Edição 39 - 2016

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ISSN 1809-0915

Teresina-PI | Edição nº 39 | Ano XII | Outubro 2015

Publicação Científica da FAPEPI

ANIMAIS SILVESTRES

ENTREVISTA

NUGRAPPI

Estudo de carcaças produz novas descobertas

Marcia Chame fala sobre o aplicativo SISS-Geo

Núcleo de pesquisa piauiense tem gravuras expostas na Itália


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SAPIÊNCIA 38 Publicação Científica da FAPEPI


REALIZAÇÃO FAPEPI

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m 2015, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi) lançou cinco editais de apoio à produção científica de pesquisadores e qualificação profissional para professores efetivos das instituições públicas de ensino superior do estado.

EDITAL FAPEPI Nº 001 / 2015 PROGRAMA DE BOLSAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DA FAPEPI Tem o objetivo de conceder bolsas de mestrado e de doutorado aos docentes do quadro efetivo da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), vinculados aos programas de pós-graduação stricto sensu fora do estado do Piauí, visando contribuir com a qualificação do quadro docente da referida IES. Os recursos são oriundos do Tesouro Estadual, no valor mensal de R$ 20.600,00 (vinte mil e seiscentos reais), distribuídos para oito bolsas de doutorado e duas bolsas de mestrado.

EDITAL FAPEPI Nº 002 / 2015 PROGRAMA DE AUXÍLIO À PARTICIPAÇÃO EM EVENTO CIENTÍFICO Tem o objetivo de apoiar pesquisadores com vínculo em instituições de ensino e/ou pesquisa do Piauí ou servidores públicos efetivos graduados em qualquer área, através da concessão de auxílio financeiro, para a apresentação de trabalho científico em eventos científicos realizados em outros estados da Federação ou no exterior. Os recursos são oriundos do Tesouro Estadual no valor global de R$ 100.000,00 (cem mil reais) e serão concedidos conforme a proposta: R$ 3.000,00 (três mil reais) para participação em evento internacional realizado fora do Brasil e R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) para evento nacional ou internacional realizado no território nacional.

EDITAL FAPEPI Nº 003 / 2015 PROGRAMA DE AUXÍLIO PARA ORGANIZAÇÃO DE REUNIÃO CIENTÍFICA Tem o objetivo de apoiar parcialmente a organização de evento científico, tecnológico e de inovação a serem realizados exclusivamente no estado do Piauí, como congressos, workshops e outros eventos similares que contribuam para o intercâmbio do conhecimento científico, tecnológico e de inovação, produzido por pesquisadores do estado. O valor estimado para financiar as propostas é de R$ 100.00,00 (cem mil reais) oriundos do Tesouro Estadual, sendo que, cada proposta aprovada receberá até R$ 10.000,00 (dez mil reais) para eventos de caráter internacional e até R$ 6.000,00 (seis mil reais) para eventos de caráter estadual ou nacional.

EDITAL FAPEPI Nº 004 / 2015 PROGRAMA DE AUXÍLIO PARA PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA Tem o objetivo de financiar parcialmente ou totalmente publicação de artigo científico em periódicos ou de livros que exponham resultados originais de pesquisa científica realizada por pesquisador de instituições, sem fins lucrativos, sediadas no estado do Piauí ou servidor público efetivo que possua graduação em nível superior. O valor estimado dos recursos é de R$ 100.00,00 (cem mil reais) oriundos do Tesouro Estadual, sendo até R$ 1.000,00 (mil reais) para artigos científicos e até R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para livros.

EDITAL FAPEPI Nº 005 / 2015 ACORDO CAPES / FAPEPI PROGRAMA DE BOLSAS DE DOUTORADO E AUXÍLIO PARA DOCENTES DE INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ Tem o objetivo de conceder bolsas de formação de doutorado no país e auxílio deslocamento a docentes efetivos das instituições públicas de ensino superior, sediadas no estado do Piauí, por meio do Programa de Doutorado para Docentes, visando contribuir para formação de grupos de pesquisa em áreas prioritárias, consolidar grupos já existentes, estimular a cooperação acadêmica e criar novos programas de pós-graduação. Os recursos são da ordem de R$ 125.600,00 (cento e vinte e cinco mil seiscentos reais), conforme previsto no Planto de Trabalho do Termo de Acordo para Cooperação Técnica e Acadêmica firmado entre a Fapepi e a CAPES, e serão liberados conforme a disponibilidade orçamentária e financeira dos agentes envolvidos.

EDITALFAPEPI Nº 06/2015 PROGRAMA DE FOMENTO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO, TECNOLÓGICO E INOVAÇÃO ESTADO DO PIAUÍ Tem o objetivo de propiciar o fortalecimento de Sistemas Locais de Inovação, dos grupos de pesquisa e dos programas de pós-graduação (mestrado e doutorado) do Piauí; incentivar a criação de laboratório de inovação e parques tecnológicos; e fomentar linhas de pesquisa com foco nas áreas estratégicas de interesse do Governo do Estado através da concessão de auxílios financeiros destinados à pesquisa científica, tecnológica e de inovação, cujo resultado apresente potencial de aplicabilidade no desenvolvimento científico, tecnológico e socioeconômico do estado do Piauí. Os recursos são oriundos do Tesouro Estadual no valor global de R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) a serem aplicados prioritariamente em pesquisas com foco nas subáreas estratégicas de interesse do estado. A faixa A tem valor total de R$ 140.000,00 (cento e quarenta mil reais) destinado a propostas de pesquisadores doutores com valor máximo de R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais) respeitando a proporcionalidade de 60% para custeio e 40% para capital. A faixa B tem valor total de R$ 100.000,00 (cem mil reais) destinado a propostas de pesquisadores mestres com valor máximo de R$ 25.000,00 (vinte mil reais) respeitando a proporcionalidade de 60% para SAPIÊNCIA 38 Publicação Científica da FAPEPI custeio e 40% para capital.

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José Wellington Barroso de Araújo Dias Governador do estado do Piauí Margarete de Castro Coelho Vice-Governadora do estado do Piauí Francisco Guedes Alcoforado Filho Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí - Fapepi Albemerc Moura de Moraes Diretor Técnico-Científico da Fapepi Wellington Carvalho Camarço Diretor Administrativo-Financeiro da Fapepi

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Entrevista: Pesquisadora Marcia Chame fala sobre SISS-Geo, aplicativo de monitoramento da saúde silvestre

Foto: Arquivo Pessoal

EXPEDIENTE

CONSELHO EDITORIAL Acácio Salvador Véras e Silva Adalberto Socorro da Silva Albemerc Moura de Moraes Ana Regina Barros Rêgo Leal Edvaldo Sagrilo Evaldo Hipólito Francisco Guedes Alcoforado Filho Francisco Marcelino Almeida de Araújo João Batista Lopes José Milton Elias de Matos Lívio César Cunha Nunes Orlando Maurício de Carvalho Berti Raimundo Isídio de Sousa Regis Bernardo Brandim Gomes COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO: Michelly Samia EDITORA-CHEFE: Afonso Rodrigues – MTB 2054/PI REDAÇÃO: Afonso Rodrigues Allan Campêlo (Estagiário) Mário David Melo Vanessa Soromo FOTOS: Afonso Rodrigues Allan Campelo Francisco Leal Vanessa Soromo REVISÃO DOS TEXTOS: Antônio Aílton Ferreira de Cerqueira PUBLICIDADE: Patrícia Carvalho CAPA: Gualberto de Sousa DIAGRAMAÇÃO: Luiz Carlos IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Gráfica Realce TIRAGEM: 10 mil exemplares Publicação Trimestral

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Coleção de História Natural da UFPI/Floriano abriga aproximadamente dez mil espécimes de variadas espécies

Foto: Vanessa Soromo

Nº 39 Ano XII / Outubro de 2015 ISSN – 1809-0915


Sumário

Foto: Arquivo/Teresina Hacker Foto: Allan Campelo

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Dossiê: Inovação no Piauí

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“Palavra-chave – mobilidade urbana”

UFPI e Ibama-PI realizam parceria para aproveitamento de animais silvestres vítimas do tráfico

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Conheça o núcleo de pesquisa em gravura do Piauí

E mais... Realização Fapepi, artigos, teses e dicas de livros.

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Pense fora da caixa!

Editorial

Desde 2010, o dia 19 de outubro marca não só o Dia do Piauí, mas também o Dia da Inovação, assim definido pela Lei nº 12.193. Nós, da Sapiência, aproveitamos a oportunidade para relacionar as duas datas e mostrar que o Piauí vive um momento único e, como alguns entrevistados enfatizaram, sem volta. Iniciativas do poder público, da academia e do setor produtivo mostram que começa a surgir aqui um ecossistema de inovação próprio. Nesse sentido, a Fapepi lançou, neste ano, o Programa de Fomento ao Desenvolvimento Científico, Tecnológico e Inovação do Estado do Piauí, com o intuito de fomentar a inovação no estado e fortalecer os sistemas locais de inovação. Precisamos desmistificar a inovação. Não é um bicho de sete cabeças ou exclusividade de grandes empresas tecnológicas, mas acessível a todos. Temos que disseminar a cultura da inovação, mostrando que o pensamento inovador é, na verdade, um fator de sobrevivência e, também, de transformação social. Pensando nisso, o nosso dossiê traz alguns dos atores que estão promovendo a inovação no estado nos mais diversos campos. Das universidades, com os núcleos de inovação tecnológica e as incubadoras, ao setor produtivo, com as startups e aceleradoras, passando pelas escolas, com o projeto de robótica, pela comunidade hacker, com o desenvolvimento de uma prótese em impressora 3D, até chegar ao campo, com as inovações voltadas para a produção rural, o Piauí vai, aos poucos, inserindo-se no mapa da inovação. Ainda destacando inovação, a entrevista desta edição é com a professora doutora Marcia Chame, pesquisadora da área de biodiversidade da Fiocruz do Rio de Janeiro que escolheu o Piauí, mais precisamente a região do Parque Nacional da Serra da Capivara, para desenvolver seus estudos. A professora coordena o Programa Biodiversidade e Saúde, responsável pelo desenvolvimento de um aplicativo de monitoramento da saúde da fauna silvestre, contribuindo para a conservação da biodiversidade. Nas nossas matérias, convidamos você para uma viagem para a Coleção de História Natural da UFPI em Floriano. Temos também uma matéria sobre o Núcleo de Gravuras e Pesquisa do Piauí, do Departamento de Artes Visuais da UFPI e, ainda, uma reportagem sobre um projeto que estuda a morfologia de animais silvestres do Meio Norte do Brasil, além, é claro, dos artigos de divulgação científica, resumos de teses e livros. E tem estreia na Sapiência. Buscando aproximar mais ainda a academia da sociedade, criamos a seção “Palavra-chave”. A cada revista, um assunto que pauta as nossas conversas diárias ganha o olhar e a contribuição de pesquisadores. Nesta edição, o tema é mobilidade. Boa leitura! Afonso Rodrigues Editor-chefe

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Fapepi PI @Fapepi_pi fapepi pi Fapepi.pi Fapepi-pi

AO LEITOR Para críticas, sugestões e contato: sapiencia@fapepi.pi.gov.br www.fapepi.pi.gov.br Av. Odilon Araújo, 372, Piçarra Teresina-PI • CEP 64017-280 Fone: (86) 3216-6090 Fax: (86) 3216-6092


Colaboração Afonso Rodrigues

“Somos criativos o suficiente para responder às nossas necessidades” Pesquisadora da Fiocruz fala sobre SISS-Geo, um aplicativo de monitoramento da saúde silvestre e ressalta a importância de iniciativas inovadoras para o progresso dos estudos científicos no país Foto: Arquivo Pessoal

Marcia Chame Doutora em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pesquisadora colaboradora da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), atualmente Marcia Chame coordena o Centro de Informação em Saúde Silvestre da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A pesquisadora também está à frente do Programa Biodiversidade e Saúde, responsável pelo desenvolvimento do Sistema de Informação em Saúde Silvestre (SISS-Geo), um aplicativo que nasceu com um objetivo nobre: monitorar a saúde da fauna silvestre em prol da conservação da biodiversidade e da saúde humana. Nesta entrevista à Sapiência, realizada por e-mail, Marcia Chame discorre sobre o SISS-Geo e aponta os motivos do seu encantamento pelo Parque Nacional Serra da Capivara, localizado no município de São Raimundo Nonato, Piauí.

