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EXTENSÃO

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PESQUISA

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Entrevista com Clarice Costa, do RAITec

Por Matheus Sampaio

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Durante o semestre de 2022.1 o RAITec, grupo multidisciplinar de Robótica, Automação, Inteligência Artificial e Tecnologias, realizou um processo seletivo para a entrada de novos membros. Conversamos com a estudante Clarice Costa, do curso de Engenharia Elétrica e então coordenadora do setor de Mídias do RAITec, para conhecer mais sobre as atividades do grupo e saber das impressões acerca da volta ao ensino presencial.

O QUE É O RAITEC E QUEM FORMA O GRUPO?

O RAITec é um projeto de extensão que nasceu na Engenharia Elétrica. Somos um grupo multidisciplinar, que aceita pessoas de qualquer curso, a única obrigatoriedade é estar matriculado em um dos cursos da UFC. O RAITec é voltado para soluções na área de robótica, automação, inteligência artificial, e tecnologias. Procuramos inovar e desenvolver pesquisas acerca do que ainda não existe no mercado, porque sabemos que, às vezes, mesmo aqui dentro do ambiente da universidade existem problemas que necessitam de soluções e áreas que, com pesquisa e desenvolvimento, podem ser desenvolvidas. O fato de sermos um grupo multidisciplinar nos ajuda pois permite que tenhamos uma visão expandida, tanto em relação a quais são os nossos objeti-vos, quanto em como a gente vai atingir esses objetivos. Acreditamos que pessoas de diferentes cursos e de diferentes idades pensam de maneira distinta e sabem solucionar problemas de maneira diversa e incomum. Um dos nossos maiores orgulhos é conseguir ver que cada integrante tem uma ideia singular de como resolver a questão e que, durante o processo, conseguimos unir as diferentes visões para levar adiante e solucionar as nossas pesquisas e projetos.

Infelizmente o grupo ainda é muito nichado e a grande maioria dos integrantes é do curso de Engenharia Elétrica, mas aos poucos isso está mudando e, no momento, formam nossa equipe estudantes da Engenharia de Telecomunicações, da Engenharia de Computação e do curso de Matemática Industrial, por exemplo. O grupo possui cerca de vinte integrantes, se tratando dos estudantes de graduação, porém esse número está prestes a dobrar com a realização do atual processo seletivo e do resultado saindo em breve. Além disso, contamos com o apoio de alguns estudantes do mestrado que nos ajudam em alguns processos e dúvidas. Em relação ao corpo docente, contamos com o professor George André Pereira Thé, doutor em Engenharia Eletrônica e de Comunicações e responsável pelo grupo, bem como alguns consultores, que são outros professores engenheiros que auxiliam em alguns aspectos da pesquisa e desenvolvimento.

COMO O GRUPO SE ORGANIZAM E COMO SÃO REALIZADAS AS ATIVIDADES?

Dentro do grupo nos dividimos em três setores principais, que são Mídias, Administração e Inovação. O setor de Mídias, no qual sou a coordenadora, é responsável pela parte visual do grupo, desde a identidade nas redes sociais até a parte de propaganda e apresentação de projetos. Já o setor de Administração cuida da organização interna do grupo, do cumprimento dos objetivos, metas e das horas de realização das atividades. E o setor de Inovação é o responsável pelo desenvolvimento das pesquisas, das análises e coletas de campo e que define quais vão ser os projetos investigados durante o semestre/ano. Além disso possuímos alguns projetos externos que funcionam independente da divisão por setores, para evitarmos

que a pesquisa se limite aos responsáveis pela Inovação. Assim garantimos que nossos projetos tenham a participação de todos os membros e assim conseguimos ter certa pluralidade nas soluções.

Cada setor realiza reuniões semanais e, quinzenalmente, temos uma reunião geral com a presença de integrantes de todos os setores. Além das reuniões de coordenação, apenas com representantes de cada setor, para que se consiga organizar e dividir as atividades, e das reuniões para tratar dos projetos em específicos, apenas com os envolvidos no desenvolvimento daquela pesquisa. Tentamos esquematizar todas nossas atividades e assim facilitar o funcionamento do grupo, considerando a disponibilidade de todos os membros. Por exemplo, já tivemos um integrante do grupo que era estudante de Engenharia de Computação do campus da UFC em Quixadá, então tínhamos que adaptar nossos horários aos dele e realizar atividades online.

PODE CITAR ALGUNS DOS PROJETOS REALIZADOS PELO GRUPO?

