Manejo Arteterapêutico no Pré-Operatório em Pediatria

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Manejo Arteterapêutico No Pré-Operatório Em Pediatria

[GPEC – Educação a Distância] | [Sonia Branco] [ Módulo 1 ] Layout: Janaína Corrêa Martino Bernaola


Módulo 1 Linguagem dos Materiais Plásticos – Pintura

MANEJO ARTETERAPÊUTICO NO PRÉ-OPERATÓRIO EM PEDIATRIA Ana Cláudia Afonso Valladares1 INTRODUÇÃO “Em todas as idades, o brincar é realizado por puro prazer e diversão e cria uma atitude alegre em relação à vida e à aprendizagem” (MOYLES, 2002, p.21). As atividades lúdicas e criativas são essenciais e autênticas para a vida da criança. Significam um meio de expressão e de comunicação. Permitem mostrar toda espontaneidade da criança e não ocultam seus verdadeiros sentimentos. “Brincar é meio de expressão, é forma de integrar-se ao ambiente que o cerca. Através das atividades lúdicas a criança assimila valores, adquire comportamentos, desenvolve diversas áreas de conhecimento, exercita-se fisicamente e aprimora habilidades motoras” (SANTOS, 1997, p.56). As situações conflitantes e complexas vivenciadas na infância necessitam ser transformadas. É sabido que o período pré-operatório constitui-se de uma experiência estressante e traumática para a criança; por lidar com experiências dolorosas, pelo medo da morte e da anestesia; e pela ameaça de alteração da imagem corporal. Desta forma, este período constituir-se-à um transtorno na vida da criança que podem afetar tanto o lado orgânico, quanto o psíquico, acarretando distúrbios comportamentais diversos, como distúrbio de sono, de comportamento, de apetite entre outros. No ambiente hospitalar é provável que a criança experimente mais dificuldades em se expressar do que na sua rotina diária (em casa ou na escola), em decorrência dos constrangimentos temporais e interpessoais advindos com o processo cirúrgico. Isso levantaria fantasias e idéias aterrorizantes, a ansiedade e à diminuição da autoconfiança e da auto-estima, dificultando, assim, a aceitação do tratamento hospitalar e de seu restabelecimento. Toda criança, especialmente às que vão ser submetidas a um processo cirúrgico, tem a necessidade de se expressar, de criar, de estabelecer relações com o mundo. E a utilização da arteterapia favorece a criança nestes aspectos, além de afastá-la do desagradável, da dor, da ansiedade, da monotonia, propiciando a exteriorização de impulsos agressivos, medos e temores; transformando seus significados. Ademais, a arteterapia motiva a criança para exercitar sua criatividade de forma natural. A arteterapia, então, oferece oportunidades que levam a criança a aceitar com mais naturalidade as situações indesejáveis, auxiliando-a a se adaptar melhor às rotinas hospitalares do pré-operatório e a restabelecer o equilíbrio emocional. Ao trabalhar com as modalidades expressivas (desenho, pintura, modelagem, dramatização entre outras) gera um processo de organização do real e de sua criação, sendo, ao mesmo tempo, algo estruturante e expressivo, implicando na transformação de significados. 2


