especialistas introduziram no esquife câmeras miniaturizadas, que encontraram restos de tecido e substâncias proteicas compatíveis cronologicamente com o primeiro século da Era Cristã. “Tudo parece confirmar a unânime e incontrastável tradição de que trata-se dos restos mortais do apóstolo Paulo, o que nos enche de profunda emoção”, proclamou o papa Bento XVI. No mês de junho, o líder católico encerrou o Ano Paulino, período litúrgico dedicado aos dois mil anos do nascimento do apóstolo dos gentios. Coincidentemente, arqueólogos do Vaticano anunciaram na mesma época a descoberta do que acreditam ser a imagem mais antiga de Paulo. Trata-se de um afresco do século 4, onde ele aparece de barba, calvo e com uma auréola sobre a cabeça. 10
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Depois de autorizar casamentos entre homossexuais em maio passado, a Igreja Luterana da Suécia deu mais um passo no sentido da liberalização total. A denominação acaba de nomear a primeira bispa lésbica do mundo. Eva Brunne, que vive em união estável com sua parceira Gunilla Lindén, vai comandar a Arquidiocese de Estocolmo, a capital do país escandinavo. “Estou feliz e muito orgulhosa de fazer parte de uma igreja que encoraja as pessoas a tomarem suas próprias decisões. Diversidade é prosperidade”, disse a religiosa aos jornalistas. Perguntada se sua nomeação poderia trazer problemas à Igreja Luterana, ela respondeu de maneira poética: “O jardim da casa de Deus é grande o suficiente para todas as flores.” [ C omportamento ]
Silêncio inquietante
Estudo comprova que exposição exagerada à TV isola as crianças Conversas entre crianças e seus pais diminuem consideravelmente quando uma televisão está ligada por perto, mesmo que os espectadores não prestem lá muita atenção ao que é exibido. A conclusão – que não é nenhuma novidade, aliás – é de um estudo de duas instituições dos Estados Unidos, a Universidade de Washington (EUA) e o Instituto de Pesquisas Infantil de Seattle. Os pesquisadores equiparam
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300 crianças entre dois e quatro anos de idade com um gravador, a fim de registrar tudo que elas diziam e ouviam durante um dia inteiro, uma vez por mês, ao longo de dois anos. Depois, um programa analisou as gravações. Para cada hora de televisão ligada, os pesquisadores descobriram que as crianças, em média, ouviram 770 menos palavras de um adulto – uma diminuição significativa em relação ao período em que a tevê permanecia desligada. “Algumas dessas reduções provavelmente se devem ao fato de que a criança é deixada sozinha diante da televisão”, diz o doutor Dimitri Christakis, coordenador do estudo. “Mas fica claro também que os adultos, apesar de presentes, são distraídos pela tela e não interagem com a criança de forma perceptível”. No entender dos especialistas, a exposição exagerada à televisão nessa idade pode ser associada a retardos de linguagem e deficiências cognitivas, dado o caráter passivo da atividade.
Medicina em xeque Pesquisa mostra que pessoas doentes preferem confiar sua cura a Deus A fé em Deus é mais confiável para a cura de doenças do que a medicina. Esta é a opinião de quase metade das pessoas ouvidas para a elaboração da pesquisa Saúde, vida e valores, organizada por alunos de medicina de uma faculdade de Recife (PE), uma das dez maiores cidades do país. O estudo revelou que 48,7% dos entrevistados creem mais no poder de Deus para alcançar a saúde, contra apenas 6,7% que preferem acreditar nos médicos. O restante – 44% dos 818 entrevistados– mencionou que confiam em Deus e na medicina ao mesmo tempo. [ Gente ]
As dores de Prince Astro pop sofre com problema de saúde, mas recusa cirurgia em nome de sua fé O astro pop Prince está enfrentando um dilema pessoal em função de sua fé. Adepto da Sociedade Torre de Vigia – o
Divulgação
CH Informa
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Roqueiro britânico entra na campanha para impedir que tradicional espaço cultural londrino vire igreja O roqueiro Mick Jagger, vocalista da banda Rolling Stones, é mais uma voz britânica a se levantar contra a transformação do cinema londrino Walthamstow EMD em templo evangélico. O imóvel, um tradicional espaço cultural da capital do Reino Unido onde os Stones se apresentaram antes da fama, no início dos anos 1960, foi adquirido pela Igreja Universal do Reino de Deus em 2003. Até hoje, contudo, os cultos ainda não começaram, Vocalista dos Stones não quer igreja no tradicional cine Walthamstow
[ L i terat u ra ]
A fé que vence o medo Em visita ao Brasil, o escritor Max Lucado percorreu seis capitais e, no Rio, pregou na quadra da Mangueira O celebrado escritor cristão Max Lucado, considerado um dos maiores autores motivacionais da atualidade – ele já vendeu 65 milhões de livros em todo o mundo –, fez um giro pelo país no mês passado. Ele veio aqui para lançar seu novo livro, Sem medo de viver – Redescobrindo uma vida de tranquilidade e paz interior, editado pela Thomas Nelson Brasil. Com fortes ligações com o Brasil, onde já viveu durante cinco anos, no início dos anos 90, e já vendeu um milhão de livros, Lucado iniciou por aqui a turnê mundial para apresentação de sua nova obra. O investimento da editora na promoção e divulgação do evento chegou aos R$ 2 milhões. Após percorrer diversas capitais fazendo palestras, como São Paulo, Belo Horizonte (MG), Brasília e Curitiba (PR), o ponto alto da viagem foi no Rio de Janeiro, onde o escritor falou de sua vida, trabalho e fé na quadra da escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Encravada em uma comunidade carente e que sofre com a ação de grupos criminosos, a agremiação é um símbolo da esperança do brasileiro, que consegue sorrir e brincar mesmo diante das situações mais difíceis. Pois foi lá no reduto dos bambas, com direito a apresentação da bateria da Mangueira e hinos de louvor a Deus, que um Lucado bem à vontade, sintetizou a ideia básica de seu novo livro: “Precisamos descobrir o poder do amor e da fé sobre o medo.” a g o s t o
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Centralidade de Jesus
Diferente de seus livros anteriores, Cristianismo Pagão e Re-imaginando a Igreja, a nova obra de Frank Viola não é sobre as práticas e formas da Igreja. Ao contrário – From Eternity to Here (algo como “Da eternidade à atualidade”, ainda sem t´tulo em português) conta a história dos propósitos eternos de Deus na redenção, do Gênesis ao Apocalipse. “Escrevi o livro”, Viola explica, “para trazer de volta à tona a grandeza, a supremacia, a centralidade e a incomparável gloria do Senhor Jesus Cristo em vista do propósito imenso de Deus”. O escritor concedeu a seguinte entrevista a Christianity Today: CRISTIANISMO HOJE – No livro, o senhor defende um modelo de igreja?
FRANK VIOLA – Cristãos de uma grande variedade de formas e expressões de igreja apoiaram este livro. Ed Stetzer (Batista), Alan Hirsh e Dan Kimball (Igreja Missional), Shane Claiborne (Novo Monasticismo), Myles Munroe e James Goll (Carismática), Brian McLaren (Emergente) e Ralph Neighbor (Igreja em Células), entre outros, são apenas alguns. Recebi ainda muito encorajamento por parte de irmãos anglicanos e reformados, para quem a mensagem do livro causou impacto. Em suma, From Eternity to Here é um livro escrito para todo o povo de Deus, independente da forma ou estrutura de igreja eles abracem.
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Jagger contra a Universal
por conta da uma mobilização popular que conta até com o apoio do governo. “Lugares como esse são o sangue da nossa história cultural. Eles ajudaram a música britânica a ganhar os palcos do mundo e deveriam continuar abertos como espaços de entretenimento”, declarou Jagger. “Eu apoio totalmente a campanha pela reabertura desse centro de artes, música e cinema”. A campanha pela manutenção do Walthamstow já tem até abaixoassinado.
Brandon O’Brien
E qual o propósito da Igreja de Cristo?
A intenção de Deus é ter uma Noiva para o Filho. À luz desta idéia, a Igreja tem uma identidade e uma realidade aos olhos de Deus. Penso que você pode chamar esta realidade e identidade de “igreja universal”, mas o termo não lhe faz exata justiça. A identidade verdadeira e a realidade da Igreja só podem ser visivelmente expressas e melhor compreendidas pela comunidade local dos crentes. O que a Igreja poderia fazer para cumprir o propósito de Deus para ela?
Moisés teve a visão do Tabernáculo antes de erigi-lo. Isso estabelece um principio precioso: a visão deve ser preceder a construção da igreja. Estou falando de visão espiritual, uma revelação do propósito eterno do Senhor, como Paulo menciona em I Coríntios 14. E o propósito de Deus vai além da salvação das almas e a cura do planeta. 2 0 0 9
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tradução: Marília Peçanha
grupo Testemunhas de Jeová – desde 2001, ele sofre com dores fortes na região do quadril, mas recusa-se a fazer a cirurgia que poderia curá-lo porque sua crença proíbe as transfusões de sangue. O problema de saúde começou em 2005, mas vem piorando gradativamente. O artista, que tem aparecido em eventos recentes apoiado em uma bengala, não fala sobre o assunto, mas uma fonte ligada a ele diz que seu sofrimento é grande. “Prince está tomando vários analgésicos e tem a esperança de que a dor vá embora”, revelou o informante.
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CH Informa
Um ateu em Paraty
[ R e l i g i ão ]
Estátua de Santa Rita de Cássia, no interior do Rio Grande do Norte, será a maior imagem católica do mundo
Richard Dawkins, o papa do ate´smo moderno, disse na Flip que criticar a religião sempre soa agressivo
[ T e l e v i s ão ]
De olho no SBT Igreja da Graça faz proposta milionária para ter três horas de programa na emissora paulista A Igreja Internacional da Graça de Deus, liderada pelo missionário R.R.Soares, está de olho no horário das madrugadas do SBT. A nova proposta foi de R$ 5 milhões para ocupar três horas diárias de programação, entre as 2h e 5h – horário sem muito valor comercial mas que costuma ser bastante disputado pelos pregadores televisivos. Segundo a coluna especializada Ooops!, do UOL, os executivos da emissora ficaram de analisar a proposta. No início deste ano, Soares, que já tem presença no horário nobre na Band e na Rede TV! – além da própria emissora, a RIT TV –, havia tentado 12
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Denominação com maior presença na TV brasileira, Igreja da Graça agora negocia com SBT negócio semelhante, mas o empresário Silvio Santos, presidente do SBT, não quis fechar o negócio. A ideia da emissora paulista é investir nos próprios programas, na tentativa de esquentar a briga com a Record pelo segundo lugar na TV brasileira. [ T ecno l o g i a ]
Shalom, internet! Programador cria site de buscas apropriado para judeus ortodoxos
Imagem de Santa Rita, ainda em construção: maior estátua católica do mundo
Os judeus ortodoxos agora podem contar com um site de buscas que não ofende sua religiosidade. O Koogle – corruptela entre o nome do mais famoso portal do gênero, o Google, e o termo hebraico kosher, que designa a comida preparada de acordo com os ditames do judaísmo – é uma ferramenta capaz de filtrar previamente tudo que possa contrariar a fé do mais zeloso judeu. Dotado de um filtro especial para qualquer pesquisa, o programa elimina referências a conteúdos pornográficos, antissemitas ou obscenos. O Koogle foi criado pelo judeu Yossi Altmann, que contou com a assessoria de rabinos, e também oferece links seguros para sites de notícias ou compras. “É uma alternativa adequada para que até judeus ultraortodoxos possam navegar na internet”, diz o programador.
A pequena cidade potiguar de Santa Cruz está prestes a entrar para o livros dos recordes. Está sendo construída ali aquela que será a maior estátua católica do mundo, a imagem de Santa Rita de Cássia. Com 42 metros de altura, mais um resplendor de oito metros, ela ultrapassará em doze metros a estátua do Cristo Redentor, no Corcovado, Rio de Janeiro. Após a conclusão da obra, Santa Cruz, a 115 km da capital, deve se tornar mais um importante centro de peregrinações do Nordeste brasileiro, a exemplo de Juazeiro (CE), que abriga a monumental estátua do padre Cícero Romão Batista. O religioso, que viveu no século passado, é considerado santo na religiosidade popular.
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Presença mais esperada na Festa Literária de Paraty (RJ), a Flip, que aconteceu no início de julho, o biólogo Richard Dawkins, autor de Deus, um delírio, deu o seu recado no evento. E o recado foi justamente este: “Deus não existe”. Numa das palestras mais concorridas da feira, o cientista britânico, considerado o maior nome do moderno ateísmo, disse que é uma bobagem viver a vida pensando no que vem depois dela. “Não desperdice a única vida que você tem”, apelou à plateia. A frase é a mesma que tem circulado em ônibus no Reino Unido, Espanha e outras nações da Europa ocidental, numa campanha movida por organizações ateias. Respondendo com bom humor às perguntas do jornalista Silio Boccanera, Dawkins contou o que pensa dizer a Deus caso um dia se encontre com ele: “Não havia provas suficientes...”. Em um momento mais sério, o escritor enfatizou que, embora muitas pessoas encontrem conforto em sua religião, isso não significa que ela seja verdadeira. “Há a percepção de que você não pode criticar as religiões”, destacou. “Isso faz com que tudo que você fale contra a fé soe agressivo.”
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A maior do mundo
Cabresto gospel L´der da Assembleia de Deus, deputado Manoel Ferreira ameaça eventuais traidores pol´ticos com perda de cargos na igreja O período de propaganda eleitoral só vai começar daqui a um ano, mas o deputado federal Bispo Manoel Ferreira (PTB-RJ) já está cabalando votos. Em correspondência enviada aos pastores dirigentes dos campos ligados à Assembleia de Deus (AD) de Madureira – da qual é presidente –, o parlamentar associa a manutenção de cargos eclesiásticos na denominação à fidelidade nas urnas. “Esta eleição me mostrará quem são meus amigos e homens de confiança através dos mapas eleitorais. Oro a Deus para que não tenha nenhuma surpresa negativa, o que evidenciaria quebra de confiança”, diz um dos trechos da carta, obtida pela reportagem do jornal O Estado de São Paulo. Ferreira, que concorrerá à reeleição, inclui o nome do pastor Dilmo dos Santos, dirigente da AD de Piracicaba (SP), como nome indicado para uma vaga na Assembleia Legislativa paulista. “Mais vale a presidência de uma igreja e a confiança de um presidente nacional vitalício do que qualquer acordo político contra a nossa vontade”, afirma Manoel Ferreira, num claro recado aos subordinados no púlpito: não quer saber de traição nas eleições de 2010. “Não vamos iniciar o trabalho só na época da eleição”, defende. [ Se x o ]
Cada vez mais cedo Número de jovens que inicia atividade sexual antes dos 15 anos aumenta no Brasil É cada vez maior o número de adolescentes com 15 anos ou menos já iniciados na prática sexual. Os dados constam do levantamento denominado Pesquisa de comportamento, atitudes e práticas da população brasileira, feito a partir de dados colhidos junto a 8 mil pessoas de todas a regiões brasileiras
e divulgada em junho pelo Ministério da Saúde. A evolução é comparativa a um estudo parecido feito em 2004. Na ocasião, 25,2% dos entrevistados relataram terem feito sexo antes dos quinze anos; agora, a resposta positiva foi dada por quase 28% dos jovens ouvidos. A pesquisa também avaliou a quantidade de parceiros sexuais que cada pessoa mantém ao longo da vida. Aqueles que relataram ter feito sexo com dez ou mais pessoas passaram de 19% para 26%. Outro item, o que questionou quantos entrevistados tiveram cinco parceiros casuais ou mais no último ano passou de 4% em 2004 para 9,3% agora.
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m dos mais fecundos autores cristãos norteamericanos, John MacArthur temse mantido fiel às Escrituras, percebendo, com visão apurada, as nuances de uma teologia que procura sutilmente negar as verdades eternas. Ele é pastor da Grace Community Church em Sun Valley, na Califórnia, e presidente do Master’s College and Seminary. Veja o que ele disse:
“Estou convencido de que a maior parte dos problemas e fracassos que os cristãos encontram está diretamente ligada à falta de oração”
[ E s porte ]
Garotopropaganda de Jesus
A morte de Jesus
“Um dos modos mais importantes pelos quais podemos glorificar a Deus é divulgar o Evangelho. A mensagem irradia a glória de Deus como nenhuma outra coisa em todo o universo pode fazer”
Entidade cristã espanhola usa a chegada de Kaká ao Real Madrid para promover o Evangelho A chegada do craque brasileiro Kaká ao Real Madrid não está animando apenas os apaixonados torcedores do clube espanhol. Os evangélicos estão com grande esperança de que a contratação do jogador, que é um crente militante, ajude a divulgar o Evangelho. “Kaká é um dos nossos”, diz um folheto que mostra o jogador ajoelhado sobre o gramado, olhando para o céu e vestindo camiseta com a inscrição I belong to Jesus (“Eu pertenço a Jesus”) – a mesma que ele usou nas comemorações da conquista da Copa das Confederações pela seleção brasileira, em junho. Os evangélicos espanhóis pretendem mostrar que Kaká é um modelo de vida cristã a ser seguido. Ao contrário de boa parte dos jogadores de primeiro nível, ele não gosta da vida noturna, mantémse à distância dos escândalos e valoriza a família. “Kaká simboliza e representa a imagem do que pretendemos seja um verdadeiro cristão, e esta é a imagem que queremos transmitir a todos e especialmente aos jovens da Espanha”, diz um comunicado do Centro Cristão de Reunião, entidade que confeccionou o folheto. a g o s t o
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Como ser crente em um mundo de descrentes
“Pastores devem pregar a Palavra fielmente e com exatidão. Os crentes serão convencidos de seus pecados e a maioria dos incrédulos ou se arrependerá, ou sairá” Nossa suficiência em Cristo
“O Evangelho exige que as pessoas reconheçam seu pecado e incapacidade espiritual. A cruz esmaga completamente o orgulho humano” Com vergonha do Evangelho
“Desesperadamente, precisamos recuperar um santo ódio pelo pecado” Sociedade sem pecado Seleção de Carlos Buczynski
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Louvor enquadrado Ordem dos Músicos cria Delegacia Cristã, que pretende filiar até quem toca em igreja
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O poder da carteira vermelha: Delegacia Cristã da OMB anuncia controle sobre atividade musical evangélica
Não foi uma cerimônia às escuras. Pelo contrário – a solenidade Uma vez filiado, o músico precisa pagar anualmente uma ocorrida na tarde do dia 12 de março no auditório do Conselho taxa de cem reais. De acordo com o delegado, a função da OrRegional de São Paulo da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB), dem dos Músicos é fiscalizar, orientar e informar. “É como se no centro da capital paulista, teve até cobertura da imprensa, fosse a OAB”, compara, referindo-se à entidade que fiscaliza a com a presença de jornalistas e equipes de tevê. No pequeno am- atuação dos profissionais do Direito. biente, pastores, músicos – alguns conhecidos e consagrados no meio evangélico – e representantes de parlamentares assistiam a “Proteção” ao músico – É justamente por esse motivo que inauguração da primeira Delegacia Musical Cristã, uma espécie OMB-SP tem sido contestada durante anos por boa parte da de departamento da OMB-SP cuja responsabilidade é sair pelas classe musical. Criada em 1960, no governo do presidente Jusigrejas à procura de músicos que estejam em situação irregular celino Kubitschek, ela passou a ser presidida, em 1965, pelo adcom a autarquia federal. Entenda-se por situação irregular a fal- vogado Wilson Sândoli. Ele foi empossado pelo governo militar ta de pagamento da anuidade ou mesmo a ausência de vínculo que tomou o poder pela força no ano anterior, após a destituição com a entidade, uma vez que, de acordo com a Lei 3.857, de do antigo presidente, o maestro Osmar Milani, acusado de ser 22 de dezembro de 1960, somente quem estiver registrado na comunista. Sândoli sobreviveu no cargo até 2008, quando caiu após ações na Justiça. O motivo foi uma enxurrada de denúnOMB pode exercer a profissão de músico. Em outras palavras, a Ordem dos Músicos do Brasil dese- cias de irregularidades e desvio de dinheiro durante sua gestão. Um dos célebres momentos do então presidente foi ja aumentar sua arrecadação arregimentando mais uma participação num programa de televisão ao músicos. E, para ampliar seu rebanho, a solução Brasil encontrada foi uma inusitada aliança com pastolado da cantora Elis Regina. Ao chamá-la de “sua res evangélicos. “Em síntese seria assim – a raposa cuidando amiga” ouviu da espevitada artista uma desmoralizante resposta do galinheiro (sic). Mas não é bem isso, o que quero é um cara em rede nacional: “Não sou sua amiga porque tenho muito bom mais compenetrado dentro de sua denominação”, explica o de- gosto na escolha das minhas amizades”. Quem assumiu a presidência da entidade foi o maestro legado Milton José de Souza, responsável pelo departamento da OMB-SP. Souza, que também se apresenta como advogado, Roberto Bueno, sob a bandeira de renovação, transparência e embora não possua registro na Ordem dos Advogados do Bra- moralização. Ele também dirige o Conselho Regional paulissil (OAB), nomeou fiscais para cobrar de músicos evangélicos ta da OMB. O novo dirigente assumiu disparando denúncias a carteirinha da entidade sob pena de serem multados ou até contra seu antecessor, de quem foi vice-presidente, alegando que Sândoli desviou milhões de reais. Bueno defende a criamesmo “presos por exercício ilegal da profissão”. Esses representantes da OMB são, em boa parte, pastores ção da Delegacia Musical Cristã: “A ideia é proteger o músico responsáveis pela área de louvor em suas igrejas. A ideia é que evangélico. Foi por isso que nomeamos o Milton, para cuidar eles possam influenciar os músicos de suas denominações – apenas das igrejas cristãs”, afirma. Segundo ele, a adesão à inclusive aqueles musicistas amadores, que tocam nos cultos Ordem ampara o artista em eventuais disputas jurídicas, como de maneira precária com o objetivo de louvar a Deus – a se o calote em cachês. Além disso, dignifica a profissão ao salvafiliarem à Ordem. “É a valorização da profissão do músico”, guardar o mercado de trabalho apenas para os que passaram defende Milton Souza. Para ele, instrumentistas que não são por um exame da OMB. “Também fornecemos a nota contravinculados à OMB não podem ocupar a vaga dos que, nas tual, documento cujas vias ficam com o músico, o contratante, suas palavras, “lutaram por sua carteirinha”. A carteira que a Ordem e o Ministério do Trabalho” enumera. profissionaliza o músico é entregue após o pagamento de cerÉ justamente nessa nota contratual que reside a principal ca de 215 reais e um exame realizado por uma bancada de confusão sobre a legitimidade da autoridade da Ordem dos professores ligados à autarquia. Músicos. Uma lei estadual paulista (12.547, de 2007), do então
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deputado estadual Alberto “Turco Loco” Hiar, dispensa a apresentação da carteira da OMB por parte de músicos em shows e espetáculos. Além disso, inúmeras liminares pelo Brasil têm garantido aos artistas o direito de se apresentar sem precisar comprovar a filiação ao organismo. “Essa lei fala na desobrigação da apresentação da carteira. Até então, o músico que se recusasse apresentá-la poderia ser preso. Só que é omissa numa coisa: por trás da carteira tem a nota contratual, que é estabelecida pelo Ministério do Trabalho. E ali tem que constar o número de registro na OMB”, argumenta o mandachuva da Delegacia Musical Cristã. Segundo ele, a lei não tem validade, uma vez que, se o músico não apresentar sua documentação, o fiscal pode exigir a nota contratual do estabelecimento onde haverá a apresentação. “Se a casa não me apresentar, eu multo. E a multa é mais pesada ainda. A lei quis aliviar o lado do músico, mas acabou prejudicando-o. Ninguém vai querer contratar quem não tem registro”, frisa Milton Souza. O presidente do Conselho Regional Paulista da OMB concorda: “Essa lei estadual não tem valor, pois não pode se sobrepor a uma lei federal”, Roberto Bueno. Ocorre que, poucos dias antes da entrevista cedida à reportagem de CRISTIANISMO HOJE na sede da OMB-SP, Bueno declarava em audiência na Assembleia Legislativa paulista que reconhecia a vigência da lei estadual. “Ele reconheceu que ela está em vigor e argumentou que os fiscais trabalham apenas na conscientização da regulamentação da profissão, e não na filiação à Ordem”, diz o deputado estadual Carlos Gianazzi (PSOL). Segundo Giannazi, os artigos da lei de 1960 não foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988, que em seu artigo 5º garante a liberdade do exercício profissional. “Trata-se de uma coerção que a Ordem pratica ao interromper apresentações de músicos que não portam a carteira ou estejam inadimplentes com a instituição. Temos várias denúncias sobre isso”, protesta o parlamentar. Ele apresentou à Assembleia dois projetos de lei que colocariam de vez uma pá de cal na necessidade de vínculo com a Ordem dos Músicos. “Queremos aperfeiçoar a legislação. Um dos projetos, o PL 214/09, retira as exigências de inscrição na entidade e de apresentação da nota contratual. O outro, PL 223/09, garante o livre exercício da profissão de músico em todo o estado de São Paulo, em conformidade com o previsto no texto constitucional”, explica. O deputado pretende ainda entrar com uma Ação de Inconstitucionalidade (ADIN) contra a lei que criou a autarquia federal. “Vamos tentar através do Ministério Público Federal ou da própria Assembleia Legislativa”.
