Como Tornar Eficaz e Produtiva as Reuniões de Pais e Mestres

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GPEC – Educação a Distância [Escolha a data]

MÓDULO 1

REUNIÃO DE PAIS E MESTRES

Nelson Pascarelli Filho |Curso: Gestão Educacional e Prática Pedagógica


Como Tornar Eficaz e Produtiva as Reuniões de Pais e Mestres. Nelson Pascarelli Filho

"Os filhos tornam-se para os pais, segundo a educação que recebem, uma recompensa ou um castigo." (J. Petit Senn)

PARTE PRIMEIRA - FUNDAMENTAÇÃO TEXTO 1 ASPECTOS SOCIOLÓGICOS

“As relações entre escola e família baseiam-se na divisão do trabalho de educação de crianças e jovens, envolvendo expectativas recíprocas. Quando se fala na desejável parceria-escola família e convoca-se a participação dos pais na educação, sobretudo pelo dever de casa como estratégia de promoção do sucesso escolar, não se consideram: as mudanças históricas e a diversidade cultural nos modos de educação e reprodução social; as relações de poder entre estas instituições e seus agentes; a diversidade de arranjos familiares e as desvantagens materiais e culturais de grande parte das famílias; as relações de gênero que estruturam a divisão de trabalho em casa e na escola. A política educacional, o currículo e a prática pedagógica articulam os trabalhos educacionais realizados pela escola e pela família segundo um modelo de família e papel parental ideal e com base nas divisões de sexo e gênero, subordinando a família à escola e sobrecarregando as mães, o que perpetua a iniqüidade de gênero” (“Modos de Educação,Gênero e Relações Escola-Família; Maria Eulina Pessoa de Carvalho.") TEXTO 2 ALGUMAS PREMISSAS PEDAGÓGICAS FUNDAMENTAIS Julio Groppa Aquino

O CONHECIMENTO


Ele é o objeto exclusivo da ação do professor. O âmbito de atuação do professor é o essencialmente pedagógico. Portanto, ater-se a seu campo de conhecimento e suas regras particulares de funcionamento, nunca à moralização dos hábitos, é uma medida fundamental;

A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO É o núcleo do trabalho pedagógico, uma vez que o aluno é o nosso parceiro, co-responsável pelo sucesso escolar portanto. Mas é fundamental que seja preservada a distinção entre os papeis de aluno e de professor. Não se pode esquecer nunca que é dever do professor ensinar, assim como é direito do aluno aprender. Isso nem sempre é claro ainda para o aluno, principalmente aqueles do ensino fundamental, o que não significa que o mesmo deva acontecer conosco; A SALA DE AULA É o contexto privilegiado para o trabalho, o microcosmo concreto onde a educação escolar acontece de fato. É lá também que os conflitos têm de ser administrados, gerenciados. É lá, e apenas lá, que se equacionam os obstáculos, atingindo-se a possível excelência profissional. Portanto, mandar aluno para fora de sala (e, no limite, para fora escola) é um tipo de expediente abominável, que precisa ser abolido urgentemente das práticas escolares brasileiras; O CONTRATO PEDAGÓGICO É o regulador da ação entre os protagonistas. Trata-se da proposta de que as regras de convivência, muitas vezes implícitas, que orientam o funcionamento sala de aula – e daquele campo de conhecimento em particular – precisam ser explicadas e compartilhadas por todos os envolvidos no jogo escolar, mesmo se elas tiverem de ser relembradas (ou até mesmo transformadas) sazonalmente. Portanto, a medida mais profícua é a seguinte: jamais iniciar um curso ou um ano letivo sem que as regras de funcionamento dessa “sala de aula/laboratório” sejam conhecidas, partilhadas e, se possível, negociadas por todos. É à medida que todos se sentem co-responsáveis pelo “código” de regras e condutas comuns que se pode ter parceria, solidariedade, um projeto conjunto e


contínuo – o que, no caso do trabalho pedagógico, é mais do que necessidade, é uma exigência.

TEXTO 3 AS CINCO REGRAS ÉTICAS DO TRABALHO DOCENTE Julio Groppa Aquino Compreensão do aluno-problema como um porta-voz das relações estabelecidas em sala de aula O aluno-problema não é necessariamente portador de um “distúrbio” individual e de véspera, mesmo porque o mesmo aluno “deficitário” com certo professor pode ser bastante produtivo com outro. Temos de admitir, a todo custo, que o suposto obstáculo que ele apresenta revela um problema comum, sempre de relação. Vamos investigá-lo, interpretando-o como um sinal dos acontecimentos de sala de aula. Escuta: eis uma prática intransferível! Des-idealizacão do perfil de aluno. Abandonemos a imagem do aluno ideal, de como ele deveria ser, quais hábitos deveria cultivar, e conjuguemos nossos esforços ao material humano concreto, os recursos humanos disponíveis. O aluno, tal como ele se apresenta, é aquele que carece (apenas) de nós e de quem nós carecemos, em termos profissionais. Fidelidade ao contrato pedagógico É obrigatório que não abramos mão, sob hipótese alguma, do escopo de nossa ação, do objeto de nosso trabalho, que é apenas um: o conhecimento. É imprescindível que tenhamos clareza de nossas tarefas em sala de aula para que o aluno possa ter clareza também das dele. A visibilidade do aluno quanto a seu papel é diretamente proporcional à do professor quanto ao seu. A ação discente é, de certa forma, reflexo da ação do professor. Portanto, se há fracasso, o fracasso é de todos; e o mesmo com relação ao sucesso escolar. Experimentação de novas estratégias de trabalho.