Desde a década de 80, o Piauí, mais precisamente o Parque Nacional Serra da Capivara, vem sendo um dos seus objetos de estudo. Que motivos atraíram seu interesse para pesquisar essa região do Estado. O que me encanta na Serra da Capivara, na Caatinga, no sertão e no Piauí, além de toda a beleza natural, os animais e de sua magnífica pré-história, é a possiblidade de extrair

da ciência conhecimento que possa ser aplicado à solução de problemas reais. Soluções criativas, de baixo custo, que agreguem o conhecimento local e que possam ser replicadas. A senhora coordena o Programa de Biodiversidade e Saúde da Fiocruz, que, em parceria com o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), desenvolveu o

Sistema de Informação em Saúde Silvestre (Siss-Geo). Qual o objetivo principal do aplicativo? A experiência na Serra da Capivara muito nos ensinou durante todos esses anos. Uma delas foi ter acompanhado um episódio de morte de macacos-prego, para o qual não foi possível identificar os motivos. Isso poderia ter posto em risco a saúde de outras espécies e de pessoas também.

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ENTREVISTA

Por Vanessa Soromo


ENTREVISTA

Este fato me fez pensar em possíveis soluções que pudessem melhorar o monitoramento dos animais, identificar problemas e trazer informações rápidas para tomadores de decisão, de modo que ações pertinentes pudessem ser tomadas e mais que isso, pudéssemos aprender. Essa ideia ficou guardada até que por meio do PROBIO II (Programa de Inciativas Público-privada para a Biodiversidade, coordenado pelo MMA) e com a parceria fundamental do LNCC tivemos a oportunidade de elaborar uma proposta para monitorar as relações da saúde silvestre com a saúde humana. A solução que chegamos foi o SISS-Geo, que é uma ferramenta informatizada e participativa para o monitoramento de agentes patogênicos que circulam na natureza ou nas bordas de ambientes rurais e urbanos, a partir do registro de observações de animais realizados por cidadãos comuns, pesquisadores e especialistas em vida silvestre, em aparelhos móveis de comunicação ou em “desktop”. Quais áreas do conhecimento estiveram envolvidas no processo de desenvolvimento do Siss-Geo? Envolvemos em todo o processo o conhecimento biológico, ecológico, epidemiológico, médico e veterinário, a modelagem matemática a partir de dados e a inteligência artificial, a modelagem geoespacial, o desenvolvimento de softwares para dispositivos móveis e para web, designer gráfico e comunicação. Como funciona o aplicativo? Qualquer pessoa interessada em colaborar com o monitoramento de emergências de doenças na fauna silvestre pode participar enviando pelo celular, registros de animais silvestres no campo ou na cidade, com fotos, e com as informações solicitadas passo a passo pelo sistema. Dois conjuntos de informações são necessários: as de observações

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O SISS-Geo pode ser obtido gratuitamente no Google Play e na Apple Store, neste caso em fase de teste. A versão web é encontrada no endereço www.biodiversidade.ciss.fiocruz.br

dos animais, como nome do animal observado, o número de animais, se vivo ou morto, se apresenta ferimentos ou alguma condição que pareça estranha; e informações sobre o local onde a observação do animal foi feita, se em área natural, rural ou urbana. Todos os registros são mapeados e cada pessoa pode visualizá-los em tela. Algumas informações são obrigatórias, mas há bastante espaço para que o colaborador possa incluir descrições e, principalmente, sugerir melhorias e fazer perguntas a nossa equipe. Para especialistas, a versão web traz campos para informações mais precisas, além da possibilidade dos registros serem enviados em grupo, por meio de planilhas de dados. Isso facilita a vida dos pesquisadores, já que estes já enviam seus dados aos sistemas governamentais, com o mínimo de trabalho extra. É importante ressaltar que a autoria de cada dado

é do pesquisador ou do colaborador e que outros usos dos dados só serão feitos mediante expressa autorização destes. É possível também se cadastrar como anônimo, pois queremos informações, mas temos o compromisso de proteger pessoas que podem estar em áreas de conflito. O SISS-Geo utilizará os registros para a modelagem de alertas e de previsão de ocorrência de emergências com os dados em conjunto, de acordo com o termo de compromisso constante no aplicativo. De que maneira serão validadas as informações geradas pelo sistema? O objetivo central do sistema é, de forma automatizada, identificar anormalidades que possam ocorrer numa determinada região com animais. Desta forma, os registros são modelados a partir da hierarquização de dados que priorizam informações como mortes de animais, tipo


Qual a relevância do Siss-Geo para a comunidade científica e a sociedade brasileira? O Brasil detém um corpo de pesquisadores competente para lidar com as relações da saúde silvestre e animal. No entanto, o número de pesquisadores e a produção científica ainda são limitados e concentrados em regiões e instituições. O mesmo acontece com os dados. A falta de bancos de dados sistematizados e com metadados de qualidade, registrem a capacidade de se realizar análises mais complexas, especialmente modelos preditivos de ecologia de doenças. A utilização do SISS-Geo por pesquisadores permitirá não só validar as informações inclusas pelos cidadãos participantes, mas oferecer dados de qualidade para o monitoramento de zoonoses emergentes, o

que é relevante e estratégico para a vigilância da saúde humana e animal no País. O pesquisador ainda poderá participar das análises e reflexões juntando-se às Redes Participativas em Saúde Silvestre e ampliar sua colaboração. A sociedade ganha um serviço ágil, do qual ela é parte ativa e por meio dele poderá obter informações de qualidade para que possa implementar boas práticas para a melhoria da saúde de sua família e para a conservação da biodiversidade. O tomador de decisão passa a ter informações disponíveis para melhor conduzir políticas públicas na área da saúde, sustentabilidade e biodiversidade. O Siss-Geo ficou entre os três finalistas da categoria Órgãos Públicos do Prêmio Nacional de Biodiversidade (PNB) promovido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). O que isso representou para a equipe envolvida no desenvolvimento do Siss-Geo? Ficamos muito satisfeitos e honrados. Concorremos com muitos projetos de alta qualidade e que já estão consolidados, ativos e com resultados de muitos anos. O SISS-Geo foi lançado em março de 2014, em um esforço intenso de desenvolvimento em um ano e meio. Ultrapassamos diversos desafios desde os burocráticos, aos processos de desenvolvimento já definidos pelo mercado, até a conclusão de que deveríamos ousar e construí-lo com a competência própria. Estar entre os três melhores projetos é o reconhecimento da qualidade do nosso trabalho. O impacto para nossa equipe, composta por muitos pesquisadores jovens e de muitas áreas do conhecimento e para a Fiocruz foi maravilhoso. As pessoas ficam surpresas da utilização de um aplicativo no celular para fazer ciência e monitoramento. Precisamos da visibilidade e do apoio para continuarmos, afinal estamos conseguin-

do vencer mais outro desafio que é reunir a saúde e a biodiversidade nas políticas públicas. O Siss-Geo é uma ferramenta inovadora que auxilia o trabalho de diversos pesquisadores. Como à senhora avalia o papel da inovação para o progresso das pesquisas realizadas em nosso país? A megadiversidade brasileira traz oportunidades incríveis para a inovação, a pesquisa e a geração de riquezas para a sociedade. As distâncias geográficas, a limitação de recursos, a complexidade natural dos arranjos evolutivos e a necessidade de formação de pesquisadores, que tenham clareza desses desafios, devem ser consideradas nos processos de pesquisa e inovação. No entanto, ao mesmo tempo que essas questões restringem avanços rápidos, elas nos impulsionam para soluções criativas. Aí vejo o papel do progresso nas pesquisas no país. Devemos apoiar iniciativas absolutamente novas, sem medo do tempo utilizado para sua conformação, pois esse tempo incorpora conhecimento e competência nos novos pesquisadores. Nossos casos são sempre mais complexos e pouco possíveis de generalizações básicas adequadas às tecnologias prontas compradas. Assim, as transferências de conhecimento devem ser mais efetivas e fortes do que somente as transferências de tecnologia. Soluções muitas vezes de baixa tecnologia que podem ser resgatadas das culturas tradicionais devem ser fomentadas, pois trazem a experimentação na sua elaboração. Entretanto, devemos buscar e criar sempre tecnologias de ponta para avançar em saltos sobre o lugar comum, atentando para que essas devam ser limpas, respeitosas com as pessoas e o ambiente, de fácil acesso, utilização e aplicação ao País. Somos criativos o suficiente para responder às nossas necessidades.

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ENTREVISTA

de animal, número de registros num determinado tempo, proximidade geográfica e gravidade dos aspectos relatados. Por exemplo, a ocorrência de um ou um grupo de macacos mortos ou com comportamento estranho, numa área entre dias dispara o alerta de que uma emergência pode estar acontecendo no local. O alerta é reportado aos setores governamentais responsáveis que ganhem rapidez e eficácia na sua investigação. Com o conhecimento das caraterísticas do alerta, as equipes podem se preparar e tomar os cuidados de biossegurança e melhores procedimentos. Este é um dos maiores objetivos do Sistema, encurtar distâncias e economizar recursos. Uma vez investigados, o diagnóstico passa a alimentar o Sistema que vai aprender automaticamente e correlacionar fatos que possibilitarão gerar modelos de previsão. Portanto, é a confirmação dos alertas no campo e no laboratório que validarão os modelos gerados e as informações inclusas por todos.


MATÉRIA

Por Vanessa Soromo

O fantástico mundo da história natural Com cinco anos de existência, a Coleção de História Natural da UFPI/Floriano vem se destacando pelas contribuições acadêmicas, científicas e sociais

Foto: Arquivo CHNUFPI

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Alguns espécimes depositados na CHNUFPI se destacam por pertencerem a espécies consideradas ameaçadas de extinção (fruto de coletas autorizadas ou apreensões realizadas pelo IBAMA) ou por representarem material-tipo de suas espécies

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m abril deste ano, uma garota curiosa e questionadora conheceu a Coleção de História Natural da Universidade Federal do Piauí (CHNUFPI) do Campus Universitário Amílcar Ferreira Sobral (CAFS), localizado no município de Floriano. Ela, que até então não tinha tido a oportunidade de visitar um museu ou uma exposição, ficou encantada com todos aqueles animais taxidermizados que se exibiam majestosamente diante de seus olhos. Para sua alegria, a visita terminou no Laboratório de Vertebrados (Zoologia) vinculado à CHNUFPI e responsável por “preparar alguns espécimes por meio de osteotécnica (preparação de esqueletos), taxidermia ou resina em bloco para artrópodes”. Essa explicação foi dada posteriormente pela curadora da coleção, Maria Regiane Araújo Soares, que revelou ainda que “o processo a ser utilizado para cada peça, depende da finalidade de cada uma: fins didáticos ou científicos”. O episódio acima foi vivido por mim e representou um contato especial com o “fantástico mundo da história natural”. A Coleção de História Natural da UFPI conta com dois marcos que foram fundamentais para seu surgimento em 2010 e para seu exponencial desenvolvimento. O primeiro poderia ser denominado como a.c.c (antes da criação da coleção), representado pelo esforço de um grupo de professores/pesquisadores do CAFS que ansiavam por difundir a história natural de espécimes extintas e atuais, especialmente do nordeste brasileiro. Seguindo a linha de raciocínio, o segundo marco poderia ser chamado de d.c.c (depois da criação da coleção) e só aconteceu graças a uma doação de espécimes feita pelo Instituto Pau Brasil de História Natural (IPBHN) que transformou o futuro da Coleção. “A implantação da CHNUFPI em Floriano ganhou corpo e maior força com a doação de espécimes pelo IPBHN,


Aluna que faz parte da equipe do CHNUFPI no Laboratório de Vertebrados (Zoologia)

Parcerias Maria Regiane Araújo Soares, curadora da CHNUFPI - créditos Arquivo CHNUFPI

O que são Coleções Taxonômicas? “São coleções que abrigam espécies de vários grupos de organismos, organizando-os com propósitos científicos. Nela podem ser armazenados qualquer espécime animal que possua procedência, tornando esses espécimes úteis para diversos tipos de pesquisa, incluindo áreas da ecologia, morfologia, sistemática, biologia molecular, genética, parasitologia, entre outras. Os indivíduos depositados na coleção são examinados por pesquisadores especialistas na identificação de diversos grupos de organismos (grupos taxonômicos), que poderão identificar estes indivíduos e/ou descrever novas espécies baseados nestes espécimes”, explica Maria Regiane Araújo Soares.

