Nexus Revista IFAM

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ISSN 2358-9981

Volume 1 | NĂşmero 1 | Abril de 2015

Manaus - AM



REITOR DO IFAM Antônio Venâncio Castelo Branco PRÓ-REITORA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO Ana Mena Barreto Bastos PRÓ-REITOR DE ENSINO Antônio Ribeiro da Costa Neto PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO Sandra Magni Darwich PRÓ-REITORA DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL Ana Maria Alves Pereira PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO Júlio Cézar Campos Anveres Comitê Editoral Msc. Raimundo Vicente Jimenez Dra. Sandra Magni Darwich Dr. Jackson Pantoja Lima Dr. Isaac Benjamin Benchimol Msc. Everton Moura Arruda Dr. João Batista Neto Msc. José Roselito Carmelo da Silva Dra. Ana Mena Barreto Bastos Esp. Doraneide da Conceição Cavalcante Tahira Organização e Edição Raimundo Vicente Jimenez Aline Zorzi Schultheis Capa e Diagramação Abraão Abreu Júnior Revisor de Normas Técnicas Odimar Porto Revisor de Língua Portuguesa Raimundo Vicente Jimenez Augusto Braga do Nascimento Revisora de Língua Inglesa Ana Célia Brandão de Farias Said Supervisor Gráfico Jorge Ernande Gomes de Magalhães Filho Tiragem 600 Exemplares


FICHA CATALOGRÁFICA R449 Nexus Revista da Extensão do IFAM - Nexus / Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas. – v.1 n.1 (abr./out. 2015). - Manaus: IFAM, 2015. Semestral.

ISSN 2358-9981

1. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas – Periódicos 2.Publicações Periódicas I. Título.

CDD 050


Editorial A publicação da Revista NEXUS representa uma conquista inusitada em nossa gestão, pois constitui um projeto há décadas acalentado e esperado pela comunidade. Sua materialização ocorre no momento em que as atividades de Extensão ganham força, capilaridade e se integram indissociavelmente aos demais projetos desenvolvidos pelo Ensino e Pesquisa. Urge, portanto, que esse papel de destaque atribuído à Extensão no novo perfil institucional seja reconhecido e divulgado para a sociedade. A Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2008, além de destacar o papel e relevância da Extensão nos Institutos Federais, reafirma a sua indissociabilidade do Ensino e da Pesquisa, sobre os quais atua como elemento articulador, estabelecendo mecanismos que inter-relacionam o saber acadêmico e o saber popular e, com isso, intensificando o diálogo permanente e contínuo instituto-sociedade-instituto-sociedade. Nessa perspectiva, pode contribuir efetivamente com a promoção da justiça social, da equidade, do desenvolvimento sustentável, da busca de soluções técnicas e geração de novas tecnologias, da socialização da cultura e do conhecimento técnico-científico. Decorridos 5 anos da implantação dos Institutos Federais, a Extensão tem ganhado relevância no dia-a-dia dessas instituições, o que tem possibilitado “enxergar” a mesma, sob um novo prisma, principalmente no que diz respeito às inúmeras possibilidades de desenvolvimento de programas, projetos e ações extensionistas vinculados ao desenvolvimento local e regional, sendo custeados, em sua maioria, com orçamento público da União, o que constitui um marco histórico na rede. No âmbito do Instituto Federal do Amazonas-IFAM, a Pró-Reitoria de Extensão-PROEX tem procurado estruturar as atividades de extensão em nível sistêmico, traçando diretrizes e garantindo o fomento técnico-financeiro aos projetos e programas desenvolvidos nos campi do instituto, o que ocorreu de forma mais efetiva após aprovação da Resolução Nº 35, do Conselho Superior, de 17 de dezembro de 2012, que regulamenta as atividades de extensão no IFAM, inclusive com aporte de recursos orçamentário-financeiros da própria instituição para custear os projetos. Esta medida foi extremamente importante para que ocorresse uma verdadeira propulsão de projetos e ações de extensão nos campi os quais precisam ser valorizados e reconhecidos, dando-lhes destaque e ampla divulgação junto à comunidade acadêmica e à sociedade como um todo. Nesse sentido, a criação da Revista NEXUS constitui um instrumento de divulgação de caráter técnico-científico, onde servidores e alunos poderão publicar os seus artigos e produções científicas, tomando-se por base as ações de extensão por eles vivenciadas que devem, acima de tudo, estar voltadas para a promoção de uma educação profissional, científica e tecnológica de qualidade, com foco no desenvolvimento local e regional. As temáticas abordadas neste primeiro número da revista são emblemáticas na medida em que traduzem plenamente os diversos matizes e facetas da extensão, sua abrangência intra e extra muros da escola, o estreitamento do diálogo com a comunidade, a geração, popularização e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos. Esperamos que as experiências aqui relatadas possam servir de estímulo à comunidade para que, nas próximas edições deste relevante veículo de comunicação, outros atores também possam enviar seus artigos e assim socializar os conhecimentos acadêmicos e populares gerados em sua trajetória de formação profissional. Finalmente, desejamos que a NEXUS tenha vida longa e que não lhe falte os alimentos(artigos) essenciais para tornar a sua vida mais significativa e prazerosa, cumprindo assim o seu papel de difusora da extensão tecnológica do IFAM. Sandra Magni Darwich Pró-Reitora de Extensão do IFAM



Sumário

Contribuições da Extensão para o Desenvolvimento Científico, Tecnológico e Social do Amazonas

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Conhecimento e Arquitetura Indígena na Criação de Pequenos AnimaisAves

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Mulheres Mil: Desafios e Conquistas

29

Pró-Rural Aquicultura: Relatos das Principais Ações de Extensão Tecnológica e um Panorama do Setor Aquícola do Estado do Amazonas, Brasil

35

Educação Musical para Crianças da Etnia Maguta no Alto Solimões

47

O Papel da Ayty – Incubadora de Empresas do IFAM no Ecossistema de Inovação do Amazonas

55

O Ensino da Física do 6º ao 9º Ano do Ensino Fundamental

65

Projeto Curupira e a Educação Profissional de Pessoas com Deficiência no Instituto Federal do Amazonas

71

A Pedagogia da Alternância e o Tema Gerador como Ferramenta de Ação, Reflexão e Conexão com o Mundo do Trabalho – Educação e Ambiente na Formação de Jovens Rurais no Amazonas

81

Qualificação Profissional para os Egressos do Sistema Penal do Amazonas: Uma Porta de Entrada para Reinserção Cidadã na Sociedade

89

Estratégias para Internacionalização dos Institutos Federais: Cultura e Língua

95

Atendimento das Pessoas com Deficiência em Uma Biblioteca: Estudo de Caso do Centro de Documentação e Informação – CDI do IFAM-CMC

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CONTRIBUIÇÕES DA EXTENSÃO PARA O DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO, TECNOLÓGICO E SOCIAL DO AMAZONAS Outreach and community affairs contributions for the amazon scientific, technological and social development

Sandra Magni Darwich, sdarwich@ifam.edu.br1 Raimundo Vicente Jimenez, jimenez@ifam.edu.br2 Doraneide da Conceição Cavalcante Tahira, doratahira@ifam.edu.br3

Resumo: Este artigo pretende contribuir com o conhecimento sobre a importância da Extensão para o desenvolvimento da sociedade, a partir de uma abordagem histórica sobre o surgimento das práticas extensionistas nas universidades e sua evolução na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Demonstra ainda o fortalecimento da Extensão, a partir da Lei 11.892 que criou os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia(IFs). Entretanto, o foco principal do artigo é mostrar as contribuições da Extensão do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) para o desenvolvimento científico, tecnológico e social do Amazonas através da apresentação dos principais programas, projetos e ações desenvolvidos nos últimos anos na instituição onde se constata substantivos avanços, principalmente a partir do fomento aos projetos desenvolvidos através das Bolsas de Extensão. Palavras-chave: Extensão. Desenvolvimento. Educação Profissional. Sociedade. Abstract: This paper intends to contribute for the knowledge about the outreach and community affairs importance for the society development, from a historical approach to the emergence of outreach and community practices in universities and its evolution in the Federal Network of Professional Education, Science and Technology Institutes. We further demonstrate the Outreach and Community Affairs strengthen process, from the creation of law 11.892 which established the Federal Education, Science and Technology Institutes. However, the main focus of the article is to show the Institute Outreach and Community Affairs contributions for the Amazon scientific, technological and social development through the presentation of key programs, projects and activities developed in recent years at the institution where we note substantial advances, mainly from projects developed through the Outreach scholarships promotion. Key words: Outreach. Development. Vocational Education. Society.

1Bióloga, Doutora em Entomologia, Pró-Reitora de Extensão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do

Amazonas - IFAM, Brasil.

2 Professor Msc. de Língua Portuguesa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas - IFAM, Brasil. 3 Pedagoga, Especialista em Gestão de Pessoas, Diretora de Extensão e Produção da Pró-Reitoria de Extensão do Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas - IFAM, Brasil.

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A EXTENSÃO NA LINHA DO TEMPO O início do que hoje se conhece como Extensão remonta à Idade Média e teria nascido em Portugal, no ano de 1269, quando, no Mosteiro de Alcobaça, foram adotados eventos para divulgar os ideais religiosos para além dos muros dos colégios. Esta prática veio a influenciar, mais tarde, extensionistas em vários países. Na segunda metade do século XIX, por volta do ano de 1867, a prática da extensão começou em Cambridge, na Inglaterra, com a necessidade de levar informações para as classes populares por meio de cursos e palestras (ROCHA, 2001). No início, estas atividades eram centradas na alfabetização para a população e, pouco a pouco, com a disseminação das práticas extensionistas nas universidades norte-americanas, começaram a assumir um caráter de prestação de serviços com o oferecimento de cursos técnicos e profissionalizantes. (RODRIGUES, 1997). Com o passar dos anos, outras universidades começaram a desenvolver atividades de extensão. No Brasil, no período de 1930 a 1970, por meio da extensão se ofereciam cursos técnicos para capacitação de mão de obra. Somente a partir de 1982, com o surgimento do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), essas práticas deixaram de ser meramente assistencialistas e buscouse uma maior inter-relação com a pesquisa e o ensino, fruto de uma concepção muito mais abrangente e integradora (RODRIGUES 1997). A partir daí, a extensão passou a se constituir em uma via de mão dupla entre a instituição de ensino e a comunidade onde são consideradas as demandas através de uma participação ativa na aplicação dos conhecimentos científicos, tecnológicos, culturais e populares, visando ao desenvolvimento local e regional e a diminuição das desigualdades sociais. Com este novo enfoque, a extensão Nexus Revista de Extensão do IFAM

passa a se constituir parte importante do currículo dos cursos, contribuindo para a produção do conhecimento. (JAZINE,2004). Em 1987, houve a criação do Fórum de Pró- Reitores de Extensão das universidades públicas brasileiras (FORPROEX). Uma das vitórias deste Fórum foi o lançamento do Plano Nacional de Extensão Universitária, em 1998. Nele o conceito de extensão está expresso como: (...) o processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre Universidade e comunidade.

No Plano Nacional de Extensão Universitária do MEC(1999), encontrou-se a seguinte referência: A atividade de extensão terá sentido se interpretada como a criação e recriação de conhecimentos possibilitadores de transformações sociais, onde a questão central será identificar o que deve ser pesquisado e para quais fins e interesses se buscam novos conhecimentos.

Em 2006, o FORPROEX reformulou o conceito de extensão universitária que hoje é adotado pela maioria das universidades: Extensão Universitária sob o princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, é um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre a universidade e outros setores da sociedade.

Este conceito foi aperfeiçoado e, em 2012, foi definido conforme a seguir: A Extensão é uma via de mão dupla com trânsito assegurado à comunidade acadêmica que encontrará na Sociedade a oportunidade de elaboração da práxis de um conhecimento científico. No retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que submetido à reflexão teórica será acrescido àquele conhecimento. (PLANO NACIONAL DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, 2012). Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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A EXTENSÃO NA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA No âmbito dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, as ações de Extensão têm sido uma marca em toda a sua trajetória histórica, ao contrário do que muita gente imagina. As Escolas de Aprendizes Artífices (1909) que deram origem à atual Rede Federal de EPCT, traziam em seu bojo características extensionistas na medida em que direcionavam o seu atendimento aos “filhos dos desfavorecidos da fortuna”, oportunizando-os não só a aprenderem um ofício, mas também a prestarem diversos serviços à comunidade, como parte integrante do projeto pedagógico daquelas instituições pioneiras. A implantação das unidades de ensino e a definição da oferta de cursos e serviços eram vinculados diretamente às demandas locais e regionais. As novas institucionalidades que surgiram após as Escolas de Aprendizes Artífices, antes dos atuais Institutos Federais, (Lyceu Industrial, Escola Técnica Federal, Escola Agrotécnica Federal, Escola Técnica vinculada à Universidade e Centro Federal de Educação Tecnológica-CEFET) muito contribuíram para o fortalecimento e ampliação do ensino e da extensão. Ocorre que esta última, mesmo sendo uma realidade marcante na vida institucional através de prestação de serviços, cursos de qualificação profissional, encontro de egressos, empreendedorismo, estágios profissionais, visitas técnicas, eventos culturais, científicos e tecnológicos, projetos e programas de inclusão social, parcerias com o setor produtivo, precisava da definição de uma política capaz de sistematizar, estruturar, fomentar e integrar suas atividades ao ensino e à pesquisa. Ou seja, era necessário profissionalizar a extensão, a fim de que ela ganhasse formalização ao que ela já tinha conquistado em termos de conteúdo e de destaque na vida das instituições e seus entornos. Nesse

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sentido, há de se destacar aqui a luta travada principalmente pelos Diretores Gerais e Dirigentes de Extensão. A implantação do primeiro Fórum de Extensão na Rede Federal de EPCT(FORDIREX) ocorreu ainda quando a rede era constituída pelas Escolas Técnicas Federais. A partir da implantação dos CEFETs em 2001, estas instituições começaram a receber estudantes de cursos superiores (Licenciaturas e Tecnologias), sendo necessária a adequação da práxis de ensino, pesquisa e extensão para atuar com um nível de ensino novo para a rede federal. A Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2008, que cria os Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia (IFs), em seu artigo 6º, inciso IV, estabelece que um dos papéis dos IFs é “desenvolver programas de extensão e de divulgação científica e tecnológica” e no seu artigo 7º, incisos IV e V expressa de modo claro a necessária atuação da extensão nos Institutos: IV - desenvolver atividades de extensão de acordo com os princípios e finalidades da educação profissional e tecnológica, em articulação com o mundo do trabalho e os segmentos sociais, e com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos; V - estimular e apoiar processos educativos que levem à geração de trabalho e renda e à emancipação do cidadão na perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local e regional.

Dessa forma, traz em seu bojo a importância da extensão enquanto agente de articulação e prospecção de demandas da sociedade e coloca a Extensão como atividade-fim na Rede Federal de EPCT. Com a criação dos Institutos Federais veio também a necessidade de alteração da nomenclatura do Fórum de Dirigentes de Extensão – FORDIREX, que passou a denominar-se Fórum de Pró-Reitores de Extensão da Rede Federal de EPCT - FORPROEXT. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


Em 2012, o FORPROEXT publicou o documento “Extensão Tecnológica - Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica”, com a aprovação do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica – CONIF. Este documento constitui uma base teórica que contém a fundamentação sobre a Extensão praticada pela Rede Federal de EPCT, tais como conceitos, diretrizes, políticas, além de sua integração com o mundo do trabalho e a sociedade. No mesmo documento, o FORPROEXT define Extensão como o: Processo educativo, cultural, social, científico e tecnológico que promove a interação entre as instituições, os segmentos sociais e o mundo do trabalho com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos visando ao desenvolvimento sócio- econômico sustentável local e regional.

Finalmente, vale destacar outra conquista imprescindível para o fortalecimento e institucionalização da extensão na Rede Federal que foi a garantia de seu financiamento através de rubrica própria na matriz orçamentária dos IFs, fator decisivo para ampliar a qualidade e quantidade dos programas e projetos de extensão. A seguir, tentaremos mostrar o itinerário de expansão das atividades extensionistas no IFAM e suas contribuições para o desenvolvimento científico, tecnológico e social do Amazonas. CONTRIBUIÇÕES DA EXTENSÃO PARA O DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO, TECNOLÓGICO E SOCIAL DO AMAZONAS No IFAM, as ações de Extensão começaram a ser desenvolvidas desde a época de sua criação enquanto Escola de Aprendizes Artífices, pois professores, diretores e mestres de Nexus Revista de Extensão do IFAM

oficinas sempre buscaram um estreito relacionamento com a comunidade e o setor produtivo, o que ratifica Nunes de Mello, (2009): (...) Os eventos realizados à época pela instituição traziam autoridades, empresários e comunidade para conhecer as atividades desenvolvidas pela Instituição, mostrando, portanto, a interação da Instituição de Ensino com a Sociedade.

Dentre as atividades de extensão realizadas, destacam-se os cursos intensivos e extraordinários que eram oferecidos às empresas, ao comércio e à comunidade em geral, os quais foram implementados a partir da aprovação do Regulamento do Ensino Industrial, em 1959. Visitas técnicas, encaminhamentos de estagiários para empresas, prestação de serviços realizados nas oficinas e laboratórios e eventos variados também se constituíam em atividades de Extensão. Com a criação do Serviço de Integração Escola-Empresa (SIE-E), em 1972, este papel de articulação e parceria com empresas foi ampliado com o intuito de oportunizar estágios para os estudantes. A partir daí, muitas foram as ações de extensão realizadas pela Escola Técnica Federal do AmazonasETFAM. Porém, o registro e a sistematização dessas ações começaram verdadeiramente com a institucionalização do Departamento de Relações Empresariais, o que ocorreu no ano de 1987, por meio da Portaria n° 065-GD/ ETFAM/87. A partir do ano 2000, Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica(SETEC) criou vários Programas de Extensão de abrangência nacional: Mulheres Mil, Escola de Fábrica, Programa de Inclusão Digital, com a implantação de Telecentros de Informações e Negócios, Programa de Empreendedorismo, com a implantação de Incubadoras, Centros Vocacionais Tecnológicos - CVTs, Programa de Certificação de Saberes – CERTIFIC e o Programa Tecnologia e Profissionalização para Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas – TECNEP, que consequentemente Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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originou os Núcleos de Atendimento de Pessoas com Necessidades Específicas – NAPNES. Também procedeu à criação dos Núcleos de Formação Humana e Pesquisa aplicada em Pesca, Aquicultura, Portos e Navegação, os NUPAs. Vale ressaltar que o IFAM aderiu e implantou todos esses programas cuja execução tem trazido relevantes contribuições para o desenvolvimento das pessoas e da região. Em 2006, o então Departamento de Relações Empresariais passa denominar-se Diretoria de Extensão, Relações Empresariais e Comunitárias(DIREC), com uma nova estrutura organizacional dividida em coordenações. Foi uma estratégia que favoreceu o crescimento das ações extensionistas do IFAM, à época CEFET/AM, expandindo suas ações de extensão também para projetos sociais e inclusivos. Ao longo de sua trajetória, a extensão do IFAM proporcionou a expansão de parcerias que, por meio de contratos e convênios, permitiu o desenvolvimento de programas e projetos de extensão, cursos de qualificação e requalificação profissional, serviços de consultorias, treinamentos, modernização de laboratórios, entre outras ações. Para compreensão das principais atividades de extensão desenvolvidas por este Instituto Federal, agrupamos as mesmas por tipos de projetos, conforme a seguir. 1 PROJETOS DE ATENDIMENTO A PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL 1.1 Programa Tecnologia e Profissionalização para Pessoas com Deficiência –TECNEP/ Núcleos de Atendimento de Pessoas com Necessidades Específicas - NAPNES O TECNEP constitui-se em um programa de inclusão social de pessoas com necessidades específicas, criado nos anos 90 pelo MEC/SETEC, que teve como consequência a implantação dos NAPNEs em alguns Institu-

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tos Federais, à época CEFETs. O NAPNE do IFAM foi criado em 2001, com o objetivo de oferecer oportunidade de formação profissional a pessoas com deficiência, mas com um diferencial, que é a inserção dessas pessoas no mundo do trabalho. Desde aí vem atuando com vários projetos/atividades voltados para a capacitação e inclusão, preparando-as para sua inserção no mundo do trabalho. Além disso, ainda tem a responsabilidade de promover a criação, na instituição, da cultura da "educação para a convivência" e aceitação da diversidade, além de sugerir adaptações para acessibilidade, visando às melhorias na estrutura física da instituição. Atualmente a Coordenação Sistêmica do NAPNE encontra-se vinculado à PROEX e coordena 5 (cinco) subnúcleos, localizados nos campi Manaus Centro, Manaus Zona Leste, Manaus Distrito Industrial, Parintins e Presidente Figueiredo. Ao longo dos últimos 5 anos, foram atendidas pelo NAPNE 1.794 pessoas, sendo 819 pessoas com deficiência e 965 membros da comunidade acadêmica. 1.2 NUPA (NORTE 1) - Núcleo de Formação Humana e Pesquisa Aplicada em Pesca, Aquicultura, Portos e Navegação. São núcleos regionais que foram criados a partir da Política de Formação Humana na área de Pesca Marinha e Continental e Aquicultura Familiar, por meio do Termo de Cooperação Técnica n° 002/2006 firmado entre o MEC/ SETEC e a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República – SEAP/PR. Os NUPAS são responsáveis pelo desenvolvimento de projetos e atividades voltadas à difusão de conhecimentos, experiências e estudos sobre o cenário da pesca e da aquicultura no país, bem como pela capacitação dos trabalhadores dos setores de pesca, aquicultura, portos e navegação. O NUPA Norte 1, de responsabilidade do Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


IFAM, tem um coordenador sistêmico ligado à PROEX e é constituído pelos 8 (oito) subnúcleos dos campi Maués, Parintins, Presidente Figueiredo, Tabatinga, Lábrea, Coari, São Gabriel da Cachoeira e Zona Leste. Em cada Campus existe uma subcoordenação que organiza o trabalho do NUPA local. De julho/2013 a junho/2014, foram atendidos 2.298 produtores rurais que atuam nas atividades de pesca e aquicultura. É o IFAM realizando extensão rural para uma atividade em franca expansão: a aquicultura. 1.3 Telecentro de Inclusão Digital e Negócios Em 2003, a preocupação com a exclusão digital de milhares de brasileiros fez com que o Governo Federal, por meio de uma parceria entre MEC, Banco do Brasil, Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE e Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio, apoiasse a implantação de Telecentros de Inclusão Digital e Negócios, também conhecidos como Telecentros Comunitários cujo objetivo é promover a inclusão digital e social das pessoas em vulnerabilidade social através da apropriação das ferramentas tecnológicas da informática e de bases conceituais para a consciência cidadã. O primeiro Telecentro do IFAM foi implantado em 2003, no Campus Manaus Centro, em parceria com a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) e Instituto Euvaldo Lodi (IEL). Através desse projeto, o IFAM qualifica por ano, em média, 400 pessoas da comunidade. 1.4 O Projeto de Qualificação e Requalificação Profissional de Detentos e Egressos do Sistema Penal Implantado em 1998, é outro exemplo de projeto de extensão para atendimento a pessoas em situação de vulnerabilidade social. O IFAM, à época CEFET/AM, por meio da DINexus Revista de Extensão do IFAM

REC, no período de 1998 a 2005, qualificou 904 detentos e egressos do sistema penal, nos cursos de: Refrigeração comercial, Pequenos Reparos Domésticos, Artífice da Construção Civil, Armador de Ferramentas em Obra de Construção civil, Pintor Residencial, Pátina de Revestimento, Carpinteiro de Forma, Confecção de Cartões em Papel Vegetal e Pintura em Gesso, Culinária: Doces e Salgados, Eletricista Residencial, Instalador Hidráulico Predial, Eletrônica Básica, Serigrafia. Os cursos foram ministrados em três unidades penitenciárias: Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa, Puraquequara e Unidade Prisional Feminina Anísio Jobim, e em albergues e nas dependências do CMC/IFAM. Destacase também a parceria com as Secretarias de Trabalho e Cidadania do Estado do Amazonas (SETRACI), de Justiça e Direitos Humanos (SEJUS), além do Ministério do Trabalho e Emprego. O projeto, além de propiciar alternativas de geração de renda, de melhoria das condições de vida dos presos e de suas famílias, contribui decisivamente para o domínio de competências laborais, a reinserção na sociedade, o resgate da auto-estima e o desenvolvimento de sua consciência de cidadania. 2 AÇÕES DE FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA 2.1 Programa Mulheres Mil É um programa de gênero que tem como objetivo capacitar mulheres em vulnerabilidade social, proporcionando-lhes a oportunidade de qualificação profissional e educação continuada para a melhoria de sua qualidade de vida e de sua família, de geração de emprego e renda, além de oferecer as bases de uma política social de inclusão e gênero. Teve início em 2006, no CEFET-AM, quando o MEC/SETEC, em parceria com o Canadá, implantou 13 experiências piloto nos Institutos Federais do Norte e do Nordeste. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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Devido ao seu notório sucesso, foi expandido para as outras regiões do Brasil. O IFAM apresentou seu projeto piloto em 2007 e atuou até 2011, oferecendo cursos de formação profissional de Camareira. Atualmente está presente em 7 campi, com diferentes focos de qualificação profissional, visando atender às demandas locais. A partir de 2014, por determinação da Presidência da República/MEC/SETEC, o Programa Mulheres Mil passa a integrar o PRONATEC, ganhando abrangência nacional. No âmbito do IFAM, de 2007 a 2014, já foram capacitadas cerca de 1.800 mulheres. Pretende-se ampliar a cada ano o atendimento às mulheres em vulnerabilidade social, que buscam melhoria de vida, inserção no mundo do trabalho e renda mais justa, a fim de que possam viver com dignidade e respeito social. 2.2 Rede CERTIFIC - Programa Interinstitucional de Certificação Profissional e Formação Inicial e Continuada A Rede Nacional de Certificação Profissional e Formação Inicial e Continuada - Rede CERTIFIC é uma política pública de inclusão social que se instituiu através da articulação do MEC e MTE em cooperação com as instituições/organizações que a constituem. Este programa tem por finalidade o atendimento de trabalhadores, jovens e adultos que buscam o reconhecimento e certificação de saberes adquiridos em processos formais e não formais de ensino-aprendizagem e formação inicial e continuada a ser obtido através de Programas CERTIFIC. Iniciou-se no IFAM em 2011, visando atender às comunidades de trabalhadores da área de Pesca e Aquicultura. Dois Campi aderiram ao Programa CERTIFIC – PROEJAFIC: Campus Parintins, na área de Pesca e Aquicultura, com o perfil profissional do Pescador Artesanal de Água Doce, visando certificar o total de 60 (sessenta) pescadores, tendo como parceiras a Prefeitura Municipal de Parintins

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e a Universidade Federal do Amazonas; e o Campus Manaus Zona Leste, que realizou suas ações junto aos trabalhadores das Feiras Municipais de Manaus, na mesma área de capacitação, mas com o perfil de Beneficiador de Pescado, num total de 60 (sessenta) feirantes, tendo como parceira a Secretaria Estadual de Educação e Qualidade de Ensino. 2.3 Escola de Fábrica O Projeto Escola de Fábrica foi criado pela Lei n° 11.180, de 23 de setembro de 2005, com a finalidade de ampliar as possibilidades de formação profissional básica, favorecendo o ingresso de estudantes de baixa renda no mercado de trabalho. No IFAM, o Projeto Escola de Fábrica foi implantado no período de 2005 a 2006. Por meio deste projeto, o IFAM capacitou 160 alunos do ensino médio de escolas estaduais em cursos de Produção Cerâmica, Eletrotécnica, Refrigeração e Climatização, Hidrologia, com duração de seis meses. Para isso, contou com as seguintes parcerias: Eletronorte/Manaus Energia, CPRM-AM, Prefeitura de Iranduba e FUNCEFET-AM. Este projeto serviu de referência para outras empresas do setor elétrico e das empresas do Distrito Industrial de Manaus. 2.4 Centros Vocacionais Tecnológicos CVTs Os Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTs) são unidades de ensino e de profissionalização, voltados para o desenvolvimento, promoção e oferta de serviços e produtos visando ao fortalecimento dos sistemas produtivos locais por meio de extensão tecnológica e desenvolvimento de tecnologias sociais além da realização de atividades de educação profissional de base tecnológica, inclusive pesquisa aplicada. Em vista disso e na busca do aperfeiçoamento das vocações locais voltadas às ativiVol.1 | Nº1 | Abr. 2015


dades produtivas primárias em agricultura familiar e recursos pesqueiros como alternativas para o desenvolvimento social e econômico sustentável, em 2013, foi implantado o CVT do IFAM, no Campus São Gabriel da Cachoeira, tendo como público alvo os jovens e adultos da área urbana e rural do Município, além de microempresários, pescadores, agricultores familiares e demais agentes ligados ao setor primário. Tem atuado fortemente na oferta de diversos cursos de qualificação profissional para a comunidade, especialmente para indígenas. 2.5 Programa de Qualificação Profissional da Indústria de Petróleo e Gás - PROMIMP A criação do PROMIMP, em 2003, coordenada pelo Ministério de Minas e Energia e pela Petrobras, proporcionou o desenvolvimento de ações que promovem a participação da indústria nacional de bens e serviços, na implantação de projetos de petróleo e gás natural no Brasil e no exterior de forma sustentável. No IFAM, o Programa PROMIMP foi realizado no período de 2007 a 2013. Em seus seis (06) anos de existência, o Campus Manaus Centro realizou a capacitação de 460 pessoas colaborando com a formação de qualidade para trabalhadores da Indústria de Petróleo e Gás em 08 diferentes cursos: Supervisor Técnico SMS, Eletricista de Força e Controle, Eletricista Montador, Instrumentista Montador, Instrumentista de Sistemas, Topógrafo, Apoio Administrativo, Desenhista Projetista. 2.6 Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - PRONATEC O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) é um conjunto de ações que visam ampliar a oferta de vagas na Educação Profissional brasileiNexus Revista de Extensão do IFAM

ra, melhorando as condições de inserção no mundo do trabalho. Foi sancionado pela Presidente Dilma Rousseff com o objetivo de criar 8 milhões de vagas em cursos técnicos e em qualificação profissional na modalidade de formação inicial e continuada – FIC. O Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM) é uma das instituições ofertantes do PRONATEC e desde 2012 atua na promoção de diversos cursos técnicos e de FIC, por meio dos campi Manaus Centro, Manaus Distrito Industrial, Manaus Zona Leste, Coari, Maués, Lábrea, Parintins, Presidente Figueiredo, São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga. Ao longo dos três anos do Programa, já foram capacitados 6.214 trabalhadores em cursos FIC e 1.221 estudantes em Cursos Técnicos. 3 PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO - INCUBADORA DE EMPRESAS AYTY Denominada AYTY, a Incubadora de Empresas do IFAM tem o seu nome originado da língua tupi guarani que significa “ninho”. Assim escolhido por abrigar as micro e pequenas empresas que pretendem realizar a incubação. É o local especialmente criado para ajudar empreendimentos (projetos e empresas) tanto nas fases de concepção e elaboração do Plano de Negócios (Pré-Incubação e Hotel de Projetos) quanto na fase de estruturação e estabilização para fins de sucesso no mundo empresarial. A incubadora oferece aos empreendedores instalações físicas, suporte técnico e gerencial, no início e durante as etapas de desenvolvimento do negócio. A Incubadora de Empresas IFAM faz parte do Programa Nacional de Empreendedorismo do MEC em parceria com o SEBRAE, objetivando divulgar a cultura empreendedora no corpo discente e docente, tendo sido implantada em 2003. Na época do CEFET-AM, tinha a denominação de INCEFET (Incubadora do CEFET). Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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Na incubadora temos várias modalidades de incubação: Hotel de projetos, Empresas Residentes, Empresas Graduadas e Empresas Associadas. Em seus 11 anos de atuação no empreendedorismo amazonense, a AYTY já graduou 11 empresas. Atualmente, há três unidades da AYTY instaladas e em funcionamento, localizadas no Campus Manaus Centro, Campus Manaus Zona Leste e Campus Presidente Figueiredo. 4 PROGRAMA DE INCENTIVO À EXTENSÃO - PROGRAMA DE BOLSAS No âmbito do IFAM, o Programa de Bolsas foi implantado em 2010, bem anterior à sua aprovação pelo CONSUP, Resolução n° 35, de 17 de dezembro de 2012. Tem a finalidade de promover e incentivar a participação de alunos a desenvolver projetos de Extensão, tendo como objetivos, dentre outros, oportunizar ao estudante a aplicação dos conhecimentos acadêmicos em prol da sociedade em que vive e contribuir para a sua formação acadêmico-profissional. O Programa de Bolsas é mantido com recursos financeiros próprios da Reitoria IFAM/ PROEX, da Matriz CONIF e destina-se a beneficiar estudantes tanto do nível superior quanto do nível técnico. Os projetos de extensão contam com um pequeno auxílio ao pesquisador, para as despesas de custeio e são desenvolvidos de acordo com o programa institucional de incentivo à extensão, priorizando as seguintes áreas temáticas: - Comunicação, Cultura, Direitos Humanos e Justiça, Educação, Saúde, Meio Ambiente, Tecnologia e Produção e Trabalho. A oportunidade de participar de um projeto de extensão faz com que os estudantes possam vivenciar momentos de aplicação dos conhecimentos adquiridos no seu curso e assim poderem contribuir para a sociedade, além da sua formação acadêmico-profissional. No decorrer de quatro anos desse Progra-