Um dos projetos que o RAITec conseguiu iniciar e finalizar foi uma ação do pilar da extensão chamada “Programação nas Escolas”. Tivemos contato com uma escola de ensino técnico e durante cerca de um mês e meio nós realizamos aulas de programação em linguagem C, com o objetivo de repassar esse conteúdo que é necessário para diversos cursos de engenharia, bem como incentivar os alunos a escolherem esses cursos ao ingressarem em uma instituição de ensino superior. Sabemos que, no ensino médio, não se costuma ensinar sobre programação, porém, quando você ingressa na universidade, dependendo do curso, costuma ser uma das disciplinas iniciais. Optamos por adotar um modelo híbrido, com aulas online e presenciais e tivemos um resultado muito proveitoso, com o empenho das turmas em aprender o conteúdo. Além desse, existem os projetos que funcionam como parce-rias entre o RAITec e outros grupos de pesquisa. Através de contato com pesquisadores do mestrado de Fisioterapia, estávamos desenvolvendo uma bicicleta ergométrica para pessoas com dificuldade de locomoção. Eletrodos eram ligados junto ao funcionamento da bicicleta e geravam estímulos no usuário durante o uso, estímulos esses que forneciam dados que podiam ser analisados pelos profissionais. Atualmente a bicicleta está em Santa Catarina, para realização de alguns ajustes. Ademais, também temos alguns projetos que estavam passando pela fase de patenteamento, como, por exemplo, uma tomada inteligente, totalmente desenvolvida pelo RAITec, que se desenergiza ao identificar a presença de uma criança ou PcD, evitando acidentes. Nós também somos responsáveis pela realização e organização do DTec, evento Desafio Tecnológico que costuma acontecer entre os meses de Outubro e Novembro. Durante o evento, voltado para estudantes do ensino médio, acontecem algumas competições, incluindo a de Robô Sumô e a de Robô Seguidor de Linha. Este último, inclusive, é um dos focos de uma de nossas pesquisas, que consistem em algumas pistas e protótipos de robôs construí-

Clarice Costa, integrante do RAITec

(Foto: Matheus Sampaio)

dos pelo grupo, para descobrir melhores aplicações para os mesmos. Este ano, o DTec será presencial, então estamos bem animados e focados para a realização do evento. Alguns outros projetos nossos incluem pesquisas com chatbot e automação residencial, além da montagem do nosso site próprio, desenvolvido totalmente por nós.

COMO O GRUPO FUNCIONOU DURANTE O PERÍODO DE ENSINO REMOTO NA UFC?

Durante a pandemia, em que as atividades presenciais da UFC foram suspensas, foi bem difícil manter as ações do grupo. Para compensar, conseguimos transferir a grande maioria de nossas atividades para o ambiente online, sempre seguindo as normas estabelecidas pela universidade. Adaptamos nosso desenvolvimento para se basear no uso de simuladores e aumentamos a frequência dos encontros com mais reuniões, considerando que o formato remoto permitiu maior flexibilidade nos horários, para assim facilitar a comunicação entre os membros. À medida que tudo foi normalizando a gente foi conseguindo estreitar as relações. Para o meu setor foi um pouco mais fácil porque, como lidamos com as mídias do grupo, trabalhar dentro do ambiente online já fazia parte do nosso cotidiano. Apesar disso, existiram muitas outras dificuldades, considerando que a realidade mudou de uma maneira muito brusca. Por exemplo, não estávamos preparados para o grande aumento de demandas no nosso setor, visto que nos tornamos a principal forma de comunicação, seja do meio externo com os integrantes do grupo e vice-versa, seja a comunicação entre os membros e setores do RAITec. Também realizamos dois processos seletivos enquanto a universidade operava de maneira remota, o que foi um grande desafio mas que conseguimos contornar.

Porém, sem dúvidas, as nossas pesquisas foram o aspecto que mais foi prejudicado. Muitas delas precisaram ser deixadas incompletas pois o ideal é que elas sejam feitas presencialmente e, apesar de contarmos com simuladores que nos auxiliavam nos testes, nem sempre os resultados obtidos eram suficientes, comparado ao que se consegue quando a pesquisa é desenvolvida de forma presencial. Por isso, demos início a vários projetos, mas tivemos que encerrar alguns pois o resultado obtido na simulação, por exemplo, não era suficiente para finalizar as atividades. Agora, com o fim do período de ensino remoto, pelo menos por enquanto, estamos retomando algumas pesquisas que estavam paralisadas, realizando testes e levando-os à campo. Faz dois anos que componho o RAITec, estive no grupo durante os tempos de atividades presenciais, vivenciei o período de atividades remotas e agora estou experienciando o retorno aos encontros no ambiente da universidade, Posso afirmar que, com essa a volta, todos estão mais motivados para dar continuidades aos projetos que estavam em pausa e para iniciar novas pesquisas. Agora que já conhecemos as dificuldades do período remoto, decidimos encarar essa fase como aprendizado e percebo nos integrantes atuais a vontade de voltar a produzir e nos novos trainees, que estão em meio ao processo seletivo, já vejo o brilho nos olhos e o desejo de colocar a mão na massa.

