Teresina-PI | Edição nº 40 | Ano XIII | Julho 2016
ISSN 1809-0915
Publicação Científica da FAPEPI
PINHÃO ROXO
ENTREVISTA
PICHAÇÃO
Planta pode ser usada no combate ao Aedes aegypti
Flávio Rizzi fala sobre os desafios à frente da Sociedade de Arqueologia Brasileira
Manifestação juvenil é objeto de pesquisa em Teresina
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SAPIÊNCIA 40 Publicação Científica da FAPEPI
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Foto: Ascom/SAB
EXPEDIENTE José Wellington Barroso de Araújo Dias Governador do estado do Piauí Margarete de Castro Coelho Vice-Governadora do estado do Piauí Francisco Guedes Alcoforado Filho Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí - Fapepi Albemerc Moura de Moraes Diretor Técnico-Científico da Fapepi Wellington Carvalho Camarço Diretor Administrativo-Financeiro da Fapepi
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Entrevista: presidente da SAB fala sobre o campo da arqueologia e as contribuições dessa ciência Foto: Maurício Pokemon
Nº 40 Ano XIII / Julho de 2016 ISSN – 1809-0915 CONSELHO EDITORIAL Acácio Salvador Véras e Silva Adalberto Socorro da Silva Albemerc Moura de Moraes Ana Regina Barros Rêgo Leal Edvaldo Sagrilo Evaldo Hipólito Francisco Guedes Alcoforado Filho Francisco Marcelino Almeida de Araújo João Batista Lopes José Milton Elias de Matos Lívio César Cunha Nunes Orlando Maurício de Carvalho Berti Raimundo Isídio de Sousa Regis Bernado Brandim Gomes COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO: Michelly Samia EDITOR-CHEFE: Allan Campêlo Pinheiro REDAÇÃO: Allan Campêlo Daniele Lima (estagiária) Jhussyenna Reis Luiz Carlos Júnior Mário David Melo FOTOS: Allan Campelo Andrey Atuchin Celina Honório Daniela Torres Jhussyenna Reis Luiz Carlos Júnior Maurício Pokemon Ricardo Leizer REVISÃO DOS TEXTOS: Luciana Rodrigues Rocha PUBLICIDADE: Patrícia Carvalho CAPA: Rogério Narciso DIAGRAMAÇÃO: Luiz Carlos IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Timonense TIRAGEM: 10 mil exemplares Publicação Trimestral
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Dossiê: de descobertas milenares à formação acadêmica na área, Piauí é destaque em Arqueologia
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Paleontologia: fóssil com 278 milhões de anos é encontrado em Timon
Estudo realizado em Teresina desvenda o que há por trás das tão famosas pichações
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Pesquisa realizada na Uespi revela que o Pinhão Roxo pode ser utilizado no combate ao Aedes aegypti
Sumário
Foto: Allan Campêlo Foto: Andrey Atuchin
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Fadex: projetos de ensino, pesquisa e extensão recebem apoio logístico
E mais... Realização Fapepi, artigos, teses e dicas de livros.
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SAPIÊNCIA, 40 EDIÇÕES!
Editorial
Há dez anos, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi) recebia menção honrosa no 26º Prêmio José Reis de Divulgação Científica, por sua iniciativa na área através da revista “Sapiência”, a primeira do segmento produzida no Piauí. A revista evoluiu, trocou de formato, de sessões e conseguiu manter sua característica principal, a popularização da ciência. A Sapiência é escrita para alunos, professores, mestres, doutores, mas também é feita para se fazer entendível fora do ambiente acadêmico. Vejam só, conseguimos levar ciência para crianças através de nosso suplemento infantil, o Sapiência Jr. Mas esta edição que você está segurando, é diferente. Esta é a Sapiência de nº40. São 40 edições mostrando ao Brasil as potencialidades da Ciência, Tecnologia e Inovação do nosso Piauí. E é interessante atentar para esta palavra, “potencialidades”, assim mesmo, no plural. Com caráter interdisciplinar, em uma única edição, apenas como exemplo, trouxemos Arqueologia, pesquisas sobre o vírus Zika e um estudo sobre pichações. Chegou a hora de apresentar o que lhe aguarda nesta edição de nossa revista. Em nossa entrevista, conversamos com o professor Flávio Rizzi, piauiense e presidente da Sociedade Brasileira de Arqueologia, que falou sobre os diferentes aspectos da área e as expectativas de sua gestão. No dossiê, três matérias esmiúçam as diferentes vertentes arqueológicas do Estado, a identificação de diversos sítios arqueológicos encontrados no Piauí, as contribuições do curso de Arqueologia para o Estado, e uma descrição sobre os estudos e as perspectivas sobre a Serra da Capivara, com a contribuição de um dos maiores nomes da arqueologia no país, Nìede Guidon. Nas matérias gerais, trouxemos a descoberta, na cidade de Timon, de um anfíbio que viveu a, aproximadamente, 278 milhões de anos. Dos seres pré-históricos e pinturas rupestres, nós vamos para os registros nos muros das grandes cidades com a apresentação de um estudo sobre pichação em Teresina. Temos também uma pesquisa feita na Universidade Estadual do Piauí (UESPI), que utiliza o Pinhão Roxo para combater o Aedes aegypti, e ainda, se você quer tirar suas dúvidas sobre o vírus Zika, confira em nossa sessão Palavra-Chave uma breve entrevista sobre o assunto. Boa leitura. Francisco Guedes Alcoforado Filho Presidente da Fapepi
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AO LEITOR Para críticas, sugestões e contato: sapiencia@fapepi.pi.gov.br www.fapepi.pi.gov.br Av. Odilon Araújo, 372, Piçarra Teresina-PI • CEP 64017-280 Fone: (86) 3216-6090 Fax: (86) 3216-6092
ENTREVISTA
Por Jhussyenna Reis
Pesquisas arqueológicas acrescentam novas narrativas à história Flávio Calippo fala sobre o campo da arqueologia e seu amadurecimento no Brasil Foto: Allan Campêlo
Flávio Rizzi Calippo Flávio Rizzi Calippo é natural de São Paulo, bacharel em Oceanologia pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG), doutor e mestre em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, é professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), coordenador do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia (PPGArq/UFPI) e Presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB). Coordena o Projeto Arqueologia do Litoral do Piauí e integra o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). É ainda pesquisador convidado do Centro de Estudos de Arqueologia Náutica e Subaquática da Universidade Estadual de Campinas (CEANS/ UNICAMP) e do Laboratório de Paleocenografia do Atlântico Sul (LaPas/ IO/USP).
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arqueologia é uma ciência social que está preocupada em entender a sociedade através da sua materialidade, ou seja, pelos vestígios que ela deixou. Assim, identificar e localizar evidências da ocupação humana são atividades dos arqueólogos. Já o cidadão comum tende a confundir essa ciência com outra chamada Paleontologia. No
entanto, esta segunda, está na área das ciências naturais e estuda vestígios de flora e fauna pré-históricas buscando compreender os diversos fenômenos geológicos e biológicos. Em conversa com a revista Sapiência, o professor e pesquisador Flávio Rizzi Calippo, compartilha um pouco do fantástico universo da arqueologia e a situação dessa ciência no contexto atual.
Como se deu a chegada e concepção da arqueologia no Brasil? A arqueologia chega ao Brasil com os primeiros naturalistas, primeiros pesquisadores trazidos na época do Brasil Colônia pelo Imperador. Eles começaram a identificar alguns elementos e alguns acabaram ficando no Brasil. Um dos que posso destacar aqui foi Peter Lund, que foi um pes-
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ENTREVISTA
quisador que se instalou na região de Minas Gerais e começou a identificar vários vestígios de uma fauna pré-histórica e também encontrou associados a eles alguns ossos humanos. Um dos primeiros objetos da pesquisa arqueológica foram os Sambaquis, que são grandes amontoados de conchas de populações que viviam no litoral do país, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. As populações utilizavam as conchas como um elemento construtivo e faziam grandes plataformas, onde faziam festas, cerimoniais, enterravam seus mortos. Ali estão materializados vários aspectos simbólicos, de significados do enterramento, da construção, do modo vida, da alimentação. Mais tarde, a partir do momento que a arqueologia entra na universidade ela ganha maior força e passa a se consolidar. Que novas narrativas a pesquisa arqueológica já trouxe para a história do Piauí? A história é feita com base nos documentos, mas os documentos foram feitos por quem sabia escrever e eram, normalmente, os “vencedores”. Já a arqueologia trabalha com uma fonte documental que conta uma outra narrativa, não somente o documento escrito por pessoas importantes, mas o vestígio do dia a dia, das pessoas comuns. No passado, os historiadores piauienses eram de famílias que estavam ligadas à elite rural. A narrativa produzida pela maioria deles levou a ideia de que não havia mais indígenas no Piauí ou que todos foram mortos. E, hoje, com a liberdade que temos, já são três as etnias que estão se autoafirmando. A Funai montou até um escritório na cidade de Piripiri. A contribuição das comunidades indígenas e quilombolas para a história do Piauí foi apagada. O início da história do Piauí é normalmente atribuído a Domingos Jorge Velho, um bandeirante paulista, que chega ao Piauí atrás de riquezas. Porém, a história do Piauí se inicia através da presença indígena.
