Educação Inclusiva

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Curso: Arteterapia na Educação Inclusiva

Módulo 2

Educação Inclusiva

Sonia Branco GPEC – Educação a Distância www.gpeconline.com.br Arteterapia na Educação Inclusiva - Módulo 1


EDUCAÇÃO INCLUSIVA

EDUCAÇÃO ESPECIAL (texto retirado dos Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC) A Educação Especial tem sido atualmente definida no Brasil segundo uma perspectiva mais ampla, que ultrapassa a simples concepção de atendimentos especializados tal como vinha sendo a sua marca nos últimos tempos. Conforme define a nova LDB, trata-se de uma modalidade de educação escolar, voltada para a formação do indivíduo, com vistas ao exercício da cidadania. Como elemento integrante e indistinto do sistema educacional, realiza-se transversalmente, em todos os níveis de ensino, nas instituições escolares, cujo projeto, organização e prática pedagógica devem respeitar a diversidade dos alunos, a exigir diferenciações nos atos pedagógicos que contemplem as necessidades educacionais de todos. Os serviços educacionais especiais, embora diferenciados, não podem desenvolver-se isoladamente, mas devem fazer parte de uma estratégia global de educação e visar suas finalidades gerais. A análise de diversas pesquisas brasileiras identifica tendências que evitam considerar a educação especial como um subsistema à parte e reforçam o seu caráter interativo na educação geral. Sua ação transversal permeia todos os níveis – educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e educação superior, bem como as demais modalidades – educação de jovens e adultos e educação profissional. NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS Os Parâmetros Curriculares Nacionais preconizam a atenção à diversidade da comunidade escolar e baseiam-se no pressuposto de que a realização de adaptações

curriculares

pode

atender

a

necessidades

particulares

de

aprendizagem dos alunos. Consideram que a atenção à diversidade deve se concretizar em medidas que levam em conta não só as capacidades intelectuais e os conhecimentos dos alunos, mas, também, seus interesses e motivações. 2


A atenção à diversidade está focalizada no direito de acesso à escola e visa à melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem para todos, irrestritamente, bem como as perspectivas de desenvolvimento e socialização. A escola, nessa perspectiva, busca consolidar o respeito às diferenças, conquanto não elogie a desigualdade. As diferenças vistas não como obstáculos para o cumprimento da ação educativa, mas, podendo e devendo ser fatores de enriquecimento. A diversidade existente na comunidade escolar contempla uma ampla dimensão de características. Necessidades educacionais podem ser identificadas em diversas situações representativas de dificuldades de aprendizagem, como decorrência de condições individuais, econômicas ou socioculturais dos alunos: • crianças com condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais e sensoriais diferenciadas; • crianças com deficiência e bem dotadas; • crianças trabalhadoras ou que vivem nas ruas; • crianças de populações distantes ou nômades; • crianças de minorias lingüísticas, étnicas ou culturais; • crianças de grupos desfavorecidos ou marginalizados. A expressão necessidades educacionais especiais pode ser utilizada para referirse a crianças e jovens cujas necessidades decorrem de sua elevada capacidade ou de suas dificuldades para aprender. Está associada, portanto, a dificuldades de aprendizagem, não necessariamente vinculada a deficiência(s). O termo surgiu para evitar os efeitos negativos de expressões utilizadas no contexto educacional – deficientes, excepcionais, subnormais, superdotados, infradotados, incapacitados etc. – para referir-se aos alunos com altas habilidades/superdotação, aos portadores de deficiências cognitivas, físicas, psíquicas e sensoriais. Tem o propósito de deslocar o foco do aluno e direcionálo para as respostas educacionais que eles requerem, evitando enfatizar os seus atributos ou condições pessoais que podem interferir na sua aprendizagem e escolarização. É uma forma de reconhecer que muitos alunos, sejam ou não portadores de deficiências ou de superdotação, apresentam necessidades educacionais que passam a ser especiais quando exigem respostas específicas adequadas.

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O que se pretende resgatar com essa expressão é o seu caráter de funcionalidade, ou seja, o que qualquer aluno pode requerer do sistema educativo quando freqüenta a escola. Isso requer uma análise que busque verificar o que ocorre quando se transforma as necessidades especiais de uma criança numa criança com necessidades especiais. Com freqüência, necessitar de atenção especial na escola pode repercutir no risco de tornar-se um portador de necessidades especiais. Não se trata de mero jogo de palavras ou de conceitos. Falar em necessidades educacionais especiais, portanto, deixa de ser pensar nas dificuldades específicas dos alunos e passa a significar o que a escola pode fazer para dar respostas às suas necessidades, de um modo geral, bem como aos que apresentam necessidades específicas muito diferentes dos demais. Considera os alunos, de um modo geral, como passíveis de necessitar, mesmo que temporariamente, de atenção específica e poder requerer um tratamento diversificado dentro do mesmo currículo. Não se nega o risco da discriminação, do preconceito e dos efeitos adversos que podem decorrer dessa atenção especial. Em situação extrema, a diferença pode conduzir à exclusão. Por culpa da diversidade ou de nossa dificuldade em lidar com ela? Nesse contexto, a ajuda pedagógica e os serviços educacionais, mesmo os especializados – quando necessários – não devem restringir ou prejudicar os trabalhos que os alunos com necessidades especiais compartilham na sala de aula com os demais colegas. Respeitar a atenção à diversidade e manter a ação pedagógica “normal” parece ser um desafio presente na integração dos alunos com maiores ou menos acentuadas dificuldades para aprender. Embora as necessidades especiais na escola sejam amplas e diversificadas, a atual Política Nacional de Educação Especial2 aponta para uma definição de prioridades no que se refere ao atendimento especializado a ser oferecido na escola para quem dele necessitar. Nessa perspectiva, define como aluno portador

de

necessidades

especiais

aquele

que

“...