Musicistas evangélicos em culto: em tese, até as igrejas poderão ser enquadradas caso seus instrumentistas não sejam filiados
Milton de Souza (esq), responsável pela Delegacia Musical Cristã, ao lado de Roberto Bueno, presidente do Conselho Regional da OMB: “A ideia é proteger o músico cristão” Comissão por multa – Enquanto isso, na sala da Delegacia Musical Cristã, os fiscais – cerca de 20 pessoas, entre pastores e líderes evangélicos ligados à área musical – já fizeram até um curso semanal com o delegado Milton José. A pauta era sobre como abordar os músicos nos cultos, eventos e show evangélicos. “A principio nós vamos apenas orientar. Não queremos sair multando”, garante o pastor Gildo de Carvalho, dirigente da Igreja do Evangelho Quadrangular no Pari (zona norte de São Paulo) e responsável nacional pela Coordenadoria do Ministério de Música do Evangelho Quadrangular (COMMEQ ). Pelas suas contas, cerca de 200 mil pessoas atuam com música evangélica no Brasil – a maioria, sem dúvida, são os chamados levitas, gente que toca nos cultos. “Quem se propuser a atuar profissionalmente deve ter sua carteirinha da Ordem”, sentencia Carvalho. “Nas igrejas, temos os músicos voluntários e outros que atuam profissionalmente. Os primeiros não precisam, mas se quiserem, podem aderir também”, ressalva. “Acho que essa é uma porta valiosa que se abriu para lidar com o pessoal evangélico de forma específica”, argumenta. Segundo o pastor, ainda não foi definida nenhuma forma de remuneração aos fiscais da Delegacia Cristã. Mas tamanha dedicação, com diligências a cultos e shows, evidentemente não sairá de graça. Já o presidente da OMB-SP diz que isso é com o delegado. Milton, por sua vez, sinaliza que haverá um “comissionamento por adesões”, ou seja, cada fiscal receberá um percentual sobre o valor da inscrição de novos filiados. É aí que parece morar o perigo – ele acha “antiético” falar em valores: “Não gostaríamos que o mercado ficasse sabendo disso. É melhor ficar entre o fiscal e a instituição”. Já um fiscal, que pediu para não ser identificado, contou à reportagem que receberá bonificação de 10% das novas adesões e das multas que conseguir. No próximo encontro da COMMEQ , agendado para a cidade paulista de Sumaré, será montado um estande da Delegacia Musical Cristã, onde os músicos interessados poderão se inscrever. Ao todo, 4 mil pessoas deverão estar presentes. Gildo está entusiasmado: “Vamos divulgar o projeto e levar uma bancada de examinadores. Os músicos poderão tirar sua carteira por lá mesmo, pagando as taxas e já saindo regularizadas”. Outro fiscal de peso é o maestro Cunha Jr., da Igreja Batista de Vila Mariana, na capital paulista. Ele dirige Associação dos Músicos Batistas do Estado de São Paulo. A entidade congrega cerca de 3 mil instrumentistas e cantores – destes, 40% atuam a g o s t o
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como profissionais. “Estamos trabalhando para que consigamos registrar boa parte deles na Ordem dos Músicos”, antecipa. O problema é que a OMB não é unanimidade entre os profissionais e artistas que pretende representar. Dirigente do Fórum Nacional de Música, organização presente em 18 estados brasileiros e que, entre outras atividades, promove debates sobre temas como leis de incentivo à produção musical, direitos autorais e questões do universo de trabalho do músico, o maestro Amilson Godoy é contra a exigência da carteira da OMB para o exercício profissional. “É uma categoria que não oferece risco a ninguém. Isso é desnecessário. Não é a carteira que vai qualificar o músico e sim o seu trabalho”, acredita. Para ele, o principal problema da Ordem é que poucos músicos compreendem sua real função. “Acredito que deveriam trabalhar na dignificação da profissão e na melhoria das condições de trabalho. Se eles defenderem isso, eu não tenho como ser contra”, pondera. Mas o que vê não lhe deixa animado. “A Ordem dos Músicos serviu para tirar o artista da marginalidade, é verdade. Mas não posso concordar com o papel que assumiu, de ser apenas um mecanismo fiscalizador do músico no intuito de arrecadar dinheiro”. Para o músico Gerson Serafim de Carvalho, da Igreja Betesda do Tatuapé, em São Paulo, a OMB não representa, de fato, os músicos brasileiros. “Parece-me injusto querer taxar uma atividade religiosa, de culto. E como ficam os músicos que tocam e cantam nas celebrações de outras confissões religiosas, como os cultos afro e os muçulmanos, por exemplo?”, questiona. O maestro atua como músico profissional há cerca de 20 anos e é filiado à OMB há nove; no entanto discorda do assédio da autarquia em relação aos músicos evangélicos. “Acho que nenhum músico em atividade não remunerada deveria ser taxado”. Mandado de segurança – O trabalho dos fiscais já começou. Um representante da Delegacia Musical Cristã visitou a sede da Igreja Bola de Neve, no bairro de Perdizes, zona oeste da capital paulista, em abril. Depois do culto, aplicou uma multa e notificou os representantes da congregação a comparecer na sede regional da OMB. “Lá fomos informados de que a igreja deveria promover a inscrição de todos os membros que atuam no louvor na Ordem, bem como providenciar a nota contratual para cada apresentação, sob pena de autuação”, explica a advogada Tais Amorim de Andrade Piccinini, que representa a Bola de Neve. Segundo ela, nem mesmo o argumento de que não há artistas remunerados na igreja sensibilizou o fiscal. A solução foi impetrar um mandado
O deputado Carlos Giannazi apresentou projetos que garantem o livre exerc´cio da atividade musical de segurança com um pedido de liminar, com o objetivo de impedir qualquer ato da OMB e da Delegacia Musical Cristã contra a denominação. A liminar foi deferida, suspendendo o auto de infração e impedindo, até o julgamento do mérito, que a autarquia tome qualquer atitude coercitiva em face da igreja e músicos que tocam em seus cultos. “A petição teve vários embasamentos legais, como a liberdade constitucional de culto e a voluntariedade dos músicos da igreja, entre outros”, diz a advogada Taís Piccinini, responsável pela ação. “O que acontece na igreja não é e nunca foi um show, mas culto a Deus, onde o amor e dedicação são os únicos incentivos para o trabalho no templo.” Já em Osasco (SP), durante o Celebrando a Unidade, evento ocorrido em 21 de abril passado, dois fiscais da Delegacia Cristã da OMB foram “cumprir ordens”, como relembra Renato Saito, apóstolo da Igreja Casa de Profetas, responsável pela organização da festividade que reuniu cerca de 5 mil pessoas de 50 igrejas da região. “A alegação foi de que os músicos participantes do evento não tinham a carteira da OMB. Recebemos uma multa de 500 reais”, lamenta. No entender do ministro, esse tipo de coisa parte de quem é contra o Corpo de Cristo e tem caráter meramente repressor e punitivo, já que os fiscais apelaram para as famosas carteiradas e humilharam os presentes. “Querem normatizar quem deve tocar instrumentos nos cultos. É um abuso de autoridade multar levita que apenas quer adorar a Deus com seu instrumento”, protesta.
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Gerson Serafim, da Igreja Betesda: “É injusto taxar uma atividade religiosa” 16
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Uma Ordem sem muita ordem
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A Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) é uma autarquia federal criada pela Lei 3.857, de 22 de dezembro de 1960. Ela surgiu para normatizar a atuação dos músicos e tem escritórios por todo o país. Seu idealizador foi o maestro e advogado paraibano José de Lima Siqueira, que redigiu um projeto de lei para regulamentar a profissão. A proposta chegou às mãos do presidente da República, Juscelino Kubitschek, que a sancionou. Em 1964, com o golpe de Estado, os principais diretores da OMB foram destituídos, acusados de envolvimento com o Partido Comunista Brasileiro, então proscrito. Já sob o governo militar, o advogado Wilson Sândoli foi indicado para assumir a presidência da autarquia, na qual permaneceu até o ano passado. Em seu lugar entrou o maestro Roberto Bueno, que também dirige o Conselho Regional Paulista da entidade. Atualmente, a OMB conta com cerca de 50 mil inscritos em todo o país, contingente muito aquém da quantidade de músicos, profissionais ou amadores, em atividade no Brasil. Contudo a OMB não consegue fazer com que mais de oito mil dos filiados mantenham suas anuidades em dia.
Adultos antes da hora Fenômeno da adolescência precoce ganha força, mas pode prejudicar desenvolvimento da juventude cristã
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Congresso de adolescentes da Pavi: igreja tenta equacionar problema da adolescência prematura
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Curioso este país: ao mesmo tempo em que resiste quando se cola bíblica dominical e definir quem faz parte do ministério trata de confiar responsabilidades aos jovens, também estimu- de adolescentes e que já deve ser promovido aos departamentos la a maturidade prematura para encher de lenha a fogueira do de mocidade. consumo. E bem no centro dessa contradição, os adolescentes Para a publicidade, porém, a lógica é diferente: quanto anenfrentam o conflito entre ser tratados como “crianças gran- tes se forma um consumidor, mais cedo se contabiliza o lucro. des” ou “pequenos adultos”, de acordo com as conveniências E, caso se possa contar com a cumplicidade dos pais, tanto — tanto as próprias quanto as da sociedade. As melhor. “A mídia incentiva a precocidade porque igrejas evangélicas também encontram alguma tem interesse na venda de produtos”, diz WanComportamento dificuldade para lidar com um contingente que derley Rangel Filho, fundador e diretor da orgaabandona a infância cada vez mais cedo. nização Preparando o Adolescente para a Vida O conceito de adolescência, em si, não é dos mais precisos. (Pavi), que existe desde 1989. “Já os pais estão confundindo Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), essa fase precocidade com maturidade.” Sediado no interior de São começa aos 10 anos de idade e Paulo, o Pavi tem por objetivo treinar pais, professores e lídevai até os 19. Já para o Estatu- res, além de promover eventos para os próprios adolescentes. to da Criança e do Adolescente, Ainda na opinião de Wanderley, os adultos são os prinela acontece dos 12 aos 18 anos, cipais responsáveis pela ideia de adolescência precoce, o que sendo esse o padrão assumido acaba sendo aceito pelos teens. “Os adolescentes gostam de ser pela maioria das igrejas evangé- tratados como precoces porque querem ser adultos. Para eles, licas ao dividir as turmas da es- o ideal é que os pais e os adultos em geral os tratem como gente grande. Assim eles poderão fazer coisas de gente grande”, afirma. A psicóloga Daniela Pedroso Negrão define a adolescência como um momento de mudanças fisiológicas, que incluem principalmente o sistema endócrino e reprodutor. Mas, para o Wanderley Rangel Filho: leigo que tem um desses seres humanos em formação dentro “M´dia incentiva a de casa, o que pode ser visto a olho nu é o crescimento rápido precocidade porque tem e o desenvolvimento das características masculinas e feminiinteresse comercial”
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Laelie Machado
Em dinâmica, teens revelam opiniões e ansiedades
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“Eu acho que a escola é responsável por essa idéia. Minha mãe também é responsável por isso, mas eu gosto de ser tratada como adulta” Beatriz Layra de Carvalho Custódio, 14 anos
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“Os pais têm medo do que os filhos podem fazer. Não sabem se devem tratá-los como adolescente antes da hora ou se tratam como criança por um longo tempo” Andrei Teixeira Martins, 15 anos
nas mais acentuadas. “Se pensarmos em adolescência de uma forma global, entenderemos que é impossível vivê-la antes do tempo. O que pode ocorrer antes disso são interesses precoces de forma geral, mas alguns adolescentes têm a sexualidade um pouco mais aflorada”, explica. Hoje em dia, na visão da pedagoga Ivaldinete Neves Pereira Resende, coordenadora estadual da organização batista Mensageiras do Rei, as crianças são tratadas como pequenos adultos antes da hora, e essa precipitação pode cobrar um preço alto. Para evitar que essa tendência afete o comportamento das meninas dentro da igreja, a organização, que visa estimular a integração e o estudo da Bíblia entre adolescentes e pré-adolescentes cristãs, procura reafirmar a importância do respeito às
“Eu me senti adolescente quando vivi uma maior independência. Comecei a andar sozinho aos 13 anos, já pegava ônibus para ir ao cursinho” Guilherme Vallin, 14 anos “Na minha escola, as crianças no sétimo e do oitavo ano já estão se preparando para o vestibular. Eles acabam vivendo mais cedo aquilo que não faz parte da sua idade” Giuliano Caio Virgínio da Silva, 14 anos “Essa ideia vem da influência das amizades. Não é nem tanto culpa da escola, e sim do adolescente. Ele pensa: ‘Se fulano pode, por que não posso? Se uma pessoa da minha idade faz, eu também posso fazer.’ Não é a idade que classifica, é a maturidade” Vinicius Canola Martins, 18 anos “Passei para a adolescência quando ganhei meu primeiro celular e perdi a vontade de brincar de carrinho. Mas eu queria um Playstation, e não um celular...” Leonardo Silva Gama, 13 anos “Eu me senti adolescente quando minha mãe parou de me dar brinquedos, aos 11 anos!” Lucas Dahora, 12 anos
O pastor Luciano Alves Silva diz que não é fácil orientar adolescentes na igreja
“Meu pai e minha mãe não gostam da ideia de adolescência precoce. Para namorar e sair, eles dizem que sou criança” Bruna Araújo de Freitas, 13 anos
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Conhecer e entender o fenômeno da adolescência precoce, suas causas e os fatores que o provocam é essencial na hora de educar os jovens de acordo com os parâmetros bíblicos. Entretanto, o que eles mesmos pensam sobre o assunto? Numa dinâmica de grupo realizada com a turma de adolescentes da Pri- A moçada da PIB de Guarulhos: Bruna, Giuliano, Andrei, Guilherme e Beatriz meira Igreja Batista de (em pé); Leonardo, Lucas e Vin´cius Guarulhos, a reportagem de CRISTIANISMO HOJE buscou entender o que eles acham desse fenômeno.
fases de desenvolvimento da criança. “Conscientizamos as meninas juniores a aproveitar o máximo de sua infância, dinamizando as atividades atrativas para essa fase. Não é difícil, porque elas querem mais é brincar, e nós procuramos conscientizá-las de que há tempo para tudo.” Diferença de gerações – O ministério de teens da Igreja Bola de Neve, em São Paulo, segue esse princípio. Segundo a diaconisa Francis Antunes, para que o adolescente chegue nessa faixa etária com uma boa saúde espiritual e consciente das obrigações na igreja, o trabalho precisa começar no ministério infantil. “Nós mostramos o papel da criança na sociedade de acordo com os padrões bíblicos para que, ao chegar à adolescência, ela já tenha consciência das suas atitudes”, explica. Os garotos que ingressam no ministério dos adolescentes coordenam seus próprios trabalhos na igreja e cuidam de toda a parte de culto, louvor e pregações, tudo sob a orientação de monitores. Segundo Francis, na Bola de Neve – denominação
cuja membresia é predominantemente jovem –, a consciência de que os padrões de adolescência precoce proposto pelo mundo não são os ideais vem com a mudança de vida. “Eles não vivem da forma que os outros dizem ser certo ou errado, mas de acordo com Jesus Cristo e a Palavra de Deus”, sintetiza a obreira. Contudo, fortalecer um ministério voltado para esse grupo em uma igreja de perfil mais conservador nem sempre é fácil. O pastor Luciano Alves Silva, diretor da União das Mocidades das Assembléias de Deus de Guarulhos, em São Paulo (Umadguar), comenta como é complicado orientar um adolescente na igreja, tarefa que se torna ainda mais difícil quando a educação no lar evidencia o abismo entre a maneira de pensar dos pais e dos filhos. “Essa diferença de gerações causa problemas”, diz. O líder de adolescentes da Primeira Igreja Batista de Atibaia (SP), David John Merkh Jr, também se mostra preocupado quando o assunto é a forma como as crianças e os pré-adolescentes se desenvolvem e vivenciam experiências que antes faziam parte de uma fase posterior da vida. “Eu creio que essa tendência é extremamente perigosa, pois demonstra claramente o sintoma de uma doença muito mais profunda — a de que crianças e adolescentes são cada vez mais afetados pela sociedade e pelo mundo do que pelos pais e pela igreja”, diz. Merkh ressalta que, dia após dia, os adolescentes estão buscando maior independência, o que vem acompanhado de arrogância e malícia. Para ele, os pais devem assumir a importância que têm nesse processo.“Eles é que devem exercer a maior influência sobre os filhos e não permitir que a inocência seja roubada pela sociedade. Creio que os pais permissivos e ausentes são os maiores responsáveis pela adolescência precoce e pelos problemas que esse processo acarreta”, diz.