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Quando o europeu chega ao litoral que hoje compõe a costa do Piauí, ele não consegue se estabelecer. Precisou seguir em direção ao interior porque o litoral estava ocupado por diversas nações indígenas falantes das línguas Jê e Tupi. Os estudos levam-nos a crer que da articulação entre esses povos indígenas, para evitar que o colonizador europeu se estabelecesse, surge provavelmente a etnia dos Tremembé. São grupos guerreiros e nadadores que aparecem em vários relatos de ataques aos navios portugueses. Esses grupos atrasam a chegada dos europeus em mais de 300 anos. Isso faz a gente rever nossa percepção sobre quem eram esses povos indígenas que, às vezes, são vistos como desarticulados. O português tratava todas essas nações, que têm seus próprios nomes, apenas como “índios”. Quando você dá um nome genérico, deixa de reconhecer a importância daquelas nações e a arqueologia vem tentando desmistificar essa problemática. No Brasil, são mais de 20.000 sítios arqueológicos cadastrados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Se o senhor tivesse que eleger os três principais sítios arqueológicos do país, quais seriam eles? Acho que a grande importância dos sítios arqueológicos se dá pela importância dos contextos. Por exemplo, a Serra da Capivara, ela tem um sítio muito famoso, mas mais importante que discutir só a antiguidade é responder as perguntas: quem eles foram? Como eles se organizavam? E você tem uma série de sítios que permitem fazer isso. As datações de 15 mil e 20 mil anos, por exemplo, já tem dados bastante seguros e conjuntos de artefatos que comprovam isso. Há gravuras ali com cenas de afeto, cenas que começam com elemento simples e chegam a painéis com grande complexidade e uma série de elementos que não vemos em outros lugares. Os sambaquis são outros que mostram
a emergência de uma sociedade que viveu 8 mil anos no litoral do Brasil. Então, essas sociedades têm muito o que contar, os modelos de como coletavam os recursos, como sobreviveram sem destruir o próprio ambiente, como lidavam com as variações do nível do mar, a erosão costeira. E temos ainda os sítios do Planalto Central onde temos as grandes aldeias que deram origem aos povos Jês, que tiveram grande resistência em relação à chegada do Europeu. Em que consiste o estudo arqueológico do Complexo Ferroviário de Teresina? Quais as contribuições dele na prática? O Complexo Ferroviário nasceu de uma demanda da construção do próprio Parque, então um dos objetivos do estudo arqueológico era vê se não haveria nenhum grande impacto, já que ali funcionava o pátio de manobra da Estação Ferroviária. São duas perspectivas, a primeira fazer o levantamento para ver se não haveria impactos a algum patrimônio arqueológico na região e a outra era identificar alguns vestígios que pudessem somar ao próprio Parque. Então, a ideia era identificar parte desse patrimônio ferroviário que pudesse remeter a quem estivesse dentro do parque à reflexão do que foi o movimento ferroviário, de como as pessoas viviam ali, mesclando as questões culturais dentro do projeto. Serão implantados centros de memória, oficinas, arte santeira, cerâmica. Esse projeto está na parte final, de relatórios e documentos, e estamos apresentando essas perspectivas para que isso possa ser incluído dentro desse roteiro cultural. Como presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), eleito neste ano de 2016, qual o seu plano de metas à frente de uma instituição tão importante para a área? A gente vem trabalhando desde o início do ano para uma democratização das ações da SAB. Eu tive muita
Que benefícios ou parcerias poderão potencializar o desenvolvimento do Piauí através de sua gestão na SAB? A principal coisa que vamos conseguir é trazer o Congresso de Ar-
Flávio Calippo no Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) que apoia a execução de pesquisas para ampliar os conhecimentos dos fenômenos antárticos e suas influências sobre questões de relevância global e regional.
queologia Brasileira para o Piauí. Provavelmente em agosto de 2017, o Congresso será em Teresina, lembrando que poucas vezes ele veio para o Nordeste. Isso porque o Nordeste esteve muito fechado em si mesmo do ponto de vista da arqueologia, poucos pesquisadores do nordeste apresentavam trabalhos e interagiam com a SAB. Por isso a ideia de trazer o Congresso para cá é que a gente possa mostrar o potencial do trabalho que está sendo feito aqui que é muito bom e poder dialogar com os pesquisadores de fora. A arqueologia tem aplicação direta nas questões sociais atuais. Uma das áreas que está em evidência é a Arqueologia de Gênero, mas como funciona essa vertente? A arqueologia tem uma área chamada Arqueologia Pós-processual ou Contextualista que se preocupa em entender os problemas do contemporâneo. Porque não adianta achar que a interpretação do passado constrói verdades, e do ponto de vista científico das ciências humanas, a verdade
nem existe. A gente constrói narrativas sobre o passado. Dentro dessa perspectiva está a Arqueologia de Gênero. Temos, hoje, na sociedade, diversos grupos de gêneros, heterossexuais, homossexuais, transgêneros, bissexuais e a nossa sociedade reconhece isso. Embora estejamos em um momento em que os direitos sociais estão sendo bastante atacados, e algumas sociedades tentem reprimi-los, mas eles de fato existem. O objetivo é entender as relações e construir uma narrativa que envolva essa tensão, onde se possa olhar para a diversidade e ver se a gente também enxerga ela no passado, até para identificar a origem dos problemas que causam os conflitos sociais hoje. Porque cada sociedade desenvolveu uma relação completamente diferente sobre como lidar com a questão do gênero e a diversidade sexual. E essa arqueologia pode ser mais engajada, trabalhando pelo reconhecimento dos direitos dos transgêneros, por exemplo, ou uma arqueologia preocupada apenas em entender isso enquanto fenômeno social.
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ENTREVISTA
Foto: Ricardo Leizer
sorte porque fui vice-presidente na gestão anterior, que já veio junto com as últimas três ou quatro, demandando esforços para consolidação da sociedade do ponto de vista financeiro e jurídico. Hoje, a SAB passou de 300 para 900 arqueólogos e temos condição de ter assessoria de imprensa, assessoria jurídica, secretaria contratada, toda uma estrutura que nos permite trabalhar de forma mais eficiente. Com isso, conseguimos criar uma série de eventos, grupos de trabalho, que atuam em consonância com a diretoria, mas também com autonomia pensando em problemas específicos de cada uma das áreas da arqueologia. Criamos os fóruns de arqueologia que nos permitem realizar reuniões em diferentes lugares, dentro e fora da academia. A ideia é que no final de cada fórum se produza um documento que possa trazer contribuições a serem discutidas. A gente tem uma série de desafios também, como a regulamentação da profissão. Uma vez por mês temos reuniões em Brasília com deputados e senadores que estão ajudando no processo de regulamentação, no combate a PEC 65 no combate a toda uma legislação que vem acabar com a questão do licenciamento. E dentro desse cenário de modificação, a SAB está se posicionando em todas as questões, com apoio da maioria de seus associados. Nossa relação com as outras sociedades científicas é outra meta. Nós retomamos uma coisa que há décadas não acontecia que é a aproximação com o IPHAN. Pela própria competência dele, ele cuida também do patrimônio arqueológico e assim nós temos reuniões mensais, onde a gente senta e conversa, vê onde podemos agir juntos, onde deve haver autonomia, a fim de colaborar mesmo.
Sociólogo piauiense pesquisa a prática da pichação como manifestação urbana de Teresina Estudo revela as interfaces artísticas e culturais de um movimento criminalizado
Foto: Allan Campêlo
MATÉRIA
Por Luiz Carlos Júnior
O pesquisador John Wedson conseguiu reunir um vasto acervo de xarpis durante o estudo.
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esde os primórdios, a raça humana busca por formas de expressão, seja por meio de desenhos ou escritos. Tais registros podem ser encontrados, por exemplo, na Serra da Capivara, no Piauí, nos sítios arqueológicos dessa região. Os desenhos mostram
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a preocupação dos homens da época em registrar traços dos seus cotidianos através das pinturas rupestres. A pichação, uma dessas formas de expressão cuja origem remonta à Antiguidade, ainda é vista como elemento de transgressão e vandalismo. Um estudo pioneiro em Teresina, no en-
tanto, busca descontruir essa imagem pejorativa, mostrando que esta manifestação está estritamente relacionada com a cidade e, entre outras coisas, representa a busca da juventude pela ocupação dos espaços urbanos. O estudo foi desenvolvido pelo sociólogo John Wedson, como pes-
O Xarpi foi inserido em Teresina no início da década de 90, através de um alfabeto estilizado semelhante a este, trazido da cidade de Fortaleza.
como isso não é à toa, o que estava acontecendo na cidade era aplicado nessas frases, eles estavam se posicionando sobre o que acontecia no seu entorno”, diz John Wedson. O estudo mostra que no fim da década de 1980 surge um segundo grupo de pichadores na capital piauiense, são os Ratos de Rua e Rampa, ou o 3R, que, assim como os Obscenus, espalhavam pela cidade mensagens de conteúdo sociocultural. A pesquisa destaca que, no inicio da prática, as inscrições faziam alusão à condição urbana de Teresina e expressavam um descontentamento com a vida na cidade; além disso, os grupos estavam inseridos em um contexto em que determinados gêneros musicais vociferavam criticas sociais e politicas através de suas letras. À época, além de Teresina estar passando por um processo de entropia urbana, o gênero musical que esses grupos juvenis costumava ouvir passava por suas letras uma insatisfação contra a ordem social e tudo isso influencia nas produções dos Obscenus e na dos Ratos de Rua e Rampa.
O INÍCIO DO XARPI EM TERESINA O estudioso afirma que a partir da década de 1990 uma nova prática de pichação se popularizou em Teresina. Composto por letras rebuscadas e de difícil compreensão, o Xarpi se disseminou na capital, mas, as mensagens passaram a ser voltadas para grupos específicos, apenas uma porção limitada da juventude teresinense conseguia decodificá-la. “A partir dessa época, nós observamos a mudança, os jovens continuavam se agrupando, porém, agora não escreviam frases legíveis, que qualquer pessoa entendesse. De 1991 em diante, o que era inscrito direcionava-se a grupos de pichadores, a partir de um alfabeto estilizado e passível a ser decodificado apenas por quem tinha acesso a esse conjunto de letras especifico”, explica o pesquisador. Com essas características, o primeiro grupo, os “Fantasmas da Madrugada”, surgiu na zona Norte de Teresina e foi formado por dois jovens autonomeados
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Foto: Allan Campêlo
quisa em âmbito de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Piauí. O pesquisador explica que a ideia de investigar o tema surgiu ainda na graduação, quando participou de um projeto de iniciação cientifica sobre a ocupação da juventude nos espaços urbanos. “Eu pensei em estudar a prática urbana e juvenil da pichação em Teresina a partir de um projeto de iniciação cientifica que participei entre os anos de 2007 e 2008. No estudo, pude observar que algo não era apreciado. Os vários artigos, livros e pesquisadores que tive contato por tratarem dos jovens e de sua presença na cidade não abordavam algo que me inquietava, que era a pichação”, afirmou. No estudo, o pesquisador aponta que o surgimento de grupos de pichadores em Teresina remonta à década de 1980 e está relacionado ao cenário socioeconômico da capital, que à época do surgimento do primeiro grupo enfrentava graves problemas urbanos, oriundos da cheia dos rios Poti e Parnaíba, que afetavam, principalmente, os moradores das regiões Norte e Centro da capital. “O que acontecia em Teresina em meados da década de 80 apresentava uma cidade pouco acolhedora. Incapaz de resolver as questões relacionadas ao meio urbano e aos anseios da população que sofria com a falta de moradia e de condições básicas de sobrevivência”, destaca o estudioso. Nesse contexto, em 1985 um grupo de jovens da região do bairro Marquês decidiu se reunir para espalhar pela cidade mensagens de conteúdo sociocultural nas quais se posicionavam ante os problemas que a capital enfrentava; assim surgiu o Obscenus, primeiro grupo de pichadores de Teresina. “O grupo espalhava pela cidade frases como ‘Só a morte é perfeita, não importa a cova estreita’, na qual se observa um niilismo exacerbado, uma descrença total na vida. Veja
Foto: Allan Campêlo
Dois grupos se destacam desde o início da prática na capital: são os Rebeldes Suicidas (RS) e os Fantasmas da Madrugada (FM).
momento, embora não seja possível ao cidadão comum decodificar as mensagens, elas estão mais aparentes na conformação estética da pichação. Além disso, existe um traço que os praticantes chamam de setas, essas setas aparecem nesta fase unicamente como adereços e não têm outra função que não seja a estilização dos Xarpis. Já na segunda fase, as setas assumiram novas funções ao adquirirem outras envergaduras. Neste momento, as
setas deixaram de constar como meros acessórios e passam a assumir funções nos escritos; uma delas é de tomar todo o espaço em que os xarpis eram feitos. O estudioso destaca que os primeiros grupos permanecem ativos na capital. Os Fantasmas da Madrugada se renovaram com a entrada de novos participantes e nos Rebeldes Suicidas, embora não haja informações sobre a entrada de novos membros, os mais antigos retomaram a prática.
