DEZFACES 2

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Adriana Versiani Alexandre Fonseca Álvaro Andrade Garcia Amanda Bruno Ana Caetano Camilo Lara Carlos Augusto Novais Carlos Barroso Clô Paoliello Daniela Goulart diOli Dudude Herrmann Emília Mendes Fernando Constantino João Antônio Cunha Queiroz Luciana Tonelli Márcio Almeida Marco Sbicego Marco Scarassatti Marcus Vinicius de Faria Nísio Teixeira Roberto Vieira Sebastião Nunes

Belo Horizonte abril

fase

2011


? quantos dados são necessários lançar para escrever o nome da poesia? ? com quem jogar uma nova

demasiadamente poético entre os humanos demasiadamente humanos?

entenda o

Capa Vaso. 2007. Roberto Vieira. Foto de Messias Mendes.

flores horizontais flores da vida

onde não empunhar o

?

flores brancas de papel da vida rubra de bordel flores da vida afogadas nas janelas do luar carbonizadas de remédios tapas pontapés escuras flores puras putas suicidas sentimentais flores horizontais que rezais com Deus me deito com Deus me levanto Oswald de Andrade

Capa Dezfacinhas João Antônio Cunha Queiroz sobre Vaso de Roberto Vieira. Projeto gráfico, capa, direção de arte e formatação Glória Campos e Clô Paoliello/ Mangá Ilustração e Design Gráfico.

como bater palmas com as mãos do silêncio? ?

total de fascículos

quando a morte joga seu fim?

número de página sequencial

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Revisão Carlos Augusto Novais.

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Editores Adriana Versiani, Camilo Lara, Carlos Augusto Novais.

Flores horizontais

apagar os próprios rastros?

número do fascículo

Belo Horizonte, abril de 2011

partida e sempre esquecer a lição?

por que habitar páginas e

número da página

expediente

editorial

Tiragem 1.000 exemplares Impresso na Gráfica Editora Jornal do Comércio. Contatos Adriana Versiani driarroba@gmail.com Camilo Lara camilara@uol.com.br Carlos Augusto Novais carlosanovais@yahoo.com.br


hommage to cage

Novais | Carlos Augusto

à maneira de l. r. & f. m. & m.d.

se, acaso, você chegasse no meu poema e encontrasse aquela palavra que você gostou será que tinha coragem de trocar nosso silêncio por ela que já lhe abandonou? eu falo porque essa palavra já mora no meu poema à beira de um abismo e de um inferno em flor de dia me cala a boca de noite me beija rouca e assim nós vamos morrendo de amor

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Scarassatti | Marco

música experiência (2) cage: no cages

John Cage foi, talvez, a grande máquina de subjetivação da Arte do século XX. Inspirada por Marcel Duchamp, sua mente criativa desenhou todos os possíveis e, os até então, impossíveis caminhos e fronteiras do fazer artístico. Uma tela de cinema em que as imagens sonoras por ele produzidas movimentam nossos olhos e ouvidos, como corpos a percorrer tudo aquilo que se cogitou em termos de arte, durante o século passado. Permanece, após 1992, a ressonância sísmica, etérea e inter-semiótica de sua obra. Para definir o que fazia, sempre preferiu a designação experimental ao avant garde, menos bélica e marcial, palavra apta ao ato cujo resultado é desconhecido. Experiência indeterminada, esvazio da mente, impermanentemente envolvida no infinito das interpretações. Escolhe o jogo. O livro das mutações. Lance de dados e moedas para (in)determinar os caminhos composicionais. Não se move em termos de acertos ou erros. Incorpora o desvio, o acaso e até, na escrita musical, as imperfeições do papel. As operações de acaso propostas por Cage não são, como se pode pensar, um ato de negação, antiartístico. Como Duchamp, o compositor (que não deixa de compor) acredita na sobrevivência da arte. O que ele pretende é uma disciplina do ego, para que o artista, ao invés de impor autoritariamente o seu próprio eu, aceite a contribuição do que está fora dele e até daquilo de que ele não gosta, e, assim, libertado das preferências pessoais, possa se abrir a novas experiências. Se parece inviável imitá-lo, não há, por outro lado, como eludir a anedota exemplar, a pergunta sem resposta em que se configura a arte-em-ação de Cage e o questiona1 mento ético e estético que ele propõe.

CAMPOS, Augusto. Música de invenção. São Paulo: Perspectiva, 1998. p. 143. 1

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O que mais me chama a atenção em suas composições musicais é que toda a pulsão guerrilheira anárquica de Cage se manifesta sutilmente, uma quase não ação. É evidente que não se podia esperar os clímaxes emocionais de Beethoven, o que, segundo Cage, é até simples para um americano abrir mão, diferente da ordem redentora do Bach que, para o compositor, liga-se à cultura americana expressa no trabalho diário das nove às cinco e nas máquinas que as rodeiam e que, quando são ligadas na tomada, se Deus quiser, funcionam. Aliás, Cage equivale o jazz ao Bach ponderando que o jazz é mais sedutor e menos moralista. Populariza os prazeres e as dores da vida física (...) desistir de Bach, do jazz e da ordem, é difícil. Sua música abre mão da ordem, soa um enigma, por vezes complexo, outras complexamente simples. Considerando o que ele diz sobre a música como sendo os sons

Cage preconiza a supressão de quaisquer cages (jaulas, gaiolas), por entender que as estruturas feitas pelo homem (inclusive as estruturas em outros campos que não os da linguagem: o governo em seus aspectos não-utilitários e os zoológicos, por exemplo) devem desaparecer se se pretende que os seres para os quais elas foram criadas — quer se trate de pessoas, animais, plantas, sons ou palavras — hão de continuar a respirar e existir sobre a terra. [Augusto de Campos]

de dentro e de fora da sala de concerto, realmente sua música é inconcebível à parte da vida, compõe-se no todo perceptível. Por isso muitas vezes penso que sua grande obra é a sua performance em vida. Sua trajetória esculpe o silêncio, indeterminadamente. Foram esses dois assuntos os que considero mais prementes em toda a sua produção. Silêncio e a indeterminância, o acaso. Sua peça 4’33’’ (1952) está talvez para a Música assim como a Fonte, de Marcel Duchamp, está para as Artes Visuais, um marco conceitual. O intérprete fica o tempo da peça em silêncio enquanto o público, sem perceber, a compõe na sua impaciência. Cage escreveu e refletiu acerca do silêncio no livro de 1961, Silence. Esse livro


inaugura uma série de outros escritos, livros-mosaicos, entre eles, Palavras Vazias, de 1979 e De segunda a um ano, de 1967, publicado no Brasil em 1985. Guardava esse livro com o afinco da personagem de Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector, até emprestá-lo a um antigo professor meu de harmonia. Ele o perdeu, sabe-se lá como. A ironia é que John Cage foi aluno de Schoenberg e este o advertiu que, para escrever música, ele deveria ter sensibilidade para a harmonia. Explicou-lhe, porém, que não tinha sensibilidade para

