Sapiencia 41

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ISSN 1809-0915

Teresina-PI | Edição nº 41 | Ano XIV | Fevereiro 2017

Publicação Científica da FAPEPI

BACURI

Estudo utiliza fruto para o combate ao câncer

ENTREVISTA

Fábio Rocha explica os desafios das energias renováveis

FARINHADA

Atividade é objeto de estudo no interior do Piauí




José Wellington Barroso de Araújo Dias Governador do estado do Piauí Margarete de Castro Coelho Vice-Governadora do estado do Piauí Francisco Guedes Alcoforado Filho Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí - Fapepi Albemerc Moura de Moraes Diretor Técnico-Científico da Fapepi Wellington Carvalho Camarço Diretor Administrativo-Financeiro da Fapepi

Foto: Ticyanne Brito

EXPEDIENTE

Nº 41 Ano XIII / Fevereiro de 2016 ISSN – 1809-0915

COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO: Michelly Samia EDITOR-CHEFE: Allan Campêlo Pinheiro REDAÇÃO: Allan Campêlo Pinheiro Daniele Lima (estagiária) Jhussyenna Reis Luiz Carlos Júnior Mário David Melo Thicyanne Brito

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Entrevista: Coordenador do Laboratório de Eficiência Energética da UFPI explica desafios e benefícios das energias renováveis no Brasil

Foto: Arquivo Pessoal/Rodrigo Gerolineto

CONSELHO EDITORIAL Acácio Salvador Véras e Silva Adalberto Socorro da Silva Albemerc Moura de Moraes Ana Regina Barros Rêgo Leal Edvaldo Sagrilo Evaldo Hipólito Francisco Guedes Alcoforado Filho Francisco Marcelino Almeida de Araújo João Batista Lopes José Milton Elias de Matos Lívio César Cunha Nunes Orlando Maurício de Carvalho Berti Raimundo Isídio de Sousa Regis Bernado Brandim Gomes

FOTOS: Daniele Lima Jhussyenna Reis Lilian Brandt Luiz Carlos Júnior Marcelo Cardoso Mário David Melo REVISÃO DOS TEXTOS: Luciana Rodrigues Rocha PUBLICIDADE: Patrícia Carvalho CAPA: Luiz Carlos DIAGRAMAÇÃO: Luiz Carlos IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Timonense TIRAGEM: 10 mil exemplares Publicação Trimestral

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Farinhadas são objeto de estudo de pesquisa piauiense


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Estudo investiga potencial do babaçu para a produção de biodiesel

Bacuri pode ser alternativa no combate ao câncer

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Palavra-chave: Dr. Ney Paranaguá fala sobre startups

Sumário

Foto: Marcelo Cardoso Foto: Reprodução

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Piauí no centro da produção de energia eólica do país

E mais... Realização Fapepi, artigos, teses e dicas de livros.

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UM SONHO POSSÍVEL Mesmo sendo um assunto bastante discutido, as Energias Renováveis parecem constituir um amplo campo de estudo que se mostrou, por vezes, como uma promessa distante, futurista e por que não dizer, irrealizável. De tecnologias de alto custo ao desenvolvimento de pequenos projetos individuais, a concretização do ideal de uso desse tipo de energia parece, agora, passar apenas pela necessidade de um maior envolvimento das entidades de pesquisa e dos governos como incentivadores da área.

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Porém, seria ingenuidade acreditar que uma população que desconhece o potencial do seu estado e país pudesse comprar uma ideia que parece retirada de uma realidade estrangeira. Foi pensando exatamente neste conteúdo informacional que a equipe da Sapiência, mapeou estudos que buscam comprovar as chances do Piauí de se desenvolver a ponto de realizar o sonho de não mais perder investimentos por conta de problemas com o abastecimento de energia.

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Editorial

De acordo com informações divulgadas este ano pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a distribuidora piauiense, Eletrobrás Piauí, ocupa apenas o 23º lugar, entre 31 empresas, no ranking nacional de distribuição contínua de energia elétrica, o que contribui para problemas na instauração de grandes empresas e a manutenção de pequenos empreendimentos. Diante de um contexto tão desfavorável no que se refere a forma convencional de energia, este pode ser um bom momento para observamos novas possibilidades.

Em nossa entrevista, trouxemos uma conversa com o professor doutor Fábio Rocha, que falou sobre as potencialidades brasileiras e piauienses em Energias Renováveis. No dossiê, explanamos sobre as pesquisas piauienses que tratam das três principais fontes de energias limpas, Eólica, Solar e o Biodiesel, destacando ainda projetos de implantação de novas tecnologias nesta área em nosso estado. Nas matérias gerais, trouxemos um estudo realizado na Universidade Federal do Piauí (UFPI), sobre a importância das farinhadas para a identidade cultural do povo piauiense, uma conversa com a professora de canto, Paula Molinari, que coordenou a primeira chamada internacional da Fapepi, a Researcher Connect, e ainda uma interessante pesquisa sobre as propriedades do bacuri auxiliando no combate ao câncer. Na sessão “Palavra-Chave”, você confere um bate-papo com Ney Paranaguá, que explica o que é preciso saber sobre Startups. Nós da Fapepi, em especial a equipe da revista Sapiência, desejamos a todos uma ótima leitura. Allan Campêlo Pinheiro Editor-Chefe

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AO LEITOR Para críticas, sugestões e contato: sapiencia@fapepi.pi.gov.br www.fapepi.pi.gov.br Av. Odilon Araújo, 372, Piçarra Teresina-PI • CEP 64017-280 Fone: (86) 3216-6090 Fax: (86) 3216-6092


ENTREVISTA

Por Thicyanne Brito

Eficiência energética: mais, com menos Atualmente, já somos mais de 7 bilhões de pessoas em todo o mundo. Com o aumento da população, em sua maioria concentrada nas grandes cidades, cresce a demanda por energia, e novas possibilidades começam a aparecer. Foto: Thicyanne Brito

Fábio Rocha Barbosa Fábio Rocha Barbosa é natural de Fortaleza – Ceará, graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestre e doutor em Engenharia Elétrica com ênfase em Sistemas Elétricos de Potência, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), presidente da Comissão Interna de Conservação de Energia, Subcoordenador da Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Coordenador do Laboratório de Eficiência Energética da UFPI. É pesquisador no desenvolvimento de diagnósticos energéticos e classificação de ambientes (eficientes/não-eficientes).

O

s recursos naturais estão cada vez mais caros e escassos. A grande missão da sociedade, diante desse cenário, é descobrir alternativas que satisfaçam as necessidades atuais sem prejudicar o futuro do planeta. Uma das soluções possíveis é alcançar a eficiência energética. Utilizar os recursos naturais disponíveis da melhor forma

possível, a fim de assegurar maior desempenho com menor consumo de energia, é o que propõe o pesquisador Fábio Rocha Barbosa. Durante entrevista concedida à revista Sapiência, o professor explicou a importância da divulgação e aproximação do tema Eficiência Energética com a sociedade. Ouve-se muito falar em eficiência energética, porém muitas pessoas

ainda não compreendem esse termo. O que de fato é ser energeticamente eficiente? É procurar aumentar a produção consumindo menos energia. No Piauí, tudo ainda é muito recente. Percebe-se que o mercado ainda não pensa muito nisso, ainda se encontra em processo de amadurecimento. Enquanto que, no Brasil todo, já existem

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ENTREVISTA

empresas especializadas para prestar serviço de consultorias em eficiência energética. Criamos, dentro da Universidade Federal do Piauí (UFPI), um Programa de Gestão Energética que vislumbra o retrofit, que pode ser entendido pela troca de lâmpadas e condicionadores de ar não eficientes por eficientes e, no futuro, uma automação, que é quando os equipamentos só ligam quando alguém estiver presente no ambiente, por exemplo. Acredito que até a metade deste ano, já vai existir pelo menos três centros da nossa instituição com esse programa de automação em execução. Por que o interesse na área de Eficiência Energética? O que despertou sua atração por esse campo da engenharia elétrica? Ainda na graduação, eu tive a oportunidade de estudar essa disciplina com um professor muito bom que fundou no campus uma Comissão Interna de Conservação de Energia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ele realizou um trabalho muito lindo e montou um excelente laboratório na instituição. Esse mesmo professor me indicou para um estágio em uma empresa de eficiência energética. Ao chegar na UFPI, percebi que essa área ainda não estava muito desenvolvida no estado, então comecei a aplicar alguns conhecimentos, tanto da parte acadêmica, como da prática que eu adquiri no mercado de trabalho e começamos a atrair alguns jovens que queriam realizar pesquisas também nessa área. Começaram a surgir os primeiros artigos e resultados. Foi quando ganhamos o prêmio de sustentabilidade do Ministério da Educação (MEC). Esses alunos do laboratório de eficiência energética se inscreveram no desafio, participamos da premiação e os alunos da UFPI ganharam os oito prêmios individuais em disputa, além da própria universidade ser a vencedora do prêmio institucional. Isso impulsionou ainda

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mais a equipe, pois com a premiação conseguimos estruturar o laboratório, desenvolver mais pesquisas e avançar com o surgimento da nossa pós-graduação. Quando nossa pós começou nós ganhamos um caráter de pesquisa propriamente dito. Uma coisa foi ligando à outra e agora acredito que estamos bem posicionados para um futuro promissor. A eficiência energética e as energias renováveis formam os “dois pilares” da política energética sustentável. É viável que o abastecimento energético de um país seja gerado unicamente através das energias renováveis? Não tem como substituir completamente as energias firmes, como é o caso das hidrelétricas, por energias renováveis.O que pode haver é a complementaridade das energias. Então, ela dá aquele fator de segurança em termos de complementaridade, mas não dá para substituir totalmente. É o fato de se usar as energias renováveis, quando da sua disponibilidade, ao tempo que se resguarda do uso das águas nos reservatórios das hidrelétricas, o que pode ser uma grande vantagem em tempos de escassez de chuvas. Entretanto, por ordem de uma diminuição na produção da energia renovável (pouca radiação solar, pouco vento), a hidrelétrica ou termelétrica supre a demanda com segurança. No caso específico de Teresina, o fator solar é muito bom, então o sistema fotovoltaico é a melhor aplicação hoje em termos de renováveis em nossa região; embora em outros pontos do Piauí tenhamos parques eólicos. Para constar, vários anúncios, desde os leilões de renováveis de 2015, apontam o Piauí como um dos grandes receptores de projetos de Solar Fotovoltaica e Eólica no Nordeste. Alguns projetos ambicionando se tornarem os maiores do Brasil e até da América Latina. É possível economizar adotando medidas simples, como substituição de

