Introdução Tempos de vacas magras têm seu lado positivo. Falta dinheiro no futebol brasileiro em 2015 porque empresas receiam em arriscar orçamentos em patrocínios de resultado duvidoso, agentes e fundos de investimento foram afastados dos direitos econômicos de atletas pela Fifa, contratos de direitos de transmissão estão assinados até 2017. A soma de todos esses fatores acarreta em salários atrasados de atletas, impostos não recolhidos, processos e penhoras, enfim, tudo o que a imprensa relata diariamente. O bom é que, como este não é o primeiro nem o segundo ano de dificuldade financeira, alguns clubes já enxergaram nos torcedores, em especial nos sócios-torcedores, um caminho para novas receitas.
2015: Cruzeiro, Flamengo e Palmeiras. Os presidentes e diretores desses três últimos, em particular, repetem sempre podem, para todo torcedor ouvir, que a verba paga por sócios-torcedores é tão grande ou maior do que a de um patrocínio máster. A história também mudou de figura quando a Ambev, líder de um grupo com uma dezena de outras empresas, criou em janeiro de 2013 o Movimento Por Um Futebol Melhor. O conceito é simples: sóciostorcedores ganham descontos em produtos dessas marcas. Ganham as marcas, que vendem mais e conseguem publicidade, ganham os clubes, que podem oferecer mais do que apenas vantagens em ingressos, e ganham as torcidas, que podem adquirir produtos do cotidiano mais baratos e, presumidamente, abater parte do valor da associação com esses descontos. Ainda que se questione a efetividade do programa nas finanças dos clubes, é inegável que o oba-oba causado pela cervejaria no mercado ajudou a evidenciar o assunto.
A monetização do associado ocorreu de forma mais acentuada em países cujas economias são fracas justamente porque, uma vez que receitas tradicionais como TV e patrocínios são escassas, dirigentes tiveram de se mexer para conseguir dinheiro de outra fonte. Na Argentina do futebol estatizado pela presidente Cristina Kirchner, a televisão paga muito menos do que no Brasil. Menos concorrência, menos inflação, afinal. O Boca Juniors que fatura 53 milhões de pesos consegue quase três vezes esse valor só com mensalidades de filiados, 145 milhões de pesos, sem considerar outras receitas com torcida. O problema obriga o sujeito a procurar soluções.
A questão é que, daqui em diante, a profissionalização precisa prosseguir. Até hoje, em parte por causa da ênfase que o Internacional deu aos 100 mil sócios quando os obteve, em parte devido ao “torcedômetro” da Ambev que faz um ranking de associados dos clubes, falou-se muito do número bruto de associados e pouco de outros itens igualmente importantes. Um deles, o tíquete médio, pois 10 mil sócios que pagam R$ 50 por mês geram os mesmos R$ 500 mil mensais que 500 mil sócios que pagam R$ 1, e é dinheiro que importa. Outro, a inadimplência, isto é, a quantidade de associados que mantém mensalidades em dia. Ter 500 mil sócios que nada pagam é tão efetivo quanto não ter nenhum. Quando se coloca uma lupa sobre esses e outros fatores, como é o propósito deste relatório, a conta deixa de ser tão simples quanto parece.
Não por acaso, os times brasileiros que estão mais equilibrados financeiramente são aqueles que já ganham dinheiro com quadros sociais. O Internacional é referência nesse aspecto há dez anos e ainda hoje é o clube que mais arrecada com sóciostorcedores no país – R$ 59 milhões em 2014. Mas viu a diferença para rivais cair de dois anos para cá. Não só o Grêmio encostou, com R$ 50,7 milhões, como outros três romperam a casa dos R$ 30 milhões arrecadados em 2014 e têm perspectiva de alta para
02
Faturamento com sócio-torcedor em 2014: R$ 10,7 milhões
ATLÉTICO MG
Número de associados em maio de 2015: 40.833
Do mesmo modo que o estádio Independência, reinaugurado em 2012, deu ao Atlético-MG melhores resultados esportivos, como a conquista da Copa Libertadores em 2013, possibilitou também acertar o relacionamento com sócios-torcedores. O clube tinha 4.821 associados em janeiro de 2013, saltou para 26.432 em janeiro de 2014, depois para 37.720 em janeiro de 2015. Em maio de 2015, já havia 40.833 ativos no número que o clube informa à Ambev, cujo critério para inadimplência é de 60 dias.
DIVISÃO POR SEXO
9%
Sem os estádios Mineirão e Independência, fechados para reformas, o time mineiro teve problemas para emplacar o projeto intitulado “torcedor colaborador”, criado ainda na gestão do ex-presidente Ziza Valadares. Em 2010, o programa rendeu R$ 711 mil. Em 2011, R$ 616 mil. Em 2012, quando foi extinto, somente R$ 48 mil. Deu lugar ao Galo na Veia, sob comando do então presidente Alexandre Kalil. A iniciativa, reforçada pela reabertura do Independência, levantou R$ 3,9 milhões em 2012, R$ 11,6 milhões em 2013 e R$ 10,7 milhões em 2014.
91%
LOCALIZAÇÃO DOS SÓCIOS TORCEDORES
Ainda há muito espaço para crescer em Minas Gerais. Da população do estado, 20,7 milhões de pessoas, o clube possui 31,6% de torcedores de acordo com pesquisa do Lance!/Ibope. É um universo de 6,55 milhões atleticanos. Os 38.791 sócios registrados em maio de 2015 em Minas, portanto, correspondem a 0,59% do total de torcedores no próprio estado. Há também potencial para levar mais sócios aos estádios. Em 2014, em partidas do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil, os mineiros tiveram uma média de 11% do público presente em cada partida equivalentes a associados. O percentual é maior quando considerados apenas confrontos no Independência, 14%, mas a diferença é pequena.
Sócios no resto do país e mundo:
5%
95%
03 2
Faturamento com sócio-torcedor em 2014: R$ 4,7 milhões
BOTAFOGO
Número de associados em maio de 2015: 13.742
O Botafogo, em relação a sócios, sentiu dois golpes: um, o pífio desempenho do time em campo seguido pelo rebaixamento à Série B em 2014; dois, a interdição do estádio Engenhão por causa de problemas estruturais. Bola na rede e lugar na arquibancada são os dois fatores mais potentes para montar quadros sociais numerosos e rentáveis.