A doação de espécimes fruto de apreensões de órgãos ambientais como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA - Piauí) são fundamentais para o crescimento do acervo da Coleção de História Natural (CHNUFPI). “O IBAMA é um parceiro incondicional da CHNUFPI. Ele doa espécimes apreendidos fruto do tráfico de animais e da caça predatória, sendo o processo formalizado por meio de um sistema eletrônico do próprio IBAMA. As doações mantêm a renovação do acervo e potencializa as atividades didáticas e de pesquisa promovidas pela CHNUFPI”, ressalta Regiane Araújo. Além do apoio do IBAMA e de outros órgãos doadores, os depósitos de novas peças à Coleção acontecem também através de projetos de pesquisa e inventários taxonômicos realizados por instituições públicas e privadas. Para coletar, cadastrar e fazer a manutenção dos espécimes, a CHNUFPI conta com um grupo de pesquisadores vinculados ao Campus Universitário Amílcar Ferreira Sobral, composto por zoólogos, ecólogos e paleontólogos.

“Todos os espécimes que hoje são abrigados na CHNUFPI atendem os requisitos de coleta, manutenção e conservação preconizados pela legislação ambiental e práticas usuais de coleta e preparação de material zoológico. Os espécimes são coletados e/ou depositados, catalogados, recebendo a identificação taxonômica mais específica possível e, posteriormente, recebem uma numeração, designada número de tombo. Em seguida esses animais são conservados em via úmida ou a seco, conforme o grupo zoológico”, comenta Regiane Araújo. Segundo Regiane Araújo, que está à frente da curadoria da CHNUFPI desde junho deste ano, o trabalho que desenvolve é muito prazeroso e requer bastante dedicação. Ela é responsável por coordenar a equipe de docentes, técnicos e discentes. “[Eles] têm em comum a responsabilidade de manter e preservar o acervo, cuidar para que o recebimento e registro dos espécimes depositados sejam realizados de modo a atender as exigências legais, além de promover ações educativas e científicas, a fim de receber estudantes e pesquisadores de toda a comunidade”, revela. A CHNUFPI está aberta ao público, tanto da comunidade científica, quanto

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Foto: Vanessa Soromo

uma organização não governamental, radicada no estado de São Paulo”, conta a curadora da coleção, Regiane Araújo. De acordo com Regiane Araújo, atualmente a CHNUFPI abriga aproximadamente dez mil espécimes de variadas espécies. Além disso, há seis espaços integrados à coleção, sendo quatro laboratórios, uma sala multiuso, uma sala de exposição (acervo didático) e um acervo científico (sala onde ficam os armários compactados deslizantes que armazenam o acervo).


Foto: Arquivo CHNUFPI

Investimentos Quem visita a Coleção de História Natural costuma sair encantado com a organização dos espaços integrados à Coleção e com o primor do trabalho desenvolvido pela equipe, que impressiona pela naturalidade e perfeição das peças. Para o armazenamento de todo o acervo da CHNUFPI, a instituição realizou investimentos na aquisição e instalação de armários compactados deslizantes. “Esses armários representam o que há de mais moderno para esta finalidade e poucas instituições científicas possuem equipamentos semelhantes no Nordeste”, informa Regiane Araújo.

Estudantes durante visita à Sala de Exposição/CHNUFPI

Importância acadêmica, científica e social

Foto: Arquivo CHNUFPI

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da sociedade civil. Os interessados em visitar e conhecer de perto a Coleção precisam fazer um agendamento prévio por meio dos telefones: (89) 3522-2716 e (89) 3522-0136, ou através do endereço eletrônico: chnufpi@ufpi.edu.br.

Vários projetos de pesquisa, estudos de impacto ambiental de instituições públicas e privadas podem hoje tombar os espécimes oriundos de suas coletas na CHNUFPI

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O progresso das práticas científicas deve muito ao ato de coletar, ordenar e guardar objetos e animais (dentre outros), promovidos por pesquisadores ou colecionadores. De acordo com a curadora da CHNUFPI, os acervos e coleções são fundamentais para o aprimoramento de pesquisas em biodiversidade, para as ações educativas e de divulgação científica, nas áreas de Zoologia, Ecologia, Evolução, Paleontologia, Geologia e Educação Ambiental, e Ensino de Ciências e Biologia, e, sobretudo, para compreensão da história natural das espécies. “A existência desses acervos possibilita a estudantes das mais variadas disciplinas dos cursos de Ciências Biológicas a conhecerem outros organismos que não encontrariam em atividades de campo facilmente. Igualmente, os acervos encontram-se disponíveis a toda a comunidade acadêmica, ficando disponíveis para pesquisas futuras. Isso pode ser exemplificado pela realização de cerca de 115 empréstimos de material biológico para outras instituições do Brasil e do exterior, desde a criação da CHNUFPI”, afirma Regiane Araújo.


Pedro Almir Martins de Oliveira¹ •Ricardo de Andrade Lira Rabêlo² •Pedro de Alcântara dos Santos Neto³

ARTIGO

¹ Mestrando em Ciência da Computação - UFPI •Contato: petrus.cc@gmail.com ² Professor Adjunto do curso de Ciência da Computação da UFPI •Contato: ricardoalr@ufpi.edu.br ³ Professor Adjunto do curso de Ciência da Computação da UFPI •Contato: pasn@ufpi.edu.br

Athena: Inteligência Computacional como Serviço

A

Inteligência Computacional (IC) concentra-se no estudo de mecanismos adaptativos que possibilitam o comportamento inteligente em sistemas complexos e dinâmicos (ENGELBRECHT, 2007). Essa área reúne diferentes técnicas que exploram a tolerância, a precisão, incerteza e verdades parciais para obter flexibilidade, robustez e soluções de baixo custo. As técnicas de IC representam um paradigma computacional emergente, pois vêm obtendo sucesso na resolução de problemas complexos nas mais diversas áreas do conhecimento, por exemplo, classificação e predição de câncer com base no perfil genético do paciente (medicina), obtenção de novos compostos poliméricos (química), identificação de novas espécies de morcegos (biologia), modelagem de séries financeiras (economia), reconhecimento de distúrbios na qualidade da energia elétrica (engenharia elétrica), projeto de circuitos VLSI (arquitetura de computadores), alocação de equipes (engenharia de software), combate a crimes cibernéticos (segurança), dentre outros (SILVA; SPATTI; FLAUZINO, 2010). Esse conjunto de trabalhos representa apenas um retrato da ampla gama de aplicações possíveis para tais técnicas. Entretanto, apesar de todas essas possibilidades, existe uma série de dificuldades relacionadas à construção de sis-

temas inteligentes: o alto custo de desenvolvimento, a difícil reutilização das implementações, a implementação manual é propensa a erros, ferramentas inadequadas e com pouco suporte a construção de sistemas híbridos (duas ou mais técnicas integradas), dificuldades para realizar experimentos e para efetivar a integração com outros sistemas (PAREJO et al., 2012). Essas dificuldades podem ser melhor analisadas considerando a seguinte situação: imagine um pesquisador médico que deseja realizar um estudo sobre identificação de tumor cerebral a partir das imagens de ressonância magnética. Suponha também que o pesquisador deseja analisar a combinação de diferentes técnicas de Inteligência Computacional e que, ao final da pesquisa, o resultado seja uma aplicação integrada com o sistema que realiza os exames. Além de todos os obstáculos inerentes ao problema estudado, o médico precisará superar as dificuldades supracitadas. Nesse contexto, este trabalho propõe a construção de uma arquitetura e uma ferramenta aptas a minimizar o impacto dessas dificuldades no desenvolvimento de sistemas inteligentes, ou seja, baseados em técnicas de Inteligência Computacional. Essa proposta traz consigo a inovação na forma como esses sistemas são desenvolvidos ao unir os algoritmos (técnicas) presentes nessa linha de pesquisa

(IC) com aspectos da Computação em Nuvem criando um novo conceito: Inteligência Computacional como Serviço (OLIVEIRA et al., 2014). Dessa forma, os pesquisadores podem acessar todo o poder das técnicas de IC de qualquer lugar e a qualquer momento por meio da Internet. De posse dessa proposta, foi realizado um mapeamento sistemático sobre ferramentas que apoiam a construção de sistemas inteligentes para obter uma visão geral dessa linha de pesquisa, além de facilitar a definição dos requisitos necessários para superar, de forma holística, as dificuldades apresentadas anteriormente (BRAGA et al., 2015). Com os requisitos detalhados, foram desenvolvidas uma arquitetura e uma ferramenta com os seguintes princípios: simplicidade, extensibilidade, software como serviço, alta performance e colaboração. A avaliação preliminar da ferramenta – realizada com alunos de graduação do curso de Ciência da Computação da UFPI – apresentou indícios de sua adequação ao problema, entretanto planeja-se a realização de estudo mais robusto para verificar essa hipótese. Ambas, arquitetura e ferramenta, representam juntas a principal proposta deste trabalho e foram intituladas Athena em homenagem a deusa grega da sabedoria. A ferramenta está disponível em http://athenasystems.com.br.

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Narcizo de Souza Chagas1 •Conceição de Maria Lopes Freitas2 Licenciado em Pedagogia (UNISA), Bacharelando em Relações Internacionais (UNINTER) •Contato: narcizochagas@gmail.com Bacharel em Administração de Empresas (FAP) •Contato: ceicafreitas03@gmail.com

1

ARTIGO

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A trajetória dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) no estado do Piauí

N

o ano 2000, em Nova

nais no país, através do reconheci-

tação de políticas para a saúde da

York, 189 países na

mento de ações do poder público e

mulher, empoderamento e a ques-

Assembleia Geral da

da sociedade.

tão da violência contra as mulheres,

Organiza-

O estado do Piauí entrou na

redução da mortalidade infantil, a

ção das Nações Unidas estabelece-

ONU

agenda nacional dos ODM, a partir

melhoraria da saúde das gestantes,

ram as Metas do Milênio no prazo

de 2009, com a criação do Núcleo

o fortalecimento das ações de pre-

temporal de 15 anos, com o obje-

ODM Piauí. Esse núcleo tem o ob-

venção, tratamento ao HIV/AIDS

tivo de eliminar a extrema pobreza

jetivo de articular o setor público,

e a mobilização para o desenvolvi-

no mundo. No Brasil, é conhecido

a sociedade civil e as empresas em

mento econômico. Contou-se com

como ODM – Objetivos de Desen-

torno da agenda dos ODM, am-

a adesão das Prefeituras de Tere-

volvimento do Milênio (2000-2015)

pliando as condições para adesão e

sina, Regeneração, Água Branca,

e tem mobilizado os Governos Fe-

difusão dos mesmos, como instru-

Pedro II, Cocal de Telha, Parnaíba

deral, Estadual, Municipal, a so-

mento de gestão pública e de con-

além de várias organizações da so-

ciedade civil e as empresas em prol

trole social de resultados.

ciedade, totalizando mais de 200

de ações políticas, econômicas e

Em 2010, o movimento ga-

sociais voltadas para a inclusão e o

nhou corpo, principalmente com

combate à extrema pobreza no país.

a adesão da APPM – Associação

O ano de 2015 é a etapa final dos

Como signatário, a União ali-

Piauiense de Municípios e, a partir

ODM, e a estratégia é fortalecer as

nhou suas políticas públicas ao lon-

de 2014, da subvenção do PNUD –

relações de parceria internacional,

go dos anos, em vista a favorecer

Programa das Nações Unidas para

nacional e local para a transição

uma dinâmica de gestão para resul-

o Desenvolvimento, bem como o

para Agenda Pós-2015, denomi-

tados, com apoio aos demais entes:

acompanhamento efetivo da SG-

nada de ODS – Objetivos de De-

estados e municípios. Em 2004, foi

-PR, Secretaria Geral da Presidên-

senvolvimento Sustentável (2016-

criado o Movimento Nacional pela

cia da República, com o objetivo

2030), proposta da Conferência das

Cidadania e Solidariedade com

de acelerar a municipalização dos

Nações Unidas sobre Desenvolvi-

apoio do Governo Federal, tendo

ODM no Piauí.

mento Sustentável, a Rio+20, e de

instituições comprometidas com os ODM no Piauí.

como estratégia, a mobilização dos

A mobilização nos anos de 2012

consulta internacional feita junto

três setores da sociedade brasileira

a 2014 vislumbrou a abordagem te-

aos governos, empresas, universi-

que visa o estímulo de boas práticas

mática dos 8 ODMs, centrada em

dades e a sociedade civil, durante o

para alcance das metas internacio-

desafios em termos de implemen-

ano de 2012 a 2014.