A história de um conceito
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Em termos históricos, é possível dizer que o conceito de adolescência é relativamente recente. Na sociedade medieval, por exemplo, a criança era praticamente ignorada. Durante a Idade Média, não existia um “sentimento da infância”, e quando a criança não precisava mais do apoio da mãe ou ama, já ingressava no mundo dos adultos. Essa mudança ocorria na faixa dos sete ou oito anos, sem nenhuma transição; elas eram consideradas adultos em pequeno tamanho, pois faziam as mesmas coisas que as pessoas mais velhas. Isso explica-se, em parte, pela reduzida – para os padrões modernos – expectativa de vida da época, que em muitos países não passava dos 40 anos. Assim, a infância nada mais era do que uma passagem para a vida adulta, e a morte das crianças era encarada com naturalidade. Quando os adultos passaram a se permitir algum sentimento pelas crianças, a primeira manifestação foi a de paparicá-las. Desapareceu a vergonha de mostrar o prazer provocado pelo jeito de ser da garotada. Isso nasceu no seio familiar, mas depois se espalhou para a sociedade. O termo “adolescência”, porém, surgiu há pouco mais de um século, exatamente para
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A fam´lia de Sir William Young, de Johan Zoffany (1733-1810): crianças vestidas como pequenos adultos designar essa fase de transição. “Adolescência é a fase da vida entre a infância, pois não se é mais criança, e a idade jovem, ainda não adulta. Portanto, não existe adolescente precoce”, afirma Wanderley Rangel Filho, diretor da associação Preparando o Adolescente para a Vida (Pavi).
Reprodução
Para David John Merkh, crianças estão sendo mais afetadas pelo mundo do que pelos pais e pela igreja
A r q u i v o p e ss o a l
A d u l t o s a n t e s da h o ra
A ética da vida e o consenso impossível Biotecnologia revoluciona medicina e traz esperanças na luta contra o sofrimento físico, mas coloca o mundo diante de muitos dilemas morais
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Valter Gonçalves Jr
Colaboração de Treici Schwengber
Ética é uma palavra forte. Trata-se da ciência que estuda a conduta humana em termos morais. Ela se funda na busca de entendimento sobre o que seja certo e errado, distinguindo-se bem e mal. É terreno subjetivo, e por isso mesmo fascinante: os grandes filósofos, teólogos e pensadores do mundo se debruçam sobre questões éticas desde tempos imemoriais. Apesar de parecer um campo meramente abstrato, as consequências e os desdobramentos da ética dominante recaem, porém, sobre cada um dos indivíduos. Cada época tem seu conflito ético, o tema que domina os debates – e hoje, a noção de bioética começa a se popularizar. Nas fronteiras da vida estão os maiores dilemas. Diante do avanço da biogenética, da bioengenharia, das pesquisas sobre células embrionárias, da tecnologia relacionada aos transplantes de órgãos e da capacidade da medicina moderna de estender até os limites mais largos a luta contra a morte, é preciso ter uma bioética abrangente, compatível com o desenvolvimento científico. Depois de nove anos, o livro Bioética, uma perspectiva cristã, tem nova edição em português, publicada pela Editora Vida Nova. Do professor de teologia norte-americano Gilbert Meilaender, a obra foi recentemente atualizada, com novos argumentos para temas que parecem os mesmos, mas que encontram outros desafios. O desenvolvimento científico e tecnológico tem apresentado questões antes impensáveis, desafiando, com impressionante rapidez, toda a sociedade a construir uma ética capaz de lidar com estes tempos pós-modernos.
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A bioética tem a dif´cil tarefa de traçar limites às novas possibilidades da pesquisa cient´fica
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“Boa parte do que de melhor tem sido feito pela bioética envolve aplicação de certos princípios éticos em casos concretos – tais como o respeito pela autonomia, a caridade e a justiça”, afirma Meilaender. Ele mescla, em sua obra, argumentos teológicos e biológicos para defender uma visão cristã para dúvidas morais relacionadas a questões como reprodução assistida, terapia genética, seleção pré-natal e, claro, aborto. E o faz sem abster-se de um tom humilde ao lidar com assuntos tão espinhosos. “Ninguém pode atrever-se a falar de modo normativo pela Igreja, a não ser, como afirma Karl Barth, ‘com toda humildade”, diz, citando o teólogo suíço. Ele não teme debater o assunto do ponto de vista cristão: “Enquanto um Estado laico não for hostil ao ponto de vista religioso, os cristãos sempre terão oportunidade de entrar em debates públicos sobre bioética a partir de uma perspectiva moldada por aquilo que acreditam”, diz, em entrevista à CRISTIANISMO HOJE. “Fé procura entendimento, e essa compreensão pode ser partilhada com os que ouvem. Evidentemente, nem sempre vamos ter sucesso em convencer outros. A nossa responsabilidade não é, contudo, a de ter sucesso, mas a de sermos fiéis”, afirma o teólogo, que foi um dos assessores da Casa Branca para os assuntos relacionados à bioética durante o governo de George W. Bush (2001- 2008). O período ficou marcado pela invasão ao Iraque e pelo conceito de guerra ao terrorismo. Porém, muitas das mais pesadas críticas que o ex-presidente recebeu vieram da comunidade científica, já que,
Divulgação
alegando motivos éticos, ele proibiu as pesquisas com célulastronco embrionárias nos Estados Unidos.
tusiasmo pelo regime nazista da Alemanha de Adolf Hitler. De fato, ao fim da Segunda Guerra Mundial, a ideia de novos limites éticos no campo da medicina teve grande impulso: o Princípios inegociáveis – O democrata Barack Obama ain- mundo se deparava com os horrores dos experimentos de méda não retirou as tropas do Iraque, mas já mudou de rumo no dicos e cientistas a serviço da construção de uma superioridade campo da ciência: liberou dinheiro para as pesquisas com cé- ariana. Nem tudo seria aceitável em nome da ciência. lulas-tronco. O primeiro orçamento do atual governo Obama No livro Ética aplicada – Pontos e contrapontos (Editora Unitambém destinou verbas públicas para programas de saúde que sinos), o professor de filosofia José Nedel lembra que há risincluem o aborto, para desgosto dos grupos pro-life, que têm cos de mau uso da ciência. O Conselho da Europa, sublinha apoio de muitos evangélicos americanos. Hoje, Meilaender não ele, aprovou, em 1997, a Convenção para Proteção dos Divê com bons olhos as ações do presidente relacionadas à bioéti- reitos Humanos e a Dignidade do Ser Humano em Relação ca. “Obama reverteu a política de Bush e permitirá o aumento à Aplicação da Biologia e da Medicina, que no ano seguinte dos fundos federais para a pesquisa que destrói embriões”, cri- teve acrescentada a frase “Sobre proibição de clonagem em setica. “Além disso, considerando que o ex-presidente apresentou res humanos”. De acordo com Nedel, que defende o princíuma discussão ética fundamentada como um dos motivos para pio da “sacralidade da vida”, o documento destaca que o “mau a sua política, Obama alterou o curso sem oferecer argumentos uso da biologia e da medicina pode levar a atos que causem morais. Isto é de lamentar”, continua. danos à dignidade humana”. Nem por isso o Parlamento da O teólogo não nega uma perspectiva mais conservadora. Inglaterra deixou de aprovar, no ano passado, a lei que permite Debatendo o tratamento embrionário, ele alerta, pesquisas com embriões híbridos, de seres humanos por exemplo, que, ao modificar-se um embrião para e animais, com fins de desenvolver futuras terapias Capa extirpar dele as possíveis doenças que irá desenvolgenéticas. À época, o jornal inglês The Guardian ver no futuro, é possível que sejam transgredidos observou, em pequena nota, que “grupos religiosos princípios inegociáveis. “O suposto grande benefício da terapia minoritários se opuseram à aprovação da lei, com base no prinda célula embrionária – a eliminação da doença não apenas em cípio da suposta sacralidade da vida”. um indivíduo, mas em todos os seus descendentes – é o maior Se nos Estados Unidos e na Inglaterra as pesquisas já forçam perigo que ela oferece.” Ele prefere exaltar o exemplo da comu- mais as fronteiras da bioética, na França, surpreendentemente, nidade de judeus ortodoxos de Nova Iorque, que desenvolveu o governo resolveu travar um pouco o andamento das coisas. A um programa chamado Dor Yeshorim (“A geração dos justos”) verdade é que, na Europa, os países com maior influência capara combater a terrível doença de Tay Sachs, que tem inci- tólica e os que têm más recordações das aventuras no campo da dência acima da média entre eles. A doença é degenerativa, e eugenia são resistentes à ideia de manipulação genética. O chaafeta a tal ponto a criança que a deixa demente, cega, surda e mado diagnóstico pré-natal do embrião, ou pré-implantatório, com dificuldade de engolir, matando-a entre os três e os cinco no caso de fertilização in vitro, já era quase um lugar-comum anos de idade. O Dor Yeshorim realiza exames genéticos em para os franceses. “Polêmica, que polêmica? Todos os especiaadolescentes para detectar a presença dos genes causadores da listas estão de acordo”, perguntou, no ano passado, ao jornal disfunção. O programa desencoraja namoro e casamento entre Le Monde Diplomatique, o então diretor-adjunto da Agência de jovens nos quais se detectar o risco genético de os filhos nascerem com a doença de Tay Sachs. Como resultado, conseguiu diminuir bastante a incidência de novos casos – sem recorrer ao aborto ou à manipulação genética. Meilaender ressalva, porém, que seria complicado reproduzir algo como o Dor Yeshorim em larga escala. O dilema ético estaria então em gerar excessivo controle social sobre os indivíduos. “Em um plano mais amplo, os perigos do controle social podem representar um risco grande demais”, reconhece. Mesmo assim, marca posição contra a manipulação genética. “Quando assumimos o projeto de moldar as futuras gerações de modo tão fundamental, não nos é possível saber realmente o bem ou mal que causamos – não podemos, de fato, saber que projeto assumimos”, observa, citando o livro A abolição do homem (Martins Fontes), do escritor C.S. Lewis: “O poder do homem sobre a natureza acaba sendo um poder exercido por alguns homens sobre outros homens, tendo a natureza como instrumento. [...] Todo novo poder conquistado pelo homem é O professor também um poder sobre outro homem”. Gilbert Sacralidade da vida – O problema é como lidar com os novos poderes adquiridos a cada dia pela ciência, tanto para bem, quanto para mal. Os temores acerca da manipulação genética remetem ao pesadelo totalitário da eugenia, assumido com en
Meilaender: mescla de argumentos teológicos e biológicos
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Biomedicina da França, François Thépot. Um ano depois, o presidente francês Nicolas Sarkozy escolheu como conselheiro para questões de pesquisa e saúde Arnold Munnich, chefe de Serviço de Genética do Hospital Necker, em Paris, um dos poucos autorizados a praticar o diagnóstico pré-implantatório. Munnich declarou ao mesmo jornal francês algo parecido ao que Meilaender afirma em seu livro: “Sabemos que um sujeito herdou um gene, mas o fato de ter herdado esse gene é suficiente para afirmar que ele terá a doença? Não.” Munnich também sinalizou com um recuo para as pesquisas embrionárias: “Minha concepção de vida faz com que eu prefira a destruição de um embrião à sua instrumentalização como fábrica de órgãos por um projeto de pesquisa”, declarou o especialista francês. Ele vai na direção oposta à da geneticista brasileira Mayana Zatz, que há poucos anos, durante os debates sobre pesquisas com células-tronco e clonagem terapêutica, no Senado Federal, indagou aos parlamentares se era possível comparar a vida das crianças portadoras da Síndrome de Duchene – uma distrofia muscular progressiva – com a de um embrião congelado, que muito provavelmente, ainda por cima, será descartado, sem uso algum. “Será que alguém que tiver um filho afetado, como essas crianças, teria a coragem de olhar para ele e dizer que sua vida é menos importante do que a de um embrião congelado?”, questionou a especialista, que costuma escrever sobre os muitos dilemas da bioética em seu blog. Já o médico cancerologista Dráuzio Varella, popular autor de vários livros, como Estação Carandiru e Por um fio, ambos publicados pela editora Companhia das Letras, não tem dúvidas em afirmar, em seu site, que seria um crime permitir sob qualquer pretexto a clonagem de seres humanos. Mas, ao mesmo tempo, defende o uso de células-tronco embrionárias no tratamento de enfermidades graves. Varella argumenta ainda que há uma grande distinção entre a clonagem reprodutiva e a clonagem terapêutica. “Independentemente de julgamentos morais, a clonagem reprodutiva deve ser proibida por lei, porque não existe a menor segurança de que bebês gerados por meio dela serão bem formados. Na clonagem terapêutica, no entanto, os tecidos são obtidos em tubos de ensaio”, defende o médico, que em recente série na TV, tocou em outro assunto relacionado à bioética: a doação de órgãos. 24
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Óvulo manipulado: novas tecnologias que permitem benef´cios ao ser humano são confrontadas por teólogos e filósofos
Arquivo
A geneticista brasileira Mayana Zatz é uma entusiasta da clonagem terapêutica
Bem-estar coletivo – O livro de Eclesiastes diz que há tempo para tudo. Inclusive para morrer. Mas esta já não é uma questão fácil para a medicina moderna. É que são tantos os avanços científicos que é possível esticar ao máximo a vida de um paciente terminal. O problema é saber a hora de parar de tentar salvar o doente – e isso também é assunto da bioética. Só que determinar em que momento um paciente pode ser declarado morto – para então doar órgãos – não é tão simples quanto parece. Não há consenso entre os protocolos médicos adotados nos Estados Unidos, no Japão, na Europa e no Brasil. O Vaticano voltou a questionar, recentemente, com um detalhado relatório científico, o protocolo relacionado à chamada morte cerebral, atualmente aceito na maior parte dos países. Do outro lado da polêmica, estão os milhares de pacientes em filas para transplantes de órgãos. Com pós-doutorado em filosofia pela Universidade Católica de Lovain, na França, o professor Olinto Pegoraro observa, no livro Ética dos maiores mestres através da história (Vozes), que há, no campo da bioética, duas grandes ramificações: a secular e a confessional. Não é o caso, recomenda, de desprezar nenhuma das duas, e nem mesmo de limitar as pesquisas científicas. “Cabe à ética decidir o uso ou não do resultado da pesquisa científica. Não se trata de aprovar ou não a pesquisa ou seu resultado; estes só pertencem ao cientista”, opina. “Por exemplo, a ciência já encontrou o caminho da clonagem humana. Cabe à decisão humana usar ou não estes resultados. E esta decisão está longe de ser consensual mesmo para a clonagem animal”, lembra. Jean Selleti, que é pastor da Igreja Presbiteriana Independente, professor de bioética na Faculdade Evangélica do Paraná e diretor do Instituto Ciência e Fé, não acredita que a ciência esteja de alguma forma atropelando a ética em suas pesquisas no campo da bioengenharia. “A ciência deve ter seu grau de liberdade. O problema está no ser humano, que deve agir com prudência e responsabilidade. Precisamos buscar é uma ética de sujeitos responsáveis na ciência”, declarou ele a CRISTIANISMO HOJE. Selleti vê muita polêmica em relação ao tema. “Em virtude dos avanços da biotecnociência, temos muitos pontos sensíveis. Aqueles relacionados ao início e ao fim da
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A é t ica da v ida e o c o n s e n s o i m p o s s í v el
Agência Brasil/Waldir Reis
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Polêmica chegou ao Supremo
A Lei de Biossegurança – n° 11.105/05 – foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 24 de março de 2005, dois anos após o projeto ter sido enviado ao Congresso. Ela permite estudos com as células-tronco embrionárias e também a produção de alimentos transgênicos. Em maio do mesmo ano, a permissão de pesquisas com células-tronco foi questionada no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo ex-procurador da República Cláudio Fonteles. Ele alegou que a permissão era inconstitucional e feria o direito à inviolabilidade da vida humana, sob o argumento de que os embriões, ainda que congelados em laboratório, são seres vivos. Em 2008, a ação foi julgada e dada como improcedente, e a permissão para as pesquisas, constitucional. A decisão foi saudada por muitos portadores de deficiências físicas e doenças degenerativas que acompanharam a sessão. Com a legislação, ficou permitida, para pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados. Todavia, os procedimentos só podem ser feitos com embriões considerados inviáveis ou aqueles que foram congelados a partir da publicação da Lei de Biossegurança, depois de completarem três anos ou mais contados da data de congelamento, e
vida são os mais problemáticos para dirimir os conflitos morais”, reconhece. Ele escreveu, juntamente com Volnei Garrafa, que é professor de bioética da Universidade de Brasília (UnB) e presidente da Sociedade Brasileira de Bioética, o livro As raízes cristãs da autonomia, publicado pela Vozes em 2005. Na obra, eles explicam que, desde os anos 1970, quando tomou corpo, o estudo da bioética teve como base quatro princípios: autonomia, beneficiência, não-maleficiência e justiça. Destes, a autonomia dos indivíduos passou a ter muito mais peso do que os demais, pelo papel de destaque que tem na cultura anglo-saxônica, como é o caso dos Estados Unidos e da Inglaterra. No livro, ele entrevistou 16 pastores brasileiros de correntes tradicionais – presbiteriana, batista, metodista e luterana – e observou que a visão protestante norte-americana, que seria sumamente voltada para o interesse individual, não se reproduz entre os pastores do Brasil. Aqui, dada a cultura latina e católica, o bem-estar coletivo ainda suplanta o individual. Para os autores, que já pretendem atualizar a obra, a bioética não se resume a questões biomédicas e biotecnológicas, mas abrange os problemas sociais dos países em desenvolvimento, como é o caso da saúde pública, do acesso a medicamentos essenciais, da preservação do meio ambiente e do saneamento básico. Selleti não vê consenso possível em relação à bioética, nem mesmo entre as diferentes igrejas. “Entretanto, todos que trabalham com o campo devem ter um compromisso com a tolerância. Só assim encontraremos caminhos para os grandes dilemas éticos do nosso tempo”, conclui. Biossegurança – Realizado no dia 11 de julho, o II Simpósio de Bioética, Fé Cristã e Qualidade de Vida, na Universidade
Portadores de deficiência f´sica em manifestação na frente do Supremo: pressão pela legalização das terapias genéticas após a permissão dos pais. A lei também proibiu a engenharia genética em células germinais, zigotos e embriões humanos, bem como a clonagem de seres humanos, mesmo com fins terapêuticos. Federal de São Paulo, jogou um pouco mais de luz no debate. A ideia é perceber a bioética como um campo bem maior do que a discussão em torno da aplicação de uma ou outra novidade científica: trata-se mesmo da ética da vida, com desdobramentos não só sobre a pesquisa científica como também sobre o atendimento médico-hospitalar. O simpósio marcou ainda o lançamento do livro O cuidar do entardecer da vida, primeiro de uma série sobre bioética (www.livrodebioetica. blogspot.com). “Não se pode esquecer dos princípios da bioética, cujas bases foram criadas especialmente para proteger o ser humano de práticas abusivas que possam atentar contra sua dignidade, sua saúde ou sua própria existência”, diz Tércio Obara, cirurgiãodentista, um dos organizadores do simpósio. Obara também é pastor metodista, tem mestrado em bioengenharia e é doutorando em engenharia biomédica. E ainda toca o ministério cristão Sorrindo com Cristo, de assistência dentária gratuita a comunidades carentes. Ele critica o uso terapêutico de células-tronco embrionárias, previsto na Lei de Biossegurança. Tais pesquisas podem resultar em tratamento para diversas doenças, mas, para Obara, representam o sacrifício de embriões. “É possível, por exemplo, colher células-tronco do cordão umbilical de recém-nascidos sem prejudicar ninguém”, afirma, criticando a ideia de que “os fins justificam os meios”. Obara entende que a igreja cristã deve participar das discussões éticas em todas as áreas, atuando na sociedade de forma ampla. “A igreja evangélica brasileira possui hoje, no seu quadro de membros, pessoas altamente qualificadas e equilibradas para liderar e distribuir democraticamente conhecimentos sobre a bioética”, assegura. a g o s t o
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As muitas questões relacionadas à vida
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Os extraordinários avanços da tecnologia genética e dos procedimentos na área da reprodução e da medicina verificados nos últimos anos incorporaram novos termos – e polêmicas – na agenda da humanidade: Fertilização in vitro – O caro processo de fertilização in vitro tem sido cada vez mais utilizado. A expressão “bebê de proveta” tornou-se popular em 1978, quando nasceu o primeiro ser humano gerado por esse processo, a inglesa Louise. O que muita gente não se deu conta é que, para realizar a inseminação artificial, é preciso fecundar certa quantidade de óvulos, para garantir o sucesso da fertilização. Os embriões não utilizados são então congelados, à espera de uma nova chance. Em pouco tempo, o número de embriões congelados chegou a milhares. Eles são descartados depois de alguns anos. Pesquisa com embriões – São incontáveis as possibilidades de pesquisa com embriões humanos. A mais famosa é a relacionada às chamadas células-tronco, que têm muito maior capacidade de se dividir, transformando-se em células de qualquer tecido do organismo. As possibilidades terapêuticas que se vislumbram são imensas, especialmente para as doenças degenerativas ou as que afetam células que não mais se regeneram, em indivíduos adultos. Normalmente, porém, as pesquisas implicam a morte do embrião. Há outras fontes de célulastronco, como o cordão umbilical, e ao contrário do que se dizia há pouco, algumas com igual ou talvez maior possibilidade de aplicação terapêutica do que as de embriões. Engenharia genética – Talvez o mais polêmico tema relacionado à bioética, a manipulação genética tem maus antecedentes – Adolf Hitler adorava a ideia –, mas acena com a cura de doenças as mais terríveis ou até mesmo com o fim do sofrimento físico. Os entusiastas dizem que humanos geneticamente modificados poderão se ver livres de quase todas as doenças ou ter capacidades extraordinárias – mas ao preço da manipulação em laboratórios, com as mais variadas intenções e consequências, em um admirável e talvez bizarro mundo novo. Clonagem – Processo pelo qual todas informações genéticas de um ser vivo são artificialmente transferidas a outro, gerado a partir da coleta do DNA do doador e de sua implantação em um óvulo receptor. O primeiro animal clonado foi a ovelha Dolly, em 1996, na Escócia. No caso de seres humanos, a clonagem de embriões teria uso terapêutico.