DIVISÃO POR SEXO
A evolução numérica é baixa – começou 2013 com 4.241 em janeiro, dobrou para 10.809 em janeiro de 2014, retraiu para 8.582 em janeiro de 2015. De abril a dezembro de 2014, período que coincide com o fracasso no Campeonato Brasileiro, o clube registrou queda na quantidade de filiados em todos os meses. Só voltou a crescer em 2015 e foi a 13.742 em maio.
10%
90%
LOCALIZAÇÃO DOS SÓCIOS TORCEDORES
O sócio-torcedor rendeu R$ 1 milhão em 2010, R$ 1,1 milhão em 2011, R$ 1,4 milhão em 2012, R$ 2,8 milhões em 2013 e R$ 4,7 milhões em 2014. A perspectiva para 2015 só é boa porque, apesar da Série B, a volta do Engenhão permite ao Botafogo vender pacotes com ingressos embutidos. Da população de 16,4 milhões de pessoas do estado do Rio de Janeiro, o Botafogo, com 11,4% segundo o Lance!/Ibope, possui 1,8 milhão de torcedores. Com 10.444 sócios no Rio, o aproveitamento é 0,73%. Há potencial inexplorado. A torcida no Nordeste, estimada em 1% pelo Lance!/Ibope, é de 561 mil torcedores, portanto também há espaço para crescer na região, mas isso requer levar o futebol até lá.
Sócios no resto do país e mundo:
A frequência do sócio botafoguense no estádio em 2014 foi de 12%, mas este número sofre influência negativa de locais como Arena da Amazônia, Raulino de Oliveira e Cláudio Moacyr, onde a participação mal passa de 3%. No Maracanã, o percentual é de 18%. A questão, agora, é conseguir fazer o associado voltar ao Engenhão para assistir à segunda divisão.
24%
76%
04 3
Faturamento com sócio-torcedor em 2014: R$ 9,3 milhões
CORINTHIANS
Número de associados em maio de 2015: 110.350
Algo aconteceu com a torcida corintiana, tradicional ponto forte, após as conquistas da Copa Libertadores e do Mundial de Clubes em 2012. Do segundo maior contingente do país, todo concentrado no estado de São Paulo, esperava-se que o time tivesse mais associados e mais receita do que conseguiu em 2014.
DIVISÃO POR SEXO
A base de sócios ativos, com critério de 30 dias para considerar inadimplência, caiu de 46.086 em janeiro de 2013 para 42.733 em janeiro de 2014. O crescimento foi retomado a partir de maio, após a abertura da Arena Corinthians, o que fez o time crescer para 74.642 em janeiro de 2015. Em maio de 2015, mais recente, outro salto levou a 110.350 associados.
20%
A receita variou de R$ 6,9 milhões em 2010 para R$ 6,7 milhões em 2011, R$ 8,9 milhões em 2012, R$ 12,8 milhões em 2013, R$ 9,3 milhões em 2014. Com ressalva: corintianos unem em balanços financeiros receitas de sócios-torcedores, loterias e premiações. Aqui foram desconsiderados valores de premiações dos títulos conquistados em cada um dos anos.
80%
LOCALIZAÇÃO DOS SÓCIOS TORCEDORES
A expectativa por valores muito acima desses se dá pelo tamanho da torcida. No estado de São Paulo, 35,5% dos 44 milhões de habitantes são corintianos, segundo Lance!/Ibope. 15,6 milhões. Os 103.729 de sócios em São Paulo correspondem a 0,71% disso. No Brasileiro e na Copa do Brasil de 2014, 61% dos corintianos em estádios eram associados. Desconsiderados Arena Pantanal, Canindé e Pacaembu, a média apenas da Arena Corinthians é maior: 68%.
Sócios no resto do país e mundo:
6%
Foi criada em 2015 nova opção, popular, de R$ 9 mensais. Esta modalidade é nacional: 23% os que aderiram a ela estão na Grande São Paulo, 32% estão no interior do estado, e 45% estão no resto do Brasil. Até agora, a novidade aparenta ter funcionado.
94%
05 4
Faturamento com sócio-torcedor em 2014: R$ 35 milhões
CRUZEIRO
Número de associados em maio de 2015: 71.157
O Cruzeiro soube converter a reabertura do Mineirão, fundamental para estabelecer contrapartidas aos torcedores, e a empolgação pelo desempenho em campo, que lhe rendeu os Campeonatos Brasileiros de 2013 e 2014, em receitas por meio de associações.
DIVISÃO POR SEXO
O número de sócios-torcedores era de 15.925 em janeiro de 2013, mais que triplicou para 49.428 em janeiro de 2014 e subiu novamente para 67.517 em janeiro de 2015, com critério de 90 dias para inadimplência. Em maio de 2015, havia 71.157.
15%
A receita acompanhou este salto quantitativo. Saiu de R$ 4,9 milhões em 2012 para R$ 30 milhões em 2013 e R$ 35 milhões em 2014. Esses números não estão claros no balanço financeiro, nos quais sóciostorcedores são unidos a bilheterias e premiações, mas foram informados pelo próprio Cruzeiro.
85%
LOCALIZAÇÃO DOS SÓCIOS TORCEDORES
No estado de Minas Gerais, onde há 20,7 milhões de pessoas, pesquisa do Lance!/Ibope Indica que 27,4% são cruzeirenses, 5,68 milhões. A considerar os 67.599 associados ativos em Minas, o Cruzeiro possui aproveitamento de 1,19%, ainda com espaço para melhorar e chegar aos percentuais de Internacional e Barcelona, por exemplo, mas já acima de brasileiros. A frequência de sócios-torcedores em estádios é alta, 69%, nos jogos do Brasileiro e da Copa do Brasil de 2014. A média ainda é puxada para baixo por dois jogos no Parque do Sabiá, em Uberlândia, quando praticamente não houve associados nas arquibancadas. Apenas nas 21 partidas realizadas no Mineirão nos torneios nacionais, a média sobe para 75%. Nelas, a divisão entre sócios isentos (que já têm ingressos embutidos nas mensalidades) e sócios pagantes (que têm desconto e compra facilitada, mas tem de pagar pelo tíquete ao adquiri-lo pela internet) é de 56% contra 44%. Quase meio a meio.
