Ano 18 • Edição 104 • Março/Abril 2016 • Conselho Regional de Psicologia do Paraná
MEDO construções e usos sociais
PSICOLOGIA AMBIENTAL
NOME SOCIAL
Veja como a(o) Psicóloga(o) pode atuar em situações de emergências e desastres
A atuação da Psicologia para garantir o direito à educação de travestis e transexuais
S U M Á R I O
ANUNCIE na Conselho Regional de Psicologia 8ª Região (CRP-PR) Produção Contato: Informativo Bimestral do Conselho Regional de Psicologia 8a Região (ISSN - 1808-2645) Site: www.crppr.org.br • Avenida São José, 699 CEP 80050-350 • Cristo Rei • Curitiba/PR Fone/Fax: (41) 3013-5766 • E-mail: comunicacao08@crppr.org.br
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Tiragem: 15.000 exemplares Impressão: Primagraf Indústria Gráfica. Jornalista responsável: Ellen Nemitz (17.589/RS) Estagiária: Débora Dutra Comissão de Comunicação Social do CRP-PR: Bruno Jardini Mäder e Paula Matoski Butture • Revisão: Bruno Jardini Mäder, Elaine Bernert, Célia Mazza de Souza, Angelo Horst e Ellen Nemitz Projeto gráfico: Agência Cupola Rua Celestino Jr, 333 • CEP 80510-100 São Francisco • Curitiba/PR Fone: (41) 3079-6981 • Site: www.cupola.com.br E-mail: falecom@cupola.com.br
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E D I TO R I A L
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CO L U N A D E AVA L I AÇ ÃO PS I CO LÓ G I C A
Avaliação psicológica e armas de fogo
08
CO L U N A P OT
A hora da virada: carreira e sucessão
10
CO F O R I E N TA
Cancelamento de registro profissional e lacre de materiais privativos: quando e como fazer?
14
CO L U N A É T I C A
A atuação das(os) colaboradoras(es) na COE
16
C A PA
Medo: construções e usos sociais
Preço da assinatura anual (6 edições): R$ 30,00 Os artigos são de responsabilidade de seus autores, não expressando necessariamente a opinião do CRP-PR.
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Emergências e desastres: a Psicologia pode ajudar a superar o sofrimento
Conselheiras e conselheiros
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Ana Lígia Bragueto, André Luis Cyrillo, André Luiz Vendel, Anita de Castro Menezes Xavier, Bruno Jardini Mäder, Cleia Oliveira Cunha, Denise Ribas Jamus, Fernanda Rossetto Prizibela, Guilherme Bertassoni da Silva, Juliano Del Gobo, Luciana de Almeida Moraes, Luiz Antônio Mariotto Neto, Luiz Henrique Birck, Maria Stella Aguiar Ribeiro, Mariana Daros de Amorim, Nayanne Costa Freire, Paula Matoski Butture, Renata Campos Mendoça, Rodrigo David Alves de Medeiros, Rodrigo Soares Santos, Rosangela Maria Martins, Sandra Mara Passarelli Flores, Solange Maria Rodrigues Leite, Vanessa Cristina Bonatto.
PS I CO LO G I A A M B I E N TA L
24
R E L ATO D E E X P E R I Ê N C I A
Atendimento psicológico às mulheres presas
30
N OM E S O C I A L
Psicologia, escola e família juntas para garantir os direitos de jovens travestis e transexuais
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COREP
9º Congresso Regional da Psicologia do Paraná (COREP) acontece nos dias 30 de abril e 1° de maio de 2016
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EDITAL DE CENSURA PÚBLICA 1
34
EDITAL DE CENSURA PÚBLICA 2
E D I T O R I A L
COLUNA DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
Editorial Novos e velhos embates no campo da Saúde Mental
No início deste ano, tomou posse como Coorde-
A mudança de modelo ainda está em curso,
nador Nacional de Saúde Mental, Álcool e Ou-
sendo inventada e criada no cotidiano da atenção e
tras Drogas o psiquiatra Valencius Wurch Duar-
justamente por isso cabe acompanhar com cuidado
te Filho. Esta nomeação surpreendeu a todos que
as ações e propostas que virão, afinal não queremos
trabalham na área, afinal este nome representa
nenhum retrocesso. Há um grande nó na rede de
uma quebra histórica no perfil dos coordenado-
atenção ligado aos casos de emergência ou daque-
res, sempre alinhados às propostas de reforma e
les que necessitam acolhimento institucional. Ain-
desinstitucionalização. Duarte Filho foi diretor de
da não se dispõe de leitos de internação em hospital
um manicômio que, em sua gestão, chegou a ter
geral ou vagas em CAPS III suficientes e para suprir
mais de 1.500 pacientes e foi denunciado pelas
esta carência ainda se utilizam as internações nos
condições oferecidas.
hospitais psiquiátricos. Soma-se a isso a ineficiên-
Antes mesmo da posse, movimentos sociais e
cia da atenção a usuários de álcool e outras drogas
de trabalhadores manifestaram-se contrariamente
centrada na abstinência como principal forma de
à nomeação. Em Brasília, a Coordenação de Saú-
tratamento. Vemos aí uma demanda para uma po-
de Mental foi ocupada. Foram realizados protestos
lítica conservadora retomar as internações psiquiá-
em todo o Brasil e ao Ministro da Saúde foi entre-
tricas como resposta à sociedade.
gue uma carta de repúdio assinada por mais de 600
Neste momento histórico, cabe aos defenso-
entidades da área. No Paraná, o CRP-PR participou
res da reforma dizer “manicômios nunca mais” e
ativamente destas manifestações.
ir mais além. É preciso mostrar com rigor qual é a
Estes movimentos agem em defesa da refor-
proposta clínica que se defende, afirmar toda a po-
ma do modelo de atenção às pessoas com trans-
tência que a atenção psicossocial tem na vida dos
torno mental, em curso no Brasil há algumas dé-
usuários, dos trabalhadores e seu impacto benéfi-
cadas, mas que ganhou força a partir de 2001,
co na sociedade. Não se trata de fazer uma disputa
com a promulgação da lei nº 10.216/01. Atual-
entre “CAPS versus hospitais”, mas de afirmar que
mente, temos uma rede de atenção psicossocial
saúde mental se faz com conhecimento científico e
que tem avanços consolidados e exitosos como,
especialmente com vínculo e cuidado, colocando o
por exemplo, a oferta de Centros de Atenção Psi-
usuário como ponto central do trabalho.
cossocial (CAPS) e as equipes dos Consultórios na
A Psicologia reúne todas as condições de discu-
Rua, mas ainda temos dispositivos novos que es-
tir esta prática clínica, de dizer como se oferece es-
tão se desenvolvendo como a atuação dos Núcleos
cuta para alguém que sofre, de ouvir antes de falar.
de Atenção à Saúde de Família (NASF) e as ino-
Afinal, estamos falando de pessoas vulneráveis que
vadoras propostas de matriciamento e dos Planos
precisam de apoio para afirmarem suas vidas do
Terapêuticos Singulares (PTS).
seu modo singular.
Avaliação Psicológica
e armas de fogo
COMISSÃO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
Processos de avaliação psicológica para por-
pelo decreto nº 5.123 de 1º de julho de 2004
te de armas de fogo podem ser considerados
(Brasil, 2004).
emergentes na atuação profissional da(o) Psi-
Especificamente sobre o fazer avaliati-
cóloga(o). Como campo de trabalho emer-
vo relacionado à temática da arma de fogo,
gente, depara-se com uma oportunidade de
a(o) Psicóloga(o) credenciada(o) pela Polícia
crescimento e desenvolvimento para a nossa
Federal deve seguir a Instrução Normativa
categoria profissional, mas faz-se necessário
(IN) n° 78 de 05 de março de 2014, do Depar-
refletir se realmente o trabalho realizado está
tamento da Polícia Federal (Departamento
auxiliando no desenvolvimento para a Psico-
da Polícia Federal, 2014), a qual “Estabe-
logia como ciência e profissão, respeitando
lece procedimentos para o credenciamen-
primordialmente o nosso Código de Ética Pro-
to, fiscalização, da aplicação e correção dos
fissional (CFP, 2005).
exames psicológicos realizados por psicólo-
Esclarece-se que o trabalho da(o) Psi-
gos credenciados, responsáveis pela expedi-
cóloga(o) no contexto do porte e da pos-
ção do laudo que ateste a aptidão psicológi-
se de uma arma de fogo no âmbito nacio-
ca para o manuseio de arma de fogo e para
nal teve o seu reconhecimento e se tornou
exercer a profissão de vigilante”.
uma exigência legal a partir de marcos que
O Conselho Federal de Psicologia (CFP)
estabeleceram regras e normas específicas.
se manifestou sobre esta temática por meio
Atualmente, o que deve ser seguido é a lei
da Resolução nº 018/2008, alterada parcial-
nº 10.826/03, denominada Estatuto do De-
mente pela Resolução nº 002/2009: “con-
sarmamento (Brasil, 2003), regulamentada
siderando a necessidade de normatização e
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
5
COLUNA DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
COLUNA DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
qualificação de procedimentos relacionados à prática
em conjunto com as estabelecidas pela Polícia Federal
Para endossar a reflexão sobre esta questão, a Re-
novo contexto colaborando para o desenvolvimento
da avaliação psicológica para a concessão de registro e
para a prestação deste serviço. Desta forma, ressalta-
solução CFP nº 002/2009, que apresenta a alteração da
da nossa profissão, com competência para um fazer
porte de arma de fogo” (Resolução CFP nº 018/2008).
-se que a(o) Psicóloga(o) deste campo de atuação de-
Resolução CFP nº 018/2018, em seu artigo 5º, diz que:
avaliativo responsável, contextualizado e refletindo
Recentemente, a discussão sobre a atuação pro-
verá ter como embasamento os marcos legais, as re-
fissional neste contexto foi retomada pelo CFP, que
soluções específicas e as que embasam o trabalho da
Art. 5º – Aos psicólogos responsáveis pela avaliação psi-
estruturou alguns diálogos e ações conjuntas com a
avaliação psicológica em outros contextos, como, por
cológica fica vedado estabelecer qualquer vínculo com os
Nota-se a busca profissional pela capacitação e
Polícia Federal, objetivando desenvolver característi-
exemplo, a Resolução CFP nº 007/2003.