COMO FOI SUA EXPERIÊNCIA NO ENSINO REMOTO E COMO O RAITEC É IMPORTANTE PRA VOCÊ?

Eu integro o RAITec desde meu primeiro semestre da graduação. Quando se iniciou o ensino remoto eu estava no período de trainee e, durante o ano seguinte, me efetivei e, em seguida, fui de membro à coordenadora, onde liderei e assumi alguns projetos. Foram muitas mudanças em um curto período de tempo e, agora voltando às atividades presenciais, é bem difícil retornar ao trabalho, tanto porque alguns dos membros que eu já costumava trabalhar acabaram deixando o grupo, quanto pelo distanciamento com os membros que, até então, eu só tinha trabalho remotamente, visto que só agora estamos conseguindo nos conectar enquanto grupo e entendendo o fluxo de trabalho de todos. O RAITec, para mim, significa muito aprendizado, considerando que eu consegui evoluir muito dentro do grupo. Não consigo imaginar o que seria da minha graduação se não fosse as minhas experiên-cias vividas dentro do grupo. Existem muitas diferenças entre quem eu era antes de entrar no grupo e quem eu sou agora, pois integrar o RAITec me ensinou desde assumir responsabilidades a lidar com liderança e com frustrações.

Acredito que é essencial para um estudante de graduação participar, em algum momento, de um projeto de extensão, porque, em meu caso, estar no grupo me ajudou a entender em que área da Engenharia Elétrica eu pretendo atuar ou que objetos de pesquisa me interessam, por exemplo, além do sentimento de pertencimento e dos laços que se criam entre a equipe.

QUAIS OS DESAFIOS ENCONTRADOS PELO GRUPO E A IMPORT NCIA DELE?

Uma das nossas dificuldades, que ao mesmo tempo é algo que prezamos muito, é trabalhar com pessoas de diferentes cursos, porque, em alguns momentos, é difícil alinhar as diferentes visões e realida-des, bem como conciliar os horários dos membros. Além disso, a falta de investimento é algo que nos afeta enquanto grupo de extensão, pois nosso financiamento deve partir integralmente da universidade. Por conseguinte, costuma-mos não ter investimento para realizarmos nossas pesquisas práticas, ou os laboratórios não estarem adequados para nossa necessidade. Ademais, como trabalhamos com soluções, lidar com frustrações também é algo que precisamos aprender enquanto grupo. Muitas vezes, realizamos nossa pesquisa do zero, o que demanda muito tempo e dedicação, então é comum, durante o desenvolvimento, encontrarmos problemas que acabam desmotivando os membros. Por isso, nós da coordenação temos o compromisso de estar sempre incentivando o grupo e lembrando que os erros fazem parte, sempre tendo em mente o resultado e mudança que aquele projeto vai trazer no final da pesquisa.

Acreditamos que o grupo tem grande impacto e relevância dentro da UFC, no ambiente acadêmico. Tentamos man-ter contato com as empresas juniores, os PETs e os outros projetos de extensão e conseguimos perceber como o RAITec tem influência sobre os demais. Somos um grupo relativamente novo, com menos de 10 anos de atuação, e já temos várias conquistas em nossa história. Conseguimos desenvolver diversas pesquisas e temos diversos materiais sendo patenteados, o que é o que é muito importante. Além disso, já temos membros que conseguiram intercâmbio e atingiram duplo diploma e, com certeza, o RAITec foi uma parte importante na caminhada deles. Como projeto, ainda temos muito a crescer e acreditamos que nossas pequenas conquistas, como por exemplo, o direito de uso sala que nos reunimos ou camisas uniformizadas que conseguimos, significam muito para nosso crescimento. É muito gratificante ver que o que nós pesquisamos e desenvolvemos, no fim vai ter impacto na vida de outras pessoas, seja alunos de ensino médio, seja nos grupos que são foco das soluções, e isso nos motiva a continuar nossas atividades.

E PRA QUEM QUISER FAZER PARTE DO RAITEC?

Nosso processo seletivo costuma ter entre três e quatro etapas. A primeira parte é a fase da entrega da documentação; a segunda e a terceira etapa costumam ser dinâmicas em grupo; e a quarta parte do processo são as entrevistas individuais. Logo após o processo seletivo, os aprovados passam por um período como trainee antes da efetivação. Nesse último processo realizamos uma dinâmica presencial e outra online, bem como o período trainee que está funcionando de forma híbrida, pois estamos tentando adaptar o que aprendemos durante a pandemia e aplicar em nossa nova realidade e, assim, nos sentirmos preparados para o que vier pela frente. Quem se interessar pelo RAITec e quiser fazer parte da equipe, fica ligado nos próximos processos seletivos e venha pronto para se divertir, para crescer enquanto estudante e pesquisador e para encarar desafios.

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