Sócios no resto do país e mundo:
5%
95%
06 5
Faturamento com sócio-torcedor em 2014: R$ 30,4 milhões
FLAMENGO
Número de associados em maio de 2015: 53.400
O Flamengo é provavelmente o melhor exemplo de como o número de sócios-torcedores, sozinho, não diz muita coisa. Após experimentar um enorme crescimento em 2013, após o relançamento do programa, a quantidade chegou até a cair em 2014, mas a receita quase dobrou. Sinal de que inadimplência e tíquete médio, menos aparentes, melhoraram.
DIVISÃO POR SEXO
Em março de 2013, primeiro mês flamenguista, havia 8.819 sócios. Em janeiro de 2014, após a conquista da Copa do Brasil, 60.849. Daí em diante o time subiu, desceu e chegou a janeiro de 2015 com 54.347. Em maio, mês mais recente deste relatório, havia 53.400.
8%
Em 2013 o programa rendeu R$ 16,5 milhões. Em 2014, quase dobrou para R$ 30,4 milhões. Calcule: o dinheiro levantado no ano dividido pela média de sócios-torcedores nos 12 meses, 58.008, dá R$ 523,63. Em outras palavras, cada flamenguista associado pagou R$ 43,63 por mês, tíquete médio alto para a realidade do brasileiro. O critério de inadimplência do Flamengo é de só sete dias.
92%
LOCALIZAÇÃO DOS SÓCIOS TORCEDORES
O clube ainda tem território para crescer no Rio de Janeiro. Há 16,4 milhões de pessoas no estado, das quais 48,2% são rubro-negras, segundo pesquisa do Lance!/Ibope. Há, portanto, 7,93 milhões de flamenguistas no estado. Os 37.380 associados no Rio em maio de 2015 correspondem a 0,47% desse total. A frequência de sócios-torcedores no estádio foi de 20% no Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil de 2014. A média é prejudicada por excursões aos estádios Mané Garrincha, Cláudio Moacyr, João Castelo Branco e Arena da Amazônia, onde percentuais zeram, mas mesmo o Maracanã tem só 22%.
Sócios no resto do país e mundo:
30%
70%
O maior desafio do Flamengo é conquistar sócios no Nordeste, mas precisa levar o futebol até lá para isso.
07 6
Faturamento com sócio-torcedor em 2014: R$ 4,9 milhões
FLUMINENSE
Número de associados em maio de 2015: 25.020
O Fluminense ainda não conseguiu deslanchar em relação ao seu programa de sócios-torcedores, o Sócio do Futebol. Havia 13.392 cadastrados no “torcedômetro” em janeiro de 2013, 22.046 em janeiro de 2014 e 23.404 em janeiro de 2015. Em maio, mês mais recente deste relatório, foi a 25.020, com critério de 90 dias de inadimplência.
DIVISÃO POR SEXO
Embora tenha voltado a jogar no Macaranã por quase toda a temporada, o clube oscilou e ainda não conseguiu gerar uma renda considerável. Os R$ 2,8 milhões arrecadados com sócios-torcedores em 2013 aumentaram para R$ 4,9 milhões em 2014, o que o deixa na terceira pior posição financeira entre os considerados 12 grandes clubes brasileiros.
15%
85%
LOCALIZAÇÃO DOS SÓCIOS TORCEDORES
O estado do Rio de Janeiro possui 16,4 milhões de habitantes, dos quais 12,9%, de acordo com o Lance!/Ibope, são torcedores do Fluminense. Isso equivale a um universo de 2,12 milhões de pessoas. Os sócios no Rio, 16.263, correspondem a 0,77%. O Rio deve ser prioridade na expansão, é claro, mas há 1% dos 56,1 milhões de habitantes do Nordeste, também segundo o Lance!/Ibope, que torcem pelo tricolor carioca. São 561,8 mil pessoas que devem ser encontradas e engajadas pelos dirigentes do clube. O Fluminense também tem o desafio de aumentar a frequência de associados em jogos como mandante. A média de Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil em 2014 foi de apenas 10%, sendo que o Maracanã, sozinho, sem ser prejudicado por estádios como Mané Garrincha, Cláudio Moacyr e Raulino de Oliveira, rendeu pouquíssimo a mais, 11%.
Sócios no resto do país e mundo:
35%
Vale lembrar que o marketing tricolor, antes de focar no sócio-torcedor, trabalhou melhor o sócio patrimonial. Este, sim, rendeu R$ 13 milhões em 2014.
65%
08 7
Faturamento com sócio-torcedor em 2014: R$ 50,7 milhões
GRÊMIO
Número de associados em maio de 2015: 83.074
Diferentemente da maioria dos times de futebol do Brasil, o Grêmio já entrou no Movimento Por Um Futebol Melhor, em maio de 2013, com um bom número de associados. Havia 71.974 àquela altura. Em janeiro de 2014, 74.682. Em janeiro de 2015, 80.581. Percebe-se, no entanto, que, embora haja crescimento ao longo do tempo, ele é lento. Lento e questionável. O critério para inadimplência adotado pelo clube é de 365 dias, portanto um associado que não pague mensalidades há 11 meses e 29 dias ainda é considerado neste contador. Assim, o “torcedômetro” é útil no caso do Grêmio apenas para medir quantos associados novos entram, mas não quantos saem, nem quantos são de fato ativos. A receita gremista com o quadro social é a segunda maior do país, mas, de novo, deve ser questionada. Os R$ 50,7 milhões que o clube aponta em seu balanço financeiro de 2014 se referem a todas as receitas “patrimoniais”, não apenas ao programa de sócios-torcedores, como a maioria dos outros brasileiros. Feita a ressalva, o número ainda caiu em relação a 2013, quando entraram R$ 58 milhões.
DIVISÃO POR SEXO
25%
75%
LOCALIZAÇÃO DOS SÓCIOS TORCEDORES
Dos 11,2 milhões de habitantes do Rio Grande do Sul, o Grêmio tem 39,6%, segundo o Lance!/Ibope, ou 4,43 milhões de torcedores. Os 73.105 associados em maio no RS correspondem a 1,65% deste universo. A frequência de sócios nas partidas em casa é elogiável. No Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil de 2014, a média foi de 52%. Se desconsiderados dois jogos no Alfredo Jaconi, só com a Arena do Grêmio, o percentual sobe para 55%. O Grêmio certamente está à frente da maioria dos clubes do país neste aspecto. Mas a imprecisão no balanço e no “torcedômetro” impede saber quanto.