CRIMINALIZAÇÃO
Exemplo de um dos xarpis do grupo Rebeldes Suicidas.
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Foto: Allan Campêlo
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como “Rama” e “Camusa”. Em viagens à cidade de Fortaleza, o primeiro percebeu a existência desta modalidade de pichação e resolveu implantá-la na capital piauiense com o objetivo de modernizar a cidade a partir de uma prática cultural até então inexistente em Teresina. De acordo com o estudo, no mesmo período surgia, na zona sul, os “Rebeldes Suicidas”. O grupo foi formado por inquietações parecidas com aquelas que sentia Rama. Um jovem autonomeado “Fobia”, por sentir falta em Teresina da modalidade de pichação que via e experienciou em Fortaleza, pediu a seus amigos de lá um alfabeto com letras estilizadas, que possibilitava a formação dos Xarpis. “A partir desses dois grupos, a prática juvenil dessa nova modalidade de pichação se dissemina e com as ações desses grupos outros jovens sentiram-se tentados a participar da aventura urbana do Xarpi”, destacou John Wedson. Em seu estudo, o pesquisador delimitou a prática em duas fases: na primeira, a confecção dos Xarpis ocorria a partir de letras que são mais fáceis de serem visualizadas. Neste primeiro
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No Brasil, pichar o patrimônio público ou privado é crime previsto na Lei Ambiental, e apesar de ser considerado de menor potencial ofensivo, a pena para quem é pego pichando varia de três meses a um ano e aumenta de seis meses a um ano se o ato for praticado contra monumento ou coisa tombada em virtude de seu valor artístico, arqueológico ou histórico. Para o pesquisador, a criminalização da pichação é vista como algo desnecessário tendo em vista sua efemeridade, já que, segundo ele, a ação do intemperismo físico e químico e mesmo os remodelamentos constantes por quais passam a cidade apagam essas marcas fácil e rapidamente. “Existe uma Lei Ambiental que criminaliza quem intervém sobre o patrimônio público ou privado. A pichação é vista como algo que degrada, um lixo a ser removido da cidade, mas, se uma das características da pichação é a efemeridade, como ela vai degradar algo? Degradar foi o destino imposto ao Rio Doce, que ficou deteriorado, morto! Degradada é a imagem que o Brasil tem lá fora: um país que não respeita sua biodiversidade, que desrespeita o meio ambiente. É claro que a pichação não degrada coisa alguma. Não degrada pela possibilidade de sair com uma camada de tinta, ao mesmo tempo em que a superfície em que ela foi feita continua a exercer a mesma função que lhe foi incumbida”, afirmou John Wedson.
•Fábio Rocha Barbosa
ARTIGO
Professor Adjunto do Curso de Engenharia Elétrica da UFPI•Contato: fabiorocha@ufpi.edu.br
Desenvolvimentos em Eficiência Energética no Piauí
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os dias atuais, o acesso à energia está associado à melhoria da qualidade de vida. Porém, o desenvolvimento econômico aliado ao crescimento populacional demanda mais energia e solicita investimentos crescentes em suprimentos de energia, seja na criação de novas Usinas Geradoras de Energia ou no aumento da Eficiência Energética. Nesse contexto, ações concretas em torno de Eficiência Energética apontam para a melhoria do desempenho sustentável das organizações. Constituindo-se como um conjunto de medidas bem definidas que, quando implantadas, levarão a uma redução do consumo de energia em uma organização, mantendo-se os níveis de produção e da qualidade do produto final alguns projetos de eficiência energética tem sido amplamente difundidos e empregados. A implantação requer etapas claras, demarcando o início e o fim da intervenção, sendo conduzidas por profissionais habilitados e qualificados. No âmbito da aplicação na UFPI (Universidade Federal do Piauí), levou-se em consideração os aspectos relevantes do Programa de Gestão Energética UFPI (PGE-UFPI) desenvolvido no Laboratório de Eficiência Energética da UFPI, objetivando o fornecimento de ferramentas para implantação de soluções sustentáveis na instituição, resumidos em: 1)Realização Estudo Energético Preliminar da UFPI; 2)Fazer o Diagnóstico Energético Detalhado nas dependências da UFPI; 3)Pesquisar potencialidades de economia de energia; 4)Sugerir Projetos de Eficiência Ener-
gética a serem implantados; 5)Avaliar a Viabilidade Técnicoeconômica dos projetos sugeridos. Um desenvolvimento do Laboratório de Eficiência Energética, junto ao PGE-UFPI, consiste viabilidade de um conjunto de medidas que estabelece como meta para instituição que uma porcentagem de seu consumo de energia seja proveniente de fontes alternativas de energia fornecendo informações de eficiência energética, uso racional da energia e informações quanto à fonte de energia que deve ser produzida no local, limitando as emissões de dióxido de carbono e reduzindo o consumo energético. Em outra ação, há a avaliação da eficiência de ambientes, principalmente no que tange a iluminação e condicionamento de ar, seguindo os critérios descritos no Relatório Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética em Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos (RTQ-C) utilizando Análise Envoltória de Dados (Data Envelopment Analysis – DEA), que é uma técnica que utiliza programação matemática para avaliar a eficiência das unidades produtivas, chamadas DMU (Decision Making Units), bem como compará-las e estabelecer o quanto o índice de eficiência das unidades menos eficientes estão distantes do índice das mais eficientes. Com um conjunto de medidas bem descritas, a avaliação dos ambientes em termos de percentuais de eficiências e um diagnóstico detalhado, pode-se avançar em projetos de implantação de fontes renováveis, sob forma
de geração local, nas áreas com melhor potencial. Por exemplo, outro projeto já em andamento no Laboratório de Eficiência Energética analisa a viabilidade de implantação de uma forma de energia limpa e renovável na instituição visando aproveitamento energético de resíduos orgânicos provenientes dos Restaurantes Universitários da Universidade Federal do Piauí- UFPI, através do biogás resultado de sua decomposição. Esse seria enviado a um gerador específico que faz o processo de combustão, onde o mesmo pode ser convertido de energia térmica para energia elétrica. Essa energia produzida poderá ser utilizada dentro das instalações de uma das unidades de RU, para realização de suas atividades. O Laboratório de Eficiência Energética da UFPI vem se consolidando e abrigando estes e outros projetos relevantes desde que foi agraciado pelo Prêmio da Sustentabilidade, uma iniciativa do MEC sob um formato que exigia ideias para soluções sustentáveis em consumo de água e energia elétrica. O Laboratório de Eficiência Energética, representado pelo seu coordenador e pelos alunos bolsistas do laboratório ganharam todos os 8 prêmios individuais, conseguindo colocar a UFPI em primeiro lugar na disputa na categoria Instituições e destacando a instituição, e o estado do Piauí, no cenário nacional, uma vez que a UFPI foi amplamente homenageada no Congresso Internacional de Gestão da Inovação da Educação do Setor Público – CIGISP 2015, em Brasília, por ocasião da entrega dos prêmios.
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•Orlaneide da Silva Brito1 •Juliana do Nascimento Bendini2 Universidade Federal do Piauí, campus Senador Helvidio Nunes de Barros, graduanda em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas Universidade Federal do Piauí, campus Senador Helvidio Nunes de Barros, docente do Curso de Licenciatura em Educação do Campo
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ARTIGO
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Comportamento de coleta por abelhas africanizadas (Apis mellifera L.) em árvores de Nim (Azadirachta indica A. Juss.)
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abelha africanizada (Apis mellifera L.) é considerada um híbrido generalista extremo por apresentar características eficientes para a coleta de recursos das fontes florais mais produtivas do ambiente. O conjunto de plantas que fornecem alimento (pólen e/ou néctar) para A. mellifera denomina-se de flora apícola. Sendo a flora apícola de uma região determinante para a produtividade das colônias. Existe uma grande diversidade de espécies vegetais apícolas cujas flores são visitadas por A. mellifera na obtenção dos recursos alimentares, dentre estas está Azadirachta indica A. Juss., popularmente conhecida como Nim, que atualmente encontra-se muito disseminada em todo território nacional. No Brasil, é visível a introdução maciça desta espécie vegetal em áreas urbanas, inclusive incentivadas por vários administradores públicos municipais em projetos de paisagismo, pois permanecem verdes e com sombra o ano inteiro, além de se tratar de uma espécie de crescimento rápido, tolerante as várias condições ambientais e que fornece sementes e folhas para a produção de inseticidas, bem como serve para uso medicinal, veterinário, madeireiro e etc. Esta planta de origem indiana apresenta hábito arbóreo, pertence à família Meliaceae, foi inserida na arborização urbana e vem sendo alvo de estudos envolvendo sua ação inseticida e principal-
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mente seus efeitos danosos às abelhas, visto que a presença do princípio tóxico azadiractina em partes desta planta tem despertado uma grande curiosidade, pois ainda não se sabe como os seus possíveis efeitos bio-inseticidas afetam esses importantes animais polinizadores e a apicultura no que se refere a produtividade. Considerando estudos já realizados que comprovam a toxicidade do Nim para as abelhas africanizadas o referido estudo vem investigando o comportamento de coleta por abelhas A. mellifera em 10 árvores de Nim (A. indica) em florescimento, ocorrentes na Universidade Federal do Piauí, campus Senador Helvídio Nunes de Barros, na cidade de Picos-PI, visto que a apicultura é uma das principais atividades econômicas da região. Estão sendo realizadas observações focais do comportamento de coleta de abelhas africanizadas visitantes as flores de Nim durante três dias de cada mês, das 7 às 13h, à cada duas horas, durante 5 min em cada planta. O comportamento de coleta está sendo descrito a partir dos seguintes parâmetros: número de abelhas visitantes, o (os) recurso(s) coletado(s), a temperatura e umidade relativa do ar durante os horários de visita. Além disso, estão sendo registrados à cada horário por meio da observação direta dos indivíduos A. indica estudados a presença de odores, através da dissecação das flores, e a receptividade do estigma, inserindo essas estruturas florais em Peróxido de Hidrogênio-H2O2 e verificando- se a formação de bolhas.
Os resultados preliminares do referido estudo financiado pela FAPEPI / PIBIC 2015-2016, demonstraram uma maior frequência de visita de A. mellifera as flores de Nim, logo no primeiro horário de observação, das 7 às 8 h da manhã, horário em que as flores de muitas plantas ainda estão a abrir. Verificou-se que o número de abelhas visitantes ainda é reduzido mesmo nos primeiros horários e esse número só vai diminuindo ao longo do dia. Observou-se que as flores de Nim permanecem abertas ao longo de todo o dia e com as anteras liberando grãos de pólen, sendo este o principal recurso coletado pelas abelhas africanizadas visitantes. Essa espécie vegetal apresenta como artifício para atrair seus visitantes florais a liberação de odor durante todo o dia, mantendo os estigmas das flores receptivo, indicando assim que as abelhas A. mellifera consistem em um dos seus agentes polinizadores, pois estas apresentam comportamento de coleta de pólen e néctar durante a permanência nas flores. Em vista do comportamento apresentado pelas abelhas A. mellifera, supõe-se que o número e a frequência de visitas às flores de Nim ocorrem em maior intensidade quando estas árvores são fonte exclusiva de alimento, o que será comprovado durante o período seco a medida que ocorre nesse período uma brusca queda na disponibilidade de recursos oferecidos por outras fontes florais.