Precisamos tomar nosso ofício como um campo privilegiado de aprendizagem e liberdade, o que se atinge por meio da investigação de novas possibilidades de atuação profissional. Sala de aula é laboratório pedagógico, sempre! Não é o aluno que não se encaixa ao que nós oferecemos; somos nós que, de certa forma, não nos adequamos às suas possibilidades. Precisamos, então, reinventar os métodos, precisamos reinventar os conteúdos em certa medida, precisamos reinventar nossa relação com eles, para que se possa enfim, atingir a potência plena do trabalho pedagógico. Competência e prazer Elas são as premissas básicas que devem presidir nossa ação em sala de aula. Quando podemos (ou conseguimos) exercer esse ofício magnífico que é a docência com competência e prazer – e, por extensão, com generosidade -, isso se traduz também na maneira como o aluno exercita seu lugar. O resto é sorte. TEXTO 4

“Num mundo que se fala de „mudanças constantes‟, em que „nada será o mesmo‟, em que o volume de informações „dobra a cada 18 meses‟, fica óbvio que ensinar fatos e teorias do passado se torna inútil e até contraproducente. No dia em que os alunos se formarem, mais de dois terços do que aprenderam estarão obsoletos. Sempre teremos problemas novos pela frente. Como devemos enfrentá-los? Isso ninguém ensina.” “Aprendi nas aulas poucas coisas que uso até hoje. Teriam sido mais úteis aulas de culinária, nutrição e primeiros socorros do que latim, trigonometria e teoria dos conjuntos” (Stephen Kanitz)

TEXTO 5 POR QUE AS FAMÍLIAS FRACASSAM? JOHN BOWLBY  

Grupo familiar natural não estabelecido: ilegitimidade. Grupo familiar intacto, mas sem funcionar eficazmente:


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Condições econômicas que levam ao desemprego do arrimo da família, resultando em situação de miséria; Doença crônica ou incapacidade de um dos pais; Instabilidade ou desequilíbrio mental de um dos pais.

Grupo familiar natural dissolvido e, portanto, não funcionando:        

calamidade social: guerra, fome; morte de um dos pais; enfermidade de um dos pais, com necessidade de hospitalização; prisão de um dos pais; abandono por um ou ambos os pais; separação ou divórcio; pai trabalhando em outra localidade; mãe trabalhando em horário integral.

Causas do fracasso dos parentes como pais substitutos:     

parentes mortos, idosos ou doentes; parentes que moram longe; parentes que não podem ajudar por motivos econômicos; parentes que não querem ajudar; os pais nunca tiveram parentes (ou seja, foram criados numa série de lares substitutos ou instituições desde os primeiros anos).

TEXTO 6 A FINALIDADE DA FAMÍLIA

JOHN BOWLBY Fica evidente, assim, como as crianças que sofreram privação afetiva tornam-se pais incapazes de cuidar de seus filhos, e como os pais incapazes são comumente indivíduos que sofreram privação em sua infância. Este círculo vicioso é o aspecto mias sério do problema. É óbvio que as provas de que péssimos lares são, freqüentemente melhores do que ótimas instituições, estão longe de serem conclusivas e, em todo caso, tudo vai depender da qualidade relativa do lar e da instituição. De qualquer forma, isto serve para lembrar que pode existir algo pior do que um lar insatisfatório: a inexistência de um lar.


PARTE SEGUNDA – PRÁTICA PEDAGÓGICA

LEMBRAR SEMPRE!      

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Na RPM você é a escola. Relembre o contrato pedagógico e faça pequenos ajustes, se necessário. Conquiste o grupo de professores. A escola matricula famílias. Procure saber algo mais sobre o contexto familiar em que estão inseridos seus alunos. A relação professor-aluno passou por profundas alterações nos últimos 20 anos e transformou-se numa relação de prestador de serviços/ cliente. Mas ainda há espaço para a afetividade. Documente-se e apresente fatos na RPM. Evite interpretações sobre os fatos e elucubrações. Seja objetivo. Demonstre com fatos o que você fez para mudar o comportamento inadequado do educando. Duas dicas: “o ótimo é inimigo do bom e não se apaga fogo com gasolina” Não generalize! Pode ser a metodologia de ensino da escola seja inadequada para o perfil psicológico de diversos alunos. O aluno pode ter comportamentos adequados e bom rendimento em outras atividades que realiza: espanhol, inglês, informática, natação etc. Verifique se suas queixas são globais ou específicas. Os demais professores também têm queixas do aluno? São da mesma natureza? Escute seu aluno. Pergunte: o que nós poderíamos fazer para que haja sucesso no seu desempenho? Onde estou acertando e onde estou errando com você? Nunca se queixe da profissão e da escola para seus alunos e nem para os pais. Para isso tem a sala dos professores e as colônias de férias. Nunca saia da postura de professor. Se você for afrontado pelos pais prefira, inicialmente, o silêncio, e, ao final, pontue:

