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Entrevista: Professor Roberto Vieira desenvolve sistema de comunicação para pacientes traqueostomizados
Por Leonardo Santos
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professor Roberto
OVieira é docente do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e Design - DAUD na Universidade Federal do Ceará (UFC) com mestrado e doutorado em computação. Ele desenvolve projetos voltados para acessibilidades, projetos de inclusão com tecnologias assistivas, atuando através de projetos de pesquisa e extensão.
Um de seus projetos é voltado à produção de fotografias táteis, projeto esse que está sendo desenvolvido em parceria com a secretaria de cultura e arte da UFC. É realizada formação em fotografia para pessoas cegas, onde as fotografias são materializadas em peças táteis. O professor também atua em um projeto em parceria com a Camerata da UFC, onde está sendo desenvolvido um sistema visual-tátil de reação a música, a proposta do projeto é possibilitar uma boa experiência musical para pessoas surdas. Além disso, o professor desenvolve uma série de outros projetos. Em 2019, ajudou a implementar um grupo de tecnologia assistiva da UFC que conta com vários cursos e diversos professores. O objetivo do grupo é ter uma equipe multidisciplinar que colabore com diversos projetos relacionados à tecnologia assistiva.
Em 2020, ele atuou produzindo EPIS para profissionais da saúde e foi durante esse processo que ele pensou em desenvolver um sistema computacional que ajude na comunicação de pacientes traqueostomizadas por causa do covid. Esse projeto então seguiu por fora da universidade e com intuito de saber um pouco mais sobre ele, realizamos essa entrevista.
Fale um pouco sobre seu projeto atual, o que lhe motivou a desenvolvê-lo? Qual o objetivo do projeto?
É um projeto bem recente, ele surgiu em 2020 a partir dos trabalhos na oficina digital de produções de EPI para profissionais de saúde no início da pandemia.
Nesse momento começaram a surgir várias demandas e editais de financiamento, então submetemos para um edital o projeto de uma ferramenta de controle de computador pelo movimento dos olhos, essa ferramenta visa facilitar a comunicação de pacientes traqueostomizados devido ao covid. O projeto não foi aprovado, porém o projeto já estava em desenvolvimento, tínhamos um protótipo. Com a diminuição do número de casos de coronavírus o projeto deu uma pausa, também pela não aprovação no edital, a falta de recursos e bolsistas. Mas em 2021, com o aumento do número de casos e uma parceria com Ítala de Brito Oliveira, do hospital Waldemar de Alcântara, o projeto prosseguiu, (parceria que já havia se firmado desde o início da pandemia com o projeto de distribuição de EPIS). A Ítala é terapeuta ocupacional e desenvolveu interesse neste projeto por trabalhar com pacientes com doenças degenerativas, como esclerose lateral amiotrófica, pacientes esses que perdem gradativamente os movimentos e que em alguns estados só mantêm os movimentos dos olhos. Então,
Testes do programa desenvolvido pelo professo Roberto Vieira (Foto: reprodução)
com o aumento do número de casos covid e a motivação da Ítala, voltamos a trabalhar no protótipo e também decidimos trabalhar com a movimentação de cabeças para pacientes que ainda tenham esse movimento, que é o caso de pacientes traqueostomizados e pacientes em estados não tão avançados da esclerose lateral amiotrófica. Começamos a fazer testes com uma paciente da Ítala, o que nos permitiu avançar nesse protótipo.
Qual objetivo do projeto?
O objetivo é permitir que pacientes impossibilitados de fala e movimentação de membros e braços se comuniquem a partir da movimentação de cabeça e futuramente pela movimentação dos olhos. Por exemplo, pacientes com esclerose chegam no ponto de movimentar apenas os olhos e pacientes com covid estão impossibilitados de falar e estão com a musculatura enfraquecida para movimentar os braços. Muitas vezes a comunicação com paciente com covid em estados avançados se dá por meio de leitura labial. O sistema então facilitaria a comunicação desses pacientes. Como está o processo de desenvolvimento do projeto, quais resultados o projeto já alcançou?
Produzimos os primeiros protótipos em 2020 e os aprimoramos em 2021. Começamos a fazer uma versão para movimento de cabeças e fizemos alguns testes com a paciente da Ítala. Fizemos alguns testes com telas personalizadas, começamos também testes com movimentação do mouse e click do mouse para o controle do windows. Tivemos resultados promissores, a paciente conseguiu escrever com o sistema e movimentar o mouse, mas constatamos alguns pontos para melhoria.
Até então os programas que conhecíamos que realizavam algo semelhante eram caros, mas conseguimos encontrar um que permite o controle do windows a partir da movimentação da cabeça, então passamos a aplicar esse programa. Nesse período nos questionamos se valeria a pena continuar com o projeto, mas então deci-
dimos que iríamos continuar o desenvolvimento do sistema, pois ter uma versão própria tem diversas vantagens, como a personalização para casos específicos. Esse sistema que encontramos faz a movimentação com a cabeça, já o nosso objetivo é também conseguir a movimentação do mouse pelos olhos. No momento, estamos aprimorando o sistema, estamos com uma versão bem avançada que necessita apenas de pequenos ajustes e pretendemos também avançar com a implementação do controle pela movimentação dos olhos.
Quais são as perspectivas do projeto?
