Ano 9 | #09 | 2014.1
50 anos do
golpe página 11
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Revista Inbox | Centro Universitário Metodista IPA
Crack: a droga que devasta a sociedade brasileira
O Brasil acordou. Mas parou para pensar?
Foto: Félix Zucco
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IPA - INSTITUTO PORTO ALEGRE DA IGREJA METODISTA
INSTITUC IONA L
Editorial
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Revista Inbox é fruto do trabalho desenvolvido pelos alunos das disciplinas Projeto Experimental II e Planejamento e Produção Gráfica e Editorial II, do 2º semestre do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista, do IPA. Durante quatro meses, conforme as propostas das disciplinas, os estudantes tiveram de pensar em como seria a revista, a que público se destinaria, as pautas, entre tantos outros aspectos necessários para a viabilização do projeto. A partir das inúmeras tomadas de decisão a que foram expostos, passaram a produzir, redigir e diagramar as matérias e reportagens elencadas para fazer parte da primeira edição desta publicação. O resultado pode ser conferido nas páginas a seguir. Em 50 Anos do Golpe, Filipe Chagas, Mariane Soares e Rafael Brito falam sobre esse fato histórico. Na matéria especial, os legados da Copa de 2014 são abordados em Gigante pela própria natureza?, de Carol
Vanzella, Laura Blessmann e Tatiane Moura, e O gigante acordou. Mas parou para pensar?, de Wendell Ferreira e Taffarel Marinho. Na editoria Mundo, Lucas Marsiglia e João Vicente Linck falam sobre O conflito na Crimeia. Everton Calbar Júnior e Roberto Nunes analisam, na editoria de economia, o Boom Imobiliário. A difícil recuperação dos dependentes de crack é o tema de A droga que devasta a sociedade, de Cindy Calistro e Suellen Santos. Luigi Bitencourt e Graziella Silva destacam a qualidade de vida, em especial da 3ª idade, em Acessibilidade acima de tudo. Na editoria de esporte, Álvaro Oliveira e Willian Baldon abordam A história de um esporte que cresce cada vez mais no Brasil: o stand up paddle. Em As Manifestações culturais de rua, Roberto Salatino e Rubem Rocha Leal destacam o trabalho de artistas que têm como palco as vias públicas. Boa leitura!
Letícia Carlan Maria Lúcia Melão Porto Alegre, julho de 2014
Conselho Superior de Administração - Consad presidente
Stanley da Silva Moraes vice-presidente
Nelson Custódio Fér secretário
Nelson Custódio Fér vogais
Paulo Roberto Lima Bruhn, Augusto Campos de Rezende, Aureo Lidio Moreira Ribeiro, Kátia Santos, Marcos Sptizer, Ademir Aires Clavel e Oscar Francisco Alves suplentes
Regina Magna Araujo e Valdecir Barreros diretor superintendente do cogeime
Wilson Zuccherato
Centro Universitário Metodista IPA reitor
Roberto Pontes da Fonseca Revista elaborada pelos estudantes do 2º semestre do curso de Jornalismo IPA coordenador de curso
Fábio Berti professsores(as)
Sumário
Letícia Carlan Maria Lúcia Melão diagramação
POLÍTICA | 50 anos do golpe .................................................................................................................................................. 3
Turma do 2º semestre noturno do curso de Jornalismo IPA
pela própria natureza? ..................................................... 6 MATÉRIA ESPECIAL | Gigante
revisão
MATÉRIA ESPECIAL | O Brasil acordou. Mas parou para pensar? ............. 7 MUNDO | Conflito na Crimeia ................................................................................................................................................. 8
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imobiliário ....................................................................................................................................... 10 ECONOMIA | Boom
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Letícia Carlan Maria Lúcia Melão criação de capa
Carlos Tiburski AJor - Agência Experimental de Jornalismo IPA supervisora da ajor
Profa. Lisete Ghiggi
a droga que devasta a sociedade brasileira ........... 11 EDUCAÇÃO | Crack:
arte-final
acima de tudo ................................................. 12 QUALIDADE DE VIDA | Acessibilidade
contato
ESPORTE | A história de um esporte que cresce cada
vez mais no Brasil: o stand up paddle .................................................................. 13
palco, outra rua ........................................................................................................................... 14 CULTURA | Outro
Carlos Tiburski Rua Dr. Lauro de Oliveira, 71 - Rio Branco - POA/RS 51 3316.1269 | ajor@metodistadosul.edu.br impressão
Gráfica Odisséia (1.000 exemplares) Esta revista foi impressa em papel Reciclato como parte do programa de consumo consciente dos recursos naturais e colabora, assim, com a redução dos danos ambientais.
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POLÍTICA
anos do
golpe Cercear a liberdade do Brasil
Em 2014, completa-se mais um ano de um episódio determinante da história recente do país. Mesmo passados 50 anos do fato, muitas informações e documentos são descobertos e o registro desse episódio continua a ser escrito. Há uma ampla discussão sobre quem orquestrou e motivou o golpe: apenas um golpe militar, golpe civil-militar, empresarial-militar, mídia-militar, entre outros. É bem verdade que todos os historiadores não excluem a sociedade, mas há uma indefinição sobre o tamanho de sua participação. O que não se pode esconder é a contribuição efetiva de três fatores cruciais para o golpe de 64: o fator político, a perspectiva econômica e a influência da mídia.