09 8
Sócios no resto do país e mundo:
12%
88%
Faturamento com sócio-torcedor em 2014: R$ 59 milhões
INTERNACIONAL
Número de associados em maio de 2015: 136.980
Referência brasileira em termos de sócios-torcedores há uma década, sobretudo por ter sido o primeiro a conseguir 100 mil sócios e uma receita considerável a partir deles, o Internacional sofre o efeito de provavelmente ter batido no teto neste aspecto. Campanhas lançadas nos últimos anos para dobrar novamente o número de associados, a 200 mil, não foram bem, rivais com torcidas maiores começam a ultrapassá-lo e alguns de seus critérios são questionáveis.
DIVISÃO POR SEXO
O critério para inadimplência no “torcedômetro” é de 365 dias, portanto um filiado que não pague mensalidades há 11 meses e 29 dias segue contabilizado. Por isso a curva com o número de sócios só sobe, nunca desce. Na realidade, dos 136 mil que o clube informou à Ambev em maio, 102 mil estão adimplentes. Isso já o deixa atrás de Palmeiras e Corinthians, não que o status de maior deva importar.
25%
75%
LOCALIZAÇÃO DOS SÓCIOS TORCEDORES
A receita obtida pelo Internacional também é imprecisa. O balanço financeiro relata “sociais”, uma soma de sócios-torcedores e sócios patrimoniais que outros brasileiros não fazem. De qualquer maneira, os R$ 59 milhões registrados representam aumento sensível em relação aos R$ 39,3 milhões de 2013, R$ 46 milhões de 2012, R$ 40,9 milhões em 2011 e R$ 39 milhões em 2010. Mesmo com critérios frágeis, o Inter ainda é principal referência do país no quesito. O Rio Grande do Sul tem 11,2 milhões de habitantes. 40%, segundo o Lance!/Ibope, são torcedores. Dos 4,48 milhões de colorados no estado, por sua vez, 124.652 eram ditos ativos em maio. O aproveitamento de 2,78%, bem próximo do Barcelona.
Sócios no resto do país e mundo:
9%
A frequência de associados nos jogos em casa é alta, 66%, e fica um pouco maior, em 69%, quando considerados apenas os confrontos no reformado BeiraRio, sem duas ocasiões mais fracas no Centenário.
11 10
91%
Faturamento com sócio-torcedor em 2014: R$ 20,6 milhões
PALMEIRAS
Número de associados em maio de 2015: 123.373
O Palmeiras, alavancado pelo sucesso do Allianz Parque, ainda sem bons resultados dentro de campo, assumiu a dianteira em relação a programas de sócios-torcedores. O Avanti, como é apelidado, saiu de 9.930 em janeiro de 2013 para 36.215 em janeiro de 2014, 88.319 em janeiro de 2015 e 123.373 em maio. A considerar que o Internacional mascara a inadimplência, já é possível afirmar com segurança que os palmeirenses têm o maior quadro do país.
DIVISÃO POR SEXO
A receita estourou. O mísero R$ 1,5 milhão que o Avanti gerou em 2013 saltou para R$ 20,6 milhões em 2014 – o clube une o Avanti à Timemania no balanço financeiro, mas a loteria rende muito pouco para atrapalhar a análise. E o valor deve passar por novo aumento considerável em 2015, porque o Allianz Parque, reinaugurado somente no penúltimo mês de 2014, teve pouco tempo para gerar efeito. O prazo para considerar inadimplência é de 90 dias.
12%
88%
LOCALIZAÇÃO DOS SÓCIOS TORCEDORES
O estado de São Paulo tem 44 milhões de habitantes, e a torcida alviverde, com 13,5% do total segundo o Lance!/Ibope, corresponde a 5,94 milhões. O aproveitamento palmeirense, portanto, é de 1,85% sobre os 109.802 sócios que tinha no estado em maio, já muito acima da maioria dos adversários brasileiros. A frequência do sócio-torcedor no estádio aumentou muito com a volta da casa própria. A média do clube no Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil de 2014 foi de 58%, mas a maior parte do ano foi feita no Pacaembu, com alguns jogos na Fonte Luminosa e em Presidente Prudente, onde os percentuais caem muito. A considerar somente o Allianz Parque, a frequência teve média de 72% em dois jogos.
Sócios no resto do país e mundo:
11%
O desafio, no Palmeiras, é lidar com a precificação: não encarecer demais, para não desanimar a torcida e gerar inadimplência, mas cobrar o que pode.
89%
12 11
Faturamento com sócio-torcedor em 2014: R$ 15,4 milhões
SANTOS
Número de associados em maio de 2015: 57.689
Após um início contundente, empurrado pelas jogadas de Neymar dentro e fora de campo, o Santos estacionou em termos de sócio-torcedor em 2014 e, hoje, precisa ter pressa para corrigir alguns atrasos.
DIVISÃO POR SEXO
O número de associados variou entre 48.517 em janeiro de 2013, 54.077 em janeiro de 2014 e 57.029 em janeiro de 2015. Em maio, mês mais recente deste relatório, havia 57.689. Mas esses números são questionáveis pois o critério santista para inadimplência é de 180 dias. Um torcedor que não pague há cinco meses e 29 dias ainda é contabilizado. Na prática, menos da metade disso está adimplente.
82,5%
A receita, apesar desse asterisco no tamanho do quadro, cresce. De R$ 5,4 milhões em 2010, ela foi para R$ 7,2 milhões em 2011, R$ 7,8 milhões em 2012, R$ 12,6 milhões em 2013 e R$ 15,4 milhões em 2014.
17,5%
LOCALIZAÇÃO DOS SÓCIOS TORCEDORES
Do estado de São Paulo, com 44 milhões de pessoas, o Santos tem 6,6% segundo o Lance!/Ibope. E dos 2,9 milhões de santistas na região, 53.362 eram tidos como sócios ativos em maio, portanto 1,84%. A frequência do sócio-torcedor nos jogos em casa foi de 38% no Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil de 2014, mas aí há duas realidades. Em uma, no Pacaembu, na capital São Paulo, a frequência foi de 25%. Em outra, na Vila Belmiro, na Baixada Santista, a frequência foi de 47%. Ou seja, o Pacaembu é mais lucrativo nas bilheterias, mas a Vila Belmiro atrai maior proporção de associados. Uma encruzilhada.
