World Built Environment Forum

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ID: 75322247

06-06-2018 | Imobiliário

Meio: Imprensa

Pág: 8

País: Portugal

Cores: Cor

Period.: Semanal

Área: 25,70 x 31,00 cm²

Âmbito: Economia, Negócios e.

Corte: 1 de 1

World Built Environment Forum: os desafios das cidades de amanhã

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Eric van Leuven

*RICS – Royal Institution of Chartered Surveyors, é uma organização global de profissionais do imobiliário, que promove e faz cumprir os mais elevados padrões e normas profissionais na promoção e gestão de terrenos, construção e infraestruturas. RICS tem cerca de 140.000 membros no mundo, entre os quais mais de 100 em Portugal.

á dias tive o privilégio de participar no World Built Environment Forum organizado pelo RICS*. Esta terceira edição do certame anual, que coincidiu também com o 150º aniversário da organização, decorreu em Londres; as anteriores tiveram lugar em Washington e Xangai e a edição de 2019 será em Nova Iorque. O WBEF juntou 1.200 participantes que debateram durante dois dias os grandes temas da construção e do imobiliário. Tratou-se de um evento de cariz verdadeiramente global, com participantes de 40 países diferentes, entre os quais centenas de delegados oriundos da China, e também muitos do Médio Oriente, dos EUA e de todos os países europeus. Foi consensual que o grande tema da atualidade é a galopante urbanização global, tendo em conta a estimativa de que mais de 80% da população mundial habitará em cidades até ao final deste século, já apelidado de “Século da Metrópole”. Cidades como Tóquio, São Paulo, Lagos ou Cairo terão mais de 30 milhões de habitantes e serão autênticos miniestados, com um peso económico superior ao de muitos países. No entanto, como referiu Greg Clark, um dos maiores especialistas em matéria de cidades e urbanização, “as nossas cidades de hoje são o resultado das ideias de ontem sobre o amanhã” - estando mal preparadas para os desafios enormes que o processo de urbanização coloca, no que respeita a infraestruturas, habitação e transportes, bem como a nível social. O desafio das grandes cidades é assim criar as condições para que habitantes e empresas consigam viver e desenvolver-se nelas, de forma digna e sustentada. Para o conseguir, a densificação do tecido urbano será inevitável, cabendo aos urbanistas encontrar um equilíbrio entre construção em altura e qualidade de vida ao nível do solo. Acresce que, enquanto as anteriores gerações se deslocavam para onde existia emprego, os Millennials e a Geração Z de hoje procuram morar onde haja oferta cultural e social - ecossistemas que lhes permitam explorar, aprender e socializar. Nota-se assim uma mudança de paradigma em que, na “guerra pelo talento”, as empresas se estabelecem onde existe oferta de recursos. Assistimos aliás a este fenómeno em Lisboa, onde é notória a deslocalização das empresas da periferia para zonas mais centrais da cidade.

Porém, em Lisboa, o fenómeno de a cidade ser o polo de atração de talento só se verifica em parte, na medida em que muitos jovens são empurrados para a periferia devido ao custo proibitivo do imobiliário. Para combater este processo, o estado central e a autarquia têm um papel crucial no sentido de proporcionar habitação a preços controlados. No WBEF, no debate entre várias vicepresidentes de câmaras municipais (por sinal todas mulheres), a representante de Viena expôs que 62% dos moradores da cidade vive em habitação social ou apoiada, e em Singapura este número chega quase aos 80%! A vice-presidente da Câmara Municipal de Viena admitiu que esta conquista não é recente, pois a cidade tem uma política ativa de apoio à habitação desde 1922. Também a pressão sobre outros recursos das cidades não para de aumentar, nomeadamente o ar, cuja qualidade é muito seriamente afetada pelos níveis de poluição causada pela emissão de CO2. A mobilidade sustentável está por isso na agenda de todas as cidades. A vicepresidente da Câmara de Londres referiu que na recém-apresentada “Agenda da Conetividade” da cidade, a saúde assume uma posição central na politica de transportes, procurando incentivar os utentes da cidade a andar mais a pé. A ambição é aumentar as deslocações a pé dos atuais 62% (do total de 27 milhões de deslocações por dia que se estima terem lugar em Londres!) para 80%. Os transportes públicos são outra

aposta óbvia para tentar diminuir a poluição, e neste campo a resposta da cidade de Viena foi a disponibilização de um passe para todos os transportes públicos na cidade, pelo valor de €365 por ano. O transporte privado tenderá a ser elétrico, e o key note speaker da conferência, J B Straubel, cofundador da Tesla e o seu Chief Technical Officer, não tem dúvidas de que no futuro os veículos, para além de elétricos, serão todos autónomos (e na maioria partilhados). Ele afirmou aliás que amanhã os nossos filhos irão considerar a condução por humanos tão perigosa como nós hoje achamos a condução sem cinto de segurança ou a circulação de moto sem capacete. A fascinante (mas ainda breve – não mais de 15 anos) história da Tesla é uma lição sobre inovação e disrupção dos paradigmas vigentes, sendo que a empresa não começou por ambicionar construir automóveis, mas sim ajudar o mundo na transição para um futuro mais sustentável. Aliás, para além de carros elétricos, a Tesla produz minicentrais fotovoltaicas para “uso caseiro”, cujas baterias permitem o armazenamento e desta forma um elevado nível de autossuficiência elétrica. E está a construir a sua própria Giga Factory no Nevada, que será o maior edifício do mundo na base de emissões zero. Prova-se assim que, com uma boa dose de inovação e persistência, é possível aplicar os princípios da sustentabilidade na construção, um fator crucial para criarmos cidades vivíveis. O conselheiro sénior

do Banco de Inglaterra, Michael Sheren, referiu que, num futuro breve, tanto as empresas como os edifícios que não obedeçam aos princípios da sustentabilidade serão penalizados pelos mercados – e que a crescente digitalização facilita a recolha e disseminação da informação, tornando difícil esconder os factos. Por fim, um painel de grandes investidores internacionais, incluindo Aviva, Benson Elliott, CBRE Global Investors, M&G, Union Investment e outros, representando em conjunto mais de um trilião de dólares sob gestão, debateu os riscos associados a três oportunidades hipotéticas de investimento, e concluiu que preferiria investir em Seattle (cidade tecnológica e com excelente qualidade de vida) em detrimento de Londres (demasiado cara e com imprevisibilidade causada pelo Brexit) e de Singapura (demasiado exposta a riscos climáticos). Os dois dias de debate que o World Built Environment Forum proporcionou, com o intuito de ajudar a moldar o futuro da construção e do imobiliário, levantaram tantas perguntas como respostas, mas não sem reforçar a convicção de que, individual e coletivamente, temos a obrigação de atuar e de fazer com que contribuamos para criar habitats sustentáveis e vivíveis para os milhares de milhões de pessoas que moram ou morarão nas cidades. Head of Portugal, Cushman & Wakefield Anterior Presidente, RICS em Portugal


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