O processo arteterapêutico inicia-se com um contrato de trabalho, para determinar as condições de funcionamento, como cronograma a ser agendado com a pessoa (período, dia, horário etc); quais as modalidades de atendimento a serem trabalhados (individual ou grupal); e esclarecimento de dúvidas sobre o processo em si. Posteriormente, faz-se o atendimento inicial: iniciando-se as sessões com atividades de aquecimento libertadoras de tensões com o intuito de criar um clima permissivo e alegre, através de atividades de relaxamento, técnicas de respiração adequadas, meditação, movimentos corporais espontâneos e conscientes, improvisação sonora, imaginação ativa ou de jogos e brincadeiras. Nos atendimentos, durante as sessões, são trabalhadas as modalidades artísticas. Cada modalidade tem propriedades terapêuticas inerentes e específicas e cabe ao profissional da arteterapia construir um repertório de informações adequadas a cada uma. Não existe um roteiro pré-definido de atividades em arteterapia para as crianças no período pré-operatório, pois, as atividades vão se adequar conforme as necessidades, os interesses, o nível de desenvolvimento e quadros clínicos a serem atendidos. No final de cada sessão, faz-se um fechamento e avaliação da mesma pelo compartilhar dos sentimentos, trabalhando-se as funções do pensamento, das emoções e da percepção individual, do outro e do grupo. Os grupos de atendimento no ambiente hospitalar podem ser realizados de forma individual no leito/enfermaria; individual em um espaço terapêutico; coletiva composta somente por crianças ou grupos mistos (criança e acompanhante/profissionais) entre outros. A criança, diferentemente do adulto, se expressa melhor pela linguagem não-verbal. Ela pinta, dramatiza e constrói para falar, para expressar e para realizar seus desejos; e, ao mesmo tempo, os trabalhos falam por elas. Quando a pintura flui, fluem ali, emoções e sentimentos, expressados. A esfera afetivo emocional está mais abrangente, pois as pinceladas lembram o fluxo respiratório, a vida. As tintas geralmente utilizadas são: guache, aquarela, anilina, óleo, acrílica e nanquim. A tinta guache exige maior controle de movimentos, libera emoções e incentiva a imaginação. Quanto mais densa, mas controle dependerá. A aquarela, devido a sua leveza, e o uso obrigatório da água, mobiliza ainda mais o lado afetivo. Indicada para pessoas muito racionais e com dificuldade afetiva. Contra indicada para deprimidos. Devido a dificuldade de fazer figuras por ser muito aguda, a anilina é ótima para pessoas que tem medo de perder o controle das coisas. Exige mais controle dos braços no traçado. A tinta óleo, é recomendada para pessoas com depressão, pois possibilita maior equilíbrio da situação. O nanquim, quando puro é de fácil controle, mas exige agilidade e sensibilidade. Quando usado com água, é mais fluída, exigindo muito mais habilidade, atenção e concentração. Quanto mais expressão, mais auto conhecimento e mais autoconfiança. A pintura, assim como o desenho, pode ser livre, de cópia, ou dirigida. 3


Com a pintura, trabalha-se a estruturação e a área afetiva emocional, chegando ao equilíbrio das emoções. E quanto mais diluída for a tinta, mais emocional é o resultado. Pintura Sylvio Le Sueur

O pintar é uma modalidade artística que nos remete a inúmeras emoções, de acordo com as escolhas que fazemos: • Tela ou Painel, tamanho, textura... • Tintas: óleo, acrílico... • Papéis especiais para pintura com aquarela, guache, crayon, pastel... • Pincéis variados, espátulas, lápis, limpa tipos, esfuminhos... • Secantes, fixadores, óleo de linhaça... • Materiais de limpeza, iluminação, ventilação... Cada modalidade de pintura/desenho favorece essa ou aquela criatividade e mesmo um fluir de emoções que acompanham cada traço, pincelada, escolha de cores, conforme a inspiração e estado de alma neste momento. Embora não exista preocupação na Arteterapia com a estética, a beleza artística – certamente, embora em segundo plano -, não pode ser desprezada porque, ao utilizar materiais artísticos, o arteterapeuta precisa transmitir pelo menos algumas técnicas básicas para que os assistidos consigam elaborar suas produções expressivas, passando para as telas ou papéis suas inspirações. Escolha de cores, traços rápidos ou lentos, fazer e desfazer, agitação ou calma, alegria e frustrações, ocupação espacial, personagens e figuras de fundo... nada é desprovido de importância na criação artística. Certamente que o ambiente físico e o ambiente psicológico oferecido pelo Arteterapeuta e entre os assistidos irão influenciar de forma sensível as produções em uma Oficina / Atelier. Pintar com os dedos favorecem contatos diretos com os objetos de arte e também o desenvolvimento de qualidades táteis e sinestésicas. UNIVERSO JUNGUIANO E ARTETERAPIA Por Ângela Philippini Desde tempos imemoriais as manifestações artísticas são o documentário psíquico da coletividade e simultaneamente as representações da singularidade dos indivíduos. Já no século 5 A.C. existem registros da Arte sendo usada na Grécia, como um recurso terapêutico para promoção, manutenção e recuperação da saúde. Desde aquela época a arte era considerada como reveladora, transformadora e colaboradora na construção de seres mais criativos e saudáveis. No Brasil, em 2008, a arte como instrumento terapêutico ainda é vista por segmentos 4