por

apresentar

necessidades próprias e diferentes dos demais alunos no domínio das aprendizagens curriculares correspondentes à sua idade, requer recursos pedagógicos e metodologias educacionais específicas.” A classificação desses 4


alunos, para efeito de prioridade no atendimento educacional especializado (preferencialmente na rede regular de ensino), consta da referida Política e dá ênfase a: • portadores de deficiência mental, visual, auditiva, física e múltipla; • portadores de condutas típicas (problemas de conduta); • portadores de superdotação. Objetivando a uniformização terminológica e conceitual, a Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e do Desporto propõe as seguintes características referentes às necessidades especiais dos alunos, que serão descritas a seguir: Superdotação Notável desempenho e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos isolados ou combinados: • capacidade intelectual geral; • aptidão acadêmica específica; • pensamento criativo ou produtivo; • capacidade de liderança; • talento especial para artes; • capacidade psicomotora. Condutas típicas Manifestações de comportamento típicas de portadores de síndromes e quadros psicológicos,

neurológicos

ou

psiquiátricos

que

ocasionam

atrasos

no

desenvolvimento e prejuízos no relacionamento social, em grau que requeira atendimento educacional especializado. Deficiência auditiva Perda total ou parcial, congênita ou adquirida, da capacidade de compreender a fala por intermédio do ouvido. Manifesta-se como: • surdez leve / moderada: perda auditiva de até 70 decibéis, que dificulta, mas não impede o indivíduo de se expressar oralmente, bem como de perceber a voz humana, com ou sem a utilização de um aparelho auditivo; • surdez severa / profunda: perda auditiva acima de 70 decibéis, que impede o indivíduo de entender, com ou sem aparelho auditivo, a voz humana, bem como de adquirir, naturalmente, o código da língua oral. 5


Deficiência física Variedade de condições não sensoriais que afetam o indivíduo em termos de mobilidade, de coordenação motora geral ou da fala, como decorrência de lesões

neurológicas,

neuromusculares

e

ortopédicas,

ou,

ainda,

de

malformações congênitas ou adquiridas. Deficiência mental Caracteriza-se

por

registrar

um

funcionamento

intelectual

geral

significativamente abaixo da média, oriundo do período de desenvolvimento, concomitante com limitações associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo em responder adequadamente às demandas da sociedade, nos seguintes aspectos: • comunicação; • cuidados pessoais; • habilidades sociais; • desempenho na família e comunidade; • independência na locomoção; • saúde e segurança; • desempenho escolar; • lazer e trabalho. Deficiência visual É a redução ou perda total da capacidade de ver com o melhor olho e após a melhor correção ótica. Manifesta-se como: • cegueira: perda da visão, em ambos os olhos, de menos de 0,1 no melhor olho após correção, ou um campo visual não excedente a 20 graus, no maior meridiano do melhor olho, mesmo com o uso de lentes de correção. Sob o enfoque educacional, a cegueira representa a perda total ou o resíduo mínimo da visão que leva o indivíduo a necessitar do método braille como meio de leitura e escrita, além de outros recursos didáticos e equipamentos especiais para a sua educação; • visão reduzida: acuidade visual dentre 6/20 e 6/60, no melhor olho, após correção máxima. Sob o enfoque educacional, trata-se de resíduo visual que permite ao educando ler impressos a tinta, desde que se empreguem recursos didáticos e equipamentos especiais. 6


Deficiência múltipla É a associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiências primárias (mental/visual/auditiva/física), com comprometimentos que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa. As

classificações

costumam ser adotadas

para

dar dinamicidade

aos

procedimentos e facilitar o trabalho educacional, conquanto isso não atenue os efeitos negativos do seu uso. É importante enfatizar, primeiramente, as necessidades de aprendizagem e as respostas educacionais requeridas pelos alunos na interação dinâmica do processo de ensino-aprendizagem. Identificar as necessidades educacionais de um aluno como sendo especiais implica considerar que essas dificuldades são maiores que as do restante de seus colegas, depois de todos os esforços empreendidos no sentido de superálas, por meio dos recursos e procedimentos usuais adotados na escola. A concepção de especial está vinculada ao critério de diferença significativa do que se oferece normalmente para a maioria dos alunos da turma no cotidiano da escola. Confundir necessidades educacionais especiais com fracasso escolar é, também, outro aspecto que merece a atenção dos educadores. São inesgotáveis as discussões e a produção científica sobre o fracasso escolar e suas múltiplas faces. Paradoxalmente, o conhecimento obtido não tem levado a respostas eficientes para a sua solução enquanto fenômeno internacional marcado por influências socioculturais, políticas e econômicas, além de razões pedagógicas. Durante muitos anos, e ainda em nossos dias, há uma tendência a atribuir o fracasso escolar do aluno, exclusivamente a ele. Desse modo, a escola fica isenta da responsabilidade pela sua aprendizagem, ou não-aprendizagem, cabendo a profissionais diversos a identificação dos problemas inerentes a serem encaminhados e solucionados fora da escola. O fracasso da criança passa a ser explicado sob diversas denominações e causas, como distúrbios, disfunções,

problemas,

dificuldades,

carência,

desnutrição,

família

desestruturada, dentre outras, situadas mais próximo das patologias e de causalidade social do que de situações escolares contextuais.