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ma, foram desenvolvidos 88 (oitenta e oito) projetos, com a concessão de 114 (cento e quatorze) bolsas para alunos, totalizando um investimento na ordem de R$653.440,00. 5 EVENTOS CULTURAIS, ESPORTIVOS, CIENTÍFICOS E TECNOLÓGICOS 5.1 Festival da Canção do CEFET-AM O IFAM realizou, no período de 2001 a 2004, o Festival da Canção do CEFET (CEFEST). Este Festival tinha por objetivo divulgar os talentos musicais de alunos e ex-alunos e permitia a apresentação e seleção de músicas que concorriam a prêmios nas categorias de melhor música, melhor intérprete, melhor arranjo e canção preferida pelo público. Para registro desta atividade cultural, foi gravado um CD com as principais composições de alunos e ex-alunos, primeiros colocados durante a realização dos festivais. A produção e gravação do CD tiveram patrocínio da Fundação Villa Lobos, órgão da Prefeitura de Manaus, por meio do projeto Valores da Terra. Muitos dos alunos e ex-alunos que fizeram parte do CD, como compositores, arranjadores, instrumentistas ou intérpretes se lançaram no cenário musical, em carreira solo ou como componentes de bandas em Manaus e outras localidades. Além do Festival da Canção, o CEFET/ AM sempre se destacou nos eventos, seja por meio de apresentações culturais como sua Banda de Música, da CEFET-Band, Grupo de danças Folclóricas ADANA, Coral e Teatro Amador, entre outras atrações culturais. 5.2 Eventos Esportivos Os principais eventos esportivos nos quais o IFAM participou ao longo de sua trajetória foram os Jogos Brasileiros do Ensino Técnico Industrial, Jogos Estudantis das Escolas Técnicas Federais e Centros Federais de Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


Educação Tecnológica, Jogos Escolares do Amazonas, Jogos Regionais das Instituições de Ensino da Região Norte - JOCANs e atualmente os Jogos disputados entre os diferentes Institutos Federais - JIFs. Igualmente como na música, o IFAM tem contribuído com a formação dos talentos esportivos de seus atletas ao longo de seus 105 anos de história da educação profissional do Estado do Amazonas. 6 EVENTOS DE EXTENSÃO TECNOLÓGICA 6.1 EXPOTEC - Exposição Tecnológica A integração das diversas áreas de conhecimento nas Instituições de Ensino possibilita as inter-relações das mesmas com a Sociedade, favorecendo a ampla divulgação do saber popular e científico. A Exposição Tecnológica do CEFET/AM – EXPOTEC foi criada na década de 80. Ao longo dos anos, tornou-se evento regular do calendário acadêmico, tornando-se conhecida por outras instituições de ensino e pesquisa bem como pela sociedade em geral. O concurso dos melhores projetos estimulavam nossos estudantes a participar, apresentando inovações tecnológicas interessantes. Este evento tinha por objetivos: divulgar os projetos realizados pelos alunos das diferentes áreas de ensino, estimulando a pesquisa tecnológica; promover o intercâmbio entre estudantes, profissionais e empresas produtoras ou disseminadoras de tecnologia; divulgar projetos que contemplassem inovações ou aplicações tecnológicas; disponibilizar estes conhecimentos à sociedade; discutir temas ligados ao desenvolvimento científico; e indicar soluções contribuindo para os avanços tecnológicos. Pelo sucesso alcançado ano a ano com as nove edições da EXPOTEC do CEFET-AM, podemos dizer que a mesma foi o evento precursor da Semana de Ciência e Tecnologia Nexus Revista de Extensão do IFAM

que hoje ocorre a nível nacional nos Institutos Federais. 6.2 Seminário de Pesquisa Aplicada e Extensão Tecnológica do IFAM Este evento teve por objetivo contribuir para a formação acadêmico-profissional de estudantes e incentivar a realização de projetos de pesquisa aplicada e de extensão tecnológica. O mesmo contou com a participação de instituições parceiras como a SETEC/MEC, a SECTI, a FAPEAM, o Instituto Federal de Roraima – IFRR, a Universidade Tecnológica do Paraná – UTFPR, o SEBRAE e Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores - ANPROTEC. O Seminário de Pesquisa Aplicada e Extensão Tecnológica do IFAM foi uma realização em parceria da Pró-Reitoria de Extensão com a Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós Graduação e Inovação, que ocorreu nos dias 22 e 23 de novembro de 2012, no Campus Manaus Centro. Constaram de sua programação várias ações como palestras, mesas redondas, o V Encontro Regional do Núcleo de Formação Inicial e Pesquisa Aplicada em Pesca e Aquicultura (NUPA Norte 1), o Encontro de Gestores do Programa Mulheres Mil, o I Encontro de Pesquisadores com Empresas: Prospecção Demandas e Ofertas Tecnológicas e Apresentação dos Projetos de Extensão do IFAM. Além de palestras dos órgãos envolvidos sobre o Cenário Nacional e Regional de Incentivo à Pesquisa e Investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), foi de fundamental importância a mesa redonda sobre o Cenário para a Inovação Tecnológica, as políticas de Ciência e Tecnologia, a Extensão Tecnológica e a Pesquisa Aplicada no Brasil. 7 EVENTOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL 7.1 IFAM Vai ao Bairro As ações de responsabilidade social são Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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imprescindíveis para viabilização do exercício da cidadania e da democracia tanto nas empresas como nas instituições de ensino. O IFAM conta com várias ações de responsabilidade social, dentre as quais o Projeto IFAM Vai ao Bairro, cujo objetivo é levar às comunidades de baixa renda, ações que beneficiem e melhorem a qualidade de vida de seus moradores, objetivando gerar transformações, identificando potencialidades e fornecendo meios para desenvolvê-las. As atividades acontecem num dia de sábado, na comunidade escolhida, utilizando-se em geral uma escola como infra-estrutura física. São oferecidas oficinas, palestras, mini cursos, apresentações culturais, aferimento de pressão arterial, glicemia e orientação para saúde, além de uma variedade de atividades lúdico-recreativas. As ações são direcionadas a adultos e crianças. Desde 2004, o IFAM vai ao Bairro já foi realizado nas seguintes localidades da cidade de Manaus: Novo Israel, Cidade Nova, Puraquequara, São José, Praça 14 de Janeiro (Prosamin I e II), Lírio do Vale e Santa Etelvina. Esse evento também ocorreu nos municípios Cacau Pirêra, Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva. Em cada evento houve a participação de cerca de 80 voluntários, beneficiando 3.000 pessoas aproximadamente. 7.2 UNED Cidadã (CMDI Cidadão) A Unidade de Ensino Descentralizada de Manaus (UNED), atual Campus Manaus Distrito Industrial (CMDI), instituiu o projeto UNED CIDADÃ, em 2004. Trata-se de uma ação de cidadania, solidariedade e educação, de iniciativa de servidores e alunos do CMDI, que tem por finalidade abrir as portas da Escola para as comunidades adjacentes (Bairros Distrito Industrial, Lagoa Verde, Mauazinho, São Lázaro e Santa Luzia), oferecendo-lhes diversas atividades sócio-educativas e serviços gratuitos, que são

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convertidos em melhoria da qualidade de vida dos moradores dessas localidades. Também tem marcado presença pessoas de outras comunidades como Educandos, Cidade Nova, Cidade de Deus, Riacho Doce. Na execução dessa ação são voluntários os servidores, alunos, pais e amigos da escola, que se predispõem a se doar por um dia ao serviço solidário. Já participaram parceiros como: Petrobrás, Base Aérea de Manaus, HEMOAM, Instituto de Identificação, Delegacia do Trabalho, SENAC, Moto Honda da Amazônia, COIMPA Industrial, Fundação Villa Lobos, FUNCEFET, Cinemark, EMTU, Ouvidoria Geral do Estado, VEMAQA, Loppiano Pizzaria, Ibis Hotel e Coca-Cola. A realização dessas duas ações de voluntariado constitui-se em atividades de integração, de reciprocidade, de articulação e diálogo com a Sociedade que, com o passar dos anos, vem atingindo os seus objetivos e superando as expectativas, tornando-se um marco importante na relação Escola X Comunidade. Vale ressaltar que a realização dessas ações já se estenderam aos demais campi, revestidas de novas denominações e programações, mas sempre visando ao exercício da cidadania e responsabilidade social. CONSIDERAÇÕES FINAIS O enfrentamento cotidiano de novos desafios nas Instituições de Ensino, Pesquisa e Extensão tem proporcionado o crescimento das mesmas na busca por alternativas viáveis de contribuição para o desenvolvimento da sociedade. Entendemos a Extensão como uma via de mão dupla entre o Instituto e as demandas da sociedade. Sendo assim, a priorização da Extensão nos programas de investimentos do Governo Federal, no âmbito do MEC, têm contribuído significativamente para a crescente relevância dos projetos/atividades de extensão desenvolvidos por esta Instituição Federal de EPCT. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


A Extensão do IFAM, por meio de projetos e atividades diferenciadas em seus Campi, tem proporcionado tanto a permuta de saberes quanto a aquisição de novos conhecimentos, competências e habilidades de cunho culturalsocial-esportivo-científico-tecnológico, beneficiando alunos, servidores, trabalhadores urbanos e rurais, ribeirinhos, indígenas, pessoas com deficiência, pessoas em vulnerabilidade social e demais segmentos, através da oferta de cursos de qualificação profissional, prestação de serviços tecnológicos, empreendedorismo, mobilidade estudantil, estágio profissional, trabalho e renda, eventos culturais, científicos, tecnológicos e sociais, oficinas e projetos voltados para atender às demandas regionais, dentre outros. Temos a firme convicção de que, afora as ações extensionistas descritas neste artigo, ainda há inúmeros projetos e atividades não relacionados, mas executadas pelos campi que, indiscutivelmente, têm contribuído fortemente para o desenvolvimento científico, tecnológico e social de nosso estado. A perspectiva da PROEX é fortalecer-se e aperfeiçoar seus mecanismos de atuação, a fim de que possa ampliar as ofertas de ações de Extensão nos próximos anos. Para isso, urge que, além dos parceiros da comunidade externa, mais professores, servidores técnico -administrativos e alunos atuem como protagonistas desse processo cujo ganho científico, tecnológico e social é incomensurável, conforme tentamos demonstrar ao longo do texto. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei de Criação da Rede Federal de Educação Profissional, Cientifica e Tecnológica. Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2008. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Federal nº 9. 394. Brasília, 20 de dezembro de 1996.

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BRASIL. Lei de Instituição do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), Lei 12.513. Brasília, 26 de outubro de 2011. BRASIL, MEC. Plano Nacional da Extensão Universitária. Edição Atualizada. Brasil, 2000/2001. Disponível em< h t t p : / / w w w. p o r t a l . u f p a . b r / d o c s e g e / Planonacionaldeextensaouniversitaria.pdf>. Acesso em dezembro de 2014. BRASIL. Portaria n° 373 de 31 de Agosto de 2009. Aprova o Estatuto do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas. BRASIL. Resolução n° 35 de 17 de dezembro de 2012. Aprova o Regulamento das Atividades de Extensão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas. Conselho Nacional das Instituições Federais de Educação Profissional e Tecnológica (CONIF). Extensão Tecnológica – Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Cuiabá, MT: CONIF/IFMT, 2013. Disponível em <www.ifmg.br/congrext/ Gestao/Gestao12.pdf>. Acesso em 10 de jun. 2013. FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS. Indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão. Brasília: MEC: SESU, 2006, 100 p. (Coleção Extensão Universitária). JAZINE, E. As práticas Curriculares e a Extensão Universitária. Anais do 2° Congresso Brasileiro de Extensão Universitária. Belo Horizonte. 2004. NUNES DE MELLO, M.S.V. 2009. De Escolas de Aprendizes Artífices a Instituto Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas: cem anos de história. Manaus: Editora, 2009. ROCHA, Roberto Mauro Gurgel. A construção do conceito de Extensão Universitária na América Latina. In: FARIA, Doris Santos de. (org). Construção Conceitual da Extensão Universitária na América Latina. Brasília, DF: UNB, 2001. RODRIGUES, M.M. Extensão Universitária: um texto em questão. Revista Educação e Filosofia, vol. 11, n 21/22, p. 89-126, jan./jun. e jul./dez. 1997.

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CONHECIMENTO E ARQUITETURA INDÍGENA NA CRIAÇÃO DE PEQUENOS ANIMAIS-AVES Knowledge and indigenous architecture in small livestock - poultry

Bruno Vinícius Castro Guimarães, bvinicius20@yahoo.com.br1 Ana Maria Alves Abreu, anamariasgc@yahoo.com.br2 Elias Brasilino de Souza, sailebras@yahoo.com.br3

Resumo: Dentro do complexo brasileiro de carnes, a avicultura é considerada por muitos como a atividade mais dinâmica. Desde o início da produção de frangos de corte no Brasil, a cadeia produtiva do produto modernizou-se, devido à necessidade de redução de custos e aumento de produtividade, tentando com isso não perder competitividade em nível mundial. Como consequência, tem sido uma das mais organizadas do mundo, destacando-se das demais criações pelos resultados alcançados não só em produtividade e volume de abate, como também no desempenho econômico, onde tem contribuído de forma significativa para a economia do Brasil. Contudo, a região amazônica, sobretudo as comunidades indígenas, apresenta carência na produção de alimentos de origem animal. Dessa forma, a criação de pequenos animais nas comunidades indígenas tem como objetivo proporcionar fontes alimentícias, a fim de afirmar a segurança alimentar e gerar alternativa econômica. Neste contexto, devem-se construir galinheiros com materiais alternativos (esteios e caibros - arbóreas, paxiúba - Socratea exorrhiza, palha - Orbignya spp., sororoca - Phenakospermum guyanense e cipó - Heteropsis spp.) no intuito de promover condições favoráveis à criação de aves, sem contudo, deixar de prezar pela originalidade e sustentabilidade dos conhecimentos indígenas. Palavras-chave: Pequenos Animais. Arquitetura. Subsistência. Abstract: Within Brazilian meat complex, poultry is considered by many as the most dynamic activity. Ever since Brazil started to produce broiler chicken, the entire productive chain has been modernized, due to the need of reducing costs and increasing productivity. With these actions, we try to remain globally competitive. As a consequence, poultry has been one of the most organized meat complexes in the world, highlighting its results achieved over other kinds of breeding not only in productivity and volume of slaughter, but also in economic performance, which has contributed significantly with Brazilian economy. However, the Amazon region, especially the indigenous communities, presents deficiency in food production from animal origin. Thus, the creation of small animals in indigenous communities aims to provide food sources in order to assert food security and generate economic alternative. In this context, one should build chicken coops with alternative materials (planks, and rafters, “paxiúba- Socratea exorrhiza”, straw - Orbignya spp., “sororoca- Phenakospermum guyanense” and “cipó - Heteropsis spp.”) in order to promote favorable conditions for poultry breeding , without, however, failing to preserve the originality and sustainability of indigenous knowledge. Keywords: Small Animals. Architecture. Subsistence.

1 Engenheiro Agrônomo - UESB, Mestre em Produção Vegetal - UNIMONTES. 2 Fisioterapeuta - UESB, Especialização em Agronegócio (cursando) – ESALQ/USP. 3 Filosofia - UCB, Mestre em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM.

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INTRODUÇÃO A criação doméstica de galinhas caipiras é uma atividade de grande relevância no núcleo familiar, uma vez que a oferta desse produto assegura o fornecimento de nutrientes e proteínas essenciais aos membros familiares. Além disso, o excedente da produção pode favorecer a comercialização de modo direto (produtor-consumidor), ou com a existência de, no máximo, um intermediário, tornando compensadores e bastante atrativos os preços dos produtos para o produtor. Dessa forma, o Instituto Federal do Amazonas, Campus São Gabriel da Cachoeira, em parceria com a Saúde Sem Limites – SSL, idealizou um sistema alternativo de criação de galinhas caipiras nas comunidades indígenas da etnia Hupd’äh, que consiste numa tecnologia dirigida ao agricultor familiar, capaz de organizar de forma gerenciada a atividade de criação destas aves. Esse sistema alternativo de criação melhora a qualidade de vida das famílias, seja pela maior oferta de carne e ovos de qualidade na sua alimentação, seja pela possibilidade de venda do excedente, uma vez que aumenta de forma substancial e eficiente, a capacidade produtiva do plantel. Esse sistema está sendo validado nas seguintes comunidades indígenas: Tacaruá Igarapé, Barreira Alta e Nova fundação no médio rio Tiquié e consiste em um conjunto de técnicas em que são empregados procedimentos simples e de fácil assimilação, que racionalizam a atividade avícola sem depender de insumos externos, utilizando mão-de-obra familiar e os recursos naturais disponíveis nas comunidades. Dentre as metas almejadas com a implantação desse sistema, destacam-se a disponibilização de fontes de proteína animal capazes de proporcionar melhoria na dieta alimentar dos membros familiares das comunidades indígenas, além de diversificar as fontes de renda e emprego da mão-de-obra familiar. O sistema alternativo de criação de galinhas caipiras preconiza a construção de instaNexus Revista de Extensão do IFAM

lações simples e funcionais, a partir dos recursos naturais disponíveis nas propriedades dos agricultores, tais como madeira redonda, estacas, palha de babaçu, etc. O principal objetivo dessa instalação é oferecer um ambiente higiênico e protegido, que não permita a entrada de predadores e que ajude a amenizar os impactos de variações extremas de temperatura e umidade, além de assegurar o acesso das aves ao alimento e à água (EMPRAPA, 2003). A construção do galinheiro com materiais alternativos (esteios, caibros, paxiúba, palha, sororoca e cipó) tem proporcionado condições favoráveis à criação de aves, não deixando de prezar pela originalidade e sustentabilidade dos conhecimentos indígenas. Além disso, o conhecimento da arquitetura indígena no âmbito da escola favorecerá a criatividade e o aperfeiçoamento dos professores e alunos, não apenas na construção, como também em toda fase produtiva das aves (produção de ovos e reprodução). METODOLOGIA O sistema de criação de animais de pequeno porte, baseado nos princípios da arquitetura indígena, foi conduzido nas comunidades indígenas da etnia Hupd’äh no município de São Gabriel da Cachoeira – AM. O presente trabalho teve como ponte de execução o meio escolar indígena, devido a maior oportunidade em agregar os integrantes da comunidade.

Figura 1: Exposição em desenhos dos modelos de galinheiros. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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Neste cenário, a dinâmica foi estabelecida em três etapas: levantamento bibliográfico, diagnóstico participativo e execução das atividades em campo no período de novembro de 2009 a agosto de 2010. Na ocasião, foi possível acompanhar as tradições e os conhecimentos indígenas sobre as técnicas de desenhos, buscar os materiais na floresta e proceder à divisão dos trabalhos de execução da obra.

Figura 2: Forma de transporte das aves modelos de galinheiro.

Divisão dos Grupos de Trabalho Após a demonstração da performance dos galinheiros, iniciou-se a divisão dos grupos de trabalho que ficaram definidos, conforme a descrição a seguir: As mulheres se responsabilizaram pela limpeza da área, confecção das palhas e ninhos de postura das galinhas (Fig. 3.1). Os homens se encarregaram da coleta dos materiais (esteios, caibros, paxiúba, palha e cipó), bem como pela construção propriamente dita do galinheiro - montagem dos componentes (Fig. 3.7). Por fim, o trabalho das crianças aprendizes não poderia ser dispensado, sendo estas também responsáveis pela confecção das palhas - tranças do telhado (Fig. 3.6). Material e Quantidade Os materiais para construção do galinheiro foram coletados numa floresta nativa. A quantidade de esteios não sofreu variação de acordo com o modelo a ser executado. Entre-

Figura 3: Etapas de construção do galinheiro.

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tanto, os demais materiais variaram de forma proporcional ao tamanho do galinheiro. • Para o modelo cúbico, foram necessários os seguintes materiais: Esteios= 4 de 2,5 m e 2 de 3,0 m; Caibros = 20 ; Paxiúba = 20 estipes de 2 m; Cipó = Consentimento Hupd’äh; Palha = Consentimento Hupd’äh. • Para o modelo retangular, foram necessários os seguintes materiais: Esteios= 4 de 2,5 m e 2 de 3,0 m; Caibros = 30; Paxiúba = 30 estipes de 2 m; Cipó = Consentimento Hupd’äh; Palha = Consentimento Hupd’äh. •Para o modelo cilíndrico, foram necessários os seguintes materiais: Esteios= 4 de 2,5 m e 2 de 3,0 m; Caibros = 40 unid.; Paxiúba = 50 estipes de 2 m; Cipó = Consentimento Hupdäh; Palha = Consentimento Hupdäh. Descrição dos Materiais Todos os componentes do galinheiro - esteios, caibros, paxiúba, palha e cipó - foram coletados numa área de preservação distante da comunidade, com acesso através do rio. O tempo integral de toda atividade - percurso no rio, retirada do material e chegada na comunidade - levou 2 horas.

Figura 04: Distribuição da paxiúba

caibro. A paxiubeira é uma palmeira que apresenta frutos não comestíveis, mas com grande aplicação na construção indígena. Para o desenvolvimento do galinheiro, a mesma era selecionada por comprimento e diâmetro e, posteriormente, segmentada. As ripas da paxiúba eram direcionadas para o fechamento das laterais do galinheiro no sentido horizontal da montagem. Entre as ripas, estabelecia-se um espaçamento de 2 cm, a fim de favorecer a circulação do ar no interior do galinheiro, e assim, evitar a proliferação de doenças respiratórias, sem contudo, permitir a entrada de predadores: mucura, cobra, morcego, entre outros. Palha Para confeccionar o telhado, há diversos materiais alternativos, como palha, Caranã e sororoca. Contudo, a palha apresenta maior

Esteios e Caibros Os esteios e caibros utilizados na construção do galinheiro eram de espécie arbórea, de coloração vermelha, com grande capacidade de carga e resistente. Na extremidade superior dos esteios e caibros, os homens realizavam cortes em formato de dentes, a fim de maximizar o contato e aderência na relação esteio/ Nexus Revista de Extensão do IFAM

Figura 05: Feixes de palha Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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disponibilidade nas comunidades indígenas. Arranjo das Palhas no Telhado O telhado confeccionado a partir das palhas tem como grande vantagem a não utilização das ripas, pois a própria nervura principal da folha tem como função a inserção das folhas e a fixação nos caibros. Outra característica observada no telhado são as taxas de sobreposição das folhas no sentido horizontal e vertical, sendo elas respectivamente, de 30 cm e 7 cm. Esse arranjo das folhas sobrepostas permite a

os benefícios da defumação resultam no aumento da longevidade do telhado, podendo o mesmo chegar a 5 anos sem problemas de vazamento. Por outro lado, a palha não defumada conta apenas com a resistência do tecido vegetal. Assim, seu tempo de duração se prolonga até 3 anos. Cipó Coletados em mata virgem, principalmente nas várzeas, os homens afirmam que o cipó é extremamente resistente. Relatos: “Já olhei para ferro amarrado com arame, fica bom, mas se fosse amarrado cipó ficava melhor”. Cama de Postura das Aves

Figura 06: Sobreposição das folhas

impermeabilidade da água da chuva e maior tempo de conservação do telhado. Telhado Para a construção do telhado, observaramse alguns critérios de suma importância, a saber: a inclinação do telhado deve ser entre o intervalo de 70 a 90%, a fim de promover o escoamento superficial da água e evitar a putrefação precoce da palha. Com relação à vida útil da palha, os velhos relatam duas condições: palha defumada e palha não defumada. A primeira apresenta maior vida útil, em virtude da aglutinação das partículas da fumaça que maximiza a integridade do tecido vegetal, além disso, a fumaça atua como repelente de organismos que incidem na matéria orgânica provocando a decomposição. Assim,

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A cama foi construída no interior do galinheiro numa altura de 90 cm do solo, onde os materiais utilizados para confecção da cama foram 2 caibros paralelos com comprimento de 2 m, estes foram amarrados nos esteios do centro do galinheiro e nos da lateral, transversalmente aos caibros foram distribuídas as paxiúbas, com comprimento de 1 m, metade da largura do galinheiro. As paxiúbas foram espaçadas a 2 cm entre si, a fim de se evitar o acúmulo de dejetos sobre a bancada de postura. Puleiros Considerando que as aves têm hábito noturno em lugares elevados do solo, foram colocados nas diagonais da área dois caibros, formando um “X” entre si, numa altura de 1,2m. Além disso, na parte de baixo do galinheiro, também foram colocados caibros, no intuito de favorecer a subida das galinhas. Confecção dos Ninhos Trabalho destinado às mulheres, a confecção dos ninhos foi através de palha seca de bananeira e capim seco. Esses materiais foram Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


Figura 07: Modelos e arquitetura indígena para criação de aves.

colocados sobre a cama, a fim de promover o conforto das aves bem como a integridade dos ovos, principalmente durante a postura. Ainda, nesta fase, algumas mulheres sugeriram a “pá”, instrumento de coleta do lixo, para acomodar as galinhas durante a postura. Porta A porta foi construída através das junções de quatro caibros, dois caibros paralelos com 1,5 m de comprimento espaçado entre si em 0,7 m e dois caibros, também paralelos entre si e perpendiculares entre os primeiros, com comprimento de 0,7 m. O preenchimento da porta foi através das palhas, assim como no telhado. O sistema de produção implantado nas comunidades indígenas está pautado no alicerce da biodiversidade e recursos naturais (Figura Nexus Revista de Extensão do IFAM

07). CONSIDERAÇÕES FINAIS O conhecimento da arquitetura indígena no âmbito escolar favorece a criatividade e o aperfeiçoamento dos professores e alunos, não apenas na construção, mas também em toda fase produtiva das aves, desde a produção de ovos à reprodução. A produção das aves visa atender à demanda familiar de carne e ovos. REFERÊNCIA EMBRAPA. Agricultura Familiar. Disponível em <http://sistemasdeproducao.cnptia. embrapa.br/FontesHTML/AgriculturaFamiliar/RegiaoMeioNorteBrasil/GalinhaCaipira/ index.htm > . Acesso em outubro de 2014. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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MULHERES MIL: DESAFIOS E CONQUISTAS Thousand Women: challenges and achievments

Nancy dos Anjos Oliveira, nancyanjos@ifam.edu.br1

Resumo: O propósito do presente artigo é descrever a trajetória da criação e implementação do Programa Mulheres Mil, tendo como foco principal o aprendizado, permanência e êxito das alunas que foram atendidas pelo então CEFET-AM. Durante o período de 2007 a 2011, foi implementado pelos Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs) o Projeto Mulheres Mil, em cooperação com o governo canadense, cujo objetivo principal era promover a inclusão social e econômica de mil mulheres desfavorecidas do norte e nordeste do Brasil, oferecendo-lhes oportunidades para melhorarem suas vidas e de suas famílias através da formação profissional e cidadã. A metodologia de ensino utilizada foi a de Avaliação e Reconhecimento de Aprendizagem Prévia(ARAP) que foi desenvolvida pelos Community Colleges canadenses, em suas experiências de promoção da equidade e nas ações aplicadas em populações desfavorecidas, naquele país, ao longo de dez anos. Como também os resultados alcançados foram bastante exitosos aqui no Brasil pela rede federal, hoje o Programa Mulheres Mil está sendo ofertado pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - PRONATEC. Palavras-chave: Mulheres Mil. Capacitação. Inclusão Social. Abstract: The purpose of this article is to describe the trajectory of the creation and implementation of the Thousand Women Program, focusing mainly on the learning, retention and success of students that were enrolled in this preprogram. By then, it was a project developed at CEFET-AM. From 2007 to 2011, the Federal Technological Education Centers (CEFETs) implemented, in cooperation with the Canadian government, the Thousand Women Project, whose main objective was to promote the social and economic inclusion of a thousand disadvantaged women in the north and northeast Brazil, offering them opportunities to improve their lives and their families through study, training and citizenship. The teaching methodology used was the Prior Learning Assessment and Recognition of knowledge (PLAR) that was developed by the Canadian Community Colleges, in their experiences of promoting equity and actions implemented in disadvantaged populations in that country over ten years then. The results were also quite successful here in Brazil among the federal net of Brazilian Institutes. Today the Thousand Women Program is offered by the National Program for Access to Technical Education and Employment - PRONATEC. Keywords: Thousand Women. Training. Social Inclusion.

1 Especialista em PROEJA – Educação de Jovens e Adultos.

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INTRODUÇÃO O Programa Mulheres Mil começou como um projeto decorrente da Cooperação Internacional Brasil-Canadá – Promoção de Intercâmbio de Conhecimento para Promoção da Equidade(PIPE). Iniciada em abril de 2007, as ações tiveram como financiadores e executores, por parte do Brasil, a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), o Ministério da Educação, representado pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica(SETEC) e a Rede Norte-Nordeste de Educação Tecnológica(REDENETE) e, por parte do Canadá, a Association of Canadian Community Colleges (ACCC), a Canadian International Development Agency (CIDA) e os Colleges Canadenses. No desenvolvimento das ações, contou com o Conselho das Instituições Federais de Educação Tecnológica (CONIF) e com os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia de 13 estados das regiões Norte e Nordeste. Hoje, todos os IFS implementam ações, ofertando cursos de qualificação para os grupos de mulheres desfavorecidas de suas regiões. Instituído pela Portaria do MEC nº 1.015, do dia 21 julho de 2011, publicada no Diário Oficial da União do dia 22 de julho, o projeto se transforma em Programa e passa a ser implantado em todos os IFs.

maioria das vezes, se remete às ações assistenciais que apenas produzem efeito momentâneo. O Projeto Mulheres Mil tem outra dinâmica, pois, além de propiciar emprego, renda e inclusão social, eleva a autoestima das mulheres. Outros diferenciais são o aumento de escolaridade, e o fato de podermos dar ao público-alvo(mulheres) a possibilidade de serem empreendedoras. O papel das mulheres como multiplicadoras de conhecimento dentro de suas comunidades é outro aspecto relevante no percurso das mesmas que, anteriormente, não tinham a menor perspectiva de melhoria de vida. Já foram contabilizadas cinco turmas que se capacitaram, de 2007 a 2013. A partir de 2011 o Projeto foi expandido para os demais campi do IFAM, contabilizando de 2011 a 2014 cerca de 1.800 mulheres capacitadas. Em 2014 o Mulheres Mil passou a fazer parte dos cursos de qualificação do Programa PRONATEC, porém a metodologia de Acesso, Permanência e Êxito continua sendo a égide de nossa caminhada e objetivos. No IFAM, o plano de curso cujo itinerário formativo oferta disciplinas que serão balizadoras da formação das mulheres é construído contemplando disciplinas instrumentais e es-

DESENVOLVIMENTO Em 2007, o Projeto Mulheres Mil foi executado pelo então Centro Federal de Educação Tecnológica(CEFET-AM), hoje IFAM. Tinha como público alvo as cidadãs que residiam nas comunidades dos igarapés do entorno da zona urbana de Manaus. A formação era na Área Profissional de Turismo e Hospitalidade, e o curso ofertado foi o de Camareira. O impacto dessa política educacional pode ser constatado pela mudança de comportamento, na elevação da autoestima e no valor que as mulheres passaram a dar ao conhecimento . Quando se fala em inclusão social, na Nexus Revista de Extensão do IFAM

Figura 1: Atividades práticas dos Cursos Realizados pelo Programa Mulheres Mil – 2013. Fonte: Arquivo do IFAM. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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pecíficas da área de capacitação. Essa concepção pedagógica perpassa, também, em aceitar desenhos novos e caminhos de aprendizagem que permitam o diálogo com os saberes não formais e com o conhecimento de mundo trazido pelas mulheres, bem como de permitir um trabalho na verticalização do ensino, promovendo a integração dos diferentes níveis de educação inicial e continuada com a pesquisa e a extensão. A metodologia utilizada foi a de Avaliação e Reconhecimento de Aprendizagem Prévia (ARAP) que foi desenvolvida pelos Community Colleges do Canadá (instituições de educação profissional e tecnológica similares aos Institutos Federais) para promoção do acesso de pessoas desfavorecidas. No Brasil, incorporamos e adaptamos a ARAP para fazer frente às especificidades legais e estruturais do modelo educacional. Dessa experiência foi elaborado o Guia Metodológico do Sistema de Acesso, Permanência e Êxito do Programa Mulheres Mil que considerou a nossa realidade e sistema de ensino. Nossa trajetória em torno da capacitação e os resultados alcançados foram bastante exitosos, pois os depoimentos das alunas nos revelam que houve uma transformação subs-

Figura 2: Atividades práticas dos Cursos Realizados pelo Programa Mulheres Mil – 2013. Fonte: Arquivo do IFAM.