Centros de Formação de Vigilantes, Empresas de Segu-
aperfeiçoamento técnico neste contexto, o que é fun-
Delimitados os marcos norteadores e primordiais
ção com alta complexidade e risco.
rança Privada, Escolas de Formação ou outras empresas
damental, mas muitas vezes utilizada apenas como “o
Qual a exigência da qualidade técnica nos processos ava-
e instituições públicas que possa gerar conflitos de inte-
necessário” para justificar uma adequada capacitação
liativos para o registro e porte de arma de fogo?
resse em relação aos serviços prestados.
profissional, supervalorizando o uso de testes psico-
cas de boas práticas com vistas a qualificar o trabalho das(os) Psicólogas(os) na avaliação psicológica.
criticamente sobre a execução de processos de avalia-
éticos e legais deste campo de atuação profissional,
lógicos que sequer possuem pesquisas científicas para
algumas questões serão apresentadas para embasar
Em consonância com outros contextos avaliativos,
Neste ponto, há um sinal de alerta para a(o) Psicó-
este contexto específico e que acabam sendo utiliza-
uma reflexão crítica que este artigo se propõe a per-
depara-se, na avaliação psicológica para porte e aqui-
loga(o) credenciada(o) que trabalha em alguma insti-
dos como único recurso para a tomada de decisão so-
petrar sobre alguns aspectos do fazer da avaliação
sição de uma arma de fogo, com a prioridade para o
tuição e tenha a solicitação para realizar este trabalho
bre a aptidão ou inaptidão do sujeito para ter ou portar
psicológica com o tema “arma de fogo”.
aspecto técnico. Contudo, na prática, percebe-se uma
avaliativo, pois ela(e) pode ter vínculo empregatício
uma arma de fogo.
restrição apenas aos testes psicológicos.
com instituições da vigilância/segurança privada, ou
Assim, conclui-se que as(os) Psicólogas(os) que
Se trabalho com avaliação psicológica em outro contex-
A qualidade técnica é fundamental dentro do pro-
de natureza semelhante, exercendo funções variadas,
atuam ou pretendem atuar neste contexto devem
to avaliativo, estou habilitada(o) para realizar processos
cesso avaliativo, mas não pode ser a única dimensão a
mas não é indicado que realize avaliação psicológi-
avançar na sua atuação profissional, para que a ava-
de avaliação psicológica para porte e registro de arma
ser considerada na avaliação psicológica em qualquer
ca para obtenção de porte de armas nos funcionários
liação psicológica possa ir além de uma avaliação de
de fogo?
que seja o contexto. Também não pode ser reduzida
desta instituição, pois, caso realize, estará sujeita(o) a
aptidão, englobando todas as dimensões que susten-
ao uso de testes psicológicos, como os determinados
implicações éticas profissionais.
tam este fazer avaliativo, compreendendo-o como
A lei nº 10.826/03 prevê a necessidade do creden-
pela Instrução Normativa 78, devendo a(o) Psicólo-
ciamento da(o) Psicóloga(o) responsável pela expe-
ga(o) utilizar outros recursos técnicos que compõem
A partir destas questões, acredita-se que a Psicolo-
questões legais, políticas, sociais e econômicas, os
dição do comprovante de aptidão psicológica para o
um verdadeiro e responsável processo de avaliação
gia, por meio da avaliação psicológica, pode contribuir
quais necessitam de um elevado respaldo ético, cien-
manuseio de arma de fogo. Assim, devem ser creden-
psicológica.
e atender à demanda solicitada – a de atuar em um
tífico e técnico.
processos avaliativos complexos, delimitados por
ciadas(os) junto à Polícia Federal as(os) Psicólogas(os) responsáveis pela avaliação dos proprietários de ar-
Quais as implicações éticas do vínculo empregatício da(o)
mas (artigo 5º, parágrafo 2º da lei nº 10.826/03) e dos
Psicóloga(o) credenciada(o)?
vigilantes (artigo 7º, parágrafo 2º da lei nº 10.826/03). Capacitado técnica e eticamente para trabalhar
Depara-se com uma situação delicada eticamente
com avaliação psicológica neste contexto e com o cre-
para a(o) Psicóloga(o) que realiza avaliação psicológica
denciamento efetivado, respeitando as exigências da
para verificar a “aptidão psicológica para o manuseio
Polícia Federal (IN 78, 2014), indica-se que a(o) Psi-
de arma de fogo e para o exercício da profissão de vigi-
cóloga(o) autorizada(o) legalmente continue a capa-
lante”, quando esta(e) profissional possui um víncu-
citação profissional sobre as temáticas relacionadas a
lo empregatício com alguma instituição, seja de segu-
este contexto, seguindo os “Deveres Fundamentais”
rança pública ou privada, pois, de acordo com o nosso
do nosso Código de Ética Profissional.
Código de Ética Profissional:
Quais as diretrizes que norteiam o trabalho da(o) Psicóloga(o) credenciada(o)?
sua essência, as da Psicologia como ciência e profissão, 6
Brasil. Lei Federal 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o Estatuto do Desarmamento. Brasil. Decreto 5.123, de 1o de julho de 2004. Regulamenta a Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, que dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas - SINARM e define crimes. Conselho Federal de Psicologia (2005). Código de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília, DF. CFP.
Art. 2º – Ao psicólogo é vedado: k) Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas quais seus vínculos pessoais ou profissionais, atuais ou
As diretrizes teóricas e legais norteadoras são, na
REFERÊNCIAS:
Departamento da Polícia Federal. (10 de fevereiro de 2014). Instrução Normativa DPF no 78. Brasília, DF.
Conselho Federal de Psicologia (2003). Resolução CFP n° 007/2003. Institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo psicólogo, decorrentes de avaliação psicológica e revoga a Resolução CFP no 17/2002. Brasília, DF. Conselho Federal de Psicologia (2008). Resolução CFP no 018/2008. Dispõe acerca do trabalho do psicólogo na avaliação psicológica para concessão de registro e/ou porte de arma de fogo. Brasília, DF. Conselho Federal de Psicologia (2009). Resolução CFP no 002/2009. Altera a Resolução CFP no 018/2008 e dá outras providências. Brasília, DF.
anteriores, possam afetar a qualidade do trabalho a ser realizado ou a fidelidade aos resultados da avaliação. CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
7
COLUNA POT
COLUNA POT
A hora da virada:
carreira e sucessão REJANE TERESINHA SOZIN GIACCOMINI (CRP-08/02741) Psicóloga e diretora da RTS Consultoria, atua com serviços em Gestão de Pessoas, destacando-se: Assessment, Coaching, Executive Search, Gestão por Competência, Gestão de Performance, Mapeamento de Clima e Cultura, Programa de Sucessão, Programa Trainee e Estagiários, Cargos e Salários, Palestras, Workshops, Treinamentos Indoor e Outdoor, bem como serviços ligados aos subsistemas de Gestão de Pessoas e sua estruturação. A profissional escreveu a convite da Revista Contato.
Programas de carreira e sucessão estão vinculados à es-
2. Após ter sido definido ou revisado a MVV de
com a política, principalmente alinhado às ex-
tratégia da empresa, à missão, visão e valores. Muitas
acordo com o momento da organização e de
pectativas dos candidatos em relação à sua car-
3.
empresas investem em programas soltos ou em temas
mercado, as core business, competências gerais e
reira com o propósito da empresa, inicia-se um
4. Ter uma política salarial;
pontuais, sem visualizar o todo e sim com foco em pro-
as competências específicas devem ser defini-
processo de desenvolvimento dos profissio-
5.
blemas que surgem, sem fazer um diagnóstico ou ter
das juntamente com seus desdobramentos, os
nais, com foco no objetivo da posição a ser ocu-
um programa estruturado com foco no negócio.
quais chamaremos de taxonomias, que servirão
pada dentro do processo sucessório, no presen-
Para que se possa implantar um programa destes é
de parâmetro para os subsistemas de gestão de
te e no futuro do negócio da empresa;
necessário que haja quebras de paradigmas, ou seja, ter
talentos, como R&S e T&D. É claro que uma des-
6. Ressalta-se que, na etapa em que o profissio-
ganizacional e do Trabalho neste processo, para chegar
políticas claras e não privilegiar profissionais que te-
crição de cargos após esta etapa deve ser reali-
nal ocupar a posição, este deverá ter um men-
a ser identificado como um talento, deve-se ter ciência
nham muito tempo de casa, ou que possuam um vín-
zada, pois também terá um papel importante no
tor interno e um coach, que pode ser interno ou
que ele é o próprio protagonista de sua carreira. Defini-
culo de relacionamento forte, mas não dão resultados,
programa e na trilha de carreira;
externo (o externo é mais recomendável, pois
do o que se deseja para o futuro, o próximo passo é con-
não cair no descrédito; Verificar o momento da empresa e do mercado; Ter acompanhamento durante um período a ser definido pela empresa. Falando do papel da(o) profissional Psicóloga(o) Or-
Pronta a etapa anterior, faz-se uma avaliação da
aos olhos do coachee parece ser mais isento da
seguir avaliar a sua potencialidade, os gaps e o que tem
to, cada vez mais percebe-se a importância de se atuar
performance do colaborador, a qual envolve as
realidade em que ele vive).
como competência elevada. Uma ferramenta já citada é o
de forma justa e igualitária, o que imprime um selo de
competências e os indicadores de metas estabe-
credibilidade à empresa.
lecidas no planejamento estratégico;
algo muito comum em empresas familiares. Entretan-
Vamos citar aqui algumas etapas do processo:
3.
4. Com os resultados, monta-se a árvore sucessória,
assessment, em que se alinha com as perspectivas de car
Quando implantamos um programa destes,
temos que ter alguns cuidados como:
O objetivo do programa deve estar muito claro,
cesso podemos incluir outras ferramentas como:
para que se sustente e se consiga implemen-
assessment, entrevistas, permanência temporária on the job, experiência, formação e currículo;
tar em sua íntegra, bem como o CEO deve ser o sponsor do projeto;
8
5.
Identificados os candidatos elegíveis de acordo
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
jado, possibilitando fazer um plano desenvolvimento. Falamos um pouco do processo, dos cuidados
de pelo menos três candidatos. Ainda neste pro1.
reira e com as respectivas competências do cargo alme-
1.
Divulgar o programa a todos, inclusive por
da organização, do próprio indivíduo e ferramen-
mostrar-se um impulsionador no quesito
tas que podem auxiliar neste processo, então cabe ao
engajamento;
CEO a decisão de implementar este programa em sua
2. Alimentar o programa incessantemente, para
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
organização!
9
COF ORIENTA
COF ORIENTA
Cancelamento de registro profissional e lacre de materiais privativos: quando e como fazer?
o objetivo de:
Conselho Regional de Psicologia fará as ano-
a.
diagnóstico psicológico;
tações no prontuário do psicólogo.
b.
orientação e seleção profissional;
Art. 36 – As pessoas jurídicas registradas ou ca-
c.
orientação psicopedagógica;
dastradas deverão ter pelo menos um respon-
d.
solução de problemas de ajustamento.
sável técnico por agência, filial ou sucursal.
2. Dirigir serviços de Psicologia em órgãos e
3.
estabelecimentos públicos, autárquicos, pa-
§ 1º – Entende-se como responsável técnico
raestatais, de economia mista e particulares.
aquele psicólogo que se responsabiliza perante o
Ensinar as cadeiras ou disciplinas de Psico-
Conselho Regional de Psicologia para atuar como
logia nos vários níveis de ensino, observadas
tal, obrigando-se a:
as demais exigências da legislação em vigor. 4. Supervisionar profissionais e alunos em tra-
Comissão de Orientação e Fiscalização 5.
Luana Oshiyama Barros (CRP-08/18380) Orientadora Fiscal
I.
acompanhar os serviços prestados;
II. zelar pelo cumprimento das disposi-
balhos teóricos e práticos de Psicologia.