Doação de órgãos – Até 1950, alguém era tido como morto quando parava de respirar ou quando o coração não batia mais. Com a invenção do desfibrilador, que permite reanimar um paciente com parada cardíaca, e dos aparelhos de respiração assistida, a definição de fim da vida foi mudada. O atual conceito de morte encefálica permite que o atestado de óbito seja assinado quando o coração do paciente ainda está batendo, o que é fundamental para obter órgãos em bom estado para transplantes. Aborto – Dentre todos os temas discutidos pela bioética, o aborto talvez seja o mais antigo e o mais discutido. O cerne do debate decorre da indagação acerca de quando começa a vida. Para os cristãos, isso se dá na fecundação. Com isso, a interrupção da gravidez seria um homicídio. A seleção pré-natal, em que o embrião é abortado caso carregue alguma doença, também é questionada. Eutanásia – É a morte provocada em uma pessoa com doença incurável ou estado terminal, para acabar com seu sofrimento. O procedimento é permitido em vários países da Europa. Recentemente, na Itália, onde a eutanásia é proibida, o caso de Eluana Englaro, de 37 anos, que desde a adolescência vivia em coma vegetativo – motivou intensa batalha judicial, que envolveu a Igreja e o governo, até que os aparelhos foram desligados, como queria a família. Ainda que o paciente peça, o Código Penal brasileiro considera a eutanásia crime de homicídio. Ou de auxílio a suicídio, quando a pessoa fornece ao doente meios de se matar. Distanásia – Prolongamento artificial da vida do doente terminal, mesmo que os conhecimentos médicos não prevejam possibilidade de cura ou de melhora. Além de caro, o uso de aparelhos para prolongar a vida provoca, mais adiante, um outro dilema: quando desligá-los? Basicamente, prolonga-se a agonia, impedindo-se a morte natural. Ortotanásia – É o não prolongamento artificial do processo de morte, além do que seria o processo natural. Consiste na suspensão do tratamento de combate à doença incurável e terminal e do prolongamento da vida pelo uso de equipamentos e tecnologias. A palavra vem do grego orto (certo) e thanatos (morte). Seria então o jeito certo de morrer? Projeto do senador Gerson Camata (PMDB-ES) torna a ortotanásia legal no Brasil.
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Louise Brown, o primeiro bebê de proveta; Dolly, a ovelhinha clonada que assombrou o mundo; a italiana Eluana, alvo de intensa batalha judicial; e coração pronto para ser transplantado: avanços cient´ficos trazem encruzilhadas éticas 26
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reflexão Ricardo Agreste teólogo e escritor
Entre as multidões e os disc´pulos
Os evangelhos nos apresentam um Jesus engajado no serviço às multidões
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omo um cristão num país chamado Brasil, ao longo dos anos, tive que me habituar a observar e identificar dois ambientes bem distintos, nos quais a espiritualidade é exercida em nossa cultura. Um deles é o ambiente caracterizado pela “espiritualidade das multidões”, a qual se mostra confusa e sincrética, e diante da qual sempre me senti um tanto quanto resistente. O outro é caracterizado pelo que chamarei, mesmo correndo o risco de ser tido como pretensioso, de “espiritualidade dos discípulos”. Este é um modelo que sempre me pareceu mais consciente e coerente. É preciso reconhecer que, diante destes dois modelos de espiritualidade, minha formação me condicionou a olhar com um perigoso desprezo para a espiritualidade das multidões. Ao longo da caminhada cristã, por muitas vezes, tenho ouvido que as multidões são inconstantes e utilitaristas. Elas estão sempre em busca do milagre imediato – aquela bênção que leva à cura da enfermidade, à solução para o problema financeiro. Fui também induzido a pensar que a genuína espiritualidade emerge de uma relação de discipulado com Cristo, baseada numa decisão consciente. Assim, somente a partir de uma entrega total de nossa vida ao Senhor e um compromisso de obediência à sua voz é que podemos experimentar a genuína espiritualidade. Por isso mesmo, precisamos tomar cuidado com a distração gerada pelas multidões e concentrar-nos na produção artesanal de discípulos de Cristo. No entanto, relendo os Evangelhos, fui surpreendido, mais uma vez, pela pessoa de Jesus e suas atitudes. Confesso que, num determinado momento, esta surpresa tornou-se muito próxima de um sentimento de indignação em relação a ele, ao perceber que sua postura ia na contramão de tudo quanto eu cria e defendia. Foi quando fui surpreendido pela segunda vez; agora, contudo, comigo mesmo, quando constatei que meus sentimentos estavam bem mais próximos daqueles que, nos evangelhos, são chamados de fariseus e escribas do que dos verdadeiros seguidores de Cristo. Jesus observou as multidões e foi tomado por uma profunda compaixão por elas, conforme os relatos de Mateus 9.36 e 15.32. Percebemos que o Filho de Deus, apesar de saber que aqueles homens e mulheres eram muitas vezes movidos por interesses não muito nobres – e não poucas vezes eram tomados pelas tais tendências utilitaristas de fé
–, não deixava de sentir compaixão por eles. Muito pelo contrário; ele reconhecia que interesses difusos e tendências pragmáticas eram decorrentes do fato de estarem cansados e aflitos, como ovelhas sem pastor. Os evangelhos nos apresentam um Jesus engajado no serviço às multidões, curando aqueles que tinham necessidade, expulsando os demônios dos que estavam oprimidos e anunciando o Evangelho do Reino como uma dádiva estendida a todos pelo amor e pela bondade de Deus. Em alguns momentos de seu ministério, cercado pelas multidões, o Mestre desafiou seus discípulos a não apenas olharem para elas com compaixão, mas, seguindo seu próprio exemplo, a servi-las. Diante disso, seus seguidores procuraram todas as formas de dissimulação, alegando os mais variados tipos de dificuldades. No entanto, Cristo foi enfático, ordenando que eles mesmos servissem àquelas pessoas envolvidas pelo modelo de espiritualidade que constantemente acusamos de ser inconsistente e utilitarista, conforme Mateus 14.15-16. Não se trata de negar o fato de que Jesus tinha um grupo de discípulos com o qual gastava um tempo de maior qualidade e profundidade nos ensinamentos. Nem mesmo se pode negar que a genuína espiritualidade deve ser construída a partir da fé consciente na pessoa de Jesus, como o Deus encarnado que entra na história para morrer em nosso lugar. No entanto, o que se deve questionar é todo e qualquer modelo de espiritualidade que, em nome do discipulado com qualidade, gera discípulos que não sentem compaixão e não sabem conviver com as multidões aflitas e exaustas. Jesus, com a sensibilidade do Deus que é amor e com a sabedoria daquele que é o criador do universo, entrava em contato com o sofrimento das multidões, acolhendo-as em suas limitações teológicas e em suas motivações utilitaristas. A partir desse encontro de amor, fez de homens e mulheres verdadeiros discípulos! Da mesma forma, aqueles que se afirmam seus seguidores deveriam aprender a olhar com compaixão para as multidões e engajar-se no serviço a elas com amor e dedicação, criando oportunidades para que todos venham a compreender quem é Jesus e possam render-se ao seu amor. Então, alguns homens e mulheres, anônimos nas multidões, ganharão identidade ao deixarem de ser apenas consumidores de sua compaixão para se tornarem agentes da mesma.
O que se deve questionar é todo e qualquer modelo de espiritualidade que gera disc´pulos que não sentem compaixão
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Teologia a favor do mundo
Público prestigia debate da FTL: desafio da entidade é contextualiyar reflexão teológica
Fraternidade Teológica Latinoamericana quer ser protagonista da reflexão bíblica no continente
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Qual a necessidade da teologia nos dias de hoje? Como identifi- Bandeiras – A história da FTL teve início após o I Congrescar um pensamento teológico contextualizado com as diferentes so Latino-americano de Evangelização (Clade), ocorrido em realidades em que a Igreja está inserida? E que tipo de resposta 1970, em Bogotá, Colômbia. Depois do evento, um grupo de teológica pode fazer diferença diante da multiplicidateólogos viu a necessidade de formular uma teolode de práxis da cristandade contemporânea? É para gia que fosse ao encontro das necessidades do povo Igreja propor rumos diante desse tipo de questões e pensar o da região e que, ao mesmo tempo, possuísse uma mundo segundo o Evangelho que a Fraternidade Tevisão interna das questões que eram levantadas em ológica Latino-Americana (FTL) tem estabelecido novas metas. congressos internacionais do gênero. “A América Latina preA entidade acaba de escolher sua nova Diretoria, cujo mandato cisava de voz e representatividade. Foi uma reação à atitude vai até 2012 com a missão de desenvolver teologias a partir da centralizadora norte-americana que promovia o congresso”, reflexão pessoal e coletiva. A partir de agora, a FTL pretende reconhece Veiga. “O objetivo dessas ref lexões é produzir uma intensificar ainda mais suas atividades, fortalecendo os núcle- teologia contextualizada e aplicável ao dia-a-dia da nossa os, aumentando a produção de material e promovendo debates, Igreja local.” a fim de apresentar um conteúdo bíblico-teológico consistente a Essa nova fase da FTL deve vir acompanhada de muito um mundo cada vez mais secularizado. trabalho. A nova Diretoria acredita que a entiCom o tema “Igreja, cidade e teologia públidade pode inf luenciar muito mais. O presidenca”, cerca de 170 participantes reuniram-se em te defende a significância do órgão e convoca um aconchegante sítio em Maranguape, Região os antigos membros a participarem mais atiMetropolitana de Fortaleza (CE) durante a última vamente do movimento. “O prestígio da FTL Consulta Nacional da entidade. O evento ocorreu não está em baixa. A nossa produção é que não paralelamente à Consulta Regional Nordeste e seré tão divulgada”, explica. Um dos motivos disviu de espaço também à realização da Assembleia so é que o Boletim Teológico, publicação que reNacional dos membros ativos da FTL. O eleito foi úne diversas produções de pensadores cristãos, Carlos Veiga, de Brasília, em substituição a Orideixou de ser produzido. Agora, uma das priovaldo Pimentel Lopes Jr. “O trabalho da FTL tem ridades é o retorno da produção desse material se fortalecido nos últimos anos, principalmente no Nordeste. A e sua veiculação também pela internet. Assembleia entendeu que deveríamos ter nessa gestão um presi“Quando se fala de Missão Integral, que é a bandeira da dente de outra região e acabei sendo o escolhido”, diz Veiga. FTL, pensa-se em uma missão que não fique restrita à dimenA Consulta Nacional teve a participação de palestrantes são espiritual do ser humano, mas em sua totalidade - questões como Wellington Santos, Natanael Barbosa, Ariovaldo Ramos como ecologia, economia, política, relações sociais, justiça, e Odja Barros, dentre outros. Além das palestras, houve deba- violência e muitas outras”, ressalta o pastor Clemir Fernandes, tes, mesas redondas e apresentações artísticas. “Temos aberto segundo vice-presidente da organização. “Todas elas devem ser espaço para que as reflexões de qualquer área contribuam para pensadas e vividas a partir das propostas bíblicas”. Ele lembra os trabalhos da organização”, enfatiza o novo presidente. “Não que a Missão Integral aproxima duas dimensões, a evangelizasomos um movimento de teólogos. Somos um grupo interdisci- ção e a ação social. “Isso significa que se deve dar tanta atenção plinar que pensa e faz teologia para a América Latina e a partir à tarefa evangelizadora da Igreja quanto à sua responsabilidade da América Latina.” social”, conclui.
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Divulgação
Yuri Nikolai
Muito além de Israel
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Renata Sturm
No Ocidente, sempre que se pensa em patriarcas bíblicos Abraão, Isaque e turismo religioso, o primeiro lugar que Jacó também palmilharam aquela terra, vem à cabeça é Israel (leia-se Jerusalém). onde conheceram Jeová e deram origem Nada contra e nada de errado. Afinal, ao povo hebreu – o mesmo que viu Jesus a mítica cidade onde Jesus pregou suas Cristo vir ao mundo pelo ventre de Maidéias e exerceu seu ministério, enfu- ria. Nos últimos anos, o incremento das recendo os judeus que o crucificaram, pesquisas arqueológicas tem trazido noé certamente o destino mais sagrado vas e palpitantes informações acerca das para os cristãos. Entretanto, aqueles origens da fé cristã, tirando do Estado de Israel – a única democracia mais interessados no cristiaplena da região, aliás – o panismo em termos de religião Turismo pel de destino exclusivo para o e de história terão de se desturismo religioso. fazer dos muitos preconceitos “Jerusalém e Belém são importantísrelacionados aos países islâmicos e dar uma boa circulada na vizinhança de Is- simas para a cristandade. Como a viarael para ver de perto as raízes de sua gem é longa e tem muito para mostrar, fé. Nações como a Jordânia, o Líbano muitos preferem ficar apenas nestes loe a Síria, embora não sejam exatamente cais”, comenta a doutora em arqueologia simpáticos à religião fundada por Cristo Fernanda de Camargo-Moro. Especia– muito pelo contrário –, encerram lu- lista em rotas – tem no currículo viagares sagrados, relíquias e sítios arque- gens e vários livros publicados a respeito ológicos capazes de montar o quebra- –, ela diz que há muito para ver fora das terras israelenses. Ela conta sua expericabeça religioso que é o Oriente Médio. A região que foi berço das três gran- ência pelo caminho da Sagrada Família, des crenças monoteístas do mundo, ju- que segundo a Bíblia teria fugido das daísmo, cristianismo e islamismo, hoje ameaças do rei Herodes, com o pequeno tem população majoritariamente muçul- Jesus a tiracolo, em direção ao Egito. A mana. Natural, já que foi ali, em meio aventura, que foi realizada antes mesmo a montes de pedra calcária, desertos e do governo egípcio oficializar a rota, paisagens deslumbrantes, que Maomé, ficou registrada no livro Nos passos da o profeta do Islã, começou a difundir Sagrada Família: Uma viagem pelo Egito sua fé, no século 7. Milênios antes, os em busca da trilha de Jesus (Editora Re-
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Crucifixo na Igreja Católica-Ortodoxa de Damasco: roteiro alternativo revela ra´zes das três maiores religiões monote´stas
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cord), escrito por Fernanda. Com uma ampla bagagem de viagens, ela deixa a dica: “Recomendo especialmente os mosteiros coptas do Vale do Natro, que ficam entre o Cairo e Alexandria, no Egito, além das igrejas do Velho Cairo”. O Museu Cóptico, que tem um riquíssimo acervo com peças dos primórdios do cristianismo, é outro ponto de parada obrigatório.
Fotos: Renata Sturm
Nações muçulmanas do Oriente Médio abrigam rico acervo histórico e arqueológico dos primórdios do cristianismo
“Confins da Terra” – “Para mim, o Oriente Médio é o que a Bíblia chama de confins da Terra, uma área absolutamente carente do Evangelho”, observa
A mesquita de Hagia Sophia é lindamente decorada com motivos islâmicos
A Rua Direita: apesar das atuais linhas modernas, história que remonta ao Novo Testamento o pastor e cantor Asaph Borba. Desde 1997, ele já realizou mais de 20 viagens às nações que ocupam a região limitada pelo Mar Mediterrâneo, o Mar Vermelho e o Golfo Pérsico. Ali, ele desenvolve um programa missionário que inclui louvor e adoração, pregação da Palavra e encorajamento da Igreja local, quase sempre submetida a perseguição. Na maioria das vezes, as viagens são cercadas de sigilo, para não comprometer os crentes árabes. “Comecei em função de um forte desejo de abençoar aqueles povos árabes e encontrar pessoas que gostariam de investir na vida de adoração da Igreja”. No entanto, durante suas viagens, Borba encontrou poucos turistas brasileiros. Segundo ele, uma das razões é a propaganda negativa da mídia ocidental. “O turismo no mundo árabe é muito pequeno”, constata. A questão da segurança, de fato, é a preocupação número um de quem pensa no mundo muçulmano como destino nas férias. Mas é um temor exagerado, na opinião do agente de viagens Alex Delgado. Há 15 anos, sua empresa, a Lexus, de São Paulo, foca o turismo religioso. “As viagens para o Oriente Médio podem ser mais seguras e baratas do que dentro do Brasil, pois por lá não há problemas graves de violência urbana, como é comum na América Latina”, defende. Ele confirma que pouco a pouco os turistas estão querendo ultra
passar outras fronteiras do Oriente Médio. Delgado trabalha geralmente com grupos personalizados, ou seja, aqueles formados por igrejas que têm um líder religioso próprio à frente da excursão. Segundo ele, os evangélicos são 90% do público que hoje procura a Terra Santa. “Nem só de Israel vive o turismo religioso naquela região”, faz coro Daniel Cardoso, diretor da Káris Travel Viagens e Turismo, de Niterói (RJ). Sua agência também tem se especializado em roteiros alternativos no Oriente Médio, e ele acha que essa tendência veio para ficar. “Os territórios dos atuais Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Turquia guardam vestígios impressionantes de lugares ligados à narrativa bíblica”, observa. “Em todos esses lugares, a visitação é livre, franca e incentivada, com excelente infraestrutura para acolhimento dos turistas e crescente formação de guias locais em espanhol e português para atender à demanda”. Até o Iraque está nos planos da Káris: “Tão logo a estabilidade política seja plenamente restaurada, pretendemos incluir aquela região rica em fatos bíblicos em nossos roteiros”, garante. O apóstolo e as sete igrejas – Quem deseja dar um mergulho nas raízes do cristianismo não pode excluir a Turquia do itinerário. O país, encravado entre a Europa e a Ásia, é fascinante por sua mistura entre a cultura muçulmana, as influências dos diversos povos que deixaram marcas em sua sociedade e um acelerado processo de ocidentalização – tanto, que os turcos sonham ser inseridos na União Européia (UE). No passado, seu território serviu de rota de diversas viagens missionárias do apóstolo Paulo. O maior pregador da Igreja primitiva teria nascido ali, na extinta cidade de Tarso, e semeado o Evangelho por dezenas de cidades de sua época. Além disso, na Turquia atual ainda é possível testemunhar as várias mudanças pela qual a região passou graças a mudanças de dominação religiosa no local. A famosa cidade de Istambul, por exemplo, testemunhou o imperador Constantino I tornando o cristianismo como religião oficial do seu reino, após reconstruir a cidade grega de Bizâncio no ano de 330 e proibir os sacrifícios pagãos e cultos das imagens dos deuses. Renomeada, a cidade foi batizada de Constantinopla e tornou-se gradua g o s t o
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almente a capital do Império Romano, além de uma cidade puramente cristã, dominada pela Igreja dos Santos Apóstolos. O grande poder da cidade foi se deteriorando com o tempo e, em 1453, Constantinopla, também conhecida como a capital bizantina, foi conquistada pelo Império Otomano. Começava então a dominação muçulmana, sob o comando do sultão Maomé II. Essas duas fases da história da região são hoje visíveis em um dos pontos turísticos mais famosos de Istambul, a Basílica de Santa Sofia, também conhecida como Hagia Sophia, (que significa “sagrada sabedoria” em grego). O imponente edifício, construído entre 532 e 537 pelo Império Bizantino para se tornar a catedral cristã de Constantinopla, foi então transformado em mesquita. Suas paredes originais, forradas de lindos mosaicos, colunas e esculturas em mármore, foram cobertas por camadas de emplastro e usadas para o culto muçulmano até 1453. Por 500 anos, foi impossível imaginar que um dia o idealizador da catedral, Justiniano I, teria se espantado com o nível artístico e a abóboda central, de 55 metros de altura, a ponto de exclamar: “Salomão, eu te superei! Somente em 1935, Kemal Atatürk, fundador da modera República da Tur-
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Visão do alto
Mosteiro ao pé do Sinai: local onde, segundo a B´blia, Moisés recebeu as tábuas da Lei é ponto obrigatório
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O Antigo Testamento também pode ser revivido no Oriente Médio. Qual o crente que nunca sonhou em conhecer o Monte Nebo, de onde Moisés avistou a Terra Prometida depois de peregrinar 40 anos pelo deserto? A montanha, hoje em território jordaniano, é controlada por monges franciscanos e tornou-se um importante ponto de peregrinações religiosas. Lá de cima, tem-se uma visão privilegiada das redondezas, com destaque para o Mar Morto, que marca a fronteira entre os outrora inimigos Jordânia e Israel. Outro lugar mítico é o Monte Sinai, localizado na península do mesmo nome, sob soberania egípcia. O pico de granito, com 2.228 metros de altura, é o local onde, segundo a tradição, Moisés recebeu das mãos do próprio Deus as Tábuas da Lei. O Sinai, incluído em boa parte dos roteiros, é venerado não apenas por judeus e cristãos, mas também por muçulmanos, já que acredita-se que o profeta Maomé esteve no monte.
quia e criador de um projeto ocidentalizador, ordenou que a basílica fosse transformada em museu, entre outras mudanças culturais, extinguindo costumes árabes como o uso de turbante e barba pelos homens e cabeça coberta por um lenço pelas mulheres. Hoje, a Turquia é o único país muçulmano laico do mundo, um atrativo a mais para os cristãos, que ainda podem conhecer os locais onde existiam as sete igrejas da Ásia citados por João no Apocalipse: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Agências brasileiras oferecem tours expecíficos pelas sete cidades, que podem somar 36
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ainda outros pontos interessantes do território turco. Caminhando pela Rua Direita – A Síria também tem peso na história da fé. Damasco, sua capital e uma das cidades mais antigas do mundo, era o destino de Saulo (mais tarde, Paulo) quando, a meio caminho, deu de cara com o Senhor, caiu do cavalo e acabou crendo em Jesus, a cujos seguidores perseguia. É interessante saber também que alguns dos lugares mais sagrados ao cristianismo primitivo resistiram à ação do tempo e do islamismo, e hoje são tombados como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco. O mais incrível será perceber que as raízes desses cristãos do passado resistem em pleno século 21: não é necessário procurar muito para encontrar gente que ainda fala aramaico, a língua de Jesus. Isso, sem falar na emoção de caminhar pela Rua Direita, aquela mesma onde, segundo o Novo Testamento, Paulo, o apóstolo, encontrou-se com Ananias. A rua original ainda existe a alguns metros abaixo da atual. E, segundo guias da região, o governo está trabalhando para que os turistas religiosos possam descer até o subsolo e pisar onde o apóstolo pisou. O visitante também pode entrar no local tido como a casa de Ananias, o único local de culto cristão do primeiro século que sobreviveu na cidade, ainda utilizado para este fim pelos cristãos de Damasco. São apenas duas salas, uma delas decorada com simplicidade por pequenos quadros que contam a história da conversão de Paulo. Outro ponto muito visitado pelos turistas religiosos é o local por onde,
O roteiro das sete igrejas do Apocalipse: caminhos da fé
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Monumento relembra a conversão de Saulo a caminho de Damasco segundo a tradição cristã, ele foi descido em um cesto, ao longo da muralha, para escapar de seus perseguidores. Exatamente ali fica a bela Igreja Católica-Ortodoxa de Damasco, a única que une as duas correntes religiosas, divididas por um cisma desde o século 12, no mundo. A Síria preserva ainda alguns dos mais significativos registros da presença otomana no Oriente Médio. Uma visita à cidade de Palmira, um oásis no meio do deserto, revelará uma das mais fantásticas ruínas romanas do mundo. Para quem tem ímpeto aventureiro, há ainda muito mais a se conhecer na região – e sempre seguindo os passos de Paulo. O apóstolo esteve pregando pelo que hoje é a Síria, os territórios palestinos (inatingíveis no momento) e o Líbano, na época conhecido como Fenícia. A ilha mediterrânea de Chipre, república integrada à UE, foi pisada pelo pregador no ano 45 da Era Cristã. Além de aproveitar o ótimo clima e a culinária típica de influência grega e turca, o turista pode ver o pilar de Paphos, onde ele foi torturado por sua fé, conforme contou em sua Epístola aos Coríntios. “O Chipre reúne uma quantidade enorme de monumentos em pouco espaço”, diz Vakis Loizides, da Organização de Turismo cipriota. “A relação da ilha com personagens importantes da Bíblia, como Lázaro e Paulo, a tornam muito atraente.” Quem visitar o local contará com rotas recém implantadas pelo governo local, que quer incrementar as peregrinações ao país.