lâmpadas, entre outras. Ações como essa podem gerar uma redução de até quantos por cento na conta de energia? Isso é muito mais uma questão cultural. A exemplo, temos o caso das lâmpadas, onde uma política pública “forçou” a eficiência energética. Uma vez que a lâmpada incandescente era muito barata e a lâmpada PL (Purpose Lamps) tinha um preço maior em comparação. Então, quando a pessoa ia substituir suas lâmpadas comprava a mais barata, porque essa é a cultura que nós temos (comprar a mais barata), não se pensava em um investimento em eficiência energética. Ficava muito difícil mudar essa cultura e para isso acontecer teve que ter a ação de uma política pública, que agora impede a comercialização desse tipo de lâmpada (incandescente); obrigando o consumidor a comprar a lâmpada eficiente. Então, quanto mais massificarmos essa cultura de sermos eficientes dentro das nossas casas, mais economia teremos nas despesas. Quando você trabalha só com iluminação e ar condicionado, a sua eficiência pode chegar a até 35% de sua conta de energia. O desperdício de energia ainda é muito grande. Quais são os erros mais cometidos no dia a dia e que poderiam resultar em economia? Em termos de residência, vamos ter a dona de casa que lava uma pequena quantidade de roupas na máquina de lavar, em vez de lavar tudo de uma única vez; ao invés de passar toda a roupa de uma só vez, fica usando o ferro toda vez que vai precisar de uma roupa. É importante lembrar que cada período de aquecimento desse ferro de passar é um desperdício de energia. Outra situação muito recorrente é a geladeira com a vedação em falha, o que leva a consumir mais energia; esquecer lâmpadas acesas e usar o ar condicionado com a porta do quarto aberta são alguns dos erros que se comete muito. Ressalto que não adianta ter


o equipamento eficiente se não fizermos o uso correto. Existe alguma política pública que se mostrou adequada para promover a eficiência energética? Volto a falar da lâmpada incandescente. A política pública aplicada foi perfeita porque, enquanto isso não acontecia, a lâmpada não-eficiente ainda estava no mercado e era a preferida dos consumidores. A lâmpada incandescente comum tem uma eficiência da ordem de 8%, enquanto em uma lâmpada florescente compacta o equivalente a essa ordem é de mais de 30%; essa última com preços de 10 a 20 vezes superiores à primeira (o preço era um empecilho). Então, a diferença é muito grande e ter conseguido colocar isso como uma política pública foi um avanço para o Brasil. Que caminhos garantem a sustentabilidade energética de um país

como o Brasil, que consome cada vez mais? Estamos nesse caminho? Planejamento. Eu sei que o Ministério de Minas e Energia mantém a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) que faz os planos decenais, planos para o futuro e possui um caderno que é exclusivamente para eficiência energética. Então, esse planejamento não pode parar em termos de execução. Acredito que ainda falta esse último link: levar do planejamento à execução com mais firmeza. Dessa forma, teremos produção de energia abundante, crescimento, economia fortalecida; não podemos desvincular uma coisa da outra. Quando tudo isso se alinhar, teremos um país que cresce sem problemas energéticos. Para que possamos visualizar este ambiente. O que seria, por exemplo, uma cidade sustentável? A cidade sustentável é a cidade que consegue equilibrar os gastos de ener-

gia com relação a sua produção. Ela não derruba a produção, ela consegue manter seu meio de vida sem suplantar a questão energética. É uma cidade que investe na cultura da eficiência energética, da energia renovável, que se preocupa com questões de políticas públicas que envolvam isso. E que mostre para a sua população que está se importando com ela, oferecendo também a sociedade a oportunidades de usufruir desses conceitos tanto de eficiência energética quanto de energia renovável. Qual é o grande desafio da eficiência energética no Brasil? Vencer a questão cultural, pois quanto mais falarmos dessa cultura, mas isso vai desenvolver. É muito gostoso se ouvir “eficiência energética”, mas a cultura, os hábitos têm de pegar e isso é melhor para o Brasil, para as instituições, empresas e para nossas casas.

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ENTREVISTA

Foto: Ricardo Leizer

Professor Fábio Rocha foi o vencedor do “Desafio da Sustentabilidade” organizado pelo Ministério da Educação


Pesquisa mostra a importância das farinhadas na formação da identidade de moradores da região de Picos Projeto apoiado pela Fapepi foi realizado no município de Serra do Tanque.

Foto: Arquivo/IFPI

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Por Luiz Carlos Júnior

Moradora da Serra do Tanque em dia de farinhada.

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o contexto atual, a globalização e a facilidade do acesso a outras culturas fazem com que a forma-

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ção da identidade do povo piauiense, especialmente das novas gerações, se distancie gradativamente das práticas enraizadas na cultura do Estado; so-

bretudo, aquelas ligadas às áreas rurais. Isso tem motivado estudos variados, que têm como objetivo preservar essas características identitárias do Piauí.


miliares, vizinhos, amigos, podendo complementar a mão de obra necessária com a contratação de trabalhadores diaristas. Elemento importante na composição da renda familiar, a farinhada estreita os laços sociais, permite a troca de experiências e preserva a cultura. A participação dos jovens é a garantia da transmissão deste saber às novas gerações. “A farinhada permite o aproveitamento de produtos como o cascalho e o leite (água usada na lavagem da massa) que são usados na alimentação de animais. Esta prática cultural tem sido um termômetro das condições de vida dos agricultores, além de contribuir para sua permanência no campo. Em geral, quando os produtores deixam de realizar a farinhada, significa que fatores econômicos ou climáticos têm afetado significativamente suas vidas”, afirma o professor Rodrigo Gerolineto. O professor destaca que, por ter estas características, a atividade da farinhada deve ser observada com atenção. “Ao valorizarmos a cultura imaterial, estamos promovendo a afirmação dos portadores dos bens culturais como cidadãos e sujeitos históricos. A cidadania cultural é uma das dimensões da vida social capaz de promover empoderamento das pessoas a partir dos locais onde vivem”, conclui Gerolineto. A pesquisa também se preocupa em apontar possíveis ações de valorização e proteção do bem cultural, em consonância com a Convenção da UNESCO de 2003, que prevê a salvaguarda dos bens imateriais e a sensibilização em nível local, nacional e internacional, para que os bens culturais sejam valorizados. As tradições, saberes e expressões culturais constituem verdadeiros patrimônios das sociedades em todo o mundo. No caso da farinhada da Serra do Tanque, existe uma gama de conhecimentos e compe-

tências pertencentes à dimensão da cultura intangível que servem à sustentabilidade da vida no campo. Por isso, também é um modo de se identificar e estabelecer o seu lugar no mundo através de ações criativas e inovadoras. Os instrumentos e as técnicas podem variar, o que é revelado pelas diferentes configurações dos aviamentos e nas adaptações dos instrumentos de produção. Para conhecer a relevância deste bem cultural na formação da identidade dos moradores da Serra do Tanque, a pesquisa tem abordado as histórias de vida dos farinheiros e ex-farinheiros e, de acordo com essa abordagem, é possível perceber a ligação afetiva com este “saber fazer” que delimita episódios marcantes, como a aquisição de uma pequena propriedade ou o aprendizado, ainda na infância, junto a mães, pais e avós, que desenvolveram essa cultura com outras gerações. “As memórias acerca do passado de farinheiros e farinheiras trazem forte carga emotiva, e, por outro lado, preocupações com o futuro. As novas gerações já se dividem entre a vida na serra e o trabalho na cidade para sustentar suas famílias”, afirma o professor Rodrigo Gerolineto Fonseca. O coordenador destaca que com os depoimentos coletados durante a pesquisa será feito um documentário, que pretende valorizar e promover este patrimônio imaterial brasileiro. “O documentário não tem a pretensão de se destacar como obra cinematográfica, mas de popularizar a produção científica e estreitar os laços com a comunidade, retornando ao público o investimento feito em nosso trabalho. Trata-se de um esforço em encontrar novas linguagens e suportes para comunicar a produção acadêmica e coletivizar o acesso ao conhecimento. Para isso, temos ainda o apoio do Pibex e do Pibic Jr. do IFPI”, destaca o professor.

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Em um desses estudos, alunos do ensino médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), sob a coordenação do professor Ms. Rodrigo Gerolineto Fonseca, investigam a importância da farinhada para a formação da identidade dos moradores da Serra do Tanque, localizada entre os municípios de Santana do Piauí e Picos, no sudeste piauiense. Embora não seja uma atividade típica do Piauí, a farinhada faz parte, mesmo que em menor escala atualmente, da formação cultural do povo nordestino. O projeto é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi), que concede bolsas de iniciação científica para os alunos que participam do grupo de pesquisa. O coordenador do projeto destaca que o interesse por investigar o tema surgiu com a descoberta de que um de seus alunos reside na Serra do Tanque e, ao visitar a região, o professor conheceu uma casa de farinha e achou interessante a alegria com que as pessoas realizavam a atividade. Atualmente, o grupo de pesquisa é formado por quatro bolsistas e um pesquisador voluntário, que é justamente aquele que apresentou ao professor a atividade realizada na Serra do Tanque. O professor Rodrigo Gerolineto destaca que a atividade, também conhecida como “desmancha”, realizada entre os meses de junho e agosto, tem perdido adeptos na região, fato que coloca em risco a tradição da cultura regional. “A Serra do Tanque já abrigou cerca de trinta casas de farinha. No ano de 2016, apenas cinco delas realizaram a desmancha”, lamenta o professor. Diferente da produção nas fábricas convencionais, mesmo as que utilizam técnicas artesanais, a farinhada constitui um bem da cultura imaterial. Trata-se de evento que congrega agricultores e seus fa-


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Foto: Acervo Pessoal/Rodrigo Gerolineto

Professor Ms. Rodrigo Gerolineto e os alunos que participam do grupo de pesquisa

Riscos à atividade Durante os estudos o grupo tem identificado alguns aspectos que são determinantes na redução da atividade na região da Serra do Tanque, como a redução da produção das roças de mandioca, localizadas na cidade de Marcolândia, devido à escassez de chuvas, e o aumento dos custos de produção. Além disso, as mudanças características dos processos de globalização agravam esse quadro. No plano econômico, o encurtamento das distâncias e a dinamização da economia regional, já que Picos é uma cidade polo, facilitam tanto as mudanças nos hábitos de consumo, como o ingresso de novos produtos concorrentes com a goma produzida na região. “Observamos produtos expostos nas gôndolas de supermercados da

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cidade de Picos e foi possível encontrar goma fresca embalada a vácuo, vinda dos estados de Mato Grosso, Paraná, Paraíba e Pernambuco. A produção em escala feita por estas indústrias, as compras por impulso nos supermercados e a facilidade no preparo do alimento oferecem forte concorrência à produção artesanal. Além disso, os produtores da serra devem arcar com o ônus do transporte à feira livre, principal local de venda, ou entregá-la a atravessadores”, destaca o professor. Já no plano cultural, a pesquisa constata que o crescimento urbano de Picos tem atraído os jovens com ofertas de trabalho, estudo e lazer. Assim, a formação destes jovens e seus projetos pessoais se distanciam do ritmo da vida na comunidade rural, onde se

dá a transmissão geracional do bem imaterial. Ao mesmo tempo, a eletrificação permitiu a chegada da internet, vetor tecnológico impulsionador de novas práticas de consumo cultural entre os jovens e novos padrões de sociabilidade. Como possível solução para o problema, o professor Rodrigo Gerolineto destaca a importância da farinhada estar inclusa dentre as prioridades das políticas de desenvolvimento local e regional. “Como medida de gestão, inclui-se, por exemplo, a possibilidade de estreitar os laços entre os produtores e os empresários locais. O patrimônio imaterial assim protegido pode alcançar valor simbólico, ganhar visibilidade e gerar renda para a comunidade, estimulando a sua continuidade”, finaliza.