ções legais e éticas, pela qualidade dos
Assessorar, tecnicamente, órgãos e estabe-
serviços e pela guarda do material uti-
lecimentos públicos, autárquicos, paraesta-
lizado, adequação física e qualidade do
tais, de economia mista e particulares.
ambiente de trabalho utilizado;
6. Realizar perícias e emitir pareceres sobre a matéria de Psicologia.
III. comunicar ao Conselho Regional o seu desligamento da função ou o seu afastamento da pessoa jurídica...
A Resolução CFP nº 003/2007 informa que:
O Conselho Regional de Psicologia do Para-
assim, na época, recebi o boleto referente à anuida-
ná (CRP-PR) enviou às(os) Psicólogas(os) ati-
de de 2014. Além disso, encerro esta semana o meu
vas(os) nesta jurisdição o boleto referente à
aviso prévio e gostaria de orientações a respeito da
anuidade de 2016. O pagamento da anuidade
destinação do material privativo”.
é um dever das(os) Psicólogas(os) e mantém o Sistema Conselhos no desempenho de suas
Para a orientação do caso, devemos recorrer
funções de orientar, disciplinar e fiscalizar o
à legislação pertinente, primeiramente a res-
exercício da profissão, bem como zelar pela fiel
peito da questão do registro profissional e da
observância dos princípios da ética e disciplina
anuidade. A lei nº 5.766/71, que cria os Conse-
da classe, conforme dispõe a lei nº 5766/1971.
lhos de Psicologia, diz que:
Art. 11 – O psicólogo poderá requerer o cancela-
A Resolução CRP-08 nº 002/2015, que regula-
mento da sua inscrição, desde que:
menta o fluxo interno dos procedimentos téc-
I.
não esteja respondendo a processo
nico-administrativos dos documentos a serem
ético;
apresentados quando do pedido de cancela-
II. não esteja exercendo a profissão de
mento de registro de Pessoa Física, propõe:
psicólogo. Art. 2º – O(A) Psicólogo(a) formalizará sua soParágrafo único – A anuidade do ano em cur-
licitação de cancelamento de registro profissio-
so será cobrada proporcionalmente tendo como
nal de Psicólogo, preenchendo formulário pró-
base o mês em que foi feito o requerimento, sen-
prio e termo de compromisso.
do este excluído do cálculo.
A Comissão de Orientação e Fiscalização (COF) e o setor administrativo-financeiro têm
Art. 10 – Todo profissional de Psicologia, para
recebido diversas dúvidas a respeito da anuida-
o exercício da profissão, deverá inscrever-se no
de e do exercício profissional. A fim de ilustrar,
Conselho Regional de sua área de ação.
apresentaremos a seguir um caso fictício, se-
guido da orientação:
O Decreto nº 53.464/64, que regulamenta a lei nº 4.119/62 (que dispõe sobre a Profissão de Psi-
“Tenho registro ativo no CRP-PR, mas não atua-
cólogo), por sua vez, coloca como atribuições
rei mais em 2016, pois recentemente pedi demissão
da(o) Psicóloga(o):
Art. 3º – A solicitação será recebida pelo seArt. 12 – O pedido de cancelamento será acom-
tor administrativo, acompanhada da carteira de
panhado da carteira de identidade profissional.
identidade profissional.
§ 1º – A Secretaria do Conselho Regional
Parágrafo Único: No caso da não apresentação
de Psicologia instruirá o processo com as
da carteira de identidade profissional, por mo-
informações exigidas no art. 11, bem como
tivo de perda, roubo ou extravio, a(o) profissio-
outras que entender necessárias.
nal deverá apresentar o Boletim de Ocorrência
§ 2º – Será designado relator para proferir
(B.O). (negrito nosso)
parecer sobre o processo, devendo ser sub-
da empresa em que trabalhei durante o ano de 2015
10
(negrito nosso)
como Psicóloga Organizacional. Em 2014, tinha a
Art. 4º – São funções do psicólogo:
inscrição ativa, mas não estava atuando. Mesmo
1.
Utilizar métodos e técnicas psicológicas com CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
metido ao julgamento do Plenário.
A Resolução CRP-08 nº 004/2014 regula-
§ 3º – Deferido o pedido, a Secretaria do
menta o fluxo interno dos procedimentos
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
11
COF ORIENTA
COF ORIENTA
haver atuação ou divulgação como Psicóloga(o),
dos de cancelamentos de registro indeferidos
para que não seja caracterizado exercício ilegal
As(Os) profissionais que protocolarem pedi-
em primeira instância e expõe:
da profissão. Havendo interesse em retornar à
dos até o dia 31 de março de 2016, em caso de
atividade, a(o) profissional deve solicitar a re-
deferimento, terão direito a isenção da anui-
Retomando o exemplo, caso haja outra(o)
Art. 6º – A decisão fundamentada do deferi-
ativação de seu registro, aguardando o trâmite
dade de 2016. Após esta data, o valor será
Psicóloga(o) que trabalhe na empresa e que pos-
mento ou de indeferimento do pedido de can-
para tal, e só então voltar a atuar ou divulgar-se.
proporcional.
sa se responsabilizar pela guarda do material,
celamento é informada ao psicólogo, via ofício, pelo setor administrativo deste CRP-PR.
no caso de correspondências.
Conselho Regional de Psicologia, que providen-
técnico-administrativos para revisão de pedi-
ciará a destinação dos arquivos confidenciais.
Para solicitar cancelamento, é necessá-
A respeito de lacre de material privativo de
este pode ser entregue aos seus cuidados. Caso
rio formalizar requerimento, comparecendo a
uso da(o) Psicóloga(o), o procedimento é abor-
contrário, o material deve ser lacrado pela(o)
uma das sedes do CRP-PR (Curitiba, Londrina,
dado na Resolução CFP nº 010/2005:
Psicóloga(o) que está se desligando da empresa,
Art. 7º – No caso de indeferimento e interesse em
Maringá ou Cascavel), ou mesmo preenchen-
revertê-lo, o profissional solicitará a(o) Conse-
do, imprimindo e assinando o requerimento e
Art. 15 – Em caso de interrupção do trabalho do
vel no local. Neste caso, deve-se solicitar à COF
lheira(o) Presidente a revisão da decisão.
o Termo de Compromisso disponíveis no site
psicólogo, por quaisquer motivos, ele deverá ze-
o Termo de Lacre, que será preenchido e assina-
e enviando-os por correspondência a uma das
lar pelo destino dos seus arquivos confidenciais.
do, informando onde está o material, quem é o
Art. 11 – A decisão deverá ser encaminhada à
sedes. O pedido de cancelamento deverá ser
§ 1° – Em caso de demissão ou exoneração, o
responsável pela guarda, o que esta lacrado, etc.
parte interessada, via ofício, assinado pela(o)
acompanhado da Carteira de Identidade Pro-
psicólogo deverá repassar todo o material ao psi-
Este termo deve ser preenchido em 3 (três) vias
Conselheira(o) Presidente.
fissional (CIP) ou do Boletim de Ocorrência (em
cólogo que vier a substituí-lo, ou lacrá-lo para
e uma deverá ser encaminhada ao CRP-PR, aos
caso de perda, extravio ou roubo da CIP).
posterior utilização pelo psicólogo substituto.
cuidados da COF.
deixando o conteúdo lacrado com um responsá-
Art. 12 – Da decisão da diretoria deste CRP-PR,
Cabe informar que, a partir da solicitação,
§ 2° – Em caso de extinção do serviço de Psi-
caberá recurso ao Conselho Federal de Psicolo-
será instruído processo e, durante a análise do
cologia, o psicólogo responsável informará ao
gia, no prazo de trinta dias, a contar da ciência
pedido, podem ser requisitados documentos
da decisão Regional. (negrito nosso)
comprobatórios ou informações a respeito da
Em caso de dúvidas, a COF se coloca à disposição.
não atuação, sendo possível o deferimento ou O Decreto-Lei nº 3.688/41 (Lei das Contravenções Penais) diz que:
indeferimento do pedido. Não havendo solicitação de cancelamento formal ao CRP-PR, entende-se que a(o) profis-
Art. 47 – Exercer profissão ou atividade econô-
sional esteja atuando ou ao menos habilitada(o)
mica ou anunciar que a exerce, sem preencher
para a atuação, portanto a cobrança da anuidade
as condições a que por lei está subordinado o seu
é gerada normalmente.
exercício: Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa...
No caso ilustrado, a profissional não fez solicitação de cancelamento em 2014, portanto entende-se que a anuidade daquele ano é perti-
12
Desta forma, caso não esteja exercendo fun-
nente. No entanto, como informa que não atu-
ções privativas da Psicologia, bem como de-
ará em 2016, deve fazer a solicitação formal de
mais funções que, embora não privativas, são
cancelamento ao CRP-PR, seguindo o procedi-
de competência da(o) Psicóloga(o) (como ativi-
mento já exposto, e aguardar o ofício informan-
dades em áreas de interface da Psicologia com
do sobre a decisão. Em caso de indeferimento,
outras ciências), não seja responsável técnico
é possível fazer a solicitação de revisão da de-
de pessoa jurídica ou não esteja respondendo a
cisão, dentro do prazo especificado no ofício.
processo ético, o cancelamento do registro pro-
Em caso de deferimento, o registro será consi-
fissional/inscrição poderá ser solicitado.
derado cancelado a partir da data de entrega do
É importante ressaltar que, estando com o
documento, caso tenha sido entregue pessoal-
registro cancelado junto ao Conselho, não deve
mente, ou da data do recebimento pelo CRP-PR, CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
13
COLUNA ÉTICA
COLUNA ÉTICA
A atuação das(os) colaboradoras(es) na COE Conhecer e participar das atividades administrativas do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) são experiências bastante singulares e propiciam olhar a profissão de uma perspectiva da qual não estamos habituadas(os). A Comissão de Ética (COE) do CRP-PR é um lugar de contato direto com a categoria e com a sociedade – ao mesmo tempo, na mesma intensidade – numa situação de conflito. Essa experiência não se explica, vive-se. Por isso, convidamos as(os) Psicólogas(os) colaboradoras(es) da COE que atuam nas Comissões de Instrução dos Processo Disciplinares Éticos em trâmite no Paraná para compartilharem suas vivências. Estas(es) profissionais qualificam, a partir de suas especialidades, as oitivas das pessoas envolvidas e contribuem para fomentar a autorreflexão acerca do exercício profissional e, sempre que possível, construir entendimento sobre as relações estabelecidas nos contextos de atuação.