Uma iniciativa que fez história O missionário Paul Overholt lembra os 30 anos do Geração 79, evento da MPC que deixou importante legado
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Paul Overholt, entre Werner Burklin e Nilson Fanini: evento promoveu a unidade de diferentes correntes teológicas C R I S T I A N I S M O
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congresso, Unidos no Corpo de Cristo. Eu evangélica numa única semana. Dois anos chorei de alegria e emoção”, conta o missio- antes, a MPC Internacional já havia reanário americano Paul Overholt, ex-dirigen- lizado seu Concílio no Rio e o Congresso te da MPC no Brasil e um dos organizado- 25 Anos no Mineirão, em Belo Horizonte res do congresso. Desde 1994 vivendo nos (MG), quando a liderança foi transferida de Estados Unidos, ele estava aqui em junho, Overholt para Abraão Soares, o primeiro diquando encontrou-se com outros compa- retor brasileiro da entidade. Aqueles eventos nheiros que participaram daquele desafio. serviram como preparação para o Geração 79. A ele se seguiram diversos outros con“Aquilo foi uma jornada de fé”, resume. O desafio, de fato, foi imenso. Àquela gressos de juventude cristã de grande porte – época, ainda sob o regime militar, o Brasil como o Geração 90, em Brasília, com cerca não tinha tanta presença evangélica como de 4,5 mil participantes e que consolidou o trabalho da MPC em nível naciohoje. O evento foi visto com desnal. Também foi na esteira daquela confiança até pela mídia. Foi preMemória iniciativa pioneira que surgiu, anos ciso conquistar apoios. “Houve depois, o movimento de intercessão uma costura muita intensa e bonita, que acabou gerando um clima nunca vis- de mães evangélicas Desperta Débora, hoje to de união entre as diversas denominações”, capilarizado por igrejas de todo o país. “Houve um impacto demográfico na destaca Volney Faustini que atuou como Diretor do Congresso. Sem muita estrutura comunidade evangélica brasileira naquee dinheiro, o jeito foi arregaçar as mangas e la época, como fruto do Geração 79. Na captar apoiadores. O projeto de um congres- minha opinião, este foi o maior legado do so para jovens, nos moldes do Eurofestival evento”, acredita Overholt. “A experiência ganhou a fundamental adesão da Associação de organizar o congresso foi a realização Billy Graham. Tanto é que Werner Burklin de um sonho e de um desejo que Deus cofoi destacado para ser o homem da organi- locou em meu coração anos antes”. Trinta zação no Brasil, sem o que Geração 79 não anos depois, ele reencontra um país bem teria acontecido de fato. “A vinda de Werner diferente daquele dos anos 70, inclusive Burklin foi fundamental para levantar recur- em relação aos anseios da juventude evansos. Valdir Steuernagel juntamente com Paul gélica, que naquela época tinha uma forte Overholt, montou o programa e o conteúdo inclinação para missões e hoje parece muie Bill Hewlit reuniu um exército de volun- to mais centrada em si mesma. “Estou lontários entre os executivos de altas posições ge há bastante tempo e não sei identificar em multinacionais de peso”, lembra Fausti- exatamente o que mudou pela complexini. “Entre vários nomes destacaram-se Eros dade da situação”, pondera. “Porém, penso Pasquini, Gióia Jr e Fausto Rocha como cha- que a teologia da prosperidade tem contribuído nessa mudança. Mas duas coisas ves para o sucesso do evento”, complementa. não mudaram: a grande comissão de Jesus Impacto – Paralelamente ao congres- e a óbvia necessidade das pessoas perdidas. so jovem, foi realizada a cruzada de Billy Acredito que o slogan da Mocidade para Graham no estádio do Morumbi. Nunca Cristo continua sendo válido: ‘Ao compasSão Paulo presenciara tanta mobilização so dos tempos, mas firmados na Rocha’.”
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F o t o s : B i l l y G r a h a m E v a n g e l i s t i c Ass o c i a t i o n
Carlos Fernandes
O Anhembi nunca havia recebido tantos jovens crentes juntos. De todos os cantos do Brasil, com mochila nas costas e muita disposição, eles tomaram o rumo de São Paulo para um evento que marcaria não só as suas vidas, como a própria trajetória da Igreja Evangélica no país. O Geração 79, organizado pela Mocidade para Cristo (MPC) com a colaboração de outras entidades, uniu tradicionais e pentecostais em torno de um objetivo: o cumprimento do texto de João 17.21 – “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”, escolhido como tema do encontro. Num esforço até então sem precedentes, foram trazidos ao Brasil nomes de peso do evangelismo internacional, como Billy Graham e Luiz Palau, dentre outros. No cenário nacional foram convidados expoentes da época como Russel Shedd e Nilson Fanini, além de mais de 70 pastores e líderes evangélicos nacionais, que participaram de seminários, palestras e estudos bíblicos com a moçada. Trinta anos depois, quem esteve em Geração 79 lembra do evento com saudade. “No culto de encerramento, no domingo pela manhã, todos os congressistas, de mãos dadas, cantaram o hino oficial do
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Com a presença de mais de 4 mil jovens, o Geração 79 foi uma iniciativa pioneira num pa´s ainda sem grande presença evangélica
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Cuba para Cristo Cinquenta anos depois de Sierra Maestra, crentes aproveitam o momento de abertura política e promovem uma revolução espiritual na ilha
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Jeremy Weber
Ande pelo Parque G de Havana numa sexta-feira à noite e você ser preso. “Se eu não tinha medo quando estava usando droverá como Cuba precisa de Cristo. Durante o dia, o parque, no gas nesse parque”, comenta, “por que deveria temer agora, que centro da capital, oferece um prazeroso passeio pela imensa ave- eu tenho a verdade?” Segundo ele, a atuação da igreja ajuda a nida de três faixas ao longo da costa do golfo cubano. Mal o sol combater a crescente onda de uso de drogas nas ruas das prinse põe, no entanto, e o Parque G se torna uma zona sombria onde cipais cidades cubanas, um drama moderno que tem ganhado jovens cubanos, vestidos como os aficionados por jazz ou de ma- força com a progressiva abertura do país ao mundo. O evangeneira exótica, se reúnem para fumar, beber e consumir drogas. lismo militante revela que a percepção da Igreja mundial sobre Casais se escondem sob os arbustos da mesma forma como mú- o cristianismo em Cuba se mostra tristemente obsoleta. “Aqui sicos se reúnem debaixo das luzes da rua. Por volta de uma hora em Cuba, a Igreja está viva, crescendo, fiel e ativa, perseveranda manhã, um outro grupo chega. Também são jovens, mas seu do em meio às dificuldades”, afirma Manuelito. “Nós estamos objetivo é outro: de mãos dadas, formam um círculo para orar. trabalhando em nosso país agora, e, algum dia, vamos alcançar Em voz alta, eles clamam a Deus pela salvação de Cuba, situação qualquer pessoa através da atividade missionária no mundo”. inimaginável para quem aprendeu a enxergar a ilha do Caribe Desde a revolução de 1959, há exatos 50 anos, quando Fidel como um bastião comunista onde a simples menção ao nome de Castro e seus homens de Sierra Maestra tomaram o poder e fizeJesus seria proibida. A curta distância, um policial apenas obser- ram de Cuba a única nação comunista do Ocidente, a expressão va a cena, demonstrando até algum interesse. Sinal dos tempos. religiosa tem enfrentado severas restrições. Seguindo a cartilha Os jovens pertencem à Alcance Vitória, uma igreja evangé- de Moscou, o governo local, patrocinado pela extinta União Solica cubana formada em 2003 com o apoio da Nicky Cruz Mi- viética, baniu padres e pastores, fechou igrejas e deu um sumiço nistérios. A maioria dos seus membros são jovens e há muitos em muita gente que insistia em desobedecer. Desde a década de novos convertidos, o que indica que o evangelismo 1990, muitas mudanças afetaram os 11,4 milhões de tem sido intenso. Em suas fileiras, há diversos exhabitantes de Cuba. Após a queda do bloco comuEvangelismo viciados em drogas, gente que ouviu a Palavra ali nista, a economia subsidiada de Cuba entrou em comesmo, no Parque G, e decidiu mudar de vida pela lapso, gerando uma grave crise econômica, agravada fé. Todas as semanas, o pessoal da igreja sai pelas ruas de Ha- pelas décadas de embargo econômico imposto pelos Estados vana em busca de almas para Cristo. “Muitas igrejas manifes- Unidos desde a Guerra Fria. Produtos básicos, como alimentos, tam sua fé dentro de seus muros, quando a igreja precisa estar remédios e até papel higiênico sumiram das prateleiras. Muita aqui na rua”, pontifica o evangelista Obeda, com seu cabelo gente atravessou, para baixo, a linha da miséria. cheio de dreadlocks, no melhor estilo rastafari. Ele usa o sorriso Em 1992, uma decisão do Partido Comunista mudou a brilhante, que faz um belo contraste com sua pele escura, para Constituição para classificar Cuba não mais como “ateísta”, mas ganhar a confiança das crianças de rua, a quem fala do amor apenas “secularista”. Seis anos depois, o papa João Paulo II viside Deus com entusiasmo. Obeda resume seu trabalho em uma tou o país, um evento emblemático que aumentou a expectativa frase: “Nós estamos roubando almas do inferno.” quanto a uma efetiva abertura religiosa. A globalização e a doO estilo de abordagem deles é direto – “Oi, eu sou um ença que afastou o eterno Fidel do poder, em 2006, se encarrecristão, e gostaria de falar com você a respeito de Jesus” – e garam do resto. Hoje, a Igreja cubana prospera, apesar de suas traz resultados. A igreja tem 500 membros, e os líderes espe- limitações, e seus líderes pedem que ela não seja usada como um ram acrescentar outro tanto até o fim deste ano. O líder dos fantoche. “Nós somos parte do corpo de Cristo no mundo, apeevangelistas de rua, Manuelito, mostra que não tem medo de sar de as pessoas nos olharem apenas com um olhar político”,
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Fotos de Gary Gnidovic
Culto na igreja Alcance Vitória: entusiasmo das celebrações mostra a vitalidade da nova Igreja cubana
diz um orgulhoso líder evangélico cubano, que ainda prefere o anonimato. “A estas pessoas, nós dizemos: Venham e vejam.” Avivamento à cubana – A nova geração de crentes e pastores cubanos, todos nascidos sob o regime comunista, estão aproveitando os novos ventos. Seu atual zelo evangelístico pode ser resumido em uma recente modificação de um antigo slogan da Igreja local. Ao invés de clamarem “Cuba para Cristo”, como fizeram, meio sufocados, durante os anos de chumbo, os cristãos agora enchem os pulmões para gritar: “Cuba para Cristo – ahora”. O senso de urgência na divulgação do Evangelho tem a ver com o atual momento social do país. A depressão econômica e o concomitante reavivamento despertou a fome espiritual de muitos cubanos, em sua maioria católicos romanos. Essa dramática frequência massiva aos cultos formais e o crescimento explosivo de novas casas cultos (igrejas domiciliares) são dois sinais impossíveis de serem ignorados da vibração do cristianismo cubano de hoje. As Assembleias de Deus, disparado o maior grupo protestante de Cuba, hoje com cerca de 3 mil igrejas, registraram por anos suas novas congregações em um grande mapa de parede de sua sede nacional. Mas, quando o crescimento explodiu, os dirigentes pararam de adicionar alfinetes vermelhos, pois se tornou impossível mostrar todas as novas congregações que surgiam em apenas um mapa. A igreja Eastern Baptist, a segunda maior denominação protestante de Cuba e historicamente ligada à American Baptist Church (Igreja Batista Americana), cresceu de pouco mais de 6 mil membros adultos e 120 pontos de pregação, na década de 1990, para 28 mil fiéis e 1,2 mil congregações. Foram mais de 3 mil batismos ano passado, um recorde na centenária história da denominação. O crescimento do Corpo de Cristo no país é generalizado, incluindo dos tradicionais metodistas à Los Pinos Nuevos, uma igreja de liderança indígena. Hoje, evangélicos e protestantes representam cerca de 5% da população da ilha, alguma coisa perto de 600 mil pessoas. Essa expansão tem sido mais robusta em áreas urbanas e é alavancada pelo ativo trabalho das igrejas nos lares, legalizados na década passada.
No subúrbio de Havana, numa típica casa culto, 14 pessoas se comprimem na apertada sala de uma casa simples. A maioria dos crentes ali são mulheres idosas. Várias delas são egressas da santeria, crença sincrética afrocaribenha bastante popular no país. O dono da casa converteu-se ao Evangelho após assistir ao batismo de sua mulher, e abandonou a santeria. Onde antes havia um altar com imagens, agora há apenas flores. As vozes ecoam pelas pálidas paredes azuis quando os crentes cantam Somos el pueblo de Díos, acompanhando a letra numa pasta de papel. Eles fazem muitas orações, geralmente por pedidos trazidos pelos frequentadores ou membros de famílias desconhecidas. No fim do culto, cada um lê em voz alta os versículos extraídos de uma caixa de promessas. “A visão do nosso grupo é a de se multiplicar e se dividir”, explica o pastor, um homem de seus 30 anos. “Agora somos pe-
Evangelismo de rua: apesar das restrições legais que ainda persistem, crentes querem ganhar o pa´s para Cristo a g o s t o
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Altar de imagens da santeria: cultos afrocaribenhos são tradicionais
quenos, mas nós iremos nos multiplicar”, afirma, cheio de fé. Ele explica que é comum a prática do evangelismo de casa em casa, quando os vizinhos são convidados a participar das reuniões domésticas. “Este é nosso trabalho, trazêlos para a igreja, até que toda Cuba seja de Cristo”, recita. Falta de pastores – Diferentemente da simplicidade dos cultos nos lares, a celebração da Alcance Vitória oferece um impressionante exemplo da multiplicação de crentes em Cuba. Antes da reunião, uma mistura multirracial e colorida de jovens chega em ondas, até que umas 250 pessoas enchem o templo cor de rosa. O carismático pastor, de alta estatura, enxuga frequentemente o suor da cabeça enquanto prega sobre o poder de Deus. Si, se puede (“Isso pode acontecer, sim”), afirma, enquanto fala da possibilidade de o Evangelho mudar a vida de uma pessoa. A multidão explode em animadas palmas para cantar a música Gozo em tu presencia, acompanhada por instrumentos de sopro num ritmo de salsa. Eles também pulam harmonicamente na versão cubana de I’m Trading my Sorrows (“Estou tirando minha tristeza”). Obeda e Manuelito, com as mãos levantadas e expressão exuberante, fazem exatamente o que a música sugere. “Estamos em um reavivamento da igreja. Isso é resultado do mover de Espírito de Deus e do testemunho da Igreja cubana”, destaca outro líder evangélico. Mas não é só isso. Outros fatores incluem as centenas de pastores recebendo treinamento especializado em evangelismo e implantação de igrejas nos últimos anos. Por outro lado, as igrejas nas casas oferecem mais acessibilidade do que os templos formais, e ali as pessoas que ainda temem alguma retaliação oficial podem expressar sua fé sem medo. A ação dos crentes não fica só no proselitismo. Depois dos furacões que devastaram Cuba em 2008, as igrejas locais encetaram um grande mutirão de ajuda aos desabrigados. Os crentes repararam os telhados quebrados das casas da vizinhança antes mesmo de fazer reparos em suas próprias residências. Isso fez com que os evangélicos ganhassem um novo respeito da comunidade. “É importante que o evangelho esteja vivo”, diz um pastor. “É isso que faz as pessoas notarem que há algo diferente nos cristãos”. Proibidos por anos a fio, os seminários e escolas teológicas agora se multiplicam pela ilha. O número recorde de matrículas expressa as necessidades urgentes da Igreja por liderança qualificada. Muitos seminários abriram suas portas para pastores de fora de suas denominações, e agora oferecem um bom lugar para o treinamento de jovens pastores, ministros de louvor e missionários. “A igreja ainda está crescendo mais do que nossa capacidade de produzir líderes”, afirma o reitor de um seminário. “Mas nós estamos apertando o passo”. A igreja 44
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Western Baptist, historicamente ligada à Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, possui 94 estudantes em seu seminário em Havana, e outros 400 em sete campi abertos nos últimos três anos. A Igreja do Nazareno, por sua vez, disponibiliza módulos de ensino à distância para duzentos alunos desde Pinar del Rio, no extremo oeste do país, até Guantánamo, no leste. A graduação de 73 estudantes no ultimo ano foi a maior nos cem anos de história da denominação. Os campi de extensão beneficiam seminaristas que não podem se deslocar ou não têm disponibilidade para estudar em horário integral. Pastores locais, voluntários, atuam como mentores dos aprendizes. Mario, um pastor de 33 anos, toda terça-feira deixa a mulher e duas filhas em casa e viaja 35 quilômetros, pedindo carona desde a sua Igreja Batista, que tem 70 membros, até um instituto bíblico para ensinar o Novo Testamento. A viagem pode levar até três horas. “É um sacrifício deixar meu rebanho sozinho, mas vale a pena”, garante o religioso. “Nós devemos treinar novos pastores agora”. A média de trabalho diário de um pastor cubano é de doze horas, ocupados com casamentos, funerais e visitas pastorais. “Nós temos dois tipos de pastores: aqueles que são incendiados e aqueles que incendeiam”, brinca um dirigente da igreja Western Baptist, que ordenou em sua congregação mais de 200 pastores. “Porém, é um bom problema quando pessoas querem bíblias ou quando algumas localidades querem pregações”. Esse crescimento tão acelerado, evidentemente, pegou a Igreja Evangélica cubana desprevenida. Os pastores tiveram que abandonar os modelos tradicionais de liderança e a delegar responsabilidades a líderes leigos. “A Igreja está crescendo porque os pastores desataram seus poderes”, defende um pastor de 34 anos, da região central do país. Nas regiões rurais, onde a carência de obreiros é quase absoluta, igrejas domiciliares estão permitindo aos missionários leigos conduzir batismos e casamentos, porque os pastores não podem viajar o suficiente para dar conta da demanda. Lideres dos seminários cubanos consideram a falta de pastores um desafio, mas também, uma confirmação divina do trabalho deles. “Uma escassez de pastores é o que o Senhor nos disse que iria acontecer”, diz um professor, citando Mateus 9.37. “O problema seria se nós tivéssemos uma abundância de trabalhadores e não tivéssemos colheita. Espero que sempre haja falta de pastores – isso significa que a obra de Deus está prosseguindo”. “Antes, a Igreja perguntava ‘Como nós vamos sobreviver’”, diz um pastor de Pinar del Rio. “Agora, a pergunta é: ‘Como vamos nos multiplicar?’”.