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Walkyane Alyne Santos Oliveira1 • Francílio de Amorim dos Santos2 Discente do curso de Ensino Médio Integrado ao Técnico em Administração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí / Campus Piripiri. E-mail: walkyanealyne@live.com 2 Graduado em Ciências Biológicas (IFPI). Graduado em Geografia (UESPI). Mestre em Geografia (UFPI). Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí / Campus Piripiri. E-mail: francilio.amorim@ifpi.edu.br

ARTIGO

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Dinâmica da cobertura vegetal no entorno do açude Caldeirão, em Piripiri (PI)

A

cobertura vegetal tem influência direta na diminuição da erosão pluvial e no regime hídrico, devido interceptar as precipitações e fornecer à superfície detritos vegetais que desempenham papel amortecedor. Dessa forma, em espaços desprovidos de vegetação, o vento pode remover partículas minerais, gerando tempestades de pó, formando dunas e limitando o crescimento da vegetação (TRICART, 1977). Nesse sentido, os estudos voltados à análise da dinâmica da cobertura vegetal têm utilizado imagens orbitais e sensoriamento remoto para detecção de mudanças nas características espectrais da cobertura da superfície de uma mesma área em diferentes períodos, almejando identificação de desmatamento, mudança no uso do solo, estudos sobre a desertificação, monitoramento da seca, etc. No intuito de diagnosticar o estado de conservação/degradação ambiental da cobertura vegetal do açude Caldeirão, em Piripiri (PI), utilizou-se o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) que consta da aplicação de processos de realce mediante operações matemáticas entre bandas de sensores de satélites (AQUINO, 2010). O estudo utilizou imagens do sistema Landsat, que foi desenvolvido pela NASA (National Aeronautics and Space Administration). As imagens foram adquiridas junto ao Serviço Geológico dos Estados Unidos (United States Geo-

logical Service - USGS) para os anos de 1984 e 2013. As imagens selecionadas do satélite Landsat 5 TM e Landsat 8 OLI possuíam as seguintes características: ponto/órbita 219/063 e data de passagem do dia 17 de setembro para os anos de 1984 e 2013. A elaboração dos mapas de NDVI, para os anos de ¬¬1984 e 2013, constou de procedimentos realizados no Sistema de Informação Geográfica (SIG) ArcGIS 10, produzido pela empresa Environmental Systems Research Institute (ERSI), cuja licença foi adquirida pelo Laboratório de Geomática da Universidade Federal do Piauí. O açude Caldeirão está localizado há 10 km da sede do município de Piripiri, na Macrorregião Meio-Norte e Território de Desenvolvimento dos Cocais (PIAUÍ, 2006). O referido açude foi criado no intuito de regularizar o curso do rio de mesmo nome e criar a possibilidade de irrigação às suas margens, sendo o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) responsável pelo uso e administração do mesmo. A área total do açude é 220 km², tem níveis pluviométricos com média anual de 1.500 mm, capacidade máxima de 54.600.000 m³ e volume morto de 10.200.000 m³. A vegetação da área em torno do açude é constituída por espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas, com predominância de tucunzeiros (DNOCS, 2015). Nesse contexto, o resultado do NDVI para os anos de 1984 e 2013

apontou aumento nas classes Moderada, Moderadamente Baixa e Baixa, respectivamente, na ordem de 3,7%, 2,4% e 1,5%. O aumento deve-se, principalmente, às campanhas de sensibilização ambiental, aumento da área destinada ao plantio de pastagem. Por outro lado, a quantidade de água disponível teve redução de 6,6% na área em estudo, o que pode ser explicado pelo aumento da demanda de água para consumo da população piripiriense aliado às mudanças climáticas e assoreamento do açude. Os resultados permitem apontar estratégias a serem mantidas com base no planejamento das atividades, com monitoramento e assistência técnica, para manter a qualidade ambiental no açude Caldeirão, em Piripiri (PI). O presente estudo teve financiamento do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI, por meio do Edital nº 032 de 14 de abril de 2014, que selecionou bolsistas para o Programa de Iniciação Científica do IFPI - PIBIC/PIBICjr. Desse modo, agradecemos à instituição de ensino supracitada pelo financiamento da pesquisa, que se tornou importante para o conhecimento de parte do meio ambiente, almejando o planejamento territorial. Agradecemos, também, à chefe do Perímetro Irrigado Caldeirão (PIC) Sra. Teresinha Viana, que gentilmente recepcionou-nos e forneceu informações sumamente importantes para a finalização dessa pesquisa.

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DOSSIÊ

Por Afonso Rodrigues

Núcleos de Tecnologia promovem a inovação nas universidades A missão é aproximar a academia do setor produtivo

Foto: Francisco Leal

Maria Rita de Morais, coordenadora do NINTEC da UFPI

U

m dos efeitos da globalização foi o acirramento da competitividade entre as empresas. Nesse cenário, a produtividade e a eficiência exigem um investimento cada vez maior no setor de inovação, cujo conceito legal é a “introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços”. A definição veio com a Lei de Inovação (nº 10.973), promulgada em 2004 e regulamentada no ano seguinte pelo Decreto nº 5.563. Para se chegar a um novo produto, processo ou serviço, é necessário um trabalho organizado para esse fim,

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muitos estudos e infraestrutura, o que pode desmotivar o setor produtivo. A resposta para esse problema está nas universidades e nos centros de pesquisa, através dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT). O decreto que regulamentou a Lei de Inovação informa, em seu art. 17, que as Instituições Científicas e Tecnológicas (ICT) devem dispor de Núcleo de Inovação Tecnológica, próprio ou em associação com outras ICT, com a finalidade de gerir sua política de inovação. Os NIT, então, possuem como competências mínimas, entre outras, zelar pela manutenção da política institucional de estímulo à proteção das criações, licenciamento, inovação e outras formas de transferências de tecnologia; promover a proteção das criações desenvolvidas na instituição e acompanhar o processamento dos pedidos e a manutenção dos títulos de propriedade intelectual desenvolvidos na instituição. Com a missão de promover a cultura de inovação e transferência de tecnologias na Universidade Federal do Piauí (UFPI), o Núcleo de Inovação e Transferência de Tecnologia (NINTEC) foi criado em 2006 para trabalhar na gestão da propriedade intelectual da instituição. Como explica a professora doutora Maria Rita de Morais Chaves Santos, coordenadora do NINTEC, o objetivo inicial do núcleo era “atender

em termo de depósito de tecnologias e também, paralelo a isso, nós começamos um trabalho de disseminação da cultura da propriedade intelectual e da inovação, para que essas tecnologias cheguem um dia à sociedade”. O trabalho de disseminar a cultura da inovação vem sendo feito pelo NINTEC por meio da organização de eventos com a participação dos atores que integram o ecossistema da inovação e também pela implantação da disciplina de Propriedade Intelectual (PI) em cursos de graduação e pós-graduação da UFPI, como Química, Farmácia e Ciência dos Materiais. E o resultado já começa a aparecer. “Hoje nós já estamos com um total de 84 PI protegidas, entre patente de invenção, modelo de utilidade, registro de software, desenho industrial e registro de marca. Então, nós temos um portfólio já bastante considerável”, avalia a professora Maria Rita. Essa disseminação passa, também, pela desmistificação do que é a inovação. Segundo Tiago Soares da Silva, assessor do Núcleo de Inovação Tecnológica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), uma das principais dificuldades encontradas no campo da pesquisa de inovação é o fato de que, para muitas pessoas, inovar é um processo complicado, inalcançável até. Criado em 2012, o NIT-IFPI vem trabalhando para desconstruir essa ideia junto aos pesqui-


Foto: Allan Campelo

Carlos Giovanni, diretor do NIT da Uespi

Aproximação com o setor produtivo Segundo o Relatório Final do Projeto “Parques e Incubadoras para o Desenvolvimento do Brasil”, da Associação Nacional de Entidades Pro-

motoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), o ecossistema da inovação, responsável por promover a cultura, a transferência de tecnologia e, assim, o desenvolvimento econômico e social, é formado pelos seguintes atores: o governo, incluindo os poderes executivo, legislativo e judiciário nas esferas municipal, estadual, federal e internacional; as empresas, consideradas como os empreendimentos que garantem a produção e circulação das inovações; a academia, instituições que produzem conhecimento científ ico e tecnológico; e a sociedade, organizada ou não. Dessa forma, para que o ecossistema funcione e dê resultados, é preciso que seus atores estejam próximos e afinados. Com o objetivo de aproximar a academia do setor produtivo, o NIT da Uespi desenvolve atualmente um trabalho de mapeamento, tanto das pesquisas desenvolvidas na instituição quanto das demandas do setor produtivo local. Uma vez concluído, os dados coletados serão cruzados em um programa de computador para averiguar a proximidade entre as necessidades do mercado com as linhas de pesquisas desenvolvidas na instituição. “Ainda é difícil fazer isso por que existe essa barreira entre a academia e o mercado. O mercado não se aproxima muito da academia por achar que é uma coisa burocrática, lenta e que normalmente não reflete os problemas do setor produtivo, e a academia se concentra muito na publicação de artigos, periódicos e registros, muitas vezes meramente pra currículo. E essa barreira que existe entre esses dois mundos é que a gente tem que quebrar”, analisa Carlos Giovanni. Além de disseminar a cultura e capacitar seus agentes, os NIT atuam ainda na orientação dos pesquisadores para o caminho da inovação. “Nós estamos orientando que eles possam estar desenvolvendo algo novo, melhorando um processo. Não adianta você ter pesquisas e elas ficarem simplesmente guardadas dentro de uma gave-

ta. Nós estamos trabalhando no intuito de que essas pesquisas cheguem ao setor produtivo”, comenta Tiago Soares. Foto: Allan Campelo

Tiago Soares, assessor do NIT do IFPI

O trabalho de orientar as pesquisas para uma maior aplicabilidade dos resultados também é feito pelo NINTEC. Exemplo disso é o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI), do CNPq, executado na UFPI sob a responsabilidade do Núcleo. “Cada ano ele vem crescendo, ele vem sendo divulgado e o pesquisador se convence que da mesma forma que ele pode fazer a pesquisa básica, ele pode desenvolver também com os nossos estudos, os nossos laboratórios, pesquisa tecnológica com foco no desenvolvimento de um produto, é o principal do programa PIBITI”, destaca a professora Maria Rita.

As incubadoras de empresas Outra forma de aproximar a academia do setor produtivo se dá pelas incubadoras. De acordo com a Anprotec, uma incubadora é a entidade que oferece infraestrutura, capacitação e su-

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DOSSIÊ

sadores e alunos. “Nós temos colocado para os pesquisadores de uma forma geral e simples [que] a inovação existe para resolver os problemas da sociedade, são problemas que existem e você que está desenvolvendo a pesquisa vai ser beneficiado também, existe a possibilidade dos royalties”, conta. Para divulgar a cultura da inovação e da propriedade intelectual, os NIT atuam também na capacitação de seus agentes. Funcionando desde 2014, o NIT da Universidade Estadual do Piauí encontra-se na fase de capacitação de sua equipe, dos bolsistas aos docentes envolvidos. “A gente vai ter que treinar desde a escrita de uma patente a fazer busca de anterioridade, que é saber quais os produtos que já existem na linha daquilo que eu estou querendo patentear. Depois que a gente tiver conhecimento, a gente vai propagar isso para a comunidade acadêmica”, explica Carlos Giovanni, diretor do Núcleo.