1. “compreendo sua irritação, mas não se sinta culpado, nós sabemos que são tempos difíceis para se criar filhos, gostaria que fôssemos parceiros na resolução desse nosso impasse. Se estou lecionando nesta escola é porque, assim como meus colegas sou ótimo profissional”. 2. “Eu tenho ótima relação com a classe; seu filho tem dificuldades de relacionamento com os colegas e com os demais professores. Isto preocupa-me muito, porque a sociedade poderá rejeitá-lo.” Nos últimos 20 anos a família delegou para a escola a formação básica do


educando. Pais trabalham muito e ficam pouco tempo com seus filhos, cerca de duas horas por dia! 

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Inclua no conteúdo programático aulas de boas maneiras, mediação de problemas e convívio social. Faça dinâmicas de grupo e teatro com estes temas. Motive os colegas para fazerem o mesmo. Evite culpar os pais, pais ausentes é um reflexo econômico do país. Evite ironias: “depois que conheci seus pais entendi porque você é assim” (Mesmo que seja a mais pura realidade). Ironias agravam os conflitos na tão delicada relação professor-aluno. Em situações extremas (violência, drogas, furtos) nunca aja sozinho. Se for vítima de violência faça um BO e processe os pais. Jamais perca a dignidade. Não se adapte aos problemas que tiram o prazer de você exercer a docência, evite a “Síndrome do Sapo Cozido”. Se escola não lhe der condições dignas de trabalho, você está no lugar errado fazendo a coisa certa. Demita-se! Lembre-se que profissionais éticos e atualizados sempre encontram ótimos empregos quando usam uma estratégia de marketing adequada e possuem uma ampla network (aprenda a fazer uma!). Apresente dados estatísticos mostrando o desempenho do grupo e do aluno em questão. Não use isto como arma ou para humilhar o aluno diante do pai. Diga estou empenhando-me para que seu filho atinja o rendimento médio do grupo. Seja honesto nas avaliações e na correção delas. Cuidado: Avaliações tendenciosas, injustas e usadas como disciplinadoras voltam-se contra o próprio professor. Lembre-se que o processo educativo é lento, gradual e os alunos podem ser comparados com frutas que têm amadurecimentos em tempos diferentes. Elogie o que tem que ser elogiado e pontue os aspectos comportamentais que devem ser mudados. Exemplo: “seu filho é pontual e tem muitos amigos, mas ele dorme nas aulas”. Não faça terrorismo com o aluno que o aborrece: “na RPM seus pais saberão quem você é!” Pais de alunos muito problemáticos dificilmente comparecem na RPM; Alguns alunos “terríveis” geralmente são: inteligentes, superdotados, hiperativos, líderes natos, eminências pardas, têm grande poder de convencimento e tornam-se bem sucedidos no mercado de trabalho. Há exceções: medíocres, perversos e imbecis estão em toda parte, aprenda a se proteger deles! Não projete suas frustrações pessoais nos alunos. Re-avalie suas opções profissionais e o que dá sentido para sua vida. Alunos facilmente reconhecem educadores mal resolvidos e apontam cruelmente para o grupo esta indigesta condição. Se você não concorda com a metodologia de trabalho de sua escola e suas sugestões nunca foram levadas a sério, é hora de procurar outro


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emprego: “uma andorinha não faz verão e ponta de lança morre primeiro” Não aumente os desafios inerentes à profissão, preserve seu ambiente de trabalho. Evite diante dos pais comentar questões familiares delicadas, como a separação conjugal, a nova união, luto, entre outras. Você pode não dar conta da situação que irá desencadear. Compareça na RPM adequadamente vestido, seja sóbrio e preciso, faça um relatório com antecedência, não improvise. Avise a coordenação pedagógica das dificuldades que você enfrenta ao lidar com pais de alunos. Não falte e não fuja do “confronto”, lembre-se que as chances de você sair fortalecido são bem maiores que o contrário!

CONSIDERE!

“Não posso ter projetos pelos outros, nem pelos meus alunos nem mesmo pelos meus filhos, não posso sobrepor meus desejos ou projetos aos de quem quer que seja, sou igual a todos no que tange a minha dignidade como pessoa” (Nilson José Machado – Educação, Projetos e Valores) Para saber mais Livros:  

Do Cotidiano Escolar: Ensaios Sobre a Ética e Seus Avessos. Julio Groppa Aquino. Summus. 2000. Formação e Rompimento de Vínculos Afetivos. John Bowlby. Martins Fontes. 2006.

Filmes:  

A maçã. Samira Makhmalbaf. França/Irã. 1998. Central do Brasil. Walter Salles. Brasil. 1998.


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