•Francisco Marcelino Almeida de Araújo1 •Nádia Raquel Matos Oliveira2 Discente do curso de Ensino Médio Integrado ao Técnico em Eletrônica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí / Campus Teresina Central. E-mail: francisco.marcelino@ifpi.edu.br 2 Discente da UFPI do curso de Bacharelado em Engenharia Elétrica; E-mail: nadiamatos.18@gmail.com
Projeto Robótica Formando Cidadãos: Tecnologias Livres aplicadas no Ensino Público de crianças e jovens
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tualmente, há o uso de ferramentas tecnológicas que promovem a difusão de conhecimentos de forma facilitada, onde os alunos podem ser estimulados a procurarem por novos recursos e aprendizados, de uma maneira mais atrativa e lúdica para os mesmos (BORBA, 2001). Entretanto, apesar do seu benefício, as ferramentas tecnológicas não substituem o papel dos educadores, sendo os próprios cruciais ao esclarecimento de dúvidas. O conhecimento tem presença garantida em qualquer planejamento, com isso, há um consentimento de que o desenvolvimento de um país está relacionado à qualidade da educação oferecida pelo mesmo (GADOTTI, 2000). Vale ressaltar, que existem novos conhecimentos, - além dos tradicionais como: Matemática, Física, Química e entre outros - que estão sendo disseminados popularmente como a Robótica Educacional, por exemplo. (DE SOUZA, 2015). Por envolver conhecimentos apontados como difíceis, em que muitas pessoas têm certo receio para se desenvolver nessa área, existem projetos educacionais voltados à Robótica a fim de desmistificar essa área de conhecimento, para isso, há kits educacionais disponibilizados comercialmente e metodologias de ensino. Essas metodologias e ferramentas de ensino se baseiam no denominado termo construtivismo, em que o conhecimento pode ser construído mediante a interação entre sujeito e objeto. É de ênfase que, para o renomado pedagogo Piaget, a criança desenvolve seu desempenho intelectual através da sua interação com
objetos do ambiente, quando a mesma é posta em contato com problemas motivadores e realistas para serem resolvidos (MORELATO, 2011) (SERAFIM, 2006). Por este motivo foi proposto o projeto Robótica Formando Cidadãos (RFC). Este projeto surgiu através da chamada CNPq-SETEC/MEC Nº17/2014. O RFC é um projeto de cunho social que visa à desmistificação de conhecimentos relacionados à robótica e também a inclusão social de crianças e jovens que nunca tiveram a oportunidade de ter contato com tecnologias voltadas a essa área multidisciplinar. O projeto é executado nas dependências do IFPI - Campus Central, tendo total apoio e incentivo dessa IES. O RFC é voltado, preferencialmente, para alunos de escolas públicas e participantes do movimento escoteiro. Deu-se preferência a alunos de escolas públicas devido às discrepâncias sociais que existem tanto no estado do Piauí como Brasil a fora, no ensino público ofertado. Esse projeto também ocorre para promover conhecimentos de áreas de tecnologias, já que, provavelmente, esses jovens não teriam acesso às tecnologias apresentadas nesse projeto. O projeto também atuou como incentivador para alunos se desenvolverem em áreas de Exatas, já que no Brasil essa área ainda é escassa de profissionais (BBC BRASIL, 2016). No período de um ano foram aplicadas aulas de robótica para crianças e jovens de 10 a 21 anos de todo sexo, gênero e de diversas instituições como: IFPI Campus Central e Zona Sul, IFMA Campus Timon, CEMTI João Henrique de Almeida Souza, todos os Grupos de Escoteiros de Teresina, SASC e PRONATEC.
Com o projeto RFC, visa-se a implantação do mesmo em escolas do ensino público e sua oficialização com uma metodologia de ensino válida e eficaz. almejando a desmistificação de conhecimentos relacionados à robótica, a fim de influenciar, positivamente, os jovens atendidos pelo projeto a atuarem, futuramente, em áreas de tecnologias ou exatas. Como parâmetro de validação do projeto observou-se alguns dados interessantes como: havendo uma quantidade efetiva de 120 alunos acompanhados pelo projeto, 09 deles fizeram parte dos 12 alunos elegíveis, de todo o Piauí, para concorrer à representação nacional da Olimpíada Brasileira de Robótica 2015 onde, dentre eles, o aluno que alcançou êxito foi um dos participantes do projeto RFC. Ressalta-se que a certificação desses 120 alunos aconteceu dentro do evento internacional Genuino Day 2016, ocorrido em Abril no Shopping Rio Poty, agregando toda sociedade e dando visibilidade aos jovens participantes, ao projeto e parceiros. Além disso, 23% dos alunos do RFC são mulheres, isto é, um número bastante significativo e superando as expectativas da inclusão do sexo feminino no ensino de tecnologia no Brasil (INEP, 2014). Tais dados consolidam a importância do ensino da tecnologia e a indução do protagonismo e empoderamento juvenil dentro da sociedade, fortalecendo e potencializando a base educacional brasileira, em especial, o ensino público dentro de uma área que é, atualmente, dominada por escolas privadas. Mais informações e atualizações sobre o RFC e atividades desenvolvidas nesse projeto estão disponíveis em: http://labiras.cc/rfc.
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ARTIGO
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DOSSIÊ
Por Allan Campêlo
A Serra da Capivara ainda tem muito a dizer
Os diversos pontos mostram microrregiões que compreendem 93 cidades piauienses que possuem sítios arqueológicos, catalogados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). As áreas correspondem, aproximadamente, a 42% do território do Piauí.
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DOSSIÊ
Foto: Maurício Pokemon
O Parque Nacional Serra da Capivara ocupa uma área de 129 mil hectares.
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Patrimônio da humanidade sofre com falta de estrutura
ão é possível afirmar o que de fato vem ao imaginário do piauiense quando o assunto é a Serra da Capivara. Para alguns, algo que pode parecer repetitivo, para outros, um lugar distante, não só por conta dos seus mais de 500 km de distância da capital Teresina, mas distante da realidade, distante dos significados que o local carrega consigo. Ainda em 1991, a Organização das Nações Uni-
das para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) inscreveu o Parque Nacional Serra da Capivara na lista dos Patrimônios Culturais da Humanidade; para que se tenha uma ideia da importância dessa nomeação, outra participante desta lista é a cidade do Vaticano. Mas o que justifica esse reconhecimento? O que de tão importante existe na serra piauiense? Em 1973, um grupo de pesquisadores franceses, coordenados pela
professora Niède Guidon, através da Mission archéologique franco brésilienne au sud-est du Piauí, iniciou estudos arqueológicos na Serra da Capivara, motivados pelas pinturas rupestres encontradas, três anos antes, no local. O Parque, hoje administrado pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e vinculado ao Ministério do Meio-Am-
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Foto: Maurício Pokemon
DOSSIÊ
biente, fica localizado entre os municípios piauienses de Canto do Buriti, Coronel José Dias, São João do Piauí e São Raimundo Nonato, e tem, reconhecidos, segundo o ICMBio, cerca de 1.300 sítios arqueológicos, se constituindo como um dos maiores redutos de estudos em arqueologia do mundo. Em 1986, com o intuito de apresentar os resultados das pesquisas realizadas no local, foi criada a Fundação Museu do Homem- Americano (FHUNDAM) por meio de parcerias entre instituições francesas e brasileiras. Quase 50 anos depois da missão franco-brasileira ter início, o Parque parece ainda ter muito a revelar. Hoje, instrumentos e formações encontrados, que datam a presença do homem há mais de 50 mil anos, renderam ao Parque o título de “berço do homem-americano”, segundo a professora, e, hoje, diretora-presidente da FUMDHAM, Niède Guidon.“Além das datações, o que é importante também são os conhecimentos sobre a evolução climática de região, o estudo da
São mais de 30 mil pinturas rupestres, catalogadas em cerca de 1.300 sítios arqueológicos.
fauna fóssil, a datação das pinturas rupestres e a demonstração da capacidade técnica e cultural desses povos pré-históricos,” afirma Niède.
As pinturas, que levaram ao reconhecimento internacional sobre a importância do Parque, se diferenciam das imagens encontradas no resto do
Apesar das diferentes vertentes de atuação do Parque, como Cultura, Turismo, Ciência e Tecnologia, apenas o Ministério do Meio-Ambiente é vinculado ao Parque.
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Foto: Maurício Pokemon
importância financeira ao Parque, o que torna o interessado em agente de mudança direto do local. Os recursos das doações são utilizados com despesas de custeio e até mesmo pagamento de salários. Para ter acesso ao link da página com as informações para doação você
Aspectos como técnica e material utilizado para os antigos registros diferenciam as pinturas da Serra da Capivara de outras Unidades de Conservação.
pode impedir o desenvolvimento do local. “Atualmente a administração do parque é ligada apenas ao Ministério do Meio Ambiente, que evidentemente é uma parte do processo, porém, entendemos que um local com essa importância passa por uma construção interdisciplinar e interministerial e deve envolver, apenas como exemplo, os ministérios da Cultura, da Ciência, Tecnologia e Inovação, do Transporte, do Turismo, e da Educação”. Enfrentando dificuldades com a falta de recursos no Parque, a FUMDHAM chegou a criar uma campanha para arrecadação de recursos. Ao entrar no site da instituição, é possível encontrar a opção de doar
pode fotografar do seu smartphone o QR code, abaixo, ou acessar a página da FUMDHAM através do endereço: www.fumdham.org.br/faca-parte
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DOSSIÊ
Durante a última reunião regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), evento apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi), que aconteceu em São Raimundo Nonato, a presidente nacional da SBPC, Helena Nader, destacou outro aspecto que Foto: Maurício Pokemon
mundo, “diferentemente da Europa, nas pinturas da região, predominam as figuras humanas, muitas vezes formando grupos que executam cerimoniais. Também diferem das pinturas de outras regiões do Brasil seja pela técnica de desenho, perspectiva, elementos representados, relações entre figuras humanas, animais ou motivos geométricos”, destaca Niède Guidon. Mesmo com uma grande concentração das pesquisas realizadas em arqueologia, os estudos desenvolvidos no local passam por várias outras áreas do conhecimento, como explica a conselheira fiscal da FUMDHAM, professora Rute Cardoso. “A interdisciplinaridade é essencial nos estudos da região. A Arqueologia necessita dos conhecimentos da Geologia, Ecologia, Botânica, Zoologia, Antropologia, Climatologia, Química, Genética, Biologia Molecular, entre outros. Quanto mais acuradas forem as análises dos vestígios encontrados e o contexto ambiental em que se inserem, tanto mais nos aproximamos do conhecimento do passado. Estes estudos são importantes também , não só para a Arqueologia, mas, também, essenciais para fornecer base de conhecimento para o planejamento de ações de preservação e conservação do Patrimônio natural e cultural contido nesta Unidade de Conservação”, explica a professora. Apesar da importância do Parque, atualmente a instituição passa por dificuldades como o pagamento de funcionários e a manutenção da estrutura do local, assim como explica a renomada arqueóloga Niède Guidon, “O Parque está sob a responsabilidade do ICMBio e do IPHAN, mas ambos não dispõem de recursos nem para seus funcionários trabalharem aqui [...] nós poderíamos estar recebendo milhões de turistas (como acontece com todos os sítios tombados pela UNESCO) que trariam recursos para a autossustentação do Parque, gerariam empregos e mudariam a situação econômica do Piauí”.