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tantiva tanto na vida pessoal como na familiar, como sujeitos da sua história e cidadania. Podemos citar, por exemplo, mulheres que voltaram a estudar, concluíram os ciclos escolares, hoje estão cursando um curso técnico ou superior; filhos que antes não tinham acompanhamento em seu aprendizado ou que voltaram a estudar. Para Izabel, a participação no curso na área de Camareira abriu oportunidades que não teve quando era mais jovem. Obrigada pela mãe, ela casou aos 15 anos e teve que abandonar os estudos e, por isso, não concluiu o ensino fundamental. Vítima de violência doméstica, ela conta que passou por maus momentos até que resolveu abandonar o marido e reconstituir sua vida. Hoje, com 40 anos, mãe de dois filhos e casada novamente, ela pretende investir na sua profissionalização. Segundo ela, participar do Projeto Mulheres Mil foi a chance que encontrou para realizar o seu objetivo. “Estou aprendendo coisas que nunca tinha visto”, relata. Nas aulas de informática, ela teve, pela primeira vez, contato com o computador. “Achei difícil, mas aprendi bastante. Às vezes, me atrapalhava com as teclas, mas aos poucos fui aprendendo”. A experiência foi similar quando começou a estudar inglês. No início, sentia-se constrangida, mas aos poucos foi se soltando. “Agora já sei dizer how are you? (como vai você) e you are welcome (seja bem-vindo) e quero continuar estudando”, planeja. As alunas também apontam as relações interpessoais como um dos principais ensinamentos. “Esse curso é muito importante, porque está nos qualificando não só como camareira, mas também como pessoa. Acho interessante a interação que existe entre todas as alunas”, explica Lizandra. Já Ivone destaca que saber se relacionar com o público é um aspecto fundamental na atividade de camareira. “Aprendemos ainda mais a lidar com o ser humano, porque não é só arrumar quarto e limpar banheiro, temos que saber tratar o público e as pessoas com quem convivemos”, finaliza. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


Figura 3: Certificação do curso de camareira, Campus Manaus Centro, 2011. Fonte: Arquivo IFAM.

Podemos observar que a valorização sentida pelas alunas demonstra que a elevação da autoestima é um agente de progresso em suas vidas. Analisando historicamente o conceito de autoestima, entre o século IX e início do século XX, percebe-se que o mesmo parece não ter sido discutido a fundo ou de forma ampla. Porém, ao se analisar os primeiros escritos de teóricos da personalidade sobre o conceito de self, puderam-se encontrar as reminiscências deste construto da personalidade. Autores como William James, Charles.H.Cooley, Alfred Adler e George Herber Mead buscaram tratar do assunto de maneiras distintas, porém complementares. Todos contribuíram com as suas ideias para a definição do construto autoestima, por exemplo, a forma como o indivíduo elege as suas metas, na visão de W. James; a aceitação de si mesmo em A. Adler; a importância do outro significante enfatizado por C. H. Cooley e G. H. Mead, e a autenticidade do eu em K. Rogers, que constituíram um pano de fundo ao que mais recentemente foi incorporado a este tema (GOBITTA & GUZZO, 2002). A partir do momento em que uma mulher assistida ou beneficiária percebe-se tão capaz quanto às demais de alcançar o seu objetivo profissional, por meio da identificação e acolhida pelo grupo e professores, a autoestima Nexus Revista de Extensão do IFAM

pessoal eleva-se e agrega-se à autoestima coletiva, impulsionando a classe ao nível de exploração de suas potencialidades e capacidade intelectual, pois todas passam a acreditar que os possuem e que conseguirão inserir-se no mercado de trabalho por seu próprio mérito, o que antes não ocorria quando o contexto social as discriminava e as faziam questionarse enquanto sujeitos potenciais de mudanças. O processo de afirmação do eu, deste modo, ocorre através do conhecimento e do processo de aprendizagem, desencadeado pelos encontros diários do Programa Mulheres Mil. As disciplinas básicas Português Instrumental, Matemática Aplicada, Informática, Direito da Mulher, dentre outras, capacitamnas, enquanto profissionais a atuarem de modo especializado no mercado de trabalho; o conhecimento de idiomas, como a Língua Inglesa, amplia a sua capacidade de comunicação; e o contato com informações referentes aos direitos da mulher garantidos por lei as capacitam enquanto sujeitos sociais reivindicadores da sua própria cidadania. Todo o trabalho, aliado ao esforço pessoal de cada uma, lançará no mundo/mercado de trabalho não apenas profissionais qualificadas, mas, sobretudo, mulheres com autoestima elevada e saudáveis psicologicamente para enfrentarem, com maior eficiência, todo e qualquer entrave Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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a ser superado. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os caminhos da inclusão da cidadania e da equidade são objetivos plenamente alcançáveis quando percebemos que essas mulheres, à medida que participam do Mulheres Mil, emancipam-se socialmente, têm a autoestima elevada, reconhecem-se como sujeitos, alicerçam sua autonomia profissional e cidadã, ampliando a visão de mundo, antes distorcida e marginalizada. Sonhos foram realizados, portas foram abertas, dando passagem àquelas que outrora não se reconheciam competentes e hábeis para realizar outras tarefas além de cuidar da casa e da família. Nossas beneficiárias agora têm outras perspectivas, outra jornada em busca de experiências exitosas. Já capacitamos cerca de 1.800 mulheres ao longo de 2007 a 2014 e, novas turmas já estão em processo de matrícula com oferta de novos cursos, que são muito bem aceitos pela comunidade assistida. Nossa meta é consolidar a cada ano um número cada vez mais expressivo de mulheres em vulnerabilidade social, que buscam melhoria de vida, inserção no mundo do trabalho e renda mais justa, a fim de que possam viver com dignidade e respeito social.

SOUZA, Daniela Borges Lima de; FERREIRA, Maria Cristina. Autoestima pessoal e coletiva em mães e não – mães. Psicologia estudo, vol.10, nº.,1 Abril 2005.

REFERÊNCIAS GOBITTA, Mônica; GUZZO, Raquel Souza Lobo. Estudo inicial do inventário de autoestima (SEI): Forma A. Psicol. Reflex. Crit. vol.15, no.1, 2002. ITO, Patrícia do Carmo Pereira; GOBITTA, Mônica Lobo; GUZZO, Raquel Souza Lobo. Temperamento neuroticismo e autoestima: estudo preliminar. Estudo psicológico. Campinas vol. 24, nº 02 2007 MEC/SETEC. Projeto Mulheres Mil / ACCC/ SETEC-MEC. Guia metodológico do sistema de acesso, permanência e êxito.

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PRÓ-RURAL AQUICULTURA: RELATOS DAS PRINCIPAIS AÇÕES DE EXTENSÃO TECNOLÓGICA E UM PANORAMA DO SETOR AQUÍCOLA DO ESTADO DO AMAZONAS, BRASIL Pró-rural Aquaculture: reports of the main actions of technological extension and overview of the aquaculture sector in Amazonas State, Brazil Jackson Pantoja Lima, jacksonpantoja@gmail.com1 Suelen Miranda dos Santos, suelen2004@yahoo.com.br2 Adriano Teixeira de Oliveira, adriano.oliveira@ifam.edu.br3 Rayza Lima Araujo, rayzalaraujo@hotmail.com4 Joaquim Alberto Leite da Silva Jr, jr.copyleft@ifam.edu.br5 Paulo Henrique Rocha Aride, aride@ifam.edu.br6 Resumo: O presente artigo descreve os principais resultados das ações de extensão do Projeto Pesquisa e transferência tecnológica: ferramentas fundamentais para o desenvolvimento da aquicultura no Estado do Amazonas, conhecido localmente como Pró-Rural Aquicultura. Secretaria de Produção Rural do Estado do Amazonas (SEPROR) e a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (FAPEAM), por meio Programa Pró-Rural, são os financiadores do projeto. A execução é feita por pesquisadores do IFAM - Campus Presidente Figueiredo e colaboradores do Núcleo de Pesquisa Aplicada em Pesca e Aquicultura –NUPA NORTE 1. Foram contratados 40 técnicos (28 de nível médio e 12 técnicos de nível superior) para atuarem na transferência de tecnologia em Boas Práticas de Manejo na Aquicultura. Os bolsistas estão distribuídos em 21 municípios do Amazonas. As atividades de campo são registradas em formulários e posteriormente depositadas no banco de dados online, hospedado no datacenter do IFAM. O tambaqui é a espécie predominante nos cultivos em viveiros escavados, semi-escavados e viveiros de barragem. A matrinxã foi a espécie predominante em viveiros de canal de igarapé. O registro de criação de tilápias em canais de igarapé talvez seja a situação mais preocupante, pois a espécie é exótica com cultivo proibido na Amazônia. Os produtores atendidos, em sua maioria, nunca haviam sido assistidos pelo sistema oficial de extensão rural. A formação de mão-de-obra para atuar em um setor que está em ampla expansão – a aquicultura brasileira – é, sem dúvida alguma, o maior legado que será deixado por esta iniciativa governamental. Palavras-chave: Amazonas. Aquicultura. Tambaqui. Matrinxã. Boas Práticas de Manejo. Abstract: This article describes the main results of the Project “Pesquisa e transferência tecnológica: ferramentas fundamentais para o desenvolvimento da aquicultura no Estado do Amazonas” locally known as Pro-Rural Aquaculture. The Secretary of the State of Amazonas Rural Production (SEPROR) and the Foundation for the Support Research in the State of Amazonas (FAPEAM) by Pro-Rural Program are the project funders. IFAM Campus Presidente Figueiredo is response by implementation with help of researchers at Applies Center for Research in Fisheries and Aquaculture -NUPA. Forty technicians (28 mid-level and 12 upper-level) were hired to work in technology transfer in Best Management Practices (BMP) in Aquaculture. Fellows are distributed in 21 municipalities of Amazonas. Field activities are recorded on forms and subsequently charge in the online database hosted in the datacenter IFAM. The tambaqui (Colossoma macropomum) is the predominant fish specie in ponds and dam ponds. The matrinxã was the predominant specie in a stream channel. The tilapia breeding record in stream channels is perhaps the most worrying situation, because the specie are exotic, forbidden cultivation in the Amazon. Producers attended mostly had never been assisted by the official system extension. The manpower training to work in an industry that is in wide expansion - Brazilian aquaculture - is undoubtedly the greatest legacy that will be left by this government initiative. Keywords: Amazonas. Aquaculture. Tambaqui. Matrinxã. Best Management Practices. 1 Doutor em Ecologia - INPA. 2 Mestre em Biologia de Água Doce - INPA. 3 Doutor em Diversidade Biologica - UFAM. 4 Mestre em Engenharia de Pesca e Recursos Pesqueiros - UFC. 5 Mestrando em Ciência da Coputação - UFPA. 6 Doutor em Biologia de Água Doce - INPA.

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INTRODUÇÃO Aquicultura é o segmento da produção alimentícia nacional que mais tem crescido nos últimos anos (OLIVEIRA, 2009). Tilápias (Oreochromis sp) e carpa são as principais espécies cultivadas no Brasil. O tambaqui (Colossoma macropomum Cuvier, 1818) é a terceira espécie mais cultivada do país, principalmente devido sua fácil adaptação a ambientes de cultivo. Além disto, um fator importante é a consolidação de sua cadeia produtiva, uma vez que esta espécie já possui uma boa aceitação no mercado (ARBELÁEZ-ROJAS et al., 2002; PARENTE et al., 2003; NUNES et al., 2006). Na região Norte, o Estado do Amazonas sozinho produziu no ano de 2010, aproximadamente, 12.000 toneladas de Tambaqui (MPA, 2012). Contudo, levantamentos da Secretaria Executiva de Pesca e Aquicultura do Amazonas-SEPA/SEPROR estimam que esta produção no ano de 2012 atingiu aproximadamente 16.000 toneladas de pescado oriundo da piscicultura, sendo esta produção, em sua maioria, originária da Região Metropolitana de Manaus (RMM), que possuía aproximadamente 1.700 hectares de lâmina de água de pisciculturas em 2008 (GANDRA, 2010). Atualmente, a SEPROR estima que a área alagada com pisciculturas no Amazonas seja de quase 2.000 hectares no ano de 2014, sendo o tambaqui e matrinxã (Brycon amazonicus) as principais espécies cultivadas. Os principais municípios produtores são: Rio Preto da Eva, Iranduba, Itacoatiara, Manaus, Manacapuru e Presidente Figueiredo, todos situados às margens de rodovias estaduais e federais. Segundo Oliveira et al. (2012), os produtores rurais do Amazonas relataram aos técnicos do IDAM/SEPROR que os principais problemas para o desenvolvimento da piscicultura no Amazonas são: 1 - obtenção de ração; 2 aquisição de alevinos; 3 - falta ou restrição de informações e de técnicos especializados, apesar da atuação da SEPROR-AM. A obtenção Nexus Revista de Extensão do IFAM

de ração ainda é um forte entrave para piscicultores em regiões mais distantes da R.M.M, mas um problema pouco vivenciado pelos produtores da R.M.M. O segundo entrave, a aquisição de alevinos, está sendo solucionado pelo IDAM e SEPROR, com recursos próprios e de parceiros (Ministério da Integração Nacional, MPA, entre outros), por meio da instalação de Unidades de Produção de Alevinos (UPA´s) em municípios estratégicos do Estado do Amazonas. Por último, e não menos importante que os dois primeiros, a falta de mão-de-obra qualificada para assistência técnica e transferência de tecnologias está sendo enfrentada por projetos a serem descritos a seguir. Para suprir parte desta demanda de mão de obra especializada, a Secretaria de Produção Rural do Estado do Amazonas (SEPROR) e a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (FAPEAM), por meio Programa Estratégico de Transferência de Tecnologias para o Setor Rural – Pró-Rural, financiam o projeto Pesquisa e transferência tecnológica: ferramentas fundamentais para o desenvolvimento da aquicultura no Estado do Amazonas, conhecido localmente como Pró-Rural Aquicultura. O projeto prevê a aliança do tripé ensino-pesquisa-extensão como mecanismo de fortalecimento do setor aquícola do Amazonas, atendendo assim as demandas levantadas por Oliveira et al. (2012). Esse projeto visa à transferência de informações técnicas e científicas sobre boas práticas de manejo de viveiro para aquicultores e produtores rurais interessados nesta atividade zootécnica, contribuindo para o desenvolvimento da aquicultura no Amazonas e ampliação da produção interna de pescado desta região. O presente artigo mostra parte dos resultados obtidos pelo projeto Pró-rural Aquicultura, analisando o quantitativo de produtores que foram atendidos pelo projeto ao longo de 11 meses de atividade de campo, bem como as características das propriedades rurais do Estado do Amazonas (com e sem piscicultura Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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instalada), analisando o tamanho das propriedades, o uso do solo, os sistemas de produção aquícolas instalados, as principais espécies cultivadas e os principais desafios para projetos de transferência de tecnologia e capacitação no interior do Estado do Amazonas. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo Os 40 técnicos do projeto estão atuando em 21 municípios do Amazonas, divididos em seis polos (Humaitá, Lábrea, Parintins, Tabatinga, Rio Negro e Manacapuru-Região Metropolitana de Manaus). Desse total, 28 são técnicos formados nos cursos de Técnicos em Pesca, Técnico em Aquicultura e Técnico em Recursos Pesqueiros, formados por Escolas Agrotécnicas, Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, Centros de Educação Tecnológica do Amazonas, entre outros. Além destes, compõem o projeto mais 12 técnicos de nível superior, sendo 10 Engenheiros de Pesca e duas Tecnólogas em Produção Pesqueira (TECPESQ – Universidade do Estado do Amazonas). Capacitação dos bolsistas Os bolsistas ao ingressarem no projeto receberam uma capacitação sobre o setor aquícola do Amazonas e o projeto Pró-Rural/Residência Agrária-Linha Aquicultura. Em julho de 2013, os bolsistas concentraram esforços em sua capacitação (por meio da internet). Dez bolsistas apresentavam deficiências em sua formação e estes participaram da Semana de Recursos Pesqueiros do IFAM - Campus Presidente Figueiredo, com posterior capacitação em aquicultura, realizada em setembro de 2013, no Centro de Transferência de Tecnologia e Produção de Alevinos - CTTPA de Balbina. O curso teve carga horária de 70h e conteúdo programático concentrado em: projetos de piscicultura; instalações e equipa-

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mentos; “layout” ou formato dos viveiros; sistema de cultivo para o tambaqui, matrinxã e pirarucu; indicadores técnicos e econômicos; considerações gerais sobre boas práticas de manejo na piscicultura; monitoramento e avaliação das atividades e visita à propriedade rural do Ramal da Morena. Monitoramento das atividades em campo O monitoramento dos bolsistas foi realizado por meio de frequências, planos de trabalho e relatórios de campo, em parceria com IDAM, SEPROR, Secretaria de Produção de Apuí, Secretaria de Meio Ambiente de Presidente Figueiredo, IFAM - Campus Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira. Além disso, foram realizadas visitas da coordenação aos escritórios do IDAM de Manacapuru (3), Iranduba (3), Itacoatiara (2), Rio Preto da Eva (2), Presidente Figueiredo (5), Careiro (1), Careiro Castanho (1), São Gabriel da Cachoeira (1) e Balbina (3). O desempenho dos bolsistas foi avaliado por meio de banco de dados online (http://www.ifam.edu.br/prorural/) e controle de relatórios. Foram realizadas reuniões mensais com a coordenação geral da SEPROR e todos os coordenadores do PRO-RURAL, na sala de reunião do PPGCASA/UFAM e do NUSEC/ UFAM. Em 07/11/2013 foi realizada um reunião na sede da FAPEAM para tratar de prestação de contas do projeto. Também realizamos duas oficinas de avaliação do projeto Pro-Rural Aquicultura. A primeira oficina foi realizada em Presidente Figueiredo, no período de 24 a 26 de março de 2014, com a participação de 35 bolsistas. A segunda oficina foi realizada em 11 e 12 de junho de 2014, na Reitoria do IFAM, situada na Rua Ferreira Pena, Centro, Manaus, AM. Participaram desta última oficina somente bolsistas de nível superior do projeto, com o objetivo de avaliar os resultados obtidos e os indicadores a serem solicitados a todos os bolsistas em seus relatórios técnico-científiVol.1 | Nº1 | Abr. 2015


cos do projeto. Análise dos dados Todos os dados apresentados foram analisados por medidas de tendência central (média, desvio padrão, mínimo, máximo e coeficiente de variação – C.V.). Avaliações das propriedades rurais foram realizadas com base em 423 atendimentos registrados no banco de dados do projeto Pró-Rural Aquicultura (http://www.ifam.edu.br/prorural). RESULTADOS E DISCUSSÃO Produtores atendidos A meta inicial pactuada com os financiadores era o atendimento de 4000 produtores por ano, atingindo 12.000 produtores em 36 meses de projeto. Entretanto, neste primeiro ano de projeto, nenhum dos bolsistas cumpriu 12 meses de atividade de campo. Portanto, a meta relativa por bolsista foi ajustada em função do tempo de agente em campo. Ao final, foi obtida uma nova meta de 3175 produtores a serem atendidos no primeiro ano. Dessa meta, os bolsistas conseguiram atender 2298 produtores rurais (72,38% da meta), sendo que 1143 (36%) possuíam algum tipo de infraestrutura de cultivo de peixes em suas propriedades. Novas metas estão sendo repactuadas em função da realidade observada em campo. O Polo de Manacapuru - Região Metropolitana de Manaus foi o que apresentou maior número de produtores rurais atendidos e produtores com piscicultura (Gráfico 1). Além dos cinco polos estabelecidos no Edital, também foi alocado um bolsista na estação de piscicultura do IFAM-CSGC em São Gabriel da Cachoeira para atuar na produção de alevinos para os produtores daquela região. Na tabela 1, são apresentados os valores absolutos e percentuais de produtores rurais atendidos e aqueles com piscicultura instalada em cada município onde há bolsista do projeNexus Revista de Extensão do IFAM

to atuando. Presidente Figueiredo foi o município com maior número de atendimentos. A implantação de um Arranjo Produtivo Local de Piscicultura, coordenado pela Prefeitura daquele município e o Governo do Estado, por meio da SEPROR, é o principal desencadeador deste resultado. Em termos de percentual de produtores com piscicultura instalada e atendida pelo projeto Pró-Rural, destacam-se os municípios de Benjamim Constant (Polo Tabatinga ou Alto e Médio Solimões), Manacapuru (Polo Manacapuru - RMM) e Apuí (Polo Madeira). No gráfico 2, são apresentadas demais atividades de transferência de tecnologia em boas práticas de manejo de viveiro. Uso do solo das propriedades rurais atendidas Foram atendidos 2298 produtores rurais nos seis Polos de Desenvolvimento da Aquicultura, em 11 meses de projeto. Com as informações do banco de dados do projeto Pró -Rural Aquicultura (http://www.ifam.edu.br/ prorural), foi possível avaliar que as propriedades têm em média área total de 50 hectares em propriedade rurais com e sem piscicultura instalada (Tabela 2). Foi possível observar, ainda, que há uma grande variação no tamanho das áreas em todos os Polos de Desenvolvimento da Aquicultura, com destaque para as regiões do Sul do Amazonas, Lábrea e Madeira, onde há produtores com mais de 1000 hectares. Em diversas localidades, chama a atenção a piscicultura em terrenos de pequeno porte (Alto e Médio Solimões e Manacapuru e RMM). Nas 423 propriedades avaliadas no banco de dados, a área total declarada foi de 22.304,43 hectares, estando 48,20% no Polo Manacapuru - RMM, 37,91% no Madeira, 4,64% no Polo Lábrea e 9,25% no Polo Alto e Médio Solimões. Na tabela 03, é apresentado o resumo do uso do solo nas propriedades com e sem cultivo de peixes. Foram declaraVol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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dos o cultivo de 72 tipos de plantas ou vegetais e 05 tipos de criações (bovinocultura, avicultura caipira e de postura, criação de patos e criação de abelhas). Nas áreas com piscicultura, os cultivos registrados com mais frequência foram: mandioca (6), pimentas (6), açaí (5), banana (5), coco (5), cupuaçu (5), limão (5), macaxeira (5), mamão (5), melancia (5), abacaxi(5). Nas áreas sem cultivo de peixes, os cultivos mais frequentes foram: pimentas (8), mandioca (6), cupuaçu (6), macaxeira (6), abacaxi (6), banana (5), coco (5), goiaba (5) e cana-de-açúcar (5). Em termos gerais, os produtores analisados utilizam 3,81% (±8,23%) com cultivo de peixes, mas os dados apresentam uma grande amplitude em termos percentuais da área da propriedade (0,02 a 73,91%). Os maiores valores de uso foram observados nas propriedades do Polo Alto e Médio Solimões (Tabela 4).

Gráfico 1: Distribuição percentual dos produtores atendidos pelos agentes de transferência de tecnologia do Pró-Rural Aquicultura, entre julho de 2013 e junho de 2014, nos seis Polos de Desenvolvimento da Aquicultura do Amazonas.

Tabela 1: Meta ajustada, número de produtores e de piscicultores atendidos pelos agentes de transferência tecnológica do Pró-Rural Aquicultura entre julho de 2014 e junho de 2014, nos seis Polos de Desenvolvimento da Aquicultura do Amazonas.

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Caracterização das pisciculturas assistidas em campo A avaliação das propriedades rurais durante as atividades de transferência de tecnologia mostra que, em média, os cultivos em tanques escavados ou semi-escavados por propriedade rural têm área total não superior a 01 hectare de área alagada (Tabela 5). Entretanto, os dados mostram também que há uma grande variação no tamanho dos cultivos (0,0012 a 4,42 ha). De outro lado, é possível mostrar que a piscicultura em tanque escavado, em sua maioria, é realizada em área alagada não superior a 5 ha. A legislação de aquicultura do Estado do Amazonas exige desse pequeno produtor somente um Cadastro único de aquicultor. Nos cultivos em barragens, o tamanho médio da área alagada é de 1,31 ha (±2,74 ha), com grande amplitude de 0,01 a 17,1 ha. O Polo de Manacapuru - RMM apresentou os maiores valores médio de tamanho de barragem. A região do Rio Madeira foi a que apreVol.1 | Nº1 | Abr. 2015


Gráfico 2: Número absoluto de produtores atendidos, de piscicultores, de Cadastro Ambiental Rural (CAR), cadastrados de aquicultura do IPAAM, xcadastrados de aquicultura do MPA e vistorias creditícias nos seis Polos de Desenvolvimento da Aquicultura do Amazonas.

sentou as menores áreas alagadas. Entretanto, somente duas estruturas foram registradas no banco de dados para aquela região. A menor área alagada de barragem foi registrada no Polo Alto e Médio Solimões (0,01 ha). Os valores de coeficiente de variação nos mostram que há uma elevada variação da área alagada nos cultivos em tanques escavados e barragens entre as diferentes regiões do Amazonas. Os canais de igarapé avaliados, juntos, cobrem uma área de 0,9584 ha (N=29 cultivos). Os tanques apresentam alta variação na área alagada, com amplitude de 0,002 a 0,25 ha (Tabela 5). Os produtores com tanques redes assistidos pelo projeto possuem um volume total de 1505,70 m3. Esses cultivos estão localizados no Polo de Manacapuru - Região Metropoli-

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tana de Manaus, mais precisamente nos lagos de várzea do município do Careiro da Várzea. O tambaqui é a espécie presente em 78% dos cultivos em tanque escavado e semi-escavado, seguido pela matrinxã (14%) e pelo pirarucu (7%). Nos viveiros de barragem, foram encontrados pelo menos nove espécies e um grupo não identificado. Nesse cultivo, predomina a espécie tambaqui (48%), seguida pelo matrinxã (17%), pirarucu (12%), curimatã (6%) e outros (15,6%). A principal ameaça aos cultivos em viveiros de barragem e viveiros escavados e semi-escavados é o verme Acantocéfalo. Estes organismos são helmintos parasitos que habitam o trato intestinal de peixes e outros vertebrados (Thatcher, 2006). Ocorre no intestino do tambaqui a espécie Neoechinorhynchus buttnerae, tanto nos da natureza quanto nas unidades de criação. Entretanto, a falta de boas práticas de manejo tem sido o Tabela 2: Sumário estatístico do tamanho das propriedades rurais (hectares) atendidas pelos agentes de transferência de tecnologia em Aquicultura.

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principal motivo para a perda de grandes produções de tambaqui na região metropolitana de Manaus. Os bolsistas do projeto Pró-rural visam levar aos produtores as melhoras técnicas de cultivo desenvolvidas em instituições como INPA, UFAM, UEA, EMBRAPA, entre outros. Nas imagens da Figura 1, é possível observar algumas das atividades realizadas em campo por bolsista. Em canal de igarapé, predomina o cultivo de matrinxã (68%), seguido por tambaqui (19%), pirapitinga (3%), pacu e tilápia (3%) (Gráfico 3), sendo o cultivo desta última espécie proibido por lei devido a mesma ser exótica no Amazonas. A atividade de criação de peixes em canal de igarapé foi regulamentada no Estado do Amazonas, por meio da Resolução No. 001/2008 do Conselho Estadual de Meio Ambiente (CEMAAM) e, recentemente, foi disciplinada por meio da Lei Nº. 3.802, de 29 de agosto de 2012, que permite o cultivo em igarapés com vazão mínima de 15 L/s ou 54 m³/h. Contudo, nada se sabe efetivamente sobre os impactos desta atividade na eutrofização e estruturação das comunidades de peixes dos corpos d´água da Amazônia Central. Esta criação de peixes em canal de igarapé ocorria com maior intensidade nos municípios

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de Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva (GANDRA, 2010). Esta região da Amazônia Central é drenada por uma densa rede hídrica, com riachos (corredeiras e cachoeiras) e igarapés típicos de terra firme coberta pela floresta alta amazônica, com seus latossolos amarelos (SIOLI, 1985). Levantamentos em campo recentes mostram que os cultivos em canal de igarapé têm sido intensificados nos municípios de Manacapuru e Novo Airão, em especial na margem esquerda da Rodovia AM 352, região do entorno da Área de Proteção Ambiental (APA) da Margem Direita do Rio Negro (Dados inéditos não publicados). Entre os sistemas de cultivo, a criação em canal de igarapés é aquela que recebe maior crítica por parte de ambientalistas e no meio acadêmico, por se tratar de um cultivo intensivo dentro de área de preservação permanente (APP), o leito do igarapé. De um modo geral, o presente estudo corrobora os resultados de Gandra (2010). Na Região Metropolitana de Manaus (R.M.M.), são praticados quatro tipos de piscicultura: viveiros de barragens; viveiros escavados; Tabela 3: Área cultivada nas propriedades (ha) atendidas pelos técnicos do Projeto Pró-Rural Linha Aquicultura.

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Tabela 4: Percentual de uso das propriedades rurais por atividade de piscicultura em quatro Polos de Desenvolvimento da Aquicultura no Estado do Amazonas.

módulos de canal de igarapés; e tanques-rede/ gaiolas. Esses cultivos são praticados em diversas modalidades de produtividade (extensivo, semi-intensivo e intensivo) (GANDRA, 2010). Segundo o IDAM, a produtividade média dos viveiros escavados e semi-escavados no Amazonas é de aproximadamente sete toneladas por hectare. Em estudo recente divulgado por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), foi verificado que a produção intensiva de tambaqui com aeração (4 aeradores de 1,5 HP/hectare) pode chegar a 18 toneladas por hectare (Izel et al, 2013). Nesse estudo, foram adensados 7.000 peixes/hectare, com peso inicial médio de 160g e peso final médio de 3 kg/ano. Considerando as estimativas da SEPROR (7ton/ ha) e os resultados de Izel et al (2013), po-

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deríamos ter para os 61 hectares avaliados (Tabela 5), aproximadamente, de 430 a 1098 toneladas de tambaqui, respectivamente. Entretanto, diversos fatores devem ser levados em consideração para a aplicação da tecnologia proposta pela EMBRAPA, por exemplo, a disponibilidade de energia elétrica em diversos ramais e vicinais do interior do Estado, o que inviabiliza o uso dessa tecnologia. AVALIAÇÃO DAS PRINCIPAIS DIFICULDADES DO PROJETO Após um ano de projeto, os bolsistas relataram como principais dificuldades: falta de infraestrutura (34,8% dos bolsistas), falta de veículo para as atividades de campo (34,8,%), Tabela 5: Número de propriedades (N), área (SOMA), média, desvio padrão (DP), mínimo (MIN), máximo (MAX) e coeficiente de variação (C.V) da área alagada (hectares) de tanques escavados e semi-escavados e barragens em quatro Polos de Desenvolvimento da Aquicultura do Amazonas.

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problemas com acesso à internet (33,3%), falta de GPS (37,5%), software trackmaker (33,3%) e problemas de relacionamento com a gerência e outros servidores do IDAM 33,3%). A resolução para esses problemas passa por uma reestruturação do IDAM e do sistema de ATER do AM. Falta de infra-estrutura, GPS, veículo e acesso à internet só podem ser resolvidos pelo parceiro. No caso de fornecimento de material de consumo, tais como software trackmaker, já foi adquirido pela coordenação e será entregue a cada um dos bolsistas. Ao cruzar nota atribuída à quantidade e qualidade do trabalho com percentual da meta atingida pelos bolsistas, verificamos que os bolsistas mais insatisfeitos (menor nota: 3) foram os que tiveram menor percentual de média alcançada ao longo do primeiro ano do projeto (Tabela 6). Bolsistas que indicaFigura 1: Bolsistas realizando manejo em viveiro (A), treinamento para análise de qualidade de água (B), medida de transparência dos viveiros (C) e povoamento de tanques em Presidente Figueiredo –AM (D).