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FILIPE CHAGAS, MARIANE SOARES RAFAEL BRITO
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POLÍTICA
Fotos: Divulgação
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João Goulart recebido em Washington por John Kennedy - Abril 1963
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ano era 1961 e João Goulart assumia como vice-presidente de Jânio Quadros. No passado político, Jango havia sido ministro do trabalho no governo de Getúlio Vargas. O político dialogava com sindicalistas e assumia compromissos com a porção trabalhadora da sociedade. As ações dele naquele governo não seriam esquecidas pelos conservadores que o depuseram posteriormente. O Congresso Nacional inicia a primeira ação contra Jango, ao tentar impedi-lo de assumir a presidência da República, como previa a Constituição, após a renúncia de Jânio. Entretanto, Jango tinha aliados. Leonel Brizola defendeu com unhas e dentes a posse do seu cunhado. O então governador do Rio Grande do Sul desencadeou a Campanha da Legalidade para defender o cumprimento da Constituição. As ações do movimento, somado ao apoio popular, fizeram com que o Congresso mudasse de posicionamento. Assim, os congressistas decidem que Jango vai assumir, mas com menos poderes. Para que isso acontecesse, mudam o regime político brasileiro, que passa a ser parlamentarista, isto é, existe um primeiro-ministro que governa de fato. João Goulart assume a presidência no dia sete de setembro de 1961 e fica como coadjuvante por dois anos, até que um plebiscito decide pelo retorno do presidencialismo, o que fez com que ele
João Goulart, durante discurso em cena do documentário O Dia que Durou 21 Anos, de Camilo Tavares
realmente comandasse o país. Em seu governo, Jango lutava pelas reformas de bases, entre elas a reforma agrária e a inclusão social dos menos favorecidos. Seu discurso inflamado a favor da classe trabalhista deixava as mais diversas camadas da sociedade, incluindo lideranças militares, preocupadas com o futuro do Brasil. Mas de onde vinha esse medo paranóico? O mundo fervia com a Guerra Fria. Os Estados Unidos (EUA) e a União Soviética (URSS) disputavam a hegemonia política mundial. Revoluções aconteciam. E com o exemplo de Cuba, em 1953, os EUA temiam uma invasão comunista no Brasil. Isso porque o presidente Jango parecia simpatizar com o movimento, pois era tolerante com as greves trabalhistas e estava promovendo reformas. Foi a partir desse temor que os americanos estreitaram relações com os militares. Além disso, a classe média começava a construir uma desconfiança quanto às ideologias do presidente. A campanha contra o governo iniciou com as propagandas anticomunistas, como filmes, folhetos e programas de rádio, que começaram a circular e que contavam com o apoio do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (IPÊN) e do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (ABAD). Tanto que, dias depois do famoso discurso do presidente no comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, no qual compareceram 200 mil pessoas, as lideranças conservadoras e católicas organizaram um movimento de oposição. A Marcha da Família com Deus pela Liberdade reuniu um grande número de pessoas e o apoio popular reacendeu as expectativas militares. Com o clima de conspiração e desconfiança instalada desde o governo anterior, Jango necessitava de prudência política, mas escolheu o caminho inverso, ao discursar na festa dos sargentos, em 1964, no Automóvel Club do Rio de Janeiro. O jornalista Flávio Tavares, no livro 1964 O Golpe, lembra fragmentos da fala de Jango, que acusava a “minoria de privilegiados” pela crise no país. Além disso, ressaltava que a democracia era necessária para a integração de brasileiros que estariam, até então, na“penúria e ignorância”, concluindo que as forças que “causaram o suicídio do grande e imortal presidente Vargas” seriam as mesmas que“se unem contra as reformas exigidas pelo povo”. Naquele momento, diversas lideran-
ças já anunciavam publicamente apoio à intervenção. Enquanto as tropas do general Olympio Mourão Filho saíam determinadas de Minas Gerais e os Estados Unidos deixavam à disposição um aparato de guerra para enviar ao Brasil, caso necessário, Jango viajava para Brasília, onde ficou sabendo que havia perdido o suporte do comandante do II Exército, general Amaury Kruel. Descobriu que só estaria em território seguro no Rio Grande do Sul, pois ainda contava com o apoio do III Exército. Viajou para Porto Alegre em 1º de abril de 1964, mesmo dia em que Auro de Moura, presidente do senado na época, declara vaga a presidência da República. Iniciava, assim, um período obscuro no país, que durou 21 anos.
A mídia sempre ao lado do mais forte
A mídia comemorou a “fuga” de Jango
Salvar o país do comunismo e garantir a democracia. Essa é a visão militar para o golpe e é nesse contexto, como forte aliada, que entra a mídia. A partir disso, procura-se explicar qual foi o seu papel no episódio e o grau de participação efetiva dos veículos de comunicação nessa cicatriz da história do Brasil. Moderadores defendem a neutralidade da mídia com um comportamento conservador e papel único de contar a história dos fatos. Em outro ponto, percebemos a participação ativa de grandes jornais em um apoio ao golpe. Diversos veículos de imprensa marcaram em seus editoriais, em 64, publicações a favor do golpe: “Salvos da comunização que ce-
Slogan criado durante o mandato Médici, explorando o que seria o sucesso econômico durante a Ditadura, com seu “Milagre Econômico“
O golpe não é uma atitude isolada dos militares. Enquanto alguns discutem e corroboram sobre a participação do governo americano, e ainda especulam sobre os motivos de um lúdico interesse comercial, o que se pode afirmar sem receios é participação de empresários e da mídia no pontapé inicial da ditadura. Entretanto, a postura favorável ao golpe, e que acreditou por longo tempo no regime militar como melhor opção, não perduraria até o fim. A maioria da imprensa reviu sua posição, percebeu que o regime havia se tornado ditatorial e que acabou cerceando a liberdade de expressão. Principalmente a partir de dezembro de 68, quando foi promulgado o Ato Inconstitucional nº 5 (AI-5), momento quando a censura, a perseguição política e a tortura atingiram o auge no Brasil.