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Não se pode negar os condicionantes orgânicos, socioculturais e psíquicos que estão associados a vários tipos de deficiências ou a influência que esses fatores podem exercer no sucesso ou insucesso escolar do educando, mas não se pode advogar sua hegemonia como determinantes na causalidade do fracasso escolar, ou como modo de justificar uma ação escolar pouco eficaz. Essa análise remonta à mesma prática com relação a certos procedimentos oriundos do modelo clínico, ainda aplicados em educação especial, quando o aluno é diagnosticado, rotulado,

classificado e encaminhado para os

atendimentos. O esforço empreendido para mudar essa concepção de educação especial baseia-se em pressupostos atualmente defendidos ao se focalizarem as dificuldades para aprender ou a não aprendizagem na escola. Dentre eles: • o caráter de interatividade, que implica a relação do aluno como aprendente e da escola como ensinante e estabelece uma associação entre o ato de ensinar e o de aprender, tendo a considerar a mediação dos múltiplos fatores interligados que interferem nessas dinâmicas e que apontam para a multicausalidade do fracasso escolar; • o caráter de relatividade, que focaliza a possível transitoriedade das dificuldades de aprendizagem, ao considerar as particularidades do aluno em dado momento e as alterações nos elementos que compõem o contexto escolar e social, que são dinâmicos e passíveis de mudança. Nesse quadro, é necessário um novo olhar sobre a identificação de alunos como portadores de necessidades especiais, bem como sobre as

necessidades

especiais que alguns alunos possam apresentar. Igualmente, um novo olhar em considerar o papel da escola na produção do fracasso escolar e no encaminhamento de alunos para atendimentos especializados, dentre outras medidas

comumente

adotadas

na

prática

pedagógica.

Um

exemplo

preocupante do desvio dessas práticas é o encaminhamento indevido e a permanência de alunos em classes especiais como resultado da ineficiência escolar. Outro aspecto a ser considerado é o papel desempenhado pelo professor da sala de aula.

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Não se pode substituir a sua competência pela ação de apoio exercida pelo professor especializado ou pelo trabalho das equipes interdisciplinares quando se trata da educação dos alunos. Reconhecer a possibilidade de recorrer eventualmente ao apoio de professores especializados fisioterapeuta

e etc.),

de

outros não

profissionais

significa

abdicar

(psicólogo, e

transferir

fonoaudiólogo, para

eles

a

responsabilidade do professor regente como condutor da ação docente. ADAPTAÇÕES INDIVIDUALIZADAS DO CURRÍCULO As modalidades adaptativas, nesse nível, focalizam a atuação do professor na avaliação e no atendimento do aluno. Compete-lhe o papel principal na definição do nível de competência curricular do educando, bem como na identificação dos fatores que interferem no seu processo de ensinoaprendizagem. As adaptações têm o currículo regular como referência básica, adotam formas progressivas de adequá-lo, norteando a organização do trabalho consoante com as necessidades do aluno (adaptação processual). Alguns aspectos devem ser previamente considerados para se identificar a necessidade das adaptações curriculares, em qualquer nível: • a real necessidade dessas adaptações; • a avaliação do nível de competência curricular do aluno, tendo como referência o currículo regular; • o respeito ao seu caráter processual, de modo que permita alterações constantes e graduais nas tomadas de decisão. É importante ressaltar que as adaptações curriculares, seja para atender alunos nas classes comuns ou em classes especiais, não se aplicam exclusivamente à escola regular, devendo ser utilizadas para os que estudam em escolas especializadas, quando a inclusão não for possível. Além da classificação, por níveis, as medidas adaptativas podem se distinguir em 2 categorias: adaptações de acesso ao currículo e nos elementos curriculares. ADAPTAÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO

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Correspondem ao conjunto de modificações nos elementos físicos e materiais do ensino, bem como aos recursos pessoais do professor quanto ao seu preparo para trabalhar com os alunos. São definidas como alterações ou recursos espaciais, materiais ou de comunicação que venham a facilitar os alunos com necessidades educacionais especiais a desenvolver o currículo escolar. As seguintes medidas constituem adaptações de acesso ao currículo: • criar condições físicas, ambientais e materiais para o aluno na sua unidade escolar de atendimento; • propiciar os melhores níveis de comunicação e interação com as pessoas com as quais convive na comunidade escolar; • favorecer a participação nas atividades escolares; • propiciar o mobiliário específico necessário; • fornecer ou atuar para a aquisição dos equipamentos e recursos materiais específicos necessários; • adaptar materiais de uso comum em sala de aula; • adotar sistemas de comunicação alternativos para os alunos impedidos de comunicação oral (no processo de ensino aprendizagem e na avaliação). Sugestões que favorecem o acesso ao currículo: • agrupar os alunos de uma maneira que facilite a realização de atividades em grupo e incentive a comunicação e as relações interpessoais; •

propiciar

ambientes

com

adequada

luminosidade,

sonoridade

e

movimentação; • encorajar, estimular e reforçar a comunicação, a participação, o sucesso, a iniciativa e o desempenho do aluno; • adaptar materiais escritos de uso comum: destacar alguns aspectos que necessitam ser apreendidos com cores, desenhos, traços; cobrir partes que podem desviar a atenção do aluno; incluir desenhos, gráficos que ajudem na compreensão; destacar imagens; modificar conteúdos de material escrito de modo a torná-lo mais acessível à compreensão etc.; • providenciar adaptação de instrumentos de avaliação e de ensino aprendizagem;

