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MAAT

MAAT faz seis anos e quer manter “programação de qualidade”

INAUGURADO EM 5 DE OUTUBRO DE 2016, O MUSEU DE ARTE, ARQUITECTURA E TECNOLOGIA TORNOU-SE UMA DAS INSTITUIÇÕES CULTURAIS MAIS VISITADAS DE LISBOA. OS RESPONSÁVEIS DESCREVEM-NO COMO ESPAÇO “INCLUSIVO”, ATENTO ÀS “DISCUSSÕES CONTEMPORÂNEAS”.

BRUNO HORTA

Duas exposições inauguradas em Março — a individual “Prisma”, de Vhils, e a colectiva “Interferências: Culturas Urbanas Emergentes”, ambas programadas pelo novo director artístico, João Pinharanda — mostram como o Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT) vai a caminho do sexto aniversário de olhos postos no futuro e a explorar temas de forte impacto social e cultural. As duas propostas podem ser vistas até 5 de Setembro e representam a vida urbana sob diferentes perspectivas. Do quotidiano de grandes metrópoles registado em vídeo de grande formato, no caso de Vhils, até à diversidade cultural e identitária da Grande Lisboa, no caso da exposição colectiva, destacando-se aí nomes como os de Mónica de Miranda, Rodrigo Ribeiro Saturnino, Unidigrazz ou Fidel Évora. “Um museu inclusivo, como desejamos que este seja, é um museu que articula a sua programação com as discussões contemporâneas e que está atento às necessidades e valores dos seus públicos”, resume fonte oficial do museu, sublinhando que o futuro próximo passa por “manter uma programação de qualidade” e afirmar o MAAT como “espaço de divulgação da arte contemporânea, capaz de atrair diferentes públicos” e de “promover as relações como outras disciplinas”. O MAAT é gerido pela Fundação EDP, instituição sem fins lucrativos criada em 2004 pela EDP - Energias de Portugal. Foi inaugurado em 5 de Outubro de 2016 e logo nos primeiros meses tornou-se de um dos espaços culturais mais procurados da capital. A situação privilegiada frente ao Tejo e junto à Avenida de Brasília, já na zona de Belém, mais o edifício projectado pelo ateliê da arquitecta britânica Amanda Levete – aliás, presente na inauguração – cativaram o interesse do grande público, que tem feito daquele um espaço de passeio e de encontro com a arte (e cenário de muitas ‘selfies’). A meta inicial de 250 mil visitantes por ano foi superada, face às 400 mil pessoas em 2016. Houve 375 mil visitas em 2017 e 330 mil em 2018 e em 2019, informa a instituição. Os dois anos da pandemia fizeram recuar

as cifras, devido ao encerramento por vários meses e à retracção do público na reabertura, mas segundo fonte oficial a procura pré-pandemia está já a regressar em 2022. Quanto ao orçamento anual anunciado, que era de dois milhões de euros em 2016, continua a ser “generoso para o contexto actual” e permite “uma programação variada e consentânea com a ambição” do MAAT”, qualificam os responsáveis. Edifício novo sem entrada monumental O edifício de Amanda Levete juntou-se ao imponente Museu da Electricidade, ou Central Tejo, que remonta a 1914. Em volta veio a surgir o “campus” da Fundação EDP, espaço verde com assinatura do arquitecto paisagista libanês Vladimir Djurovic. Uma área total de 38 mil metros quadrados, um novo pólo cultural em Lisboa, a reforçar também a atractividade de Belém como zona turística e de lazer. A fachada coberta por peças de cerâmica branca, a cobertura em pedra de lioz e as formas dinâmicas do novo edifício tornaram-no um marco. “Este edifício não poderia existir em mais lado nenhum”, declarou Amanda Levete em 2016. “O telhado é um fórum, um miradouro para o rio, e também permite que nos voltemos de costas para o rio e apreciemos a zona antiga de Lisboa. É algo que muitas pessoas talvez nunca tenham experimentado, porque na zona ribeirinha não há miradouros”, sublinhou a arquitecta. Sobre a relação com a verticalidade da Central Tejo, de tijolos laranja e feição industrial, a arquitecta comentava há seis anos: “É um edifício muito bonito, com uma presença imponente. Tive de responder com outro edifício que tivesse presença, mas que não desafiasse aquele, daí a altura reduzida. O espaço em redor flui até ao museu. Não quisemos criar uma entrada monumental, quisemos fluidez de circulação.” O novo edifício do MAAT acabaria por conquistar mais de 30 prémios e nomeações, como o Design Prize 2017, atribuído pelas revistas “Designboom” e “Abitare” e patrocinado da cidade de Milão,