DOSSIÊ
Por Mário David Melo
Muito além da Serra da Capivara Foto: Arquivo/Nap - UFPI
A Arqueologia praticada em outras cidades do Piauí
Professora Conceição Lage com alunos em Sete Cidades
A
o relacionar a arqueologia com o Piauí, torna-se inevitável não pensar no Parque Nacional Serra da Capivara. Uma unidade de conservação brasileira com mais de 1000 sítios arqueológicos catalogados, uma das maiores áreas de concentração pré-histórica do continente americano e Patrimônio Cultural da Humanidade, tombado em 1981 pela Organização das Nações
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Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO). Mas, o estado tem se mostrado um terreno vasto para os estudos arqueológicos, além da região sul. E não é algo recente. Desde a década de 1980, o Núcleo de Antropologia Pré-Histórica da Universidade Federal do Piauí (UFPI) tem cadastrado sítios arqueológicos em quase todo o Piauí. Quem explica o início desse processo é a professora doutora em Arqueo-
química pela Université de Paris 1 Panthéon-Sorbonne Maria Conceição Soares Meneses Lage. “Por sermos do Piauí, eu e as professoras Sonia Campelo, Jacionira Coelho, Fátima Luz e Ana Clélia Correia começamos a trabalhar na Serra da Capivara e sempre questionamos onde mais no estado poderia ter sítios arqueológicos. Fizemos um projeto para a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) para construir o
percebidas do conhecimento popular. Por exemplo, em Batalha, região norte do estado, foram cadastrados vários sítios, dentre eles a Furna do Andrade e a Pedra do Leiteiro, que possuem pinturas rupestres. Já em Picos, os sítios arqueológicos são o Letreiro do Saco das Tábuas, Letreiro do Talhado do Brejinho e o Sítio das Melancias. Além de
Sítio arqueológico em São Miguel do Tapuio
nal) teve interesse em continuar após finalizar o projeto com a Finep. Fizemos nova parceria e demos continuidade. Cadastramos muito mais. É difícil falar de um município que não tenha. ” É importante destacar que os estudos arqueológicos não compreendem apenas a análise de arte rupestre. Embora seja o vestígio mais comum nos sítios piauienses junto com materiais líticos e cerâmicos, há outras formas de investigação. É o caso da arqueometria, que emprega métodos físicos e químicos para estudar arqueologia. A professora Conceição Lage afirma que a descoberta de elementos químicos reforça a presença do homem em certos locais. “É fácil estudar vestígio a partir de material lítico ou cerâmico, rupestre. Estão quase intactos e estão presentes. Mas estudar outros vestígios que se degradam facilmente é mais di-
Pintura Rupestre descoberta em Sete Cidades
de pigmentos, alguns, inclusive, ainda não identificados. Para os pesquisadores, esse domínio revela uma longa estadia. Mas, apesar de ser considerado uma riqueza cultural, as razões da prática ainda permanecem desconhecidas. No Piauí, os sítios arqueológicos são considerados recentes, exceto os da Serra da Capivara. O mais antigo encontra-se no litoral e data cerca de 2.700 anos. O cadastramento de locais não revela de imediato sua idade. São demandadas mais pesquisas. Em 1991, a revista CLIO – Série Arqueológica nº 4, da Universidade Federal de Pernambuco, publicou os Anais do I Simpósio de Pré-História do Nordeste Brasileiro. Na publicação há uma nota prévia sobre o cadastramento de sítios arqueológicos no Piauí, elaborada pelas professoras Ana Clélia Correia e Sonia Maria Campelo. Há cidades que passam des-
grafismos, constatou-se também a presença de material lítico e cerâmico. A nota detalha ainda as descobertas feitas nas cidades de Buriti dos Lopes, Castelo do Piauí, Cocal, Piracuruca, São José do Piauí, São Miguel do Tapuio e Valença. Em todas, as localizações são detalhadas quanto ao tipo de material encontrado, estado de conservação, possibilidade de escavação, dentre outras características. Os pesquisadores, porém, correm contra o tempo. Muitos sítios estão sujeitos à degradação natural; outros pela praticada pelo homem. A dificuldade ou facilidade de acesso, bem como sua popularização, são fatores que influenciam diretamente na conservação arqueológica de uma determinada localidade. Portanto, até medidas acertadas de visitação serem tomadas, muitas dessas descobertas estão mais seguras, ainda, no passado.
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fícil. Por isso a necessidade da química. Marcadores químicos são tradicionais de ocupação humana. Elementos que nos dão essa informação. Sobretudo o fósforo, um excelente marcador químico da presença humana”. Segundo Conceição Lage, a arqueometria também revela que no Piauí, os antigos habitantes dominavam o uso de tintas e Foto: Arquivo/Nap - UFPI
Foto: Arquivo/Nap - UFPI
mapa arqueológico do Piauí. Em 1985 começamos a andar pelos municípios do estado. Além do Parque Nacional de Sete Cidades e outros pontos mais conhecidos como Piripiri, Piracuruca, Buriti dos Montes e Castelo, cadastramos sítios arqueológicos em mais de 30 municípios. O IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacio-
DOSSIÊ
Por Jhussyenna Reis
Carreira na arqueologia é promissora no Piauí Foto: Allan Campêlo
O profissional arqueólogo pode atuar como pesquisador, como docente de ensino superior e conservador de arte rupestre
Ilustrações que simulam arte rupestre no setor de Arqueologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
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o Brasil, há 14 cursos de graduação que certificam os estudantes com o título de Bacharelado em Arqueologia. Os oferecidos pela UNIVASF e pela PUC-GO, criados respectivamente em 2005 e 2006, são os mais antigos, embora ainda possam ser considerados relativamente novos. O curso mais jovem foi aberto, neste ano de 2016, pela UNIMES (SP). Na avaliação feita pelo
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Ministério da Educação (MEC), dentre os cursos de arqueologia, o da UFS (SE) teve a maior nota no Índice Geral de Cursos (IGC). Cabe ressaltar também que, no Brasil, ainda não há a modalidade licenciatura. De fato, foi nas universidades que a Arqueologia, enquanto ciência, ganhou forma e força. Para quem se interessa em começar uma carreira nessa área, o Piauí também é uma boa escolha. Pri-
meiro, pelo patrimônio único que o estado possui e que garante um ótimo campo de estudo e trabalho; Segundo, pela estrutura com curso superior e pós-graduação. A Universidade Federal do Piauí (UFPI) implantou no ano de 2008 o curso de Bacharelado em Arqueologia e Conservação de Arte Rupestre. Ele funciona no campus Ministro Petrônio Portella, em Teresina, com duração de 4
DOSSIÊ
Foto: Allan Campêlo
O Museu de Arqueologia da UFPI expõe artefatos importantes encontrados no estado, sendo uma vitrine para os estudantes do curso e demais visitantes.
do São Francisco (UNIVASF). Ele foi o primeiro curso abrangendo essas duas ciências, criado em uma Instituição de Ensino Superior no Brasil. Um dos pontos fortes deste curso é o intercâmbio com outras universidades federais e centros de pesquisa do país e do exterior. Desde o início, os docentes e pesquisadores do curso colaboram com as instituições de preservação nas intervenções que o requerem. Foi implantado em 2004, época em que a instituição também assinou convênio de cooperação científica com a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), entidade gestora do Parque Nacional Serra da Capivara, Patrimônio Mundial da UNESCO. O convênio permitiu a participação regular de docentes e alunos nas pesquisas arqueológicas de caráter permanente, que se processam naquele Parque Nacional.
M E R CA D O DE TRABALHO
Foto: Allan Campêlo
anos e aulas em tempo integral. A partir do sétimo período, as aulas práticas são realizadas nos sítios arqueológicos localizados no interior do Piauí (Parques Nacionais da Serra da Capivara, Serra das Confusões e Sete Cidades). Vale ressaltar que além da graduação, a UFPI abriu, em 2011, seu Programa de Pós-Graduação em Arqueologia no nível de mestrado. O curso trabalha as linhas Arqueometria, Arqueologia da Paisagem e Paleoambiente; Conservação e Proteção Patrimonial e Cultura Material. O programa é coordenado pelo professor Flávio Rizzi Calippo e pela professora Maria Conceição Soares Meneses Lage, sendo que esta também é coordenadora da graduação. Já na própria cidade de São Raimundo Nonato existe a graduação em Arqueologia e Preservação Patrimonial da Universidade Federal do Vale
O profissional arqueólogo pode atuar como pesquisador, como docente de ensino superior e conservador de arte rupestre, em diversas instituições públicas ou privadas, desenvolvendo também atividades relacionadas à consultoria e licenciamento ambiental e de educação patrimonial. Também atua como profissional liberal em empresas prestadoras de serviços especializadas em elaboração, manutenção e supervisão de projetos arqueológicos, culturais ou de preservação de recursos patrimoniais. Particularmente na área do licenciamento ambiental, os arqueólogos encontraram um campo promissor de atuação no próprio Piauí. Isso porque é de fundamental relevância localizar de antemão os artefatos que podem, na realidade, compor o patrimônio arqueológico do estado, evitando que as obras de construção causem danos e até perda desse material. Assim, o arqueólogo está habilitado a realizar vistorias arqueológicas, estudos e relatórios de impacto ambiental.
Maquete feita por estudantes na tentativa de reproduzir suas impressões sobre a arqueologia.
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DOSSIÊ
Por Luiz Carlos Júnior
Foto: Daniela Torres
Pesquisadores da UESPI descobrem potencial larvicida em planta típica do Nordeste
Pesquisadores identificaram que o pinhão roxo é altamente tóxico e agora buscam isolar componentes da planta que sejam eficientes contra as larvas do mosquito sem oferecer risco à população.