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• favorecer o processo comunicativo entre aluno-professor, aluno-aluno, alunoadultos; • providenciar softwares educativos específicos; • despertar a motivação, a atenção e o interesse do aluno; • apoiar o uso dos materiais de ensino-aprendizagem de uso comum; • atuar para eliminar sentimentos de inferioridade, menos valia e fracasso. Sugestões de recursos de acesso ao currículo para alunos com necessidades especiais, segundo necessidades específicas: Para alunos com deficiência visual • materiais desportivos adaptados: bola de guizo e outros; • sistema alternativo de comunicação adaptado às possibilidades do aluno: sistema braille, tipos escritos ampliados; • textos escritos com outros elementos (ilustrações táteis) para melhorar a compreensão; • posicionamento do aluno na sala de aula de modo que favoreça sua possibilidade de ouvir o professor; • deslocamento do aluno na sala de aula para obter materiais ou informações, facilitado pela disposição do mobiliário; • explicações verbais sobre todo o material apresentado em aula, de maneira visual; • boa postura do aluno, evitando-se os maneirismos comumente exibidos pelos que são cegos; • adaptação de materiais escritos de uso comum: tamanho das letras, relevo,

softwares educativos em tipo ampliado, textura modificada etc.; • máquina braille, reglete, sorobã, bengala longa, livro falado etc.; • organização espacial para facilitar a mobilidade e evitar acidentes: colocação de extintores de incêndio em posição mais alta, pistas olfativas para orientar na localização

de

ambientes, espaço entre

as

carteiras

para

facilitar o

deslocamento, corrimão nas escadas etc.; • material didático e de avaliação em tipo ampliado para os alunos com baixa visão e em braille e relevo para os cegos; • braille para alunos e professores videntes que desejarem conhecer o referido sistema; 11


• materiais de ensino-aprendizagem de uso comum: pranchas ou presilhas para não deslizar o papel, lupas, computador com sintetizador de vozes e periféricos adaptados etc.; • recursos ópticos; • apoio físico, verbal e instrucional para viabilizar a orientação e mobilidade, visando à locomoção independente do aluno. Para alunos com deficiência auditiva • materiais e equipamentos específicos: prótese auditiva, treinadores de fala, tablado, softwares educativos específicos etc.; • textos escritos complementados com elementos que favoreçam a sua compreensão: linguagem gestual, língua de sinais e outros; • sistema alternativo de comunicação adaptado às possibilidades do aluno: leitura orofacial, linguagem gestual e de sinais; • salas-ambiente para treinamento auditivo, de fala, rítmico etc.; • posicionamento do aluno na sala de tal modo que possa ver os movimentos orofaciais do professor e dos colegas; • material visual e outros de apoio, para favorecer a apreensão das informações expostas verbalmente; Para alunos com deficiência mental • ambientes de aula que favoreçam a aprendizagem, tais como: atelier, cantinhos, oficinas etc.; • desenvolvimento de habilidades adaptativas: sociais, de comunicação, cuidado pessoal e autonomia. Para alunos com deficiência física • sistemas aumentativos ou alternativos de comunicação adaptado às possibilidades do aluno impedido de falar: sistemas de símbolos (baseados em elementos representativos, em desenhos lineares, sistemas que combinam símbolos pictográficos, ideográficos e arbitrários, sistemas baseados na ortografia tradicional, linguagem codificada), auxílios físicos ou técnicos (tabuleiros

de

comunicação

ou

sinalizadores

mecânicos,

tecnologia

microeletrônica), comunicação total e outros; • adaptação dos elementos materiais: edifício escolar (rampa deslizante, elevador, banheiro, pátio de recreio, barras de apoio, alargamento de portas 12


etc.); mobiliário (cadeiras, mesas e carteiras); materiais de apoio (andador, coletes, abdutor de pernas, faixas restringidoras etc.); materiais de apoio pedagógico (tesoura, ponteiras, computadores que funcionam por contato, por pressão ou outros tipos de adaptação etc.); • deslocamento de alunos que usam cadeira de rodas ou outros equipamentos, facilitado pela remoção de barreiras arquitetônicas; • utilização de pranchas ou presilhas para não deslizar o papel, suporte para lápis, presilha de braço, cobertura de teclado etc.; • textos escritos complementados com elementos de outras linguagens e sistemas de comunicação. Para alunos com superdotação •

evitar

sentimentos

de

superioridade,

rejeição

dos

demais

colegas,

sentimentos de isolamento etc.; • pesquisa, de persistência na tarefa e o engajamento em atividades cooperativas; • materiais, equipamentos e mobiliários que facilitem os trabalhos educativos; • ambientes favoráveis de aprendizagem como: ateliê, laboratórios, bibliotecas etc.; • materiais escritos de modo que estimule a criatividade: lâminas, pôsteres, murais; inclusão de figuras, gráficos, imagens etc., e de elementos que despertam novas possibilidades. Para alunos com deficiências múltiplas As adaptações de acesso para esses alunos devem considerar as deficiências que se apresentam distintamente e a associação de deficiências agrupadas: surdez-cegueira, deficiência visual-mental, deficiência física-auditiva etc. As adaptações de acesso devem contemplar a funcionalidade e as condições individuais do aluno: • ambientes de aula que favoreça a aprendizagem, como: ateliê, cantinhos, oficinas; • acesso à atenção do professor; • materiais de aula: mostrar os objetos, entregá-los, brincar com eles, estimulando os alunos a utilizá-los;