•Luciana Barboza Silva1 •Gleidyane Novais Lopes-Mielezrski2 1 Professora Adjunta da Universidade Federal do Piauí; E-mail: lubarbosabio@hotmail.com Bolsista do Programa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR - FAPEPI/CNPq); E-mail: gnlopesm@hotmail.com

Estratégias para o manejo de pragas e levantamento da entomofauna no sul do Piauí

O

cerrado piauiense, inserido na última fronteira agrícola (MATOPIBA), destaca-se pelas altas produtividades o que só é possível com o uso de tecnologias apropriadas e uso correto dos insumos agrícolas, como os agrotóxicos. No entanto, o uso recorrente e indiscriminado desses, tem acarretado sérios desequilíbrios ao agroecossistema, com destaque para a seleção de pragas resistentes a esses químicos, eliminação de inimigos naturais, contaminação do ambiente, intoxicação de animais, dentre outros. O núcleo de pesquisa em entomologia, localizado na cidade de Bom Jesus (PI), possui parceria com empresas do setor produtivo e de insumos agrícolas. As pesquisas estão voltadas para o conhecimento da entomofauna e o manejo racional de pragas através da integração dos diferentes métodos de controle, dentro da filosofia do manejo integrado de pragas, com o principal objetivo de atender às demandas dos produtores e sociedade em geral. Neste contexto, o grupo vem realizando pesquisas no sul do Estado do Piauí, na busca de compreender a relação dos insetos com plantas cultivadas e a ocorrência natural dos insetos no ambiente. Dentre os estudos realizados, destaca-se a seleção de linhagens de Trichogramma pretiosum Riley, 1879 (Hymenoptera: Trichogrammatidae) sobre ovos de H. armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) em condições de laboratório. Nesse estudo foi feita a seleção

de linhagens de T. pretiosum, determinando-se, os parâmetros biológicos, número estimado de gerações, porcentagem de parasitismo e eficiência de parasitismo em diferentes condições de temperatura, de modo a inferir a linhagem mais adaptada a ser utilizada no controle biológico de H. armigera nos cultivos do sul do Piauí. Além disso, o grupo vem realizando o monitoramento para registrar a ocorrência de Trichogramma spp. durante o período de entressafra, com o intuito de identificar espécies de parasitoides endêmicos da região que possam ser mais efetivos no controle de insetos-praga considerando as condições de adaptabilidade. Com a necessidade de trabalhos que apresentem repostas de cultivares de soja Bt e não-Bt sob estresse hídrico, bem como, o comportamento de herbivoria e oviposição de Chrysodeixis includens (Walker, 1848) (Lepidoptera: Noctuidae), sob plantas submetidas ao estresse hídrico, um estudo vem sendo conduzido para investigar a interação inseto planta, na tentativa de obter informações importantes, tanto para o manejo do solo, como na escolha do cultivar a ser utilizado em regiões semiáridas que tem quantidade de chuva limitada e muitas vezes veranicos prolongados. Dentre as medidas de controle de insetos-praga na cultura da soja, cabe ressaltar o uso do tratamento de sementes. Neste contexto o grupo tem desenvolvido trabalhos com o objetivo avaliar o efeito do tratamento de sementes com inseticidas na di-

nâmica populacional das principais pragas da soja durante todo o seu ciclo. Outro fator que pode auxiliar no manejo de pragas na cultura da soja é o conhecimento das interações inseto-planta, principalmente mediadas por voláteis induzidos pela herbivoria. Dessa forma, estudos vêm sendo conduzidos para compreender essas interações e assim fornecer subsídios para o manejo sustentável de pragas nessa cultura. Diante da necessidade do armazenamento de grãos o grupo de pesquisa busca compreender o comportamento de importantes pragas associadas ao armazenamento de grãos, a exemplo do gorgulho-do-milho, Sitophilus zeamais, uma das pragas mais comuns do milho armazenado devido ao seu elevado potencial biótico. Além desses estudos, também vem sendo realizado o levantamento da entomofauna em áreas nativas do sul do Piauí, com atenção dispensada à ocorrência de moscas-das-frutas e seus parasitoides. O diferencial do grupo é a integração das diversas áreas da entomologia, cujas pesquisas desenvolvidas hoje no sul do Piauí têm como objetivo difundir alternativas para o manejo de pragas na agricultura, compreender a dinâmica e eficiência dos métodos de controle, a interação entre os organismos e o comportamento das diferentes espécies de insetos que causam danos econômicos frente às novas tecnologias no contexto da agricultura de modo a pensar na prática agrícola sustentável.

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ARTIGO

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•Jussiê Soares da Rocha

ARTIGO

Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – IFPI jussie.soares@ifpi.edu.br

Técnicas numéricas para a aplicação em projetos termofluidodinâmicos de reatores VHTGR para a produção de hidrogênio

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s problemas ambientais do mundo atual fazem do desenvolvimento sustentável uma questão de sobrevivência. A redução no consumo de combustíveis fósseis é fundamental para que se alcance a sustentabilidade. Segundo Rocha (2011), a limitação de recursos hídricos, de combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão mineral, próximos aos principais centros consumidores, dificuldades para o licenciamento ambiental para aproveitamento de recursos energéticos remanescentes e o constante crescimento da demanda de energia sugerem o desenvolvimento de fontes alternativas. Nesse contexto a chamada “economia do hidrogênio” aparece como uma alternativa promissora para o consumo de energia sem emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa para a atmosfera (PENNER, 2006). Entretanto, o hidrogênio não é uma fonte primária de energia: ele deve ser produzido por fontes massivas de energia. Por não emitir gases de estufa, a energia nuclear coloca-se como uma das fontes energéticas que podem ser utilizadas para produzir hidrogênio. Para isso, reatores que operem a temperaturas elevadas devem ser estudados e projetados. Nesse contexto, surge o Very High Temperature Gas-cooled Reactor (Reator Refrigerado a Gás de Muito Alta Temperatura), VHTGR, o qual apresenta-se como uma alternativa na produção de energia elétrica e hidrogênio. Sendo assim, considera-se importante a simulação computacional de possíveis even-

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tos físicos em estado permanente no núcleo desse reator. Tendo em vista a necessidade de se fazer diversos testes nos componentes de um reator nuclear, as ferramentas computacionais tornam-se indispensáveis, gerando principalmente, ganho de tempo e de qualidade na experimentação. Um exemplo é o da análise termofluidodinâmica no núcleo de um reator: as equações governantes podem ser modeladas e resolvidas através de técnicas numéricas computacionais que, se bem ajustadas à situação, podem demonstrar resultados satisfatórios. A área nuclear, bem como outras áreas do conhecimento, tem consolidado o uso de um ferramental matemático modelado em linguagem computacional para ganho de velocidade e desempenho em cálculos que vão desde os mais simples até os de alta complexidade. Não se enxergam, na atualidade, testes de segurança e confiabilidade de centrais nucleares sem o uso de computadores, pois estes facilitam bastante na tomada de decisões pertinentes à área (ROCHA, 2011). O trabalho com métodos numéricos exige sensibilidade por parte do programador no tocante à adequação do método escolhido à situação física proposta. É necessário conhecimento prévio (no caso de simulações que envolvem Fluidodinâmica Computacional) de alguns itens-chave: tipo de escoamento e condições de contornos são alguns desses. No entanto, um esquema numérico pode possuir instabilidades numéricas inerentes ao método, como as que surgem da utilização de operadores centrados para discretização espacial de termos

convectivos, por exemplo. Uma forma de se tratar tais instabilidades é a introdução de termos de dissipação artificial a fim de prover a estabilidade numérica necessária à convergência do esquema, viabilizando um melhor desempenho computacional do esquema numérico, acarretando soluções mais precisas. O problema de análise termofluidodinâmica com refrigeração a gás através de geometrias complexas (tais como a do núcleo de reatores nucleares), sugere uma estreita analogia com a área de projetos aeronáuticos, nos quais as técnicas numéricas têm se revelado uma ferramenta indispensável para a resolução destes problemas. Partindo do princípio de que várias destas ferramentas já se encontram disponíveis, a ideia do presente projeto foi adaptar e aplicar algumas delas na análise do escoamento de gás hélio refrigerante, presente no núcleo do VHTGR. Com isso, objetivou-se obter códigos computacionais em linguagem de programação FORTRAN para estudos de escoamentos de gás em diversas geometrias, visando estudos preliminares do núcleo prismático do VHTGR, através de contornos de densidade, velocidade, pressão, número de Mach e energia, fazendo-se o uso de uma técnica numérica amplamente utilizada em problemas aeronáuticos: o método de diferenças finitas aplicado ao algoritmo de Jameson e Mavriplis (1986) e aos modelos de dissipação artificial isotrópicos escalares linear e não-linear de Pulliam (1986), bem como descrever características relacionadas à qualidade global da solução numérica.


•Marcoeli Silva de Moura1, Lúcia de Fátima Almeida de Deus Moura1, Marina de Deus Moura de Lima1, Carolina Veloso Lima2, Priscila Ferreira Torres3, Camila Siqueira Silva Coelho4 Professoras dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal do Piauí UFPI marcoeli-moura@uol.com.br; mouraiso@uol.com.br; mdmlima@gmail.com Professora Substituta do Curso de Graduação em Odontologia da UFPI, Mestre em Odontologia UFPI; carol_v_l@hotmail.com 3 Mestre em Odontologia UFPI; priscila-torres22@hotmail.com 4 Aluna de Graduação do Curso d e Odontologia da UFPI; csscoelhoo@gmail.com 1