Sócios no resto do país e mundo:
Dos atrasos, um é teoricamente simples de resolver: pagamento via cartão de crédito. Hoje ele ocorre em boleto, inclusive com a compra antecipada do ingresso, então alguém pode se associar, ir ao jogo e não pagar nem mensalidade, nem tíquete. Outro, complexo, é modernizar a envelhecida Vila Belmiro.
7,5%
92,5%
13 12
Faturamento com sócio-torcedor em 2014: R$ 7,4 milhões
SÃO PAULO
Número de associados em maio de 2015: 55.842
O programa de sócios-torcedores do São Paulo oscila entre bons números em alguns indicadores e maus em outros. A quantidade de filiados é crescente: 15.279 em janeiro de 2013, 20.499 em janeiro de 2014 e 44.242 em janeiro de 2015. No mês de maio, chegou a 55.842, o que mostra maior aceleração no ano. O critério de inadimplência é o mais justo do país, de acordo com o próprio clube: um dia. Basta um dia de mensalidade em atraso para não ser mais considerado no “torcedômetro” coordenado pela Ambev.
DIVISÃO POR SEXO
10%
O problema é que a receita não acompanhou o aumento quantitativo. Foram arrecadados R$ 5,3 milhões em 2010 com sócios-torcedores, R$ 3,3 milhões em 2011, R$ 3,7 milhões em 2012, R$ 7,1 milhões em 2013 e R$ 7,4 milhões em 2014. O resultado do ano mais recente é o maior da história, mas está muito pouco acima do de cinco anos antes.
90%
LOCALIZAÇÃO DOS SÓCIOS TORCEDORES
No estado de São Paulo há 44 milhões de pessoas. Delas, 17,8% são tricolores, de acordo com pesquisa do Lance!/Ibope, equivalentes a 7,83 milhões. Desse universo, os 46.349 associados no estado representam 0,71%, portanto há muito território para crescer. A fragilidade são-paulina é o Morumbi. A frequência de associados em jogos como mandante é de 10% no Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil de 2014, e a maior participação, 37%, aconteceu na Arena Barueri, no interior de São Paulo, não em casa. O Morumbi, sozinho, tem menos: 9% de frequência. Sócios no resto do país e mundo:
A estratégia que melhor sucedeu no futebol brasileiro foi lotar o estádio e, a partir daí, usar o programa de sócios para dar desconto e preferência no ingresso. Só que o São Paulo não consegue ocupar o Morumbi, que não foi reformado no embalo da Copa do Mundo de 2014, portanto este diferencial do sócio-torcedor inexiste. A saída é rever a estratégia desde o estádio.
17%
83%
13
Faturamento Médio com Bilheteria: Não disponível
VASCO
Número de Sócios: 16.639
O Vasco é certamente o clube mais atrasado do Brasil, entre os de maior torcida, quando o assunto é sócio-torcedor. O número de associações era de 6.545 em janeiro de 2013, foi para 14.355 em janeiro de 2014 e, depois, para 15.534 em janeiro de 2015. Muito pouco para um time popular que, no início da década, pôs como meta chegar a 100 mil sócios.
DIVISÃO POR SEXO
A receita do programa vascaíno não é destacada em balanço financeiro, portanto é desconhecida. O critério para considerar alguém inadimplente no “torcedômetro” da Ambev é de 30 dias.
7%
O potencial vascaíno está no tamanho da torcida. O estado do Rio de Janeiro tem 16,4 milhões de habitantes, dos quais, segundo o Lance!/Ibope, 14,6% torcem para o cruzmaltino. São 2,4 milhões de pessoas. Os 14.143 associados que o clube registrou no Rio correspondem a 0,59% desse universo. Os 4% de torcedores na região Nordeste, 2,24 milhões de habitantes entre 56,1 milhões, ainda representam outro vasto território a ser explorado pelo Vasco.
93%
LOCALIZAÇÃO DOS SÓCIOS TORCEDORES
Mas os problemas são vários e de difícil solução. Um: o clube está em litígio com a Microtag, empresa que tem exclusividade na gestão do programa, contratada pela gestão de Roberto Dinamite. Dois: São Januário é um estádio envelhecido, de difícil acesso, pouca margem para tíquetes mais caros e baixa média de público. Três: o presidente, Eurico Miranda, diz se recusar a jogar no Maracanã e trava batalhas públicas com a concessionária do estádio que poderia, com um contrato bem feito para os dois lados, dar motivos para que o vascaíno se associasse.
Sócios no resto do país e mundo:
15%
Essas dificuldades, somadas ao fato de que clubes com torcidas nacionais têm desafios maiores ao gerir programas de associação, tiram da perspectiva do Vasco uma receita que todos, menos ele, já têm.
85%
15 14
SÓCIO-TORCEDOR NA EUROPA: OUTRO MODELO, OUTRO OBJETIVO A comparação de programas de associados europeus segue os mesmos parâmetros da brasileira: importa não só o número de sócios, mas o tíquete pago por eles, a taxa de inadimplência e a receita que os clubes efetivamente conseguem. Nada disso é fácil de monitorar porque, um, a transparência dos europeus quanto a esses dados é mínima. Dois, eles seguem um modelo, do ponto de vista conceitual, diferente dos adotado no Brasil. Vamos com cuidado.
benefícios. No Manchester United, por exemplo, a cota de membro custa 32 libras (R$ 155) por temporada e dá preferência e desconto de cinco libras em cada ingresso, entrada gratuita em partidas sub-21, 10% de desconto em lojas conveniadas, 50% visita ao estádio e cartão que identifica o torcedor como “oficial”. A receita é impossível de ser evidenciada porque, no balanço financeiro, o time inglês coloca a associação junto com ingressos, alimentação e estacionamento do estádio, enfim, todas as receitas que compõem o que europeus chamam de “matchday”, o dia do jogo. É assim nos principais países europeus – Inglaterra, Alemanha, Itália e França.
A mera comparação do número de filiados é pouco útil. Por ela, o Benfica parece referência. Embora o time português seja bom exemplo porque conseguiu, num mercado pequeno, incapaz de render grandes cifras com direitos de transmissão e patrocínios, levantar alguma receita a partir do relacionamento com o torcedor, ele não é um modelo a ser seguido.