a harmonia. Então, Schoenberg disse que ele sempre encontraria um obstáculo, que seria tão difícil como se encontrasse um muro que não pudesse atravessar. Prontamente, Cage respondeu: “Neste caso, eu devotarei minha vida a bater minha cabeça contra este muro”. Cage, além de um apaixonado degustador de cogumelos, atuou como compositor, poeta, pintor, intérprete, inventor do piano preparado, performer, sempre atento e observante às forças estruturantes do discurso artístico, de modo a desestruturá-las. Quando Boulez, na década de 1950, chega ao cume do serialismo, com toda a determinação prévia do material composicional, ele introduz o acaso. Antes disso, em 1939, compôs Imaginary Landscape n.1, para toca-discos, piano, címbalos chineses, em que um fonógrafo se transforma em instrumento musical. Utiliza-se do rádio em diversas peças musicais, um exemplo é a obra Imaginary Landscape n.2, de 1951, para 12 rádios e dois intérpretes que controlam os aparelhos, conforme a partitura aberta, alternando as estações e o volume. Faz uso das tecnologias correntes, subvertendo seu uso. Podemos apontar o mesmo para sua escrita poética, muito mais afeita ao ideograma do que à sintaxe linear. Frequentemente utilizava símbolos gráficos para indicação de pausa na leitura, silêncios, ruídos e outras sonoridades. Promoveu na Black Mountain College, uma universidade experimental para o ensino de artes, em 1951, o primeiro happening de que se tem notícia. Do mesmo modo fez uso do tape, do vídeotape, da eletrônica. Foi dessa forma que transitou na interdisciplinaridade, usou conceitos fronteiras e tecnologias como um barqueiro zen que, diante do vento e do mar, forças muito maiores do que a sua, aproveita-se delas pra manter-se no percurso. No seu caso, um percurso anárquico, imprevisível. Disse certa vez que a arte não tem objetivo material. Tem que ver com a mudança de mentes e de espíritos. Por fim, relembro aqui uma história cageana que me aconteceu. Escolhi terminar assim, em alusão às conferências de John Cage. Numa delas, sobre o acaso, ele decidiu contar uma história por minuto. Se a história era curta, devia estendê-la; se era longa, devia falar rápido. Fez uma lista de todas as histórias que poderia lembrar e as encadeou, conforme escreveu. Havia histórias das mais diversas, desde sua intoxicação com cogumelos, até as aulas com Schoenberg e outras passagens da vida lembradas. Segue o vivido por mim.

Após algumas tentativas de sincronizar as agendas, conseguimos marcar uma apresentação do trio Sŏnax no Ibrasotope, em São Paulo, um recente e tão comentado espaço para divulgação da música experimental, avant-garde, eletroacústica, improvisada, ou, se preferirem, a música, sem outros adjetivos restritivos, simplesmente ela, ou como ultimamente tenho preferido cunhar, a arte dos sons. Era muito animador ver a força e dedicação que a programação do Ibrasotope transmitia, ainda com certo charme da musa-encantadora Úrsula, que assinava os emails convidando aos concertos.

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Havíamos lançado o cd do trio em Portugal. Na verdade, o cd fora lançado lá, em maio de 2009, pela Creative Sources Records, e nós ficamos aqui, ansiosos por fazer um lançamento à altura do desembolso feito. Após umas conversas e um café inesperado perto da Avenida Paulista com o Henrique, um dos idealizadores do espaço, fechamos a data e os detalhes. Faríamos uma espécie de intervenção no espaço da casa com minhas esculturas sonoras, a serem tocadas por mim, pelo Marcelo Bomfim e pelo Nelson Pinton, o trio Sŏnax. Seria o nosso debute com o cd nas mãos, que vinha de uma ótima recepção pelos blogs especializados portugueses e pela revista Jazz.pt, com resenhas animadoras e zelosas. Enfim, o dia chegou e começamos já com uma baixa, o Nelson não poderia participar em virtude de uma virose. Seguimos eu e o Marcelo para São Paulo decididos a fazer uma apresentação acústica. A aventura da chegada ainda passou por um equívoco meu em relação ao endereço, o que me fez chegar ao

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centro velho de São Paulo, com o trânsito parado, permitindo devaneios acerca da arquitetura neo-clássica e a música experimental difundida pelos jovens compositores Henrique Iwao e Mário Del Nunzio, idealizadores do Ibrasotope. Desfeito o erro após um telefonema, fui endereçado ao local certo. Cheguei e me vi diante da casa. Fui recebido pelo Henrique e pelo Mário que preparavam o sistema de som para aquela noite. Iniciamos a montagem das esculturas sonoras, entre conversas sobre o público fiel da casa, os participantes e a possível venda dos cds. Distribuímos pela casa as esculturas conforme o combinado e nos foi oferecida a cortesia, um copo de whisky. Daí para o horário do concerto, as conversas se seguiram. A casa, mistura de república de artistas com laboratório de relações entre obras e público, foi dando mostras de seus fluxos, hábitos e moradores, que aos poucos se misturaram às pessoas frequentadoras. Interessante, a casa passou a ser um ente habitado. Um detalhe igualmente interessante foi a chegada de outro

compositor-idealizador desse projeto, o incansável Valério Fiel da Costa, com sua obra mais recente, uma canja de galinha para ser vendida no intervalo, junto com as doses de pinga e o já conhecido whisky. Depois de uma intervenção sonora com as esculturas e instrumentos nos espaços

externos do recinto, seguiu-se um concerto de música eletroacústica, bem heterogênea na qualidade e estilo, o que não é mal, ao contrário, é o que deu um caráter coletivo e anárquico para a programação, uma sacudida na bem comportada cena acadêmica da eletroacústica e mesmo da velha música nova. Voltamos, após esse concerto, para a finalização do intento, improvisamos um pouco mais e, como o clima coletivo sugeria, distribuímos as baquetas, arcos e instrumentos para que todos tocassem, para que a comunicação fosse não verbal e os devires viessem à tona. Foi o que aconteceu, sem separação entre improvisador e público, tampouco entre casa e sala de concerto, ou mesmo esculturas e a arquitetura. O Henrique e o Mário distribuíram pelas esculturas e objetos sonoros os bichinhos de pelúcia, todos da família da Úrsula, que na verdade era uma ursa cor de rosa e que, entre outras coisas, assinava os emails. Uma genial intervenção na intervenção. Fomos assim até o fim, até que gentilmente me pediram pra dar conta de elucidar aonde começava o fim, senão ficaríamos ali como anjos exterminadores incapazes de sair.


Lara | Camilo

eu te ganhei juventude em busca da poesia

nesta aldeia com seus outros o rio que corta se chama pedra

quem olha não vê além do espelho de narciso as flores de Baudelaire o circuladô de Haroldo

da casa de Beatles ao leme de Rimbaud há dança sob os olhos dos faróis: a rosa da rosa da história

ainda ontem, os monstros marinhos do atlântico.

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Tonelli | Luciana

déjà vu na galeria do rock

o arquetípico topete de Morrissey na vitrine da Baratos & Afins teve sabor de biscoitinho mágico resolvi entrar comprar um pouco de passado quem sabe até provar alguns futuros já em oferta como aquele na vitrine de vidrilhos: futuro com sabor de madeleine para a minha bisavó quem sabe não compro um espartilho?