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ram nota 4 atingiram um percentual médio de atendimentos em relação à meta pactuada. Entretanto, estes apresentaram elevado coeficiente de variação (90%). Tais resultados são reflexos de dados não normalizados, com elevado desvio padrão em relação à média. CONSIDERAÇÕES FINAIS O projeto PRÓ-RURAL tem um caráter inovador no modelo de formação tecnológica no setor rural do Amazonas. A união de esforços da SEPROR e FAPEAM permitiu de uma única vez colocar 40 agentes de transferência de tecnologia para atender aos produtores rurais e piscicultores, o que por si só traz um grande impacto ao setor aquícola do Amazonas. Os produtores atendidos com este projeto, em sua maioria, são produtores que nunca haviam sido atendidos pelo sistema oficial de extensão rural, ou seja, uma nova demanda para o Estado ao final do projeto em 2016. Além disso, o projeto está capacitando na prática, popularmente conhecido como o “apren-

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der fazer, fazendo”, mão de obra para atuar em um setor que está em ampla expansão – a aquicultura brasileira. Por último, consideramos como o principal desafio na próxima década da aquicultura no Amazonas a implantação de um Polo de Inovação Tecnológica para o setor aquícola. Certamente este será o mecanismo de consolidação de todos os esforços já empregados na aquicultura regional.

AGRADECIMENTOS Os autores são gratos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e Secretaria de Estado da Produção Rural do Amazonas (SEPROR) pelo apoio logístico e financeiro ao projeto Pró -Rural Aquicultura. Agradecemos ao IFAM pelo apoio logístico ao projeto. Especial agradecimento aos bolsistas do Projeto Pró-Rural Aquicultura pelo valioso trabalho realizado em campo. JPL agradece à FAPEAM pela concessão da bolsa de coordenação em Transferência de Tecnologia. REFERÊNCIAS ARBELÁEZ-ROJAS. G.A.; FRACALOSSI, D.M. ; FIM, J.D.I. Composição corporal de tambaqui, Colossoma macropomum e matrinxã, Brycon cephalus, em sistemas de cultivo intensivo, em igarapé, e semi-intensivo, em viveiros. Revista Brasileira de Zootecnia, vol. 31, n.3, p: 1059-1069, 2002. GANDRA, A.L. O Mercado do Pescado da Região Metropolitana de Manaus. Infopesca. Proyecto Mejoramiento del Acceso a los Mercados de Productos Pesqueros y Acuícolas de la Amazonia, CFC/FAO/INFOPESCA, CFC/ FSCFT/28. 91p. IZEL, A., CRESCÊNCIO, R., ALMEIDA, F.L., CHAGAS, E., BOIJINK, C. AND SILVA, J.I. 2013. Produção intensiva de tambaqui em tanque escavado com aeração. Circular Técnica 39. Embrapa Amazônia Ocidental – Manaus. 4p.

Gráfico 3: Principais espécies peixes cultivadas em tanques escavados e semi-escavados, barragens e canal de igarapé nas propriedade rurais nos seis Polos de Desenvolvimento da Aquicultura do Amazonas. Nexus Revista de Extensão do IFAM

MINISTÉRIO DA PESCA E AQUICULTURA -MPA. Boletim estatístico da pesca e aquicultura. Governo Federal: Brasília, fev. 2012. Disponível em: <http://www.mpa.gov.br/ images/Docs/Informacoes_e_Estatísticas/Boletim %20Estat%C3%ADstico%20MPA%20 2010.pdf>. Acesso em: 20 out. 2012. 128p. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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Tabela 6: Auto-avaliação da qualidade e quantidade dos serviços realizados pelos bolsistas e o resultado do percentual de produtores atendidos em relação à meta pactuada.

NUNES, E. S. S.; CAVERO, B. A. S.; PEREIRA-FILHO, M.; ROUBACH, R. Enzimas digestivas exógenas na alimentação do tambaqui. Pesq. Agrop. Brasil, 2006, 41:139-143. OLIVEIRA, R. C. O panorama da aquicultura no Brasil: a prática com foco na sustentabilidade. Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, 2009, 2(1): 71-89. OLIVEIRA, A.M. et. al. Caracterização da atividade de piscicultura nas mesorregiões do estado do Amazonas, Amazônia Brasileira. Rev. Colombiana Cienc. Anim, 2012. vol.4, n.1, p:154-162. PARENTE, V. M.; OLIVEIRA-JÚNIOR, A. R.; COSTA, A. M. 2003. Potencialidades Regionais: estudo de viabilidade econômica: Sumário executivo. Manaus. Superintendência da Zona Franca de Manaus, 2003. SIOLI, H. Amazônia: Fundamentos da ecologia da maior região de florestas tropicais. Tradução de JOHANN BECKER. Petrópolis, Rio de Janeiro : Editora Vozes, 1985. 72p THATCHER, V.E. Amazon fish parasites. 2ed. Sofia. Moscow: Pensoft Publishers, 2006.

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EDUCAÇÃO MUSICAL PARA CRIANÇAS DA ETNIA MAGUTA NO ALTO SOLIMÕES Maguta ethnic children musical education in Solimões River Region

Jeane Colares da Silva, jeane.colares@ifam.edu.br¹

Resumo: O objetivo deste artigo é apresentar o Projeto Aldeia da Música que está sendo implementado através da Extensão no Instituto Federal do Amazonas - Campus Tabatinga-AM. o qual visa oferecer Educação Musical a alunos da etnia Ticuna, na faixa etária de 6 a 12 anos, com aulas de musicalização infantil, canto coral e violino, com início em março de 2014. O povo Ticuna do Alto Solimões possui suas características e valores, porém a que mais nos sobressaltou a atenção foi a determinação. Atuar na tríplice fronteira Brasil, Peru e Colômbia, como violinista e educador musical, permite-nos perceber que a realidade daqui é algo singular por apresentar especificidades tão relevantes e importantes, tanto de povos tradicionais quanto povos “não tradicionais”. Neste artigo, pretendemos demonstrar a relação ensino-aprendizagem e a música que ora estamos trabalhando em nosso Campus, buscando objetivamente transmitir nossos conhecimentos técnicos e científicos e levando em consideração que o trabalho com educação escolar indígena é uma região de fronteira de conhecimentos. Por fim, estamos em busca do instrumental musical e científico que estão presentes na música indígena e na arte em geral. Como resultado final, buscamos dar início ao funcionamento da primeira Orquestra de Câmara do Povo Ticuna. Para isso, o projeto propõe o ensino de nossa música tradicional, totalmente de cunho erudito como mais um elemento de aprendizagem da cultura externa, sem interferir na sua cultura tão original. Palavras chave: Educação Indígena. Musicalização. Ticuna. Maguta. Cultura. Abstract: The aim of this paper is to present the Music Village Project that we are implementing through the Outreach Scholarship Program at the Federal Institute of Amazonas - Tabatinga Campus-Amazonas, which aims to provide music education to the Ticuna ethnic students group, aged from 6 to12, with music classes for children, choral singing and violin, which has started in March 2014. The upper Amazon Ticuna students have their characteristics and values but we devoted more attention in their determination. We have been working in the triple border constituted of Brazil, Peru and Colombia. As a violinist and music educator, we have the sensibility to realize that the reality here is something unique and presents specific, relevant and important characteristics, for traditional and non-traditional peoples. In this article, we intend to demonstrate the teaching-learning relationship and the music that we are now working on our campus, looking objectively to convey our technical and scientific knowledge and taking into account that working with indigenous education is a “knowledge border region”. Finally, we are in search of musical and scientific instruments that are present in the indigenous music and art in general. As a result, we seek to initiate the composition of the first Ticuna Chamber Orchestra. For this, we propose in the project our traditional music teaching, fully scholar in nature as one more element on learning a foreign culture, without interfering in its uniqueness. Keywords: Indigenous Education. Musicalization. Ticuna. Maguta. Culture.

¹Violinista, Professora de Artes no IFAM- Campus Tabatinga. Graduada em Educação Artística, com Habilitação em Música pela Universidade Federal do Amazonas. Especialização Proeja Indígena na modalidade EAD (cursando) - IFAM. Mestranda em Educação Agrícola pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

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INTRODUÇÃO Falar de música é muito simples. Falar do quanto ela vale, também. Mas, fazer música, qualificar-se e fazer música de qualidade requer tempo, habilidade, determinação e organização. Todas as características que temos visto nesse povo daqui de nossa região. Durante séculos, os Ticunas têm nutrido seus valores, suas crenças, suas artes, e têm dado demonstração de uma evolução muito além da fronteira da tecnologia: evolução intelectual. O povo Ticuna tem demonstrado que, para estar atualizado com o novo tempo tecnológico e intelectual, não é necessário abrir mão de uma cultura firme, forte e duradoura. Demonstram isso, mantendo a sua língua materna, suas danças, suas pinturas e suas músicas. O povo Ticuna (originalmente Maguta) encontra-se na região do Alto Solimões no Município de Tabatinga, com uma população em torno de 14.000 almas no extremo oeste do Estado do Amazonas, na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru (FERRANI, 2013). Com todas essas especificações, é imprescindível notar que há uma enorme diversidade cultural envolvida em nosso trabalho e que, em hipótese alguma, deve ou poderá ser ignorada. Em primeiro lugar, a questão muito latente que tanto encanta quanto incomoda é a língua. Ao longo de muitos anos de estudos, cada vez mais vem se aprimorando pressupostos teóricos a respeito da importância da música na vida do ser humano, principalmente no seu poder de alcance do subconsciente e dos resultados a partir deste princípio. Por isso, o presente trabalho busca utilizar a música, como fonte facilitadora do processo de aprendizagem. Em nossa primeira experiência com o Curso Técnico em Agropecuária – modalidade Proeja Indígena, ao iniciar as atividades referentes à disciplina Artes, nossa primeira atitude foi conhecer aspectos relativos à música e Nexus Revista de Extensão do IFAM

dança daquela etnia, com a intenção de propor um planejamento pedagógico. Como resultado da metodologia aplicada, pela formação de grupos, tivemos contato com a música típica, com aspectos muito comuns, que assim foram analisados: todos tratavam da mitologia do seu povo, todas possuíam o mesmo pulso, apesar de andamentos contrastantes e com influências principalmente da música andina, representados aqui, pelos povos Peruanos e Colombianos. Também foi observado que a dança é formada por elementos corporais, representando os movimentos do dia-a-dia de trabalho, que desenvolvem movimentos relativos à pesca, à caça e aos diversos movimentos dos vários produtos da agricultura bem como atividades caseiras. Com base nessas breves observações, todos os nossos conceitos e pressupostos teóricos ficaram com uma imensa interrogação: quem afinal é o Povo Ticuna? E, sem dúvida, como ele, o povo, relaciona-se com a arte de forma natural, sem as típicas barreiras conceituais, presentes na nossa formação, dita branca? METODOLOGIA APLICADA Nossa proposta leva em conta a musicalização como processo de desenvolvimento das percepções auditivas, visuais, o tato e outros sentidos. Iniciamos esse processo através do canto de canções que utilizam o sistema tonal. Primeiramente, não foi percebida nenhuma dificuldade nesta percepção, o que facilita muito o trabalho. O desafio surgiu quando passamos a procurar ouvir a típica música daquele povo.

Figura 1: Foto de Jorge Machado Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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O sistema tonal ocidental utiliza três principais bases de construção: a tônica, a mediante e a dominante, que correspondem ao 1º, 3º e 5º graus de uma escala. Mas, verificamos que o principal grau em suas músicas é o 4º, a subdominante, o famoso e conflitante trítono. Para eles, não há nenhuma dificuldade na execução desse intervalo, além da constante presença das segundas, maiores ou menores. É claro que, como programa nacional de ensino de música, é necessário o uso do sistema tonal, mas teremos que desenvolver uma metodologia que utilize os padrões musicais daquele povo. Nosso maior desafio é buscar uma metodologia onde haja facilidade para o aluno compreender a música como processo técnico, tendo como base a sua forma natural de vida. Podemos afirmar ser essa uma preocupação constante. Ao observar essas perspectivas, temos trabalhado a música como instrumento primeiramente de reconhecimento enquanto humano, além da interação com o mundo da arte de um povo, e o mundo considerado como universal. Buscar a sonoridade que é vivida pelas crianças ticunas nos leva a entender que há muito mais o que aprender do que ensinar. As crianças recebem merenda, transporte e uniforme escolar, porém não podemos deixar de relatar que não possuem instrumentos. Há apenas dois instrumentos de minha propriedade. As aulas só ocorrem as quintas e sextas, uma vez no instituto, outra vez em uma escola estadual na aldeia. Mas, esse difícil acesso ao instrumento aparentemente não faz diferença. As crianças demonstram, além de um elevado grau de interesse (bem acima do comum, dos alunos do IF), uma capacidade de apreensão dos conteúdos e o que mais nos surpreende, da técnica.

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Figura 2: Foto de Jorge Machado

Foi sugerido às crianças que, por não possuírem violinos, fossem improvisados arcos, feitos de galhos de árvores, do seu próprio quintal. Dessa forma, poderiam trabalhar a tão complicada técnica do arco, como se fosse um brinquedo do dia-a-dia. Esperamos o resultado. E ficamos muito impressionados com a destreza, leveza e a compreensão de que não é pressão que se usa nem força, mas forma e peso corretos, em suma, técnica. Concluindo em forma de relato, as técnicas de canto foram utilizadas para preparar para a prática de solfejo, utilizando canções do sistema tonal, com uso da escala musical. Foi aí que percebemos a maior dificuldade: a pronúncia em língua portuguesa, mesmo com grande interesse e dedicação demonstrados. Utilizamos, então, a ferramenta tradução e transliteração, através de uma jovem de 15 anos que sonha em ser parte dessa cultura conhecida entre eles como “civilizada”, mas que entende seu valor enquanto cultura indígena. Juntamente com as crianças, foram sugeridas expressões na língua materna que se encaixavam na canVol.1 | Nº1 | Abr. 2015


ção que agora cantam com todo orgulho, em língua portuguesa e língua ticuna (conhecida entre eles como gíria). DESCRIÇÃO DAS EXPERIÊNCIAS

Figura 3: Foto de Jorge Machado

Iniciamos nosso estudo em agosto de 2013, através de uma oficina de iniciação ao violino, com alunos que se deslocavam de sua comunidade para as salas de aula do Instituto Federal, no município de Tabatinga no Amazonas. A surpresa foi enorme. Em nossa prática pedagógica de quase trinta anos como professora de violino, especificamente, temos alguns costumes e porque não dizer, alguns “macetes”, para identificar a questão da aptidão. Assombrou-nos a facilidade para a compreensão das difíceis técnicas que envolvem a execução do instrumento. Desde então iniciamos o processo de construção do projeto. Em março de 2014, efetivamente, começou o Projeto Aldeia da Música. Em nosso projeto pedagógico, há o ensino da notação musical, com a musicalização, canto coral e violino, utilizando o processo de verificação do desenvolvimento motor da criança. Extrapolando as observações, verificamos que, através da música, todos, desde as crianças aos mais idosos, apresentam uma compreensão fenomenal de vozes não comuns e, dentro de uma simetria de perfeição a olhos e ouvidos não tão cautelosos com os dos conhecedores da métrica ou mesmo dos estudiosos, chegam a beirar a genialidade. São muitos os fenômenos, mas vejo que tudo isso se dá de uma forma muito intrigante, pela maneira, ou o modo, o entendimento que eles possuem quando exercem os esclarecimentos em seu próprio idioma, parece que todas as coisas, no sentido dos fenômenos pelo menos da música, já eram do domínio daquela gente. Notamos isso quando é solicitado para demonstrarem suas compreensões acerca de algum fato ou fenômeno. Após as explicações e tradução para seu idioma, as dúvidas

Figura 4: Foto de Jorge Machado Nexus Revista de Extensão do IFAM

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são reveladas e, em seguida, eles realizam os exercícios e ou qualquer tarefa com precisão inexprimível e com muitíssima habilidade, como se já compreendessem o que estava sendo ministrado. Acredito que a música é e será o instrumento para alguns viabilizarem um relacionamento mais estreito entre nós, pois eles, os Magutas, possuem uma compreensão da vida pela música fora de certos referenciais e isso pode vir a proporcionar uma compreensão maior dos costumes, do idioma e de todas as manifestações culturais daquela etnia e do seu povo tão singular, que acredito não ter tido nenhum acesso a escolas, de nenhuma parte da história dos demais povos. Estamos olhando a vida desse povo como um enorme campo, provavelmente até inesgotável, de riqueza cultural e material a ser conhecido, para que possamos quiçá conhecer a nossa própria existência. Como cidadãos desse espaço, certamente não podemos execrar todo esse patrimônio de um povo, nem muito menos deixar ao descaso, principalmente quando sabemos que eles são o princípio da nossa melodia, chamada vida. BASES CONCEITUAIS A educação musical no Brasil, historicamente, obedece a padrões estabelecidos na Europa, o sistema tonal da notação e teoria musical, como bem descreve Penna (2008) em sua obra Música (s) e seu ensino. Ao se propor o ensino de música ou um programa de Educação Musical dentro de uma sociedade tradicional como a do povo Ticuna, há de se levar em conta não só as questões relativas ao ensino de música mas também ao ensino da Educação Indígena. Educação Indígena, como qualquer outra sociedade organizada ou não, está além de conceitos e pressupostos de entendimentos acadêmicos ou sistemáticos. Está em toda a sua plenitude de vida. Em sua forma de relacionamento com sua sociedade e comunidade,

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sua família e consigo mesma. Os valores morais e culturais são adquiridos, e, na maioria das vezes, transmitidos oralmente de geração em geração. E assim, o indivíduo indígena localiza-se no tempo e no espaço e adquire sua educação plena. A educação escolar indígena, referindo-se ao programa escolar, a meu ver de forma muito equivocada, é aquela que vai obedecer a padrões sistemáticos, visando ao cumprimento de matrizes curriculares para o exercício profissional. Quando me refiro ao equívoco, é que nossas matrizes curriculares ainda estão nos padrões que nos foram impostos pelos invasores europeus. Primeiramente, o índio ou nativo tinha que renunciar suas crenças e adotar as crenças de outros povos, os dominadores, depois tinham que aprender uma nova língua (desaprender a sua), perdendo sua identidade e depois cumprir todas as normas de outras sociedades. Pergunto, isso mudou? Nossos currículos ainda não contemplam a sabedoria dos povos indígenas. Ainda não consideramos ciências o que vem sendo usado por eles há milênios, enquanto nós ainda não temos nem 600 anos de existência. Quando analisamos o RCNEI (Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas), vimos que os direitos defendidos na constituição nos leva ao caminho da pesquisa. Primeiramente estabelece a escola bilíngue, o ensino da língua materna, multicultural e diferenciada. Ainda nesse Artigo, está definido que os programas terão como objetivos: “1º, fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna de cada comunidade indígena; 2º, manter programas de formação de pessoal especializado, destinado à educação escolar nas comunidades indígenas; 3º, desenvolver currículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas comunidades; e 4º, elaborar e publicar sistematicamente material didático específico e diferenciado”. ( BRASIL, RCNEI, 2005, p. 33 – 2.3.3).

A questão da escola diferenciada nos chaVol.1 | Nº1 | Abr. 2015


ma atenção, pois, quando tratamos do ensino de música, estamos falando de uma forma de ensino e de aprendizagem também diferenciados. A música é uma modalidade artística que exige muita percepção. Com essa afirmativa, não poderia deixar de levar em conta a vivência de mundo do aluno de música. Sendo a música um objeto de estudo derivado do estudo do som, fenômeno típico de estudo da física, não há como não se levar em conta a forma que o aluno ouve e vive seu mundo. Não temos a pretensão de tratar de forma muito simplista a questão da diferença. Sabemos que envolve muitos pressupostos e há muito que se considerar, faremos apenas uma abordagem com a música na escola, e escola indígena. PRIMEIROS RESULTADOS A busca pela formação escolar diferenciada tende a ser constante. Vimos que é necessário mergulhar em entendimentos culturais, o que demanda muito tempo e dedicação. Buscamos, assim, uma metodologia que proporcione conhecimento, que seja suficiente para entendimentos dos signos utilizados por uma arte dita como universal: a música. Em relação à identidade étnica, podemos afirmar ser essa uma preocupação constante.

Ao observar essas perspectivas, temos trabalhado o ensino de música como instrumento primeiramente de reconhecimento enquanto ente humano. A interação com o mundo da arte de um povo, e o mundo considerado como universal. Buscar a sonoridade que é vivida pelas crianças ticunas nos leva a entender que há muito mais o que aprender do que ensinar. No momento, estamos colhendo muitos frutos a tempo que ainda pensávamos estar plantando. Em depoimento, uma mãe Ticuna falando de sua filha, foi ao instituto para agradecer o grande bem que sua filha de 9 anos está recebendo. Ela afirmou que a menina não precisa ser lembrada e muito menos obrigada a ir às aulas. Ela acorda muito cedo e sozinha se arruma e fica, desde às 5 horas da manhã, esperando o transporte que só chega às 8 h e 15 min, para iniciar as aulas às 9 horas. Atualmente, contamos com 17 crianças que realizam a prática de canto coral, já com algumas apresentações públicas do Coral Infantil Ticuna de Tabatinga. Os alunos já conhecem a técnica de arco, as primeiras notas de canções ticunas no violino e um lindo grupo de dança tradicional. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Campus em Tabatinga possui um público extremamente rico e evidente em sua di-

Figura 5: IV Semana de Extensão - 2014 Nexus Revista de Extensão do IFAM

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versidade cultural que precisa ser levado em consideração sempre que se pretenda implementar algum projeto de intervenção local. Dessa forma, percebemos que o Projeto Aldeia da Música, ao propiciar a inclusão dos povos indígenas e o fortalecimento de culturas tradicionais, contribui substantivamente para o cumprimento da missão institucional. REFERÊNCIAS ALVES, Rubem. Educação dos Sentidos e mais... 6ª ed. Campinas, SP: Verus Editora , 2010.

zembro/99. I Congresso Internacional de Educação Indígena. Dourados, MT. PENNA, Maura. Música (s) e seu Ensino. Porto Alegre: Editora Sulina, 2008. SANTOS, Miriam de Oliveira. A Noção de Identidade e seu Uso nos Estudos Migratórios. Aprofundamentos. Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVIII, Nº 34, p. 27-43, jan./jun. 201028

BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas. Brasília: MEC | SEF, 2005. FERRARINI, Sebastião Antônio. Encontro de Civilizações – Alto Solimões e as Origens de Tabatinga. Manaus: Editora Valer, 2013. FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. Ferraz; FUSARI, Maria, F. de Rezende. Metodologia do Ensino de Arte. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1999. (Coleção Magistério. 2º Grau. Série Formação do Professor). GRUBER, Jussara Gomes. Projeto Educação Ticuna: arte e formação de professores indígenas. Em Aberto, Brasília. V. 20 n. 76. P. 130-142, fev. 2003. KIEFER, Bruno. História da Música Brasileira. Dos Primórdios ao Início do Século XX. 4ª ed. Porto Alegre: Movimento, 1977. SILVA, Aracy Lopes da. Uma “Antropologia da Educação” no Brasil? Reflexões a partir da escolarização indígena. Antropologia, História e Educação. São Paulo: Global, 2001. MELIÀ, Bartomeu. Educação Indígena na Escola. Cadernos Cedes, ano XIX, no 49, De-

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O PAPEL DA AYTY - INCUBADORA DE EMPRESAS DO IFAM NO ECOSSISTEMA DE INOVAÇÃO DO AMAZONAS AYTY Role – IFAM Enterprire Incubator in the Amazonas inovation ecossystem Maria Goretti Falcão de Araújo, goretti@ifam.edu.br¹

Resumo: O presente artigo discorre sobre a trajetória da AYTY como parte do ecossistema de inovação, o esforço para executar atividades de apoio ao processo inovativo das empresas incubadas e sua contribuição e articulação com importantes agentes do Ecossistema Local e Nacional de Inovação, destacando seu papel como mecanismo de interação entre os diversos agentes deste sistema, no intuito de promover o desenvolvimento regional. Em Manaus, o movimento de incubadoras começou em 2002, quando o Ministério de Educação e o Serviço Nacional de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), em parceria, criaram o Programa Prêmio Técnico Empreendedor. Nesse diapasão, o então Centro Federal da Educação Tecnológica do Amazonas-CEFET-AM criou, em 2003, a sua primeira Incubadora de Empresas com o nome de InCEFET que, posteriormente, foi denominada de AYTY, que significa Ninho, na linguagem Tupi-Guarani. É nesse contexto que o artigo será desenvolvido. Palavras chave: Incubadora de Empresas. Inovação. Ecossistema Local e Nacional de Inovação. Desenvolvimento Regional. Abstract: This paper deals with a study on the evaluation of innovative activities of business incubators in Manaus and it deals with the creation of an environment that fosters innovation management companies, seeking greater competitiveness. It is based on the evolution of the innovation theory from the Schumpeter postulates reflected in major evaluation models of the innovation process, as manuals Oslo and Bogotá, among others, and PINTEC - Technological Innovation Research. The method used for the study is the multiple cases study and the data collection instrument is field research by questionnaire, unstructured interview and document analysis, with managers and incubated companies. Based on the findings obtained from the survey, it was found that incubators are similar in the management of innovative activities. However, time factor and laboratory use are the factors that stood out the differences between them. There was a need to create mechanisms to monitor and detect their business needs to make the management of innovative activities and thus, through innovation, the company achieves competitiveness. Keywords: Business Incubators. Innovation Management. Innovative Activities.

¹Administradora do Instituto Federal do Amazonas (IFAM); Mestre em Engenharia de Produção.

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INTRODUÇÃO O Brasil vive atualmente um desafio de se desenvolver num ambiente econômico e competitivo, onde a tecnologia e inovação são elementos essenciais para as empresas se tornarem competitivas no cenário mundial, com a crescente globalização da economia. Isso determina uma busca constante pela inovação, exigindo a criação de um ambiente propício, planejando e desenvolvendo ações na construção e fortalecimento de um Sistema (ecossistema) Nacional de Inovação, que pode ser definido como sendo um sistema que engloba todos os elementos e as relações envolvidas na produção, difusão e uso de um conhecimento novo e industrializável (SILVA et al, 2009). Na dimensão local, o processo de inovação ganha força a partir da articulação e interação desses ecossistemas. A estratégia básica para alcançar a inovação em suas diversas dimensões é a busca de ambientes favoráveis à cooperação entre os atores do ecossistema nacional e local de inovação. Villela e Magacho (2009) ressaltam que as incubadoras de empresas são um bom exemplo deste tipo de ambiente, pois atuam como mecanismo eficiente no processo de transferência de tecnologia/ conhecimento da infraestrutura científico-tecnológica (universidades/institutos de pesquisa, etc.) para a estrutura produtiva. Dentre os temas relevantes para o desenvolvimento regional, são discutidos atualmente a criação de incubadoras, incentivo à transferência de tecnologias, estímulo ao capital de risco e mecanismos de apoio gerencial e tecnológico. As incubadoras de empresas surgiram com o papel fundamental da disseminação da cultura empreendedora e do espírito inovador, no apoio à consolidação de micro e pequenos empreendimentos. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas-IFAM, ainda como Centro Federal de Educação Tecnológico do Nexus Revista de Extensão do IFAM

Amazonas – CEFET-AM, criou, em 2003, a Incubadora de Empresas do CEFET-AM, com o nome de InCEFET, visando oferecer oportunidades para o trabalho autônomo e criativo aos alunos finalistas e egressos. Com a transformação do CEFET-AM para Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas-IFAM, a InCEFET recebeu a denominação de AYTY - Incubadora de Empresas do IFAM. Este texto aborda o processo de incubação na AYTY e sua trajetória, bem como sua relação com o ambiente institucional e empresas, denominado aqui de Ecossistema Local e Nacional de Inovação. Busca destacar nesse contexto seu crescente envolvimento com essas instituições de pesquisa e ensino, incubadoras de empresas, germinadoras (organização que fomenta a cultura empreendedora), startups (empresas nascentes) e Spinoffs acadêmicos (empresas nascidas de projetos da academia), para o desenvolvimento e transferência de tecnologia. BREVE HISTÓRICO DO MOVIMENTO DE INCUBAÇÃO No Brasil, o movimento de incubadoras teve início na década de 1980. Em 1982, o governo, sob a égide do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, fundou o Programa de Tecnologia e Inovação que tinha como principal objetivo estimular a relação entre Universidades e Empresas. Por meio deste Programa, foram criadas cinco fundações tecnológicas que deram origem às incubadoras de empresas, sendo uma delas em Manaus. Em 1987, foi criada a Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores – ANPROTEC que passa a articular e a coordenar o processo de expansão das incubadoras de empresas no Brasil. A partir da década de 1990, o SEBRAE ganhou destaque no apoio à implantação, desenvolviVol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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mento e fortalecimento das incubadoras. Por sua vez, em Manaus, o movimento de incubadoras começou em 2002, quando o Ministério de Educação e o SEBRAE Nacional, em parceria, criaram o Programa Prêmio Técnico Empreendedor. A criação de incubadoras de empresas foi um dos projetos deste programa. O governo brasileiro criou diversas leis de incentivo à inovação, visando alavancar a competitividade das empresas brasileiras. Dentre elas, a Lei da Inovação Tecnológica (Lei n.10.973/2004), a Lei da Propriedade Industrial (Lei n. 9.279/98), e a Lei do Bem (Lei n. 11.196/05). Em linhas gerais, a lei da inovação autoriza a incubação de empresas dentro de ICTs, permite a utilização de laboratórios, equipamentos e instrumentos, materiais e instalações das ICTs por empresa, facilita o licenciamento de patentes e transferência de tecnologias desenvolvidas pelas ICTs, promove a participação dos pesquisadores das ICTs nas receitas advindas de licenciamento de tecnologias para o mercado e autoriza a concessão de recursos financeiros diretamente para a empresa (Subvenção Econômica). Os dispositivos legais para a incubação de empresas, no espaço público, possibilita o compartilhamento de infraestrutura (equipamentos e recursos humanos), públicos e privados, para o desenvolvimento tecnológico e a geração de produtos e processos inovadores. Assim, as leis de inovação estaduais derivam da Lei de Inovação Federal, transpondose para o ambiente estadual, os preceitos da lei federal. SOBRE A AYTY A Incubadora de Empresas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, AYTY, é uma incubadora multisetorial (base tecnológica e tradicional) voltada preferencialmente aos segmentos de indústria,

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química e alimentos, construção civil, meio ambiente e saúde, publicidade, turismo e hospitalidade, segurança do trabalho, informática, agroindústria e telecomunicações, áreas de excelência do IFAM e tem como interveniente financeira a Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa, Extensão e Interiorização do IFAM. A missão da AYTY é “oferecer capacitação tecnológica e de gestão às micro e pequenas empresas, buscando sua maior inserção no mercado interno e externo, de maneira integrada e articulada, propiciando o fortalecimento da economia”. A Visão da AYTY é “ser um polo referencial de formação empresarial qualificada, visando à criação e efetivação de empresas estruturadas, contribuindo com a formação do capital intelectual e desenvolvimento sustentável regional, até 2017”. Os Valores da AYTY são: ética, transparência, parceria, comprometimento, confiança, respeito ao ser humano e ao meio ambiente. A AYTY foi projetada para atuar com as modalidades de: Pré-incubação: com duração de 06(seis) meses a 1 ano para consolidação do modelo de negócio e da tecnologia; Residente: que é a fase de atuação da empresa no mercado de Trabalho, onde a empresa conta com instalações físicas, apoio tecnológico e de gestão da incubadora, para começar seu próprio negócio até a fase de estabilização e independência (graduação da empresa); Não Residente: trata-se da empresa que já atua no mercado e deseja participar do suporte oferecido pela incubadora, a exemplo das empresas residentes, porém sua estrutura física não se encontra no IFAM; Associada: aquela empresa que foi apoiada pela incubadora, alcançou maturidade, saiu (graduou) e deseja continuar a receber o suporte da incubadora. A Incubadora é um Programa de Empreendedorismo da Pró-reitora de Extensão do Instituto Federal de Educação, Ciência e TecVol.1 | Nº1 | Abr. 2015


nologia- IFAM, e como tal é sistêmica e gerida por um Gestor (a) Sistêmico, responsável pela administração geral da incubadora e por um coordenador em cada unidade da AYTY nos Campi. Apoia, preferencialmente, empreendedores da comunidade interna, bem como empreendedores da comunidade externa do IFAM interessados em criar, desenvolver ou consolidar empresas, criativas e inovadoras, cujos produtos / serviços tenham relevantes perspectivas de mercado. Atualmente a gestão sistêmica da AYTY funciona nos ambientes da PROEX, Reitoria do IFAM, e conta com 03 (três) unidades Instaladas nos Campus Manaus Centro, Manaus Zona Leste e Presidente Figueiredo. Os demais Campi deverão ser atendidos nos próximos anos. RESULTADOS DA AYTY E SUA INTERAÇÃO COM O ECOSSISTEMA DE INOVAÇÃO A AYTY Campus Manaus Centro, primeira incubadora do IFAM desde sua criação, apoiou em processo de incubação 18 (dezoito) empresas, destas 11 (onze) foram graduadas e atualmente 05 (cinco) empresas estão em processo de incubação nas diversas modalidades. Estas empresas geraram 83 (oitenta e três) empregos. Estão participando do Hotel Tecnológico (Pré-incubação) 14 equipes de

alunos e egresso de alunos do IFAM para fins de incubação, conforme quadro 1. As empresas que saíram do processo de incubação (graduadas) ainda estão no mercado de trabalho. Na figura 1, observamos a responsável pela empresa Time Projetcs, já graduada. Ressaltamos que será disponibilizado um maior número de vagas para o processo de incubação a partir da construção da sede sistêmica da AYTY, com prazo de entrega em 2016, e da implantação de novas unidades nos Campi do interior do Estado do Amazonas. O Hotel Tecnológico (HT) é uma modalidade de Pré-incubação de empresas com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de projetos de alunos, egressos, servidores, pesquisadores empreendedores da comunidade acadêmica e comunidade externa, apoiando-os em seus primeiros passos e tendo como prioridades: formação empresarial; estimular a postura empreendedora; incentivar a criação de empresas com produtos/serviços inovadores e aproximar o meio acadêmico do mercado e é realizado por meio de Edital para selecionar ideias e projetos. O Processo Seletivo apresenta 02 (duas) Fases: primeiro, a inscrição da ideia e entrega de documentação e segundo, a apresentação do Negócio (ideia ou projeto), a partir de um treinamento – Workshop de Modelagem de Negócios, PITCH e Mínimo Produto Viável

Quadro 1: Resumo de empresas incubadas. Fonte: o autor. Nexus Revista de Extensão do IFAM

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Figura 1: Time Projects, empresa graduada da AYTY, Fonte: o autor.