Na Espanha balanços financeiros mostram um item “sócios”, o que há de mais próximo com o Brasil, por isso tomaremos o Barcelona como referência daqui em diante, este sim dono de receita considerável, € 50,1 milhões em 2013/2014, equivalentes a R$ 151,2 milhões. Os catalães tinham 153.458 sócios ao fim da temporada 2013/2014, queda de 5% em relação aos 161.197 de 2012/2013. Os preços das cotas variam conforme assentos no estádio Camp Nou, muitos deles fixos, por isso não são divulgados pelo Barça, mas basta dividir a receita pelo número de sócios para notar que o preço da filiação é muito superior ao do Benfica. Ainda assim, não se sabe quanto desta cifra entrou somente com as associações e quanto entrou por meio de tíquetes para toda a temporada.
Os portugueses informaram no balanço financeiro referente a 2013/2014 ter 236.044 associados, acima dos 230.195 registrados em 2012/2013, o que os coloca muito à frente de qualquer brasileiro. Mas não divulgaram um dado fundamental: quantos desses estão com mensalidades em dia. A receita que o Benfica obteve com a “quotização” em 2013/2014 foi de apenas € 3 milhões, à época equivalentes a R$ 9 milhões. Com a ressalva de que, do total, 25% da receita com sócios foram enviados ao Benfica SAD, o “Benfica empresa”, em 2013/2014. Trata-se de um detalhe contábil que impede saber quanto, de verdade, o clube gerou. Mas é fato que o dinheiro levantado pelos portugueses com sócios é inferior ao de muitos brasileiros. Aquele numerão, 236 mil filiados, desconsidera a inadimplência, isto é, uma parte desconhecida, provavelmente grande, não está com mensalidades pagas. O preço cobrado: 12 euros por mês (R$ 42) pela cota mais cara, destinada a adultos que vivem em Lisboa. Quem mora a mais de 50 km da capital paga oito euros (R$ 28), quem tem entre 14 e 18 anos, seis euros (R$ 21), e quem for menor de 14, três euros (R$ 10). Resumidamente, o Benfica não é modelo porque tem baixa receita, consequência de preços baixos, e alta inadimplência. Outros três clubes se destacam na quantidade de filiados. O Bayern de Munique anunciou ter 251.315 sócios em 28 de novembro de 2014, o Barcelona tinha 153.458 em 30 de junho de 2014, e o Manchester United aparecia com 151.079 em um documento produzido pela Fifa na década passada, hoje desatualizado. Mas, de novo, é preciso cuidado ao olhar para esses números e tirar conclusões boas ou ruins.
Note, agora, a diferença conceitual. O Barcelona não faz questão alguma de elevar o número de sócios. Um “membro”, como é chamado, só consegue fazer parte do quadro se tiver parentesco com algum outro membro, seja pai ou mãe, avô ou avó, marido ou esposa, cunhado ou cunhada, padrasto ou madrata, tio ou tia, sobrinho ou sobrinha, primo ou prima. Para alguém sem um parente para lhe introduzir, o caminho é comprar um “cartão de compromisso”. Ele custa € 137 (R$ 413) e não dá nenhum dos direitos que os membros têm: direito a voto ou participação da Assembleia Geral, preferência na compra de ingressos ou direito de comprar um season ticket. Ele só serve para um propósito: quem o tiver por três anos pode se candidatar a ser membro. Candidatarse! A entrada não é garantida mesmo com alto pagamento e espera de três anos, e o sujeito ainda tem de ir pessoalmente a Barcelona para recebê-lo, sem entrega por correio. Não se sabe quantos se dispuseram a comprar tal cartão. O “sócio-torcedor” do Barcelona não foi feito para ser democrático, mas um clube exclusivo, para poucos e próximos.
Na maioria dos países europeus, o “sócio-torcedor” é mais um caminho para assegurar tíquetes para toda a temporada (season ticket) do que um programa de
Por tudo isso, não vá se gabar se teu clube tiver mais associados do que um gigante europeu. Há modelos, métricas e objetivos muito diferentes.
15
A EVOLUÇÃO QUANTITATIVA DO SÓCIO-TORCEDOR NO BRASIL 136.980
123.373 112.295
110.350
83.074 74.682
71.157
60.849
57.689 53.400
54.077
55.842
49.428 42.733
40.833
36.215 26.432
25.020
22.046 20.499 14.355
16.639 13.742
10.809
JAN
FEV
MAR
ABR
Atlético Mineiro Botafogo Corinthians
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
Cruzeiro Flamengo Fluminense
OUT
NOV
DEZ
JAN
Grêmio Internacional Palmeiras
A evolução dos programas de sócios no Brasil só pôde ser medida porque a Ambev, líder do Movimento Por Um Futebol Melhor, grupo que tem uma dezena de outras empresas e concede descontos a filiados de times de futebol, montou um “torcedômetro” com números de cada clube. A soma de dez grandes, ainda sem Grêmio e Internacional, os mais avançados nesse aspecto até então, começou em janeiro de 2013 com 164.736 associados. Um ano depois, em janeiro de 2014, já com os gaúchos, saltou para 524.420. Após mais um ano, em janeiro de 2015, foi para 681.721. Em maio de 2015, mês mais recente, havia 788.099. Do ponto de partida, a quantidade de associados mais do que quadruplicou em dois anos.
FEV
MAR
ABR
MAI
Santos São Paulo Vasco da Gama
inadimplência. Note que o Inter, líder desde sempre no Brasil em número de sócios, não caiu nenhuma vez na história. Isso acontece porque o colorado gaúcho, junto com o rival Grêmio, leva um ano para tirar um sócio inadimplente da conta. Mesmo se ele não paga há 364 dias, continua a inflar o número total. O Santos, seis meses. Logo, são clubes que só têm a ganhar, nunca a perder, daí a dificuldade para analisar quaisquer resultados obtidos por eles. Cruzeiro e Fluminense esperam 90 dias para excluir inadimplentes. O Atlético-MG, 60. Botafogo, Corinthians, Palmeiras e Vasco, 30. Por isso esses clubes se mantém estáveis por longo período e, de repente, podem ganhar ou perder uma grande quantidade de sócios. O Flamengo tem como critério sete dias. O São Paulo, um só. Esses dois, por isso, tendem a oscilar mais em períodos menores. O recado é: houve avanço, e isso é ótimo, mas não esqueça da inadimplência ao calcular sócios. Festeje com moderação.