O modelo econômico na ditadura militar Ao assumir a presidência do Brasil, em 7 de setembro de 1961, João Goulart se viu no meio de uma grande crise política e de um quadro econômico desgastado, com índices inflacionários crescentes. O desafio, então, seria a implantação de medidas energéticas para combater esses problemas. Foram realizados investimentos em programas voltados à telecomunicação, à construção de estradas, à ampliação do sistema de geração e distribuição de energia elétrica, além do incentivo a investimentos estrangeiros, sendo os Estados Unidos o maior parceiro. Apesar de todos os programas e pro-
POLÍTICA
postas para reerguer a economia, a inflação continuou crescendo, passando de 34,7%, em 1961, para 50,1%, em 1962, sendo que chegou a um índice muito alto em 1963: 78,4%. Durante esse caos da economia, acontece o Golpe de 1964. O general Humberto Castelo Branco, que assumiu a presidência da república, promove a implementação do Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), para tentar conter a inflação. Os índices começaram a cair, chegando a 19,31% em 1970. Até 1973, o crescimento econômico foi visível, com o Produto Interno Bruto, PIB, elevado. Foi um período conhecido com a Era do Milagre Econômico.
O “Milagre Econômico” e suas consequências A era do Milagre Econômico teve vida curta, pois a dívida externa começou a pesar, tornando-se a maior vilã. Para financiar o crescimento acelerado dos anos anteriores, o governo militar havia feito empréstimos no mercado internacional, fazendo com que a dívida explodisse. Em 6 anos, ela simplesmente quadruplicou - de US$ 3,7 bilhões, em 1968, passou a US$ 12,5 bilhões, em 1973. Estava instaurada uma crise econômica por conta dessa dívida, que acabou refletindo nas conquistas obtidas nos anos anteriores: o crédito farto secou e a inflação disparou, chegando perto dos 100% ao ano no final da década de 1970. Outro problema da época do Milagre Econômico foi o crescimento do êxodo rural, consequência da má distribuição de terras e também pelas oportunidades de trabalho que, aparentemente, surgiram nas grandes cidades. Só que a realidade era outra, pois não havia vaga para todos os migrantes, uma vez que os grandes beneficiados pelo milagre foram os que detinham maior poder econômico. Assim, o Milagre Econômico promoveu o aumento da desigualdade, proporcionou o crescimento do número de favelas e dos problemas de saneamento básico. No início dos anos 1980, a inflação voltou a crescer – chegou a 235,11% em 1985 - e a dívida externa atingiu US$ 100 bilhões. Foi uma época de economia desorganizada, com os preços sendo remarcados dia a dia, com o desemprego em alta, com estagnação do crescimento. O crescimento cada dia maior dos problemas econômicos no país ajudaram para o fim da Ditadura Militar.
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leremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares que os protegeram de seus inimigos. Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais”. O Globo, 2 de abril de 1964. Para alguns jornalistas e veículos, o apoio ao golpe foi uma forma de arrancar o Brasil de um atraso imenso perante os países desenvolvidos. Porém, a partir de informações documentadas, nota-se uma ativa participação da mídia na derrubada do presidente João Gourlat: “Fugiu Goulart e a democracia está sendo restaurada” O Globo, 2 de abril de 1964. Além disso, dito como potencial ditador comunista, João Goulart era associado pela mídia à palavra golpe e ações anti-jango foram ministradas com maestria. A mídia, em seu tocante, veiculou por todo território nacional seus impropérios contra o então presidente brasileiro e, após algumas semanas, obtive sucesso e o apoio da população. A deposição do presidente encontrou eco entre intelectuais, artistas e movimentos e não foi diferente na mídia. Assim, a imprensa tornou-se um dos pilares civis do golpe e apoiou a intervenção em suas editorias. Um passo fundamental para a instauração do processo ditatorial no Brasil foi uma campanha ideológica produzida pelo GOP. Formado por importantes jornalistas e publicitários, publicaram todo tipo de informação a serviço do golpe em diferentes jornais. A fim de exemplificar essa participação, René A. Dreifuss* aponta com autoridade veículos que tiveram um relacionamento com a instauração do golpe, entre outros cita: Correio do Povo, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Globo, Record, Tribuna de Imprensa. (*Tese de doutorado René A. Dreifuss defendida no Institute of Latin American Studies da University of Glasgow, na Escócia, em 1980 e publicada pela Editora Vozes sob o título “1964: A Conquista do Estado” - 7ª. edição, 2008) Em alguns casos, existe uma definição pouco debatida sobre o papel da mídia, mas muitos convergem quando apontam sua participação sempre do lado mais forte. Como uma criança que precisa ser aceita em um grupo: apoia-se em quem está ganhando, mas pode trocar de lado quando percebe que seu grupo está perdendo.