A perspectiva é que o sistema quando pronto seja gratuito, disponibilizado pela internet para quem quiser usar. Que ele permita seu uso para movimentação de cabeça e olhos e que tenha diversas possibilidades de personalização. Que seja um sistema que nos permita personalizar os recursos dependendo de cada caso, diferente de um sistema fechado onde não é possível adaptar para casos específicos. A ideia é que esse sistema possa beneficiar uma grande quantidade de pacientes. Quais são foram e quais são os desafios enfrentados no desenvolvimento do projeto?
Um deles é que o projeto não foi aprovado em editais de financiamento, não tivemos como adquirir equipamentos. Por exemplo, para a movimentação dos olhos o ideal é que tenhamos um câmera infravermelho para enxergar um olho com maior precisão. Com a aprovação do edital teríamos recursos para comprar esses equipamentos. Uma outra dificuldade é que não temos bolsistas, então o sistema está sendo desenvolvido no tempo que eu tenho fora aula e outras atribuições.
Telas do sistema (Foto: reprodução)
UFC e o programa Ciência e Inovação em Políticas Públicas, com o Professor Fernando Antunes
Por Paulo Souza
professor Fernan-
Odo Antunes é natural de Cascavel e cursou Engenharia Elétrica na UFC, que na época era voltado para atender à necessidade crescente de engenheiros eletricistas para o estado, principalmente para a COELCE, sendo a base dos professores da parte profissional do curso, também composta de engenheiros da antiga estatal. Ele possui uma grande trajetória dentro da universidade, participando ativamente de vários avanços em cursos e programas no CT. “Ao concluir o curso de Engenharia Elétrica, fui convidado para ser professor colaborador [...] pensei em declinar pois queria ser engenheiro de uma empresa e não professor para “só dar aulas”.”
Alguns destaques de sua influência no curso de Engenharia Elétrica da UFC foram ser coordenador do curso, chefe do Departamento de Engenharia Elétrica – DEE, coordenador do Grupo de Processamento de Energia e Controle (GPEC), bem como parcerias nacionais e internacionais com outras universidades, como a Universidade Federal de Santa Catarina e a alemã TH-Köln, parceria que permanece até hoje. Fora da UFC, o prof. Fernando ocupa a posição de Cientista Chefe em Energia no programa Ciência e Inovação em Políticas Públicas, propondo soluções que busquem a redução do consumo de energia e na transformação do estado do Ceará como grande exportador de Hidrogênio Verde, aproveitando a grande disponibilidade de energia renovável solar e eólica em todo o território estadual.
O programa Ciência e Inovação em Políticas Públicas foi criado pela FUNCAP, sob a gerência do Diretor de Inovação, Prof. Jorge Soares, com a finalidade de incentivar e atuar na interação Academia-Governo-Indústria para fazer frente aos desafios em áreas estratégicas para o Estado como Segurança, Mobilidade, Meio Ambiente, Educação, entre outras. Em acordo com as secretarias do Estado, foram convidados pesquisadores e pesquisadoras, definidos como Cientistas-Chefe para atuarem como catalisadores na interação Academia-Governo-Indústria. “Ao Cientista-Chefe, cabe melhorar a interlocução entre administradores públicos, universidades e agências de fomento, promovendo um caminho para tornar o estado mais eficiente e formular demandas em termos precisos.”
“Fazer parte da equipe de cientistas chefes é uma grande responsabilidade, mas ao mesmo tempo traz prazer e alegria, por fazer parte de uma equipe cujo objetivo é a redução das desigualdades em nosso estado.
Fernando Antunes, professor e ex-coordenador do curso de Engenharia Elétrica.
A relação com a UFC é muito intensa, pois dos 18 Cientistas Chefes do programa, cerca de 16 são professores da universidade. Com o governo do
Programa Cientista-Chefe do Governo do Estado do Ceará. (Foto: divulgação)
Estado, o programa mostrou sua importância em vários aspectos, desde o uso da ciência biológica/sanitária à ciência de dados, para determinar os dois períodos de toque de recolher no estado devido à crescente infecção por parte do coronavírus, como também na redução da criminalidade através de estudos científicos de zonas do estado com maior incidência de crimes e nos processos avaliativos das políticas públicas do Estado em todos os níveis. “No caso específico da energia, o programa tem tido participação essencial nos estudos para transformação do estado do Ceará em um “hub” de Hidrogênio Verde, aproveitando o potencial disponível das energias solar e eólica (on-shore e off-shore) no Estado.” Atualmente, o programa tem como foco alguns objetivos, como a eficientização e monitoramento de consumo das utilidades (energia elétrica, água, telecomunicações e gás) dos prédios públicos da administração do Estado, visando uma potencial economia. Outro objetivo é produzir estudos preliminares para nortear o Estado nas oportunidades tecnológicas de desenvolvimento da mobilidade elétrica no mundo, priorizando tecnologias ligadas aos veículos elétricos, bem como auxiliar a administração do estado, através de cursos e parcerias internas e externas, como forma de permitir uma maior penetração das fontes renováveis. Um último destaque vai para o desenvolvimento sustentável do mercado de Hidrogênio Verde no Ceará. O Hidrogênio Verde (HV) tem sido a alternativa tecnológica encontrada para possibilitar a transferência de energia entre regiões distantes. “Países detentores de tecnologias da cadeia produtiva do HV têm estabelecido programas de cooperação para o desenvolvimento da produção do HV em países e regiões detentores de grandes potenciais de energias renováveis, como no estado do Ceará, que detém condições que seguramente serão atrativos para estabelecer essa parceria em seu território.”