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de trem para guaianases

O trem de Guaianases vai pesado leva para casa parte do exército que gira a roda da grande cidade São atendentes, são assistentes são “colaboradores” – prodígio de eufemismo mais elegante! São CLTs, antiga promessa de futuro hoje coisa do passado São CNPJs de um homem só, a realidade “a nova tendência do mercado” Todos entes de carne e osso embora nem sempre como tal sejam tratados todos lutam para chegar a algum lugar privado São homens e mulheres sábios sabem das distâncias sabem dos trajetos sabem dos motivos sabem dos desvios dos extravios mas não são sabidos por quem deveria sabê-los Homens dos palácios de vidro façam uma viagem para Guaianases na hora do rush

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de Faria | Marcus Vinícius

são cascos correndo no asfalto são dois garotos correndo dos cascos é uma maleta no chão garotos encurralados imobilizados é um imbecil-social chutando a cara deles curiosos discutindo a situação é uma comerciante aplaudindo os cascos é a empregada dela querendo dar água para os garotos e a idiota proibindo é o carteiro que xinga o freguês do bar que apoia o agressor isto não é um poema aconteceu na Savassi em maio de 2010 às cinco da tarde

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Bruno | Amanda tradução

e transcriação

Fonseca | Alexandre fotografia

una colomba D’altri diluvi una colomba ascolto Giuseppe Ungaretti

uma pomba De outros dilúvios uma pomba escuto

praia da estação De outras lutas os ecos escuto.

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Bruno | Amanda tradução Sbicego | Marco transcriação

12 settembre 1966

Fonseca | Alexandre

fotografias

Sei comparsa al portone In un vestito rosso Per dirmi che sei fuoco Che consuma e riaccende. Una spina mi ha punto Delle tue rose rosse Perché succhiassi al dito, Come già tuo, il mio sangue. Percorremmo la strada Che lacera il rigoglio Della selvaggia altura, Ma già da molto tempo Sapevo che soffrendo con temeraria fede, L’età per vincere non conta. Era di lunedì, per stringerci le mani E parlare felici Non si trovò rifugio Che in un giardino triste Della città convulsa. Giuseppe Ungaretti

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12 de setembro de 1966

setembro no parque municipal

Apareceste no portão

Viestes na Afonso Pena

em um vestido rubro

num vestido vermelho

para dizer-me que és fogo

para dizer-me que és fogo

que consome e reacende.

que incinera e reatiça.

Um espinho me picou

Um espinho picou-me

das suas rosas rubras

de tuas rosas vermelhas

para que chupasse no dedo,

e do dedo o meu sangue,

como já teu, o meu sangue.

como já teu, chupastes.

Percorremos a estrada

Percorremos a trilha

que corta a exuberância

que corta a natureza

da selvagem colina,

exuberante e aparada,

mas já há muito tempo

porém, já há muito tempo

sabia que sofrendo com temerária fé,

sabia que a fé audaciosa e o sofrimento

a idade a ser vencida não conta.

fazem da idade quesito irrelevante.

Era uma segunda,

Era segunda-feira,

para dar-nos as mãos

para nos dar as mãos

e conversar felizes

e conversar felizes

não achamos refúgio

não havia outro refúgio

que em um jardim triste

senão o tristonho parque

da cidade convulsa.

do poluído hipercentro. Tradução

Transcriação

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Andrade Garcia | Álvaro

eu

não trouxe caneta só o caderno satiagraha buda dionísio sem termo ermo dionísio satia comendo tudo sem parar

comendo a mulher comendo a fruta comendo o mundo com meus olhos com meus sênsaros comendo sem parar o mundo sem parar

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tudo mudou depois daquele beijo

A descoberta de Michelangelo Antonioni não se deu com Blow-up (Londres, 1966, 111’), mas Blow-up mudou toda a minha concepção estética. Naquela década, sob as agruras da ditadura militar, Blow-up seria o boom da minha heurística do mundo. Em um mesmo filme reuniam-se a arte de raro bom gosto sobre a incomunicabilidade de Antonioni, minha paixão cinematográfica desde a trilogia “A noite”, “A aventura” e “O eclipse”, vistos no Cine Municipal em Oliveira, bem no início dos anos 60; a maestria do realismo fantástico de Júlio Cortázar, meu autor predileto em Literatura, sobretudo por “O Jogo da amarelinha”, e Herbie Hancock e sua trilha sonora de jazz, minha música preferencial desde muito jovem, à qual ouço diariamente e estudo desde também os anos 60.

Almeida | Márcio

Na primeira das 10 vezes que vi Blow-up no cinema (hoje tenho cópia original em DVD), senti que me colocava ante uma obra-prima que mudaria conceitos e meus modus vivendi e modus operandi. O filme levou-me a me interessar por questões que ainda hoje me são importantes. A angústia existencial identificada antes ou concomitantemente em “A peste”, de Camus, “A náusea”, de Sartre e na poesia de Cioran, por exemplo, vinha à tona na filmografia antonioniana em que relacionamentos sempre mal sucedidos, tédio, incertezas, justo entre pessoas ligadas por alguma forma de amor, expunham em imagens o que as palavras não conseguiam dizer mais. O questionamento de Antonioni não é restrito a uma mensagem, a uma opção ideológica, à indicação de uma solução moral que não existe, mas a uma escola do VLER, de sinestesia, de semiótica visual o que me levou rapidinho a Roland Barthes, de silêncio que grita em fotogramas que põem o espectador frente a si mesmo e o provoca: tudo na vida é aporia. Mesmo o que comove com arte. Mexa-se. É essa a sensação que me passam os merrymakers do início e do fim do filme, cuja simbologia mímica quer falar o que a imagem é por si.

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Diante da descoberta brilhante de um suposto crime pelo fotógrafo Thomas (David Hemmings, soberbo) num parque londrino, a trama é em cada quadro um toque de mestres (Antonioni, Cortázar, Hancock + a appearance de Jeff Beck e Jimmy Page com os Yardbirds, além de todo o talento de Vanessa Redgrave e de uma performance de top-model indelével da quase-só-osso Veruska). Tudo me levou a um encantamento patético: “Algumas vezes, a realidade é a mais estranha de todas as fantasias”, diz o teaser do narrador do filme. Antonioni é genial por conseguir escrever c om imagens — fílmicas e fotográficas — o que em si já era muito difícil escrever com palavras. Em entrevista a Evelyn Picón, em 1978, Cortázar diria: Las babas del diabo un primer problema del escritor que quisere contar algo muy difícil de contar, una experiência vertiginosa, y se da cuenta que los recursos lingüísticos que él tiene a sua alcance pueden traicionario y pueden no servile y entonces duda mucho. En