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Gigante pela própria natureza? Em ano de COPA, de obras e eleições, o LEGADO é a preocupação do BRASIL CAROLINE VANZELLA LAURA BLESSMANN TATIANE MOURA
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ma das questões mais discutidas sobre a Copa do Mundo é o legado que o evento deixa aos brasileiros. A expectativa inicial, prevista pelo Governo Federal, envolve melhorias em hospitais, transportes públicos e privados e na economia em geral. O Brasil teve sete anos para se preparar e a pergunta, desde o início, sempre foi a mesma: o que realmente fica como legado? Ao passar os olhos por hospitais das cidades–sede, o legado não aparece. As estruturas hospitalares não foram preparadas para receber os turistas, ccontinuando a falta de leitos, medicamentos e profissionais. No âmbito do transporte, público e privado, as sedes iniciaram as obras para a melhoria do trânsito - e só iniciaram. Esse é um dos maiores legados, mas boa parte das propostas não foi concluída a tempo. A Secretaria Municipal de Obras Viárias de Porto Alegre (Smov), por exemplo, anunciou que, das 14 obras previstas, apenas duas foram finalizadas para o Mundial. No entanto, todas saíram do papel, tornando a vida da população um caos e transformando a
cidade em um canteiro de obras - inacabadas. A promessa de melhoria do tráfego, assim que as mudanças estiverem prontas, deixa a população aliviada. É a visita de milhares de estrangeiros que traz o maior legado. Com base nos dados da página oficial do Governo do Estado do Paraná, a expectativa é que o Brasil receba em torno de 600 mil a 1 milhão de visitantes e cerca de 3 milhões de turistas brasileiros que viajam entre as sedes, aumentando o consumo do comércio e elevando os números da economia. Isso aconteceu - nas proporções da época - na Copa de 1950, quando Porto Alegre recebeu dois jogos do campeonato mundial, no Estádio dos Eucaliptos. Claudio Dienstmann, jornalista especialista em Copas, lembra que o evento trouxe muitos turistas para a cidade naquela época. - Se, com dois jogos na Copa de 1950 já tivemos um bom número de turistas, em 2014, com cinco jogos, a expectativa é que possamos receber um grande número de visitantes, afirma o especialista. Dienstmann
faz uma comparação entre as duas copas e enfatiza que, de parecido, só os atrasos na entrega dos estádios, que, apesar de já serem a marca desta Copa, também aconteceram em 1950. Outro ponto a destacar é a proporção entre as duas, sobre isso, o jornalista sintetiza: - A Copa de 2014 é muito maior que a primeira. Em 1950, a Copa não era nem de longe o megaevento que é hoje. O número de cidades-sede, por exemplo, foi limitado a seis: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. Em 2014, os estádios brasileiros são palco para 64 jogos, de 32 seleções, divididas em 8 grupos. Em 1950, os números eram todos menores: 22 jogos, 13 seleções, 4 grupos. A expectativa é que esse evento deixe muitas conquistas. Mas o que realmente fica é a troca de cultura entre os povos, a vivência, as diferentes visões de mundo, a troca de experiências. O jeito diferente de viver e conviver dos povos faz com que a Copa do Mundo seja fascinante. As culturas se misturam e fica para o povo brasileiro o aprendizado da valorização do país. A Copa do Mundo é a aglomeração de pessoas de diferentes tribos se unindo por uma única paixão, ver a bola rolando. Nenhum legado é maior do que as lições humanas, o aprendizado de saber conviver com o outro, resgatando a valorização da sociedade.
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ro Ca to: Fo
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As culturas se misturam e fica para o povo brasileiro o aprendizado da valorização do país”
O país ganha com o MUNDIAL, mas os VALORES poderiam ser maiores Foto: João Link/ Divulgação Internacional
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O Brasil acordou. Mas parou para pensar?
WENDELL FERREIRA TAFFAREL MARINHO
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alcula-se quantas escolas, hospitais, creches e melhorias poderiam ser tocadas com o dinheiro investido para sediar a Copa do Mundo. Mas a realização do Mundial traz uma expectativa diferente: os valores gerados por conta da realização do torneio em território brasileiro superam os gastos previstos na Matriz de Responsabilidades , o documento que lista as obras realizadas para permitir a organização da Copa. Os benefícios, a médio e a longo prazos, só não são maiores por conta da impressão ruim que os próprios brasileiros passaram do país, na visão de Rafael Freitas Barbosa, coordenador do curso de Administração de Empresas do IPA. Em vez de atingir um crescimento nos investimentos em necessidades básicas, os protestos - tardios, pois os gastos já estavam feitos - espantaram turistas e os seus dólares e euros do Brasil. - O país teria condições de fazer uma boa Copa, mas não soube fazer, politizou todas as discussões. Houve um uso populista da orga-
nização. A Copa aconteceu e os benefícios seriam a longo prazo, mas não se percebeu isso, analisa Barbosa. Pela projeção da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), serão injetados R$ 30 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, valor superior aos R$ 25,6 bilhões investidos. O número não se concentra apenas nas 12 cidades-sede. Com base na análise feita sobre a Copa das Confederações, de 2013, 58% do valor arrecadado ficaram nos municípios que receberam jogos, mas o restante acaba distribuído pelo resto do Brasil. Se tivesse sido feita uma articulação, os ganhos seriam maiores. Mas muitos turistas deixaram de vir ao Brasil, porque o país não soube vender a própria imagem. Não souberam trabalhar o envolvimento das pessoas com a Copa - completa Rafael. O custo da construção dos estádios, avaliado em R$ 8,9 bilhões, partiu de arrecadação suficiente para equilibrar as contas antes mesmo da Copa do Mundo. Na Copa das Confederações, o país teve um incremento de R$ 9,7 bilhões na economia, valor que cobre
os custos das obras nos palcos dos 64 jogos. No Rio Grande do Sul, no entanto, os números não são tão atraentes. O investimento chegou a R$ 569,9 milhões, contra um crescimento esperado em R$ 503,6 milhões no PIB estadual. São Paulo e Rio de Janeiro ficam com os maiores ganhos e as grandes oportunidades de geração de emprego. Ao Rio Grande restaram 7,5 mil oportunidades de trabalho direto e 4,9 mil indireto, muitos deles temporários e terminam junto com o apito final da última partida na cidade. O principal questionamento sobre a economia da Copa não está exatamente no que o Brasil arrecadou, mas no que deixou de embolsar. A Fifa exige do país isenção total de impostos para realizar um Mundial. Baseada na Suíça, também tem poucos compromissos tributários na Europa. Com isso, vê no lucro bruto uma liquidez que salta aos olhos. E a arrecadação prevista pela entidade chega a R$ 10 bilhões no Mundial do Brasil , muito mais do que conseguiu nos torneios passados, na Alemanha (R$ 5,07 bilhões) e África do Sul (R$ 7,93 bilhões).