Fluoretação artificial de águas no Piauí

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fluoretação artificial de águas completou, em 2015, 70 anos de existência. Trata-se da mais importante medida de saúde pública para o controle da cárie dentária, e foi considerada pelo Centro de Controle de Doenças dos EUA como uma das dez grandes conquistas da saúde pública do século 20. É um método efetivo e comprovadamente seguro, conforme demonstram estudos eticamente conduzidos em longo prazo (Rugg-Gunn & Do, 2012; Newton et al., 2015), e uma medida indispensável no contexto brasileiro. A concentração de fluoreto adicionado à água deve respeitar a concentração ideal para cada região, segundo as médias das temperaturas máximas locais (Portaria 635/1975). Para o estado do Piauí, essa concentração deve estar entre 0,6 e 0,8 mg F/L. Em Teresina, a fluoretação da água, executada pela empresa de águas e esgotos do Piauí (AGESPISA), teve início em 1978 e manteve-se constante até o ano de 1986, período em que foi interrompida, retornando em 1997 (Moura et al., 2005). Nesse mesmo ano, o governo estadual iniciou a fluoretação de água em Floriano e Parnaíba, os três únicos municípios com esse benefício entre os 224 do Estado. Em 2010, foi adquirido por meio do Edital 006/2009 – PPSUS/CNPq/ FAPEPI um eletrodo íon específico acoplado a um analisador de íons que permite a análise da concentração de fluoreto em soluções. O grupo Cariologia e Flúor (CNPq/UFPI) desenvolveu pesquisas relativas ao heterocontrole da fluoretação no Piauí, ou seja, controle realizado por

instituição distinta da que fornece a água. O primeiro estudo realizado monitorou durante 10 meses (agosto de 2011 a maio de 2012) a fluoretação dos municípios de Floriano, Parnaíba e Teresina. Foram analisadas 258 amostras de água, dessas 79% das provenientes de Teresina estavam dentro da faixa recomendada de concentração de flúor. Em Floriano, apenas 10% e Parnaíba não registrou nenhuma amostra dentro do limite aceitável. Durante os anos de 2013 e 2014, foram realizadas pesquisas na cidade de Teresina avaliando a ingestão de fluoreto pela água e dieta. Foram coletadas amostras de água da residência de aproximadamente 140 crianças e todas as amostras apresentaram concentração de fluoreto dentro da faixa aceitável (Lima et al., 2015, Torres et al., 2016). Na cidade de Parnaíba foram analisadas amostras de água de vários pontos da cidade em três meses durante o ano de 2015 (julho, setembro e novembro). Na primeira coleta, todas as amostras analisadas (n=5) estavam com concentração inferior a recomendada pela Portaria. A AGESPISA foi contatada para exposição das análises. Nas duas coletas seguintes percebeu-se uma variação na concentração de fluoreto das amostras (n=10), sendo que a maioria (n=7) encontrou-se na faixa recomendada de 0,6-0,8 mg F/L ou próximo desse intervalo (n=2). Apesar dos benefícios da fluoretação da água para a saúde bucal, muitos teresinenses optam por consumir água mineral por vários motivos, como as constantes interrupções no fornecimento de água e a descon-

fiança por parte da população com relação à qualidade da mesma. A análise de nove marcas de água mineral comercializadas no município, demonstrou que apenas uma (marca Prata) apresentou concentração de fluoreto suficiente para atuar no controle da cárie dentária - 0,6 a 0,8 mg F/L (Barros et al, 2009). Pesquisa domiciliar em amostra representativa do município, com 300 chefes de família das classes A, B e C, mostrou que 14% consumiam água mineral, predominantemente das classes A e B (Portela et al., 2016). A fluoretação da água de abastecimento é uma importante intervenção de saúde pública. Como toda intervenção nesse campo, busca-se operar em torno da qualidade de gestão, de sustentabilidade econômica e de aceitabilidade social (Frazão et al., 2013), o que depende do conhecimento por parte da população dos benefícios e riscos da medida. Entretanto, Portela et al, 2016, mostraram que a maioria da população de Teresina-PI (93%) não tem conhecimento sobre a fluoretação da água de abastecimento público, especialmente os indivíduos pertencentes à classe C e que todos os indivíduos que possuíam conhecimento do benefício eram a favor dessa medida. Portanto, faz-se necessário o frequente controle dos níveis de fluoreto nas águas de abastecimento público, além da divulgação desse método, comprovadamente seguro e eficiente, para que a toda população seja realmente beneficiada com essa medida. Além disso, é imprescindível que haja a implantação da fluoretação da águas de abastecimento em mais cidades do estado do Piauí.

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ARTIGO

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Por Allan Campêlo e Mário David Melo

Foto: Acervo Pessoal/Arlindo Pereira

O sol que castiga também pode ajudar

Painel Fotovoltaico instalado em prédio de Teresina

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Piauí é conhecido pelo forte calor que incide em praticamente todo o seu território, porém o que aparentemente é visto apenas como algo incômodo pode se tornar uma opção de eficiência energética. Ainda em 2000, segundo dados do Atlas Solarímétrico do Brasil, publicado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), parte do Piauí atingia oito horas, em uma escala de três a dez, referente à média anual de insolação diária. Em 2016, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmete), divulgou uma lista que coloca o

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Piauí como um dos estados a registrar as maiores temperaturas do ano, em algumas cidades ficando acima de 40ºC, e ainda um dos menores índices de umidade relativa do ar, chegando a 19%, muito abaixo dos 60% tidos como ideal pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Apesar dos diversos cuidados que se tornam indispensáveis com essas condições, uma pergunta se torna inevitável: como tirar proveito de um clima tão hostil? Investimentos em Energia Solar despontam como a grande resposta. É o que explica o engenheiro Arlindo da Silva Pereira

Neto, presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Piauí. “O país possui um grande potencial para gerar eletricidade a partir do sol. Só para se ter uma ideia, a radiação solar na região mais ensolarada da Alemanha, por exemplo, que é um dos líderes no uso da energia fotovoltaica (FV), é 40% menor do que na região menos ensolarada da Brasil. Segundo o Atlas Brasileiro de Energia Solar, diariamente incide entre 4.500 Wh/ m2 a 6.300 Wh/m2 no país.” Em novembro de 2016, o governador Wellington Dias assinou decreto criando mais seis novas câ-


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Média anual (em horas) de insolação diária. maras setoriais no estado, entre elas, a de energias renováveis. O órgão tem caráter consultivo e propositivo, sendo um elo entre o poder público e a iniciativa privada. Segundo Arlindo Pereira, dificuldades burocráticas causam a desistência de investimentos pelo setor empresarial. Com isso, a câmara também contribui para a sociedade na geração de empregos. Mas, mesmo com as condições climáticas favoráveis, o uso da energia solar para geração de eletricidade ainda é pouco utilizado no Piauí, sendo registradas seis mil ligações. O custo inicial ainda é con-

siderado alto e há poucas linhas de crédito para esse fim. Portanto, Arlindo Pereira enfatiza que o desenvolvimento científico e tecnológico do setor aliado a desburocratização que a câmara pretende implementar colocará o Piauí como destaque no uso de energia solar. “O estado do Piauí está com o maior projeto da América latina de Fazenda Solar. Além da autossuficiência energética, isto atrai outros investimentos estruturais para o nosso estado que pode trazer o desenvolvimento de serviços associados e o desenvolvimento do trabalho, gerando emprego para

o nosso Estado. Como presidente da câmara pretendo trazer a energia solar para todos levando o painel solar para a nossa agricultura que hoje apenas sofre com o sol. Com projetos estruturados podemos transformar o sertão em polos de produção por meio de poços de água com sistema solar e com isto reduzir o nosso déficit agrícola no setor de hortifrúti cultura que sofre com a falta d´água. Acredito que a energia solar precisa de mais incentivo e desburocratização do financiamento, pois com toda crise e dificuldade crescemos 300% no ano de 2016”, concluiu.

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Energia solar pode revolucionar produção nas hortas comunitárias de Teresina Com o desenvolvimento de sistema de desidratação, professor espera melhorias para horticultores piauienses

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ma energia é considerada renovável quando os recursos naturais de sua origem são naturalmente reabastecidos. Já a chamada energia limpa é aquela que não libera, durante seu processo de produção ou consumo, resíduos ou gases poluentes geradores do aquecimento global. Agora imagine os benefícios de uma energia que é renovável e limpa ao mesmo tempo! Estamos falando da Energia Solar. Foi pensando na possibilidade de utilizar uma fonte de energia com potencial em nosso Estado, que o professor Dr. Alexandre Miranda Pires dos Anjos, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), iniciou o desenvolvimento do que é, atualmente, o primeiro Desidratador Convectivo Movido a Energia Solar do Piauí. O professor, que é doutor em Engenharia e Tecnologia Espaciais, foi convidado a integrar o estudo “Hortas Comunitárias: a possibilidade de desenvolvimento sustentável a partir da desidratação do coentro por meio da pesquisa e da extensão”, coordenado pelo Prof. Me. Fábio Nóbrega (que atua no Centro de Ciência Agrárias da UFPI). Conhecedor da tecnologia, o Dr. Alexandre, docente e pesquisador do Departamento de Física (CCN/UFPI) adaptou o sistema e teve a responsabilidade de desenvolver o equipamento desidratador dentro da realidade piauiense. “Aqui estamos trabalhando baseado na patente do pesquisador Dr. Gilberto Marrega Sandonato do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Eu o conheci durante meu doutorado, onde

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Foto: Arquivo Pessoal/Alexandre Miranda

DOSSIÊ

Por Jhussyenna Reis

Primeiro Desidratador Convectivo Movido a Energia Solar do Piauí

ele me apresentou esse equipamento. Então, ele é um parceiro nosso também, já que permanece nos auxiliando, pois tivemos que fazer toda a adaptação para nossas condições climáticas e adaptação de latitude”, explicou Alexandre Miranda. O desidratador foi planejado e teve seu primeiro protótipo construído em apenas seis meses, iniciados em janeiro de 2016. O grupo que atua no projeto envolve ainda a professora Maria Marlúcia Gomes do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Processamento de Alimentos (NUEPPA/CCA/UFPI), onde são realizadas análises físico-quími-

cas dos produtos. O desenvolvimento de marca e identidade visual do produto final está nas mãos da professora Me. Adriana Galvão, artista multimídia e docente do curso de Artes Visuais (CCE/UFPI). Ela coordena o Projeto de Cerâmica Artística e Tridimensionalidade (PROCEART) que é parceiro no desenvolvimento do design das embalagens, e também é responsável pela criação de novos produtos, da participação do planejamento e execução do projeto ECODRYTec. Um aluno bolsista do curso de Engenharia Mecânica, através do Laboratório de Energias Renováveis


Dr. Alexandre explica que uma das dificuldades para aplicar a tecnologia é que não existe mão de obra especializada para o trabalho com energia solar, por isso, basicamente tudo foi desenvolvido com recursos humanos da própria academia, e também, por empresas de ra-

mos diversos para execução de peças específicas. “Por exemplo, um serralheiro não vai deixar de fabricar o seu portão, que já é um produto usual, para se dedicar a construir um painel solar. Essa é uma das grandes dificuldades que temos aqui em termos de mão de obra”.

EQUIPAMENTO DESIDRATADOR MANTÉM NUTRIENTES E AGREGA VALOR AOS PRODUTOS O Desidratador de Alimentos é formado por um coletor solar que tem a função de capturar os raios solares através de uma superfície absorvedora e transfere essa energia para o ar. Assim, o ar é aquecido e por convecção ele naturalmente é conduzido para a câmara onde ficam os alimentos acondicionados em prateleiras. Válvulas estrategicamente posicionadas na base do painel e na câmara de desidratação permitem regular a vazão de ar, a temperatura, assim como a taxa de desidratação. “Isso é muito interessante porque existem outros processos onde o alimento recebe a radiação direta do sol e, nesse caso, eles acabam perdendo muitos nutrientes, outra forma que é feita usa a secagem em ambiente aberto, mas que também não permite o controle do processo além de muito mais demorado”.