Pescadores tentam garantir a janta no Malecón: fim do patroc´nio soviético e embargo americano provocou escassez de gêneros básicos
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Reunião numa casa culto e jovens em oração: fé e comunhão Área nebulosa – Os evangélicos de hoje estão tirando proveito dos seus direitos e explorando as fronteiras da área nebulosa que o governo cedeu para o evangelismo. É uma situação curiosa – os crentes têm liberdade para evangelizar em público, mas não para fazer proselitismo. Isso se torna uma questão de interpretação. Assim, os evangélicos não podem usar um estádio ou um programa de TV para realizar um evento, mas podem distribuir folhetos ou outros materiais evangelísticos nas ruas. Aí, o que vale é ter iniciativa. Uma rede de igrejas Pinar del Rio está enviando jovens pastores em bicicletas às cidades da região, para achar novos crentes e transformar suas residências em casas cultos. Uma igreja batista de Havana oferece aulas de dança e música para crianças. A Alcance Vitória, por sua vez, iniciou um círculo de oração de cem pessoas às terças-feiras à noite, em El Malecón, um dos principais pontos turísticos da capital e que, devido à presença de estrangeiros, é uma área de prostituição, onde as jiniteras oferecem seus serviços. As igrejas Batistas do Leste de Cuba, uma área resistente à evangelização devido ao crescimento da pobreza e da santeria, está se tornando um centro protestante. Ali, está em curso a “Operação Andrew”: cada crente escreve em um cartão o nome de dez pessoas que deseja ganhar para Cristo, com o compromisso de orar por isso durante dois meses. Ao final do período, elas são convidadas para um culto especial de evangelismo. Outras igrejas organizam jogos de beisebol aos domingos, não sem antes fazer uma reflexão bíblica com os participantes. Esse esforço para maximizar o espaço entre a legalidade e a tolerância requer paciência. Depois que as autoridades locais vetaram a exibição pública do filme evangelístico Jesus em Malecón, um líder da Igreja Batista mandou um recado para os organizadores de evangelismo: “A Bíblia diz que nós devemos orar todos os dias; então, não gastem isso tudo em uma noite.” Viajando pelo leste da ilha, as palmeiras se tornam mais robustas na medida que aumenta a altitude. A rodovia se estreita em duas faixas, com cercas de cactos em cada lado. Ali, o tipo humano mais comum são os fazendeiros a cavalo, com seus chapéus de palha, camisas abertas e rostos cansados. Essa região, entre Cinfuegos e Camaguey, foi por décadas uma terra 46
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sem presença evangélica. Agora, os missionários acorrem de toda parte de Cuba para trabalhar nos numerosos vilarejos locais. E assim, aos poucos, a mítica ilha vermelha vai conhecendo o Evangelho. Uma visão comum sobre os cubanos cristãos é que a fé deles sobreviveu, escondida em uma caixa isolada, ao controle do Partido Comunista sobre a informação e o movimento das pessoas. Mas a Igreja cubana tem agora uma visão firme do seu papel como agência missionária e multicultural. Uma intrigante escultura de madeira sobre o muro da capela de um seminário em Havana expressa essa perspectiva global. A peça mostra o mapa de Cuba com flechas saindo da ilha e implantando o cristianismo em todos os continentes – inclusive na Antártica. “A Grande Comissão é mais responsabilidade nossa do que das igrejas americanas”, sentencia um pastor da região central de Cuba. Líderes de todas as denominações acham que os cubanos estão bem preparados para a obra missionária. Afinal, eles sabem viver na escassez, possuem uma boa apologética e seriam melhor recebidos em nações em desenvolvimento ou não-democráticas que os obreiros dos EUA. Sabendo que muitas igrejas possuem a maioria dos membros com um grau acadêmico e profissional avançado, o modelo de missionário cubano poderia ser o daquele que trabalha como médico ou engenheiro de dia e implanta uma igreja à noite. Num culto com a presença da reportagem, 22 pastores de nove diferentes igrejas se reuniram numa capela para o seu primeiro café da manhã interdenominacional. Eles formaram um círculo, com as mãos dadas, e cantaram o hino En Cristo somos uno, acompanhados apenas por um teclado. Após as orações, o grupo dividiu-se em animadas rodas de conversa. “Antigamente, nossas denominações cresciam em casulos”, disse um dos líderes presentes. “Hoje, nós compartilhamos a visão de sermos o mesmo corpo e estamos conscientes do nosso propósito comum: a grande colheita que temos em mãos”. Um colega de ministério fala o que sente: “É claro que desejamos mais liberdade, mas eu não queria que isso custasse a nossa atual paixão pelo Evangelho”. Outro pastor completa: “Talvez Deus tenha nos limitado para nos ensinar e nos fortalecer. Assim, quando nos for concedida mais liberdade, nós estaremos preparados.”
Fé e pioneirismo
Igreja Presbiteriana do Brasil comemora os 150 anos da chegada do missionário Ashbel Simonton ao país
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Arquivo
O navio Banshee, que aportou no Rio de Janeiro em 12 de agosto de 1859, depois de cinquenta e quatro dias de uma exaustiva viagem desde os Estados Unidos, não trazia apenas comerciantes, famílias e gente interessada em tentar a sorte do lado de baixo da linha do Equador. A O majestoso templo da Catedral Presbiteriana bordo, um jovem de aspecto distinto e barba bem cuidada do Rio de Janeiro: s´mbolo maior dos não deve ter chamado muito a atenção dos viajantes. Era 150 anos da denominação no pa´s Ashbel Green Simonton, missionário enviado ao Brasil pela Junta de Missões da Igreja Presbiteriana do Norte. A opção pela pregação do Evangelho no pouco conhecido Império guês e, em 1862, fundou a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, da América do Sul foi uma guinada e tanto para um jovem contando já com diversos novos convertidos. Foi dele a iniciativa com futuro promissor em sua terra. Advogado, teólogo e pro- de abrir um seminário teológico para formar obreiros nacionais, fessor, o erudito Simonton, além de graduado no Seminário de numa época em que missões transculturais tinham muito a ver com ideias colonialistas. “É preciso haver pastores brasileiros para Princeton, dominava francês, alemão, latim e italiano. O preço da escolha seria ainda mais alto, já que, devido às brasileiros”, acreditava. Seu pioneirismo também ficou claro na péssimas condições sanitárias do Brasil de então, o missioná- fundação do primeiro jornal cristão do Brasil, o Imprensa Evanrio acabaria morrendo precocemente, provavelmente devido à gélica. “É impossível alcançar um país tão vasto sem o auxílio da palavra impressa”, escreveu na edição inaugural. febre amarela. Mas sua chegada, há exatos 150 anos, é um marco da implantação da fé protestante em terHistória Expansão – Após um curto período nos Estados Uniritório brasileiro. Foi ele quem fundou a Igreja Presdos, onde casou-se com Helen Murdoch, o pastor Sibiteriana do Brasil (IPB), hoje uma das cinco maiores confissões evangélicas do país, com mais de 700 mil fiéis – fora monton voltou ao país em 1863, agora em definitivo. Montou as outras igrejas de linha reformada que se originaram na IPB. escolas dominicais e organizou novas congregações em São E todos eles estão em festa pela passagem do sesquicentenário. Paulo. Àquela altura, tanto missionários que vieram para cá a Desde o ano passado, eventos e cultos solenes estão sendo re- seu convite – além do cunhado Alexander Blackford, Francis alizados pelo Brasil, e o ponto alto das celebrações é agora em Schneider, George Chamberlain e Robert Lenington – como agosto. Além da inauguração de um monumento em homena- os obreiros brasileiros formados no Seminário Presbiteriano já gem a Simonton no Porto do Rio, está programada uma gran- semeavam a Palavra pelo interior paulista, sul de Minas Gerais e Bahia. Outro que contribuiu muito para a expansão do de cruzada nacional de ação de graças na Praça da Apoteose. “Muitos protestantes já haviam pisado em solo brasileiro, mas a trabalho foi o ex-padre José Manoel da Conceição, primeiro maioria das iniciativas foram fracassa- brasileiro a ser ordenado ministro do Evangelho, em 1865. Simonton morreu precocemente, aos 34 anos, em 1867, na das, já que o país era oficialmente católico”, observa Alderi de Souza Mat- cidade de São Paulo, sem poder ver a dimensão de seu legado. tos, historiador ligado à denominação. Nos anos seguintes, os presbiterianos deram uma notável colaNa capital do Império, Simonton logo boração ao crescimento do país, fundando estabelecimentos de pôs as mãos na boa obra. Duas sema- ensino como a Escola Americana – precursora do tradicional nas após sua chegada, organizou o pri- Instituto Mackenzie –, hospitais e igrejas em todo o território meiro culto. Logo aprendeu o portu- nacional. Um dos principais marcos da presença da denominação no país é o majestoso templo da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, em estilo neogótico, tombado pelo Patrimônio O fundador Simonton: vocação Histórico. É ali que será celebrado, no dia 12 de agosto, o Culmissionária e sacrif´cio to do Sesquicentenário.
Divulgação
Carlos Fernandes
Espiritualidade Eduardo Rosa Pereira teólogo e escritor
A necessidade e o desejo
Quando se fez humano em Jesus de Nazaré, o Criador quis se aproximar de nós
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filósofo francês Paul Ricoeur chamou-os de mestres da suspeita. Eles tinham em comum uma análise muito crítica da religião; viam Deus como uma necessidade criada por nós, e não como um ser pré-existente, a partir do qual tudo se fez. Cada um ao seu modo, eles previam a emancipação da raça humana a tal ponto que cada indivíduo tornar-se-ia autônomo! Marx via na revolução social uma promotora de radical igualdade. Seria a libertação desta idéia de Deus, gestada justamente por um proletariado socialmente carente de algo capaz de lhes dar aquilo o que a realidade lhes negava. Já Freud entendia a maturidade psíquica como o elemento-chave para a superação desta infantil necessidade de um Pai divino. Por sua vez, Nietzsche enfatizava o fato de assumirmos plenamente a nossa humanidade, tomando as rédeas de nosso próprio destino. Assim, haveria super-homens, livres desta primitiva necessidade do divino. Obviamente, não concordo com as suspeitas desses mestres. Porém, algumas vezes, sou tentando a encontrar uma dose de razão em suas afirmações. Isto porque já vi pobres piedosos perdendo sua devoção a Deus na mesma medida que subiam de classe social; vi também desempregados numa busca frenética pelo socorro do Senhor, mas que, uma vez colocados no mercado, tornaram-se pessoas tão ocupadas que suas agendas não têm mais espaço para alimentar a busca de outrora; e presenciei a experiência de gente que, quando emocionalmente carentes, mergulharam numa forte dedicação espiritual – porém, depois de se “resolverem” afetivamente, afastaram-se de Deus. Isso, sem falar naqueles decepcionados com a “incapacidade” divina de resolver suas complicadas vidas, que melhoraram quando eles mesmos resolveram assumir o controle. Infelizmente, os mestres estão certos quando afirmaram que por trás da nossa relação com Deus reside, sim, uma necessidade de criá-lo à nossa imagem e semelhança. A honestidade comigo mesmo me impõe o dever de reconhecer uma tendência de tratar a Deus como uma necessidade. A consequência natural disso é transformá-lo em um mero provedor das nossas demandas – como o entregador de pizza que, uma vez atendido nosso pedido, pode ser dispensado. Acontece que, na intimidade relacional de
Jesus com o Pai, aprendemos definitivamente que Deus deve ser o sujeito do nosso desejo, e não o objeto de nossa necessidade. Em Jesus, Deus que se revela no Antigo Testamento como Javé, o intocável e inatingível; mais tarde, é renomeado e chamado de Abba. De Todo-poderoso a paizinho querido; de Senhor inalcançável a cúmplice mais presente na nossa existência. O desejo, como sabemos, está para além da mera necessidade. No desejo, há o prazer do encontro com o desejado. Eis a razão pela qual Deus se apresenta a nós como aquele que nos quer seduzir o coração, e não como alguém a satisfazer nossas necessidades. Quando se fez humano em Jesus de Nazaré, o Criador quis se aproximar de nós, pois sabia que o primeiro passo da conquista é a aproximação do ser amado. Ele quer quebrar nossas resistências, nossa natural alienação, e anseia por ver nosso coração tomado por sua doçura. Quando ouvimos e atendemos seu suave chamado, ele entra para cear conosco. Olha para dentro de nós e vê o que não somos capazes de enxergar em nós mesmos: nosso caos interior, as manchas profundas do pecado em nossa alma. E, apesar disso, não nos rejeita! Quando então, rendidos por seu amor, abandonamos as fronteiras do nosso egoísmo e nos entregamos em seus braços, nasce desse encontro uma relação de amor e amizade alicerçada no desejo mútuo de estar juntos. Se continuarmos pensando a nossa relação com Deus em termos de necessidade, e não de desejo, terminaremos por ter que nos render ao fúnebre diagnóstico dos mestres da suspeita. Mas, quando nós o desejamos mesmo que nossas necessidades não sejam atendidas, então se cumpre aquilo que tão bem descreveu a teóloga cristã Maria Clara Bingmemer: “O que é certo é que homens e mulheres de hoje, como os de todo tempo, continuam a experimentar o drama de sentir-se limitados e frágeis e, no entanto, feitos para a união com aquele que não tem limites. E, no fundo mais profundo de si próprios, se percebem habitados pelo desejo ardente e incontrolável de entrar em comunhão com esta incompreensível realidade que se chama sagrado – a qual, devido ao fato de ser incompreensível, não é sentida como menos real (...) O amor passa, então, a governar suas vidas e a transformá-las segundo a inexorabilidade e a radicalidade de sua vontade”.
O Senhor quer quebrar nossas resistências, nossa natural alienação, e anseia por ver nosso coração tomado por sua doçura
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[Livros]
CH Cultura ESTANTE
Quem perde, ganha Fim de jogo – De olho no verdadeiro prêmio John Ortberg 334 páginas Vida
Panorama bíblico completo
Não há nada de errado em viver a vida como quem participa de um jogo. E, via de regra, agimos assim. Há sempre uma jogada de mestre, um lance de sorte, uma etapa a mais para avançar, um novo grau a se obter. Mas o livro de John Ortberg mostra que o jogo da vida tem uma lógica própria – quem perde, ganha. Esta competição é uma grande metáfora da vida, que está presente nas várias atitudes que desenvolvemos, seja na maneira como tratamos nossa carreira profissional ou como nos relacionamos com as pessoas mais próximas. No final das contas, o que importa mesmo é ter alcançado o prêmio de ter passado pela vida como um verdadeiro vencedor. (Irenio Chaves)
LANÇAMENTO DA SBB, MANUAL BÍBLICO REÚNE O QUE HÁ DE MELHOR E MAIS ATUALIZADO NO ESTUDO DA PALAVRA DE DEUS Manual B´blico SBB Pat Alexander e David Alexander 816 páginas Sociedade B´blica do Brasil
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Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) está lançando uma obra especial. É o Manual Bíblico, publicação sem tendências doutrinárias e criada para ser usada juntamente com a Bíblia. Num segmento onde são poucas as obras disponíveis em português, o Manual Bíblico vem preencher um espaço com grande diferencial – a edição reúne informações que antes só eram possíveis de ser encontradas em vários e diferentes livros de referência. Seu rico conteúdo possui mais de uma centena de artigos de vários especialistas bíblicos de diversas partes do mundo, tais como Alan Millard, Colin Chapman, Walter Wangerin Jr, J. A. Motyer e Derek Kidner, entre outros. São mais de oito centenas de páginas fartamente – e lindamente – ilustradas. Mais de 700 fotos e ilustrações coloridas, retratando com fidelidade o mundo dos personagens e acontecimentos bíblicos. Além disso, o Manual traz 68 mapas inseridos em pontos fundamentais, com localizações geográficas e outros detalhes necessários ao estudo do texto, além de vinte quadros e diagramas, apresentando informações históricas e contextuais de modo visual e prático. Publicada originalmente em 1973, na Inglaterra, a obra foi revisada e apresentada em uma nova edição dez anos depois. Recentemente. os editores ingleses fizeram uma ampla revisão, reescrevendo textos, convidando novos colaboradores e incluindo novas fotografias, além de mapas e diagramas elaborados com alta tecnologia gráfica. Nessa última edição, o Manual considerou as novidades na área da pesquisa bíblica e coloca a Palavra de Deus bem dentro de seu contexto histórico. A qualidade do material pode ser aferida pela sua aceitação: o Manual já atingiu a marca dos três milhões de exemplares produzidos, tendo sido publicado em 28 diferentes línguas. (Paulo Pancote) 52
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Lição de casa Mãos à obra – Um guia prático para plantação de igrejas nos lares Felicity Dale 192 páginas Esperança Parece que, à medida que a fé cristã foi se tornando cada vez mais institucional, os cristãos se esqueceram de que Deus usou todo tipo de gente (cultos e incultos, principalmente os últimos) para a expansão de sua obra. O Reino de Deus, sem dúvida alguma, é muito maior do que podemos ver – e todos são convidados a fazer parte do seu processo de crescimento. Em Mãos à obra, Felicity Dale dá belas dicas de como começar igrejas nas casas com o objetivo de atrair aqueles que não creem para um ambiente que pode ser muito propício à real conversão de pessoas que rejeitam estruturas mais formais. A autora lembra que boa parte do Novo Testamento, a propósito, estimula esse modelo. (Nataniel Gomes)
Cuidado com o homem Bioética – Uma perspectiva cristã Gilbert Meilaender 160 páginas Vida Nova Tema de capa desta edição de CRISTIANISMO HOJE, a bioética é uma resposta interdisciplinar às grandes mudanças que a ciência, de um modo geral, tem experimentado no que diz respeito à vida humana. Em Bioética – Uma perspectiva cristã, a preocupação maior do autor é abordar os fatos que envolvem os novos procedimentos médicos e científicos que estão ligadas ao significado da vida, principalmente em relação ao sofrimento e à morte, à luz de compreensões que nascem da fé. Quando se trata do cuidado com o ser humano – seja um embrião recém-gerado ou um ancião no fim da vida –, não se está simplesmente diante de cobaias. O que deve estar em jogo é a tentativa de salvar a sociedade e a nós mesmos, e não somente a melhoria da vida natural. (Irenio Chaves)
[Música – Nelson Bomilcar]
compositor e escritor
www.nelsonbomilcar.com.br
PRATELEIRA ANDRÉ MARQUES
Mania de Jesus ÁLBUM JESUSMANIA, LANÇADO HÁ CINCO ANOS, É MOSTRA ACABADA DO TALENTO, DA FÉ E DA SENSIBILIDADE DE UMA GIGANTE DA MPB
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anda Sá, cantora e violonista brasileira de fama internacional, é figura de proa da música popular brasileira e em especial do movimento da bossa nova. Professando a fé cristã, ela tem dado um belo testemunho de conciliação perfeita entre talento e fé – como expressou tão bem em seu álbum Jesusmania, registro histórico que completa cinco anos. Os belos arranjos do mestre do violão e guitarra Roberto Menescal constituem uma linda moldura para a música e voz de Wanda, refletindo a sensibilidade de sua experiência marcante com o Senhor. Muito admirada dentro e fora do Brasil, em especial no Japão, ela empresta sua voz a canções de Edson e Tita Lobo, Sérgio Pimenta, Guilherme Kerr, Lucas Ribeiro e Eliane Salek, e também canta em parcerias com o próprio Menescal. Para quem aprecia a boa música, é um prato cheio e saboroso. É um trabalho para ser ouvido com o coração, como define Wanda – e um convite para entrar também nessa mania de Jesus! Wanda Sá e Roberto Menescal: parceria de talentos gerou o magn´fico Jesusmania, que completa cinco anos
André Marques (solo)
Reconhecido com entusiasmo por Amilton Godoy, do célebre Zimbo Trio, e elogiado pelo gênio Hermeto Paschoal, de quem é pianista há 12 anos, André Marques deixa este registro instrumental de altíssimo nível, com composições próprias e homenagens a músicos brasileiros. Para quem não sabe, André é filho de Nathan Marques, ex-guitarrista de Elis Regina. Professor em Tatuí (SP), ele congrega numa igreja batista e toca com Arlindo Lima (autor do CD Voz dos profetas). O CD é uma amostra das infinitas possibilidades melódicas e harmônicas do piano. Destaque para as músicas Eterno, Água viva e Feira. Contato: www.andremarques.com.br
AIRÔ BARROS Terra em transe
Terra em transe é uma ref lexão sobre os questionamentos da alma humana e a dura realidade de nosso país, em especial do Nordeste. Numa cuidadosa produção regada a belíssimos arranjos do instrumentista, compositor e arranjador Silvestre Kuhlmann, Airô Barros canta a esperança que só o Evangelho pode trazer, com musicalidade e poesia. Ele reuniu um time de primeira para acompanhá-lo no trabalho, que inclui músicas de Gladir Cabral (Toada), Roberto Diamanso (Novos paradigmas), Stênio Marcius (Coríntios 13), Gerson Borges ( Janelas) e Jean e Paulo Garfunkel (Cruzeiro do Sul), entre outras. Contato: www.airobarros.com.br
ALEXANDRE DELFINI Algo a se pensar