Mas tome cuidado com conclusões. Cada time informa por conta própria o número de associados à Ambev, que por sua vez, sem auditoria, coloca-os no “torcedômetro”. Cada clube tem um parâmetro para
16
QUANTOS SÓCIOS OS BRASILEIROS TERIAM SE IGUALASSEM O BARCELONA Quantos sócios-torcedores cada clube de ponta no Brasil pode ter? Eis uma proposta de raciocínio, não necessariamente de números conclusivos, para projetar o potencial em quantidade de cada equipe.
“estado” de origem do clube catalão. Se houvesse mais dados sobre brasileiros disponíveis, perceberiase a mesma concentração na cidade de origem. Infelizmente, nem todos os times conseguem dizer quantos sócios-torcedores estão na cidade por falhas de cadastro – a pessoa erra ao preencher o formulário e ou põe o município errado, ou não põe nada, de modo que o estado em muitos casos só pode ser identificado por meio do prefixo telefônico. Pois é.
Considere, primeiro, que programas de associação têm característica local. Gaúchos, paulistas e mineiros têm entre 80% e 95% de seus sócios-torcedores com residência no estado de origem do clube. A história só muda um pouco de figura com cariocas, cujas constantes transmissões de rádio e televisão para Norte e Nordeste do Brasil formaram torcedores distantes ao longo das décadas. No caso de Botafogo, Flamengo e Fluminense, os percentuais no estado do Rio de Janeiro ficam entre 65% e 76%. A localidade também existe no caso do Barcelona. Dos 153.458 associados do time espanhol, 39% estão na cidade de Barcelona, e 52%, no restante da região da Catalunha – logo, 91% estão concentrados no
CLUBE
Esta característica facilita as vidas de paulistas e dificulta as de cariocas. É absolutamente natural que Corinthians e Palmeiras tenham hoje muito mais sócios-torcedores do que o Flamengo, por mais que o Flamengo tenha mais torcedores nacionalmente, porque corintianos e palmeirenses estão concentrados na cidade e no estado de São Paulo, muito populoso, enquanto flamenguistas estão mais espalhados por Rio de Janeiro, Norte, Nordeste e Brasília. A seguir, o cálculo é o seguinte: o Barcelona possui 65% dos torcedores na Catalunha, segundo pesquisa do Centro de Investigaciones Sociológicas (CIS), instituto de pesquisas da Espanha. A Catalunha tem 7,5 milhões de habitantes, logo se pode estimar que o Barça tenha 4,8 milhões de torcedores na região. Dos 153.458 associados que possui, 140.078 estão na Catalunha, portanto o aproveitamento é de 2,87%.
SÓCIOS EM SÓCIOS COM MAIO DE 2015 % DO BARÇA (TODO O PAÍS) (ESTADO + NE)
ATLÉTICO MG
40.833
188.164
BOTAFOGO
13.742
70.028
CORINTHIANS
110.350
561.896
CRUZEIRO
71.157
163.154
FLAMENGO
53.400
582.851
FLUMINENSE
25.020
77.120
GRÊMIO
83.074
127.455
INTERNACIONAL
136.980
128.743
PALMEIRAS
123.373
235.269
SANTOS
57.689
99.602
SÃO PAULO
55.842
305.784
VASCO
16.639
133.564
A partir daí, a ideia sugerida é: “se meu clube tiver o mesmo aproveitamento que o Barcelona, referência no trato do quadro social, meu clube pode ter tantos sócios-torcedores”. Mas, de novo, a considerar apenas as torcidas existentes em regiões de origem, não no país inteiro. Com dados de tamanho de torcida por estado e por região publicados pelo Lance!/Ibope em 2014, foi estimado o número de torcedores que cada clube tem em seu estado. Depois, multiplicado por 2,87%. Como nesta conta cariocas sairiam muito desfavorecidos, o cálculo foi repetido com base nas torcidas que cada um tem no Nordeste. A soma de potenciais sócios no estado de origem e no Nordeste está no quadro ao lado. O Internacional, “estadual”, bateu no teto e, a menos que consiga um percentual inédito no mundo no Rio Grande do Sul, tem pouca chance de crescer em quantidade. Precisa encarecer para ter mais receita. O Palmeiras, regional, já tem “metade” do que teria se fosse o Barça, e o Flamengo, nacional, um décimo. Evidentemente, a estimativa seria ainda mais precisa se fosse repetida com populações e torcidas de cidades, não estados. Esses números, repito, apenas sugerem um raciocínio diferente para lidar com projeções de sócios, e não conclusões definitivas.
17
POR QUE CLUBES BRASILEIROS TÊM DE INCLUIR MULHERES NO FUTEBOL Os 12 clubes mais populares do Brasil somaram, em maio de 2015, 788.099 sócios-torcedores. Desses, 132.480, ou 17%, são do sexo feminino. É pouco. É natural, sim, que elas sejam minoria em programas de associação pois, historicamente, o interesse delas pelo futebol é menor do que o deles. Mas é tarefa dos times inclui-las. Não só por questão de igualdade, mas porque o público feminino é um bom negócio.
moda, acessórios, entre outras. Essas companhias não têm razão para investir em futebol porque o vínculo que clubes têm com mulheres é fraco. Pois os programas de associação são um caminho para que o time se aproxime da torcedora, conheça-a, saiba o que ela gosta de consumir e, com essas informações, abra o mercado do futebol para marcas femininas. A inclusão feminina no futebol é boa para o próprio espetáculo. Ter mais sócios-torcedoras nos estádios é também um modo de reduzir violência e algazarra.
Estatísticas de institutos como o IBGE mostram que, recentemente, mulheres passaram a ter nível educacional superior ao dos homens, reduziram a disparidade em salários (hoje uma profissional ainda ganha 73,7% do que recebe um mesmo profissional, mas a diferença tem diminuído nos últimos anos), passaram a ter menos filhos – dois, em média, em vez dos quatro da década de 1980 – e começaram a tê-los mais velhas, depois dos 25. Esses e outros indicadores reforçam o status de consumidora de enorme potencial para marcas e, por que não?, futebol.
Hoje Grêmio e Internacional, no Rio Grande do Sul, e Corinthians, em São Paulo, são os clubes brasileiros que proporcionalmente mais têm sócias: 25% em ambos os gaúchos e 20% no paulista. Todos estão abaixo do Barcelona, referência neste relatório, cujo quadro social tem 26% de mulheres. Uma hipótese banal, mas que mostra a força delas: se as 39.477 mulheres do time catalão formassem um clube, fariam o décimo maior sócio-torcedor do futebol brasileiro. Os espanhóis, inclusive, mostram que o público feminino é mais fiel do que o masculino. De 2010/2011 a 2013/2014, um período de quatro temporadas, o Barça perdeu 22.600 associados. A queda entre homens foi de 17%, e a entre mulheres, 8%.
