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DIME 5 Anos do Dime na UFC: um histórico do evento
Por Leonardo Santos
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IME, o Dia Internacio-
Dnal da Mulher na Engenharia, começa em 2014, na Inglaterra, a partir de uma campanha nacional da Women’s
Engineering Society. O evento, nos seus três primeiros anos, comemorava o dia da mulher na engenharia, mas foi após o terceiro ano de evento, com o apoio da UNESCO, que o evento passou a ter um caráter internacional. O ano de 2017 foi o primeiro no processo de internacionalização do DIME, instituições de diferentes partes do mundo organizaram a realização do evento e na América
Latina, a Universidade Federal do Ceará (UFC), através do
Centro de Tecnologia, foi a única universidade que sediou.
Na UFC, quem conhecia o evento e viabilizou a sua organização foi a professora Diana Azevedo, engenheira química e vice-diretora do Centro de Tecnologia. Ao saber do evento, ela viu uma oportunidade de construir na universidade um espaço de apoio para as mulheres na engenharia, além de trazer à tona problemáticas importantes de serem debatidas, como o estereótipo de gênero nas profissões que se reflete no baixo número de mulheres nas Engenharias.
Para ela, algo fundamental para organizar o evento aqui na UFC foi a atuação direta dos estudantes na organização do evento, que se construiu através da parceria com dois capítulos estudantis, o AICHE (Instituto Americano de Engenheiros Químicos), da Engenharia Química, e a SPE (Sociedade dos Engenheiros de Petróleo), da Engenharia de Petróleo. Assim, alunos da engenharia estavam na base da construção do evento, afinal são as alunas e os alunos do centro um dos públicos principais. Além do apoio dos capítulos estudantis, o evento também teve o apoio do Núcleo de Orientação Educacional, através da servidora Yangla Oliveira. Por fim, para a concretização do evento, houve a parceria com o professor Carlos Estevão, pois o evento passou a ter uma data reservada em uma das aulas da disciplina de Tecnologia e Sociedade ofertada por ele e, além disso, o docente escolhia um dos assuntos debatidos no DIME como uma das opções para o tema dos trabalhos dos alunos.
Nos três anos que o evento ocorreu de forma presencial, a parceria com a disciplina Tecnologia e Sociedade foi mantida. No evento, a maior parte das convidadas foram ex-alunas, profissionais já estabelecidas e pesquisadoras. Os temas abordados trataram da questão das engenheiras no mercado de trabalho a partir de diferentes perspectivas. A profa. Diana aponta: “O DIME é um momento de celebração e de reflexão, mas é onde outros frutos podem surgir”.
Registros de edições passadas do DIME (Foto: Reprodução)
Diana Azevedo, vice-diretora do Centro de Tecnologia.
Yangla constatou que, à medida que o evento foi se estabelecendo na universidade, foi se construindo um senso de colaboração entre as mulheres, onde as estudantes gradativamente passaram a se sentir representadas por exemplos profissionais. Além disso, com o passar das edições, também foi constatado um aumento do interesse por parte das docentes em colaborar com o evento. Mas, apesar dos bons resultados, a profa. Diana constata que um dos objetivos do evento, alcançar as alunas do ensino médio, ainda não foi atingido, pois atualmente o evento ocorre internamente na UFC e mesmo que aberto à sociedade, há uma dificuldade em conquistar demais públicos.
Com o advento da pandemia, o evento se adaptou, então, em 2020 e 2021, ele ocorreu de forma virtual a partir de plataformas de transmissões. Devido a isso, o evento se desvinculou de sua relação direta com a disciplina “Tecnologia e Sociedade”. Em 2020, o evento aconteceu como uma roda de conversa, onde a professora Diana mediou uma discussão com as profissionais convidadas e estudantes, a partir do grande tema “As Mulheres na Engenharia”. Algo que se percebeu com a realização do evento online foi a possibilidade de alcançar um público maior. Em 2020, o evento chegou a ter mais de 120 espectadores simultâneos, uma quantidade nunca antes alcançada pelo evento enquanto ocorria de forma presencial.
Em 2021, o tema do evento foi “As vivências e as realidades das engenheiras no ambiente acadêmico e profissional”, que ocorreu pela turno da tarde e alcançou um público menor do que o evento de 2020, mas ainda gerou ótimos debates. Yangla aponta um aprendizado a partir da experiência de rea-
lizar o evento de forma virtual: o fato do uso dessas plataformas possibilitar alcançar um outro público. No futuro, quando o evento voltar ao presencial, serão pensadas formas de transmitir o evento ao vivo, buscando assim alcançar uma quantidade ainda maior de pessoas.