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O estádio Beira-Rio recebe cinco jogos da Copa do Mundo no Brasil
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Conflito na Crimeia M UND O
Getty Images
LUCAS MARSIGLIA JOÃO VICENTE LINCK
Após a desanexação dos países da União Soviética, a região do leste europeu tem passado por diversos conflitos locais. Além de estar no “olho do furacão”, a região divide Rússia e Oriente do Ocidente e União Europeia. Um desses entraves ganhou grandes proporções e holofotes no começo deste ano: o conflito na Crimeia.
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nteresses políticos de grandes potências geraram o estopim de uma barbárie. O cenário atual começou a saltar aos olhos quando o então presidente da Ucrânia, Victor Yanukovich, recusou-se a assinar um acordo de aproximação com a União Europeia (UE), dando preferência à uma aproximação com a Rússia, pois o governo de Putin oferecera um aporte financeiro de 15 bilhões de dólares ao país, além da redução do preço do gás natural. A atitude de Yanukovich, de fortes laços com a
Rússia, provocou a ira de manifestantes pró-ocidente. Prédios públicos foram dominados e um acampamento montado no centro de Kiev, capital da Ucrânia. Uma mera amostra do que estava por vir. Mesmo com o governo ucraniano recebendo o apoio do Kremlin, que entoava um discurso de tentativa de golpe por parte dos pró-ocidentais, a retaliação não poderia ter sido pior. Em meio à tentativa de frear as manifestações, cenas de uma verdadeira batalha campal ganharam o mundo. O ápice do conflito foram os atiradores de elite atingindo civis no centro de Kiev. O saldo: cerca de 100 mortos, a fuga de Yanukovich durante a madrugada e um governo interino de inclinação com o ocidente, que rege o país desde então.
Entrave ideológico Não é de hoje que o local vive sob tensão.
Desde a independência da União Soviética, em 1991, parte da Ucrânia começou a vislumbrar uma nova direção. Os exemplos de países como Polônia e Hungria, bem como antigos estados da velha potência, contribuíram para um movimento de desapego ao Oriente e, assim, uma chance de aproximação com o Ocidente. Mas não há uma unanimidade no país quanto a essa ideia. Existe um verdadeiro cabo de guerra ideológico entre culturas que divergem, veementemente, em dois lados do país. De um lado está a parte mais jovem, que vive principalmente no oeste e de onde partiu este movimento de aproximação com a União Europeia. De outro, a parte sul e oriental, mais próxima da Rússia, onde, inclusive, o idioma predominante é o russo, não o ucraniano. Região na qual fica a Crimeia e onde qualquer morador com mais de 60 anos tem certidão de nascimento russa, fala russo, e foi criado como tal.
M UND O
Crédito infográfico: UOL
Região estratégica Não por acaso, a Crimeia está localizada na costa norte do Mar Negro e é sede de uma das mais importantes frotas da marinha Russa. A península vem sendo alvo da investida de diferentes reinos, impérios e etnias desde 700 AC. Gregos, Romanos, Bizantinos, Turcos
Otomanos e Nazistas, por algum espaço de tempo, já dominaram a pequena região. Por volta de 1954, a região foi cedida para a Ucrânia por Nikita Krushev, sucessor do ditador Stalin. Desde a desanexação dos países da União Soviética, a Rússia busca reafirmar sua influência naquela área, que poderia ficar enfraquecida com uma maior aproximação da
Ucrânia com a União Europeia. - A Rússia também deixou claro que não assistirá inerte à expansão da União Europeia para o leste e que ainda é capaz de mobilizar pessoal e força para atingir seus objetivos políticos, afirma Helena Lobato da Jornada, diplomata brasileira servindo em Viena, na Áustria.
É pouco provável que se desencadeie uma briga maior, envolvendo Rússia e Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que representaria as potências ocidentais. Segundo a diplomata Helena Lobato da Jornada, o mais provável é observarmos o aumento de movimentos nacionalistas e de ações terroristas na região. Os países estão cientes das graves consequências de embarcar em um conflito aberto e farão de tudo para defender suas posições, abstendo-se do uso con-
vencional da força. A principal mudança deve acontecer nas finanças. As tensões entre Rússia e EUA causaram impactos diversos na economia, como oscilações no mercado financeiro e nos preços de energia. Os impactos econômicos entre Rússia e UE, no entanto, podem ter consequências graves, especialmente no que tange ao mercado de combustíveis, uma vez que a Rússia é grande fornecedora de gás para os países europeus. Isso pode levar a uma busca
europeia por novas fontes energéticas e alterando a geopolítica da região. Com o referendo da Crimeia, que resultou no controle absoluto desse território por seus cidadãos. As autoridades da Crimeia estão tentando proteger a produção de petróleo e gás nos mares negros e azov, do governo da ucrânia. O parlamento da península gostaria que companhias russas do setor, como a Gazprom, explorassem os recursos naturais da região.
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Impacto na economia
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EC ONOM IA
Boom mobiliário
Roberto Nunes
EVETON CALBAR JUNIOR ROBERTO NUNES
Crise financeira norte-americana de 2008 reflete e muda o ritmo da atividade imobiliária do Brasil, com elevação dos preços.