Do lado das empresas, Nike e Adidas são dois exemplos de gigantes esportivas que definiram foco na mulher. Não só no Brasil, mas globalmente. Fora do esporte, há diversas marcas do universo feminino que nem passam perto do futebol: cosméticos, HOMENS
91%
HOMENS
75%
MULHERES
9%
MULHERES
25%
HOMENS
90%
HOMENS
75%
MULHERES
10%
MULHERES
25%
HOMENS
80%
HOMENS
88%
MULHERES
20%
MULHERES
12%
HOMENS
85%
HOMENS
82,5%
MULHERES
15%
MULHERES
17,5%
HOMENS
92%
HOMENS
90%
MULHERES
8%
MULHERES
10%
HOMENS
85%
HOMENS
93%
MULHERES
15%%
MULHERES
7%
18
A ‘ESPANHOLIZAÇÃO’ QUE NÃO PODE SER EVITADA: A DOS TORCEDORES O futebol brasileiro aparenta ser nivelado esportivamente, diferente de países europeus nos quais quase sempre os mesmos times são campeões, porque clubes ganhavam a maior parte do dinheiro da mesma fonte, a emissora de televisão, e aqueles que levavam a maior fatia gastavam mal. Corinthians e Flamengo recebiam mais da TV do que adversários já na época do Clube dos 13, passaram a ganhar proporcionalmente mais dela depois que contratos individuais foram assinados por todos, e só não dominaram o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil até agora porque gastam mal. A crescente disparidade entre esses dois e os demais times brasileiros (menor do que nos principais países europeus, mas crescente) gerou o papo da “espanholização” – Real Madrid e Barcelona têm destaque na Espanha porque são absolutamente favorecidos na divisão de receitas de TV. Este não é o espaço para debater cotas de direitos de transmissão, mas elas são lembradas aqui pela seguinte razão: se clubes, mercado e torcedores temem a “espanholização” decorrente da divisão desigual do dinheiro da televisão, precisam abrir os olhos para a “espanholização” gerada pelo torcedor.
modernas (Arena do Grêmio, Beira-Rio, Independência e Mineirão), este fator gera menos desigualdade. Do ponto de vista nacional, os tamanhos das torcidas terão um impacto muito maior na divisão de receitas entre clubes do que tiveram nas décadas passadas. Até então, influenciavam indiretamente em contratos com fornecedores de materiais esportivos, patrocínios e direitos de transmissão, pois contingentes maiores de seguidores compram mais uniformes, consomem mais produtos no cotidiano e geram maiores audiências às emissoras. Mas todos esses negócios têm a influência de mais variáveis: política, administrativa, circunstancial. Fontes de receita como estádios e programas de associação são “puras”: ganha mais dinheiro o clube que tiver mais torcedores, que cobrar preços mais caros deles, que os mantiver com mensalidades em dia, que os incentivar a ir ao estádio e a consumir produtos licenciados. Não há acordo político que interfira nessa grana. Essa perspectiva anima uns e desanima outros. Internacional e Grêmio, com gestões inegavelmente mais avançadas do que as dos demais adversários no trato do torcedor, esbarram no fato de que suas torcidas estão concentradas no Rio Grande do Sul. Formar torcedores ou simpatizantes em outros estados brasileiros é trabalhoso, demorado, e aparentemente os gaúchos não fazem questão disso. Colorados e gremistas estão em um território bem explorado e limitado. Podem ser ultrapassados não só em número de associados, mas principalmente em receita, em questão de anos por rivais. AtléticoMG e Cruzeiro têm posições similares em Minas.
Há no Brasil uma linha clara que divide “grandes” clubes com potencial para faturar muito com torcedores, em particular sócios e estádio, e “grandes” que ficaram para trás e podem, em algum momento, tornar-se “médios” no imaginário popular. Se até a década passada a posse de um estádio dividia times do ponto de vista financeiro, hoje é a presença de um arena moderna que o faz. O Rio de Janeiro ilustra bem a questão. O Vasco não paga aluguel em São Januário e, por isso, levava vantagem sobre rivais locais por ter despesas de estádio proporcionalmente mais baixas. Só que o tempo passou, o Vasco investiu pouquíssimo na modernização de sua casa, e os três adversários conseguiram condições melhores. O Botafogo assumiu a posse do Engenhão, Flamengo e Fluminense assinaram contratos com o consórcio que passou a administrar o Maracanã e formalizaram parcerias. Mesmo sem a propriedade do Maracanã, o fato de o estádio ser maior e mais atrativo para todo torcedor carioca deixa flamenguistas e tricolores em posição privilegiada na captação e manutenção de sócios em relação a vascaínos. O mesmo acontece em São Paulo, onde o São Paulo tinha a dianteira, pois é dono do Morumbi e não paga aluguel, mas a perdeu por não modernizá-lo. O Santos, com a Vila Belmiro, também ficou para trás. Hoje o conforto que oferecem Allianz Parque e Arena Corinthians são decisivos na cratera que divide palmeirenses e corintianos de tricolores e santistas. No Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, onde ambos os principais times do estado têm acesso a arenas
Vasco, Fluminense e Botafogo, três com percentuais próximos de torcedores no Rio de Janeiro, entre 11% e 15% cada um, terão problemas pelo fato de que programas de associação são locais. Todos os três ainda têm percentuais baixos de aproveitamento no estado do Rio e certamente têm território para crescer, mas o potencial é muito menor do que o do Flamengo, dono de 48% da torcida local. Todos, claro, têm a saída que gaúchos não têm: buscar bases de associados em Brasília e Nordeste, onde já há redutos de simpatizantes. Mas isso envolve levar o futebol até esses torcedores de maneira planejada: “atenção, torcedor distante: nós jogaremos no seu estádio três vezes por ano e faremos uma série de outras experiências criadas para vocês no decorrer do ano. Associe-se”. É possível, mas trabalhoso. Corinthians e Palmeiras têm torcidas concentradas em São Paulo, o Flamengo a tem no país todo, e os três têm estádios modernos à disposição. Se aprenderem a gastar dinheiro, ninguém mais os segura.
19