Participar como membro colaboradora da Comissão de Instrução da COE é muito gratificante e tem sido um exercício de aprendizado consA experiência de participar das Oitivas de Ins-
tante. Entender como funciona todo o processo
trução da Comissão de Orientação e Ética do CR-
que envolve a violação do Código de Ética e suas
P-PR me proporcionou vários ganhos, pesso-
possíveis consequências leva-nos a redobrar os
ais e profissionais. Observar a prática de outros
cuidados com o nosso trabalho, fazendo com
Psicólogos e as consequências de suas ações na
que a comunicação com o cliente/paciente seja
sociedade, mantendo a neutralidade suficien-
mais clara, e nos direciona para uma constante
te para esclarecer os fatos sem julgar, fez com
vigilância dos nossos atos. O intuito educativo
que houvesse uma ampliação do meu olhar téc-
e não punitivo com relação ao profissional que
nico sobre o trabalho que exerço. A formalidade
passa por um processo ético foi uma das melho-
do ambiente mostra a dimensão da importân-
res surpresas que tive ao vivenciar mais o traba-
cia dessa atividade tão pouco conhecida no nos-
lho da COE.
so meio, mas necessária para melhorar a nosParticipar como membro colaborador da Comissão de Instrução da COE tem sido uma óti-
ética, dialógica, pedagógica e não punitivista no exercício da fiscalização. Tem sido uma experiência muito valiosa. Psicólogo César Fernandes (CRP-08/16715)
Psicóloga Mauren Carneiro da Silva Rubert
possibilidade de crescimento intelectual, pois
(CRP-08/08715)
nos deparamos com a necessidade de aprofun-
ma oportunidade de contribuir, junto com outros Psicólogos, para a consolidação de uma dimensão
sa categoria. Concomitante a isso, visualizo a
damento teórico-técnico a cada participação, e Ao atuar na Comissão de Instrução, há uma ne-
assim, enquanto colaboramos com a COE, aper-
cessidade de olhar para o trabalho do outro pro-
feiçoamos o desenvolvimento da Ética e da con-
Participar como colaboradora da Comissão de Ins-
fissional com muita empatia para que se possa
duta profissional. Alguns profissionais vão para
trução da COE com certeza é enriquecedor tanto
ter um olhar diferente sobre aquela situação que
o mercado de trabalho e não se dedicam mais a
pela aproximação com o Conselho e com o Códi-
está sendo avaliada como problema. Precisa-se
buscar os avanços da profissão e tal fato fica evi-
go de Ética – que baliza a atuação do profissional
analisar o material que foi enviado com o máxi-
dente nas Oitivas de que participei, portanto de-
Psicólogo –, quanto pela possibilidade de pensar
mo de cuidado possível, de fato, auxiliar no pro-
monstra a relevância de atualização profissional
a atuação profissional diária, no meu caso, dentro
cesso de análise do que precisa ser feito a partir
constante. Tornei-me muito mais criteriosa no
do consultório. Atualmente, enquanto Assessora
do processo que se instaurou e precisa ser ava-
trabalho que exerço a partir dessa experiência e
Técnica da COE, percebo a importância de estar-
Participar das Comissões de Instrução me traz uma
liado. Para mim, fez que com que me tornasse
me sinto agradecida pela oportunidade de poder
mos atentos ao que diz nossa legislação e realizar-
profunda reflexão sobre a responsabilidade e a
mais cautelosa em algumas ações no meu fazer
expressar isso.
mos um trabalho pautado sempre na ética. O que a
complexa natureza do trabalho do Psicólogo. Assim
da Psicologia, como, por exemplo, sempre que
como o cuidado que se deve ter nas intervenções,
algo é proposto, perguntar o que a pessoa sen-
Psicóloga Jane Carmem da Silva Machado
a profissão, visto que busca principalmente aco-
orientações e elaborações de documentos, sem-
tiu ou compreendeu, para diminuir ainda mais os
(CRP-08/11896)
lher e dialogar com os Psicólogos que venham a
pre pautados nos conhecimentos técnicos e cien-
possíveis ruídos da comunicação. Para mim tem
tíficos, a fiscalização por parte da sociedade e dos
sido uma experiência de maior desenvolvimento
órgãos responsáveis são essenciais para o fortale-
pessoal e profissional.
COE tem realizado é de extrema importância para
responder por alguma falta ética. Psicóloga Claudia Beninca (CRP-08/14773)
cimento da profissão como um todo. Acredito que mais profissionais deveriam passar por esta expe-
Psicóloga Ana Lucia Ivatiuk (CRP-08/07292)
riência construtiva e agregadora. Psicóloga Bianca Louise Lemes (CRP-08/12093) CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
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CAPA
CAPA
Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil
MEDO: construções e usos sociais Ellen Nemitz
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Em uma noite de sexta-feira, 13 de novembro de 2015, mais
despercebida. “Os meios de comunicação hoje em dia fa-
de 140 pessoas foram mortas por terroristas nas ruas, ba-
zem com que os fatos sejam muito explorados. Assim, um
res e restaurantes de Paris. O mundo parou, indignado,
acontecimento que pode não ter um impacto tão grande na
para assistir às cenas de horror na cidade europeia, e a
vida dos brasileiros passa a ter uma enorme importância,
vida na capital francesa mudou. Policiais cercando a cida-
enquanto que aquilo que está acontecendo em nosso dia a
de nos dias que se seguiram aos ataques já indicavam que
dia não ‘existe’, entre aspas, porque não é noticiado. Há
algo tinha mudado: o medo havia tomado conta da popula-
medos onde não há perigo e há perigo onde não há medos”,
ção. Medo de sair de casa, de caminhar pelas ruas, de sair à
diz a Psicóloga Marilza Mestre (CRP-08/00777), que atende
noite. Aqui no Brasil, as redes sociais se coloriram de azul,
pacientes com medo, fobia, pânico, depressão e ansiedade
vermelho e branco, as cores da bandeira da França. Milha-
em seu consultório.
res de brasileiros se sensibilizaram, enquanto outros tan-
No Brasil, o perigo existe e é mais real para os negros e
tos tentavam contato com familiares e amigos que estavam
jovens: as estatísticas mostram que, das 39.686 vítimas de
naquele país.
arma de fogo em 2012, 28.946 eram negros e metade tinha
No entanto, enquanto os olhos do mundo se voltam à
entre 18 e 29 anos. Em entrevista ao Portal Empresa Bra-
Europa e aos dramas vividos em virtude do terrorismo, da-
sil de Comunicação, o autor do relatório, Julio Jacobo Wa-
dos do Mapa da Violência 2015 revelam que cinco pesso-
iselfisz, atribui esta diferença à falta de políticas públicas
as morrem a cada hora no Brasil vítimas de arma de fogo.
voltadas às áreas mais pobres, o que faz com que bairros da
Todos os dias, existe uma tragédia igual a de Paris acon-
periferia tenham menos policiamento e sejam alvos fáceis
tecendo bem perto de nós, mas muitas vezes ela passa
dos criminosos, além do acesso restrito à educação. Sem
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CAPA
CAPA
perspectivas de futuro, os jovens ficam à mercê do tráfico
representações sociais nos traz é a noção de identidade
de drogas e correm o risco de morrerem em virtude de ba-
de espaço que nos leva a negar a violência. Uma pesquisa
Este processo de negação da violência e da sensação de
las perdidas, da violência das facções e da própria polícia.
com moradores de Alvorada e São Leopoldo, ambos mu-
imunidade é muito visível na própria Paris pós-ataques.
Mas, aparentemente, a morte destas pessoas não gera
nicípios do Rio Grande do Sul, mostrou que os adultos
Alguns grupos chegaram a pedir que a sociedade não ti-
Isso acontece, principalmente, nas comunidades mais
a mesma comoção que o assassinato em massa na França.
tendiam a não identificar a violência como algo próprio
vesse medo, pois isto seria a vitória dos terroristas. Nas
pobres. Nestas localidades, encontramos uma realidade
Por quê? Uma das razões é justamente a exposta pela Psi-
de suas cidades, mas sim global. Isso porque eles têm
ruas da cidade, este parece ser o sentimento, já que turis-
de segregação e exclusão social que alimenta a formação
cóloga Marilza: as mortes no Brasil, já cotidianas, não são
uma relação social e cultural com o meio em que vivem e
tas continuam passeando e moradores não mudaram a sua
de “soldados” para uma guerra civil que acontece todos os
noticiadas diariamente – ainda mais quando quem morre
não querem estigmatizá-lo como violento.
rotina. A curitibana Jessica Maris Maciel, de 25 anos, com-
dias em nosso país. Destituídos de esperanças de um futu-
Já Neuza Corassa (CRP-08/04844), Psicóloga de um
prou as passagens para passar a virada do ano em Paris
ro melhor, crianças e jovens são cooptados pelo crime or-
é negro e pobre –, enquanto um atentado terrorista ganha uma cobertura intensiva.
acontece com os outros, e não comigo).
trabalhadores precisem pagar “impostos” aos criminosos para poder viver no local, sendo que a desobediência pode custar a vida.
centro especializado em medos, lembra que as pessoas
depois dos atentados, e em nada se intimidou com o que
ganizado aqui da mesma forma que aqueles que se unem
A Psicóloga e Psicanalista Vania Regina Mercer (CRP-
tendem a se espelhar em quem está em uma situação so-
houve. Para justificar o comportamento, ela repete a má-
ao Estado Islâmico. Com a promessa de dinheiro e poder,
08/00508) destaca também que o mal e o perigo tendem a
cial e financeira melhor que elas, e não em alguém sofrido
xima. “Não podemos dar esta vitória aos terroristas. Todo
milhares de vidas se perdem antes mesmo de seus donos
ser banalizados com o passar do tempo. “É como um pe-
e pobre. Assim, a classe média não se reconhece na perife-
mundo aqui está levando uma vida normal”, diz ela.
saberem o que queriam fazer delas.
dreiro que vai todos os dias trabalhar mesmo sabendo dos
ria. Prefere se comparar à classe alta, aos mais ricos, sen-
Negar a violência como se ela não existisse ou o esque-
Rendidos diante desta realidade de extrema violência,
riscos que uma obra gera para a sua segurança. Como ele
do que uma tragédia envolvendo europeus choca mais do
cê-la forçadamente – como é o caso dos parisienses – faz
a população se fecha em condomínios e carros com os vi-
precisa trabalhar, acaba “encarando” o medo e executa o
que a tragédia diária envolvendo brasileiros. Este compor-
parte de um mecanismo de defesa psicológica de algo con-
dros fechados. Com medo, tornam-se vítimas de políti-
serviço”. Algo parecido acontece em nossas vidas: o pe-
tamento é reflexo da estrutura social em que vivemos: as
tra o que não se pode lutar.
cos que incutem em suas mentes soluções fáceis para a
rigo que a violência representa para a nossa segurança é
pessoas mais pobres não são vistas como iguais, mas sim
real e nós sabemos disso, mas ele é banalizado e deixa de
como uma ameaça que precisa ser mantida longe.
violência: ora, se os grupos do crime organizado cooptam O medo como instrumento de poder
jovens menores de idade para as ações, por que não pren-
Mais que isso, o outro deixa de ter importância a par-
Infligir medo nas pessoas é uma forma de manter o
demos estes jovens? Assim, políticos nada preocupados
Além disso, o fenômeno da “desterritorialização da vio-
tir do momento em que a individualidade se torna um
poder sobre elas. A violência é o instrumento escolhido
com as verdadeiras causas da violência – pobreza, caos na
lência” faz com ela seja vista como algo maior, além das
valor exaltado pela nossa sociedade. Vivendo cada um
por grupos que querem conquistar ou se manter no poder,
saúde e na educação, falta de mínimas condições dignas
fronteiras. Sendo algo tão amplo e incontrolável, as pessoas
por si, os laços de solidariedade que unem as pessoas se
como é a caso de ditaduras e, mais atual do que nunca, do
de moradia, etc. – agem de forma a manipular o medo da
optam por encará-la como algo que não interfere em suas
soltam e o objetivo passa a ser conquistar a sua própria
grupo Estado Islâmico. Através destes mecanismos – se-
população para tentar implementar medidas que só re-
vidas cotidianas. Quando acontece um fato extraordinário,
sobrevivência, não importando se o outro é vítima da
questros, assassinatos e torturas – atinge-se um alto grau
solverão os problemas deles próprios, escondendo a su-
como um atentado terrorista, temos medo porque perde-
violência. No momento em que muitas pessoas são mor-
de controle social.
jeira por trás de uma falsa produtividade enquanto depu-
mos o controle sobre a situação e não sabemos de onde vem
tas em um ato extremo de violência terrorista e a mídia
O medo é, portanto, manipulável. Assim como se in-
a ameaça. É como se o ato de violência extrema pudesse
se apropria disso para vender notícias sensacionalistas,
flige medo por meio de atos terroristas, extingue-se este
acontecer novamente e em qualquer lugar.
as pessoas até se comovem, mas mantêm a distância
sentimento em prol de uma causa. É o caso dos próprios
territorial (aconteceu “lá na França”) e pessoal (isso só
integrantes do Estado Islâmico. Para conseguir recrutas
incomodar tanto.