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• apoio para que o aluno perceba os objetos, demonstrem interesse e tenham acesso a eles. Para alunos com condutas típicas de síndromes e quadros clínicos O comportamento desses alunos não se manifesta por igual nem parece ter o mesmo significado e expressão nas diferentes etapas de suas vidas. Existem importantes diferenças entre as síndromes e quadros clínicos que caracterizam as condições individuais e apresentam efeitos mais ou menos limitantes. As seguintes sugestões favorecem o acesso ao currículo: • encorajar o estabelecimento de relações com o ambiente físico e social; • oportunizar e exercitar o desenvolvimento de suas competências; • estimular a atenção do aluno para as atividades escolares; • utilizar instruções e sinais claros, simples e contingentes com as atividades realizadas; • oferecer modelos adequados e corretos de aprendizagem (evitar alternativas do tipo “aprendizagem por ensaio e erro”); • favorecer o bem-estar emocional. ADAPTAÇÕES NOS ELEMENTOS CURRICULARES (trecho do texto Educação, Trabalho e Inclusão Social: Interfaces entre Educação Profissional e Educação Especial no Brasil a Partir de 1990 de Odair Antonio Fernandes e Amélia Kimiko Noma) Focalizam as formas de ensinar e avaliar, bem como os conteúdos a serem ministrados, considerando a temporalidade. São definidas como alterações realizadas nos objetivos, conteúdos, critérios e procedimentos de avaliação, atividades e metodologias para atender às diferenças individuais dos alunos. Medidas adotadas para as adaptações nos elementos curriculares: Adaptações metodológicas e didáticas Realizam-se por meio de procedimentos técnicos e metodológicos, estratégias de

ensino

e

aprendizagem,

procedimentos

avaliativos

e

atividades

programadas para os alunos. São exemplos de adaptações metodológicas e didáticas: • situar o aluno nos grupos com os quais melhor possa trabalhar;

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• adotar métodos e técnicas de ensino e aprendizagem específicas para o aluno, na operacionalização dos conteúdos curriculares, sem prejuízo para as atividades docentes; • utilizar técnicas, procedimentos e instrumentos de avaliação distintos da classe, quando necessário, sem alterar os objetivos da avaliação e seu conteúdo; • propiciar apoio físico, visual, verbal e outros ao aluno impedido em suas capacidades, temporária ou permanentemente, de modo que permita a realização das atividades escolares e do processo avaliativo. O apoio pode ser oferecido pelo professor regente, professor especializado ou pelos próprios colegas; • introduzir atividades individuais complementares para o aluno alcançar os objetivos comuns aos demais colegas. Essas atividades podem realizar-se na própria sala de aula ou em atendimentos de apoio; •

introduzir

atividades

complementares

específicas

para

o

aluno,

individualmente ou em grupo; • eliminar atividades que não beneficiem o aluno ou lhe restrinja uma participação ativa e real ou, ainda, que esteja impossibilitado de executar; • suprimir objetivos e conteúdos curriculares que não possam ser alcançados pelo aluno em razão de sua(s) deficiência(s); substituílos por objetivos e conteúdos acessíveis, significativos e básicos, para o aluno. No documento “Educação profissional: indicações para ação: a interface educação

profissional/educação

especial”,

publicado

pela

Secretaria

de

Educação Especial do MEC, afirma-se que a educação inclusiva aparece de forma universalizada e que “[...] esta é uma tendência mundial, já não há como centralizar a educação especial – no amplo campo das demandas sociais – fora do circuito da educação inclusiva como política pública essencial”

(BRASIL,

2003, p. 7). Identificamos no referido documento direcionamentos políticos emanados do Relatório Delors (1998), nas seguintes prescrições: “[...]

deve-se

elaborar

uma

Proposta

Pedagógica

que

desenvolva

competências.” As quais “[...] envolve o domínio dos quatro pilares que fundamentam a educação, quais sejam: 15


Aprender a Conhecer – desenvolvimento de competência para construir conhecimento, exercitar pensamentos, atenção, percepção; para contextualizar informações e para saber se comunicar; Aprender a Fazer – pôr em prática os conhecimentos significativos aos trabalhos futuros, enfatizar a educação profissional, descobrindo o valor construtivo do trabalho, sua importância, transformando o progresso do conhecimento em novos empreendimentos e em novos empregos; Aprender a Ser – a educação deve preparar o aluno de forma íntegro-física, intelectual e moral, para que ele saiba agir em diferentes condições e situações, por si mesmo; e, Aprender a Conviver – é saber conviver com os outros, respeitar as diferenças, conviver com a diversidade, aprender a viver junto para desenvolver projetos solidários e cooperativos, em busca de objetivos comuns, por meio de solidariedade e compreensão. A referida proposta do MEC, como pode ser observada, está baseada na pedagogia das competências e, como afirma Duarte (2003, p. 11), “[...] tratase de um lema que sintetiza uma concepção educacional voltada à formação, nos indivíduos, da disposição para uma constante e infatigável adaptação à sociedade regida pelo capital”. A pedagogia das competências admite como mais importante aquilo que os indivíduos aprendem por si mesmos que a troca de conhecimentos e experiências realizadas pelas relações sociais. Do mesmo modo, tem-se como foco a atenção aos processos de aprendizagem, em detrimento dos produtos (conteúdos); isto é, o mais importante é o “como” e não “o quê” se aprende. Ressaltamos que, embora os referidos textos demonstrem uma clara tendência inclusiva em que pessoas com deficiência gozam dos mesmos direitos que as demais, inserindo-se nos programas de formação regular, na prática estas estão sendo “preparadas” de maneira segregada em escolas especializadas. De acordo com Goyos (2001) e Tanaka (2001), a maior parte da formação para o trabalho destinada ao indivíduo com deficiência mental se realiza em escolas especializadas oferecidas em oficinas, que têm como objetivo principal a sua preparação para desempenhar trabalho produtivo – “prontidão” para o trabalho – em ambiente protegido ou competitivo. Propala realizar a preparação do 16