-MVP, com carga horária de 40 horas. Este treinamento tem o formato de Workshop dividido em três etapas: 1 - Encontrando meu modelo de negócio: fase de modelagem das ideias (projetos), trabalhando no modelo CANVAS. 2 - PITCH, Como apresentar meu produto: nesta etapa, as equipes apresentam projetos no máximo em 5 minutos para uma Banca Avaliadora composta por parceiros do ecossistema inovador do Amazonas. 3 - Descobrindo meu MVP: Nesta etapa, as equipes recebem consultoria para testar seu protótipo e descobrir o MVP (Mínimo Produto Viável) no seu segmento de clientes. Durante a consultoria, os participantes conseguem experimentar os produtos e serviços e obter feedback do mercado quanto à viabilidade econômica e percepção do cliente sobre seu produto. Foram aprovados, em 2014, 14 (quatorze) projetos de alunos e egressos do IFAM para o Hotel Tecnológico e futura incubação nas diversas modalidades. Vale ressaltar algumas ações relevantes para a consolidação da AYTY no ecossistema de inovação: • Participação nos estudos realizados pelo Polo Tecnológico de Navacchio-Itália, iniciado em 2009, que teve por objetivo ava-

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liar e recomendar ações de como potencializar e qualificar o sistema de incubação em Manaus. Como parte dessas ações de avaliação, ocorreram visitas dos gestores das incubadoras de Manaus ao Polo Tecnológico de Navacchio, para conhecimento, benchmark e análise do modelo operativo da incubadora do Polo. Como resultado desse diagnóstico, a AYTY foi considerada pelos representantes do Polo como a melhor gestão de incubadoras. Esta parceria resultou numa proposta, por meio de um Termo de Cooperação Técnica, para que as empresas que trabalham na AYTY trabalhem em parceria com as empresas do Polo de Navacchio. • Credenciamento na Superintendência da Zona Franca de Manaus-SUFRAMA, por meio do Comitê das Atividades de Pesquisa e Desenvolvimento na Amazônia-CAPDA, em 2010, para que as empresas incubadas pudessem desenvolver pesquisas com as empresas do Polo Industrial de Manaus - PIM, que aportam recursos para esse fim. Essas pesquisas podem vir por demanda das empresas ou por projetos de interesse da empresa incubada. Isso gerou sustentabilidade para a incubadora. • Convite do SEBRAE, em 2010, para participar do Evento RIO +20, por ser à época, a única incubadora cadastrada no SEBRAETEC-Serviços especializados e customizados para implementar soluções em sete áreas de inovação, onde as empresas incubadas podem receber ou fornecer consultorias em empresas. Isso também inclui os professores do IFAM, que poderão prestar consultorias às micro e pequenas empresas. Atendendo convite do SEBRAE, a gestora da AYTY ministrou palestra para as incubadoras no Seminário Nacional ANPROTEC de 2012, em Foz do Iguaçu-PR, sobre a participação da Incubadora do IFAM no SEBRAETEC; • Apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas - FAPEAM e da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação – SECTI, com a disponibilização de recursos Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


financeiros para custeio e capital por meio do edital 011/2012 - Programa de Apoio às Incubadoras – PRÓ-INCUBADORAS. Isso possibilitou a revitalização da AYTY - Campus Manaus Zona Leste; • O Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas-SEBRAE, em parceria com a Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores -ANPROTEC, construíram um novo modelo de atuação para as incubadoras brasileiras denominado Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos - CERNE. O objetivo é criar uma plataforma de soluções, de forma a ampliar a capacidade da incubadora em gerar, sistematicamente, empreendimentos inovadores bem sucedidos. A AYTY Iniciou o processo de certificação CERNE – Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos, uma espécie de ISO 9000 para incubadoras, coordenado pela ANPROTEC e, como resultado, foi modelo de boas práticas em “Sustentabilidade” no Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, no ano de 2013, em Recife-PE, e, após avaliação de diversas incubadoras em nível nacional, foi indicada novamente como modelo de sustentabilidade CERNE no referido Seminário de 2014, que acorreu em Belém-PA; • Participação ativa da gestora da AYTY, na Rede Amazônica em Prol do Empreendedorismo e Inovação- RAMI, como diretora de Marketing e Negócios, possibilitando um contato significativo com outras incubadoras da Região Amazônica e suas Instituições mantenedoras, para fins de parceria que conduzam ao sucesso das empresas incubadas; • Lançamento de um Edital para prospecção e seleção de spin-off para participarem do Hotel Tecnológico que objetiva modelar a ideia e capacitar os alunos do IFAM para elaborarem o Plano de Negócio, a partir do Modelo de Negócio, para futura incubação; • Participação da AYTY como membro Nexus Revista de Extensão do IFAM

do Fórum de Inovação do Amazonas, coordenado pela SECTI, que permite estar em constante interação com o ecossistema local e nacional de inovação, possibilitando realizar eventos em parceria (INOVAMAZONAS, Feira Internacional da Amazônia-FIAM, entre outras), gerando novos negócios para as empresas incubadas. Na Figura 2, vemos a Interactive Mobile, empresa incubada na AYTY, participando da FIAM. A sétima edição da Feira Internacional da Amazônia (VII FIAM), realizada entre os dias 27 e 30 de novembro, em Manaus. Aproximadamente 55 mil pessoas visitaram a Feira durante quatro dias. A maior parte do público que esteve na VII FIAM visitou o Pavilhão Principal, onde mais de 300 expositores, incluindo a empresa incubada na AYTY, que apresentou seu produto de Ouvidoria, utilizado pela Prefeitura de Manaus e em negociação com outros Es-

Figura 2: Interactive Mobile participando da Feira Internacional da Amazônia 2014, fonte: o autor. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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tados, representando bem a força da indústria amazonense. Vale ressaltar que a Interactive Mobile foi selecionada no Concurso Nacional de Startups, para concorrer como a melhor startup do Brasil. • Discussão em torno do Plano de Ciência, Tecnologia e Inovação da Amazônia; • (PCTI/Amazônia) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com ações de infraestrutura em CT&I; formação, atração e fixação de pessoal para CT&I; ambientes e polos locais de inovação e agenda local de pesquisa e desenvolvimento. • Apoio e interação com jovens empreendedores (startups e spin-off) de Manaus em ações, tais como: Beer 4 Business O Happy Hour de Negócios - Beer4Business é um encontro informal e previamente combinado, onde empreendedores, investidores, empresários, startups, incubadoras, aceleradoras, escritórios virtuais, espaços de coworking, mídia e interessados possam conversar e fazer negócios. No encontro, também ocorrem ciclos de palestras ministradas por profissionais de diversas áreas e gestores de incubadoras. Movimento de Empreendedorismo Universitário- MEU O MEU é uma germinadora formada por estudantes de diversas Instituições em Manaus, com a missão de conectar o acadêmico, o “cara” que tem uma ideia, com quem é agente no ambiente de empreendedorismo e inovação: incubadoras, acelerados, possíveis investidores e parceiros. Acredita-se que as ideias mais inovadoras estejam nas universidades e a grande maioria se restringe a um trabalho de conclusão de curso. A proposta do MEU, então, é atuar como uma germinadora de ideias, oferecendo as ferramentas e estí-

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Figura 3: Empresa Interactive Mobile, participando na Feira do Empreendedor 2014, fonte: o autor.

mulos para que se transformem em negócios. A AYTY mantém parceria com o MEU para prospecção de jovens empreendedores e para isso apoia diversos eventos, trazendo pessoas de renome do movimento de startups, para ministrar palestras sobre o tema inovação, entre outros. Espaço Nerd da Feira do Empreendedor AM 2014 A Feira do Empreendedor é um evento promovido pelo SEBRAE, anualmente, e conta com o apoio de Instituições Locais e Incubadoras de Empresas. Nessa versão, ocorreu um espaço dedicado exclusivamente ao empreendedorismo e à inovação, que discutiu o que há de mais atual com relação ao tema. Foram quatro dias, onde a cena regional das startups debateu a nova forma de se empreender, por Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


meio de negócios inovadores. O objetivo foi promover a interação dos principais atores do Ecossistema local com o público do evento. Na ocasião, os gestores de incubadoras participaram ativamente com palestras e avaliando projetos. Houve também a participação das empresas em processo de incubação (Figura 3), expondo seus produtos e serviços. A gestora da AYTY participou como avaliadora de projetos que contou com a participação de alunos do IFAM. Um deles ficou em terceiro lugar no evento e hoje tem sua empresa incubada na AYTY. CONAJE - Parceria com a Confederação Nacional dos Jovens Empresários (CONAJE), responsável por estimular o empreendedorismo entre os jovens brasileiros, seja por orientação, capacitação profissional ou representação política, realizando ações que fortaleçam a criação de novas empresas e a manutenção das já existentes no país, sobretudo, as geridas por jovens. Possui núcleo em 22 estados brasileiros, com mais de 36 mil jovens empresários e empreendedores, relacionando-se direta e indiretamente com as instituições e organismos governamentais, com o objetivo de articular e divulgar práticas que fortaleçam a disseminação de novos e concretos negócios no país. A CONAJE tem representação no Amazonas e conta com o apoio da AYTY. A partir da interação da AYTY com o ecossistema, a procura por incubação foi intensificada e percebe-se o interesse de alunos em participar mais deste processo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em anos recentes, tem-se observado o crescimento da interação entre os habitats do ecossistema de inovação e isso proporcionou a melhoria dos produtos que já vinham sendo fabricados pelas empresas incubadas e o surgimento de produtos com maior conteúdo de conhecimento e de tecnologia, principalmente pela participação de egressos das UniversidaNexus Revista de Extensão do IFAM

des, Institutos Federais e Faculdades particulares. As incubadoras de empresas, inseridas nesse ecossistema, colaboram para criar alternativas para o desenvolvimento da Região, no sentido de promover aumento da geração de emprego e renda, oriundos das empresas incubadas no Estado do Amazonas. A AYTY, com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão-PROEX, na interação com os diversos agentes do sistema local de inovação (governo, empresa, startups, academia) procura ser um mecanismo de apoio ao desenvolvimento de empresas e favorecimento à transferência de tecnologia, gerada no IFAM, promovendo incentivo à consolidação de empreendimentos inovadores, cumprindo seu papel como parte desse ecossistema de Inovação. Deste esforço conjunto, estão no mercado 11 (onze) empresas graduadas, 05 (cinco) em processo de incubação e 14 (quatorze) projetos de alunos e egressos do IFAM, sendo preparados para entrar na incubadora e a geração de 83 (oitenta e três) novos empregos oriundos das empresas que passaram pelo processo de incubação. Finalmente, considerando que a Incubadora de Empresas do IFAM constitui um vetor estratégico para o desenvolvimento do empreendedorismo, da transferência de tecnologia e da pesquisa aplicada, com estreita ligação e integração com as atividades do Ensino, Pesquisa e Extensão, o Instituto vai construir a sede própria da AYTY, com instalações adequadas e amplas, a fim de que mais empresas e alunos empreendedores possam montar seus empreendimentos, contribuindo assim para o seu crescimento profissional e desenvolvimento regional.

REFERÊNCIAS SILVA, T.A., et al., L. C. A incubadora de Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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empresas como mecanismo de apoio ao surgimento de empresas inovadoras: o caso da incubadora do CDT. Revista Lócus Científico, Brasília, 2009, Vol. 03, n. 01, pp. 04. VILLELA, T.N., MAGACHO, L.A.M. Abordagem Histórica do Sistema Nacional de Inovação brasileiro e o papel das Incubadoras de Empresas entre agentes deste sistema. Revista Lócus Científico. Brasília, 2009, Vol 03, n.01, pp 13-21.

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O ENSINO DA FÍSICA DO 6º AO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL The Physics Teaching from the 6th to the 9th grade of Elementary School Laurinete dos Santos Pinheiro, laurysp@yahoo.com.br¹ Ednei Rodrigues de Oliveira, edbzinho@hotmail.com.br² Márcio Gomes da Silva, mgomes@ifam.edu.br³

Resumo: O objetivo principal é fazer com que o estudante ao chegar ao Ensino Médio goste e se interesse pela Física. É necessário que novas metodologias de ensino possam ser utilizadas na busca por uma aprendizagem que capacite os alunos a ganhar intimidade com o mundo através do conhecimento da Física. A utilização da aquisição automática de dados nas aulas experimentais de Física em nível fundamental ainda não é uma realidade das escolas, porém trata-se de um recurso com grandes potencialidades, não só na busca por uma aprendizagem mais significativa pelo aluno, mas também como recurso motivador nas discussões dos fenômenos físicos. Neste projeto, foram executados experimentos em duas escolas de Manaus, uma pública e uma particular, totalizando 110 alunos. Os experimentos foram: Gerador de van de Graaf, Jogo de espelho com figuras, Radiômetro e 3D holográfico. Palavras chave: Metodologia de Ensino. Experimentos de Física. Ensino Fundamental. Escolas de Manaus. Abstract: The main goal of this project is to get the student to reach the high school period enjoying and getting interested in Physics. It is necessary that we use new teaching methodologies in the quest for a learning process that enables students to be acquainted with the world through the knowledge of Physics. The use of automatic data acquisition in experimental physics classes at the basic school years is still not a reality in schools, but it is a great potential resource, not only in the student search for a more meaningful learning, but also as a motivator resource in discussions of physical phenomena. In this project, we performed two experiments. One in a public and other in a private school in Manaus, totaling 110 students. The experiments were the Van de Graaf Generator, Mirror Games with Figures, Radiometer and Holographic 3D. Keywords: Teaching Methodology. Physics Experiments. Elementary Schools. Manaus Schools.

¹Geóloga e Cursista de Graduação em Física no Instituto Federal do Amazonas. ²Cursista de Graduação em Física no Instituto Federal do Amazonas. ³Mestre em Física.

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INTRODUÇÃO Para os alunos, a Física ainda é vista como um emaranhado de equações matemáticas descontextualizadas de sua vivência, com isso, há desinteresse e desmotivação por grande parte deles, que não conseguem compreender o significado e a aplicabilidade dos conhecimentos físicos em seu dia-a-dia. A partir de um breve levantamento a respeito da natureza do aprendizado e da ciência como atividade humana, procura-se, no presente projeto, apresentar um enfoque mais amplo dos propósitos que possam justificar e embasar o ensino de física para as séries do ensino fundamental. Serão desenvolvidas atividades com métodos experimentais, para as crianças, visando mais desafiá-las a resolver problemas de maneira colaborativa e refletir sobre suas ações do que simplesmente prepará-las para a Física do Ensino Médio ou vestibular. Segundo Schroeder (2007), a Física pode ter muito mais a contribuir com o ensino em geral do que geralmente se supõe. É comum se pensar, em um primeiro momento, que ensinar Física para crianças desde os primeiros anos de escola tem grande importância para a construção de conceitos físicos, como os relacionados ao movimento dos corpos ou às leis de conservação, sem que se questione no que mais a Física pode contribuir. Esse ponto de vista, pelo menos aparentemente, ignora aquilo que a Física tem de mais fundamental (Máximo, 2003). Adotando-se uma perspectiva mais ampla a respeito dos propósitos do ensino da Física nas séries 6º ao 9º ano do ensino fundamental, pode-se identificar neste projeto uma oportunidade singular para que as crianças desenvolvam sua auto-estima através da vivência de situações ao mesmo tempo desafiadoras e prazerosas. Neste projeto, mostramos a possibilidade de aprender física através de outras áreas, ou seja, a interdisciplinaridade em uma sala Nexus Revista de Extensão do IFAM

de aula. A abrangência da Física de poder ser vista de forma diferente em outras áreas do conhecimento, sua importância para educação, assim como suas competências a serem desenvolvidas (Brasil - MEC, 1996). Isso pode acontecer desde que as aulas de Ciências reproduzam as características essenciais da atividade científica: observação e coleta organizada de dados, expressão clara de procedimentos, resultados e conclusões, e discussão crítica de todo o processo desenvolvido nas práticas com os experimentos (Pietrocola, 2001). METODOLOGIA As nossas atividades foram realizadas em duas escolas da cidade de Manaus, uma pública (Escola Estadual Ruy Araújo) com 60 alunos e a outra particular (Centro Educacional Colombo Ladislau) com um total de 50 alunos, todos do ensino fundamental, 9º ano. Nas escolas, fizemos experimentos que tinham aplicabilidade no dia-a-dia dos alunos. Executamos as seguintes atividades, segundo o cronograma determinado para essa segunda etapa do projeto, em que foram selecionados os experimentos que demonstramos na escola, ressaltando as suas aplicabilidades no dia-adia dos alunos. Os experimentos demostrados foram bem compreendidos pelos alunos, correspondentes à série dos mesmos, conjunto de experimentos simples, tais como: Gerador de Van de Graaf, Jogo de espelho com figuras, Radiômetro e 3D holográfico. RESULTADOS: APRESENTAÇÃO DOS EXPERIMENTOS E PALESTRAS NAS ESCOLAS No Laboratório de Física do IFAM, treinamos a demonstração desses experimentos, verificamos a relação com o dia-a-dia, da parte teórica referente a cada experimento, fizemos aulas em slides para explicarmos um pouco Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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da história da Física e sobre os experimentos: Gerador de van de Graaf, Jogo de espelho com figuras, Radiômetro e 3D holográfico. • O Gerador de Van de Graaf – (Ramalho, 1988) é uma máquina eletrostática empregada em física nuclear para produzir as tensões muito elevadas necessárias em aceleradores de partículas (figura 1). • Holográfico 3D - A projeção holográfica cria imagens realmente 3D, ao contrário dos mecanismos utilizados no cinema e nas TVs 3D.

• Radiômetro - Um radiômetro (figura 2) é um dispositivo utilizado para medir o fluxo de radiação ou força da radiação eletromagnética (QUITES, 2006) • Ângulo de incidência – através de espelhos formando ângulo mostra várias imagens do objeto que esteja no ângulo que o espelho faz. As apresentações nas Escolas Centro Educacional Colombo Ladislau e Escola Estadual Ruy Araújo contou com a presença dos alunos das séries do 6º ao 9º ano. No primeiro

Figura 1: Gerador de Van De Graa

Figura 3: Alunos do CECOL

Figura 2: Radiômetro

Figura 4: Alunos do CECOL

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momento, fizemos uma palestra enfatizando a importância da Física, relatamos um pouco da história e da vida dos grandes físicos que revolucionaram as ciências. Para todos os experimentos apresentados nas escolas, foi explicado o seu funcionamento e ressaltamos as suas aplicabilidades no cotidiano dos alunos. Com isso, foi observada uma melhor compreensão dos experimentos pelos alunos. Selecionamos conjunto de experimentos simples. Através das ilustrações abaixo, pode-se observar a participação dos alunos da Escola CECOL (figuras 3 e 4) e da

é uma metodologia que facilita e desperta no aluno o interesse pela Física, principalmente a sua compreensão e relação com as outras áreas da ciência (XAVIER, 2011).

Figura 5: Alunos do E.E. Rui Araújo

REFERÊNCIAS

CONSIDERAÇÕES FINAIS Levamos para sala de aula um ensino de Física mais dinâmico, em que o aprendiz alcançasse a compreensão das leis físicas e do universo através dos experimentos que foram demonstrados em sala, além de poder avaliar o quanto o conhecimento científico vem propiciando ao homem mudanças no seu universo. As demonstrações dos experimentos motivaram os alunos a gostarem e compreenderem melhor o conteúdo da Física, principalmente quando ela está inserida em outras disciplinas, o que torna esta disciplina uma matéria prazerosa. O principal objetivo do projeto foi alcançado, que foi despertar nos alunos do 6º ao 9º ano um interesse pela Física, aguçando suas curiosidades pelo conhecimento da física aplicada no seu cotidiano.

BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em 04 julho 2013. MÁXIMO, A. R. ALVARENGA, B. Física – Coleção de olho no mundo do trabalho. A Física no Campo da Ciência. 1ª. Edição. São Paulo: Editora Scipione, 2003. P. 7-18. Figura 6: Alunos do E.E. Rui Araújo

E.E. Rui Araújo (figuras 5 e 6), utilizando os experimentos. O uso de experimentos nas séries iniciais Nexus Revista de Extensão do IFAM

QUITES, E.C; BASTOS, L. R. Introdução à Transferência de Calor AAE/GN. Rio de Janeiro: Editora Interciência; Dourados, MS: UMES, 2006. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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PIETROCOLA, M. Construção e Realidade: o papel do conhecimento físico no entendimento do mundo. Ensino de Física: conteúdo, metodologia e epistemologia numa concepção integradora, in Pietrocola, M. (org)., Florianópolis: Editora da UFSC/INEP, 2001. RAMALHO, Francisco Júnior; NICOLAU, Gilberto Ferraro; TOLEDO, Paulo Antônio de Soares. Os Fundamentos da Física. 5.ed.São Paulo: Moderna, 1988. RESNICK, Robert; HALLIDAY, David; KRANE, Kenneth S. Física 2. 4 ed. Rio de Janeiro: JC, 1996. SCHROEDER, Carlos. A importância da física nas quatro primeiras séries do ensino fundamental., Porto Alegre: Escola Panamericana, RS, 2007. XAVIER, José Carlos. Material didático para uso do professor do ensino fundamental. Universidade do Estado do Rio de Janeiro/Colégio Cruzeiro, 2011.

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PROJETO CURUPIRA E A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO INSTITUTO FEDERAL DO AMAZONAS “Curupira” Project and Vocational Education for People with Disabilities Project at the Amazonas Federal Institute Dalmir Pacheco de Souza, dalmirpachecoo@gmail.com¹ Maria Lúcia Tinoco Pacheco, lwtinoco@gmail.com² Liliane Brito de Melo, lilianebritodemelo@gmail.com³ Yani Saionara Pinheiro Evangelista, yanisayonara@gmail.com4

Resumo: De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira/INEP, responsável pelo censo escolar brasileiro, houve um aumento significativo no registro do atendimento inclusivo em classes comuns de educação básica e profissional. Em se tratando de educação profissional, o caso do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas /IFAM torna-se relevante conhecer uma vez que já vem desenvolvendo desde 2007, por meio do Projeto Curupira-Núcleo de Acessibilidade e Educação Inclusiva do IFAM, Campus Manaus-Centro, um cabedal de iniciativas inclusivas na qual se destaca a educação profissional. O presente trabalho, de natureza descritivo-expositiva, com enfoque nos parâmetros da educação inclusiva, objetiva apresentar a experiência deste projeto na área da educação profissional voltada para as PCDs. Para tanto, de um lado, destacará os aspectos mais técnicos e quantitativos, como os números de formação por tipo deficiência, cursos mais procurados, espaço físico adequado e o uso de Tecnologias Assistivas para o aluno com necessidades educativas específicas e, por outro lado, fará uma abordagem qualitativa sobre o modus operandi do projeto, sobre a compreensão contextual do paradigma da acessibilidade, sobre os aspectos pedagógicos que envolvem a educação profissional desse público, desde a figura do formador que trabalha diretamente com essa clientela; a metodologia empregada nos cursos em função deste aluno, até a forma de avaliar o conhecimento técnico adquirido. Espera-se, sobretudo, contribuir para a reflexão sobre o papel da educação profissional como meio de inclusão e empoderamento da pessoa com deficiência. Palavras chave: Projeto Curupira. Educação Profissional de PCDs. Inclusão. Abstract: According to the Anisio Teixeira National Institute for Educational Studies / INEP, responsible for the Brazilian school census, there was a significant increase in the inclusive attendance record in regular classes for basic and professional education. In terms of professional education, it is worth to know the case of the Federal Institute of Education, Science and Technology of Amazonas / IFAM once the institution has been developing at Manaus Center Campus, through The Curupira Project - Core Accessibility and Inclusive Education at IFAM since 2007, a body of outreach initiatives which highlights professional education. In this descriptive and expository work we focus on the inclusive education parameters and aim to present this project experience in the vocational education area for the PCDs. To do so, it will highlight the more technical and quantitative aspects, as well as the number of people trained considering the disability type. It will also point out the most popular courses, the adequate physical space and the use of assistive technologies for students with special educational needs and, on the other hand, it will take a qualitative approach on the modus operandi of the project, on the contextual understanding of the accessibility paradigm, on the pedagogical aspects involving this public professional education. It will examine the trainer profile; the methodology employed in the courses according to this kind of student, up to the way of evaluating the technical knowledge acquired. We hope to contribute mainly to the reflection on the vocational education role as a means of inclusion and empowerment for a disabled person. Keywords: Curupira Project. PCDs Professional Education. Inclusion.

¹Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas- PPGE/UFAM. ²Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas- PPGSCA/UFAM. ³Doutoranda em Ciências da Educação, especialidade Tecnologia Educativa – IE/UMinho. 4Licenciada em Química – IFAM-CMC.

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INTRODUÇÃO Na atualidade se constata o ingresso mais frequente de pessoas com necessidades especiais nas escolas regulares de educação básica, profissional e nas instituições de ensino superior, o que tem resultado em melhorias, também, no acesso ao emprego. Os números do Ministério da Educação no Brasil mostram que a inclusão está aumentando. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, órgão responsável pelo censo escolar brasileiro, houve um aumento significativo no registro do atendimento inclusivo em classes comuns de educação básica e profissional, passando de 306.136 em 2007, para 620.777 matrículas em 2012, um salto de mais de 200% em todo o Brasil. Destaca-se que, em relação às matrículas em cursos de Educação de Jovens e Adultos (EJA), o incremento foi de mais de 51% entre os anos de 2007 e 2012. Números semelhantes podem ser encontrados nas estatísticas para o Estado do Amazonas, onde a inclusão de alunos no ensino fundamental em classes comuns, nos últimos dois anos, foi de mais de 35% nos anos iniciais e mais de 41% nos anos finais, chegando a um montante de 12.450 matrículas realizadas em 2012. (INEP, 2013) O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas - IFAM, instituição formadora e, historicamente, bem conceituada na sociedade amazonense, tem significativa atuação na implantação e consolidação de ações para a inclusão de pessoas com necessidades especiais, considerando-se como referencial positivo o cabedal de iniciativas inclusivas desempenhadas desde 2007 com o apoio do Programa INCLUIR / MEC. Essas ações proporcionaram aos professores e técnicos do IFAM a participação e capacitação na área da educação especial, através de eventos e cursos de pós-graduação. Tal fato, por sua vez, tem fomentado mais pesquisas na Nexus Revista de Extensão do IFAM

área do ensino e extensão, resultando na promoção e criação de estratégias, metodologias, recursos pedagógicos, práticas e serviços na área específica. Podemos dizer também que, em virtude deste contexto novo, tem-se ampliado tanto o acesso à educação quanto promovido o desenvolvimento e a inovação em tecnologias que permitam o acesso ao ensino e inclusão social da pessoa com necessidades educacionais especiais. O Núcleo de Acessibilidade e Educação Inclusiva do IFAM, Campus Manaus-Centro, intitulado Projeto CURUPIRA, tem como propósito o desenvolvimento de atividades que promovam a inclusão social de pessoas com deficiência, provocando o rompimento de barreiras, sejam elas, arquitetônicas, pedagógicas, comunicacionais e/ou atitudinais. E, ainda, a conscientização e sensibilização no tratamento e convivência com as Pessoas com Deficiência (PcD). Além disso, o projeto promove a capacitação profissional de PcD através de cursos dotados de metodologia própria e com o uso de Tecnologias Assistivas que proporcionam facilidades à formação do aluno com necessidades educativas específicas. A INCLUSÃO ESCOLAR DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL No Brasil, a história da atenção educacional às pessoas com deficiência vai da simples preocupação de abrigá-los em asilos institucionais, chegando ao reconhecimento e atendimento, com qualidade técnico-científica, das necessidades educacionais especiais desses indivíduos, no espaço comum da escola. (BRASIL, 2002). O primeiro registro de preocupação do Estado brasileiro, com a questão da inclusão escolar de PcD, foi observado com a instituição da Lei de Diretrizes e Bases da Educação no Brasil, Lei n°4.024/1961, que determinava que o atendimento ao aluno com deficiência Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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deveria ocorrer na educação regular. Contudo, foi na década de 70 (séc. XX) que foram implantados técnicas e serviços especializados para o atendimento de PcD, sendo fatores contribuintes, o Plano Setorial de Educação e Cultura, de 1972 a 1974, que incluiu a Educação Especial como prioridade educacional no Brasil, e a criação do Centro Nacional de Educação Especial - CENESP, em 1973, órgão responsável pela política de educação especial vinculado ao Ministério da Educação. (BRASIL, 2002) A década seguinte foi marcada pela ação da Organização das Nações Unidas – ONU, que definiu o ano de 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiência, provocando o reconhecimento da existência desse segmento da sociedade, e de seu direito a uma atenção governamental específica e peculiar, resultando na criação, em 1986, da Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) e a transformação do CENESP em Secretaria de Educação Especial. A partir da Constituição Brasileira de 1988, ficaram assegurados às pessoas com deficiência o direito à educação e o direito ao convívio escolar com os demais alunos em escolas regulares, um compromisso social legitimado por legislações internas pertinentes. (BRASIL, 2002). Na década de 90 (séc. XX), a preocupação recaiu na adaptação do currículo escolar visando ao atendimento das dificuldades de aprendizagem e das necessidades educacionais especiais dos alunos com deficiência, e ao favorecimento de sua escolarização, buscando maximizar as suas potencialidades, sem ignorar ou sublevar as limitações que apresentam e suas necessidades educacionais especiais. O pressuposto dessas medidas adaptativas era de que o tratamento diferenciado àqueles com necessidades resultaria em igualdade de oportunidades educacionais. A primeira década do séc. XXI registra grandes conquistas para a inclusão escolar de