Outra característica interessante que o estudo das
dispostos a dar a própria vida à causa terrorista, o medo da morte é aniquilado em nome de uma esperança de algo melhor por vir depois dela. Assim, pessoas de bem são manipuladas e cooptadas por um sistema extremamente intrincado e poderoso. Mas não é apenas na Europa, nos Estados Unidos e no Oriente Médio que o medo é utilizado como meio de controle social. No Brasil, grupos e facções criminosas utilizam largamente a violência para se estabelecerem em posições de status social e financeiro. A partir do momento em que conseguem se impor sobre determinada comunidade, passam a ter todo o poder sobre ela –
tados e senadores.
REFERÊNCIAS PIMENTA, Melissa de Mattos. Relações de poder e controle social em áreas de grande exposição à violência. Civitas, Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 84-104, jan.-mar. 2015. GAVIRIA, Margarita Rosa. Controle social expresso em representações sociais de violência, insegurança e medo. Sociologias, Porto Alegre, ano 10, no 20, p. 72/107, jul.- dez. 2008. BRASIL, Subjetividade e Violência: a produção do medo e da insegurança. Estados Gerais da Psicanálise: Segundo Encontro Mundial, Rio de Janeiro, 2003.
nas comunidades carentes, por exemplo, é comum que
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CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4 Foto: Hadrian / Shutterstock.com
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M A T É R I A P S I CO L O G I A A M B I E N TA L
Foto: www.brasil247.com
MATÁ É R I A P S I CO L O G I A A M B I E N TA L
Emergências e desastres a psicologia pode ajudar a superar o sofrimento Ellen Nemitz
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No ano de 2015, protagonizamos muitas tragé-
A fauna e flora local foram extintas, as ativida-
Ambiental é uma área recente da Psicologia que
desastres, os Psicólogos vão aos municípios afe-
dias ambientais. O avanço das mudanças climáti-
des econômicas que dependiam do Rio Doce para
investiga a inter-relação entre a pessoa e o am-
tados enquanto voluntários para auxiliar no cui-
cas vem causando tempestades, enchentes e se-
existir morreram, e alguns moradores da região
biente. A atuação do Psicólogo deve-se voltar à
dado em saúde mental, no entanto, como não
cas em diversas cidades brasileiras, e até mesmo
perderam suas vidas.
gestão integral do risco, ou seja, desde a preven-
sabem como podem atuar nesse cenário, acabam
tornados foram registrados no Paraná e em Santa
Os danos, que levarão ainda muito tempo para
ção até a recuperação do desastre”, explica Ro-
produzindo uma patologização dos afetados”,
Catarina. Mas a maior tragédia a que o país assis-
serem revertidos, segundo especialistas, afetam
berta Borghetti Alves, Psicóloga e doutoranda
conta Roberta.
tiu não foi natural. Quando uma empresa de mi-
a saúde psicológica de quem vive no entorno ou
pela Universidade Federal de Santa Catarina.
neração deixou de cumprir sua obrigação na pre-
é, de uma alguma maneira, afetado pela tragédia.
No entanto, ainda que seja de extrema impor-
tuações é apontada como uma falha na formação
servação do meio ambiente, ignorando as normas
Neste contexto, o trabalho da Psicologia pode ser
tância no auxílio às vítimas, a(o) Psicóloga(o) não
profissional pelas Psicólogas Amanda Eduarda de
de segurança que devem ser seguidas na ativida-
extremamente importante para ajudar no resta-
encontra facilidade para trabalhar em contex-
Souza e Silva (CRP-08/20798) e Ana Paula Fer-
de extrativista, toda uma comunidade foi afetada.
belecimento da vida destas pessoas. “A Psicologia
tos de desastres. “Percebo que, em situações de
nandez de Abreu (CRP-08/09118), ambas de Foz
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CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
A falta de treinamento para atuar nestas si-
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M A T É R I A P S I CO L O G I A A M B I E N TA L
nesta instituição e eles conseguem realizar um trabalho
de cada um e dar os primeiros atendimentos, bem como
articulado com o SUS e o SUAS”.
indicar a terapia em grupo para aqueles que realmente
A atuação da Psicologia deveria, então, acontecer em
demonstrarem problemas psicossociais e psicológicos.
diversas etapas. Na primeira fase, antes da ocorrência da
Na última fase de atuação, já depois de ocorrido o de-
tragédia, uma série de ações podem ser feitas, como trei-
sastre, é preciso fazer o levantamento dos impactos psi-
namento das equipes, construção de planos de emergên-
cológicos de todas as pessoas envolvidas, tanto as vítimas
cia e conhecimento da realidade de cada região. A Psicolo-
como o pessoal das equipes de socorro. “Em Mariana, por
gia tem a função de construir comunidades mais seguras e
exemplo, onde a tragédia impactou inclusive no sustento
capazes de criar redes de apoio para enfrentar os desastres
financeiro das famílias, será preciso buscar o fortaleci-
naturais. A(O) Psicóloga(o) deve prestar atenção às rela-
mento dessa comunidade atingida, por meio da constru-
ções pessoais do sujeito (família, escola e vizinhos, por
ção de associações e cooperativas”, opina Roberta.
exemplo), além das características da comunidade e da ci-
E a mudança de paradigma com relação à atuação
dade. É importante também promover ações de educação
da(o) Psicóloga(o) em situações de desastres deve come-
comunitária, com o fortalecimento das pessoas e comuni-
çar a partir das(os) próprias(os) profissionais. “Ressalto
dades na inserção em políticas públicas.
a necessidade de profissionais e estudantes de Psicologia
Já no momento do desastre, a atuação se dá mais es-
participarem das Conferências Municipais da Defesa Civil
pecificamente junto à população atingida e em situação
para que possamos levar essa pauta para conseguir a in-
de vulnerabilidade. Este é um trabalho que exige bastante
serção do Psicólogo na Defesa Civil”, conclama a Psicólo-
da(o) Psicóloga(o), pois é preciso entender a necessidade
ga catarinense.
Foto: http://memoria.ebc.com.br
do Iguaçu/PR. As duas profissionais participaram de uma
e, portanto, pede técnicas específicas, lembrando que o
oficina promovida em dezembro de 2015 pelo Conselho
atendimento precisa ser rápido e eficiente para aliviar a
Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) e disseram que
dor das pessoas que estão sofrendo”.
o assunto não é tema das aulas na universidade, fazendo
No entanto, não é apenas a falta de profissionais qua-
com que as(os) Psicólogas(os) não tenham conhecimen-
lificados que impede um melhor atendimento psicológico
tos para atuar na área de emergências e desastres.
às vítimas. “Em algumas cidades, quem realiza o acolhi-
A grande procura pela oficina em Foz do Iguaçu, que
mento nessas situações de emergências são profissionais
foi ministrada pela Psicóloga da organização Médicos
de saúde mental do SUS [Sistema Único de Saúde] da rede
Sem Fronteiras, Vanessa Monteiro Cardoso, mostrou que
municipal e o SUAS [Sistema Único de Assistência So-
interesse pela área não falta. “Assim que soube por uma
cial] auxilia no cadastro dos afetados e nos abrigamen-
amiga me inscrevi, porque o assunto interessa muito.
tos”, explica a doutoranda Roberta Borghetti Alves. Para
Principalmente depois da chuva de granizo que devas-
ela, o ideal seria que as(os) Psicólogas(os) tivessem mais
tou bairros aqui de Foz, algo que nunca tinha aconteci-
espaço de trabalho, inclusive na equipe da Defesa Civil.
do, os colegas Psicólogos queriam ajudar, mas não sa-
Segundo a pesquisadora, esta inserção é necessária para
biam como”, conta Amanda. A colega de profissão Ana
que, em conjunto, o órgão possa realizar a articulação en-
Paula concorda que, para ajudar, é preciso saber técnicas
tre as políticas públicas, não focando sua atuação somente
específicas. “Muitas vezes nos acostumamos com o aten-
na ocorrência do desastre em si, mas também na preven-
dimento clínico e queremos levar isso para a situação de
ção, mitigação, preparação, resposta e recuperação do de-
emergências e desastres. Mas este contexto é diferente
sastre. “Em Recife, por exemplo, há Psicólogos inseridos
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Foto: www.rs.gov.br
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RELATO DE EXPERIÊNCIA
RELATO DE EXPERIÊNCIA
“Se posso proporcionar um certo tipo de relação, o outro descobrirá dentro de si mesmo a capacidade de utilizar aquela relação para crescer, e mudança e desenvolvimento pessoal ocorrerão”. Carl Rogers
Atendimento psicológico às mulheres presas KARINE BELMONT CHAVES (CRP-08/09262) é colaboradora da Comissão Setorial do CRP-PR no Extremo-Oeste. Psicóloga formada pela Universidade do Sagrado Coração (USC), especialista em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). É professora de Psicologia Jurídica e atua também com perícias psicológicas. A profissional escreveu a convite da Revista Contato.