Ana Furtado, formada recentemente em Engenharia de Energias Renováveis pela UFC, participou do primeiro DIME como ouvinte, quando realizava a disciplina de Tecnologia e Sociedade e, em 2021, voltou a participar do DIME, só que desta vez como umas das convidadas para falar um pouco sobre seu trabalho de conclusão de curso. Em seu TCC, ela pesquisou sobre os desafios enfrentados pelas mulheres nas Engenharias do Centro de Tecnologia da UFC e conseguiu levantar alguns dados importantes, como também estruturar uma resposta para a seguinte pergunta: Por que há poucas mulheres na engenharia?
Entre os dados que ela levantou, um deles aponta que, em 2019, no ensino superior brasileiro, 57% das matrículas ativas eram femininas, em comparação aos 43% das matrículas masculinas. No entanto, com relação a grande área da engenharia, os dados apontaram apenas 32% das matrículas ativas femininas, em comparação a 68% masculina. Em sua pesquisa, ela realizou um levantamento estatístico com relação a porcentagem feminina em cada curso do Centro de Tecnologia da UFC. No total, os resultados mostraram apenas 25% de matrículas ativas femininas em comparação a 75% masculinas. Em específico, no curso da Engenharia da Computação, o percentual de mulheres chega a 10% em comparação a 90% dos homens. Mas porquê números tão discrepantes?
Em seu trabalho, Ana vai responder essa pergunta a partir de 3 bases: o exército, a ciência e o capitalismo. A primeira justifica-se pelo fato de que, por muito tempo, as ações relacionadas à engenharia, como construção de rodovias, prédios e afins, esteve vinculada ao exército, um órgão que por muito tempo foi um espaço reservado a homens, o que dificultou o acesso das mulheres à engenharia.
A segunda explica-se pela ciência ter um histórico masculinista, o que pode ser percebido no iluminismo, no qual os homens atuavam com papel central na construção das ciências. Além disso, esses homens muitas vezes utilizavam-se de subterfúgios “científicos” para justificar uma superioridade masculina.
A terceira base conecta-se às duas anteriores, no caso, o sistema capitalista que se estrutura a partir de uma minoria que detém o capital, sendo esta composta majoritariamente de homens. Além disso, nos ambientes corporativos, ideias sexistas são compartilhadas, o que repercute muitas vezes em baixos salários para mulheres no mercado de trabalho, além de outras situações. Nesse cenário, as mulheres são muitas vezes influenciadas a exercerem funções já pré-estabelecidas a partir de um estereótipo de gênero, como funções de cuidado (profissões da saúde), ou do ensino (pedagogia e licenciaturas), enquanto profissões das áreas de exatas, por exemplo, são culturalmente reforçadas por estereótipos masculinos.
Essas três bases surgem como uma tentativa de esclarecer essa problemática. Ana aponta inclusive que é necessário um estudo mais aprofundado para se ter uma noção mais sólida sobre o tema. Em sua pesquisa ela também vai abor-
Diagrama referente a porcetagem masculina e feminina nos cursos de engenharia do CT (Foto: Ana Furtado)
Diagrama referente a porcetagem masculina e feminina nos cursos de engenharia do CT (Foto: Ana Furtado)
dar possíveis soluções para essa questão: como tornar o ambiente das engenharias um ambiente mais acolhedor para as mulheres?
Ela vai apontar que iniciativas como o DIME são importantes para a construção de um espaço mais acolhedor, onde as mulheres se sintam representadas. Em sua pesquisa, ela também realizou algumas entrevistas com alunas da engenharia da UFC. Uma delas apontou a importância do DIME em sua jornada acadêmica, pois ela vivenciava uma série de situações em que era inferiorizada por ser mulher, ela acreditava estar exagerando, mas quando foi ao DIME e percebeu que as profissionais também passavam por isso percebeu que o que ela vivenciava na engenharia era algo importante de ser problematizado. Mas, além de eventos para debater esses temas, é necessário haver educação e conscientização da comunidade acadêmica como um todo. É preciso que haja uma mudança estrutural para que cada vez mais mulheres se sintam à vontade em estar em ambientes como o das engenharias.
DIME 5 Anos do Dime na UFC: um histórico do evento