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PcD: em 2001, o estabelecimento das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica; em 2002, o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, como língua oficial no País juntamente com o português e a aprovação de diretrizes e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille, e a recomendação para o seu uso em todo território nacional; em 2007, o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, que assegura a efetivação de ações tais como a formação de professores para a educação especial, a implantação de salas de recursos multifuncionais, a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, acesso e a permanência das pessoas com deficiência na educação superior. (BRASIL, 2007) Salienta-se como mais recente conquista, em 2011, o estabelecimento, através do Decreto 7.612/2011, do Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, intitulado Plano Viver sem Limite, que estabelece o acesso à educação, como um de seus eixos principais, e prevê a garantia de que os equipamentos públicos de educação sejam acessíveis para as pessoas com deficiência, inclusive o meio de transporte adequado. DO PROJETO CURUPIRA E SEUS OBJETIVOS Como parte integrante deste cenário, em 2007, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas – IFAM, campus Manaus Centro, deu início a um conjunto de ações que visavam à promoção da acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência em seu ambiente de aprendizagem. Ancorado, à epoca, pelo programa INCLUIR/SESuMEC, cria-se o Projeto CURUPIRA. A comunidade do IFAM, a partir da implantação do projeto, começou a ter outro olhar em relação às pessoas com deficiência, distanciando-se de um modelo assistencialista e assumindo uma postura de valorização do Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


ser humano. Pautado no empoderamento das pessoas com deficiência, o projeto procurou estabelecer um diálogo com a comunidade por ele assistida: foi às associações de PCDs, às escolas especiais, às secretarias de educação a fim de conhecer seu público-alvo, estabelecer parcerias e planejar suas ações. O Curupira conta com um grupo de professores e alunos do IFAM, que dividem a coordenação e administração, voluntários advindos de várias áreas do conhecimento para dar o suporte a algumas atividades e parceiros de vários segmentos da comunidade manauense, como universidades privadas e públicas, o Sistema S, quando trata de cursos de formação, por exemplo. Mantém-se fiel ao seu objetivo principal: promover a acessibilidade e a educação inclusiva junto às comunidades acadêmica e externa do IFAM, através da orientação dos servidores do Instituto, e do incentivo, aos alunos dos cursos de ensino de graduação, no desenvolvimento de instrumentos didáticos e soluções integradas que promovam a acessibilidade, mobilidade, usabilidade e a integração de pessoa com deficiência. As atividades do Projeto CURUPIRA são norteadas pela missão de oferecer condição de uma educação para a convivência e equidade de condições, agindo em busca da autonomia e da igualdade na diversidade. Hoje é modelo de acessibilidade e inclusão de PcD no Norte do país e referência, também nacional, no âmbito da Secretaria de EducaçãoTecnológica – SETEC/MEC. DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA A falta de capacitação profissional é apontada como uma das principais responsáveis pela exclusão profissional de pessoas com necessidades especiais. Tomando este pressuposto como verdadeiro, o projeto CURUPIRA iniciou ações de incentivo à formação profissional de PcD, através da realização do curso Nexus Revista de Extensão do IFAM

intitulado “Eficiência”. Visando capacitar a pessoa com deficiência para garantir sua melhor atuação no mercado profissional, o Eficiência também contribuiu com a Lei brasileira nº 8.213/1991, a qual estabelece que organizações, com mais de 100 funcionários, devam destinar entre 2% e 5% de suas vagas a PcD. O público-alvo, formado por pessoas com deficiência física, visual e auditiva, era de residentes na cidade de Manaus e o critério básico exigido foi ser alfabetizado em língua portuguesa. A primeira formação, em 2008, foi em Operador de Telesserviços, com 80 h/aula. A escolha pelo curso se deu em função do crescimento dessa atividade profissional e da possibilidade de ela ser desenvolvida em jornadas de trabalho de horário parcial, tanto diurnos como noturnos, e por via central telefônica ou internet, podendo ser executada, por exemplo, em Centrais de Atendimento ao Consumidor. Em sequência, ao longo destes seis anos, foram realizados cursos de qualificação profissional como os de Assistente Administrativo (100 h/aula) e de Auxiliar de Estoque (30 h/aula); além de capacitações, tais como Informática (45 h/aula) sob três níveis – básico, intermediário e avançado; Chefia e Liderança (30h/aula), Empreendedorismo (15h/aula), Braile e Soroban (30h); Também, formações em idioma estrangeiro como Espanhol para surdos alfabetizados em português Libras e com professor nativo (60 h/aula) e Inglês Básico (60 h/aula). Desde o ano de 2012, o projeto trabalha com uma formação permanente junto à comunidade, intitulada Ciclo de Palestras. Com frequência mensal e duração de três horas, as palestras trazem temas pertinentes à formação profissional e inclusão social. Nesses encontros, pessoas com deficiência, ou não, entram em contato com diversos profissionais como comunicadores, engenheiros, psicólogos, com quem partilham experiências e compartilham preocupações a cerca dos temas abordados. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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Todos os participantes recebem certificados ao final dos eventos. As atividades oferecidas pelo projeto, sejam os cursos, oficinas, palestras e as ações de sensibilização, geraram o estabelecimento de parcerias com órgãos públicos e privados, a exemplo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e o Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (CETAM), e oportunizaram o convívio e a interação das pessoas com deficiências e a comunidade acadêmica do IFAM. DAS METODOLOGIAS ADOTADAS Considerando a natureza de cada curso, foram aplicadas metodologias participativas, laboratoriais e oficinas, bem como material adaptado e tecnologias assistivas, de acordo com a necessidade dos grupos atendidos, que permitiram ao PcD vivenciar e atuar de modo teórico-prático, fazendo interagir as concepções da experiência profissional. O curso de informática, por exemplo, foi concebido para preparar o PcD para o domínio e a aplicação de conhecimentos gerais de informática: utilização de editores de texto, planilhas eletrônicas, navegação na internet, com aulas divididas em módulos presenciais, correspondendo a atividades de sala de aula, de pesquisas individuais e em grupo, seminários e aulas em laboratórios de informática. O Curso de Informática, por ser um dos mais procurados, mesmo em virtude da realidade do mundo contemporâneo, foi o que mais recebeu investimentos. O projeto possui um laboratório de informática, para uso preferencial de PcD, com 16 computadores de mesa que dispõem de softwares específicos que promovem acessibilidade comunicacional e pedagógica ao cursista. Por receber um grande público com deficiência visual, inclusivamente invisuais, os leitores e sintetizadores de voz são das tecnologias assistivas as mais utilizadas, além de material impresso disponí-

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vel em braile, ou com texto ampliado, e ainda em média, nomeadamente, áudio livro. O Curso de Língua Brasileira de Sinais – Libras, oferecido para a comunidade acadêmica, formada por professores, funcionários, alunos, e a comunidade externa, dentre surdos que não sabem libras, tem como objetivo preparar os participantes para atendimento e convívio acessível com pessoas surdas. É oferecido nos níveis básico, intermediário e avançado, e com recursos focados em estímulos visuais, considerando que a LIBRAS, tal como qualquer outra língua, é formada por regras e valores presentes na comunidade surda do Brasil com sua gramática prescritiva e descritiva e que conta com todos os planos sintático, morfológico, semântico, entre outros. No caso do ensino de Libras, as salas contam, de modo geral, com professores surdos, advindos em grande parte, da rede pública de ensino em forma de parceria, outras vezes, de associações também parceiras. Outras vezes são professores ouvintes, mas em número menor, que desempenham esta função. A Secretaria de Educação do Estado do Amazonas – SEDUC, por meio de suas escolas de ensino especializado da rede de educação básica têm sido parceiros frequentes. Por sua vez, o projeto oferece também intérpretes certificados pelo PROLIBRAS – MEC e outros advindos da associação de intérpretes. Ressalta-se aqui que há também preocupação com a material humano responsável pela formação dos nossos cursistas, tenham eles deficiência ou não. De modo geral, trabalhase com formadores, remunerados e voluntários, com experiência em educação especial e inclusiva. Contudo, existem casos em que o profissional disponível não possui tal experiência. Nesses casos, o projeto estabelece um processo de sensibilização deste profissional para que o mesmo obtenha melhor compreensão sobre a realidade do PcD. Dessa forma, busca-se estabelecer a melhor interação entre formador e cursistas, criando um bom amVol.1 | Nº1 | Abr. 2015


biente de ensino e aprendizagem. Essa compreensão do papel do profissional é fundamental para o sucesso do cursista. Para tanto a avaliação do formador, pelo público-alvo, em diferentes fases da atividade em curso, tem sido um ponto positivo na orientação e planejamento de estratégias do ensino-aprendizagem. Do mesmo modo, ao formador também é dada a tarefa de registrar suas impressões sobre o curso e sobre o público que atendeu, a fim de possibilitar à coordenação do projeto uma visão mais integrada do processo do planejamento das atividades futuras. Um outro aspecto que ressaltamos como procedimento metodológico, a despeito dos critérios de aprovação dos cursos e posterior certificação, que toma a média 6,0 como referência, é a compreensão do processo avaliativo na educação inclusiva que deve ser, quando necessário, flexível. Embora existam parâmetros de aprovação, entende-se que cada aluno deve ser avaliado de acordo com suas potencialidades e progresso diário. Quando lidamos com turmas onde há pessoas com deficiência intelectual, tanto a avaliação e a hora -aula, quanto a estratégia são redimensionadas para as suas possibilidades. Algumas medidas como estas garantem o aprendizado e a satisfação dos discentes. Experiência exitosa, nesse sentido, o projeto já vivenciou com os alunos com deficiência intelectual em cursos de informática. O relato de pais, professores e dos próprios alunos reforçou ainda mais a crença que o projeto tem no olhar diverso. RESULTADOS ALCANÇADOS A medida dos resultados é estabelecida a partir dos pressupostos da educação inclusiva onde é reconhecido que toda criança/adulto tem capacidades de aprendizagem distintas mas efetivas, e que essas mesmas diferenças e diversidade devem ser respeitadas, seja ela Nexus Revista de Extensão do IFAM

idade, gênero, etnia, ou deficiências, nomeadamente, física, auditiva, visual, motora, intelectual. (BRASIL, 2005). Ao longo dos últimos cinco anos, o Projeto CURUPIRA alcançou um montante de 819 inscrições de PcD e de 965 inscrições de membros da comunidade acadêmica, com a excelente marca de 299 PcD inscritos no ano de 2009, conforme é apresentado na Gráfico 1. Contudo, o ano seguinte apresentou uma queda representativa nas inscrições, justificada por dois fatores, o primeiro foi em nível local, pois com a criação da SEPED – Secretaria Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência foram realizadas várias ações de incentivo à pesquisa e capacitação das PcD. E nível nacional, tivemos a implantação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Médio e Emprego – PRONATEC que financia cursos do sistema S (SENAC, SENAI, SESI) que passou a também promover cursos de formação e capacitação para PcD. Esse aumento de oferta

Gráfico 1: Quantitativo de atendimentos realizados pelo Projeto CURUPIRA

formativa fez com que o projeto redirecionasse seus esforços, passando a investir em ações de apoio à pesquisa e produção de material didático e tecnologia assistivas. O IFAM é uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES) que, também, trabalha com ensino médio integrado ao ensino técnico. Daí o projeto dedicar-se ao oferecimento de cursos de qualificação profissional como eletrônica básica, metrologia básica, técnicas de vendas, entre outros. Nessa categoria de cursos, 397 PcD foram capacitados, ou seja, Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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alcançaram aprovação, concluindo os cursos com sucesso. Destes, 172 têm deficiência física (DF), 113 deficiência auditiva (DA) e surdos, 88 deficiência visual (DV) e cegos, 23 deficiência intelectual (intelectual), e um com deficiências múltiplas. Ver Gráfico 2.

Os cursos de LIBRAS, destinados inicialmente aos ouvintes, também receberam PcD que ainda não possuíam conhecimento sobre a língua ou desejavam aprender mais sobre a cultura surda. Entre os ouvintes um número de cursistas capacitados foi de 512 pesso-

Gráfico 2: Quantitativo de PcD capacitados nos cursos de qualificação profissional

Gráfico 3: Taxa de aprovação de PcD capacitados nos cursos de qualificação profissional

A escolha de metodologias adequadas às necessidades individuais dos cursistas favorecem à percepção e à compreensão destes, facilitando a sua aprendizagem. Além disso, a avaliação qualitativa do aprendizado dos alunos resulta em sucesso e define uma ajustada e dinâmica estratégia para a promoção da inclusão escolar e profissional da PcD. A validação desse processo é demonstrada pela alta taxa de aprovação de PcD em nossos cursos de qualificação profissional, alcançando nos anos de 2011 e 2012 em torno dos 90%, como podemos verificar na Gráfico 3. A queda observada nos anos de 2010 também é explicada pelos motivos citados anteriormente e, ainda, pela evasão.

as. Dentre os PcD que cursaram LIBRAS, o quantitativo se distribuiu em 27 DF, 20 DA e surdos, 8 DV e cegos, um intelectual e 4 com deficiências múltiplas. Conforme pode ser apreciado na Gráfico 4. A implantação do Projeto CURUPIRA proporcionou à comunidade do IFAM a oportunidade de exercitar a verdadeira tolerância à diversidade. As atividades oferecidas pelo projeto, sejam os cursos, oficinas, palestras, juntamente com as ações de sensibilização ,criaram oportunidades de convívio e interação entre as pessoas com deficiências que diariamente circulam pelo espaço institucional e a comunidade acadêmica em geral. Atualmente o Projeto CURUPIRA, além

Gráfico 4: Quantitativo de alunos formados em LIBRAS (ouvintes e PCDs)

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de atuar internamente, tornou-se uma referência no atendimento e atenção à Pessoa com Deficiência na cidade de Manaus. Os cursos de capacitação oferecidos pelo projeto têm renovado a esperança de nossos alunos em poder adquirir a condição de empregabilidade tão exigida pelo mercado de trabalho. Os dados estatísticos, os relatos e os fatos relacionados à inserção dos seus alunos no sistema de trabalho deixam os responsáveis pelo projeto Curupira e o IFAM plenamente reconfortados e motivados para continuarmos com esta atividade. A preocupação com o melhor atendimento possível levou o Projeto CURUPIRA a eleger como prioridade nessa etapa em que agora está, além da capacitação de professores da educação básica dos municípios do estado do Amazonas, também a acessibilidade pedagógica, com base no desenvolvimento de tecnologias assistivas, o que inclui produtos e serviços, desenvolvidos por profissionais de diversas áreas do conhecimento da própria IFES e parceiros de outras instituições e voluntários. Agrega-se a essas ações, o grupo de pesquisa em educação inclusiva que comporta outras questões pertinentes ao que já se desenvolve nessa área, bem como o melhoramento dos produtos já lançados pelo CURUPIRA como a primeira Tabuada em Libras do Brasil intitulada “Minha Tabuada em LIBRAS”, produzida pela professora Mariê Augusta de Souza Pinto; a Cartilha dos Direitos no Trânsito para Pessoa com Deficiência, produzida pelo perito de trânsito Manuel de Vera Cruz Farias de Paiva e, ainda, o lançamento de outros trabalhos de cunho pedagógico que auxiliem o professor e que permita acessibilidade pedagógica da pessoa com deficiência. Os números apresentados em nossas estatísticas poderiam falar por si só, todavia ressalta-se o quanto de subjetividade está envolvido em nossas ações. É significante observar, entre aqueles alunos que frequentam nossos Nexus Revista de Extensão do IFAM

cursos, a relevância da convivência, a interação, a amizade, o respeito, a solidariedade, o carinho e a completude entre eles. Os cursos, as palestras, as oficinas são importantes de fato. Mas, não se tem mais dúvidas quanto ao valor de proporcionar o encontro e a convivência diária entre pessoas com diferentes habilidades e capacidades, mas que acima de tudo são seres humanos. Diante da valorização humana, qualquer diferença é desprezível. Agora no IFAM, tem-se a condição de oferecer a este segmento da sociedade, que corresponde a cerca de 33% da população manauara (IBGE,2010), capacitação, aceitação, valorização humana e respeito às diferenças, enfim, o não preconceito. Os resultados exitosos alcançados pelo projeto servem de estímulo e de argumento para continuar com esta ação, que ora se tornou modelo de inclusão escolar e social. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Políticas e Resultados: 1995 – 2002. Educação Especial. Brasília, Distrito Federal: Ministério da Educação, 2002. BRASIL Ministério da Educação. Saberes e práticas da inclusão: recomendações para a construção de escolas inclusivas. Secretaria de Educação Especial. Brasília, Distrito Federal: Ministério da Educação, 2005. BRASIL Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Secretaria de Educação Especial. Brasília: Ministério da Educação, 2007. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010. Acedido em: http://censo2010.ibge.gov.br/. INEP – Instituto Nacional de Estudos e PesVol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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quisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo da educação básica: 2012 – resumo técnico. 41 p – Brasília: INEP, 2013.

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A PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA E O TEMA GERADOR COMO FERRAMENTA DE AÇÃO, REFLEXÃO E CONEXÃO COM O MUNDO DO TRABALHO – EDUCAÇÃO E AMBIENTE NA FORMAÇÃO DE JOVENS RURAIS NO AMAZONAS Alternation Pedagogy as Generator and Action Theme as Reflection, Connection and Action Tool for The World Of Work - Education and Training Environment for the Rural Youth In Amazonas Maria das Graças Serudo Passos, gracapassos@ifam.edu.br¹ Sou aprendiz! Aprendo noite e dia. Penso sempre no sol e no brilho do outro dia. Navego por essas águas, caminho por esse chão. Oh! Amazonas que amo de coração. Estudo suas belezas, respiro suas riquezas. Flores coloridas, águas escuras, claras e barrentas. Com isso, aprendo e chego a uma definição, que toda essa grandeza é uma cadeia de ligação. São flores que dão vidas a outras vidas por meio da polinização. (Trecho da poesia Pequena Aprendiz de Angelita Maria Rodrigues Assunção – Egressa do Curso Agente de Desenvolvimento na Agricultura Familiar/PROEJA/FIC).

Resumo: O artigo em questão é o resultado de pesquisa realizada junto aos estudantes matriculados no IFAM/ Campus Manaus Zona Leste, no curso Agente de Desenvolvimento na Agricultura Familiar, na modalidade PROEJA/FIC, norteado pela práxis educativa da Pedagogia da Alternância, em desenvolvimento na Casa Familiar Rural, no município de Boa Vista do Ramos - Amazonas. Os Temas Geradores juntamente com as disciplinas do Núcleo Comum compõem o Plano de Formação, que por sua vez, norteia todo o itinerário formativo do curso. Apresenta relatos de experiências desenvolvidos mediante o Tema Gerador Meliponicultura: Manejo de Abelhas Indígenas Sem Ferrão. É uma ação compartilhada do IFAM/Campus Manaus Zona Leste e Associação Regional de Casas Familiares Rurais do Amazonas. Palavras chave: Pedagogia da Alternância. Educação. Trabalho. Ambiente. Juventude Rural. Desenvolvimento Local. Abstract: The article in question is the result of research conducted with students enrolled at IFAM / East Zone Campus in Manaus, in the course named Development Agent in Family Farming in PROEJA / FIC mode, guided by Alternation Pedagogy educational praxis, which was developed in the Rural Family Houses in Boa Vista do Ramos city - Amazonas. The article presents reports on experiments designed by the Meliponiculture generator theme: Management of Indigenous stingless bees. It is a shared action between IFAM / Manaus East Zone Campus and the Rural Family Houses Regional Association in Amazonas. Keywords: Alternation Pedagogy. Education. Work. Environment. Rural Youth. Local Development.

¹Mestre em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola da UFRRJ

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Mediante relação institucional do IFAM/ Campus Manaus Zona Leste e Associação Regional de Casas Familiares Rurais do Amazonas vêm sendo desenvolvidas ações voltadas à formação de jovens e adultos de comunidades rurais do município de Boa Vista do Ramos no Amazonas. Esta relação institucional vem acontecendo através de Termo de Cooperação Técnica cujo objeto é promover a inclusão social bem como maior articulação com as comunidades locais em seu processo de desenvolvimento, visando à formação e inserção profissional de egressos, além de atuar nos arranjos produtivos e demandas específicas de grupos oriundos dos povos e comunidades tradicionais, nos movimentos sociais e na sua própria região ou comunidade e fortalecer as relações familiares, comunitárias, a economia local, as organizações sociais e a cultura local. Os Temas Geradores1 juntamente com as disciplinas do Núcleo Comum compõem o Plano de Formação (Matriz Curricular) do curso Agente de Desenvolvimento na Agricultura Familiar na modalidade PROEJA/FIC, sendo todas as ações norteadas pela práxis educativa da Pedagogia da Alternância com seus instrumentos e referências pedagógicas. No estudo em alternância do curso em questão, os jovens passam um período na Casa Familiar Rural em regime de internato e outro na propriedade familiar, também chamada de meio sócio-profissional. Assim, a Pedagogia da Alternância propicia estudo em tempo e espaço, sendo dois momentos distintos e complementares. A Pedagogia da Alternância, através de seus instrumentos pedagógicos, oportuniza meios para que o estudante se aproprie dos conhecimentos científicos somando e interagindo com o que já sabe, e assim, agregando saberes na construção de novos conhecimentos, criando suas próprias condições de trabalho em seu meio sócio profissional (família e comunidade) a partir da vi1Os temas geradores são oriundos de pesquisa local e se constituem em temas profissionais que, junto com as disciplinas do núcleo comum, compõem o plano de formação ou matriz curricular. (PASSOS, 2011, p. 43). Nexus Revista de Extensão do IFAM

vência que ele tem, e do conhecimento que ele é capaz de gerar. (PASSOS, 2011, p. 48).

Neste artigo, daremos ênfase ao Tema Gerador Meliponicultura: Manejo de Abelhas Indígenas Sem Ferrão2, pertencente ao eixo Recursos Naturais, ressaltando que os demais Temas Geradores não são menos importantes, entretanto, o tema em questão tem sua relevância por se tratar de uma atividade que está integrada a todas as demais e é desenvolvida por todos os associados da Casa Familiar Rural de Boa Vista do Ramos - CFR de BVR3, além de associar família, produção, trabalho, educação ambiental, saúde, comercialização em meio aos diversos ambientes terrestres e aquáticos. Conforme descrição do Relatório Anual de Avaliação da CFR de BVR de 2009, a Meliponicultura logrou espaço na Matriz Curricular profissionalizante do PROEJA/FIC desenvolvido na CFR de BVR, como um dos Temas Geradores que vem sendo desenvolvido desde o ano de 2002. Inicialmente, trabalhado através de oficinas junto de famílias associadas a CFR de BVR por instrutores do Instituto Iraquara4. A partir de 2004, passa a ser desen2 A Meliponicultura vem sendo conceituada como a arte de manejar as abelhas indígenas sem ferrão. 3 A Associação Casa Familiar Rural de Boa Vista do Ramos é um ambiente educativo no meio rural, onde se desenvolve a formação geral e profissional de jovens e adultos. Tem como objetivo oferecer alternativas de desenvolvimento econômico, social e ambiental para os/as jovens e suas famílias, melhorando a qualidade de vida e, consequentemente, possibilitando a permanência do/da jovem no meio rural com padrões de vida compatíveis com o mundo atual. É administrada por uma associação de famílias da região, através de um Conselho de Administração que representa as diversas comunidades, eleito em Assembleia Geral. A CFR de BVR é mantida através de um sistema de colaboradores, com o apoio dos Órgãos Públicos, Privados, ONGs e Entidades de Classes (Cooperativas, Sindicatos, Associações, Igrejas etc.). Sua sede está situada na comunidade rural Boa União, às margens do Paraná do Ramos, em uma área de 2 hectares, sendo dois ambientes: terra firme e várzea. 4 Instituto Iraquara, organização não-governamental, que desenvolve atividades desde 1998 em diversos municípios do Amazonas, através de vários experimentos, buscando promover a Meliponicultura como uma atividade agroecológica economicamente rentável para as comunidades. Dentre seus financiadores por ocasião dessa pesquisa, recebe apoio da Fundação AVINA, da PETROBRAS através do Programa Fome Zero, com o Projeto Mel da Amazônia. (Relatório anual de avaliação da CFR de BVR, 2009). Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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volvida por monitores-professores da CFR de BVR, que buscaram se especializar por meio de oficinas e cursos diversos. Apesar das descrições dos Relatórios da CFR de BVR terem constatado que todas as famílias com jovens matriculados no PROEJA/FIC das turmas anteriores e da atual praticam o manejo das abelhas sem ferrão, o Gráfico nº 1 representa apenas as famílias de jovens em atividades letivas por ocasião da pesquisa de campo neste trabalho. A criação de animais de pequeno, médio e grande porte consta do referido gráfico, para efeito comparativo, tendo em vista que essas criações são produções manejadas nos quintais agroflorestais e são destinadas, quase que exclusivamente, a atender à necessidade da família.

Gráfico 1: Quantitativo de animais manejados nas propriedades pesquisadas. Fonte: Passos, 2011

As abelhas sem ferrão são nativas do Brasil. Elas se originaram aqui e, a partir daqui, se distribuíram para todo o mundo, mas hoje ocupam só a região tropical do planeta. (SILVA et al. 2000, p. 3) aponta que, na Amazônia, existe atualmente um grande número de espécie de abelhas sem ferrão, as quais podem ser manejadas de modo racional, visando à produção de mel, pólen, própolis e outros produtos e subprodutos em níveis comercialmente viáveis. Kerr (1996) afirma que as abelhas brasileiras sem ferrão são responsáveis, conforme o ecossistema, por 40 a 90% da polinização das árvores nativas. As 60 a 10% restantes são polinizadas pelas abelhas solitárias, borboletas, besouros, morcegos, aves, alguns mamíferos, água, vento, e, recentemente, pe-

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las abelhas africanizadas. (KERR et al. 1996). Os dois grandes grupos são conhecidos como Meliponas e Trigonas. Conforme Zilse et al., (2005 p. 9), as Meliponas são abelhas grandes, que chegam a medir um centímetro e meio. Fazem a entrada dos seus ninhos usando barro e própolis. As mais conhecidas entre elas são a jupará, a urucu, a jandaíra e a melde-pau. Quanto às Trigonas são abelhas pequenas, conhecidas como abelhas enrola-cabelo, lambe olhos, mosquito, canudo, irapuá. A entrada de seus ninhos tem formato de tubo

Quadro 1: Espécies de abelhas indígenas mais criadas na Amazônia. Fonte: Zilse et al., 2005

e é construída com cera. Durante o período de pesquisa, foram realizadas atividades de campo através de visitas a comunidades5. Estas visitas nos permitiram observar aspectos peculiares das famílias, relacionados ao envolvimento com o Projeto Profissional de Vida do Jovem – PPVJ6, além de nos oportunizar a participação em oficinas de Meliponicultura. Na ocasião, foram feitos os registros de depoimentos de membros da família de egressos. Meu filho, o Messias começou a estudar em 2002, na primeira turma do PROEJA/FIC. Naquele tempo algumas famílias não acreditavam 5 As comunidades visitadas foram: Boa União, Santo Antônio do Rio Urubu, São João do Amandio, São Pedro do Tamuatá e Cristo Bom Pastor do Pari. 6 Projeto Profissional de Vida do Jovem – PPVJ é um projeto contextualizado como um componente curricular do Plano de Formação (matriz curricular) do Curso Agente de Desenvolvimento na Agricultura Familiar. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


no projeto. Todo mundo era muito desconfiadoAté eu. Mas hoje está lá, tudo funcionando certinho, e todo mundo vê que o nosso esforço, dos nossos filhos, dos monitores valeu a pena. Depois foi a vez da Adelcilene na segunda turma e agora o Jonathan na terceira turma. Todos nós aprendemos muita coisa que desenvolvemos em nossas propriedades. As abelhas são um exemplo. Ao longo de minha vida sempre trabalhei com a pecuária, mas foi através desse curso com o Projeto Profissional de Vida do Jovem, elaborado por meu filho Messias, durante a primeira turma do curso na Casa Familiar Rural, que me fez ver a importância desses bichinhos pra nós e pra natureza. Antes a nossa vontade era criar boi. Mas agora, somos meliponicultores. As abelhas trabalham junto comigo e não me cansam. Só me dão lucro, alimento e felicidade. Além disso, tenho a alegria de ver todos os meus filhos aqui, trabalhando junto comigo. (Depoimento de pai de egresso, Comunidade Santo Antônio do Urubu, BVR). Já são quase dez anos que lido com as abelhas sem ferrão. Trabalhamos em família. As espécies que cultivamos são as Meliponas Compressipes e Seminigra. Inicialmente, antes de estudar na CFR, meu desejo era trabalhar na pecuária criando boi. Inclusive, quando realizaram a Pesquisa Participativa da primeira turma, me perguntaram qual era o meu projeto de vida. Eu respondi que era a pecuária. No decorrer dos anos com os estudos na CFR comecei a perceFigura 1: Fachada da casa de egresso, quintal com meliponário e a placa com a logomarca do Projeto Mel da Amazônia. Fonte: ARCAFAR – AM, 2010.

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ber alternativas, outros projetos. O gado demora uns três ou quatro anos, com muita dedicação e trabalho, para nos render uns R$ 500 ou R$ 600 na hora da venda. Com as abelhas, em três ou quatro meses, conseguimos faturar mais que isto. E, para sorte do meio ambiente, parte do dinheiro que ganhamos agora investimos em reflorestamento, com árvores frutíferas, que as abelhas ajudam a polinizar e a produzir muito mais frutas, de maneira totalmente sustentável. Na natureza as abelhas fazem seus ninhos em tronco ocos de arvores. Mas, pra praticar a Meliponicultura, precisamos usar as tecnologias para garantir a segurança de uma colônia, que abriga abelhas faxineiras, nutrizes, arquitetas ventiladoras, guardas, campeiras, zangões e até duas rainhas; uma delas é mantida quase mumificada, para ser despertada se algo acontecer com a outra soberana. Aqui na nossa região, o guaraná estava em queda até intensificarmos o trabalho com as abelhas. Elas entraram com a polinização, sem ninguém pedir e, a produção de guaraná aumentou. (Depoimento de egresso do Curso ADAF/PROEJA/FIC).

Tratando-se da mão-de-obra familiar, Oliveira (1990, p. 69) aponta a força de trabalho familiar como um dos elementos estruturais da agricultura camponesa. “A força de trabalho familiar – é o motor do processo de trabalho na unidade camponesa; a família camponesa é um verdadeiro trabalhador coletivo”. Essa singularidade do trabalho do agricul-

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Figura 2: Egresso (camisa CFR) e irmãos em seu meliponário e egresso ministrando palestra na Oficina de Meliponicultura por ocasião da visita de jovens do intercâmbio da Juventude Rural do Brasil (setembro 2010). Fonte: ARCAFAR – AM (2010).

tor familiar difere do trabalho assalariado, visto que este, o trabalhador, vende sua força de trabalho para depois comprar o que ele necessita para atender suas necessidades. Contudo, a realidade de grupos pertencentes aos povos e comunidades tradicionais que habitam as áreas de várzea do Amazonas vive e trabalha em três ambientes – terra, águas e florestas onde retiram os meios de sobrevivência de que necessitam. Essa categoria social, com características e essências próprias, socialmente determinadas na história, assumem especificidades, tendo a força geradora do trabalho familiar na garantia e manutenção de seu sustento. Assim, o tanto de energia despendida nos trabalhos diários em suas diversas atividades relacionadas aos componentes do sistema de produção, sejam as práticas de extrativismo, cultivo de roça, criação e manejo de animais, caça, pesca, atividades domésticas, são apropriadas pela família, ou seja, voltam na forma de consumo e bens. Dessa forma, esses agentes reproduzem as condições materiais de existência da prória família. Con-

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forme Noda (2007): Subsistema de auto-suficiência e sustentabilidade familiar – a unidade de produção é constituída por uma intricada e articulada rede de atividades produtivas assentadas, basicamente, na força de trabalho familiar e freqüentemente, no acesso às quantidades suplementares deste fator de produção, através das relações de solidariedade estabelecidas dentro dos grupos sociais (relação de ajuda mútua).