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CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
A Psicologia no sistema penitenciário do Paraná
atendimentos individuais, quando possíveis
O Paraná tem cerca de 30 Psicólogas(os) distri-
dentre tantas atividades que necessitam ser or-
buídas(os) em aproximadamente 35 unidades
ganizadas com poucos agentes penitenciários.
penais, com quase 30 mil presos. Mesmo com
O setting terapêutico não é o sugerido pelos li-
um cenário preocupante – inúmeras rebeliões
vros, sendo que a sala não é a idealizada e a es-
em anos recentes e forte influência do crime or-
cuta, o sigilo e a confidenciabilidade não acon-
ganizado, o que gera limitações e dificuldades –,
tecem dentro da ética de formação e atuação
as(os) profissionais continuam exercendo ativi-
sugerida. O trabalho, por vezes, acontece com
dades da desafiadora Psicologia Jurídica. Além
um agente penitenciário acompanhando de per-
das atividades periciais (como o polêmico exa-
to. A escuta, portanto, muitas vezes é compro-
me criminológico), exercem a Psicologia Clíni-
metida e há a tensão própria do sistema peni-
ca, que inclui entrevistas, avaliações, laudos e
tenciário e do sistema de justiça em si.
pareceres, bem como atendimento psicológico
Na prática não se consegue a classificação e
individual e em grupo. Com a falta de estrutura
individualização da pena sugeridas pela Lei de
física e recursos humanos, os atendimentos em
Execução Penal (lei nº 7210/84), por meio da
grupo se tornaram extremamente raros (além de
qual talvez fosse possível separar os que ne-
um risco em virtude do grande número de pes-
cessitam de restrição de convívio social daque-
soas presas em movimentação com poucos fun-
les que poderiam estar sendo beneficiados por
cionários disponíveis para controle). Restam
atividades como estudo e profissionalização,
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RELATO DE EXPERIÊNCIA
RELATO DE EXPERIÊNCIA
auxiliando-os na reconstrução de seu projeto de vida,
pareçam estar em extinção num sistema sobrecarregado
CRESF (Centro de Ressocialização Feminino de Foz do
mil presos e mais de uma unidade penal, por exemplo.
caso desejassem sair da criminalidade.
e sem investimentos para seu funcionamento mínimo.
Iguaçu), com capacidade para 248 mulheres presas, pro-
Na falta de suporte e apoio, cabe às(os) profissionais o
Muitas(os) Psicólogas(os), como eu, ainda resistem à
E ainda há uma demanda jurídica que tem a fantasia de
visórias e condenadas, que funciona anexo à Cadeia Pú-
razoável e possível, com a organização do seu tempo e
ideia de serem vistas(os) apenas como “bodes expiató-
que a Psicologia e seus poucos profissionais deveriam dar
blica Laudemir Neves. Com uma estrutura física razoável,
trabalho junto à administração de sua unidade.
rios” do sistema de Justiça, como simples peças de en-
conta de transformar esse cenário tão complexo.
recebem seus uniformes e a alimentação básica (outros
Diante da solicitação de apoio eventual para as pre-
grenagem de uma máquina perversa. Continuo acredi-
materiais chegam por meio dos familiares ou enviados
sas com problemáticas psíquicas mais graves, propus-
tando que podemos mais. Mesmo que seja impossível
Uma experiência de atenção à saúde
por Sedex, dentro de normas exigidas). As presas vi-
-me a atendê-las uma vez por semana. Administrando o
se sobrepor ao sistema como um todo, acredito que seja
mental de mulheres presas
venciam inúmeras dificuldades, ainda mais quando não
tempo e reorganizando constantemente o trabalho que
Anos atrás, o Paraná esteve próximo de ser o segundo
têm familiares por perto. Não contam com equipes mul-
é possível realizar na prisão, encontrei, nestes últimos
possível intervir minimamente no microuniverso, mesmo que este seja quase inexistente ou insignificante.
Estado em número de mulheres presas no Brasil e espe-
tidisciplinares composta por médicos, Psicólogas(os) e
anos, uma possibilidade. Com as direções dos estabele-
A existência da Psicologia na prisão ainda tem sentido,
culava-se que este fato ocorria em função do tráfico de
assistentes sociais, por exemplo. A administração, em
cimentos em acordo, agora elas sabem que têm uma Psi-
seja para trabalhar com a bandeira do desencarceramento
drogas, que ainda é a grande razão que as conduz à prisão
conjunto com as agentes penitenciárias e uma técnica
cóloga que pode atendê-las. Mesmo que não na frequên-
de pessoas, buscar alternativas penais à prisão, suavizar
– isso se agravava em função de termos no Paraná uma
de enfermagem, tenta viabilizar algumas necessidades,
cia, hora e tempo desejados.
as relações daqueles que estão presos, ou simplesmente
tríplice fronteira. Curiosamente, este número caiu, se-
como consultas, exames e medicação.
para sua humanização. Ainda continuam a usar a Psico-
gundo dados do INFOPEN/2015, mas ainda temos um nú-
O atendimento psicológico para as mulheres presas
solicitava aos responsáveis pela segurança quais eram as
logia para o discurso humanitário de reintegração social,
mero expressivo de mulheres presas e faltam vagas para
nesta unidade teve início no final de 2013, quando cole-
pessoas com necessidade mais urgente de atendimento
para dizer que o sistema é “humanizado”, que construí-
o cumprimento das penas impostas, levando muitas de-
gas que trabalham lá solicitaram que a Psicologia aten-
psicológico. E, assim, elas eram chamadas e sentavam-
ram uma nova prisão e contrataram uma equipe que pos-
las a permanecer em delegacias.
desse alguns casos críticos de forma emergencial (presas
-se comigo diante de uma mesa colocada com duas ca-
com transtorno psiquiátrico, em surto, que precisavam
deiras na lateral do parlatório (aquele lugar para que as
de intervenção ou encaminhamento psiquiátrico).
visitas possam conversar através de um telefone e se-
sui Psicólogas(os) e outros profissionais, ainda que estes
26
Foz do Iguaçu possui uma unidade penal chamada
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
De início, eu chegava lá às segundas-feiras à tarde e
Embora a psicoterapia não seja estruturalmente
paradas por um vidro). Particularmente detesto quando
possível no sistema prisional, existe um espaço míni-
restringem o espaço em prol da segurança e nos fazem
mo para atendimentos psicológicos que acabamos por
atender através de um vidro. Sempre que possível, bus-
chamar de “acompanhamento psicológico” ou faze-
co uma sala onde eu possa sentar frente à pessoa com o
mos eventualmente diante das demandas denominando
mínimo de acolhimento e humanização, já que são raros
“atendimento de apoio”. Muitas vezes não há uma sis-
os locais que constroem salas para a Psicologia com al-
tematização de frequência e horários organizados, como
guma segurança.
na agenda da clínica, e o atendimento está sujeito a in-
Sento-me com cada uma dessas mulheres presas e
terferências como escoltas de presos e episódios como
digo a elas que esta Psicóloga está ali para escutá-la, e
os chamados “bate grades”, tentativas de fuga, entrada
que ela pode falar sobre o que quiser. Explico que não te-
de celulares e outros que desestabilizam o sistema como
nho poder algum para transformar a vida delas ou tirá-
um todo. No sistema prisional, a prioridade é a segu-
-las dali. Posso simplesmente escutá-las e auxiliá-las a
rança e não a saúde mental. Qualquer evento que possa
pensar sobre a própria história. Muitas trazem como de-
desestabilizar o sistema paralisa outras atividades, bem
manda os conflitos cotidianos da convivência (nada fá-
como outras atividades também podem ter prioridades,
cil) dentro das celas, também dos corredores e das ruas.
como, por exemplo, a notificação por um Oficial de Jus-
Não só com outras presas, mas também com as agentes
tiça. Se não é possível deslocar todos os presos para di-
e com familiares. Muitas conseguem enxergar e verba-
versas atividades, são elencadas prioridades.
lizam sua culpa por estarem presas, e trazem o sofri-
A carga horária das(os) Psicólogas(os) concursa-
mento de terem deixado suas famílias, principalmente
das(os) é de exaustivas 40 horas semanais, com alguns
seus filhos. Falam de seus conflitos familiares e da de-
períodos de cobrança baseada em número de pessoas
cepção com seus parceiros afetivos/sexuais. Há também
atendidas, e também épocas de muitas avaliações judi-
os sentimentos novos experimentados pelas relações
ciais solicitadas. Há Psicólogas(os) que atendem mais de
homoafetivas na prisão. Os medos, pressões, angústias
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
27
RELATO DE EXPERIÊNCIA
RELATO DE EXPERIÊNCIA
e ansiedades decorrentes de estarem presas, do tempo
funcionários, sempre digo a elas que, se não quiserem o
deveriam ser aprendidos quando crianças. Muitas mu-
palavra” na psicanálise. Rogers descreveu elementos im-
que terão de cumprir suas penas.
atendimento, respeito-as e que não serão punidas por
lheres tiveram envolvimento ainda na pré-adolescência
portantes da psicoterapia que favorecem o desenvolvi-
Quando alguma delas tem dificuldade de iniciar, em-
isso. Algumas, poucas, não saem da cela e já dizem que
com drogas e prostituição. Histórias de mulheres consi-
mento humano como a consideração positiva (que con-
bora ansiosa por fazê-lo, eu digo: “Você quer me contar
não querem – até por estarem dormindo em dias de tar-
deradas violentas e mulheres violadas e violentadas. His-
siste em fornecer atenção e estima positivas) e a empatia
um pouco de como se sente? Você quer falar um pouco da
de quente ou frio quase congelante. Costumo dizer que,
tórias de abandono, solidão e vazio afetivo/existencial
(tão falada na atualidade, essa capacidade de se colocar
sua história? Do porquê está aqui?” E elas falam. A gran-
em outro momento, podem solicitar se quiserem – o que
que, por vezes, fica difícil de ser suportado. A Psicologia
no lugar do outro). Também advêm do movimento hu-
de maioria sem parar. Vou trabalhando com o que me
acontece com frequência. Mas o que muitas queriam, na
pode ajudar. O objetivo maior deste texto é resgatar a im-
manista a ênfase na autoestima e a crença no potencial
trazem, devolvendo falas e reflexões, durante cerca de
verdade, é um remédio para se anestesiar (uma delas
portância da escuta psicológica.
humano, que podem favorecer suas reflexões, seu reco-
40 minutos a uma hora. Com este tempo, consigo aten-
curiosamente me contou sobre um conhecido como “seca
der em média 6 mulheres presas em uma tarde. Pouco
sentimento”). Queixam-se de insônia e dor de cabeça.
Divido aqui a riqueza advinda da escuta psicológica.
nhecimento e transcendência.