Grande parte das frutas, hortaliças, carnes e peixes podem ser submetidos à desidratação. O foco do projeto nessa primeira etapa é o coentro e a cebolinha. Isso porque esses dois produtos se apresentam como os principais trabalhados nas hortas comunitárias de Teresina, que é o campo de ação do projeto. É importante entender que cada produto tem um tempo e uma temperatura adequada para a retirada de água dele, ou seja, para permanecer na câmara de desidratação. Por exemplo, no caso do coentro e cebolinha, são necessárias cerca de 6 horas em uma temperatura entre 35°C a 40°C. Já no caso de trabalhar com as frutas é necessário temperaturas acima de 60°C. Os primeiros testes do equipamento registraram temperaturas de até 65,7° no interior da câmara, o que

indica a possibilidade de desidratação de uma ampla gama de produtos. “No projeto, fizemos um levantamento e apuramos que as perdas de produtos por conta das condições climáticas estão em torno de 20% e 25%. Um coentro no estado normal dura cerca de uma semana condicionado na geladeira, e isso considerado um condicionamento correto, porém quando você desidrata esse produto, a durabilidade dele é de anos. Então, além de você não perder esse produto, você evita os prejuízos de tempo de trabalho, bem como perda de adubo e de água. Além de tudo é um processo que agrega valor ao produto final também, já que nos processos convencionais eles utilizam gás GLP e na desidratação solar você não precisa de energia elétrica, nem combustível fóssil”, explicou o professor Alexandre.

PESQUISADORES SE ORGANIZAM PARA INCREMETAR ESTUDOS NA ÁREA DE ENERGIA SOLAR No Piauí, foi criado no ano de 2015, o Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Energia Solar (GIPES). Trata-se de um grupo de pesquisa cadastrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e composto por pesquisadores da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e do Instituto de Educação Tecnológica do Piauí (IFPI). O professor Albemerc Moura de Moraes, que é doutor em Ener-

gia pela Universidade Federal do ABC (UFABC) e Diretor Técnico da Fapepi, é o atual líder do GIPES no Piauí, sendo o seu vice-líder o também professor Marcos Antônio Tavares Lira, que por sua vez é Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPI). O objetivo principal do Grupo é realizar pesquisas interdisciplinares na área de energia solar, colaborando diretamente para o desen-

volvimento do Estado e garantindo o melhor aproveitamento desse potencial energético limpo. “Uma das primeiras ações que realizamos através do GIPES foi o II Workshop Piauí Solar e I Seminário de Pesquisa em Energia Solar no estado. Também vamos instalar sistemas de energia solar na UFPI e estudar o sistema solar implantado no campus do IFPI em Floriano”, comentou Albemerc Moraes.

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do Centro de Tecnologia (CT/UFPI), foi o responsável pela construção do painel solar e a câmara de desidratação com auxílio da marcenaria da universidade. Os recursos para a construção foram conseguidos pelo apoio da PRPPG/UFPI e da unidade de manutenção da UFPI.


DOSSIÊ

Por Daniele Lima

Ventos que impulsionam o desenvolvimento Foto: Daniele Lima

Pesquisador aponta que o Piauí deve se tornar o maior produtor de energia eólica do país

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niciada em 2012 a pesquisa “Mapeamentos dos recursos eólicos no Piauí para estimativa de produção de energia” do Prof. Dr. Marcos Lira, traz um levantamento das áreas propícias para implantação de estações eólicas no Estado.

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O Piauí foi dividido em 19 regiões interpoladas e traçou-se a curva de velocidade do vento ao longo do dia e ao longo do ano, para isso a pesquisa coletou dados de 2010 do Instituto Nacional de Metrologia (INMET). A proposta foi listar cidades ou regiões com potencial,

com potencial razoável e aquelas sem possibilidade de gerar energia eólica. No mapa ao lado, as áreas em verde representam as regiões mais favoráveis, ou seja, com maior velocidade de vento, as áreas em amarelo estão num nível intermediário, porém não estão descartadas


DOSSIÊ

Foto: Acervo/Marcos Lira

como geradoras de energia eólica e por fim, as áreas em vermelho apresentam o menor nível de velocidade do vento. O litoral e o sul do estado revelaram-se as áreas mais favoráveis para receber os gigantes aerogeradores. Segundo o Prof. Marcos Lira, existem algumas condições ideais para que os parques eólicos sejam implantados em determinadas regiões: os ventos devem ter boa velocidade, serem constantes e na mesma direção. O professor ressalta que não apenas nas zonas litorâneas os aerogeradores tem bom aproveitamento de energia, como se pensava há um tempo, a prova disso é o Complexo Eólico da Chapada do Piauí, localizado na região sudeste, nas cidades de Simões, Marcolância, Padre Marcos e Caldeirão Grande. O complexo possui mais de 440 torres e tem capacidade de gerar 436 MW (Megawatts). Esse número supera, e muito, os quase 90 MW gerados em Parnaíba, se somarmos todos os complexos presentes por lá. Toda a energia eólica hoje produzida no Estado tem capacidade de abastecer cerca de 700 mil pessoas. “A cidade de Marcolândia está a aproximadamente 750m acima do nível do mar, ou seja, ela possui valores de vento excelentes”, explica. A tendência de superação na produção de energia a cada novo parque instalado se reflete na autorização de um novo complexo que irá funcionar no município de Pio IX. Segundo o professor esse parque vai gerar mais energia que os Complexos da Chapada do Piauí e de Parnaíba juntos, “podendo chegar a ser o maior completo do país”, acrescenta. O objetivo da pesquisa agora é construir uma espécie de Atlas Eólico para o Piauí, como acontece em outros estados como Ceará e São Paulo. Esse documento funcionaria como um mapa para que empresas conheçam as características e minúcias dos ventos no Estado, servindo assim como uma importante fonte de informações. “O Piauí hoje é um dos estados que mais investem em energia eólica e possivelmente em 2019 ele será o maior

Mapa do estado do Piauí mostrando os valores de velocidade média do vento estimados a 80 metros.

produtor desse tipo de energia com algo em torno de 10 a 12% de tudo que é produzido no país, principalmente graças a essa expansão que está acontecendo no sul do estado. Na pior das hipóteses ficaremos em segundo lugar”, completa o professor. Já na pesquisa “Estimativa da capacidade de geração de energias solar e eólica a partir do processo de mineração de dados”, a ideia é conseguir prevê a quantidade de energia que pode ser produzida com bases em cálculos de medição do vento, essa pesquisa está em andamento.

“Supondo que medíssemos a velocidade do vento durante dois meses, logo após esses dois meses, qual seria a energia produzida nos três dias seguintes? Ou seja, usando dados já conhecidos de determinado período de tempo”, explica o Prof. Marcos. A mineração de dados é uma técnica recente e muito usada em cálculos com estimativas. Os processos descritos formam agora o futuro da “catalogação” dos ventos piauienses, recurso que se mostra importante para o desenvolvimento de um potencial concreto do Estado.

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PROCESSOS E CENÁRIOS Existem hoje, segundo o professor Marcos Lira, mais empecilhos para a energia solar do que para a eólica. O processo de instalação dos aerogeradores em determinadas regiões tem se tornado cada vez mais rápido. Primeiro acontece uma espécie de leilão de energia feito pelo Estado, a empresa ganhadora do leilão tem de 1 a 3 anos para preparar toda a estrutura. “A parte mais demorada de toda essa história é realmente fazer um estudo de impacto ambiental da área e obter um licenciamento”.

Outro ponto importante a se considerar, num olhar multilateral das implicações dos complexos, é a geração de empregos e renda para as comunidades locais. “Muitos moradores ficam super felizes porque tinham terras improdutivas e agora recebem aluguel das empresas de acordo com a quantidade de aerogeradores instalados, além da mão de obra absolvida em várias funções demandadas desses investimentos.” O professor ressalta que algumas questões precisam ser levadas

em conta quando se trata de energia eólica: o movimento das hélices produz um ruído que pode ser incômodo aos moradores que estejam muito perto das torres, por isso as empresas devem se preocupar com o local onde vão ser fixados os aerogeradores; Nos Estados Unidos, têm ocorrido problemas com a mudança na rota de imigração dos pássaros, mas no Piauí isso ainda não foi detectado; outra preocupação seria, por exemplo, a poluição visual em zonas litorâneas devido à aglomeração das torres de energia.

A ENERGIA EÓLICA E O SIN O Sistema Interligado Nacional (SIN), que é responsável pela produção e transmissão de energia elétrica do Brasil, é formado por empresas das regiões Sul, Suldeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte. Apenas 1,7% da energia requerida pelo país encontra-se fora do SIN, em pequenos sistemas isolados localizados principalmen-

te na região amazônica. O SIN possui tamanho e características que permitem considerá-lo único em âmbito mundial. O professor Marcos Lira explica que mais um fator essencial para a instalação desses parques é a proximidade com as linhas do SIN. Isso contribui para amenizar os desperdícios de energia quando ela é

transportada por distâncias muito longas, além de reduzir gastos com fiação elétrica. “O sistema é todo interligado, então quando falta energia em um estado ela será enviada de outro estado, até porque a energia não pode ser armazenada, ela precisa ser consumida no instante em que é produzida”, disse.

ENERGIAS COMPLEMENTARES Um fato curioso observado pelo professor é o fato de que no período mais seco do ano no Estado, ou seja, quando as hidrelétricas não conseguem gerar todo o seu potencial energético coincide com

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o período em que os ventos estão mais fortes. “E na estação chuvosa, quando os reservatórios devem estar teoricamente cheios, os valores de velocidade de vento são menores.”

Principalmente no nordeste as energias tem essa configuração complementar. No gráfico abaixo pode-se observar como no período seco, o famoso b-r-o-bró, a intensidade dos ventos aumenta.


Foto: Luiz Carlos Júnior

Pesquisadores piauienses estudam potencial do babaçu para produção de biodiesel

Doutor em Química Analítica, o professor Manoel Gabriel Rodrigues Filho coordena a pesquisa com o babaçu.