Fraxe7 (2000), quando se refere aos homens anfíbios como um personagem não tipicamente capitalista, enfatiza que o agricultor familiar do Amazonas apresenta características tradicionais em seu sistema de produção agroflorestal, oriundas de práticas indígenas e caboclas de produção. Essas características lhes conferem a construção de um campesinato entremeado de especificidades, onde a terra e a água se complementam, buscando o equilíbrio da vida. Mesmo que o lucro faça parte do universo do sujeito ribeirinho, afinal, ele está inserido num sistema maior, isso não quer dizer que sua ausência rompa com sua condição de ribeirinho, de agricultor, de extrativista em seu 7 FRAXE (2000) usa a metáfora anfíbio para qualificar o sujeito ribeirinho do Amazonas que, vivendo às margens dos rios, sobrevive tanto da terra como da água. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


território das águas, da terra, das florestas, da cultura e das relações sociais. Também, podemos dizer que essa lógica da produção familiar ribeirinha não representa necessariamente o isolamento desse sujeito em seus territórios com o mercado, visto que são várias as formas de organizações presentes. Isto inclui as associações, cooperativas e grupos organizados que, nos últimos anos, têm crescido no município, onde determinados produtos são comercializados através das redes de autogestão. No caso específico da produção de mel, a maioria das famílias associadas à CFR de BVR optaram pela comercialização do seu produto, via cooperativa. Isto inclui controle sanitário, desumidificação, embalagem do produto, dentre outros. As famílias que manejam as abelhas indígenas sem ferrão nas diversas comunidades de BVR desenvolvem essa atividade próxima a casa. Isto ocorre porque essas abelhas não oferecem perigo de picadas, além de facilitar o manejo diário das colmeias quando se faz necessário. Tal decisão acarreta responsabilidade da família quanto à manutenção dessas espécies. O não uso de agrotóxicos; o cuidado com resíduos e dejetos domésticos; esgotos, fossas e privadas devem ser mantidos fecha-

Figura 3: Paisagem de duas propriedades na Comunidade Cristo Bom Pastor do Pari: Família meliponicultora e família que desenvolve apenas a pecuária com criação de gado. Fonte: ARCAFAR/AM (2010).

dos ou cobertos com material seco; o cuidado com a higiene e sanidade dos animais domésticos; o constante estudo e observação das espécies vegetais visitadas pelas abelhas como forma de garantia de alimento das mesmas; construções de viveiros para propagação de plantas para incrementos dos jardins ao redor da casa, bem como o reflorestamento de áreas desmatadas. Do ponto de vista biológico, o manejo de abelhas também é importante porque esses insetos, ao coletarem pólen e néctar de flor em flor, promovem a polinização e asseguram a perpetuação de milhares de plantas nativas e das exóticas cultivadas. Esses são pontos fundamentais para o bom manejo das

Figura 4: Oficina de Meliponicultura desenvolvida na propriedade de egressa. (setembro 2010). Fonte: ARCAFAR – AM, 2009 Nexus Revista de Extensão do IFAM

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abelhas e o sucesso das famílias. A Figura 3 ilustra duas propriedades na Comunidade Cristo Bom Pastor do Pari. A área de Agrofloresta pertence à família da jovem Orilene Baraúna egressa da CFR. Dentre os vários elementos de produção da propriedade, está o manejo de abelhas. Possui um meliponário com 50 colmeias. O terreno vizinho na mesma figura, por ocasião dessa pesquisa, desenvolvia apenas a pecuária com criação de gado. Assim, podemos dizer que a paisagem de uma propriedade identifica uma família meliponicultora. A Figura 4 ilustra o momento de aulas práticas na oficina de Meliponicultura, realizada em período de coleta de mel. Para garantia de qualidade do mel, usam-se equipamentos, tais como: coletor de mel e equipamento de higiene. Constam no Relatório Anual de Avaliação da CFR de BVR do ano de 2009, as principais vantagens de manejar tecnicamente as abelhas indígenas sem ferrão: 1. Viabilidade Econômica com geração de trabalho e renda; 2. Redução do desmatamento, pois, quanto mais intocada a floresta, maior a recuperação da cobertura vegetal, maior a quantidade de flores, frutos e de mel; 3. Adoção de práticas para manutenção do uso da terra no cultivo de culturas sem o uso do fogo e de agroquímicos; 4. Ação e prática sócio-educativa resultando em organização social e comunitária; 5. Mudança de paisagens com reflorestamento e incrementos de pomares e jardins agroflorestais; 6. Mudança de hábitos de higiene e cuidado quanto ao destino dos resíduos orgânicos gerados na unidade familiar; 7. Incremento no hábito alimentar com o uso nutricional e terapêutico do mel e seus componentes; 8. Inclusão de gênero e da melhor idade; 9. Manejo e manutenção sem risco de picadas, pois as abelhas indígenas possuem ferrão atrofiado e por isso não oferecem perigo; 10. Ao contrário de grandes investimentos agrícolas e agropecuários, a Meliponicultura demanda baixo custo inicial, de implantação e de

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manutenção. 11. Distanciamento do risco de extinção das melíponas, na região de cultivo das práticas melíferas; 12. Promoção de projetos comunitários de educação ambiental desenvolvido em diversas comunidades, voltados ao manejo de abelhas sem ferrão, tendo como público crianças das escolas municipais e como instrutores estudantes e egressos do PROEJA/FIC.

Essas vantagens têm levado estudantes, egressos com suas famílias e professores-monitores a valorizar a Meliponicultura não só pela importância econômica e social, mas pela formação de uma consciência ambiental. Esta pesquisa nos revela que a Meliponicultura, como Tema Gerador da matriz curricular do curso em questão, tem inteira conexão com o mundo do trabalho, educação e ambiente bem como revela a satisfação humana por se tratar de uma atividade manejada quase que exclusivamente nos quintais, rompendo com práticas predatórias e danosas de uso dos recursos naturais, por práticas sustentáveis. Em momentos de conclusão de cursos, os estudantes ao apresentarem à comunidade seus projetos, seja em que eixo for (vegetal, animal, humano ou recursos naturais) a Meliponicultura está sempre presente como elemento de um sistema de produção. Fazendo uma analogia, diríamos que é como “o peixe e a farinha” que não podem faltar na mesa do ribeirinho amazônico. Essas evidências podem ser observadas no decorrer da formação do jovem e na apresentação dos trabalhos de conclusão de curso, conhecido na CFR como Projeto Profissional de Vida do Jovem. Tais considerações nos levam a compreender que a imbricada cadeia de ligação, baseada no sistema de produção do ribeirinho bem como sua estreita relação com o mundo do trabalho, favorece a ligação homem – natureza, combinando e revelando com o que está presente nos versos de Assunção, quando diz que toda essa grandeza é uma cadeia de ligação. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


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QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL PARA OS EGRESSOS DO SISTEMA PENAL DO AMAZONAS: UMA PORTA DE ENTRADA PARA REINSERÇÃO CIDADÃ NA SOCIEDADE Professional qualification for the Amazon Penal System graduates: a gateway for civic reintegration into society Rita das Graças Reis Morais, gerenciadecursos@ifam.edu.br1 Aline Zorzi Schultheis, aline.schultheis@ifam.edu.br2

Resumo: A educação é direito de todos. Para fazer valer esse direito, é necessário dar oportunidades aos seres humanos mais necessitados, mesmo quando estes se encontram detentos ou albergados. Nesse sentido, o Instituto Federal do Amazonas, por meio da Pró-Reitoria de Extensão, propôs o projeto “Qualificação e Requalificação de Detentos e Egressos do Sistema Penal”. O projeto foi desenvolvido dentro das Penitenciárias de Manaus, com o propósito de qualificar profissionalmente detentos e assim contribuir para sua reinserção na sociedade e no mundo do trabalho. Ao qualificar profissionalmente os detentos, diminui-se a probabilidade de reincidência criminal e aumenta a autoestima dos detentos. Durante este percurso muitos desafios surgiram, mas como foram superados? Quais pressupostos deveriam ser observados durante o desenvolvimento do projeto? Este artigo irá responder tais questões, também abordará como se desenvolveu o projeto, as experiências vividas por professores, administradores e alunos, além dos resultados alcançados. Palavras chave: Reinserção Social. Qualificação Profissional. Presidiário. Abstract: Education is a right for all. To enforce this law, it is necessary to give opportunities to the needy human beings, even when they are inmates or sheltered. Accordingly, the Federal Institute of Amazonas, through the Extension Dean, proposed the “Qualification and Requalification of Detainees and Ex-Offenders in the Amazon Criminal System” project. The teachers developed the project within the Penitentiary of Manaus, in order to qualify professionally detainees and thereby contribute to their reintegration into society and into the world of work. By qualifying the inmates professionally, the likelihood of recidivism decreases and favors the inmates’ selfesteem. During this journey, many challenges have emerged, but how did we overcome them? What assumptions should we observe during the development of the project? This article will answer those questions and will address how the project evolved, the teachers, administrators and students experiences and the results achieved. Keywords: Social Welfare. Vocational Training. Convict.

1 Pedagoga do Instituto Federal do Amazonas. Atua como Coordenadora Geral dos Cursos de Formação Inicial e Continuada do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. 2 Pedagoga do Instituto Federal do Amazonas atua na Pró-Reitoria de Extensão.

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INTRODUÇÃO O censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a população carcerária apontava, em 2003, a existência de 290 mil pessoas presas no país. No período de 1995 a 2003, o Brasil teve um crescimento da população carcerária de 93%, sendo hoje a quarta população carcerária do mundo. Dados da Secretaria de Estado de Justiça do Amazonas mostraram que, em 2007, somente no interior do Estado, a população carcerária era de 1257 pessoas. Em Manaus, as quatro unidades penais abrigavam cerca de 1490 presos, sendo a maior parte constituída de jovens com menos de 30 anos de idade, com grau de escolaridade baixa e cujos delitos concentram-se em crimes, furtos e roubos. Em média, só 10% dos detentos participavam de programas de elevação da escolaridade. Este mesmo percentual se mantém em relação ao atendimento à educação profissional dos detentos, conforme registrado nos Cadernos Temáticos, produzidos pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica-SETEC (2006, p.11). (...) De acordo com uma avaliação de 2003 do Tribunal de Contas da União sobre profissionalização do preso, as ações de educação profissional no Brasil, ainda são muito tímidas e não beneficiam mais que 10% da população carcerária.

Esses dados demonstram uma preocupação emergente de se contribuir para o processo de ressocialização dos que se encontram temporariamente detentos. A falta de formação profissional aumenta as reincidências dos apenados, pois, sem profissão, dificilmente conseguirão custear suas necessidades básicas. É o que confirma a Profa. Dra. Sandra Magni Darwich, Diretora de Extensão, Relações Empresariais e Comunitárias – DIREC, em Cadernos Temáticos-SETEC(2006, p.11). Nexus Revista de Extensão do IFAM

O projeto do Cefet/AM, além de propiciar alternativas de geração de renda, de melhoria das condições de vida dos presos e de suas famílias, contribui para o resgate da auto-estima e o desenvolvimento da consciência de cidadania dos condenados. Sandra diz que os maiores adversários do ex-presidiário que procura emprego são a rejeição e o preconceito da sociedade e também a falta de escolaridade e de formação profissional. Ela lembra que os presos que participam de atividades educativas e de formação profissional têm mais condições de se reintegrar à sociedade.

Diante dessa situação, o CEFET-AM, atual Instituto Federal do Amazonas-IFAM, através da Pró-Reitoria de Extensão, à época Diretoria de Extensão, Relações Empresariais e Comunitárias – DIREC, em parceria com a Secretaria de Trabalho e Cidadania do Estado do Amazonas, Ministério do Trabalho e a Secretaria de Justiça do Estado do Amazonas desenvolveu o projeto “Qualificação e Requalificação de Detentos e Egressos do Sistema Penal”. O desafio de se realizar um projeto pedagógico de inclusão social fora dos muros da escola, os entraves e êxitos encontrados em sua execução e a confirmação do atingimento de resultados relevantes para a ressocialização de ex-presidiários é o que passaremos a relatar ao longo deste artigo. DESENVOLVIMENTO No decorrer dos séculos, as prisões são utilizadas como instrumento disciplinador para aqueles que desconsideram as leis. Uma de suas principais funções é contribuir para a transformação e redenção do ser humano. Baltard (apud FOUCALT, 2001, p. 198) ressalta esta função ao escrever: A prisão deve ser um aparelho disciplinar exaustivo. Em vários sentidos deve tomar a seu cargo todos os aspectos do indivíduo, seu treinamento físico, sua aptidão para o trabalho, seu comportamento cotidiano, sua atitude moral, suas disVol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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Figura 1: Aulas práticas dos cursos realizados na Penintenciária. Fonte: Arquivos do IFAM. posições a prisão muito mais que a escola, a oficina, ou o exército, que implicam sempre numa certa especialização é “onidisciplinar”.

Nas palavras deste autor, observamos que o tempo de detenção deve ser um período para transformação, pois todos os aspectos do indivíduo devem ser levados em consideração. A educação profissional precisa ser levada até as prisões, pois é um viés fundamental para a mudança de comportamento e atitudes através do desenvolvimento de habilidades e competências laborais e sociais. Nesse sentido, ao se propor o projeto “Qualificação e Requalificação de Detentos e Egressos do Sistema Penal”, tinha-se como objetivos desenvolver atividades produtivas durante o cumprimento da pena, com vistas à reabilitação, reinserção no mundo do trabalho após sua liberação; propiciar alternativas de geração de renda e melhorias de condição de vida dos presidiários e de suas famílias, mesmo durante o cumprimento da sua pena; contribuir para o resgate da autoestima e desenvolvimento da cidadania e de valores es-

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senciais ao convívio em sociedade e por fim, encaminhar, orientar e apoiar a inserção ou reinserção produtiva de egressos. Para atingir esses objetivos, foram propostos cursos FIC – Formação Inicial e Continuada aos detentos da Penitenciária Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, Presídio Central do Estado do Amazonas, Penitenciária Feminina de Manaus, Complexo Penitenciário Anísio Jobim – BR 174 e Casa do Albergado. Entretanto, definidos esses pontos iniciais, algumas preocupações e desafios precisavam ser superados. No âmbito do CEFET-AM, por se tratar de um projeto pioneiro e de grande relevância social, com peculiaridades jamais vivenciadas por nós, pois os cursos iriam acontecer dentro das casas prisionais, tudo isso gerava insegurança na equipe e até mesmo temor por grande parte dos professores, uma vez que iriam ministrar aulas para presos considerados, muitas vezes, de alta periculosidade. Alguns professores recusaram participar do projeto, mas outros resolveram assumir o desafio. Afinal de contas, havia também uma Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


situação emblemática a ser considerada. Os cursos iniciais iriam acontecer dentro da Penitenciária Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, antiga Casa de Detenção de Manaus, local onde funcionou o IFAM, de 1916 a 1927. Isso foi um fator determinante e motivador para equipe que também precisava articular com os demais parceiros do projeto. O contato inicial foi com o responsável pela Penitenciária Desembargador Raimundo Vidal Pessoa o qual viabilizou várias reuniões com a equipe de assistência social, psicólogos e outros funcionários que trabalhavam direta ou indiretamente com os detentos com o intuito de se proceder ao levantamento de demandas dos cursos, sem perder de vista as especificidades da clientela e o local onde seria realizada a formação profissional. Por exemplo, houve um cuidado especial ao selecionar os cursos, pois nem todo tipo de material e equipamento era adequado para o ambiente de

uma Penitenciária. Ao final da pesquisa, detectou-se que havia demanda para cursos nas áreas de refrigeração, construção civil, culinária, serigrafia, eletrônica, elétrica, artesanato e confecção de roupas. Outros parceiros importantes foram a Secretaria de Trabalho e Cidadania do Estado do Amazonas, o Ministério do Trabalho e a Secretária de Justiça do Estado. Com eles, conseguimos o apoio necessário e o financiamento para a realização dos cursos. Coube à equipe da DIREC elaborar e desenvolver o projeto pedagógico dos cursos, emitir certificado, coordenar e selecionar os professores. Vale ressaltar que os docentes, além de se sentirem apreensivos em ministrar aulas dentro dos presídios, conforme mencionamos anteriormente, também manifestaram desconforto por não poderem contar com a mesma estrutura de laboratórios e equipamentos que tinham a sua disposição dentro da

Figura 2: Aula prática do curso de refrigeração. Fonte: Arquivo do IFAM. Nexus Revista de Extensão do IFAM

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escola, impasse este que foi muito bem superado por eles e pelos alunos. Vencida a barreira inicial, era visível o contentamento dos professores que atuavam no projeto de qualificação dos detentos. Quanto à seleção dos presidiários dos cursos de qualificação profissional, foi realizada pelo serviço de assistência social da unidade prisional, tendo como critério principal a apresentação de boa conduta. Enfim, estávamos prontos para iniciar as aulas. E assim todos rumaram para a sala de aula, ou melhor, para a Capela da Penitenciária, único espaço disponível para a realização dos cursos. Em contrapartida, os alunos presidiários dos cursos de Pintor Residencial, Artífice da Construção Civil, Carpinteiro de Forma e Eletricista Predial transferiram seus conhecimentos e desenvolveram a parte prática dos cursos, reformando por completo a Capela, transformando-a no local de melhor aparência da Penitenciária. Era lá que se realizavam as cerimônias de entrega de certificados, com a participação do Diretor Geral do CEFET-AM, secretários de Governo e outras autoridades, com apresentação da banda de Música do CEFET-AM e coquetel de encerramento. Todas as manifestações, inclusive as dos presidiários, enalteciam a relevância dessa ação de valorização humana e inclusão social. Por seu caráter teórico-prático e altamente motivador, os cursos capacitaram os participantes a produzirem serviços e produtos, gerando-lhes ocupação produtiva e renda. As presidiárias femininas que participaram dos cursos de Pátina de Revestimento, Confecções de Roupas de banho, Serigrafia e Culinária de Doces e Salgados geraram renda através dos produtos confeccionados durante as aulas práticas. Da mesma forma, os alunos albergados e presidiários do Curso de Serigrafia que aprenderam a pintar quadros e tecidos enviavam seus produtos para os seus familiares comercializarem nas feiras, contribuindo assim para a geração da renda familiar.

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Gráfico 1: número de detentos qualificados. Fonte: Pesquisa de Campo, 2005.

RESULTADOS No período de 1998 a 2005, foram qualificados 904 detentos egressos do sistema penal, nos mais diversos cursos de Formação Inicial e Continuada. Já foram ofertados cursos nas áreas de refrigeração comercial, pequenos reparos domésticos, artífice da construção civil, armador de ferramentas em obra de construção civil, pintor, pátina em revestimento, carpinteiro de forma, cartões em papel vegetal e pintura em gesso, roupas de banho, culinária, eletricista, bombeiro hidráulico, eletrônica básica e serigrafia. Conforme observamos no gráfico, o projeto “Qualificação e Requalificação de Detentos e Egressos do Sistema Penal” atingiu os objetivos tanto quantitativamente, quase 1000 pessoas atendidas, quanto qualitativamente, consoante descrevemos anteriormente. Ao participarem dos cursos de capacitação, adquiriram habilidades e competências profissionais e sociais, requisitos extremamente necessários para a sua a reinserção na sociedade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considera-se, portanto, que este projeto contribuiu decisivamente para a elevação da autoestima dos presidiários, tornando-os mais preparados para a difícil jornada de reinserção na vida produtiva e cidadã, após terem cumVol.1 | Nº1 | Abr. 2015


prido as suas penas nas prisões. Muitos sentiram-se altamente motivados a participarem de outros cursos de formação profissional e até mesmo de cursos de elevação de escolaridade. Vale a pena registrar ainda que um dos nossos egressos dos cursos da Penitenciária atuou no setor de Serigrafia e ministrou aulas de Espanhol no CEFET-AM. Finalmente, Instituto Federal do Amazonas foi a primeira instituição da rede federal a acreditar no potencial da educação profissional dentro dos presídios de regime fechado no Amazonas. A partir desta ação, muitas oportunidades foram abertas para este público, pois outras Instituições também passaram a acreditar que era possível qualificar os detentos, contribuindo assim para sua reintegração na sociedade. REFERÊNCIAS BRASIL, Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Cadernos temáticos N. 8, (jan. 2006). Brasília : Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica, 2004. Disponível em :<.http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/ pdf/cadernos08_v2.pdf>. Acesso em outubro de 2014. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Vigiar e punir. 24. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. Sistema Prisional do Amazonas tem mais de 4 mil presos excedentes. Disponível em : <http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2013/11/sistema-prisional-do-amazonastem-mais-de-4-mil-presos-excedentes.html> Acesso em outubro de 2014.

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ESTRATÉGIAS PARA INTERNACIONALIZAÇÃO DOS INSTITUTOS FEDERAIS: CULTURA E LÍNGUA The Federal Institutes Internationalization Strategies: Culture and Language Rivadavia Porto Cavalcante, riva@ifto.edu.br1 Ana Célia Brandão de Farias Said, anasaid@ifam.edu.br2 Sandra Mara de Paula Dias Botelho, sandrabotelho@ifrr.edu.br3 Antonia Elizabete Romanowski, liztukus@hotmail.com4 Marilize Steves, marilise@ifro.edu.br5 Rose Meire Penha Revoredo de Macedo, rose@ifap.edu.br6 Sandro Luis Costa da Silva, sandro.silva@ifac.edu.br7 Resumo: Nosso trabalho está centrado na importância da internacionalização para os Institutos Federais, tendo como base o acesso ao conhecimento, a ampliação das possibilidades acadêmicas, o reconhecimento dentro e fora do país e a ampliação da capacidade institucional de compreender diversidades culturais. Para que o processo de internacionalização se consolide, sugerimos estratégias que possibilitem que este processo se dê de forma gradual tomando por base as potencialidades e necessidades dos Institutos. Uma vez feita a contextualização e definidas as perspectivas vislumbradas através das discussões fomentadas pelo Fórum dos Assessores Internacionais dos Institutos Federais – FORINTER - serão apresentadas estratégias enfocando a necessidade de dotar os servidores, discentes e comunidade externa de habilidades referentes ao domínio de uma língua estrangeira, fortalecendo de forma efetiva o ensino de línguas nos IFs e a construção de currículos mais completos e significativos que assegurem uma formação de profissionais entrosados no mundo globalizado. Nesta perspectiva, entre outras estratégias, sugerimos a criação de centros de idiomas nos Institutos, que construirão o alicerce necessário a fim que a comunidade interna e externa se aproprie de pelo menos uma língua estrangeira de forma que possa participar das várias oportunidades que têm sido ofertadas pelo governo federal para a mobilidade de discentes e servidores federais. Palavras chave: Internacionalização. Língua e Cultura. Ensino de Línguas. Estratégias. Abstract: Our work is focused on the importance of internationalization for the Federal Institutes, based on access to knowledge, the expansion of academic opportunities, recognition within and outside the country and the expansion of institutional capacity to understand cultural diversity. For the process of internationalization consolidation, we suggest strategies that allow this process to build gradually on the strengths and needs of the Federal Institutes. Once made the contextualization and defined prospects glimpsed through discussions promoted by the Federal Institutes Forum of International Advisors - FORINTER - we will present some strategies focusing on the need to provide to staff, students and outside community skills for the mastery of a foreign language, strengthening effectively the language teaching in the Ifs (Federal Institutes) and the construction of more complete and meaningful curricula to ensure professional training mingled in the globalized world. In this perspective, among other strategies, we suggest the creation of language centers in the Institutes, which will build the necessary foundation in order to promote the internal and external communities possibility to take ownership of at least one foreign language, so that they can take part in various opportunities that Federal Government has offered for mobility of students and federal employees. Keywords: Internationalization. Language and Culture. Language Teaching. Strategies.

1 Assessor Internacional do IFTO 2 Assessor Internacional do IFAM. 3 Assessor Internacional do IFRR. 4 Assessor Internacional do IFPA. 5 Assessor Internacional do IFRO. 6 Assessor Internacional do IFAP. 7 Assessor Internacional do IFAC.

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INTRODUÇÃO A concepção e as diretrizes dos Institutos Federais estão pautadas em um novo olhar para a Educação Profissional, que extrapola o dicotômico e dual preconceito de formação intelectual e manual. Enquanto Rede Social, os IFs, cuja implantação sempre esteve relacionada ao conjunto de políticas públicas para a educação profissional e tecnológica, deverão atender em todos os níveis e modalidades de ensino às demandas por essa formação, atendo-se prioritariamente ao desenvolvimento integral do cidadão trabalhador, com foco nas particularidades local e regional, mas com uma visão ampla de mundo globalizado. A era dos Institutos Federais exige que seus atores, em seu caminhar, conheçam-se em sua humanidade comum e, ao mesmo tempo, venham a reconhecer-se em sua diversidade cultural.[...] Nesse sentido, é necessário que percebam não apenas os dados e concebam as ideias na sua troca com o mundo, mas os interpretem numa permanente troca com os demais membros da sociedade, o que exige que estejam situados no universo e não dele separados. (BRASIL, GOVERNO FEDERAL. MEC.PDE, 2008,p. 27)

Assim, “torna-se essencial conhecer experiências de outros países, buscando diálogo entre culturas, permitindo a compreensão das diferenças, a troca de conhecimentos e o estímulo à solidariedade e à cultura da Paz” (Doc. Política de Relações Internacionais dos IFs, 2009, p.3). É nessa perspectiva que o Grupo de Trabalho do Fórum de Relações Internacionais – GT/FORINTER dos Institutos Federais da Região Norte – em conjunto com a Assessoria Internacional da SETEC/MEC, otimizando o potencial existente na Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, procurará desenvolver ações estratégicas de internacionalização dos Institutos com instituições de outros países, considerando que a repercussão delas terá um alcance muito além do ensino, Nexus Revista de Extensão do IFAM

pesquisa e extensão – tripé no processo ensino e aprendizagem. Em outras palavras, a Internacionalização tornar-se-á uma estratégia de desenvolvimento social, econômico e político e, sobretudo, institucional. Para tanto, coube ao GT/Norte elaborar um documento, a ser encaminhado à Diretoria Executiva FORINTER de forma que suscite discussões entre os assessores locais acerca das estratégias para Internacionalização dos IFs, relacionando a questão do ensino-aprendizagem de línguas e culturas, tendo por base as potencialidades e necessidades de cada instituição na implantação desse processo, amplamente discutidas em encontros regionais. 1 A INTERNACIONALIZAÇÃO DOS INSTITUTOS FEDERAIS 1.1 Estratégias para a Internacionalização dos IFs: Contextualização e Perspectivas. Extraído dos estudos de Administração, o significado de Estratégia está relacionado à arte de alcançar resultados. Para atingi-los, é preciso cumprir e acompanhar uma série de etapas. Conforme Porter (2006), o cumprimento dessas fases depende de uma boa análise que compreenda todo o conjunto de variáveis de cada situação do momento e das circunstâncias envolvidas, tal qual um processo de escolha, tendo por base um planejamento para o alcance dos possíveis resultados. Em situação específica, no âmbito das Instituições que compõem a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica e, considerando o papel para o qual foram criados os Institutos, as relações internacionais configuram-se como uma nova oportunidade ou possibilidade de troca de experiência e conhecimento as quais promovem e ratificam o desenvolvimento de uma educação de qualidade dos IFs, ou seja, a criação dos IFs “se pauta na filosofia de uma instituição que não esteja restrita ao seu território; mas que esteja aberta Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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para o mundo” . Sob essa ótica a necessidade de estimular a comunicação intercultural (para permitir o progresso institucional integrado com o mundo) tem levado os gestores, professores, técnicos administrativos a questionamentos de como poder contribuir para o processo de desenvolvimento da nova institucionalidade em que se inserem os IFs. Todos os Institutos Federais vêm ampliando seus horizontes na direção de uma nova adaptação cultural/social no processo de Internacionalização que perpassa o globo, nos dias atuais. Segundo Knight (1997), a internacionalização é um “processo no qual se integra uma dimensão internacional, intercultural ou global nos propósitos, funções e oferta de educação”. Nessa perspectiva, a aprendizagem de línguas, de forma eficiente, que permita os trabalhos da cooperação com as instituições estrangeiras, de maneira consciente, é ainda um desafio para os IFs. Assim, é mister empreender esforços para implantar hábitos institucionais na promoção de mudanças positivas, permitindo universalizar as práticas exercidas no âmbito dos IFs como processo de internacionalização. Para as definições de estratégias envolvendo língua e cultura, entre as demais medidas necessárias dentro da instituição, é imprescindível observar as necessidades de cada IF de acordo com os objetivos consensuais no Plano de Metas das instituições. No âmbito da cooperação internacional para intercâmbio de estudantes, de professores e gestores, pode-se inserir as instituições em redes, com objetivos claros a respeito do que esta inserção poderá trazer aos IFs no que se refere à língua e cultura e a compreensão de como essas instituições estrangeiras lidam com essas dimensões internamente. Segundo Stallivieri (2004), outro aspecto importante que diz respeito à assessoria internacional é a difusão das informações para comunidade interna das instituições . Ela su-

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gere, entre outros: 1. Criação dos centros de informação internacional, através dos quais se ofereça aos docentes, servidores e, principalmente, aos discentes, informações sobre os programas de estudos e bolsas, catálogos de cursos,” orientação sobre como se atualizar ou iniciar seu curso de língua estrangeira para futuros cometimentos; 2. Apresentações com palestrantes convidados, seminários de informação em colaboração com outras instituições”. Poderiam ser também entre nossos IFs com os professores/gestores/alunos que têm ou tiveram contato com outros países e trazem consigo valiosas informações sobre aspectos culturais e lingüísticos por eles testemunhados em suas viagens de intercâmbio e/ou estudos; 3. Distribuição de revistas, folhetos, circulares, guias informativos incluídos em publicações de âmbito geral (periódicos da instituição ou locais).

Nessa perspectiva, as ações concretas na implementação de programas de intercâmbio e/ou cooperação científica e tecnológica oportunizarão a difusão das atividades dos Institutos Federais, na medida em que houver cooperação e transferência de conhecimento, principalmente aos países menos desenvolvidos, tendo por base a solidariedade e o respeito mútuo(cultura de paz), gerando desenvolvimento social e econômico. Partindo desses pressupostos, percebe-se que o processo de internacionalização das IES está pautado por diferentes razões: busca pela alta qualidade de ensino e pesquisa; o acesso ao conhecimento; a ampliação das possibilidades acadêmicas (espaço para pesquisas); o reconhecimento dentro e fora do país; razão econômica; razão social; a exposição cultural de alunos e professores; a ampliação da capacidade de compreender diversidades culturais; ação e status ou a união entre os povos e à construção da cultura da paz. . Associado a tudo isso, há o Termo de Acordo de Metas, que estrutura e organiza a atuação dos IFs, dentro de uma nova institucionalidade estabelecendo, entre outros comVol.1 | Nº1 | Abr. 2015


promissos, a necessidade da diversificação de cursos sintonizados com as demandas que contribuem para o desenvolvimento local e regional, extrapolando a sua extensão geográfica, oportunizando dessa forma, uma perspectiva promissora de visibilidade do trabalho e do papel dos institutos, enquanto Rede. 1.2 As Estratégias de Internacionalização: Ênfase no Ensino de Línguas O ensino de línguas estrangeiras nas instituições da rede pública e privada do Brasil está norteado por documentos oficiais que dão abertura para a implantação de projetos de internacionalização dos currículos estudantis a partir do ensino-aprendizagem de línguas. Na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente, a partir da 5ª série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição. (LDB nº 9394/96, artigo 26, parágrafo 5º)

Pesquisas realizadas na sociedade brasileira atestam a necessidade do domínio efetivo de um segundo idioma focado na oralidade, no saber falar (NOGUEIRA e AGUIAR, 2008). Esses estudos confirmam o reconhecimento do ensino da oralidade, ausente nas escolas de ensino regulares no Brasil . Esta é uma lacuna a ser preenchida com projetos que promovam o desenvolvimento de competências e habilidades do aluno, permitindo o seu sucesso no processo de interculturalidade. No contexto de emergência da globalização, o domínio de línguas estrangeiras tem se tornado cada vez mais necessário e indispensável não apenas para obter informações e contatos com outras culturas, mas, principalmente, como ferramenta de trabalho, visto que através do desenvolvimento de competências em outros idiomas, tanto professores, quanto técnicos administrativos e alunos podem ter acesso à comunicação com o mundo, ao mesNexus Revista de Extensão do IFAM

mo tempo, a uma vasta gama de publicações que abrangem todos os campos do conhecimento científico da atualidade. Embora o Brasil já seja reconhecido como um país em processo emergente de desenvolvimento, ele é dependente ainda das decisões das nações mais desenvolvidas no que se refere às questões de negociação e relação entre os seus pares. Tal fato intensifica a necessidade das relações internacionais de comunicação em todos os campos do conhecimento, exigindo indivíduos capacitados e dotados de habilidades referentes ao domínio da linguagem na execução de atividades nos diferentes segmentos. O desenvolvimento de competências em língua estrangeira significa uma porta aberta para o diálogo entre as culturas do mundo internacional das ciências, do trabalho e das novas tecnologias, tornando-se fator indispensável para a sustentação do modelo de produção do atual contexto além da inclusão global. Nesse sentido, empreender o ensino de idiomas é uma forma de permitir ao cidadão deste milênio a sua inclusão nesta nova era que se ascende, inserindo-o no letramento global da linguagem. Dessa forma, buscar fortalecer, de forma efetiva, o ensino de línguas, é permitir a ênfase na construção de currículos mais significativos que assegure o sucesso para a formação de profissionais mais completos, conforme proposição legal “A educação deve assegurar a todos a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL, LEI N° 9394/96, art. 22). Sob essa perspectiva legal, pode-se inferir que o desenvolvimento de habilidades, a partir do ensino de línguas, é uma das ferramentas indispensáveis para que o indivíduo amplie seus conhecimentos e sua visão de mundo. Estudiosos tais como, Vygotsky (1989a, 1989b) e Bakhtin (2002), chamam atenção para o papel constituidor e organizador que Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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linguagem estabelece na consciência e no pensamento do sujeito. Segundo estes mesmos estudiosos, nesta visão, o sujeito se constitui nas e/ou pelas relações sociais marcadas pela história e pela cultura do seu contexto. Nesta perspectiva, a interação deste sujeito com grupos sociais (outros alunos, professores, outras línguas e culturas), possibilita aprendizagem/desenvolvimento mais eficazes, respeitando os valores de ambas culturas envolvidas neste processo Partindo do ponto de vista destes autores supracitados que defendem o respeito à cultura local já constituída ao longo de sua historia em seu espaço geográfico, apresentamos as razões para o ensino/aprendizagem de línguas e suas respectivas culturas: visando ao processo de internacionalização nos IFs de forma solidária: 1. O domínio de uma LE se configura, nos dias atuais, em uma possibilidade e uma necessidade de ampliar o universo cultural do profissional diante das novas exigências no mundo das novas tecnologias; 2. Possibilita ao aprendiz o acesso e a apropriação de conhecimentos de outros países e culturas, permitindo a socialização do conhecimento; 3. O aprendizado de uma língua estrangeira amplia os conhecimentos já adquiridos na língua materna; 4. Esse processo de aprendizagem permite ao aluno construir estratégias relevantes para o desenvolvimento do raciocínio e aquisição do conhecimento sistematizado; 5. Quanto mais línguas o sujeito dominar tanto maiores serão as oportunidades de apropriação dos conhecimentos de outras culturas, para melhor compreender a sua e interagir com o seu meio; 6. A aprendizagem de idiomas significa, sobretudo, uma ação de ressignificação, pois, a presença da língua a ser aprendida auxilia na construção de uma identidade heterogênica, complexa, porém, plena de conhecimentos; 7. Em tempos de constantes mudanças, dominar línguas estrangeiras modernas é uma questão relevante para vivenciar e compreender este novo contexto.