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á seis anos, as principais economias mundiais tremiam, causando uma situação adversa que não acontecia desde a Grande Depressão, em 1929, nos Estados Unidos. Em 15 de setembro de 2008, veio a falência do tradicional banco de investimentos Lehman Brothers, através da recusa do Federal Reserve (Fed, Banco Central Americano) em socorrer a instituição. O impacto causado pela falência do banco foi grande. Houve um congelamento radical de liquidez no mercado bancário mundial, uma vez que a inadimplência dos empréstimos imobiliários Ninja (crédito concedido a pessoas que não podem comprovar a renda, nem o emprego e nem a propriedade de ativos) já vinha ocorrendo antes do evento do Lehman, e acabou refletindo no público que recebeu subprime (crédito de risco) de forma abundante. O resultado foi a perda dos imóveis adquiridos por essas pessoas, pois não possuíam recursos para quitar as suas dívidas. Uma explosão global é como pode ser descrito o colapso da bolha especulativa do mercado imobiliário americano. A crise, como uma epidemia, se espelhou pelo mundo em poucos meses. O impacto sofrido pelos países desenvolvidos foi grande, principalmente no que diz respeito à produção industrial, que teve uma perda significativa, apresentando, em alguns casos, uma queda de dez pontos base (0,10 pontos percentuais) em relação ao último trimestre de 2007.
Aumento de preco dos imóveis impulsionou as construtoras a explorarem o mercado imobiliário
Os países em desenvolvimento, que não possuíam problemas em seus sistemas financeiros, como no caso do Brasil, também não ficaram imunes à crise. Registraram uma forte queda na sua produção industrial e no Produto Interno Bruto (PIB). Com o impacto que a crise causou, os preços dos imóveis no Brasil acabaram subindo de forma acentuada. Alguns analistas econômicos chegaram a decretar que o país seguiria o mesmo caminho dos norte-americanos em questão de pouco tempo. Uma pesquisa realizada pelo índice FipeZAP registrou que os imóveis mais que dobraram os preços no Rio de Janeiro e em São Paulo nos últimos seis anos, conseguindo uma estabilização nos preços somente no início de 2014. Com exceção apenas do caso peculiar do Rio de Janeiro (Copa do Mundo, Olimpíadas), não há evidências que apontem para uma queda acentuada futura do preço dos imóveis
no Brasil. Aliás, o que já está ocorrendo em São Paulo e Porto Alegre, por exemplo, é uma estabilização de preços, afirma Antônio Ernani Lima, superintendente de planejamento do Badesul e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, de fato, foi uma das cidades onde os preços dos imóveis mais oscilaram durante o período de alta e instabilidade, até atingir uma estabilização. Tanto é que um estudo feito pelo índice FipeZap, em abril, mostrou que houve uma queda no valor do m² dos imóveis na capital gaúcha. A cidade registrou, inclusive, o maior baque na Região Sul do país, com um índice de -1,35%. - O impulso inicial dado pelo crédito imobiliário e pelo aumento da renda perdeu força e deu lugar à preponderância da demanda normal e vegetativa de novos imóveis residenciais, de acordo com o crescimento da população, explica Antônio Lima.
CINDY CALISTRO SUELLEN SANTOS
Uma epidemia que assola a sociedade e, diariamente, ataca todas as classes sociais vem gerando um impacto incomum às famílias brasileiras. O crack tem conquistado, cada vez mais, usuários, que, segundo pesquisa da FioCruz de 2013, chegam a cerca de 370 mil nas capitais brasileiras.
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Crack: a droga que devasta a sociedade brasileira
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Reunião Amor Exigente, realizada pela Pacto, às terças-feiras, na Igreja Sagrada Família, em Porto Alegre
a largar o vício, como incentivar o consumo. - Eu via meu tio usando a droga e resolvi experimentar, pois já havia usado álcool, maconha, lança-perfume, cocaína e tantas outras drogas, mas não estavam mais fazendo efeito e o crack tem efeito imediato, explica L.N., 22 anos.
Procurando saída Muitos usuários procuram ajuda para largar o vício. Foi por conta dessa demanda que surgiram locais especializadas em tratar viciados. Um exemplo é a Pacto, uma instituição que luta para reabilitar os usuários de crack. Além de sua sede em Porto Alegre, tem um Centro de Tratamento, em Viamão, chamado Fazenda Senhor Jesus. Lá, os internos ficam durante 9 meses. Procurar o tratamento, no entanto, nem sempre é a solução imediata para dependentes químicos, pois acham que conseguem largar o vício sozinhos. Só resolvem buscar ajuda quando percebem que não têm mais nada a perder. - Com 17 anos eu larguei os estudos, perdi meu emprego, minha família e fui morar na
rua. Eu não me via morando na rua e resolvi aceitar o tratamento, conta L.N., 22 anos. - Fui usuário de drogas, em geral, por 22 anos e 7 deles apenas usei crack. E eu me vi obrigado a largar, porque a droga destruiu minha vida, inclusive, cheguei a morar na rua. Além disso, cumpri pena por assalto a mão armada, desabafa Cléber da Silva, coordenador da Fazenda bSenhor Jesus. No período de tratamento é preciso também pensar na família. É por isso que a Pacto, por exemplo, promove encontros semanais com pessoas ligadas ao dependente. São reuniões chamadas de Amor Exigente, onde familiares têm contato com internos da Fazenda. - Devemos recuperar o usuário junto com a família, que, muitas vezes, facilita a compra da droga, comenta Tupi Brown da Silva, coordenador dessas reuniões. Mesmo com todo o acompanhamento e reuniões, a recuperação não é fácil. Segundo Tupi, apenas entre 5% e 10% dos dependentes conseguem se recuperar completamente do vício. O mais comum, explica ele, é que haja recaídas, voltando várias vezes à instituição em busca de ajuda.