aluno com deficiência para ter condições de acesso e sucesso no mercado competitivo de trabalho. Nessa linha de análise, podemos verificar que as escolas especiais, analisadas sob a ótica segregadora de “separar para preparar”, acabam por reproduzir a proposta neoliberal, uma vez que em seu interior as trocas de conhecimentos e experiências se tornam limitadas apenas aos seus espaços. Soma-se a isso o fato que as práticas pedagógicas voltadas ao ensino profissionalizante realizam trabalhos manuais que requerem operações muito simples. Outro aspecto relevante a ser destacado relacionada a educação profissional de pessoas com deficiência mental, é a parceria efetivada em 1997 entre a Federação Nacional das APAEs (FENAPAEs), e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por meio do Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador (PLANFOR) e financiado pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Essa parceria evidência o alinhamento do terceiro setor com as recomendações dos órgãos internacionais, pois as ações do PLANFOR “[...] se realizam em sintonia com as orientações dos organismos multilaterais – principalmente o Banco Mundial e a OIT – para as economias interessadas na melhoria da competitividade e do seu posicionamento no quadro da divisão internacional do trabalho [...]” (CÊA, 2003, p. 89). No ano seguinte, 1998, a FENAPAEs e o MTE passam a implementar o Curso de Formação de Formadores, o qual teve como amplitude atingir todos os estados do Brasil. A proposta era de formar multiplicadores para “[...] lidar com os novos paradigmas da educação profissional e trabalho de pessoas com deficiências intelectual e múltipla” (OLIVEIRA et al., 2007, p.99). De acordo com informação de Oliveira et al. (2007, p. 100), “[...] direta e indiretamente, foram qualificados 28 mil profissionais”. Ficamos a indagar se esse conjunto de alternativas de formação profissional poderia ser enquadrado naquilo que Kuenzer (2002, p. 93) denomina de “certificação vazia”, estratégias de escolarização constituídas em “[...] modalidades aparentes de inclusão que fornecerão a justificativa, pela incompetência, para a exclusão do mundo do trabalho, dos direitos e das formas dignas de existência”.

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O termo empregabilidade ganhou espaço e centralidade a partir dos nos 1990 nos documentos oficiais e em recomendações das agências internacionais, tornando-se o eixo fundamental de um conjunto de políticas destinadas a acabar com o desemprego. A esse debate, Noronha (2002, p. 80) acrescenta a noção de eqüidade social que se materializaria “[...] na medida em que o indivíduo fosse capaz de associar as competências para operar os códigos com o mérito (reconhecimento de sua competência pelo mercado)”. Concordamos com a análise de Noronha (2002, 70-74) de que conceitos como eqüidade e empregabilidade são complementares, significam que o mérito e a recompensa são definidos pelo modo como o indivíduo se coloca no mercado, havendo a associação do êxito ou do fracasso com as características individuais. Deste modo, a busca pela eqüidade e pela empregabilidade torna-se uma responsabilidade de cada indivíduo. A explicação pela não-inserção no mercado de trabalho é remetida à ausência de requisitos exigidos do indivíduo singular pelos novos padrões de gerenciamento e das exigências da chamada sociedade do conhecimento. O debate sobre a questão das políticas públicas de inclusão requer uma reflexão mais ampla sobre a realidade que se pretende analisar, aquela que expropria os direitos de inserção social das pessoas com deficiência, entre outros sujeitos. As mudanças que vêm ocorrendo tanto no conjunto do modo de

produção

quanto

nas

relações

sociais

dele

decorrentes,

trazem

conseqüências para a práxis envolvida na formação humana, na produção do conhecimento e na educação. A relação entre educação e trabalho no capitalismo assume características específicas relacionadas às formas de produção materiais, uma vez que o sistema educacional neste regime está constituído de modo a formar uma população de acordo com as exigências sociais, isto é, reproduzir as relações de produção vigentes que, em última análise, reforçam a divisão técnica do trabalho entre o intelectual e o manual (SILVA, 1996). Ao analisar a educação nacional, Neves (1999) enfatiza a manutenção do dualismo histórico que sempre marcou o sistema educacional brasileiro, a saber, a diferenciação de escolarização para as massas trabalhadoras e para os trabalhadores qualificados, esses últimos provenientes das camadas médias e 18