A

s pesquisas que buscam fontes alternativas de combustíveis têm fundamental importância em um contexto com o aumento dos efeitos naturais provocados, principalmente, pela liberação de gases na atmosfera que

potencializam o efeito estufa. Outro fator que impulsiona a opção por outras opções energéticas é possibilidade de esgotamento de fontes minerais de energia, como o petróleo. O efeito estufa é de fundamental importância para a manutenção da

vida na Terra, uma vez que serve para manter o planeta aquecido e dentro das condições ideais para a sobrevivência das mais diferentes espécies. No entanto, algumas atividades humanas têm intensificado este fenômeno e produzido o que conhecemos como aque-

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Por Luiz Carlos Júnior


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cimento global, que deixa a atmosfera mais intensa em seus fenômenos climáticos, como a escassez de chuvas em determinadas regiões e excesso em outras. Além disso, em 2010, a Agência Internacional de Energia publicou em seu relatório anual que a produção de petróleo deve atingir seu pico por volta do ano de 2035. Depois disso, a produção entrará em declínio, mas, ainda não há estimativa da velocidade em que este processo vai acontecer. Neste contexto, a busca por alternativas para contornar estes efeitos tem permeado os estudos nas mais diversas áreas do conhecimento. No Piauí, o doutor em Química Analítica, professor Manoel Gabriel Rodrigues Filho, da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), coordena um estudo que visa obter biodiesel a partir do fruto do babaçu, palmeira típica da região norte e do cerrado brasileiro. “A pesquisa partiu da tentativa de agregar valores ao subproduto do babaçu, tendo em vista que nós temos uma das maiores produtividades e uma cadeia em desenvolvimento. Dessa forma, a gente buscou transformar o óleo do babaçu no biodiesel, que é um combustível que vem sendo utilizado e que tem uma tendência de crescimento dentro da cadeia do transporte nacional. Levando em consideração a menor quantidade de poluentes provenientes de combustíveis obtidos de fontes renováveis, em detrimento de combustíveis obtidos através de fontes minerais ou fóssil, no caso o diesel, que é a cadeia de maior produtividade no país”, explica o pesquisador. De acordo com o professor, o biodiesel obtido através do babaçu tem características que o tornam o biocombustível de melhor qualidade em relação aos demais biodieseis produzidos no Brasil. O produto extraído do babaçu além de ser mais limpo, tem uma vida útil maior. O pesquisador explica que grande parte do biodiesel brasileiro é obtido da soja, cujo subproduto tem uma vida

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útil menor e, por isso, precisa ser aditivado com produtos sintéticos, fato que implica em uma perda da característica renovável do combustível. Manoel Gabriel explica que o biodiesel extraído pode ser usado como aditivo daquele que é extraído da soja, tornando assim, o produto totalmente sustentável. “Hoje o Brasil tem aproximadamente 70% de biodiesel obtido da fonte, que é o óleo de soja, mas, em contrapartida, esse biodiesel tem um tempo de vida útil muito pequeno, ou seja, ele oxida e envelhece com facilidade, principalmente na região nordeste onde a temperatura é elevada. Desta forma, quando utilizamos o biodiesel obtido da soja temos que aditivar para que a vida útil do biodiesel passe a ser maior e aí você já perde o foco de um produto renovável, que não teria poluentes, e passa a ter uma poluição proveniente dos aditivos ali colocados”, explica. “Nós estamos corrigindo o biodiesel de soja, que tem um período de oxidação muito curto, adicionando a ele o biodiesel de babaçu. O próprio biodiesel de babaçu serve como aditivo para o biodiesel de soja, para que não ocorra o processo de oxidação, assim passaríamos a ter uma correção natural, fazendo com que toda a cadeia do biodiesel fosse, além de renovável, sem poluentes sintéticos adicionados à matéria prima”, complementa o professor. O pesquisador ainda destaca que a produção do biodiesel, através do óleo extraído do fruto do babaçu, cumpre um papel social importante, tendo em vista que dá visibilidade aos membros da base da cadeia produtiva do babaçu, como a quebradeira de coco, por exemplo. Na atual fase da pesquisa, desenvolvida na Uespi, os pesquisadores estão realizando testes com proporções para definir as concentrações necessárias para que o biodiesel do babaçu tenha o melhor desempenho, assim como o aditivo para o biodiesel extraído da soja. “Nós estamos variando as proporções, buscando a melhor proporcio-

nalidade para que nós tenhamos a vida útil do biodiesel de soja de acordo com as normas da Agência Nacional de Petróleo (ANP). A instituição só aceita um biocombustível no mercado se ele tiver um tempo de vida útil de um período de indução de seis horas. Hoje, a soja, pura, chega a duas horas de período de indução, então a gente está em busca desta proporcionalidade para que, com a adição do biodiesel de babaçu seja possível chegar ao exigido pela ANP”, explica o professor. Manoel Gabriel ressalta que embora o babaçu produza um biodiesel superior aos demais, o produto não teria a capacidade de suprir a cadeia do biodiesel no Brasil, sobretudo, pela carência da matéria prima. Segundo ele, o foco é a correção do biodiesel extraído da soja. “Hoje, a ideia é que se nós tivéssemos condições de corrigir as propriedades físico-químicas do biodiesel de soja utilizando o biodiesel de babaçu, muito provavelmente esse produto baratearia, porque não precisaríamos utilizar aditivos sintéticos”, afirma o pesquisador. O professor destaca que a grande barreira para o inicio da produção em massa do biodiesel do babaçu é a obtenção da matéria prima e distribuição para o mercado industrial, especialmente pelo caráter artesanal da obtenção dos frutos da palmeira. “O grande desafio é à saída da matéria prima ou a obtenção dessa matéria prima, onde nós temos gargalos. O maior gargalo da cadeia do babaçu é o mecânico, a coleta do fruto e a extração desse óleo, que, infelizmente, ainda são processos artesanais. Então, para suprirmos um mercado industrial, teríamos que melhorar lá na ponta. A questão cientifica do biodiesel já está basicamente resolvida, agora existe a questão da matéria prima até o passo industrial, para que se tenha o subproduto do babaçu que possa suprir a indústria do biodiesel no Brasil”, finaliza o professor Manoel Gabriel.


Foto: Lilian Brandt

A atividade extrativista do babaçu é uma das mais antigas e importantes do Piauí, contribuindo para a economia do estado. O aproveitamento das potencialidades desta cultura vai desde o aproveitamento do coco para a alimentação, na medicina popular, na produção de produtos de higiene, produção de utensílios artesanais com partes da palmeira e agora, para o desenvolvimento de energia limpa. O babaçu constitui fonte de emprego e renda para milhares de famílias nordestinas, especialmente na região Meio-Norte do Brasil, onde calcula-se que as palmeiras ocupem mais de 17 milhões de hectares. Com o objetivo de desenvolver a cadeia produtiva do babaçu no Piauí, o Governo do Estado, através da Fundação de Amparo à Pesquisa do Piauí (Fapepi) e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico (Sedet), firmou parcerias com pesquisadores da Universidade Estadual do Piauí, Universidade Federal do Piauí e do Instituto Federal do Piauí para que fossem realizadas pesquisas cientificas voltadas para a exploração do babaçu na região. Dentre estas pesquisas está o estudo coordenado pela professora doutora Valdira Brito, do curso de Geoprocessamento do Instituto Federal do Piauí, que consistiu na realização de um mapeamento georreferenciado da distribuição geográfica do babaçu no estado, além de gerar informações que possibilitam o monitoramento constante do setor.

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PESQUISA MAPEIA POR SATÉLITE OS BABAÇUAIS EXISTENTES NO PIAUÍ

Babaçu pode ser forte aliado na busca por Biodiesel

De acordo com a professora Drª Valdira Brito, o objetivo da pesquisa foi gerar uma ferramenta, disponível na internet, para prestar informações atualizadas sobre o agronegócio do babaçu no Piauí para, assim, dar maior visibilidade à atividade. Como resultado da pesquisa, foi criado o SigGeoBabaçu, um site com um acompanhamento via satélite da produção de babaçu no estado. “A geração deste sistema é uma estratégia para a disseminação de informações sobre as potencialidades do babaçu, além de servir como ferramenta para o monitoramento do agronegócio do babaçu no Piauí, pe-

los setores competentes”, explicou a pesquisadora. A pesquisa, que teve a colaboração do Tecnólogo em Geoprocessamento e servidor do IFPI, Felipe Ramos Dantas, e do aluno do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Deyvyd Yuri da Silva Lopes, utilizou imagens de satélites e equipamentos de GPS para levantar os dados de localização dos babaçuais do Piauí. Os resultados do estudo serão apresentados no 18º Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, maior evento da área no país, que acontece entre os dias 28 a 31 de maio, em Santos.

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Foto: Mário David

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Por Jhussyenna Reis

Profa. Dra. Sâmya Freitas no Laboratório de Produtos Naturais (LPN) da UFPI, onde a pesquisa é executada.

Fruta típica do Piauí pode ajudar no combate ao câncer Com alto nível de consumo no Nordeste, o uso medicinal do bacuri pode agora significar um novo potencial econômico para a região.

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bacuri é uma das frutas mais populares da região Norte, estados vizinhos à região Amazônica, além de ser encontrado no cerrado e na Mata dos Cocais nos estados do Maranhão e Piauí. Em Teresina, essa fruta é tão conhecida que se tornou um dos símbolos da cidade. No geral, mede cerca de 10 cm e possui uma casca dura e resinosa, seduzindo o paladar através de sua polpa branca, com aroma agradável e um sabor intenso. Entretanto, para pesquisadores

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como a professora Dra. Sâmya Danielle Lima de Freitas, o bacuri vai muito além de uma fonte de alimento. A professora coordena o projeto de pesquisa intitulado “Investigação química e farmacológica de folhas, galhos e cascas do fruto de Platonia Insignis (Clusiaceae)”. O projeto é executado na Universidade Federal do Piauí (UFPI), no Laboratório de Produtos Naturais (LPN), no Departamento de Química. A pesquisa, que ainda encontra-se em andamento, foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi) por meio do Pro-

grama de Desenvolvimento Científico e Regional (DCR/Piauí). A espécie Platonia insignis Mart., que pertencente à família Clusiaceae, popularmente chamada de “bacurizeiro”, é uma espécie frutífera e madeireira, originária da Amazônia Oriental Brasileira, mais precisamente no Estado do Pará. Além do nome popular “bacuri”, o fruto também é conhecido nas diversas regiões como bacuri-açu, pakoori e parcori. As formas de uso mais comuns são o suco, creme, sorvete, geleia, doce, pudim, tortas, iogurte, picolé e fermentados. Já


“É POSSÍVEL DESENVOLVER UM MEDICAMENTO COM AÇÃO TERAPÊUTICA QUE VAI AUXILIAR NO TRATAMENTO DO CÂNCER, ALZHEIMER E PARKINSON” O gênero Platonia é muito rico em diversas substâncias naturais como xantonas, flavonoides, antocianinas, polifenois, diterpenos, ácidos graxos e triglicerídeos. Alguns extratos e alguns compostos apresentaram propriedades anti-inflamatória, antioxidante, anticonvulsiva e citotóxica, importantes para a elaboração de um possível medicamento que possua uma das propriedades farmacológicas já identificadas, com ação na terapêutica de diversas doenças, como Câncer, Mal de Alzheimer e Parkinson. Vale ressaltar que estas doenças estão em evidência como enfermidades praticamente fatais e que acometem milhares de pessoas. Por isso são focos de pesquisa na tentativa de aumentar a qualidade de vida dos pacientes e até mesmo o desenvolvimento de uma cura. Uma vez que o bacuri é bastante consumido em todo o nordeste do país, concretizados os estudos de seu potencial farmacológico, deve agregar valor econômico e social a esta espécie que já pertence à área de transição cerrado-amazônia piauiense.