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esquisadores da Universidade Estadual do Piauí descobriram que o pinhão roxo, planta típica do nordeste brasileiro, tem potencial para com-
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bater as larvas do mosquito Aedes aegypti, vetor de vírus causadores de doenças como a Dengue, Chikungunya e Zika. A pesquisa que teve início em 2013, atualmente, está em fase ex-
perimental e envolve três professores e quatro alunos. Na pesquisa, os estudantes, coordenados pela professora doutora Francielle Aline Martins, analisaram
testes a planta apresentou os mesmos resultados do pinhão roxo, com um menor impacto ao meio ambiente. “Diante desses resultados preliminares, nosso estudo agora está voltado para o pinhão bravo porque ao contrário do pinhão roxo, também foi tóxico para a larva do mosquito e nos resultados preliminares não induziu a mutações. Então, a princípio ele seria mais seguro que o pinhão roxo”, disse. Nesta segunda etapa, as análises são realizadas com moscas drosophilas, que têm genes parecidos com os humanos quanto à assimilação do chá da planta. “Nós estamos em uma segunda etapa de validação, nela estamos trabalhando com outro bioensaio para confirmar esses dados. Estamos analisando outro organismo, que é uma mosca drosophila, que já é um animal que tem genes análogos aos nossos genes humanos em relação ao metabolismo desse chá, para verificarmos se ele pode ser ingerido ou inalado”, destacou a coordenadora da pesquisa. Embora a pesquisa tenha se voltado para o pinhão bravo, os pesquisadores não abandonaram as análises com o pinhão roxo, mais tóxico, e agora buscam uma maneira de isolar componentes que não sejam tóxicos ao meio ambiente e que ainda assim mantenham características larvicidas.
A professora doutora Francielle Aline Martins é a coordenadora da pesquisa, que teve início no ano de 2013
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meio ambiente, o que nós já estamos trabalhando. Preliminarmente, o que se pode dizer e que, em relação a impactos ambientais, o chá do pinhão roxo, embora tenha trazido o melhor resultado, é muito tóxico para o meio ambiente”, destaca a professora. De acordo com a coordenadora do estudo, as análises de genotoxidade e mutagenicidade comprovaram que o pinhão roxo induziu alterações genéticas nos organismos avaliados. Por conta disso, a pesquisadora destaca que é preciso ter cautela quanto ao uso da planta para estes fins. “Nós avaliamos isso em um bioensaio com cebolas, chamado Allium Cepa, e vimos que o material genético sofreu danos. O chá, na concentração em que obtivemos os melhores resultados, causou alterações cromossômicas, mostrando que ele não é tão seguro. Então, para utilizar o pinhão roxo a gente teria que ter um pouco de cautela, talvez encontrar uma dose ou outra associação porque ele de fato é muito tóxico e sair borrifando isso no meio ambiente talvez possa ser uma irresponsabilidade, porque animais e crianças podem ter contato”, afirmou a Francielle Aline. Os pesquisadores, agora, avaliam o uso do pinhão bravo com a mesma finalidade, tendo em vista que nos Foto: Luiz Carlos Júnior
duas plantas da família das euforbiáceas, o pinhão bravo e o pinhão roxo, e descobriram que as plantas têm capacidade larvicida. “Nosso objetivo principal era, justamente, estudar plantas da nossa região ou endêmicas à nossa região que tivessem um potencial larvicida e avaliar essas plantas em relação às larvas de Aedes aegypti. Na literatura, já existem relatos que o pinhão manso tem potencial larvicida, então nós escolhemos estudar com as outras duas espécies porque ocorrem aqui na região e são da mesma família. Partindo do principio que a gente precisaria de algo para enfrentar o mosquito que fosse regional e de fácil acesso”, explicou a professora. Os pesquisadores analisaram três subprodutos da planta: o óleo das sementes, o chá da folha e o látex da planta; destes o chá foi o que obteve melhores resultados. Através de uma parceria com a Universidade Federal do Piauí, que mantém criadouros controlados do aedes para análises, os pesquisadores puderam avaliar a eficácia do pinhão roxo no combate às larvas do mosquito. Durante a pesquisa, as larvas foram colocadas em recipientes com o chá, o látex e óleo da planta e, através deste método, os pesquisadores perceberam que as amostras que continham o chá geraram os melhores resultados. “As larvas que ficavam em contato com o chá não completavam o ciclo, a maioria delas morria antes de atingir a fase de pupa, evidenciando o potencial tóxico do chá”, afirma a professora Francielle. Atualmente, os pesquisadores estão avaliando os impactos ao meio ambiente do uso do chá da folha do pinhão roxo como larvicida e já perceberam que o produto é muito tóxico. “Todo mundo achou interessante o trabalho porque o pinhão roxo é muito comum, mas, trata-se de uma família de plantas muito tóxica, então a gente precisa aprofundar esses estudos e verificar o impacto disso para o
Foto: Celina Honório
MATÉRIA
Por Daniele Lima
“A nova Lei de Inovação abre um leque de possibilidades para as Fundações de Apoio, tanto na facilitação burocrática quanto na liberdade de atuação”, afirma o Superintende da Fadex.
Fadex: gerenciamento de ideias e produtividade A Fundação já apoiou a construção do ensino em centenas de projetos
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magine quando um professor tem uma ideia ótima para um projeto acadêmico que pode beneficiar vários alunos e também a comunidade. Cursos de idiomas, especializações, um novo laboratório cientifico, pesquisas e inovações. Agora, imagine quantas coisas são necessárias e indispensáveis para que esse projeto aconteça: licitações, contratos, tomadas de preços, orçamento de materiais, compras, alugueis... uma infinidade de detalhes que se tivessem que ser pensados e feitos pelo professor atrasariam ou até inviabilizariam a execução e êxito do projeto.
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É para isso que existem as fundações de apoio. As fundações de apoio são entidades sem fins lucrativos e de direito privado, credenciadas e fiscalizadas pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), em função do seu papel no âmbito acadêmico. Em operação a pouco mais de uma década e sediada na Universidade Federal do Piauí (UFPI), a Fundação Cultural e de Fomento ao Ensino, Pesquisa e Extensão (FADEX), é um braço estratégico de apoio ao conhecimento cientifico no Estado. Sua relação com a UFPI visa apoiar programas de desenvolvimento ao ensino, pesquisa e extensão, viabilizando a execu-
ção de projetos e ações capazes de garantir maiores níveis de produtividade das atividades acadêmicas, com participação de alunos, professores e do corpo técnico-administrativo da instituição apoiada. Nomeado este ano para o cargo de Superintendente da Fadex, o Prof. Dr. Lívio César Cunha Nunes conta os inúmeros suportes que a fundação presta à universidade: “Além de desenvolver ações voltadas para o apoio efetivo das atividades da UFPI, são realizadas parcerias mediante convênios e contratos com instituições governamentais e não-governamentais que possibilitem o gerenciamento de recursos e a execução de projetos em áreas
uma carga horária semanal de 40 horas em um período de 1 ano”. Para que possa dá suporte a todas essas ideias, a Fadex é composta por profissionais interdisciplinares que contribuem cada um no seu campo de conhecimento para a avaliação, seleção e viabilidade dos projetos. A Fadex movimentou, desde sua criação até o ano de 2015, aproximadamente 658 projetos somando um total de R$ 208 milhões de reais, com entidades, nacionais e internacionais, públicas e privadas, especializações, cursos, palestras e mestrados. Em tempos de crise, a busca por investimentos em pesquisa e inovação deve ser uma alternativa e a Fadex, acreditando nisso, busca incentivar e gerir novas ideias e projetos.
MATÉRIA
plo, uma empresa quer desenvolver ou aperfeiçoar um produto, ela vai contratar o capital intelectual da universidade através da Fadex”, explica Daniel. O Projeto Jornada de Estudos em Medicina Veterinária, administrado pela Fadex, dá a chance aos recém-graduados em veterinária de desempenhar o aprendizado acadêmico de forma profissional. Naira Moura, participante do projeto, conta um pouco: “É um aprimoramento em Clínica Médica de pequenos animais, para médicos veterinários devidamente registrados no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV). Geralmente, são profissionais que se formaram e ainda não tiveram a chance de atuar. Para mim, uma excelente oportunidade. Temos que cumprir
Foto: Allan Campêlo
estratégicas, como formação de recursos humanos, assessoramento e consultoria especializada, desenvolvimento de pesquisas, realização de processos seletivos e promoção de eventos culturais e técnico-científicos. Nosso objetivo é divulgar nossa instituição com suas potencialidades por todo o estado e extrapolar nossas ações para além dos muros da UFPI”. Numa sala com armários cheios de pastas coloridas e devidamente catalogadas, o Coordenador de Planejamento Estratégico da Fadex, Daniel Moura, e sua equipe cuidam dos 74 projetos que a fundação desenvolve atualmente nas mais diversas áreas do conhecimento. Na prática, a Fadex gerencia ideias. “Há uma demanda natural da universidade. O professor vem com a ideia e quer desenvolvê-la. Ou ele quer autofinanciar, como os cursos de extensão de idiomas, que são projetos acadêmicos, mas nós cuidamos da parte administrativa e financeira. Na área de pesquisa, o professor quer financiar equipamentos para um laboratório, então nós vamos procurar uma forma de realizar aquele financiamento, por exemplo, através de convênios. Na área de ensino, os cursos de especialização, a universidade é a parte executória e a Fadex cuida da administração. Além de cuidar da parte de prestação de contas, damos todo o apoio logístico com insumos, compras que são necessários para esses projetos”. A Fadex gerencia importantes laboratórios da UFPI que tem suas aplicações voltadas para a comunidade, como o Laboratório de Análises de Combustíveis (Lapetro) e o Laboratório de Geoquímica Orgânica, ambos voltados para a análise e monitoramento dos combustíveis usados nos postos de gasolina do Piauí. Já o Laboratório de Imuno - Genética faz análises comparativas de material genético em busca de compatibilidade de transplantes de órgãos. Esse projeto é voltado para o Sistema Único de Saúde (SUS) e tem parceria com a Prefeitura Municipal de Teresina. “Fazemos a ponte entre academia e comunidade externa ainda mais agora com a nova Lei de Inovação. Por exem-
Carlos Alberto Fonteles, Coordenador dos Serviços do Lapetro, mostra os equipamentos utilizados nas análises de combustíveis.
O que é a Nova Lei de Inovação? Foi sancionado, dia 11 de janeiro de 2016, o projeto que cria o Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. O texto surgiu de uma proposta (PL 2177/11) elaborada por vários deputados da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados e aprovada pelo Plenário da Câmara em julho do ano passado. Entre outros pontos, o novo marco legal (Lei 13.243/16) incentiva as atividades de pesquisa científica; prevê isenção e redução de impostos para importação de insumos nas empresas do setor; facilita processos licitatórios; e amplia o tempo máximo que os professores universitários poderão se dedicar a projetos de pesquisa e extensão.
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MATÉRIA
Por Jhussyenna Reis
Foto: Juan Cisneros
Novas espécies comprovam ambientes lacustres há 278 milhões de anos no Nordeste
Imagem do crânio do anfíbio Timonya anneae, espécime pertencente a um animal adulto encontrada em Timon (MA).