Alexandre Delfini dedica este CD a Deus, familiares e a inúmeras pessoas e amigos que o influenciaram na arte e na fé. Em suas interpretações, o ouvinte é levado a adorar a Deus e a pensar nas aspirações do coração e no crescimento espiritual. Destaque para canções como Algo a se pensar, Conheci o Salvador, Vinde a mim, Vem reinar, Salmo 139 e Bênção, além de uma grata surpresa: a participação de João Alexandre num dueto, rememorando Brilho celeste, um clássico do cancioneiro cristão. Com produção musical de Felipe C. Bayer, o CD foi gravado e mixado no Studio Figus em Curitiba (PR). Contato: asdelfini@hotmail.com
SAL DA TERRA Sal da terra
Um apelo à consciência cristã e ao senso de missão da Igreja. Assim pode ser definido Sal da terra, trabalho do grupo e ministério homônimo. Marcos Fernandes, seu líder e principal compositor maior e líder, convida-nos a sermos genuínos luzeiros – ou lampiões – deste mundo, em músicas como Candiêro, Raiou e Projeto Radical Sertão. Contato: http://saldaterranet.blogspot.com
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[V deos – Nataniel Gomes]
professor e editor
Jesus, Madalena e Judas APESAR DA DELIRANTE TEORIA, O TÚMULO SECRETO DE JESUS TRAZ MUITA INFORMAÇÃO HISTÓRICA, BELAS IMAGENS E EXCeLENTE PRODUÇÃO ressurreição de Jesus é um dos episódios mais controvertidos da história. Durante séculos, muitos têm tentado provar que ele não venceu a morte, como a Bíblia afirma. Segundo o apóstolo Paulo, se a ressurreição não fosse verdade, a fé cristã deixaria de ter sentido (I Coríntios 15.1619); mas diversos arqueólogos estão pesquisando o assunto e anunciando descobertas que, segundo eles, são capazes de abalar os alicerces da crença de muita gente. No documentário O túmulo secreto de Jesus, a premissa é simples: Cristo não ressuscitou e está sepultado até hoje em Jerusalém, junto com sua família – a mulher, Maria Madalena (!), e o filho do casal, Judas. Realizado para o Discovery Channel pelo cineasta James Cameron (Titanic, Exterminador do futuro 2), o filme, pretensamente, apresenta provas concretas como testes de DNA, estatísticas, análises forenses e outros. Em 1980, escavações em Talpiot, subúrbio de Jerusalém, revelaram uma cripta com mais de dois mil anos. Dentro, havia dez ossários de pedra calcária. Os nomes gravados em aramaico seriam “Jesus, filho de José”, “Maria Madalena” e “Judas, filho de Jesus”. Só que a tese de que o túmulo pertenceria de fato à família de Jesus não se sustenta de pé. Até o doutor Shimon Gibson, um dos responsáveis pela descoberta, questiona sua veracidade. Já o arqueólogo Amos Kloner diz que os ossários, na verdade, pertencem a uma família judia do primeiro século antes de Cristo, já que aqueles nomes eram bastante comuns na época. Não é coisa para afastar ninguém do Evangelho, não é verdade? E o documentário vale a pena pela qualidade. (The Lost Tomb of Jesus, EUA, 2007, Focus Filmes; 105 min)
A conspiração nazista é um documentário exibido com alguma frequência na TV a cabo. Mas vale a reprise. O período tenebroso do III Reich já foi retratado em inúmeros filmes, só que este foca em um ponto diferente: a nova religião que Hitler estava criando com o objetivo de justificar a suposta superioridade dos alemães. Para isso, ele buscava elementos nos mitos nórdicos, na lenda de Atlântida e em supostas profecias de Nostradamus para fundamentar seu regime e justificar as práticas criminosas do nazismo. O filme mostra como a Alemanha abriu mão de sua tradição cristã para construir uma “nova ordem mundial” – desvario que levou o mundo à II Guerra Mundial e provocou a morte de mais de 60 milhões de pessoas. (Nazis: The Occult Conspiracy, EUA; 90 min)
Pagando com a alma
No documentário A Bíblia do Diabo, uma história horripilante é narrada acerca das origens do Codex Gigasa, o maior manuscrito medieval jé encontrado. Segundo a lenda, um monge beneditino de Podlazice (atual República Tcheca) quebrou seus votos foi condenado a ser emparedado vivo. Para escapar, ele se compromete a elaborar, em uma só noite, um livro que incluiria todo o conhecimento humano. Perto da meia-noite, diante da certeza de que não concluiria a obra, o religioso fez um pacto com o demônio – caso o ajudasse a terminar o trabalho, lhe daria a sua alma. E assim teria acontecido. Em gratidão, o monge acrescentou uma imagem de Satã no enorme volume, que pesa 75 quilos e tem um conteúdo para druida nenhum botar defeito: a versão Vulgata da Bíblia; a Enciclopédia Etymologiae, de Isidoro de Sevilha, patrono da filologia; e Antiguidades Judaicas, de Flavio Josefo, além de tratados de história, etimologia e fisiologia, uma agenda com necrologia, fórmulas mágicas e outros bichos. (Devil’s Bible, EUA; 45 minutos)
Investigadores do Ararat
Encontrar evidências científicas para um relato bíblico que muitos consideram fantasioso é a proposta de Em busca da Arca de Noé, produzido pela National Geographic. O filme começa perto do pico da montanha mais alta da Turquia, o monte Ararat, onde, segundo o livro do Gênesis, o enorme barco encalhou após o Dilúvio. Numa altitude de 6,2 mil metros, uma equipe de arqueólogos descobre intrigantes pedaços de madeira. Seriam vestígios da embarcação? O documentário baseia-se no trabalho do estudioso Robert Ballard, para quem, de fato, uma inundação catastrófica ocorreu por volta do quinto milênio antes de Cristo. Até o atual Mar Negro seria resultado dessa enchente global. Para quem gosta da mistura entre ciência e fé, o documentário é imperdível. (Quest for Noah’s Flood, EUA, 2000, Playarte; 52 min)
O túmulo secreto de Jesus: produção não chega a abalar os alicerces da fé, como anunciado
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Nas emissoras a cabo, o tema religioso volta e meia é usado como pano de fundo para documentários. História, cultura geral e curiosidades caracterizam esses filmes, que são uma excelente opção para quem quer entretenimento com conteúdo – além de muito material para estudos teológicos ou apologéticos:
Mergulho no trágico
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PELÍCULAS
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“A pobreza é uma maldição” Missionário que treina obreiros para atuar em favelas defende que riqueza e dízimos devem ser usados para socorrer carentes
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O neozelandês Viv Grigg: missões junto aos pobres
Mauricio Zágari
Com um jeito simples, fala mansa, sorriso tímido e olhar paca- dos de assistencialismo podem ser boas iniciativas. Durante sua to, Viv Grigg facilmente passaria despercebido, não fosse pela passagem pelo Rio de Janeiro, Viv Grigg recebeu a reportagem notória aparência de estrangeiro. Mas por trás de seu tempera- de CRISTIANISMO HOJE para esta entrevista exclusiva nas mento tranquilo e comedido, este neozelandês de 58 anos faz dependências do Seminário Teológico Betel, que colaborou no um trabalho de gigante. Oriundo de uma família de posses, de- agendamento do encontro. cidiu abrir mão dos confortos da vida abastada para CRISTIANISMO HOJE – A Igreja Evangélica braviver em favelas miseráveis de países pobres e levar Entrevista sileira é hoje muito influenciada pela teologia da o Evangelho de Cristo aos mais necessitados. Muprosperidade. O pobre realmente precisa de pronido de conhecimentos adquiridos em seu mestrado messas materiais para seguir a Cristo? e doutorado em teologia, seguiu o que entende ser o exemplo de Jesus na encarnação: deixou sua realidade para viver VIV GRIGG – Sim, precisa. Mas isso não tem necessariamente a ver com a teologia da prosperidade. Quando a pessoa se convero dia a dia dos carentes. Grigg veio ao Brasil para compartilhar sua visão com os cris- te, imediatamente ela ora e Deus começa a responder suas oratãos do país. Trata-se de uma filosofia de ação que ele batizou ções. A conversão a leva a integrar-se a uma comunidade de fé, de “avivamento transformador”. Seu objetivo é treinar uma tropa que também é uma comunidade econômica, na medida em que todos ali se ajudam. Então, o indivíduo code missionários urbanos locais para se unir a meça a abandonar determinados pecados – um exército internacional disposto a entrar alcoolismo, dependência de drogas, violência nas favelas, mesclar-se à comunidade a comdoméstica... Quando essas coisas mudam, a partilhar as boas novas de salvação com cores situação econômica da família começa a se econômicas, sociais e políticas. Já há muita transformar, e essas são graças imediatas da gente fazendo isso, por certo; mas Grigg enconversão. Apesar das críticas que sofre, o fatiza a necessidade de treinamento para que pentecostalismo gerou um grande impacto: a pastores e missionários urbanos possam de vida das pessoas mudou, o senso de comunifato promover transformação social através dade promoveu benefícios econômicos resuldo Evangelho. Ele coordena a Urban Leatantes de uma ajuda mútua e seus participandership Foundation (www.urbanleaders.org, tes desenvolveram um senso de identidade. por enquanto apenas em inglês), entidade que Isso é parte das bênçãos de Deus. O Senhor é a base do projeto. quer que nós tenhamos o suficiente para viMas esse batista de berço tem uma raver. Essa parte da doutrina é correta, bíblica zão a mais para vir ao Brasil: ele é casado há vinte anos com a missionária brasileira Ieda, da Igreja Metodista e muito boa para os pobres. No entanto, isso não inclui mansões, Livre, com quem tem três filhos. Por isso, sua relação com o carros de luxo e um estilo de vida esbanjador. país é especial. “Quero encontrar cinco mil brasileiros que aceitem esse desafio”, anuncia. Autor de O grito pelos pobres e Ser- Então, o problema da teologia da prosperidade é a busca devos entre os pobres (Ultimato), que está em sua segunda edição, senfreada pela riqueza? Grigg tem uma visão bem própria acerca da teologia da pros- Os ensinamentos mudam na medida em que as pessoas ascenperidade, riqueza e mutualidade. “Não é pecado ser rico, desde dem em seus padrões de vida. O problema da teologia da prosque se viva com simplicidade e se ajude os outros”, pontifica. peridade é que ela não faz essa distinção; ela ensina que todos No seu entender, e ao contrário do que boa parte da itelligentzia devem ter um padrão de vida nababesco, mas isso é anátema prega, programas governamentais que normalmente são acusa- para Deus. Existe um padrão de vida que é justo – e que não é
É fácil perceber qual é o estilo de vida justo: é poss´vel a um rico viver de forma simples e usar sua riqueza para ajudar os outros
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igual para todos. Mas é fácil perceber qual é o estilo de vida justo: é possível a um rico viver de forma simples e usar sua riqueza para ajudar os outros. Isso é o que eu ensino para a classe média e os ricos. Outro problema da teologia da prosperidade é que ela afirma que, se as pessoas derem, Deus vai abençoar. Não existe nada na Bíblia que diga que, se você der dinheiro, então Deus vai lhe abençoar. Existe uma manipulação para o ganho pessoal, que é o pecado de Ananias e Safira. E eles morreram, porque Deus amaldiçoou esse pecado. Há alguma base b´blica para se dizer que o pobre é abençoado por Deus, como ensina a teologia da libertação, ou que o rico é abençoado, como prega a teologia da prosperidade? Pobreza ou riqueza significam necessariamente bênção ou abandono por parte de Deus?
Pobreza é sempre uma maldição, e o Senhor quer que nós tiremos as pessoas da pobreza. Mas a riqueza, por outro lado, afasta as pessoas de Deus e remove delas a percepção espiritual. Então, existe um grande perigo na riqueza, e o melhor é que nos afastemos dela. Deus quer nos abençoar com bênçãos materiais. Isso não é um problema. A pobreza é uma maldição, mas os pobres são abençoados. A riqueza é uma bênção, mas os ricos são amaldiçoados. Temos então que entender o que isso significa. Aqueles que têm riqueza material precisam organizar suas posses em favor dos necessitados e viver com simplicidade. Eu ensino uma frase: “Ganhe muito, consuma pouco, guarde nada, dê generosamente e celebre a vida”. Essa tem sido uma frase muito útil para a classe média, pois estimula as pessoas a viver num nível simples, razoável e suficiente.
Mas hoje em dia, muitas igrejas, ministérios e l´deres religiosos também enriquecem, quase sempre às custas dos d´zimos e ofertas dos fiéis...
Sendo assim, que diferença deve haver entre o evangelismo voltado a um grande empresário e a pregação ao pobre?
São contextos muito diferentes. É preciso olhar os contextos, os meios utilizados na comunicação, o estilo. A mensagem não é muito diferente, mas a maneira de comunicá-la, sim. Os pobres gostam da verdade absoluta, das coisas ditas com autoridade e simplicidade. Já com a comunidade empresarial é necessário haver uma identificação com seu estilo de vida. Então, para alcançar empresários, você pode fazer um encontro em um restaurante ou em um salão especificamente preparado para isso. Certa vez, fiz uma apresentação do livro de Provérbios voltada para lideranças. Uma das pessoas que compareceram era o líder de uma empresa de seguros que, ao final, comentou comigo que jamais tinha imaginado que a Bíblia tivesse tanto a ver com a vida real. Você precisa trabalhar com as pessoas no meio em que elas estão e relacionar a mensagem de Cristo aos assuntos que têm a ver com sua vida.
Ao longo dos séculos, o princ´pio do d´zimo tem sido abusado com o objetivo de acumular riquezas para as igrejas, enquanto as pessoas dentro delas continuam pobres
Ao longo da história, vemos que poder e riqueza na Igreja corrompem. Os apóstolos de verdade foram homens que sofreram grandemente. Paulo, embora fosse rico, optou pela pobreza por amor ao Evangelho. O apóstolo Pedro, junto com João, disse ao deficiente que estava na porta do templo que não tinha ouro nem prata. A marca de um apóstolo é o sofrimento, é estar entre os pobres. Os dízimos não devem ser dados para financiar sacerdotes ou igrejas. Na Bíblia, os dízimos eram dados em primeiro lugar para cuidar dos pobres. O que era dado aos levitas era o dízimo do dízimo, ou seja, um centésimo do valor total. Ao longo dos séculos, o princípio do dízimo tem sido abusado com o objetivo de acumular riquezas para as igrejas, enquanto as pessoas dentro delas continuam pobres. Isso não é correto. Afirmo que o dízimo deve ser entregue às igrejas para o benefício dos pobres. Na Igreja primitiva, os ricos vendiam seus bens e os entregavam aos apóstolos, que distribuíam aos pobres. Ou seja, os líderes não retinham o dinheiro para si. Abusar desse princípio é uma violação das Escrituras. O Evangelho pregado aos pobres deve ser diferente daquele pregado às pessoas mais abastadas?
O Evangelho de Cristo é, ao mesmo tempo, o Evangelho da misericórdia e do juízo. Para os pobres, você ouve Jesus dizendo “venham a mim todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso”. Mas você encontrará Jesus confrontando os fariseus e os ricos, ressaltando como é difícil para um rico entrar no Reino dos céus. Qual foi seu conselho ao jovem rico? Que abandonasse tudo o que tinha e o seguisse. Mas aquele homem, apegado à sua riqueza, recusou. Então, o Evangelho, para o rico, é uma mensagem de juízo – ainda mais em um país como o Brasil, onde o enriquecimento geralmente se dá por meio da opressão do pobre ou da corrupção. Existem exceções, claro. E aqueles que ficam ricos por meios justos são abençoados por Deus. Veja que homens como Abraão e Salomão foram ricos e abençoados.
Essa conexão com a realidade também deve nortear o discipulado?
Jesus não pregou um Evangelho puramente espiritual. Ele pregou um Evangelho que era espiritual, mas também econômico, social e político. Quantas pessoas foram até Cristo por intermédio do Evangelho espiritual? Basta ler a Bíblia. Nicodemos foi até ele por meio de uma discussão política. Zaqueu o procurou por meio de uma discussão econômica. Um quarto dos ensinamentos de Jesus é sobre aspectos econômicos. O discipulado é um assunto crítico. Eu diria que existe hoje um discipulado espiritual razoável: as pessoas sabem ler a Bíblia, orar, adorar. Mas não existe virtualmente nenhum discipulado econômico. E as áreas de relacionamentos sociais, relacionamentos conjugais, do caráter do discípulo, são muito fracas. E certamente se faz muito pouco discipulado voltado para aspectos políticos, de ordem pública. O resultado disso é que as pessoas não seguem a Cristo em todos os aspectos de sua vida. São piedosas apenas na igreja, aos domingos. O evangelista Billy Graham diz que menos de 5% das pessoas que atenderam aos apelos para salvação em suas cruzadas ao longo das décadas permaneceram em Cristo. À luz da necessidade de customizar o evangelismo para pessoas de
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“ A p o b re z a é u m a m aldi ç ã o ”
diferentes contexto sociais, como devemos encarar o evangelismo em massa?
Evangelismo em massa é parte do que devemos fazer. Existem benefícios que podemos extrair desse tipo de atividade, como o fato de muitas igrejas se unirem para esse tipo de ação. E a declaração pública da Palavra dá às pessoas um senso de identidade, a consciência de fazer parte de um povo. Mas para que haja a proclamação, primeiro é necessário haver a encarnação. Ou seja: é necessário primeiro estar entre as pessoas e estabelecer um relacionamento com elas, para que possam ver e escutar o Evangelho. As pessoas precisam ver e experimentar o amor de Deus de maneiras práticas, de modo que seja mais fácil para elas responder a esse amor. Não basta pregar; o ouvinte precisa ver o amor de Deus encarnado na vida daquele que prega. Também é fundamental ressaltar a importância da oração no evangelismo. São necessários de três a seis meses de oração antes de entrar em uma comunidade. Quando Deus age por meio da oração, então o Evangelho simplesmente se move com poder. A intercessão é um elemento crítico antes da proclamação. Existem muitas experiências na comunidade missionária internacional que comprovam isso. A Missão Integral não seria uma utopia no âmbito do cristianismo como um todo?
Mas é bom ter utopias. Eu publiquei um livro sobre o espírito de Cristo nas cidades pós-modernas, em que procurei identificar como seria uma sociedade submetida ao Reino de Deus. Por outro lado, não creio que a Missão Integral seja uma utopia; prefiro vê-la como a busca pela totalidade do Evangelho que Jesus pregou. Gosto da Missão Integral, mas seu problema é que não acredito que ela vá longe o suficiente. E a dificuldade novamente é que ela vem dos teólogos de classe média. Repare que esse termo não tem significado para os pentecostais das classes baixas. Missão Integral? O que isso significa? Não faz sentido para eles. Tenho ensinado um outro termo, que é “avivamento transformador”. Para os pentecostais, você tem que começar de onde eles começam, que é do Espírito Santo, do avivamento. Mas qual é o objetivo do avivamento? O crescimento de igrejas? Não, o objetivo do avivamento é ver o Reino de Deus em cada núcleo da sociedade. Temos que começar com a transformação da sociedade, e as igrejas são um estágio intermediário para alcançar esse objetivo.
Do ponto de vista da profecia b´blica, existe como erradicar a pobreza?
Jesus disse que os pobres sempre estariam entre nós. Portanto, não creio que seja possível erradicar a pobreza. Mas acredito ser totalmente viável reduzi-la, baixá-la a níveis mínimos. Na Costa Rica e em países da Europa a pobreza foi diminuída a níveis irrelevantes com relação ao passado.
No atual governo brasileiro, pol´ticas de distribuição de renda ganharam força. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito sob a bandeira do programa Fome Zero e faz do projeto Bolsa Fam´lia, de renda m´nima, sua principal bandeira social. É o caminho acertado?
Existem diferentes níveis de pobreza e cada um deles exige um tipo diferente de ação. Recitar a frase “não se deve dar o peixe, mas sim ensinar a pescar” não ajuda em nada, porque afirma que a única forma de se combater a pobreza é dar às pessoas meios de trabalhar. Mas essa é resposta errada para a viúva, para o órfão. Para esses, você simplesmente tem que dar o peixe. Se o governo está oferecendo assistência social a essas pessoas, especificamente, é uma boa ação. Já outro nível de pobreza exige como resposta a possibilidade de devolver ao povo o direito sobre a terra. Para aqueles que podem trabalhar, abrir o mercado de trabalho é o caminho correto. O que não podemos é pôr todos os pobres no mesmo saco, achando que a solução para os diferentes tipos de pobreza é uma só.
Quando Deus age por meio da oração, o Evangelho simplesmente se move com poder. A intercessão é um elemento cr´tico antes da proclamação
Houve alguém em especial que tenha marcado sua trajetória?
Todos nós temos nossos mentores entre os antigos. Eu li milhares de biografias, o que foi muito importante para mim. Mas poderia destacar o irmão Kagawa, do Japão, que nas décadas de 1930 e 40 viveu nas favelas por quinze anos e decidiu mudar as estruturas da sociedade. O que ele fez foi candidatar-se ao Parlamento, uma vez que vinha de uma família rica. Como político, ele transformou o Japão – criou diversas cooperativas, lutou contra os comunistas e reconstruiu Tóquio sem favelas. Kagawa costumava pregar até para o imperador. Pregava e agia: dez dias por mês ele pregava, e nos outros vinte, dedicava-se a ações sociais. Um homem notável. 58
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Se o senhor pudesse conversar com o presidente Lula a respeito da pobreza no Brasil, o que lhe diria?