DOSSIÊ

porte gerencial para empreendedores a fim de que eles possam transformar ideias inovadoras em empreendimentos de sucesso, facilitando o processo de criação de micro e pequenas empresas. Nem sempre uma boa ideia vem acompanhada de um modelo de negócio. Para empreender, é preciso conhecer bem o mercado e ter noções mínimas de administração. “Uma incubadora é como uma chocadeira. Você coloca um ovo, que é a ideia, e esse ovo vai ter que amadurecer para que se torne realmente algo vivo e algo que vá permanecer no mercado, fornecendo serviço, contratando pessoal e gerando renda. A incubadora é esse ambiente para ajudar empresas a se fortalecerem e a se manterem no mercado”, explica o professor José Bringel Filho, presidente do Comitê Gestor do projeto Lagoas Digitais. Foto: Allan Campelo

José Bringel Filho, presidente do Comitê Gestor do Lagoas Digitais

Localizado no Parque Lagoas do Norte, em Teresina, o Lagoas Digitais nasceu como projeto de professores da Universidade Estadual do Piauí e hoje caminha para se tornar uma entidade sem fins lucrativos de fomento à inovação, que se preocupa com o envolvimento da comunidade nos projetos desenvolvidos. Para impac-

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tar positivamente a região, o Lagoas trabalha com dois viés: capacitação e fomento à inovação. “De capacitação nós temos iniciativas de projetos que buscam capacitar a comunidade, os jovens e as crianças. A partir desse contato com a comunidade, oferecendo esses cursos, a gente vai criando massa crítica e essa massa crítica vai ser absorvida por esse setor [produtivo], o que é motivador”, comenta José Bringel. “Existe uma busca em resolver problemas da comunidade, então alguns projetos vão ter que estar associados a interesses de problemas que a comunidade vivencia”, acrescenta. No Lagoas serão desenvolvidos primeiramente os trabalhos de aceleração de startups, que é um período de preparação da ideia ainda imatura, antes da incubação. As empresas selecionadas vão passar por um ciclo de aceleração de quatro meses, recebendo dois tipos de investimento: o capital semente, que é o aporte financeiro, por meio de bolsa, e o capital inteligente, ou smart money, em formato de mentorias, cursos e contato com profissionais que já são consolidados no mercado. A UFPI já conta com uma incubadora de empresas em atividade, a Incubadora de Empresas do Agronegócio (INEAGRO), projeto de extensão gerido pela instituição em parceria com o Sebrae, a Embrapa Meio-Norte e a Fundação Cultural e de Fomento à Pesquisa, Ensino e Extensão (Fadex) e que oferece atualmente apoio técnico e estrutural, incluindo salas para escritório e o know-how da UFPI, para quatro empresas locais selecionadas por meio de edital, s endo duas delas spin-offs, termo utilizado para definir empresas que derivam de pesquisas científicas. Uma das spin-offs é a Babcoall, dirigida por Tiago Patrício, que trabalha com o aproveitamento integral do babaçu, fortalecendo a cadeia produtiva da planta no estado do Piauí. Pelo processo de incubação, as pesquisas que Tiago precisa fazer para desen-

Foto: Francisco Leal

Tiago Patrício mostra os produtos da Babcoall, empresa incubada pela Ineagro

volver e aprimorar seus produtos são feitas nos laboratórios da UFPI, o que agiliza e traz confiabilidade aos resultados. Em troca, a universidade detém parte dos direitos referentes às patentes descobertas. O ciclo de incubação na Ineagro dura 36 meses. Após isso, a empresa passa de incubada para graduada, e o empreendedor está pronto para gerir seu próprio negócio. “A academia é onde tem a produção de conhecimento. Então, a grande vantagem de a incubadora estar dentro da universidade é o acesso ao conhecimento. As pessoas que assessoram as empresas são professores doutores de conhecimento técnico dentro da área”, destaca a professora doutora Luzineide Fernandes de Carvalho, diretora da Ineagro.


Projeto do IFPI ensina robótica a crianças De matemática à lógica de programação, aulas incentivam alunos a buscar novos conhecimentos

L

onge dos filmes de ficção, ou supermáquinas complexas, a robótica pode não ser assim tão complicada. Imagine construir seu próprio robô, desenvolver seu próprio projeto em um campo da tecnologia que movimenta milhões em todo o mundo. Agora imagine aprender isso em uma sala de aula e ainda na infância. O projeto desenvolvido pelo Instituto Federal de Educação (IFPI), intitulado, “Robótica Formando Cidadãos”, busca através do ensino aplicado à tecnologia, o auxilio ao desenvolvimento social e intelectual de crianças e adultos. Com alunos do próprio IFPI, do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), do Grupo de Escoteiros de Teresina e do Centro de Ensino Médio de Tempo Integral (Cemti) João Henrique de Almeida Sousa, o projeto coordenado pelo professor Francisco Marcelino, que teve início em 2015, conta com aulas de lógica, lógica de programação, matemática, física e inglês, ministradas aos sábados na sede do IFPI. Para o coordenador do projeto, essa é uma oportunidade de passar novas perspectivas de ensino aos alunos, que se distanciam de temas como a robótica por acreditarem na dificuldade de se trabalhar com a área.“Atualmente temos cerca de 90 alunos no projeto, esperamos que esse número aumente bastante. Nós estamos tentando mudar a realidade dessas crianças, esse conhecimento aliado à robótica não é coisa de outro mundo, às vezes, falta alguém para dar uma orientação a esses jovens”, enfatiza Marcelino.

Foto: Francisco Leal

Da esquerda para a direita, Hernandes Erick, Nádia Raquel e o coordenador do projeto, Francisco Marcelino

Outra interessante iniciativa do projeto são os professores. Os responsáveis pelas aulas são alunos que estão em séries mais avançadas, além de professores convidados, de áreas como Engenharia e Eletrotécnica, o que constitui um ambiente de aprendizagem de maior interatividade. Hernandes Erick é aluno do quarto ano de Eletrônica do IFPI, e ministra aulas de matemática dentro do projeto. Segundo ele, “mostrar a aplicabilidade do conhecimento é o mais importante, mostrar que o aprendizado na sala de aula pode ser visto no dia a dia”. Além do desenvolvimento de estudos, os alunos do projeto são preparados para a Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR). A partir da etapa estadual da olimpíada, uma comissão

da OBR selecionou alunos de escolas públicas de todo o país com o intuito de disputar 27 vagas em um minicurso de robótica. Entre os doze alunos selecionados no Piauí, nove fazem parte do Robótica Formando Cidadãos, sendo que um deles, Rodrigo de Castro Cardoso, já garantiu vaga para o curso, o que comprova o resultado do estímulo oferecido pelo projeto. Para Nádia Raquel, que ministra aulas de Lógica de Programação dentro do projeto, a experiência mostra que os alunos estão conseguindo interagir com os novos conhecimentos apresentados. “Nós vemos o interesse dos alunos, eles vão passando o que apreendem uns para os outros, ou seja, dentro do projeto o conhecimento se renova.”

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DOSSIÊ

Por Allan Campelo


DOSSIÊ

Por Afonso Rodrigues

Na trilha da inovação

A

Iniciativas procuram disseminar a cultura da inovação no estado

té pouco tempo, era comum associar a inovação apenas ao mercado das empresas de tecnologia, que investem constantemente uma grande quantia de dinheiro no setor. Mas isso vem mudando. Pouco a pouco, a cultura da inovação está sendo disseminada dentro dos ambientes de trabalho, e a noção de que inovar é, na verdade, uma necessidade está se popularizando. “A criatividade e a inovação traduzem-se na exploração bem sucedida de novas ideias, essenciais para sustentar a competitividade e a geração de riquezas. São elementos básicos da cultura organizacional”, explica Érika de Freitas Lopes, coordenadora estadual do programa Agentes Locais de Inovação (ALI), do Sebrae. Com o intuito de levar a cultura da inovação para micro e pequenos empreendedores, o programa seleciona e capacita os agentes, que são bolsistas do CNPq, para fazer atendimento nas micro e pequenas empresas, funcionando como uma ponte entre elas e o Sebrae. Após a adesão da empresa ao programa, o agente realiza um diagnóstico para identificar as demandas e elabora um plano de ação que contemple várias áreas da inovação, como marketing, processo e melhoria ou lançamento de produto. O acompanhamento, que é gratuito e orientado por um consultor sênior do Sebrae, corresponde a um ciclo de dois anos e, ao final, o agente deve escrever um artigo científico com base no trabalho desempenhado na empresa.

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Foto: Afonso Rodrigues

Érika Lopes, coordenadora do Programa ALI Piauí

Implantado no estado do Piauí em 2010, o ALI abrange os seguintes municípios: Floriano, Parnaíba, Piripiri, Picos e Teresina. Atualmente no terceiro ciclo no Piauí, o saldo do programa é positivo, segundo a coordenadora Érika Lopes. “No balanço, a gente tem muitas evidências tanto de melhorias quanto de inovação. O grande objetivo do programa é aumentar receita, aumentar competitividade e a gente tem esses registros, essas mensurações da alavancada que essas empresas deram”, aponta. Ex-agentes locais de inovação, Miguel Cavalcante e Maria Rebello hoje atuam no Núcleo de Inovação da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI). Coordenada pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e ligada à Confederação Nacional da Indústria (CNI), a MEI tem o objetivo de estimular a inovação sistemática

dentro das empresas e promover a aproximação entre a iniciativa privada e o setor público. No Piauí, a MEI realiza ações de capacitação empresarial e o programa Inova Talentos, que busca incentivar a criação de projetos de inovação nas empresas e institutos privados de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e qualificar os profissionais do setor. “O Inova Talentos surgiu de uma demanda que foi identificada pela Confederação Nacional das Indústrias de firmar os profissionais dentro do mercado, na sua área específica. A indústria estava sentindo a necessidade de pegar esse profissional e botar ele na área técnica”, explica Miguel. Foto: Afonso Rodrigues

Miguel Cavalcante, da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI)

O programa possui dois públicos. De um lado está a empresa com uma ideia inovadora, capaz de gerar im-


Foto: Afonso Rodrigues

Maria Rebello, da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI)

que fazer um desembolso financeiro muito grande. Às vezes, [a empresa] acha que não tem condição de arcar com isso, mas, muitas vezes, a inovação é redução de custo”, revela Maria Rebello. A inovação também não se reduz à invenção de dispositivos eletrônicos ou robôs e pode estar bem mais próxima do cotidiano do que muitos acreditam. “A inovação pode ser basicamente de quatro tipos: de produto, de processo, de marketing e organizacional. O lançamento de um novo produto, o lançamento de um novo processo, a melhoria de um processo; a mudança de uma estratégia de marketing, a melhoria organizacional dos funcionários, tudo é inovação”, esclarece ela.

a alta flexibilidade do seu modelo de negócio. As startups ainda têm uma grande vantagem em relação às empresas de moldes tradicionais, que é o seu custo de implantação e sua escalabilidade, ou seja, com uma pequena estrutura ela é capaz de possuir milhares de clientes e usuários em qualquer parte do mundo”, completa. Localizado em Picos, o Instituto Multicom é uma instituição sem fins lucrativos criada em 2009 por professores que buscavam desenvolver pesquisas evitando a burocracia da academia. Com o objetivo de disseminar a educação empreendedora e implementar um cenário de inovação no semiárido piauiense, a organização conta com o Laboratório de Empreendedorismo Digital (LEDBOX), para atender as demandas do setor produtivo no que se refere à tecnologia.

não há nada melhor do que transformar a vida das pessoas através da educação

Startups e Aceleração Outra iniciativa que começa a ganhar força no Piauí no campo da inovação são as startups. “Startup é um termo internacional utilizado para negócios nascentes em base tecnológica”, define Marcus Linhares, professor do IFPI e CEO do Instituto Multicom. “Sua principal diferença para as empresas nos moldes tradicionais é

É no LEDBOX que acontecem os ciclos de aceleração das startups, quando estudantes recebem mentoria de modelagem de negócio e de engenharia de software, com a finalidade de, em curto prazo, transformar uma ideia inovadora em negócio. Uma das startups aceleradas pelo Instituto é a Lander. Formada em

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pacto positivo internamente e com caráter sustentável. De outro, um formando ou profissional com até cinco anos de graduado ou mestre, interessado em complementar sua formação com experiência profissional. O Inova Talentos, então, une esses elos, promovendo o encontro dos dois atores. “A ideia é pegar essas pessoas que estão frescas de conhecimento teórico e jogar na prática para eles terem o conhecimento prático. E para a empresa é bom porque ele vai ter uma pessoa competente dentro da empresa desenvolvendo o projeto de inovação”, destaca Maria Rebello. Janairo Fausto, formado em Informática pelo IFPI e em Física pela UFPI, foi selecionado pelo programa e recebe uma bolsa do CNPq para desenvolver, durante doze meses, um projeto na área de tecnologia da informação na empresa de Adriano Sales, do ramo educacional. “Além de ser projeto de inovação, é projeto que gera resultado, transformando a vida das pessoas. E na nossa concepção, não há nada melhor do que transformar a vida das pessoas através da educação”, conta o empresário. A empresa de Adriano, que oferece cursos na modalidade ensino à distância, possui um núcleo de inteligência e inovação e, mensalmente, o empresário promove uma reunião com toda a sua equipe para que cada um possa trazer uma ideia inovadora. Segundo Érika Lopes, o gestor pode criar um ambiente que estimule a inovação em todos os setores da empresa por meio de medidas como a criação de equipes de inovação, a viabilização da comunicação e difusão apropriadas das inovações, a promoção do envolvimento de todos os níveis hierárquicos na inovação e a garantia de um local de trabalho criativo, autônomo, pró-ativo e saudável. Apesar do exemplo de Adriano, criar esse ambiente de inovação nas empresas nem sempre é tarefa fácil. “Muitas vezes a empresa tem medo da inovação porque acha que vai ter


DOSSIÊ

2015 por Pablo Lopes, Victor Frazão, Filipe Rosmann e os irmãos Kelvin e Magdiel Campelo, a startup trabalha com a proposta de conectar pessoas a eventos a partir de um aplicativo mobile, que oferece uma agenda atualizada contendo os eventos cadastrados e uma linha do tempo com todos os acontecimentos vinculados a cada evento, desde promoções a mudanças de cronograma, em tempo real. A startup encontra-se na fase chamada “Mínimo Produto Viável” (MVP). Isso significa que eles já consolidaram a ideia e a marca e precisam agora lançar o primeiro produto para ser testado por clientes. Sobre o papel da aceleradora no crescimento de uma startup, Kelvin Campelo é enfático: “A aceleradora pega uma reunião de pessoas criativas que têm talento para desenvolver software e design gráfico e ajuda a crescer com mentoria nas áreas em que a gente não é forte, como na área de mercado e gestão de processo. O que torna a aceleradora crucial no nosso desenvolvimento, por exemplo, é o networking. Com a aceleradora, a gente teve capacidade de ir para eventos com gente importante, ir a reuniões em empresas grandes. O papel da aceleradora é pegar a startup embrionária e jogar ela no mercado”. Segundo Marcus, o Multicom possui a estrutura adequada para o desenvolvimento de pesquisas. “Contamos com a presença de professores pesquisadores, com objetos de estudo nas áreas de conhecimento dos arranjos produtivos locais, com a finalidade de aprofundar suas pesquisas e torná-las viáveis ao desenvolvimento local, com impactos realizados pela transferência de tecnologia”, pontua. O espaço estruturado e os recursos humanos voltados para a área da pesquisa e tecnologia tornam o lugar propício para a criação de um polo tecnológico, para concentrar, em um só espaço, os atores que formam o ecossistema da inovação, estimulando o desenvolvimento da região.