mais conservadores com reservas. Mas, dentro do universo junguiano sempre esteve presente pois é prática rotineiramente incluída entre as estratégias terapêuticas daqueles que trabalham com esta abordagem. A abordagem junguiana parte da premissa que os indivíduos, no curso natural de suas vidas, em seus processos de autoconhecimento e transformação, são orientados por símbolos. Estes emanam do SELF, centro de saúde, equilíbrio e harmonia, representando para cada um o potencial mais pleno, a totalidade da psique, a essência de cada um. Na vida, o self através de seus símbolos, precisa ser reconhecido, compreendido e respeitado. Em Arteterapia com abordagem Junguiana, o caminho será fornecer suportes materiais adequados para que a energia psíquica plasme símbolos em criações diversas. Estas produções simbólicas retratam a psique em múltiplos estágios, ativando e realizando a comunicação entre INCONSCIENTE e EGO. Este processo colabora para a compreensão e resolução de estados afetivos conflituados, favorecendo a estruturação a expansão da personalidade através da criação. Estes símbolos, presentes nas criações plásticas, poderão estar também presentes nas imagens oníricas e até mesmo no próprio corpo, através de alterações no funcionamento do organismo, gerando as chamadas “doenças criativas”que indicam a urgente necessidade de reflexão e transformação de padrões de funcionamento psíquico. A função do arteterapeuta, neste contexto, será a de um facilitador do processo, trazendo ao espaço terapêutico múltiplos matérias, para adequar-se à produção de cada indivíduo. O espectro destes materiais expressivos, abrange inúmeras possibilidades, pois procura atender à singularidade de quem cria,funcionando como instrumentos para estimular a criatividade, e posteriormente desbloquear e trazer a consciência informações guardadas na sombra. Estas informações representam o lado obscuro, e desconhecido ou reprimido da psique humana, que quando é trazido à consciência através do processo terapêutico contribui para a expansão de toda a estrutura psíquica. Assim, através dos materiais para desenhar, das tintas, dos materiais para colagens, das variadas formas de modelagem, dos fios para tecelagem, dos papéis para dobradura, da confecção de máscaras, da criação de personagens, das miniaturas no tabuleiro de areia, de materiais naturais como folhas, flores, sementes, cascas de arvores ou da aproximação e experimentação com elementos vitais como a água, o ar, a terra e o fogo e inúmeras outras

MANEJO ARTETERAPÊUTICO NO PRÉ-OPERATÓRIO EM PEDIATRIA Ana Cláudia Afonso Valladares1 … Pintura: “A pintura possui o seu próprio valor terapêutico especial. Quando a pintura flui amiúde o mesmo ocorre com a emoção” (Okalander apud VALLADARES, 2000/2001). A fluidez da tinta com a sua função liberadora induziu o movimento de soltura, de expansão, trabalhando o relaxamento dos mecanismos defensivos de controle. As cores quentes (amarelo, vermelho) ativas e dinâmicas aceleraram o metabolismo, enquanto que as cores frias (verde, azul) com a característica balsâmica, acalmaram, lentificaram. Foram feitas representações do hospital de forma real e ideal e sua evolução; utilizou-se, como instrumentos da pintura, materiais hospitalares como: equipos, escalpes sem agulhas, algodão, frascos de soro, seringas plásticas, garrote, máscaras de isolamento hospitalar. Foram realizadas pinturas faciais e corporais com tintas não tóxicas.

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Outros materiais utilizados: cola colorida, guache, suportes diversos tipo: papĂŠis, tecidos e madeira.

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