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O fotógrafo (no conto e no filme) reúne em sua façanha non sense – comunicar a alguém a veracidade de ter acidentalmente fotografado um crime na Swinging London dos anos 60, onde todos são “invólucros de nada” (J. Artur Izzo), cujo cadáver desaparece sem que ninguém o tenha visto e o identificado – remete ao que Walter Benjamin chamou de “imagem da alteridade” (a necessidade de olhar o outro de forma legítima) e ao “fluxo melancólico” (a perda de sentido de um ser humano morto por pressuposto idílio e por pressuposto desejo de vencer o tédio e a angústia existencial com trabalho diferenciado da rotina profissional) de quem não consegue contar um fato porque o que existe naquele momento é o que não existe, é a alienação, o êxtase lisérgico, a inutilidade do consumismo (como na cena em que uma guitarra Gibson é estraçalhada por Jeff Beck e jogada como totem à galera histérica na cave de Londres). Conto e filme são revolucionários porque encerram para o leitor/espectador uma evidência que pode ser apenas imaginária: não houve crime algum. Antonioni e Cortázar manipulam

a realidade para dar sentido a uma busca de concretude em meio à sociedade fragmentária, vítima de suas próprias aparências. Constatações como estas levaram-me à metalinguagem, e à intertextualidade, a entender o real como simulacro, a pensar veloz sobre a finitude, a questionar valores estabelecidos e a conveniência das mudanças, a entender sem banzo meu limite existencial, o antidiscurso da pós-modernidade, cuja outra referência autoral seria Blade Runner, porque “tudo o que resta são redes flexíveis de jogos de linguagem” (J.F. Lyotard). Blow-up desova no que faço uma tradição de futuro em cada leitura de relação de produção multimídia. Tudo que projetou há cinquenta anos – anomia, alienação, desenraizamento, a certeza de o incomunicável manter o “apocalipse para sempre” (Martin Jay), a cidade como uma tela gigante (Ian Chambers), a didEYEtica, a necessidade inventiva de novas linguagens, os nervos de aço e sílica da tecnocracia, o relativismo questionável das (meta)narrativas, tudo passa por aquela experiência de busca de respostas. Blow-up é a revelação.


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fase

dezfacinhas

Alécio Cunha ais Carlos Augusto Nov ino Fernando Constant a Queiroz João Antônio Cunh Nísio Teixeira

Belo Horizonte abril 2011


traços de uma inesquecível tertúlia

Nísio Teixeira

Na tarde do dia 27 de novembro de 2010, alguns amigos e colegas do poeta e jornalista Alécio Cunha atenderam à convocação para um encontro no bar do Nonô, bairro Carmo, para minimizar um pouco da saudade deixada pela lamentável e precoce partida de Alécio, aos 40 anos, no ano anterior. Foi uma tarde ensolarada e animada, regada a cerveja, pinga, poesia e muita prosa, incluindo música, cinema e literatura - bem ao estilo aleciano. Vez por outra, a cada nome de ator não lembrado do papo cinematográfico, trecho de poema recitado ou estilo musical mencionado, um brinde era feito – não necessariamente pelo grupo inteiro, mas por aqueles dois ou três que discutiam na mesa assuntos pulverizados por conversas de toda sorte. Flagrei ainda alguns brindes solitários, sussurrados entre o copo e a garrafa e um olhar lançado para cima. Enquanto os dois primeiros eram mais festivos, este era mais silencioso, comovente. A turma estava devidamente capitaneada por Márcia Queiroz e iluminada pela lúdica presença do filho João. Além de CocaCola e petiscos, João solicita ao garçom parte do bloco de pedidos e, de posse de uma caneta vermelha, começa a produzir vários desenhos daqui e dali. Quando as pessoas se dão conta, percebem que são elas mesmas que têm suas fisionomias sendo incorporadas aos traços de João. O filho de Alécio e Marcinha simplesmente desandava a produzir caricaturas dos presentes sob a forma de animais e logo a produção artística unificou os assuntos da mesa – não só em função da qualidade dos desenhos, mas também devido à pergunta com a qual

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João foi bombardeado várias vezes: por que tal pessoa fora associada a determinado animal? Jovino Machado, um sapo. Adriana Versiani, formiga. Simone Neves, cobra. Ricardo Teixeira de Salles, tartaruga. Mário Alex, lagartixa e assim sucessivamente, incluindo alguns momentos curiosos, como transeuntes anônimos que passavam por ali, além de primeiros esboços. Aqui, o meu caso serve como exemplo intrigante: na primeira versão, a mim foi atribuído o desenho de um lobo, mas depois o veredicto gráfico do artista a mim foi um carneiro... com cara de lobo! (Ou seria um lobo em pele de carneiro?) De uma forma ou de outra, ou melhor, seguindo várias formas e bichos, o resultado produzido por João tem um misto de irreverência, sagacidade e observação. Não é à toa que, por exemplo, o desenho dos transeuntes, estranhos ao autor, não têm, digamos, uma animalidade definida, sendo mais monstruosos do que os amigos da mesa, que com muito afeto e humor eram associados aos seus respectivos bichos. Entre gargalhadas e piadas recíprocas dos presentes, cada um comentando e fazendo suposições das razões que o levaram a ser traçado e troçado como tal animal, eu me lembrei de que a primeira música composta – solo – por Noel Rosa, cujo centenário de nascimento (11 de dezembro de 2010) se aproximava daquela data do encontro, foi, precisamente Festa no Céu, em que coloca a bicharada para fazer uma farra nas alturas. De lá, ou de onde for, certamente Alécio terá aprovado esta farra dos bichumanos na fantástica Terra de João, ainda mais se considerarmos, para a ocasião, os apropriadíssimos versos alecianos de Água Forte:


Alécio Cunha

palavras são riscos grafite pintada em tons tristes então olhas o outro revolução dos pincéis as cores mudam desnudam o sentido exato dos astros tua boca sorri (de Lírica Caduca, 1999)

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Jo茫o Ant么nio C. Queiroz

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Carlos Augusto Novais

charada rápida responda num salto: quantas pernas tem o pula-pula?

charada filosófica veja a lógica: o ponto de vista usa óculos?

charada molhada com que água a água se lava? 6_

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charada lenta a lesma no espelho é a mesma?

charada de primavera me fala baixinho: na estação das flores elas perdem os espinhos?

charada de outono quem morre primeiro as flores de plástico ou as flores do canteiro?

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Fernando Constantino

minha fruta predileta

a Existe um pé de jac a vó h in m a d l a t in u q o N A cara de Darticleia É feia de dar dó heiro Meu avô foi marin nó E aprendeu a fazer criança Mesmo sendo uma ó Às vezes me sinto s

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Até o próximo número!


poesia e dança dança e poesia

Leio na poesia um lugar de movimento. O que é poesia? O que é dança? Imagem na ação. Como pode ser a palavra que tece a poesia e transforma transbordando, transbrotando, rasgando, invadindo campos infinitamente poderosos. Acho uma coisa maravilhosa ler Verlaine, Beaudelaire, Rimbaud, Rainer Maria Rilke, Cora Coralina, Manuel Bandeira, Pagu, Fernando Pessoa, Olavo Bilac e tantos outros... Cresci com Henriqueta Lisboa, recitava a poesia ...”toc, toc toc pelas ruas do caminho vão batendo os tamanquinhos toc toc...”

Com Cecília Meireles imaginava “um jardim com Flores, borboletas de muitas cores”, ficava dentro deste jardim vendo o sapo que é jardineiro, o grilinho dentro do chão, ficava dentro, lendo suas poesias viajava e viajo para lugares de potência que me fazem entender um pouco mais o que estamos fazendo aqui. É claro subjetivamente! Estou sempre dançando poesias, uma fonte de inspiração, de expiração. A poesia abre um lugar de imagens gustativas, de sensações, de emoções, de possibilidades...