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Foto: Francisco Leal

Da esquerda para a direita: Kelvin Campelo, Victor Frazão e Pablo Lopes, da Lander

“O Polo Tecnológico de Picos só irá realmente existir se houver um trabalho conjunto entre o Instituto Multicom, as instituições de ensino superior, o poder público, organizações sociais e iniciativa privada (...) A inovação é um caminho sem volta. O Piauí é rico em massa crítica. Precisamos articular os agentes e mostrar isso para o mundo”, enfatiza Marcus Linhares. No litoral piauiense, o Polo de Desenvolvimento Tecnológico de Parnaíba é formado por sete empresas locais do segmento de tecnologia da informação e conta com espaços para as empresas, interação acadêmica, destinado aos processos de incubação, e fomento educacional, com laboratório, sala de aula e auditório, destinados a atividades voltadas para a comunidade. No Polo, “as empresas gozam da isenção das taxas de energia, água,

aluguel e internet necessários para o funcionamento do polo. Esses benefícios são subsidiados por uma parceria entre prefeitura e governo do estado”, explica Rodrigo Baluz, conselheiro fundador do Instituto de Tecnologia, Inovação e Ciências do Delta do Parnaíba (DELTATIC’s), que administra o Polo. Inaugurado no primeiro semestre de 2015, o Polo fortalece o ecossistema da inovação local, ao aproximar, no mesmo espaço, as empresas, a academia e o setor público, gerando “um modelo de sinergia entre empresas e academia para desenvolvimento de inovação e novas metodologias, onde os empresários buscam as universidades por novas teorias e as universidades buscam as empresas procurando novas aplicações e, em ambos os casos, com o envolvimento da comunidade, geram-se novos produtos”, explica Rodrigo.


DOSSIÊ

Por Allan Campêlo

Hackers realizam projetos sociais em Teresina Próteses de baixo custo para deficientes físicos estão sendo desenvolvidas

Primeira versão da prótese construída pelo grupo

Foto: Allan Campelo

N

os anos 70, o norte-americano John Draper conseguiu efetuar ligações gratuitas através de um apito que era dado como brinde em caixas de uma marca de cereal. O brinquedo, tinha uma sonoridade idêntica ao tom utilizado na época, pelas empresas de telefonia, para liberar uma nova chamada. Essa seria uma das primeiras oportunidades onde um hacker utilizaria seus conhecimentos para burlar um sistema. Mas o que é um hacker? Apesar de a palavra ser bastante conhecida, não se sabe ao certo quando ela teria surgido. Porém, ainda na década de 1960 começou a ser utilizada para denominar a atitude de utilizar recursos implícitos para a programação e modificação de sistemas de informática, no intuito de resolver problemas, não necessariamente para fins ilegais. Apesar da construção da imagem negativa a cerca dos hackers, formulada a partir de casos como o de Draper, hoje, o ativismo social é uma bandeira levantada por eles.

Coordenador da APISoL, Lucas Marcos destaca iniciativas do projeto Teresina Hacker

“A maioria das notícias que vemos sobre hackers são negativas, sempre é noticiado alguém que roubou alguma senha, invadiu sistemas, porém, isso é de todas as atividades. Nós, hackers, temos o conhecimento necessário, vai de cada um usar ou não para o bem”, explica o coordenador da Associação Piauiense de Software Livre (APISoL), Lucas Marcos, que através do projeto Teresina Hacker Clube (THC), busca alternativas para beneficiar a sociedade. Seguindo o objetivo de criar alternativas para uma sociedade melhor, uma das iniciativas do Teresina Hacker, é um indexador de dados públicos, batizado de Peba, disponível em plataforma virtual, que “cava” em busca de informações sobre os gastos de deputados estaduais e federais. Ainda dentro do âmbito social, uma das propostas do THC, é o projeto “Mão Amiga”. O objetivo é desenvolver, através de uma impressora 3D, próteses de baixo custo para deficientes físicos. Segundo o coordenador da APISoL, Lucas Marcos, “a prótese sendo vendida hoje no mercado, com todas as funcionalidades, varia de 35 mil a 50 mil reais, ou até um pouco mais. A prótese feita com a impressora, teria um custo final, de algo em torno de 180 reais”. Já trabalhando com uma impressora 3D própria, carinhosamente batizada de “tapioca”, o grupo de hackers se prepara para fabricação da segunda versão da prótese, que atualmente está sendo impressa.

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DOSSIÊ

Por Vanessa Soromo

De gota em gota Foto: Arquivo Codevasf

Sistema de irrigação por gotejamento inova e fortalece atividades de escolas agrícolas e produção de agricultores familiares

Horta irrigada com kit implatandado pela Codevasf por meio do Plano Brasil Sem Miséria

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inte e dois milhões de brasileiros superaram a extrema pobreza desde 2011, quando o Governo Federal lançou o Plano Brasil Sem Miséria (BSM) que é composto por três eixos: garantia de renda, acesso a serviços públicos e inclusão produtiva. Este último apresenta estratégias diferentes para o meio urbano e o rural, criadas com o intuito de atender as necessidades específicas dos beneficiários de cada zona. De acordo com o portal do BSM, 47% do público do Plano se encontra no campo. O dado revela a importância do subeixo “Inclusão Produtiva Rural”, que

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tem como principal objetivo fortalecer as atividades realizadas pelos agricultores familiares que vivem em situação de vulnerabilidade social e econômica. Para isso, inúmeras ações foram executadas por todo o país, como a distribuição de kits de irrigação. No estado do Piauí, o Plano Brasil Sem Miséria transformou a vida de muita gente, principalmente daquelas oriundas do semiárido, que sofrem constantemente os efeitos da seca causada pela escassez de chuvas. Os kits implantados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf)

aumentaram a capacidade produtiva de agricultores familiares e de Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) piauienses. De acordo com Ocelo Rocha, gerente de Revitalização da Bacia do Parnaíba da Codevasf no Piauí, o kit de irrigação é uma tecnologia israelense que se destaca pela simplicidade e eficiência. “O kit de irrigação veio com essa tecnologia muito simples, o tipo de tecnologia que você pergunta: por que não foi pensado nisso antes? Porque é muito simples, é um sistema de tubo gotejador, ele fornece água na quantidade exata, tanto no início da tubulação, quanto no final. Os kits de irrigação vieram para isso, e nós temos hoje resultados bastante satisfatórios”, explica. Um modelo exitoso é a EFA do povoado Soinho, localizada na zona rural de Teresina. A instituição de ensino de caráter privado pertence à Fundação Padre Antonio Dante Civiero (Funaci), entidade filantrópica e sem fins lucrativos. A escola oferece curso técnico em Agropecuária integrado ao Ensino Médio e funciona no sistema da Pedagogia da Alternância, em que os alunos passam 15 dias na instituição e 15 dias em casa. Segundo Ana Carolina Damásio, assessora técnica da Funaci, primeiramente foi ensinado aos estudantes da EFA a parte teórica, que contemplou dentre outros assuntos, o processo de instalação e de utilização dos kits de irrigação. Posteriormente, os alunos, acompanhados por um professor, foram ao campo, onde colocaram em prática tudo o que foi estudado e discutido em sala de aula. “[Com os kits]


Foto: Arquivo Codevasf

DOSSIÊ

foram ampliadas as áreas das hortas na escola, permitindo maior quantidade e variedade de cultivo, repassando dessa forma aos alunos uma nova tecnologia e viável na sua realidade, de forma que podem aplicar em suas comunidades”, conta. A experiência com o sistema de irrigação deu tão certo, que a própria Fundação doou kits para os jovens que mais se dedicaram e se destacaram durante o projeto. Após a doação, um professor da instituição acompanhou a produção das famílias dos alunos contemplados.

Agricultores e técnicos da Codevasf expõem caixas com kits de irrigação, no municipio de Tanque do Piauí

Caixa d’água é preparada para instalação do kit de irrigação

O kit de irrigação, além de simples e eficiente, conta com outras vantagens de caráter sustentável, já que possibilita a economia de água, fator essencial para a realidade do semiárido e a diminuição do consumo de energia elétrica. “Eles trabalham a baixa pressão e pouca vazão. Ou seja, com dois mil litros de água por dia, consigo implantar essa estrutura de irrigação de 500 metros quadrados. [...] tenho as mangueiras principais em uma área de 20 por 25 em média. Ele [agricultor] vai plantar hortaliças, melancia, pimenta - com dois mil litros/dia. Os kits de irrigação vieram com essa possibilidade, ou seja, levar até o pequeno produtor uma tecnologia que para ele antes era distante, era algo que ele não conseguia atingir na sua casa, no seu quintal”, explica Ocelo Rocha, gerente de Revitalização da Bacia do Parnaíba da Codevasf no Piauí. Segundo Ocelo Rocha, que é formado em Engenharia Agronômica, uma das suas preocupações profissionais é assegurar que a inserção de inovações tecnológicas nas comunidades atendidas represente efetivamente o au-

mento da produtividade, a redução de custo e a condução de resultados sociais mais positivos. Para Ocelo, as inovações não podem ser um estorvo para os agricultores, pelo contrário, elas devem ser de fácil absorção e aquisição, simbolizando dessa forma um caminho para o progresso de suas atividades. A assessora técnica da Funaci, Ana Carolina, corrobora a visão de Ocelo Rocha e frisa o caráter inovador e sustentável do kit de irrigação como o responsável pela inclusão produtiva de tantos estudantes e agricultores familiares piauienses. “É uma tecnologia simples e viável e, portanto, acessível às famílias de agricultores familiares, por utilizar o gotejamento por gravidade exclui o uso da bomba hidráulica trazendo uma importante economia de energia elétrica, e também por ser por gotejamento traz uma grande economia de água, além de poupar o produtor do excessivo esforço físico em grandes espaços permitindo assim a ampliação do cultivo do mesmo”, declara. Foto: Arquivo Codevasf

Foto: Arquivo Codevasf

Vantagens do kit de irrigação

São Francisco do Piauí - Comunidade beneficiada observa instalação do sistema de irrigação

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MATÉRIA

Por Mário David Melo

Animais Silvestres: estudo de carcaças gera novos conhecimentos sobre as espécies

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Pesquisa teve apoio da Fapepi através do edital do Programa Primeiros Projetos (PPP)

Brasil é referência mundial em relação à fauna e à flora. Seus mais variados ecossistemas abrigam inúmeras espécies de animais e plantas, como no Meio Norte do país, uma sub-região do Nordeste, onde predominam a caatinga e o cerrado. Um problema ainda comum, muitas vezes tratado como um aspecto cultural, é o tráfico de animais silvestres. Cultural no aspecto de que, para muitos, animais como papagaios, jabutis, tatus, tamanduás, preguiças, macacos, dentre outros, podem servir como bichos de estimação e também como fontes de alimento. Uma grave consequência dessa atitude, considerada como crime perante a lei, é a pilha de animais mortos devido às condições de captura, acomodação, transporte e maus tratos em geral, no caso do tráfico e também pela caça predatória. O destino das carcaças, após a apreensão pelos órgãos competentes, é a incineração. No Piauí, graças a uma parceria entre a Universidade Federal do Piauí (UFPI) e a Superintendência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), esse material teve um destino diferente. O projeto de pesquisa “Morfologia de Animais Silvestres do Meio Norte do Brasil”, coordenado pelo professor doutor em Ciência Animal, Airton Mendes Conde Júnior, teve o objetivo de estudar a morfologia de animais apreendidos pelo Ibama-PI que vieram a óbito para produzir conhecimentos anatômicos e histológicos