parcelas da burguesia. Na perspectiva da autora citada, para aqueles que venham a realizar o trabalho simples, o sistema educacional oferece somente o básico. Para os que irão desempenhar funções de maior complexidade são destinadas atividades curriculares e estrutura organizacional de nível superior com o objetivo de que esses trabalhadores utilizem os conhecimentos de ciência e tecnologia incorporados pelos grandes grupos transnacionais de forma adaptada a nossa realidade (NEVES, 1999, p. 135). Como esse processo é reproduzido em todo o sistema educacional, as políticas públicas desenvolvidas no âmbito da Educação Especial combinam, de forma aparentemente contraditória, o discurso da inclusão social e práticas de reprodução do padrão do trabalho manual e do trabalho simples nas atividades terapêuticas nas oficinas de profissionalização. Argumenta-se que, na realidade, isto significa a manutenção e a expressão do dualismo histórico que sempre marcou o sistema educacional brasileiro, conforme indicado anteriormente. Ampliando nossa análise, entendemos que o referido dualismo, na realidade, é expressão do caráter desigual da sociedade capitalista. Concomitantemente, faz se necessário repensar criticamente, as políticas educacionais voltadas para a formação profissional da pessoa com deficiência mental com vistas à sua inserção no processo de trabalho. De acordo com Silva (2006, p.254), a questão paradoxal é “[...] que o deficiente mental é um trabalhador que, apesar de possuir limitações e especificidades próprias, precisa, como qualquer sujeito social, ser produtor de sua própria existência por meio de sua ação – o trabalho”. A divisão educacional estabelecida evidencia a polarização dos postos de trabalho na cadeia produtiva e, conseqüentemente, a precarização do trabalho. Na medida em que se avança em direção aos postos de trabalho reestruturados, verifica-se a necessidade de mão de obra mais qualificada, maior grau de escolarização e qualificação profissional, enquanto que, contrariamente, se tem os postos de trabalho mais precarizados (KUENZER, 2006). De acordo com as pesquisas da autora, [...] do ponto de vista do mercado, ocorre um processo de exclusão da força de trabalho dos postos reestruturados, para incluí-la de forma precarizada em outros pontos da cadeia produtiva. Já do ponto de vista da educação, se estabelece um movimento 19


contrário, dialeticamente integrado ao primeiro: por força de políticas públicas 'professadas' na direção da democratização, aumenta a inclusão em todos os pontos da cadeia, mas precarizam-se os processos educativos, que resultam em mera oportunidade de certificação, os quais não asseguram nem inclusão, nem permanência (KUENZER, 2006, p.2-3). Contudo diante de uma divisão educacional, dada pelos interesses do capital, “[...] verifica-se a maior exigência de escolaridade e/ou educação profissional à medida que a cadeia se complexifica tecnologicamente e administrativamente” (KUENZER, 2006, p. 10). Del Pino (2000, p. 203) corrobora com tal afirmação quando expõe que: [...] o mérito acadêmico ao privilegiar, para poucos/as, a qualificação científico-tecnológica e sociocultural para o exercício das funções vinculadas à gestão, à criação, à direção e aos serviços especializados. Para a grande maioria, privilegia-se a escolaridade apenas suficiente para permitir o domínio dos instrumentos necessários à existência em uma sociedade que combina o perfil científico-tecnológico com a economia informal. Essa escolaridade é complementada por uma formação profissional de curta duração, que capacita para exercer ocupações precarizadas em um mercado cada vez mais restrito, direcionado para permitir a continuidade da acumulação capitalista. Assim, as pessoas com deficiência mental, devido à baixa escolaridade e com um ensino profissionalizante questionável, dificilmente conseguem atingir o patamar mais complexificado da cadeia produtiva. Poderíamos dizer, em tese, que seriam excluídas da parte mais elitizada da cadeia, onde se encontram os trabalhadores mais qualificados. Desta forma, pessoas com deficiência mental, segundo a lógica do mercado de trabalho, tenderiam a buscar trabalho nas partes inferiores da cadeia, ou seja, avança-se em sentido à precarização mais evidente e brutal. Kuenzer (2006, p.10) afirma que: Este processo de redução da classe trabalhadora a uma identidade que lhe permita incluir-se no processo de trabalho através de formas predatórias, se dá através dos processos de flexibilização e conta com a contribuição de processos pedagógicos, que ocorrem no âmbito das relações sociais e produtivas e através da escola e da formação profissional, quando estas oportunidades estão disponíveis. 20


Diante dessa necessidade de adequação do trabalhador, é que se apregoa a exigência de um novo profissional, o qual deve dominar competências cognitivas superiores e de relacionamento, a fim de que possa criar soluções inovadoras, respostas rápidas, comunicação clara e precisa pelo uso de diferentes formas de linguagem, além de outras capacidades que o habilitariam à nova demanda social (KUENZER, 1998). Apesar das novas exigências impostas aos trabalhadores(as), a educação especial segue caminho contrário, como afirma Tomasini (1998, 9 127): [...] a educação especial tem dado privilégio, em sua práxis pedagógica, ao trabalho manual em detrimento do trabalho intelectual, ao submeter os indivíduos inseridos

nas

instituições

a

formas

mecânicas

de

produção,

visando

exclusivamente à aquisição de competências manuais para execução de tarefas simplificadas. Reduzindo este indivíduo ao “fazer”, tão-somente, deixam de ser mobilizados mecanismos de apropriação da riqueza do mundo social, cultural, e do desenvolvimento da competência política. Assim, quando Kuenzer coloca que a escola e a formação profissional permitem a inclusão do trabalhador, mesmo que de forma a reduzir sua identidade, percebe-se que, a pessoa com deficiência mental, por geralmente receber formação profissional no interior das escolas especiais, as quais consideramos ambientes segregadores, não participam de forma efetiva das relações sociais e produtivas. Desta forma, as pessoas com deficiência mental encontram-se a margem até mesmo de uma dita inclusão excludente, tornando-se difícil o acesso até mesmo aos trabalhos mais precarizados, que reduzem a identidade do trabalhador. Diante do exposto, podemos atentar para o fato de que as pessoas com deficiência também estão inseridas nesse processo de redução da classe trabalhadora. Historicamente, pessoas com deficiência mental, encontram-se alijadas das relações de produção, portanto, estariam excluídas até mesmo das formas predatórias de trabalho. Referente à educação, normalmente encontram-se inseridas em escolas especiais, não participando dos processos pedagógicos que ocorrem no âmbito das relações sociais e produtivas. 21