Especialmente para essas mulheres presas. E para nós,
Esses atendimentos simples têm auxiliado estas mu-
diante das quase 300 que estão nesta unidade. Não sei
Satisfatoriamente percebemos que os atendimentos
Psicólogas(os). Divido também a impotência enquanto
lheres presas a suportar o sofrimento que vivenciam na-
se poderei atendê-las com maior frequência, mas digo
psicológicos auxiliavam para que elas se tranquilizas-
Psicóloga de não poder intervir mais, de não poder de-
quele momento de suas vidas. Algumas vezes tenho a
para elas que eu tenho aquele momento. “Aqui, agora,
sem minimamente. Não só nos relatos daquelas que vol-
senvolver projetos que as auxiliem a desenvolver a auto-
impressão de que elas se sentem mais humanas, mais
você pode falar sobre o que você quiser. Eu estou aqui
tavam a serem atendidas, mas também as agentes peni-
estima e a responsabilidade social, a visualizar caminhos
confiantes, com mais valor quando as escuto e olho para
para você”.
tenciárias e as chefias foram observando os benefícios
de autonomia e emancipação. Muitas dessas mulheres
elas. E parece surgir alguma esperança quando lhes digo
No local improvisado de atendimento na lateral do
dos atendimentos – algumas vezes relataram um clima
poderiam mudar a própria história.
que esta prisão é temporária, embora pareça eterna, que o
parlatório, atrás de mim fica uma janela por onde há en-
posterior de tranquilidade observado no convívio. Ao fi-
A escuta, muitas vezes desvalorizada por não apre-
sofrimento não é permanente, embora seja difícil supor-
trada da luz do sol. Ora elas me olham, contando suas
nal um atendimento, uma delas coloca a mão no coração
sentar grandes exigências para o seu exercício aos olhos
tá-lo, e que, se elas quiserem, podem mudar suas histó-
histórias, ora seus olhares cheios de lágrimas se perdem
e diz: “Nossa, foi muito bom falar com a senhora, parece
dos leigos, pode sensibilizar pessoas e mobilizar emoções
rias, embora isso requeira muito esforço e determinação.
através dessa janela. Em contraponto, atrás dela vejo uma
que saiu um peso daqui de dentro!”.
para mudanças. Freud já falava sobre “a cura através da
Elas agradecem.
grade, por onde posso visualizar a movimentação das
Algumas nunca foram atendidas por uma Psicóloga
agentes e outras rotinas da conhecida “cadeia”. Assim,
e acham interessante. Outras já me dizem que não têm
posso também enxergar um pouco do mundo delas na-
problemas. Algumas refletem, arrependem-se, fazem
quele momento e elas, através de mim, um pouco de luz.
planos. Algumas ainda assumem a escolha que fizeram para sua vida. Gostam do que fazem. Vangloriam-
Feedback e reflexões
-se por poder levar os filhos aos shoppings, comer em
Entendo que um dos papéis da(o) Psicóloga(o) na pri-
lanchonetes famosas, usar roupas de marcas conheci-
são é refletir sobre a gravidade do crime que cometeram
das e pagar colégios particulares (casos de mulheres que
para estarem ali. São processos pessoais singulares, de
cometem crimes como tráfico de drogas e assalto, por
como cada uma lida com sua culpa, responsabilização
exemplo, e outras que chegam a ser membros de orga-
adequada ou não, seus mecanismos de defesa (projeção,
nizações criminosas). Mulheres líderes, com bom dis-
negação, etc.). Saio de lá, embora algumas vezes cansa-
curso, convincentes e manipuladoras, que ainda pres-
da fisicamente, emocionalmente recompensada por po-
sionam outras colegas em cela, dizem: “Eu sempre fui a
der fazer uso do meu trabalho para auxiliar a significar
ovelha negra” ou “Sou a errada da minha família”. Al-
a vida de algumas delas. A escuta as faz “sentirem-se
gumas se envergonham, outras não. Uma me conta da
ouvidas por alguém” e a presença as faz “sentirem-se
tristeza de saber que a filha colocou numa rede social
humanas”. Apesar de eu dizer a elas que sei da gravida-
que sente vergonha de a mãe ser presidiária. Outra diz
de do que fizeram, elas ainda assim são seres humanos,
“Eu gosto de ser assim”.
buscando preservar algum sentido de resgatar a vida positivamente quando saírem da prisão.
O mergulho neste fazer psicológico nos permite observar a grande necessidade de mudanças sociais. Histó-
As semanas vão se passando e outras presas solici-
rias carregadas de desigualdades, desestrutura familiar,
tam atendimento psicológico através das agentes ou de
traições e desamor pairam sobre o universo criminal. Ca-
outras presas. Sejam por pedido delas ou indicadas por
recem de valores como cuidar e ser cuidado que, a priori,
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CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
29
MATÉRIA NOME SOCIAL
MATÉRIA NOME SOCIAL
Nome social
Psicologia, escola e família juntas para garantir os direitos de jovens travestis e transexuais Ellen Nemitz
ao isolamento social, depressão e pensamentos e inten-
que travestis e transexuais enfrentem o preconceito dos
amparar as(os) alunas(os) trans, pode agir para diminuir o
“Para este Conselho Regional de Psicologia, está cla-
ções suicidas entre estas(es) jovens. A despeito dos avan-
alunos, professores e funcionários, fazendo com que
preconceito, programando atividades em que a(o) Psicó-
ro que nossa ciência e profissão devem estar orienta-
ços conquistados nos últimos anos pela comunidade LGBT
abandonem a escola e rumem para a marginalização. Sem
loga(o) fale à comunidade sobre temas como sexualidade,
das para o livre desenvolvimento de todas as pesso-
(lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), a so-
apoio familiar e escolar, ficam mais propensos a adotar
adolescência, questões de gênero, bullying, preconceito e
as, para a proteção irrestrita e incisiva da dignidade
ciedade ainda mantém forte caráter heteronormativo, fa-
comportamentos de risco como uso de substâncias psico-
afins. Além disso, quando necessário, a escola deve indicar
humana, com a promoção de direitos e resguardo de
zendo com que aqueles que não se adaptam a este padrão
ativas, práticas sexuais sem proteção e condutas de autoa-
um serviço de orientação psicológica à família e à(o) alu-
situações que amplifiquem estigmas, violências e dis-
estabelecido sintam-se excluídos. “Pessoas trans, em ge-
gressão. “As escolas e as famílias podem buscar caminhos
na(o). O acompanhamento adequado pode contribuir para
ral, têm grande conflito com seu corpo, com sua identida-
de conciliação. Aqui no CPATT temos abertura para rece-
a “ promoção da qualidade de vida de pessoas trans por
de, com a sexualidade, com seu entorno, como grande par-
ber pais, acolher suas questões, orientá-los e muitas vezes
meio de práticas de acolhimento e apoio não pautadas em
te das pessoas. Buscam, como todo ser humano, aceitação,
encaminhá-los para atendimento externo”, conta a Psi-
um modelo patologizador ou corretor da transexualidade e
amor, um lugar de valor”, explica a Psicóloga Esther Siza
cóloga Esther.
outras vivências trans”. No entanto, o encaminhamento
criminações. Nesse caminho, faz-se mister avançar na consolidação de direitos para a população transexual paranaense no acesso ao sistema educacional. Considera-se que a adoção dessas orientações pode contribuir sobremaneira para a consolidação de uma
Tribuzy (CRP-08/11449), que atua no Centro de Pesquisa e
Quando os pais enfrentam dificuldades para aceitar a
humanas para a Escola brasileira”
Atendimento a Travestis e Transexuais (CPATT). “Escu-
condição da(o) filha(o), a escola deve agir para que a(o) jo-
tar uma pessoa trans é escutar uma pessoa, seus conflitos,
vem não seja prejudicada(o). Andressa Sperancetta (CRP-
Ser chamado(a) pelo nome condizente com a sua au-
(Parecer técnico sobre a adoção do nome social, dispo-
seus interesses, seus sofrimentos. Se o Psicólogo puder
08/08868), coordenadora da Comissão de Psicologia Es-
toidentificação de gênero é importante porque o nome nos
nível na íntegra no link http://www.portal.crppr.org.br/
ajudar essa pessoa a fazer seu lugar, construí-lo, a apazi-
colar/Educacional do CRP-PR, diz que a escola tem papel
distingue enquanto pessoas, juntamente com os atributos
pagina/documentos)
guar o conflito consigo e com aqueles que a cercam, certa-
fundamental ao apoiar a decisão das(os) alunas(os). “É
da personalidade. Se o nome civil não está de acordo com a
mente pode ajudá-la a se realizar”.
na escola que poderá encontrar um espaço de confiança e
nossa aparência, e os educadores o utilizam para se referir
Os conflitos pelos quais a pessoa trans precisa passar
acolhimento e apresentar comportamentos que indiquem
à(o) aluna(o), este comportamento pode incentivar a eva-
até encontrar um lugar de equilíbrio em relação a si mesma
a necessidade de orientação quanto a uma possível mu-
são escolar. Por esta razão, facilitar os processos de adoção
e às pessoas com as quais convive começam a existir ainda
dança de nome”.
do nome social é muito importante.
dinâmica inclusiva e promotora das potencialidades
Na última edição da revista Contato (janeiro/fevereiro de 2016), abordamos um assunto que vem mobilizando a categoria de Psicólogas(os): a adoção do nome social nos registros escolares de alunas(os) com menos de 18 anos. O Grupo de Trabalho (GT) organizado pelo Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR), que ficou responsável por fazer o estudo, divulgou em dezembro de 2015 o parecer completo sobre o tema. O documento, que você encontra na íntegra no site www.crppr.org.br, destaca o processo de sofrimento psíquico inerente às pessoas homossexuais, travestis e transgênero – estudos mostram que há uma tendência
30
deve ser livre e, de forma alguma, condição para a alteração do nome social nos registros escolares.
na infância, período em que está em contato com a família
Para que os pais e responsáveis sejam inseridos no
No Brasil, não há uma lei específica que garanta o di-
e com a escola. A forma como estas duas instituições lidam
processo de formação da identidade destas(es) jovens, a
reito a transexuais de adequarem seu nome e sexo em
com a criança e o adolescente podem ser decisivas para a for-
assistência social pode ser um bom auxílio, assim como
conformidade com sua identidade de gênero. Algumas
mação de seu caráter e determinação do futuro.
os mecanismos de intervenção da Psicologia, que devem
normatizações, no entanto, sinalizam para a importân-
É bastante comum que a família, quando percebe que há
“ contribuir para garantir, manter ou recuperar o caráter
cia de assegurar a mudança do nome a qualquer pessoa,
algo diferente com a(o) filha(o), tente mudá-la(o) de forma
protetivo da família, do fortalecimento dos vínculos familia-
independentemente da idade. Ao Estado cabe a função
violenta. Ou então, já conscientes de que são homo ou tran-
res, reconhecendo que as famílias são protagonistas de suas
de proteger as crianças, adolescentes e jovens travestis e
sexuais, as(os) jovens procuram esconder e até mesmo mu-
próprias histórias, mas que sofrem os impactos da realida-
transexuais, cuidando para que as escolas forneçam um
dar sua condição, não sem grande sofrimento psíquico.
de social, cultural e econômica nas quais estão inseridas”
ambiente de estudo livre de preconceitos e violências que
(trecho do parecer técnico do CRP-PR). A escola, além de
possam impelir a(o) estudante a deixar de estudar.
Na escola, os traumas já vivenciados em casa impedem CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
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31
COREP
COREP
b. ESTUDANTES de Psicologia, sendo um represen-
ABRANGÊNCIA
DATAS
Litoral (Paranaguá e região)
09/abr (sábado)
tante de cada Centro Acadêmico ou Diretório Acadêmico, com direito a voz nos grupos; c.
CONVIDADOS, de acordo com a indicação da Comissão Organizadora com direito a voz nos grupos;
Extremo-Oeste (Foz do Iguaçu e região)
d. OBSERVADORES, não excedendo o número de 20, grupo composto por Psicólogas(os) interessadas(os) ou representantes de entidades da sociedade civil, com prévia inscrição.
