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ELIANA CAVALCANTI
from Revue Cultive n° 14
by Cultive
Nasceu em Maceió/Alagoas, em 20 de abril de 1950. Aos dois anos de idade passou a morar em Olinda-Pernambuco. Filha de José de Medeiros Cavalcanti e Liége Moreira Cavalcanti. Aos oito anos de idade iniciou seus estudos de ballet com a bailarina Flávia Barros, em Recife e, aos quinze anos, ensinou ballet na escola de Flávia Barros e Ruth Rozembaum, de 1966 até 1973. Atuou como primeira bailarina do Grupo de Ballet do Recife, dirigido por Flavia Barros, de 1971 a 1973. Em 1973, casou-se e passou a residir em Maceió, onde fundou o Ballet Eliana Cavalcanti, primeira escola de balé de Alagoas. Ainda, em 1973, recebeu convite para ingressar no Ballet Stagium de São Paulo e, em 74, convite para ingressar na Associação de Ballet do Rio de Janeiro. Ambos os convites foram recusados, pois sua intenção era permanecer em Maceió. Foi diretora do Ballet Íris de Alagoas (1981-2002), companhia que se destacou no cenário artístico-nacional. Tem inúmeros cursos de ballet com grandes mestres no Brasil e no exterior. Bailarina, coreógrafa e mestra com 55 anos dedicados ao ensino do balé, Eliana também é escritora, pois herdou do pai, que era jornalista, escritor e crítico de arte, o dom da escrita. É Mestra em Literatura pela Universidade Federal de Alagoas (2009) e sócia efetiva da Academia Alagoana de
Produções literárias:
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Organizou o livro “Imagens do Íris”(1999); Autora dos livros: “50 anos de plié- Memórias de uma alabucana”( 2008), “Gota d’água- o abuso do poder e a eloquência múltipla da palavra” (2011) e “Ballet Eliana Cavalcanti - 40 anos de uma bela história” ( 2013). Participou de três antologias: “Para além da leitura”, organizado pela escritora Arriete Vilela (2012); Antologia dos 7 Pecados Capitais“ e “Antologia dos Dez Mandamentos”, ambas organizadas pelo escritor Cassio Cavalcante ( 2016 e 2019).
Tem diversos contos, crônicas e artigos publicados em jornais e revistas literárias. Eliana tem três filhos e quatro netos. Dentre seus prêmios e distinções, salientam-se: Medalha Jorge de Lima (Governo de Alagoas/ 1995), Prêmio Concorrência FIAT/1990 com espetáculo “Certas Emoções”; 2º lugar em coreografia, no II Festival de Dança do Mercosul (Bento Gonçalves - RS-1995); diploma de Benemérita das Artes (Secretaria de Cultura do Estado de Alagoas/2001); Comenda Mário Guimarães, (Câmara dos Vereadores de Maceió - 2002), Diploma de Construtores da Dança em Pernambuco (Conselho Brasileiro de Dança /2004); Membro da Ordem do Mérito dos Palmares, no grau de Oficial (Governo de Alagoas/2008), Comenda Senador Arnon de Mello (Instituto Arnon de Mello/ 2008); Comenda Nise da Silveira (Governo de Alagoas/2013).
Eliana é uma das convidadas a participar da mesa redonda sobre o Paulo Pontes no Salon Interantional du Livre et da Littérature de Genéve Cultive.

O livro Gota d’água: o abuso do poder e a eloquência múltipla da palavra, escrito pela bailarina e escritora Eliana Cavalcanti, é produto da sua dissertação de mestrado pela Universidade Federal de Alagoas. Trata-se, portanto, de um trabalho acadêmico sobre a peça “Gota d’água”, de autoria de Paulo Pontes e Chico Buarque de Holanda, escrita e estreada em 1975, e que, por sua vez, é uma releitura da tragédia de Eurípedes, Medeia, datada de 431 a.C. Os autores, dois jovens conectados com os problemas nacionais, revitalizaram Medeia, transformando-a na tragédia da história brasileira. Gota d’água
Gota d’água desenvolve duas histórias paralelas: uma de ordem passional e outra de ordem social. A primeira é o drama de uma mulher de meia idade que, após dez anos de convivência com um sambista com quem teve dois filhos, é traída por ele e, humilhada, trama uma vingança. Ele a deixa por Alma, filha de Creonte, o dono do Conjunto habitacional Vila do Meio-Dia, onde mora o casal com seus dois filhos. O conflito da trama é a traição de Jasão. Tudo começa a partir dessa traição. É, portanto, uma história de amor, traição, ódio e vingança. A segunda diz respeito aos habitantes da Vila do Meio-Dia, encurralados devidos às prestações de suas moradias com altos juros e correções monetárias, o que os deixa impossibilitados de honrar seus compromissos. Dessa maneira os autores de Gota d’água mantiveram o cunho amoroso do hipotexto ou texto de origem. Partindo da tragédia grega, porém sem submissão, eles são capazes de reter o fundamento trágico e realizam uma obra que assume uma postura crítica. O tema central da peça é o choque ideológico. Jasão ascende socialmente ao ser cooptado pelo sistema, representado na peça por Creonte, enquanto Joana concretiza a sua violência cega contra esses poderosos. Vale salientar que os nomes de alguns personagens foram mantidos da tragédia grega: Jasão, Creonte, Egeu, da mesma forma que Eurípedes, ao escrever Medeia, fez uso desses nomes, extraídos da mitologia grega. A heroína teve seu nome trocado por um bem brasileiro, afinal ela é a representação da tragédia brasileira. Os filhos de Joana não têm nome. As suas nomeações nada acrescentariam à trama, da mesma forma que os filhos de Medeia também não têm nome. São simplesmente os filhos de Joana, “os dois abortos”, como diz a fala da personagem Corina, no início da peça. Gota d’água tem um texto híbrido que se utiliza de muitas formas, entre elas: a comédia e o musical. Foi construída em dois atos e toda a ação se desenrola em cinco sets: o set das vizinhas , o set do Botequim, o set da oficina do Egeu, o set da Joana e o set do Creonte. As canções foram usadas no desenrolar da peça como elemento estrutural , inclusive uma delas dando título à obra.