A educação especial e a construção da cidadania (parte do texto A Educação Especial e a Construção da Cidadania de Silmargarida) A Educação Especial no Brasil tem sido concebida, tradicionalmente, como destinada apenas ao atendimento de alunos com deficiências; condutas típicas de síndromes e quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos, bem como de alunos que apresentam altas habilidades/ superdotação. Com a adoção do conceito de necessidades educacionais especiais, atualmente, é afirmado o compromisso com uma nova abordagem que vislumbra a inclusão social. Pelo menos, teoricamente. Nossa identidade social é uma construção histórica e humana que se desenvolve no terreno da cultura e da educação. Pouco se reflete sobre a pluralidade da experiência humana de nosso povo, experiência que se enriquece na cultura e anseia pela liberdade. A educação deve atuar, pois, no processo de construção da cidadania, numa crescente igualdade de direitos. Neste aspecto, a pluralidade é uma fonte de crescimento educacional. O reconhecimento da pluralidade é, também, fundamental na mudança das formas de pensar das pessoas, para ampliar sua leitura de mundo, superar os preconceitos e combater atitudes discriminatórias. A escola é o espaço onde se concretizam

as

aprendizagens

do

reconhecimento

da

pluralidade,

da

convivência com a diversidade e respeito às diferenças. Há uma grande convergência de pontos de vista, quanto à necessidade de abrir novos caminhos em educação especial brasileira. A lembrança é de que cada um ser eficiente especial tem sua história de vida para contar. As diferenças, as desigualdades, as injustiças, a pluralidade cultural, racial, étnica, religiosa, nos sensibilizam e nos desafiam a realizar uma outra educação. E a tratar diferentemente as questões a ela ligadas, tais como a formação docente e as formas de gestão e de investigação. Tudo para levar em conta o desejo de criar coisas novas, coisas outras, com vistas a construir uma outra sociedade, na qual as mazelas da atual sejam superadas e as ricas virtualidades sejam criativamente incorporadas.. Certamente tem havido muitos discursos, muitas elaborações teórico-conceituais sobre tais questões, expressando o desejo de mudança. Mas é certo, igualmente, que em múltiplos recantos da sociedade civil e mesmo dentro de diferentes instâncias do Poder Público (federal, estadual e, sobretudo, municipal) se realizam tentativas de criar essa 22


educação, essa outra formação, essa outra gestão, essa outra investigação. Até porque na perspectiva de tal contexto, e como reação à discriminação e à exclusão social, tem-se desenvolvido no país, uma cultura de resistência, alimentada pelos interesses e necessidades da vida dos oprimidos, expressando o esforço dos excluídos (trabalhadores sem terra, negros, populações indígenas, outros movimentos sociais) por assegurar seus espaços. A cultura da libertação dos setores dominados tem feito romper com o paradigma da resistência e do ajustamento forçado, e avançar na criação de uma nova consciência de libertação, na convicção de serem novos sujeitos da história, na construção de um projeto alternativo de uma nova sociedade. Aos educadores brasileiros, de maneira particular, cumpre entender essa realidade social, porquanto

o

entendimento

será

capaz

de

alimentar

projetos

de

reconstrução. Os educadores precisam conhecer de perto, e a fundo, a realidade social e entrar em comunhão, porquanto o ato de conhecer representa o caminho para a compreensão de uma realidade cotidiana, gerando efeitos e desdobramentos difíceis que exige olhar meticuloso e delicado, e que permite realizar a conversão do conhecimento em ação. Essa conversão e reconversão têm caráter epistêmico: a práxis do educador é esse movimento dialético entre a conversão do conhecimento em ação transformadora, e a conversão da ação transformadora em conhecimento. E isso em boa medida vem acontecendo. É oportuno, então, abrir espaços no meio acadêmico para permitir que essas novas propostas venham a público de forma sistemática e, ao virem, possam ser conhecidas, valorizadas e analisadas. Se a busca de uma nova consciência e de novos caminhos só pode acontecer a partir de uma mudança profunda de cada membro da sociedade, que tem direito a uma convivência feliz e à cidadania, a nova sociedade somente pode ser construída como resultado da atuação histórica dos cidadãos. É preciso, portanto, recriar e multiplicar os espaços do cidadão, ampliando sua participação na vida social, tendo os processos educativos como estratégia iniludível. Alguns dilemas atuais precisam ser superados no processo de uma educação transformadora. Se, de um lado escola, família, grupos sociais, meios de comunicação, são instâncias sociais que cumprem a função reprodutora da comunidade social, os desafios da mudança social geram um complexo e dialético processo de socialização que 23


a escola se propõe cumprir: a ela é delegada a responsabilidade básica de preparar as gerações para sua incorporação na vida social e no mundo do trabalho. Sabemos que o significado de tal preparação traz discrepâncias enormes. Como promover a igualdade de oportunidades, como respeitar as diferenças sociais dos indivíduos? A construção da cidadania não pode consistir num conceito: tem que se concretizar na realidade vivencial dos sujeitos. Estes, por sua vez, precisam ser educados na formação de novos valores e princípios, inspirados na construção social coletiva, na solidariedade e na participação. O verdadeiro sentido da real educação é a agregação de valores humanos frente à história de cada um.

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