Haveria duas áreas que eu abordaria. A primeira seria a crítica cristã ao capitalismo. Ao longo dos últimos 150 anos, tem havido uma crítica consistente a respeito do terceiro caminho, que não é o comunismo nem o capitalismo, e sim, um esforço cooperativo. O presidente Lula conhece esse assunto. Eu falaria a respeito desses temas sob uma perspectiva bíblica: as motivações gananciosas do capitalismo, a limitação de salários dos executivos, a diminuição da distância entre os ricos e os pobres. No Brasil, os bancos têm atacado as cooperativas, porque não desejam que esse tipo de economia se desenvolva. Isso precisa ser revertido. Um país é forte dependendo de seu esforço cooperativo. A segunda área seria do direito sobre a terra, especificamente sobre a confusa situação legal que existe no Brasil no que se refere às questões fundiárias. A burocracia é gigantesca e por isso os pobres não conseguem adquirir propriedades. E é preciso assegurar que toda a família tenha direito a possuir uma casa própria.
Em se tratando de missões urbanas, o que funciona e o que não funciona?
É preciso seguir o princípio da encarnação: estar entre as pessoas, sejam elas pobres, de classe média ou ricas. Também existe o consenso de que o Evangelho pressupõe transformação. A unidade e o estabelecimento de redes de contato são temas significativos em missões urbanas, pois quando pastores de diferentes linhas se unem e trabalham juntos, a sinergia entre a capacidade
de cada um aumenta a velocidade e a profundidade daquilo que se pode alcançar. Nós, como cristãos, devemos trabalhar junto com homens de boa vontade. A via pol´tica tem sido defendida pelos evangélicos como maneira de trazer o cristianismo para a sociedade. Contudo, apesar do aumento da representação evangélica nos parlamentos, não se nota diferença – ao contrário, pol´ticos crentes são mais conhecidos pelos deslizes éticos e pelos escândalos nos quais se envolvem. A participação de crentes na pol´tica é proveitosa?
Essa questão dos escândalos não é um fenômeno brasileiro. Isso vem ocorrendo em diversos países do mundo como consequên cia do aumento no número de evangélicos nas instâncias de poder. Acredito que devemos, sim, usar a política como forma de mudar as estruturas da sociedade – mas não podemos entrar nela sem pensar, pois a falta de reflexão teológica e de um pensamento estratégico baseado em princípios bíblicos significa que acabaremos tendo muito entusiasmo, mas péssimos resultados. A política é terrível; nela, não se pode cometer erros. Então, compreender sua natureza e saber como operar na esfera política é muito diferente de lidar com igreja. Mas os crentes devem ou não participar da pol´tica?
Você não pode simplesmente usar uma base religiosa como base de poder para a política. Fazer isso é abusar dos relacionamentos de liderança. Os católicos são muito firmes ao dizer que não se
pode ser um sacerdote e participar da política. Isso é um princípio muito sábio. Na minha opinião, nenhum pastor evangélico deveria ser um político, pois essas duas esferas de atuação são incompatíveis. O problema é que não existe atualmente no Brasil um pensamento adequado sobre teologia e prática política. E até que exista, que os políticos sejam bem treinados e que haja recursos para dar suporte a esse pensamento, continuaremos presenciando escândalos. Qual é a razão de sua vinda ao Brasil?
Estou no seu país para tentar conseguir cinco mil brasileiros dispostos a encarar um desafio. Tenho entrevistado pastores que trabalham em favelas de vinte e três cidades por todo o mundo, a que pergunto em que áreas eles necessitam de treinamento. A partir dessa percepção, criamos um programa para líderes de projetos entre os pobres. Estou em contato com seis seminários diferentes no Brasil para viabilizar a aplicação desse programa aqui. Precisamos levar estudo teológico para as favelas. Atualmente, cerca de um bilhão de pessoas em todo o mundo vivem em favelas. Os ministros do Evangelho que atuam nessas áreas precisam de mais formação teológica. Sem uma reflexão sobre as questões profundas com as quais eles se deparam lá, as igrejas continuarão a atuar de uma forma muito tradicional, isoladas da comunidade, incapazes de transformar o tecido social no qual estão inseridas. Só que não se pode fazer isso sem que os líderes estejam treinados. É preciso evangelizar, claro, mas sempre provocando transformação social.
O Messias chegou Obreiros da missão Judeus por Jesus mobilizam-se para pregar o Evangelho em Israel
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Desde que o general romano Tito destruiu Jerusalém, no crucificado em Jerusalém é mesmo o Salvador do mundo –, ano 70 de nossa Era, dando início à Diáspora dos judeus, tornou-se a maior agência missionária de evangelismo de essa gente nunca mais se reuniu. Espalhados à força, eles judeus em todo o mundo, com 25 filiais em 11 diferentes se dispersaram pelos quatro cantos do mundo, cumprindo países, inclusive o Brasil. São mais de cem missionários e assim profecias bíblicas feitas centenas de anos antes. Ti- 200 voluntários treinados, cuja meta é ganhar seus irmãos veram contato com outras culturas, aprenderam novas lín- para Cristo. “Nós existimos para fazer o Messias Jesus um guas, conviveram com outras crenças – mas, em sua maio- assunto inevitável para o nosso povo judeu em todo o munria, jamais deixaram de ser judeus. O povo que um dia foi do”, sintetiza o pastor Sergio Danon, diretor-executivo de escolhido pelo Senhor sonhou, ao longo dos séculos, com o Judeus por Jesus no Brasil. retorno à sua terra prometida. Até que, em 1948, uma resoO trabalho de evangelismo junto a este segmento lução das Nações Unidas, com o beneplácito das potências não é nada fácil. Paradoxalmente para uma região que ocidentais, abriu as portas para o retorno dos judeus. Dos viu nascer o cristianismo, Israel é hoje uma das nações cinco continentes, os descendentes dos hebreus menos alcançadas pelo Evangelho, já que apenas tomaram o rumo de volta para casa, dando origem 0,1% dos sabras (judeus nascidos ali) crêem em Missões ao que hoje é o moderno Estado de Israel. Cerca Jesus como o Messias. Embora não seja proibide 5,4 milhões de judeus fazem da estreita faixa da, a ação das missões evangélicas junto ao povo de terra à margem oriental do Mediterrâneo o seu lar. Com judeu não costuma ser bem vista, sobretudo pelos ortoum crescimento vertiginoso nas últimas décadas – supe- doxos. Por isso mesmo, os primeiros campos de Judeus rando os cem por cento –, a estimativa é que, em breve, por Jesus foram, para usar a expressão bíblica, os confins Israel tenha novamente a maior população judaica do mun- da terra. De acordo com o pastor, a maioria dos que vido, superando os Estados Unidos, onde vivem 6 milhões vem fora de Israel moram em nações democráticas, onde de filhos de Abraão. a ação evangelística é livre. “Nossa forma de atuação enFoi para anunciar a Cristo como Messias aos judeus da volve múltiplas atividades, como contatos diretamente na Diáspora que surgiu, em 1973, a organização Jews for Jesus rua, distribuição de folhetos, correspondência, visitas, (Judeus por Jesus). De San Francisco (EUA), onde foi mon- discipulado e uso da mídia, com anúncios em jornais e tado o primeiro núcleo, a entidade – que crê que Yeshua , o até outdoors, além do uso maciço da internet”, explica profeta que nasceu em Belém, pregou o Reino de Deus e foi Danon. Em abril de 2001, a entidade deu início a uma campanha evangelística chamada “Operação eis o vosso Deus”, baseada no texto de Isaías 40.9. O objetivo era o de alcançar todas as cidades do mundo fora de Israel que tivessem pelo menos 25 mil judeus. “Os resultados foram impressionantes”, diz o pastor. “Alcançamos 55 cidades, sendo quatro na América Latina e duas no Brasil – São Paulo e Rio”. Além de 17 milhões de folhetos temáticos distribuídos, os evangelistas fizeram contato com cerca de 18 mil judeus. “Quase 1,7 mil deles aceitaram a Jesus”, comemora o diretor. Campanhas de rua – Agora, chegou a vez da Terra Santa. Desde o ano passado, o esforço missionário de Judeus por Jesus entrou com força em Israel. O objetivo não poderia ser outro: alcançar toda a nação com o Evangelho. “O país não é tão grande assim, e o dividimos em 12 áreas. Então, ao longo de seis anos, de 2008 a 2013, através de duas campanhas evangelísticas por ano, teremos coberto todo o território”, planeja Danon. Com 22 mil quilômetros
O pastor Sérgio Danon: “Resultados impressionantes” 60
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Divulgação/JFJ
Carlos Fernandes
Missionários falam de Jesus aos judeus: esforço evangel´stico vai percorrer todas as regiões de Israel
quadrados, o Estado de Israel é do tamanho de Sergipe, o menor estado brasileiro. As dificuldades, certamente, são de outra natureza. Embora boa parte da população siga um judaísmo apenas nominal, os judeus ortodoxos, que têm grande influência social, costumam resistir à pregação. Mesmo assim, a operação avança. A primeira campanha foi iniciada em abril do ano passado, na região metropolitana de Tel Aviv, a segunda e mais secularizada cidade do país, com sua vida noturna e grandes centros de comércio, além das representações consulares estrangeiras. “Mais de 2,2 mil judeus demonstraram interesse em saber mais sobre Yeshua”, comemora Danon. O grupo distribuiu ainda
Apesar da resistência dos ortodoxos, cada vez mais pessoas têm recebido o Evangelho
130 mil folhetos. O apoio fica por conta da filial da entidade, que conta com 15 pessoas, entre funcionários e missionários A segunda campanha foi realizada na região norte, onde fica a Galileia. Ali, nada menos que sessenta judeus receberam a Cristo como Salvador. Dadas as circunstâncias, o número é dos mais expressivos. Em março deste ano, foi desencadeada a terceira mobilização, na região de Sh’felah, ao sul de Tel Aviv. “Ao contrário das outras duas campanhas, essa região é predominante de pessoas religiosas e ortodoxas. Muitas pessoas jamais ouviram falar de Jesus”, comenta o pastor. “Alguns ficaram furiosos por estarmos lá, mas outros pediram que lhes enviássemos edições do Novo Testamento”. Ao contrário das expectativas, os agentes missionários encontraram ali 18 judeus cristãos que não conheciam. A campanha de Judeus por Jesus está chamando também a atenção da mídia. De acordo com Sérgio Danon, dois jornais, o Jerusalem Post e o Yediot Achronot, já fizeram reportagens sobre o trabalho. “A mensagem saiu meio distorcida, mas mesmo assim Jesus estava em foco”, observa. Ele reconhece que o evangelismo em Israel é uma tarefa árdua. “Há aqueles que gostariam que fosse aprovada uma lei tornando a atividade missionária cristã como crime”. No seu entender, as coisas poderiam mudar na Terra Santa se mais crentes em Jesus estivessem dispostos a correr riscos para levar o Evangelho a áreas onde o nome do Filho de Deus sequer é pronunciado: “Imagine como as coisas poderiam mudar se, no corpo de Cristo, mais pessoas estivessem dispostas a interceder e contribuir para a salvação do povo judeu.” a g o s t o
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Os outros seis dias Carlo Carrenho editor de livros
Imortalidade, singularidade e/ou a simples paixão pela vida
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Ainda não sei se gostaria de viver para sempre
ser humano sempre buscou a imortalidade. Não é à toa que as duas árvores proibidas no Jardim do Éden eram a da vida e a do conhecimento do Bem e do Mal. E também não foi à toa que Deus permitiu que o fruto da primeira fosse saboreado pelo primeiro casal; contudo, nunca o da segunda. Mas com a explosão tecnológica exponencial das últimas décadas, o homem passou a flertar novamente com o conceito real de imortalidade. As novas tecnologias estão permitindo ao ser humano sonhar com algo que antes era pura ficção. E, assim, surgiu o conceito de singularidade. Originalmente, o termo era usado pela astronomia para descrever fronteiras no tempo espacial onde as regras normais de mensuração não se aplicam, como em um buraco negro. Da astronomia, o conceito de singularidade invadiu a tecnologia e, em 1993, o matemático Vernor Vinge deu um novo sentido ao termo, afirmando que “em 30 anos teremos os meios tecnológicos para criar inteligência superumana. E logo depois, a era humana acabará”. Contudo, foi nos últimos dois anos, graças ao exótico cientista Ray Kurzweil, autor de livros como A Era das Máquinas Espirituais e The Singularity is Near, que o conceito de singularidade ganhou mais popularidade. Kurzweil argumenta que, enquanto a inteligência artificial tornará os humanos biológicos obsoletos, ela não tornará a consciência humana irrelevante. Na prática, enquanto Vinge via a inteligência artificial como o fim dos tempos, Kurzweil a vê como a redenção humana. Como definir este conceito? Singularidade é simplesmente o momento na história em que o homem alcançará a imortalidade, graças ao desenvolvimento tecnológico. Os estudiosos defendem que a imortalidade chegará por meio de fases. Primeiro, terapias anti-envelhecimento permitirão que as pessoas alcancem o limite natural de 125 anos da vida humana. Depois, a própria medicina de ponta começará a alterar algumas das causas biológicas do envelhecimento, o que seria a fase 2. Finalmente, computadores ficariam tão poderosos que poderiam imitar a consciência humana. Isto permitiria que fizéssemos um download de nossa personalidade e consciência para um substrato nãobiológico. Neste momento, viraremos informação pura e alcançaremos a imortalidade – desde que tenhamos alguns backups de nós mesmos... Parece loucura? Coisa de ficção científica? Pode ser. Só que quase tudo que Julio Verne imaginou em seus livros agora existe; então, é melhor não termos visões pré-con-
cebidas sobre o assunto. O cientista Ray Kuzsweil acredita tanto que a singularidade deve acontecer na década de 2030 que leva uma vida absolutamente saudável e faz tratamentos radicais de longevidade, ao ponto de tomar cerca de 200 comprimidos por dia! Com 62 anos, quer fazer de tudo para viver até o momento da singularidade e garantir sua imortalidade. Realidade ou delírio, o conceito de singularidade traz algumas questões interessantes do ponto de vista teológico. Como fica a questão da alma, por exemplo? Se um dia virarmos pura informação, nossa alma também caberia em um pen drive? Ou estaria ligada ao nosso corpo e, uma vez que ele desapareça, deixaria este mundo? Neste caso, nosso corpo e consciência continuaria a existir sem alma? E, para criar um nó cego teológico: a imortalidade da consciência não poderia ser a vida eterna a nós prometida por Deus? Ainda não sei se gostaria de viver para sempre. Acredito, todavia, que o tempo de vida não é uma pura soma de tempo, mas o produto de períodos multiplicados por sua intensidade. Alguém que morra com 20 anos pode ter vivido mais do que alguém que chegou aos noventa. Pense em gente como Mozart e Fernando Pessoa, que morreram com 35 anos. Eu tenho 36 e garanto que eles viveram muito mais que eu. Ou, então, no Brasil, podemos lembrar de Ayrton Senna e Cazuza. Quantos de nós viveremos mais do que estes dois ícones? Ah! Mas o Cazuza teve uma vida pervertida e pecaminosa. Pode ser, mas isto não quer dizer que não a tenha vivido com intensidade. Não há juízos de valor aqui. Uma vida imortal em um hard disk, sem intensidade, parece sem sentido, sem dúvida. Mas pior ainda é uma vida biológica sem prazer ou paixão. Ainda não tenho a receita para uma vida intensa – e observe que intensidade é diferente de alegria, sucesso e riqueza. A vida de Jesus Cristo sem dúvida é um grande exemplo, e um cristianismo vivido até as últimas consequências é, sem dúvida, um máximo de intensidade. Acho também que os poetas, que costumam viver poucos anos, mas com muita intensidade, tenham muito a ensinar. E termino com este verso de Fernando Pessoa, que está imortalizado sobre sua tumba em Lisboa: “Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive.”
O tempo de vida não é uma pura soma de tempo, mas o produto de per´odos multiplicados por sua intensidade
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ÚLTIMAS PALAVRAS Valdemar Figueredo Filho Teólogo e professor
A Igreja e a serra elétrica
Podemos ser uma igreja que atua de forma artesanal ou industrial
A
vistei uma árvore caída na rua. As raízes romperam o duro concreto da calçada e ela tombou – o que antes fora um enorme ser vivo, agora era um toco agonizante. Abatida e torcida, a árvore parecia gemer com suas fraturas expostas. Continuei andando pensando o seguinte: uma coisa é derrubar uma árvore com machado, e outra, bem diferente, é abatê-las com serra elétrica. A natureza se recompõe e se renova. Não podemos dizer que o lenhador seja um agressor, que por capricho e raiva abate as pobres árvores. No entanto – pensava eu enquanto andava –, o mesmo não podemos falar daqueles que derrubam árvores com potentes serras elétricas. As grandes derrubadas para atender às demandas industriais, à primeira vista, parecem que são mais velozes do que a natureza no seu esforço para se recompor. É claro que estes pensamentos me ocorreram e eu não tinha a menor pretensão de sistematizá-los, ou sequer de que fossem coerentes. Simplesmente estava pensando enquanto andava, até que encontrei um pastor que estava à porta do templo esperando outros colegas para uma reunião de oração. Ele me disse que regularmente um grupo pequeno de pastores se reúne ali para orar e pensar no que chamou de “ferramentas adequadas” para a construção dos seus ministérios. Foi neste instante que falou algo que me intrigou: “Nós podemos realizar o ministério com várias ferramentas. Podemos usar um serrote ou podemos usar uma serra elétrica. Onde estamos e o que queremos é que vai determinar o tipo de instrumento que queremos usar.” Tomei um susto quando ele disse aquilo. Parecia que o diálogo não era com o que eu lhe falava, mas com o que eu pensava. Por uns instantes, fiquei calado, sem saber o que representava aquela coincidência. Os outros pastores chegaram e o diálogo sobre ferramentas ministeriais terminou sem que eu dissesse nada sobre o que vinha pensando acerca de machados e serras elétricas desde que vira aquela árvore tombada na rua. A primeira coisa que me veio à mente foi a de que podemos optar por ser uma igreja que produz em escala industrial. Óbvio que, para conseguir esse objetivo, é necessário se ajustar aos procedimentos típicos de uma indústria. Numa igreja com esta ênfase, tempo é dinheiro, templo é a marca, a eficiência é tudo, a mídia é o padrão e as pessoas são números. Convenhamos que uma igreja que assim se organiza e produz está adequadamente afinada com o espírito da nossa época. Em outras palavras,
podemos ser uma igreja com “serra elétrica”, que só atua pensando na produção em larga escala e aceita os desafios hoje impostos pelo mercado religioso. Já uma igreja que entende que seu trabalho não pode ser generalizado e impessoal prefere talhar o caráter de seus membros. Para isso, o trabalho tem que ser artesanal. Peça por peça, vida por vida. As particularidades de cada um não são chamadas de exceções. Para quem tem a missão de formar pessoas usando como modelo o próprio Jesus Cristo, não há pressa. Estamos falando de uma igreja comunitária, onde vínculos profundos se formam. Nesta igreja, tempo é partilha, templo é aconchego e discipulado é a pérola de grande valor. As pessoas ali sabem que Deus as conhece pelo nome e as ama – daí porque a igreja por elas se interessa, pretendendo também conhecê-las e amálas. Uma igreja artesanal lida com a complexidade humana, sem simplificações dos jargões religiosos e sem as malandragens da linguagem de um marketing viciado e agressivo. Devemos promover um ministério marcadamente artesanal, onde cada um ponha a mão na parte que lhe cabe, definida pelo Espírito Santo, para a execução daquilo que Deus define como tarefa nossa neste tempo. Queremos e devemos produzir, construir, edificar, mas sem causar males à natureza do Evangelho e às pessoas. O que há de nos pautar é o caráter de Cristo e não o espírito mercantilista de nosso tempo. É notório que igrejas que caem na tentação de atuar com serra elétrica padecem pelos seus próprios descaminhos: conseguem visibilidade, mas anunciam com seus discursos práticas e alianças que renunciam ao essencial para não perder o emergencial. Que rumo o Senhor quer que tomemos? As respostas que a igreja de Antioquia encontrou, mencionadas em Atos 13, podem nos ajudar. Ali havia profetas e mestres – e ambos os ministérios esmeram-se por entender e compartilhar a palavra de Deus. Profetas anunciam coisas novas, convidam aos rompimentos, estimulam, inquietam, provocam, confrontam. A voz profética é, sobretudo, uma voz que lembra aos esquecidos o rumo apontado e determinado por Deus. E o Senhor não está retido no passado distante. Deus fala, e fala ao homem de hoje. Quanto aos mestres, esses ensinam apontando para a revelação de Deus e o fazem com a própria vida. O verdadeiro mestre é aquele que experimenta o conteúdo do que ensina. Que haja entre nós a voz de Deus que anuncia as coisas novas e a voz de Deus que não nos deixa esquecer da sua revelação ao longo da história.
Para quem tem a missão de formar pessoas usando como modelo o próprio Jesus Cristo, não há pressa
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C R I S T I A N I S M O
H O J E
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a g o s t o
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s e t e m b r o
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