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efinido como uma droga de alta concentração e toxidade, o crack é uma mistura de cocaína, bicarbonato de sódio e outras substâncias perigosas à saúde humana. Seu aspecto é em forma de cristais de coloração branca e, para o consumo, normalmente, é utilizada uma espécie de cachimbo improvisado. O principal foco da droga são as classes de baixa renda, mas, devido ao rápido efeito alucinógeno após o consumo e ao baixo preço, tem se tornado a droga preferida de usuários de qualquer condição financeira. Para quem consome crack, qualquer situação é um pretexto para usar a droga, que provoca apenas uma sensação momentânea. - Quando eu tinha dinheiro, quando eu estava frustrado, em todas as situações, pois a droga é ilusória com o prazer que ela causa, diz L.N., 22 anos, usuário de crack por 5 anos. L.O., de 28 anos, tem uma história um pouco diferente. Além de ser dependente, também foi traficante. - Eu era traficante e, um dia, resolvi experimentar por curiosidade. Depois, passei a vender e a consumir o produto junto com meu irmão. Não tendo mais lucros, passei a roubar carros e me envolver em roubos menores para manter o vício, relembra. A necessidade de consumir faz com que o dependente encontre desculpas para buscar a droga. - Muitas vezes, eu inventava desculpas para poder ir atrás da droga, como que a comida estava salgada. Assim eu brigava em casa e saía para me drogar na esquina da minha casa, explica L.O., 28 anos. A família também pode ter um papel importante no processo. Tanto pode ajudar
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QUA LIDA D E D E VIDA
Acessibilidade acima de tudo Graziella Silva
LUIGI BITENCOURT GRAZIELLA SILVA
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nvelhecer é um processo natural, indiscutível e inevitável para qualquer ser humano. Nessa fase, ocorrem mudanças biológicas, fisiológicas, psicológicas, psicossociais e econômicas. Todas essas alterações na vida de uma pessoa exigem adaptações no entorno e na vida de cada uma. Todos os elementos adotados para isso resultam no bem-estar do idoso, que ganha, através da elaboração e/ou concretização de projetos de acessibilidade e também do desenvolvimento de produtos especiais, um aumento da autoestima e, consequentemente, na melhoria da qualidade de vida. Atualmente, existem produtos especiais de acessibilidade que ajudam os idosos a terem maior autonomia, como andadores, muletas, almofadas com gel. Há também uma grande variedade de equipamentos para adaptações residenciais que garantem a segurança nessa fase da vida.
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Deslocamento com ajuda
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Vera Regina mora no Asilo Padre Cacique há dois anos. A mudança para o local aconteceu depois de ter sofrido dois AVCs (Acidente Vascular Cerebral), aos 63 anos, e de quebrar a bacia logo depois. A escolha ocorreu porque o Asilo é equipado com tudo que precisa, como cadeira de rodas, muletas, barras de apoio, rampas, entre outros equipamentos, que a ajudam a se deslocar pelo prédio e, assim, conquistar certa independência, que não é total, porque ainda sente dificuldade em se deslocar fora do Asilo. - Sair sem o andador é quase impossível, pois o piso é muito irregular e, às vezes, quase caio, afirma Vera, que hoje tem 68 anos. Vera ainda não conseguiu comprar o andador, porque esbarra em um problema sério: a falta de recursos. Acontece que os equipamentos especiais que ajudam na autonomia e independência são caros. Os andadores, por exemplo, custam, em média, R$ 300,00 e as barras de apoio, que têm vários tamanhos, variam entre R$ 90,00 e R$ 350,00.
Dicas de profissionais Mas não são apenas os equipamentos que podem ajudar os idosos. O geriatra Irajá Carneiro Heckmann diz que gestos simples
As muletas ajudam Vera Regina a ter mais autonomia e liberdade de locomoção
podem dar um pouco mais de segurança aos idosos, especialmente dentro das residências. - A questão de tirar os tapetes é fundamental. Casas com muito objetos decorativos acabam atrapalhando a circulação. Às vezes, os idosos não pensam nessas questões que são tão práticas, como, por exemplo, tirar as mesinhas de centro que são bonitinhas, mas atrapalham na circulação do idoso, completa o geriatra. A adaptação das casas também é uma medida que ajuda, e muito, a vida dos idosos, conforme destaca a arquiteta Daniela Giffoni, - É importante, quando comprar um apartamento na planta, já ver as possiveis mudanças que podem ser feitas antes, já ver as mudanças que serão possíveis ser feitas antes da entrega do imóvel, já tentando ter um diálogo com a construtora pra ver se eles podem alargar as portas, fazer uma altura de pia mais baixa, um vaso que seja mais alto, espaço para colocar as barras de segurança,
porque, às vezes não tem onde colocar estas barras e a maior parte de acidentes domésticos ocorre no trajeto mais perigoso, que é do quarto para o banheiro, conclui Daniela. Através dos métodos de acessibilidade, a qualidade de vida dos idosos vem melhorando, deixando-os com uma certa independência. Cada vez mais estão sendo feitos investimentos na área de equipamentos que facilitam a vida dos idosos, além de já existir uma preocupação quanto a construções adaptadas, de acordo com as necessidades das pessoas que hoje estão com 60 anos ou mais de idade. E essa preocupação deve crescer daqui para frente, uma vez que, de acordo com a Un Population Fund, uma organização dos Estados Unidos que pesquisa dados sobre população, em todo o mundo existirão, até 2050, 2 bilhões de idosos, o que significa que o planeta terá muito mais pessoas da terceira idade do que jovens.
o stand up paddle Um dos grandes nomes do SUP brasileiro é Luís Saraiva, campeão brasileiro e gaúcho na modalidade Wave, (surfe em ondas). Saraiva é natural de Passos de Torres, no Rio Grande do Sul, e descobriu o esporte em uma viagem ao Taiti, em 2008. - Comecei no esporte graças ao Rodrigo Koxa, que me apresentou o stand up paddle, no Taiti. Acabeigostando e praticando direto, não parando mais, diz Saraiva.