Uma combina com a outra? É pode ser... Quando dançamos, o corpo desenha uma poesia no ar. Um monte de hieróglifos, de riscos e de rabiscos. Quando escrevemos alguma coisa livre no papel, aparece uma sensação, uma emoção, uma coisa, ou um nada não. Algo. Com sentidos, dessentidos, onde uma linha reta pode virar uma bola de futebol e o céu aparecer no meio de minha boca. Penso, pode ser poesia. Imaginação imagina cria coisas, cria poesia, cria dança, cria mundo, faz viver o simples. Eu comecei a dançar aos dez anos de idade, comecei a brincar, meu corpo aprendeu a pensar movendo para cima, para baixo, para o lado e o outro lado, para dentro, para fora e não parou mais, para pensar preciso dançar, para entender o mundo vejo o movimento.

Herrmann | Dudude

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Dançando tenho uma sensação similar, pois construo estados de conexão onde o senso comum se dispersa e entro em um campo invisível de frequência, o que me faz também entender desentendendo um pouco mais o que estou fazendo aqui. Uso da poesia para dançar, talvez possa ser o abstrato, aquilo que não se consegue capturar. O substantivo poético conecta ao movimento substantivado para chegar na substância do acontecimento. O poeta e o dançarino têm uma coisa muito forte em comum, acho, o desapego. O presente do instante faz com que dance, que escreva e aconteça naquele simples momento já. Quando leio uma poesia, não penso no antes ou no depois penso no agora, a sensação de frescor sempre me visita. Revisito poesias e é incrível sempre tenho a sensação de primeira vez, descoberta. Nunca, é incrível, sinto a mesma coisa, sempre um pouco diferente, novas paisagens. ESCARAVELHO BESOURO HIPOPOTÁMO Qual a semelhança? Adoro as palavras e tenho deferência por algumas, parece que elas tem um enorme acervo

de significâncias, mundo do dançar, mundo do poetar, mundo do inventar, infinito como o meu saber do universo. Aonde terminam e começam as coisas, quando fico eu e minha pessoa, não sei exatamente onde ela acaba, transporto esta sensação para a Dança, para a poesia, para a arte, para as pessoas. Pensamento de mundo corpo e corpo mundo. Existem fronteiras, mas construídas por nós, se olhamos com olhar redondo uma coisa entra na outra, ora escrevo, ora desenho, ora danço, ora cozinho, ora converso, ora varro, ora não faço absolutamente nada e depois vou dormir e acordar em um ritornello sem fim. Viva, acordada para o que vem me visitar. Como posso escrever de dança e poesia? Como dançar isto que escrevo? Como? Talvez se atrevendo a deslocar de um pé para o outro e de uma palavra para outra. Como você sente isto? Solto? Desconexo? Vazado? Que tal dançado? janeiro 2011

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Barroso | Carlos

o poema é uma farsa; faça-o com a perfeição de um falsário; não ceda; o poema é sede que não se arremata; boca que canta o que a garganta escracha; lágrima falsa na imagem da santa chutada; voz aquém da arma.

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Goulart | Daniela

poesia da lantejoula

Desde 2001 fotografo o centro de Belo Horizonte, a meu ver local de infinitas possibilidades e riscos, portador de um tipo de liberdade e improviso que não se vê com frequência nos cantos nobres da cidade. O tema da liberdade é o motivo de minhas fotografias, e o centro velho e sujo é onde encontro uma forma de resistência nos pedaços de parede, portas de motel, propagandas de açougue, arranjos de flores de plásticos, retratos de prostitutas, dançarinas de gafieira, travestis, pedaços do mundo que resumem a conivência entre ternura e violência. Meu interesse é pela Poesia da Lantejoula, nome que Gustave Flaubert deu às incapacidades esplêndidas, existências furta-cores extremamente mutáveis ao olho, bem variadas como farrapos e bordados, ricos de sujeiras, rasgões e galões.1 O realismo de Flaubert busca a conciliação crua entre a arte e realidade, resume a humanidade que se absorve nos Outros, sem estilizações excessivas, a recusa do tema e a elevação do trivial. A busca da verdade no ordinário faz parte da fotografia desde Eugène Atget, que desinfetou a atmosfera sufocante dos retratos cafonas e libertou o objeto da ressonância exótica, majestosa, retirando assim o seu invólucro. A partir daí a câmera fotográfica estava pronta para o espaço em que toda intimidade cede lugar à iluminação dos pormenores.2 Os assuntos do cotidiano se tornaram desafiadores, e os eventos, os contatos, as emoções tornaram-se mais importantes do que o resultado final, como nas obras de Pierre Verger, Diane Arbus, Claudia Andujar e Nan Goldin. Ao longo de quatro anos me envolvi intensamente com a região da Rua Guaicurus, tentei fazer dessa convivência um meio de acessar as experiências reais. Minha intenção foi tornar visíveis as pessoas que eu conheci, e fazer isso junto com elas. Lembro-me com muita saudade dos nomes de guerra, dos cheiros adocicados, das festas, das combinações de roupas e, principalmente, da coragem de viver longe das regras. Na Poesia da Lantejoula eu encontro a possibilidade da troca baseada numa confiança mútua, que busca reencantar o mundo como experiência a ser vivida.

1 FLAUBERT. Cartas Exemplares, p. 45. 2 BENJAMIM. A Pequena História da Fotografia, p. 102.

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Jamais consegui ver passar sob o lampião de gás uma dessas mulheres desgarradas, sob a chuva, sem que o coração batesse, tal como as batinas dos monges com seus cordões atados na cintura que me atingem a alma em não sei que cantos ascéticos e profundos. (Gustave Flaubert, Cartas Exemplares, p. 113)


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Caetano | Anatexto e tradução