POTENCIAL PARA A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E BIOTECNOLÓGICA O grupo de Química e Farmacologia de Produtos Naturais da UFPI tem bastante experiência e já vem desenvolvendo pesquisas desde 1997 na busca de substâncias bioativas. A importância do estudo de plantas medicinais deve-se por sua contribuição como fonte natural de fármacos e por proporcionar grandes chances de obter-se uma molécula protótipo para o desenvolvimento destes. A avaliação do potencial terapêutico de plantas medicinais e de alguns de seus constituintes químicos tem sido objeto de incessantes estudos, nos quais foram comprovadas várias ações farmacológicas por meio de testes pré-clínicos. Muitos destes constituintes têm grandes possibilidades de futuramente virem a ser aproveitados como agentes medicinais. Com o desenvolvimento de novas técnicas espectroscópicas, os quími-

cos orgânicos têm conseguido elucidar rapidamente estruturas moleculares complexas de constituintes naturais, até há pouco tempo difíceis de serem identificados. Assim, tem-se verificado um grande avanço na área científica que, cada vez mais, descreve em sua literatura novas moléculas, algumas de relevante ação farmacológica. “Dessa forma, P. insignis Mart. mostra-se como uma espécie promissora tanto para a indústria farmacêutica quanto para a biotecnológica; estimulando estudos mais aprofundados. Vale ressaltar que esta espécie se destaca por sua importância econômica, considerada relevante para o manejo e para o desenvolvimento sustentável, ampliando a necessidade de estudos científicos”, explicou a professora Sâmya Freitas.

PROJETO ESTUDA AS FOLHAS, GALHOS E CASCAS DO BACURI O material vegetal do bacuri, utilizado na pesquisa, foi coletado no estado do Maranhão. Em seguida foi seco e moído para a obtenção dos extratos brutos. As frações provenientes da partição líquidolíquido dos extratos foram analisadas em escala analítica por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) e por Ressonância Magnética Nuclear (RMN) para o estudo comparativo dos perfis químico. Essa etapa é extremamente importante na investigação química. A presença de compostos fenólicos, dentre estes, os derivados de floroglucinol, estão frequentemente relacionados com diversas atividades biológicas, tais como: antidepressiva; antimicrobiana; antiviral; antiproliferativa; antimalárica e antineoplásica. A etapa de fracionamento e investigação das ações farmacológicas das frações mais promissoras continuam em andamento.

A Dra. Sâmya Freitas destacou que o foco do estudo também é um diferencial, já que explora partes desse vegetal ainda pouco estudadas. “O presente projeto é bastante promissor, uma vez que a espécie P. insignis é pouco estudada, sendo que os resultados relatados são restritos somente à semente e polpa. Nossas metas foram direcionadas para o estudo de folhas, galhos e cascas do fruto considerando a riqueza de constituintes e potencial farmacológico, bem como os resultados preliminares já obtidos pelo grupo, o que nos faz vislumbrar a obtenção de novos resultados promissores e potencialmente aplicáveis. A partir dos resultados obtidos, espera-se contribuir para o uso sustentado de espécies da flora do cerrado do estado Piauí e, estes, serão divulgados em periódicos internacionais e nacionais para o acesso da população”, afirmou a pesquisadora.

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o óleo das sementes de bacuri é usado para fazer sabão, tratamento de dermatites e fazer remédios cicatrizantes para ferimentos de animais. O látex amarelo da árvore em algumas regiões é utilizado para o tratamento de eczemas, o vírus da herpes além de algumas dermatites.


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Por Allan Campêlo

Foto: Mario David

Professora do curso de música coordena primeira chamada internacional da Fapepi

25 professores piauienses foram contemplados com a chamada Researcher Connect

A

música pode ser vista por muitos como entretenimento. Um passar de tempo, a lembrança de alguém, o animo para dançar, entre diversos outros sentimentos. Mas o que de fato é a música? De acordo com nosso dicionário, música seria “a arte de combinar harmonicamente os sons”, um conceito simples para uma área infinitamente explorável. Segundo o famoso musicólogo francês, Roland De Cande, a música teria se tornado parte da vivência dos homens ainda na pré-história, mais especificamente no período conhecido como Pa-

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leolítico Inferior, há mais de 2 milhões de anos, quando o homem começava a imitar, com a voz, os sons que ouvia na natureza. Nos períodos históricos posteriores, a música começava um longo caminho até ser entendida como manifestação artística e cultural presente em todas as sociedades. Porém, como definir a música, o tocar de um instrumento ou o cantar, como arte? Para a professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI), doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), Paula Molinari, a “arte trabalha

com o possível mesmo que não necessariamente seja real”. De acordo com ela, a “música por mais que não seja palpável, tocável, se materializa através das sensações que provoca”. A professora, que já coordenou estudos no campo da música em países como, a Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, e possui o título de Roy Hart Voice Teacher pelo Centre Artistique International Roy Hart, na França, teve sua proposta aprovada na primeira Chamada Internacional da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi), e nos contou um pouco sobre suas pesquisas e os desafios da nova empreitada.


A professora, Paula Molinari, já coordenou atividades acadêmicas em diversos países e espera contribuir para a capacitação de professores no Piauí

REALIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DO RESEARCHER CONNECT NO PIAUÍ O Researcher Connect é composto por uma série de cursos de desenvolvimento profissional de curta duração voltados para pesquisadores em todos os estágios da carreira acadêmica e de todas as áreas do conhecimento. As aulas são em inglês e têm o objetivo de aprimorar as habilidades em comunicação científica em contextos internacionais e multiculturais. Inicialmente, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Piauí selecionou a coordenadora dos cursos no estado, que é responsável pela administração do programa no Piauí, entre os representantes de pró-reitorias de Pesquisa, pró-reitorias de pós-graduação,

departamentos e programas de pós-graduação. Os candidatos precisaram apresentar propostas de cursos a serem realizados em suas respectivas instituições. Durante os dias 15, 16 e 17 do último mês de março, os pesquisadores se reuniram em Teresina para a realização dos cursos de capacitação. Paula Molinari ainda ressaltou a qualidade do grupo de pesquisadores selecionado e destacou a importância do programa para o estado do Piauí. “Nós temos um grupo bastante seleto porque de 90 inscritos, ficaram apenas 25. Então, nós temos estudantes de pós-graduação, doutores e

pós-doutores, estamos recheados de pesquisadores bons. O Piauí esperava por esse edital, que bom que, por ser o primeiro, aconteceu assim com esse número e com essa empolgação de todos”, finalizou. O presidente da Fapepi, Francisco Guedes, explica o papel da fundação na execução do programa Researcher Connect no Piauí. “A Fapepi é co-financiadora do curso juntamente com o Fundo Newton. A ideia é continuar a promover a internacionalização das pesquisas do estado através de ações como essa que formam elos entre os pesquisadores”, afirmou.

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desde aulas para melhor escrita frente a públicos diversos, a estratégias sobre colaboração em projetos de pesquisa. “Recebi propostas de cursos próximos ao que estudo, áreas como Comunicação Social e Artes que se mobilizaram para participar do programa”, afirmou a professora. Sobre o ensino e pesquisa no âmbito artístico, Paula Molinari destaca as possibilidades de se trabalhar dentro do eixo acadêmico. “Temos cursos de música em todos os estados da federação. São mais 150 cursos de licenciatura, 100 de bacharelado e 17 programas de pós-graduação, envolvendo especialização, mestrado e doutorado”. Questionada sobre aspectos que poderiam influir para o melhor desenvolvimento das artes em nosso Estado, mais especificamente a música, a professora destacou a necessidade de formulação de novas políticas públicas para a área. “Sinto falta de um contexto de continuidade. Por exemplo, a Orquestra Sinfônica de Teresina, necessita de um corpo instável, a permanência desses artistas garantida pelo poder estadual daria a possibilidade de ter músicos em constante aperfeiçoamento”.

Foto: Arquivo Pessoal

Com ampla experiência internacional, a professora destacou as dificuldades de se trabalhar no Brasil. “Sair do eixo Rio-São Paulo ainda é complicado, por que é lá que se concentram os maiores eventos e os espetáculos com maior tempo de duração, mas isso não significa que não existam artistas e pessoas que buscam a arte em outros lugares, e foi pensando assim que tomei a decisão de vir para o Piauí”. No fim do ano de 2016, Paula Molinari foi aprovada como coordenadora local do cursos de capacitação oferecidos pela Chamada Researcher Connect, realizada pelo Fundo Newton Professional Development & Engagement Programme em parceria com a Fapepi, que objetiva oferecer cursos de curta duração ministrados por pesquisadores britânicos, para capacitação de professores brasileiros. “Fiquei muito feliz com a aprovação, quando vi a Chamada, logo pensei que o Piauí não poderia ficar de fora. É uma honra coordenar este projeto que não deixa de ser uma conquista para o Estado”, comentou Paula Molinari. Os cursos que foram realizados na UFPI, contaram com módulos que vão


DICAS DE LIVROS

PESQUISAS EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA: QUESTÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS

ÉTICA, TÉCNICA E RESPONSABILIDADE

Autor: José Ribamar Lopes Batista Júnior Páginas: 282 Ano: 2016 E-mail: ribas@ufpi.edu.br

Organizadores: Helder Buenos Aires e Jelson Oliveira Páginas: 356 Ano: 2015 E-mail: hbac@ufpi.edu.br

A obra apresenta uma rica pesquisa social e crítica sobre educação e práticas de inclusão. Entre as abordagens o autor analisa questões referentes ao Atendimento Educacional Especializado, legislação e identidade docente. Em cinco capítulos o autor descreve sua trajetórias de pesquisa na área que envolvem desde cursos de extensão e especialização até o mestrado e o doutorado.

A obra aborda uma das preocupações centrais da filosofia contemporânea: a relação entre técnica e ética ou, mais especificamente, a urgência de pensarmos eticamente o poder magnificente e ambivalente da tecnologia moderna. Para tanto, os pesquisadores reunidos neste volume apresentam, com vivacidade hermenêutica e seriedade argumentativa, o quanto o pensamento de Hans Jonas é oportuno e urgente.

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DICAS DE LIVROS

GEOGRAFIA: O REGIONAL E GEOAMBIENTAL EM DEBATE

JUVENTUDES RURAIS E URBANAS: TERRITÓRIOS, CULTURAS, SOCIABILIDADES E IDENTIDADES

Organizadores: Antônio Cardoso Façanha, Cláudia Maria Sabóia de Aquino, Jsenete Assunção Cardoso e Silvana de Sousa Silva Páginas: 247 Ano: 2015 E-mail: facanha@ufpi.edu.br

Organizadores: Lila Cristina Xavier Cruz, Shara Jane Holanda Costa Adad e Valéria Silva Páginas: Ano: 2016 E-mail: lilaxavier@hotmail.com

O livro oferece aos leitores o conhecimento de particularidades em diversos espaços geográficos dos estados do Piauí, Maranhão, Ceará e Pernambuco, focando em aspectos sociais, ambientais e econômicos, reunindo 12 artigos que discutem temas como Arranjo Territorial, Espaço Urbano e Climatologia e Planejamento Regional.

O obra reúne 22 autores que falam sobre diferentes temas sobre a juventude. O livro é fruto de 15 anos de pesquisa do Núcleo de Pesquisa sobre Crianças, Adolescentes e Jovens. Entre outros objetivos a obra evidencia as interferências mútuas entre as juventudes rurais e urbanas.