Álvaro Oliveira
ESPORTE
A história de um esporte que cresce cada vez mais no Brasil:
ÁLVARO OLIVEIRA WILLIAN BALDON
Nos anos 1960, no Havaí, instrutores de surfe remavam em pé sobre enormes pranchas de madeira para acompanhar seus alunos durante as aulas. Esse foi o início de um novo esporte, o stand up paddle. Mas os adeptos do SUP, como é chamado pelos praticantes, acreditam que ele é muito mais que um esporte: é um estilo de vida a ser seguido. É uma mistura de lazer com qualidade de vida e, principalmente, uma maneira de estar em contato com a natureza. E não importa a estação do ano, basta ter vontade e os equipamentos adequados. o Brasil, o SUP chegou em meados de 2005 e invadiu grande parte das praias do litoral, como uma big rider (onda gigante). Segundo a Confederação Brasileira de Stand Up Paddle (CBSUP), por aqui já existem mais de 14 mil praticantes, sendo São Paulo o estado com o maior número de adeptos, aproximadamente 6 mil. No Rio Grande do Sul, já passa dos 2,5 mil. As estimativas apontam que até o verão de 2015 mais de 30 mil pessoas terão o seu primeiro contato com as pranchas do stand up paddle. - É muito acessível para quem quer praticar. Seja nos litorais, lagos ou até mesmo lagoas, sempre tem professores que alugam pranchas com preço acessível, por isso é uma atividade esportiva que cresce cada vez mais no país. Crianças, adultos, idosos, homens e mulheres, o esporte é para todos, sem limitações de idade ou gênero, afirma Maurício Molina, fisioterapeuta e praticante do stand up paddle há cinco anos.
A particularidade do stand up é que também pode ser praticado em locais de água parada ou lisas, como rios, lagos, lagoas e lagunas. Tudo depende do que o praticante procura, a tranquilidade de um passeio sereno ou a adrenalina de pegar uma onda, assim como o surf tradicional. Mas prepare o bolso! Se você tem o interesse em praticar essa modalidade, um equipamento completo (prancha e remo) custa de R$ 3 mil a R$ 7 mil. Porém, já é possível encontrar equipamentos usados com valores inferiores. Por isso, antes de investir alto em equipamento, é importante experimentar o esporte. Isso também vai facilitar, mais tarde, na escolha daquele ideal para o que pretende com o esporte.
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Roberto Salatino
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Outro palco: manifestações culturais voltam às raízes
ROBERTO SALATINO RUBENS LEAL
Na vanguarda de manifestações culturais urbanas, surgiu, em Porto Alegre, no final de década de 70, um grupo de teatro criativo e engajado: Ói Nóis Aqui Traveiz. Mesmo durante o regime militar que assolou o país por duas décadas, desenvolveu uma estética subversiva e contestadora.
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espetáculo Teatro Com Pedra nas Veias, apresentado pela primeira vez em 31 de março de 1978, data de aniversário do golpe militar, tornou o Ói Nóis conhecido na cidade e também chamou a atenção dos militares, que interditaram o local das performances. Foi o início de um período difícil para o grupo, que passou por dificuldades financeiras e enfrentou problemas com a repressão, com diversos atores presos. Nada disso fez com que desistissem da ideia de trabalhar na criação de peças, sempre de forma coletiva. Surgia a Tribo de Atuadores, que abraçava o pensamento de uma sociedade mais tolerante. Em meados da década oitenta, o Ói Nóis inicia uma nova etapa. Deixa a sede da Ramiro
Barcelos e vai para a Cidade Baixa, onde abre o espaço cultural Terreira da Tribo. Também começa a atuar nas ruas da capital gaúcha, promovendo um contato direto entre os atores e os espectadores, não existindo a distância proporcionada pelo palco. A peça O Amargo Santo da Purificação, que conta a história de vida de Carlos Marighella, assassinado pelo regime militar, é um exemplo dessa proposta de trabalho. Paulo Flores, um dos fundadores do grupo e que ainda hoje está à frente da Tribo de Atuadores, acredita que o teatro de rua é uma forma de utilizar a arte como instrumento de inserção social. - O que hoje a gente chama de teatro de vivência, o espectador não assiste, ele vivencia a encenação, aguçando todos os sentidos. Pra nós isso é um teatro que gera uma ação reflexiva, ressalta Paulo Flores.
Outra arte A rua também é palco para músicos de todos os gêneros. Um dos ícones do cenário do rock gaúcho, a produtora Cida Pimentel, é responsável pelo Conjunto Bluegrass Porto-alegrense, que há cinco anos se apresenta
pelas ruas da Capital. Para ela, entre os grandes baratos de um show apresentado ao ar livre está o contato direto com o público. O nome do conjunto – Bluegrass – vem da música tradicional de uma região muito pobre do sudeste dos Estados Unidos. Esse gênero musical tradicional seria apenas para especialistas escutarem e poucos teriam oportunidade de ter contato com o seguimento. Porém, quando a banda se expõe para qualquer um que passa pela rua, as barreiras sociais e culturais deixam de existir. A partir do momento em que proporciona o acesso fácil à cultura, o artista de rua desempenha um importante papel de inclusão. Além disso, as apresentações que a banda faz abrem a possibilidade de venda do trabalho do grupo. - Tu não imagina a quantidade de moeda de mendigo que eu já ganhei. A quantidade de papeleiro que está ali ouvindo a música e, daqui a pouco, dá um real. Tu leva a arte para quem não tem a possibilidade de entrar em um teatro. Na rua todo mundo pode ver, comenta Cida Pimentel, que literalmente passa o chapéu durante as apresentações da banda.