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Piauí é o detentor de um patrimônio inestimável para a paleontologia. A Bacia do Parnaíba, por exemplo, além de ser hidrologicamente a segunda mais importante para a região Nordeste, possui entre outras riquezas, em toda a sua extensão, fósseis preciosos a serem ainda desvendados. O professor e pesquisador Juan Carlos Cisneros Martínez deixou o país na-
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tal (El Salvador) para morar em Teresina e se dedicar ao estudo desse grande patrimônio escondido. Seu projeto de pesquisa começou a ser desenvolvido no ano de 2010, quando o professor ingressou no quadro efetivo da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Juan explicou que a escolha da área de estudo foi motivada pelo potencial paleontológico muito relevante da Bacia do Parnaíba, o que já era de conhecimento da
comunidade científica desde os primeiros estudos da Floresta Fóssil realizados nos anos 80. “Eu vim para estudar fósseis de um período em particular que é o Permiano. Ele é o último período da Era Paleozoica, mas antigo que a era dos dinossauros. Estamos falando de um período que começou há 300 milhões de anos e termina há 250 milhões de anos. Eu me interessei, em parte, porque eu já tinha
No mundo todo, especialmente nos continentes do sul, são pouquíssimos os lugares onde se encontram fósseis do período Permiano. O Brasil, em especial o Piauí, é justamente um desses raros lugares. Analisando fósseis desse período pode-se entender como era o planeta numa época em que os continentes estavam todos juntos.
Já instalado na capital piauiense, o professor se associou a outros pesquisadores de várias universidades brasileiras e estrangeiras, especialmente com o pesquisador e amigo Kenneth Angielczyk, do Museu de Chicago (EUA). Enquanto Juan conseguiu fundos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), através de um edital lançado pela instituição, Kenneth Angielczyk também arrecadou verbas junto a entidades estrangeiras. Foi através dessa parceria que a pesquisa conseguiu o suporte financeiro necessário para virar realidade. Com os recursos garantidos, o segundo passo foi montar a equipe. Participam do projeto pessoas da Argentina, África do Sul, Alemanha e Brasil. São pesquisadores com especialidades diferentes que tornam o grupo mais rico e eficiente no trabalho de coleta e
Juan Cisneros exibe espinhos de tubarões encontrados em Tocantins, que datam de uma época anterior à própria Amazônia.
identificação dos fósseis. As primeiras saídas a campo aconteceram no ano de 2011, quando a equipe explorou a Bacia do Parnaíba, de Tocantins até Teresina, em busca dos primeiros fósseis. Um dos resultados recentes da pesquisa é a descoberta de um novo anfíbio que recebeu o nome de Timonya anneae, já que o primeiro exemplar dele foi encontrado na cidade de Timon (MA). Trata-se de um anfíbio arcaico que habitou lagos tropicais do Nordeste a aproximadamente 278 milhões de anos. Esse foi um passo de grande importância, não apenas por resultar em uma espécie nova para a ciência, mas porque a presença dessa espécie ajudou a provar que a área era uma região onde predominavam lagos, já que anfíbios são animais de água doce. “Nesse momento temos cerca de 4 ou 5 espécies novas em estudo, que serão batizadas e descritas, apresentadas em artigos científicos. Além disso, estamos sempre ajudando a entender como era o ambiente do Brasil daquela época.” A última coleta em campo foi realizada em março deste ano na região de Nazária (PI), onde foram coletados 50 fósseis. O material segue para o Laboratório de Paleontologia da UFPI onde é separado e classificado com auxilio dos estudantes, apenas materiais mais
delicados são enviados para técnicos especializados. Durante cada etapa, o material vai sendo fotografado e enviado por e-mail aos diversos membros da equipe espalhados pelo mundo. Outra atividade importante é a organização das publicações para as revistas técnicas, o momento de mostrar aquilo que está sendo produzido. O professor Juan aproveitou para fazer um alerta à população: “Quando encontrar um fóssil não tente coletá-lo porque você poderá danificar o material. Ele é cheio de rachaduras e vai sair em vários pedaços. Então, o ideal é entrar em contato com a Universidade, aqui geralmente, pedimos fotos porque, às vezes, o cidadão pensa que é um fóssil, mas são apenas restos de animais mortos. E só, então, vamos até o local”. Outro alerta importante que o pesquisador ressalta é a necessidade de ações de conservação da Floresta Fóssil de Teresina. Ela está sofrendo muitos impactos negativos, como queimadas, e danos provocados por fogueiras feitas pelos pescadores que frequentam o local. Há também o problema do lixo que é jogado durante eventos realizados na Av. Raul Lopes. Vale ressaltar que a Floresta também é campo da pesquisa já que ela era o abrigo de toda essa fauna que está sendo descoberta e estudada.
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Foto: Jhussyenna Reis
trabalhado com isso no meu doutorado e, geralmente os paleontólogos se especializam em uma área específica. Ao saber que aqui tinha uma bacia com muitos fósseis desse período e que não estavam sendo estudados ainda, então me interessei mais”, comentou.
DICAS DE LIVROS
VISIBILIDADE EMPRESARIAL: DA COMUNICAÇÃO À REPUTAÇÃO
GEOGRAFIA - ENSINO E PESQUISA EM DEBATE - VOLUME 2
Autor: Ana Regina Barros Rêgo Leal Páginas: 236 Ano: 2016 E-mail: anareginarego@gmail.com
Organizadores: Antonio Cardoso Façanha, Claúdia Maria Sabóia de Aquino, Josenete Assunção Cardoso e Silvana de Sousa Silva Páginas: 112 Ano: 2015 E-mail: facanha@ufpi.edu.br
O livro passa por um debate sobre os diferentes aspectos que envolvem a Comunicação Organizacional, o Marketing Cultural, a Responsabilidade Social Corporativa e a Reputação Corporativa, descrevendo os processos comunicacionais a partir de um ambiente empresarial, e evidenciando quais aspectos da comunicação uma instituição necessita para construir visibilidade e reputação frente ao seu público de interesse.
O livro reúne cinco artigos que debatem os seguintes temas acerca da Geografia: o conhecimento geográfico mediado pelo uso de poesia, o conceito de espaço geográfico do professor de geografia, a representação social de geografia pelos professores dos anos iniciais de escolaridade, a representação continuada dentro da prática docente em geografia, e a temática ambiental nos livros didáticos de geografia do ensino médio.
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DICAS DE LIVROS
CONSTRUINDO ELOS: PET INTEGRAÇÃO E PET SAÚDE
DISCURSO, MEMÓRIA E INCLUSÃO SOCIAL
Autores: Cecília Maria Resende Gonçalves de Carvalho, Marize Melo dos Santos e Maria do Carmo de Carvalho e Martins Páginas: 380 Ano: 2015 E-mail: marizesantos@ufpi.edu.br
Organizadores: João Benvindo de Moura, José Ribamar Lopes Batista Júnior e Maraisa Lopes Páginas: 304 Ano: 2015 E-mail: jbenvindo@ufpi.edu.br
O objetivo da publicação é compartilhar com a comunidade as experiências vividas e narradas por autores de pesquisas na área da saúde, dentro do Programa de Educação Tutorial (PET) para a Promoção da Saúde, em parceria com o PET Integração, passando ainda pelos resultados de pesquisas de extensão universitária e estudos construídos em conjunto com o Programa de Iniciação Científica (PIBC).
Nesta publicação, autores e integrantes do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Análise do Discurso, criado por pesquisadores das universidades federal e estadual do Piauí, e convidados, apresentam o resultado de 14 pesquisas, envolvendo 24 estudiosos, que analisam os discursos em áreas como: educação, mídia, literatura e religião, buscando a socialização desse tipo de estudo no Piauí e no Brasil.
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TESES
Maura Cristina Porto Feitosa
Eliene Maria Viana de Figueirêdo Pierote
Pesquisador Uespi/Fapepi Defesa: Universidade do Vale do Paraíba, São Paulo, 2016 mauraportofisio@hotmail.com
Professora UESPI/ PesquisadoraCNPq/ FAPEPI Defesa: Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2016. elienepierote@gmail.com
EFEITOS DA TERAPIA A LASER DE BAIXA INTENSIDADE E ÁCIDO GRAXO ESSENCIAL NO PROCESSO DE REPARO DE ÚLCERAS EM PÉ DIABÉTICO
SENTIDOS DE APRENDIZAGEM DA DOCÊNCIA DE COORDENADORES E ALUNOS DO PIBID/ UESPI: RESSIGNIFICADOS DA FORMAÇÃO INICIAL
objetivo desta pesquisa foi avaliar a efetividade da terapia a laser de baixa intensidade e AGE no reparo de úlceras em pé diabético. A amostra foi composta por 32 pacientes diabéticos portadores de úlceras, divididos aleatoriamente em 4 quatro grupos equivalentes: Grupo C: Controle, Grupo AGE: óleo de Helianthus annuus, Grupo TLBI: terapia a laser de baixa intensidade, Grupo TLBI+AGE: TLBI associada ao óleo. Os componentes do Grupo C foram instruídos a realizar a limpeza da úlcera, os do Grupo AGE aplicaram 5 ml de óleo de Helianthus annuus nas úlceras. Para os que receberam a aplicação da laserterapia (TLBI e TLBI+AGE), foi utilizado o seguinte protocolo: 658 nm, 30 mW, dose 4 J/cm², contínua, em pontos equidistantes no leito e ao redor da úlcera, totalizando 12 atendimentos em dias alternados. Os pacientes do Grupo TLBI+AGE realizaram a aplicação diária do óleo, conforme protocolo descrito para o Grupo AGE e a TLBI seguiu o protocolo descrito anteriormente. Todos os participantes da pesquisa foram submetidos, antes e após aplicação dos protocolos terapêuticos propostos, a Avaliações Macroscópica das Úlceras, Ultrassom com Doppler Colorido, Índice Tornozelo-Braquial e ao Inventário Breve de Dor, escala visual analógica. Os dados foram submetidos ao teste estatístico de análise de variância One-Way ANOVA post hoc test Wilcoxon, com Intervalo de Confiança de 95% e significância com p<0,05. Os resultados demonstraram diferença estatisticamente significativa entre os grupos (p <0,05), observando-se que o Grupo C apresentou aumento na área total da lesão; o Grupo AGE apresentou estabilização na área total das úlceras, porém sem nenhum caso com percentual de reparo completo; os grupos TLBI e TLBI+AGE apresentaram redução evidente na área da úlcera, bem como significativo alívio da dor (p <0,05) e consequente melhora na qualidade de vida. Os resultados obtidos demonstram que a TLBI potencializa o reparo tecidual de úlceras em pé diabético, além de apresentar importante ação analgésica nos pacientes estudados e que a associação da TLBI ao óleo de Helianthus annuus se apresenta como uma importante estratégia terapêutica.