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TESES

Rosângela Assunção

Elissando Rocha da Silva

Professora - UESPI Defesa: Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2017. rosangelaassuncao30@hotmail.com

Professor - FSA, IFSP Defesa: Universidade Federal ABC, São Paulo, 2015 ellisando.silva@ufabc.edu.br

SINDICALISMO E MEMÓRIA DA VIVÊNCIA DOCENTE SUPERIOR NO ESTADO DO PIAUÍ

O

presente estudo trata do sindicalismo docente superior no Piauí no período de 2003 a 2012 e tem como objetivo analisar a relação entre a Associação dos Docentes do Centro de Ensino Superior do Piauí- ADCESP, o estado e a reitoria da Universidade Estadual do Piauí-UESPI durante as greves. A teoria gramsciana é o elemento estruturador da análise que fazemos das fontes no sentido de explicar a relação que se estabeleceu entre os sujeitos durante as greves. Parte-se da hipótese de que foi a partir da luta dos docentes, organizados através da estratégia da greve, que o estado foi pressionado a fazer melhorias estruturais e qualitativas na UESPI, tais como: ampliação do orçamento da IES; reformas dos campi; construções de novas estruturas físicas; implantação da política estudantil; eleições diretas para reitor, diretor e coordenador de cursos e concursos públicos para docentes. A metodologia da História Oral foi utilizada na coleta e transcrição dos depoimentos dos sujeitos investigados. Além disso, houve a produção de fontes com os depoimentos colhidos junto aos reitores da UESPI e presidentes da ADCESP e aplicação de questionários com os docentes com o objetivo de analisar a visão deles a respeito da ADCESP na condução das greves. A pesquisa apontou para uma relação de difícil negociação entre sindicato e Estado porque o segundo seguia o receituário neoliberal de privatização da educação pública e o sindicato tentava reagir a essa política, mas tinha dificuldades de mobilizar a categoria por questões políticas mais amplas: os docentes da UESPI só se mobilizam por melhoria salarial e estrutural da universidade, mostrando a limitação da consciência política dos docentes, resultando em pouca adesão às greves quando as pautas de luta eram ampliadas com questões políticas.

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ESTIMATIVA DO POTENCIAL ENERGÉTICO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS POR DIFERENTES ROTAS DE TRATAMENTO

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ste trabalho teve como objetivo principal fornecer subsídios para os gestores analisarem rotas alternativas para disposição final dos resíduos sólidos de grandes centros urbanos levando em consideração o potencial de recuperação energética. Como objeto de estudo, foram considerados os resíduos depositados no aterro sanitário de Caieiras/SP. Os tratamentos considerados foram: disposição em aterros sanitários com recuperação do biogás, biodigestão anaeróbia em biodigestores e incineração com recuperação energética. Avaliando-se principalmente os aspectos tecnológicos, energéticos e ambientais. Para a análise do potencial energético dos RSU dispostos em aterros sanitários, foram utilizados modelos matemáticos que permitem estimar a produção de biogás. Os resultados obtidos para o aterro sanitário de Caieiras apresentaram uma variação de até 55% entre um modelo e o outro. Para avaliação da biodigestão anaeróbia em biodigestores, foram avaliados dois modelos matemáticos que permitem estimar a produção de metano em função dos diversos fatores que interferem no processo (concentração de acetato e de micro-organismos, da variação do pH, dentre outros). Os resultados obtidos para a biodigestão anaeróbia apresentaram uma variação de cerca de 30% em relação à faixa considerada para a concentração de sólidos totais (2,4 a 39%). No caso da incineração, foram considerados seis modelos matemáticos empíricos (baseados nas análises imediata, gravimétrica e elementar) para estimar o poder calorífico inferior (PCI) dos RSU. Foram consideradas três alternativas: incineração dos RSU sem segregação dos seus componentes, incineração considerando segregação dos materiais recicláveis e incineração considerando a separação da fração orgânica dos RSU para biodigestão. Os resultados obtidos para a incineração apresentaram uma variação de até 40% entre um modelo e o outro, sendo que os valores mínimo e máximo obtidos para o PCI dos RSU foram de 4,87 e 8,26 MJ/kg, considerando a coleta indiferenciada. Baseados nos resultados obtidos, conclui-se que a incineração apresenta os melhores resultados do ponto de vista do potencial de conversão energética.


Daniel Dias Rufino Arcanjo

Pesquisadora NEEPE -UESPI/FAPEMA-UEMA Defesa: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), São Paulo, 2014 mgracysl@hotmail.com

Professor Adjunto I - Universidade Federal do Piauí Defesa: Universidade Federal do Piauí, 2016 daniel.arcanjo@ufpi.edu.br

DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DO DOCENTE INICIANTE EGRESSO DO CURSO DE PEDAGOGIA: NECESSIDADES E PERSPECTIVAS DO TORNAR-SE PROFESSOR

E

sta pesquisa foi desenvolvida em uma Instituição de Ensino Superior pública, com professoras iniciantes egressas do curso de Pedagogia desta IES, por meio da entrevista narrativa reflexiva. Centrou-se na questão problematizadora: Como ocorre o desenvolvimento profissional dos egressos do Curso de Pedagogia a partir da formação inicial e da sua prática docente?. Traçou-se como objetivo geral investigar como ocorre o desenvolvimento profissional de professores iniciantes egressos do curso de Pedagogia, a partir da sua formação inicial evidenciando-se necessidades e perspectivas demarcadas no percurso da prática docente com vistas a possibilitar indicadores formativos no sentido de contribuir para o (re) pensar do currículo, mediante a consideração de características inovadoras para o Curso de Pedagogia. Os dados mostram a necessidade de uma formação que possibilite ao professor iniciar na profissão de forma mais eficiente e segura, sobretudo, no que se refere à vivência de situações de aprendizagens da docência a serem consolidadas desde o estágio curricular supervisionado. Em relação ao processo de formação docente, considera-se fundamental que os cursos de Pedagogia sejam (re) pensados considerando como premente atender às expectativas de seus estudantes quando confrontadas com as exigências do cotidiano e com as questões ligadas ao seu futuro desenvolvimento profissional. Ao apontar aspectos referentes às questões do currículo contribui com reflexões em direção a possíveis adequações no Projeto Político Pedagógico do Curso de Pedagogia, tendo como parâmetro o reconhecimento das dificuldades e das necessidades formativas dos futuros professores e egressos Destaca-se a necessidade de que o professor iniciante seja preparado para estabelecer a relação teoria e a prática, como uma das formas de enfrentamento e de superação dos desafios impostos pelo contexto docente, ainda mais se considerar as adversidades em áreas ainda restritivas à promoção da condição do ‘ser professor’ e ao desenvolvimento profissional de docentes no interior do Nordeste brasileiro.

TESES

Mary Gracy e Silva Lima

CARACTERIZAÇÃO E APLICAÇÕES CARDIOVASCULARES DE UM NOVO PEPTÍDEO RICO EM PROLINA OBTIDO DA SECREÇÃO CUTÂNEA DE BRACHYCEPHALUS EPHIPPIUM

O

presente estudo descreve o isolamento e a caracterização químico-farmacológico-toxicológica de um novo oligopeptídeo rico em prolina (PRO) isolado da secreção cutânea do anfíbio Brachycephalus ephippium (Spix, 1824), denominado BPP-BrachyNH2, que apresenta efeito inibitório in vitro sobre a atividade da ECA em soro de ratos, com evidências in silico da interação BPP-BrachyNH2/ECA. BPP-BrachyNH2 induziu vasodilatação dependente de endotélio em anéis de artéria aorta de rato, cujo efeito foi abolido na presença de L-NAME, um inibidor da NO-sintase. Em anéis de aorta carregados com a sonda DAF-FM DA, BPP-BrachyNH2 promoveu aumento de fluorescência observado por microscopia confocal, indicando aumento na liberação de NO. A ausência de citotoxicidade para o BPP-BrachyNH2 foi observada em linhagens de células endoteliais de veia umbilical humana, de músculo liso vascular de aorta de rato e de macrófagos murinos pelo método do MTT. A ausência de toxicidade aguda in vivo foi observada em camundongos Swiss fêmeas tratadas com BPP-BrachyNH2 (5 e 50 mg/kg) por via intraperitoneal. BPP-BrachyNH2 apresentou efeito vasorelaxante em anéis de artérias de resistência isoladas do leito mesentérico de rato e da circulação coronária de porco, envolvendo o aumento da produção de NO pelo aumento da biodisponibilidade de L-arginina e a ativação de receptores de bradicinina B2, respectivamente. Assim, BPP-BrachyNH2 apresenta uma sequência primária inédita nos bancos de dados internacionais e é o primeiro BPP isolado a partir da secreção cutânea em toda a família Brachycephalidae. Estes achados abrem a possibilidade para se bioprospectar anfíbios como fontes de novas biomoléculas e com ação cardiovascular, assim como para suas potenciais aplicações no tratamento de disfunções endoteliais.

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Foto: Arquivo Pessoal

PALAVRA-CHAVE

Por Allan Campêlo

Startup

V

ocê já ouviu falar na palavra Startup? Talvez em algum programa de TV sobre novas oportunidades esta seja uma das palavras em evidência. Mas afinal, o que é uma Startup? O professor Ney Paranaguá vai nos explicar um pouco sobre o assunto!

Ney Paranaguá de Carvalho é Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Pernambuco, MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas e doutor em Ciência da Computação pelo Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense. Profissionalmente, é sócio das empresas Uniplam e Infoway, além de professor efetivo do Instituto Federal do Piauí (IFPI). Em uma busca rápida na internet é possível encontrar diversos conceitos de startup. Porém, a maioria pouco diferencia a startup de uma Empresa Júnior, por exemplo. Desta forma, o que poderia ser entendido como o conceito definitivo de startup? R: Existem duas características bem definidas. A empresa precisa ter base tecnológica e ser de alta escalabilidade, ou seja, crescer sem que os recursos aplicados cresçam na mesma

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proporção. Por exemplo, o Instagram quando foi vendido ao Facebook por 1 bilhão de dólares, tinha apenas seis funcionários. Você provavelmente não conhece nenhuma outra empresa que opere com tão pouco e tenha tanto valor, só uma startup é capaz disso. Startups costumam estar ligadas ao conceito de tecnologia da informação, por que isso acontece? R: Existe um diferencial na indústria da tecnologia da informação: a infraestrutura necessária é praticamente zero. Não precisamos de estradas e até mesmo com certa deficiência em nossa rede elétrica, ainda é possível trabalhar. O que precisamos é de conexão com a internet, iniciativa e conhecimento. Quais as principais dificuldades para quem busca montar uma startup no Brasil? R: O Brasil não tem cultura empreendedora. Se fosse possível respon-

der com uma única frase, seria essa: falta cultura empreendedora. Quando eu falo de empreender, falo do empreendedorismo por oportunidade, quando se decide empreender, mas seriam possíveis outras opções. Por exemplo, se eu fizesse uma proposta a alguém, como: você prefere ter um cargo público do alto escalão, como juiz, promotor, etc..., ou você prefere empreender? Me arrisco a dizer que 99% iria preferir um cargo público. Como podemos avaliar o cenário local para o desenvolvimento de startups? R: Temos pessoas qualificadas e infraestrutura necessária, nunca no Estado se falou tanto em tecnologia da informação, temos um trabalho unificado entre o governo, à academia e as iniciativas privadas. As instituições têm se articulado neste sentido, a própria Fapepi está à frente destas iniciativas. Sem dúvida estamos no caminho correto.




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