Jack Kerouac nasceu Jean Louis Lebris de Kerouac em 12 de março de 1922, na pequena cidade de Lowell, Massachussetts. Aos 20 anos, conseguiu uma bolsa de estudos na Universidade de Columbia, graças a sua habilidade no futebol. Nessa universidade conheceria os poetas e escritores que determinariam o curso da sua vida artística. Se alguma obra literária ou poética pode ser descrita como um verdadeiro diário de viagem, esta foi a de Jack Kerouac. Antes de ir à universidade, ele passou 3 meses na marinha mercante e 6 meses na Inglaterra onde começou, solitariamente, sua carreira de escritor. De volta a New York, tornouse frequentador assíduo dos bares de jazz que fervilhavam na época. A partir de 1943, formou, junto com Allen Ginsberg e William Burroughs, o núcleo do grupo que se tornaria conhecido como “geração beat” ao qual Lucien Carr e Neal Cassady juntariam-se em seguida. O termo “beat”, oriundo da gíria do jazz, foi pronunciado pela primeira vez por Herbert Hunckle, figura característica da Times Square, conhecido de Burroughs. “Beat”, em inglês, possui muitos significados: ritmo musical (da bateria do jazz), batida (como um golpe), “exausto” (beated), pulsação e beatitude. Quando o movimento eclodiu, jornalistas cunharam o termo beatnik, utilizando um sufixo retirado do satélite russo Sputnik. Entre 1947 e 1950, Jack viveu com Neal Cassidy na estrada, cruzando o país inúmeras vezes. Do seu diário de viagens surgiria, em 1951, o livro On the Road. O livro, datilografado em um rolo de 30 metros de papel de telex, retoma um tema central da literatura americana: a estrada, a tradicional viagem rumo ao oeste em busca de liberdade. Entretanto, o maior trunfo do livro é, sem dúvida, a experimentação literária. A escrita livre, com pontuação pouco ortodoxa e sem parágrafos no estilo chamado por Kerouac de “prosódia bop espontânea” tentava soar como um solo de sax de Charlie Parker. Mais tarde, seria também essa inspiração no jazz o método de criação de Mexico City Blues, poema épico composto de 242 “choruses” ou “stanzas” publicado em 1959 - seu primeiro livro de poesia. Além dessas duas obras que se tornaram peças cult do universo da literatura e da cultura pop, Kerouac publicou, entre outros: Visions of Cody, Doctor Sax, Lonesome Traveler, Maggie Cassidy, Tristessa, Visions of Gerard, Desolation Angels, Satori in Paris, Dharma Bums. A geração beat foi, nos anos do pós guerra, o berço da contra-cultura americana e o embrião do movimento hippie dos anos 60. Estranhamente, no final da vida, Jack se tornou amargo e conservador, passando os últimos anos de sua vida em companhia da mãe e isolado do mundo. Morreu em 1969.

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Chorus 37

Refrão 37

Mad about the Boy Tune - Fue Going along with the dance Lester Young in eternity blowing his horn alone Alone - Nobody’s alone For more than a minute. Growl, low, tenorman, Work out your tune till the day Is break, smooth out the rough night, Wail, Break their Beatbutton bones On the Bank of Broad England Ah Patooty Teaward Time Of Proust & bearded Majesty In rooms of dun ago in long a lash alarum speakum mansions tennessee of gory william tree - (remember that little box of tacks?)

Louco pelo Garoto Música – Mística Acompanhando a dança Lester Young na eternidade Soprando seu trompete solitário Só – ninguém está só Por mais de um minuto. Rugido, baixo, tenor, Termine a sua canção até o dia Raiar, delicado após a áspera noite, Grite, Quebre seus ossos reBatidos No banco da branca Inglaterra Ah Hora do Pastel com Chajasmim De Proust & de barbada Majestade Em salas de passados e pássaros tempos alaridum e açoite mansões tennessee de gore william daqui - (lembra aquela pequena caixa de pregos?)

Jack Kerouac (Mexico City Blues, 1959)

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cinema e poesia

Teixeira | Nísio

- notas para um debate

Podemos pensar numa relação entre cinema e poesia a partir de uma espécie de relação combinatória entre os dois termos. Podemos pensar, por exemplo, em filmes sobre poesia, ou seja, filmes que tenham a poesia como tema e em seu enredo trazem algum personagem ou elemento relacionado à questão poética. É o caso de Sociedade dos poetas mortos (Dead poets society, 1989, dirigido por Peter Weir) ou Gregório de Mattos (idem, 2003, Ana Carolina). Mas também podemos seguir adiante e também incluir aqui filmes que procuram criar, no processo cinematográfico, uma proposta poética. E aqui se pode apontar duas direções: filmes que têm momentos poéticos e filmes que buscam pontuar-se o tempo todo pela poesia. No primeiro caso, de uma forma quase imediata e talvez irresponsável, podemos associar a poesia à sensibilidade e assim teríamos uma miríade de cenas inesquecíveis, como a do menino Bruno sorrindo e comendo seu queijo quente com o pai numa trattoria em Ladrões de Bicicletas (Ladri di bicicletti, 1948, Vittorio de Sica) ou a sequência final de Blade Runner (idem, 1982, Ridley Scott) em que o andróide Roy faz o seu discurso para Rick Deckard. Nesses dois exemplos, contudo, percebemos como isso está associado a uma narrativa clássica do cinema, que apregoa uma invisibilidade dos recursos de produção como roteiro e montagem, para propiciar ao espectador uma imersão total no filme. Mas não podemos nos esquecer de outras abordagens que procuram evidenciar e tornar mais visível essa relação, rompendo essa imersão – algumas das quais, aliás, conectadas a movimentos da vanguarda literária de seu tempo, como o surrealismo, o dadaísmo, entre outros.

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Mas aí a discussão torna-se um pouco mais complexa porque, afinal, teríamos que definir melhor o que seria uma linguagem poética no cinema para, com isso, também chegarmos ao segundo caso, um cinema de poesia. Complexidade que se revela, de antemão, portanto, dentro dos próprios conceitos, pois afinal são muito variáveis os tipos de cinema (pensemos aqui em Neo-realismo, Noir, Surrealismo, entre tantos outros) bem como, afinal, a poesia (parnasiana, concreta etc). Em seu livro Indicadores para um cinema de poesia (editora UFMG, 2004), Érika Savernini ajuda muito a pensar a relação entre os dois termos a partir da obra dos cineastas Pier Paolo Pasolini, Luis Buñuel e Krzysztof Kieslowski. Em conferência no México sobre o cinema como instrumento de poesia, em 1953, Buñuel apontou seus objetivos com relação ao cinema: que fosse capaz de transcender o mundo tangível e desvelar aos espectadores um universo até então desconhecido, encoberto pela percepção cotidiana das coisas. Esse desvelamento acontece através da própria aparência realista e verossímil, característica da imagem cinematográfica (p. 25).

Cerca de quinze anos mais tarde, Pasolini anunciou o crescimento de uma tendência que denominou de cinema de poesia: produções que buscavam uma ampliação do espaço de expressão do artista na narrativa cinematográfica. No pensamento de Pasolini, reconhece-se a proposição de um possível equilíbrio tênue entre subjetividade e objetividade. A própria imagem seria dotada de uma dupla natureza entre o concreto e o onírico, duas faces indissociáveis. (p. 27, grifo da autora).

Por fim, ao examinar os filmes de Kieslowski, a autora percebe uma relativização das propostas anteriores e os vê como uma realização contemporânea do cinema de poesia, desvinculado de um movimento de vanguarda ou de uma atitude contestatória estrita, incorporado ao inventário cinematográfico convencionalizado (p. 30).

Para Savernini entender um cinema de poesia implica em apreender os filmes sem menosprezar o quê o cineasta tem a dizer e nem o como ele o diz. É interessante observar a forma como esses artistas buscam atingir o outro, ou seja, o público, o espectador para quem se dirige o filme (p. 210, grifos da autora).

Em todo caso, nota-se na argumentação da autora, também a referência a uma “sensibilidade poética” presente nesta interlocução com o público, ao invés de pensar a poesia simplesmente como um gênero narrativo associado ao cinema. Assim, reiterado o aspecto da sensibilidade, o que se tem diante da relação entre cinema e poesia não é propriamente só uma interlocução de sensibilidades distintas fílmico-textuais (e de como também entram aqui as várias técnicas e suportes para sua construção, como cor, som, enquadramento etc.) ou dos resultados dessa relação junto ao público, mas, no conjunto, um potencial projeto de estética poético-cinematográfica a ser discutido e desenvolvido.