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Grupo de pesquisa publicou trabalhos em eventos internacionais

de espécies da fauna brasileira por meio do reaproveitamento científico de material biológico que seria descartado. O professor destaca como motivação para a realização do estudo o apoio que recebeu da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi), por meio do Programa Primeiros Projetos (PPP), destinado a pesquisadores com até cinco anos de doutorado. “Percebemos que o Ibama tinha muito material coletado que era incinerado ou enviado para taxidermia. Então pensamos em usar esse material para estudar melhor aquelas es-

pécies, muitas vezes ameaçadas de extinção. Em 2012, pegamos o financiamento da Fapepi, por uma iniciativa louvável de um programa para recém doutores, e tivemos a oportunidade de montar a estrutura necessária para o trabalho. ” O grupo de pesquisa passou um ano recebendo carcaças do Ibama-PI, na maioria de aves e alguns mamíferos. Por serem propriedades do Estado, tudo está devidamente catalogado. E há ainda muito material a ser utilizado, pois as análises continuam ocorrendo. Desde 2012 o projeto vem realizando a classi-


na área de anatomia macroscópica no XXV Congresso Brasileiro de Anatomia e XV Congresso Del Cono Sur, Sociedade Brasileira de Anatomia – SBA. Além disso, já publicamos dois artigos e temos 13 resumos apresentados em congressos nacionais e internacionais. Dos participantes já tivemos TCCs de sete alunos da graduação dos cursos de Biologia e Veterinária e estamos também com um grupo de pesquisa Animais Silvestres do Meio Norte do Brasil cadastrado e reconhecido pelo CNPq e pela UFPI”, comemora Airton Conde Júnior. Para o professor, os resultados da pesquisa são informações úteis para propostas de

reestruturação e conservação do meio ambiente em meio à grande devastação causada pela ação humana que ameaça a todas as formas de vidas presentes nos ecossistemas, inclusive, a do próprio homem. “O homem vem degradando o meio ambiente e isso leva os animais a perderem seu espaço. Acabam por serem extintos sem que saibamos mais sobre eles. O projeto é uma forma de retorno para essas espécies ameaçadas, sem que precisemos tirá-las de seu habitat para compreendê-las. É o mínimo de respeito que podemos ter para com esses animais, pois, afinal, somos nós os responsáveis pela urbanização dos ecossistemas.”

Educação ambiental é a chave para o combate ao tráfico de animais silvestres A cultura das pessoas que não veem problemas em criar animais silvestres como bichos de estimação ou alimentar-se deles advém, principalmente, da falta de informação sobre a coexistência com o meio ambiente. Isso se torna mais comum nas comunidades distantes, próximas dos ambientes naturais desses seres. Esse costume é o que também alimenta o tráfico desses seres vivos. Com pouco esforço, os traficantes conseguem apoio da comunidade para praticarem suas ações. “Eles compram a comunidade com pouca coisa e quando alguém denuncia, eles logo ficam sabendo e desaparecem. Têm muitos meios de comunicação para usar e nossos agentes são facilmente reconhecidos pelo fardamento”, lamenta Gilvan Vilarinho, analista ambiental responsável pelo Setor de Fiscalização do Ibama-PI. Segundo ele, os psitacídeos, grupos de aves que inclui papagaios, araras, jandaias, periquitos e muitos outros, são os mais visados pelos traficantes. As capturas ocorrem em regiões serranas com ocorrência comum nas cidades de Floriano, Porto Alegre do Piauí, Corrente, Bom Jesus, Pimenteiras e São Miguel do Tapuio. Para mudar esse quadro, os órgãos de preservação e proteção ambiental têm investido em campanhas e

trabalhos educativos para conscientizar as pessoas a não manter animais silvestres em cativeiro. Inaugurado em 2006, o Centro de Triagem de Animais (CETAS) do Ibama-PI recebeu quase oito mil animais, entre aves, répteis e mamíferos, nos últimos seis anos. Os recebimentos são oriundos de apreensões, recolhimento e entrega voluntária, além das coletas feitas pela polícia civil, batalhão ambiental da polícia militar e polícia rodoviária federal. A função do CETAS é verificar as condições dos animais e dar destinação a eles, seja retornando-os aos seus ambientes ou encaminhando-os para criadores autorizados e zoológicos. Analisando os dois últimos anos, percebe-se uma diminuição na quantidade de animais no CETAS. Isso se deve a dois fatores, sendo o primeiro a aplicação da Lei Complementar nº 140 de 2011 que estabeleceu as competências de cada órgão ambiental nas esferas municipal, estadual e federal. O outro motivo da diminuição é o trabalho educativo voltado para o público, outrora consumidor ilegal de animais silvestres, o que tem impactado diretamente na redução do tráfico. “Ao longo de dez anos, o Ibama-PI elaborou uma série de materiais educativos e didáticos prontos para serem utilizados

CETAS alerta para maus tratos sofridos por animais vítimas do tráfico

por professores na ideia da formação de multiplicadores. Hoje temos quatro mil docentes que usam gibis, música, vídeo e jogos que mostram as consequências cruéis do tráfico e da domesticação de animais silvestres. Isso aumentou significativa o número de entregas voluntárias”, explica Fabiano Pessoa, analista ambiental responsável pelo CETAS em Teresina. Fabiano lembra ainda que o contato com animais silvestres pode trazer sérias consequências à saúde, pois, várias dessas espécies são transmissores de zoonoses como a raiva, leishmaniose, além de doenças respiratórias.

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ficação taxonômica das espécies recebidas, estudando a sintopia e anatomia dos órgãos desses animais, realização da morfometria dos órgãos do sistema digestório, identificação da constituição tecidual, além da descrição ultraestrutural e histológica do aparelho musculoesquelético. Os trabalhos resultaram ainda na formação de recursos humanos em programas de iniciação científica da UFPI, por meio da apresentação de artigos e trabalhos de conclusão de curso. “Ainda temos colhido os frutos de nossas análises. Temos participado de muitos congressos de morfologia e ganhamos o prêmio de melhor trabalho


MATÉRIA

Por Allan Campelo

Núcleo de pesquisa dissemina a arte da gravura no Estado Com pouco mais de dois anos de criação, o Núcleo já expôs trabalhos fora do país

A

gravação de imagens em suportes já era uma técnica empregada pelos chineses desde o século II. A forma de reprodução das criações, feitas em matrizes, foi se adaptando e se reformulando até atingir o patamar de arte. Hoje a gravura é praticada em diversos países para os mais variados fins. Uma matriz de madeira, pedra ou até mesmo metal, com desenhos esculpidos na superfície com o intuito de reproduzir imagens em suportes de papel ou tecido, por exemplo. Esse seria um conceito básico do que é gravura, porém, diversas correntes de expressão artística em gravura mostram a complexidade das obras e o olhar sensível dos artistas que as produzem. Apesar da forte tradição europeia, com a disseminação da prática, países que inicialmente desconheciam esse tipo de arte, começaram a desenvolver e a estudar a gravura. Um desses exemplos foi o Brasil. Ainda nos anos de 1910, um dos pioneiros da gravura no país, o pintor e gravurista Carlos Oswald trouxe técnicas, como a xilogravura (gravura em madeira) e a calcogravura (gravura em metal), e incentivou a produção de novas obras. Hoje, alguns estados brasileiros, como Pernambuco e Bahia, se destacam no estudo e produção de gravuras. Porém, a disseminação das técnicas continua, e outros lugares do país começam a ganhar notoriedade, entre eles o Piauí.

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Foto: Allan Campelo

Professora Yolanda Carvalho destaca o potencial da produção em gravura no Piauí

A principal iniciativa no estado, é o Núcleo de Gravura e Pesquisa do Piauí da Universidade Federal do Piauí (NUGRAPPI/UFPI), que realiza estudos e exposições voltadas para o desenvolvimento da

gravura no Piauí. Criado em 2013, o Núcleo é o primeiro grupo de estudos em gravura do Estado, e conta atualmente com 15 membros, alunos do curso de Artes Visuais da UFPI.


gravadora italiana Mimma Maspoli, que trabalha com pesquisa em gravura na Accademia Carrara di Bergamo, 100 obras, de dez artistas piauienses, foram expostas de forma itinerante em galerias e instituições de ensino da Itália. Hoje, o NUGRAPPI conta com um laboratório específico para o desenvolvimento e estudo da gravura no Departamento de Artes Visuais da UFPI. E com a possibilidade de

capitais: Teresina, Cuiabá, Belém, Rio Branco, Porto Velho e Manaus. Questionada sobre o futuro da gravura do estado, a professora Yolanda ressalta uma nova percepção dos piauienses sobre a arte. “Acredito que está por vir a era dos colecionadores. Creio que o Piauí vai passar a produzir gravuras para colecionadores, e não só para eles, mas para simples admiradores da arte. Tenho percebido isso através de exposições Foto: Allan Campelo

Obras são produzidas na própria UFPI e começam a despertar o interesse da população

os participantes e o desejo deles de aperfeiçoar as técnicas fez com que o Núcleo pudesse buscar novos horizontes”, destaca a professora Yolanda. Em 2014, através de um intercâmbio de produções, feito com a

trabalhar de forma adequada, os participantes do Núcleo continuam a desenvolver novos trabalhos como a exposição “Luas”, que apresenta xilogravuras inspiradas no músico Luiz Gonzaga, e já percorreu as seguintes

que temos participado. As pessoas querem adquirir as obras. Esse tipo de cultura já acontece em outros estados e eu acredito, que em um futuro próximo, o Piauí também alcançará essa condição.”

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O grupo de estudo é coordenado pela professora da UFPI e artista plástica Yolanda Carvalho. Com experiência no ensino e na pesquisa em Gravura, a coordenadora do NUGRAPPI ressalta a crescente potencialidade das produções locais no alcance de uma percepção sólida em torno da gravura no estado. “Inicialmente nós produzimos muito, porém o nível ainda não era o ideal. Com o tempo as produções foram melhorando, eu cobrava muito


DICAS DE LIVROS

BALAIOS E BEM-TE-VIS, A GUERRILHA SERTANEJA (EDUFPI)

BIOLOGIA MOLECULAR (EDUFPI)

Organizador: Claudete Maria Miranda Dias R$ 30,00 294 páginas Ano: 2014 E-mail: clau@ufpi.br

Organizador: Sérgio Emílio dos Santos Valente R$ 30,00 358 páginas Ano: 2012 E-mail: svalente@ufpi.edu.br

Com uma linguagem direta, simples e de fácil entendimento, interessa não apenas aos estudantes universitários, mas aos que desejam conhecer uma parte da história do Piauí, abordada sob o prisma da participação das camadas populares na balaiada, um dos movimentos mais importantes da época regencial no Brasil, inserido no longo, penoso e violento processo de independência do Brasil - que se estende de 1789 a 1850.

O livro fornece as bases necessárias à compreensão de aspectos referentes à organização estrutural e funcional do material genético. Além disso, oferece ao estudante o aprendizado de termos frequentemente utilizados na área da Biologia Molecular, como transgênicos, sequenciamento, metagenômica, bioinformática, marcadores moleculares e aspectos éticos dessas novas tecnologias; apresentando, de forma clara, os pontos positivos e negativos das diferentes técnicas moleculares.

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DICAS DE LIVROS

ECONOMIA POLÍTICA DO JORNALISMO (EDUFPI)

ESCRAVIDÃO NEGRA DO PIAUÍ E TEMAS CONEXOS. (PETHISTÒRIA).

Organizador: Jacqueline Lima Dourado R$ 50,00 385 páginas Ano: 2013 E-mail: jacdourado@uol.com.br

Organizador: João Kennedy Eugênio Solimar Oliveira Lima R$ 30,00 386 páginas Ano: 2014 E-mail: kennedy_joao@hotmail.com

As investigações do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Economia Política e Diversidade da UFPI (COMUM) são alinhadas à Economia Política da Comunicação, com o viés no jornalismo em seus aspectos de produção, distribuição e consumo. Trabalha, ainda, com processos de digitalização, cidadania e diversidade. Abrange, principalmente, questões relacionais entre o mercado de comunicação, Estado e sociedade.

