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RUY DE CARVALHO

“As palmas são o melhor prémio”

A. RIBEIRO DOS SANTOS

Amado pelo público, respeitado pelos colegas e admirado por todos. Aos 95 anos, Ruy de Carvalho já não consegue enumerar todos os prémios e distinções que acumulou ao longo de uma vida dedicada à representação, mas continua, humilde como sempre, disponível para fazer “o que quiserem que faça”. Não faz tenção de parar e garante que continuará a pisar os palcos e a ser presença no pequeno ecrã enquanto houver convites para tal. E eles não têm faltado. A voz, a presença, a sensibilidade deste intérprete são garantia de qualidade para cada projecto e do interesse do público, que cada vez o aplaude com mais entusiasmo. Nascido em Lisboa, a 1 de março de 1927, Ruy de Carvalho estreouse no teatro ainda como amador, com apenas 15 anos, no Grupo da Mocidade Portuguesa, numa encenação de mestre Ribeirinho, que Portugal recorda como uma figura querida da época de ouro do cinema nacional. Foi um início auspicioso, e gostou tanto da experiência que foi para o Conservatório Nacional e em 1950 terminou, com 18 valores, o Curso de Teatro/Formação de Actores. Mas antes do fim do curso, já tinha feito a estreia profissional, no palco do Teatro Nacional D. Maria II. O mesmo palco onde se consagrou, em 2007, quando completou 60 anos de carreira e encarnou o protagonista do clássico “Rei Lear”, de Shakespeare. Ao longo de 80 anos tem feito de tudo na representação: teatro, televisão, teatro radiofónico, cinema. Em 1955, e após nove anos de namoro, casou com a primeira e única namorada, o grande amor da sua vida, Ruth, com quem esteve casado até à morte desta, em 2007. Uma mulher que o completava,

VERA MARMELO ©

como frequentemente explica em entrevistas, e que um dia espera reencontrar, numa outra dimensão. Homem de família convicto, Ruy de Carvalho costuma dizer que “a família deve ser sempre uma peça fundamental na vida de qualquer pessoa”. Com Ruth teve dois filhos – Paula, jornalista, e João, actor. Vieram depois os netos, entre os quais Henrique de Carvalho, uma grande promessa do teatro português e que partilha com o avô traços fisionómicos distintivos. Já teve vários sustos de saúde, mas conseguiu ultrapassar todos, incluindo um tumor maligno na próstata e dois na bexiga. Mesmo assim, diz que não tem medo da morte, mas também não tem pressa para partir e em todas as entrevistas que dá garante que vive “intensamente”. A morte, essa, chegará quando tiver de ser, e nem um dia mais cedo. Até lá, enquanto o corpo permitir e a memória – que o orgulha – se aguentar, continuará a trabalhar, com o mesmo empenho de sempre. Definir o que faz com que um actor se distinga de todos os outros não é fácil. Ruy de Carvalho diz que “é preciso ter jeito”. Uma qualidade que sabe possuir. O resto, fazem-no o trabalho, o esforço, a dedicação. De cada vez que lhe atribuem um papel, grande ou pequeno, estuda-o profundamente, até à exaustão. E fá-lo com espírito de missão. Como explicou em entrevista ao programa “Alta Definição”, da SIC, o que mais deseja é sentir-se útil à sociedade. “Ser actor é um serviço, e as palmas são o melhor prémio.” l

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