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Versiani | Adriana Paoliello | Clô

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nave mantra da série o que é da história está guardado

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Mendes | Emília

o mundo do trabalho

No início e no fim, tudo é trabalho. É dessa grande verdade que aqui me valho. Deixa eu dizer o que penso dessa vida, preciso demais desabafar. Para haver vida, é preciso laborar no sexo, ocupa-se nove meses, uma eternidade, Depois vem o trabalho do parto, o resguardo, a maternidade, tudo muito complexo. Não há perplexidade: do trabalho vieste e ao trabalho retornarás. Não há como se safar. Todavia, morrer não acaba com o trabalho, depois que você for embora, Ainda deixa o trabalho que a putrefação dá; nem os vermes se esquivam do laborar. Tudo no mundo é condenado ao trabalho. É sórdido, mas é a vida!

A tortura está na origem do trabalho. Labor & dor, eis o lugar comum da rotina. Os trabalhos e os dias e os dias de trabalho... e mais trabalho para pôr em dia. Sem dar vez à artimanha, o mundo do laborar parece um trabalho de Sísifo Sobe montanha de trabalho, desce montanha de trabalho, Sobe montanha de trabalho, Desce montanha de trabalho, sobe, desce, sobe, desce, sobe desce, sobe... O trabalho é uma droga, o trabalho vicia, o trabalho mata, o trabalho demencia. Quem só encontra prazer no trabalho, decerto tem alguma doença que vivencia. O trabalho danifica o homem, mas quem sou eu para discutir psicologia?

Tudo gira em torno do trabalho, que gera, como consequência, o dinheiro. Quem trabalha é que tem razão, [pois tem cifrão] eu digo e não tenho medo de errar. Já a remuneração, é outro problema, do operário ao professor, não é preciso nem detalhar. Trabalho como um louco/ Mas ganho muito pouco/ Por isso eu vivo/ Sempre atrapalhado/ Fazendo faxina/ Comendo no china/ Tá faltando um zero no meu ordenado. Vivo sempre este dilema, preciso ter honorário, mas não quero tanto trabalho. O mundo é sempre dele, laboro feito um condenado, vou morrendo nesta armadilha. Se o trabalho fosse essa maravilha que se diz, os ricos teriam ficado com ele.

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Que não se iludam os românticos, os poetas ingênuos, os místicos e amantes sem maldade: Não choraminguem sobre o amor... claro, o amor custa caro! Exige trabalho permanente. Com dinheiro, tudo se resolve: o amor tudo pode, exceto contra a pobreza e a dor de dente, A conquista dá dispêndio, tanto intelectual, tanto física, quanto financeiramente. O casamento é um gasto demente; haja pegar no batente para sustentar a esposa e o delinquente. O povo sabe e não me deixa forjar esta verdade latente. E já dizia um poeta bamba: Você quer comprar o seu sossego/ Me vendo morrer num emprego/ Pra depois então gozar/ Esta vida é muito cômica/ Eu não sou Caixa Econômica/ Que tem juros a ganhar.

A rotina do trabalho é por si só uma aporrinhação, reunião atrás de reunião, atrás de reunião. Tem gente que não pensa como eu, ai que trabalhão. Democracia só é boa se é a minha opinião. Abismos de trabalho sem fim, vou dormir e não acaba, sonho com o trabalho, que pesadelo! É o progresso, é preciso trabalhar por ele, é o retrocesso, é preciso sair dele. E é com base no trabalho de Marcelo Dolabela que redigo: Tire o seu trabalho do meu trabalho, que eu quero passar com meu trabalho, Se hoje pra você eu sou trabalho, trabalho não machuca trabalho. Eu só errei quando juntei meu trabalho ao seu, cuide de seu trabalho, que eu cuido do meu.

A preguiça nos livra do tédio e do vício do trabalho. O ócio é salutar. Macunaíma, o rei da preguiça, Dorival, o rei da lentidão, são coisas a se pensar. Todo mundo tem direito à vadiagem, a umas horas sem produção! Este é o manifesto da preguiça como direito do cidadão. O trabalho compra lazer, cultura e entretenimento; quando sobra tempo. O lazer é um trabalho que faz esquecer o trabalho; a felicidade se compra, A felicidade se financia. O trabalho patrocina os sonhos e também a poesia. O Ministério da Saúde adverte, pois já não aguento este trabalho: Trabalhe com moderação.

Este trabalho é baseado nos trabalhos de: Marcelo D2* Ataulfo Alves & Wilson Batista* Benedito Lacerda & Ary Barroso* Lane Kirkland* Mae West* Nássara e Orestes Barbosa* *[por ordem de aparecimento]

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Nunes | Sebasti達o

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Alexandre Fonseca É artista plástico e trabalha na área da fotografia analógica de médio e grande formato. Explorando técnicas alternativas e convencionais busca construir discursos e atmosferas em seu trabalho. Se interessa pela fotografia como tradução, como transposição, mais do que como um mero registro. Álvaro Andrade Garcia Belo Horizonte, 1961. É escritor e diretor de audiovisuais e de projetos multimídia. Tem publicados oito livros de poesia e dois de prosa. Escreveu crônicas e ensaios para imprensa. Criou e produziu videopoemas, videocrônicas, web documentários e portais na internet. Toda sua produção está disponível no site www.ciclope.art.br, dedicado à poiesis e à imaginação digital, no ar desde 2002. Amanda Bruno Concluiu o ensino médio em uma escola ítalo-brasileira e atualmente estuda Letras na UFMG. Entre 2007 e 2010, publicou contos, crônicas, artigos e poemas na Revista Cultural Carpe Diem. Posta alguns escritos em seu blog, quando sobra tempo. Ana Caetano Nasceu em Dores do Indaiá-MG, em 1960. Publicou Levianas (1984) e Babel (1994) com Levi Carneiro; e Quatorze (1997). Participou da coordenação dos projetos Temporada de Poesia, em 1994, e Poesia Orbital, em 1997; do CD Cacograma (2001); e foi co-editora da revista Fahrenheit 451. Camilo Lara Nasceu em Itaguara-MG. É professor e coordenador da Seção de Atividades Culturais do Cefet-MG. Tem dois livros de poemas publicados em co-autoria. Foi um dos organizadores da Coleção Poesia Orbital em 1997. Carlos Augusto Novais João Monlevade-MG, 1958. Poeta e professor de Literatura e Filosofia. Livros de poesia: A de Palavra, 1989; alvo. s. m., 1997; Antologia

Dezfaces, 2008. CD de poesia: Cacograma, 2001 (em parceria). Participações: Alegria Blues-Banda, 1979; Salto de Tigre, 1993. Co-editor: Mostra poética de BH, 19941996; Poesia Orbital, 1997 (coleção de livros de poesia), Inferno, 2000.

Emília Mendes Trabalho todo dia, de segunda a segunda, é uma agonia. Aula, orientação, congresso, pesquisa, reunião, aula, orientação, congresso, pesquisa, reunião... Oh god! Qualquer dia ainda faço uma rebelião!