PEDRO PINA ©

e um dos Iconic Awards 2017, do German Design Council. No mesmo ano esteve nomeado como finalista do Mies van der Rohe, um dos mais reconhecidos prémios europeus de arquitectura. No balanço de quase seis anos de actividade, fonte da Fundação EDP destaca que o MAAT “cumpriu os objectivos que presidiram à sua criação”, tendo conseguido combinar exposições para “um público mais especializado” com outras destinadas a “menos conhecedor do contexto artístico contemporâneo”. Até agora, foram cerca de 90 as exposições, com trabalhos de mais de 230 artistas portugueses e de quase 500 artistas estrangeiros. “O MAAT soube cultivar uma relação de proximidade com a comunidade artística nacional e abrir as suas portas a artistas de outros países”, defende a Fundação EDP. “Simultaneamente, assumiu-se como um espaço de reflexão sobre as grandes questões do nosso tempo, juntando artistas visuais, arquitectos, ‘designers’, filósofos, cientistas num diálogo multidisciplinar e frutuoso.”

“Cruzamento, contaminação, diálogo” O museu representou um investimento de cerca de 20 milhões de euros e veio consolidar um trabalho de longa data da Fundação EDP como mecenas da criação e da arte contemporânea. É disso exemplo a Colecção de Arte Portuguesa Fundação EDP, onde hoje constam quase três centenas de artistas. E são disso exemplo o Grande Prémio Fundação EDP Arte, que distinguiu Lourdes de Castro e Mário Cesariny, entre outros, e o Prémio Novos Artistas Fundação EDP, entregue a criadores como Joana Vasconcelos, a dupla Paiva e Gusmão ou Claire de Santa Coloma. Estas iniciativas, que abriram caminho ao MAAT, foram estabelecidas há pouco mais de duas décadas e desde o início tiveram a colaboração do crítico e programador cultural João Pinharanda – de regresso à primeira linha desde que assumiu funções como director artístico, em Janeiro deste ano. A actuação de Pinharanda passa por “reforçar a componente dedicada à produção artística contemporânea nacional e internacional” e por “manter especial atenção às questões da arquitectura, do urbanismo e do ‘design’”. Ao mesmo tempo, pretende que aquelas áreas sejam pensadas como pontos de partida para propostas mais abrangentes, ao encontro de “cruzamento, contaminação, diálogo, reflexão e expansão”. E como resolver os desafios que se colocam desde o início perante as diferenças entre os dois edifícios do MAAT? Os dois primeiros directores artísticos, Pedro Gadanho e Beatrice Leanza, procuraram soluções. João Pinharanda, segundo fonte da Fundação EDP, entende que “são as exposições que encontram os seus espaços de apresentação”. “A Central Tejo tem espaços especialmente adequados a exposições mais clássicas, mas também a pequenos projectos e a exposições que dialoguem com o património de arqueologia industrial que alberga e que é único. O edifício novo, esse, tem salas especialmente desafiantes pedindo-nos uma velocidade ou agilidade visual e de deslocação espacial que deve estimular intensamente quem neles expõe.” A mesma fonte explicou que o MAAT tem “especificidades que não se repetem nem em Lisboa nem no país”, como seja a localização frente ao estuário do Tejo, a tradição histórica ligada ao passado industrial e a questão arquitectónica. Além disso, há “uma colecção de arte contemporânea perfeitamente definida no contexto das restantes e um conjunto de prémios de arte únicos no país, de que resultam exposições bienais”. Ou seja, “tem uma missão que não se sobrepõe à de outros locais de exposições em Lisboa ou no Porto”. Logo, concluem os responsáveis: “A atitude que devemos ter perante instituições que trabalham áreas disciplinares próximas das nossas tem que ser de autonomia, colaboração, estímulo, complementaridade.” l

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