om o objetivo de analisar os sentidos atribuídos à aprendizagem da docência dos coordenadores e alunos do PIBID/UESPI e a ressignificação da formação inicial, realizou-se um estudo, partindo-se do pressuposto de que o processo formativo dos coordenadores e licenciandos que participam do PIBID na UESPI pode ser influenciado por meio da reflexão crítica, quando esta se articula aos referenciais teóricos e práticos do curso, propiciando a ressignificação dos sentidos da formação inicial. A Coruja foi utilizada, metaforicamente, ao longo da escrita, para ilustrar/desmistificar a formação docente. A compreensão teórica fundamenta-se nos estudos de Vigotski (2009), Gadamer (1997); Garcia (1999), Veiga (2012), Tardif (2011), Pimenta (2002) e o próprio programa PIBID. O método de investigação fundamenta-se nos princípios da Hermenêutica, de Hans-Georg Gadamer (1997), que estabelece a importância da compreensão humana, considerando o seu contexto sócio-histórico. O locus de pesquisa foi a Universidade Estadual do Piauí - UESPI, em Teresina-PI, campi “Clóvis Moura” e “Poeta Torquato Neto”, nos cursos de Licenciatura em Pedagogia e Matemática, por meio do Programa de Iniciação à Docência – PIBID e os sujeitos foram coordenadores e alunos dos referidos cursos. Os instrumentos adotados para a produção dos dados foram o Questionário, o Diário Autobiográfico, a Observação e as Rodas de Conversa. A análise dos dados foi realizada por meio da técnica de Análise do Discurso (BAKHTIN, 1997), em que o objetivo é compreender o outro, ao invés de conhecer um objeto. Os achados revelaram que os grupos de Matemática e Pedagogia confirmaram o que levantamos inicialmente, de que o processo formativo dos coordenadores e licenciandos que participam do PIBID na UESPI influencia na articulação dos referenciais teóricos e práticos relativos à aprendizagem da docência e ampliam as possibilidades, sendo capazes de refletir criticamente sobre o Programa e sobre essa articulação e, ao mesmo tempo, que estes façam inferências para as instâncias responsáveis pela formação inicial, transformando a sua realidade.
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Palavras-chave: Diabetes, Cicatrização, Terapia a Laser de baixa intensidade, Helianthus annuus.
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Palavras-chave: Sentidos de aprendizagem da docência; PIBID; Formação Inicial
Assunção de Maria Sousa e Silva
Professor de Filosofia na Universidade Estadual do Piauí Defesa: Universidade Federal de Pelotas, RS, 2016 prof.antoniofldias@gmail.com
Professora da UESPI / UFPI- CTT Defesa: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – 2016 asmaria1@hotmail.com
A EDUCAÇÃO PARA TODOS COMO PERSPECTIVA DE SUPERAÇÃO DO CAPITAL COMO LÓGICA SOCIAL: ANÁLISE COM BASE NO PENSAMENTO DIALÉTICO DE MARX
NAÇÕES ENTRECRUZADAS: TESSITURA DE RESISTÊNCIA NA POESIA DE CONCEIÇÃO EVARISTO, PAULA TAVARES E CONCEIÇÃO LIMA
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Palavras-Chave: educação para todos; Marx; perspectiva material-dialética; cidadania; emancipação.
Palavras-chave: Nação. Identidade. Condição feminina. Poesia. Autoria feminina.
trabalho discute a proposta de Educação para Todos (EpT) do Estado brasileiro (Eb) e as implicações da concretude do objetivo “formar o cidadão” dessa proposta, usando como referencial teórico-metodológico a perspectiva material-dialética de Marx. A finalidade é demonstrar que a realização desse objetivo tem o potencial de engendrar circunstâncias/perspectivas emancipatórias que favorecem as lutas sociopolíticas pela superação da lógica do Capital como princípio lógico-ordenador da vida social. Nesse sentido, primeiro, é feita uma exposição explicativa dos desenvolvimentos históricos que culminaram (1990) com a proposta de EpT da UNESCO e seus parceiros (Banco Mundial, etc.). No Brasil, a EpT foi acolhida e alçada, a partir de 1994, à condição de paradigma das leis e políticas para a Educação nacional. Porém, entre os analistas, a efetividade das políticas/programas de EpT foram acusadas de favorecer, exclusivamente, a lógica/poder do Capital. Para contrapor essa assertiva, foi feita uma incursão às obras de Marx pela qual se infere que a determinação da realidade é um processo Material-dialético: marcado pelo movimento das contradições e luta dos contrários. Esta conclusão é aplicada para analisar as multideterminações das proposta/objetivos de EpT do Eb. E disto concluiu-se que: a ideia/propostas/objetivos de EpT são dialéticas; por conseguinte, não podem ser moldadas para, sempre e unicamente, sustentarem o mundo capitalista. Isto deixa o objetivo “formar para a cidadania” ser concretizado; e seu conteúdo concreto (pensar e agir sociopoliticamente contra a exploração, a opressão e alienação) defronta a lógica/poder do Capital na medida em que engendra circunstâncias e perspectivas que estimulam e subsidiam lutas sociopolíticas dos educandos-cidadãos-trabalhadores contra o Capital e a determinação deste de existir como lógica hegemônica das relações/práticas da vida social. Para tanto, os cidadãos que, segundo os termos de Marx, são os indivíduos politicamente emancipados, lutam para ressignificar os conteúdos/objetivos da EpT. Por sua vez, isso os leva à disputa pelo comando dos poderes do Estado, que se propõe a realizar a EpT, e, por extensão, à luta contra a lógica/poder do Capital que criou o Estado.
TESES
Antonio Francisco Lopes Dias
sta tese tem como objetivo principal analisar a produção literária de Conceição Evaristo (Brasil) Paula Tavares (Angola) e Conceição Lima (São Tomé e Príncipe), no que se refere às estratégias e aos recursos poético-discursivos que determinam a reescrita de nação. A investigação focaliza seus poemas e como são produzidos os efeitos de sentido, tendo em vista a voz feminina e a dos segmentos étnico-raciais no processo de construção das nações literárias. As poetisas utilizam recursos, quais sejam, metáforas, metonímias, anáforas e inversões para executar dois movimentos específicos: o de desconstruir a visão estereotipada e discriminatória sobre as figuras femininas e demais segmentos sociais subjugados e o de construir novas configurações de sujeitos poéticos femininos que denunciam, contestam e resistem à ordem vigente. Com reflexões advindas da sociologia, da antropologia, da história e dos estudos culturais, a pesquisa bibliográfica parte de pressupostos teóricos do campo dos estudos da linguagem e da teoria literária. A ideia de nação que perpassa as análises dos poemas advém do cruzamento teórico acolhido das ciências sociais e, especificamente da antropologia, no exame do fenômeno da raça e do racismo. A análise literária, propriamente dita, é fundamentada nas contribuições da crítica das literaturas africanas e afro-brasileira. O auxílio para formulação de argumentos, quanto às questões femininas, foi buscado nos estudos femininos e feministas. O procedimento de análise se pauta pelo método comparativo, efetuando o entrecruzamento de contextos dos países das autoras, comparando as dicções poéticas e os posicionamentos estéticos, considerando-as como sujeitos de discursos por uma via não hierarquizante, nem tampouco desigual ou excludente. As semelhanças e diferenças identificadas tornaram-se objetos estratégicos e mecanismos funcionais para compor as singularidades e as particularidades inerentes às autoras no processo de construção de seu fazer poético que evidencia as identidades e as condições femininas nas nações literárias.
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Foto: Arquivo/ Veruska Cavalcanti
PALAVRA-CHAVE
Por Allan Campelo
Vírus Zika
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egundo o último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, apenas no primeiro semestre de 2016, foram notificados 91 mil casos prováveis de Zika no Brasil. Esse resultado mostra uma situação emergencial, já que o país, além de enfrentar os problemas provocados pela Zika, também sofre com outras arboviroses, vírus transmitidos por artrópodes, como o mosquito Aedes Aegypti. A professora da Universidade Federal do Piauí, doutora em Parasitologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, Veruska Cavalcanti Barros, responde a questionamentos comuns acerca do vírus Zika e fala das expectativas da ciência para o combate a essa arbovirose. Apesar do grande número de casos, é possível dizer que ainda existe subnotificação em casos de doenças causadas por arborivores? Acredito que o número de casos das arboviroses é muito maior por uma série de fatores: ausência da população nos consultórios médicos, subnotificações por uma parcela dos profissionais da saúde e, por fim, há poucos órgãos responsáveis pelo diagnóstico destas arboviroses. Para que se tenha uma ideia, até pouco tempo, o Piauí precisava mandar as amostras dos pacientes para outro estado para confirmar a suspeita de Febre causada pelo vírus Zika. Hoje, temos apenas o LACEN (Laboratório Central de Saúde Pública) como órgão capacitado. O vírus Zika é mais um transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, por que esse mosquito é tão resistente? Para que um vírus seja transmitido por mosquitos, tem que ser capaz de escapar da digestão no intestino quando chega juntamente com o sangue, atingir as glândulas salivares do mosquito e replicar cópias suficientes, por si só, para infectar outro hospedeiro na próxima alimentação sanguínea do mosquito. Este vírus, assim como muitos outros,
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evoluíram para possuir esta capacidade, não sendo capaz, ao que se sabe, de matar o inseto infectado. Sabemos do esforço para que mulheres grávidas não sejam contaminadas com o vírus, está clara para a ciência a relação entre microcefalia e o vírus da Zika? Existem vários fatores que podem resultar em um indivíduo com esta má formação neurológica, inclusive o vírus Zika. Esta síndrome congênita secundária do vírus Zika pode incluir não somente a microcefalia, mas uma série de outras más formações e neuropatias que podem afetar a visão, a audição e os membros do concepto. Quais efeitos o vírus pode provocar em pessoas pertencentes a outros grupos, como em homens adultos? Adultos infectados com o vírus Zika podem apresentar-se assintomáticos ou quadro clínico clássico de febre e evoluir para a Síndrome de Guillain-Barré (SGB). Trata-se de uma síndrome que o sistema imunológico do indivíduo infectado ataca parte do sistema nervoso periférico, levando a uma inflamação nos nervos e causando uma fraqueza muscular de diversos
órgãos, como os dos sistemas respiratório e digestivo. Recentemente, pesquisadores do Instituto de Pesquisa Militar Walter Reed, do Centro Médico Diaconisa Beth Israel e da Escola de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos, apresentaram uma vacina que é capaz de tornar ratos imunes ao vírus Zika. Seria possível dizer que a estimativa de décadas para a solução do problema pode acabar diminuindo consideravelmente? Cada caso é um caso. Por séculos não encontramos uma fórmula adequada para uma vacina contra a Malária, por exemplo. Para se ter uma ideia, só no ano passado, houve mais de 400.000 mortes por Malária no mundo. Mas não podemos deixar de falar que a ciência avançou muito em relação aos conhecimentos e ferramentas de trabalho. Torcemos muito que os testes desta vacina contra o vírus Zika sejam satisfatórios. Enquanto isso, a nossa única alternativa para combater essas arboviroses é combater o mosquito transmissor, Aedes aegypti. A comunidade deve e pode contribuir não só eliminando os criadouros, mas tendo a consciência de não criar novos focos, pois grande parte dos criadouros existentes é criada por nós.