Todas(os) as(os) Psicólogas(os) regularmente inscritas(os) no CRP-PR e adimplentes. A realização dos Pré-COREPs deve ocorrer até o dia 10 de abril, com o objetivo
Para adequação ao cronograma estabelecido pela Co-
da Psicologia como ciência e profissão;
missão Organizadora (COMORG) do 9° Congresso Nacio-
b. Garantir o espaço de articulação para composi-
nal de Psicologia (CNP), a realização do 9º COREP do Pa-
ção, inscrição e apresentação de chapas que con-
raná em Curitiba/PR precisou ser alterada para os dias 30
correrão ao mandato do Conselho Regional de
de abril e 1° de maio de 2016.
Psicologia do Paraná (CRP-PR) na Gestão 2016
Em 2016, os Congressos terão o tema “Psicologia, no cotidiano, por uma sociedade mais democrática e igualitária”, cujas propostas deverão contemplar os seguintes eixos:
– 2019; c. Eleger propostas para diretrizes políticas referentes ao tema do 9º Congresso Nacional de Psicologia, a serem implementadas e/ou reguladas
Organização democrática do Sistema Conselhos e EIXO 1
EIXO 2
EIXO 3
aperfeiçoamento das estratégias de diálogo com
pelo Sistema Conselhos de Psicologia; d. Definir políticas regionais referentes ao tema
a categoria e sociedade
do 9º Congresso Nacional da Psicologia, para
Contribuições éticas, políticas e técnicas ao pro-
implementadas;
cesso democrático e de garantia de direitos Ampliação e qualificação do exercício profissional no Estado de garantir de direitos
serem encaminhadas ao CRP-PR e por este e. Eleger os delegados para o 9º Congresso Nacional da Psicologia, o qual será realizado nos dias 16, 17, 18 e 19 de junho de 2016, em Brasília-DF.
O COREP será composto por participantes nas seSão atribuições do COREP: a. Promover a organização e mobilização das(os) Psicólogas(os) do Paraná para o desenvolvimento
32
de elaborar e aprovar propostas locais e nacionais sobre o temário previsto para o 9o CNP, bem como eleger os delegados para o 9o COREP. As datas previstas são:
ABRANGÊNCIA
DATAS
Cascavel e região
27/fev (sábado)
Sudoeste (Pato Branco e região)
27/fev (sábado)
Noroeste (Paranavaí e região)
27/fev (sábado)
Sudeste (União da Vitória e região)
27/fev (sábado)
Curitiba e região metropolitana (região oeste) Campos Gerais (Ponta Grossa e região)
a. DELEGADOS devidamente eleitos nos Pré-Congressos Regionais, com direito a voz e voto;
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
16/mar (quarta-feira) 19/mar (sábado)
Oeste (Umuarama e região)
19/mar (sábado)
Centro-Oeste (Guarapuava e região)
19/mar (sábado)
Centro-Ocidental (Campo Mourão e região) Londrina e região Curitiba e região metropolitana (reCuritiba e região metropolitana (região leste) Maringá e região
guintes condições:
crppr.org.br) para confirmação das datas e locais de cada Pré-COREP.
Sim. Até março, em todo o Estado, os eventos promovidos pelo CRP-PR que sejam correspondentes com a temática de discussão dos eixos do 9º CNP valerão como eventos preparatórios. Por isso, aproveite estas ocasiões – que são a primeira instância de aprovação – para redigir e encaminhar propostas, seja preenchendo um formulário que você receberá ou utilizando o formulário eletrônico disponível no site do Conselho. Também poderão ser
gião central)
Quem pode participar do 9º COREP?
Cronograma sujeito a alterações. Consulte o site do Conselho (www.
Posso enviar propostas mesmo sem participar dos Pré-Congressos?
Quem pode participar dos Pré-Congressos?
9º Congresso Regional da Psicologia do Paraná (COREP) acontece nos dias 30 de abril e 1° de maio de 2016
09/abr (sábado)
Norte Pioneiro (Jacarezinho e região)
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
19/mar (sábado) 19/mar (sábado) 30/mar (quarta-feira)
organizados Pré-Congressos livres, por quaisquer grupos de Psicólogas(os), que poderão remeter propostas para o CRP-PR, para serem referendadas no COREP. O objetivo de realização dos Pré-Congressos livres é estimular e admitir construções de propostas que não foram criadas dentro do Sistema Conselhos, tornando assim o processo mais democrático e acessível. As(Os) organizadoras(es) que tinham interesse deveriam informar a data, local e horário do Pré-Congresso livre para o CRP-PR até o dia 15 de fevereiro de 2016, para que constasse no calendário oficial do COREP (de acordo com o regulamento do 9º CNP). Lembrando que a realização deve estar submetida às normas previstas pelo regulamento do CNP e do COREP. Inscrições Para participar dos Pré-COREPs não é necessário que a(o) Psicóloga(o) realize sua inscrição previamente. Basta comparecer ao local no dia e horário da atividade. Psicóloga(o)! Sua participação é fundamental para
06/abr (quarta-feira) 09/abr (sábado) 09/abr (sábado)
a elaboração de propostas a serem implementadas na próxima gestão dos Conselhos Regionais e Federal de Psicologia. Mais informações, escreva para cotec08@crppr.org.br ou eventos@crppr.org.br.
33
EDITAL
Edital de Censura Pública
Edital de Censura Pública
O Conselho Regional de Psicologia - 8a Região, em obediência ao disposto na Lei no 5.766/71, Decreto no 79.822/77 e Código de Processamento Disciplinar, pelo presente Edital, torna pública a decisão do Conselho Regional de Psicologia, no Processo Ético Disciplinar no 026/2012, em aplicar a pena de CENSURA PÚBLICA a Psicóloga Giani Aparecida Gaiguer, CRP-08/10407 por infração aos artigos do Código de Ética Profissional dos Psicólogos:
O Conselho Regional de Psicologia - 8a Região, em obediência ao disposto na Lei no 5.766/71, Decreto no 79.822/77 e Código de Processamento Disciplinar, pelo presente Edital, torna pública a decisão do Conselho Regional de Psicologia, no Processo Ético Disciplinar no 013/2013, em aplicar a pena de CENSURA PÚBLICA a Psicóloga Theresa Christina de Oliveira Rabello, CRP08/10245 por infração aos artigos do Código de Ética Profissional dos Psicólogos:
Princípios Fundamentais I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural. VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com os demais princípios deste Código. Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos: g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços psicológicos, transmitindo somente o que for necessário para a tomada de decisões que afetem o usuário ou beneficiário.
Princípios Fundamentais: V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos: a).Conhecer, divulgar, cumprir e fazer cumprir este Código; Art. 2º – Ao psicólogo é vedado: h) Interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas psicológicas, adulterar seus resultados ou fazer declarações falsas; Art. 11 – Quando requisitado a depor em juízo, o psicólogo poderá prestar informações, considerando o previsto neste Código
Curitiba, 04 de dezembro de 2015. Psic. Cleia Oliveira Cunha - CRP-08/00477 Conselheira Presidente do CRP-08
j) Ter, para com o trabalho dos psicólogos e de outros profissionais, respeito, consideração e solidariedade, e, quando
As/os psicólogas/os do Brasil foram surpreendidos, no final de 2015, pela lamentável decisão do Ministro da Saúde, Marcelo Castro, de indicar o ex-diretor de manicômio Valencius Wurch para a Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde. Rapidamente, trabalhadoras/es da saúde, sindicatos, entidades e conselhos profissionais de todo o país se mobilizaram para denunciar os retrocessos representados por essa nomeação. O Sindypsi PR participou da organização das intervenções realizadas em 2015 e já está se mobilizando para um grande movimento de resistência aos retrocessos nos direitos e avanços conquistados pela Luta Antimanicomial. Ex-diretor do maior manicômio privado da América Latina, a Casa de Saúde Dr. Eiras, o psiquiatra Valencius Wurch conta com um histórico nada simpatizante às conquistas da Reforma Psiquiátrica. Fechado em 2012 após denúncias, investigações e um longo processo na Justiça, o manicômio liderado por Valencius representava o que há de mais desumano no tratamento das pessoas com transtorno mental. Em 2000, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados identificou graves violações de direitos humanos na Casa de Saúde Dr. Eiras, entre elas a prática de eletroconvulsoterapia, ausência de roupas e alimentação insuficiente. Em 2004, uma intervenção conjunta dos três poderes no hospital continuou a constatar péssimas condições de tratamento aos pacientes, até que, em 2009, a justiça ordenou a transferência de todos os acolhidos. Não por acaso, Valencius se posicionou contrário à Lei da Reforma Psiquiátrica. Frente à nomeação de Valencius para a coordenação, movimentos sociais e entidades ligadas à saúde mental promoveram, em dezembro, uma grande manifestação em Curitiba para denunciar o currículo de Valencius. Cerca de 500 pessoas participaram da marcha, que contou com relatos de experiências de usuários, exposição de fotos de manicômios e grande cobertura da imprensa. Muitas outras cidades brasileiras sediaram manifestações de repúdio à volta dos manicômios. A sala da Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde chegou a ser ocupada por militantes de movimentos pela saúde mental em Brasília. O Sindypsi PR já está em articulação para promover mobilizações em 2016 que preservem os direitos humanos no tratamento às pessoas com transtorno mental.
solicitado, colaborar com estes, salvo impedimento por motivo relevante; Art. 2º - Ao psicólogo é vedado: g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnico-científica; q) Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de serviços psicológicos em meios de comunicação, de forma a expor pessoas, grupos ou organizações.
Curitiba, 13 de novembro de 2015. Psic. Cleia Oliveira Cunha, CRP-08/00477 Conselheira Presidente do CRP-08 34
Saúde não se vende, loucura não se prende. Fora, Valencius!
CO N TATO E D I Ç ÃO 1 0 4
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EDITAL
Quais são os retrocessos? A Reforma Psiquiátrica, em vigor desde 2001, modernizou o tratamento dado a essa parcela da população e deu início ao reconhecimento dos direitos das pessoas com transtornos mentais. As barreiras ainda são muitas, já que a concepção de doenças psiquiátricas defendida pelas instituições manicomiais ainda se faz presente. Mas nenhum desses desafios se compara ao retrocesso que é a nomeação de Valencius à coordenação de Saúde Mental. Essa decisão, que recai sobre toda a população brasileira, representa os interesses de uma política de privatização da saúde, de violação aos princípios fundamentais do SUS, de desmonte da Lei da Reforma Psiquiátrica e, principalmente, de desrespeito à dignidade humana. Os avanços conquistados com a criação da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) também estão em risco. Os pilares da rede priorizam o cuidado integral centrado no território, a promoção da autonomia e da cidadania e a progressiva inclusão social das pessoas com transtorno mental. A construção dessa gama de equipamentos e saberes teórico-práticas que estimulam a participação social, a forma humanizada de entender o sofrimento psíquico e a garantia dos direitos humanos não pode ser desperdiçada em nome da desumanidade dos manicômios. Convidamos as psicólogas e os psicólogos do Paraná para a luta contra os retrocessos no campo da Saúde Mental.
Saúde não se vende, loucura não se prende. De perto, quem é normal?
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S O I M Ô C I ANESQUECEREMOS MNÃO