Com a realização do Colóquio Escravidão Negra no Piauí e Temas Conexos e a publicação de seus textos, o Programa de Educação Tutorial (PET) do curso de História da Universidade Federal do Piauí (UFPI) pretende contribuir para a difusão das pesquisas sobre uma temática central de nossa história incentivando o surgimento de novas pesquisas e estimulando a discussão dessa temática.

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TESES

Emanoel José Batista de Lim

Mike Melo do Vale

Pesquisador UESPI/FAPEPI Defesa: Pontifícia Universidade Católica de São PauloSP, 2015 E-mail: emano_lima@yahoo.com

Professor Adjunto I da Universidade Estadual do Piauí – Campus Piripiri Defesa:Universidade de São Paulo, 2014 E-mail: mikemvale@gmail.com

Cartografias do Cuidado em Saúde Mental: O Piauí em Cena

A

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Palavras-chave: Cuidado em Saúde Mental, Reforma Psiquiátrica, CAPS.

Palavras-chave: polímeros luminescentes; poços quânticos poliméricos; transferência de energia.

Reforma Psiquiátrica se configura como um processo social complexo e envolve uma gama polivalente de transformações na sociedade em relação ao louco e à loucura, propõe e luta por mudanças epistemológicas, jurídico-políticas, socioculturais e técnico-assistenciais. A política de saúde mental brasileira do SUS tem implementado serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico desde o início dos anos 1990, em especial os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Novas práticas devem pautar as ações desses novos serviços, rompendo com a tradição das ações de caráter manicomial. Esta tese tem por objetivo cartografar, a partir das práticas profissionais de cuidado em saúde mental, os modos de subjetivação acionados em um CAPS do Piauí. O método da cartografia inspirou os trabalhos a partir de experimentações etnográficas durante um período de 4 meses com a produção de um diário de campo. As situações e as conversas vivenciadas no cotidiano de serviço foram analisadas a partir dos aportes de Michel Foucault acerca dos modos de subjetivação e do cuidado de si. Compôs ainda o campo de análise deste trabalho uma contextualização da política de saúde mental no Piauí numa perspectiva histórica (cap. 1) bem como uma sistematização dos usos e sentidos do cuidado na atenção psicossocial. De um modo geral, duas grandes linhas foram cartografadas: 1 – modos de subjetivação ligados a práticas tradicionais para com o louco e baseados em relações de poder que promovem assujeitamentos (e que estiveram muito presentes no percurso da cartografia); 2 – processos de subjetivação produzidos a partir de práticas de cuidado em saúde mental baseadas na atenção psicossocial e que produzem efeitos de variação em relação aos modos de subjetivação dominantes. Apesar da persistência de práticas marcadas pela medicalização, tutela, segmentação, estigmas, entre outras, novas formas de cuidado têm sido esboçadas no sentido de produção de novos modos de vida, num movimento que tem o potencial de contribuir para a instituição de novos sujeitos, novas formas de sociabilidade e, consequentemente, nova sociedade. O fomento dessa frequência/consistência de cuidado também reside na abertura que os profissionais devem construir para com seu campo de trabalho, principalmente no encontro com os usuários e seus modos singulares de andar a vida.

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Dinâmica excitônica em estruturas poliméricas multicamadas

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ntender os processos em superfície/interface de filmes e seus efeitos sobre as propriedades ópticas e elétricas de materiais orgânicos é de grande importância tecnológica. Esta pesquisa descreve a fabricação e caracterização de filmes poliméricos extremamente finos (espessura <10 nm) e homogêneos compostos por camadas de polímero/polieletrólitos. O objetivo principal foi o estudo dos processos de transferência de carga e energia em tais estruturas. Os polímeros luminescentes utilizados foram poli (9,9 dioctilfluoreno) (PFO) poli(p-fenileno vinileno (PPV). A técnica de deposição denominada deposição camada por camada assistida por spin (SA-LbL) foi utilizada para obtenção dos filmes. Medidas de fotoluminescência (PL) em filmes PFO/PPV resultam em curvas de emissão com picos característicos de ambos os polímeros, o que confirma que a técnica SA-LbL permite a deposição de estruturas poliméricas multicamadas. A microscopia confocal de fluorescência (CFM) e a espectroscopia de fluorescência resolvida no tempo (FLIM) foram utilizadas para caracterizar a dinâmica do exciton e o seu confinamento nos poços quânticos. As medidas de CFM demonstraram que excitons que são gerados na barreira de PFO são eficientemente transferidos para o PPV. Além disso, o tempo de decaimento da emissão PFO residual é fortemente reduzido devido a processos de migração concorrentes no poço. O tempo de decaimento de PPV diminui substancialmente para poços com espessuras abaixo de 5 nm como resultado da auto-aniquilação do exciton. Dessa forma, as estruturas de MQW obtidos pela técnica de SA-LbL podem ser usadas para estudar a transferência de energia, efeitos túneis e para a construção de novos dispositivos optoelectrónicos com maior eficiência.


Maria Zilda Silva Soares

Professora Adjunto I da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) Defesa: Universidade Federal da Paraíba, 2014 E-mail: solange@terral.tur.br

Pesquisadora UESPI/FAPEPI Defesa: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2015. E-mail: mzildasoares@hotmail.com

Terra, mundo e verdade: Hölderlin, Heidegger e a obra de arte

Discurso materno, psicose e psicanálise: travessias...

E

A

Palavras-chave: Filosofia. Heidegger. Hölderlin. Arte.

Palavras chave: discurso materno, psicose, psicanálise.

ste trabalho examina a relação de “mundo” e “terra” na obra A origem da obra de arte, de Heidegger. Tem por objetivo sustentar a noção de verdade como questão originária do próprio pensamento e que se revela na arte de modo privilegiado. O texto trata do conteúdo da verdade como questão filosófica humana por excelência, contraposta à noção de adequação, e como o elemento que toda arte pode apresentar no seu desvelamento. Defende que é justamente e apenas uma leitura hermenêutica do ser da obra de arte que permite a conciliação de “mundo” e “terra” e o desenvolvimento da noção de verdade originária como jogo de encobrimento e não encobrimento em que o homem se encontra entregue. A investigação segue o fio condutor da ontologia da obra de arte enquanto encaminha o pensar para a busca do lugar e da importância da arte que se revela originariamente na poesia. A poesia é entendida como Dichtung, como composição originária, tarefa do pensamento. Essa perspectiva transpõe a questão do pensar para a linguagem e para a discussão a respeito da tarefa humana que se realiza na e pela linguagem. A tese investiga também a influência de Hölderlin no pensamento de Heidegger no que concerne à concepção poética da arte. O desenvolvimento do trabalho se concentra, principalmente, em três pontos: analisa o modo como a arte funda a verdade; entende a relação entre terra e mundo e discute a poesia e a linguagem como verdadeira habitação do homem. A investigação assegura como resultado a concepção de que o homem está lançado no processo de desvelamento da verdade que, pela linguagem, via obra de arte lhe garante um acesso privilegiado ao ser.

TESES

Solange Aparecida de Campos Costa

ncorado na perspectiva da psicanálise como um campo de investigação científica, como ferramenta de pesquisa qualitativa, como um modo de compreensão do psiquismo, como forma de apropriação do discurso inconsciente e como uma ciência da singularidade, o presente estudo consiste em compreender a atualidade de constructos teóricos formulados por Freud, Lacan e Aulagnier sobre as psicoses, por meio da entrevista psicanalítica que favoreceu a escuta do discurso de duas mães, Joana e Bárbara, mulheres nordestinas, que relataram suas histórias de vida, incluindo aí a relação delas com seus filhos tidos como psicóticos. A travessia se deu pela seguinte ponte: como o discurso dessas mães dialoga e/ou faz ressonância com considerações teóricas formuladas por Freud, Lacan e Aulagnier? Através da apreensão do discurso materno de Joana e de Bárbara atravessado por histórias de vida que incluíram a infância, a juventude, os relacionamentos amorosos, o casamento, a gravidez, a maternidade a as experiências com os filhos diagnosticados com psicose, foi possível fazer a ponte com conceitos psicanalíticos tais como: complexo de Édipo e Castração, Feminilidade, Identificação, Linguagem, Significante, Realidade Histórica, Potencialidade Psicótica e Foraclusão do Nome-do-Pai. Discurso materno e teoria se entrelaçaram possibilitando algumas interpretações importantes: a dinâmica subjetiva das mães entrevistadas, incluindo aí o Édipo, o processo da sexualidade feminina, as identificações, a realidade histórica, a relação amorosa com os esposos, a função paterna, a qualidade de investimento e de desejo na gravidez e na maternidade, foram essenciais para se estabelecer uma espécie de curto-circuito que ocorre na psicodinâmica de uma família que tem em seu contexto pessoas que constituíram uma psicose. Concluindo, o conflito entre o ego e a realidade presente nas psicoses, a falta de simbolização da Lei paterna ou a foraclusão do Nome-do-Pai e a potencialidade psicótica advêm dos desencontros que se manifestam entre as funções materna e paterna e os cuidados com o filho.

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PALAVRA-CHAVE

Por Allan Campelo

Mobilidade Urbana

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Com o atual crescimento das cidades, a preocupação com a locomoção dentro dos grandes centros passa por um aspecto que hoje é bastante discutido: a mobilidade urbana.

professora da Universidade Federal do Piauí, mestre em Desenvolvimento Urbano pela Universidade Federal de Pernambuco e doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia, Angela Martins Napoleão Braz, explica a importância de um planejamento eficaz no que diz respeito à mobilidade urbana.

Quais as principais contribuições da arquitetura para o desenvolvimento da mobilidade urbana? Creio que a principal contribuição seja a ampliação da mobilidade urbana das pessoas, o que significa oferecer mais condições de circulação e de acessibilidade aos bens e serviços urbanos. Esse entendimento parte do fato de que a arquitetura introduz movimento ao ambiente urbano, pois a construção de uma casa, um edifício ou uma escola, atrai novas pessoas para o lugar. Implica dizer que a arquitetura eficiente se associa ao urbanismo através de soluções que produzam um ambiente urbano mais inclusivo e conectado. Que medidas podem ser adotadas para garantir que o progresso não comprometa a mobilidade nas grandes cidades? O progresso não compromete a mobilidade. O mau planejamento urbano sim. Sendo assim, em um bom planejamento, a primeira medida seria otimizar a circulação – que pode ser obtida simplesmente com o aumento da largura das vias com o objetivo de reduzir os gargalos viários e/ou a implantação de corredores de ônibus, entre outras obras de infraestrutura de transportes, necessárias, mas

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nem sempre suficientes. Elas somente serão plenas se forem planejadas em função da segunda medida que é promover a acessibilidade das pessoas aos benefícios urbanos – que pode ser conseguida através da implantação de equipamentos urbanos ou de obras como, abertura de vias, correção do pavimento dos passeios públicos, localização adequada de sinais de trânsito e paradas de ônibus, iluminação nas vias, segurança pública.

Foto: Allan Campelo

Professora Angela Martins Napoleão Braz

Qual seria a maior dificuldade, hoje, para uma melhor mobilidade urbana em Teresina? Creio que a maior dificuldade tem a ver com a gestão de pequenas e grandes redes de transportes e com a desconsideração pela história do território. Trata-se da inexistência de conexão entre as redes de transporte e a qualidade ruim da frota pública. Entendo que a cidade deva ser vista como uma unidade onde todas as partes se juntam. Para alcançar um bom nível de qualidade de vida urbana, é preciso conhecer a formação do território e administrar o quadro territorial. Em questões complexas como a mobilidade, é fundamental compreender para explicar o que somos e porque, por um longo tempo, não a tivemos. Só assim para decidir pelo mais conveniente. De que adianta, por exemplo, uma ciclovia se ela é interrompida na rótula e depois não tem continuidade?

Apesar da preocupação com a locomoção urbana, existe a atenção que deve ser voltada para a preservação do patrimônio arquitetônico das cidades. Como você avalia esse possível conflito? O “lugar” é o receptáculo da cultura de uma sociedade. Ele não é inerte, pois se transforma com a assimilação de novos elementos culturais, mas suas características básicas devem ser preservadas na evolução da cidade sob pena de se perder a identidade urbana. Veja o caso da Avenida Frei Serafim, por exemplo. É um elemento urbano de referência em várias épocas da história urbana de Teresina, facilmente reconhecida mesmo em uma fotografia sem legenda. Seus elementos morfológicos podem se transformar (pavimento, arborização, iluminação, mobiliário, etc.), mas as características básicas de sua forma não. Falo de sua volumetria e de sua configuração.




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