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OBJETIVOS Diante do exposto, o Grupo de Trabalho FORINTER, delineou alguns objetivos a serem alcançados pelas ações propostas. Os objetivos são: Objetivo Geral • Promover ações para a internacionalização dos Institutos Federais, aproximando as culturas e unindo forças para permitir o progresso científico, cultural, econômico e tecnológico de forma igualitária entre os povos. Objetivos Específicos • Implantar e/ou reativar um Centro de Línguas/Idiomas em âmbito interno aos Institutos para promoção da cultura das línguas como meio de integração, socialização do conhecimento e promoção da interculturalidade; • Planejar programas colaborativos online entre instituições parceiras de forma que haja interação entre nossos discentes e servidores com discentes e servidores internacionais; • Realizar atividades de mobilidade de servidores, discentes e comunidade que trarão experiências de aprendizagem, formação e educação no âmbito intercultural; • Planejar e desenvolver iniciativas institucionais integradas às mudanças como criação de Programas e Projetos relacionados à pesquisa, ao ensino e à extensão, que priorizem atividades extracurriculares envolvendo o estudo das línguas e suas culturas; • Permitir a mobilidade de professores, pesquisadores, técnicos administrativos e alunos na busca do conhecimento em outros países; • Estudar possibilidade de internacionalização curricular, de forma que nossas instituições possam fornecer programas ou disciplinas específicas em línguas estrangeiras que possam atrair servidores e discentes internacionais. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


ATIVIDADES Em consonância com suas potencialidades regionais e locais, os Institutos podem inserir a internacionalização como integrante do seu Projeto Político Pedagógico em suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, permitindo o intercâmbio com outras instituições brasileiras e estrangeiras. Objetivando alcançar esta dimensão, a realização das atividades abaixo pode contribuir para a evolução deste processo: • Promover semanas internacionais como meio de orientação e inclusão dos novos alunos dentro deste processo, de forma a contemplar o mundo e as suas diferenças como um processo normal da existência humana; • Criar procedimentos e normas regulamentares do programa em que o aluno esteja engajado, focando o esclarecimento de questões inerentes ao processo acadêmico do aluno e/ ou a necessidade de que ele aprenda/domine a língua do país onde se encontra; • Estudar possibilidades de se internacionalizar o currículo escolar de forma que tenhamos disciplinas ministradas em língua estrangeira, como forma de atrair alunos das instituições parceiras; • Promover atividades culturais que envolvam a cultura das cidades e regiões centradas no senso da construção de uma sociedade planetária com direitos e deveres comuns a todos os cidadãos; • Inserir o ensino-aprendizagem de idiomas como uma das dimensões a ser atingida no processo de internacionalização, desenvolvendo projetos destinados a promover a comunicação intercultural entre professores, alunos, técnicos administrativos e parceiros da instituição; • Construir projetos de ensino-aprendizagem de “Português para Estrangeiros”, objetivando a internacionalização da língua portuguesa como fonte de conhecimento do mundo lusófono e na contrapartida para a aquisição Nexus Revista de Extensão do IFAM

de outros; • Estimular os professores, alunos e técnicos administrativos dos IFs a colaborarem como voluntários na recepção de visitantes estrangeiros que chegam aos campi; • Reconhecer os estudos realizados no exterior, experiências vivenciadas em outros países, atividades de mobilidades e/ou voluntariado em trabalhos ou missões como competências a serem multiplicadas na instituição. CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudando o crescente desenvolvimento e complexidade do desenvolvimento global, observa-se a busca por profissionais com uma visão geral de mundo, com habilidades específicas, pesquisadores e alunos capazes de transformar as experiências obtidas em outros países em alimento cultural para sua educação e melhoramento na educação do país como um todo. Onde o processo de internacionalização já se estabeleceu nas instituições de educação superior há novas perspectivas e dimensões que estão aos poucos alterando suas paisagens. No caso dos Institutos Federais, as estratégias de internacionalização curricular, trabalhos colaborativos online entre instituições parceiras, programas sobre competências interculturais e instituição de Centros de Idiomas são iniciativas que direcionam o fortalecimento do desenvolvimento institucional. Aceitar este desafio e transformar a busca pelo conhecimento em rica oportunidade de interação cultural é aceitá-lo como responsabilidade institucional, com políticas de gestão definidas, e representará um grande avanço da instituição para conquistar o seu lugar de direito entre as instituições da atualidade, nos cenários nacional e internacional. REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail (Volochinov). Marxismo Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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e filosofia da linguagem. 4. ed. SãoPaulo: Hucitec, 2002. _______. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. BRASIL. GOVERNO FEDERAL. MEC. PDE/2008. _______, Lei de diretrizes e bases (LDB) nº 9394/96. Texto acessado em 30 de outubro de 2010 disponível no endereço: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm.

lo: Martins Fontes, 1989b Sites Consultados: Disponível em <www.administradores.com. br>. Acesso em 28.7.2010. Disponível em: <www.proffernandoschiavetto.blogspot.com/2009/08/voce-sabe-o-que-e -estrategia.html>. Acesso em 28.7.2010

_______.Políticas de Relações Internacionais dos Institutos Federais FORINTER/2009. FORINTER, Política de Relações Internacionais dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Brasília, 2009 KNIGHT, J. Internationalization of higher education: a conceptual framework. In Jane Knight and Hans de Wit (Eds), Internationalization of higher education in Asia Pacific Countries. Amsterdam: European Association for International Education, 1997. NOGUEIRA, Mª Alice; AGUIAR, A. La formation des élites et l’internationalisation des études: peut-on parler d’une «bonne volonté internationale»? Education et Sociétés, v. 21, n.1, p.105-119, 2008 PORTER,Michel. What is strategy? Harvard Business Review, Novembro/Dezembro 2006. SLATTIVIERI, Luciane. Estratégias de internacionalização das Universidades Brasileiras. Caxias do Sul: Educs,2004, p.58.59 VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989a. ________Pensamento e linguagem. São Pau-

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ATENDIMENTO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA EM UMA BIBLIOTECA: ESTUDO DE CASO DO CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO – CDI DO IFAM-CMC Special care for people with special needs in a library: Documentation Centre and Information –CDI/ IFAM/CMC case study Elaine Maria Bessa Rebello Guerreiro, em-guerreiro@uol.com.br1 José Ribamar de Abreu Cardoso, ribacardoso@ifam.edu.br2 Eliane Freitas Valentim, elivalentim@gmail.com3 Raele Coelho da Silva, raele.coelho@hotmail.com4

Resumo: Neste projeto de extensão se propôs em observar e levantar as condições de acessibilidade da Biblioteca Paulo Sarmento, do IFAM/CMC, quanto aos aspectos arquitetônicos, mobiliário, equipamentos, comunicacional, procedimentos nas informações e recursos para o atendimento da pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida, além de identificar a necessidade de capacitação dos servidores na temática. Foi um estudo exploratório, quantitativo e descritivo, utilizando-se diversos instrumentos de mensuração. A proposta foi vivenciar, com os alunos bolsistas, como é realizado o atendimento dos usuários em uma biblioteca, à luz da NBR 9050/2004 e Portaria n° 3.284/2003. Durante a execução do estudo contamos com a colaboração da coordenação da referida biblioteca. Esta experiência foi compartilhada com os próprios funcionários da biblioteca alvo e uma instituição de ensino da rede privada. Os resultados apontaram para a não conformidade da biblioteca, com relação à acessibilidade, quando comparadas com a legislação vigente selecionada. Também foi identificado a necessidade e o interesse dos servidores em participar de um curso de capacitação sobre atendimento da pessoa com necessidades especiais. Concluímos que se faz necessário intervenções na biblioteca, de curto e médio prazo, para que possa ser considerada inclusiva. Palavras chave: Biblioteca Acessível. Educação Inclusiva. Inclusão Escolar. Educação Especial. Abstract: This outreach project was proposed for us to observe and raise the accessibility conditions of the Paulo Sarmento Library, at the Federal Institute of Education, Science and Technology in Amazonas - IFAM / Manaus Centro Campus – CMC. The accessibility conditions studied are the ones related to the architectural aspects, furniture, equipment, facilities, communications, procedures, and information on resources for the disabled people care or people with reduced mobility. We also identified the need for skilled workers in the subject. It was an exploratory, descriptive and quantitative study, using various measurement instruments. The proposal was to experience along with the scholarship students who use the library service how it is performed, in the light of ISO 9050/2004 procedures and Decree n° 3284/2003. During the execution of the study we relied on the library coordination’s collaboration. This experience was shared with the target library employees and a private network teaching institution. The results pointed to the library non-compliance with respect to accessibility, compared with the selected current legislation. It was also identified the need and interest of the institution staff to take part in a training course on special care for people with special needs. We concluded that it will be necessary to intervene with short and medium term actions to improve the library so it can be considered inclusive. Keywords: Affordable Library. Inclusive Education. School Inclusion. Special Education.

1 Doutora em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. 2 Mestrado em Engenharia Mecânica e de Materiais pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFP . 3 Graduanda em Licenciatura em Física do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas– IFAM. 4 Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas – IFAM.

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INTRODUÇÃO Neste início de século, os temas inclusão social e acessibilidade têm sido debatidos em todos os veículos e espaços de comunicação, citados como um direito de todos, principalmente da pessoa com deficiência. Não se pode ter uma sem a outra, ou seja, a inclusão social também passa pela acessibilidade (GUERREIRO, 2011). Os direitos das minorias, daqueles que tradicionalmente encontram-se excluídos do sistema educacional, fazem parte do debate da inclusão escolar. Isso tem se materializado em forma de leis, decretos, resoluções, portarias, normas etc. Porém, existe um descompasso entre o que está no corpo das legislações e das normas e aquilo que, efetivamente, está implantado. A construção de uma sociedade para todos necessita de escolas e universidades que sirvam a todos (GUERREIRO, 2011). O governo brasileiro tem lançado programas de ações afirmativas que têm como objetivo a redução da desigualdade e a promoção de oportunidades para todos, incluindo a pessoa com deficiência. O Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – SECADI, possui programas e ações que são executadas por meio da Diretoria de Políticas de Educação Especial - DPEE. A Presidente da República instituiu através do Decreto n.º 7.612 (BRASIL, 2011), o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Plano Viver sem Limite, com a finalidade de promover, por meio da integração e articulação de políticas, programas e ações, o exercício pleno e equitativo dos direitos das pessoas com deficiência. Essas ações visam dar cumprimento ao que está estabelecido pelo Decreto n° 5.296 (BRASIL, 2004). De acordo com esse Decreto, as instituições públicas devem atender ao que está estabelecido quanto ao atendimento prioritário e promover a acessibilidade às Nexus Revista de Extensão do IFAM

pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. As normas técnicas de acessibilidade a serem obedecidas por esse Decreto são as estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, como a NBR 9050 (ABNT, 2004). E, como também faz parte do nível superior de ensino, deve atender à Portaria n° 3.284 (BRASIL, 2003) e ao Decreto n° 5.773 (BRASIL, 2006), quanto à regulação, supervisão e avaliação dos cursos superiores de graduação e sequenciais. Como a Biblioteca é um espaço e serviço fundamental para o êxito acadêmico, servindo para elevar o nível socioeconômico e cultural da sociedade em geral, direcionamos nosso estudo para esse local. A Biblioteca Paulo Sarmento atende tanto a comunidade interna quanto externa ao IFAM, cujo atendimento varia de 800 a 1.200 consultas diárias. Desta forma, é de fundamental importância estruturá -la para atender a todos, principalmente a pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida. O acesso a esse ambiente deve ser livre de barreiras e de fácil acessibilidade. Considerando isso, o presente projeto - Acessibilidade na Biblioteca do IFAM/Campus Manaus Centro - objetiva o acesso e locomoção de todos, tanto da comunidade interna quanto externa, principalmente da pessoa com deficiência, com segurança, autonomia e conforto nas dependências da instituição em questão. METODOLOGIA Este estudo configura-se como uma pesquisa quantitativa, de campo, de caráter exploratório, com enfoque quantitativo. Os instrumentos para levantamento de dados foram por meio da aplicação de um Protocolo de inventário, um questionário semi-estruturado, no caso das entrevistas, e um questionário sobre acessibilidade e atendimento em uma biblioteca. Esses instrumentos foram construídos pelos autores do presente projeto. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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Objetivo Geral Conhecer as condições de acessibilidade da biblioteca do Campus Manaus Centro/ IFAM, com relação ao espaço físico, recursos didáticos e atendimento do usuário e compartilhar essa experiências com escolas do ensino básico. Objetivos Específicos 1. Identificar as condições de acessibilidade à biblioteca desde a porta até o seu interior; 2. Identificar as condições de acessibilidade ao acervo; 3. Identificar os recursos de Tecnologia Assistiva disponíveis e acessíveis; 4. Identificar as condições do mobiliário e espaços de circulação; 5. Identificar como é feito o atendimento à pessoa com deficiência; 6. Ministrar palestras para as escolas do ensino básico sobre biblioteca acessível. Procedimentos A presente pesquisa foi realizada no IFAM/ CMC, por meio do Projeto de Extensão da PROEX, Edital n° 4/2013, onde foram desenvolvidas as atividades referentes à criação de uma proposta para identificar o nível de acessibilidade de uma biblioteca. A seguir, destacaremos de forma resumida os procedimentos realizados. Coleta de Dados Para execução do presente estudo, fez-se necessário um aprofundamento teórico sobre pontos pertinentes ao mesmo. Assim sendo, foram abordados temas relevantes para essa pesquisa, tais como: acessibilidade, bibliotecas universitárias, inclusão, biblioteca acessível entre outros. O material de estudo foi colhido por meio de uma pesquisa bibliomé-

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trica com o intuito de elencar dados a respeito do estado de arte na temática de bibliotecas acessíveis. Utilizamos uma planilha eletrônica para armazenar as informações extraídas dos artigos indexados às plataformas Scirus, SciELO e Google Acadêmico. Os artigos selecionados serviram de base para a construção dos instrumentos, para capacitação dos alunos bolsistas e voluntários e para estruturação de uma proposta de cursos de capacitação na área específica. Paralelo a esse estudo bibliométrico, deuse início à pesquisa de campo a partir do dia 24 de setembro de 2013, na Biblioteca Prof. Paulo Sarmento, com preenchimento dos formulários e com uma entrevista com o coordenador do Centro de Documentação e Informação, Sr. Odimar Porto, sobre as condições de acessibilidade da biblioteca e informações quanto aos recursos humanos. Para cada item dos questionários e seguindo as orientações da NBR 9050/2004, foram feitas fotografias dos ambientes, do mobiliário e das disposições dos mesmos na biblioteca. Também foram feitas entrevistas com todos os funcionários da biblioteca sobre o atendimento das pessoas com necessidades educacionais especiais e a necessidade de capacitação para o atendimento dessa clientela. Após a coleta de dados, realizaram-se a organização, classificação, leitura, análise dos dados e registro das principais informações. Barros (2010) afirma que o êxito na análise de dados dependerá do próprio pesquisador, seu nível de conhecimento, sua criatividade, seu bom senso e sua bagagem teórico-prática, capacidade de argumentação e de elaboração. Com os dados da coleta, foram feitos gráficos para discussão dos resultados e propostas de intervenção. Os gráficos se apresentam como uma ferramenta cultural que pode ampliar a capacidade humana de tratamento de informações quantitativas e de estabelecimento de relações entre as mesmas. As fotos foram arquivadas e comparadas com as NorVol.1 | Nº1 | Abr. 2015


mas da ABNT e legislações vigentes sobre a temática. Local do Estudo de Campo Em 2002, na gestão do Prof. Raimundo Vicente Jimenez, foi apresentada aos parlamentares da Bancada do Amazonas no Congresso Nacional uma proposta de Emenda ao orçamento de CEFET-AM, visando à construção de um Centro de Documentação e Informação (CDI) - Monhangara. O projeto da obra foi concebido dentro dos novos e modernos conceitos de biblioteca. Para o acesso à internet, foi planejada e instalada uma rede mista, incluindo a tecnologia Wireless, que permite usuários, em qualquer lugar do prédio, inclusive ao andar térreo, ligar o seu computador e acessar as informações através da internet (NUNES DE MELO, 2009). O prédio construído possui um total de 2.567 m² de área construída, distribuída em quatro pavimentos. O térreo foi denominado de Centro de Convivência Moronguetá, destinado a eventos culturais, artísticos e de lazer. O primeiro piso é destinado ao acervo bibliográfico e de periódicos, sala de estudo individual, sala de pesquisa, entre outras, que é a própria Biblioteca Paulo Sarmento. No segundo piso está a sala de videoconferência, um mini auditório e salas para estudo dos pesquisadores da instituição. No terceiro piso, atualmente, está instalada a administração dos cursos de pós-graduação. RESULTADOS E DISCUSSÕES Este estudo se propôs em observar e levantar as condições de acessibilidade quanto aos aspectos arquitetônicos, mobiliário, equipamentos, comunicacional, procedimentos nas informações e recursos para o atendimento ao usuário bem como identificar a necessidade de capacitação dos servidores da Biblioteca Paulo Sarmento. Nesta sequência, serão Nexus Revista de Extensão do IFAM

apresentados os principais resultados encontrados, sendo estes comparados com a NBR 9050/2004 e a Portaria n° 3.284/2003. Dados Gerais da Biblioteca A Biblioteca Paulo Sarmento atende nos turnos matutino, vespertino e noturno. No ano de 2013 foram constados 17.800 atendimentos, com 35.653 empréstimos. Em seu acervo constam 11.966 títulos e 27.700 exemplares, 406 títulos de periódicos com 4.853 exemplares. Também possui 700 exemplares de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), 61 exemplares de Normas Técnicas, e 600 material em mídia (DVD, CD e VHS). Sua área interna é dividida em dois espaços: acervo e usuários. A área do acervo é de 520,32 m2, e a área do usuário é de 360,80 m2. Os banheiros ficam na área externa ao espaço da biblioteca, mas dentro do prédio do CDI. Para o atendimento dos usuários é oferecido 17 unidades de cabines individuais, 40 computadores, 25 mesas de estudos para 4 alunos, 322 cadeiras e 11 salas de estudo em grupo. Quanto ao número de servidores, existem três bibliotecários, 11 profissionais de apoio, dois estagiários e seis voluntários. Três funcionários possuem mestrado, cinco possuem especialização, dois com graduação e quatro com o nível médio. DADOS SOBRE A ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA De acordo com o levantamento in loco, para a entrada dos alunos no prédio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas – IFAM/CMC existem duas portarias: uma pela Rua Visconde de Porto Alegre e outra pela Rua Duque de Caxias. Nenhuma destas possui uma rota acessível até a entrada da Biblioteca Paulo Sarmento, tais como o piso tátil, direcional ou de alerta. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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Figura 1: Entrada principal da Biblioteca Paulo Sarmento.

Figura 2: Panorama de um espaço interno da Biblioteca Paulo Sarmento.

mobiliário e as divisórias internas (Figura 2). Porém, as pessoas com deficiência visual e cadeirantes irão necessitar do apoio de terceiros. O piso da Biblioteca Paulo Sarmento é de placas de granito polido (40 x 40 cm) de cor cinza clara, porém sem sinalização para as pessoas com deficiência visual (Figura 3). O acesso à área do acervo da Biblioteca Paulo Sarmento é feito através de um portal de antena antifurto (Figura 4), com 80 cm de largura. As distâncias entre as prateleiras na Biblioteca Paulo Sarmento podem ser visualizadas nas Figuras 5. Os espaços não estão padronizados e existem mobiliários atrapalhando o fluxo dos usuários, bem como pilares. Os espaços entre as prateleiras de DVD, CD e VHS não atendem às normas da ABNT com relação à mobilidade da pessoa cadeirante. (Figura 6) Embora, no local, as portas internas atendam às normas com relação às dimensões, a maçaneta não é adequada, pois deveria ser do

A porta de entrada da Biblioteca Paulo Sarmento é de vidro tipo bascular, com duas folhas, com abertura manual, atendendo as normas da ABNT quanto às dimensões (Figura 1). Mas a pessoa em cadeira de rodas necessita do apoio de terceiros. Os capachos devem ser embutidos no piso e nivelados de maneira que, num eventual desnível, não exceda 5 mm. Tapetes devem ser evitados em rotas acessíveis. Os espaços internos na Biblioteca Paulo Sarmento são amplos e as limitações são pelo

Figura 3: Piso da Biblioteca Paulo Sarmento.

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Figura 4: Portal magnético de acesso ao acervo.. Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


Figura 5: Espaço entre prateleiras não padronizados.

tipo alavanca. Também precisa de espaço para a abertura da porta para uma pessoa em cadeira de rodas. DADOS SOBRE A ACESSIBILIDADE AO MOBILIÁRIO E EQUIPAMENTOS

Figura 6: Prateleiras de DVD, CD e VHS. Nexus Revista de Extensão do IFAM

O balcão de atendimento da biblioteca Paulo Sarmento não atende às normas quanto ao atendimento da pessoa em cadeira de rodas ou com nanismo, necessitando de adaptação. As mesas disponibilizadas no local, em número de 25 unidades, possuem uma superfície de trabalho de 1,05 x 1,05 cm, aproximadamente. Não foram encontradas mesas consideradas acessíveis, pois atendem parcialmente ao que a norma recomenda. Os terminais disponibilizados não atendem às necessidades das pessoas em cadeira de rodas, mas podem ser adaptáveis. Quanto ao número de computadores, na data do levantamento de dados, encontravam-se disponibilizados 40 unidades. Nenhum com teclado em Braille. As estantes encontradas na biblioteca são de modelos variados, e com alturas que não atendem às normas da NBR 9050/04. Devem ser planejadas e implantadas estantes que permitam o acesso de todos os alunos, inclusive das pessoas em cadeira de rodas ou com nanismo. Deve ser prevista a instalação de 50% de bebedouros acessíveis por pavimento, respeitando o mínimo de um, e eles devem estar localizados em rotas acessíveis. Os bebedouros são disponibilizados no térreo do CDI, porém, se encontram com problemas de manutenção e não são acessíveis para pessoa em cadeira de rodas de forma segura e confortável. DADOS SOBRE A ACESSIBILIDADE À INFORMAÇÃO E RECURSOS Está recomendado pela Portaria n° 3.284/2003 que as bibliotecas disponibilizassem publicações em Braille, ou outros recursos audiovisuais. A Biblioteca Paulo Sarmento recebeu doações do Instituto Benjamim Constant - IBC e da Fundação Dorina Nowill de livros e revistas em Braille. São sete títulos de livros e três tipos de revistas, com número de exemplares variados, como pode ser obserVol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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Tabela 1: Quantitativo de material em Braille disponibilizado pela Biblioteca Paulo Sarmento.

vado na Tabela 1. Também existe acervo em formato digital para consulta em VHS, CD e DVD, que pode ser utilizado pelas pessoas com deficiência visual. Porém, não são disponibilizados recursos específicos para atendimento da pessoa com deficiência visual (dosvox, lupas, ampliadores de tela ou outros), nem um intérprete em Libras no balcão de atendimento para atender às pessoas com deficiência auditiva.

tema na Região Norte, tendo o maior número de pesquisas nas regiões sul e sudeste, porém, poucas de intervenção, centrando-se mais nas descritivas (Gráficos 1 e 2). Os dados revelaram uma carência de estudo nesta área espe-

DADOS SOBRE A ACESSIBILIDADE NO ATENDIMENTO AO USUÁRIO Ainda não está disponibilizado um serviço para acompanhar os estudantes com necessidades educacionais especiais quando estes procuram a biblioteca. Desta forma não existe um censo sobre esta modalidade de atendimento.

Gráfico 1: Dados da pesquisa sobre biblioteca acessível por região brasileira.

EVENTOS, EXPOSIÇÕES E PALESTRAS MINISTRADAS Para dar início ao estudo em questão, foi realizada uma pesquisa bibliométrica com o intuito de elencar dados a respeito do estado de arte na temática de bibliotecas acessíveis (NEGRÃO; CASTRO; GUERREIRO, 2014). Os documentos encontrados nesta pesquisa bibliométrica forneceram as informações para o desenvolvimento do projeto. Os resultados apontam a ausência de pesquisas acerca desse

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Gráfico 2: Tipos de pesquisa sobre biblioteca acessível.

cífica. Durante a execução do projeto, houve a participação na I Mostra Interdisciplinar de Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015


Extensão do CMC/IFAM, com dois banners apresentados pelos bolsistas. Nesse evento, foi realizado um minicurso sobre “Atendimento à pessoa com deficiência em uma biblioteca”. Foi realizada, também, uma palestra sobre os resultados da presente pesquisa, para todos os funcionários da Biblioteca Paulo Sarmento. O título da palestra foi “Acessibilidade na Biblioteca do IFAM/Campus Manaus Centro”. Além dos funcionários da biblioteca, participaram dessa palestra outros servidores do IFAM, alunos do curso de Biblioteconomia da UFAM e alunos do curso de mestrado do IFAM. Embora não tenhamos conseguido ministrar palestras no entorno do IFAM/CMC sobre biblioteca acessível, esta foi realizada no Centro de Educação e Desenvolvimento – CIED, localizado na Rua Castro, n° 13, Núcleo 16, Quadra 378 – Cidade Nova 4. O CIED é uma escola privada que atende desde a educação infantil até ao ensino médio. A palestra contou com a participação de 37 alunos do Ensino Médio, um professor e a diretora da escola.

Gráfico 3: Frequência das necessidades especiais relatadas.

Gráfico 4: Tipo de dificuldade ou barreira.

RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO SOBRE ACESSIBILIDADE E ATENDIMENTO NAS BIBLIOTECAS Neste questionário procuramos conhecer como as pessoas que trabalham em uma biblioteca se sentiam ao atender pessoas com necessidades especiais ou mobilidade reduzida. Das 32 pessoas que responderam os questionários, 24 (75%) responderam que já tinham atendido pessoa com alguma necessidade especial. Desta forma, iremos nos reportar apenas a esta parcela da amostra, sendo que um item pode ter mais de uma resposta. Dos tipos de necessidades relatadas, a deficiência visual e a física são as mais frequentes, com destaque para as pessoas idosas (Gráfico 3). Todas as pessoas relataram algum tipo de dificuldade no atendimento de pessoas com necessidades especiais. Embora a maioria teNexus Revista de Extensão do IFAM

Gráfico 5: Propostas de melhorias para o atendimento das pessoas com necessidades especiais.

nha indicado a estrutura arquitetônica como principal barreira, o baixo nível de conhecimento sobre a questão e a timidez também despontam como empecilho para um atendimento eficaz (Gráfico 4). Quanto ao auxílio para a mobilidade da pessoa com necessidades especiais, a maioria Vol.1 | Nº1 | Abr. 2015

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era acompanhada por pessoas, por animais ou outro recurso. Mas, o nível de pessoas que se deslocam sozinhas é expressivo. A capacitação dos funcionários foi a proposta mais frequente para a melhoria no atendimento, que são cursos de atualização ou especialização. A compra de recursos de Tecnologia Assistiva (mobiliário, equipamentos e software) foi a segunda maior frequência, em seguida pelo treinamento (Gráfico 5). CONSIDERAÇÕES FINAIS Este projeto de extensão proporcionou oportunidades para vivenciar as atividades em uma biblioteca, os serviços desempenhados pelos bibliotecários e auxiliares, suas potencialidades, dificuldades e limitações. Este aprendizado pode ser compartilhado com a comunidade externa, que é o objetivo da extensão. Porém, é apenas um início, sendo importante e urgente que a direção geral, os docentes, técnico-administrativos e discentes deem continuidade a essas atividades. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 9050:2004 Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR ISSO/CIE 8995:1 2013. Iluminação de ambientes de trabalho. Parte 1: Interior. Rio de Janeiro: ABNT, 2013. BARROS, A. J. P. Projeto de pesquisa: propostas metodológicas. 20 ed. Petrópolis: Vozes, 2010. BRASIL. Ministério da Educação. Portaria n° 3.284, de 7 de novembro de 2003. Dispõe

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sobre requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências, para instruir os processos de autorização e de reconhecimento de cursos, e de credenciamento de instituições. Disponível em: <http://portal.mec.gov. br/seesp/arquivos/pdf/port3284.pdf> Acesso em: 31 mar. 2011. BRASIL. Decreto n° 5.296, de 2 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm>. Acesso em: 6 ago. 2014. BRASIL. Decreto 5.773, de 09 de maio de 2006. Dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação, superior e cursos superiores de graduação e sequenciais no sistema federal de ensino. Brasília, DF, 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2004-2006/2006/Decreto/D5773.htm>. Acesso em: 25 jan. 2014. BRASIL. Decreto n° 7.612, de 17 de novembro de 2011. Institui o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Plano Viver sem Limites. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20112014/2011/Decreto/D7612.htm>. Acesso em: 6 de ago. 2014. GUERREIRO, Elaine Maria Bessa Rebello. Avaliação da satisfação do aluno com deficiência no ensino superior: estudo de caso da UFSCar. 2011. 229f. Tese (Doutorado em Educação Especial) - Centro de Educação e Ciências Humanas, Programa de Pós-GraduaVol.1 | Nº1 | Abr. 2015


ção em Educação Especial / Universidade Federal de São Carlos – PPGEEs/UFSCar, São Carlos-SP, 2011. NEGRÃO, F. C., CASTRO, V.O, GUERREIRO, E. M. B. R. Análise Bibliométrica da Produção Científica sobre Biblioteca Acessível. In: JORNADA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 12., 2014, Marília. Anais ... Marília: FUNDEPE, 2014, v.12. p. 01-12, 2014. NUNES DE MELO, M. S. V. De Escola de Aprendizes Artífices a Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas: cem anos de história. Manaus-AM: MEC, 2009.

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