Carlos Barroso Carlos Antonio Barroso Mourão, também conhecido como Carlão. Jornalista especializado em política, trabalhou na TV Bandeirantes-Minas (repórter e comentarista político), no Hoje em Dia, Diário da Tarde e Estado de Minas. Um dos fundadores da revista de poesia e artes Cemflores, publicou Poetrecos (Coleção Poesia Orbital, 1997) e Carimbalas (Edição Cemflores, 2008).

Fernando Constantino Tem 11 anos, é estudante da Escola Municipal Cruz e Souza em São Francisco do Sul e, nas horas vagas, ajuda sua mãe a fazer doce em compota.

Clô Paoliello Designer gráfico e ilustradora, é também leitora voraz. Desenha por linhas tortas, nem sempre acerta. Daniela Goulart É artista plástica, Mestre em Artes Visuais pela UFMG e professora de fotografia na Escola Guignard. diOli David W. Oliveira - diOli, tem 29 anos e pouca barba. Gosta de usar camisas de malha, se possível sem estampa. Quando anda na chuva, sorri. É co-editor do Barkaça (www.barkaca.com). Dudude Herrmann Nome de batismo Maria de Lourdes. Nasceu em Muriaé, na infância teve um enorme quintal para brincar e alimentar sua imaginação, fez muitos cozinhadinhos, e trepou em árvores de variados tamanhos. Na adolescência teve muitos amigos parecidos, adorava Mutantes, Ringo Star, John Lennon, Yoko Ono e muitos outros que ainda admira bastante, teve sua primeira experiência com comida macrobiótica. Aos doze começou a estudar seriamente dança, o que faz até hoje. Se tornou professora, coreógrafa, diretora de espetáculo em uma escola super bacana que não existe mais, o TransForma. Nos tempos de agora e isso já se faz desde os anos 80 trabalha com a linguagem da composição em tempo real, improvisação, performance, e ultimamente tem se transformado em escrevedora de algumas notas, composições, poesias. Sustratos devaneiantes de alguma coisa que quis dançar e migrou para o papel talvez para experimentar outro campo verdejante de criação.

João Antônio Cunha Queiroz Tenho 9 anos. Nasci em 2002, no dia 28 de janeiro, na Maternidade Otaviano Neves, em Belo Horizonte. Sou filho de Alécio Cunha e Márcia Queiroz. Torço para o Cruzeiro. Gosto muito de futebol, cinema e de ir ao shopping. Também gosto de comer, adoro hambúrguer. Sempre sonhei em sair do país. Gostaria de morar na Alemanha, mas minha mãe é dura. Se não conseguir, vou para São Paulo ou para o Rio de Janeiro. Eu gosto de Belo Horizonte, mas no Rio tem o Cristo Redentor e o Maracanã. Em São Paulo tem o time Palmeiras e vários museus. Também sempre quis morar em um condomínio fechado, mas por enquanto moro em um apartamento. Gosto de ler revistinhas e super-heróis, conversar sobre II Guerra, ver TV e desenhar. Quando crescer quero estudar fósseis. Luciana Tonelli Poeta e jornalista, atua na área de cultura e do Terceiro Setor. Fez parte da equipe de edição da revista de cultura Palavra. Trabalhos mais recentes realizados para o Ateliê Ciclope - Arte e Publicações em Meio Digital. Publicou Flagrantes do Poço, coleção Poesia Orbital (1997), da qual também participou como organizadora e Flagrantes do tempo (2011). Márcio Almeida Mestre em Literatura, professor universitário, jornalista e crítico de raridades. Publica com regularidade no Cronópios, Germina, Caos e Letras, SLMG, Iniciação Científica, Pensar, Gazeta de Minas (Oliveira), Agora (Divinópolis) e diversas revistas virtuais do exterior. Autor, entre outros, de Estranhos muito íntimos (bilíngue, Multifoco, Rio de Janeiro, final de 2010), A minificção do Brasil – em defesa dos frascos & dos comprimidos (crítica literária, Sociedade dos Escritores, São Paulo, final de 2010), entre muitos outros. marcioalmeidas@hotmail.com

Marco Sbicego É italiano, formado em Letras na Itália com especialização em Comunicação. Antes de se mudar para o Brasil em 2001, foi editorchefe da revista cultural Caffè Trieste e redator das revistas Zeta e Fantacalcio. No Brasil, ensinou língua e literatura italiana e latina e escreveu sobre futebol para a mídia italiana; hoje trabalha como tradutor e redator freelancer. Marco Scarassatti Nasceu em Campinas-SP, 1971. Compositor e artista sonoro, professor de prática do ensino de música na FaE-UFMG. Autor do livro Walter Smetak: o Alquimista dos Sons, Ed. Perspectiva/Sesc, 2009.

minibiografias

Adriana Versiani Adriana Versiani dos Anjos. Nasceu em Ouro Preto–MG, 1963. Tem quatro livros de poemas publicados, dentre eles, A Física dos Beatles (2005), Conto dos dias (2007), o virtual Explicação do fato (2008. Germina literatura – Revista Virtual) e Livro de Papel (2009). Integrou o Grupo Dazibao, de Divinópolis/Belo Horizonte. Foi co-organizadora da Coleção Poesia Orbital e do jornal Inferno. Fez parte do conselho editorial da Revista de Literatura Ato.

Marcus Vinicius de Faria Publicou os livros de poemas Armadilha para hábil caçador pegar o bicho quanto antes, 1981. Desejo insano, 1987, e Outros tempos, 1997. Tem poemas e traduções publicados em diversos periódicos e antologias, dentre elas, Poesia jovem – anos 70 – Literatura Comentada. Nísio Teixeira Professor de Jornalismo da Fafich/UFMG e jornalista. Atualmente colabora no site de cinema Filmes Polvo www.filmespolvo. com.br. Roberto Vieira Juiz de Fora, 1939. Artista plástico e músico, fundou com os amigos Lótus Lobo, Nívea Bracher, Paulo Laender, Klara Kaiser e Eduardo Guimarães o Grupo Oficina onde realizou uma série de experiências minimalista-concretistas, despontando, na década de 1960, como artista inovador e experimentalista. Transita entre pintura, escultura e instalação. Presença regular nas artes plásticas brasileiras, participa de diversos salões, exposições individuais e coletivas internacionais, como: Image du Brésil na Bélgica (concepção e curadoria de Pietro Maria Bardi), a V Exposição de Artes Plásticas do Brasil no Japão, e a VII Bienal de São Paulo. Sebastião Nunes Sebastunes Nião, Sebunes Nastião, Bastião Nu, Sabião Bestunes & outros mais (Bocaiúva/MG, 1938). Poeta, escritor, editor (Dubolso e Dubolsinho) e artista gráfico, não necessariamente nesta ordem. Algumas publicações: Antologia Mamaluca e Poesia Inédita (reunião, em 2 volumes, das poesias do período 1968/89), Somos todos assassinos (1980), História do Brasil — Estudos sobre guerrilha cultural e estética de provocaçam (1991), Sacanagem Pura (1996), Decálogo da classe média (1998).

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Versiani | Adriana DiOli

a roda da fortuna da série o que é da história está guardado

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